Rafael Voigt Leandro

A experiência de traduzir renova nossas noções sobre a linguagem. Traduzir não se restringe ao ato mecânico de transpor palavras de uma língua para outra. Traduzir significa, na verdade, caminhar por cima de um contínuo formado pela linguagem, cultura, história, política, poética, olhando o tempo todo para todos os lados. Na tradução do discurso literário, essa perspectiva deve ser ainda mais aprofundada. O ritmo, a musicalidade, a sonoridade de um ser que nos fala com uma voz própria, rodeado de inúmeros elementos de sua vivência de mundo, da realidade que escolheu traduzir, de sua poética. A oralidade, a linguagem mais natural, extravasa no texto literário, por mais que o autor não tenha essa intenção.

Resumo: Há um sentido estrito de projeto literário nos contos amazônicos de Alberto Rangel. Embora seja relativamente conhecido e estudado seu Inferno Verde: cenas e cenários do Amazonas (1908), é praticamente destituída de recepção literária sua contraparte, Sombras n'água: vida e paisagens no Brasil equatorial (1913). Alinhada ao positivismo e naturalismo de sua época, a tendência infernista da prosa rangeliana demonstra rumos possíveis da literatura brasileira no início do século 20. Seu projeto literário possui forte vinculação com a obra "vingadora" e inconclusa Um paraíso perdido, de Euclides da Cunha, além de À margem da história e outros escritos amazônicos euclidianos. Muitos traços podem ser apontados para a caracterização dessa prosa de Rangel no que tange a três grandes eixos temáticos: natureza, etnografia e conflitos histórico-econômicos. Dentro dessas perspectivas, o positivismo-naturalismo de Inferno Verde e Sombras n'água revela um narrador em atitude dialética com a tradição histórico-científica e cultural da região, bem como com os limites definidores da identidade nacional de ascendência amazônica, sem desconsiderar a encruzilhada histórica armada pelo auge do Ciclo da Borracha e pela política da primeira república nas cidades do Norte.

A jangada de pedra e A geração da utopia: um estudo comparativo da questão nacional 1 RAFAEL VOIGT LEANDRO 2 RESUMO: Por meio da leitura comparativa de A jangada de pedra e A geração da utopia, analisa-se o problema da construção histórica da nacionalidade ibérica e da angolana. Para tanto, na primeira parte, revisam-se postulados teóricos referentes ao nacionalismo em Ernest Gellner, Benedict Anderson e Homi Bhabha. Depois, faz-se uma leitura das obras literárias do corpus. Por fim, no estudo comparativo, problematizam-se aspectos que compõem o quadro identitário nacional nesses dois romances de língua portuguesa.

A revista Poesia Sempre, publicada pela Fundação Biblioteca Nacional, costuma dedicar a cada número uma seção especial em homenagem à poesia de outros países ou a poetas nacionais. Em 2008, o periódico dedicou aproximadamente cem páginas para a poesia polonesa contemporânea.