É comum colocar a responsabilidade da motivação à gerência, mas não se tem ideia do quanto é árdua essa tarefa. Cada pessoa tem sua subjetividade e isso faz com que motivação também seja algo singular, é impossível ter uma receita pronta. Um inimigo da motivação é o cenário atual, decadência de empregos em prol da modernização, já que os colaboradores sentem cada vez mais essa hostilidade e com isso vem a insegurança na carreira profissional. Alguns autores até afirmam que o significado de trabalho está enfraquecido nas pessoas. A empresa passou a ser apenas o que provem sustento financeiro, sem perspectivas de longo prazo. Em contrapartida, as empresas, tentando se defender do cenário atual, apelam à terceirização. E como entra a motivação no meio desse circo dos dias de hoje? Como podem as pessoas produzir se não se sentem motivadas? A psicodinâmica entra aqui em contraposição ao behaviorismo. Pensando na teoria do condicionamento, pensa-se que as pessoas agem conforme um padrão pré-estabelecido, Skinner acreditava que se poderia fazer com que qualquer postura fosse assumida pelos colaboradores. Assim, muitas empresas partiram do ponto de vista de Skinner e Pavlov na esperança de controlar o comportamento de seus funcionários (fala-se muito em punição e recompensa). A falha é que desse ponto de vista todos agiriam da mesma forma, e isso nos mostra a deficiência quanto à abordagem da subjetividade nesse modelo. Isso nos deixou uma herança presente até hoje: as beneficiações no trabalho. Motivação no trabalho não é algo que envolve apenas o indivíduo, afinal, mas também a própria organização, um depende do outro. Motivação se constrói e é algo que vai muito além de sentimentos de felicidade que as pessoas desfrutam ou estados com propriedades de disparar, na verdade, ainda há muito estudo em cima do conceito " motivação " , que não consegue ter ao certo uma definição. Tratamos, pois, com diferentes faces da motivação. O mais comum e antigo método, já mencionado, é o da recompensa, primeiro porque há uma reação positiva imediata, mas com o passar do tempo, se a mesma reação quiser ser mantida, o preço e qualidade da premiação vai ter que aumentar, o que gera custos para a empresa; além disso os critérios de distribuição de prêmios deve estar claro para não causar discórdia no ambiente organizacional. Ideias como a de Taylor, eram a de que o dinheiro ajudaria a criar e fortificar a motivação. O grupo social também desempenha um papel nessa equação. Já McGregor diz que trabalhadores fazem, por natureza, todo o possível para atingir por si próprios a sua auto realização através do trabalho, dando um novo viés ao que se acreditava até então. Autores como Herzberg nos trazem outro ponto muito importante que deve ser reparado, não é porque higiene, por exemplo, não é um fator motivador que devemos deixar de proporcioná-la, afinal, insatisfação gerará desmotivação. É preciso ir além, gerar satisfação interna. Aqueles que não adotam o condicionamento comportamental adotam a perspectiva que busca motivar as pessoas pelo seu interno, o que se mostra um desafio e tanto, já que, muitas vezes, nem mesmo a pessoa se conhece o suficiente para atingir isso. Nesse processo consciente alguns fatores entram em ação: 1) nível de expectativa, estimativa de sucesso a partir do esforço de cada um; 2) instrumentalidade, conquista de objetivos, que podem vir a ser a recompensa; e 3) valência, o valor dado à recompensa. Esse esquema para compreensão da motivação é conhecido como VIE. Já que motivação é algo interno é importante observar o sentido que a pessoa dá a aquilo que faz, conhecendo isso é possível trabalhar melhor aspectos da personalidade de cada um e chegar a uma recompensa satisfatória. Alguém que se engaja num emprego que faz bem para si mesmo busca fazer jus, ser reconhecido, o trabalhar passa a ser algo de uma necessidade de ordem afetiva. É importante terem existido pesquisas assim, pois proporcionaram um melhor conhecimento do trabalhador como um todo, sujeito singular e dotado de uma identidade particular, uma visão de si, a autoestima (conceito que cada um tem de si e que é o ponto de partida para o equilíbrio pessoal). Isso nos leva ao porquê cada um se sente motivado para fazer o que quer, e mais, nos faz pensar que a mudança comportamental inicia, antes de mais nada, em um desejo próprio de modificação. Pesquisas feitas em organizações mostram que pessoas com baixo rendimento se mostram desmotivadas e isso se dá devido a uma baixa autoestima. No momento em que a desmotivação se instala é preciso fazer algo ou os efeitos nocivos não demorarão a chegar. A noção da realidade é completamente diferente na visão de uma pessoa motivada e uma desmotivada, a desmotivada mostra-se com sentimento de permanente ameaça, além de distorcer muito a realidade. Se nada é feito, cada vez mais a pessoa se distancia da realidade, e passa a adotar comportamentos cada vez menos positivos ou produtivos. Por mais que esses problemas desmotivacionais tenham muito cunho individual também, creio que através do texto é perceptível o porquê é tão importante tratar esses comportamentos antes que afetem a pessoa, tanto em um nível particular quando do ponto de vista da prestação de serviços.
Referências
BERGAMINI, Cecília Whitaker. A difícil administração das motivações. Rev. adm. empres., São Paulo , v. 38, n. 1, p. 6-17, Mar. 1998 . Available from <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901998000100002&lng=en&nrm=iso>. access on 26 May 2015.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901998000100002.