The present essay has as its goal to reconsider the transference process of the Portuguese court to Brazil, in 1808. It emphasizes the images construction over this process and the establishment of an European court in the tropics. This...
moreThe present essay has as its goal to reconsider the transference process of the Portuguese court to Brazil, in 1808. It emphasizes the images construction over this process and the establishment of an European court in the tropics. This essay also proposes to revisit some of the painters of the 18th and 19th centuries, who were in charge of building the image of the Regent, the King Dom João VI. Na abordagem do tema da transferência da Corte portuguesa para o Brasil, tornou-se lugar comum a visão desse momento de forma pejorativa. Nosso colonialismo cultural, ao longo do tempo, reafirmou uma admiração aos franceses, impedindo, muitas vezes, a leitura racional e desapaixonada do momento vivido por Brasil e Portugal, frente aos anseios imperiais de Napoleão. Dessa forma, a abordagem desse tema necessariamente deve passar por uma discussão em torno da imagem de seu principal responsável: o rei Dom João VI, o Clemente, embora, tal como nos adverte Burke, a leitura de imagens não seja das tarefas mais fáceis do trabalho do historiador, pelo menos, quando "é grande a distância cultural entre o autor e o espectador" tal como a que separa os séculos XVIII e XIX de nossos dias. (Burke, A fabricação do rei 30) Entre os reis portugueses, nenhum é alvo de tanta polêmica como Dom João VI. As imagens pictóricas e mentais, bem como as representações sobre ele são muito difundidas ainda hoje de forma extremamente paradoxal. Dom João VI tornou-se, talvez, o personagem de nossa história mais vulnerável à caricatura fácil, à detração, fosse por sua personalidade, seus costumes pessoais ou pelas atribulações em sua vida conjugal. O imaginário sobre o rei transita de um universo jocoso e ficcional, para um universo dramático e melancólico. Era o segundo na sucessão, mas teve uma formação apurada como a de seu irmão, Dom José de Bragança, que seria o sucessor natural de D. Maria I. No entanto, ao que parece, estaria reservada a ele, uma vida de fruição e ócio. Daí as quadrinhas pejorativas sobre sua atitude: Nós temos um rei, Chamado João, Faz o que lhe dizem Come o que lhe dão; E vai para Mafra Cantar canto-chão. (Braga) Eduardo José Reinato. "DE REI FUJÃO A CONSTRUTOR DO IMPÉRIO LUSO BRASILEIRO: D. João VI e as Transferência(s) em Linhas , Traços e Cores" Karpa 5.1-5.2 (2012): n. pag. Não nasceu para ser rei, tampouco foi preparado politicamente para a função. Assumiu em virtude de uma sequência de fatalidades: a morte do pai em 1786, D. Pedro III, a morte de seu irmão, Dom José de Bragança, em 1788 e a manifestação de agravamento de sinais de perturbação mental de sua mãe. Viu-se, pois, obrigado a assumir o governo do reino, de maneira informal em 1792 e, depois da constatação da irremediável demência de D Maria I, como príncipe regente. Além dessas circunstâncias da vida pessoal, tornou-se regente e depois rei no momento mais dramático da história europeia, da história de Portugal e do Brasil. Era uma época de grandes atribulações na política Europeia. Na França, após a Revolução francesa ter decapitado a monarquia bourbônica, a I Primeira República, gestada frente ao esforço revolucionário, realizou um grande esforço defensivo, procurando criar uma zona de proteção para a nação francesa para, mais tarde, com a superação das contradições internas e, sobretudo com a ascensão burguesa por meio de Napoleão, transformar-se num sistema de conquista determinada pela lógica da Razão de Estado. Se esse é o aspecto mais evidente no contexto das relações Internacionais europeias da época, mais significativa foi a transformação mental desencadeada a partir dessas atribulações, com reflexos em todo o mundo. Os franceses, os portugueses afrancesados e, da mesma forma, os anti-ingleses construíram a imagem de um D. João VI medroso, fujão e submisso aos ingleses. É engraçada essa postura dos historiógrafos, pois, naquela mesma época e diante do mesmo Napoleão, ninguém "fugiu" mais do que o Czar Alexandre I da Rússia. Se não fosse pelo "General Inverno", aprendido historicamente pelos russos de outras tantas invasões, possivelmente, também o czar continuaria se retirando até a Sibéria, já que a Rússia não contava com uma colônia distante dos conflitos e tão estratégica para a manutenção do Império, como Portugal tinha o Brasil. De mesma forma, pouco se destaca, na história mundial, o fato de os franceses, no século XX, diante de Hitler terem primeiramente assumido uma atitude de submissão e de dubiedade covarde com Pétain e depois de rearticulação do poder fora da pátria, com De Gaulle que havia se refugiado na Inglaterra. Este fato nunca foi caracterizado como covardia. Afinal, De Gaulle se retira para a Inglaterra para comandar e rearticular o poder francês e, de certa forma, canalizar a luta de resistência antinazista. Se pensarmos nos dias de hoje, seria covardia o presidente dos Estados Unidos ter para si, sempre preparado, o Air force I para um eventual deslocamento em caso de ataque à maior potência mundial, como por exemplo, o presidente Bush fez no momento do ataque ao World Trade Center no 11 de setembro de 2001? Mas se Bush fosse português... Ao levarmos em conta os acontecimentos da história de Portugal no período da Revolução Francesa e da consolidação do liberalismo europeu, torna-se significativo que a sucessão de eventos gire em torno de um ponto cego de onde irá emergir um Portugal moderno. Partícipe desse furacão histórico, onde se cruzaram as mais diversas propostas políticas, está a figura de D. João, príncipe herdeiro e príncipe governante, regente, rei e imperador honorário, repartido entre dois continentes, dois regimes, entre a guerra e a paz, a tranquilidade e a crise política. Quando se pensa a temporalidade do período joanino, destacam-se três grandes fases, todas elas bem definidas e separadas umas das outras. A primeira, de 1792 a 1807, desenrolou-se em Portugal sob a égide do chamado despotismo esclarecido, marcado pela interinidade do governo de Dom João e os problemas de afirmação de sua forma de governar. A segunda, de 1808 a 1821, Eduardo José Reinato. "DE REI FUJÃO A CONSTRUTOR DO IMPÉRIO LUSO BRASILEIRO: D. João VI e as Transferência(s) em Linhas , Traços e Cores" Karpa 5.1-5.2 (2012): n. pag.