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Sociologia volume

Vi o conteúdo Fiz o resumo Este ícone aparecerá sempre ao lado dos tópicos trabalhados no decorrer deste volume. A cada leitura, marque conforme a legenda e acompanhe o progresso do seu aprendizado. Legenda Entendi Preciso rever Coleção Filosofia / Sociologia O êxodo rural provocado pela Revolução Industrial transformou trabalhadores rurais em operários industriais. O desenvolvimento das ciências da natureza a partir da Revolução Científica do século XVII, reforçada pelo Iluminismo, trouxe os fundamentos para o avanço tecnológico, que, por sua vez, conduziu a Europa às revoluções industriais. Não há consenso entre os historiadores sobre as fases da Revolução Industrial, porém é habitual dividi-la em três fases.

Moren Hsu / Unsplash Volume 1 SUMÁRIO FRENTE A 3 Módulo 01: Positivismo e Revolução Industrial 13 Módulo 02: Durkheim e Weber 25 Módulo 03: Karl Marx e o materialismo histórico 35 Módulo 04: A construção da modernidade 49 Módulo 05: O universo da cultura 63 Módulo 06: A cultura e os meios de comunicação Este ícone aparecerá sempre ao lado dos tópicos trabalhados no decorrer deste volume. A cada leitura, marque e acompanhe o progresso do seu aprendizado. 2 Vi o conteúdo Fiz o resumo Coleção Filosofia / Sociologia conforme a legenda Legenda Entendi Preciso rever FRENTE MÓDULO A 01 SOCIOLOGIA Positivismo e Revolução Industrial O ILuMINIsMO E O EsPíRITO cIENTIFIcIsTA Jam es Tassie / Dom ínio Público Por outro lado, as visões burguesas de m undo desenvolvidas a par t ir do I lu m in ism o t am bém bu scav am ex plicar as m u d an ças q u e ocor r iam n a socied ad e eu r op eia, além de j ust ificar a dom inação colonial sobre as Am éricas e o neocolonialism o que se inst aurava na África e na Oceania. Apoiadas naquele espír it o cient ificist a, foram produzidas um a série de dout rinas sociais que alm ej avam conceder explicações rigorosas e cient íficas para a vida em sociedade, cont udo nem sem pre com sucesso. Adam Sm it h. Ao lon go do sécu lo XVI I I , con solidou - se, n a cu lt u r a europeia, a valorização da razão com o fonte de conhecim ento O conceit o de liberdade desenvolvido no século XVI I I , a part ir do I lum inism o, recebeu grande at enção e serviu de m ote para o aprofundam ento das pesquisas científicas, cada v ez m en os in f lu en ciadas pelos lim it es r eligiosos. A ciência se desenvolveu largam ent e, aprofundando- se e se especializando em diversos dom ínios, at é ent ão pouco explorados, com o a Quím ica e a Biologia, além da Física, cujo desenvolvim ento já estava em processo desde o século anterior. Nesse cont ext o, desenvolveu- se a post ura cie n t ificist a , que expressava o espírit o predom inant e da época: grande devoção à ciência e à razão e crença na noção de progresso, su st en t an d o a id eia d e q u e a h u m an id ad e est ar ia em const ant e e cont ínuo processo de desenvolvim ent o rum o ao seu aprim oram ent o. e com o fundam ento da ação dos indivíduos em sua realidade, r echaçando qualquer for m a de cr ença ou conhecim ent o considerado em ocional ou obscuro, principalm ente a fé religiosa. PRINcíPIOs EXPLIcATIVOs Desse m odo, um forte sentim ento anticlerical se desenvolveu, O pensam ent o filosófico do século XVI I I ao com eço do XI X rejeitando a visão teocêntrica de m undo defendida pela I greja com p r een d e u m con j u n t o d e con t r ib u ições d a m aior ao longo da I dade Média. im por t ância para as ciências sociais em geral e a Sociologia Os filósofos da I lust ração ou I lum inism o visavam const ruir e m p a r t i cu l a r. O Li b e r a l i sm o , I l u m i n i sm o , Ja co b i n i sm o , um a sociedade laica e racional, e propuseram int ervenções Conser vant ism o, Rom an t ism o e Ev olu cion ism o são algu m as b asead as em u m a r acion alid ad e p r át ica q u e p r od u ziu das pr incipais m anifest ações do pensam ent o eur opeu desse novas concepções polít icas, sociais e j urídicas baseadas na t em po. São ex pr essões da r ev olução cult ural sim bolizada nas “ luz da int eligência”. Ent re essas concepções dest aca- se o obras de filósofos, cient ist as e ar t ist as com o Rousseau, Kant liberalism o, dout rina que m anifest ava os principais ideais e Hegel, Goet he, Beet hov en e Schiller, Adam Sm it h, Ricar do, polít icos e econôm icos da classe bur guesa. O filósofo e Her der e Condor cet , ent r e out r os. econom ist a brit ânico Adam Sm it h ( 1723- 1790) , considerado o principal t eórico e pai do liberalism o econôm ico, defendia em seu livro A Riqueza das Nações, de 1776, a liberdade de com ércio e um a reduzida intervenção do Estado na econom ia, em nom e da liberdade individual e da livre- iniciat iva dos [ ...] Por u m lado, t r at av a- se de t r an sf er ir ou t r adu zir par a o cam p o d a socied ad e, cu lt u r a e h ist ór ia os p r oced im en t os q u e j á se h av iam elab or ad o e con t in u av am a elab or ar - se nas ciências físicas e nat urais. Por isso é que, em t rabalhos indivíduos no m ercado. O liberalism o foi a dout rina burguesa de Sociologia, passados e pr esen t es, r essoam per spect ivas m ais relevant e na consolidação do capit alism o – ao longo or ganicist as, evolucionist as, funcionalist as e out ras, or iundas dos séculos XVI I I e XI X –, especialm ent e durant e o período daquelas ciências. t rat ado com o Revolução I ndust rial. Bernoulli Sistema de Ensino 3 Frente A Módulo 01 Na pr im eira fase, ent r e 1750 e 1800, desenv olv e- se a m áquina a vapor, que vai subst it uir dir et am ent e o t rabalho hum ano e a t ração anim al; na segunda, ent r e 1 8 5 0 e 1 8 7 0 , a elet r icidade e os com bust ív eis fósseis passam a alim ent ar as novas m áquinas; e j á no século XX, após as duas grandes guer ras, t em lugar a cham ada Ter ceira Revolução I ndust r ial, com o advent o da ener gia nuclear e das t ecnologias de infor m ação. [ ...] Por out ro lado, t rat ava- se de criar novos procedim ent os de r eflex ão, de m odo a fazer face às or iginalidades dos fat os, acont ecim ent os e dilem as que caract erizam a vida social no Mundo Moderno. A em ergência da sociedade civil, urbano- indust rial, burguesa ou capit alist a, passava a desafiar o pensam ent o em um a form a nova, pouco com um . [ ...] O pensam ent o se t orna As novas t ecnologias da Prim eira e da Segunda Revolução I n d u st r i a l m o d i f i ca r a m p o r co m p l et o a est r u t u r a d a sociedade europeia ao desest rut urar as bases econôm icas do feudalism o. A produção de bens e riquezas passa a ser m aj orit ariam ent e indust rial por m eio da m ecanização do t rabalho. As m áquinas a vapor, a com bust ão ou elét ricas subst it uem aos poucos o esforço hum ano, t ant o no t rabalho agrícola quant o nas at ividades laborais urbanas. O m odo de produção capit alist a se consolida de form a definit iva, t endo, no liberalism o, um a dout rina polít ica guardiã da visão de m undo dos det ent ores do capit al. capaz de dar cont a da originalidade dos fat os, acont ecim ent os e dilem as m ais caract eríst icos das sociedades que se form am com o Mundo Moderno. [ ...] Est es são alguns m om ent os lógicos bast ant e frequent es na reflexão sociológica: dado e significado, quant idade e qualidade, part e e t odo, aparência e essência, singular e universal, causa e sent ido, negat ividade e cont radição, sincrônico e diacrônico. Devido ao seu contínuo diálogo com a Filosofia, a Sociologia guarda a peculiar idade de pensar- se cont inuam ent e, de par- em - par O qu e dev em os, de f at o, con sider ar, par a além das d icot om ias en t r e os b en ef ícios e m alef ícios ad v in d os da Revolução I ndust r ial, t om ando por base os aspect os econôm icos, é j ust am ent e analisar e com pr eender com o as m u dan ças n a base econ ôm ica da sociedade f eu dal t r ouxeram alt erações para o m odo com o os indiv íduos est abelecem suas r elações com out r os indiv íduos, em um m undo capit alist a. Há que se r ecor dar que com a reflexão sobre a realidade social. I ANNI , Oct avio. A Sociologia e o m undo m oderno. Tem po Social, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 7- 27, j an. / j un. 1989. As REVOLuçõEs INDusTRIAIs a m aioria dos habit ant es da I nglat erra do século XVI I I vivia em áreas rurais, em bora as cidades j á com eçassem a expandir- se. Em 1695, um a vez m ais seguindo Gregory King, cerca de um quart o da população da I nglat erra e do País de Gales habit ava as cidades e vilas onde havia m ercados, m as a m aioria dest as últ im as nada m ais era do que burgos populosos. Além de Londres ( com aproxim adam ent e m eio m ilh ão d e h ab it an t es) , h av ia som en t e t r ês cid ad es n a I nglat erra com m ais de 10 000 habit ant es: Norwich, Brist ol e Birm ingham . [ ...] Apenas um em cada cinco ingleses viviam em cidades. Rubens Lim a DEANE, Phyllis. A Revolução I ndust rial. Rio de Janeiro: Zahar Edit or, 1973. p. 19- 20. O êxodo rural provocado pela Revolução I ndust rial t ransform ou t rabalhadores rurais em operários indust riais. O desenv olv im ent o das ciências da nat ur eza a par t ir da Rev olução Cient ífica do século XVI I , r efor çada pelo I l u m i n i sm o , t r o u x e o s f u n d a m e n t o s p a r a o a v a n ço t ecn ológ ico, q u e, p or su a v ez, con d u ziu a Eu r op a às revoluções indust riais. Não há consenso ent re os hist oriadores sobre as fases da Revolução I ndustrial, porém é habitual dividi- la em três fases. 4 Coleção Filosofia / Sociologia A vida hum ana se const rói socialm ent e à m edida que o hom em se lança à nat ureza para daí elaborar sua exist ência. Logo, o desenv olv im ent o do sist em a capit alist a, ao se const it uir em t orno da exploração do t rabalho assalariado, n a p o sse d a p r o p r i ed ad e e d a co n st an t e cr i ação d e necessidades, rom pe com a lógica que at é ent ão dom inava a vida em sociedade nos períodos pré- capit alist as. A classe burguesa, por exem plo, foi a classe que deteve – e ainda detém – os meios de produção, para daí gerar os produtos que seriam apropriados por out ros indivíduos no m ercado capitalista. Logo, o m ercado cria um novo espaço de interação social para os indivíduos. Assim, surge o trabalho assalariado, que nada mais é que a força de trabalho transformada em mercadoria e, com o tal, passível de ser negociada. Positivismo e Revolução Industrial Todavia, a superação do ant igo regim e pela nova ordem social burguesa não se deu sem quest ionam ent os e / ou lut as sociais. O século XI X insere t am bém o surgim ent o de um a nova figura na const rução da hist ória hum ana: a classe prolet ária. Ao passo que a noção de liberdade individual foi de sum a im port ância para a consolidação do capit alism o, esse m esm o m odo de produção deixou para a classe operária um a sit uação de opressão frent e à força do capit al burguês. Da cont radição ent r e o t rabalho e o capit al, sur giram r ev olt as n o con t in en t e eu r op eu , com o o Car t ism o n a I nglat erra, em 1835, além de um a onda de greves e revolt as que se espalhou por países com o Alem anha, I t ália e Rússia, sendo fort alecida pelas revoluções operárias na I nglat erra e na França desde a década de 1830 e culm inando com a Prim avera dos Povos em 1848. Concom it ant em ent e, o im perialism o europeu j á deixava profundas m arcas nas suas colônias localizadas na África, Ásia e Oceania. A elevada indust rialização produzia necessidades de m ercado que a própria Europa não conseguia at ender : por exem plo, um m aior dispêndio de m at ér ia- prim a, por um lado, e um a necessidade de um m ercado consum idor m aior para escoam ent o de super pr odução, por out r o. Confor m e obser v ou o escr it or inglês Joseph Conrad acerca da colonização belga no Congo, a conquist a da t erra ( na m aior part e dos casos, roubá- la a quem t em a cor de pele m ais escura ou o nar iz m ais achat ado) não é coisa bonit a de se ver quando se olha m uit o de pert o. CONRAD, Joseph. O coração das t revas. São Paulo: Abril Cult ural, 2010. p. 20. [ Fragm ent o] Assim , a t écnica e a ciência deixavam de cum prir seu papel esperado – de t razer a em ancipação do hom em – para reforçar o controle de um sistem a político-econôm ico que dem onstrava ser gerador de grandes desigualdades, tant o dentro quanto fora da Europa. For am j u st am en t e esses im p act os, or iu n d os d e u m m undo em const ant e t ransform ação social, que levaram os pr im eir os cien t ist as sociais a desej ar em int er pr et ar as m u d an ças d e u m a f o r m a si st em át i ca e r i g o r o sa. I m buídos de um espírit o cient ífico, nom es com o Karl Marx e Ém ile Durkheim se dedicaram a est udar os m ecanism os sociais, econôm icos e polít icos dessa nova est rut ura de um a sociedade que passava a se sustentar por m eio de m áquinas e fábricas, apresentando pobreza e exploração sob sua som bra. Ao se est ab elecer en q u an t o u m a ciên cia q u e b u sca co m p r een d er a s b a ses d o m u n d o m o d er n o, o u , em t er m os m ais esp ecíf icos, en t en d er d e q u al m an eir a o desenvolvim ent o da sociedade capit alist a gerou m udanças no m odo com o os indivíduos se relacionam , a Sociologia t rat ou de t em as considerados com o grandes quest ões. Assim sendo, a nova e em ergente ciência lançou seu foco sobre diversas problem áticas, com o a relação entre capital e trabalho, tradicional e m oderno, sagrado e profano, ideologia e utopia e, tam bém , as diferenças entre com unidade e sociedade. As FILOsOFIAs sOcIAIs DO sécuLO XIX A indust rialização produziu um a série de m odificações na econom ia, consolidando o capitalism o industrial. As m áquinas subst it uíram , em grande part e, a força de t rabalho hum ana, au m en t an do a pr odu t iv idade e r edu zin do o t em po da produção e o cust o operacional. Por out ro lado, as vant agens t razidas pelo uso das m áquinas vieram acom panhadas de problem as sociais relevant es, especificam ent e: desem prego, m iséria, êxodo rural, inchaço urbano, exploração da m ão de obra operária, m ás condições de vida e t rabalho, alt a concent ração de renda e desigualdade social. Ne sse co m p l i ca d o co n t e x t o , co m e ça a su r g i r u m m aior núm er o de iniciat ivas t eór icas t ant o para t ent ar co m p r een d er as m u d an ças v i v en ci ad as p el a Eu r o p a, r ecém - in d u st r ializad a, q u an t o p ar a ex p licar as n ov as realidades hum anas em cont at o at ravés do im perialism o. Havia um grande afã em t ent ar ent ender a econom ia e a nova sociedade indust r ial, ident ificando seus elem ent os const it uint es, porém era evident e que exist ia um espírit o proposit ivo. Est e últ im o buscava est abelecer m et as e ações para produzir um fut uro que se im aginava ainda “ m elhor ” ( obviam ent e, segundo os ideais da classe social burguesa que havia assum ido o poder, ligados à indust rialização e à im plem ent ação do m odelo civilizacional europeu) . Logo, foram produzidas algum as filosofias sociais, que p r ocu r av am , ao m esm o t em p o, ex p licar e in t er v ir n a realidade social. Essas filosofias sociais est avam inspiradas pelos ideais cient íficos que faziam sucesso no século XI X, com par t ilh an do a eu f or ia cien t if icist a su r gida após as descobert as realizadas no âm bit o da Física de I saac Newt on, da Quím ica de Lavoisier e da Biologia de Lam arck e Darwin. O que William Bot t om ore, em sua I nt rodução à Sociologia ( 1987) , cham a de “ pré- hist ória da sociologia”, ist o é, sua gên ese com o ciên cia, cor r espon der ia a u m per íodo de aproxim adam ent e cem anos, em t orno de 1750 a 1850, desde os escrit os polít icos de Mont esquieu at é os t rabalhos de August o Com t e e Karl Marx. Nesse período, a Sociologia ( no caso, as filosofias sociais) era dot ada de um carát er enciclopédico – buscando abar car a t ot alidade da v ida social e da hist ória hum ana – sendo fort em ent e orient ada pela noção de evolução e concebida com o ciência posit iva, ou sej a, de carát er idênt ico às ciências da nat ureza. Por ém , as pr im eiras filosofias sociais não alcançaram o status de ciência. O darwinism o social e o evolucionism o, duas vertentes teóricas com am pla aceitação no decorrer do século XI X, tiveram seu valor científico contestado por revelarem com pr om et im ent os ideológicos e t am bém em razão de apr esent ar em graves er r os conceit uais e m et odológicos, além de t er em est r eit a r elação com a finalidade polít ica de j ust ificar a dom inação eur opeia durant e o per íodo colonial. Bernoulli Sistema de Ensino 5 sOcIOLOGIA O m undo m oderno em erge baseado na crença de que a ciência e a t écnica são elem ent os capazes de conduzir a hum anidade ao progresso e, paralelam ent e, a um est ado de felicidade e igualdade. A principal caract eríst ica desse novo m undo é a const it uição de um a sociedade urbana e indust rial dividida em classes. Frente A Módulo 01 Evolucionismo social Ent ende- se por evolucionism o um conj unt o de t eor ias sociais defensoras da t ese de que as sociedades hum anas se encont ram em um cont ínuo processo de desenvolvim ent o, q u e con sist e n a p assag em d e est ág ios m ais sim p les, ou “ prim it ivos”, para est ágios m ais avançados. É com um associar o evolucionism o à Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, porém a t eoria social surgiu ant es m esm o da publicação m ais fam osa de Darwin. No ent ant o, não há com o negar o grande im pact o que a obra do nat uralist a brit ânico produziu nas t eorias sociais após sua publicação, em 1859, fornecendo fundam ent os “ em píricos” ext raídos da nat ureza para sust ent ar as t eses sociais do evolucionism o social. O evolucionism o social sur giu inicialm ent e a par t ir de est udos da Ant ropologia, com Lewis Morgan ( 1818- 1881) e Edward Tylor ( 1832- 1917) , reforçados pelas t eorias de Herbert Spencer ( 1820- 1903) , cuj a popularidade foi am pla na I nglat erra vit oriana. É int eressant e observar que aut ores com o Morgan e Tylor eram considerados “ ant ropólogos de gabinet e”, ist o é, t eóricos que se baseavam nos relat os de nat uralist as e viaj ant es para form ular suas t eorias, m as que não t iveram cont at o diret o com os povos de que t rat aram . Por isso, não devem ser considerados “ et nógrafos”, t erm o que designa os pesquisadores de cam po da Ant ropologia. Pr ossegu in do, o ev olu cion ism o social f oi lar gam en t e u t ilizado com o par adigm a par a est u dar as sociedades não europeias que est avam sendo cont at adas a part ir do colonialism o e do im perialism o. As com unidades cient íficas eu r op eias sen t iam n ecessid ad e d e ex p licar a en or m e diversidade de povos, raças e costum es ao redor do m undo, e, paralelam ent e, a ant r opologia evolucionist a for necia as explicações de um m odo com pat ível com os sist em as de crenças em voga na Europa. A perspect iva do evolucionism o social – ou cult ural – é a de classificar as culturas de acordo com seu desenvolvimento t ecnológico, adot ando com o padrão de j ulgam ent o o m odelo indust rial europeu do século XI X. Segundo esse crit ério, a cult ura urbana indust rial europeia é considerada superior, m ais avançada e desenvolvida do que as dem ais cult uras. A part ir desse paradigm a et nocênt rico, t odas as dem ais sociedades seriam j ulgadas e hierarquizadas. 6 a evoluírem e, consequentem ente, a saírem de seu estado prim it ivo. At é a década de 1870, o discurso hegem ônico acreditava na possibilidade de civilizar os povos inferiores; já no final do século XI X, a partir da influência do darwinism o social, passa- se a defender que alguns povos são qualitativam ente inferiores e, portanto, não poderiam ser civilizados, devendo ser subj ugados e, em alguns casos, exterm inados. O evolucionism o social hoj e é considerado um a t eoria pseudocientífica, uma vez que esteve mais ligado às justificações de ordem política para a dominação europeia do que a um a invest igação realm ent e isent a e im parcial sobre as sociedades hum anas. As teorias sociais im portadas equivocadam ente do m étodo das ciências naturais produziram dou t r in as ideológicas com ef eit os dev ast ador es, com o com prova a história do im perialism o europeu sobre a Ásia e a África. Darwinismo social A t eoria da evolução de Charles Darwin, publicada a part ir de sua obra A origem das espécies, lançada em solo inglês em 1859, t ornou- se rapidam ent e um fenôm eno nos círculos int elect uais e cient íficos da I nglat erra e no m undo Europeu. Após um a ext ensa colet a de dados ao redor do m undo, a bordo do navio Beagle, Darwin produziu sua t eoria que propunha que t odas as espécies est avam subm et idas a um pr ocesso cont ínuo e per m anent e de evolução, m ar cado pela seleção dos m ais bem - adapt ados. Aqueles que não conseguissem se adapt ar est ar iam fadados à ex t inção. A ex p r essão “ d ar w i n i sm o so ci al ” f o i cu n h ad a p el o hist oriador brit ânico Richard Hofst adt er, j á no século XX, visando descrever os ram os do evolucionism o social, que passam a se sust ent ar em um a int er pr et ação da Teor ia da Evolução de Darwin, em que se pret endia fazer um a leit ura da sociedade pelo v iés das ideias do nat uralist a brit ânico. Os obj et ivos dos darwinist as sociais eram explicar a t ransfor m ação das sociedades, a indust r ialização e a r evolução t ecnológica e j ust ificar as difer enças cult urais ent re os povos europeus e os não europeus, valendo- se de form a específica da noção biológica de raça. Os evolucionist as adot avam o m ét odo com parat ivo com o procedim ent o de análise, porém os crit érios est abelecidos part iam do pressupost o da superioridade da raça europeia, apresent ando com o evidência principal dessa superioridade o grau de desenvolv im ent o t ecnológico alcançado pelos pov os eur opeus. Para o ev olucionism o social, t odas as cult uras obedeceriam a um a linha evolut iva linear, universal e det er m inist a, o que per m it ir ia com par á- las ent r e si e classificá-las segundo uma mesma hierarquia. As diferenças eram consideradas m arcações t em porais, que enquadrariam a cult ura em um det er m inado est ágio de pr ogr esso em relação ao est ágio considerado superior. O n om e m ais d est acad o d o d ar w in ism o social f oi o econom ist a brit ânico Herbert Spencer, responsável por reunir a t eoria biológica darwinist a e a t eoria econôm ica de Malt hus para ent ender os m ecanism os da sociedade com base em crit érios evolucionist as. Com isso, ele pret endia explicar as grandes diferenças t écnicas e t ecnológicas ent re a sociedade eu r opeia e os pov os n ão eu r opeu s. Segu n do Spen cer, os povos africanos seriam biologicam ente inferiores em relação aos europeus e isso j ust ificaria os seus at rasos t ecnológicos. Em out ras palavras, os africanos seriam um a raça m enos capacitada e m enos adaptada às árduas exigências da vida em sociedade. Nesse cont ext o, consolida- se o conceit o de raça, fundam ent ado em aspect os biológicos, que divide a espécie hum ana em subgrupos possuidores de caract eríst icas físicas, com port am ent ais e cognit ivas específicas. I st o post o, os ev olu cion ist as sociais, assim com o os p o si t i v i st as, f o r n ecer am ar g u m en t o s p ar a a “ Mi ssão Civilizadora”, sustentando a tese de que os povos superiores possuiriam a obrigação m oral de auxiliar os povos inferiores Spencer faz um a interpretação própria da Teoria da Evolução de Darwin. Enquanto o naturalista britânico afirm ava com o lei da adaptação que “o m ais apto sobrevive”, Spencer afirm ava que “o m ais forte sobrevive”, privilegiando as dinâm icas de poder. Coleção Filosofia / Sociologia Esse poder seria essencialm ent e t ecnológico- m ilit ar, t endo com o ápice e paradigm a a “civilização europeia”. A m udança de perspectiva proposta por Spencer está intim am ente associada ao I m perialism o e à necessidade de se encontrar justificativas “científicas” para as ações de dom inação europeias. O raciocínio dos darwinist as sociais se am para em um d e t e r m in ism o b io ló g ico . Ou sej a, as car act er íst icas sociais, com port am ent ais e int elect uais dos indivíduos seriam est abelecidas pela est rut ura genét ica do grupo biológico ao qual per t encem . I st o é, os brancos possuir iam apt idões e virt udes quant it at iva e qualit at ivam ent e diferent es dos negros e de out ras raças, virt udes essas que seriam inat as e perm it iriam est abelecer um a hierarquia ent re as raças. Os brancos, por ser em nat ur alm ent e m ais int eligent es e capazes, ser iam sen h or es n at u r ais das r aças m en os evoluídas, logo, de t odas as dem ais. Boa part e do discurso im perialist a do século XI X se fundam ent ava nessa noção de superioridade nat ural. Os europeus est ariam subm et idos ao “ fardo do hom em branco”, ist o é, à obrigação m oral de “ civilizar ” os povos at rasados, ainda que esse processo de civilização im plicasse o ext erm ínio dos povos “ prim it ivos”. Ao m esm o tem po, o discurso evolucionista seria utilizado para explicar as diferenças entre pobres e ricos na nova sociedade capitalista industrial. Transpondo o raciocínio biológico para o sociológico, Spencer afirm ava que as sociedades hum anas funcionariam de m odo sim ilar à cadeia alim entar dos anim ais, v igorando naquela as m esm as leis gerais dest a. Assim , os indivíduos e as sociedades estariam subm etidos à adaptação e à sobrevivência do m ais forte. Então, em um a sociedade competitiva como a capitalista, os ricos seriam os mais adaptados e, portanto, os mais fortes, enquanto os pobres seriam os menos adaptados e m ais fracos. Seria natural, portanto, a dom inação e a exploração do pobre pelo rico. Os darwinistas sociais buscavam naturalizar o que era social, atribuindo a responsabilidade da desigualdade social à natureza, com o intuito de m ascarar os jogos das forças políticas e econôm icas. Racismo científico O darwinism o social é parte do que ficou conhecido com o racism o científico, que consiste em um conjunto de teorias m arcadas pelo determ inism o biológico e que propunham a raça com o fator determ inante para estabelecer diferenças e hierarquias entre os grupos hum anos. Além do darwisnim o social, outras teorias sim ilares tiveram grande repercussão no m undo ocidental, com o a frenologia, a craniom etria e a eugenia. A fr enologia e a craniom et r ia são especializações do darwinism o social que utilizavam com o m étodo de investigação social a análise de crânios hum anos. Postulando o determ inism o biológico- racial, teóricos com o Robert Knox ( 1792- 1862) e Cesare Lom broso ( 1835- 1909) defendiam um vínculo direto e im ediat o ent re caract eríst icas fisiológicas do crânio de cada raça e as part icularidades com port am ent ais, m orais e int elect uais dos indivíduos. O livr o m ais conhecido de Ro b er t Kn ox , p u b l i ca d o em 1 8 5 0 , r esu m i a : Ra ce i s Ev er y t h i n g ( Raça é t u d o) . Em ou t r as p al av r as, p ar a frenólogos e craniom et rist as, seria possível “ ler” por m eio das m edidas cr an ian as ( t am an h o, v olu m e, pr opor ção, distâncias entre cavidades, form ato, entre outras m edidas) as características sociais próprias de cada raça, deduzindo, assim , o com portam ento individual a partir dos traços raciais. Boa par t e da cr im inologia – disciplina que se dedica a diversas t eorias do direit o crim inal e penal –, at é m eados d o sé cu l o XX, a i n d a se b a se av a n e sse p r e ssu p o st o det erm inist a, no qual se buscava a verificação m ediant e pesquisas em píricas. Por exem plo: ent re dois indivíduos acusados de prat icar um assassinat o, o form at o do crânio daquele que possuísse as “ caract eríst icas fisionôm icas de um assassino” poderia ser decisivo para sua condenação. A eu g en ia f oi p r op ost a com o “ ciên cia” a p ar t ir d os est udos do francês Francis Galt on ( 1822- 1910) , prim o de Darwin, publicados em 1883. O term o grego eugenia pode ser t raduzido por “ bom nascim ent o” ou “ boa or igem ” e foi ut ilizado por Galt on para descrever um a nova ciência que buscava, a part ir de um a seleção art ificial, cont ribuir para apr im orar a herança genét ica das raças hum anas. A eugenia visaria, portanto, acelerar o processo de seleção nat ural, favorecendo as raças m ais fort es e elim inando as raças m ais fracas. Em outras palavras, significava favorecer os aspectos genéticos identificados com o dom inador branco e suprim ir as características consideradas inferiores das dem ais raças, principalm ente da raça negra. Até o início do século XX, a eugenia teve am pla aceitação no m undo ocidental, tendo sido registradas várias associações eu g en ist as n a Eu r op a, n os EUA e in clu siv e n o Br asil, qu e bu scav am u m “ apr im or am en t o social” a par t ir do apr im or am en t o gen ét ico. Por ém , su a f u n ção social f oi severam ente questionada quando passou a ser apropriada pelo nazism o, concedendo sustentação “ científica” para os cam pos de concentração e para o holocausto. O argum ento utilizado pela ciên cia n azist a par a elim in ar j u deu s, n egr os, cigan os, hom ossexuais – e outros povos tidos com o inferiores – era j ustam ente o de purificar a raça germ ânica-ariana, elim inando as interferências que estes consideravam nocivas e distorcidas. críticas ao evolucionismo social e ao racismo científico A t ent at iva de t ranspor crit érios físicos e biológicos para a int erpret ação da sociedade produziu leit uras da realidade que levaram à dissem inação de visões preconceit uosas e à legit im ação de dom inações polít icas. O evolucionism o social, incluindo as t eorias do racism o cient ífico, foi o braço t eórico do im perialism o europeu, j ust ificando as ações da I nglat erra, França, Bélgica e I tália por m eio da tese da superioridade racial europeia. Além disso, essas t eorias buscavam apresent ar j ust ificações para as desigualdades econôm icas, acent uadas d u r an t e a Rev o l u ção I n d u st r i al , t r at an d o f en ô m en o s sociais e h ist or icam en t e p r od u zid os com o se f ossem biológicos, necessários e condicionados por forças nat urais. O ápice da crít ica a essas filosofias sociais ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, m om ento em que as consequências das dout rinas racist as at ingiram seu apogeu com o nazism o. Em razão de seus erros t eóricos, m et odológicos e seu com prom etim ento ideológico, as doutrinas supram encionadas foram duram ent e crit icadas e superadas do pont o de vist a cient ífico. Mas verem os em capít ulos post eriores que sua influência ainda perm anece bast ant e visível, especialm ent e na quest ão racial, em que se percebe discursos de cunho darwinist a social, possuindo espaços no senso com um e na própria polít ica. Bernoulli Sistema de Ensino 7 sOcIOLOGIA Positivismo e Revolução Industrial Frente A Módulo 01 Por isso, algum as das caract eríst icas do posit ivism o são Positivismo O positivism o pode ser considerado um conj unto de teorias políticas, científicas e sociais que foi fortemente influenciado o “cientificismo” ou “culto à ciência” e a grande valorização da tecnologia. Esta últim a é considerada o braço m aterial da ciência e perm ite realizar as ações necessárias para que o pelo otim ism o em relação à razão e à ciência, sentim ento conhecim ento se torne efetivo. Para Com te, a industrialização que se difundia no século XI X em torno da industrialização era vista com o a form a superior de elaboração do trabalho e e do im perialism o europeu. I naugurado pelo francês Henri cumpriria finalidades que extrapolavam o domínio da economia. Saint- Sim on ( 1760- 1825) , o posit ivism o est abelece um a Ou seja, pela tecnologia e pela industrialização, a hum anidade relação am bígua com o I lum inism o: ao m esm o tem po que poderia satisfazer as suas necessidades crescentes, superar com partilhava a crença no poder da razão e no progresso as desigualdades, acabar com a pobreza e reduzir o esforço da hum anidade, discordava da visão política ilum inista, que do t rabalho. Dessa for m a, o pr ogr esso indust r ial t rar ia, crit icava as inst it uições sociais e a legit im idade do Est ado necessariam ente, progresso social. Conform e afirm a o lem a por considerá- las um a am eaça à liberdade. Sim on cham ou positivista: “saber para prever, prever para agir”. o Iluminismo de “filosofia negativa” e se opôs a ele criando MAYOR, Federico. Ciência e poder. o positivism o. São Paulo: Unesco / Papirus. 1998, p. 55. No entanto, foi som ente com o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) que o positivism o atingiu seu auge. Com te I nspirando- se na Física e na Matem ática, dos séculos XVI I form alizou as crenças posit ivist as e garant iu visibilidade à e XVI I I , o positivism o com teano partia do pressuposto de que doutrina, tornando-a conhecida ao redor do m undo. Seu livro a estrutura social obedecia a “ leis naturais” sim ilares às que Curso de Filosofia Positiva, lançado em 1848, tornou-se um a regem a natureza das coisas. A principal função das ciências espécie de “livro sagrado” do positivism o. Nele, Com t e defende as linhas m est ras de sua dout rina, q u e g ir am em t or n o d o d esen v olv im en t o d o “ esp ír it o positivo”, não se resumindo à mera cientificidade objetiva, m as englobando t am bém aspect os subj et ivos. E é tam bém atribuída a Com te a criação do term o “ sociologia”, proposto no livro supra- citado, para seria a de descobrir essas leis, ou sej a, as relações de causa e efeito universais e im utáveis que estariam por trás de todos os fenôm enos. Caberia à Física Social a incum bência de desvendar as “ leis naturais” que regem a vida em sociedade, da m esm a form a com o a Física descobria as leis da m ecânica. O conhecim ent o dessas “ leis sociais” perm it iria aos seres hum anos aprim orar a ordem natural. Dentre as leis naturais que regem a sociedade, é im portante descrever um a ciência específica cuj o obj et o dest acar a lei do pr ogr e sso. Essa lei corresponderia ao Maíra Dam ásio seria a sociedade. August e Com t e. Em sua acepção, o posit ivism o defende que desenvolvim ento linear, necessário e universal das sociedades, o único conhecim ento verdadeiro é o resultante par t in do de est ágios m ais sim ples par a est ágios m ais d a ci ên ci a ex p er i m en t al . D e sse m o d o, com plexos. Por ser universal e necessário, todas as sociedades qualquer out ra form a de conhecim ent o – hum anas est ariam subm et idas a ele. Paralelam ent e, por ser da fé religiosa à filosofia – é descon- linear, t odas as sociedades hum anas evoluiriam seguindo as sid er ad a em n om e d o con h eci- m esm as et apas. O m odelo de evolução seria, obviam ent e, m ent o posit iv o. Tudo o que não o padrão civilizacional europeu, obedecendo à sua hist ória puder ser provado pela ciência será social. Desse m odo, t odas as dem ais sociedades hum anas ca r a ct e r i za d o co m o p e r t e n ce n t e seriam avaliadas a part ir do parâm et ro das nações conside- aos dom ínios t eológico e m et afísico e, radas m ais civilizadas, ist o é, com m aior desenvolvim ent o assim , não se constituirá com o ciência. ▪ Busca por leis universais que regem t odos os fenôm enos; ▪ Os fat os são a base da elaboração das leis; ▪ Obj et ividade e neut ralidade; ▪ Rej eição às explicações m et afísicas e religiosas; ▪ O método científico (observação e experimento) é o instrumento para alcançar o conhecim ento. Princípios positivistas na obra de Comte. 8 t ecnocient ífico: I nglat erra e França. Coleção Filosofia / Sociologia Positivismo e Revolução Industrial A Lei dos Três Estados Segundo Com te, a hum anidade se desenvolveria em três estágios sucessivos que corresponderiam ao nível de progresso do espírito. Est ado t eológico: as explicações sobre a realidade Rubens Lim a 1. envolvem seres ou forças sobrenat urais ( com o os deuses) . Procura pelo “ porquê” das coisas, busca da essência, do absolut o. O m it o e a religião dom inam esse est ado. 2. Estado m etafísico: inicia-se um cam inho m ais racional de explicação, porém ainda sem o rigor da ciência. sOcIOLOGIA Mant êm - se a busca abst rat a pelo absolut o e pela essência da realidade. A Filosofia assume o lugar da religião, m as m antém a abstração. 3. Estado positivo: etapa final e definitiva, não se busca m ais o “porquê” das coisas, m as sim o “com o”, por m eio da descoberta e do estudo das leis naturais e das relações de causa e efeito. O estudo do particular substitui a busca abstrata pela essência. A ciência tom a o lugar da religião e da Filosofia. Os 3 est ados. Positivismo no brasil [ ...] O proj eto sociopolítico de Com te pressupunha um a evolução ordeira da sociedade, incom patível com revoluções e m udanças bruscas. Curiosam ente, no Brasil os ideais positivistas serviram para alavancar um a troca de regim e, com a Proclam ação da República. O aparente paradoxo se explica, em parte, pelo fato de a influência positivista ter resultado em pensam entos m uito diversos no Brasil, conform e se com binou com outras correntes ideológicas. Nenhum setor teve m aior presença da ideologia com tiana do que as Forças Arm adas, de onde saiu o vitorioso m ovim ento republicano e a ideia de adotar o lem a “ ordem e progresso”. Várias das m edidas governam entais dos prim eiros anos da República tiveram inspiração positivista, com o a reform a educativa de 1891 e, no m esm o ano, a separação oficial entre I greja e Estado. O positivism o ficou de tal form a conhecido no Brasil que o prenom e de Com te foi aportuguesado para Augusto, e a corrente filosófica tornou- se tem a de um sam ba de Noel Rosa e Orestes Barbosa. A canção, intitulada “ Positivism o” e lançada em 1933, term ina com os versos: “ O am or vem por princípio, a ordem por base / O progresso é que deve vir por fim / Desprezaste esta lei de Augusto Com te / E foste ser feliz longe de m im ”. [ ...] Disponível em : < ht t ps: / / novaescola.org.br/ cont eudo/ 186/ august e- com t epensador- frances- pai- posit ivism o> . Acesso em : 13 set . 2018. hIGIENIsMO sOcIAL E EuGENIA [ ...] Do pont o de vist a social, a burguesia se inspirará na Biologia e nas t eorias incert as sobre a heredit ariedade para consolidar o poder econôm ico recém - conquist ado, reabilit ando o direit o de sangue, não m ais em seu aspect o religioso com o a nobreza pregava at é ent ão, m as do pont o de vist a biológico e cient ífico. Os burgueses t ornaram - se os m ais capazes, os m ais fort es, os m ais int eligent es e os m ais ricos. Será pela m erit ocracia que o m érit o nat ural subst it uirá o sangue azul. A superioridade heredit ária burguesa fará cont rapont o t am bém com a inferioridade operária e form ará um a hierarquia social em que a arist ocracia perderá sua prim azia. O t riunfo burguês afast a a nobreza e os pobres com o respaldo da ciência. A part ir de ent ão, além da raça, et nia e cult ura se t ornarão sinais da nat ureza que indicarão superioridade ou não, e t ais sinais j ust ificarão a dom inação de um grupo sobre o out ro. [ ...] Diante desse quadro social e político de crise, higienistas e eugenistas entram em ação para pensar o social e “ testar” suas teorias. Higienistas pregam a higiene m oral da sociedade. Não som ente a saúde, m as tam bém a conduta passa a ser obj eto de estudo da higiene. Nessa perspectiva, a doença torna- se um problem a econôm ico e requererá o isolam ento e a exclusão dos m enos adaptados. Bernoulli Sistema de Ensino 9 Frente A Módulo 01 [ ...] As políticas de reform as urbanas e de educação m oral higiênica não agradavam de m odo algum a Francis Galton, o pai da eugenia, pois iam contra a lei da seleção natural. Melhorar as condições de vida dos grupos de degenerados era o m esm o que incentivar a degeneração da “ raça inglesa”. Londres tornou- se um m au exem plo de vida social e disciplina. Ali m orava todo o resíduo social, a escória, a m ultidão fora da norm a. Um a am eaça ao desenvolvim ento econôm ico e hum ano. Mesm o com o surgim ent o das workhouses [ casas de t rabalho] , inst it uição est at al que em pregava “ desocupados” provisoriam ent e at é a reint rodução ao m undo do t rabalho, o assist encialism o ainda era m uit o m al vist o. At é m esm o casas de caridade eram desqualificadas e consideradas um a m ulet a para aqueles “ vagabundos” vist os com o um “ fardo social”. A part ir desse pont o de vist a sobre a m ult idão que est ava fora da vida regulada pelo t rabalho foram elaboradas soluções m ais radicais para o problem a inglês: elim inar t odos aqueles que cont ribuíam para a degeneração física e m oral, im pedindo- os de procriar ou de se perpet uar na sociedade. O m edo crescent e da m ult idão am ot inada reclam ando direit os e m elhores condições de vida era um a am eaça à burguesia. Muit as das conquist as t rabalhist as vieram dessas reivindicações. Nesse cont ext o surgiu o Welfare St at e, [ est ado de bem - est ar social] , a part ir de pressões result ant es do crescim ent o capit alist a que forçaram o Est ado a se t ransform ar est rut uralm ent e para apoiar de m aneira socioeconôm ica as dem andas da população. Visava essencialm ent e criar organism os e serviços est at ais de am paro aos indivíduos do corpus social. Para os eugenistas, o Welfare State era antinatural, e perm itir que o m enos apto viva, através do assistencialism o, era considerado parasitism o. Nesse sentido, com bater esse tipo de parasitism o era contribuir para o progresso da sociedade, j á que, com a elim inação do fardo social que sobrecarrega o Estado, o progresso da civilização estaria garantido. I sso quer dizer que o grande im pedim ento para o sucesso da eugenia dependia de poupar os nascim entos daqueles que invariavelm ente viveriam sob a tutela do Estado, além de estim ular os casam entos e a procriação daqueles que elevariam o conj unto da raça inglesa. DI WAN, Piet ra. Raça Pura: um a hist ória da eugenia no Brasil e no m undo. São Paulo: Cont ext o, 2007. p. 32- 37. cATEcIsMO POsITIVIsTA Sem deter-vos especialm ente em cada fase enciclopédica, com o na nova educação ocidental, lim ito- m e a pedir-vos que aprecieis em separado as duas partes desiguais que com põem historicam ente o conj unto da filosofia positiva. Esta divisão espontânea consiste em decom por a ordem universal em ordem exterior e ordem hum ana. A prim eira, a que correspondem a cosm ologia e a biologia, constituiu, sob o nom e de filosofia natural, que se tornou vulgar na I nglaterra, o único dom ínio científico da Antiguidade, que não pode m esm o senão esboçá-lo sob o aspecto estático. Além de o verdadeiro espírito teórico não com portar, então, um surto m ais com pleto, o regim e social devia repelir um a extensão prem atura, que por m uito tem po só podia dar com o resultado com prom eter a ordem inicial sem assistir realm ente o progresso final. Som ente o gênio excepcional de Aristóteles, depois de ter sistem atizado, tanto quanto possível, a filosofia natural, preparou a sã filosofia m oral, esboçando suficientem ente as duas partes essenciais da estática hum ana, prim eiro coletiva e depois individual. Por isso tam bém ele só foi verdadeiram ente apreciado na I dade Média, quando a separação provisória dos dois poderes suscitou o surto direto de nossas principais especulações. Mas este precioso im pulso social não podia dispensar o verdadeiro espírito filosófico do longo preâm bulo científico que ainda o separava de seu m elhor dom ínio. Eis por que esta divisão provisória se prolongou até nossos dias. Ela deve, assim , presidir à últim a transição da razão ocidental, dirigida pelo positivism o. COMTE, August e. Catecismo Positivista. ( Coleção os Pensadores) . São Paulo: Abril Cult ural, 1978. p. 221. [ Fragm ent o] EXERcícIOs PROPOsTOs 01. ( UPE) Sobre a Revolução I ndust rial, é corret o afirm ar que ela com preendeu A) o abandono da m ecanização da indústria e da agricultura. B) um processo de aceleração no desenvolvim ent o dos t ransport es e das com unicações. C) a elim inação das desigualdades sociais. D) o fim da aplicação da força motriz à indústria. E) um a dim inuição do cont role capit alist a no sist em a econôm ico. 02. DPN3 ( UFU- MG) Na história do surgim ento da Sociologia, a prim eira corrente teórica consolidada foi o positivism o. Assinale a alternativa incorreta sobre essa corrente de pensam ento. A) O positivism o tinha um a perspectiva bastante otim ista quanto ao desenvolvim ento das sociedades hum anas e colocava com o fundam entos da dinâm ica social, das m udanças para estágios superiores, a busca da ordem e do progresso. B) No positivism o, reconhecia-se que os princípios reguladores do m undo físico e da sociedade hum ana eram diferentes em essência, m as a crença na origem natural de am bos os aproxim ava e, por isso, deviam ser estudados sob o m esm o m étodo. C) O positivism o concebia a sociedade com o um organism o constituído de partes integradas e harm ônicas, segundo um m odelo físico e organicista, que levou o próprio Auguste Com te a cham ar a Sociologia de “ Física Social”, inicialm ente. D) No positivismo, os conflitos e a luta de classes observados na sociedade humana eram inerentes à vida social, tal como na desordem da cadeia alim entar de outros anim ais, pois todos os seres vivos estavam subm etidos às m esm as leis da natureza. 10 Coleção Filosofia / Sociologia Positivismo e Revolução Industrial Com base nele, o surgimento da Sociologia foi motivado pelas ( Unicent ro- PR) Considerando- se as grandes m udanças qu e ocor r er am n a h ist ór ia da h u m an idade, aqu elas que aconteceram no século XVI I I – e que se estenderam n o sécu lo XI X – só f or am su per adas pelas gr an des transform ações do final do século XX. As m udanças provocadas pela revolução científico-tecnológica, que denominamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a organização social, alterando-a por com pleto, criando novas form as de organização e causando m odificações culturais duradouras, que perduram até os dias atuais. transform ações das relações sociais ocorridas na sociedade europeia, nos séculos XVI I I e XI X, contribuindo para A) o aum ent o da desorganização social est abelecida pela Revolução I ndust rial. B) a o r g a n i z a ç ã o d e v á r i o s m o v i m e n t o s s o c i a i s cont r olados por pensador es com o Saint - Sim on e Com t e. C) a elaboração de um conceit o de sociologia incluindo os fenômenos mentais como tema de reflexão e DI AS, Reinaldo. I nt rodução à Sociologia. invest igação. São Paulo: Persons Prent ice Hall, 2004. D) a criação da corrent e posit ivist a, que propôs um a Sobre o surgim ento da Sociologia e as m udanças ocorridas na m odernidade, é corret o afirm ar: t ransform ação da sociedade com base na reform a int elect ual plena do ser hum ano. A) A intensificação da economia agrária em larga escala nas m et rópoles gerou o êxodo para o cam po. E) o surgim ent o de um a “ física social” preocupada com a B) O aparecim ent o das fábricas e o seu desenvolvim ent o levou ao crescim ent o das cidades rurais. const rução de um a t eoria social, separada das ideias C) O aum ento do trabalho hum ano nas fábricas ocasionou a dim inuição da divisão do t rabalho. conhecim ent o da realidade. D) A agricultura fam iliar desse período foi o objeto de estudo que fez surgir as ciências sociais. de or dem e desenvolv im ent o com o chave para o 06. SPTK Com te. As características do pensam ento com tiano são: E) A antiga form a de ver o m undo não podia m ais solucionar os novos problem as sociais. 04. DAU4 A) a sociedade é regida por leis sociais tal com o a natureza é regida por leis naturais; as ciências hum anas devem ( UFU- MG) De um pont o de v ist a hist ór ico, a Sociologia com o disciplina cient ífica sur giu ao longo do século XI X, com o um a r espost a acadêm ica para os novos desafios da m oder n idade. Além das con cepções adv in das da Revolução Francesa e dos for t es im pact os gerados pela Revolução I ndust r ial na est r ut ura da sociedade, m uit os out r os pr ocessos t am bém cont r ibuíram para essa nova configuração da sociedade. utilizar os m esm os m étodos das ciências naturais e a ciência deve ser neutra. B) a sociedade hum ana atravessa três estágios sucessivos de evolução: o m et afísico, o em pírico e o t eológico, no qual predom ina a religião posit ivist a. C) a sociologia com o ciência da sociedade, ao contrário das ciências naturais, não pode ser neutra porque tanto o Em seu desenvolvim ento ao longo do século XI X, a Sociologia esperava entender sujeito quanto o objeto são sociais e estão envolvidos A) os grupos sociais e as causas da desint egração social vigent e. D) o processo de evolução social ocorre por m eio da unidade B) com o a Revolução I ndust rial encerrou a t ransição ent re feudalism o e capit alism o, sem prej uízo da classe trabalhadora, pois foi beneficiada por esse processo. C) a subjetividade dos indivíduos nas pesquisas sociológicas, como uma disciplina científica com metodologia própria. D) a Revolução Francesa com o um m arco revolucionário que modificou o pensamento, apesar de manter as t radições arist ocrat as. 05. (UEG-GO) A sociologia nasce no séc. XI X após as revoluções burguesas sob o signo do positivism o elaborado por Auguste reciprocam ente. entre ordem e progresso, o que necessariam ente levaria a um a sociedade com unista. 07. ( UFU- MG) A respeit o do cont ext o hist órico de em ergência da Sociologia, m arque a alt ernat iva corret a. A) A crescente legitimidade científica do saber sociológico, produzido por aut ores com o August e Com t e e Ém ile Durkheim , deveu- se à sua fort e crít ica ao I lum inism o. B) A Sociologia consolidou- se, disciplinar m ent e, em resposta aos novos problemas e desafios desencadeados ( UPE–2015) Leia o texto a seguir: En qu an t o r espost a in t elect u al à “ cr ise social” de seu t em po, os pr im eir os sociólogos ir ão r ev alor izar d et er m in ad as in st it u ições q u e, seg u n d o eles, d esem p en h am p ap éi s f u n d am en t ai s n a i n t eg r ação e na coesão da vida social. A j ovem ciência assum ia com o t arefa int elect ual repensar o problem a da ordem social, enfat izando a im port ância de inst it uições com o a aut oridade, a fam ília, a hierarquia social e dest acando a sua im port ância t eórica para o est udo da sociedade. por t ransform ações sociais, polít icas, econôm icas e culturais, cuj os m arcos históricos principais foram a Revolução I ndustrial e a Revolução Francesa. C) Um d os p r in cip ais leg ad os d o I lu m in ism o f oi a crítica severa às concepções científicas da realidade social, combinada com a reafirmação de princípios e interpretações de cunho religioso. D) Herdeira direta das transformações sociais desencadeadas pela Revolução I ndustrial e pela Revolução Francesa, a MARTI NS, Carlos Benedit o. O que é Sociologia. São Paulo: Sociologia ignorou os m étodos racionais de investigação Brasiliense, 2006. p. 30. em favor do conhecim ento produzido pelo senso com um . Bernoulli Sistema de Ensino 11 sOcIOLOGIA 03. Frente A 08. Módulo 01 ( UEL- PR–2016) A ordem e o progresso constituem partes fundam entais da Sociologia de Auguste Com te. Com base nas ideias com teanas, assinale a alternativa correta. C) Con t r ibu ir par a a solu ção dos pr oblem as sociais decorrent es da Revolução I ndust rial, t endo em vist a a necessária est abilização da ordem burguesa. A) A ordem social t ot al se est abelece de acordo com as leis da natureza, e as possíveis deficiências existentes podem ser retificadas mediante a intervenção racional dos seres hum anos. D) Tornar realidade o cham ado “socialism o utópico”, visto com o única alternativa para a superação das lutas de classe em que a sociedade capitalista estava mergulhada. B) A liberdade de opinião e a diferença entre os indivíduos são fundam ent os da solidariedade na form ação da estática social; essa diversidade produz vantagens para a evolução, em com paração com a hom ogeneidade. sEçãO ENEM 01. C) O desenvolvim ent o das forças produt ivas é a base p ar a o p r og r esso e seg u e u m a lin h a r et a, sem oscilações e, por t ant o, a int er fer ência hum ana é incapaz de alt erar sua direção ou velocidade. D) O pr ogr esso da sociedade, em confor m idade com as leis nat urais, é result ado da com pet ição ent re os indivíduos, com base no princípio de j ust iça de que os m ais apt os recebem as m aiores recom pensas. COELHO NETTO. Banzo. Port o: Lello e I rm ão, 1912. O relat o do t ext o ressalt a o uso da t écnica com o um inst rum ent o para E) O progresso da sociedade é a lei nat ural da dinâm ica social e, con sider ado em su a f ase in t elect u al, é expresso pela evolução de t rês est ados básicos e sucessivos: o dom ést ico, o colet ivo e o universal. 09. (UEL-PR) A Sociologia é uma ciência moderna que surge e se desenvolve juntamente com o avanço do capitalismo. Nesse sentido, reflete suas principais transform ações e procura desvendar os dilem as sociais por ele produzidos. Sobre a emergência da Sociologia, considere as afirmativas a seguir: I. A Sociologia tem com o principal referência a explicação teológica sobre os problem as sociais decorrentes da industrialização, tais com o a pobreza, a desigualdade social e a concentração populacional nos centros urbanos. I I . A Sociologia é produto da Revolução I ndustrial, sendo chamada de “ciência da crise”, por refletir sobre a t ransform ação de form as t radicionais de exist ência social e as m udanças decorrentes da urbanização e da industrialização. I I I . A em ergência da Sociologia só pode ser com preendida se for observada sua correspondência com o cientificismo europeu e com a crença no poder da razão e da observação, enquant o recursos de produção do conhecim ent o. I V. A Sociologia surge com o um a t ent at iva de rom per com as t écnicas e m ét odos das ciências nat urais, na análise dos problem as sociais decorrent es das rem iniscências do m odo de produção feudal. Est ão corret as apenas as afirm at ivas: 10. A) I e I I I C) I I e I V B) I I e I I I D) I , I I e I V ( UFU- MG) Su r gida n o m om en t o de con solidação da sociedade capit alist a, a Sociologia t inha um a im port ant e t arefa a cum prir na visão de seus fundadores, dent re os quais se dest aca August e Com t e. Assinale a alt ernat iva corret a quant o a essa t arefa: B) I ncentivar o espírito crítico na sociedade e, dessa forma, colaborar para t ransfor m ar radicalm ent e a or dem capitalista, responsável pela exploração dos trabalhadores. Coleção Filosofia / Sociologia A) simplificar o trabalho humano. B) regist rar os hábit os cot idianos. C) aum ent ar a produt ividade fabril. D) fort alecer as cult uras t radicionais. E) t ransform ar os elem ent os paisagíst icos. 02. (Enem –2016) A eugenia, tal com o originalm ente concebida, era a aplicação de “boas práticas de m elhoram ento” ao aprim oram ento da raça hum ana. Francis Galton foi o prim eiro a sugerir com destaque o valor da reprodução hum ana controlada, considerando-a produtora do aperfeiçoam ento da espécie. ROSE, M. O espect ro de Darwin. Rio de Janeiro: Zahar, 2000 ( Adapt ação) . Um result ado da aplicação dessa t eoria, dissem inada a part ir da segunda m et ade do século XI X, foi o( a) A) aprovação de m edidas de inclusão social. B) adoção de cr ianças com difer ent es caract er íst icas físicas. C) est ab elecim en t o d e leg islação q u e com b at ia as divisões sociais. D) prisão e est erilização de pessoas com caract eríst icas consideradas inferiores. E) desenvolvim ent o de prót eses que possibilit avam a reabilitação de pessoas deficientes. E) I , I I I e I V A) Desenvolver o puro espírito científico e investigativo, sem m aior es pr eocu pações de n at u r eza pr át ica, deixando a solução dos problem as sociais por conta dos hom ens de ação. 12 ( Enem –2017) Parecia coisa de encant o. A gent e deixava de ir uns poucos m eses num lugar e quando aparecia lá ficava de boca abert a vendo t udo m udado: casas novas, negócios sor t idos com o os da Cor t e, igr ej a, cir co de cavalinhos, bot ica, e o m at o, o que é dele? Trem de ferro ia com endo t udo, t al e qual com o na t erra brava depois do roçado quando a plant ação brot a. GAbARITO Propostos 01. 02. 03. 04. B D E A seção Enem 01. E Meu aproveitamento Acertei ______ 05. 06. 07. 08. D A B A Errei ______ 09. B 10. C Acertei ______ Errei ______ 02. D Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ % FRENTE SOCIOLOGIA MÓDULO A 02 Durkheim e Weber Nest e capít ulo irem os conhecer as cont ribuições de dois im port ant es pensadores para a Sociologia. São eles: Ém ile Durkheim e Max Weber. Conform e você pôde est udar no prim eiro capít ulo, a Revolução I ndust rial foi um fenôm eno que desencadeou t oda a reflexão sociológica, um a vez que causou a rupt ura da form a com o se organizava a sociedade feudal e cont ribuiu para form ar as sociedades m odernas e capit alist as. Am bos com preenderam o processo de t ransform ação da sociedade feudal para as sociedades m odernas de m aneira part icular, inaugurando vert ent es dist int as para a análise sociológica que ainda são m uit o influent es nas t eorias que buscam ent ender cient ificam ent e a vida em sociedade. A sOcIOLOGIA FuNcIONALIsTA DE éMILE DuRKhEIM (1858-1917) Ém ile Durkheim é considerado por m uit os com o sendo o “ fundador da sociologia m oderna” ou o “ pai da sociologia”. Apesar de a disciplina t er sido criada algum as décadas ant es, foi esse int elect ual francês o principal responsável pela sua inst it ucionalização com o ciência e com o disciplina acadêm ica na Universidade de Bourdeaux, em 1887, t endo sido o prim eiro professor a lecionar Sociologia form alm ent e na hist ória das ciências hum anas. Preocupado com a aceit ação da Sociologia com o ciência, Durkheim se inspirou nos paradigm as posit ivist as, que eram am plam ent e aceit os no cenário cient ífico da época, e dedicou boa part e de seus est udos à criação de princípios e m ét odos de invest igação que assegurassem rigor e confiabilidade à pesquisa social, o que foi m at erializado na sua obra de referência As regras do m ét odo sociológico, de 1895. consciência coletiva e coesão social Dent re os principais pensadores da Sociologia, Durkheim é aquele que apresent a m aior influência da corrent e posit ivist a em sua obra. Assim com o Com t e, Durkheim t am bém ent endia que a sociedade se assem elhava a um a grande m áquina ( m et áfora Mecanicist a, ext raída da Física) ou um organism o vivo ( m et áfora Organicist a, ext raída da Biologia) . Para esse pensador, o fat or que fazia com que os indivíduos se m ant ivessem unidos em sociedade, era j ust am ent e um conj unt o de leis nat urais, crenças e sent im ent os com uns a t odos os seus m em bros. Esse con j u n t o de cr en ças ser ia com o u m gr u po de r egr as, n or m as, padr ões de con du t a e sent im ent os que não est ão present es na consciência individual, m as sim dispersos na própria sociedade. Logo, eles se t ornam present es na vida dos indivíduos m ediant e as inst it uições sociais, que são encarregadas de fazer com que os indivíduos int ernalizem t ais regras, a fim de que sej a possível a vida em sociedade. Um claro exem plo de um a inst it uição social é a fam ília, que, por ser o prim eiro grupo no qual socializam os, é m uit o im port ant e para a nossa com preensão das form as de convivência e com unicação na sociedade na qual nos inserim os. I n st it u içã o socia l Um a das noções m ais im port ant es da Sociologia de Durkheim é a de inst it uição social. As inst it uições sociais correspondem a conj unt os de regras, com port am ent os e valores que são part e da consciência colet iva e t ornam - se referência para os com port am ent os dos indivíduos, norm at izando a vida social. A fam ília, o Est ado e a religião são os exem plos m ais usuais de inst it uições sociais, m as não os únicos. Cada sociedade pode t er um a grande Ém ile Durkheim . variedade de inst it uições, e elas podem variar ao longo do t em po. Porém , as m udanças t endem a ser m ais lent as porque as inst it uições funcionam com o pilares de sust ent ação Maíra Dam ásio da vida social, ancorando- se em t radições e cost um es arraigados. Bernoulli Sistema de Ensino 13 Frente A Módulo 02 Fica evident e na obra de Durkheim que ele considera a exist ência de um a predom inância da colet ividade sobre a individualidade. Em out ras palavras, o indivíduo seria pouco m ais do que um “produto do m eio”, sendo determ inado ao longo da sua vida e de seu processo de socialização ligado aos padrões considerados “ norm ais” pelo grupo social ao qual pert ence. Podem os afirm ar que a Sociologia, para Durkheim – assim com o para Com t e –, é um a ciência com prom et ida com as t ransform ações prát icas. A busca por explicações obj et ivas e cient íficas para os fat os sociais é um passo necessário para o aprim oram ent o da vida social, cuj o aspect o cent ral se assent a na noção de coesão social. É nesse espírit o que Durkheim concebe o conceit o de consciência colet iva. Em bora t odo indivíduo possua um a con sciên cia in div idu al, ele é for t em en t e in flu en ciado e det erm inado pelas form as padronizadas de com port am ent o do grupo social, que corresponde à consciência colet iva. Pode- se afirm ar, com Durkheim , que a consciência colet iva det erm ina a consciência individual. Su a So ci o l o g i a r e ce b e r á o n o m e d e Fu n ci o n a l i st a ( Posit ivism o Funcionalist a) j ust am ent e porque busca explicar o t odo em razão de suas part es, ident ificando as funções específicas que são cum pridas por cada part e da sociedade em benefício da coesão social. Seu m ét odo de análise, de cunho car t esiano, pr ocurava isolar a par t e do t odo, Em out ras palavras, a consciência colet iva, para Durkheim , é um sistem a, cuja existência se m anifesta fora das consciências individuais, ist o é, fora dos indivíduos, m as que os cont rola por m eio da pressão m oral e psicológica, dit ando, assim , as m aneiras de com port am ent o esperadas pela sociedade. analisá- la m inuciosa e m et odicam ent e e, depois, reint egrá- la ao t odo para enxergar sua função. O objeto de estudo da sociologia: Os fatos sociais Assim , segundo o raciocínio de Durkheim , as consciências individuais poderiam ser reduzidas, em últ im a inst ância, à consciência colet iva. A consciência colet iva exercerá m aior ou m enor influência sobre o indivíduo, de acordo com o t ipo de sociedade no qual ele se insere. Quant o m aior a influência da consciência colet iva, m aior a coesão social. Em sociedades que apresent am m aior desenvolvim ent o da divisão social do t rabalho, a consciência com um se t or na m ais reduzida, abrindo m ais espaço para o desenvolvim ent o das personalidades individuais. O m ét odo posit ivist a im perou nas ciências nat urais durant e t odo o século XI X e foi o paradigm a cient ífico nort eador do surgim ent o da Sociologia. Durkheim ent endia que, em rigor, a Sociologia deveria se ocupar do est udo dos fa t os socia is, que elucidarem os m ais adian t e. I sso sign if ica qu e a Sociologia dev e se Mesm o com a m aior possibilidade de haver um a individ u alização, a coesão n ão sof r e g r an d es ab alos, p ois a int erdependência passa a ser calcada na diferenciação ent re os indivíduos. Por esse m ot ivo, as sociedades indust riais precisariam criar um a nova ordem m oral, para que a coesão social possa ser possível em um cont ext o em que há m aior diferenciação ent re os indivíduos, ao cont rário do que ocorria nas sociedades pré- indust riais, que apresent avam m enor diferenciação individual. concent rar na busca pelos m ecanism os, pela or igem e pelo funcionam ent o das inst it uições sociais, das crenças, v alor es e com por t am en t os qu e m an t êm os in div ídu os vivendo em sociedade. Na realidade, as inst it uições sociais exercem grande influência sobre os indivíduos. Logo, para Durkheim , o fat o de os indivíduos se m ant erem vivendo em grupos est á m ais relacionado a essa força ext erna do que propriam ent e à vont ade individual dos suj eit os. Cont udo, de qual m aneira seria possível para a Sociologia com preender, de m odo sat isfat ório, a form a com o se procede a ação dessa força ext erna sobre os indivíduos? O conceit o de fat o social pode nos aj udar a com preender essa quest ão. Em sua obra As regras do m étodo sociológico, publicada pr im eiram ent e em 1895, Dur k heim pr ocura est abelecer as f r on t eir as en t r e a Sociologia e as dem ais ciên cias, especialm ente as ciências naturais. A confecção da pesquisa Rubens Lim a social teria com o m odelo o m étodo científico desenvolvido nas ciências experim entais, guardando, contudo, as especificidades próprias dos fenôm enos sociais. O grande m érit o desse pensador est á em dar aut onom ia, rigor e obj et ividade para a pesquisa social, separando- a das dem ais ciências e confer indo m aior r espeit abilidade dent ro do cenário cient ífico do século XX. Durkheim ent endia que a sociedade era um fenôm eno que se est abelecia a part ir de leis gerais e perm anent es. A sociedade seria um a Os conceit os de consciência individual e consciência colet iva propost os por Durkheim . 14 Coleção Filosofia / Sociologia sínt ese de par t es int er dependent es que, ao execut ar em suas funções, cont ribuiriam para o funcionam ent o do t odo, t al qual um organism o vivo. Porém , para Durkheim , as part es • Ext erioridade: os fat os sociais exist em independentem ente da vontade do indivíduo. Desde quando nasce, est e é expost o a regras, valores, com port am ent os que exist iam ant es dele e aos quais ele será coagido a se adequar. O indivíduo não cria seu com port am ent o nem adere a ele de form a espont ânea e int encional. Ele sim plesm ente assim ila e reproduz o que é praticado pelos outros ao seu redor. • Generalidade: os fatos sociais não se resum em a alguns eventos isolados nem a algumas pessoas específicas. Um a das características m ais m arcantes é justam ente o fato de eles envolverem um a grande coletividade e se repetirem ao longo do tem po. Os fatos m ais com uns e assíduos revelam -se os m ais relevantes para o estudo, uma vez que definem as práticas e os comportamentos do conjunto da sociedade. só fazem sent ido em função do t odo, em nom e do papel que desem penham para a coesão social. Por isso, o “ t odo” é m ais im port ant e do que as part es consideradas separadam ent e. Para ele, era tam bém im portante estabelecer qual seria a postura ideal do sociólogo. Prim eiram ente, o cientista social deveria se afastar de quaisquer prenoções, ou seja, afastar-se das noções de senso com um que j á são conhecidas pelo pesquisador ao investigar um fenôm eno social. Dessa m aneira, o pesquisador deve ter um a relação de exterioridade com o seu objeto. Assim , na perspectiva de Durkheim , é fundam ental para a pesquisa científica a posição de objetividade e neutralidade do sociólogo, para que suas ideias e opiniões não interfiram na análise do social. De acordo com Durkheim , o obj et o da Sociologia não é a sociedade, m as os fat os sociais. A “ sociedade” é um conceito am plo e vago, não passível de recorte e captura pela experiência em pírica. Durkheim t am bém considerava, de cert a m aneira, um a t ar efa ár dua os est udos dos fat os sociais. Para o aut or, os fat os sociais ser iam inv isíveis e int angíveis, ou sej a, não poderiam ser observados diret am ent e. Cont udo, suas propriedades podem ser analisadas indiret am ent e, ist o é, por int erm édio dos seus efeit os e t ent at ivas de expressão, com o t ext os religiosos, leis ou regras e códigos de condut a socialm ent e prescrit os. Além disso, o sociólogo deve t rat ar os fat os sociais com o coisa s. Nos m oldes de Durkheim , a explicação para isso é que, reduzido a um a coisa, o fat o social pode ser apreendido e com preendido pelo sociólogo. Ou ainda, Durkheim , ao t rat ar os fat os sociais com o coisas, queria alegar que a vida social pode ser est udada de form a t ão sist em át ica quant o os fenôm enos e obj et os analisados pelas ciências nat urais. Os fat os sociais não podem ser confundidos com fat os psicológicos ou or gân icos por que, ao cont r ár io dest es, são con st r u ções sociais, ad q u ir id as p elo in d iv íd u o ao longo do processo de socialização. Assim , a ciência que deve se preocupar com os fenôm enos da esfera social é, especificam ent e, a Sociologia. Com o j á vim os, Durkheim entende que a Sociologia deve se preocupar em com preender os elem ent os que perm it em ao hom em viver em sociedade, sendo essa a prerrogat iva dos fat os sociais. Para definir o que pode ser considerado um fat o social, Du r k h eim discr im in a t r ês car act er íst icas qu e pr ecisam coexist ir: a coercit ividade, a ext erioridade e a generalidade. • Coer cit iv idade: os fat os sociais se im põem sobr e o indiv íduo, exer cendo grande pr essão para um a adesão daquilo que o grupo considera bom , cert o ou norm al. A coerção social se m anifest a por m eio das “ sanções legais” ou “ espontâneas”, claram ente visíveis quando alguém t ent a se com port ar de form a diferent e do grupo. O próprio grupo social é um agent e de socialização coercit ivo, pois “ força” a adequação dos indivíduos ao padrão adot ado. É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda m aneira de fazer que é geral na extensão de um a sociedade dada e, ao m esm o t em po, possui um a exist ência própria, independentemente de suas manifestações individuais. DURKHEI M, E. As regras do m ét odo sociológico. São Paulo: Mart ins Font es. 2007, p. 13. [ Fragm ent o] Dessa form a, fica bem claro que os fat os sociais podem ser m ais crist alizados em det erm inada sociedade, por exem plo, as leis e regras jurídicas; ou m ais flexíveis, com o determ inadas correntes de opinião que podem existir em um a sociedade em cert o m om ent o. A principal caract eríst ica do fat o social é ser ext erior à consciência individual e, port ant o, não depender da vont ade dela para exist ir. Os fat os sociais que são regulares em um a det erm inada sociedade podem ser considerados “ nor m ais”, enquant o os fat os sociais at ípicos, ou que fogem à regularidade, são considerados “ pat ológicos”. Essa dist inção não é valorat iva, m as analít ica: os fat os sociais podem ser norm ais, m esm o que sej am considerados r uins do pont o de v ist a m oral. Por exem plo, um a cert a t axa de crim es em um a cidade é norm al, porque é regular dent ro de um det erm inado período em certas condições. Porém , sua variação brusca pode indicar um quadro pat ológico e exigir m edidas polít icas e sociais específicas. Aliás, o uso da expressão “ pat ológico” denuncia a influência das ciências biológicas na t eoria de Durkheim . Por ist o, o aut or, em seus escr it os, t ende a enxer gar a sociedade a part ir do m odelo organicist a e ver qualquer rupt ura com ordem est abelecida com o “ doença” que exige um diagnóst ico e um respect ivo t rat am ent o. Um a sociedade pode fugir ao seu est ado “ nor m al” e ent rar em um qu adr o de a n om ia socia l qu an do su as bases inst it ucionais e valorat ivas ent ram em crise e os laços sociais ficam “ afrouxados”, deixando de oferecer o suport e psicossocial aos seus m em bros. Em um quadro anôm ico, t endem a ocorrer m ais fat os sociais pat ológicos. Em out ras palavras, a anom ia, concordando com Durkheim , seria a ausência de sent im ent os de pr opósit o e a exist ência de m edo e desespero inst igados pela vida m oderna, por m eio das m udanças ocorridas de form a acelerada. Bernoulli Sistema de Ensino 15 sOcIOLOGIA Durkheim e Weber Frente A Módulo 02 Divisão social do trabalho e formas de solidariedade A Revolução I ndust r ial ger ou v ár ios im pact os na v ida social europeia no século XI X: além de deslocar a população do âm bit o r ural para a cidade, int r oduziu, por m eio do desenvolvim ent o do sist em a capit alist a, diferent es form as de os indivíduos se colocarem em relação social uns com os out ros. Esse fat o é de sum a im port ância para a Sociologia de Durkheim . Ele denom ina com o “ divisão social do t rabalho” não apenas as especializações das funções econôm icas t ípicas do m odo de produção capit alist a, m as t am bém o surgim ent o de inst it uições especializadas, com o o j udiciário, o sist em a educacional, ent re out ras. Para Durkheim , a divisão social do trabalho é um fenôm eno que t em o poder de servir de m oral a ser seguida pelos indivíduos, j á que, quant o m ais acent uada for a divisão social do t r abalh o, m aior a in t er depen dên cia en t r e os indiv íduos nas sociedades m oder nas. O t rabalho é um a cat eg or ia f u n d am en t al p ar a se en t en d er a socied ad e. Ao longo da História e nas diferentes sociedades, os hom ens se dividiram e se organizaram em diferentes funções sociais para fornecer as necessidades básicas de sobrevivência. Essa or g an ização f icou con h ecid a com o d iv isão social do trabalho. A cat egor ia do t rabalho ganha um significado especial n a ob r a d e Du r k h eim . Por r om p er com as est r u t u r as sociais v igent es nas sociedades t radicionais, a sociedade pós- Revolução I ndust rial era ent endida por Durkheim com o um a sociedade anôm ica, por não t er form ado ainda um a m oral capaz de m ant er os indivíduos agregados socialm ent e. Na concepção de Durkheim , a nova ordem m oral da sociedade industrial estaria ligada ao trabalho, um a vez que os valores da sociedade m oderna est ariam ligados ao indust rialism o. Para Durkheim , a divisão social do trabalho tem a im portante função de est im ular a solidariedade ent re os indivíduos. Solidariedade, para ele, é o m odo com o os indivíduos se colocam em relação e, consequent em ent e, dão significado às ações individuais. Exist em dois t ipos de solidariedade: a solidariedade m ecânica e a solidariedade orgânica. Durkheim est ava preocupado com as m udanças ocorridas na sociedade do seu t em po. Sua preocupação era m uit o guiada para a quest ão da solidar iedade m oral e social. A m anut enção da solidariedade, para o sociólogo francês, é sustentada quando os indivíduos logram êxito ao se integrar aos grupos sociais e são regulados por um conjunto de costum es e valores, com uns ao rest o dos m em bros da sociedade. O fio condut or do processo evolut ivo que liga as sociedades m ais sim ples às m ais com plex as, par a Du r k h eim , é o progresso da divisão do t rabalho social. Por conseguint e, as sociedades m ais sim ples ser iam caract er izadas pela ex ist ên cia de u m a solidar iedade m ecân ica; e as m ais desenvolvidas, por um a solidariedade orgânica. Na solidariedade m ecânica, o t rabalho e as relações sociais eram organizados com base na t radição e nos cost um es, com o os laços de parent esco e as oficinas de art esanat o. 16 Coleção Filosofia / Sociologia Essa form a de organização é predom inant e nas sociedades pré- capit alist as, com o no feudalism o europeu. Not em os que, nas sociedades pré- indust riais, os níveis de especialização da sociedade não são t ão alt os; assim , a divisão do t rabalho recai sobre aspect os com o o sexo e a idade, por exem plo. Nesse con t ex t o, a f am ília e a r eligião são as gr an des inst it uições que cont r ibuem para a coesão social, e os indivíduos se m ant êm em grupo devido às sem elhanças que apresent am ent re si. Logo, o que assegura a coesão social do grupo em sociedades de solidariedade m ecânica é, j ust am ent e, a correspondência de valores pelos m em bros. Já a solidariedade orgânica predom ina no capit alism o e se configura com o um a m aior divisão social do t rabalho, em que os indivíduos at uam de form a m ais part icipat iva e cr iam laços de int er dependência social e econôm ica. Nas sociedades m oder n as, as pr ofissões assu m em u m papel im por t an t e n o t ocan t e à m an u t en ção da coesão de um a sociedade, pois a solidariedade orgânica é t ípica das sociedades com um a divisão do t rabalho social m ais acen t u ada. Por m eio das pr of issões qu e os in div ídu os desem penham , a divisão social do t rabalho cria um sist em a de direit os e deveres paut ados na ét ica do t rabalho. Assim , a coesão social propiciada pela solidariedade orgânica se baseia na difer enciação ent r e os indiv íduos. Ao m esm o t em po, a coesão social est á assent ada nos códigos e regras de condut a que são est abelecedores de direit os e deveres, cuj a expressão se m anifest a por m eio de norm as j urídicas: em out ras palavras, o direit o. O suicídio Um dos fat os sociais que Durkheim se propõe a est udar de form a inédit a é o suicídio. Em prim eiro lugar, a própria afirm ação de que o suicídio const it ui um fat o social era con t r ov er sa. I sso por qu e a v isão pr edom in an t e er a a m oral / religiosa, e ela at ribuía o suicídio a um a decisão puram ent e individual de pessoas consideradas m ent alm ent e doent es ou fracas de carát er. Logo, afirm ar que o suicídio era um fat o social significava post ular que esse fenôm eno possui causas sociais e que suas m ot ivações não residem exclusivam ent e no indivíduo. Na ext ensa obra publicada em 1897 int it ulada O suicídio, Durkheim aplica seu m ét odo sociológico explicat ivo para ident ificar as diversas relações de causa e efeit o que est ão por t rás de um a decisão t ida com o individual. O sociólogo verificou que o suicídio é prát ica recorrent e em prat icam ent e t odas as sociedades, sen do pr esen t e em prat icam en t e t odas as épocas. Porém , nessa prát ica é possível perceber a ex ist ência de r egular idades ent r e a decisão indiv idual e fat or es com o sexo, idade, condição social, r eligião e cont ext os hist óricos. Assim , Durkheim diferenciou t rês t ipos de suicídio: • Suicídio egoíst a: t ipo de suicídio predom inant e no m undo ocidental m oderno. Se caracteriza pela ruptura de vínculos entre indivíduo e sociedade. O indivíduo não se sente integrado aos grupos sociais, faltando-lhe laços em ocionais para viver. Não é raro que este tipo de suicídio, marcadamente individualista, seja acompanhado de sintom as psicossociais com o a depressão. Durkheim e Weber Países com o o Japão, com gr an de pr esen ça do individualism o, alta com petitividade, pressão sobre o desem penho individual e isolam ento social, possuem taxas m uito elevadas de suicídio do tipo egoísta. O qu e é u m fa t o socia l? Ant es de procurar qual m ét odo convém ao est udo dos fat os sociais, im port a saber quais fat os cham am os assim . A q u est ão é ai n d a m ai s n ecessár i a p o r q u e se u t i l i za Su icíd io alt r u íst a: d if er en t em en t e d o eg oíst a e m ais r ar o n as sociedades ociden t ais, o su icídio altruísta seria definido pela subsunção do indivíduo à sociedade, à um a causa coletiva ou a um a crença. Nessa m odalidade, o indivíduo “ doa” a sua vida em nom e de um a coletividade ou ideia que concede sentido à sua existência particular. Os pilot os kam ikazes j aponeses na Segunda Guerra Mu n d ial e os h om en s- b om b a d e alg u n s g r u p os polít ico- religiosos radicais podem ser considerados exem plos de suicidas alt ruíst as. essa qualificação sem m uit a pr ecisão. Ela é em pr egada cor r en t em en t e p ar a d esign ar m ais ou m en os t od os os fenôm enos que se dão no int erior da sociedade, por m enos q u e ap r esen t em , com u m a cer t a g en er alid ad e, alg u m int eresse social. Mas, dessa m aneira, não há, por assim dizer, acontecim entos hum anos que não possam ser cham ados sociais. Todo indivíduo com e, bebe, dorm e, raciocina, e a sociedade t em t odo o int er esse em que essas funções se exer çam r egu lar m en t e. Por t an t o, se esses f at os f ossem sociais, sOcIOLOGIA • a sociologia não t er ia obj et o pr ópr io, e seu dom ínio se confundiria com o da biologia e da psicologia. Mas, na realidade, há em t oda sociedade um grupo det erm inado de fenôm enos • Suicídio anôm ico: o suicídio anôm ico é m ais um a classificação quantitativa do que qualitativa, podendo apresentar traços tanto do suicídio egoísta quanto do altruísta. É identificável em quadro de anomia social – crises econôm icas, guerras, fases de inst abilidade social –, quando as taxas norm ais de suicídio tendem a apresentar grandes variações. que se dist inguem por caract eres definidos daqueles que as Exem plo de suicídio anôm ico ocorreu durante o Crash da Bolsa de Nova I orque em 1929, quando part e significativa da população perdeu dinheiro, bens e em pregos, o que gerou um caos econôm ico e grande in st abilidade psicossocial em m u it os in div ídu os. Algo sim ilar se repetiu no ano de 2008, com a crise im obiliária que levou m uit as pessoas e em pr esas à falência. deles, est a não deixa de ser obj et iva; pois não fui eu que os out ras ciências da nat ureza est udam . Quando desem penho m inha t arefa de irm ão, de m arido ou de cidadão, quando execut o os com prom issos que assum i, eu cum pro deveres que est ão definidos, fora de m im e de m eus at os, no direit o e nos cost um es. Ainda que eles est ej am de acordo com m eus sent im ent os próprios e que eu sint a int eriorm ent e a realidade fiz, m as os recebi pela educação. Aliás, quant as vezes não nos ocorre ignorarm os o detalhe das obrigações que nos incum bem e precisarm os, para conhecê- las, consult ar o Código e seus int érpret es aut orizados! Do m esm o m odo, as crenças e as prát icas de sua vida religiosa, o fiel as encont rou int eiram ent e pront as ao nascer; se elas exist iam ant es dele, é que exist em fora dele. O sist em a de signos de que m e sirvo para exprim ir m eu pensam ent o, o sist em a de m oedas que em prego para Durkheim reforça a conclusão de que o suicídio não é um fenômeno meramente individual, mas um fator que possui várias causas sociais que se im põem sobre a decisão dos indivíduos. Os est u d o s d e Du r k h ei m acer ca d a p o ssi b i l i d ad e d e contágio social vêm sendo confirm ados em estudos atuais sobre o cham ado “ efeito de contágio”. O I PEA ( I nstituto de Pesquisa Econôm ica e Aplicada) realizou pesquisa de âm bito nacional em 2013, com dados coletados entre 1980 e 2009, e observou que o índice de m ídia ( exposição de casos e dados est at íst icos de suicídio na grande im prensa) é o t erceiro m otivador do suicídio, depois de desem prego e violência, para todos os grupos de pessoas. O m odelo estim ado m ostra que o aum ento de 1% no Í ndice de Mídia eleva a taxa de suicídio de hom ens j ovens ( idade entre 15 e 29 anos) em 5,34% . pagar m inhas dívidas, os instrum entos de crédito que utilizo em Disponível em : < ht t p: / / www.ipea.gov.br/ port al/ index. de ser um carát er int rínseco desses fat os, e a prova disso é php?opt ion= com _cont ent &view= art icle&id= 19662> . que ela se afirm a t ão logo t ent o resist ir. Se t ent o violar as Acesso em : 17 set . 2018. [ Fragm ent o adapt ado] regras do direit o, elas reagem cont ra m im para im pedir m eu Em razão desses dados, a m aior part e dos órgãos de com unicação adot a um acordo t ácit o, ext raoficial, de não dar am pla repercussão a casos de suicídio e evit ar a divulgação de dados est at íst icos sobre o t em a, para que a consciência colet iva não adm it a a norm alidade do suicídio e não est im ule novos indivíduos a realizar o at o, m ant endo os m ecanism os de cont role das t axas desse fenôm eno. m inhas relações com erciais, as prát icas observadas em m inha profissão, etc., funcionam independentem ente do uso que faço deles. Que se t om em um a um t odos os m em bros de que é com post a a sociedade; o que precede poderá ser repet ido a propósit o de cada um deles. Eis aí, port ant o, m aneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notável propriedade de exist irem fora das consciências individuais. Esses t ipos de condut a ou de pensam ent o não apenas são ext eriores ao indivíduo, com o t am bém são dot ados de um a força im perat iva e coercit iva em virt ude da qual se im põem a ele, quer ele queira, quer não. Cert am ent e, quando m e conform o volunt ariam ent e a ela, essa coerção não se faz ou pouco se faz sent ir, sendo inút il. Nem por isso ela deixa at o, se est iver em t em po, ou para anulá- lo e rest abelecê- lo em sua form a norm al, se t iver sido efet uado e for reparável, ou para fazer com que eu o expie, se não puder ser reparado de outro m odo. Em se tratando de m áxim as puram ente m orais, a consciência pública reprim e t odo at o que as ofenda at ravés da vigilância que exerce sobre a condut a dos cidadãos e das penas especiais de que dispõe. Bernoulli Sistema de Ensino 17 Frente A Módulo 02 Em outros casos, a coerção é m enos violenta, m as não deixa de exist ir. Se não m e subm eto às convenções do m undo, se, ao vestir-m e, não levo em conta os costum es observados em m eu país e em m inha classe, o riso que provoco, o afastam ento em r elação a m im pr oduzem , em bora de m aneira m ais atenuada, os m esm os efeitos que um a pena propriam ente dita. Adem ais, a coerção, m esm o sendo apenas indireta, continua sendo eficaz. Não sou obrigado a falar francês com m eus compatriotas, nem a empregar as moedas legais; mas é impossível agir de outro m odo. Se eu quisesse escapar a essa necessidade, m inha tentativa fracassaria m iseravelm ente. I ndustrial, nada m e proíbe de t rabalhar com procedim ent os e m ét odos do século passado; m as, se o fizer, é certo que m e arruinarei. Ainda que, de fat o, eu possa libert ar- m e dessas regras e violá- las com sucesso, isso j am ais ocorre sem que eu sej a obrigado a lutar contra elas. E ainda que elas sej am finalm ente vencidas, dem onst ram suficient em ent e sua força coercit iva p ela r esist ên cia q u e op õem . Não h á in ov ad or, m esm o afortunado, cuj os em preendim entos não venham a deparar com oposições desse tipo. Eis, p or t an t o, u m a or d em d e f at os q u e ap r esen t am caract eríst icas m uit o especiais: consist em em m aneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se im põem a ele. Por conseguinte, eles não poderiam se confundir com os fenôm enos orgânicos, j á que consistem em representações e em ações; nem com os fenôm enos psíquicos, os quais só têm existência na consciência individual e através dela. Esses fatos constituem , portanto, um a espécie nova, e é a eles que deve ser dada e reservada a qualificação de sociais. Essa qualificação lhes convém ; pois é claro que, não tendo o indivíduo por subst rat o, eles não podem t er out ro senão a sociedade, sej a a sociedade política em seu conj unto, sej a um dos grupos parciais que ela encerra: confissões religiosas, escolas polít icas, lit erárias, corporações profissionais, et c. Por outro lado, é a eles só que ela convém ; pois a palavra social só t em sent ido definido com a condição de designar unicam ente fenôm enos que não se incluem em nenhum a das categorias de fatos j á constituídos e denom inados. Eles são, portanto, o dom ínio próprio da Sociologia. É verdade que a palavra “ coerção”, pela qual os definim os, pode vir a assustar os zelosos defensores de um individualism o absoluto. Com o estes professam que o indivíduo é perfeitam ente autônom o, j ulgam que o dim inuím os sem pre que m ostram os que ele não depende apenas de si m esm o. Sendo hoje incontestável, porém , que a m aior parte de nossas ideias e de nossas tendências não é elaborada por nós, m as nos vem de fora, elas só podem penetrar em nós im pondo- se; eis tudo o que significa nossa definição. Sabe- se, aliás, que nem toda coerção social exclui necessariam ente a personalidade individual. DURKHEI M, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 1-4. [ Fragmento] 18 Coleção Filosofia / Sociologia A sOcIOLOGIA cOMPREENsIVA DE MAX WEbER (1864-1920) Modernidade, racionalização e desencantamento Diferent em ent e do espírit o cient ificist a que dom inava a França e a I nglat erra, explicit ado nas crenças posit ivist as, a Alem anha se volt ava para preocupações m ais t eóricas que envolviam a discussão polít ica e a int erpret ação das diferenças ent re cult uras, paut adas pela corrent e int it ulada hist oricism o – radicalm ent e dist int a do posit ivism o de Com t e e Durkheim . Weber m anifest ou essas preocupações em sua concepção de Sociologia, est a últ im a radicalm ent e dist int a da com preensão de Durkheim . Em vez de buscar relações de causa e efeit o, est át icas e universais, com o Durkheim , Weber buscava com preender as relações sociais em seus m últ iplos e variáveis sent idos. Por isso, sua Sociologia é dit a com preensiva, privilegiando a int erpret ação em vez da explicação com base nos m ét odos das ciências nat urais. I sso se ex plica pela t ese de que nat ur eza e sociedade não funcionam segundo pr incípios sim ilar es, con f or m e d ef en d ia Du r k h eim e t am b ém os posit ivist as. Dessa form a, as ciências que se ocupam da vida social não podem se basear nos m étodos das ciências “ duras”, e sim propor m étodos específicos para avaliar a com plexidade e a dinam icidade das sociedades hum anas. Weber, com isso, inaugura um a out ra via de int erpret ação das sociedades. A m odernidade, processo desencadeado principalm ent e pelas revoluções I ndust rial e Francesa, se configura para Weber com o o período da hist ória em que o capit alism o se assent a no t rabalho assalariado e livre. Assim , a organização indust rial capit alist a se t orna racionalizada, pois a produção se t orna volt ada para um m ercado, t endo um a expect at iva concret a de lucro, que não é m ais obt ido com o frut o de oport unidades especulat ivas. O processo de racionalização corresponde a um a m aior im port ância dada aos aspect os racionais da vida social, int ensificado pelo desenvolvim ent o da t écnica e da ciência e pela indust rialização capit alist a. Par alelam en t e à r acion alização, ocor r e o p r ocesso d e de se nca nt a m e nt o do m undo, m arcado pelo declínio das form as m ágicas, m ít icas e religiosas para explicar e ordenar a vida em sociedade, t am bém em virt ude do desenvolvim ent o da ciência e da valorização da razão. Todavia, m esm o com esse desenvolvim ent o, Weber percebia que a ciência não poder ia ocupar com plet am ent e o espaço da r eligião ao conceder sent ido para o m undo. As e m p r e sa s ca p i t a l i st a s se t o r n a m o r g a n i za çõ e s bem dist int as das or ganizações pr odut ivas dom ést icas. Ca d a e m p r e sa , co m o d e se n v o l v i m e n t o ca p i t a l i st a , passou a racionalizar seus gast os e seus lucr os, dando um novo car át er às at iv idades com er ciais. No ent ant o, o pr ocesso de racionalização não se r est r ingiu à esfera econôm ica e produt iva. De acordo com Weber, o processo de racionalização at inge t odas as esferas da vida social. Essa racionalização, aplicada ao cam po da ciência e da m oral, fez r uir a cr ença dos indiv íduos no sobr enat ural e no carát er m íst ico, que m ant eve a ordem social e que dava sent ido à vida hum ana at é o início da m odernidade. Durkheim e Weber Dessa form a, há um a m udança de at it ude dos indivíduos perant e a exist ência, pois os fenôm enos da vida passam a t er a possibilidade de serem com preendidos por m eio da ciência. Assim , o m undo perde o seu carát er m ist erioso, sendo passível de ser previst o pelos indivíduos, cuj as ações no m undo social passaram a ser paut adas no cálculo e na previsão. Por isso, a com preensão das m ot ivações das ações dos indivíduos é t ão im port ant e para Weber. Ao cont rário de Durkheim , Weber não ent endia a sociedade com o um a ent idade superior aos indivíduos. Para Weber, as regras, os padrões e as convenções sociais são const ruídos e t ransform ados na própria int eração ent re os indivíduos. Ou sej a, a organização social não é ant erior aos indivíduos; pelo cont r ár io, ela sur ge a par t ir da r elação ent r e eles. En qu an t o a Sociologia de Du r k h eim par t e do colet iv o, a Sociologia de Weber part e do individual. O objeto de estudo da sociologia: Ação social Para Weber, a sociedade não seria form ada por obj et os t ão bem definíveis com o fat os sociais, m as sim por relações dinâm icas ent re os indivíduos. É j ust am ent e por isso que ele concebe a noção de ação social com o o obj et o de pesquisa da Sociologia. Difer ent em ent e do fat o social, que é geral, ext er no e coercit ivo, a ação social é focada no indivíduo e na form a com o ele assim ila e int erpret a os elem ent os sociais. A ação social é, ent ão, definida com o t oda condut a hum ana que é dot ada de sent ido, ist o é, um a int erpret ação subj et iva dada pelo indivíduo. Weber ident ifica quat ro t ipos de ações sociais: a t radicional, a afet iva, a racional com relação a valores e a racional com relação a fins. • Ação t radicional: é caract erizada pela obediência ao cost um e e à t radição, sendo m arcada especialm ent e pelos laços fam iliares. • Ação afetiva: ação que se caracteriza pela influência de sent im ent os, im pulsos e em oções. • Ação racional com relação a valores: ação que se orienta por valores, que podem ser de ordem religiosa, ét ica, est ét ica ou econôm ica. • Ação racional com relação a fins: ação que conta com um cálculo racional visando obt er um result ado predet erm inado pelos m eios necessários. A classificação proposta por Weber não tem a finalidade de cat egor izar de f or m a ex clu siv a cada t ipo de ação. Quando o indivíduo age, ele pode fazê- lo por diferent es m ot ivações, sim ult aneam ent e, sem que o próprio agent e consiga discerni- las. Essa tarefa cabe ao sociólogo: identificar q u ais são as m ot iv ações p r ed om in an t es p or m eio d a investigação interpretativa. Enquant o Durkheim procurava const ruir seu obj et o de pesquisa baseando- se na m etodologia das ciências naturais, Weber t ent ava inser ir a Sociologia em um a per spect iva historiográfica e interpretativa. Para ele, não pode ser ignorado o caráter particular e específico de cada form ação cultural em nom e de elem entos gerais. Weber rejeita tam bém a definição de cientista dos positivistas: o ideal de neutralidade, im parcialidade e objetividade defendido por Durkheim é considerado pelo sociólogo alem ão um a utopia inatingível. Em sua concepção, o cientista sem pre parte de seus próprios pressupostos, valores e aprendizados para produzir sua ciência. As crenças pessoais estão em butidas no fazer científico e não podem ser com pletam ente extirpadas, de m odo que toda pesquisa científica se revela parcial por assum ir um ponto de vista prévio, ainda que de form a inconsciente. Tam bém cabe lem brar que o conhecim ento da totalidade da vida social é im possível em razão de sua am plitude. Por isso, para o cientista social, só é possível selecionar um fragm ento específico para estudar, e, ao fazer isso, acaba por rem eter aos seus próprios valores e crenças. Em outras palavras, o cientista, com o todo indivíduo em ação, age guiado pela sua cultura, tradição ou m otivação. Sendo assim , as preocupações do cientista orientam a seleção e a relação entre os elem entos da realidade a ser analisada. Por conseguint e, a análise do social sem pre envolve um a questão de subjetividade, com preensão e interpretação. Porém , o reconhecimento de que há componentes subjetivos na pesquisa social não retira a legitim idade da Sociologia com o ciência. Apesar de não poder ser lida com o um a ciência da natureza, a Sociologia deve ser vista como uma ciência, porém uma ciência hum ana, um a ciência social, que é necessariam ente diferente devido ao seu objeto de pesquisa: o ser hum ano em sociedade. O rigor e a seriedade são obtidos m ediante a adoção de m étodos de investigação que m inim izem a influência da subjetividade. Desse m odo, um fragm ent o da realidade est udado por um invest igador const it ui um esforço de sua part e para tentar com preender essa realidade a partir da reconstrução das relações de causa e efeito de determ inado fenôm eno. Ao fazer esse trabalho dentro dos pressupostos científicos, o investigador consegue extrapolar o âm bito pessoal em sua própria investigação. Por esse m otivo, a Sociologia deve se valer do m étodo com preensivo em suas investigações. O m ét odo com preensivo se dest aca por sua abordagem qualitativa, em contraposição à abordagem quantitativa do m étodo explicativo adotado pela escola sociológica francesa de Durkheim . Mas com o se dá a relação entre o recorte feito em um a realidade social por parte do investigador e a explicação de um determ inado fenôm eno? Essa relação é m ediada pelo conceito de tipo ideal. O tipo ideal O m ét odo de pesquisa de Weber inaugura um a nova cat egoria que servirá de inst rum ent o para a int erpret ação da sociedade: o t ipo ideal. Essa cat egoria foi criada com o um conceit o t eórico e abst rat o para represent ar um conj unt o de caract eríst icas que são com uns e recorrent es em um dado fenôm eno social. Desse m odo, o t ipo ideal vai const it uir um a ferram ent a para o cient ist a, pois perm it irá a com paração do fenôm eno em part icular com o t ipo ideal const ruído, dest acando as sem elhanças e as singularidades. Bernoulli Sistema de Ensino 19 sOcIOLOGIA Po r e sse m o t i v o, a a u t o n o m i a d o ca m p o ci e n t íf i co, principalm ent e o que Weber cham ou de desencant am ent o do m undo, ou sej a, a racionalidade, passou a ser o carát er preponderant e da exist ência hum ana. Frente A Módulo 02 O t ipo ideal não exist e concret am ent e, serve apenas de referência com parat iva para o pesquisador e é, por isso, um im portante instrum ento de análise em pírica da sociedade. No entanto, o fato de não encontrar existência na vida real não dim inui a eficácia dos t ipos ideais no que t ange à explicação do m undo social. O t ipo ideal é um m odelo que sim plifica a realidade e at ende às concepções do próprio pesquisador. Ao analisar as condições de sur gim ent o e consolidação do sist em a capit alist a, Weber ut ilizou sua m et odologia com preensiva e a construção de tipos ideais para com preender t al fenôm eno. Essa pesquisa gerou um a de suas principais obras, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo ( 1905) . Para Weber, a crença de que o êxit o no t rabalho seria um indicat ivo da predest inação do indivíduo ao reino dos céus cont ribuiu, e m uit o, para que o sist em a capit alist a se consolidasse na Europa. Tipos de dominação e concepção de Estado em Weber Weber t am bém se ocupou da Ciência Polít ica, produzindo algum as das m ais aguçadas int erpret ações sobre o Est ado Moderno e suas instituições. A sua definição de Estado se t ornou um a referência const ant e na com preensão da polít ica at ual: o Est ado é um a relação de hom ens que dom inam seus iguais, m ant ida pela violência considerada legít im a. Assim , o Est ado é considerado um aparat o adm inist rat ivo e polít ico que det ém o m onopólio da violência legít im a, considerando- se um det erm inado t errit ório e um a população que aceit e a subm issão por considerá- la legít im a. A teoria do Estado de Weber vem acom panhada de sua teoria da dom inação. A dom inação sem pre revela um a desigualdade de poder que est abelece a exist ência de pelo m enos dois grupos: um dom inante e um dom inado. A dom inação é legítim a quando existe algum nível de concordância e aceitação por parte de quem é subordinado ao poder dom inante. Para Weber, há três tipos ideais que exprim em form as puras de dom inação legítim a: a dom inação tradicional, a dom inação racional- legal e a dom inação carism át ica. • • • 20 Refletir sobre Durkheim e Weber enquanto fundadores da Sociologia clássica im plica diferenciá-los pelo m étodo, porém não se deve atribuir uma hierarquia a eles, do melhor para o pior. As diferenças metodológicas verificadas no decorrer deste capítulo e a própria diferença no tipo de pesquisa que cada autor optou por realizar (o primeiro, a pesquisa quantitativa; e o segundo, a pesquisa qualitativa) devem ser encaradas com o m odelos consistentes de realização de pesquisas com coerência na aplicação dos métodos e clareza nas explicações / compreensões resultantes. [ ...] A pesquisa quantitativa de Durkheim sobre o suicídio segue a rigor sua proposição m etodológica de considerar as taxas de suicídios com o um fenôm eno social, logo, possuidor das características de um fato social (coercitivo e exterior), o que acaba por explicar o fenôm eno supra enquant o um fenôm eno social presente nas consciências coletivas, ou seja, algo a ser estudado / pesquisado e explicado pela Sociologia, ciência que o aut or est á fundando. [ ...] O m esm o rigor que Durkheim apresenta no desenvolvim ento de sua pesquisa Weber apr esent a na elaboração de sua pesqu isa qu alit at iva, qu e v isa à com pr een são de qu ais m ot ivações est ar iam or ient ando as ações dos indiv íduos para o desenvolvim ent o singular do espírit o do capit alism o no ocident e e não em out ras civilizações. Para t al, Weber cria algum as classificações e t ipologias para m elhor com preender essa relação m ult icausal, orient ando det erm inadas ações que, por sua vez, acabam por definir um novo tipo de estilo de vida e, por conseguint e, um novo padrão de relações sociais m ais racionalizadas, ocasionando um desencant am ent o do m undo. Tant o o pr im eir o aut or ( Dur k heim ) quant o o segundo ( Weber ) t êm cont r ibuições r elevant es à Sociologia e às Ciências Sociais com o um t odo. Sej a nas pesquisas de cunho quant it at ivo ou qualit at ivo, sej a pela for m a de ex plicar para Dom inação tradicional: caracteriza- se pela obediência à tradição e aos costumes, normalmente identificados pela presença do poder patriarcal ou do poder dos m ais velhos, que são considerados naturais e espontâneos. depois com pr een der ou de pr im eir o com pr een der par a Dom inação racional-legal: m odelo típico das instituições m odernas, caracteriza-se pela obediência a um sistem a de regras racionalm ente elaborado em concordância com os integrantes do grupo. A dom inação racional- legal ( ou sim plesm ent e dom inação legal) dá início à bu r ocracia: u m aparat o t écnico- adm inist rat iv o formado por profissionais especializados, selecionados segundo critérios racionais, e que se caracteriza pela im pessoalidade do poder. O Est ado Moderno é um grande exem plo da aplicação da dom inação racional-legal e do m odelo burocrático. pesquisa ( quant it at iva ou qualit at iva) nas Ciências Sociais Dom inação carism ática: caracteriza-se pela crença nas qualidades do líder, que podem ser da ordem da coragem, do heroísm o, dos dons sobrenaturais, da inteligência ou da sim pat ia, e geralm ent e são at reladas a um a grande capacidade oratória e ao uso da propaganda ideológica. Alguns exem plos são os grandes líderes polít icos, com o: Get úlio Vargas, Mussolini e Hit ler. present es em det erm inados m om ent os hist óricos. Coleção Filosofia / Sociologia depois poder explicar, enfim, ambos corroboram de forma essencial para a pesquisa sociológica ainda na at ualidade. O que acaba por r efor çar que os esfor ços em r ealizar t êm sua validade e v iabilidade quando sust ent ados por abor dagens t eór ico- m et odológicas, capazes de r esponder a d et er m i n a d o s f a t o s / f en ô m en o s so ci a i s. Ou sej a , m et odologias capazes de, a part ir das part icularidades das form as de t rat am ent o da relação suj eit o / obj et o das Ciências Sociais ( Sociologia, Ant r opologia e Ciência Polít ica) , não perder de vist a o princípio da refut ação e, ao m esm o t em po, validar hipót eses e, consequent em ent e, conseguir explicar / com p r een d er d et er m in ad os f en ôm en os / f at os sociais LEME, Alessandro André. A Sociologia de Max Weber e Ém ile Durkheim : questões prelim inares acerca dos m étodos. Fragm entos de cultura, Goiânia, v. 18, n. 9 / 10, p. 725- 744, set . / out. 2008. Durkheim e Weber A ética Protestante e o Espírito do capitalismo A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo é o t ít ulo de um dos m aiores clássicos da Sociologia, publicado em 1905, e part e de um grande esforço de Weber por est udar sist em at icam ent e as religiões e suas diversas relações sociais. Nessa obra, o sociólogo concent r ou sua at enção na hist ór ia dos Est ados Unidos, desenvolvendo a t ese de que a econom ia capit alist a est adunidense foi for t em ent e influenciada pela ét ica de base calv inist a, or iunda dos im igrant es pur it anos br it ânicos que chegaram ao Novo Mundo a par t ir do século XVI I . O m undo m edieval feudal t inha a religião cat ólica com o predom inant e e apoiava- se num conj unt o de valores t radicionais baseados, especificam ent e, na subm issão do indivíduo à inst it uição, à dout rina e à est rut ura est am ent al rígida. Nessa visão, o lucro e a riqueza eram condenados com o font e de pecado, e o t rabalho era vist o com o frut o da condenação pela desobediência de Adão e Eva, logo, um sofrim ent o. A reform a prot est ant e t rouxe um a nova perspect iva de hom em e de m undo, com m aior valor dado ao indivíduo ( rupt ura com a inst it uição eclesiást ica) e à razão ( livre int erpret ação dos t ext os sagrados) . Com a ascensão do capit alism o, o lucro não é m ais vist o com o font e de pecado, e a riqueza passa a ser considerada sinal da graça divina. Essa m udança de “ m ent alidade” é acom panhada, na dout rina calvinist a, da valorização da disciplina; de um a vida sim ples, aust era e recat ada; da dignidade associada à produt ividade e à ut ilidade; e, t am bém , da ascese ( evolução espirit ual) ligada ao t rabalho. O prot est ant e calvinist a dedica- se int ensa e disciplinadam ent e ao t rabalho, m as não consom e seus lucros de form a leviana. Apoiado em ações sociais racionais ( com relação a valores e a fins) , realiza poupanças ou invest e na produção, est im ulando a econom ia de base capit alist a. Em sum a, enquant o o cat ólico t rabalha para viver, o prot est ant e vive para t rabalhar. Os valor es ét icos do calv inism o, dest acados ant er ior m ent e, não são a causa do capit alism o nos Est ados Unidos, m as devem ser lidos com o um dos seus elem ent os fundam ent ais. Esse v ínculo ínt im o ent r e r eligião e econom ia t r ouxe um novo olhar sobr e as com plex as r elações sociais das sociedades cont em por âneas. Quadro comparativo entre Durkheim e Weber D u r k h e im W e be r Hist ória Evolucionist a Mult ilinear, inúm eras possibilidades de t raj et órias I ndivíduo Condicionado pela consciência coletiva As ações sociais, dos indivíduos int eragindo concedem a dinâm ica da vida social Obj et o de est udo da Sociologia Os fat os sociais O sent ido das ações sociais Sociedade Moderna Passagem da solidariedade m ecânica para a solidariedade orgânica Processo de racionalização, avanço por t odos os cam pos da vida social Corrent es sociológicas Funcionalism o- posit ivism o Sociologia com preensiva, interacionism o sim bólico Mét odo de análise Explicação I nt erpret ação cONcEPçãO DE EsTADO DE MAX WEbER Se inex ist issem est r ut uras sociais fundadas na v iolência, t er ia sido elim inado o conceit o de Est ado e em er gir ia um a sit uação que m ais adequadam ent e designar íam os com o anar quia, no sent ido específico da palav ra. Nat uralm ent e, a for ça não se const it ui n o m eio ú n ico d o Est ad o – n in g u ém j am ais o af ir m ar ia – , p or ém a f or ça con st it u i- se n u m elem en t o esp ecíf ico d o Est ad o. Na época at ual, a relação ent re violência e Est ado é profundam ent e próxim a. No passado, associações t ão diferenciadas – com eçando pela fam ília – ut ilizaram com o inst rum ent o de poder a força física com o algo int eiram ent e norm al. Ent ret ant o, at ualm ent e, devem os dizer que um Est ado é um a com unidade hum ana que se at ribui ( com êxit o) o m onopólio legít im o da violência física, nos lim it es de um t errit ório definido. Observem que o t errit ório const it ui um a das caract eríst icas do Est ado. No per íodo cont em por âneo, o dir eit o ao em pr ego da coação física é assum ido por out ras inst it uições à m edida que o Est ado o per m it a. Considera- se o Est ado com o font e única do dir eit o de r ecor r er à for ça. Consequent em ent e, para nós, polít ica const it ui o conj unt o de esfor ços t endent es a par t icipar da div isão do poder, influenciando sua div isão, sej a ent r e Est ados, sej a ent r e gr upos num Est ado. Tal definição cor r esponde ao uso quot idiano do conceit o. Quando se afir m a que um pr oblem a é polít ico ou que um m inist r o de um gabinet e ou um oficial é um funcionár io polít ico, ou quando se afir m a que um a decisão é polit icam ent e det er m inada, faz- se r efer ência ao fat o de ex ist ir em int er esses na dist r ibuição, na m anut enção ou na t ransfer ência do poder, fat or es decisivos na solução daquela quest ão, na det er m inação da decisão ou no âm bit o de at uação do funcionár io. Os que at uam na polít ica aspiram ao poder ou com o m eio para at ingir out ros fins, abst rat os ou individuais, ou com o poder pelo poder, para desfrut ar da sensação de st at us que ele proporciona. Tal com o as inst it uições polít icas que o precederam hist oricam ent e, o Est ado é um a relação de hom ens que dom inam seus iguais, m ant ida pela violência legít im a ( ist o é, considerada legít im a) . Para que o Est ado exist a, os dom inados devem obedecer à supost a aut oridade dos poderes dom inant es. Daí as seguint es pergunt as: quando e por que obedecem aos hom ens? Ora, em que j ust ificações int rínsecas ou ext rínsecas se baseia essa dom inação? Bernoulli Sistema de Ensino 21 sOcIOLOGIA Os calv inist as ( ou pur it anos, com o eram cham ados pej orat ivam ent e na I nglat er ra) baseavam - se na int er pr et ação do pr ot est ant ism o r efor m ist a de João Calv ino ( 1509- 1564) , cuj o eixo se encont rava na t ese da pr edest inação. Enxer gando a salvação com o dádiva div ina, e não com o m ér it o hum ano, r est ava a busca por um a v ida digna e disciplinada por m eio do t rabalho. O código m oral calv inist a se ar t icula em t or no do t rabalho, valor izando as ações indiv iduais. Frente A Módulo 02 Para iniciarm os, em princípio exist em t rês j ust ificações int ernas com o fundam ent os da legit im ação da dom inação. Em prim eiro lugar, a aut oridade do passado et erno, ou sej a, dos cost um es consagrados por m eio de validade im em orial e da disposição de respeit á- los. É a dom inação t radicional exercida pelo pat riarca ou pelo príncipe pat rim onial de out rora. Há t am bém a aut oridade do dom da graça, em que se fundam os poderes ext raordinários de um indivíduo ( carism a) . Essa dom inação t em com o fundam ent o a devoção e confiança absolut am ent e pessoais na r evelação, no heroísm o ou em out ras qualidades de carát er pessoal. Essa é a dom inação carism át ica, t al com o é exercida pelo profet a – ou no cam po da polít ica – pelo chefe guerreiro eleit o, pelo governant e em possado por plebiscit o, pelo grande dem agogo e pelo chefe de um part ido polít ico. Finalm ent e, t em os a dom inação im post a por m eio da legalidade, fundada na crença na validade do estatuto legal e da com pet ência funcional baseada em norm as racionalm ent e definidas. Essa é a dom inação exercida pelo m oderno servidor do Est ado e por t odos os det ent ores do poder a ele assem elhados. D) a pesquisa de campo ganhou destaque com o pensamento positivista, orientando o cam inho m etodológico que o sociológico deveria seguir. E) o pensam ent o de August o Com t e represent ou um im por t ant e papel na elaboração do conhecim ent o sociológico, fundamentado na valorização da economia e dos mitos como instrumento intelectual para compreender as relações sociais. 02. Sobre a sociologia com preensiva de Max Weber, é corret o afirm ar que A) segundo o m ét odo da sociologia com preensiva de Max Weber, há um a ênfase m et odológica sobre a sociedade com o a unidade inicial da explicação para se chegar a significados objetivos de ação social. Su p õ e- se n a r eal i d ad e q u e a ob ed i ên ci a d os sú d i t os é det erm inada pelo t em or ou pela esperança t em or da vingança exercida pelos poderes m ágicos ou daquele que exerce o poder ou pela esperança de recom pensa nest e ou nout ro m undo. I nt eresses dos m ais diversificados podem condicionar a obediência. Todavia, ao considerarm os os fundam entos de legitim ação dessa obediência, sem dúv ida nos deparam os com esses t r ês t ipos pur os que indicam os: dom inação t radicional, carism át ica e legal. B) na sociologia com preensiva de Max Weber, a prim eira tarefa da sociologia é reform ar a sociedade ou gerar algum t ipo de t eor ia r evolucionár ia. Weber her da efetivamente um ponto de vista sociológico compreensivo im putado à escola m arxista. WEBER, Max. A política como vocação. Brasília: Edit ora UnB, 2003. p. 9- 11. [ Fragm ent o] C) para Max Weber, a sociologia est á volt ada unicam ent e par a a com pr een são dos f en ôm en os sociais. Na sociologia com pr eensiva o hom em não consegue com preender as int enções dos out ros em t erm os de suas int enções professadas. EXERcícIOs PROPOsTOs 01. MARTI NS, Carlos Benedit o. O que é Sociologia? São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 76- 77. O texto faz referência a um período da história da Sociologia. Sobre esse período, é correto afirm ar que A) o conhecim ento sociológico foi organizado com base no pensam ento ilum inista de Descartes. 22 D) no m ét odo com preensivo de Weber, os fenôm enos sociais são considerados com o a sim ples expressão de causas ext eriores que se im põem aos indivíduos. Weber define a sociologia compreensiva em termos de fat os sociais e não em t erm os de at ividade ou ação. ( UPE–2016) Leia o t ext o a seguir: Nas t r ês pr im eiras décadas do século XX, em bora a bur guesia j á m ost rasse sem disfar ces a sua facet a co n ser v ad o r a e b el i ci st a, d ef r o n t an d o - se co m u m m ov i m en t o op er ár i o or g an i zad o, e t est em u n h asse t am bém um acont ecim ent o com o a inst alação do poder soviét ico na Rússia, conseguia, não obst ant e, cont rolar, at é cert o pont o, as am eaças dos m ovim ent os e dos grupos revolucionários. Além disso, deve- se m encionar que a exist ência da m onopolização das em presas e dos capit ais daquelas décadas, em bora consideráveis, evident em ent e eram m enos acent uadas do que são em nossos dias. Dessa form a, a burocrat ização do t rabalho int elect ual não era ainda um a realidade viva e concret a que aprisionava e inibia a im aginação dos sociólogos. (Unioeste-PR) A Sociologia de Max Weber é considerada um a ciência com preensiva e explicativa. Na sua concepção, com pete ao sociólogo com preender e interpretar a ação dos indivíduos, assim com o os valores pelos quais os indivíduos com preendem suas próprias intenções pela introspecção ou pela interpretação da conduta de outros indivíduos. E) Max Weber entende por sociologia com preensiva um a ciência que se propõe com preender a atividade social e, deste m odo, explicar causalm ente seu desenrolar e seus efeitos. Para explicar o m undo social, im porta com preender tam bém a ação dos seres hum anos do ponto de vista do sentido e dos valores. 03. 5TTY ( UFU- MG) Assinale a alt er nat iva incor r et a. Dur k heim afirm a que, no estudo dos fatos sociais, o cientista social, ao trabalhar, deve A) deixar de lado seus valores e sent im ent os pessoais em relação ao acont ecim ent o a ser est udado. B) m ant er cer t a dist ância e neut ralidade em r elação aos fat os est udados, r esguar dando a obj et iv idade de sua análise. C) part ir j ust am ent e do seu int eresse pelo obj et o de est udo e de sua visão part icular sobre o assunt o. B) a escola sociológica francesa se tornou um a referência para os est udos da r ealidade social com base no pensam ento de Durkheim . D) encarar os fat os sociais com o “ coisas”, ist o é, com o objetos exteriores ao cientista, que devem ser m edidos, observados e com parados independent em ent e do que os indivíduos pensem ou declarem a seu respeit o. C) a visão sociológica ofereceria um conhecim ento útil para consolidar a desorganização social após a Revolução Francesa e I ndustrial. E) rom per com o senso com um , por m eio de um rigor analít ico, que ser ia garant ido por um m ét odo de análise sociológica. Coleção Filosofia / Sociologia Durkheim e Weber ( UEL- PR) Segundo Ém ile Durkheim , [ ...] const it ui um a lei da hist ória que a solidariedade m ecânica, a qual a princípio é quase única, perca t erreno progressivam ent e e que a solidariedade orgânica, pouco a pouco, se t orne preponderant e. 06. Sociológ ico ocu p ou - se em est ab elecer o ob j et o d e estudo da sociologia. Entre as constatações de Durkheim é a de que o fat o social não pode ser definido pela sua DURKHEI M, É. A Divisão Social do Trabalho. I n: Os Pensadores. Tradução de Carlos A. B. de Moura. São Paulo: Abril Cult ural, 1977. p. 67. generalidade no int er ior de um a sociedade. Nessa obra, Dur k heim elabora um t rat am ent o cient ífico dos fat os sociais e cr ia um a base para a sociologia no int er ior Por est a lei, segundo o aut or, nas sociedades sim ples, organizadas em hordas e clãs, prevalece a solidariedade por sem elhança, t am bém cham ada de solidar iedade m ecânica. Nas or ganizações sociais m ais com plex as, prevalece a solidariedade orgânica, que é aquela que result a do aprofundam ent o da especialização profissional. de um conj unt o coeso de disciplinas sociais, v isando for necer um a base racional e sist em át ica da sociedade civ il. Sobr e o significado do fat o social para Dur k heim , é cor r et o afir m ar que A) os fenôm enos sociais, em bora obviam ente inexistentes De acordo com a teoria de Durkheim , é correto afirm ar que: sem os seres hum anos, residem nos seres hum anos A) As sociedades t endem a evoluir da solidar iedade orgânica para a solidariedade m ecânica, em função da m ultiplicação dos clãs. com o indiv íduos, ou sej a, os fat os sociais são os est ados m ent ais ou em oções dos indivíduos. B) os f at os soci ai s p ar ecem , aos i n d i v íd u os, u m a B) Na situação em que prevalece a solidariedade m ecânica, as sociedades não ev oluem para a solidar iedade orgânica. r ealidade que pode ser ev it ada, de m aneira que se apr esent a dependent e de sua vont ade. Nesse sent ido, desobedecer a um a norm a social não conduz C) As sociedades t endem a evoluir da solidar iedade m ecânica para a solidariedade orgânica, em função da intensificação da divisão do trabalho. 05. KTZE ( Un ioest e- PR) O sociólog o f r an cês Ém ile Du r k h eim ( 1 8 5 8 - 1 9 1 7 ) e m su a o b r a As Re g r a s d o Mé t o d o o indivíduo a sanções punit ivas. C) a proposição fundam ent al do m ét odo de Durkheim D) Na sit uação em que prevalece a divisão social do trabalho, as sociedades não desenvolvem form as de solidariedade. é a de que os fat os sociais devem ser t rat ados com o E) Na sit uação em que prevalecem clãs e hordas, as sociedades não desenvolvem form as de solidariedade e, por isso, tendem a desaparecer progressivam ente. da observação e da experim ent ação. ( Unioest e- PR–2015) “ Solidariedade orgânica” e “ solidariedade m ecânica” são conceit os propost os pelo sociólogo f r an cês Ém ile Du r k h eim ( 1 8 5 8 - 1 9 1 7 ) p ar a ex p licar a “ coesão social” em difer ent es t ipos de sociedade. De acordo com as t eses desse est udioso, nas sociedades o ci d e n t a i s m o d e r n a s, p r e v a l e ce a “ so l i d a r i e d a d e orgânica”, onde os indivíduos se percebem diferent es em b o r a d ep en d en t es u n s d o s o u t r o s. A l ó g i ca d o m ercado capit alist a, ent ret ant o, baseada na com pet ição indiv idualist a em busca do lucr o, pode cor r om per os vínculos de solidariedade que asseguram a coesão social e conduzir a um a sit uação de “ anom ia” . De acordo com os postulados de Durkheim , é correto dizer que o conceito de “ anom ia” indica A) a necessidade de todos dem onstrarem solidariedade com os m ais necessitados. B) um a situação na qual aqueles indivíduos portadores de um senso m oral superior devem se colocar com o líderes dos grupos dos quais fazem parte. coisas, ou sej a, com o obj et os do conhecim ent o que a int eligência não penet ra de form a nat ural, m as at ravés D) Dur k heim considera os fat os sociais com o coisas materiais. Pode-se afirmar, portanto, que todo objeto de ciência é um a coisa m at erial e deve ser abordado a part ir do princípio de que o seu est udo deve ser abordado sem ignorar com plet am ent e o que são. E) os fat os sociais são sem elhant es aos fat os psíquicos, pois apresent am um subst rat o sem elhant e e evoluem no m esm o m eio, de m aneira que dependem das m esm as condições. 07. UNG2 ( UEM- PR) Sobre o conceito de Estado Moderno, defendido pelo sociólogo alem ão Max Weber, assinale o que for correto. 01. O Estado Moderno deve ser definido estritamente em relação aos seus fins. 02. A característica fundam ental do Estado é o m onopólio do uso da violência legítim a dentro de um determ inado território. 04. A m anut enção da aut or idade est at al ocor r e pela necessária com binação entre o em prego da força física e a busca pela legitim idade junto aos cidadãos. C) a condição na qual os indivíduos não se identificam como m em bros de um grupo que com partilha as m esm as regras e normas e têm dificuldades para distinguir, por exem plo, o certo do errado e o justo do injusto. 08. Com o dim ensão superest rut ural da sociedade capi- D) o con su m ism o ex acer b ad o d as n ov as g er ações, representado pelo aum ento do núm ero de shopping centers nas cidades. 16. A legit im idade do Est ado Moderno deriva, principal- E) a solidariedade que as pessoas dem onstram quando e n t o a m ca n t o s n a ci o n a l i st a s e p a t r i ó t i co s e m m anifest ações públicas com o os j ogos das seleções nacionais de futebol. t alist a, o Est ado é um inst rum ent o de dom inação da classe dos propriet ários. m ent e, do reconhecim ent o da validade legal e da com petência funcional, baseadas em norm as racionalm ente est abelecidas. Som a ( ) Bernoulli Sistema de Ensino 23 sOcIOLOGIA 04. Frente A 08. Módulo 02 (UFU-MG–2016) Para Weber, “A dominação, ou seja, a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato, pode fundar-se em diversos m otivos de subm issão.” COHN. 1991. p. 128. sEçãO ENEM 01. POP3 Nesse sent ido, as ações de Mahat m a Gandhi, líder no m ovim ent o de independência da Í ndia, represent am qual t ipo de dom inação na análise weberiana? A) Dom inação legal. B) Dom inação anôm ica. C) Dom inação carism át ica. D) Dom inação alt ruíst a. ( Enem –2016) A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assum ir a tarefa de lançar luz sobre um a parcela restrita do cam po social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhum a sej a expressam ente tratada. Não é com exam es sum ários e por m eio de int uições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de um a realidade tão com plexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão am plas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova. DURKHEI M, E. O suicídio: est udo de sociologia. São Paulo: Mart ins Font es, 2000. E) Fim do m onoteísm o com o condição para a consolidação da ciência. 09. O t ex t o ex pr essa o esf or ço de Ém ile Du r k h eim em const ruir um a sociologia com base na A) vinculação com a filosofia como saber unificado. B) reunião de percepções int uit ivas para dem onst ração. C) form ulação de hipót eses subj et ivas sobre a vida social. D) adesão aos padr ões de inv est igação t ípicos das ciências nat urais. E) incorporação de um conhecim ent o alim ent ado pelo engaj am ent o polít ico. ( UNI SC- RS–2015) Max Weber est uda a sociedade de seu t em po, buscando ent ender os m ecanism os e processos relevant es da vida social; ele conclui que a sociedade cont em porânea, t om ada pela burocracia, subst it uiu as ant igas form as de dom inação por um a nova, cuj a eficácia supera os cont roles das sociedades ant eriores. Alguns dos enunciados a seguir poderão estar relacionados ao t ext o ant erior. 1. Regulação do t rabalho indust rial em seus processos de produção. 2. O au ge do espír it o r acion al é o Rom an t ism o do século XI X. 3. A burocracia est á present e na indúst ria, na educação e na guerra. 4. O avanço crescent e da form ação t écnica e exigência profissional no trabalho. 02. (Enem –2015) A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecim ento m aior e geral das condições sob as quais vivem os. Significa a cr ença em que, se quiséssem os, poderíam os ter esse conhecim ento a qualquer m om ento. Não há forças m isteriosas incalculáveis; podem os dom inar todas as coisas pelo cálculo. WEBER, M. A ciência com o vocação. I n: GERTH, H., MI LLS, W. ( Org.) . Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 ( Adapt ação) . 5. Regulação pública das profissões. Assinale a alt ernat iva corret a. A) Todos os enunciados est ão corret os. B) Todos os enunciados est ão incorret os. C) Som ent e os enunciados 1 e 2 est ão corret os. D) Som ent e os enunciados 3 e 5 est ão corret os. E) O único enunciado incorret o é o 2. 10. (Unicentro-PR) Do ponto de vista do agente, o m otivo é o fundam ento da ação; para o sociólogo, cuja tarefa é com preender essa ação, a reconstrução do m otivo é fundam ental, porque, da sua perspectiva, ele figura com o a causa da ação. Num erosas distinções podem ser estabelecidas e Weber realm ente o faz. No entanto, apenas interessa assinalar que, quando se fala de sentido na sua acepção m ais im portante para a análise, não se está cogitando da gênese da ação, m as sim daquilo para o que ela aponta, para o objetivo visado nela; para o seu fim , em sum a. COHN, Gabriel ( Org.) . Max Weber: sociologia. São Paulo: Ática, 1979. A cat egoria weberiana que m elhor explica o t ext o em evidência est á explicit ada em : A) A ação social possui um sent ido que orient a a condut a dos at ores sociais. B) A lut a de classes t em sent ido porque é o que m ove a hist ória dos hom ens. C) Os fat os sociais não são coisas, e sim acont ecim ent os que precisam ser analisados. D) O t ipo ideal é um a const rução t eórica abst rat a que perm it e a análise de casos part iculares. E) O sociólogo deve invest igar o sent ido das ações que não são orient adas pelas ações de out ros. 24 Coleção Filosofia / Sociologia Tal com o apresent ada no t ext o, a proposição de Max Weber a respeit o do processo de desencant am ent o do m undo evidencia o( a) A) progresso civilizat ório com o decorrência da expansão do indust rialism o. B) ext inção do pensam ent o m ít ico com o um desdobram ent o do capit alism o. C) em ancipação com o consequência do pr ocesso de racionalização da vida. D) af ast am en t o d e cr en ças t r ad icion ais com o u m a caract eríst ica da m odernidade. E) fim do monoteísmo como condição para a consolidação da ciência. GAbARITO Propostos Meu aproveitamento Acertei ______ Errei ______ 01. B 06. C 02. E 07. Som a 22 03. C 08. C 04. C 09. E 05. C 10. A seção Enem 01. D Acertei ______ Errei ______ 02. D Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ % FRENTE MÓDULO A 03 SOCIOLOGIA Karl Marx e o materialismo histórico O sOcIALIsMO DO sécuLO XIX A Revolução I ndust rial despert ou posições divergent es na redução da j ornada de t rabalho, a m elhoria nos aloj am ent os sociedade europeia. De um lado, com o j á vim os, havia os e o aum ent o de salários, com o sendo suficient es para a posit ivist as, que adot avam um a post ura ot im ist a em relação exist ência de um a t ransição pacífica do capit alism o para à indust r ialização e à ciência, defendendo o capit alism o um sist em a socialist a e igualit ário. Engels, em sua obra com o o m odelo m ais avançado de organização econôm ica. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico ( 1880) , Porém , havia t am bém grupos consideráveis de oposit ores ao ao reflet ir acerca dos aut ores m encionados, at ribuiu a eles o sist em a polít ico liberal e ao m odo de produção capit alist a, epít et o de “ ut ópicos” por considerar que a visão reform ist a que agrupam os sob a designação genérica de socialist as. seria ingênua e excessivam ent e ot im ist a na “ boa vont ade” Na verdade, os socialistas correspondem a diversas correntes dos det ent ores do capit al. Logo, as m elhorias no sist em a de pen sam en t o qu e possu íam u m adv er sár io com u m , não im pact ariam em suas raízes, t endo com o consequência o capit alism o, m as que diver giam quant o aos pr incípios a perpet uação das relações de dom inação, em vez de suas de or ganização da sociedade e, pr incipalm ent e, quant o respect ivas superações. às est rat égias para at ingir o poder. O m odelo socialist a m a i s co n h e ci d o e co m m a i o r i m p a ct o n a e st r u t u r a polít ico- social m undial foi, sem dúvida, o socialism o cient ífico ( ou com unism o) de Karl Marx e Friedrich Engels, m as ele não foi o prim eiro nem o único. socialismo utópico de saint-simon e Robert Owen socialismo libertário ou anarquismo A cor r en t e con h ecid a com o an ar q u ism o é b ast an t e d i v er si f i cad a e co m p o r t a d i f er en t es p o si ci o n am en t o s acerca da polít ica e da econom ia. Porém , t odas apresent am alguns aspect os em com um : crít ica ao liberalism o polít ico- econôm ico, rej eição ao m odo de produção capit alist a e recusa de t oda form a de aut oridade canônica. A palavra Por volt a de 1830, o t erm o socia lism o foi consolidado, “ anar quism o” significa, lit eralm ent e, “ ausência de poder passan do a design ar u m a v er t en t e de an álise social e ou gover no” e enfat iza a r ej eição a qualquer for m a de polít ica que se opunha ao capit alism o, ao individualism o e aut oridade, especialm ent e a do Est ado. Pensadores com o à dist orção dos ideais liberais da Revolução Francesa pelo o francês Pierre-Joseph Proudhon ( 1809- 1856) e o russo capit alism o. Para pensadores com o o brit ânico Robert Owen Mikhail Bakunin ( 1814- 1876) fundam ent aram o anarquism o ( 1771- 1858) e os franceses Saint - Sim on ( 1760- 1825) e no ideal socialist a da colet ivização dos m eios de produção Charles Fourier ( 1772- 1837) , a igualdade e a frat ernidade e na defesa de um sist em a polít ico baseado na aut ogest ão, haviam sido suplant adas por um a visão rest rit a da liberdade: ist o é, sem a necessidade de forças de cont role ext ernas a liberdade econôm ica. As consequências do predom ínio aos próprios indivíduos. do aspect o econôm ico eram evident es nas condições dos operários indust riais. Muit o ant es de serem beneficiários da evolução prom et ida pela razão e pela ciência, haviam se t ornado “ escravos” do sist em a indust rial. Um dos pon t os de discor dân cia en t r e an ar qu ist as e com unist as ( m arxist as) dizia respeit o ao m odo pelo qual a m udança social seria produzida: enquant o est es defendiam um a r evolução para im plem ent ar um Est ado socialist a, Os socialist as, su pr acit ados, iden t if icav am , à lu z do aqueles argum ent avam que um Est ado socialist a j á seria I lum inism o de Rousseau, que a propriedade privada era a um a form a de aut oridade ilegít im a e m ant eria a est rut ura principal responsável pela desigualdade acent uada durant e co er ci t i v a so b r e o s i n d i v íd u o s. Pa r a o s a n a r q u i st a s, a Revolução I ndust rial. Paralelam ent e, propunham com o a revolução verdadeira deveria rom per de form a im ediat a e solução um a série de m elhorias por m eio de reform as no int ransigent e com qualquer form a de aut oridade, em nom e sist em a capit alist a vigent e. Essa visão reform ist a pregava a de um a sociedade aut ogerida em bases dem ocrát icas. Bernoulli Sistema de Ensino 25 Frente A Módulo 03 socialismo cristão O socialism o cristão foi um a vertente do socialism o fundada na fé religiosa do crist ianism o e crít ico ao Em v ez disso, diziam os seus seguidor es que a I gr ej a necessitava ser um veículo fundam ental que pressionasse a sociedade por m udanças políticas e estruturais, com o intuito de erradicar a pobreza. socialism o de base m at er ialist a ( Mar x e En gels) . Seus m ent ores foram o padre cat ólico francês Robert d e Lam en n ais ( 1 7 8 2 - 1 8 5 2 ) e o socialist a b r it ân ico Charles Kingsley ( 1819- 1875) . Ao final do século XI X, os socialistas cristãos contaram com o apoio da encíclica papal Rerum Novarum ( 1891) , prom ulgada pelo Papa Leão XI I I , considerado o Papa do Pr olet ar iado. Nesse docum ent o, o Vaticano se posicionava contra o socialism o de Marx e Engels por considerá- lo ateu. Concom itantem ente, defendia o direito natural à propriedade privada e afirm ava que tanto o Estado quant o a I grej a est avam obrigados a lut ar por m elhores condições de vida para os pobres e trabalhadores. Os soci al i st as cr i st ãos r econ h eci am os p r ob l em as derivados da desigualdade social, m as não acredit avam n a solu ção m edian t e a v ia da lu t a de classes e da revolução prolet ária, conform e defendiam os com unist as e os anarquist as. Ao cont rário, os socialist as crist ãos alm ej avam a conciliação ent re capit al e t rabalho, paut ada na observância dos valores sagrados do evangelho por par t e t ant o dos r icos quant o dos pobr es. Defendiam a criação de sist em as de cooperação ent re os t rabalhadores, o fort alecim ent o dos direit os t rabalhist as, por m eio de leis, e o com bat e ao egoísm o e à acum ulação desm edida. Na encíclica Mat er et Magist ra, de 1961, o papa João XXI I I confirm ou a dout rina social da I grej a, d ef i n i d a p o r Leão XI I I , r ef o r çan d o a cr ít i ca ao m ar x ism o. No en t an t o, alg u n s set or es d o cat olicism o incorporaram part e da perspect iva de Rubens Lim a Marx e Engels e passaram a defender um a post ura m ais proat iva e crít ica da I grej a, em relação à propriedade pr iv ada. Esse f oi o caso da t eologia da libert ação, criada pelo padre e t eólogo peruano Gust avo Gut iérrez, na década de 1960, da qual fizeram par t e int elect uais br asileir os com o Leon ar do Boff e Frei Bet t o. A t eologia da liber t ação, difer ent em ent e da dout rina social da I grej a expressa n o so ci a l i sm o cr i st ã o , possui m ent alidade progressist a e pregava que a em pat ia e o cuidado com pobres não eram suficientes. socialismo científico e materialismo histórico Se p a r a D u r k h ei m a so ci ed a d e er a u m a en t i d a d e acim a d os in d iv íd u os, e p ar a Web er ela se con st it u i a p a r t i r d a s a ç õ e s i n d i v i d u a i s , Ma r x e n t e n d e q u e u m a socied ad e som en t e p od e ser com p r een d id a p or m eio d as con d ições m at er iais d e su a ex ist ên cia. I sso sign if ica dizer qu e o m odo com o cada sociedade t r an sf or m a a n at u r eza e div ide o t r abalh o en t r e seu s m em br os det er m in a a m an eir a com o os in div ídu os se relacionam socialm ent e. Paralelam ent e, det erm ina t am bém a pr ópr ia consciência dos indiv íduos sobr e si e sobr e o m undo ao seu redor. Kar l Mar x ( 1 8 1 8 - 1 8 8 3 ) con t ou com o ap oio d e seu am igo Fr iedr ich Engels ( 1820- 1895) para pr oduzir um a ext ensa obra, sist em át ica e rigorosa, que conciliou filosofia, econom ia, polít ica e dir eit o para fabr icar a cr ít ica m ais consist ent e ao m odelo capit alist a- liberal, com am plo alcance no m undo at é os dias at uais. A obra conj unt a Manifest o do Partido Comunista, de 1848, t ornou- se um a bandeira para os m ovim ent os sindicais, para a criação de part idos polít icos de orient ação socialist a e para a organização de revoluções prolet árias, com o a Revolução Russa e a Revolução Chinesa, no início do século XX. Porém , a obra fundam ent al do socialism o / com unism o é o liv r o O Capit al, com publicação inicial em 1867, div idido em 2 longos t om os. Nessa obra, Marx elaborou, det alhadam ent e, su a cr ít i ca a o ca p i t a l i sm o i n d u st r i a l e a s bases para a form ação de um a sociedade com unist a – paut ada pela divisão com unal da propriedade e das riquezas sociais. Ant es de t raçarm os, com m ais det alhes, os conceit os fundam ent ais da t eor ia de Marx, é necessário com preender o que o aut or ent ende por m eio de produção e por m odo de produção. O m od o d e p r od u ção d ev e ser en t endido com o a for m a de or ganização soci oecon ôm i ca v i n cu l ad a a u m a et ap a d o d esen v olv im en t o d as f or ças pr odu t iv as e t am bém das relações de produção. Por exem plo, at ualm ent e vigora o m odo de produção capit alist a. Mas, fazendo um resgat e hist órico, t em os a presença do m odo de produção feudal. Karl Marx e o materialismo histórico Para Marx, as forças produtivas e as relações de produção se alteram ao longo do percurso histórico, afetando os m eios de produção. Devem os ent ender m e io de pr odu çã o com o t udo aquilo que perm eia a relação ent re t rabalho hum ano e nat ureza, no processo de t ransform ação da nat ureza em si. Ou sej a, seria um conj unt o form ado pelos m eios do t rabalho e o obj et o de t rabalho. Dessa m aneira, os m eios de t rabalho seriam , por exem plo, ferram ent as e m áquinas; e o obj et o do t rabalho, as m at érias prim as e os recursos nat urais. ser com preendida é a cat egoria “ t rabalho”, que perm it e ao hom em se diferenciar dos anim ais e const ruir o m undo em que vive. O m undo hum ano é, essencialm ent e, o m undo do t rabalho. A cat egoria “ t rabalho”, na t eoria m arxiana, nos aj uda a com preender a concepção m at erialist a da hist ória e se opõe à concepção idealist a, propost a por Hegel. Enquant o o filósofo idealist a Geor ge Fr iedr ich Hegel ( 1770- 1831) propunha que a realidade é um produt o das ideias, Marx defendia que as ideias é que são pr odut o da realidade. O enunciado básico do m at erialism o hist órico de Marx e Engels afirm a que Para m elhor explicit ar a relação ent re m odo de produção Marx elaborou o conceit o de relações sociais de produção. Tal conceit o se r efer e j ust am ent e às for m as com o os indivíduos se or g an izam par a p r od u zir os b en s m at eriais não é a consciência dos hom ens que det erm ina a realidade, m as a realidade que det erm ina a consciência dos hom ens. sOcIOLOGIA e a m aneira com o os indivíduos se relacionam socialm ent e, MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Est am pa, 1973. p. 28. [ Fragm ent o] necessários à sobrevivência, levando em consideração as ferram ent as disponíveis, o nível de t ecnologia, as m at érias- prim as e com o se procede a distribuição da produção. Enfim , para Marx, as relações sociais de produção definem t oda a organização de um a sociedade. Por esse m ot ivo, Marx ent ende que os aspect os m at eriais de u m a sociedade n ão podem ser con sider ados com o algo dado pela nat ureza, m as sim const ruídos pela ação do hom em , por isso a im port ância da cat egoria t r a ba lh o em sua t eoria. Para Marx, o t rabalho t em a capacidade de em ancipar o ser hum ano, um a vez que é o t rabalho, por isso, um a condição de exist ência do hom em , independent e de t odas as form as de sociedade, et erna necessidade nat ural de m ediação do m et abolism o ent re hom em e nat ureza e, port ant o, da vida hum ana. Por m eio do t rabalho, o indivíduo se produz, desenvolvendo as suas capacidades e cont ribuindo para o desenvolvim ent o da própria hum anidade. Port ant o, podem os not ar aqui um a crít ica de Marx à Filosofia europeia. Est a últ im a ent endia que, além do m undo em que podem os viver, exist iria um m undo real que iria além daquilo que poderíam os observar em nossa vida. Logo, os fenôm enos exist ent es na vida social seriam apenas reflexos daquilo que acont eceria no plano das ideias. Prosseguindo, ent re as cat egorias m ais im port ant es na t eor ia de Kar l Mar x se encont ra a noção de pr olet ár io, encarada sob um a perspect iva inédit a dos pont os de vist a social e polít ico. MARX, K. O capit al: crít ica da econom ia polít ica. São Paulo: Abril Cult ural, 1985. p. 50. [ Fragm ent o] No m odelo capit alist a, no ent ant o, o carát er hum anizador do t rabalho, ou sej a, a possibilidade que o t rabalho oferece para o hom em de criar o seu m undo social, é subst it uído por j or nadas de t rabalho ex aust ivas, t endo com o única Maíra Dam asio pr eocupação a pr odução do lucr o. Assim sendo, t em os a exploração da classe operária, que vende sua força de t rabalho, pela classe burguesa, que é det ent ora dos m eios de produção. Logo, o capit alism o acabou por t ransform ar o t rabalho em m ercadoria, pois o prolet ário vende sua força de t rabalho ao capit alist a. Karl Marx desenvolveu um m ét odo de análise conhecido com o m a t e r ia lism o h ist ór ico. Sua pretensão é explicar o desenvolvim ento histórico da sociedade, desde a sua origem , a part ir das relações de produção da vida m at erial, ou sej a, a econom ia. Para Marx, a cat egoria cent ral pela qual a hist ória hum ana pode Karl Marx. Bernoulli Sistema de Ensino 27 Frente A Módulo 03 A dialética materialista Para Marx, em t odas as sociedades hum anas em que há propriedade privada, exist iria um a oposição básica ent re os grupos que det ém a propriedade privada e os que não são det ent ores dest a. Marx opt a por designar os grupos sociais sob a nom enclat ura de “ classe social”, denom inando a parcela da colet ividade que possua caract eríst icas sociais, econôm icas e polít icas sim ilares, com ênfase especial na sua r elação com a pr opr iedade pr ivada. Por t ant o, t oda sociedade poder ia ser r edu zida a du as classes sociais ant agônicas: na Ant iguidade rom ana, pat rícios e plebeus; na I dade Média, nobreza e cam poneses; no capit alism o, b u r g u esi a e p r o l et ar i ad o. Essas cl asses an t ag ô n i cas possuir iam caract er íst icas e int er esses dist int os, o que faria exist ir um a lu t a de cla sse s ent re elas. Dessa lut a de classes, para Marx, em ergiria t oda a dinâm ica hist órica. Melhor dizendo, Mais-valia e alienação Marx entende que a realidade social é determ inada pelas bases m ateriais de um a determ inada sociedade delim itada historicam ente. Pensem os, por exem plo, no m odo de produção capitalista e no m odo de produção im ediatam ente anterior a ele historicam ente, o feudalism o. As bases m ateriais entre os dois eram bastante distintas, pois, enquanto no feudalism o o trabalho em vigor era o artesanal, o m odo de produção capit alist a int roduziu o t rabalho fabril. Evident em ent e, as diferenças entre feudalism o e capitalism o foram ocasionadas em razão de contextos históricos distintos, que possibilitaram a derrocada de um e o surgim ento de outro. Na concepção de Mar x , o capit alism o se sust ent a na ex ploração da for ça pr odut iva da classe pr olet ár ia pelo indust rial burguês, um a vez que aquele vende sua força de t rabalho em t roca da rem uneração. No ent ant o, o sist em a capit alist a ocult a do operário a sua real sit uação: o seu a hist ória de t odas as sociedades que exist iram at é hoj e t rabalho rende m ais ao em pregador do que a ele m esm o; t em sido a hist ória da lut a de classes. Hom em livre e escravo, o excedent e do t rabalho operário se t orna m a is- va lia nas pat rício e plebeu, barão e servo, m est re de corporação e m ãos do em pregador. A m a is- va lia é a diferença ent re com panheiro, num a palavra, opressores e oprim idos, em o valor que é produzido pelo operário e o valor recebido const ant e oposição, t em vivido num a guerra inint errupt a, por ele enquant o salário. Essa diferença é apropriada pelo ora abert a, ora disfarçada [ ...] . em pregador, sendo a m ola propulsora do sist em a capit alist a, MARX, K; ENGELS, F. Manifest o do part ido com unist a. São Paulo: Global, 1988. p. 75- 76. pois é o que per m it e aos bur gueses obt er em o lucr o e t am bém reinvest irem o capit al na sua produção. A lógica do t rabalho capit alist a, por t ant o, se basear ia No capit alism o, esse ant agonism o t eria at ingido o seu ápice devido à concent ração de renda, à desigualdade e à exploração do t rabalho, que, para os socialist as cient íficos, est ão na base do sist em a, m arcando um a diferença essencial ent re as classes dom inant e ( burguesia) e dom inada ( prolet ariado) . em um a relação de exploração e de dom inação sobre o O t erm o “ dialét ica”, nas palavras do filósofo Henri Lefebvre, significa seu próprio esforço. Sua ignorância em relação ao próprio prolet ariado. Est e últ im o é m ant ido ignorant e sobre sua sit uação pela ide ologia – o conj unt o de ideias, valores, inst it uições e leis que expressam a visão de m undo da classe dom inant e. Assim , o t rabalhador não se reconhece naquilo que pr oduz, pois encont ra- se a lie n a do do r esult ado do t rabalho e a sit uação em que vive é um a das bases do t riunfo do capit alism o. ciên cia qu e m ost r a com o as con t r adições podem ser con cr et am en t e idên t icas, com o passam u m a n a ou t r a, m ost rando t am bém porque a razão não deve t om ar essas cont radições com o coisas m ort as, pet rificadas, m as com o coisas v ivas, m óveis, lut ando um a cont ra a out ra em e at ravés de sua lut a. LEFEBVRE, H. Lógica Form a, Lógica Dialét ica. São Paulo: Civilização Brasileira, 1969. p. 15. [ Fragm ent o] A noção de a lie n a çã o é fundam ent al no pensam ent o m arxist a, pois ela apresent a o est ado psicossocial prim ordial ao qual o oper ár io é subm et ido no m odo de pr odução capit alist a. Enquant o nos m odos de produção ant eriores, com o no feudal, o t rabalhador liv r e conhecia t odas as et apas do seu t rabalho e, em algum a m edida, usufruía do que produzia, no capit alism o o operário indust rial não só não conhece t oda a cadeia produt iva, com o t am bém se encont ra im possibilit ado de usufruir do que produz, devido Mar x in spir ou - se n a con cepção de dialét ica idealist a de Hegel, m as concedeu a ela um a nova significação ao dem onst rar que a hist ór ia hum ana é pr oduzida a par t ir de pont os que se opõem – t eses –, que se digladiam e fabricam novos est ágios – sínt ese – a part ir dos ant eriores. O ensinam ent o básico da dialét ica m arxist a t ange ao fat o de que a hist ória das sociedades não é est át ica e linear, m as sim dinâm ica e const ruída por forças ant agônicas. 28 Coleção Filosofia / Sociologia à especialização da indúst r ia. O oper ár io indust r ial fica relegado à abst rat a relação de assalariam ent o, e o t rabalho perde sua função exist encial, passando a ser um a relação de dom inação. O t rabalho alienado é fundam ent al para a obt enção da m ais- valia, um a vez que o operário, ignorant e da longa cadeia produt iva que é cont rolada pelos det ent ores do capit al, não dispõe de m eios m at eriais e sim bólicos para reflet ir e crit icar sua posição de dom inado. Karl Marx e o materialismo histórico Podem os dizer, a part ir da leit ura de Marx sobre o m odo de produção capit alist a, que a sociedade é dividida em duas grandes part es que se encont ram em relação const ant e: a in f r aest r u t u r a e a su per est r u t u r a. A in f r a e st r u t u r a ser ia a p ar t e d a socied ad e r elacion ad a aos m eios d e produção da vida m at erial, ist o é, a econom ia; enquant o a superest rut ura corresponderia aos sist em as ideológicos que visam , sobret udo, m ant er a infraest rut ura. A superest rut ura seria com post a por dois grandes aparat os: o aparat o j urídico- polít ico, em que est ão incluídos o Est ado e as leis, e o aparat o ideológico, com post o por t odo o conj unt o de crenças, r egras, valor es m orais, educação, r eligião e cult ura que represent am os int eresses da classe social dom inant e. Marx e Engels perceberam que o próprio Est ado faz part e do aparat o ideológico da superest rut ura. Se for fat o que o poder polít ico deriva do poder econôm ico, t orna- se evident e que as elit es econôm icas se encont ram no t opo da hierarquia polít ica e im põem a form a de organizar a sociedade que lhes é m ais convenient e. Por isso, por m ais dem ocrát ico que pareça ser, o Est ado sem pre se encont ra a serviço da classe dom inant e. O obj et ivo da t eoria m arxist a é j ust am ent e com preender com o a or dem social bu r gu esa é m an t ida. O sist em a capit alist a opõe a classe burguesa à classe operária, sen d o a condição de exploração da prim eira em relação à segunda e n t e n d i d a co m o a l g o n a t u r a l e n ã o h i st o r i ca m e n t e condicionado. Na t eoria m arxiana, o foco de análise recai sobre as classes sociais e as relações de produção, e não há, port ant o, considerações a respeit o das ações individuais, da m aneira com o acont ece na sociologia weberiana. Para Marx, as ações individuais som ente possuem sent ido se at ent arm os para as ideologias que sust ent am as ações das classes sociais às quais pert encem os indivíduos. Segundo Marx, a sociedade não é um t odo que vive em harm onia. A oposição ent re capit al e t rabalho é o m ot or da hist ória, pois a realidade capit alist a deverá ser superada com o advent o do com unism o, quando a divisão da sociedade em classes será abolida. Esse m ovim ent o revolucionário se dará a part ir do m om ent o em que os t rabalhadores t om arem consciência de sua posição de classe dom inada e buscarem o fim da propriedade privada. Rubens Lim a Na t eoria m ar xist a, a disput a das classes sociais pelo p od er p olít ico é d et er m in ad a p ela esf er a econ ôm ica. Desse m odo, o poder político seria parte da superestrutura de um a det erm inada sociedade, e com o o sist em a social m oderno capitalista, na concepção de Marx, é resultado do poder da classe burguesa sobre o rest ant e da sociedade, a política seria o reflexo da suprem acia econôm ica dessa classe. Revolução proletária e comunismo No livro Teses sobre Feuerbach, publicado em 1888, Marx é enfát ico ao afirm ar o papel prát ico- polít ico da sua t eoria: “ os filósofos se lim it aram a int erpret ar o m undo, cabe a nós m uda- lo”. I st o é, a t eoria t em um duplo papel: analisar a realidade e fornecer os fundam ent os para sua m udança. Por isso, a t eoria social de Marx est á int im am ent e associada à polít ica, propondo- se com o ferram ent a a serviço de um a m udança radical na est rut ura da sociedade. Ao contrário dos socialistas utópicos, que acreditavam em m udanças gradativas, reform as parciais e negociações políticas, Marx defendia que som ente um a revolução proletária poderia alterar a infraestrutura da sociedade. Essa revolução aconteceria a partir da m obilização da classe operária, que, organizada coletivam ente independente de sexo, raça ou nacionalidade, iniciaria um processo de deposição do poder burguês e instauração de um Estado proletário de caráter inicialm ente socialist a. Esse Estado seria voltado para a prom oção da igualdade por m eio da estatização dos m eios de produção. Assim , quando a econom ia coletivizada e a organização dem ocrática dispensassem a própria existência de um Estado, ele passaria a ser com unist a. Bernoulli Sistema de Ensino 29 sOcIOLOGIA Infraestrutura e superestrutura Frente A Módulo 03 Dessa for m a, ser ia possív el afir m ar que a r ev olução prolet ária seria com post a de dois m om ent os: o prim eiro ser ia cham ado socia lism o; e o segundo, com u n ism o. O com unism o seria um a evolução do socialism o, m arcado p ela ab olição d o Est ad o. No socialism o, a socied ad e con t r olar ia a p r od u ção e a d ist r ib u ição d os b en s em sist em a de igualdade e cooperação. Esse processo levaria ao com unism o, no qual t odos os t rabalhadores seriam os propriet ários de seu t rabalho e dos bens que produzem . É im port ant e ressalt ar que em nenhum a das duas fases se defende o pr im it iv ism o econôm ico, ist o é, o r et or no a est ágios ant eriores da indust rialização, nem um a vida ascét ica dos t rabalhadores, ist o é, que se viva som ent e com o essencial. Karl Marx defende que a produção indust rial sej a am pliada e que beneficie a t odos, não só o pequeno grupo dos que possuem o capit al. Div er sos p ar t id os p olít icos, d e in sp ir ação m ar x ist a, adot aram ora socialism o ora com unism o em seu nom e, de acordo com os variados segm entos que surgiram internam ente após os encont ros das I nt ernacionais Com unist as do século XI X. As I nt er nacionais Com unist as foram um a sér ie de reuniões públicas de organizações, sindicat os e part idos de t rabalhadores, iniciadas com a Associação I nt ernacional dos Trabalhadores ( Prim eira I nt ernacional Com unist a) , de 1864 a 1876, com o int ent o de organizar a classe prolet ária ao r edor do m u n do e discu t ir plan os de ação polít ica. A Segunda I nt ernacional, cham ada de I nt ernacional Operária e Socialist a, durou de 1889 a 1914; a Terceira I nt ernacional ficou conhecida com o Com int ern, pela abreviação do t erm o russo, e perdurou de 1919 a 1943, sendo liderada por St álin. Enquant o a Quart a I nt ernacional foi encabeçada por Trot sky, a part ir de 1938, com fort e presença nos m ovim ent os sociais das décadas de 1960 e 1970. Não é nosso obj et iv o discut ir se as ideias m ar x ist as chegaram , ou não, a ser realizadas nos países que adot aram o socialism o com o orient ação polít ico- econôm ica, m as é fundam ent al t erm os em m ent e o com prom isso da análise social de base m arxist a com as m udanças na sociedade. Fetichismo da mercadoria, valor de uso e valor de troca Na análise da econom ia capit alist a, realizada por Marx, dest aca- se a posição pr iv ilegiada que é ocupada pelas m ercadorias, ist o é, o produt o m at erial do t rabalho hum ano, dest inado a ser com ercializado em um m ercado. Para o pensador alem ão, as m ercadorias são vist as com o dot adas de v ida pr ópr ia, qu e é in depen den t e de seu pr ocesso pr odut ivo. Por isso, a m er cador ia se encont ra em um a relação de fet iche: um fet iche é um obj et o a que se at ribui caract er íst icas m ágicas. No capit alism o, a m er cador ia – qualquer que sej a – é vist a com o provida de um a im port ância que ext rapola a sua ut ilidade m at erial, ou sej a, dá- se m ais im port ância ao seu va lor de t r oca do que ao seu va lor de u so. 30 Coleção Filosofia / Sociologia Para esclarecer, é bom ret om arm os essas duas noções básicas da t eoria econôm ica de Marx. Para o filósofo, o valor de um a m ercadoria é definido, principalm ente, pelo tem po de t rabalho que é socialm ent e necessário para a sua produção. O v a l o r d e u s o é a i m p o r t â n ci a p r á t i ca q u e u m a m er cador ia possu i, em f u n ção da su a u t ilidade, e est á associada às suas propriedades físicas. O va lor de t roca é a im port ância sim bólica, geralm ent e at ribuída em t erm os m onet ários, que um a m ercadoria assum e em um m ercado quando pode ser int ercam biada por out ras m ercadorias. O valor de t roca leva em cont a o valor de uso, m as t am bém é afet ado por out ras im port âncias sim bólicas e socialm ent e inst it uídas sobre um a m ercadoria, com o o st at us que confere a quem possui. Marxismo após Marx Não cabe, neste capítulo, um a análise histórica dos im pactos da t eoria de Marx ao longo do século XX. Cert am ent e, isso será feit o m ais det alhadam ent e na disciplina de Hist ória. Por ém , é im por t ant e fr isar que, apesar das cr ít icas aos m odelos polít icos que ousaram se basear no socialism o / com unism o, o m arxism o, com o t eoria social, t eve e ainda t em grande im port ância nas ciências hum anas e sociais. Foram m uit as as escolas de pensam ent o e os t eóricos de diferent es áreas influenciados, em diferent es m edidas, pela t eoria m arxist a. Ao m esm o t em po, t am bém é im port ant e t er em m ent e que a t eoria m arxist a passou por inúm eras crít icas, revisões, aprofundam ent os e reform ulações, sej a por adversários ou por part idários, sem que seus princípios básicos perdessem sua vit alidade na análise da com plexidade social do m undo at ual. Para m encionar alguns, dest acam - se as obras do it aliano Ant ônio Gram sci ( 1891- 1937) , com profunda análise sobre os m odos pelos quais a ideologia e o Est ado perpet uam as relações de poder inst auradas na econom ia; o filósofo húngaro György Lukács ( 1885- 1971) ; o psicanalista argelino- francês Louis Alt husser ( 1918- 1990) , que aprofundou os est udos acerca dos aparelhos ideológicos do Est ado, sendo a escola um dos m ais im port ant es inst rum ent os a serviço da dom inação; o hist oriador brit ânico Eric Hobsbawm ( 1917- 2012) ; os t eóricos da Escola de Frankfurt ( Theodor Adorno, Max Horkheim er, Herbert Marcuse e Walt er Benj am in) , que realizaram profundas análises sobre a relação entre ideologia, a cult ura e a indúst ria cult ural; o linguist a est adunidense Noam Chom sky ( 1928- ) ; e, m ais recentem ente, o econom ista francês Thom as Piket ty ( 1971- ) , com sua releit ura at ualizada de O Capit al. No Brasil, o pensam ent o de base m arxist a t am bém t eve am pla repercussão, apesar das perseguições ideológicas r ealizadas em difer en t es m om en t os da n ossa h ist ór ia. Boa part e da hist oriografia e da sociologia brasileiras foi const ruída em base m at erialist a hist órico- dialét ica, elegendo os aspect os econôm icos com o prim ordiais para se est udar as relações sociais. Na sociologia dest acam - se nom es com o de Florest an Fernandes ( 1920- 1995) , Francisco de Oliveira ( 1933- ) , Ruy Braga ( 1972- ) , Jessé Souza ( 1960- ) . Karl Marx e o materialismo histórico Quadro comparativo capitalismo x socialismo / comunismo ALTERAÇÃO D AS RELAÇÕES D E PROD UÇÃO REVOLUÇÃO M OD O D E PROD UÇÃO CAPI TALI STA PERÍ ODO DE TRANSI ÇÃO PARA O CAPI TALI SMO MANUFATURA SI STEMA CAPI TALI STA DESENVOLVI DO GRANDE I NDÚSTRI A D ESEN VOLVI M EN TO D AS FORÇAS PROD UTI VAS PROPRI ED AD E SOCI AL D OS M EI OS D E PROD UÇÃO M OD O D E PROD UÇÃO COM UN I STA PERÍ ODO DE TRANSI ÇÃO PARA O COMUNI SMO SI STEMA COMUNI STA DESENVOLVI DO ETAPA I NFERI OR OU SOCI ALI SMO ETAPA SUPERI OR OU COMUNI SMO D ESEN VOLVI M EN TO D AS FORÇAS PROD UTI VAS Nobreza x Burguesia Burguesia x Prolet ariado Prolet ariado x Burguesia Não há lut as de classes Est ado Absolut ist a Est ado Burguês Est ado Prolet ário Não há Est ado A IDEOLOGIA ALEMã O fat o é, port ant o, o seguint e: indivíduos det erm inados, que são at ivos na produção de det erm inada m aneira, cont raem ent re si est as relações sociais e polít icas det erm inadas. A observação em pírica t em de provar, em cada caso part icular, em piricam ent e e sem nenhum t ipo de m ist ificação ou especulação, a conexão ent r e a est r ut ura social e polít ica e a pr odução. A est r ut ura social e o Est ado provêm const ant em ent e do processo de vida de indivíduos det erm inados, m as desses indivíduos não com o podem aparecer na im aginação própria ou alheia, m as sim t al com o realm ent e são, quer dizer, t al com o at uam , com o produzem m at erialm ent e e, port ant o, t al com o desenvolvem suas at ividades sob det erm inados lim it es, pressupost os e condições m at eriais, independent es de seu arbít rio. A produção de ideias, de representações, da consciência está, em princípio, im ediatam ente entrelaçada com a atividade m aterial e com o int ercâm bio m at erial dos hom ens, com a linguagem da vida real. O represent ar, o pensar, o int ercâm bio espirit ual dos hom ens ainda aparecem , aqui, com o em anação diret a de seu com port am ent o m at erial. [ ...] A consciência [ bewusst sein] n ão p od e j am ais ser ou t r a coisa d o q u e o ser con scien t e [ bewusst sein] , e o ser dos hom ens é o seu processo de vida real. Se, em t oda ideologia, os hom ens e suas relações aparecem de cabeça para baixo com o num a câm ara escura, est e fenôm eno result a do seu processo hist órico de vida, da m esm a form a com o a inversão dos obj et os na ret ina result a de seu processo de vida im ediat am ent e físico. Tot alm ent e ao cont r ár io da filosofia alem ã, que desce do céu à t erra, aqui se eleva da t erra ao céu. Quer dizer, não se part e daquilo que os hom ens dizem , im aginam ou represent am , t am pouco dos hom ens pensados, im aginados e represent ados para, a part ir daí, chegar aos hom ens de carne e osso; part e- se dos hom ens realm ent e at ivos e, a part ir de seu processo de vida real, expõe- se t am bém o desenvolvim ento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse pr ocesso de v ida. Tam bém as for m ações nebulosas na cabeça dos hom ens são sublim ações necessárias de seu pr ocesso de v ida m at er ial, pr ocesso em pir icam en t e const at ável e ligado a pressupost os m at eriais. A m oral, a religião, a m et afísica e qualquer out ra ideologia, bem com o as form as de consciência a elas correspondent es, são privadas, aqui, da aparência de aut onom ia que at é então possuíam . Não t êm história, nem desenvolvim ent o; m as os hom ens, ao desenvolverem sua produção e seu int ercâm bio m at eriais, t ransform am t am bém , com est a sua realidade, seu pensar e os produt os de seu pensar. sOcIOLOGIA PROPRI ED AD E PRI VAD A D OS M EI OS D E PROD UÇÃO Não é a consciência que determ ina a vida, m as a vida que determ ina a consciência. No prim eiro m odo de considerar as coisas, parte- se da consciência com o do indivíduo vivo; no segundo, que corresponde à vida real, parte- se dos próprios indivíduos reais, vivos, e se considera a consciência apenas com o sua consciência. MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alem ã: crít ica da m ais recent e filosofia alem ã em seus represent ant es Feuerbach, B. Bauer e St irner, e do socialism o alem ão em seus diferent es profet as ( 1845- 1846) . Tradução de Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Mart orano. São Paulo: Boit em po, 2007. p. 93- 94. O TRAbALhO ALIENADO Consideram os até aqui a alienação, a espoliação do operário, só sob um aspecto, o de sua relação com os produtos de seu trabalho. Ora, a alienação não aparece som ente no resultado, m as tam bém no ato da produção, no interior da própria atividade produtora. Com o o operário não seria estranho ao produto de sua atividade se, no próprio ato de produção, não se tornasse estranho a si m esm o? Com efeito, o produto é só o resum o da atividade de produção. Se o produto do trabalho é espoliação, a própria produção deve ser espoliação em ato, espoliação da atividade, atividade que espolia. A alienação do obj eto do trabalho é só o resum o da alienação, da espoliação, na própria atividade do trabalho. Ora, em que consist e a espoliação do t rabalho? Prim eiro, no fat o de que o t rabalho é ext erior ao operário, ist o é, que não pert ence ao seu ser ; que, no seu t rabalho, o oper ár io não se afir m a, m as se nega; que ele não se sent e sat isfeit o aí, m as infeliz; que ele não desdobra aí um a livre energia física e int elect ual, m as m or t if ica seu cor po e ar r u ín a seu espír it o. É por isso que o oper ár io não t em o sent im ent o de est ar em si senão fora do t rabalho; no t rabalho, sent e- se ext erior a si m esm o. É ele quando não t rabalha, e, quando t rabalha, não é ele. Seu t rabalho não é volunt ário, m as im post o. Trabalho forçado, não é a sat isfação de um a necessidade, m as som ent e um m eio de sat isfazer necessidades fora do t rabalho. A nat ureza alienada do t rabalho apar ece nit idam ent e no fat o de que, desde que não exist a im posição física ou out ra, foge- se do t rabalho com o da pest e. O t rabalho alienado, o t rabalho no qual o hom em se espolia, é sacrifício de si, m ort ificação. Enfim , o operário ressent e a nat ureza ext erior do t rabalho pelo fat o de que não é seu bem próprio, m as o de out ro, que não lhe pert ence; que no t rabalho o operário não pert ence a si m esm o, m as a out ro. [ ...] Bernoulli Sistema de Ensino 31 Frente A Módulo 03 Ch eg a- se en t ão a esse r esu lt ad o, q u e o h om em ( o op er ár io) só t em esp on t an eid ad e n as su as f u n ções an im ais: o com er, o beber e a procriação, t alvez ainda na habit ação, o adorno, et c.; e que, nas suas funções hum anas, só sent e a anim alidade: o que é anim al t orna- se hum ano e o que é hum ano t orna- se anim al. Sem dúvida, com er, beber, procriar, et c., são t am bém funções aut ent icam ent e hum anas. Cont udo, separadas do conj unt o das at ividades hum anas, erigidas em fins últ im os e exclusivos, não são m ais que funções anim ais. MARX, Karl. Ébauche d’une critique de l’économ ie politique. Tom e I I . Gallim ard, Bibliothèque de la Pléiade, p. 60- 61 apud VV. AA. Os filósofos através dos textos: de Platão a Sartre. São Paulo: Paulus, 1997. p. 250- 251. EXERcícIOs PROPOsTOs 01. MRNW 03. ( Unesp–2016) A condição essencial da exist ência e da suprem acia da classe burguesa é a acum ulação da riqueza nas m ãos dos part iculares, a form ação e o crescim ent o do capit al; a condição de exist ência do capit al é o t rabalho assalariado. [ ...] O desenvolvim ent o da grande indúst ria socava o t erreno em que a burguesia assent ou o seu r egim e de pr odução e de apr opr iação dos pr odut os. A burguesia produz, sobret udo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vit ória do prolet ariado são igualm ent e inevit áveis. MI GLI OLI , Jorge. Dom inação burguesa nas sociedades m odernas. Disponível em : < ht t ps: / / www.ifch.unicam p.br/ crit icam arxist a/ arquivos_bibliot eca/ art igo 205Art igo1.pdf/ > ( Adapt ação) . MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifest o Com unist a: obras escolhidas, v. 1, s/ d. En t r e as car act er íst i cas d o p en sam en t o m ar x i st a, é corret o cit ar Para conquist ar o dom ínio sobre os dem ais m em bros da sociedade, o grupo descrit o no t ext o se ut iliza de diversos inst rum ent os, t endo- se com o principal A) a divisão de riquezas. B) a ut ilização dos m ilit ares. C) a abert ura do m ercado nacional. D) o cont role dos m eios de produção. E) o fecham ent o do com ércio ao m ercado ext erno. A) o t em or perant e a ascensão da burguesia e o apoio à int ernacionalização do m odelo soviét ico. B) o princípio de que a hist ória é m ovida pela lut a de classes e a defesa da revolução prolet ária. C) a caract erização da sociedade capit alist a com o j urídica e socialm ent e igualit ária. D) o reconhecimento da importância do trabalho da burguesia na construção de uma ordem socialmente justa. 04. WL4K E) a celebração do triunfo da revolução proletária europeia e o desconsolo perante o avanço im perialista. 02. ( UEL- PR–2016) A ópera- balé Os Set e Pecados Capit ais da Pequena Burguesia, de Kurt Weill e Bert old Brecht , com post a em 1933, ret rat a as condições dessa classe social na derrocada da ordem dem ocrática com a ascensão do nazism o na Alem anha, por m eio da personagem Anna, que em set e anos vê t odos os seus sonhos de ascensão social r u ír em . A obr a ex pr essa a v isão m ar x ist a n a cham ada dout rina das classes. B) No socialism o ut ópico, a dout rina defendida por Robert Ow en e Char les Four ier, pr evaleciam as ideias de t ransform ar a realidade por m eio da lut a de classes, da superação da m ais- valia e da revolução socialist a. A) A alta burguesia é um a classe considerada revolucionária, pois foi capaz de resist ir à ideologia t ot alit ária at ravés do cont role dos m eios de com unicação. C) O socialism o cien t ífico pr opost o por Kar l Mar x e Friedrich Engels, at ravés do m anifest o Com unist a de 1848, defendia um a int erpret ação socioeconôm ica da história dos povos, denom inada m aterialism o histórico. B) A classe m édia, int egrant e da cam ada burguesa, foi identificada com os ideais do nacional-socialismo por defender a socialização dos m eios de produção. D) O anar quism o do r usso Mik hail Bak unin defendia a f or m ação de cooper at iv as, m as n ão n egav a a im p or t ân cia e a n ecessid ad e d o Est ad o p ar a a elim inação das desigualdades. C) A pequena burguesia ou cam ada lúm pen é revolucionária, identificando a alta burguesia como sua inimiga nat ural a ser dest ruída pela revolução. E) O prolet ariado e a classe m édia form am as classes r ev olu cion ár ias, cu j a m issão é a d er r u b ad a d a arist ocracia e a inst auração do com unism o. 32 Coleção Filosofia / Sociologia ( UECE–2014) O século XI X foi m arcado pelo surgim ent o de corrent es de pensam ent o que cont est avam o m odelo capit alist a de produção e propunham novas form as de organizar os m eios de produção e a dist ribuição de bens e riquezas, buscando um a sociedade que se caract erizasse pela igualdade de oport unidades. No que diz respeit o a essas corrent es, assinale a afirm ação verdadeira. A) O socialism o crist ão buscava aplicar os ensinam ent os de Cr ist o sobr e am or e r espeit o ao pr óx im o aos problem as sociais gerados pela indust rialização, m as, apesar de vários t eóricos im port ant es o defenderem , a I g r ej a o r ej eit ou at r av és d a En cíclica Rer u m Novarum , lançada pelo Papa Leão XI I I . Em r elação à d ou t r in a social m ar x ist a, assin ale a alt ernat iva corret a. D) A pequena burguesia ou classe m édia é um a classe ant irrevolucionária, pois, em bora est ej a m ais próxim a das condições m at eriais do prolet ariado, apoia a alt a burguesia. ( UPE–2018) Na Eur opa ocident al, a bur guesia sur ge ent re os séculos X e XI , sob a form a m ercant il, ist o é, com post a por com erciant es, cam bist as e em prest adores de dinheiro, sendo aum ent ada logo em seguida com a part icipação dos art esãos urbanos. Durant e m uit o t em po, o poder polít ico est eve nas m ãos da nobreza, dos grandes senhores de t erras, o que não im pediu o crescim ent o e enriquecim ent o da burguesia. Com a form ação das m onarquias absolut ist as, unificando t errit órios, m ercados, leis, m oedas e t ribut os, o poder polít ico se concent rou nos reis. Bast ant e enriquecida, um a part e da burguesia com eçou a com prar t erras, conquist ar t ít ulos de nobreza e, inclusive, a assum ir cargos nos governos. 05. ( UFU- MG) Para Marx, o m aterialism o histórico é a aplicação do m at erialism o dialét ico ao cam po da Hist ória. Conform e Aranha e Arruda ( 2000) , “ Marx invert e o processo do senso com um que pret ende explicar a hist ória pela ação dos ‘grandes hom ens’ ou, às vezes, at é pela int ervenção divina. Para o m arxism o, no lugar das ideias, est ão os fat os m at eriais; no lugar dos heróis, a lut a de classes”. Karl Marx e o materialismo histórico Assim , para com preender o hom em , é necessário analisar as form as pelas quais ele reproduz suas condições de exist ência, pois são est as que det erm inam a linguagem , a religião e a consciência. Em relação às concepções de sociedade de cada um deles, é corret o afirm ar, excet o A) A so ci ed ad e, n a v i são d e D u r k h ei m , d ev e ser com preendida a part ir das inst it uições sociais que a com põem , por exem plo, o Est ado, a I grej a, a Fam ília, et c.; bem com o os diversos grupos sociais. ARANHA, M. L. de A.; MARTI NS, M. H. P. Filosofando: int rodução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2000. p. 241. B) Para Weber, a ação – ou a atividade social – deve ser com preendida pelo sentido que lhe atribuem os indivíduos, o que torna a Sociologia um a disciplina interpretativa. A part ir da explicação ant erior e dos seus conhecim ent os sobre o pensam ent o de Karl Marx, assinale a alt ernat iva que indica, corret am ent e, os dois níveis de “ condições de exist ência” para Marx. A) I nfraest r ut ura ( ou est r ut ura) , caract er izada pelas r elações dos hom ens ent r e si e com a nat ur eza; e su per est r u t u r a, car act er izada pelas est r u t u r as j urídico- polít icas e ideológicas. B) I nfraest r ut ura ( ou est r ut ura) , caract er izada pelas relações dos hom ens ent re si e com a nat ureza; e m at erialism o dialét ico, que é na verdade a form a pela qual o hom em produz os m eios de sobrevivência. D) Os t r ês aut or es clássicos da Sociologia per deram im p or t ân cia n a at u alid ad e d as ciên cias sociais, pois deixaram de ser r efer ência de est udo com a reest rut uração do sist em a capit alist a m undial. 08. C) Modos de produção, caract erizados pelo pensam ent o filosófico dos socialistas utópicos; e o imperialismo, caract eríst ica m áxim a do capit alism o indust rial. D) I m perialism o, caract eríst ica do capit alism o indust rial; e infraest rut ura ( ou est rut ura) , caract erizada pelas relações dos hom ens ent re si e com a nat ureza. 06. ( UEG- GO–2015) Para Marx, diant e da t ent at iva hum ana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso con sider ar as f or m as de con h ecim en t o ilu sór io qu e m ascaram os conflit os sociais. Nesse sent ido, a ideologia adquire um carát er negat ivo, t orna- se um inst rum ent o de dom inação na m edida em que nat uraliza o que deveria ser explicado com o result ado da ação hist órico- social dos hom ens e universaliza os int eresses de um a classe com o int eresse de t odos. A part ir de t al concepção de ideologia, const at a- se que A) a sociedade capit alist a t ransform a t odas as form as de consciência em represent ações ilusórias da realidade conform e os int eresses da classe dom inant e. B) ao m esm o t em po que Marx crit ica a ideologia ele a considera um elem ent o fundam ent al no processo de em ancipação da classe t rabalhadora. C) a superação da cegueira colet iva im post a pela ideologia é um produt o do esforço individual principalm ent e dos indivíduos da classe dom inant e. D) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de uma noção genérica e abst rat a de t rabalho, m ascarando as reais condições do t rabalho alienado no m odo de produção capit alist a. 07. ( Unim ont es- MG–2016) A Sociologia Clássica t em , ent re os seus principais pilares t eóricos, as form ulações de Karl Marx ( 1818- 1883) , Ém ile Durkheim ( 1858- 1917) e Max Weber ( 1864- 1920) . Esses t rês grandes pensadores europeus est udaram o avanço do capit alism o, com perspect ivas dist int as. (UNI SC-RS) Karl Marx se notabilizou com o o cientista social que fundou as bases epist em ológicas do m at erialism o hist órico a part ir das cat egorias capit al e t rabalho e do m ét odo dialét ico. Segundo o pensador, a hist ór ia da hum anidade se desenvolve a part ir da t ensão ent re essas duas categorias, e todas as form as históricas de sociedade, a partir do com unism o prim itivo, expressam em si m esm as um a or ganização específica do t rabalho com vist as à produção de bens e acúm ulo de riquezas. Nesse sent ido, o capitalism o seria um a das form as sociais que se caracteriza pela organização da produção a part ir da relação ent re capit al e t rabalho, de t al m odo que os donos dos m eios de produção ( a burguesia) exploram o t rabalho obj et ivando a obt enção do lucro. A cat egoria econôm ica que denot a o lucro obt ido a part ir desse processo de exploração do t rabalho é denom inada por Karl Marx de A) expropriação. D) m ais- valia. B) exploração. E) com unism o. C) capit alism o. 09. EMAL (UFU-MG–2017) Conform e Marx e Engels: O m odo pelo qual os hom ens produzem seus m eios de vida depende, ant es de t udo, da própria const it uição dos m eios de vida j á encont rados e que eles t êm de reproduzir. Esse m od o d e p r od u ção n ão d ev e ser con sid er ad o m er am en t e sob o asp ect o d e ser a r ep r od u ção d a ex ist ên cia f ísica d os in div ídu os. Ele é, m u it o m ais, um a form a det erm inada de sua at ividade, um a form a det erm inada de ext eriorizar sua vida, um det erm inado m odo de vida desses indivíduos. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alem ã. São Paulo: Huit ec, 1999. p. 27. Da leit ura do t recho, conclui- se que: A) As ideologias polít icas possuem aut onom ia em relação ao desenvolvim ent o das forças produt ivas. B) A base da est rut ura social reside no seu m odo de produção m at erial. C) O m odo de produção é det erm inado pela ideologia dom inant e. D) Toda atividade produtiva é uma forma de desumanização. Bernoulli Sistema de Ensino 33 sOcIOLOGIA C) Na ótica de análise de Marx, não há com o com preender a sociedade se não se com preender as relações das classes sociais que a com põem e seus m odos de produção. Frente A 10. Módulo 03 ( UEL- PR–2018) Leia o t ext o a seguir: Assim com o Darwin descobriu a lei do desenvolvim ent o d a n a t u r e z a o r g â n i c a , Ma r x d e s c o b r i u a l e i d o desenvolvim ent o da hist ória hum ana. A produção dos m eios im ediat os de vida, m at eriais e, por conseguint e, a correspondent e fase de desenvolvim ent o econôm ico de um povo ou de um a época é a base a part ir da qual t em se desenvolvido as inst it uições polít icas, as concepções j urídicas, as ideias art íst icas. A descobert a da m ais- valia clareou est es problem as. ENGELS, F. Discurso diant e do t úm ulo de Marx. 1883. Disponível em : < ht t p: / / www.m arxist s.org/ espanol/ m e/ 1880s/ 83- t um ba.ht m > . Acesso em : 11 set . 2017. Co m b ase n o t ex t o e n o s co n h eci m en t o s so b r e a concepção m at erialist a da hist ória, assinale a alt ernat iva corret a. ( Enem –2016) Te x t o I Cidadão Tá vendo aquele edifício, m oço? Aj udei a levant ar Foi um t em po de aflição Eram quat ro condução Duas pra ir, duas pra volt ar Hoj e depois dele pront o Olho pra cim a e fico t ont o Mas m e vem um cidadão E m e diz desconfiado “ Tu t á aí adm irado Ou t á querendo roubar?” Meu dom ingo t á perdido A) Exist em leis gerais e invariáveis na hist ória, que fazem a vida social ret ornar cont inuam ent e ao pont o de part ida, ist o é, a um a form a idênt ica de exploração do hom em sobre o hom em . Vou pra casa ent rist ecido B) A mais-valia, ou seja, uma maneira mais eficaz de os pr opr iet ár ios lucrar em por m eio da venda dos produt os acim a de seus preços, é um a m anifest ação t ípica da sociedade capit alist a e do m undo m oderno. Que eu aj udei a fazer. C) O d a r w i n i s m o s o c i a l é a b a s e d a c o n c e p ç ã o m at erialist a da hist ória na m edida em que est a t eoria demonstra cientificamente que somente os mais aptos podem sobreviver e dom inar, sendo os capit alist as um exem plo. Te x t o I I D) A part ir de int ercâm bios na infraest rut ura da vida social, desenvolve- se um conj unt o de relações que passam a int egrar o cam po da superest rut ura, com um a int erdependência necessária ent re elas. E) A sociedade burguesa, por intensificar a exploração d o s h o m e n s a t r a v é s d o t r a b a l h o a ssa l a r i a d o , const it ui- se em form a de organização social m enos desenvolvida que as ant eriores. Dá vont ade de beber E pra aum ent ar m eu t édio Eu nem posso olhar pro prédio BARBOSA, L. I n: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999. [ Fragm ent o] O t rabalhador fica m ais pobre à m edida que produz m ais riqueza e sua produção cresce em força e ext ensão. O t rabalhador t orna- se um a m ercadoria ainda m ais barat a à m edida que cria m ais bens. Esse fat o sim plesm ent e subent ende que o obj et o produzido pelo t rabalho, o seu produt o, agora se lhe opõe com o um ser est ranho, com o um a força independent e do produt or. MARX, K. Manuscrit os econôm icos- filosóficos: Prim eiro m anuscrit o. São Paulo: Boit em po Edit orial, 2004 ( Adapt ação) . Com base nos t ext os, a relação ent re t rabalho e m odo de produção capit alist a é A) baseada na desvalorização do t rabalho especializado e no aum ent o da dem anda social por novos post os de em prego. sEçãO ENEM B) fundada no crescim ent o proporcional ent re o núm ero de t rabalhadores e o aum ent o da produção de bens e serviços. 01. C) est rut urada na dist ribuição equânim e de renda e no declínio do capit alism o indust rial e t ecnocrat a. (Enem –2017) A cidade não é apenas reprodução da força de trabalho. Ela é um produto ou, em outras palavras, tam bém um grande negócio, especialm ente para os capitais que em bolsam , com sua produção e exploração, lucros, j uros e rendas. Há um a disputa básica, com o um pano de fundo, entre aqueles que querem dela m elhores condições de vida e aqueles que visam apenas extrair ganhos. MARI CATO, E. É a quest ão urbana, est úpido! I n: MARI CATO, E. et al. Cidades rebeldes: passe livre e as m anifest ações que t om aram as ruas do Brasil. São Paulo: Boit em po; Cart a Maior, 2013. O t ext o problem at iza o seguint e aspect o referent e ao ordenam ent o das cidades: A) A instituição do planej am ento participativo. B) A valorização dos interesses coletivos. C) O fortalecim ento da esfera estatal. D) A expansão dos serviços públicos. E) O dom ínio da perspectiva m ercadológica. 34 02. Coleção Filosofia / Sociologia D) inst aurada a part ir do fort alecim ent o da lut a de classes e da criação da econom ia solidária. E) derivada do aum ent o da riqueza e da am pliação da exploração do t rabalhador. Meu aproveitamento GAbARITO Propostos Acertei ______ 01. B 04. C 07. D 02. D 05. A 08. D 03. D 06. D 09. B seção Enem 01. E Acertei ______ Errei ______ 10. D Errei ______ 02. E Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ % FRENTE MÓDULO A 04 SOCIOLOGIA A construção da modernidade A cONsTRuçãO DA MODERNIDADE As reflexões iniciadas pelo positivismo, no século XIX, desencadearam um a série de novos cam inhos que buscavam investigar cientificamente a vida em sociedade. Vimos que Karl Marx, Ém ile Durkheim e Max Weber foram os principais nom es a oferecer os prim eiros cam inhos sociológicos para int erpret ar a vida em sociedade. Após eles, seguiram - se m uit os out ros pensadores nessa árdua t arefa, part indo das análises dos sociólogos t idos com o clássicos e criando novas ferram ent as de int erpret ação da sociedade. No século XX, a investigação sobre a vida em sociedade se ramificou em Nest e capít ulo, abordarem os alguns dos t em as que se tornaram objeto de estudo das Ciências Sociais e são incontornáveis na atualidade, trazendo nom es im portantes da Sociologia, do século XX, para a reflexão social contemporânea. Minorias Questão étnico-racial No sécu lo XI X, com o desenv olv im en t o da biologia, do posit iv ism o e do ev olu cion ism o social, su r gir am as chamadas teorias do racismo científico ou racialismo, que post ulavam um a relação det erm inist a ent re raça e progresso. Para t eóricos com o os brit ânicos Herbert Spencer, Robert Knox e Sam uel Geor ge Mor t on, par ecia ev ident e que o segredo do sucesso civilizacional europeu se encont rava na m uit as disciplinas, com o a Ant ropologia, a Psicologia Social, genét ica privilegiada das raças brancas, ao cont rário das a Econom ia e vár ias subdivisões da Sociologia ( polít ica, raças de pele escura, que est avam biologicam ent e fadadas r u r al, do lazer, do con su m o. . . ) . Por isso, o cam po de a ser em subor dinadas por sua infer ior idade. O discur so est udos se am pliou, sendo denom inado de Ciências Sociais, da superioridade nat ural dos brancos, aut oat ribuída pelos passando a ser com post o de m uit as subáreas, cada vez m ais próprios brancos, estava na base das ciências racialistas que especializadas, cont udo, sem perder de vist a a t ot alidade alimentavam as fileiras dos defensores da missão civilizadora das relações sociais. do im perialism o europeu. No Brasil, esse discurso alim ent ou O d esd ob r am en t o h ist ór ico d o p ós- g u er r a t r ou x e à t o n a n o v a s t e m á t i ca s q u e se m o st r a r a m e sse n ci a i s para com pr eender a com plex idade das r elações sociais, assu m in d o lu g ar d e g r an d e im p or t ân cia n as Ciên cias Sociais. Nas últ im as quat r o décadas, as Ciências Sociais, a t ese do “ branqueam ent o racial” ( ou “ em branquecim ent o r acial” ) , m at er ializad o n os v ár ios in cen t iv os d ad os à imigração europeia, com finalidade de reduzir os efeitos da “má influência” genética negra e indígena, que não perm it iam ao Brasil se civilizar. em geral, t êm se pr eocupado em r epensar os pr essupost os No Brasil, o racismo científico teve muita força e foi a t eór ico- m et odológicos sobr e os quais se assent a o seu pr incipal t eor ia para t ent ar ex plicar as r elações raciais entendimento científico do mundo. Esse fato pode ser advindas desde o Período Colonial. Com isso, at é a década const at ado por m eio do núm er o de aut or es clássicos que de 1930, para os adept os dessa pseudociência, a m est içagem são at ualm ent e obj et o de releit uras ( com o Ém ile Durkheim , ( m ist ura racial) era vist a com o um m al porque produzia Kar l Mar x e Max Web er ) ; p elas r ef lex ões d e car át er raças im puras e im perfeit as, m anchadas pela presença do epist em ológico desenvolv idas pelos cient ist as sociais; pela sangue negro. m ult iplicidade de paradigm as e de r efer ências t eór ico- Foi som ent e a part ir do sociólogo pernam bucano Gilbert o - m et odológicas; pelas t ent at ivas de int egração e sínt eses Freyre, seguidor do ant ropólogo cult uralist a alem ão Franz t eór icas pr opost as; pela busca de superação de um a sér ie Boas, qu e a qu est ão da m est içagem passou a gan h ar de par es de conceit os clássicos ( com o subj et ivo e obj et ivo, conot ação posit iva. Crít ico da visão det erm inist a, pregada agent e e est r ut ura, colet ivo e indiv idual, m acr ossociologia pelo racialism o, Fr eyr e defendia que as r elações sociais e m icr ossociologia) ; e, pr incipalm ent e, pela ex pansão de são const ruções sociais, subm et idas às forças hist óricas e novos cam pos de pesquisas que ult rapassam as t radicionais cult urais, e não dit adas pela genét ica. Em livros com o Casa- fr ont eiras disciplinar es. - grande e senzala ( 1933) e Sobrados e m ucam bos ( 1936) , Bernoulli Sistema de Ensino 35 Frente A Módulo 04 Freyre defendia que o grande valor do Brasil se encont rava na m ist ura, ao m esm o t em po, racial e cult ural. Tal m ist ura, para Freyre, perm it iu o surgim ent o de um a cult ura híbrida e única desde o Período Colonial. A m iscigena çã o seria o que o Brasil possuiria de m ais próprio, único e ident it ário. No ent ant o, um a int erpret ação equivocada ( e convenient e) de Gilber t o Fr ey r e acabou por defender a t ese de que, em f u n ção da m iscigen ação, h av er ia u m a conv iv ên cia pacífica e harmônica entre todas as raças e, portanto, não existiria racismo no Brasil. Essa tese ficou conhecida como dem ocracia racial, sendo alvo de severas críticas de diversas leituras científicas posteriores, por se mostrar insustentável, sob t odos os pont os de vist a, principalm ent e a part ir das est at íst icas que m ost ram com facilidade o abism o social exist ent e ent re brancos e negros quant o ao acesso a polít ica, cult ura, bens econôm icos, t rabalho, assim com o na relação com a polícia, a j ust iça e a violência. A valorização da m iscigenação não ocult ava, no ent ant o, as relações de dom inação e desigualdade produzidas por sécu los de escr av idão e r acism o. A sit u ação social do negro, após a abolição da escravidão, perm anecia ainda de pobreza, exclusão e falt a de poder polít ico. Flor e st a n Fe r n a n de s, sociólogo e professor da USP, adot ando um v iés m at er ialist a h ist ór ico, f az u m a leit u r a m ais apr ofundada das relações ent re raça e facilidade no Brasil em seu livro A int egração do negro na sociedade de classes ( 1 9 6 4 ) . Para Fer nandes, o negr o possui opor t unidades desiguais em relação ao branco, um a vez que é inserido Na d écad a d e 1 9 4 0 , com eçam a ef er v escer v ár i os m ov im ent os negr os no Brasil e no m undo – exem plo disso é a cr iação do Teat r o Ex per im ent al do Negr o, de Abdias do Nascim ent o – que pr econizavam as lut as sociais que v ão se desencadear na década de 1960. Nessa década, considerada o auge das lut as ident it ár ias no m undo com o um t odo, dest acam - se os m ov im ent os negr os dos EUA, t endo com o ex poent es M a lcolm X e os Pa n t e r a s N e gr a s e M a r t in Lu t h e r Kin g e suas bandeiras que, além de lut ar em cont ra o racism o e cont ra a v iolência prat icada, ex igiam igualdade polít ica. Durant e a Dit adura Milit ar, de 1964 a 1985, os m ovim ent os sociais, no Brasil, foram abafados, m as, com a redem ocratização, na década de 1980, ganharam novo fôlego e passaram a pressionar o Estado por igualdade de direitos e maior visibilidade para problemas sociais que haviam ficado em segundo plano. Experiências com polít icas de a çõe s afirmativas, cuja pretensão é criar m ecanism os sociais para dim inuir as diferenças historicam ente produzidas entre brancos, negros e outros setores m enos favorecidos, tornaram -se m ais frequentes a partir de iniciativas nascidas nos Estados Unidos. Entre as ações afirmativas adotadas encontra-se a política de cotas sociorraciais para acesso às universidades públicas. Tal política foi iniciada, em experiência piloto, na UnB em 2006 e expandida em 2013 para a totalidade das universidades federais, a partir da declaração de sua legalidade constitucional pelo Suprem o Tribunal Federal. em u m a “ or d em soci al com p et i t i v a” – f or m ação d as Apesar de sua declarada const it ucionalidade, as polít icas classes sociais n o capit alism o per if ér ico- depen den t e – de cot as raciais não são um a unanim idade, principalm ent e e não consegue alcançar um a aut onom ia de classe social porque elas reorganizam o acesso às universidades, o qual, necessária ao seu proj et o polít ico de em ancipação de raça at é ent ão, era e, de cert a m aneira, ainda é m aj orit ariam ent e e de classe – perspect ivas indissociáveis. Nas palavras de dit ado por um sist em a m erit ocrát ico sust ent ado pela posição Florest an Fernandes: social privilegiada de alguns indivíduos. Ent re os crít icos da polít ica de cot as raciais encont ra- se o sociólogo D e m é t r io “ [ ...] a convicção de que as relações ent re ‘negros’ e ‘brancos’ corresponderiam aos requisit os de um a dem ocracia racial não passa de um m it o”. FERNANDES, F. A int egração do negro na sociedade de classes. 3. ed. São Paulo: Át ica, 1978. p. 262. M a gn oli, que acusa esse sist em a de ferir o princípio da igualdade ao favorecer um grupo em det rim ent o de out ro. Porém , baseando- se na diferença ent re igualdade form al ( abst rat a) e a igualdade m at erial ( real, efet iva) , t eóricos com o a hist oriadora Lilia M or it z Sch w a r cz ( O espet áculo das raças, de 1996) e o sociólogo congolês Ka be n ge le Pouco depois, o hist oriador est adunidense radicado no Brasil, Thom a s Sk idm ore, publicou o livro Preto no Branco: raça e nacionalidade no pensam ent o Brasileiro ( 1976) , no qual int erpret a a persist ência do racism o e da escravidão em form as m odernas. Por exem plo, a em pregada dom ést ica ( quase sem pre negra, da periferia, com baixa escolaridade e em posição de subalt ernidade dem arcada pelos uniform es que explicit am seu lugar de inferioridade social) seria um a form a m oderna da am a de leit e, a escrava ant es incum bida de cuidar da casa do pat rão branco. 36 Coleção Filosofia / Sociologia M u n a n ga , at ualm ent e professor da USP, sust ent am que as ações afirmativas são medidas necessárias por um espaço de t em po det erm inado para que o abism o social, produzido ao lon g o d e sécu los, sej a g r ad u alm en t e m in im izad o. Segundo Lilian Schwarcz, o Brasil seria palco de um t ipo específico de racismo. Diferentemente do racismo explícito prat icado nos EUA por inst it uições da sociedade civil, com o a Ku Klux Klan, e t am bém pelas leis de segregação, com o as cham adas de Jim Crow, em vigor at é a década de 1960, o racism o no Brasil est eve m aj orit ariam ent e disfarçado nas prát icas sociais sob o véu de um a falsa “ dem ocracia racial”. A construção da modernidade Com isso t er íam os um r a cism o à b r a sile ir a , que não A data é um m arco tam bém para relem brar o assassinato se proclam a explicit am ent e, m as que est á present e nas de 130 m ulher es que faziam gr eve por m elhor es diferenças de oport unidades de em prego, na reprodução condições de trabalho no interior de um a fábrica em da pobreza, na discrim inação, na desigualdade de acesso à Nova I or que, em 1911. Os dir eit os das m ulher es j ust iça, no t rat am ent o diferenciado nas abordagens policiais. envolveram lut as, sacrifícios e m uit a resist ência por Enfim, ainda que o brasileiro não se declare racista, nossa parte dos setores m asculinos que estavam no poder. No configuração de sociedade admite a manutenção de práticas Brasil, as m ulheres só alcançaram direito pleno ao voto racist as em várias inst âncias da vida civil e da vida pública. com a Constituição de 1934, depois de m uita pressão interna e estrangeira. racism o “ lat ent e” por vezes se m anifest a de form a explícit a. Na t ransição da Prim eira para a Segunda Onda, No fut ebol, os vários casos de racism o, com o os grit os de encont ra- se a obra O Segundo Sexo (1949), da filósofa t orcedores do Grêm io cont ra o goleiro Aranha do Sant os, em francesa Sim one de Bea uvoir, que influenciou gera- Port o Alegre, no ano de 2014, m ost ram que a discrim inação ções de fem inist as post eriores a part ir do diagnóst ico racial encont ra- se nat uralizada e ainda é um com ponent e cont undent e sobre as várias relações de dom inação com um da vida social. Por isso, um a das bandeiras dos psicológica, cult ural e polít ica a que as m ulher es movimentos negros é a da intensificação da punição contra est avam sendo subm et idas há t em pos. Nesse livro, cr im es raciais. Em bora a legislação brasileira j á possua Beauvoir diz: “ ninguém nasce m ulher, torna-se m ulher” inst rum ent os para punir com severidade, com o é o caso da Lei nº 7.716, em vigor desde 1989, poucos foram os casos de racism o j ulgados a part ir dela, t endo sido, em sua m aioria, r ever t idos para o ar t igo 140 do Código Penal ( I nj úr ia) , que prevê penas m uit o m ais brandas. sOcIOLOGIA No ent ant o, vár ios episódios r ecent es m ost ram que o BEAUVOI R, Sim one de. O segundo sexo – volum e 2. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967. p. 09. Assim sendo, a distinção entre sexo e gênero passará, em seguida, a ser um dos princípios fundam entais dos discursos fem inistas. Questão de gênero Essa dist inção considera que se x o cor r esponde O t erm o gênero im plica diret am ent e dois t em as: a quest ão às caract eríst icas anat ôm icas, genét icas, biológicas fem inist a e a quest ão da hom ossexualidade. Essas duas de um indivíduo quant o ao seu aparelho reprodut or, quest ões est ão int im am ent e associadas e se desenvolvem à enquant o gê n e r o diz r espeit o ao am plo conj unt o m edida que a discussão sobre a noção de gênero se const it ui d as car act er íst icas p sicossociais q u e con st it u em de form a m ais aprofundada. A origem dessa discussão se dá a ident idade individual e a expressão social dessa com o surgim ento do fem inism o, que é geralm ente dividido em indiv idualidade. A par t ir de Beauvoir, m uit os t eó- t rês fases hist óricas, m arcadas pela predom inância de cert as ricos defenderão a tese de que o “sexo não define concepções filosóficas, biológicas e sociais sobre o gênero. o gên er o”, ou sej a, a iden t idade de gên er o n ão é u m a m er a r elação de cau sa e ef eit o det er m i- Prim eira Onda do Fem inism o A Pr im eira Onda do Fem inism o se inicia com a n ad a p ela an at om ia. O ór g ão g en it al é u m d os componentes do gênero, mas não é seu definidor. Revolução Francesa e se est ende at é m eados do século XX, sendo predom inant e nos EUA, na França e na I nglat erra. Nest a ext ensa fase há o predom ínio da lut a por direit os polít icos iguais aos dos hom ens, principalm ent e o direit o ao vot o. A brit ânica M a r y W ollst on e cr a ft é um dos nom es m ais im port ant es na or ganização das su f r a g e t e s ( or ganizações de Maíra Dam ásio • m ulheres em prol do vot o fem inino) e na conquist a de dir eit os polít icos. Na ár dua lut a, a dat a de 08 de m arço t ornou- se o Dia I nt ernacional da Mulher, em 1921, para relem brar as aproxim adam ent e 90 m il oper ár ias que se m anifest aram cont ra o czar Nicolau I I , em 1917, acusando as m ás condições de t rabalho, a fom e e a part icipação russa na guerra, em u m p r o t est o co n h eci d o co m o “ Pã o e Pa z”. Bernoulli Sistema de Ensino 37 Módulo 04 A configuração de gênero seria muito mais complexa e envolveria muitos aspectos sociais, psíquicos e cult urais que vão além dos órgãos genit ais. Ser hom em e ser m ulher, ist o é, os papéis sociais de hom em e de m ulher na sociedade não são dados inst int ivam ent e ou genet icam ent e. Eles são const ruções sociais e hist óricas com enorm e variação de cult ura para cult ura e dent ro de um a m esm a sociedade ao longo do t em po. • Segunda Onda do Fem inism o A Segunda Onda do Fem inism o est á associada às revoluções cult urais da década de 1960 e às lut as ident it árias que em ergiram dessas revoluções. Nessa fase, a discussão sobre as m últ iplas relações ent re m ulheres e hom ens se am plia e vai além do cam po polít ico, pois a igualdade de gênero não havia sido conquist ada com o direit o ao vot o. Passam a ser reivindicados direit os econôm icos, sexuais e reprodut ivos, com o o direit o ao am or livre, ao abort o e a ocupar o m ercado de t rabalho com reconhecim ent o sim ilar ao m asculino. O lem a da segunda onda passa a ser “ o pessoal é polít ico”, indicando que, ao longo da hist ória, as m ulheres t iveram seu próprio corpo e sua sexualidade dom inados por um a m oral m asculina e pat riarcal. Assim , a dom inação m asculina não est aria present e som ent e no cam po polít ico, m as t odo o im aginário social em t orno da sexualidade est aria im pregnado de um a visão que part e do gênero m asculino e subm et e os dem ais gêneros à het eronorm at ividade m asculina ( princípios e norm as de orient ação het erossexual m asculina) . Por isso, o corpo é político, o sexo é político, o desejo é político, logo, as esferas da vida privada refletem as est rut uras de dom inação que est ão present es na vida social. Nessa fase consagraram - se t erm os com o se x ism o ( discrim inação baseado em diferenças sexuais) , m isogin ia ( horror ou rej eição ao sexo / gênero fem inino) , h om ofobia ( horror à hom oafet ividade / hom ossexualidade) , t ra nsfobia ( horror ou rej eição a indivíduos t ransgênero ou t ravest is) . A discussão sobre gênero supera a dicot om ia m asculino / fem inino e passa a englobar as m últ iplas relações de gênero e de orient ação do desej o. Gr aças aos est u dos ef et u ados, a par t ir da década de 1 9 7 0 , h ou v e u m a m u dan ça t erm inológica de hom ossexualism o ( t erm o pej orat ivo, associado a dist úrbio ou anorm alidade) para h om osse x u a lida de ou h om oa f e t iv ida de . Em 1973, a Associação Am er icana de Psiquiat ria ret ira a hom ossexualidade da list a de doenças psíquicas e em 1990 a Organização Mundial de Saúde t am bém deix a de consider á- la um a doença. No Brasil, desde 1985, o Conselho Federal de Psicologia considera que “ a hom ossex ualidade não const it ui doença, nem dist úr bio, nem per ver são, const it uindo- se num a alt er nat iva nat ural e espont ânea da sex ualidade hum ana”, e a r esolução 001 de 1999 do m esm o Conselho Federal de Psicologia ratifica a defesa da normalidade da homossexualidade e proíbe os psicólogos de “colaborar com qualquer t erapia que prom et a curar ou t rat ar a hom ossexualidade com o se fosse doença ou dist úr bio”. • Terceira Onda do Fem inism o A Terceira Onda do Feminismo desponta, na década de 1990, sob forte influência das filosofias pós- m odernas. Ela crit ica o essencialism o das duas ondas precedent es, que enxergavam o gênero com o um a ident idade est át ica e im ut ável dos indivíduos, bem com o o elit ism o dos fem inism os ant eriores, volt ados especialm ent e para os int eresses das m ulheres brancas de classe m édia e alt a. Num a t ent at iva de dem ocrat izar a lut a por direit os, a t erceira onda passa a ser com post a de grande núm ero de subdivisões e subgrupos que quest ionam a universalidade de t erm os genéricos com o “ m ulher ”, “ hom ossexual” e “ gênero”. Surgem m ovim ent os de m ulheres negras ( m u lh e r ism o) que reivindicam direitos específicos, considerando a situação part icular vivenciadas por esse segm ent o de m ulheres, que não est ava sendo cont em plado pelas principais artífices da segunda onda: mulheres brancas, europeias ou norte-americanas, de classe m édia, escolarizadas. Maíra Dam ásio Frente A A construção da modernidade Um a das t eor ias pr opost as na t er ceira onda do fem inism o ( ou no pós- fem inism o, segundo algum as aut oras) é a Te or ia Qu e e r , cuj o foco se concent ra n o e m p o d e r a m e n t o d a s ca t e g o r i a s d e g ê n e r o consideradas desviadas, anorm ais. O t erm o “ queer” foi inicialm ent e ut ilizado de form a pej orat iva e poderia ser t raduzido por “ esquisit o” ou sim ilar. No ent ant o, a part ir dos est udos de Te r e sa de La u r e t is e de Ju dit h Bu t le r , ele passou a assum ir um a conot ação p osit iv a, com o u m a af ir m ação social d o g ên er o desviant e. Crit icando a lógica cisgênero, que é binária ( hom em / m ulher) e disj unt iva ( ou se é hom em ou se é m ulher, não há t erceiro t erm o) , a Teoria Queer defende um m odelo de gênero abert o, perform át ico e ant iessencialist a, incluindo t odas as possíveis form as de m anifest ação da sexualidade hum ana. Dois m ovim ent os que pret endem dar visibilidade à causa de gênero são a j á consagrada Parada do Orgulho Gay ( Gay Pride) e a Marcha das Vadias, am bos r ealizados em vár ias cidades ao r edor do m undo. Reu n in d o m u lh er es, t r an sex u ais, t r an sg ên er os, hom ossexuais e out ros at ores de gênero não binários, t ais m ov im ent os defendem um a leit ura am pliada da sex u alidade h u m an a e den u n ciam as f or m as rest rit ivas e binárias de com preensão da sexualidade, bem com o as violências sofridas por aqueles que não com part ilham de um a sexualidade hét ero. Com o result ado dos est udos aprofundados sobre o t em a, com preende- se que a sexualidade hum ana não est á rest rit a nem é det erm inada pela genét ica ou pela anatomia genital, o que não significa afirmar que a sexualidade sej a escolhida de form a livre, espont ânea e conscient e pelo indivíduo. Por isso, não se deve falar em “ opção sexual”, m as sim em or ie n t a çã o se x u a l, sabendo- se que a form ação do desej o é um processo psicossocial com plexo que envolve m últ iplos fat ores, m as que não est á sob cont role do indivíduo. Um dos desafios assumidos pela terceira onda do fem inism o é a da discussão sobre o sexism o / m achism o present e na linguagem com um . A língua ser ia a pr in cipal in st it u ição social a m at er ializar relações de poder, porque a cultura influencia na con f igu r ação da lín gu a ( t an t o do pon t o de v ist a si n t át i co q u an t o sem ân t i co) , e, n u m cír cu l o, a linguagem influencia o desenvolvimento da cultura. O fat o de não exist ir gênero neut ro na Língua Port uguesa, m as som ent e dois – m asculino e fem inino –, j á é sint om a de um a det erm inada concepção acerca da sexualidade hum ana, cisgênero. A preponderância do m asculino sobre o fem inino na linguagem ( na form ação do plural, por exem plo) evidencia o m achism o im plícit o na cult ura e reforça seus valor es sex ist as, um a v ez que a linguagem com um “ nat uraliza” o cost um e, passando a im pressão aos falant es de que as palavras são um espelho da realidade e vice- versa. Um a t ent at iva que t em sido explorada é a de criar um gênero neut ro, que evit e a dicot om ia m ascu lin o / f em in in o. Por ex em plo, “ alun@s” ou “ alunxs” para escapar ao det erm inism o linguíst ico. O PROcEssO cIVILIzADOR DE NORbERT ELIAs N or be r t Elia s ( 1897- 1990) foi um dos m ais dest acados sociólogos do século XX. De origem alem ã, buscou um a sínt ese de t eorias clássicas ( com o o funcionalism o de Ém ile Durkheim e Talcot t Parsons e a sociologia com preensiva de Max Weber) com t eorias m odernas ( com o o est rut uralism o da Ant ropologia de Claude Lévi- St rauss) , visando alargar nossa com preensão dos processos hum anos e sociais e adquirir um a base crescent e de conhecim ent o m ais sólido acerca desses processos. ELI AS, Norbert. O processo civilizador – volum e 1. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 14. [ Fragm ento] Porém , enquanto os teóricos funcionalistas e estruturalistas t endem a enx er gar est r ut uras obj et ivas e est át icas na sociedade, que agem de form a coercit iva sobre os indivíduos, os t eór icos da sociologia com pr een siva con cedem , por vezes, um valor excessivo ao indivíduo e à sua liberdade. Todav ia, Elias pen sa a sociedade a par t ir de t e ia s d e in t e r de pe n dê n cia que produzem configurações sociais de m uit os t ipos, por exem plo: fam ília, aldeia, cidade, Est ado e nações. Essas configurações podem ser constituídas por agrupam ent os de diversos t am anhos e form as, m arcados por diferent es graus de int eração social ent re seus m em bros. Bernoulli Sistema de Ensino 39 sOcIOLOGIA Par a as t eór icas d a 3 ª on d a, com o a f ilósof a est adunidense Ju dit h Bu t le r ( Problemas de Gênero, 1990) , o gênero é um a const rução discursiva, um ato intencional que produz significados e que se sust ent a a part ir de perform ances que os indivíduos d esem p en h am co n t i n u am en t e co m o se f o ssem com portam entos naturais. A noção de gênero se valeria de um a falsa sensação de est abilidade, em razão da repet ição de at os, gest os e signos, do âm bit o cult ural, que reforçariam a const rução dos corpos m asculinos e fem ininos t ais com o nós os vem os at ualm ent e. Li t er al m en t e, h á t écn i cas p ar a “ ser h o m em ” e “ ser m u lh er ” qu e são nor m at izadas socialm ent e. Por isso, p ar a Bu t ler e ou t r as t eór icas, n ão se deveria falar em ident idade de gênero, m as sim em perform ance de gêner o. A ideia de “ per form ance” t r a d u z i r i a m e l h o r a d i n a m i ci d a d e d o g ê n e r o , com pr eendendo- o a par t ir de suas caract er íst icas linguíst icas e expressivas. Frente A Módulo 04 Sua sociologia depreende que o social é subst ancialm ent e Um a d a s co n t r i b u i çõ es d a t eo r i a d e Bo u r d i eu é a o conj unt o das redes de int er- relações dinâm icas ent re os ex pansão da noção m ar x ist a de capit al. Além do ca pit a l indivíduos. Diferent em ent e de Durkheim , Elias com preende e con ôm ico, que diz r espeit o à pr opr iedade dos m eios de q u e n ã o e x i st i r i a so ci e d a d e se m i n d i v íd u o s, i st o é , produção e à posse de dinheiro, Bourdieu identificou outras a sociedade não é um a entidade supraorgânica. Paralelam ente, formas de capital que definem as relações de dominação. Elias também afirma a impossibilidade de os indivíduos ex ist ir em fora da sociedade. Ou sej a, para Elias, não é p lau sív el pen sar a r elação dos con ceit os de in div ídu o e sociedade de form a independent e um do out ro. O livro m ais conhecido de Nor ber t Elias é O Processo O ca p i t a l cu l t u r a l cor r esp on d er ia aos sab er es e co n h e ci m e n t o s so ci a l m e n t e a ce i t o s e r e co n h e ci d o s m ediant e t ít ulos e diplom as; o ca pit a l sim bólico ser ia com post o pelo pr est ígio ou pela h onra qu e se con fer e a d et er m in ad a p essoa ou f u n ção social; e o ca p i t a l Civilizador ( 1939) , no qual o aut or analisa a form ação das socia l se r efer ir ia às r elações sociais pr iv ilegiadas que sociedades ocident ais ao longo da hist ória. Ao cont rário da podem ser conv er t idas em poder. Essas dim en sões do noção de progresso, que era afirmada pelos positivistas, e capit al se encont ram int er ligadas, pois geralm ent e quem à noção de racionalização, defendida por Weber, Norbert adv ém de um a fam ília abast ada ( capit al econôm ico) e Elias identifica que a vida civilizada não corresponde a uma influente (capital social / simbólico) tende a ter um acesso m aior racionalização da vida social porque não é efeit o de pr iv ilegiado à educação ( capit al cult ural) , fat o que r efor ça ações conscient es, deliberadas e racionais realizadas por seu poder, ao m esm o t em po, econôm ico e social e, por indivíduos isolados. O present e m odelo de civilização não out r o lado, r efor ça a posição de subalt er nidade daqueles deve ser j ulgado a part ir de j uízos de valor com o bom e gr upos cuj o o acesso a essas for m as de capit al é m enor. m au, posit ivo e negat ivo ou racional e irracional. A civilização O conj unt o desses capit ais ser ia com pr eendido a par t ir de não é planej ada, m as sim frut o de um processo que produz um sist em a de disposições de cult ura ( nas suas dim ensões m udanças, em longo prazo, na condut a e nos sent im ent os, m at er ial, sim bólica e cult ural, ent r e out ras) , denom inado a part ir de com plexas t eias de int erpendência que incluem por ele de h a bit u s, que configura o repertório social de forças polít icas, econôm icas, cult urais e t am bém o m onopólio valor es disponíveis para o indiv íduo. da violência física por part e das inst it uições de poder. O conceit o de habit us é um a t ent at iva de Bourdieu para Em out ras palav ras, a ideia de Elias, em O Processo fugir da dicot om ia clássica ent r e indiv íduo e sociedade. Civilizador, t ange à recuperação da percepção perdida do O h ab it u s ser ia, en t ão, u m sist em a ab er t o d e ações, processo civilizador, j unt am ent e com a t ransform ação do percepções e disposições adquiridos pelos indivíduos, com com port am ent o hum ano e o ent endim ent o de suas causas. o passar do t em po, em suas relações sociais. Ou ainda, o h ab it u s ser ia u m sist em a d e esq u em as in d iv id u ais, VIOLêNcIA sIMbóLIcA E cAPITAL cuLTuRAL sEGuNDO PIERRE bOuRDIEu O sociólogo f r an cês Pie r r e Bo u r d ie u ( 1 9 3 0 - 2 0 0 2 ) foi um dos m ais im port ant es pensadores do século XX e não rest ringiu sua at uação som ent e às Ciências Sociais, t ransit ando t am bém pelas front eiras das dem ais ciências hum anas. Dono de um pensam ent o que reúne m últ iplas det erm inado pela posição do indivíduo, que perm it e que os agent es pensem , sint am , vej am e aj am nas m ais variadas sit uações. Nas palavras de Bourdieu, o habit us funciona a cada m om ento com o um a m atriz de percepções, de apreciações e de ações – e t orna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquem as. BOURDI EU, P. Esboço de um a teoria da prática. I n: ORTI Z, Renato ( Org.) . Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p 65. [ Fragm ento] r ef er ên cias, esf or çou - se p ar a t en t ar com p r een d er as form as de reprodução das desigualdades sociais. Para ele, as relações de poder não são definidas somente pelo volume Port ant o, o indivíduo não pode ser int erpret ado de form a de dinheir o, m as t am bém pela ar t iculação com plex a de isolada e independent e dos grupos sociais a que pert ence. sent idos e elem ent os sim bólicos que t ransit am na ordem da A fam ília e a escola seriam duas inst it uições fundam ent ais cultura e definem o st at us, o prest ígio e o valor individual. para a aquisição desse habit us, fornecendo os parâm et ros A est rut ura social é vist a com o um sist em a hierarquizado básicos de saber es, gost os, valor es e possibilidades ao de poder e pr iv ilégio, det er m inado t ant o pelas r elações indivíduo. Bourdieu considera que o gost o e as prát icas de m at eriais e / ou econôm icas com o pelas relações sim bólicas cult ura de cada um de nós são result ados de um feixe de e / ou cult urais ent re os indivíduos. condições específicas de socialização. 40 Coleção Filosofia / Sociologia A construção da modernidade É na hist ória das experiências de vida dos grupos e dos indivíduos que podem os apreender a com posição de gost o Um a das faces da violência sim bólica é a violência de gênero, que e com preender as vant agens e desvant agens m at eriais e sim bólicas que assum em . Em um a sociedade de m assas, papel pr eponderant e na econom ia e no ent r et enim ent o, não se pode negar que os gost os individuais são fort em ent e pressionados por t endências de m ercado e pelos dit am es da m oda. Porém , nem sem pre o poder é visível. Há um a dim ensão sim bólica no poder ( pode r sim bólico) que se encont ra nas ent relinhas do discurso, das art es, da cult ura, de vários signos sociais que são aceit os socialm ent e e cum prem a função de m ant er as desigualdades sociais, disfarçando- as de const ruções nat urais e im ut áveis. Com isso, o poder sim bólico exer ce um a v iolê n cia sim bólica – for m a de violência que est á im plícit a no discurso e que perpet ua as relações de dom inação. Bourdieu invest igou em seu livro A dom inação m asculina (1992) vários m ecanism os discursivos que reforçam e nat uralizam as desigualdades de gênero nas sociedades ocident ais. As m ulheres são subm et idas a um a socialização paut ada, m aj orit ariam ent e, pelos valores do gr u po dom in an t e ( h om en s br an cos) e acabam por int ernalizar os valores que as subj ugam . A própria linguagem se incum be de reforçar as desigualdades. Com o a gram át ica é considerada o “ m odo único e cert o” de pronunciar a língua, ela norm at iza e prescreve as desigualdades com o se fossem nat urais e det erm inadas por algum a ordem ext erna. Com o afirma o sociólogo Roger Chartier: [ . . . ] a const r ução da ident idade fem inina se enraíza na in t er ior ização p elas m u lh er es, d e n or m as en u n ci ad as p elos d iscu r sos m ascu lin os. [ . . . ] Def in ir a su b m i ssão im post a às m ulher es com o um a v iolência sim bólica aj uda a com pr eender com o a r elação de dom inação, que é um a r elação hist ór ica, cult ural e linguist icam ent e const r uída, é sempre afirmada como uma diferença de natureza, radical, ir r edut ível, univer sal. CHARTI ER, Roger. Diferenças entre os sexos e dom inação sim bólica ( nota crítica) . Cadernos Pagu, Cam pinas, n. 4, p. 40- 42, 1995. I st o post o, est e conceit o de Bourdieu – violência sim bólica – t rat a- se da dom inação consent ida, ou sej a, a aceit ação de cr en ças e r egr as par t ilh adas com o se f ossem algo “ nat ural”. Paralelam ent e, t rat a, t am bém , da incapacidade de perceber o carát er arbit rário dessas regras, crenças e códigos de condut a, que são im post os pelos agent es dom inant es no cam po. [ ...] se ex pr essa com for ça nas nossas inst it uições sociais ( falam os en t ão de v iolên cia in st it u cion al de gên er o) e, de m aneira m ais sut il, em bora não m enos const rangedora, n a n ossa v id a cu lt u r al, n os at acan d o ( ou m esm o n os bom bar deando) por t odos os lados, sem que t enham os plena consciência disso. Diar iam ent e, ouv im os piadinhas, canções, poem as, ou vem o- nos diant e de cont os, novelas, com er ciais, an ú n cios, ou m esm o liv r os didát icos ( dit os científicos!), de toda uma produção cultural que dissemina im agens e r epr esent ações degradant es, ou que, de um a form a ou de out ra, nos dim inuem enquant o m ulheres. Essas im agens acabam sendo int er ior izadas por nós [ ...] , m uit as vezes sem que nos dem os cont a disso. Elas cont r ibuem so b r em an ei r a n a co n st r u ção d e n o ssas i d en t i d ad es / subj et ividades, dim inuindo, inclusive, nossa aut oest im a. I sso t udo se const it ui no que cham am os de v iolência sim bólica de gênero, um a form a de violência que é, indubit avelm ent e, um a das v iolências de gêner o m ais difíceis de det ect ar m os, analisar m os e, por isso m esm o, com bat er m os. sOcIOLOGIA n a q u al a m íd ia e a in d ú st r ia cu lt u r al d esem p en h am SARDENBERG. C. M. B. A violência sim bólica de gênero e a lei “antibaixaria” na Bahia. Disponível em : < http: / / www.observe. ufba.br/ noticias/ exibir/ 344> . Acesso em : 03 set. 2018. A MODERNIDADE LíQuIDA, sEGuNDO zyGMuNT bAuMAN A modernidade é um tema constante de reflexão das t eor ias sociológicas e obj et o de m uit os aut or es difer ent es. Um dos m aior es nom es nessa discussão é o do sociólogo polonês Zy gm u n t Ba u m a n ( 1925- 2017) , aut or de vast a obra sobr e a m oder nidade. Seu liv r o m ais fam oso ex plicit a sua t ese básica: a Modernidade Líquida ( 2000) . Na t ent at iva de int er pr et ar o desenr olar hist ór ico que ocor r e após as duas grandes guerras mundiais, Bauman identifica que m uit as cat egor ias sociais consideradas sólidas e est áveis ao lon g o d a h ist ór ia d a h u m an id ad e ( n ação, Est ad o, socialism o, m er cado, indiv íduo, consciência) r evelaram - se m ais f lu id as e v olát eis d o q u e se im ag in av a. Mu it os princípios, valores, regras, crenças e m ét odos que orient am as v isões de m undo dos indiv íduos se dissolveram e foram descon st r u ídos, sen do su bst it u ídos por u m sen t im en t o de incer t eza e inconst ância que t ende a caract er izar a cham ada pós- m ode r n ida de . Na frase do filósofo francês Je a n - Fr a n cois Ly ot a r d ( A condição pós- m oderna, 1979) , o século XX testemunhou o “fim das grandes metanarrativas”, i st o é , a s t e o r i a s e d o u t r i n a s ( r e l i g i o sa s, p o l ít i ca s, m ít icas) que ant es fundam ent avam a hist ór ia sofr eram f or t es ab alos em r azão d os p r óp r ios acon t ecim en t os t r ágicos pr esenciados ao longo do “ século da civ ilização”. Bernoulli Sistema de Ensino 41 Frente A Módulo 04 A m et áfora da liquidez é opor t una e se opõe à solidez e à que resulta em redução de direitos e garantias ao trabalhador) segurança das m et anar rat ivas ant er ior es. O que é líquido e at é m esm o do sexo ( o at o sexual sucum be à lógica do é fluido, não possui forma definida, é moldável conforme consum o, perdendo seu valor agregador e de relação ínt im a diferentes pressões externas e pode se dissolver ou evaporar. para se t ornar um m ecanism o de sat isfação individualist a e O im ediat ism o subst it ui o planej am ent o de longo prazo; egoíst a, em que o out ro é reduzido a m ero obj et o sexual) . a sobrevivência em um a sociedade com pet it iva e predat ória faz os valor es indiv iduais ser em m oldados às necessidades da conv eniência e aos desej os indiv iduais dit ados pelo inst ant e da m oda e da m ídia de m assa. Adem ais, o m edo é frut o de um a incorporação social. Em sua obra Medo Líquido, Baum an apresenta três categorias de m edo, derivadas da lógica predom inante na m odernidade líquida: pr im eir o, m edo de não garant ir t rabalho ou se Em um a sociedade cada vez m ais com plexa e com m enos sust ent ar no fut uro; segundo, m edo de não conseguir “ ser referenciais com uns, há um a supervalorização do indivíduo alguém ” na est rut ura social, sendo relegado a posições de ( individualização) , cont udo isso não se t raduz em m aior m enor prest ígio ou subalt ernas; e, t erceiro, m edo quant o à liberdade ao indivíduo. Ao cont rário, o indivíduo se encont ra, int egridade física. Todas essas t rês form as fazem com que a cada vez m ais, subm et ido a forças ext ernas ( m ídia, m ercado, segurança seja substituída pela proteção. Enquanto segurança consum o) que não fornecem a ele parâm et ros sólidos de e insegurança são disposições psíquicas, int eriores, prot eção, condut a e ação. O result ado é a criação de um su j e it o que diz respeit o a um conj unt o de inst rum ent os para t ent ar líqu ido, cuj a ident idade é frequent em ent e cont radit ória e garant ir a segurança, é ext erna. A prot eção envolve agent es com post a de fragm ent os de discursos variados, sem que e inst it uições a quem se at ribui a responsabilidade de garantir haj a necessariam ent e um a coesão int erna. Da m esm a form a, a int egridade física e, principalm ent e, a propriedade privada. as relações sociais t endem t am bém a se liquefazer, sendo Na lógica da prot eção, t udo o que é diferent e e est ranho é marcadas pela superficialidade, pela instantaneidade e pela visto como uma possível ameaça, o que justificaria a tomada falt a de laços sólidos. As redes sociais cont em porâneas são de m edidas m ais radicais para garant ir o que se desej a t est em unhas dessa liquidez. prot eger: aum ent ar os m uros das casas, colocar grades E por isso Baum an falará de a m or líqu ido para t em at izar as m u dan ças n as r elações af et iv as qu e decor r em das t ransform ações experim ent adas na hist ória. Nas relações sociais pr edom in a a lógica da con ex ão. Esse t er m o é relevant e porque descreve relações frágeis e volát eis, nas quais o que cont a é o núm ero de conexões e não o seu grau de profundidade. Ao m esm o t em po, o t erm o “ conexão” m ost ra a presença da “ vant agem ” de se poder desconect ar sem que haj a prej uízo ou cust o. privados, aumentar o policiamento, enfim, instituir uma sit uação de vigilância perm anent e que t em a pret ensão de se prot eger do out ro, do est ranho, do diferent e. Obviam ent e, o próprio m edo passa a const it uir um im port ant e elem ent o para subsidiar um t ipo específico de consum o ligado à “ indúst ria da segurança”. De acordo com dados da Associação das I n dú st r ias de Segu r an ça do Br asil, t al m er cado é responsável por m ovim ent ar cerca de 1,8 bilhões de reais e cresce aproxim adam ent e 20% ao ano, som ent e no Brasil. O pressuposto desse form ato de relações é a transform ação É int eressant e observar que t al m ercado é, de cert a m aneira, de suj eit os em m ercadorias. Met aforicam ent e, as pessoas alim ent ado pelos j ornais sensacionalist as e pelo reforço da ficam à disposição em “prateleiras” para serem escolhidas insegurança pat rim onial e física. p or su a ap ar ên cia, p ar a d ep ois ser em con su m id as e dispensadas a qualquer m om ent o. Mas, o vazio dessas relações ent ra em choque com as expect at ivas pessoais de afet o, at enção e est abilidade, fazendo os sent im ent os de frust ração, insegurança e angúst ia cada vez m ais com uns, especialm ent e em grandes cent ros urbanos, onde esses t ipos de liquidez se m anifest am de form a m ais int ensa. 42 nas j anelas, espalhar câm eras nos am bient es públicos e Por isso, um a das consequências da m odernidade líquida é o crescim ento de discursos fundam entalistas e reacionários. Tais discursos reagem à liquidez e buscam alguma fixidez na obediência à t radição ou a t ext os sagrados, na força física, no nacionalism o exacerbado, na rejeição aos “de fora”. A sust ent ação sim bólica que era garant ida pelas “ sólidas” instituições sociais cede espaço para um a grande insegurança As reflexões de Bauman se estendem por vários domínios psíquica e social, cont ra o que reagem algum as posições da v ida social, dem onst rando com o a lógica da liquidez conservadoras. Os discursos xenofóbicos e discrim inatórios que “ con t am in ou ” os m odos de fu n cion am en t o da v iv ên cia têm se intensificado no mundo e no Brasil, em particular, tendem em co m u n i d ad e ( o i n d i v i d u al i sm o t en d e a su p l an t ar a m anifestar a sensação de insegurança social e econôm ica, que a com u n idade e desagr egar a cu lt u r a t r adicion al) , do é característica dessa fase da m odernidade, e canalizá-la para trabalho (o mercado competitivo “exige” maior flexibilidade, um alvo socialm ente m ais frágil e historicam ente discrim inado. Coleção Filosofia / Sociologia A construção da modernidade Por exem plo, m ovim entos de cunho neonazista e neofascista na Europa culpam os im igrant es africanos / asiát icos pela crise econôm ica, apesar de a Europa depender da im igração para a m anutenção da sua econom ia. Além disso, a população daquele continente se “ esquece” de que o fenôm eno atual da im igração é um a herança advinda, em cert a m edida, das atividades im perialistas predatórias realizadas há séculos pelos próprios europeus na África e na Ásia. Esses esqu em as de pen sam en t o, de aplicação u n iv er sal, r eg i st r am com o q u e d if er en ças d e n at u r eza, i n scr i t as n a o b j et i v i d ad e, d as v ar i açõ es e d o s t r aço s d i st i n t i v o s ( p o r exem plo, em m at éria corporal) que eles cont ribuem para fazer exist ir, ao m esm o t em po que as “ nat uralizam ”, inscrevendo- as em um sist em a de diferenças, t odas igualm ent e nat urais em aparência; de m odo que as previsões que elas engendram são incessantemente confirmadas pelo curso do mundo, sobretudo por t odos os ciclos biológicos e cósm icos. Assim , não vem os com o Um a das razões pelas quais passei a falar em “ m odernidade líquida” em vez de “ pós- m odernidade” ( m eus trabalhos m ais poderia em ergir na consciência a relação social de dom inação que est á em sua base e que, por um a inversão com plet a de causas e efeit os, surge com o um a aplicação ent re out ras, de um sist em a recentes evitam esse termo) é que fiquei cansado de tentar de relações de sent ido t ot alm ent e independent e das relações esclarecer um a confusão sem ântica que não distingue sociologia de força. O sist em a m ít ico- rit ual desem penha aqui um papel pós- m oderna de sociologia da pós- m odernidade, entre “ pós- equivalent e ao que incum be ao cam po j urídico nas sociedades - m odernism o” e “ pós- m odernidade”. No m eu vocabulário, diferenciadas: na m edida em que os princípios de visão e divisão “pós-modernidade” significa uma sociedade (ou, se se prefere, qu e ele pr op õe est ão ob j et iv am en t e aj u st ad os às d iv isões um tipo de condição hum ana), enquanto que “pós-m odernism o” preexist ent es, ele consagra a ordem est abelecida, t razendo- a à se refere a um a visão de m undo que pode surgir, m as não existência conhecida e reconhecida, oficial. necessariam ente da condição pós- m oderna. Procurei sem pre enfatizar que, do m esm o m odo que ser um ornitólogo não significa ser um pássaro, ser um sociólogo da pós-modernidade não significa ser um pós-modernista, o que definitivamente não sou. Ser um pós-modernista significa ter um a ideologia, um a percepção do m undo, um a determ inada hierarquia de valores que, entre outras coisas, descarta a ideia de um t ipo de regulam ent ação norm at iva da com unidade A divisão ent re os sexos parece est ar “ na ordem das coisas”, com o se diz por vezes para falar do que é nor m al, nat ural, a pont o de ser inevit ável: ela est á present e, ao m esm o t em po, em est ado obj et ivado nas coisas ( na casa, por exem plo, cuj as part es são t odas “ sexuadas” ) , em t odo o m undo social e, em est ado incor porado, nos cor pos e nos habit us dos agent es, f u n ci o n a n d o co m o si st em a s d e esq u em a s d e p er cep çã o, hum ana e assum e que t odos os t ipos de vida hum ana se de pensam ento e de ação. [ ...] É a concordância entre as estruturas equivalem , que todas as sociedades são igualm ente boas ou obj et ivas e as est rut uras cognit ivas, ent re a conform ação do ser e más; enfim, uma ideologia que se recusa a fazer julgamentos as form as do conhecer, ent re o curso do m undo e as expect at ivas e a debater seriam ente questões relativas a m odos de vida a esse respeit o, que t ornam possível est a referência ao m undo viciosos e virtuosos, pois, no lim ite, acredita que não há nada que Husserl descrevia com o nom e de “ at it ude nat ural” ou de a ser debatido. I sso é pós- m odernism o. “ experiência dóxica” – deixando, porém , de lem brar as condições PALLARES- BURKE, M. L. Ent revist a com Zygm unt Baum an. Revist a Tem po Social. São Paulo, v. 16, n. 1, p. 21, j un. 2004. [ Fragm ento] sOcIOLOGIA Baum an evit a usar o t erm o pós- m odernidade: sociais de sua possibilidade. [ ...] A for ça da or dem m asculina se ev idencia no fat o de que ela d isp en sa j u st if icação: a v isão an d r ocên t r ica im p õe- se com o neut ra e não t em necessidade de se enunciar em discursos Arbitrária em estado isolado, a divisão das coisas e das atividades ( sexuais e out ras) segundo a oposição ent re o m asculino e o fem inino recebe sua necessidade obj et iva e subj et iva de sua que visem a legit im á- la. A or dem social funciona com o um a imensa máquina simbólica que tende a ratificar a dominação m asculina sobre a qual se alicerça: é a divisão social do t rabalho, inserção em um sistem a de oposições hom ólogas, alto / baixo, em dist ribuição bast ant e est rit a das at ividades at ribuídas a cada um cim a / em baixo, na frente / atrás, direita / esquerda, reto / curvo dos dois sexos, de seu local, seu m om ent o, seus inst rum ent os; é a ( e falso) , seco / úm ido, duro / m ole, tem perado / insosso, claro / est rut ura do espaço, opondo o lugar de assem bleia ou de m ercado, escuro, fora ( público) / dentro ( privado) , etc., que, para alguns, reservados aos hom ens, e a casa, reservada às m ulheres; ou, correspondem a m ovim entos do corpo (alto / baixo / subir / descer / no int erior dest a, ent re a part e m asculina, com o salão, e a part e fora / dentro / sair / entrar). Sem elhantes na diferença, tais oposições fem inina, com o est ábulo, a água e os veget ais; é a est rut ura do são suficientemente concordes para se sustentarem mutuamente, t em po, a j ornada, o ano agrário ou o ciclo de vida, com m om ent os no j ogo e pelo j ogo inesgot ável de t ransfer ências pr át icas e de rupt ura, m asculinos e longos períodos de gest ação, fem ininos. metáforas; e também suficientemente divergentes para conferir, a cada um a, um a espécie de espessura sem ântica, nascida da sobre determ inação pelas harm onias, conotações e correspondências. BOURDI EU, P. A dom inação m asculina. São Paulo: Bertand Brasil, 2012. p. 16- 18. Bernoulli Sistema de Ensino 43 Frente A Módulo 04 PEsQuIsA MOsTRA QuE DIscRIMINAçãO cONTRA hOMOssEXuAIs EsTá PREsENTE EM EscOLAs Na época, o vereador Ricardo Nunes se referiu ao assunt o com o “ideologia de gênero” e justificou a retirada do tema do PME com referências a Deus e à religiosidade. Ele acredit a que a educação relacionada à sexualidade cabe à fam ília. Já a vereadora Juliana Cardoso ressalt ou os diferent es m odelos de fam ília que exist em hoj e. Algum as t êm m ulheres com o chefes de fam ília, pais hom ossexuais ou het erossexuais, som ent e pai ou Pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Carlos som ent e a m ãe, avós com o referência m at erna e pat erna, ent re ( UFSCar ) , n o in t er ior de São Pau lo, m ost r ou qu e 3 2 % dos out ros casos. “ Essas fam ílias precisam ser visibilizadas na escola, homossexuais entrevistados afirmaram sofrer preconceito dentro porque refletem a realidade brasileira”, disse na ocasião. das salas de aula e t am bém que os educadores ainda não sabem Ela elencou ainda algum as m ent iras, que est ar iam sendo reagir apropriadam ent e diant e das agressões, que podem ser dissem inadas sobre a inclusão de gênero no PME, e disse que físicas ou verbais, no am bient e escolar. a exclusão de banheiros separados, os professores ensinando Os dados, segundo os pesquisadores, convergem com aqueles os alunos a serem t ransexuais e a dest ruição da fam ília não apresent ados em pesquisa do Minist ério da Educação que ouviu correspondem à realidade: “ querem os discut ir gênero nas escolas 8.283 est udant es na faixa et ária de 15 a 29 anos, no ano let ivo para garant ir respeit o à diversidade.” [ ...] de 2013, em t odo o país, e const at ou que 20% dos alunos não quer colega de classe hom ossexual ou t ransexual. A professora do Depart am ent o de Ciências Hum anas e Educação ( DCHE) da UFSCar, que é um a das aut oras do est udo, Viviane BOEHM, Cam ila. EBC – Agência Brasil. Disponível em : < http: / / agenciabrasil.ebc.com .br/ educacao/ noticia/ 2016- 03/ pesquisa- m ostra- que- discrim inacao- contra- hom ossexuaisesta- presente- em > . Acesso em : 03 set. 2018. Melo de Mendonça, afirma que o entendimento desse cenário e a busca por est rat égias capazes de revert ê- lo não são quest ões do m ovim ent o LGBT, m as sim um a quest ão da educação que deve ser defendida e com preendida por t odos os educadores. [ ...] Segundo ela, est e e out ros est udos de gênero e sexualidade “ cont ribuem para levant ar quest ões e pensar em ações na escola em um a perspect iva da educação para diversidade e, desse m odo, para um a educação que com bat a a discrim inação e preconceit os, as violências de gênero, violência cont ra m ulher e a violência hom o, lesbo e t ransfóbica”. Para a pesquisadora, a escola t em que ser um espaço aberto à reflexão e de acolhimento aos alunos em sua individualidade e liberdade de expressão. cOTAs: 10 ANOs DE INcLusãO NAs uNIVERsIDADEs PúbLIcAs bRAsILEIRAs Em audiência pública com m ais de t r ês horas de duração, nest a segunda- feira ( 19) , senadores, m ilit ant es e especialist as debat eram os dez anos de exist ência do sist em a de cot as raciais para ingresso em universidades públicas brasileiras. A conclusão dos part icipant es dessa reunião da Com issão de Direit os Hum anos e Legislação Part icipat iva ( CDH) foi unânim e: depois de um a Para a prom oção da diversidade e dos direit os hum anos nas década, a ação afirmativa mostrou ser bem-sucedida ao promover escolas, de acordo com a pesquisadora, é necessária a form ação significativa e relevante inclusão da população negra brasileira de educadores para a quest ão. “ É necessário que a form ação de no ensino superior público. professoras e professores t enham um debat e m ais aprofundado sobr e as quest ões de gêner o e sex ualidade, com disciplinas obrigat órias que t rat em do t em a. É fundam ent al t am bém que se desconst ruam as resist ências para se falar da diversidade sexual e das diferenças, bem com o das desigualdades persist ent es e est rut urais em nossa sociedade que são, sim , produt oras das violências”, disse. Para os participantes, as ações afirmativas são um instrumento legít im o para a busca da “ igualdade m at erial” preconizada pela Con st it u ição de 1 9 8 8 . Eles t am bém ar gu m en t ar am a f av or de program as com o o Prouni e o Fies, que, na opinião deles, proporcionam o acesso ao ensino superior a parcelas populacionais que historicamente ficaram de fora das universidades. [...] Pr im eir o a f alar, o dir et or - ex ecu t iv o da or gan ização n ão Pla n o M u n icipa l de Edu ca çã o governam ent al Educafro, frei David Sant os, explicou que o sist em a O t em a da educação para a diversidade foi bast ant e debat ido de cotas raciais é apenas um dos tipos de ações afirmativas no ano passado durant e a for m ulação dos Planos Municipais 44 at ualm ent e em uso no Brasil. de Educação ( PME) , proj et o que t em o obj et ivo de nort ear o Salientou que existem no país sistemas específicos para ingresso planej am ent o da educação para a cidade nos próxim os 10 anos. no ensino superior para est udant es de escolas públicas, negros, Na capit al paulist a, após m uit as discussões e prot est os favoráveis indígenas, pessoas com deficiência, quilombolas, nativos do estado e cont rários, o proj et o de lei que t rat a do PME foi aprovado pela em que se localiza a inst it uição de ensino, cidadãos de baixa renda, Câm ara Municipal de São Paulo, em agost o de 2015, m as o t ext o professores da rede pública, população de cidades do int erior e at é não incluiu quest ões de gênero e sexualidade. para filhos de policiais e bombeiros mortos em serviço. Coleção Filosofia / Sociologia A construção da modernidade “Por qu e a s cot a s in com oda m ?” “Com a m a r ca da in clu sã o” D a v i d Sa n t o s i n f o r m o u q u e 1 6 0 i n st i t u i çõ e s p ú b l i ca s A d i r e t o r a d e Ge st ã o Aca d ê m i ca d a Un i v e r si d a d e d o brasileiras de ensino super ior j á adot am algum t ipo de ação Est ado de Mat o Grosso ( Unem at ) , Elisângela Pat rícia Moreira afirmativa, totalizando cerca de 330 mil cotistas, 110 mil deles da Costa, afirmou que essa instituição já nasceu “com a marca afrodescendent es. [ ...] da inclusão”, pois surgiu em 1978 no int erior do est ado com o Sant os, ao lem brar que o proj et o de lei que inst it ui sist em a de cot as em t odas as universidades públicas brasileiras j á t ram it a no Congresso há longos 13 anos. David Santos afirmou ainda que pesquisas já mostraram que o sist em a de cot as não aum ent ou o racism o nas universidades, que a qualidade acadêm ica não foi prej udicada e que o desem penho acadêm ico dos cot ist as n ão é in f er ior ao dos n ão cot ist as. Ele acrescent ou que est udo do Dat afolha m ost rou que 87% dos brasileiros concordam com as ações afirmativas. A secretária de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de I nst it ut o de Ensino Superior de Cáceres, virando universidade em 1993 e adotando o sistem a de cotas a partir de 2004. [ ...] Elisângela da Cost a inform ou que a Unem at j á percebeu grande núm ero de t rancam ent o de m at rícula e evasão ent re os cot ist as, o que fez a universidade at ent ar para a necessidade de criação de processo de acompanhamento mais específico do desempenho acadêm ico e das condições econôm icas dos graduandos cot ist as. Depois de os palest rant es ex por em suas ideias, cidadãos sOcIOLOGIA – Por que as cot as incom odam t ant o? - quest ionou Dav id presentes na audiência pública puderam falar de suas experiências. Dent r e eles, Solange Apar ecida Fer r eira de Cam pos falou de m aneira em ocionada e contundente. Militante do m ovim ento negro, Solange foi a primeira brasileira beneficiada com bolsa do Prouni, Políticas de Prom oção da I gualdade Racial, Anham ona Silva de Brito, o que a aj udou a se form ar em Gast ronom ia na Universidade disse que o sistem a de cotas vem ajudando na dim inuição do racism o Anhem bi Morum bi, um a inst it uição privada. Ela ingressou nessa no país e tam bém dos prejuízos que o racism o traz para a população. universidade quando j á t inha 45 anos e form ou- se em 2008. Ela inform ou que a secret aria e o I nst it ut o Nacional de Ciência Na opinião dela, não é favor, m as sim obrigação dos governant es e Tecnologia de I nclusão no Ensino Superior e na Pesquisa vêm brasileiros apoiarem o acesso à educação da população negra, pois trabalhando em um “mapa da inclusão” sobre ações afirmativas. “ nossos ancest rais negros deram o sangue por esse país”. An h am on a Silv a d e Br it o ad ian t ou q u e a p esq u isa v em – Se t ivem os força para levar chibat adas nas cost as, t am bém est udando 114 inst it uições de ensino superior que possuem algum tem os força, com petência e capacidade para ocupar qualquer cargo tipo de ação afirmativa. De acordo com ela, os resultados mostram e exercer qualquer atividade e trabalho – afirmou. que as cot as raciais correspondem a um percent ual relat ivam ent e AGÊNCI A SENADO. Disponível em : < http: / / www12.senado. leg.br/ noticias/ m aterias/ 2011/ 09/ 19/ cotas-10-anos-deinclusao-nas-universidades-publicas-brasileiras> . Acesso em : 03 set. 2018. baixo se comparadas às ações afirmativas destinadas a estudantes oriundos de escolas públicas. “Un ive r sida de m a is color ida ” O reit or da Universidade de Brasília ( UnB) , José Geraldo de Sousa Júnior, classificou como vitoriosa a trajetória de dez anos das cot as raciais no Brasil. Ele lem brou que a UnB foi um a das prim eiras a adot ar o sist em a por decisão própria e que at ualm ent e EXERcícIOs PROPOsTOs 01. UnB. José Geraldo afirmou que as cotas ajudaram a aumentar a ( UERJ– 2 0 1 6 ) As com u n idades qu ilom bolas, qu e são predom inant em ent e const it uídas por população negra, se autodefinem a partir das relações com a terra, do parent esco, do t errit ório, da ancest ralidade, das t radições e das prát icas cult urais próprias. Est im a- se que em t odo o país exist am m ais de t rês m il com unidades quilom bolas. O Decr et o Federal nº 4.887, de 20 de novem br o de 2003, regulamenta o procedimento para identificação, reconhecim ent o, delim it ação, dem arcação e t it ulação das t erras ocupadas por rem anescent es das com unidades dos quilom bos. proporção de negros na universidade, fazendo da ent idade “ um a Disponível em : < http: / / incra.gov.br> ( Adaptação) . a inst it uição t em cot as para afrodescendent es ( 20% das vagas vest ibulares) e indígenas, além de unidades criadas em cidades do Dist rit o Federal com baixo Í ndice de Desenvolvim ent o Hum ano ( I DH) , que pr ior izam as populações locais, e t am bém vagas específicas para educadores que atuam em assentamentos da reform a agrária. Nos ú lt im os d ez an os, in f or m ou o r eit or, 5 . 3 9 6 n eg r os ingressaram na UnB por m eio do sist em a de cot as. Pelo sist em a vest ibular t radicional, out r os 21.887 est udant es ent raram na universidade m ais colorida”. Ele t am bém disse que a diferença ent re o desem penho acadêm ico dos cot ist as e dos não cot ist as é irrelevant e e que a evasão ent re os cot ist as é m enor. O secret ário de Educação Superior do Minist ério da Educação, Luiz Cláudio Cost a, t am bém disse apoiar os sist em as de ação A dem arcação de t erras de com unidades quilom bolas é fat o recent e nas prát icas governam ent ais brasileiras. Um dos pr incipais obj et iv os dessa polít ica pública é viabilizar a prom oção de afirmativa atualmente em voga no país e afirmou que a educação A) aceleração da reform a agrária. super ior brasileira avançou nos últ im os anos. Segundo ele, B) reparação de grupos excluídos. o ensino super ior do Brasil for m a at ualm ent e um m ilhão de C) absorção de t rabalhadores urbanos. pessoas por ano, cont ra os 300 m il form ados em 2002. [ ...] D) reconhecim ent o da diversidade ét nica. Bernoulli Sistema de Ensino 45 Frente A 02. Módulo 04 ( Unioeste- PR–2016) No dia 22 de j unho de 2015, a Assem bleia Legislativa do Paraná colocou com o pauta de discussão o debat e sobre a “ ideologia de gênero” nas escolas do Paraná. Sabe- se que o conceito de gênero é fundam ental para a com preensão das desigualdades entre hom ens e m ulheres e coloca em xeque as atribuições relacionais que a sociedade constrói para hom ens e m ulheres. Dada a repercussão do t em a e a relevância da t em át ica, é correto afirmar sobre questões de gênero: A) O debat e sobre gênero na educação int eressa apenas aos hom ens e às pessoas que só t êm at ração sexual por pessoas do sexo opost o. B) Nas con cep ções sob r e g ên er o, o sex o b iológ ico corresponde a um a ident idade cult ural que se m ant ém inalterada até o final da vida. C) A ident idade de gênero é det erm inada biologicam ent e e não pode ser modificada pela cultura, pelo meio social, pela educação nem por t odas as r elações sociais que fazem part e da vida dos indivíduos. D) A com pr eensão da t em át ica de gêner o per passa um sist em a de relações de poder, baseadas em um conj unt o de papéis, ident idade, com por t am ent os e est ereót ipos at ribuídos a m ulheres e hom ens. E) As r elações de gêner o não est ão ligadas a cont ex t os de r elações de poder e desigualdade, ao cont r ár io das r elações t ravadas ent r e as classes sociais e os gr upos ét nicos. 03. 2000 2003 2005 2006 2009 2010 2012 2013 2014 2015 Bélgica Canadá Espanha África do Sul Noruega Suécia Argent ina Port ugal I slândia Dinam arca Brasil França I nglat erra Nova Zelândia País de Gales Uruguai Escócia Luxem burgo Est ados Unidos Finlândia I rlanda México País Disponível em : < https: / / hypescience.com > ( Adaptação) . 46 C) uniform idade jurídica B) diversidade cultural D) igualdade econôm ica ( UERJ–2019) 7QGG O pe r son a ge m “pa n t e r a n e gr a ” Em 196 6, sur ge nos quadr inhos, j unt o ao “ Quar t et o Fant ást ico” . (UERJ–2017) O século XXI tem assistido à am pliação do debate acerca das uniões hom oafetivas, o que possibilitou algum as m udanças, com o a observada no quadro. Países Baixos Ano 05. A) inclusão política (Unimontes-MG–2016) Norbert Elias (1897-1990), alemão de origem judaica, é considerado, na atualidade, um dos mais importantes representantes da Sociologia. Elias ganhou notoriedade, entre outros motivos, por fazer análises dos hábitos e costumes sobre o desenrolar do “processo civilizatório”. No que se refere a esse assunto, é incorreto afirmar: A) Segundo Elias, o termo “civilização” configura-se com o um conj unt o de hábit os, valores e cost um es in t er n alizad os p elos in d iv íd u os q u e lh es d ão o carát er “ social” ou “ hum ano”. Os seres hum anos, por nat ureza, não possuem aspect os civilizados, porém possuem um pot encial que lhes per m it e adquir ir e aprender os m odos civilizados de exist ência. B) Um asp ect o v it al d a civ ilização, p ar a Elias, é a aut orregulação dos im pulsos e pulsões, o aut ocont role das energias instintivas que brotam dos seres hum anos. I m portante frisar que se trata de um “ autocontrole”, ou sej a, diferent em ent e de coações ext ernas que eram ant es necessárias para a convivência hum ana. C) Os m odos civ ilizados de ser t êm r elação est r eit a com o refinamento dos costumes, que passam a car act er izar os in d iv íd u os ocid en t ais m od er n os. A lim peza e a higiene pessoal são exem plos básicos desse refinamento dos costumes. D) Est udos sobre civilização e cult ura não int eressam à Sociologia, por ser um a disciplina acadêm ica vinculada apenas aos problem as de gest ão do aparat o est at al. 04. Essa m udança de cost um es expressa principalm ent e o reconhecim ent o do seguint e princípio ent re os direit os hum anos: Coleção Filosofia / Sociologia Em 2018, é o herói em filme de ficção científica. Disponível em : < huffpostbrasil.com / pt.wikipedia.org> . A construção da modernidade 06. 08. OPAF A) o desenvolvim ent o da indúst ria e a expansão dos padr ões de v ida e de acu m u lação ex ist en t es n o m odo de produção capit alist a não possuem nenhum a r elação com a am pliação dos nív eis de v iolência visualizados no m undo cont em porâneo. B) a ú n i c a m a n e i r a d e c o n t r o l a r a e x p l o s ã o d e v iolên cia v iv en ciad a n a con t em p or an eid ad e é a am pliação dos m ecanism os de defesa exist ent es na sociedade. Assim , o aum ent o do policiam ent o e dos est abelecim ent os penais represent a o único cam inho de superação das dificuldades encontradas. (Unioeste-PR) Segundo Zygm unt Baum an, a Sociologia é constituída por um conjunto considerável de conhecim entos acum ulados ao longo da história. Pode-se dizer que a sua identidade form a-se na distinção com o cham ado senso comum. Considerando que a Sociologia estabelece diferenças com o senso com um e estabelece um a fronteira entre o pensamento formal e o senso comum, é correto afirmar que C) o bullying é um fenôm eno rest rit o ao universo escolar e possui pouca relação com a banalização da violência exist ent e nos dias at uais. A) a Sociologia se distingue do senso com um por fazer afirmações corroboradas por evidências não verificáveis, baseadas em ideias não previstas e não testadas. D) a violência é inst int iva, podendo ser considerada com o um m ecanism o de aut odefesa do indivíduo ut ilizado nos m om ent os em que est e se encont ra inseguro ou coagido. B) o pensar sociologicam ente caracteriza-se pela descrença na ciência e pouca fidedignidade de seus argumentos. O senso comum, ao contrário, evita explicações imediatas ao conservar o rigor científico dos fenômenos sociais. E) a v iolên cia n ão se r est r in g e à ag r essão f ísica. Com o observa Pierre Bourdieu, exist em prát icas de violência sim bólica present es no cot idiano e que são caract erizadas pela t ent at iva de im posição de valores, cost um es e padrões de com port am ent o de um grupo a out ro. C) pensar sociologicam ent e é não ult rapassar o nível de nossas preocupações diárias e expressões cot idianas, en q u a n t o o sen so co m u m p r eo cu p a - se co m a hist oricidade dos fenôm enos sociais. D) o pensam ento sociológico se distingue do senso com um na explicação de alguns eventos e circunstâncias, ou seja, enquanto o senso com um se preocupa em analisar e cr uzar diver sos conhecim ent os, a Sociologia se preocupa apenas com as visões particulares do m undo. E) um dos papéis centrais desem penhados pela Sociologia é a desnaturalização das concepções ou explicações dos fenôm enos sociais, conservando o rigor original exigido no campo científico. 07. ( UERJ–2019) A or ige m ope r á r ia do 8 de m a r ço Para m uitos, o 8 de m arço é apenas um dia para dar flores e fazer homenagens às mulheres. Mas, diferentemente de outras datas com em orativas, esta não foi criada pelo comércio. Oficializado pela Organização das Nações Unidas em 1975, o cham ado Dia I nternacional da Mulher era celebrado muito tempo antes, desde o início do século XX. E se hoje a data é lembrada com o um pedido de igualdade de gênero e com protestos ao redor do m undo, no passado nasceu principalmente de uma raiz trabalhista. Foram as mulheres das fábricas nos Estados Unidos e em alguns países da Europa que começaram uma campanha dentro do movimento socialista para reivindicar seus direitos – as condições de trabalho delas eram ainda piores do que as dos homens à época. Disponível em : < bbc.com > ( Adaptação) . Com base na report agem , a criação do Dia I nt ernacional da Mulher t em or igem nas m anifest ações sociais em defesa de: A) am pliação da cidadania B) expansão da liberdade C) prom oção da diversidade D) valorização da pluralidade ( Unioest e- PR) Segundo Crist ina Cost a, “ cham am os de v iolên cia à agr essão pr em edit ada sist em át ica e por vezes m ort al de um indivíduo ou um grupo sobre out ro”. Sobre o fenômeno da violência, é correto afirmar que 09. ( UEL- PR–2017) No pensam ent o sociológico clássico e con t em p or ân eo, as d im en sões ig u ald ad e, d if er en ça e d i v er si d ad e assu m em i m p o r t ân ci a p ar a est u d o s relacionados à quest ão das desigualdades sociais. Com base nos conhecim ent os sobr e as per spect ivas so ci o l ó g i ca s q u e e x p l i ca m a d e si g u a l d a d e so ci a l , n o cot idian o das sociedades capit alist as, assin ale a alt ernat iva corret a. A) A sociologia weberiana, quando analisa as m odernas sociedades ocident ais, dem onst ra que os fat or es econ ôm icos e os an t agon ism os en t r e as classes det erm inam as hierarquias de poder e os t ipos de dom inação. B) As análises de Mar x defendem a ideia de que as m udanças m ais recent es na ordem m undial capit alist a alt eraram a preem inência das classes na explicação das assim et rias sociais e diversidades cult urais. C) Na sociologia de Bourdieu, os fat ores econôm icos, sim b ólicos e cu lt u r ais, a ex em p lo d a r en d a, d o prest ígio e dos saberes, incorporados pelos agent es em seu cot idiano e em sua t raj et ória de vida, são r espon sáv eis pela difer en ciação de posições n os cam pos sociais. D) No pensam ent o funcionalist a, a origem da desigualdade social encont ra- se nas cont radições econôm icas e polít icas ent re os agrupam ent os, que m ant êm relações uns com os out ros para produzir e reproduzir a est rut ura social. E) Para os pensador es cr ít icos do neoliberalism o, a m obilidade dos indivíduos de um est rat o social para out r o, no Brasil, é acom panhada igualm ent e por m udanças na est rut ura de classes sociais, na m edida em que pobres e ricos se aproxim am . Bernoulli Sistema de Ensino 47 sOcIOLOGIA Com m ais de cinquenta anos de existência, o personagem “Pantera Negra” esteve associado a debates sobre as condições de vida de populações afrodescendentes na sociedade norte-am ericana. Tendo em vista as transform ações ocorridas entre a década de 1960 e o m om ento atual, a com paração entre as im agens aponta para a seguinte m udança acerca do protagonism o afrodescendente: A) equiparação do poder aquisit ivo B) fort alecim ent o da inclusão social C) reconhecim ent o dos direit os civis D) hom ogeneização das difer enças raciais Frente A 10. 349V Módulo 04 ( Unesp–2015) 02. Te x t o 1 TØK1 ( Enem –2016) Te x t o I O livro Cult ura do narcisism o, escrit o por Christ opher Lasch em 1979, é um clássico. O t ext o de Lasch m ost ra com o o que era diagnost icado com o pat ologia narcísica ou lim ít r of e n os an os 5 0 t or n a- se u m a esp écie d e “ nor m alidade com pulsór ia” depois de duas décadas. Par a qu e algu ém sej a con sider ado “ bem - su cedido”, é t rivialm ent e esperado que m anipule sua própria im agem com o se fosse um personagem , com a consequent e perda do sent im ent o de aut ent icidade. DUNKER, Christian. A cultura da indiferença. Disponível em : < www.m entecerebro.com .br> ( Adaptação) . Te x t o 2 Zygm unt Baum an: Afast ar- se da percepção de m undo consum ist a e do t ipo de at it ude individualist a cont ra o m undo e as pessoas não é um a quest ão a ponderar, m as u m a o b r i g ação d et er m i n ad a p el o s l i m i t es d e sust ent abilidade desse m odelo da vida que pressupõe a infinidade de crescimento econômico. Segundo esse m odelo, a felicidade est á obr igat or iam ent e v inculada ao acesso a loj as e ao consum o exacerbado. Lojas são alívio a curto prazo, diz o sociólogo Zygmunt Bauman. Tradução: “ As m ulheres do fut uro farão da lua um lugar m ais lim po para se viver” Disponível em : < https: / / www.propagadashistoricas.com .br> . Acesso em : 16 out. 2015. Disponível em : < www.m entecerebro.com .br> ( Adaptação) . Considerando os textos, é correto afirmar que A) para Baum an, as diret rizes liberais de crescim ent o econômico ilimitado prescindem de reflexão ética. B) am b os t r at am d o ir r acion alism o su b j acen t e aos crit érios de norm alidade e de felicidade. C) a “ cult ura do narcisism o” apresent a um est ilo de vida incom pat ível com a m ent alidade consum ist a. Te x t o I I M e t a de da n ova e qu ipe da N ASA é com post a por m u lh e r e s Até hoje, cerca de 350 astronautas am ericanos já estiveram no espaço, enquanto as m ulheres não chegam a ser um terço desse núm ero. Após o anúncio da turm a com posta por m ulheres, alguns internautas escreveram com entários m achistas e desrespeitosos sobre a escolha nas redes sociais. D) a p at olog ia n ar císica an alisad a p or Lasch é u m fenôm eno rest rit o ao dom ínio psiquiát rico. E) am bos abordam problem as hist oricam ent e superados pelas sociedades ocident ais m odernas. A com paração ent re o anúncio publicit ário de 1968 e a repercussão da not ícia de 2016 m ost ra a B) qualificação da atividade doméstica. ( Enem –2017) A Lei 11.340, de 7 de agost o de 2006, representou um a ousada e necessária proposta de m udança cultural e jurídica a ser im plantada no ordenam ento jurídico brasileiro, a exem plo do que ocorreu em outros países, objetivando a erradicação da contum az violência praticada principalm ente por hom ens contra m ulheres com quem m antêm vínculos de natureza dom éstica, fam iliar e afetiva. SOUZA, S. R. Lei Maria da Penha comentada. Curitiba: Juruá, 2013 ( Adaptação) . A vigência dessa norm a legal, de am plo conhecim ent o da sociedade, revela a preocupação social com a A) part ilha dos bens com uns. B) rupt ura dos laços fam iliares. C) dignidade da pessoa hum ana. D) integridade dos filhos menores. E) conservação da m oralidade pública. 48 Acesso em : 10 m ar. 2016. A) elitização da carreira científica. sEçãO ENEM 01. Disponível em : < https: / / catracalivre.com .br> . Coleção Filosofia / Sociologia C) am bição de indúst rias pat rocinadoras. D) m anut enção de est ereót ipos de gênero. E) equiparação de papéis nas relações fam iliares. GAbARITO Propostos Meu aproveitamento Acertei ______ Errei ______ 01. B 05. C 09. C 02. D 06. E 10. B 03. D 07. A 04. B 08. E seção Enem 01. C Acertei ______ Errei ______ 02. D Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ % FRENTE SOCIOLOGIA MÓDULO A 05 O universo da cultura cIVILIzAçãO E A VIsãO ILuMINIsTA DA cuLTuRA Desde a Ant iguidade, era conhecida a grande difer ença de usos e cost um es ent r e os povos, por ém a discussão era cent rada no t er r eno da ét ica, em que a pr eocupação est ava cent rada na t ent at iva de const r uir um sist em a de valor es que pudesse ser considerado univer sal. Em r elação à per cepção dessas difer enças, a hist ór ia dos povos ant igos do m undo ocident al foi m ar cada pela pr esença de um a v isão et nocênt r ica, com o at est a a pr ópr ia palav ra “ bár bar o”, ut ilizada pelos ant igos gr egos e, post er ior m ent e, pelos r om anos, para se r efer ir aos est rangeir os, ist o é, a quaisquer povos que não fossem or iginár ios de sua pr ópr ia cult ura. No século XVI I I , o I lum inism o afir m ava que o ser hum ano racional, liv r e e conscient e era o apogeu da r ealização da essência hum ana. O m odelo de sociedade eur opeu – ur bano, indust r ial, r epublicano e dem ocr át ico – era v ist o com o super ior e o m ais avançado sist em a de v ida colet iva da hist ór ia hum ana. Dessa for m a, o m odelo cult ural eur opeu, aut odenom inado “ civ ilização”, foi t om ado com o o m odelo ideal e ut ilizado com o par âm et r o de com paração com as for m as cult urais dos out r os pov os. O ideal ilum inist a de cult ura r evela um a v isão univer salist a que defende que t odas as cult uras devem se desenvolver da m esm a form a em direção a um m esm o obj et ivo: a civ ilização. Essa concepção se desenvolveu sist em at icam ent e ao longo do século XI X, em diver sas filosofias sociais que defendiam o progresso t ecnológico e a racionalização com o cr it ér ios de super ior idade cult ural. Para os ilum inist as, o t er m o “ cult ura” se r efer e ao cult ivo do após adquir ir educação e inst r ução, usando sua racionalidade em pr ol do desenvolv im ent o pessoal e int elect ual. Rubens Lim a espír it o hum ano, um est ado em que o indiv íduo se encont ra Nesse sent ido, o est ado de cult ura se opõe ao est ado de nat ureza, um a vez que, no est ado de nat ureza, os indivíduos não dispõem dos elem ent os de civilidade que per- m it em a vida em sociedade. Para os pensadores ilum inist as, a cult ura se relaciona Rubens Lim a ao conhecim ent o cient ífico, à evolução e ao progresso. 49 Frente A Módulo 05 Essa r elação ent r e cult ura e civ ilização, no ent ant o, guar da grandes difer enças sem ânt icas quando pensam os nas classes bur guesas e ar ist ocr át icas da França e da Alem anha nos séculos XVI I I e XI X. As elit es ar ist ocr át icas francesas acr edit avam , t al qual os ilum inist as, que a noção de civilização est ava dir et am ent e at r elada ao pr ogr esso, r epr esent ando as r ealizações e o desenvolvim ent o de um povo, de um a colet iv idade e, no caso das sociedades indust r iais, o desenvolvim ent o indust r ial e t ecnológico. Para os franceses, cult ura era um at r ibut o indiv idual, fr ut o da er udição e do r efinam ent o em r elação aos m odos de conv iv ência. At é m eados do século XI X, a Alem anha não era um país unificado polit icam ent e. Assim , para se criar um sent im ent o de unidade para a const rução da Alem anha com o um Est ado- nação, seria necessário buscar caract eríst icas part iculares que som ent e diriam respeit o a um povo que habit a um t errit ório específico. As elit es alem ãs do período foram responsáveis por criar um a noção part icularist a da cult ura. Os int elect uais alem ães ent endiam a relação ent re cult ura e civilização de um m odo dist int o dos pensadores ilum inist as e franceses. Para os int elect uais alem ães, kult ur era j ust am ent e aquilo que os indivíduos t inham de m ais aut ênt ico, de m ais singular e puro, enquant o civilizat ion era ent endida com o hábit os e cost um es art ificiais. Mas, com o essa dist inção era const ruída? Os int elect uais alem ães ent endiam que os hábit os e cost um es dos nobr es e ar ist ocrat as alem ães eram im it ações dos hábit os e cost um es dos ar ist ocrat as franceses. Ev ident em ent e, os nobr es alem ães consideravam seus hábit os m ais sofist icados que os hábit os de v ida das classes popular es. No ent ant o, os int elect uais alem ães ent endiam que os cost um es da nobr eza eram ar t ificiais, j ust am ent e por ser em copiados da elit e francesa. Por t ant o, para a const r ução da Alem anha com o Est ado- nação, ser ia necessár io buscar a essência do ver dadeir o espír it o alem ão, que som ent e poder ia ser encont rada nas classes popular es, um a v ez que elas eram consideradas det ent oras das pr incipais caract er íst icas de um a colet iv idade. Ao cont r ár io da noção francesa de civ ilizat ion, que pr essupunha um padr ão univ er sal de com por t am ent o, os alem ães defendiam , com a noção de kult ur , que os cost um es e hábit os de um gr upo social não podem ser pr ovenient es de nenhum out r o pov o, dev endo est ar ligados à sua ident idade cult ural e às suas t radições. O ant ropólogo inglês Edward Tylor ( 1832- 1917) , em seu est udo sobre o que at é ent ão se ent endia por cult uras prim it ivas, uniu as perspect ivas francesa e alem ã e propôs um a nova acepção para o t erm o cult ura ( do vocábulo inglês cult ure) , concebendo- a com o t oda a gam a de conhecim ent os, crenças, produção art íst ica, leis, m oral, ou sej a, t odos os aspect os sim bólicos que envolvem a vida em sociedade. Desse m odo, abriu- se o cam inho para o surgim ent o de um conceit o cient ífico I m agens: NASA / Creat ive Com m ons / Art e: Rubens Lim a de cult ura, ainda que a perspect iva de Tylor apresent asse um carát er evolucionist a, com o verem os a seguir. 50 Coleção Filosofia / Sociologia O universo da cultura DIFusIONIsMO cuLTuRAL O evolucionism o cult ural é um conj unt o de t eorias Par alelam en t e ao ev olu cion ism o, desen v olv eu - se n a ant ropológicas, inspiradas na Teoria da Evolução Eur opa do século XI X um a cor r ent e que v isava ex plicar as de Charles Darwin, defensoras da t ese de que a sociedade seria sim ilar aos organism os vivos ( organicism o) e est aria subm et ida às m esm as leis nat urais da ev olução, da adapt ação e invenção ser ia pr oduzida em um a dada cult ura e ent ão “ ir r ad iad a” p ar a ou t r as cu lt u r as p or m eio d e con t at o ( com ér cio, guer ras, im it ação) . Essa difusão por m eio do cont at o ex plicar ia v ár ias pr át icas sim ilar es ent r e povos evolucionist as encont ra- se o ant ropólogo m uit o difer ent es. Ainda hoj e, o difusionism o é um a t eor ia Em seu livro Primitive Culture ( 1871) , Ty l o r a f i r m a q u e a cu l t u r a é u m fenôm eno nat ural e, com o t al, possui Maíra Dam ásio da difusão, e não da evolução. Para os difusionist as, um a d a seleção n at u r al. En t r e os p r in cip ais inglês Edward Tylor ( 1832- 1917) . Edward Tylor. diferenças ent re as cult uras hum anas a part ir do paradigm a ut ilizada para os est udos ar queológicos. ANTROPOLOGIA EsTRuTuRALIsTA causas e regularidades passíveis de A ant ropologia de base evolucionist a foi sendo crit icada, ser em ap r een d id as p elos m ét od os ao longo do século XX, e perdeu espaço para vert ent es cient íficos próprios das ciências nat urais. m ais rigorosas e cient íficas. Os est udos iniciais dos povos Desse m odo, o universo da cult ura est aria suj eit o cham ados “ prim it ivos” foram gradat ivam ent e se expandindo a leis ger ais a ser em descober t as pelos an t r opólogos. para reflexões, ora m ais específicas de cada grupo, com o fez Na concepção de Tylor, os grupos hum anos se diferenciariam a ant ropologia cult uralist a nort e- am ericana, ora m ais gerais, apenas pelo grau de civ ilização em que se encont ram . Port ant o, sob essa perspect iva, a diversidade cult ural est aria at relada à desigualdade de est ágios evolut ivos ent re os dist int os grupos hum anos. em busca de estruturas universais com uns a todas as culturas hum anas, com o faria a ant ropologia est rut uralist a francesa. Est a últ im a t eve com o principais nom es Marcel Mauss ( 1872- 1950) e Claude Lévi- St rauss ( 1908- 2009) , am bos dest acados ant ropólogos que se dedicaram aos est udos de Desse m od o, as d i f er en ças en t r e as cu lt u r as er am vários povos ao redor do m undo na t ent at iva de encont rar pensadas em com paração com as sociedades europeias. est r u t u r as f or m ais, sim b ólicas, lin g u íst icas e m ít icas As sociedades de out ras part es do m undo eram sem pre com u n s à h u m an idade. En qu an t o o ev olu cion ism o e o consideradas m enos ev oluídas, pois não apr esent avam os m esm os v alor es j á est ab elecid os n a Eu r op a, cu j a represent ação era a de apogeu da civilização. posit ivism o t endiam a desprezar os m it os e as religiões com o m anifest ações “ at rasadas”, os est rut uralist as enxergaram nas narrat ivas m ít ico- religiosas m anifest ações de est rut uras m ent ais da hum anidade, cuj a form a se repet iria em t odos O evolucionism o cult ural serviu de base t eórica para as os pov os e épocas. Com isso, v isavam est abelecer as incur sões eur opeias nos cont inent es asiát ico e afr icano, infraest rut uras inconscient es dos fenôm enos cult urais e obt er durante o período do im perialism o europeu. Os ant ropólogos ev olu cion ist as se valiam do m ét odo com p ar at iv o par a est udar as diferenças cult urais, porém part indo do m odelo cult ural europeu, considerado o padrão de desenvolvim ent o n at u r al h u m an o. Hoj e, r econ h ece- se que o esfor ço de com preensão do evolucionism o cult ural est ava recheado de pressupost os et nocênt ricos, um a vez que não reconhecia padrões de explicação gerais e efet ivos para os m ecanism os da vida social e psíquica hum ana. Os estudos da antropologia estruturalista se uniram aos estudos da linguística, do suíço Ferdinand de Saussure, na tentativa de encontrar padrões linguísticos e sem ióticos (isto é, o conjunto de signos e símbolos de um a cultura) que revelassem as est r ut uras elem ent ar es da hum anidade. Lév i- St rauss escreveu em sua obra Ant ropologia Est rut ural ( 1967) que nas cult uras “ exót icas” um valor int rínseco, m as som ent e um a pálida som bra do progresso que, supost am ent e, ainda est aria por vir. A seguir, apresent arem os, sucint am ent e, algum as das cor r ent es da Ant r opologia que se desenvolveram desde o final do século XI X e que foram m oldando as r eflex ões acer ca dos fenôm enos cult urais. o antropólogo é o astrônom o das Ciências Sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para configurações m uito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastam ento, das que estão im ediatam ente próxim as do observador. LÉVI - STRAUSS, C. Ant ropologia Est rut ural. Rio de Janeiro: Tem po Brasileiro, 1967. p. 422. [ Fragm ent o] Bernoulli Sistema de Ensino 51 sOcIOLOGIA EVOLucIONIsMO cuLTuRAL Frente A Módulo 05 O Est rut uralism o de Lévi- St rauss defendia a exist ência de est rut ura s m ent a is universa is, que se expressariam com roupagens diferent es nas variadas cult uras. Est udando os m it os e as relações de parent esco em diversos povos – inclusive et nias indígenas do Brasil –, Lévi- St rauss t eria concluído que t odos os povos hum anos apresent am m uit as caract er íst icas em com um quando analisados de for m a m et ódica e apr ofundada. Um a das suas conclusões diz respeit o ao t a bu do incest o: t odas as cult uras conhecidas apresent am algum t ipo de int erdição de prát icas sexuais ent re pais e filhos ou ent re irm ãos. Segundo sua leit ura, esse elem ento em com um , recorrente em todos os povos, expressa um a est rut ura m ent al universal que diferencia nat ureza e cult ura e confirm a o ser hum ano com o um ser de cult ura. A oposição nat ureza X cult ura seria um a das oposições binárias sob as quais nossa m ente funciona: cru X cozido, m asculino X fem inino, céu X inferno, sagrado X profano, m orte X vida. Para Lévi-Strauss, a mente humana, independentemente de qual seja a cultura, opera a partir de estruturas binárias que organizam as relações das sociedades hum anas e que são expressas, de diferentes form as, nas narrativas m íticas que dão sentido à vida de um a com unidade. Claude Lévi- St rauss t eve um a im port ância especial para o Brasil, em razão de sua est adia no país, com o professor da USP na década de 1930, inserido na Missão Francesa para a form ação de um a geração de professores- pesquisadores brasileiros. Por isso, o est rut uralism o t eve am pla repercussão em solo nacional, t endo influenciado gerações de int elect uais at é a década de 1960. Paralelam ent e, Lévi- St rauss t am bém se dedicou ao est udo de cam po et nográfico, t endo passado vários anos realizando t rabalhos em aldeias indígenas no int erior do país. O cuLTuRALIsMO O d esen v olv im en t o d e cad a cu lt u r a est á in t im am en t e associado às condições geográficas, clim át icas, psicológicas e históricas enfrentadas pelo grupo específico, o que desautoriza o m ét odo com parat ivo linear sugerido pelos evolucionist as. Na concepção de Boas, cada cultura deve ser com preendida dent ro da sua hist ória part icular, e não com parada com qualquer out ro padrão cult ural, porque não exist iria um a uniform idade na evolução das cult uras. Logo, Boas at ent a para a diversidade cult ural, não pensando a cult ura com o um conceit o t ot alizador e univer sal confor m e faziam os ant ropólogos evolucionist as. A antropologia de Boas se pauta na tentativa de com preender a dinâm ica do universo cultural, ou seja, busca com preender os processos por m eio dos quais um a cultura se desenvolveu, t endo um lugar geográfico e um t em po específicos com o referência. O aspecto m ais im portante para a antropologia de Boas é com preender com o os padrões culturais de um a determ inada com unidade se consolidaram ao longo do tem po. Boas defendia a necessidade de se interpretar cada cultura conform e suas m últiplas possibilidades de desenvolvim ento. Em razão dessa abordagem , essa perspectiva ficou conhecida com o particularism o histórico. Apesar de ainda cont er t raços et nocênt r icos, em sua t eoria, Franz Boas represent ou um a m udança significat iva na com preensão da diversidade cult ural hum ana, dando início a estudos que intensificaram a crítica ao etnocentrism o, ao racism o e às form as de dom inação cult ural que eram dom inantes no evolucionism o, no positivism o e predom inantes no senso com um . Tendo em igrado para os Estados Unidos, no final do século XI X, foi o pr incipal r esponsável pelo surgim ento da corrente que ficou conhecida com o culturalism o ou antropologia cultural. Entre seus ilustres alunos e seguidores se encontrava o brasileiro Gilberto Freyre. ANTROPOLOGIA A Ant ropologia est á int eressada no est udo das diversidades cult urais e sociais, ou sej a, nas diferent es m aneiras com que se apresent a a vida hum ana, em t odos os t em pos e lugares. Trat a- se, port ant o, de um a perspect iva que não se sat isfaz com a sim ples observação de cult uras ou sociedades isoladas, m as avança no sent ido de oferecer inst rum ent os que Maíra Dam ásio perm it am com preender a const it uição sim bólica de diferent es sociabilidades, os significados com os quais indivíduos e seus colet ivos int erpret am e organizam os cont at os, os encont ros e m esm o os conflit os em que se envolvem . [ ...] A invest igação dos processos de const rução e de produção das diferenças, Franz Boas. O cult uralism o surgiu com o um a corrent e que quest ionou as bases do evolucionism o cult ural. O principal expoent e d essa cor r en t e f oi o an t r op ólog o alem ão Fr an z Boas ( 1859- 1942) , que propunha um a leit ura m ais part icularizada do fenôm eno cult ural. Na concepção dele, cada cult ura segue seus próprios cam inhos e possui um a “ evolução” singular. 52 Coleção Filosofia / Sociologia para isso, volt a sua at enção a um em aranhado com plexo de dados recolhidos de experiências, expressões e prát icas dos at ores sit uados em variados cont ext os. Disponível em : < ht t p: / / www.ufj f.br/ graduacaocienciassociais/ sobre- o- curso/ apresent acao/ bacharelado/ ant ropologia/ > . Acesso em : 23 ago. 2018. [ Fragm ent o] O universo da cultura O cARáTER sIMbóLIcO DA cuLTuRA [...] é um animal amarrado a teias de significados que ele m esm o t eceu, assum o a cult ura com o sendo essas t eias e a sua análise; port ant o, não com o um a ciência experim ent al em busca de leis, m as com o um a ciência int erpret at iva, à procura do significado. GEERTZ, Clifford. A int erpret ação das cult uras. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p. 15. Para Geert z, o hom em é um anim al am arrado a t eias de Maíra Dam ásio assum e a cult ura com o sendo essas t eias e sua análise. Ernst Cassirer e Clifford Geertz. Dessa form a, a Ant ropologia não é um a ciência experim ent al, m as um a ciência int erpret at iva, à procura de significados. Sua definição de cult ura assent a- se, ent ão, na possibilidade de int erpret ação desses significados. A grande diferenciação ent re os hom ens e os anim ais Logo, é crucial pensar a Antropologia com o um a ciência ocorreu a part ir do m om ent o em que o cérebro hum ano que busca o conhecim ent o por m eio do “ out r o”, ist o é, passou a ser capaz de produzir sím bolos. Nossa espécie por in t er m édio do en t en dim en t o da alt er idade. Assim , se car act er iza, em g r an d e p ar t e, p or su a cap acid ad e a antropologia se configura com o um a form a de conhecim ento d e ab st r ação e d e sim b olização. São j u st am en t e t ais sobre a diversidade cultural, ou m elhor, é a busca do que nós capacidades que possibilit am a const rução e a part ilha de som os através do espelho do “ outro”. Nos term os de Eduardo significados, conferindo sent idos à vida e à realidade. Viveiros de Castro ( 2002) , esse outro é “ outrem ”, ou sej a, Logo, os com por t am ent os hum anos se baseiam no uso “ é a expressão de um m undo possível”. dos sím bolos. Por esse m ot ivo, o filósofo alem ão Er nst VI VEI ROS DE CASTRO, E. O Nat ivo Relat ivo. Cassir er ( 1864- 1945) definiu o ser hum ano com o hom o Mana, Rio de Janeiro, v. 8, n.1, 2002. p. 113- 148. sim bolicu s em v ez de h om o sapien s, par a acen t u ar a cap aci d ad e si m b ól i ca h u m an a com o o el em en t o q u e m ais nos dest aca em r elação aos out r os ser es. Som os [ ...] capazes de pr oduzir signos ar t ificiais que possuem um A cu lt u r a é, en t ão, u m a n oção de com por t am en t o sign ificado in t en cion alm en t e at r ibu ído, sign ificado est e apreendido. É através do fluxo do comportamento que que pode ser ensinado aos out r os indiv íduos e passado de as for m as cult urais encont ram ar t iculação, m as t am bém geração em geração. Todos os sist em as hum anos, com o o em v ár ias esp écies d e ar t ef at os e v ár ios est ad os d e idiom a, os gest os, a alim ent ação, os r it os, os valor es e os consciência. A int erpret ação ant ropológica, nest e cont ext o, com por t am ent os, são, acim a de t udo, sist em as sim bólicos. irá construir a leitura do que acontece − é a descrição Por serem frut o de const rução hum ana, as cult uras são diversas e variadas, um a vez que elas se relacionam com agrupam ent os hum anos específicos, localizados no t em po densa, elaborada pelo ant r opólogo, que levar á à essência da cult ura analisada. [ ...] e no espaço. Cada grupo social desenvolve um a cult ura Nest a análise da cult ura, a posição de Geert z é m ant er específica, que possui seus pr ópr ios elem ent os, signos, a análise das form as sim bólicas [ ...] de m odo m ais est reit o valores e sent idos. p ossív el com os acon t ecim en t os sociais e ocasion ais Reflet ir sobr e o univer so da cult ura é r eflet ir sobr e a dicot om ia ent re o m at erial e o sim bólico. Os obj et os que ex ist em no m undo ao nosso r edor não apr esent am um significado predet erm inado. São os seres hum anos, com sua capacidade de dar significados sim bólicos aos obj et os que possuem exist ência m at erial, que os provê de ut ilidades e significados. A nossa ex ist ência com o ser es sociais é t ot alm ent e dependent e dessa capacidade de sim bolizar o m undo ao nosso redor. Por esse m ot ivo, o ant ropólogo Clifford Geert z ent ende que o ser hum ano: concr et os, or ganizando as for m ulações t eór icas com as int erpret ações descrit ivas. Para Geert z, é fundam ent al olhar as dimensões simbólicas da ação social − arte, religião, ideologia, ciência, lei, m oralidade, senso com um – e não se afast ar dos dilem as exist enciais da vida, e sim m ergulhar no m eio deles. PI NTO, Suely Lim a de Assis. A cult ura e as diferent es concepções apreendidas nas det erm inações hist óricas. I t inerarius Reflect ions, [ S.l.] , v. 3, n. 1, p. 11- 13, set . 2008. Bernoulli Sistema de Ensino 53 sOcIOLOGIA significados que ele m esm o teceu, portanto, esse antropólogo Frente A Módulo 05 O cONcEITO DE cuLTuRA Definir cult ura não é sim ples. O ant ropólogo Alfred Kroeber ( 1876- 1960) ident ificou m ais de 600 significados diferent es para a m esm a palavra. Na raiz et im ológica da palavra, encont ra- se o subst ant ivo lat ino colere, que significa “ cult ivar ”. A acepção or iginal est ava dir et am ent e associada ao cult ivo dos cam pos para plant ação, de onde se ext rai a palavra “ agricult ura”, ut ilizada at é os dias de hoj e. Kroeber ident ificou que a cult ura é um elem ent o “ superorgânico”, pois não se resum e ao dom ínio biológico, em bora det erm ine o com port am ent o do indivíduo de form a m ais concret a do que a própria herança genét ica. Assim , o hom em age m ais de acordo com sua cult ura do que com seu inst int o. Além disso, o ser hum ano consegue se adapt ar aos diversos am bient es biológicos, por isso foi capaz de rom per as barreiras das diferenças am bient ais e t ransform ar t oda a t erra em seu habit at . A cult ura se m ost ra, port ant o, um m ecanism o adapt at ivo e, ao m esm o t em po, cum ulat ivo do ser hum ano, por perm it ir que as invenções e os aprendizados sej am t ransm it idos e acum ulados de geração em geração, ao longo da hist ória. O polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942) foi m ais radical. Em sua concepção, só é possível com preender um a cultura quando se é um integrante dela. O entendim ento do sistem a cultural, dos significados e dos valores só é possível “ de dentro”. Malinowski é o criador da etnografia m oderna, que propõe a inserção do pesquisador no interior da cultura a ser pesquisada, para que seus relatos e suas análises sejam acom panhados da visão de um m em bro inerente à cultura e se preservem o tanto quanto possível da sobreposição de valores externos. Roberto DaMatta , antropólogo brasileiro, tam bém se dedicou ao tem a da cultura. Para ele, a cultura é um a espécie de m apa, um código, um receituário por m eio do qual as pessoas, vinculadas a um grupo determ inado, estudam , pensam m odificam e classificam o m undo e a si m esm as. A ant ropóloga cult uralist a est adunidense Rut h Benedict ( 1887- 1948) resum e a im port ância da cult ura num a das m et áforas m ais expressivas: “A cult ura é a lent e pela qual nós vem os a realidade”. I st o é, não exist e percepção da realidade desvinculada dos valores adquiridos durant e o processo de socialização com o grupo no qual vivem os. De form a m ais radical, sequer é possível falar em hum anidade sem cult ura. Com o exem plo dest as diferenças cult urais em at os que podem ser classificados com o nat urais, Mauss cit a ainda as t écnicas do nascim ent o e da obst et rícia. Segundo ele, “ Buda nasceu est ando sua m ãe, Mãya, agarrada, ret a, a um ram o de árvore. Ela deu à luz em pé. Boa part e das m ulheres da Í ndia ainda dão à luz desse m odo”. Para nós, a posição norm al é a m ãe deit ada sobre as cost as, e ent re os Tupis e out ros índios brasileiros a posição é de cócoras. Em algum as regiões do m eio rural exist iam cadeiras especiais para o part o sent ado. Ent re est as t écnicas pode- se incluir o cham ado part o sem dor e provavelm ent e m uit as out ras m odalidades cult urais que est ão à espera de um cadast ram ent o et nográfico. Dent ro de um a m esm a cult ura, a ut ilização do corpo é difer enciada em função do sexo. As m ulher es sent am , cam inham , gest iculam , et c., de m aneiras diferent es das do hom em [ …] . Resum indo, t odos os hom ens são dot ados do m esm o equipam ent o anat ôm ico, m as a ut ilização do m esm o, ao invés de ser det erm inada genet icam ent e ( t odas as form igas de um a dada espécie usam Rubens Lim a seus m em bros uniform em ent e) , depende de um aprendizado e est e consist e na cópia de padrões que fazem part e da herança cult ural do grupo. LARAI A, R. B. Cult ura: um conceit o ant ropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 70- 71. 54 Coleção Filosofia / Sociologia O universo da cultura condiciona a visão de m undo. Assim , ela m olda a form a como enxergamos a realidade, identificando quem é o “ nós” e quem são os “ outros” ; • interfere no plano biológico. A nossa estrutura biológica é m oldada pela nossa cultura, sej a pela alim entação, seja pela estética ou pela intervenção m édica; • é adquirida, pois envolve invenção e t ransm issão por m eio do processo de socialização; • é essencialm ent e sim bólica, j á que os sím bolos e os significados são com par t ilhados pelas pessoas que a integram ; • é dinâm ica. As culturas não são estáticas; elas encontram -se num contínuo processo de adaptação e m udança, m otivado tanto por necessidades internas quanto por trocas culturais com outras culturas; • é cum ulat iva. A cult ura é t ransm it ida de geração em geração e é modificada pelas gerações mais recentes, que partem do que já está consolidado anteriorm ente; • não é uniform e, pois os indivíduos pertencentes a um a cultura não se relacionam com ela de form a hom ogênea; • é t ot alizant e. Ela abarca t odos os aspect os da vida individual e colet iva, com o valores, com port am ent os, tendências e norm as; • as culturas são diversificadas. Existem inúmeras cult uras e t odas possuem valor int rínseco; • não há cult uras infer ior es ou super ior es. Há m uit o t em po foi abolida a ideia de superioridade cult ural, que est ava m ot ivada pelo desej o de predom ínio racial europeu ao longo dos séculos XI X e XX. Et n ogr a fia I n i ci o p o r u m l u g ar co m u m : co m o t o d o s sab em o s, a et nografia é a ideia- m ãe da Ant ropologia, ou sej a, não há Ant ropologia sem pesquisa em pírica. A em piria – event os, acont ecim ent os, palav ras, t ex t os, cheir os, sabor es, t udo que nos afet a os sent idos – é o m at erial que analisam os e que, para nós, não são apenas dados colet ados, m as quest ionam ent os, font e de renovação. Não são “ fat os sociais”, m as “ fat os et nográficos”, com o nos alert ou Evans- Prit chard em 1950. [ ...] A prim eira e m ais im port ant e qualidade de um a boa et nografia reside, ent ão, em ult rapassar o senso com um quant o aos usos da linguagem . Se o t rabalho de cam po se faz pelo diálogo vivido que, depois, é revelado por m eio da escrit a, é necessário ult rapassar o senso com um ociden t al qu e acr edit a qu e a lin gu agem é basicam en t e referencial. Que ela apenas “ diz” e “ descreve”, com base na relação ent re um a palavra e um a coisa. Ao cont rário, palav r as f azem coisas, t r azem con sequ ên cias, r ealizam t arefas, com unicam e produzem result ados. E palavras não são o único m eio de com unicação: silêncios com unicam . PEI RANO, M. Et nografia não é m ét odo. Horizont es Ant ropológicos, Port o Alegre, v. 20, n. 42, p. 377- 391, j ul. / dez. 2014. cuLTuRA TRADIcIONAL, cuLTuRA ERuDITA E cuLTuRA DE MAssA sOcIOLOGIA • Da m esm a m an eir a, os ou t r os sen t id os ( olf at o, v isão, espaço, t at o) t êm im plicações que necessit am ser avaliadas e analisadas. Dit o de out ra form a, é preciso colocar no t ext o – em palavras sequenciais, em frases que se seguem um as às out ras, em parágrafos e capít ulos – o que foi ação vivida. Est e t alvez sej a um dos m aiores desafios da et nografia – e não há receit as preest abelecidas de com o fazê- lo. Rubens Lim a Aceit ando a definição am pla de Tylor, é possível ident ificar algum as caract er íst icas desse com ponent e social. Logo, a cult ura Estandartes, instrumentos e acessórios são típicos da cultura popular brasileira. A origem do term o “ cultura popular” nos rem ete à divisão entre kultur e civilization proposta pelos intelectuais alem ães, ainda na segunda m et ade do século XVI I I . A diferença ent re kult ur e civilizat ion foi im port ant e para separar os hábit os e cost um es das cam adas dom inant es da sociedade alem ã, com o os nobres e os arist ocrat as, em relação às dem ais. Ent r e as pr incipais m anifest ações da cult ur a popular ou t radicional encont ram - se o folclore, as crenças, o art esanat o, as prát icas alim ent ares, as t radições, os usos e cost um es, os valores m orais e a linguagem . Naquele período, as m anifest ações cult urais das pessoas que viviam no cam po eram t idas com o m ais “ aut ênt icas” e “ puras” se com paradas aos cost um es das classes que viviam na cidade, um a vez que est as est avam perm eadas p el o s co st u m es p r ó p r i o s d as so ci ed ad es i n d u st r i ai s. A cult ura popular era m arcada pela oralidade e inform alidade, ao cont r ár io da cult ur a er udit a, que er a m ar cada pelo let ram ent o, pelo em basam ent o na ciência e racionalidade, nos m oldes do pensam ent o ilum inist a. Bernoulli Sistema de Ensino 55 Frente A Módulo 05 A cu lt u r a popu la r ou t r a dicion a l é definida como o con j u n t o de m an if est ações, v alor es, com por t am en t os, saberes e crenças que são originais de um grupo social, cont ribuindo para form ar sua ident idade cult ural e fazendo part e da sua hist ória. A cult ura popular ou t radicional part iculariza um povo, atribui a ele história e personalidade, insere-o em um contexto histórico específico e dá sentido à sua existência. A cultura popular surge das tradições e dos costum es de um povo e está intim am ente associada à sua história, garantindo profundidade de vínculo entre o indivíduo, o grupo e a sua cultura. Porém , cabe observar que a expressão “ cult ura popular” t am bém recebeu out ras denot ações ao longo do t em po, sendo associada às m anifest ações das classes m ais baixas, o “povo”. Essa associação entre cultura e classe é fundam ental para com preenderm os a noção de cu lt u r a e r u dit a , que visa dist inguir e classificar algum as m anifest ações e bens cult urais com o superiores, m ais sofist icados que out ros. Por isso, a expressão “ cult ura erudit a” faria referência a um cert o t ipo de cult ura que é considerado m ais elaborado e est á fort em ent e associada à est rut ura de poder predom inant e na sociedade. Vim os ant eriorm ent e que o t erm o “ cult ura” passou a ser ut ilizado num cont ext o de m udança de poder da arist ocracia para a burguesia no século XVI I I , m as a m aior part e das referências de valores e com port am ent os da bur guesia est av a ligada à nobr eza e à ar ist ocr acia, a quem ela t ent ava “ im it ar” . Por isso, boa part e do que cham am os de cult ura, no senso com um , ainda perm anece ligado às gr andes ar t es ar ist ocr át icas dos séculos XVI I I e XI X: pint ura, escult ura, dança, m úsica erudit a ( orquest ra) , poesia. A noção de cult ura erudit a define, em geral, os bens cult urais que são valorizados pela classe dom inant e e se opõe à noção de cult ura popular ( ent endida com o cult ura das classes baixas) . Ainda no que t ange ao t em a, conv ém r essalt ar out r o aspect o m uit o im port ant e, que é o que diz respeit o à cult ura de m a ssa . Tende a se apropriar de part e da cult ura popular ( inclusive de aspect os t radicionais) e a t ransform á- la em obj et o de consum o, seguindo a lógica do capit alism o de m ercado. Nesse sent ido, a noção de cult ura de m assa confere m ais dinam ism o e com plexidade ao debat e sobre cult ura, por esse m ot ivo, será abordada de form a m ais específica no próxim o capít ulo. É inegável a relação, bast ant e próxim a, que a cult ura popular possui com a v ida cot idiana das cam adas m ais pobres da população. No ent ant o, não devem os esquecer que a dicot om ia rígida ent re cult ura let rada e cult ura popular, t al qu al pr opost a pelos pen sador es alem ães, dev e ser relat ivizada no cont ext o at ual. O fat o de a cult ura popular ser própria das classes dom inadas, se pensarm os em t erm os de poderio econôm ico no at ual est ágio do capit alism o, não quer dizer que sej a um a cult ura que deva ser com preendida pela perspect iva da falt a. I sso quer dizer que ela não deve ser com preendida com o um a versão defasada da cham ada cult ura erudit a, ou em um est ágio que um dia alcançará o pat am ar de cult ura “ oficial” . 56 Coleção Filosofia / Sociologia O que devem os t er em m ent e é que “ cult uras dom inant es” e “ cult uras dom inadas” são t erm os que denot am realidades cult urais que est ão sem pre em relação. Nunca podem os dizer que um det erm inado aspect o da cult ura é essencialm ent e popular ou essencialm ent e er udit o. O que lhes dá esse t ipo de significação é j ust am ent e a disput a de poder ent re os gr upos sociais par a significá- los. Qualquer for m a de hierarquia social no plano polít ico ou econôm ico ensej ará t am bém um a hier ar quia no plano cult ur al. No ent ant o, o dinam ism o da cult ur a per m it e um alt o flux o ent r e os diversos âm bit os cult urais, o que t orna definições com o cultura popular e cultura erudita suj eitas a grandes variações. As noções de folclore e de cult ura popular‚ e com elas os fat os cult urais que designam , são produt os hist óricos. Result am de um longo pr ocesso, que at ravessa a I dade Moder na ocident al, de afast am ent o das elit es eur opeias de um universo cult ural am plo do qual at é ent ão t am bém part icipavam . O discurso sobre a cult ura popular ganhou seus cont ornos at uais no m om ent o em que se reconheceu a exist ência de um a dist ância ent re o saber das elit es e o saber do “ povo”. O propiciador dessa novidade foi o Rom ant ism o, poderosa corrent e de pensam ent o que se desenvolveu a part ir da Europa na segunda m et ade do século XVI I I . Valorizando a diferença e a part icularidade, o Rom ant ism o associou- se aos m ovim ent os nacionalist as europeus em oposição ao ideal de um a razão int elect ual universal valorizado pelo I lum inism o. Na visão rom ânt ica, o povo seria o elem ent o prim it ivo, com unit ário e aut ênt ico, encont rado, sobret udo, no m undo rural. O folclore e a cultura popular abrigariam nostalgicam ente a totalidade integrada da vida com o m undo, rom pida no m undo m oderno. Nessa perspectiva, folclore / cultura popular e cultura de elite opõem -se, ainda que de m odo com plem entar. A questão pode tornar-se ainda m ais com plexa se introduzirm os nesse quadro de reflexão o grande dem ônio corruptor geralm ente denom inado cultura de m assa, com relação ao qual am bos os níveis de cultura – popular ou de elite – exibiriam um a aura de relativa pureza. Com essa observação, podem os tam bém im ediat am ent e per ceber com o t oda essa discussão est á perpassada por valores m orais geralm ente preconcebidos. Na atualidade, o m odelo interpretativo “ de duas cam adas” ( cu lt u r a popu lar / folclor e v er su s cu lt u r a de elit e) est á unanim em ente superado, e m esm o estudiosos e pesquisadores que se veem filiados à tradição rom ântica, são unânim es em afirm ar que [ ...] as culturas do “ povo” e as culturas das elites são variadas [ ...] e que a front eira ent re elas é im precisa e perm eável. Por isso, m esm o a at enção analít ica deve se concentrar não na oposição, m as na interação existente entre níveis e circuitos culturais distintos. [ ...] CAVALCANTI , Maria Laura Viveiros de Castro. Entendendo o folclore e a cultura popular. Rio de Janeiro. Disponível em : < http: / / www.cnfcp.gov.br/ interna.php?I D_ Secao= 100> . Acesso em : 13 set. 2018. É im port ant e perceber que as dist inções ent re cult ura tradicional, cultura de m assa e cultura erudita não são absolutas nem estanques. Ao contrário, é cada vez m ais com um que essas noções estejam m isturadas e apresentem -se de form a m ais com plex a quando analisam os fenôm enos cult urais contem porâneos. Novos est udos t rouxeram m ais elem ent os para pensar a quest ão cult ural, com o as noções de ca pit a l cu lt u r a l e ca pit a l sim bólico, desenvolvidas pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, na década de 1960. Para ele, a quant idade e o t ipo de m anifest ações cult urais que são assim iladas pelos indivíduos est ão int im am ent e associados ( m esm o que não exclusivam ent e) ao capit al econôm ico que possuem , o que faz com que a cult ura sej a t am bém ut ilizada com o inst rum ent o de poder. Além disso, a per spect iva dos Est u d o s Cu lt u r a is e dos Est u dos Pós- Colon ia is, a part ir da década de 1960, passaram a evidenciar com o as dinâm icas de poder afet am de form a decisiva as perm anências e as m udanças cult urais, gerando um am plo debat e sobre os diferent es im pact os que os processos de colonização t rouxeram para as cult uras das sociedades colonizadas ( especialm ent e nas Am éricas e na África) . Por exem plo, o crít ico lit erário palest ino Edward Said ( 1 9 3 5 - 2 0 0 3 ) , em seu liv r o Or ien t alism o ( 1 9 7 9 ) , dem on st r ou com o a v isão qu e se dif u n diu n o Or ien t e ( no Orient e Médio, principalm ent e) foi m oldada e dist orcida p e l o o l h a r e u r o p e u , co n f o r m e se u s p r e co n ce i t o s e est ereót ipos. O m esm o pode ser dit o de t odas as cult uras que passaram pelo processo de colonização, com o as cult uras dos povos africanos e da Oceania. A part ir da década de 1960, falar de cult ura im plica, necessariam ent e, falar de poder polít ico- econôm ico, de discrim inação racial, de desigualdade de gênero e de classe. ANTROPOLOGIA E cuLTuRA NO bRAsIL Em razão da grande diversidade cult ural dos povos nat ivos, o Brasil at raiu os olhares de ant ropólogos do m undo t odo, int er essados em desvendar os segr edos da diver sidade das cult uras hum anas. Desde o século XVI I , foram m uit os os n at u r alist as qu e ch egar am , ao t er r it ór io br asileir o, para regist rar em t ext os e im agens os usos e cost um es dos povos indígenas. Porém , a Ant ropologia, no Brasil, só se alavanca de fat o após as ex pedições do Mar ech al Cân dido Ron don , n as décadas de 1930 e 1940, com a m issão de desbravar e int egrar t odo o t errit ório nacional. A part ir delas é que os povos que haviam resist ido e escapado ao genocídio colonial e à cat equese eclesiást ica foram cont at ados. A pret ensão do governo Vargas – sob o qual boa part e das expedições se realizou – era a de unificar o t errit ório sob o prism a de um a única cult ura nacional brasileira. A concepção vigente, nesse período, era a evolucionista, que via o índio com o um “ at rasado” que precisava ser “ civilizado”. Assim , os índios deveriam abandonar gradativam ente sua cultura “prim itiva” em nom e de um a cultura considerada superior: de m atriz cristã, branca-europeia, capitalista e urbana. A par t ir da década de 1940, a ant r opologia brasileira passou a ser influenciada principalm ente pelo culturalism o, de Franz Boas, e pelo estruturalism o, de Claude Lévi-Strauss. Nesse cont ext o, dest acam - se t am bém nom es com o os de Orlando e Cláudio Villas Bôas, cujo trabalho j unto a vários grupos de indígenas am azônicos foi fundam ent al para a m udança de um a com preensão int egracionist a – t ípica do evolucionism o – para um a com preensão preservacionist a, que vai ser predom inant e na FUNAI e na dem arcação de terras indígenas; o de Gilberto Freyre e seus estudos sócio-históricos em Casa-grande e senzala, Sobrados e m ucam bos, entre outros m uitos livros sobre a m iscigenação com o origem da cultura brasileira; o de Darcy Ribeiro com seus estudos sobre a form ação cult ural do Brasil a part ir do hibridism o de três m atrizes, culturais diferentes, apresentados no livro O povo brasileiro; o de Luís da Câm ara Cascudo e seu esforço de pesquisa e catalogação de práticas culturais, alim entos, folclore e m itos regionais brasileiros; e, m ais recentem ente, o de Eduardo Viveiros de Castro com sua obra A inconstância da alm a selvagem , em que estuda de form a detalhada diversas m anifestações culturais de povos indígenas atuais. A Ant ropologia foi se desenvolvendo e criando novas áreas de est udo não só ligadas às populações “ exót icas”, m as t am bém t om ando por obj et o a vida urbana das grandes cidades. Após a década de 1970, além de olhar para “ o out ro de fora”, t am bém passou a se int eressar pelos m uit os “ out ros” que est ão “ dent ro” e para o “ nós”. Um dos ram os m ais int eressant es é o da ant ropologia urbana, no qual se dest aca o ant ropólogo carioca Gilbert o Velho ( 1945- 2012) , considerado um dos pioneiros dos estudos sobre as com plexas relações ent re indivíduo, sociedade e m odo de vida urbano. Velho cham a a at enção para as prát icas cult urais que nos são “ fam iliares”, m as que ocult am significados, hist órias e relações que m erecem m aior at enção. Dedicou- se a est udar fenôm enos com o a violência nos grandes cent ros urbanos, as prát icas cult urais de grupos j uvenis, o individualism o, o consum ism o e as relações fam iliares. Um dos t eóricos de m aior dest aque na ant ropologia urbana contem porânea é o cientista político e antropólogo flum inense Luiz Eduardo Soares ( 1954- ) , coaut or do fam oso livro Elit e da Tropa ( 2005) , que inspirou os film es Tropa de Elit e 1 ( 2007) e Tropa de Elit e 2 ( 2010) , dirigidos por José Padilha. Luiz Eduardo Soares, em seus est udos sobre as relações ent re a violência, a crim inalidade, a m ídia e o Est ado, dest aca com o o próprio poder polít ico corrom pido produz e sust ent a a crim inalidade, explicit ando t am bém com o a m ídia cont ribui para alim ent ar o espet áculo da violência urbana. O ant r opólogo Rober t o DaMat t a ( 1936- ) , at ualm ent e pr ofessor do Museu Nacional do Rio de Janeir o, buscou com preender diversas form as cult urais que se inst auram no m eio urbano brasileiro: o Carnaval, a figura do m alandro, o j eit inho brasileiro e a prát ica do “ você sabe com quem est á falando?”. Consagrou- se com obras com o Carnavais, m alan dr os e h er óis ( 1 9 7 9 ) e A casa e a r u a: espaço, cidadania, m ulher e m ort e no Brasil ( 1984) . INTéRPRETEs DO bRAsIL Até o início do século XX, não havia um a sociologia propriam ent e brasileira. As t eorias que vigoravam aqui eram aquelas desenvolvidas em solo europeu, aplicadas com poucas adaptações ou m odificações. Havia grande aceitação, principalm ente, das doutrinas do racism o científico (racialism o), com o o evolucionism o social, o darwinism o social e a eugenia, adotadas com o m odelos de explicação para a sociedade brasileira. Bernoulli Sistema de Ensino 57 sOcIOLOGIA O universo da cultura Frente A Módulo 05 A partir dos pressupostos racialistas, a “culpa” do atraso brasileiro, em relação às civilizadas nações europeias, era dos com ponentes negros e indígenas em nosso sangue e em nossa cultura. Autores consagrados com o Monteiro Lobato e Euclides da Cunha, bem com o pensadores sociais com o Oliveira Viana e Raim undo Nina Rodrigues expressavam essa visão eurocêntrica e apoiavam causas eugenistas, com o os incentivos governam entais para a im igração europeia no país, com a finalidade de “em branquecê-lo”. No ent ant o, o m ovim ent o est ét ico- cult ural do Rom ant ism o, com sua pret ensão nacionalist a nos finais do século XI X, assim com o o Modernism o, inaugurado em 1922, t rouxeram um novo olhar sobre a configuração ét nico- cult ural brasileira. Em vez de crit icar os elem ent os não europeus, inicia- se um a busca pela ident idade própria do brasileiro, a nossa “ brasilidade”. Essa brasilidade passar á a ser for t em ent e associada à m est içagem ( ou m iscigenação) . O surgim ent o da Sociologia com o disciplina cient ífica no Brasil, na década de 1930, est á im buída dessa leit ura que busca, ao m esm o tem po, identificar a “brasilidade” e valorizá-la. É o caso de Gilbert o Freyre ( 1900- 1987) , que se dedicou a est udar a form ação hist órico- social do Brasil desde o período colonial e foi o prim eiro grande defensor da m est içagem com o sendo a grande cont ribuição do Brasil para o m undo. Sua obra- prim a, Casa- grande e senzala, publicada em 1932, t ornou- se um dos m arcos do nascim ent o da Sociologia do país e um dos ícones da interpretação da sociedade brasileira. O hist or iador e diplom at a Sér gio Buar que de Holanda ( 1902- 1982) , pai do m úsico Chico Buarque, inspirou- se em Freyre e propôs um a das teses m ais debatidas nas ciências sociais: a tese do Hom em Cordial. Para Holanda, um a das características m ais m arcantes da “ alm a” brasileira ( leia- se, d o s co m p o r t am en t o s cu l t u r ai s b r asi l ei r o s) t er i a si d o desenvolvida a partir da influência do m odo de ser ibérico (lusitano), que tende a valorizar m ais a em oção do que a razão. Em seu livro Raízes do Brasil ( 1936) , Holanda defende que o brasileiro seria “cordial”, isto é, subm etido ao coração: paixões, DARcy RIbEIRO E O POVO bRAsILEIRO Um dos nom es m ais im port ant es dos est udos ant ropológicos do Brasil é o do m ineiro Darcy Ribeiro ( 1922- 1997) , nat ural de Mont es Clar os. Seus est udos et nogr áficos se iniciam na est eira dos I rm ãos Villas Bôas e buscam encont rar os t r aços d a “ b r asilid ad e” p or m eio d a m iscig en ação d e t r ês m at r izes cu lt u r ais b ásicas: in d íg en as ( m at r iz t upi) , por t ugueses ( m at r iz lusit ana) e afr icanos ( m at r iz a f r i ca n a ) . D essa s t r ês m a t r i zes, p o st a s em co n t a t o f ísico, econ ôm ico e cu lt u r al, por m eio da colon ização, é q u e r esu l t o u n a i n t en sa m est i ça g em ét n i co - r a ci a l e cult ural que caract eriza o povo brasileiro. Em sua obra prim a int it ulada O povo brasileiro, publicada ao fim de sua vida, em 1997, Darcy Ribeiro m ost ra com o esse caldeirão cult ural foi m arcado t ant o por relações am ist osas quant o por conflit os, violência e relações de dom inação. No ent ant o, a despeit o de t udo isso ( ou por causa de t udo isso) , a cult ura brasileira se revela ím par em inúm eros aspect os, pelo fat o de elem ent os cult urais m uit o diversos t erem encont rado solo para que int egrassem e se t ornassem part e de um a cult ura híbrida e ressignificada. PATRIMôNIO cuLTuRAL MATERIAL E IMATERIAL A cultura m aterial consiste em toda a sorte de artefatos, obj et os, inst rum ent os, const ruções, obras arquit et ônicas, utensílios que são produzidos no interior de um a determ inada cultura e que se distinguem por serem concretos, tangíveis. Um a igreja histórica, um a arm a de guerra ou um utensílio dom éstico podem ser considerados exem plos de m ateriais da cultura. afetos, em patia e hum or. Por isso, tenderia a valorizar m ais as Já a cult ura im at erial se refere a elem ent os que não são relações fam iliares e afetivas do que a frieza das leis; daria m ais t angíveis, ist o é, que se caract erizam pela sua abst ração. im portância ao dom ínio privado do que ao público; seria m ais Os bens cult urais im at eriais est ão relacionados aos saberes, afeito à aventura do que ao planej am ento calculista e racional. às habilidades, às crenças, às prát icas, ao m odo de ser Por esse m otivo, seria tão festivo e hospitaleiro – características das pessoas. Dessa form a, podem ser considerados bens dest acadas por t odos os est rangeiros que chegam por aqui. im at er iais: conhecim ent os enraizados no cot idiano das A t ese d o Hom em Cor d ial f oi a b ase d e ex p licação com unidades; m anifest ações lit erárias, m usicais, plást icas, par a m u it os com por t am en t os cu lt u r ais v ist os n o país, cênicas e lúdicas; rit uais e fest as que m arcam a vivência com o a m alandragem , o “ j eit inho brasileiro” e a própria colet iva da religiosidade, do ent ret enim ent o e de out ras corrupção. I nspirou m uit os t eóricos post eriores na t ent at iva prát icas da vida social. de com pr eender as m anifest ações cult urais brasileiras. O an t r opólogo car ioca Rober t o DaMat t a, por ex em plo, par t e dessa cat egor ia para analisar a cult ura brasileira, em seu livro Carnavais, m alandros e heróis, na t ent at iva de decodificar os m odos de navegação social que são socialm ente validados na nossa cult ura. 58 As teorias de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda sofreram m uitas críticas, ligadas principalm ente ao reducionism o, ao essencialism o e à generalização, m as são im portantes pelo esforço de com preensão, pela influência que exerceram e pelo debate que geraram posteriorm ente. Coleção Filosofia / Sociologia O patrim ônio cultural designa o conjunto de bens m ateriais ou im at er iais que são considerados de int er esse para a coletividade, por resguardarem a identidade cultural de um grupo social. No Brasil, o órgão responsável pela conservação patrim onial é o I PHAN ( I nstituto de Patrim ônio Histórico e Artístico Nacional). O universo da cultura São exem plos do Pat rim ônio I m at erial brasileiro: o queij o de Minas Gerais; o frevo e o m aracat u de Pernam buco; o ofício das paneleiras do Espírit o Sant o; o sam ba de raiz do Rio de Janeiro; o Ofício das Baianas do Acaraj é da Bahia; a viola de cocho do Mat o Grosso. São exem plos do pat rim ônio m at erial brasileiro: as igrej as do cent ro hist órico de Ouro Pret o, em Minas Gerais; os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro; o Convento Beneditino de São Paulo; o Pelourinho, em Salvador; o Crist o Redent or carioca. É aquilo que singulariza t odos e cada um de nós com o um a pessoa diferent e, com int eresses, capacidades e em oções part iculares. Mas, na vida diária, personalidade é usada com o um m arco para algo desej ável e invej ável de um a pessoa. Assim , cert as pessoas t eriam “ personalidade”, out ras não! É com um se dizer que “ João t em personalidade” quando de fat o se quer indicar que “ João t em m agnet ism o”, sendo um a pessoa “ com presença”. Do m esm o m odo, dizer que “ João não t em personalidade” quer apenas dizer que ele não é um a pessoa at raent e ou int eligent e. Mas, no fundo, t odos t em os personalidade, em bora nem t odos Ou t r o d ia ou v i u m a p essoa d izer q u e “ Mar ia n ão t in h a cult ura”, era “ ignorant e dos fat os básicos da polít ica, econom ia e lit erat ura”. Um a sem ana depois, no m useu onde t rabalho, conv er sava com alunos sobr e “ a cult ura dos índios Apinay é da Novela das Oit o. Mesm o um a pessoa “ sem personalidade” t em , paradoxalm ent e, personalidade na m edida em que ocupa um espaço social e físico e t em desej os e necessidades. Pode ser um a pessoa sum am ent e apagada, m as ser assim é precisam ent e o t raço m arcant e de sua personalidade. de Goiás”, qu e h av ia est u dado de 1 9 6 2 at é 1 9 7 6 , qu an do No caso do conceit o de cult ura, ocor r e o m esm o, em bora publiquei um livro sobre eles ( Um m undo dividido) . Reflet indo nem todos saibam disso. De fato, quando um antropólogo social sobr e os dois usos de um a m esm a palav ra, decidi que est a fala em “ cult ura”, ele usa a palavra com o um conceit o chave ser ia a m elh or f or m a de discu t ir a ideia ou o con ceit o de para a int erpret ação da vida social. Porque para nós ‘’cult ura” cult ura t al com o nós, est udant es da sociedade, a concebem os. não é sim plesm ente um referente que m arca um a hierarquia de Ou, m elhor ainda, apresent ar algum as noções sobre a cult ura e “ civilização”, m as a m aneira de viver total de um grupo, sociedade, o que ela quer dizer, não com o um a sim ples palavra, m as com o país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia Social e Sociologia, um a cat egoria int elect ual, um conceit o que pode nos aj udar a um m apa, um receituário, um código através do qual as pessoas com preender m elhor o que acont ece no m undo à nossa volt a. de um dado grupo pensam , classificam , estudam e m odificam o Ret om em os os exem plos m encionados porque eles encerram os dois sent idos m ais com uns da palavra. No prim eiro, usa- se cult ura com o sinônim o de sofist icação, de sabedoria, de educação no sent ido rest rit o do t erm o. Quer dizer, quando falam os que “ Maria não t em cult ura”, e que “ João é cult o”, est am os nos referindo a um cert o est ado educacional dest as pessoas, querendo indicar com ist o sua capacidade de com preender ou organizar cert os dados e sit uações. Cult ura aqui é equivalent e a volum e de leit uras, a cont r ole de infor m ações, a t ít ulos univer sit ár ios e chega at é m esm o a ser confundida com int eligência, com o se a habilidade para realizar cert as operações m ent ais e lógicas ( que definem de fat o a int eligência) fosse algo a ser m edido ou arbit rado pelo núm ero de livros que um a pessoa leu, as línguas que pode falar, ou aos quadros e pint ores que pode, de m em ória, enum erar. Com o um a espécie de prova dest a associação, t em os o velho dit ado inform ando que “ cult ura não t raz discer nim ent o”... ou int eligência, com o est ou discut indo aqui. Nest e sent ido, cult ura é um a palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais, servindo com o um a arm a discrim inat ória cont ra algum sexo, idade ( “ as gerações m ais novas são incult as” ) , et nia m undo e a si m esm as. [ ...] O conceit o de cult ura, ou a cult ura com o conceit o, ent ão, per m it e u m a per spect iva m ais con scien t e de n ós m esm os. Pr ecisam ent e por que diz que não há hom ens sem cult ura e p er m it e com p ar ar cu lt u r as e con f ig u r ações cu lt u r ais com o ent idades iguais, deixando de est abelecer hierarquias em que inevit avelm ent e exist iriam sociedades superiores e inferiores. Mesm o diant e de form as cult urais aparent em ent e irracionais, cruéis ou pervert idas, exist e o hom em a ent endê- las – ainda que sej a para evit á- las, com o fazem os com o crim e –; é um a t arefa inevit ável que faz part e da condição de ser hum ano e viver num universo m arcado e dem arcado pela cult ura. Em out ras palavras, a cult ura perm it e t raduzir m elhor a diferença ent re nós e os out ros e, assim fazendo, resgat ar a nossa hum anidade no out ro e a do out ro em nós m esm os. Num m undo com o o nosso, t ão pequeno pela com unicação em escala planet ária, isso m e parece m uit o im port ant e. Porque j á não se t rat a som ent e de fabricar m ais e m ais aut om óveis, conform e pensávam os em 1950, m as desenvolver nossa capacidade para enxergar m elhores cam inhos ( “ os pret os não t em cult ura” ) ou m esm o sociedades int eiras, para os pobres, os m arginais e os oprim idos. E isso só se faz com quando se diz que “ os franceses são cult os e civilizados” em um a at it ude abert a para as form as e configurações sociais que, oposição aos am er icanos, que são “ ignorant es e gr osseir os”. com o revela o conceit o de cult ura, est ão dent ro e fora de nós. Do m esm o m odo, é com um ouvir- se referências à hum anidade, cuj os valor es seguem t radições difer ent es e desconhecidas, com o a dos índios, com o sendo sociedades que est ão “ na I dade da Pedra” e se encont ram em “ est ágio cult ural m uit o at rasado”. A p alav r a “ cu lt u r a”, en q u an t o cat eg or ia d o sen so- com u m , ocupa, com o v em os, um im por t ant e lugar no nosso acer v o conceit ual, ficando lado a lado de out ras, cuj o uso na v ida cot idiana é t am bém m uit o com um . Est ou m e lem brando da palav ra “ per sonalidade” que, t al com o ocor r e com a palav ra sOcIOLOGIA VOcê TEM cuLTuRA? possam os ser pessoas belas ou m agnet izadoras com o um art ist a Num país com o o nosso, onde as form as hierarquizant es de classificação cult ural sem pr e foram dom inant es, onde a elit e sem pr e est ev e dispost a a au t of lagelar - se dizen do qu e n ão t em os um a cult ura, nada m ais saudável do que esse exercício ant ropológico de descobrir que a fórm ula negat iva – esse dizer que não t em os cult ura – é, paradoxalm ent e, um m odo de agir cult ural que deve ser vist o, pesado e t alvez subst it uído por um a fórm ula m ais confiant e no nosso fut uro e nas nossas pot encialidades. “ cult ura”, penet ra o nosso vocabulário com dois sent idos bem Disponível em : < ht t ps: / / edisciplinas.usp.br/ pluginfile. diferenciados. No cam po da Psicologia, personalidade define o php/ 4254059/ m od_resource/ cont ent / 1/ voce% 20t em % 20 conj unt o dos t raços que caract erizam t odos os seres hum anos. cult ura.pdf> . Acesso em : 23 ago. 2018. Bernoulli Sistema de Ensino 59 Frente A Módulo 05 EXERcícIOs PROPOsTOs 01. IJ9A 03. A) As práticas e expressões culturais, para serem consideradas com o bens im at eriais, devem apresent ar associação entre os objetos, artefatos e os lugares onde são desenvolvidas. (UFU-MG) Dentre as várias interpretações sobre a brasilidade, destaca-se aquela que atribui a nós, brasileiros, os recursos do jeitinho, da cordialidade e da m alandragem . B) O Palacete Pinho, o Parque Zoobotânico do Museu Em ilio Goeldi e o Com plexo do Ver- o- Peso são considerados com o patrim ônios im ateriais do Brasil por resguardarem a m em ória dos povos indígenas. De acordo com as leituras weberianas aplicadas à realidade brasileira (por autores tais como: Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Roberto DaMatta), a malandragem significaria A) a m anifest ação prát ica do processo de m iscigenação que com binou elem ent os genét icos pouco inclinados ao t rabalho. C) Os recursos nat urais são bens cult urais de pat rim ônio im at erial, por isso é grande o risco de desaparecerem caso não sej am preservados por polít icas sociais. B) a consagração do fracasso nacional represent ado pela incapacidade de desenvolver form as capit alist as de relações sociais. D) O Ofício das Baianas de Acaraj é agrega diferent es classes socioeconôm icas, pr om ovendo a equidade e a j ust iça social, e é caract erizado apenas com o pat rim ônio m at erial. C) a inovação de um est ilo especial de se resolver os próprios problem as, que t em sua origem nas t radições ibéricas. E) Os bens m at eriais t êm que apresent ar um a prát ica cultural regular tal com o ocorre, por exem plo, com o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, com o Com plexo Cultural do Bum ba m eu boi do Maranhão e com a Roda de Capoeira. D) a m at er ialização da oposição popular ao t rabalho e ao im perialism o europeu, com o caract eríst ica de resist ência de classe. 02. ( UENP- PR) Na m adrugada de 1º de novem bro de 2009, m orre na França o et nólogo e ant ropólogo Claude Lévi- St rauss aos 101 anos de idade. Sua m ort e t eve grande r eper cussão no Brasil, sobr et udo por que foi um dos prim eiros professores de Sociologia da Universidade de São Paulo, logo na sua fundação, t endo feit o várias expedições ao Brasil Cent ral. Seu pensam ent o influenciou gerações de filósofos, ant ropólogos e sociólogos. É corret o afirm ar: A) A corrente estruturalista, da qual Lévi-Strauss é o principal teórico, surgiu na década de 40 com uma proposta diferente do funcionalism o, predom inante até então. O funcionalism o se preocupava com o funcionam ento de cada sociedade e em saber com o as coisas existiam na sua função social. O est rut uralism o queria saber do t rabalho int elect ual. Olhar para os povos indígenas e buscar uma racionalidade e uma reflexão propriam ent e nat iva. B) Lévi-Strauss não encontrou evidências de que os povos nat ivos desenvolvessem um pensam ent o selvagem nem que ocorresse a passagem de hom em nat ural para o hom em cult ural ent re os povos indígenas. C) Lévi-Strauss acreditava que o homem não é uma espécie t ransit ória e sugeriu um a visão essencialist a do ser hum ano, já que o m undo existe quando o hom em o interpreta, chegando a afirmar, em várias passagens, que “o mundo começou com o homem e vai terminar com ele”. D) Lév i- St rauss concor da com Sar t r e que não ex ist e oposição entre sociedades com história e sociedades sem hist ória, sendo que isso é dem onst rando pela Sociologia e pela et n ogr af ia con t em por ân eas ao constatarem que toda sociedade se desenvolve no curso de uma história específica. E) Não pode ser atribuído ao legado de Lévi-Strauss o respeito ao pensam ento dos cham ados povos prim itivos, em especial dos povos indígenas da Am érica, pelas diferenças culturais e pela diversidade, sem as quais a criatividade hum ana cessa e, por tudo que há no m undo, antes e depois da passagem do hum ano pela Terra. 60 Coleção Filosofia / Sociologia ( UFPA) Sobre pat rim ônio m at erial e im at erial no Brasil, é corret o afirm ar: 04. ( UFU- MG) Leia o t ex t o e o com ent ár io apr esent ados a seguir: Apesar da exist ência de t endências gerais const at áveis nas hist órias das sociedades, não é possível est abelecer seq u ên cias f ix as cap azes d e d et alh ar as f ases p or que passou cada r ealidade cult ural. Cada cult ura é o result ado de um a hist ória part icular, e isso inclui t am bém suas relações com out ras cult uras, as quais podem t er caract eríst icas bem diferent es. SANTOS, José Luiz dos. O que é cult ura. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 12. Sant os argum ent a, ainda, que não se pode relacionar e com par ar sociedades e cu lt u r as segu n do cr it ér ios vigent es apenas em um a delas, quando invest igam os suas realizações cult urais. Com base nesses ar gum ent os, assinale a alt er nat iva corret a quant o às seguint es afirm ações: I. O conceit o de evolução nas Ciências Sociais é relat ivo a experiências hist óricas diversas e não deve servir à hierarquização das sociedades por fases sucessivas de desenvolvim ent o a part ir de crit érios e sequências et nocênt ricas. I I . O desenvolvim ent o das forças produt ivas é o crit ério de evolução m ais aceit o em t odas as t eor ias das Ciências Sociais e, por isso, tem validade científica irrefut ável com o bem o dem onst ra Max Weber. I I I . As fases de desenvolvim ent o cult ural de cada sociedade part icular podem ser percebidas, com paradas e avaliadas quando vem os os processos de im it ação e reprodução cult ural, que levam as cult uras subdesenvolvidas ao desenvolvim ent o. O universo da cultura 07. O m inist ro Ricardo Lewandowski, do Suprem o Tribunal Federal ( STF) , negou pedido de j uiz do Rio de Janeiro que reivindica que a Just iça obrigue os funcionários do prédio onde esse j uiz m ora a cham á- lo de “ senhor ” ou de “ dout or ”, sob pena de m ult a diária. Na ação j udicial, o j uiz argum ent a que foi cham ado pelo port eiro do condom ínio de “ você” e de “ cara” e que ouviu a expressão “ fala sério!” após t er feit o um a reclam ação. A) Apenas I é corret a. B) I I , I I I e I V são corret as. C) I , I I e I I I são corret as. D) Apenas I I I é corret a. 05. OLI VEI RA, M. Minist ro do STF nega pedido de j uiz que quer ser cham ado de “ dout or ”. Disponível em : < ht t p: / / g1.globo. com > . Acesso em : 22 abr. 2014 ( Adapt ação) . ( UFG- GO–2014) Leia a receit a apresent ada a seguir: Te x t o 2 Ta ca cá O “Você sabe com quem está falando?” não parece ser um a expressão nova, m as velha, tradicional, entre nós. Na m edida em que as m arcas de posição e hierarquização tradicional, com o a bengala, as roupas de linho branco, o anel de grau e a caneta-tinteiro no bolso de fora do paletó se dissolvem , incrementa-se imediatamente o uso da expressão separadora de posições sociais para que o igualitarism o form al e legal, m as cam baleante na prática social, possa ficar subm etido a outras form as de hierarquização social. 2 lit ros de t ucupi t em perado 4 dent es de alho 4 pim ent as de cheiro 4 m aços de j am bu 1/ 2 kg de cam arão 1/ 2 xícara de gom a de m andioca Sal a gost o DAMATTA, R. Carnavais, m alandros e heróis, 1983. ( Adapt ação) . Modo de servir: m uit o quent e, em cuias, t em perado com pim ent a. Considerando a análise do ant ropólogo Robert o da Mat t a, o fat o descrit o no t ext o 1 pode ser corret am ent e int erpret ado com o result ant e Disponível em : < www.receit ast ipicas.com / receit a/ t acaca.ht m l> . Acesso em : 09 set . 2013. A) da cont radição ent re igualit arism o liberal e aut orit arism o cult ural. Com er é um at o social, hist órico, geográfico, religioso, econôm ico e cult ural. O preparo dos alim ent os, a escolha dos ingredient es e a m aneira de servir ident ificam um gr upo social e aj udam a est abelecer um a ident idade cult ural. Essa receit a, “ Tacacá”, com ida m uit o apreciada na culinária paraense, dem onst ra B) da plena assim ilação cult ural dos ideais ilum inist as de cidadania. C) das t endências est at ais de cont r ole t ot alit ár io da exist ência cot idiana. D) da superação das hierarquias sociais pela universalização ét ica. A) um a int eração cult ural, com a incorporação de ingredient es advindos de t radições culinárias dist int as. B) um m odo de pr epar o espont âneo, associado aos padrões culinários da colônia. C) um m odelo ritualista de servir, vinculado ao form alism o religioso africano. D) um m odo de ut ilizar os ingredient es provenient es do ext rat ivism o, associado ao nom adism o dos quilom bos. E) um a im posição de ident idade cult ural, pelo uso de produt os cult ivados em áreas sert anej as. 06. ( UFPA) A cult ura popular corresponde às prát icas cult ivadas de m aneira t radicional porque A) está relacionada à tradição oral, coletiva e, m uitas vezes, é m arcada pela relação das pessoas com seu am biente. B) at inge sim ult aneam ent e as pessoas pelos m eios de com unicação elet rônica, com o ocorre, por exem plo, nos program as de rádio. C) sua form a de difusão é a escrit a, repassada de geração a geração desde t em pos rem ot os. ( Unesp–2017) Te x t o 1 E) da hegem onia ideológica da classe operária sobre a classe burguesa. 08. 51XD (UEL-PR) A cultura constitui, portanto, um processo pelo qual os hom ens orientam e dão significado às suas ações através de um a m anipulação sim bólica, que é atributo fundam ental de toda prática hum ana. Nesse sentido, toda análise de fenôm enos culturais é necessariam ente análise da dinâm ica cultural, isto é, do processo perm anente de reorganização das representações na prática social, representações estas que são sim ultaneam ente condição e produto desta prática. DURHAM, E. R. A dinâm ica cult ural da sociedade m oderna. Ensaios de Opinião, São Paulo, n. 4, p. 13. 1977. Com base no t ext o ant erior, é corret o afirm ar que: A) Cultura significa a manipulação da prática humana que reorganiza e dinam iza os fenôm enos sociais. B) Dinâm ica cult ural é a r epr odução de t oda pr át ica hum ana em fenôm enos cult urais. C) Fen ôm en os cu lt u r ais são d in âm icos p or q u e são r epr esent ações de pr át icas sociais que est ão em perm anent e reorganização. D) represent a a cosm ovisão das classes t radicionalm ent e dom inant es. D) Pr át icas sociais são dinâm icas por que a cult ura é u m a m an ipu lação sim bólica, su j eit a a v ar iações simultâneas de significados por parte dos homens. E) é com ercializada e consum ida em larga escala devido às at uais t écnicas de reprodução. E) Dinâm ica cult ural é a m anipulação sim ult ânea de significados simbólicos por parte dos homens. Bernoulli Sistema de Ensino 61 sOcIOLOGIA I V. Sem afr ont ar os ar gum ent os do t ex t o, podem os aceitar pelo m enos que o sedentarism o e o nom adism o são experiências sequenciais do desenvolvim ent o de t odas as sociedades e cult uras do planet a, t al com o provam os hist oriadores. Frente A 09. Módulo 05 ( UFU- MG) Um a das superst ições caract eríst icas da cult ura popular é a relat iva ao m ês de agost o, considerado m ês de m au agouro, quando nenhum a decisão im port ant e deve ser t om ada: não se deve fechar negócios, nem m arcar casam ent os ou fazer m udanças de qualquer espécie. O j or nal Cor r eio de Uber lândia, em agost o de 2008, pu blicou r epor t agem qu e at est av a m u dan ças desse com por t am ent o, durant e o r efer ido m ês, t ais com o: realizações de casam ent os, de m udanças de residências, ou de negócios em andam ent o ou, ainda, salões de beleza com m ovim ent o norm al para “ m udanças de visual”. Considerando o enunciado ant erior e o conceit o ant ropológico de cult ura, m arque a alt ernat iva corret a. A) Só há pur eza e aut ent icidade nas m anifest ações pr ov indas da zona r ural, não cont am inadas pelas vert iginosas t ransform ações do m undo urbano. B) As prát icas cult urais não são congeladas no t em po, são part es int egrant es da hist ória e est ão em processo de t ransform ação com a própria hist ória. C) As m anifest ações cult urais populares passam por um processo de descaract erização, pois, para perm anecerem aut ênt icas e t radicionais, devem reproduzir int egralm ent e o passado e evit ar m udanças. D) As verdadeiras prát icas t radicionais não se alt eram com o t em po e são reproduzidas da m esm a form a com o foram originadas. 10. ( Unioest e- PR) A respeit o dos est udos ant ropológicos da ZUMB cult ura, assinale o it em que m elhor responde à pergunt a: qual seria sua im port ância para os hom ens? A) Ela serve com o um m apa, orient ando as ações de indivíduos e povos, no que diz respeit o às ideias, saberes e t écnicas. B) Ela é o conj unt o for m ado pelas ar t es e for m ação educacional. B) am pliação do poder de consum o. C) preservação do pat rim ônio m at erial. D) intensificação da geração de empregos. E) criação de espaços de aut ossegregação. 02. (Enem –2017) Os guaranis encontram -se hoje distribuídos pela Bolívia, Paraguai, Uruguai, Brasil e Argentina. A condição de guarani remete diretamente para a ideia de pertencimento e para as relações de parentesco. Daí a im portância da concepção de território com o espaço de com unicação. Eles têm parentes nos diversos países e seguem se visitando regularm ente. Os guaranis seguem com noções e conceitos próprios de fronteira, um a ideia m ais sociológica e ideológica, que inclui, exclui e define quem pert ence e quem não pertence a determ inado grupo social. O dilem a das front eiras na t raj et ória guarani. Ent revist a especial com Ant ônio Brand. Disponível em : < www.ihuonline. unisinos.br> . Acesso em : 15 ago. 2013 ( Adapt ação) . De acor do com o t ex t o, o pr ocesso de dem ar cação das t erras reivindicadas por esse povo enfrent a com o dificuldade o( a) A) valor de desapropriação das áreas legalizadas. B) engaj am ent o de j ovens na lut a pela reform a agrária. C) escassez de zonas cult iváveis nas regiões cont íguas. D) t ensão ent re ident idade colet iva e norm at izações das nações lim ít rofes. E) contradição entre sustento extrativista e desm atam ento das florestas tropicais. GAbARITO D) A com preensão da organização social, j á que est udar a cult ura é o m esm o que est udar a sociedade. Propostos sEçãO ENEM Meu aproveitamento Acertei ______ Errei ______ Acertei ______ Errei ______ 01. C 02. A 03. A 04. A 05. A ( Enem –2017) Um a área de cerca de 101,7 m il m et ros quadrados, com um pát io fer r ov iár io e um a sér ie de arm azéns de açúcar abandonados pelo poder público. Quem olha de fora vê apenas isso, m as quem conhece a hist ória do Cais José Est elit a sabe que o local faz part e da hist ória de Recife, sendo um dos cart ões- post ais e um dos poucos espaços públicos que rest am na capit al pernam bucana. E é por isso que um grupo est á lut ando para evit ar que as const ruções sej am dem olidas por um consórcio de grandes const rut oras para const rução de prédios com erciais e residenciais. BUENO, C. Ocupe Est elit a: m ovim ent o social e cult ural defende m arco hist órico de Recife. Ciência e Cult ura, n. 4, 2014. 62 A) revit alização econôm ica do lugar. C) Na realidade não t em t ant a im port ância, pois ela é apenas um a ideologia. E) Ela proporciona unicam ent e as capacidades art íst icas dos indivíduos e as m anifest ações dest as. 01. A form a de atuação do m ovim ento social relatado evidencia a sua busca pela Coleção Filosofia / Sociologia 06. A 07. A 08. C 09. B 10. A seção Enem 01. C 02. D Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ % FRENTE SOCIOLOGIA MÓDULO A 06 A cultura e os meios de comunicação A cONsTITuIçãO DA sOcIEDADE DE MAssAs O con ceit o d e socied ad e d e m assa su r g e, n o in ício d o sécu l o XX, co m o f r u t o d o cr escen t e p r o cesso d e indust r ialização que acont eceu nas sociedades m oder nas, a partir do final do século XVI I I , com o advento da Revolução I ndust rial. Além do desenvolvim ent o dos t ransport es e do com ércio, as sociedades m odernas t am bém se caract erizam pela difusão de ideais, com o a liber dade e a igualdade, consider ando- as v alor es univ er sais. O t erm o “ m assa” refere- se, especificam ent e, ao enfraquecim ent o dos laços que m ant inham a coesão social nas sociedades t radicionais. A vida com unit ária, os pesos das cr enças r eligiosas sobr e as ações dos indiv íduos, ent r e out r os fat or es, for am subst it uídos por nov as for m as de sociabilidade, t endo com o principal caract eríst ica a vida nas grandes cidades m arcadas pelo desenvolvim ent o capit alist a. Segundo Karl Marx, o m odo de produção capit alist a, em que os t rabalhadores não são propriet ários dos m eios de produção e, assim , não se reconhecem no seu t rabalho, é responsável por gerar o processo de alienação. A força de t rabalho, fundadora da condição hum ana, é, no sist em a capit alist a, apenas m ais um a m ercadoria que é vendida aos bur gueses pelo pr olet ar iado. A alienação ocor r e quando o t r abalho deix a de ser a for ça pr odut or a da r ealidade hum ana e se t orna um a m ercadoria. Ao não se reconhecer em seu t rabalho, o indivíduo deixa de reconhecer t am bém a realidade em que vive. É nesse cont ext o, m arcado pelo fat o de as relações sociais serem perm eadas pelas relações de produção capit alist as, que se desenvolve o individualism o, pois os laços de coesão ent re os indivíduos se sust ent am em t orno das necessidades m at eriais criadas com o advent o do capit alism o. A const it uição da sociedade de m assas ocorre concom it ant em ent e ao processo de consolidação do capit alism o e, sendo assim , t odos os aspect os da exist ência hum ana se t ornam passíveis de se t r ansform arem em m er cadorias. I nclusive o universo da cult ura, que reúne caract eríst icas denot adoras da nossa diferença em relação aos out ros seres vivos do planet a, t orna- se m ercadoria. Mas, com o se dá o processo de m ercant ilização dos bens cult urais em um cont ext o capit alist a? Com o j á vim os, a divisão social do t rabalho, propost a pelo capit alism o, por m eio do processo produt ivo, aliena o indivíduo de sua condição. No m om ent o em que o indivíduo não está diret am ent e envolvido com seu t rabalho, ele passa a necessitar de algum a diversão, algo que lhe perm ita descansar. Port ant o, as opções de lazer oferecidas a esses indivíduos t om am a form a de produt os pensados, j ust am ent e, para serem consum idos nesse período em que o indivíduo não se dedica ao t rabalho. Desse m odo, a lógica capit alist a do consum o de bens se t orna present e, inclusive, no m om ent o em que o indivíduo não se dedica a um processo produt ivo. É fácil per ceber que o sist em a capit alist a deix a de ser apenas um m odo de produção para se t ornar um a form a de organização social, na m edida em que t ransform a em m ercadoria os aspect os subj et ivos da exist ência hum ana. Ent r et ant o, por qual m ot iv o a padr onização dos bens cult ur ais ser ia um pr oblem a t ão gr ande nas sociedades m odernas? A quest ão é que, se as form as e padrões cult urais passam a ser produzidos, t endo em vist a o m ercado, há, ent ão, um a dim inuição da capacidade dos seres hum anos de criarem e int erpret arem os seus próprios sím bolos. Com o desen v olv im en t o dos m eios de com u n icação, a difusão de bens cult ur ais ganhou cont or nos at é ent ão desconhecidos na hist ória da hum anidade. A velocidade com que as infor m ações são dispost as ao público se t or na cada vez m aior. Esse processo t eve início, m ais especificam ent e, após a Pr im eir a Gu er r a Mu n dial ( 1 9 1 4 - 1 9 1 8 ) , qu an do pesquisadores est adunidenses passaram a est udar o efeit o da difusão de infor m ações por m eio do r ádio e do cinem a sobr e a população. A int enção dessas pesquisas, financiadas pelo governo dos EUA, er a a de conv encer a população dos Est ados Un i d o s a ap o i ar a p ar t i ci p ação d o p aís em co n f l i t o s arm ados. Para t ant o, era necessário t er cert eza de que os m eios de com unicação seriam capazes de produzir esse con v en cim en t o n as m assas. Nesse per íodo, gan h ar am im port ância pesquisadores com o Harold Lasswell, criador do t erm o “ com unicação de m assas” , em 1927. O cr escim ent o cada vez m ais am plo desses m eios de com unicação foi capaz de t orná- los um dos grandes cent ros de poder das sociedades m oder n as. Por esse m ot iv o, a part ir da década de 30, os Est ados Unidos se valeram desse recurso e da propaganda para criar um consenso em relação à participação do país nos conflitos bélicos m undiais. Contudo, o desenvolvim ent o dos m eios de com unicação e a crescent e influência dos Est ados Unidos no m undo geraram efeit os, no cam po cult ural, para além das front eiras desse país. Após a Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945, o m undo ocidental conheceu um a nova ordem , baseada na polar idade polít ica e econôm ica ent r e a URSS, pot ência socialista soviética, e os Estados Unidos, nação capitalista. Bernoulli Sistema de Ensino 63 Módulo 06 Essa polar ização r esult ou em um a div isão cult ur al no ocident e: no bloco capit alist a, desenv olv eu- se a cult ur a de m assa sob for t e influência do m er cado e com andada p el o s Est ad o s Un i d o s, en q u an t o n o b l o co so ci al i st a, a econom ia e a cult ur a se encont r av am sob o dom ínio do Est ado sov iét ico e, em função do dir ecionam ent o polít ico, alheio à indúst r ia cult ur al. Foi nesse cont ext o que, a part ir da segunda m et ade do século XX, o m undo ocident al passou a se desenvolver sob a fort e presença do m odelo est adunidense conhecido com o Am erican way of life. De fat o, t al m odelo se baseava na relação ent re consum o, liberdade individual e felicidade, result ando na est im ulação do consum ism o e da produção em larga escala. Diret am ent e at relado a esse fenôm eno, o desenvolvim ent o dos m eios de com unicação de m assa ser v iu com o um a alavanca par a o consum o: o r ádio, a t elevisão, a m ídia im pressa e a I nt ernet se t ornaram os principais canais de com unicação entre o m ercado e os consum idores, nutrindo- se das relações de consum o para crescer e se im por com o u m a das m ais in flu en t es in st it u ições socializador as da cont em poraneidade. O largo alcance das m ass m edia, com o a t elevisão, o rádio, o cinem a e a I nt ernet , faz desses m eios poderosos inst rum ent os de divulgação e, por conseguint e, de dissem inação de m odelos econôm icos, valores m orais, padr ões com por t am ent ais e de ideias, ex er cendo for t e influência sobre os indivíduos. E é j ustam ente dessa influência que surge a cult ura de m assa. Rubens Lim a A cultura de massa Celulares, gam es e livros de ficção são alguns elem ent os que form am a cult ura de m assa at ualm ent e. Apesar de, em m uit as ocasiões, os t erm os “ cult ura de m assa” e “ cultura popular ” serem ut ilizados com o sinônim os, per m anecer em os adot ando a dist inção est abelecida n o capít ulo ant er ior, que considera a cult ura de m assa um fenôm eno específico do contexto do capitalism o pós-industrial, m arcado pela fort e presença dos m eios de com unicação de m assa e dos efeit os da globalização, enquant o a cult ura popular estaria, a princípio, m ais relacionada à cultura “original” e espont ânea de um dado grupo social. Assim sendo, o conceit o am plo de cult ura de m assas designa t odo um conj unt o de ideias, com por t am en t os, at it udes, im agens e out r os fenôm enos que int egram o m ainst ream ( a corrent e principal e hegem ônica) de um a dada cult ura. Est e se caract eriza pela produção em larga escala e pela consequent e uniform ização dos indivíduos, form ando um público am plo, que t ende à hom ogeneização e é for t em ent e influenciado pela m ídia e pelo m er cado. 64 Coleção Filosofia / Sociologia De acordo com Edgar Morin: Cult ura de m assa, ist o é, produzida segundo as norm as m aciças da fabricação industrial; propagada pelas técnicas de difusão m aciça ( que um est ranho neologism o anglo- latino cham a de m ass m edia) ; destinando- se a um a m assa social, ist o é, um aglom erado gigant esco de indivíduos com preendidos aquém e além das est rut uras int ernas da sociedade ( classe, fam ília, etc.) . MORI N. Edgar. Cult ura de m assas no século XX: o espírit o do t em po. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universit ária, 1975. [ Fragm ent o] A filósofa alem ã Hannah Arendt , em seu livro A crise da cult ura ( 1972) , acusa o m ercado e a m ídia de se valerem do en t r et en im en t o com o f or m a de dom in ação cu lt u r al que v isa à alienação pelo lazer e incent iva o consum o. Nas sociedades de m assas, os indivíduos t endem a t er acesso a cont eúdos padronizados e t er os seus próprios gost os e opiniões dom est icados e past eurizados. Dessa form a, cert os com port am ent os const ruídos hist oricam ent e passam a ser vist os com o nat urais e necessários, t ransform ando- se em socialm ent e aceit os e indiscut íveis. Um exem plo desses com port am ent os est á na figura do Papai Noel e na prát ica nat alina de t roca de present es. Ainda que sej a oriundo de ant igas cult uras na Europa, o Papai Noel m oderno ( barbudo, de roupas verm elhas, bonachão) é um a versão m odificada dos m it os ant igos de São Nicolau, est ilizada pela publicidade da Coca- Cola no início do século XX, e que é responsável por alim ent ar o im aginário infant il e est im ular prát icas de consum ism o. Um a v ez consolidado pela publicidade ao longo do século XX, Papai Noel t ornou- se o grande sím bolo cult ural do Nat al no capit alism o, t ão ou m ais lem brado do que o próprio m enino Jesus da t radição crist ã- ocident al. A cult ura de m assa é, port ant o, o m aior efeit o das sociedades globalizadas do capit alism o cont em porâneo, volt adas para o consum o em larga escala e com fort e presença dos m eios de com unicação de m assa. TEORIA cRíTIcA DA INDúsTRIA cuLTuRAL Jerem y J. Shapiro / Creat ive Com m ons Frente A Theodor Adorno e Max Horkheim er. A cultura e os meios de comunicação O foco desse grupo se encontrava no estudo das sociedades advindas do capitalism o pós- industrial, fortem ente m arcadas pela presença dos m eios de com unicação de m assa e pelo prevalecim ent o da lógica do consum o. Em um a definição sim ples e diret a, a indúst ria cult ural consist e no processo capit alist a de t ransform ar a art e e a cult ura em m ercadorias. Logo, é t am bém o t erm o ut ilizado para definir o m odo de produzir cult ura a part ir da lógica de produção indust rial. Dessa m aneira, m ediant e a repet ição de padrões, a indúst ria cult ural visa à for m ação de um a est ét ica, ou per cepção com um , orient ada para o consum ism o. Port ant o, o propósit o de produção da art e passa a ser o lucro. Adorno e Horkheim er, na obra Dialét ica do esclarecim ent o ( 1 9 8 5 ) , u sar am o co n cei t o “ i n d ú st r i a cu l t u r a l ” p ar a cont rapor à noção de cult ura de m assas. Mas qual seria a diferença ent re os dois t erm os? Para Adorno e Horkheim er, a cham ada cult ura de m assa é pensada e produzida para o m ercado – porém é apresent ada com o algo espont âneo –, com o se f osse u m a v er são con t em por ân ea da cu lt u r a popular, ainda que t am bém sej a um a m ercadoria capit alist a. Ao ser orient ado para o m ercado, t odo o processo criat ivo que envolve a produção de um a obra de art e, por exem plo, p er d e- se em p r ol d e u m a p r od u ção m ecan i zad a q u e conform a o gost o das pessoas. A art e, ao ser t ransform ada em m ercadoria, perde t rês car act er íst icas essen ciais: em v ez de ser ex p r essiv a, t orna- se um a sim ples m ercadoria; em vez de ser criat iva, p assa a ser r ep et it iv a; e, em v ez d e ser in ov ad or a, t orna- se reprodut iva. Obedient es à lógica do m ercado, a art e e a cult ura são m assificadas e dissipam grande part e de seu valor hum ano, exist encial e social. O pot encial revolucionário, inerent e à cult ura popular, cede espaço para a repet ição e para a estagnação, que serão recorrent es no com port am ent o p assiv o e r esig n ad o qu e é con st r u íd o p elos m eios d e com unicação de m assa. Por esse m ot ivo, Adorno e Horkheim er ident ificaram o surgim ent o de um a pseudo- art e: o kit sch. Est e corresponde ao produt o art íst ico – criado pela indúst ria cult ural – volt ado para o público considerado de elit e ou de classe m édia que alm ej a um st at us cult ural superior. Porém , o kit sch t am bém é um a m er cador ia, t an t o qu an t o os pr odu t os cu lt u r ais considerados “ populares” ou “ de m assa” volt ados para as classes com m enor poder aquisit ivo. Ou sej a, a indúst ria cult ural produz a ilusão de um a divisão de fruição art íst ica, pelo poder econôm ico, e, com isso, consegue at ingir um público am plo e reproduzir as dist inções de st at us e poder vigent es na sociedade. O m esm o processo de m ercantilização das obras de arte é efetuado pela indústria cultural em relação à cultura popular, ao substituir os vínculos espontâneos e profundos da cultura popular por um ideal homogêneo, superficial e rotativo de cultura subm etido à transitoriedade e à instantaneidade da m oda. As t endências r epr esent adas p ela m od a in clu em com p o r t a m e n t o s, i d e i a s, o p i n i õ e s, v est im en t as, g est os, linguagens e at é dout rinas, que se encont ram subm et idas a pressões econôm icas. Dev em os levar em consideração que, para Ador no e Hor k heim er, indúst r ia cult ural não é um sinônim o para m eios de com unicação. A indúst ria cult ural se refere a um processo que t ransform a e vulgariza a cult ura, represent ando o d o m ín i o t écn i co so b r e a n at u r eza. Par al el am en t e, a t écnica passa a t er dom ínio do hom em à m edida em que ult rapassa a esfera econôm ica e chega ao âm bit o da cult ura e da subj et ividade. Nesse sent ido, é im port ant e nos at erm os ao conceit o de ideologia. Esse conceit o é provenient e da escola m arxist a de pensam ent o e significa, para Marx, a m aneira pela qual as ideias passam a ser percebidas com o elem ent o fundador da realidade social. Not em os que a ideologia, com o um conceit o m ar x ian o, r et om a a con cepção idealist a da h ist ór ia e, por isso, é obj et o de crít ica por part e de Karl Marx. Para Marx, ideologia seria um a falsa consciência da realidade. No en t an t o, o u t r o s p en sa d o r es i n f l u en ci a d o s p e l o pensam ent o de Kar l Mar x , sobr et udo Lênin, passaram a t er um a out ra definição para o conceit o de ideologia. Para Lênin e est es pensadores, ideologia const it uía qualquer form a de pensam ent o que ocult asse os reais int eresses de um a det erm inada classe social. No sist em a capit alist a, a ideologia se prest a a produzir um im aginário social que faz com que t odos os conflit os de classes sej am ocult ados. Desse m odo, os int eresses das classes dom inant es são en t en d id os com o os in t er esses d e t od a a socied ad e. É sob essa condição que a ideologia cum pre sua função de con ser v ar a dom in ação de classes, pois n at u r aliza as desigu aldades sociais ao n ão ev iden ciar as r azões hist óricas que a form aram . Assim , a ideologia se refere a um a consciência falsa e parcial da realidade social. Portanto, podem os dizer que a indúst ria cult ural t raz consigo t odos os elem ent os caract er íst icos do m undo indust r ial m oderno e nele exerce um papel específico: o de port adora da ideologia dom inant e, a qual out orga sent ido a t odo o sist em a. Há um a fort e presença ideológica nos m eios de com unicação de m assa e nos cont eúdos que são veiculados por eles: os m ass m edia se encont ram a serviço das elit es econôm icas capit alist as, que se beneficiam da for m ação de um público consum idor m assificado, passivo e alienado. Nesse cont ext o, devem os at ent ar para um a part icularidade do pensam ent o de Adorno e Horkheim er: para eles, t ant o os m eios de com unicação quant o a produção cult ural – veiculada por t ais m eios – servem para m anipular a audiência, aliená- la e m ant ê- la subj ugada dent ro do sist em a capit alist a. Segundo esses pensadores: Filme e rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendim entos de seus diretores gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos. HORKHEI MER, Max ; ADORNO, Theodor . A indúst r ia cult ur al: o ilum inism o com o m ist ificação das m assas. I n: LI MA, Luiz Cost a ( Or g.) . Teor ia da cult ur a de m assa. Rio de Janeir o: Paz e Ter r a, 1990. p. 170. [ Fragm ent o] Bernoulli Sistema de Ensino 65 sOcIOLOGIA No ano de 1920, um grupo de pensadores das ciências hum anas – Theodor Adorno, Max Horkheim er, Walter Benjam in e Herbert Marcuse – fundou o I nstituto de Pesquisa Social vinculado à Universidade de Frankfurt, na Alem anha, com o intuito de produzir conhecim ento sobre a nova realidade social que se construía, desde o final do século XI X, no contexto pós- Revolução I ndustrial e pós- revoluções burguesas. Frente A Módulo 06 É im port ant e salient ar que, para Adorno, o ser hum ano, nessa indúst ria cult ural, não passa de m ero inst rum ent o de t rabalho e de consum o. I st o é, o indivíduo não é um suj eit o, m as um obj et o, cuj a capacidade cr ít ica se encont ra at r ofiada. O indivíduo, ao se ver alij ado de sua capacidade crít ica, t orna- se propenso à influência ideológica dos m eios de com unicação. Por exem plo, segundo Ador no, o nazism o se valeu da fragilidade subj et iva dos indiv íduos para, a par t ir de um a int ensa pr opaganda nos m eios de com unicação, angar iar o apoio dos cidadãos alem ães ao r egim e. Nessas condições, o indivíduo é t ão bem m anipulado e subm et ido a ideologias que at é o seu lazer se t orna um a ext ensão do seu t rabalho, favor ecendo a lógica capit alist a e at endendo aos int er esses dos gr upos dom inant es. A indúst r ia cult ural, que t em com o guia a racionalidade t écnica esclarecida, prepara as m ent es para um esquem at ism o oferecido pela indúst ria da cult ura. Assim funciona o clichê: sej a no cinem a, na t elev isão, na m oda, no j or nalism o, há esquem as pr ont os e disponíveis que podem ser usados sem qualquer com edim ent o. A ob ed iên cia a p ad r ões p r ed et er m in ad os é u m a d as car act er íst icas cen t r ais d a in d ú st r ia cu lt u r al. Facilm en t e, pode- se observar nos rot eiros cinem at ográficos e nas novelas que: as t ram as reflet em um a visão ext rem am ent e superficial dos conflit os hum anos, norm alm ent e acent uando a ação sobre a reflexão, envolvendo dicot om ias sim plist as e m aniqueíst as, com o “ bem ” e “ m al”, “ herói” e “ bandido”, e se resolvendo em finais felizes que vendem um a im agem falsa de felicidade. A ex plosão dos r ealit y show s, com o a franquia Big Br ot her ( em clara alusão à obra dist ópica 1 9 8 4 , do escr it or indo- brit ânico George Orwell, que previa um a sociedade t ot alit ária cont rolada por m eio da t écnica e da ideologia) , consolida a noção de Sociedade do Espet áculo, criada pelo filósofo francês Guy Debord, em que a realidade ficcional veiculada pelos m eios de com unicação passa a se sobrepor à realidade efet iva, organizando a vida psíquica dos indivíduos e a própria vida social em t orno dos valores e da dinâm ica dit ados pela sociedade de consum o. Cont udo, para Ador no e Horkheim er, ex ist e saída: a for m ação de indiv íduos cr ít icos e conscient es possuidor es de fer ram ent as int elect uais para ident ificar e r esist ir à dom inação. I st o é, pela educação e pela for m ação cr ít ica, os indiv íduos poder iam deix ar de ser m er os obj et os do m er cado e passar a assum ir sua condição de suj eit os at ivos na v ida social. Todavia, os filósofos de Frank fur t sabiam que essa t ar efa era, e ainda é, ex t r em am ent e ár dua, especialm ent e pelo fat o dos m eios de com unicação de m assa r esponder em por grande par t e do pr ocesso de socialização dos indiv íduos nas sociedades cont em por âneas. Rubens Lim a Finalizando, a indúst r ia cult ural, ent ão, ser ia um a espécie de sist em a polít ico e econôm ico com o int uit o de pr oduzir bens de cult ura – film es, livros, m úsicas – na qualidade de m ercadorias e com o est rat égias de cont role social. Logo, os film es e m úsicas, por exem plo, são vendidos não com o bens cult urais ou art íst icos, m as sim com o produt os de consum o. Consequent em ent e, t ais m ercadorias m ant eriam os indivíduos alienados da realidade, em vez de auxiliarem na form ação de cidadãos m ais crít icos. 66 Coleção Filosofia / Sociologia A cultura e os meios de comunicação No Brasil, a m oder nização dos m eios de com unicação, a par t ir da década de 1930 , durant e o gov er no de Get úlio Var g as d eu in ício t am b ém ao f en ôm en o d a in d ú st r ia cult ural. At é esse per íodo, a sociedade brasileira possuía u m a e co n o m i a m a r ca d a m e n t e r u r a l , e m cu j o m e i o per m anecia par t e significat iva da população. A Rev olução de 30, liderada pelo gaúcho Get úlio Var gas, fom ent ou um a sér ie de iniciat ivas de m oder nização com a finalidade de aum ent ar a indust r ialização em solo nacional. O Governo Vargas, classificado com o populist a, soube ut ilizar os m eios de com unicação de m assa a seu favor. O rádio foi ut ilizado com o inst rum ent o político, produzindo um discurso hom ogêneo e apelat ivo para a form ação de um a ident idade polít ico- cult ural brasileira, cont r ibuindo, dessa m aneira, para a form ação de um a unidade nacional. Esse q u adr o é con sider ado pelo sociólogo Flor est an Fer nandes com o a “ r evolução bur guesa brasileira”. Para Florestan, intensificou-se a m udança de um m odelo oligárquico agrário para um cenário urbano- indust rial, que com eçou a se m ost rar volt ado para o consum o e fort em ent e influenciado pelos m eios de com unicação de m assa. Durant e o segundo Governo Vargas, a t elevisão foi desenvolvida no Brasil, no início da década de 1950. Por ser o aparelho de TV m uit o caro nesse período, dificultando o acesso das fam ílias, as em presas que exploravam o pot encial das im agens t ransm it idas só foram se desenvolver cerca de um a década m ais t arde. Durante os anos 1950, a pioneira TV Tupi incorporava, em sua program ação, o ent ret enim ent o fort em ent e inspirado nos padrões de vida e consum o est adunidenses, deixando ent r ever a for t e influência r ecebida pelo Brasil dos EUA durant e o j ogo bipolar da Guerra Fria. Foi som ent e com o governo de Juscelino Kubitschek, no final dos anos de 1950, que se pôde falar propriam ent e da form ação de um a sociedade de m assa brasileira. Com sua política desenvolvim entista, voltada para a im plem entação de indúst rias de bens duráveis, com o fábricas de aut om óveis e elet rodom ést icos, JK cont ribuiu enorm em ent e para um novo contexto nacional, em que a necessidade do consum o passou a ser im perativa em um a classe m édia crescent e. As at ividades indust riais e com erciais se diversificaram e se m ult iplicaram int ensam ent e, a vida urbana se expandiu, form ando um a classe m édia econom icam ent e m ais at iva, que obedecia ao m odelo social e econôm ico im por t ado dos EUA: o Am erican way of life. A aquisição de produt os indust rializados, com o elet rodom ést icos, passou a ser vist a com o um a r evolução da v ida pr ivada, pr om et endo dias m elhores para as fam ílias e para os t rabalhadores. A televisão se tornou o m eio de com unicação m ais influente no Brasil, na segunda m et ade do século XX, e grande part e desse sucesso est ava ligado ao papel exer cido pela Rede Globo de Televisão, fundada no início da Dit adura Militar, em 1965, pelo j ornalist a Roberto Marinho. At ingindo, ainda na década de 1980, prat icam ent e a t ot alidade dos lares brasileiros, a t elevisão se transform ou no m eio de com unicação m ais universal do país. Esse im enso poder de acesso t orna- se essencial para com preender a socialização do indivíduo e a form ação sociocultural da nação, um a vez que o ent ret enim ent o básico da população passa a ser assist ir a program as de audit ório, film es, novelas e program as espor t ivos. Além disso, a pr ópria inform ação veiculada nos not iciários se encontra subm et ida à influência das pressões int ernas das em presas de com unicação e seus acionist as e client es. Outra quest ão im port ant e se encontra na relação ent re m ídia e polít ica no Brasil. Desde os governos de Get úlio Vargas, passando pelo período da Ditadura Milit ar e t endo cont inuidade na hist ória recent e, com o caso de Fernando Collor de Mello, a m ídia vem exercendo um im port ant íssim o e controverso papel de form ação ( ou, m ais apropriadam ente: deform ação) da opinião pública em favor de algum grupo político. É conhecido o fato de que o governo ditatorial extraiu grande proveit o da exploração im agét ica da Copa do Mundo de 1970, vencida pelo Brasil no México. Tam bém é conhecido o not ório episódio da edição de im agem e t ext os durante um debat e ent re os candidat os à presidência da República Luís I nácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello, em 1989, quando um a grande em issora de t elev isão v isivelm ent e ben eficiou u m dos can didat os, in flu en cian do a opin ião pública, o que int erferiu no result ado das eleições. Esse episódio foi denunciado pela rede pública inglesa BBC no docum ent ário Brazil: beyond cit izen Kane ( Brasil: m uit o além do cidadão Kane) , divulgado em 1993 e proibido de ser exibido em solo nacional por iniciat iva de Robert o Marinho. Além disso, som a- se o fat o de que os canais de com unicação no Brasil são, em sua m aior part e, pert encent es a pequenos grupos privados que obt iveram , não raras as vezes, direit os de t ransm issão por int erm édio de influência polít ica, o que t raz à t ona a quest ão da influência econôm ica e do client elism o sobr e a pr ogram ação e os cont eúdos veiculados na m ídia nacional. Desde m uit o t em po, discut em - se no Brasil propost as de regulam ent ação da m ídia, que visa norm at izar e est abelecer m arcos regulat órios para o exercício da com unicação em solo brasileiro. Assim , est ariam garant idos os princípios e prát icas que sej am favoráveis para a dem ocracia e para a liberdade de com unicação, assegurando idoneidade, isenção e com prom isso com a inform ação – o que nem sem pre vem os em nossas t elas. Porém , a discussão sobre esse t em a ainda será longa, porque um a parte considerável da população e dos grupos da grande m ídia enxergam as iniciativas de regulam entação com o form as de censura da liberdade de expressão. Contudo, a discussão sobre a qualidade da m ídia e sobre a sua im portância para a sociedade atual é m ais do que urgente, haja vista sua perm anente influência na construção e divulgação de ideias e com port am ent os na cont em poraneidade. Bernoulli Sistema de Ensino 67 sOcIOLOGIA INDúsTRIA cuLTuRAL E MíDIA NO bRAsIL Frente A Módulo 06 Há que se m encionar um a peculiaridade da cult ura de m assas no Brasil, desde os seus prim órdios: considerando- se que o cinem a – diferent em ent e do rádio – não havia sido priorizado pelo poder público ( t alvez por t er repercussões ideológicas m enos im ediat as) , ele se t ornou, desde sua m aior profissionalização na década de 1930, um m edium com plem ent ar – para não dizer parasit ário – com relação ao r ád io. Su a f u n ção er a m ost r ar, t an t o n as cid ad es m aiores quant o nos rincões m ais dist ant es do país, com o era a aparência das pessoas, cuj as vozes eram j á bast ant e fam iliares aos ouvint es: o cinem a m ost rava com o os art ist as do r ádio eram “ de ver dade”. Nat uralm ent e, a t elev isão elim inou a necessidade dessa sinergia ent re o rádio e o cinem a, e a t ransm issão em rede via sat élit e para t odo país, iniciada pela TV Globo na década de 1970, lançou t ant o o rádio quant o o cinem a com erciais num a crise ainda m ais profunda do que aquela em que eles j á se encont ravam desde o advent o da t elevisão no Brasil, em 1950. Essas inform ações, int roduzidas quase aleat oriam ent e, j á são suficient es para m ost rar que a defasagem ent re a consolidação da cult ura de m assas no Brasil, ainda que com um m odelo bem próprio, foi de aproxim adam ent e um a década e que, desde ent ão, ela nunca parou de evoluir e de se adequar aos m om ent os polít ico e t ecnológico de suas congêneres nos países m ais desenvolvidos. Um exem plo disso é o fato de que já há, desde alguns anos, transm issão de TV digit al de alt a definição nas capit ais e grandes cidades do int erior do país. Out ro exem plo: considerando que t am bém a I nt ernet se t ornou um m edium im port ant e da indúst ria cult ural, é oport uno relem brar que o Brasil se encont ra ent re os países do m undo com m aior núm ero de conexões à web e perde para poucos out ros em núm ero de horas sem anais de uso desse recurso. Por t udo isso, podem os dizer, sem m edo de errar: yes, we do have cult ure indust ry. DUARTE, Rodrigo. A estética e a discussão sobre indústria cultural no Brasil. I deias, Cam pinas, v.3, n. 1(4), p. 83- 84, j an. / j un. 2012. [ Fragm ento] Est údio Kalablu OuTRA VIsãO sObRE A MíDIA: MARshALL McLuhAN E A ALDEIA GLObAL Marshall McLuhan. 68 Coleção Filosofia / Sociologia O teórico canadense Marshall McLuhan (1911-1980) possuía um a visão divergente da defendida pelos teóricos da Teoria Crít ica em relação aos m eios de com unicação de m assa. Em seus livros O m eio é a m ensagem ( 1967) e Guerra e paz na aldeia global (1970), McLuhan apresenta um a visão positiva da m ídia e da própria indústria cultural, destacando suas im portantes contribuições no século XX. As reflexões de McLuhan recaíam sobre os usos que os indivíduos fazem dos m eios de com unicação e, consequentem ente, com o conseguem alterar o am biente em que vivem por m eio dessa interação. McLuhan entende que o surgim ento de novas tecnologias de inform ação enseja tam bém novas form as de pensam ento e, por conseguinte, novas form as de organização social. A per spect iv a adot ada por McLu h an n os f az pen sar, por t ant o, que m udanças no univer so sim bólico causam m udanças não apenas nos aspect os cult urais, com o t am bém polít icos e sociais. Pensem os, por exem plo, no m om ent o em que passou a ser possível o regist ro de docum ent os escrit os. A part ir desse m om ent o, os seres hum anos passaram a desenvolver um a cult ura que t em por base o arm azenam ent o de in f or m ações escr it as, o qu e ev iden t em en t e cau sou ef eit os n as r elações in t er pessoais. Se, an t er ior m en t e, a oralidade era um fat or preponderant e para se est rut urar u m a socied ad e, p od em os su p or q u e h av ia in d iv íd u os en car r egados de t r an sm it ir det er m in adas in for m ações, e essa posição lhes conferia poder. Com o desenvolvim ent o d a escr it a, esses in d iv íd u os p er d er am o seu p od er, e novas r elações ent r e os indiv íduos e o conhecim ent o foram est abelecidas. O desenvolv im ent o dos m eios de com unicação e das t ecn ologias de in for m ação t am bém possu i u m aspect o t ransform ador, especialm ent e no t em po e no espaço das sociedades contem porâneas. A possibilidade de se encurtar as dist âncias espaciais e t em porais at ravés dos m eios de com unicação recriou o m undo social sob a perspect iva de um a aldeia global. Para McLuhan, esse conceito representa um m undo interconectado onde os indivíduos coabitam um m esm o espaço, ainda que exist am dist âncias geográficas e diferenças culturais. A aldeia global é um novo espaço de int eração e sociabilidade. At ualm ent e, esse conceit o ganha um a nova força, especialm ent e se pensarm os no conceit o de ciberespaço propost o pelo t eórico francês Pierre Lévy. cIbERcuLTuRA Pier r e Lév y, sociólog o f r an cês r ad icad o n o Can ad á, t ornou- se referência para pensar os im pact os das t ecnologias de com unicação ligadas à I nt er net sobr e a or ganização da vida social e da cult ura. Suas noções de cybercult ura ( ou cib er cu lt u r a) e cy b er esp aço ( ou cib er esp aço) são f u n dam en t ais par a com pr een der a con t em por an eidade virt ual. O ciberespaço se refere aos espaços de int eração form ados pelos com put adores int erconect ados pela I nt ernet e pela convergência das m ídias digit ais. O ciberespaço é onde se cria a cham ada cibercult ura, em que cada indivíduo ou grupo de indivíduos t em a possibilidade de ser t am bém um em issor de cont eúdo, o que lhe confere novas possiblidades de ação no m undo virt ual. A cultura e os meios de comunicação o term o [ ciberespaço] especifica não apenas a infraestrutura m at erial da com unicação digit al, m as t am bém o universo oceânico de inform ação que ela abriga, assim com o os seres hum anos que navegam e alim entam esse universo. Quanto ao neologism o “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas ( m ateriais e intelectuais) , de práticas, de atitudes, de m odos de pensam ento e de valores que se desenvolvem j untam ente com o crescim ento do ciberespaço. LÉVY, Pierre. Cibercult ura. São Paulo: Edit ora Golit ora 34, 1999. p. 17. [ Fragm ent o] No entanto, Lévy, assim com o McLuhan, havia preconizado a m udança de postura em relação ao m eio de com unicação, que engendra novas form as de com unicação entre seres e tam bém novas relações entre pessoas e o conhecim ento. Cada vez m ais im ersos no ciberespaço, seria necessária um a reform ulação das práticas sociais para com portar a nova dinâm ica de relações, cada vez m ais m odificadas pelo ciberespaço. O que é preciso aprender não pode m ais ser planej ado nem precisam ente definido com antecedência. [ ...] Devem os const r uir nov os m odelos do espaço dos conhecim ent os. No lugar de representação em escalas lineares e paralelas, em pirâm ides est rut uradas em “ níveis”, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devem os preferir a im agem em espaços de conhecim entos em ergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os obj etivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa posição singular e evolutiva. LÉVY, Pier r e, 1 9 9 9 . p. 1 5 8 . As concepções de McLuhan e Lév y sobr e os m eios de co m u n i cação en co n t r ar am eco n o s r ecen t es ev en t o s env olv en do algu n s países ár abes n os an os de 2 0 1 0 a 2 0 1 2 , n o q u e est á sen d o con h ecid o com o Pr im av er a Árabe. Na Líbia, no Egit o, na Tunísia e na Sír ia, para cit ar algu n s ex em plos, par t e da popu lação se apr opr iou da I nt er net e das r edes sociais para difundir infor m ações e organizar m ovim ent os de prot est o em oposição aos regim es dit at or iais que com andavam seus países. Esses event os m ost ram com o a I nt er net , um m eio de com unicação de m assa, desem penha um papel decisivo na configuração desses e de out r os m ov im ent os sociais e polít icos do início do século XXI . cONTRAcuLTuRA E TRIbOs uRbANAs O t erm o “ cont racult ura” se refere a um am plo espect ro de t endências, corrent es e m anifest ações cult urais que, de algum a form a, represent am um a reação e um a oposição à cult ura de m assa dom inant e nas sociedades ocident ais. Essa oposição ao m ainst ream faz com que as cont racult uras sej am alocadas de f or m a m ar gin al n as m an if est ações cult urais, por isso não é rar o a r efer ência a elas com o cult uras underground. Norm alm ent e, associa- se o surgim ent o da cont racult ura à efervescência dos anos 1960, quando eclodem m uit os movimentos juvenis de oposição à política econômica capitalista, às guerras (especialm ente à Guerra do Vietnã), e contra a rígida m oral conservadora de m atriz cristã. Noções básicas da sociedade ocidental, com o o trabalho, a disciplina, o patriotism o, passam a ser alvo de críticas e de atitudes críticas. Som a-se a isso o despontar de novas tendências de com portam ento e de estilo contrárias à estética convencional, as quais passam a caracterizar subgrupos na ordem urbana, que são denotados por preferências m usicais e de vestim entas identitárias. É nest e cont ext o que surgem os principais m ovim ent os de cont racult ura: hippie, punk e hip- hop, assim com o o Tr opicalism o no Brasil, cada um associado a um gr upo e a ident idades ideológicas e est ét icas específicas, m as com ungando um a rej eição aos m esm os “ inim igos”. Com o resum iu o sociólogo Carlos Albert o Pereira: De um lado, o t erm o “ cont racult ura” pode se referir ao conj unt o de m ovim ent os de rebelião da j uvent ude [ ...] que m arcaram os anos 60: o m ovim ent o hippie, a m úsica rock, um a cer t a m ov im ent ação nas univer sidades, v iagens de m ochila, drogas e assim por diant e. [ ...] Trat a- se, ent ão, de um fenôm eno dat ado e sit uado hist oricam ent e e que, em bora m uit o próxim o de nós, j á faz part e do passado. [ ...] De out ro lado, o m esm o t erm o pode t am bém se referir a algum a coisa m ais geral, m ais abst rat a, um cert o espírit o, um cert o m odo de cont est ação, de enfrent am ent o diant e da ordem vigent e, de caráter profundam ente radical e bastante estranho às forças m ais tradicionais de oposição a esta m esm a ordem dom inante. Um t ipo de crít ica anárquica – est a parece ser a palavra- chave – que, de cert a m aneira, “ rom pe com as regras do j ogo” em t erm os de m odo de se fazer oposição a um a det erm inada sit uação. [ ...] Um a cont racult ura, ent endida assim , reaparece de t em pos em t em pos, em diferent es épocas e sit uações, e costum a ter um papel fortem ente revigorador da crítica social. PEREI RA, Carlos Albert o M. O que é cont racult ura. São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 20. Muitos teóricos consideram que o auge das contraculturas ocorreu nas décadas de 1960 e 1970, época em que os m ov im ent os possuíam car át er polít ico e t ransfor m ador. Nas décadas 1980 e 1990, no entanto, os m ovim entos de contracultura já teriam sido, em parte, incorporados pela lógica de m ercado e passado a represent ar est ereót ipos j uvenis explorados com ercialm ente pela I ndústria Cultural. O sociólogo Michel Maffesoli observou que, ainda assim , as contraculturas continuavam a inspirar os grupos juvenis no fenôm eno das tribos urbanas, cada vez m ais recorrente nas m etrópoles ocidentais. Para Maffesoli, as tribos urbanas continuariam sendo formas identitárias de organização coletiva, porém mais voltadas para um a atuação estética do que para a prática política. No entanto, um a parte da identidade de m uitos adolescentes tende a ser form ada no interior desses grupos, que nascem em torno de interesses em com um , nutrindo um certo sentim ento de pertença e de exclusivism o por parte de seus m em bros. Mesm o assim , a partir da década de 1990, percebe- se um a m aior fluidez de participação entre tribos. Em os, headbangers, m et aleiros, funkeiros, skinheads e rappers são exem plos dessas com unidades urbanas de grande im port ância para a form ação da identidade j uvenil. Bernoulli Sistema de Ensino 69 sOcIOLOGIA Nas palavras do próprio sociólogo, Frente A Módulo 06 A IDENTIDADE cuLTuRAL NA Pós-MODERNIDADE A par t ir da década de 1 9 7 0 , desenv olv em - se v ár ios est udos sobre a cult ura no cenário da pós- m odernidade. St ua rt H a ll ( 1932- 2014) , sociólogo j am aicano, ident ificou que a form ação da identidade cultural no período pós-m oderno possui caract eríst icas bast ant e específicas e com plexas em razão da m ult iplicidade de influências sobre o indivíduo. Cada vez m ais urbano, o indivíduo é bom bardeado por inform ações, im agens, valores, cr enças, com por t am ent os e consum o. O cenário caót ico e fragm ent ado da pós- m odernidade produz um a crise de ident idade cult ural, afet ando t ant o os indivíduos quant o as sociedades em geral. Em seu livro A ident idade cult ural na pós- m odernidade ( 1992) , Hall identifica que as sociedades do final do século XX têm sofrido um a m udança estrutural: as “ paisagens culturais”, antes sólidas e estáveis, com o o gênero, a sexualidade, a etnia, a raça e a nacionalidade, passam a se fragm entar em inúm eras outras categorias sociais e culturais. I m pactados por m uitas influências controversas e contraditórias, as pessoas ficam divididas, periodicam ente, entre os velhos e novos padrões. Ao longo do século XX, diversas t eorias colocaram em xeque a aut onom ia e a est abilidade da noção de suj eit o, fundada no eu racional do I lum inism o. Em vez de serm os os aut ores conscient es e livres da hist ória, nos vem os cada vez m ais at relados a forças inconscient es ou a poderes de ordem m acrossocial ( polít ica, econom ia, m ídia) , que im possibilit am a livre- realização do eu. Além disso, a globalização int ensificou e acelerou a difusão de ideias e a int eração ent re cult uras. Consequent em ent e, a p ar t i r d o m ov i m en t o aci m a ex p l i ci t ad o, su r g e u m h ibr idism o cu lt u r a l, ist o é, as cult uras se m ist uram e se ressignificam , porém não de form a livre e espont ânea, e sim segundo um a lógica de poder e dom inação. Um dos riscos desse hibridism o est á na subm issão de cult uras de povos com m enor poder polít ico- econôm ico e a consequent e h om oge n e iza çã o cu lt u r a l. Essa hom ogeneização opera de for m a desigual, logo, as cult uras das nações indust r ializadas pr om ovem um a “ocidentalização” que se im põe sobre os países periféricos. I sso pode resultar num fortalecim ento de identidades locais ( com o reação defensiva contra os grupos dom inantes) ou a produção de novas ident idades híbridas ( o que com um ent e t em se verificado). A história do Brasil é m arcada por essas identidades híbridas, que surgiram e continuam a surgir do sincretism o advindo da confluência de diversas m atrizes culturais (indígena, africana, europeia) . Manifestações culturais com o as festas de Congado, em Minas Gerais, possuem elem entos tanto do crist ianism o t razido com os port ugueses quant o de rit uais polít ico- religiosos da região cent ral da África, m ist urados, reelaborados, ressignificados em função do contexto próprio vivenciado pelos negros escravizados no Brasil. 70 Coleção Filosofia / Sociologia Nesse cenário, as ident idades nacionais se t ornam cada vez m ais deslocadas e fragilizadas, deixando de conceder su por t e par a a su st en t ação de pr oj et os de u n if icação de um povo ou nação, sendo subst it uídas por pr oj et os m er cad ol óg i cos ou m i d i át i cos. O i n d i v íd u o m od er n o, port ant o, acaba por t er que const ruir sua própria ident idade de form a fragm ent ada, inst ável e cont radit ória, im erso em um cenário cada vez m ais com plexo. A publicidade, que é um a decor r ência do conceit o de p r op ag an d a, é t am b ém p er su asiv a, m as com ob j et iv o com er cial bem car act er izado. Por t an t o, a pu blicidade é definida com o a art e de despert ar no público o desej o de com prar, levando- o à ação. A publicidade é um conj unt o de t écnicas de ação colet ivas, ut ilizadas no sent ido de prom over o lucro de um a at ividade com ercial, conquist ando, aum ent ando ou m ant endo client es. A propaganda [ é a] expressão que abrange a divulgação do nom e de pessoas ( propaganda eleit oral ou profissional) , de coisas à venda ( m ercadorias, im óveis, et c.) e t am bém de ideias ( pr opagan da dos evan gelh os, do com u n ism o, do nazism o, etc.) . Quando tem obj etivos com erciais, cham a- se preferencialm ent e “ publicidade”. Seg u n d o Eu g ên io Malan g a ( p r of essor u n iv er sit ár io e escr it or ) , “ A p r op ag an d a p od e ser con ceit u ad a com o: at ividade que t ende a influenciar o hom em , com o obj et ivo r eligioso, polít ico ou cívico. A pr opaganda, por t ant o, é a propagação de ideias, m as sem finalidade com ercial. Secret aria da Edução do Governo do Est ado do Paraná. Disponível em : < ht t p: / / www.sociologia.seed.pr.gov.br/ m odules/ cont eudo/ cont eudo.php?cont eudo= 345> . Acesso em : 03 set . 2018. [ Fragm ent o] “A INDúsTRIA cuLTuRAL sObREVIVE DO QuE é REcALcADO NA cAPAcIDADE DE PERcEPçãO EsTéTIcA DAs PEssOAs”, ANALIsA FILósOFO DA uFMG. Na pr im eira m et ade do século 20, nom es com o Theodor W. Ador no e Max Hor k heim er t rat aram de t eor izar um a com plet a cr ít ica às n ef ast as in f lu ên cias qu e o capit alism o passava a exer cer sobr e as r elações ent r e o ser hum ano e a sua pr odução cult ural. [ . . . ] o pr ofessor Rodr igo Duar t e, do Depar t am ent o de Filosofia da Fafich [ ...] fala sobr e [ ...] o funcionam ent o da indúst r ia cult ural com o disposit ivo de geração e m anut enção de confor m idade, as nov idades adv indas da t ecnologia para a r eflex ão sobr e a indúst r ia cult ural, os cam inhos da ar t e diant e da m er cant ilização da cult ura. A cultura e os meios de comunicação Quando o capit alism o m onopolist a sur giu, ent r e o fim do século XI X e o início do século XX, países que t inham t radição dem ocrát ica com o França, I nglat erra e, depois, Est ados Unidos Eles j á t êm prat icam ent e um cat álogo de em oções e de efeit os que suscit em det erm inadas em oções. Daí eles criam ou supervisionam criações que levam em consideração esses cat álogos. São os “ criadores” da indúst ria cult ural. t iv er am q u e d esen v olv er m ecan ism os p ar a g ar an t ir q u e a Desde a fundação de Hollyw ood, o m undo m udou dem ais. dom inação econôm ica advinda desse novo m odelo econôm ico É de se im a gina r que t a is m uda nça s im pa ct a ra m a indúst ria persist isse coexist indo com algum t ipo de liberalism o polít ico. A cu lt u r a l n e ssa su a ca r a ct e r íst ica de pe r scr u t a r de m a n da s indúst ria cult ural surgiu nest e cont ext o, com o papel de facilit ar la t e n t e s e a o m e sm o t e m po a t e n dê - la s e m con for m ida de essa convivência ent re capit alism o não concorrencial na econom ia com a s n e ce ssida de s do ca pit a l... e liberalism o no âm bit o polít ico. De cer t a for m a, a indúst r ia cultural nasce com a tarefa sistêm ica de salvar esse capitalism o. E ela sem pre desem penhou bem esse papel. Desem penhou e at é hoj e desem penha. Na verdade, cada vez m ais a indúst ria cult ural pode ser considerada com o a pont a de lança do capit alism o. Com o e la fu n cion a , pr opr ia m e n t e ? Um a indúst ria t em a t arefa de gerar lucro; dar ret orno ao capit al invest ido. Para gerar lucro, é preciso gerar conform idade: é a conform idade gerada hoj e que garant e o lucro de am anhã. Ent ão a indúst ria cult ural t em essa t arefa de gerar conform idade. A prim eira propost a de crít ica radical à indúst ria cult ural, feit a por Adorno e Horkheim er na Dialét ica do Esclarecim ent o, é da sOcIOLOGIA Com o su r ge a in dú st r ia cu lt u r a l? década de 1940, ist o é, durant e a Segunda Guer ra Mundial. De lá para cá, houve m udanças geopolít icas m uit o im port ant es. [ ...] Por out ro lado, houve t am bém um a inim aginável evolução t ecnológica nos m eios de produção e difusão audiovisual. [ ...] Esses disposit ivos t ecnológicos m odificaram , sim , a relação da indúst ria cult ural com o seu público. A pergunt a, nest e sent ido, seria: daquele prim eiro m odelo crít ico est abelecido por Adorno e Horkheim er, o que poderia ser aproveit ado para se abordar a Em últ im a inst ância, assegurar o lucro de am anhã t em a ver com indúst ria cult ural at ualm ent e? Conform e cit ei, o que a indúst ria a m anut enção do capit alism o t al com o ele exist e. cult ural t em de essencial é um a apropriação de m eios t ecnológicos para garant ir um t ipo específico de dom inação polít ica e econôm ica Com o fu n cion a e ssa ge r a çã o de con for m ida de ? que coex ist a com dem ocracias liberais. I sso, a despeit o das Desde seu surgim ento, um dos principais trunfos da indústria incríveis m udanças tecnológicas e geopolíticas que aconteceram , cultural é a sua capacidade de estar próxim a do público o suficiente não m udou de lá para cá. Todas as m udanças foram sendo para perscrutá-lo em relação às suas dem andas latentes, potenciais: capit alizadas com o m ais um elem ent o para a apropriação das aquelas que são pouco conhecidas até por ele m esm o. A partir dem andas do público. desse conhecim ento, as principais agências da indústria cultural passam a oferecer respostas para essas dem andas. No entanto, essas respostas são dadas não em conform idade com as questões e problem as que a sociedade está form ulando, m as em acordo com as necessidades do capital. Neste aspecto, a indústria cultural não m udou praticam ente nada desde Adorno e Horkheim er. Pode r ia e x e m plifica r ? N ã o pa r e ce su r pr e e n de n t e e ssa ca pa cida de da in dú st r ia cu lt u r a l de se a da pt a r a t a n t a s m u da n ça s t e cn ológica s e g e op olít ica s e con se g u ir con t in u a r se a p r op r ia n d o d a s de m a n da s do pú blico? O q u e o co r r e é q u e o p r ó p r i o ca p i t a l i sm o se m p r e f o i bem - sucedido em se r einvent ar para cont inuar ex ist indo. [ ...] Ant es que o capit alism o acabasse, ele se r einvent ou. Ele se Vou dar um exem plo dos prim eiros anos da indúst ria cult ural, t or nou m onopolist a, oligopolist a. O capit alism o se adapt ou ao em que essa sint onia com a dem anda dos públicos era ainda sur gim ent o de dois blocos de for t e influência durant e a Guer ra b em ar t esan al. Est ou p en san d o n a ép oca d a f u n d ação d e Fr ia, se m oldou à queda do m ur o de Ber lim , se adapt ou ao Holly w ood por aqueles j á ent ão m agnat as – ant igos pobr es fim dessa bipolar idade, se r einvent ou com o sur gim ent o da im igrant es j udeus, oriundos do lest e europeu, que aport aram globalização econôm ica e, por t abela, polít ica. nos Est ados Unidos na v irada do século XI X para o XX. Um deles, Sam uel Goldw yn ( fundador da Met r o- Goldw yn- Mayer ) , quando lançava um film e, ia para o cinem a assist i- lo de cost as para a t ela, observando pessoalm ent e cada reação do público. Suas per cepções sobr e o que hav ia funcionado e o que não havia funcionado no film e serviriam para balizar as próxim as p r od u ções d o seu est ú d io. A p ar t ir d e en t ão, q u an d o ele recebesse a propost a de um a nova produção, ele diria sim ou Com o advent o da int ernet , despont ou cert a esperança de qu e e la , com a t r a n siçã o da pa ssivida de pa r a a a t ivida de , f in a lm e n t e p r op icia sse u m a e m a n cip a çã o d os su j e it os e m r e la çã o a e ssa in ge r ê n cia da in dú st r ia cu lt u r a l n a s de m a n da s socia is p or cu lt u r a . N o e n t a n t o, p e n sa d or e s j á fa ze m h oj e a r e fle x ã o de qu e n e m m e sm o a in t e r n e t e sca pou de se r t r a ga da pe la in dú st r ia cu lt u r a l... não para ela em função da percepção t ida por ele da dem anda. Exat am ent e. Em vez de fom ent ar essa em ancipação, a internet Cer t a v ez, Ad or n o d isse q u e os p r od u t or es m ais ar g u t os se configurou com o um m eio de tornar contínua essa pesquisa d a i n d ú st r i a cu l t u r al er am “ en g en h ei r os d e em oções”. da indúst r ia cult ural em r elação à dem anda de seu público. Bernoulli Sistema de Ensino 71 Frente A Módulo 06 Na ver dade, por m eio da t ecnologia, a int er net t or nou essa pesquisa m uit o m ais exat a. Hoj e, se você faz um a busca no Google, nos dias seguint es, senão no m esm o dia, você com eça a receber publicidade relacionada ao que você est ava procurando. I sso é exat am ent e o m ecanism o que caract erizou a indúst ria cult ural desde sem pre: o de se m ant er próxim a à dem anda do seu público e de oferecer produt os que supram essas dem andas Pr opa ga n da s a in da sã o m a ch ist a s e r a cist a s, e m bor a em conform idade com os int eresses do capit al. O Google faz isso h a j a sin a is de m u da n ça , diz Ca r la Alza m or a , dir e t or a da de um j eit o t ot alm ent e diabólico e aut om at izado. a gê n cia H e a ds Co m o d if e r e n cia r , n o s d ia s d e h o j e , o b r a d e a r t e e m e r ca dor ia cu lt u r a l? Há qu em diga qu e o m u n do da pu blicidade est á f ican do chat o e polit icam ent e corret o no Brasil, t am anho ‘policiam ent o’ Para Ador no e Hor k heim er, for m ados no cont ex t o de um a sobre algum as m ensagens em it idas por em presas na m ídia e cham ada alt a cult ura europeia, era m uit o clara a diferença ent re sobr e ações de m ar ket ing. Mas com o poder ia ser difer ent e? um a obra de art e e um a m ercadoria cult ural – em bora est as, claro, m uit as vezes se valessem cont eudist icam ent e das obras de art e. Mas elas t inham caract eríst icas m uit o específicas. Nesse sent ido, a dupla usou o parâm et ro dessa “ grande obra de art e burguesa europeia” para balizar suas crít icas às m ercadorias cult urais. De lá A publicidade se acost um ou a repet ir padrões que j á não fazem m ais sent ido para quem vive em pleno século XXI . Que o digam as m arcas de cervej a que ainda est am pam o clichê das m ulheres com corpões esculpidos para garant ir que aquela cervej a é m elhor. para cá, no entanto, as m ercadorias culturais foram se sofisticando, Para Carla Alzam ora, diret ora de planej am ent o da agência Heads, d ei x an d o d e ser t ão v ag ab u n d as co m o er am a p r i n cíp i o. “ existe um lugar com um na publicidade onde contam os as m esm as Em cont rapart ida, vários art ist as ent enderam que precisariam hist órias e usam os as m esm as referências, sem olhar para a dialogar, de algum m odo, com a produção m ercant il no cont ext o realidade”. No fundo, um a visão preguiçosa da realidade. Dessa da cult ura. I sso t udo fez com que a diferenciação ent re obra de form a, cont inuam a ser produzidas propagadas que abusam , art e e m ercadoria cult ural t enha se t ornado m ais problem át ica nos dias de hoj e. Não que t enha deixado de exist ir. É que o lim it e ent re um a coisa e out ra é m ais t ênue. [ ...] Qu a is se r ia m os cr it é r ios con t e m por â n e os pa r a fa z e r e ssa dist in çã o? por exem plo, do racism o e do m achism o. [ ...] A publicidade, e o m arket ing de um a m aneira geral, ainda insist e em padrões de com port am ent o diferent es para hom ens e Pa r a o cr ít i co, p a r a o est et a , p a r a o f i l ó so f o d a a r t e, m ulheres, observa a diret ora da HEADs. Enquant o a propaganda é preciso m uit o m ais feeling que qualquer out ra coisa. Para não de barbeador m ost ra um hom em com o um super herói pront o se deixar enganar. Ele precisa t er um a espécie de “ faro”, porque para salvar o m undo, a propaganda de rem édio para dor de cabeça há produções nos dois cam pos que est ão m uit o próxim as um as exibe a m ulher em sit uação lim it es, t ent ando dar cont a de rot ina das out ras. dupla, prest es a t er um chilique. Qu e e x e m plo pode da r ? Para piorar, há ainda a dit adura de um padrão de beleza. Ocorre- m e agora o caso do Rom ero Brit t o. Não conheço nenhum A p r esen ça d e h o m en s e m u l h er es b r an co s é ex cessi v a, crít ico de art e que sej a sério e que considere o Rom ero Brit t o j á qu e 5 3 % da popu lação br asileir a qu e se declar a n egr a, um grande art ist a; nem m esm o um “ art ist a”. Trat a- se de alguém segundo o I BGE. “ De acordo com 67% dos post s m onit orados que aprendeu a fazer cert o t ipo de grafism o e que com eçou a no Facebook , as m ulher es são r epr esent adas com o a Br una produzir isso - ou a perm it ir a produção disso - em larga escala, em m assa. E que ficou rico com isso. É um a produção que j á est á claram ent e colocada do lado da cult ura de m assa, da m ercadoria cult ural. Já a pop art reúne um t ipo de expressão art íst ica m ais com plexa, que poderia ser confundida com cult ura de m assa e que em algum as ocasiões at é foi confundida; m as que não é cult ura de m assa. I sso é algo que o t rabalho do Art hur Dant o m ost r ou bem . Ex ist e, sim , um a apr opr iação da pop ar t pela cult ura de m assa. Mas o Andy Warhol, por exem plo, é um art ist a m uit o m ais profundo e m uit o m ais sério do que a im agem que Marquezine. No caso dos hom ens, 64% dos post s descrevem os hom ens com o Just in Bieber ”, afirm a Carla Alzam ora, da Heads, agência que que desenvolveu o est udo TODXS? – Um a análise da represent at ividade na publicidade brasileira. [ ...] A boa not ícia é que j á com eça a ganhar dest aque um m ov im ent o cont r ár io, focado em dialogar com as m ulher es. O con j u n t o d e an ú n cios q u e am b icion am u m a q u eb r a d e p ar ad ig m a e f ocam n o em p od er am en t o f em in in o r eceb eu ele const ruiu para si próprio e buscou dem onst rar. Nesse sent ido, invest im ent o de 12 m ilhões de reais [ ...] . Esse é um m ovim ent o para se dist inguir ent r e obra de ar t e e m er cador ia cult ural, novo e t ão carent e de inform ação, que m uit as em presas t êm é preciso perceber aqueles casos em que não há nada por t rás buscado nas ONGs fem inist as um suport e para acert ar em suas do flert e que t al produção faz com a art e. escolhas. É o caso da ONG Think Olga, que ficou conhecida a Disponível em : < ht t ps: / / www.ufm g.br/ online/ arquivos/ 034508> . Acesso em : 03 set . 2018. 72 PubLIcIDADE bRAsILEIRA TEM VIsãO PREGuIçOsA sObRE A MuLhER Coleção Filosofia / Sociologia part ir da cam panha Chega de Fiu Fiu, cont ra o assédio em locais públicos, e a cam panha # Meuprim eiroassédio. A cultura e os meios de comunicação Para at ender a dem anda das em presas, a ONG decidiu am pliar suas ações e criou o Think Eva, um núcleo que planej a dest acar para m ar cas e em pr esas a nova realidade das m ulheres dos novos t em pos. A Avon foi um a das em presas que procurou a ONG, int er essada em ut ilizar o em poderam ent o fem inino no discurso da m arca no Brasil. “A Olga faz a m udança de fora para dent ro e a Eva de dent ro para fora”, explica Nana Lim a, sócia do Think Olga. [ ...] Por qu e n os de ix a m os con ve n ce r ? Pedr o Ber m ej o, n eu r ologist a e pr esiden t e da Associação Espanhola de Neuroeconom ia ( Asocene) , explica que, cada vez que t om am os um a decisão, “ duas part es de nossos cérebros podem ser at ivadas, a do sim e a do não”. Em função de qual das duas t endências prevaleça sobre a out ra, est arem os m ais ou m enos inclinados a gast ar dinheiro naquilo que um vendedor, um anúncio ou um polít ico nos oferece. “ Coloca- se o consum idor OLI VEI RA, Regiane. Disponível em : < ht t ps: / / brasil.elpais. num aparelho de ressonância m agnét ica e com eça- se a vender com / brasil/ 2016/ 12/ 09/ polit ica/ 1481316857_826950. os produt os. Pode- se saber o que dirá t rês ou quat ro segundos ht m l> . Acesso em : 03 set . 2018. ant es que ele responda, porque o cérebro denuncia”, afirm a o Os ANúNcIOs ENTRAM NA suA cAbEçA, EMbORA às VEzEs VOcê NãO PERcEbA sOcIOLOGIA cient ist a. [ ...] Podem os fazer algo para evit ar que out ros t om em as decisões por nós? “ Precisam os nos inform ar: a única m aneira para nos defenderm os é t er conhecim ent o e t om ar as decisões com t em po. O conselho: nunca com pre na correria”, conclui Berm ej o. FEMMI NE, Laura. Disponível em : < ht t ps: / / brasil.elpais. A pe squ isa n e u r on a l e se n sor ia l por t r á s da pu blicida de com / brasil/ 2015/ 07/ 06/ econom ia/ 1436181514_967391. é ca da ve z m a is sofist ica da ht m l> . Acesso em : 03 set . 2018. Quant as vezes a expressão edição lim it ada na em balagem de algum produt o acelera sua vont ade de com prá- lo? Os produt os vendem m ais se forem prom ovidos por pessoas at raent es? Um arom a pode fazer você sacar o cart ão de crédit o? Nada é casual: as t écnicas ut ilizadas para saber o que at rai o consum idor são cada vez m ais sofist icadas, m esm o que às vezes apelem para os inst int os m ais prim it ivos. “ Para fazer pesquisa de m ercado, ant es eram usados os t ípicos quest ionários, e o ent revist ado era confr ont ado pelo ent r evist ador. Agora se pode per gunt ar diret am ent e ao cérebro”, resum e José Manuel Navarro, diret or do m est rado em Neurom arket ing da Escola Superior de Com unicação Market ing ( ESCO) . EXERcícIOs PROPOsTOs 01. (Unesp–2018) A m ídia é estética porque o seu poder de convencim ent o, a sua força de verdade e aut oridade, passa por categorias do entendim ento hum ano que estão pautadas na sensibilidade, e não na racionalidade. A m ídia nos influencia por im agens, e não por argum entos. Se a propaganda de um carro nos prom ete o dom da liberdade absoluta e não o entrega, a propaganda política não vai ser O neurom arket ing é essa disciplina que explora as reações m ais cuidadosa na entrega de suas prom essas sim bólicas, neuronais e sensoriais dos consum idores diant e de det erm inados m esm o porque ela se alim enta das m esm as categorias de est ím ulos, last reada pela cert eza de que a grande m aioria das nossas decisões de com pra se baseia nas em oções. “ São usadas t écnicas neurofisiológicas aplicadas, com o elet roencefalogram as, elet rocardiogram as, elet rom iogram as – para det ect ar a at ividade discurso m essiânico que a religião, outra grande área de venda de castelos no ar. FI ANCO, F. O desespero de pensar a política na sociedade do dos m úsculos –, ressonâncias m agnét icas funcionais, sist em as espet áculo. Disponível em : < ht t p: / / revist acult .uol.com .br, de eye- t racking – para det ect ar onde o olhar se fixa – ou o est udo 11.01.2017> ( Adapt ação) . das respost as orgânicas da pele, com o a sudorese”, com ent a Considerando o t ext o, a int egração ent re os m eios de Navar r o. “ Quer em os ver a influência r eal do que est á sendo narrado e com o est á sendo narrado”. “ Exist em at é encefalogram as port át eis, espécies de capacet es que vão regist rando a at ividade cerebral enquant o o indivíduo est á com prando”, diz Francis Blasco, coordenadora acadêm ica d o m e st r a d o e m Ne u r o m a r k e t i n g e Co m p o r t a m e n t o d o Consum idor da Universidade Com plut ense de Madri. “ Est am os t ent ando ent ender o padrão neuronal da com pra”, acrescent a. O obj et ivo? Conhecer as preferências dos com pradores ( m uit as das quais eles nem t êm consciência) para aj udar as em presas a aperfeiçoar seus processos de com unicação e produção, dizem os especialist as da área. Querem olhar dent ro de nossos cérebros para vender m ais. com unicação de m assa e o universo da polít ica apresent a com o im plicação A) a r edu ção da discu ssão polít ica aos padr ões da propaganda e do m arket ing. B) a am pliação concret a dos horizont es de liberdade na sociedade de m assas. C) o fort alecim ent o das inst it uições dem ocrát icas e dos direit os de cidadania. D) o a p e l o a r e cu r so s i n t e l e ct u a i s su p e r i o r e s d e int erpret ação da realidade. E) a m obilização de recursos sim bólicos am pliadores da racionalidade. Bernoulli Sistema de Ensino 73 Frente A 02. Módulo 06 Marque a alternativa correta que apresenta a(s) afirmação(ões) teoricam ente adequada(s) ao sentido do texto. (UEG-GO–2016) Para alguns sociólogos e filósofos, a cultura possuiria um valor int rínseco e poderia nos aj udar não apenas na fruição de nossa sensibilidade, m as nos levar a um a nova com preensão da realidade e de nosso ser e estar no m undo. Com a indústria cultural verifica-se que a cultura A) recupera seu valor sim bólico, cont ribuindo para um a nova com preensão da realidade e para a em ancipação hum ana. B) perde sua força sim bólica e crít ica, t ransform ando- se em mero entretenimento que elimina a reflexão crítica. A) I e I V são adequadas. B) Apenas I I é adequada. C) I e I I são adequadas. D) Apenas I é adequada. 04. P992 C) perde seu valor de m ercado para t ornar- se, graças à t ecnologia, um ent ret enim ent o acessível a t oda a população. D) deixa de ser um produto de elite e passa a ser acessível a t odos os cidadãos, cont ribuindo com sua aut onom ia. E) torna-se mais sofisticada, na medida em que os m eios de criação cult ural passam a ser subm et idos ao desenvolvim ent o t ecnológico. 03. LÉVY, P. Cibercult ura. São Paulo: Edit ora. 34, 1999. p. 113. ( UFU- MG) Leia e int erpret e o t ext o a seguir, bem com o as afirm ações apresent adas. Considerando as recent es cont ribuições da sociologia da com unicação sobre o t em a da cult ura m idiát ica e o t recho cit ado, assinale o que for corret o. A indúst ria cult ural e os m eios de com unicação de m assa penet ram em t odas as esferas da vida social, no m eio urbano ou rural, na vida profissional, nas at ividades r el i g i o sas, n o l azer, n a ed u cação, n a p ar t i ci p ação polít ica. Tais m eios de com unicação não só t ransm it em inform ações, não só apregoam m ensagens. Eles t am bém difundem m aneiras de se com port ar, propõem est ilos de vida, m odos de organizar a vida cot idiana, de arrum ar a casa, de se vest ir, m aneiras de falar e de escrever, de sonhar, de sofrer, de pensar, de lut ar, de am ar. 01. O ciberespaço suprim e as part icularidades cult urais e as desigualdades sociais, ao organizar de m odo im parcial as inform ações que são dist ribuídas em um nível planet ário. 02. A I nt er net é r esponsáv el pelos at uais pr oblem as educacionais, pois aliena os est udant es ao t orná- los r ecept or es passivos de infor m ações fragm ent adas e im precisas sobre a vida social. 04. O conceit o de cibercult ura pode ser ut ilizado para descrever o aparecim ent o de novos m odos de ser e de pensar que pr oduzem m udanças cognit ivas e sociais por m eio da int eração virt ual. SANTOS, José Luiz dos. O que é cult ura. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 69. Coleção Prim eiros Passos, 110. I. A i n d ú st r i a cu l t u r a l d e f i n e - se p o r u m a f o r m a específica de produção simbólica, essa produção é caract erizada por grandes inversões de capit al em meios de produção tecnicamente sofisticados, por t rabalhador es especializados, por ofer t a de bens e serviços diversificados, representando parte da produção cult ural dom inant e nas sociedades at uais. II. A indústria cultural define-se por aprisionar os sujeitos sociais dom inantes da produção cultural nas sociedades cont em porâneas. É responsável pelo aparecim ent o do hom em unidim ensional e das m assas alienadas, que não t êm qualquer ident idade cult ural, por realizarem - se, unicam ent e, na sociedade de consum o. I I I . A indúst ria cult ural e os m eios de com unicação de m assa são poder osos, pois con t r olam , de for m a a b so l u t a , t o d o s o s co n t e ú d o s d a s m e n sa g e n s q u e em it em , p ad r on izam d ef in it iv am en t e os sist em as sim bólicos de t odos os suj eit os sociais, homogeneizando e unificando a cultura global. I V. A indústria cultural e os m eios de com unicação de m assa são parte e propriedade autônom a do poder de Estado. São instrum entos de dom inação carism ática, individual e irracional para controlar os conflitos sociais, sendo im possível pensar seus produt os com o part e da art e e da cult ura das sociedades at uais. 74 Coleção Filosofia / Sociologia ( UEM- PR) A cada m inu t o que passa, n ovas pessoas passam a acessar a I nt ernet , novos com put adores são int er conect ados, novas infor m ações são inj et adas na rede. Quant o m ais o ciberespaço se am plia, m ais ele se t orna “ universal”, e m enos o m undo inform acional se torna t ot alizável. O universo da cibercult ura não possui nem cent ro nem linha diret riz. É vazio, sem cont eúdo part icular. Ou antes, ele os aceita todos, pois se concentra em colocar em cont at o um pont o qualquer com qualquer out ro, sej a qual for a carga sem ânt ica das ent idades relacionadas. 08. Ainda que inserida na indúst ria cult ural, a I nt ernet t em o pot encial de dem ocrat izar o acesso ao conhecim ent o por m eio da criação de novos espaços de produção, t roca e difusão de inform ações. 16. O ciberespaço represent a um a m udança t ecnológica e não cult ural, pois alt era os m odos de organizar e dist ribuir a inform ação e não os m odos de produção do conhecim ent o. Som a ( 05. ) ( UFPA) As novas t ecnologias da inform ação e com unicação t ornaram - se um a realidade nas relações sociais cont em porâneas e cont ribuem para a m aior int egração das pessoas nest e início do século XXI . Sobre as alt erações nas prát icas cult urais decorrent es dessas novas tecnologias inform acionais, é correto afirm ar: A) As pessoas deixaram de cont at ar as redes sociais j á con solidadas e as su bst it u ír am por en con t r os presenciais realizados por m eio da rede m undial de com put adores. B) As dinâm icas das culturas vinculadas à virtualidade dos m eios de com unicação consolidam a cultura popular em detrim ento da cultura de m assa e da indústria cultural. A cultura e os meios de comunicação A v iolência ur bana im pede que sej am am pliadas as r edes e gr upos sociais t radicionalm ent e v inculados ao capitalismo, o que intensifica o uso convencional dos ser v iços dos cor r eios. 08. D) A educação e a religião est ão apart adas do processo de ut ilização de m ídias elet rônicas, e isso causou o afast am ent o das pessoas das lut as por causas sociais m ais am plas. Com b ase n os con h ecim en t os sob r e as cr ít icas d e Ador no e Hor k heim er à indúst r ia cult ural, assinale a afir m at iva cor r et a. E) As novas t ecnologias de inform ação e com unicação t êm sido ut ilizadas nas ações colet ivas de pessoas envolvidas com as dem andas dos m ovim ent os sociais. 06. 8O3Y ( Unesp–2014) Os realit y shows são hoj e para a classe m ais abast ada e int elect ualizada da sociedade o que as novelas eram assim que se popularizaram com o produt o de cult ura m assificada: sinônim o de m au gost o. Com um a m aior aceit ação das novelas na esfera dos crít icos da m ídia, o realit y show segue agora com o gênero t elevisivo m u n d ial, t r an sm it id o em h or ár io n ob r e, e p r in cip al sím bolo da perda de qualidade do cont eúdo t elevisivo na sociedade pós- m oderna. Os realit y shows personificam as novas form as de ident ificação dos suj eit os nas sociedades pós- m oder nas. Pr ogram as com o o BBB são m ov idos pelas engr enagens de um a sociedade ex ibicionist a e consum ist a, que se m ant ém vendendo ao m esm o t em po a pr opost a de que cada um pode sair do anonim at o e conquist ar facilm ent e fam a e dinheiro. SOUSA, Sávia Lorena B. C. de. O realit y show com o obj et o de reflexão cult ural. Disponível em : < observat oriodaim prensa.com .br> . (UEL-PR) Os pensadores da Escola de Frankfurt, especialm ente Theodor Adorno e Max Horkheim er, são críticos da m entalidade que identifica o progresso técnico- científico com o progresso da hum anidade. Para eles, a ideologia da indústria cultural subm ete as artes à servidão das regras do m ercado capitalista. A) A indúst ria cult ural proporcionou a dem ocrat ização das art es erudit as, t ornando as obras raras e caras acessíveis à m aioria das pessoas. B) Sob os efeitos da massificação pela indústria e consumo cult urais, as art es t endem a ganhar força sim bólica e expressividade. C) A indúst ria cult ural fom ent ou os aspect os crít icos, inovadores e polêm icos das art es. D) O progresso técnico-científico pode ser entendido com o um m eio que a indústria cult ural usa para form ar indivíduos crít icos. E) A expressão “ indúst ria cult ural” indica um a cult ura baseada na ideia e na prát ica do consum o de produt os cult urais fabricados em série. 09. (UEM-PR–2018) Observe a foto a seguir: Sobre a relação ent re os m eios de com unicação de m assa e o público consum idor, é corret o afirm ar que A) a qualidade da program ação da t v não é condicionada pelas dem andas e desej os dos consum idores culturais. B) o realit y show é um a m ercadoria cult ural relacionada com processos em ocionais de seu público. C) o s cr i t ér i o s est ét i co s i n d ep en d em d o n ív el d e aut onom ia int elect ual dos consum idores. D) no caso dos realit y show s, a t elevisão est im ula a capacidade de fruição est ét ica do público consum idor. E) os pr ogram ador es pr ior izam aspect os for m at iv os relegando o entretenim ento a um a condição secundária. 07. ( Unioest e- PR) No período de 1960 a 1980, ident ifica- se um m ovim ent o cult ural que foi cham ado de cont racult ura. A est e respeit o podem os dizer que A) f o i u m m ov i m en t o cu l t u r al co n t r ár i o às n ov as norm as vigent es na sociedade, inserido dent ro das t ransform ações sociais acont ecidas no período que se segue ao pós- guerra, no qual ocorreu a recuperação socioeconôm ica e a est abilidade polít ica. B) tinha com o valores a elaboração de alternativas ao poder, novas form as de segregação, um a nova m usicalidade. C) buscava a r et om ada e dissem inação dos valor es perm anent es da sociedade am ericana, ant eriorm ent e abandonados. O term o Tropicália nasce com o nom e da obra de Hélio Oiticica exposta na m ostra Nova Objetividade Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM/ RJ, em abril de 1967. A obra pode ser descrita com o um am biente labiríntico, com plantas, areia, araras, poemas-objetos, capas de Parangolé e um aparelho de televisão. Disponível em : < ht t p: / / obviousm ag.org/ m y_cup_of_ t ea/ 2015/ 03/ art e- brasileira- - - ant ropagia- cult ural- e- om ovim ent o- t ropicalist a.ht m l> . O hom ônim o da art e apresent ada por esse art ist a plást ico foi o m ovim ent o m usical, que t inha com o um a de suas caract eríst icas a A) valorização de um a sociedade sem classes. B) revolução arm ada com o form a de rom per os est igm as sociais. D) vivências de gr upos ur banos e m ovim ent os com o h ippies, pu n k s, car ism át icos, pagodeir os, sk in s, sertanej os, sociedades alternativas, etc., são exem plos de experiências vividas em adesão à cont racult ura e repúdio aos padrões sociais vigent es. D) cont racult ura, o rom pim ent o das barreiras com port am ent ais da sociedade. E) não podem os falar de um m ovim ent o cont racult ural, pois na realidade ele nunca exist iu. E) forte influência da música erudita, apresentando um nacionalism o exacerbado. C) def esa de u m a socied ad e b u r g u esa, calcada n o m odernism o reacionário. Bernoulli Sistema de Ensino 75 sOcIOLOGIA C) Frente A 10. Módulo 06 ( Unesp–2014) Não som ent e os t ipos das canções de sucesso, os ast ros, as novelas ressurgem ciclicam ent e com o invariant es fixos, m as o cont eúdo específico do espet áculo só varia na aparência. O fracasso t em porário do herói, que ele sabe suport ar com o bom esport ist a que é; a boa palm ada que a nam orada recebe da m ão fort e do ast ro, são, com o t odos os det alhes, clichês pront os para ser em em pr egados ar bit rar iam ent e aqui e ali e com plet am ent e definidos pela finalidade que lhes cabe no esquem a. Desde o com eço do film e j á se sabe com o ele t erm ina, quem é recom pensado, e, ao escut ar a m úsica ligeira, o ouvido t reinado é perfeit am ent e capaz, desde os prim eiros com passos, de adivinhar o desenvolvim ent o do t em a e sent e- se feliz quando ele t em lugar com o previst o. O núm ero m édio de palavras é algo em que não se pode m exer. Sua produção é adm inist rada por especialist as, e sua pequena diversidade perm it e repart i- las facilm ent e no escrit ório. ADORNO, Theodor W.; HORKHEI MER, Max. A indúst ria cult ural com o m ist ificação das m assas. I n: Dialét ica do esclarecim ent o. 1947 ( Adapt ação) . 02. 64LF ( Enem –2016) Não est ou m ais pensando com o cost um ava pensar. Percebo isso de m odo m ais acent uado quando est ou lendo. Mergulhar num livro, ou num longo art igo, cost um ava ser fácil. I sso raram ent e ocorre at ualm ent e. Agora m inha at enção com eça a divagar depois de duas ou t rês páginas. Creio que sei o que est á acont ecendo. Por m ais de um a década venho passando m ais t em po o n - l i n e , p r o cu r a n d o e su r f a n d o e a l g u m a s v e ze s acrescent ando inform ação à grande bibliot eca da int ernet . A int ernet t em sido um a dádiva para um escrit or com o eu. Pesquisas que ant es exigiam dias de procura em j ornais ou na bibliot eca agora podem ser feit as em m inut os. Com o disse o t eórico da com unicação Marshall McLuhan nos anos 60, a m ídia não é apenas um canal passivo para o t ráfego de inform ação. Ela fornece a m at éria, m as t am bém m olda o processo de pensam ent o. E o que a net par ece fazer é pulver izar m inha capacidade de concent ração e cont em plação. CARR, N. Is Google making us stupid? Disponível em : < ht t p: / / www.t heat lant ic.com > . Acesso em : 17 fev. 2013 ( Adapt ação) . O t em a abordado pelo t ext o refere- se A) a o c o n t e ú d o i n t e l e c t u a l m e n t e c o m p l e x o d a s produções cult urais de m assa. Em relação à int ernet , a perspect iva defendida pelo aut or ressalt a um paradoxo que se caract eriza por B) à hegem onia da cult ura am er icana nos m eios de com unicação de m assa. A) associar uma experiência superficial à abundância de inform ações. C) a o m o n o p ó l i o d a i n f o r m a çã o e d a cu l t u r a p o r m inist érios est at ais. B) condicionar um a capacidade individual à desorganização da rede. D) ao aspect o posit ivo da dem ocrat ização da cult ura na sociedade de consum o. C) agregar um a t endência cont em porânea à aceleração do t em po. E) aos procedim ent os de t ransform ação da cult ura em m eio de ent ret enim ent o. D) apr ox im ar um a m ídia inovadora à passiv idade da recepção. sEçãO ENEM 01. ( Enem –2016) Hoj e, a indúst ria cult ural assum iu a herança 5GPS civilizat ória da dem ocracia de pioneiros e em presários, que t am pouco desenvolvera um a fineza de sent ido para os desvios espirit uais. Todos são livres para dançar e para se divert ir, do m esm o m odo que, desde a neut ralização hist órica da religião, são livres para ent rar em qualquer um a das inúm eras seit as. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflet e sem pre a coerção econôm ica, r ev ela- se em t odos os set or es com o a liber dade de escolher o que é sem pre a m esm a coisa. E) eq u i p ar ar u m a f er r am en t a d i g i t al à t ecn o l o g i a analógica. GAbARITO Meu aproveitamento Propostos Acertei ______ Errei ______ Acertei ______ Errei ______ 01. A 02. B 03. D 04. Som a 12 05. E 06. B ADORNO, T; HORKHEI MER, M. Dialét ica do esclarecim ent o: fragm ent os filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. 08. E A liberdade de escolha na civilização ocident al, de acordo 09. D com a análise do t ext o, é um ( a) 10. E A) legado social. B) pat rim ônio polít ico. C) produt o da m oralidade. D) conquist a da hum anidade. E) ilusão da cont em poraneidade. 76 07. A Coleção Filosofia / Sociologia seção Enem 01. E 02. A Total dos meus acertos: _____ de _____ . ______ %