IV Congresso Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais
13 e 14 de novembro de 2020, São Paulo/SP
Grupo 01 – História do Ensino de Sociologia
Coordenação:
Cristiano Bodart
Doutor em Sociologia (USP)
Professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Antonio Alberto Brunetta
Doutor em Sociologia (UNESP)
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Descrição
A pesquisa sobre a história do ensino de Sociologia no Brasil vem se constituindo
como uma linha de investigação relevante para compreensão dos processos de
institucionalização e legitimação do ensino das Ciências Sociais no país em seus
diversos níveis. Presente nos principais debates da área, a temática vem
produzindo uma série de pesquisas na pós-graduação e artigos em periódicos
acadêmicos que demostram diferentes aspectos do passado remoto e recente da
disciplina, evidenciando os currículos, os manuais escolares, os diferentes
sentidos pedagógicos, as perspectivas teóricas distintas, as trajetórias de agentes
e instituições educacionais que foram protagonistas nesse processo. Nesse
sentido, o GD busca proporcionar um espaço de diálogo e debate sobre a história
do ensino das Ciências Sociais, com ênfase no Ensino Básico e Superior,
considerando as múltiplas e peculiares experiências regionais, estaduais e
nacionais, sejam elas no âmbito público ou privado.
Palavras-chave: Ensino de Sociologia. História do Ensino de Sociologia.
Currículo. Ensino de Ciências Sociais.
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13 e 14 de novembro de 2020, São Paulo/SP
SENTIDOS DO ENSINO DE SOCIOLOGIA NAS REFORMAS
EDUCACIONAIS E SUAS RELAÇÕES COM A CONJUNTURA
SÓCIO-POLÍTICA BRASILEIRA: possíveis caminhos para
entender dinâmicas da disciplina no século XXI.
Vinícius Carvalho Lima
Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ)
E-mail:
[email protected]
Introdução do Problema
As propostas de inclusão da Sociologia como disciplina nos sistemas
educacionais brasileiros datam do final do século XIX. No entanto, somente em
1925, a Sociologia é incluída no ensino secundário e nas Escolas Normais de
Recife e do Rio de Janeiro. Na reforma de 1931, permanece no currículo, sendo
retirada em 1942, com retorno em 2008 por força da lei nº 11.684 onde permanece
até hoje. Pretendemos analisar os sentidos assumidos pela sociologia no currículo
escolar brasileiro em três períodos: na década de 1930, sua volta em 2008 e sua
presença atual na escola, faremos isto a partir da leitura das conjunturas
sociopolíticas brasileiras de cada período com o objetivo de comparar/analisar os
motivos pelos quais a disciplina entra e sai do currículo e as ameaças à sua
consolidação no currículo escolar. Nossa hipótese é que a presença ou não da
disciplina está condicionada a fatores relacionados às dinâmicas de intepretação
sobre a utilidade científica da disciplina.
Metodologia
Para investigar a institucionalização da Sociologia via espaço escolar
retomamos um conjunto amplo de debates que envolve reformas educacionais,
reflexões sobre a educação e o ensino (feitas por sociológicos, por agentes do
Estado, pela Igreja, entre outros atores), além de analisar os sentidos de
cientificidade em jogo no processo de construção do conhecimento sociológico.
Desse modo, foram fundamentais pesquisas documentais e bibliográficas que
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recuperam a trajetória da disciplina na primeira metade do século XX a partir de
enfoques diversos. Utilizamos estes documentos, além da imprensa formal, para
identificar a formatação, os interesses e usos do currículo de Sociologia. Além
disso, foram fundamentais as pesquisas realizadas presencialmente nos arquivos
do CPDOC/FGV, no Arquivo Edgard Leuenroth e a Biblioteca Octávio Ianni
(ambos do IFCH/UNICAMP), em busca – e respectiva coleta - de documentos
relevantes sobre os períodos estudados.
Desenvolvimento
Os conflitos em torno da introdução, retirada e permanência da disciplina
da escola brasileira exemplificam bem as relações e embates entre o campo
científico e escolar de um lado, e da esfera política, de outro, presentes no
processo de constituição de uma disciplina escolar. Com efeito, as relações sociais
estabelecidas no processo de produção da cientificidade são complexas e devem
ser constantemente (re)analisadas. Questões epistemológicas e a relação de
tensão permanente entre os problemas sociais e sociológicos, que por vezes nos
levam a desconstruir categorias e ângulos de visão normativos sobre os quais
questionamos a realidade, são questões de grande importância para a
investigação sociológica acadêmica, mas também para a prática profissional. Se
os obstáculos à produção de conhecimento devem ser constantemente pensados,
também a discussão sobre a escolarização e cientificidade da Sociologia é uma
discussão que, de fato, não pode ser deixada de lado, e é nosso objetivo fazê-la na
nossa comunicação.
Conclusões
Estabelecemos relações entre os campos da educação, história e sociologia
de modo que elas funcionassem como um corpus analítico e reflexivo estruturado,
pensando os agentes, sujeitos e o debate acerca da construção de sentidos para a
Sociologia, investigando a produção destes ideários e os relacionando as políticas
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nacionais e institucionais, e, como estes entram em disputa no campo científico de
maior escopo. Com isto, acreditamos que podemos avançar em relação a
conceituação de que o processo de produção de ideias e sentidos sociológicos se
relacionam. A reiterada investigação da produção destes sentidos, pode nos
ajudar a refletir sobre o tempo presente, sob pena de não avançarmos no debate
sobre o papel da Sociologia na escola. Com o cenário ataques verificados à
disciplina a partir de 2016, consideramos necessárias a manutenção e a
qualificação da Sociologia no currículo escolar brasileiro, para que os discentes
possam ler as dinâmicas sociais e para formação continua de profissionais dessas
áreas, que frente aos ataques realizados nos últimos anos tem visto sua demanda
profissional cair vertiginosamente.
Referências
ALVES, Eva Maria Siqueira; COSTA, Patrícia Rosalba Salvador Moura. Aspectos
Históricos da cadeira de Sociologia nos Estudos Secundários (1892-1925). Revista
Brasileira de História da Educação, v. 12, p. 31-51, 2006.
ARBOLEYA, Arilda Fortunata. Educação nos anos 1930 e os dilemas da
modernização no Brasil. Tese (Doutorado em Sociologia) - Setor de Ciências
Humanas da Universidade Federal do Paraná Curitiba - UFPR, 2017.
BOMENY, Helena. Os intelectuais da educação. 2ª edição. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2003.
DALLABRIDA, Norberto. A reforma Francisco Campos e a modernização
nacionalizada do ensino secundário. Educação, Porto Alegre, v. 32, n. 2, p. 185-191,
maio/ago. 2009.
MEUCCI, Simone. Sociologia na educação básica no Brasil: um balanço da experiência
remota e recente. Ciências Sociais UNISINOS, v.51, n.3, p. 251-260, 2015.
SOARES, Jefferson da Costa. A Construção do Currículo de Sociologia no Colégio Pedro
II (1925-1941). Cadernos de História da Educação, v. 14, n. 1, jan./abr. 2015.
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OS SENTIDOS ATRIBUÍDOS À SOCIOLOGIA NA
TRAMITAÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 746/2016 NO
CONGRESSO NACIONAL
Alexandre Barbosa Fraga
Universidade Federal do Rio de Janeiro
E-mail:
[email protected]
Reconstruindo a trajetória histórica da Sociologia na educação básica pelos
marcos legais (SANTOS, 2004), é possível observar quatro grandes períodos: a
institucionalização (1890-1941), a exclusão (1942-1981), a reinserção gradativa
(1982-2007) e o retorno obrigatório (2008-2017). O objetivo deste trabalho é
compreender mais profundamente o último marco legal desse percurso: a Medida
Provisória (MPV) no 746/2016, transformada na Lei no 13.415/2017, que
reformou o Ensino Médio e manteve a Sociologia enquanto “estudos e práticas”,
juntando-se a outras pesquisas (MACHALA, 2017; BODART; FEIJÓ, 2020).
Partindo da concepção de que a análise das reformas educacionais precisa ser
concomitante da tentativa de elucidar os diferentes sentidos atribuídos à
Sociologia e as percepções dos atores sociais que a defenderam ou suprimiram em
cada momento (Fraga, 2020), acompanhou-se toda a tramitação da Medida
Provisória no 746 no Congresso Nacional e as concepções dos parlamentares.
Em termos metodológicos, observaram-se tanto os trabalhos da Comissão
Mista quanto os debates e as votações nos plenários da Câmara dos Deputados e
do Senado. Para isso, as fontes documentais consultadas foram o Diário do
Congresso Nacional, o Diário da Câmara dos Deputados e o Diário do Senado
Federal,
nos
quais
se
tornou
possível
examinar
reuniões,
emendas,
requerimentos, audiências públicas e relatórios, bem como acompanhar as
posições defendidas pelos partidos, as falas de deputados e senadores e as
justificativas para serem contrários ou favoráveis à presença da Sociologia na
BNCC. Assistiram-se também aos vídeos com a íntegra das sessões da Câmara e
do Senado, de forma a ter acesso não apenas ao que foi dito, disponível de forma
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transcrita nos Diários, mas também aos gestos, ênfases e reações, elementos que
necessitam de filmagens para serem observados.
A publicação da Medida Provisória nº. 746 no Diário Oficial da União, em
23 de setembro de 2016, produziu efeitos jurídicos imediatos, mas, para se
converter definitivamente em lei ordinária, dependia da apreciação e aprovação
pelas duas Casas do Congresso Nacional. Como essa MPV retirou a
obrigatoriedade das disciplinas Arte, Educação Física, Filosofia e Sociologia na
educação básica, fez os profissionais dessas áreas acompanharem com apreensão
a tramitação. O primeiro passo desse processo foi a designação, em 27 de
setembro, de uma Comissão Mista, formada por 12 senadores e 12 deputados,
para analisar previamente os pressupostos constitucionais de relevância e
urgência, o mérito e a adequação financeira e orçamentária da MPV. Essa
Comissão recebeu 568 emendas de parlamentares sugerindo mudanças, entre as
quais algumas buscavam evitar a exclusão da Sociologia. Em sua 12a reunião, em
30 de novembro, o parecer da Comissão Mista foi pela aprovação da MPV e,
apesar de ter decidido pela volta da obrigatoriedade de Arte e Educação Física,
manteve Sociologia e Filosofia de fora. Como houve a alteração do texto original
recebido, apresentou-se o Projeto de Lei de Conversão nº 34.
No próximo passo, esse projeto seguiu para o Plenário da Câmara dos
Deputados, obtendo aprovação em 07 de dezembro de 2016. Apareceram críticas a
não inclusão de Sociologia e Filosofia, mas o debate e a votação das emendas que
pretendiam modificar partes da proposta ficaram para a próxima sessão do
Plenário, no dia 13 de dezembro. Nessa data, depois de uma longa discussão
sobre a presença da Sociologia no currículo, na qual se puderam perceber os
diferentes sentidos atribuídos a ela, a emenda nº 24, de André Figueiredo (PDTCE), foi amplamente aprovada, com 324 votos a favor e apenas 5 contrários.
Sendo assim, acrescentou-se ao texto que a BNCC do Ensino Médio incluirá
obrigatoriamente “estudos e práticas” de Educação Física, Arte, Sociologia e
Filosofia. Como terceiro passo, o projeto chegou ao Senado, mas, por se tratar de
final de ano, a votação em Plenário ocorreu apenas em 8 de fevereiro de 2017,
quando o texto foi aceito na forma aprovada na Câmara dos Deputados. Por fim,
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no dia 16 de fevereiro de 2017, o presidente Michel Temer sancionou a reforma,
transformada na Lei nº 13.415/2017.
Entre as conclusões do trabalho, puderam-se perceber, nos discursos e nas
emendas dos parlamentares, divergências sobre o lugar que deveria ser ocupado
pela Sociologia no currículo. Uma proposta era ela estar apenas no ensino
fundamental, descartando todo o acúmulo de mais de dez anos de sua presença
no Ensino Médio. Outra proposta era torná-la obrigatória na BNCC (dividindo-se
em duas proposições: como disciplina ou como estudos e práticas), ou seja, na
parte formativa de todos os estudantes matriculados no Ensino Médio. Por fim,
uma terceira proposta defendia sua presença somente nos itinerários formativos,
isto é, na parte de preparação para o vestibular voltada unicamente aos
estudantes que desejarem se especializar na área de Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas. Em relação aos sentidos atribuídos à Sociologia, apareceram acusações
de doutrinação, mas também menções ao pensamento crítico, à reflexão sobre a
realidade e à formação para a cidadania, que foram analisadas pela pesquisa.
Referências
BODART, Cristiano das Neves; FEIJÓ, Fernanda. As ciências sociais no currículo
do ensino médio brasileiro. Espaço do Currículo, João Pessoa, v.13, n.2,
maio/ago. 2020. Pp. 219-234.
FRAGA, Alexandre Barbosa. Uma análise crítica sobre a reconstrução da
trajetória histórica da Sociologia na educação básica: investigando o chamado
período de exclusão. Ciências Sociais Unisinos, v.56, n.1, jan./abr. 2020.
MACHALA, Bárbara Nassif. A reforma do Ensino Médio no Brasil e seu impacto
no ensino da sociologia. Revista Três pontos, v. 14, n. 2, 2017. Pp. 17-25.
SANTOS, Mário Bispo dos. “A Sociologia no contexto das reformas do Ensino Médio”.
In: CARVALHO, Lejeune Mato Grosso de (Org.). Sociologia e ensino em debate:
experiências e discussão de sociologia no ensino médio. Ijuí: Unijuí, 2004.
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A SOCIOLOGIA SAI DA ESCOLA: a Reforma Capanema de
1942 e a batalha dos católicos em torno da disciplina no Brasil
Thiago da Costa Lopes
Fundação Oswaldo Cruz
Email:
[email protected]
No Brasil, a história da sociologia enquanto ramo que se pretendia
autônomo e específico do conhecimento científico esteve de tal modo entrelaçada,
nas primeiras décadas do século XX, ao ensino secundário que o fim da
obrigatoriedade da disciplina no currículo escolar com a Reforma Capanema de
1942 produziu repercussões consideráveis, ainda não inteiramente investigadas
pela historiografia das ciências sociais, sobre o campo de atuação profissional e a
identidade social, então em vias de construção, das primeiras gerações de
sociólogos que se formavam nas recém-criadas faculdades de filosofia do país.
Embora a reforma seja um episódio-chave para a história das ciências
sociais e para a compreensão das disputas da época em torno da construção de
uma sociologia escolar, ainda permanecem pouco claras as circunstâncias que a
presidiram e, sobretudo, o papel que desempenharam os intelectuais católicos
nesse processo.
Com o presente trabalho, buscamos reunir, a partir de pesquisa
arquivística e análise de fontes documentais, pistas capazes de alargar nosso
entendimento acerca do contexto intelectual de exclusão da sociologia dos cursos
secundários e matizar algumas das interpretações mais conhecidas sobre o
episódio da reforma.
À luz das posições que assumiram no debate sobre o caráter científico da
sociologia, e considerando a ascendência que exerceram sobre quadros
importantes do alto escalão do governo Vargas, exploramos a hipótese de que as
disputas empreendias pelos católicos no terreno das ciências sociais constituíram
elemento fundamental, ainda que não exclusivo, do contexto que levou à retirada
daquela disciplina das escolas brasileiras e à consequente mudança nos rumos de
sua institucionalização no país.
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Se é sabido que os intelectuais católicos se envolveram intimamente com a
produção de manuais didáticos e cursos de sociologia no nível médio de ensino em
um momento que a disciplina ganhava impulso e visibilidade nos currículos e nos
debates educacionais do país, buscando disputar os conteúdos e os sentidos
atrelados à sua presença nas escolas, ainda é pouco debatido por que, ao mesmo
tempo, representantes expressivos desse grupo, como Alceu Amoroso Lima,
defendiam sua retirada dos cursos secundários. Argumentamos que o próprio
modo como os católicos definiram a sociologia nos anos 1930 e 1940, ligando-a
insistentemente a querelas filosóficas e a controvérsias nos campos da ética e da
metafísica, contribuía para o enfraquecimento do processo, então em curso, de
institucionalização e estabilização da identidade cognitiva da disciplina enquanto
uma ciência social fundada na observação do mundo natural e na pesquisa
empírica sistemática. Ao que tudo indica, a preocupação desses intelectuais em
demonstrar que a sociologia estava inevitavelmente presa a pressupostos
epistemológicos e filosófico-antropológicos não apenas convergia com o empenho
dos católicos em garantir espaços para sua “sociologia cristã” no interior das
correntes teóricas e visões de mundo que a disciplina trazia em seu bojo mas
também acabava por alimentar a representação social da sociologia como um
campo de conhecimentos ainda amorfo, de contornos imprecisos, aberto às
disputas provenientes do mundo dos valores e, portanto, não passível de sofrer
uma segura e bem-sucedida transposição escolar.
Referências
BODART, Cristiano da Neves; MARCHIORI, Cassiane C. R. Fundamentos do
Ensino de sociologia católica em uma escola normalista pública em 1935.
Cadernos Eletrônicos de Ciências Sociais, v. 3, n. 2, 2015.
CIGALES, Marcelo P. A Sociologia Católica no Brasil (1920-1940): análise
sobre os manuais escolares. 2019. Tese (Sociologia) – Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis.
COSTA PINTO, Luiz de Aguiar. Ensino da Sociologia nas escolas secundárias.
Sociologia: Revista Didática e Científica, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 290-308, 1949.
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FRAGA, Alexandre Barbosa. Uma análise crítica sobre a reconstrução da
trajetória histórica da Sociologia na educação básica: investigando o chamado
período de exclusão. Ciências Sociais Unisinos, v. 56, n. 1, p. 38-47, 2020.
LOPES, Thiago da Costa. Em busca da comunidade: ciências sociais,
desenvolvimento rural e diplomacia cultural nas relações Brasil – EUA (1930 –
1950). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2020. No prelo.
MACHADO, Celso de Souza. O ensino da sociologia na escola secundária
brasileira: levantamento preliminar. R. Fac. Educ., São Paulo, v. 13, n. 1, p.
115-142, 1987.
MEUCCI, Simone. Sociologia na educação básica no Brasil: um balanço da experiência
remota e recente. Ciências Sociais Unisinos, v. 51, n. 3, p. 251-269, 2015.
MORAES, Amaury Cesar. Licenciatura em ciências sociais e ensino de sociologia:
entre o balanço e o relato. Tempo Social, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 5-20, 2003.
MORAES, Amaury Cesar. Ensino de Sociologia: periodização e campanha pela
obrigatoriedade. Cad. Cedes, Campinas, v. 31, n. 85, p. 359-382, 2011.
OLIVEIRA, Amurabi. Revisitando a história do ensino de Sociologia na Educação
Básica. Acta Scientiarum, Maringá, v. 35, n. 2, p. 179-189, 2013.
SANTOS, Mário Bispo dos. A sociologia no ensino médio: o que pensam os
professores da rede pública do Distrito Federal. 2002. Dissertação (Mestrado em
Sociologia) – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília, Brasília.
SCHWARTZMAN, Simon et al. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: FGV &
Paz e Terra, 2000.
SILVA, Elizandra C. R.; BODART, Cristiano das Neves. A formação de professores
primários e as disputas ideológicas em manuais escolares de sociologia da educação
(1930-1950). Revista Cadernos da Associação Brasileira de Ensino de
Ciências Sociais. CABECS, v. 3, n. 2, p. 48- 72, 2019.
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A ANÁLISE DE MANUAIS ESCOLARES COMO MÉTODO
AUXILIAR DO ESTUDO DA HISTÓRIA DO ENSINO DE
SOCIOLOGIA
Caio dos Santos Tavares
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
E-mail: caiotavares_@hotmailcom
Introdução
São poucas as pesquisas que se propõem a analisar manuais didáticos de
Sociologia no Brasil (ENGERROFF, OLIVEIRA, 2018). Contudo, investigações
recentes começam a ser desenvolvidas nos últimos anos. Em certa medida, provocado
pela ampliação do interesse pelo ensino de sociologia enquanto objeto de estudo.
Os manuais didáticos são artefatos históricos, pois compreendê-lo
possibilita entender o espírito de uma época (MUNAKATA, 2016), uma vez que,
não devem ser entendidos como objetos neutros, mas como resultados de
fenômenos sociais que se dá na escola e para além e antes dela (MAHAMUDANGULO, 2020), sendo reflexo de disputas políticas, ideológicas, científicas,
religiosas e de concepções sociais. Ou seja, os manuais são produzidos inserido em
um contexto que se configura em confluências e disputas dos campos político,
religioso, científico, educacional (CIGALES, OLIVEIRA, 2020).
Nessa
proposta,
buscar-se
apresentar
uma
metodologia
que
visa
compreender aspectos da História do ensino de Sociologia explorando manuais
escolares e seus autores, o que se dá a partir de uma Sociologia disposicionalista
e contextualista baseada nas contribuições teórico metodológicas de Pierre
Bourdieu
(2009;2001;2007;1996)
e
Bernard
Lahire
(2001).
A
proposta
metodológica é influenciada pelas pesquisas desenvolvidas no grupo de pesquisa
ConsCiências-Sociais. Tanto o grupo, quanto a presente proposta metodológica de
pesquisa são orientadas pelo professor Cristiano das Neves Bodart (UFAL).
Nossa proposta de análise de manual nos ajudará a compreender as molas
da ação que teriam levado um ator a confeccionar manuais didáticos de Sociologia
escolar. As obras devem ser, num primeiro momento, analisadas a partir da
técnica de análise das categorias e de enunciação, que será realizada como
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concebida por Bardin (2006). O autor do manual didático é analisado como ator
plural (LAHIRE, 2002), o que se dá a partir das perspectivas teórico
metodológicas alicerçadas em Bourdieu e Lahire, nos aproximando de uma
Sociologia disposicionalista e contextualista.
Além da proposta metodológica, buscamos apresentar uma exemplificação
de sua utilização. No caso, tomamos como objeto de análise Fernando de Azevedo e
alguns de seus manuais, a saber: Princípios de Sociologia (1935), Sociologia
Educacional: introdução ao estudo dos fenômenos educacionais e de suas relações
com os outros fenômenos sociais (1940) e Introdução à Sociologia (1940). Assim,
busca-se demonstrar caminhos para examinar as obras de forma entrelaçada à
trajetória de Fernando de Azevedo.
Busca-se compreender os campos sociais que o autor do manual esteve
inserido ao longo de sua trajetória a fim de compreender o stock de habitus, para
então, relacionar as possibilidades de ações ao conteúdo, formato e proposta do
manual escolar. Para tanto, importa buscar na literatura trabalhos biográficos
sobre Fernando de Azevedo (NASCIMENTO, 2012; VIESTEL, 2013) e
complementar informações adicionais, se necessário, sobre sua trajetória; o que
pode ser possível a partir de buscas sistematizadas em jornais da época. A
Hemeroteca Nacional Digital é uma possibilidade operacional para tal busca.
Nossa hipótese é que a partir dos campos sociais nos quais esteve inserido o autor
dos manuais escolares é possível, em alguma medida, compreender o seu senso
prático e as motivações que o levou a produzir manuais didáticos de Sociologia e
suas características internas, o que corrobora para a compreensão da História da
Sociologia brasileira, e, em particular, da Sociologia escolar, uma vez que muitas
de suas ações e obras foram relevantes para o processo de institucionalização da
disciplina na primeira metade do século XX (NASCIMENTO, 2012).
O trabalho, além desta introdução e das considerações finais, está organizado
em três seções. Na primeira é apresentado o contexto que Fernando de Azevedo esteve
inserido, na segunda o desenho metodológico e a terceira uma análise exemplar, ainda
que não concluída ou exaurida as possibilidades que a metodologia oferece.
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O contexto que Fernando de Azevedo esteve inserido
Nesta seção temos a finalidade de contextualizarmos o objeto de nossa
exemplificação apresentaremos aspectos gerais das circunstâncias que viveu
Fernando de Azevedo. Fernando de Azevedo foi responsável pela fundação do
primeiro curso de formação de professores de Ciências Sociais no Brasil, na
Universidade de São Paulo (USP), em 1934, e o primeiro a ocupar a cadeira de
Sociologia nessa instituição. Assumiu a coordenação da coleção na Biblioteca
Nacional, tendo sido responsável por publicar importantes obras da Sociologia
nos anos de 1930, 1940 e 1950, o que faz com que sua biografia esteja entrelaçada
à institucionalização da Sociologia no Brasil (NASCIMENTO, 2012), o que nos
levou a toma-lo como objeto Sociológico, numa proposta de fazermos uma
sociologia em escala individual (LAHIRE, 2002).
A trajetória de Azevedo é intrincada de disputas políticas e suas obras
foram produzidas nesse contexto. Azevedo defendendo o pressuposto de que a
Sociologia teria a função de contribuir para analisar e planejar a Educação
brasileira (PENNA, 2010) atuou como relator do Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova, em 1932 (AZEVEDO, 1932), se contraponto ao modelo
educacional baseado em uma concepção elitista que renegava o seu acesso aos
mais pobres. Cabe destacar que a Igreja Católica salvaguardava e orientava os
rumos dessa educação excludente desde o período colonial (MACHADO;
TERUYA, 2007). Em vista disso, havia um campo educacional marcado por
disputas, que, por um lado estavam os intelectuais católicos e, por outro, os
intelectuais escolanovistas, ambos ricos em capitais cultural e social. Os católicos,
muitos eclesiásticos, possuíam com contato aberto com a Igreja Católica,
defendendo o modelo confessional de educação (XAVIER, 2003). Já os
escolanovistas, inseridos em cargos públicos, defendiam que escola deveria ser
pública e laica (REZENDE, 2013). A implementação dos princípios do Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova chegou em seu apogeu no ano de 1934 com a
fundação da Universidade de São Paulo (USP) (BOTO, 2019) e Azevedo esteve
envolvido diretamente e de forma proeminente nesses embates.
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Um aspecto inquietante na biografia de Azevedo é o fato de não ter cursado
Ciências Sociais ou Sociologia e ainda assim ter produzido importantes
compêndios de Sociologia: Princípios de Sociologia (1935), Sociologia Educacional:
introdução ao estudo dos fenômenos educacionais e de suas relações com os outros
fenômenos sociais (1940) e Introdução à Sociologia (1940). Assim, indagamos o
que o levou a produzir manuais didáticos voltados a Sociologia? Nossa hipótese a ser testada – é que suas ações, são manifestações de seu senso prático, o qual é
resultante do stock de habitus, ou pré-disposições, produzidas no interior de
variados espaços sociais (campos sociais ou não). Compreender tais contextos e as
suas disposições nos campos intelectual, político e educacional nos fornecerá
elementos para desvelar como se produziu um autor-sociólogo sem que este tenha
se formado em Ciências Sociais ou Sociologia.
Tomaremos como ponto de partida outros trabalhos que tiveram a pretensão
de: investigar a biografia desse sociólogo (NASCIMENTO, 2012 ;VIESTEL, 2013);
analisar o conteúdo de suas obras (PENNA, 2010; BODART, SOUZA, 2019); assim
como, investigações que utilizaram manuais escrito por Azevedo a fim entender à
institucionalização da Sociologia no Brasil (MEUCCI, 2000; CIGALES, 2014).
Penna (2010) em seus escritos realizou um trabalho que visava partir da
análise das obras de Azevedo compreender como esse autor teorizou a
modernização brasileira. Bodart e Souza (2019) realizaram análise de
conteúdo de três manuais de Sociologia Educacional. Entre as obras
investigadas estava “Sociologia Educacional”, de Fernando de Azevedo. Os
autores buscaram “elucidar o que era privilegiado na Sociologia Educacional
no Brasil durante os anos de 1940” (BODART, SOUZA, 2019, p.63). Meucci
(2000) fez uma análise dos primeiros manuais de Sociologia produzidos no
Brasil, incluindo alguns produzidos por Azevedo, centrando sua investigação
no propósito de "identificar o modo como o conhecimento sociológico foi
reunido, sistematizado, legitimado" (MEUCCI, 2000, p. 5). O estudo de Cigales
(2014), similarmente se propôs entender a institucionalização da Sociologia no
Brasil, tendo explorado aos conflitos entre os sociólogos cristãos e laicos. Para
isso, investigou dois manuais de Sociologia educacional, um escrito por Amaral
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Fontoura, expoente da corrente de pensamento católico, e um publicado por
Fernando de Azevedo, representante da corrente laica ou cientificista.
Nascimento (2012) centrou na biografia de Fernando de Azevedo procurando
enfatizar
sua
importância
para
a
institucionalização
da
Sociologia.
Diferentemente de Meucci (2000) e Cigales (2014) a autora não realizou
análise de nenhuma obra. Viestel (2013) faz um estudo biográfico, sob a
perspectiva de Norbert Elias, tomando como fonte a autobiografia escrita pelo
Fernando de Azevedo, nomeada como “História de Minha Vida”.
A proposta desta investigação se distingue de Meucci (2000), Penna (2010),
Nascimento (2012), Viestel (2013), Cigales (2014), Bodart e Souza (2019), por buscar
compreender quais são as molas da ação que levam o autor a produzir as obras. Nossa
pesquisa procura compreender como e porquê Fernando de Azevedo pensou
sociologicamente, optou por método sociológico e escolheu determinados objetos de
análise caros à Sociologia. Consideramos ser preciso reconstruir sua trajetória,
buscando compreender em quais campos sociais (e outros espaços) esteve inserido e,
consequentemente, entender seu senso prático. Partindo dessa premissa, buscaremos
desvelar aspectos que possam ter orientado a escolha de Fernando de Azevedo pelo
campo da Sociologia, assim como ter lhe influenciado a produzir obras dessa área de
conhecimento, inclusive voltados para a Educação. Buscaremos realizar esse intuito à
luz das contribuições teóricas e metodológicas de Bourdieu e Lahire.
Partirmos da proposição de Bourdieu (2009) que o indivíduo socializado
executa ações mediante o senso prático adquirido ao longo de experiências
similares, as quais o orienta, em certa medida, a responder de maneira
socialmente apropriada as exigências do contexto (BOURDIEU,1996). Contudo,
curiosamente, nosso objeto de estudo (Fernando de Azevedo) não é formado em
Ciências Sociais/Sociologia, ou seja, não incorporou enquanto aluno experiências
anteriores no lócus acadêmico voltado à Sociologia, mas ainda assim adquiriu
senso prático de Sociólogo. Portanto, para entendermos a produção de seu senso
prático é necessário: i) reconstituir sua trajetória como ator plural, buscando
desvelar a sua produção de stock de habitus (LAHIRE,2002) e; ii) identificar e
compreender os campos sociais (e demais espaços sociais) que esteve inserido, os
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capitais simbólicos adquiridos e a sua disposição no interior desses campos.
Ambas as ações que propomos estão imbricadas, sendo apresentadas em separado
apenas para fins didáticos de exposição.
Devemos salientar que na teoria bourdiesiana o habitus é um sistema de
orientação que predispõem o ator a efetuar suas escolhas, ou seja, a um senso prático.
Isto posto, esse agente passa pelo processo de socialização e, em alguma medida, se
singulariza nas relações sociais estabelecidas (BOURDIEU, 2001). Por esse ângulo, o
habitus é um conjunto de disposições duráveis à ação que regula a conduta dos
agentes na estrutura social a partir dos valores incorporados (BOURDIEU, 2007).
Todavia, a partir das contribuições de Lahire (2002), consideramos que os indivíduos
dispõem de habitus plural, já que a sua vivência em sociedade não é restrita a um
campo social, pois o agente transita em outros campos sociais adquirindo um stock de
habitus com gêneses diversas, o que amplia as possibilidades de variações das ações,
ainda que no interior de uma mesma classe social. Fernando de Azevedo esteve
inserido, ao menos, nos campos intelectual, político e educacional.
A proposta metodológica
Apresentamos nesta seção o desenho metodológico de um tipo de pesquisa
que visa compreender o que levou um autor a elaborar manuais didáticos de
Sociologia escolar. Para tal fim, precisamos entender a materialização do senso
prático nos manuais didáticos; analisar nos manuais as perspectivas teóricasmetodológicas e suas opções didáticas; reconstruir a trajetória do autor;
investigar na trajetória do autor quais foram os espaços sociais e os campos
sociais ocupados; identificar quais os principais capitais simbólicos que esteve
disputando em sua trajetória e compreender a lógica de funcionamento dos
campos sociais que esteve inserido.
Metodologicamente a pesquisa se desenvolve em dois momentos. Na primeira
fase busca-se fazer o levantamento biográfico. Para isso, é fundamental fazer a
coleta de dados secundários, realizando uma busca para saber os estudos que forma
produzidos por outros autores acerca do seu objeto de estudo. Além disso, afim de
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coletar mais informações o site da emeroteca Nacional Digital contribui para
reconstituir a trajetória do autor em análise devido ao seu amplo acervo.
A análise dos dados tem a fundamentação teórica-metodológica nos
sociólogos Pierre Bourdieu e Bernard Lahire. Portanto, compreendendo a
trajetória do autor como ator plural, identificando o campos sociais (e outros
espaços não classificáveis como campo) que percorreu com o intuito de
entendermos como produziu o seu stock de habitus (LAHIRE, 2002) que teria
contribuído com a materialização de seu senso prático nos manuais didáticos.
No segundo momento busca-se a analisar os manuais didáticos com a
finalidade de compreender a materialização do senso prático do autor. Assim,
procurando identificar perspectiva teórica-metodológica, o conteúdo e os
elementos didáticos presentes nas obras. Como afirma Triviños (1987, p. 162)
“não é possível que o pesquisador detenha sua atenção exclusivamente no
conteúdo manifesto dos documentos. Ele deve aprofundar sua análise, tratando
de desvendar o conteúdo latente que eles possuem”, por isso adotamos a técnica
de análise das categorias e análise da enunciação, as quais nos parecem mais
adequadas à finalidade deste estudo. Estruturamos a análise em: i) pré-análise;
ii) exploração do material e; iii) tratamento dos resultados, inferência e
interpretação, como concebido por Bardin (2006).
Na próxima seção iremos evidenciar o modo que realizamos a nossa pesquisa.
Procedimentos metodológicos: O caso de Fernando de Azevedo
Nossa metodologia está divida em duas fases. Sendo que na primeira vamos
esmiuçar como realizamos a coleta de dados afim de compreendermos a trajetória do
autor e na segunda o modo que analisamos os manuais didáticos escrito por Fernando
de Azevedo com a finalidade de identificar a materialização de seu senso prático.
Neste primeiro momento para construirmos a trajetória de Fernando de
Azevedo iremos utilizar outros estudos biográfico de Azevedo, tais como os
estudos de Nascimento (2012) e Viestel (2013). Além disso, as informações
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encontradas foram agregadas com busca sistematizada na Hemeroteca Nacional 1
a partir do seguinte descritor: “Fernando de Azevedo”. O recorte temporal da
pesquisa no acervo será de 1894 (ano de nascimento do autor) até 1940 (ano da
publicação da última obra analisada). Nossa coleta na Hemeroteca Nacional
ocorreu entre os meses de março e setembro de 2020.
Nossa pesquisa foi realizada nos jornais dos estados do Rio de Janeiro e
São Paulo. Nossa justificativa para escolher esses estados são as seguintes:
• Rio de Janeiro
1- Fernando de Azevedo chegou morar neste estado quando ocupou o cargo de
diretor de instrução pública no Distrito Federal;
2- No período analisado era a capital do Brasil, logo o Estado do Rio de Janeiro
tinha uma relevância política na época e concentrava a maior parte dos jornais.
• São Paulo
1- Foi em São Paulo que Fernando de Azevedo iniciou sua trajetória acadêmica e
neste local que começou a ganhar relevância no debate educacional.;
2- São Paulo já era considerada o centro cultural e econômico do país e ao lado do
Rio de Janeiro possuiu a maior parte dos jornais.
A seguir apresentaremos duas tabelas com o intuito de mostrar o universo
da pesquisa.
Tabela 1- Universo da Pesquisa no estado do Rio de Janeiro
Cidade
Período
Ocorrências
Acervos
Páginas
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
1890 - 1899
1900- 1909
1910- 1919
1920-1929
1930-1939
68
68
372
2.665
3.348
287
273
212
178
164
1.198.575
1.810.000
2.199.087
2.736.205
3.214.192
RJ
Total
1940-1949
1.296
7817
143
1257
3.204.058
14.362.117
Fonte: Elaboração própria a partir dos Hemeroteca Digital Brasileira (2020).
A Hemeroteca Digital Brasileira é o maior portal de jornais e revistas nacionais. O acesso é
público com um amplo sistema de pesquisa. Disponível do site da Hemeroteca Digital Brasileira.
Disponível em < http http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>. Acesso em: 20 de agosto de 2020.
1
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Tabela 2- Universo da Pesquisa no estado do São Paulo
Cidade
Período
Ocorrências
Acervos
Páginas
SP
1891 - 1899
1
130
65.889
SP
1900- 1910
46
37
266.782
SP
1910- 1919
2
47
111.877
SP
1920-1929
426
45
380.361
SP
1930-1939
474
32
285.383
SP
1940-1949
313
28
414.256
1262
319
1.524.548
Total
Fonte: Elaboração própria a partir dos Hemeroteca Digital Brasileira (2020).
As tabelas 1 e 2 indicam a quantidade de vezes que apareceu o descrito
escolhido em ocorrências, o total de jornais selecionados em acervos e suas
respectivas páginas no período em análise. Chamamos atenção ao item
ocorrências, pois na busca realizada pelo site não são todas as informações
contidas que nos leva ao nosso objeto de estudo, já que temos dois problemas: 1temos nomes que são homônimos; e 2 – reportagens repetidas que foram
excluídas. Assim, utilizamos a nossa subjetividade no instante de separamos as
informações relevantes para o nosso objetivo.
Além disso, o site da Hemeroteca Digital Brasileira oferece diversas opções
de busca. Portanto, acreditamos que seja necessário para o objetivo deste
trabalho demonstra os caminhos que percorremos para coletarmos os dados da
nossa pesquisa.
Na sequência demostraremos como ocorreu essa busca sistematizada no site.
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Imagem 1 - Página inicial do site da Hemeroteca Digital Brasileira
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira
Na página inicial do site Biblioteca Nacional digital do Brasil clicamos no
ícone chamado “Hemeroteca Digial”. Quando clicamos a tela apresenta uma parte
com o título em laranja chamado Hemeroteca Digital, abaixo apresenta algumas
funções para realizarmos a busca:
Imagem 2 - Página inicial do site da Hemeroteca Digital Brasileira
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira
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Como visto na imagem temos três opções na parte superior (periódico,
período e local) e três opções logo abaixo (periódico, período e pesquisar) que nos
ajudam a personalizar a nossa procura.
Imagem 3 - Página do site da Hemeroteca Digital Brasileira
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira.
Exemplificando clicamos na aba período, após escolhemos entre 1900-1909,
local Rio de Janeiro (RJ), na barra periódico mostra que naquela época tínhamos
273 jornais e solicitamos que fosse pesquisado a partir do descritor "Fernando de
Azevedo". Quando clicamos em pesquisar abre a seguinte página:
Imagem 4 - Página do site da Hemeroteca Digital Brasileira
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira
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De vermelho na parte superior temos as seguintes categorias descrição que
apresenta o nome do jornal, seu local e o período analisado, ao lado de temos
páginas que exibe o total de páginas publicadas pelo jornal neste período em
análise e ocorrências mostra a quantidade que o descritor “Fernando de Azevedo”
apareceu. Quando clicamos em um dos jornais é apresentado a seguinte tela:
Imagem 5 - Página do site da Hemeroteca Digital Brasileira
Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira
É mostrado o jornal escolhido, o ano e a edição. Além disso, é aberto
justamente na página que aparece a ocorrência do descrito solicitado para busca
no caso “Fernando de Azevedo”. Perceba que neste jornal temos 17 ocorrências
neste período. Ou seja, são 17 vezes que o nome do autor apareceu. Devemos
considerar que não são todas as situações que a busca nos leva ao objeto de nosso
estudo, pois temos nomes que são homônimos. Assim, para selecionarmos o
conteúdo que nos interessa foi realizado uma leitura previa de cada texto que
citou o nome do autor com a finalidade de verificar se de fato a notícia estava
abordando Fernando de Azevedo.
Após a coleta dos dados na Hemeroteca Digital Brasileira categorizamos as
informações extraidas a partir adequação das noticias dos jornais em campos
intelectual, educacional, educação fisica e politico. Realizando dessa forma nos
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ajudou a identificar os campos que Fernando de Azevedo transitou permitindo a
compreender a trajetória do autor a partir das contribuições teórica-metodológica
de Pierre Bourdieu e Bernard Lahire. Neste sentido, fazendo uma análise
sociológica disposicionalista e contextualista.
Nesse sentido, elaborando a biografia de Azevedo como ator plural,
evidenciamos os campos sociais (e outros espaços não classificáveis como campo)
que transitou com a finalidade de entendermos o seu stock de habitus (LAHIRE,
2002) que teria impulsionado sua ação de elaborar compêndios de Sociologia.
Neste segundo momento da nossa metodologia tem o objetivo identificar a
materalização do senso prático do autor nos manuais didáticos: Princípios de
Sociologia (1935), Sociologia Educacional: introdução ao estudo dos fenômenos
educacionais e de suas relações com os outros fenômenos sociais (1940) e
Introdução à Sociologia (1940)
Ao realizar a análise sociológica da produção dos manuais didáticos.
Devemos considerar que cada elemento contido no material é resultado das
relações sociais que são estabelecidas. Assim, existe uma intencionalidade nas
ações realizadas. Portanto, não é um ato gratuito e indiferente (CIGALES,
OLIVEIRA, 2020). Quando estamos ao realizarmos a investigação das obras não
estamos interessada apenas em descrever seu conteúdo e sua lógica interna:
“deve buscar, sobretudo, compreender a relação entre esse nível de análise e a
lógica externa a que responde todo o processo de produção, circulação e utilização
dos manuais na cultura escolar” (CIGALES, OLIVEIRA, 2020, p.10).
Mesmo que os manuais sejam produzidos para o ambiente escolar, seus
conteúdos são resultados de disputas políticas, religiosas, valores e científicas que
extrapolam os limites desta instituição (CIGALES, OLIVEIRA, 2020). Portanto, é
necessário no momento de realizar a análise seja preciso contextualizar o modo
como ocorreu a produção e reprodução do conhecimento (MARTÍNEZ, 2018).
Neste sentido, indiretamente ou diretamente Igreja, Estado, mídia entre outras
instituições sociais influenciam naquilo que está posto nos livros didáticos que
são reflexo espírito de uma época (MAGALHÃES, 2011; MAIA, 2017).
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Além disso, é preciso averiguar quais foram os autores escolhidos,
quantidade de páginas dedicadas a esses autores e modo como foi realizado o
diálogo do Fernando de Azevedo com essas teorias. A materialização dos manuais
é resultado das estruturas incorporadas pelos autores. Ou seja, através das
relações que estabeleceu ao longo de sua trajetória de vida. Todavia, outros
agentes sociais estão envolvidos na elaboração do manual. Assim, o manual é
materialização de conjunto de relações sociais realizadas por diversos agentes que
orientam suas práticas a partir das disposições incorporadas (CIGALES,
OLIVEIRA, 2020).
Nos baseando em Bardin (2006), consideremos os seguintes elementos na
análise dos manuais didáticos: i) elementos pré- textuais; ii) elementos textuais
(Descrevendo a estrutura da obra e uma análise de seu conteúdo) e; iv) filiação teórica.
Em suma, quais foram as correntes teóricas, temas abordados e autores citados.
Considerações finais
Apresentamos uma proposta de análise dos manuais didáticos alicerçada
na teoria e metodologia de Bourdieu e Lahire, nos aproximando de uma
Sociologia disposicionalista e contextualista. Nesse sentido, apontando aspectos
que podem contribuir com os estudos dos manuais escolares.
Abrimos
caminhos
para
uma
análise
sociológica
dos
manuais
e
entrelaçando com a trajetória de um indivíduo. No caso Fernando de Azevedo que
possui uma relevância seminal na institucionalização da Sociologia no Brasil.
Contudo, mesmo que esse agente teve sua atuação nos embates para consolidação
da Sociologia, esse não passou pelo processo de socialização dos conteúdos dessa
área do conhecimento na Universidade. Portanto, nossa metodologia visou dar
conta de compreendermos a trajetória desse autor que mesmo não tendo formação
acabou confeccionando obras sociológicas.
Acreditamos que nossa proposta metodológica possa contribuir com os
estudos de manuais didáticos no Brasil. Oferecendo a possibilidade de analisar
essas obras de um modo que vislumbrem não como sendo algo neutro, mas que
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são resultados de disputas e que a materialização dos manuais é produto das
estruturas incorporadas pelo autor da obra (ENGERROFF,OLIVEIRA,2018).
Referências
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Companhia Editora Nacional, 1937.
AZEVEDO, Fernando de. Princípios de sociologia: pequena introdução ao
estudo da sociologia geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
AZEVEDO, Fernando de. Sociologia educacional: introdução ao estudo dos
fenômenos educacionais e de suas relações com outros fenômenos sociais. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.
AZEVEDO, Fernando de. A Reconstrução Educacional do Brasil: ao povo e
ao governo. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Rio de Janeiro, 1932.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Trad. De L. de A. Rego e A. Pinheiro.
Lisboa: Edições 70, 2006.
BODART, Cristiano das Neves; SOUZA, Ewerton. Os manuais de Sociologia
Educacional nos anos de 1940: contexto de produção, autores, estruturas
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BOTO, Carlota. A intelectualidade paulista, o Manifesto dos Pioneiros e a
Universidade de São Paulo em sua primeira “missão”. Estudos Avançados, São
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BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: Sobre a teoria da ação. Campinas:
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BOURDIEU, Pierre. Senso Prático. Petrópolis: Vozes, 2009.
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BOURDIEU, Pierre. Meditações Pascalianas. Trad. Sérgio Miceli. Rio de
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CIGALES, Marcelo Pinheiro. Dilemas da sociologia no Brasil: análise sobre os
manuais escolares de Amaral Fontoura e Fernando de Azevedo. Revista
Alabastro, v. 2, n. 4, p. 65-78, 2014.
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CIGALES, Marcelo; OLIVEIRA, Amurabi. Aspectos metodológicos na análise de
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ENGERROFF, Ana Martina Baron; OLIVEIRA, Amurabi. Os sentidos da
sociologia escolar nos livros didáticos no Brasil. Revista Pós Ciências Sociais.
V. 15, n. 30, 2018.
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Jaime A. Clasen. Petrópolis: Vozes, 2002.
MAGALHÃES, J. O mural do tempo: manuais escolares em Portugal.
Lisboa, PT: Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. 2011.
MARTINEZ, Juan Carlos Bel; RUBIO, Juan Carlos Colomer. (2018). Teoría y
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actividades, las imágenes y los recursos digitales en la ensenanza de las Ciencias
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MAIA, Cristina.Investigação qualitativa e métodos mistos em Manuais Escolares:
um estudo comparativo europeu. Atas Investigação Qualitativa em Educação do
6.º Congresso Ibero Americano en Investigación Cualitativa. 2nd
International Symposium on Qualitative Research (pp. 1672-1681). Salamanca,
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MAHAMUD-ANGULO,
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Propuesta
metodológica
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e
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(RE)CONSTRUINDO A REVISTA PERSPECTIVA
SOCIOLÓGICA: uma revista de professores de Sociologia na
Educação Básica
Valéria Lopes Peçanha
Colégio Pedro II
E-mail:
[email protected]
No presente trabalho aborda-se a reconstrução da Revista Perspectiva
Sociológica (RPS), entre os anos de 2015 e 2018, que compõe um quadro mais
amplo de surgimento e consolidação das publicações acadêmicas sobre Ensino de
Sociologia no Brasil. Além de relatar o processo de reconstrução, retomando a
trajetória desta revista ligada ao Departamento de Sociologia do Colégio Pedro II
(instituição educacional federal no RJ), estabelece-se diálogo com o levantamento
de Bodart e Souza (2017) sobre os dossiês de Ensino de Sociologia publicados
entre 2007 e 2017.
Entre os anos de 2015 e 2018, nos dedicamos à reconstrução da RPS com a
primeira tarefa de solucionar o passivo gerado pela interrupção do fluxo editorial
da revista entre os anos de 2011 e 2014. Nesta primeira etapa, buscamos também
superar entraves técnicos naquele contexto de fortalecimento institucional, em
seria criado o Espiral - Portal de Publicações do CPII em 2015.
Criada em 2008, a RPS2 surgiu como um periódico semestral “de cunho
científico e escolar” no contexto em que a instituição “comemora[va] seus 170
anos e, também, festeja[va] os 80 anos da implantação da Sociologia” como um
“novo vetor educacional” de produção docente e discente do saber sociológico
desenvolvido na instituição, visando dialogar com a comunidade escolar e com a
sociedade civil.
Ao iniciarmos a etapa de reconstrução da proposta da revista, a RPS contava
com publicações de 2008 a 2010 disponíveis em plataforma do Sistema Eletrônico
de Editoração de Revistas (SEER) recomendado pela CAPES, que seriam
2
Disponível em: < https://cp2.g12.br/ojs/index.php/PS>.
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integradas no Espiral3, além de contar com um site onde foi publicada em 2012 a
edição especial de Homenagem à professora Luitgard Oliveira Calvalcanti Barros.
No decurso da reconstrução da RPS, com a recomposição do conselho e da
equipe editorial, a linha editorial e o formato da revista se pautarão pela
identidade “a revista de professores de Sociologia”, com a organização em seções
específicas para abranger práticas de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas
na Educação Básica por professores de Sociologia. Nesta nova identidade e
formato, além de artigos científicos, resenhas e entrevistas, são criadas ainda
seções como experimentações pedagógicas e espaço discente.
Nesta linha editorial consonante ao fortalecimento do campo, a proposta da
RPS passará a ser definida como “divulgar a produção dos saberes gerados a
partir das experiências e reflexões, docentes e discentes, relacionadas à Sociologia
e às Ciências Sociais na Educação Básica do Brasil” de forma a valorizar a
“diversidade de formas pelas quais os saberes sociológicos se constituem” e a
fortalecer o Ensino de Sociologia e a Educação. Para isso estruturando o sistema
avaliação por pares (peer-review) e mobilizando uma rede de profissionais como
pareceristas que tornam a política de acesso livre possível graças ao caráter
colaborativo do processo.
Até o fim de 2018 os progressos de estruturação que resultaram no
reestabelecimento do processo editorial da RPS, geraram a abertura de novas
chamadas com circulação nacional, a produção de novas edições – indexadas nos
principais diretórios de publicação científica do país – em torno de novos temas e
questões relacionadas aos atuais desafios do Ensino de Sociologia em sua
interface com o Ensino de Sociologia, tais como questões de gênero, de direitos
humanos e a reforma do Ensino Médio no Brasil, dentre outros.
Com base no levantamento de Bodart e Souza (2017) sobre os dossiês de
Ensino de Sociologia publicados entre 2007 e 2017, vemos que da criação da RPS
em 2008 ao fim da etapa de sua reconstrução em 2018, o trabalho desenvolvido
na revista compõe um quadro mais amplo de “recente e rápido crescimento de
espaço dado à temática ensino de Sociologia” (BODART; SOUZA, 2017, p. 546). O
Disponível em: < https://www.cp2.g12.br/ultimas_publicacoes/211-noticias2015/3035-portalespiral%20re%C3%BAne-publica%C3%A7%C3%B5es-do-cpii.html>
3
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quadro traçado no referido levantamento aponta para uma abertura de espaço
qualificado de publicação acadêmica à temática pela via de dossiês, organizados
majoritariamente por professores licenciados e com experiência docente,
resultando “em dez anos, [em] 19 revistas, sendo 24 dossiês com 199 artigos” que
mobilizam “197 pesquisadores”, com predominância de doutores, mas também
com o “incremento da participação de mestres, graduados e graduandos” (idem).
Neste quadro, a RPS se destaca como uma revista do Ensino Sociologia e
da Educação Básica, cuja linha editorial referenciada neste segmento de ensino
se abre ao saber discente, num cenário de publicações majoritariamente ligadas
às universidades federais e estaduais. O Sudeste como região que “concentra o
maior volume de produção acadêmica do país” destacou-se no levantamento pela
baixa representatividade de publicação de dossiês - com exceção das publicações
da RPS e do dossiê publicado em 2011 pelo Caderno CEDES da UNICAMP -, em
contraste com os 36% de publicações de autores ligados às universidades públicas
do Sudeste que demonstra o peso da região na produção acadêmica em geral não
se refletiu na abertura do espaço para as publicações. De modo distinto, a
Perspectiva Sociológica tem buscado fomentar os espaços de publicação sobre
Ensino de Sociologia no Brasil e ampliar a articulação com os institutos federais,
com as redes estaduais de Educação e com as universidades.
Palavras-chave: Revista científica. Ensino de Sociologia. Publicação acadêmica.
Educação.
Referências
BODART, Cristiano das Neves; SOUZA, E. D. Configurações do ensino de
sociologia como subcampo de pesquisa: análise dos dossiês publicados em
periódicos acadêmicos. Unisinos, set/dez 2017, pp 543-557.
GD 01 – História do Ensino de Sociologia
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