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Por uma identidade ecolinguística

2015, Ecolinguistica Revista Brasileira De Ecologia E Linguagem

POR UMA IDENTIDADE ECOLINGUÍSTICA Francisco Gomes de Matos (UFPE) Desde as ideias pioneiras de Haugen sobre a ecologia da linguagem em 1971, vem se desenvolvendo lenta, mas constantemente, uma nova dimensão para o macroconceito de

Ecolinguística: Revista Brasileira de Ecologia e Linguagem, v. 01, n. 01, p. 140-142, 2015. POR UMA IDENTIDADE ECOLINGUÍSTICA Francisco Gomes de Matos (UFPE) Desde as ideias pioneiras de Haugen sobre a ecologia da linguagem em 1971, vem se desenvolvendo lenta, mas constantemente, uma nova dimensão para o macroconceito de identidade: IDENTIDADE ECOLINGUÍSTICA. O objetivo deste artigo é propor o reconhecimento desse componente da identidade individual e instigar os colegas a continuar explorando a natureza ecolinguística da vida comunicativa humana. O conceito de identidade tem sido tratado por estudiosos interdisciplinares com ampla visão de vários domínios, entre eles a psicologia e a linguística. Exemplos contemporâneos inspiradores são Edwards (1985) e Crystal (1997). O primeiro tem se dedicado a aspectos da questão sobre como a identidade individual pode se mostrar no uso da língua, enquanto que o segundo tem apresentado comentários detalhados sobre o conceito multidimensional de identidade, enfatizando as dimensões física, psicológica, geográfica, étnica, nacional, social, contextual e estilística. Que a língua e os seres humanos interagem em ecossistemas é um princípio subjacente a projetos atuais sobre educação ambiental. Com efeito, a própria cronologia dos conceitos-chave dessa estratégia de educação global mostra quão intensamente nosso vocabulário quotidiano é banhado pelas águas da ecologia. Eis uma lista ilustrativa de termos colhidos de Random House (1997), com a respectiva datação: 1825-30 meio ambiente; 1865-70 recursos conservacionistas, recursos naturais; 1870 - 75 ecologia; 1890-95 poluidor; 1915-20 ambientalista; 1920-25 antipoluição (lei); 1924-30 reciclado (papel); 1930-35 ecossistema; 1935-40 efeito estufa; 1960-65 biodegradável. Esses exemplos podem ser atualizados com termos usados em campos altamente especializados, tais como os do direito ambiental, por exemplo: impacto ambiental; auditoria ambiental. Se é verdade que, como Kaplan & Baldauf Jr (1997, p. 321) lembram, "toda língua é parte de um ecossistema", é igualmente verdade que todo 140 ECO-REBEL indivíduo de nosso planeta tem DIREITOS E RESPONSABILIDADES ECOLINGUÍSTICAS e deveria ser educado para essa dignidade ecolinguística e para a paz. Vinte anos atrás eu apresentei a proposta de uma organização brasileira para o ensino de língua que integrava ecologia e ensino de língua inglesa (Matos, 1978). Hoje minha convicção da necessidade de integrar ensino de língua e ensino ambiental está mais forte do que nunca. Eis uma lista pequena, aberta, para a autoavaliação de traços positivos ou questionáveis da identidade linguística. 1. Eu me refiro à natureza de modo dignificante (respeitoso?) ou a critico preconceituosamente? (Na cultura brasileira, por exemplo, às vezes se ouve as pessoas falarem de “punição pela natureza”). 2. Quão interculturalmente universais são essas avaliações polêmicas (questionáveis?)? 3. O que pode ser feito para ajudar os usuários da língua a mudar sua percepção/representação para modos ecolinguisticamente sensíveis de mapear a realidade ambiental? 4. Eu me refiro a tipos de comportamento desumanos (pelos humanos) equiparando-os a nomes de animais? (De novo, em nossa cultura brasileira pode-se encontrar palavras como “cachorro”, “cavalo” no vocabulário de gíria). 5. Quão ecolinguisticamente universal é o uso de expressões como “Você está agindo como um animal”? 6. Por que nós, seres humanos, tendemos a representar mal e distorcer a visão de outros seres da natureza? Aqui está um desafio para todos nós preocupados com a identificação e a solução de questões globais de natureza ecolinguística. O patrono da ecolinguística, São Francisco de Assis, se referia ao sol como “irmão sol” e à lua como “irmã lua”. Ele não só pregava, mas praticava aquilo em que acreditava. 7. E nós, como estamos no que se refere a tudo isso? Em um espírito profundamente transformador, compartilhemos com todos a tarefa desafiadora de não apenas reconhecer que cada cidadão do mundo tem uma identidade ecolinguística, mas também que essa dimensão vital precisa ser apoiada construtivamente, desde a infância. Nesse sentido, que isso seja um pedido de ação pelos Educadores que se ocupam de Questões Globais em todos os lugares. 141 ECO-REBEL Referências CRYSTAL, D. The Cambridge Encyclopedia of Language. Cambridge University Press, 1997, 2ed. EDWARDS, J. Language, Society and Identity. Oxford, Blackwell, 1978. HAUGEN, E. The Ecology of Language. Essays by Einar Haugen. Edited by Anwar S.Dil. Stanford University Press, 1972. KAPLAN, R. B. & BALDAUF JR., R. Language Planning. From practice to theory. Clevedon, UK: Multilingual Matters, 1997. MATOS, F. G. de. A pedagogical-ecological approach to English for Brazilian preadolescents. Comunicação apresentada no V World Congress of AILA - International Association of Applied Linguistics, Montreal, Canadá, 18/8/1978/. Random House Webster's College Dictionary. New York: Random House, 1997. [Este texto foi publicado em FIPLV World News 42, 1998. Disponível em http://www.fiplv.org/News/fiplvnews/news42.htm (acesso: 01/09/2006). Por ser um minitexto, não apresentamos Resumo nem Abstract. Reproduzido em ECO-REBEL com autorização do autor]. Texto convidado. ECOLINGUÍSTICA: REVISTA BRASILEIRA DE ECOLOGIA E LINGUAGEM (ECO-REBEL), V. 1, N. 1, 2015. 142