Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
-1-
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Comitê Científico Alexa Cultural
Presidente
Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Vice-presidente
Pedro Paulo Abreu Funari (UNICAMP)
Membros
Adailton da Silva (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Alfredo González-Ruibal (Universidade Complutense de Madrid - Espanha)
Ana Cristina Alves Balbino (UNIP – São Paulo/SP)
Ana Maria de Mello Campos (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Ana Paula Nunes Chaves (UDESC – Florianópolis/SC)
Arlete Assumpção Monteiro (PUC/SP - São Paulo/SP)
Barbara M. Arisi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Benedicto Anselmo Domingos Vitoriano (Anhanguera – Osasco/SP)
Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira (PUC/SP – São Paulo/SP)
Claudio Carlan (UNIFAL – Alfenas/MG)
Denia Roman Solano (Universidade da Costa Rica - Costa Rica)
Débora Cristina Goulart (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Diana Sandra Tamburini (UNR – Rosário/Santa Fé – Argentina)
Edgard de Assis Carvalho (PUC/SP – São Paulo/SP)
Érica Fabrícia Melo (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Estevão Rafael Fernandes (UNIR – Porto Velho/RO)
Evandro Luiz Guedin (UFAM – Itaquatiara/AM)
Fábia Barbosa Ribeiro (UNILAB – São Francisco do Conde/BA)
Fabiano de Souza Gontijo (UFPA – Belém/PA)
Gilson Rambelli (UFS – São Cristóvão/SE)
Graziele Acçolini (UFGD – Dourados/MS)
Iraíldes Caldas Torres (UFAM – Manaus/AM)
José Geraldo Costa Grillo (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Juan Álvaro Echeverri Restrepo (UNAL – Letícia/Amazonas – Colômbia)
Júlio Cesar Machado de Paula (UFF – Niterói/RJ)
Karel Henricus Langermans (Anhanguera – São Paulo/SP)
Kelly Ludkiewicz Alves (UFBA – Salvador/BA)
Leandro Colling (UFBA – Salvador/BA)
Lilian Marta Grisólio (UFG – Catalão/GO)
Lucia Helena Vitalli Rangel (PUC/SP – São Paulo/SP)
Luciane Soares da Silva (UENF – Campos de Goitacazes/RJ)
Mabel M. Fernández (UNLPam – Santa Rosa/La Pampa – Argentina)
Marilene Corrêa da Silva Freitas (UFAM – Manaus/AM)
María Teresa Boschín (UNLu – Luján/Buenos Aires – Argentina)
Marlon Borges Pestana (FURG – Universidade Federal do Rio Grande/RS)
Michel Justamand (UNIFESP – Guarulhos/SP)
Miguel Angelo Silva de Melo - (UPE - Recife/PE)
Odenei de Souza Ribeiro (UFAM – Manaus/AM)
Patricia Sposito Mechi (UNILA – Foz do Iguaçu/PR)
Paulo Alves Junior (FMU – São Paulo/SP)
Raquel dos Santos Funari (UNICAMP – Campinas/SP)
Renata Senna Garrafoni (UFPR – Curitiba/PR)
Renilda Aparecida Costa (UFAM – Manaus/AM)
Rita de Cassia Andrade Martins (UFG – Jataí/GO)
Sebastião Melo Campos (UFAM – Benjamin Constant/AM)
Sebastião Rocha de Sousa (UEA – Tabatinga/AM)
Thereza Cristina Cardoso Menezes (UFRRJ – Rio de Janeiro/RJ)
Vanderlei Elias Neri (UNICSUL – São Paulo/SP)
Vera Lúcia Vieira (PUC – São Paulo/SP)
Wanderson Fabio Melo (UFF – Rio das Ostras/RJ)
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Ana Maria de Mello Campos
Érica Fabrícia Melo
Sebastião Melo Campos
(Organizadores)
Diálogos Interdisciplinares
no Alto Solimões
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CONSELHO EDITORIAL
Presidente
Henrique dos Santos Pereira
Membros
Antônio Carlos Witkoski
Domingos Sávio Nunes de Lima
Edleno Silva de Moura
Elizabeth Ferreira Cartaxo
Spartaco Astolfi Filho
Valeria Augusta Cerqueira Medeiros Weigel
COMITÊ EDITORIAL DA EDUA
Louis Marmoz Université de Versailles
Antônio Cattani UFRGS
Alfredo Bosi USP
Arminda Mourão Botelho Ufam
Spartacus Astolfi Ufam
Boaventura Sousa Santos Universidade de Coimbra
Bernard Emery Université Stendhal-Grenoble 3
Cesar Barreira UFC
Conceição Almeira UFRN
Edgard de Assis Carvalho PUC/SP
Gabriel Conh USP
Gerusa Ferreira PUC/SP
José Vicente Tavares UFRGS
José Paulo Netto UFRJ
Paulo Emílio FGV/RJ
Élide Rugai Bastos Unicamp
Renan Freitas Pinto Ufam
Renato Ortiz Unicamp
Rosa Ester Rossini USP
Renato Tribuzy Ufam
Reitor
Sylvio Mário Puga Ferreira
Vice-Reitor
Jacob Moysés Cohen
Editor
Sérgio Augusto Freire de Souza
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Ana Maria de Mello Campos
Érica Fabrícia Melo
Sebastião Melo Campos
(Organizadores)
Diálogos Interdisciplinares
no Alto Solimões
Embu das Artes - SP
2020
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
© by Alexa Cultural
Direção
Gladys Corcione Amaro Langermans
Nathasha Amaro Langermans
Editor
Karel Langermans
Capa
K Langer
Foto de capa
Josenildo Santos de Souza
Revisão Técnica
Michel Justamand
Revisão de língua
Sandra Oliveira de Almeida, Vânia Cristina Cantuário de Andrade e
Shigeaki Ueki Alves da Paixão.
Editoração Eletrônica
Alexa Cultural
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M676m - MELLO CAMPOS, Ana Maria de
M697e - MELO, Érica Fabrícia
C491s - CAMPOS, Sebastião Melo
DIAS - Diálogos interdisciplinares do Alto Solimões - volume 1 - Ana
Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
(ORG), Alexa Cultural: Embu das Artes/SP, EDUA: Manaus, 2020
14x21cm -224 páginas
ISBN - 978-65-87643-41-0
1. Antropologia - 2. Estudos de casos - 3. Alto Solimões (AM) - I.
Índice - II Bibliografia
CDD - 301
Índices para catálogo sistemático:
Antropologia
Alto Solimões (AM)
Todos os direitos reservados e amparados pela Lei 5.988/73 e Lei 9.610
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emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da editora e dos organizadores
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Rua Henrique Franchini, 256
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[email protected]
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www.alexaloja.com
-6-
Editora da Universidade Federal do Amazonas
Avenida Gal. Rodrigo Otávio Jordão Ramos,
n. 6200 - Coroado I, Manaus/AM
Campus Universitário Senador Arthur Virgilio
Filho, Centro de Convivência – Setor Norte
Fone: (92) 3305-4291 e 3305-4290
E-mail:
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Dedicamos este volume aos nossos queridos amigos
antropólogos que nos deixaram com a imensa saudade dos dias
compartilhados, cheios de alegrias, aprendizados e lutas. De forma
repentina e inesperada fomos surpreendidos com a partida dos nossos
amigos, não há como falar neles e não recordarmos dos sorrisos
largos, contagiante e espontâneos de Ester – a mesma intensidade do
sorriso refletia-se nas lutas e comprometimentos com a vida familiar,
acadêmica e social; do olhar assustado e inquieto de Francisco Nilton
em não aceitar injustiças; das histórias intermináveis do Cajueiro
e luta incansável pela criação da SOCIAMA. Nossos três amigos,
deixam lacunas nas nossas lutas diárias por um mundo melhor,
não deixam apenas vazios para nós amigos, pois além de nós eles
tinham mães, pais, filhos, irmãos, netos, sobrinhos e esposos. Vocês
serão lembrados por nós em todas as nossas conquistas, pois somos a
construção e o compartilhamento de tudo o que vivemos juntos.
In memória:
Ester Francisca Olindina Mesquita Gomes Lopes Maia,
falecida 15 de novembro de 2015.
Francisco Nilton Rebouças de Almeida, falecido em 20 de
setembro de 2020.
José Cajueiro Leandro, falecido em 01 de outubro de 2020.
Todos os dias nos despedimos das pessoas, mas não
sabemos quando a despedida será eterna.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
APRESENTAÇÃO
Neste volume, apresentamos estudos de pesquisas e relatos de experiências acadêmicas, realizados no Estado do Amazonas,
precisamente na Tríplice Fronteira: Brasil, Colômbia e Peru e na
cidade de Tefé. As produções textuais abrangem diversas áreas de
conhecimento científico: Antropologia, Educação, Meio Ambiente
e Saúde. Os autores são profissionais da área da Saúde, professores
dos cursos de Antropologia, Biologia e Química e Pedagogia, alunos
do curso de Antropologia e egressos dos cursos de Antropologia e
Pedagogia. Tendo outras contribuições autorais também.
Em cada capítulo, os autores apresentam um retrato singular da Região Amazônica, demonstrando as problemáticas e desafios
para manter as práticas tradicionais de cura, os desafios educacionais
na Região da Trípice Fronteira amazônica, a realidade do tráfico de
drogas na Região da Fronteira Amazônica Brasil, Peru e Colômbia, a
importância do curso Técnico em Agropecuária na cidade de Tefé, a
análise das ofertas das disciplinas de Antropologia e Administração
no Instituto Natureza e Cultura (INC), UFAM, o futebol na comunidade indígena caracterizado pela sociabilidade.
Por intermédio deste volume convidamos os leitores para uma viagem na Região da Tríplice Fronteira Amazônica e
Tefé, regiões pluriétnicas demarcadas por intensos desafios que moldam as vidas e as relações sociais.
Ana Maria de Mello Campos
Érica Fabrícia Melo
Sebastião Melo Campos
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
SUMÁRIO
Apresentação
-9Rezadores e Benzedeiras e os seus Métodos Tradicionais
Maria dos Reis da Silva
- 13 Um breve contato estabelecido entre antropologia e administração
Andresson Luan Franco Simão, Marcilene Assis de Souza e Érica Fabrícia Melo
- 27 O futebol enquanto elemento de sociabilidade indígena na Comunidade Indígena de Guanabara III
Valdenilson Aicate Tananta, Ana Maria de Mello Campos e Sebastião Melo Campos
- 43 Técnico em Agropecuária no Município de Tefé-AM
Renata Gomes de Lima Melo e Sandra Regina Gregório
- 59 Reflexões Ecológicas de Educação Ambiental e Sustentabilidade
Lucas Patrício de Lima, Gilvânia Plácido Braule e Sebastião Melo Campos
- 75 Deslocamento transfronteiriço entre Brasil e Peru e a organização do
serviço de transporte da Associação de Transportes Fluviais de
Motores peque-peques de Benjamin Constant/AM
Selomi Bermeguy Porto
- 89 Ala Hospitalar Diferenciada: Perspectivas de Atendimento
Humanizado aos Indígenas para o Tratamento da COVID-19 no
Hospital Nilton Lins em Manaus/AM
Aline dos Santos Pedraça, Claudenor de Souza Piedade, Israelson Taveira Batista,
Shigeaki Ueki Alves da Paixão e Sidney Raimundo Silva Chalub
- 101 -
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Um relato etnográfico sobre a sopa da liberdade no Município de
Benjamin Constant–AM
Alessandro Bezerra da Silva, Ana Maria de Mello Campos, Daniel Henrique
Auanário Nascimento, Marques Roberto Lobato, Renison do Nascimento Castro,
Sebastião Melo Campos e Tales Vinícius Marinho de Araújo
- 121 “El Patrón”: imaginários sobre o modo de vida dos
Traqueteiros na Tríplice Fronteira (Brasil, Colômbia e Peru)
Enio Gilberto Haiden Mendonça, Cristian Farias Martins e Sebastião Melo Campos
- 135 Educar e Cuidar na Educação Infantil
Elina Oliveira Ruiz, Marinete Lourenço Mota e Sebastião Melo Campos
- 151 Prática Docente no Ensino da Matemática:
diferentes Concepções e Olhares
Edson Franco Felix, Maria Francisca Nunes de Souza e Sebastião Melo Campos
- 169 Temas transversais na educação:
o cinema em São Paulo de Olivença/AM
Josenildo Santos de Souza, Maria Auxiliadora dos Santos Coelho,
Michel Justamand e Renan Albuquerque
- 183 Sobre as/os autores/as
- 205 Sugestões de leitura
- 215 Coleção FAAS - Fazendo Antropologia no Alto Solimões
- 215 Coleção FAAS TESES - Fazendo Antropologia no Alto Solimões - Teses
- 216 Coleção Carmen Junqueira
- 217 Coleção Arqueologia Rupestre
- 217 Coleção Diálogos Interdisciplinares
- 218 -
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Rezadores e Benzedeiras e os seus Métodos
Tradicionais
Maria dos Reis da Silva
Introdução
Benjamim Constant tem uma forma exterior com cenários que segue métodos típicos investigativo; para uma avaliação do
quanto a tradição pode exercer impactos na vida e nas ciência. Próximo ao extremo oeste brasileiro, o ambiente é morada de influencias
marcantes, quanto a concepção religiosa; como é vislumbrado por
Durkheim; nessa abordagem procuramos inserir o olhar antropológico sobre o conhecimento e aprendizado tradicionais destes rezadores. Como referência teórica será tomado o interpretativismo de
Geertz, que trará como reflexão acerca do saber local, o de entender
o outro levando a uma hermenêutica cultural. Isso, Buscando-se a
compreensão dos conhecimentos por meio das argumentação no
decorrer da obra; e, procurando-se e ampliar o foco frente ao saber
local e as identidades constituídas no contexto em que se estabelece
o grupo. E, A eficácia simbólica de antropólogo, professor e filosofo
CLAUDE LÉVI STRAUSS, 1985 constituem categorias teóricas relevantes para a análise que faremos dos sujeitos a serem pesquisados;
acrescida da Forma Elementar da vida religiosa de sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filosofo David ÉMILI
DURKHEIM, 1989.Durkheim foi um dos grandes influenciadores
dos estudos sobre religião e uma citação extraída do seu texto As
formas Elementares da vida Religiosa e nos põe diante do objetivo da
religião, ou ao menos, das concepções religiosas (…) antes de mais
nada as suas concepções religiosas têm por objetivos exprimir e explicar, não o que existir de excepcional e de anormal nas coisas, mas
não ao contrário, o que elas têm de constante e regular(…) desde
as religiões mais simples que conhecemos, eles tiveram como tarefa
essencial manter de maneira positiva, o curso normal da vida.(DURKHEIM 1989 ,P.59).
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Nesta obra, o objetivo e entender a cura mediantes as rezas
que vem assumir um papel marcante no sentido das observações e
da compreensão do método, das palavras, dos gestos, do por quem
está rezando- onde as práticas das benzedeiras tem uma importância fundamental. Igualmente, obter o conhecimento de como esses
rezadores adquiriram essas experiências, se foi um Dom divino, ou
se aprenderam observando outras pessoas a praticar é traço a investigar. A pesquisa foi desenvolvida a partir de entrevista com três
pessoas, residentes no município de Benjamim Constant.
É precípuo entender o ponto de vista dos rezadores procurando o significado das práticas pesquisadas sem deixar de lado
fenômeno de determinadas visões de mundo. Paralelamente, não
cair nos argumentos do senso comum, Como argumenta GEERTZ,
os argumentos do senso comum existem, porém não se baseiam em
coisa alguma, a não ser a vida como um todo. (GEERTZ ,2009, p.
114).
São a partir dos saberes desenvolvido se recreados por eles.
Que a pesquisa procura- se entremear, perceber suas memorias. Para
minha pessoa que tomei as práticas de cura como fonte para esse
trabalho, as memorias desses indivíduos são fundantes.
O saber do senso comum se caracteriza por uma lógica e um fazer que estão diretamente ligadas as dificuldades enfrentadas pelos
grupos e resultam de práticas sociais organizadas eu envolve a mobilização de recursos de diferentes tipos e vinculados a contextos e
situações especificas (MOEMA, 2008, p. 124)
Histórias: sobre rezadores e benzedeiras
Popular, a comunicação oculta entre o homem e a divindade, vem desde o Brasil colonial; quando o povo se apoiava em crenças e fórmulas naturais; em busca de melhoria na luta contra as enfermidades, diante da precariedades de assistências medicas, então
as pessoas unem os recurso da natureza a própria fé, dando início a
vários métodos, como, garrafadas, amuletos, chás, oferendas aos santos. Nesse percurso, essa crença se misturaram aos traços. Percebe-se
assim como se gestava os saberes e os conhecimentos medicinais.
Encontramos os dispostos a exercer seus conhecimentos.
Estes carregam consigo Uma “áurea misteriosa” que vem inspirar
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
confiança e respeito naqueles que os procuram- dependendo também de como são usados esses saberes.
Diferenciação entre rezadores e benzedeiras
São denominações distintas, para designarem quase o
mesmo oficio, porém, segundo o livro de rezas, benzedeiras e simpatias, a diferença consiste e que benzedeiras são, em geral, mulheres
sendo mais solicitadas para prestação de serviço; muitas vezes; são
as únicas parteiras do lugar; e, por ser este termo referente a uma
função exercida por mulheres;
Benzedeiras há um ritual de cuidados para cada necessidades, O
ritual de cuidados das parteiras e benzedeiras ganham significados
no contexto real de sua produção ratificando o caráter de resistência
do saber do senso comum, sua importância na manutenção da vida.
O saber das parteiras se tece na experiência cotidiana, na transmissão dos saberes que se dar através das gerações (BORGE,2008, p.
327 - 228.)
Some-se a este fato que benzedeiras e rezadores elas se diferenciam de outros indivíduos que promovem a cura das doenças,
pois fazem da oração a principal forma de assistência- embora, muitas ocasiões, os rezadores fazem uso de ramos de ramos de plantas
durante o ato. Todo o trabalho do rezador, seus gestos suas palavras e
expressões corporais dão um clima de acreditar no sobrenatural, nas
forças espirituais; e, acabam proporcionando um poder de sugestões
sobre os presente. São elas as mulheres na maior parte, mas há presença de homens também. Percebe-se assim, que as práticas de cura
abrangem gêneros, evidenciando a presença de homens
O saber dos rezadores emana, sobre tudo, do Dom atribuído a Deus;
escapando dos aspectos formais e informais de aprendizagem. Esse
saber forja se com base na doutrina da religião judaico –cristã. Essa
dimensão imprime ao ato de cuidar, pois só e possível ser realizado
pela submissão de Deus ou àquela que está em seu lugar na terra.
(BORGE, 2008, p 328)
Formas variadas, as palavras resmungadas e incompreensível. Abrangem as mais variadas carências, podendo solucionar com
traços maléfico do ambiente, conflitos familiares e outro fator afim
semelhantes que contribui para a credibilidade dos rezadores ou re- 15 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
zadeiras, tais quais, espinhela caída, cobreiro, febre, íngua, em geral
e outras doenças que diversas situações variam.
Especial os rezadores não costumam cobrar por seus serviços -mesmo porque normalmente, os usuários desses serviços compõe baixa renda com empecilhos ao acesso formal de saúde, nada
obstante, casos queiram pagar alguns, aceitam a contribuição.
Geralmente, os rezadores e benzedeiras têm formação católicas, isso no meio rural, e nos centros urbanos, seus rituais variam
seguindo a diversidades- mesmo baseado em cultos ou religiões diferentes, os rezadores e as benzedeiras seguem os mesmo princípios
da humanidade, solidariedade e contato com o Divino.
Cecilia: O fenômeno religioso cumpre assim o papel de facilitar as
pessoas em situação limite a compreensão do inexplicável e a aceitação do antes impensável (SOUZA, MINAYO, 1994, p. 58)
As práticas de cura remontam a idade média, onde as
mulheres produziam chás com ervas medicinais. As rezadeiras e os
curandeiros tiveram e tem u papel fundamental na formação das comunidades, pois no período não existia postos de saúde.
Argumentos dos interlocutores
Traz este texto os relatos dos entrevistados durante a pesquisa de campo que foi realizada na cidade de Benjamim Constant.
Serão descritas suas narrativas mais detalhadamente sobre o referido
tema. Em primeira análise, O Senhor Joaquim Ferreira, de 73 anos
de idade, aposentado, casado com a senhora Adriana Chagas, eles
tiveram dois filhos, nascidos e instruídos no Rio Itacoai (com sua
família); onde trabalhavam como seringueiros, vieram para o município de Benjamin Constant -AM no ano de 1994.
O interlocutor relata com riqueza de detalhe sua primeira
reza, que começou a rezar quando tinha 15 anos de idade, época em
que a sua avó chamada Maricota lhe ensinou a rezar. Isso se iniciou,
pois, quando moravam no Rio Atacoai, não existia médicos; e, quando os indivíduos adoeciam, a única solução era ter fé em Deus, e procurar por um rezador para ser curado. Caso contrário, muitos acabavam morrendo sem saber qual doença tinha dominado seu corpo
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
e sua alma. Neste sentido, ele Fez questão de aprender as orações
porque não aguentava mais ver as pessoas sofrendo e (por diversas
vezes) morrendo. Como os enfermos habitavam longe, não tinha a
alternativa de procurar por um médico.
Sua primeira reza foi realizada em uma criança, que estava
chorando muito;
Me preparei, porque, antes de começar qualquer reza, fico uns minutos sozinho; pois, nesse momento, peço que Deus me ajude, através
de minha oração ele faça o milagre da curar, na pessoa no qual estou
fazendo todo o ritual da reza, porque quem cura não é só eu como
rezador, mas, sim, Deus, nosso senhor, através da minha fé e da fé
da pessoa que recebe minhas orações. Com alguns meses depois da
minha primeira reza que aconteceu na criança, passei ser procurado pelas as pessoas adultas que vieram procurando uma cura, ai, a
gente faz aquela cura, faz aquele pedido a Deus por que a gente não
cura não. Deus é quem cura. A gente faz o pedido a Deus, se você
tiver que receber aquela cura e ter fé, você recebe, se não tiver, você
cumpri a missão aqui na terra. Ao pedir com fé que a piedade divina
age sobre essa pessoa; você será ouvido. Vai depender não só da fé
do rezador; mais também da pessoa que a procura e o merecimento
de cada pessoa. (S.R Joaquim, campo realizado,02/10/2018.)
A riqueza da manifestação nos leva ao encontro e fascínio
com a arte de curar, suas rezas, ritos e a fé daqueles que por eles são
curados. As práticas de cura assumem uma finalidade social. Que
é trazer a esses indivíduos que impulsionaram a formação daquilo,
que chamamos de medicina popular. Por desperta na população o
censo de crer em algo que transcendem sua vida.
As mulheres com seus filhos são os indivíduo que mais
buscam a reza- as crianças são mais atingidas por enfermidades que
somente o rezador pode curar. Porém, os homens também busca
pelo o processo da cura, apesar de muitos homens falarem que, muitas vezes, tem vergonha de procurar e ser algum deles curado por
um rezador, optando(rotineiramente)só por ser atendido em posto
de saúde, por um bom médico.
Á dor, a morte, em nossa sociedade se recorre a poderes sobre naturais, em vista da precariedade dos elementos naturais disponíveis
(SOUZA MINAYO, 1994, p. 61)
Reza porque não pode ser cobrada. A partir do momento
que a reza passa ser cobrada; ela não faz efeito-pois, quando Deus
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
lhe permitiu curar as pessoa através de sua reza; não cobrou nada
dele. E, ele também não teria o porquê de ganhar alguma coisa, (por
exemplo, dinheiro) por causa de algo que ele faz de coração, faz com
amor; “não existe felicidade maior quando vejo o sorriso da pessoa
quando é curado por minha reza”.
Algo que chama a atenção são os meios pelo qual esse
curandeiros. São recompensados pelos seus feitos, pois um médico
não trabalhada sem receber, remuneração alguma, o “medico popular “não espera daquele que recebeu a cura nenhuma gratificação ou
pagamento.os mesmos esperam a gratidão do indivíduo.
Enfatiza que sua avó não lhe ensinou tudo que ela sabia;
só ensinou o suficiente para rezar nos próprios filhos e naqueles que
um dia iriam precisar da ajudar dele. mas, com o rascunho que absorveu, curou muitos” que hoje em dia não faço ideia ter curado”.
Acrescenta: “E, todas minhas rezas fizeram efeito. Nunca ouvi uma
pessoa falando que me procurou e minha reza não serviu, sempre
todos ficaram satisfeitos com a minha reza”.
Outro apontamento é que o rezador homem não pode ensinar a reza para outro homem, e nem a mulher para outra mulher
porque (assim) a reza não terá efeito e nem valor algum. E, a partir
do momento que um rezador passa sua oração para outrem; pessoa
ele perdi a força da reza; naquele momento, perde-se o dom de continuar curando a população. Sua avó não lhe ensinou aquelas orações que fazem mal as demais- chamadas por rezas ruins, ela não lhe
ensinou, por que, era pra fazer o mal; e, ele poderia ter o gênio mal,
e poderia usá-los nos outros.
Existe rezar para esses tipos de doenças denominadas de
Quebranto. Há dois tipos dele: o Quebranto de fome e o Quebrante
(quando alguém acha outrem pessoa bonito e fica admirando):
De acordo com Maués (1995) o quebranto ás vezes confundido
com o mau-olhado, apresenta sintomas que são os mesmo do mauolhado, como capaz de atingir somente crianças pequenas; provoca vômitos, diarreia, choro frequente, febre e abatimento. Além da
semelhança do Quebranto com o mau-olhado; existe uma outra;
ambos podem atingir não somente pessoa, mas também plantas
e animais. Assim quem tem olho doido é capaz de provocar até a
morte. (MAUES, 1995, p. 218)
- 18 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Os conceitos de maués ao usados constantemente no trabalho pesquisado. O mesmo faz um levantamento sobre as doenças e
enfermidades recorrentes ao município, que se assemelha muito aos
que trato na pesquisa.
Quanto aos males e aos tratamentos administrados
Tem o Vento caído ou susto: instante em que promovem
medo a uma criança e a assusta ela.
Desmentidura: quando a pessoa cai e torce o pé: a junta
sai do lugar. Parar fazer a reza e curar, são pegos três ramos verdes,
um copo com água e uma pitada de sal dentro do copo com a água,
um pedaço de pano vermelho e uma agulha virgem e reza em voz
alta: carne trilhada, nervo rendido, osso torto e junta desconjuntada.
E, a pessoa que está doente tem que repetir a reza junto com o rezador três vezes.
Vermelha: Há três tipos de vermelha. A izipa branca, izipa
e a izipelão. Esses tipos de males ocorre quando tem um tumor, um
corte que fica vermelho do lado e a pele fica inchada. O rezador chama de doença vermelha, a izipa branca é que só incha no lugar onde
está enferma, a izipa descasca a pele e a izipelao faz coçar e torna
tudo vermelho. Ele o rezador pega três ramos verde de vassourinha,
um copo com água e sal e reza no local em que está a modalidade de
vermelha.
Espinhela Caída: Quando se carrega muito peso e a” espinhela cai”, o enfermo tem que segurar um peso quando está sendo”
rezado” e sempre fazendo força.
Aberto: O rezador mede o peito com uma corda e a pessoa
tem que ficar com os braços para cima enquanto o rezado está lhe
rezando.
Espremedeira conhecida como cólica: Quando o pai
de recém-nascido sai pra beber e jogar bola, e quando ele trair sua
mulher; ou, quando sua mãe espreme as fraldas- a criança não para
de chorar e ficar se espremendo ou se contorcendo. reza –se com a
própria fralda; e, depois de rezar nove vezes ,amarrar na cumeeira
da casa ,pegando fumaça do fogão a lenha. Outra forma de curar é
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
usar um prato virgem e colocar debaixo da rede onde o infante está
dormindo- deixar cair o xixi dele no prato;e ,pegar o objeto e o levar
para o rio ou a um igarapé; e, deixar que as águas levem.
Rituais do ramo :Todas as vezes que acaba a reza, o rezador tem que jogar o ramo para trás. Ao fazer isso é jogando a doença
para Alcione. São lançadas no mar as enfermidades, assim. As rezas
são acompanhada de certos elementos rituais (como o uso do ramo,
agua, sal, agulha e pano vermelho para ilustrar). Volta-se a invocar
energia divina para agir sobre uma determinada doença.
A reza para o interlocutor, é um dom que Deus dar para
a gente, pela vontade que você tem para fazer o bem. Ai, Deus te
dá àquela oportunidade, como se diz, aquela missão que vai fazer o
bem e não o mal, também sem escolher a quem. Porque, se chegar
uma pessoa a minha casa, se ele é um rico ou não, tenho que atender.
Se é um pobre também; tenho que atender. Sendo ou não da minha
classe. Aqui todo mundo é igual. Para Deus, não tem diferença- o espirito da gente é uma luz; então, essa luz leva a gente para a claridade.
Entrevista concedida a Maria, dos Reis, que de acordo com
seu Nonato Ferreira com a idade de 75 anos me relatou. (S.r., Nonato
entrevista realizada no dia 02 ⁄10⁄2018
Eu era solteiro ainda (tinha mais ou menos uns vinte e poucos
anos), quando comecei a rezar em crianças.ai, depois apareceram
os adultos que vêm procurando uma cura. Ai, a gente mesmo não
cura não, eu não tenho poder de fazer isso. Deus é quem faz. A gente
faz um pedido a Deus. Então se você tive que recebe aquela cura;
você recebe, se não tive ele vai cumprir a missão. Até chegar a ficar
bom; ou, ás vezes nem fica bom. Às vezes, morre com aquela doença, dependendo da gravidade da doença. Eu, desde pequeno, tinha
um dom de fazer a cura; porque, quando eu via aquelas crianças
de doentes, eu tinha aquela vontade de fazer alguma coisa e poder ajuda. Então, por intermédio um curador, que eu me tratei com
ele, por que me botaram um maleficio. Você sabe o que é maléfico.
É feitiço, então tinha um curador, que foi com que eu fiquei bom
por que o médico não resolveu, eu procurava os melhores médicos
que tinha (médico boliviano, médico peruano, médicos brasileiro).
Nunca conseguiram resolver o caso da doença. (S.r., Nonato entrevista realizada no dia 02 ⁄10⁄2018).
Deste modo a alternativa que a população utiliza e a dos
rituais locais [...]Não obstante essas diferenças há laços unindo as
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
diferentes formas de cuidar dos sujeitos em questão: são, por um
lado, os das necessidades do grupo, e por outro o do pedido de ajuda.
(BORGES, 2008, p, 328.)
A carência de tratamento é suprida pelo socorro prestado
pelos que são chamados. Ai, foi um curador que tinha, eu fui lá à
casa dele, né? ai ele disse que eu tinha um feitiço ‘’ butado’’ em mim,
maléfico ai, né? demorou um pouco, mais eu fiquei bom graças a
Deus. Eu tinha assombração. Tudo que eu via, ... não podia andar
sozinho. Só andava acompanhado. Não conseguia dormir, não conseguia pregar o olho, passei 16 noites sem dormir, sem pregar o olho.
ai, tudo isso passei na minha vida. Aquele sofrimento. Aquele tal de
feitiço. Mas, graças a Deus, procurei Deus como ele. É muito poderoso. Achei um curador que conseguiu combater a doença. Mas graças
a Deus, ele ouviu, se não, teria morrido; porque médico não achou
doença e nem tinha como curar. Porque o remédio que tomava não
servia muito. Era mesmo que eu tomar água.
A experiência do entrevistado reforçou a visão que ele
transmite hoje. [...]Na base de todos os sistemas de doenças e de todos os cultos deve necessariamente haver certo número de representações fundamentais e de forma que umas e outras palavras puderam
preenchem as mesmas funções. (DURKHEIM, p. 207,208).
Quando se concerta diretamente na parte afetada, e concretizado
de um modo demasiado grosseiro (em geral, puro embuste) para
que se lhe possa reconhecer qualquer valor intrínseco. E quando
consiste na repetição de um ritual geralmente muito abstrato, não
se consegue compreender qual poderia ser seu efeito a doença. (LÉVI-STRAUSS, p.206)
Percebe-se que, a cura para o mesmo seria uma manifestação da magia, vale ressaltar que o mesmo se viu influenciado por
suas crenças. Acredita na veracidade que os indivíduos dão a religião
e mesmo as práticas de cura.
Outra ilustração é a Entrevista concedida à Maria, dos
Reis, que dona Francisca de Souza com a idade de 85 anos me relatou (S.r. Francisca entrevista realizada no dia 30 ⁄10⁄2018. O motivo
para ela se torna uma rezadora foi que sua filha ficou muito doente
e ela foi procurar um rezador que rezasse pra doença de criança, sua
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
descendente já estava à beira da morte. Teve que leva lá pra nove rezadores; parar poder curar a enfermidade da sua criança. E, com a fé
que ela tinha, E por ser católica, sua filha ficou boa. Referente a isto.
O termo católico tal qual se usa diz, respeito mais a uma condição
sociocultural religiosa pelo qual o sujeito e introduzido nos ritos
sacramentais da igreja católicas, basicamente ao batismo, é tem uma
serie de práticas de devoção ligadas aos santos da mesma instituição
de participação na liturgia oficial (SOUZA MINAYO, 1994.p. 61)
Desde esse momento, ela se interessou e se dedicou, a saber, mais sobre o curar com a rezar. E, pouco a pouco, foi aprendendo com esse senhor que salvou a sua filha ele teve a paciência de lhe
ensinar o essencial para ajudar quem precisa. Ela reza para mau-olhado, quebranto, dor de cabeça, carne triada, campainha caída ou
espiela caída, peito aberto, erisipela e engasgo, além de rezar parar
que objetos desaparecido apareçam.
O mal- olhado nos adultos e o quebranto nas menores é
um dos problemas centrais na reza, pois relaciona o olhar com o
falar. O grande públicos que lhe procura é composta em sua maioria,
por infantes. Esses recebem o mal por meio de palavras de agrados,
é uma contradição dizer que o mal vem pelo elogio e pelo agrado,
por exemplo, faz o uso de diversos rituais envolvendo gestos e palavras, para realizar suas sessões de cura no combate ao quebranto,
mal olhado, vento caído. Ela usa a oração para curar os indivíduos
fazendo uso de um rosário durante toda a sessão; e, com a fé que a
população tem e que vai ser curada. Com fé em Deus, tudo é resolvido, ela reza que cura:
Então a cura a gente põe toda a fé, toda a energia e consegui receber
uma cura. Depende de muita coisa. A pessoa vai a procura porque
quer ficar boa e livre de alguns problemas. A gente recorre por muitos motivos saúde, da mente. Mas isso depende da fé de cada um;
porque, se ele ou ela não crê, então, não vale a pena pedir. É pedido
em vão. (S.r. Francisca campo realizado no dia 30 ⁄10⁄2018)
A busca pelo auxilio se une ao posicionamento dotado
pelo necessitado. Para o mesmo os saberes são repassados oralmente. Onde, os indivíduos escutam as orações e as reproduzem sem dá a
elas as características que encontram. Pois para uns dos interlocutor
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
a cura, veio para os mesmo por meio de deus. Um dom que deus lhe
confiou, para pudesse fazer bem aos outros. Quanto à cura: a argumentação de minayo.
A cura se refere ao fenômeno pela qual as pessoas recuperam a saúde física e mental, mas também serve para denominar a recuperação da segurança, do bem estar, da honra de tudo aquilo que seja
reordenação do caótico, do negativo em termos religiosos ideológicos ou pessoais, em relação a si mesmo, aos outros e ao mundo
(SOUZA MINAYO, 1994.p.66).
Para a ocorrência dessa opção, A explicação dada é que a
inveja e a competição é que cria o mal. Nada obstante, sobre o outro
prisma pode ser uma característica da própria personagem. Por outro lado, a própria fala cura mediante da reza. Isso não conduz a uma
relação dicotômica, entre o diabo como o mal; Deus, o bem. Em geral, o mal é ocasionado pelo olhar e pela fala sem que necessariamente a fonte proporcionada seja má. Ocorre, como se houvesse uma
autonomia desses dois elementos, que agiriam involuntariamente no
sujeito. O supracitado autor (Durkheim 206) já apresentou ser compreensível o quadro de religiões recentes dentro do ambiente num
corte temporal, os quais conhece a lógica.
Primeiramente, não podemos chegar a compreender as religiões mais recentes se não segundo na história a maneira pela qual
elas se compreenderam progressivamente. Com o argumento, (...)
na história é o único método de análise explicativa que é possível
aplicar-lhes. (DURKHEIM, p.206)
No exercício das funções dos rezadores, há um possíveis caminho
para entender os rezadores em uma reflexão a respeito da ideia do
indivíduo em nossa sociedade. Assim como desde a publicação de
um trabalho de Mauss (1974); Não se constitui nenhuma novidade
afirmar que as noções de pessoas com eu individualizado, desde as
concepções das sociedades tribais do ser humano como um personagem que ocupa seu lugar bem demarcado nas dramatizações do
ritual. Esse autor abre caminho por uma série de formulações que
serve para se refletir na antropologia moderna. (MAUÉS 1994, p.
76).
Tratar de questões acerca, do que se concebe, chamar de
“cultura popular “é algo que se faz de grande necessidade, por evi- 23 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
denciar característica de uma dada população; aglomerados de indivíduos, que desenvolveram técnicas. E, fazeres que se propagam por
todo tempo.
Considerações Finais
No desenvolvimento da minha pesquisa de campo, observa- se que a cura é tema complexo e de ampla discursão, quanto ao
que abrange sobre relações humanas. As pessoas procura os rezadores; para ter, pelo menos, um conforto espiritual, por falta, abandono
e proteção no que corresponde à saúde pública. Essa população tem
bastante respeito e admiração por eles. Continuam acreditando no
poder das orações proclamadas por esses rezadores, direcionadas a
vários tipos de males.
Os rezadores que pesquisei são sujeitos que receberam o
dom da reza da formas diversas. O primeiro rezador aprendeu com
a sua própria Avó que moravam nos seringais. O segundo, do núcleo
rural, desenvolveu a reza por necessidade, diante das doenças com
que ele viveu na localidade e perante as dificuldades encontradas
pelo isolamento na abrangência. Com isso, passou a receber rezas de
cura; pois se tratava de um maleficio que lhe colocaram. E, a terceira
testemunha arguida amparou-se no encaminhamento dos demais.
No universo cultural destes, pode-se perceber a inquietação dos mesmos no tocante ao medo de que eles têm de serem confundidos com ‘’ macumbeiros’’, na concepção deles, macumbeiros
são aqueles que usam seu dom para praticar o mau.
Nos relatos dos indivíduos deixaram bem claro que só rezam para fazer o bem - nunca para fazer o mau aos demais:
O saber dos curandeiros e benzedeiras, quando comparados ao saber cuidar da ciências. Demostra maior competência para, criar, tecer, enredar, acessar as intersubjetividades que permeiam as orações
necessárias na rede de cuidados em saúde. (BORGES, 2008, p. 330)
Por isto é imprescindível estabelecer uma conversa entre
a academia e os conhecimentos tradicionais. É uma reflexões que
temos com as benzedeiras e rezadores, que vieram dar aporte para
a escrita da história. Perceber como se constituíram as práticas de
cura; Como em meio ao saber médico, essas práticas continua. Com- 24 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
preender, a Contribuição que essas mulheres e homens deram para
constituição da chamada “medicina popular”, despertando a prática
de cura. A humanização na prestação do cuidado é um ponto forte
visualizado na pesquisa. Esse trabalho de doação, de caridade, faz
com que a pratica do cuidado seja embasada em valores humanístico.
Referências Bibliográficas
As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Paulinas, 1989
MAUÉS, Raimundo Heraldo. Padres, pajés, santos e festas. Catolicismo popular e controle eclesiástico: um estudo antropológico
numa área do interior da Amazônia. Raimundo Heraldo Maués.
Belem:cejup,1995.
ALVES, Paulo Cesar (org.). Saúde e doença: um olhar antropológico,
organizadores Paulo Cesar Alves: Maria Cecilia de Souza minayo,
Rio de janeiro:FIOCRUZ,1994, 174p,,
MOEMA, da Silva Borges, Departamento de enfermagem da faculdade de ciências da saúde. Universidade de Brasília, Brasília. DF:Universidade de Brasília, 2008.
Referências Primárias
DE SOUZA, Nonato, Ferreira. Entrevista concedida à MARIA dos
Reis da silva, relatado de forma verbal, dia 02⁄10⁄2018.na Rua Cruzeiro do Sul, Bairro Colônia II. Município Benjamin Constant,
DOS REIS. Joaquim, Ferreira, Entrevista concedida à MARIA dos
Reis da Silva, relatado de forma verbal, dia 02⁄10⁄2018.Rua Cruzeiro
do Sul, Bairro Colônia II. Município Benjamin Constant.
DE SOUZA, Francisca. Entrevista Concedida à MARIA dos Reis da
Silva, relatado de forma verbal, dia 30 ⁄10⁄2018.Rua, A. Bairro Agropalm. Município Benjamim Constant.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Um breve contato estabelecido entre
antropologia e administração
Andresson Luan Franco Simão
Marcilene Assis de Souza
Érica Fabrícia Melo
Introdução
O artigo apresenta “um breve contato estabelecido entre:
Antropologia e Administração”, e teve como objetivo geral analisar
o trabalho realizado com os alunos dos cursos de Antropologia e
Administração, visando compreender a relação com as disciplinas
que se originam de ambos os cursos e sua caracterização quanto
formação profissional de indivíduos com formações distintas. Nos
cursos de Antropologia e Administração da UFAM, no Instituto de
Natureza e Cultura, em Benjamin Constant–AM no ano de 2019.
O artigo busca realizar uma análise sobre a relação de ambas
disciplinas, proporcionando um ponto de vista que almeja viabilizar
duas versões distintas de pontos de vista diferentes. Dessa forma,
desempenhou-se uma coleta de dados em ambos os cursos, afim de
adquirir resultados para a pesquisa e também para a compreensão
deste assunto, que irá auxiliar na análise de temas como relacionamento entre cursos e suas disciplinas.
De acordo com esse pensamento foi-se possível desenvolver
tal pesquisa aliando dois cursos com ideias diferentes e alunos críticos que estão em formação profissional. Porém, poucas pesquisas
são realizadas com relação a esses contatos e relações que se estabelecem dentro da universidade, buscando a opinião dos alunos e seus
pontos de vista, então, foi que essa tentativa de responder, quais as
perspectivas e relações que os alunos estão sujeitos a vivenciar.
Devido a essa busca por compreensão, procurou-se questionar as principais dificuldades e facilidades dos alunos com relação às disciplinas e depois como estava caracterizada a relação deles
com outros cursos, para que assim, pudesse obter-se uma análise
significativa. O que se quer propor é um ensaio buscando relacionar
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
a interpretação dos dois lados. Por isso, é importante ressaltar que
a proposta aqui defendida, não é somente conhecer, mais também
analisar a interação, possibilitando propostas de pesquisa de relevância e caráter científico para nossa região do Alto Solimões.
Para realização deste trabalho, primeiramente foi feita a pesquisa bibliográfica numa perspectiva teórica de Laplantine (2007),
Revière (2013), Júnior; Silva; Monte (2017), Chiavenato (2008), Ferreira; Reis; Pereira (2002), Silva; Woitchunas (2008) e outros pelo
fato de abordarem temas de Antropologia e Administração e as disciplinas em questão, além disso, ajudaram na fundamentação teórica da pesquisa. Após a pesquisa bibliográfica foi feito um levantamento de dados, e utilizou-se como instrumento, um questionário,
que facilitou na coleta de dados e realização do projeto de pesquisa,
e que serviu de suporte para concluir o trabalho que se propôs a
realizar, assim, alcançando o resultado desejado proposto na pesquisa. Está pesquisa foi realizada através de um questionário que foi
aplicado a 47 estudantes, sendo 37 do segundo período do curso de
Administração e 10 do quarto período do curso de Antropologia da
Universidade Federal do Amazonas(UFAM) no Instituto de Natureza e Cultura (INC) em Benjamin Constant-AM.
Onde obteve-se daí de uma análise dos gráficos criados, uma
percepção de que 100% dos alunos que responderam os questionários cursaram as referidas disciplinas, e em Administração teve-se
aprovação de 100%, porém, em Antropologia apenas 70% foram
aprovados. Com relação às dificuldades nas disciplinas em Antropologia 40% tiveram dificuldades e em Administração 11%. Com base
nos dados coletados, as relações dos alunos com as disciplinas foram
em administração 30% ótima, 0% boa, 57% regular e 13% ruim. Já
em antropologia, 50% disseram ser ótima, 30% boa, 10% regular e
10% ruim. De acordo com os alunos de administração, 89% acreditam que a disciplina de Introdução à Antropologia vai influenciar
futuramente no local de trabalho e em Antropologia somam 70%
dos que acreditam nisso referente à disciplina de Gestão Organizacional.
Os resultados alcançados foram significantes, pois, todos os
alunos, tanto do 2º período de Administração, quanto do 4º perí- 28 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
odo de Antropologia, colaboraram com a pesquisa sem hesitar ou
negar-se a participar. Este trabalho apresentará em suas próximas
seções a fundamentação teórica, na qual se encontram as definições
que fundamentam e argumentam as disciplinas que serão aqui tratadas e seus referidos cursos de origem. Após seção, será encontrada
a metodologia, ela descreverá os teóricos adotadas e seus métodos, e
sua utilização no projeto de pesquisa, logo depois, a Análise e discussão de dados, que mostra a análise proposta e seus resultados, e em
seguida vem às considerações finais e finaliza-se com as referências
utilizadas.
Antropologia
A antropologia tem seu início na segunda metade do século
XIX, com formação ainda não definida, e foi se concretizando ao
passar dos anos, recebendo muitos conceitos e objetos de estudo ao
longo de sua história e formação como disciplina. O primeiro deles
seriam as sociedades ditas “primitivas” segundo Laplantine
Para que esse projeto alcance suas primeiras realizações,
para que o novo saber comece a adquirir um início de legitimidade entre outras disciplinas científicas, será preciso
esperar a segunda metade do século XIX, durante o qual
a antropologia se atribui objetos empíricos autônomos:
as sociedades então ditas “primitivas”, ou seja, exteriores
às áreas de civilização europeias ou norte-americanas.
(LAPLANTINE, 2007, p. 14-15)
Mas afinal, o que é antropologia? Muitos ficam se
perguntando quando escutam esta palavra. A Antropologia é uma
ciência que se propõe em conhecer o homem em sua completude,
ou seja, seus traços biológicos e socioculturais. Ela é, pois, o estudo
do homem com suas culturas e histórias, suas linguagens, valores,
crenças ou hábitos. Ela é uma ciência que vem exercendo grande
destaque na área de humanas. Historicamente vem sendo muito
utilizada para exploração das características, seus costumes, hábitos
e diferentes modos de vida. Ainda sobre o que a antropologia estuda,
temos várias definições de vários autores, por exemplo, segundo
Claude Revière (2013) em Introdução à Antropologia:
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
A antropologia tem como postulado a unidade do gênero humano, o que não significa que se ocupe do homem
simplesmente. [...] A ciência do homem em geral (antropos, em grego) aplicou-se, de seguida, à interpretação de
todas as diversidades culturais e sociais, pondo em causa
as ideias de progresso continuo da humanidade, de supremacia de uma civilização sobre outra, depois, mais recentemente, propondo o reordenamento das relações interculturais, principalmente na época das descolonizações.
(REVIÈRE, 2013, p.11)
No Brasil, o primeiro curso Bacharelado em Antropologia
foi criado na UFAM, que foi implantado no Instituto de Natureza e
Cultura- INC, Benjamin Constant, no ano de 2006, segundo : Paulo
Pinto Monte, Adolfo Neves de Oliveira Júnior e Heloísa Helena
Corrêa da Silva, em A Implementação do Curso de Antropologia na
Região do Alto Solimões-AM (2017)
Em 2003, em atenção a Projeto “Expandir do tamanho
do Brasil”, principal proposta do governo do Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva (2003-2006) para o ensino
superior, que tratava da expansão das universidades, a
direção da Universidade Federal do Amazonas iniciou
a criação de novos campi e cursos. Nesse quadro, após
consulta os professores e Heloísa Helena Corrêa da Silva (presidente), Adolfo Neves de Oliveira e Paulo Pinto
Monte foram nomeados através da Portaria do Gabinete
do Reitor 1.208/2006, constituindo a comissão para a criação do primeiro Curso de Bacharelado em Antropologia
no Brasil, numa região de difícil acesso do país, com grande diversidade de povos Indígenas que constituem parte
substancial da população. (JÚNIOR; SILVA; MONTE,
2017, p.19)
O curso de Antropologia nasceu junto com o INC, em
1996, a UFAM da início a implementação do Campus Avançado
do Alto Solimões, porém, somente no ano de 2006, será instalada
definitivamente na região, na criação do Instituto de Natureza e
Cultura- INC, trazendo seis cursos regulares de nível graduação:
Administração, Bacharelado em Antropologia, Licenciatura dupla
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
em ciências: Biologia e Química, Licenciatura e Bacharelado em
Ciências Agrárias e do Ambiente, Licenciatura dupla em Letras:
Língua Portuguesa e Língua Espanhola e Pedagogia.
Antropologia e suas disciplinas
No modo geral a introdução à antropologia está ligada a
uma iniciação a essa ciência da área de humanas por parte de um
indivíduo conhecedor do senso comum ou de uma área especifica
que tem a partir desse ponto uma visão da antropologia. Essa etapa
inicial traz os primeiros conceitos, definições, principais autores e
teorias. Para os discentes do curso de antropologia seria como uma
boas-vindas a área. Traz também os fatos históricos que marcaram a
caminhada da antropologia aos dias atuais. Segundo Rivière (2013):
Esta introdução apenas conseguira abarcar as partes essenciais da produção de uma disciplina. Propondo-nos
aqui sublinhar assuntos de estudo e categoria de análise,
enunciar tentativas de método e de reflexão visando a
apreensão dos fenômenos socio-culturais, apontar, apontar campos de pesquisa, fragmentos de cultura e debates
teóricos, que permitam ulteriores opções e especializações
do estudante. (RIVIÈRE, 2013, p. 9)
A introdução a antropologia também é uma disciplina
no curso de Antropologia que se propõe no primeiro período do
curso de Bacharelado em Antropologia o objetivo da disciplina é
apresentar aos alunos os principais conceitos e a metodologia que
caracterizam a antropologia social, abrangendo também a reflexão
teórica sobre alguns aspectos da vida social e da atividade simbólica,
ou seja, seria uma introdução a esse universo que se engloba a
antropologia como ciência e desempenha um papel de iniciação
aos futuros antropólogos ou também o ponto de identificação ou
não com o curso, justamente por que a disciplina da uma análise
de como o campo da antropologia se mostra bastante amplo. A
disciplina também faz parte da grade curricular de outros cursos do
INC como Pedagogia, Ciências Agrárias e Administração.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Administração
A administração assim como Antropologia é uma ciência,
sendo ainda alvo de mudanças e novas concepções. Ainda no século
XX, a Administração constitui-se como ciência a partir do ano de
1911, e ficou marcado pela publicação da obra Os princípios da
Administração Científica. Em sua obra Frederick Winslow Taylor
descreve a teoria da Administração científica, ou seja, o emprego
do método científico para definir a melhor maneira de um trabalho
ser realizado. Assim Taylor é considerado o pai da Administração
Científica. Mesmo sendo uma ciência que ainda está vivendo seus
primeiros passos rumo a concretização como área de conhecimento
especifico a administração, vem se mostrando ser muito promissora
no campo das ciências, segundo Idalberto Chiavenato:
A Administração e uma ciência relativamente nova. Provavelmente a mais recente de todas as ciências humanas.
Uma jovem e talentosa senhora com pouco mais de 100
anos. Mas que já mostrou sobejamente a que veio. E rapidamente passou a ocupar um lugar de destaque especial
no panorama das ciências. De fato, apesar de tão recente,
a Administração e hoje considerada a ciência que permitiu que todas as demais ciências pudessem transformar
suas descobertas, invenções e inovações em produtos e
serviços disponíveis para a sociedade. (CHIAVENATO,
2008, p.3)
Logo após o americano Taylor ter dado início a
Administração Científica, surge paralelamente na França (1916) a
Teoria Clássica, caracterizada pela ênfase na estrutura e na busca
de eficiência. Seu fundador foi o engenheiro francês Henri Fayol,
que publicou sua teoria no livro Administração Industrial e Geral.
Podemos usar como exemplo o quadro feito por Ferreira; Reis;
Pereira (2002):
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Quadro 1: Comparativo entre a administração científica x clássica
Fonte: FERREIRA; REIS; PEREIRA, (2002).
Este foi apenas o início, outras escolas surgiram para a
estruturação da administração, segundo Marivane da Silva e Lucinéia
Felipin Woitchunas, em Fundamentos da gestão organizacional
(2008), mostram o que aconteceu a seguir com um quadro síntese
com as abordagens dos principais autores e suas discussões que
contribuíram para a teoria da Administração:
Quadro 2: Resumo da história da Administração de 1890 a 1972
Fonte: Fundamentos da Gestão Organizacional, SILVA;
WOITCHUNAS, (2008, p.42)
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
O quadro mostra de uma maneira geral os passos que a
Administração deu durante sua caminhada até o ano de 1972,
claro que depois desse período a área de Administração continuou
progredindo até os dias atuais, e continua se mostrando muito
produtiva e gerando muitas pesquisa e teorias. Desenvolvendo
um trabalho incomparável nas empresas e setores de gestão e
organização, entre outros.
GESTÃO ORGANIZACIONAL
Muito se tem a aprender com a gestão organizacional, uma
área da Administração que está sendo cada vez mais solicitada nas
organizações, segundo o Manual de Gestão Organizacional, que faz
parte do Programa de Formação Inicial para ANEs - Actores Não
Estatais (2012):
A Gestão Organizacional é um conjunto de orientações
e ferramentas que permitem levar a cabo o processo de
planear, implementar e controlar todas as atividades de
uma organização, desde tarefas do dia-a-dia a projetos
de curto, médio e longo prazo. Uma boa gestão organizacional garante uma boa performance da organização,
permitindo-lhe alcançar os seus objetivos e ganhar prestígio perante a comunidade local, nacional e internacional.
Para isso, a organização deve ser dotada de bons princípios à “nascença”, e ser guiada por uma boa liderança em
todas as suas atividades. Esta assegurará que se adotarão
as boas práticas e os instrumentos necessários para um
bom funcionamento assim como ultrapassar os desafios
diários que os seus membros têm de ultrapassar. (ANEs,
2012, p. 03)
A Gestão Organizacional também está presente nas
universidades, como disciplina do curso de Administração e até
mesmo como disciplina de outros cursos como o de Antropologia.
A gestão organizacional vem falar também das estruturas
organizacionais e o comportamento organizacional, que segundo
Stephen P. Robbins (2005, p. 350): “Uma estrutura organizacional
define como as tarefas são formalmente distribuídas, agrupadas e
coordenadas.” Já sobre o comportamento, o autor diz que:
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
“O comportamento organizacional é um campo de estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos e
a estrutura têm sobre o comportamento dentro das organizações com o propósito de utilizar este conhecimento para melhorar a eficácia organizacional.” (ROBBINS,
2005, p. 06).
“Locus” da pesquisa: UFAM-INC
A palavra “locus”, vem do latim que significa literalmente,
“lugar”, “posição” ou “local”. O “locus” da pesquisa foi na Universidade Federal do Amazonas- UFAM, mais precisamente no Instituto
de Natureza e Cultura- INC, que está localizado no município de
Benjamin Constant, Rua 1º de maio Bairro Colônia, sendo um município brasileiro do interior do estado do Amazonas, na microrregião (de acordo com a constituição brasileira de 1988 art.25, §3°°),
composta de municípios limítrofes, do Alto Solimões no norte do
país, Continente América Latina, fronteira com Peru e Colômbia.
Os questionários para a obtenção de dados foram aplicados em duas
turmas, uma delas foi 2º período de Administração, e a outra o 4º
período de Antropologia, localizados nos blocos 01 e 03, respectivamente da universidade. Com relação à pesquisa Pádua afirma que
pesquisa é toda atividade voltada para solução de problemas; como atividade de busca, indagação, investigação,
inquirição da realidade, é a atividade que vai nos permitir, no âmbito da ciência, elaborar um conhecimento, ou
um conjunto de conhecimentos, que nos auxilie na compreensão desta realidade e nos oriente em nossas ações.
(PÁDUA, 2000, p. 31)
A pesquisa que foi feita, pode ser considerada quantitativa e
descritiva, onde pode ser apresentados dados quantitativos e descrever-se a relação que os alunos de ambos cursos diferentes se relacionam com disciplinas de outros cursos, tentando através do ponto de
vista dos alunos compreender e analisar suas perspectivas.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
O público-alvo da pesquisa
O público-alvo da pesquisa foram os discentes do curso de
Antropologia do 4º período e Administração do 2º período, do INC,
em Benjamin Constant - AM.
Gênero
Nº do Público-Alvo.
Total
Discentes da UFAM-INC
Antropologia
Administração
M
F
M
F
5
5
15
22
10
37
Fonte: SIMÃO, Andresson L. F. 2019.
Portanto, tivemos 10 informantes do curso de Antropologia, 37 informantes de Administração, sendo 5 do sexo feminino e 5
do sexo masculino no curso de Antropologia e em Administração 15
foram do sexo masculino e 22 do sexo feminino.
“Quando se deseja colher informações sobre um ou mais
aspectos de um grupo grande ou numeroso, verifica-se,
muitas vezes, ser praticamente impossível fazer um levantamento do todo. Daí a necessidade de investigar apenas
uma parte dessa população ou universo.” (MARCONI;
LAKATOS, 2009, p. 27).
Conforme Marconi e Lakatos (2009), a escolha dos informantes é feita por questões numérica, ou seja, um número menor
de informantes pode revelar resultados que se conseguiria em um
número maior e em menos tempo de pesquisa, por exemplo, existem informantes que podem contribuir muito mais que um número
excessivo na pesquisa, e foi levado em consideração a inserção social
dos informantes, ou seja, pelo fato de os mesmos pertencerem a grupos diferentes, com vários traços específicos tais como ideológico,
cultural e também intelectual, ainda em formação.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Coleta de dados
O principal modo de coletar dados desta pesquisa quantitativa descritiva se produziu mediante a aplicação de um questionário
com perguntas relacionadas às disciplinas de Gestão Organizacional
no Curso de Antropologia e a disciplina de Introdução a Antropologia no Curso de Administração, focando esse relacionamento que é
criado entre as duas áreas já especificadas. A coleta de dados é uma:
“Etapa da pesquisa em que se inicia a aplicação dos instrumentos
elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de se efetuar a coleta
dos dados previstos” (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 18).
Foi utilizado como principal instrumento a elaboração de
questionário que possuiu maior facilidade de ser realizado, pois, as
questões que foram aplicadas, eram idênticas para ambos os cursos,
mudando apenas o foco para cada curso, sem utilizar questões específicas a cada curso em questão, pois o pesquisador está cursando
uma das disciplinas que estão focalizadas neste artigo, o que facilita
na elaboração das perguntas, no levantamento e na análise de dados.
Com relação ao uso de questionários, Marconi e Lakatos (2009, p.
86): “Questionário é um instrumento de coleta de dados construído
por uma serie ordenada de perguntas, que devem ser respondidas
por escrito e sem a presença do investigador.”
Sendo assim, “Deve-se ter cuidado de limitar o questionário
em sua extensão e finalidade, afim de que se possa ser respondido
num curto período de tempo, com o limite máximo de trinta minutos.” PÁDUA (2000, p. 69). Sendo que a coleta se dá a partir dos
questionários o qual foi exposto a elaboração das perguntas, como
objetivo da pesquisa será de coletar os pontos de vista e perspectivas
do grupo pesquisado, há a necessidade de se elaborar um questionário, adaptado ao objetivo desta pesquisa, para sua elaboração teve-se como base os exemplos utilizados por MARCONI; LAKATOS
(2009, p.86-112).
Nesse sentido, com a utilização desses questionários teve-se
então uma boa coleta de dados e uma análise da aplicação da pesquisa ao local e aos informantes gerando resultados muito relevantes
a pesquisa, aprofundando-se o conhecimento na área pretendida,
com a inclusão de perguntas que realmente puderam investigar a
situação em questão e trazer uma análise mais aprofundada do tema
abordado.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Análise e discussões dos resultados
Primeiramente, foi apresentado o projeto de pesquisa
com o tema: Antropologia e Administração, e com o título: Um
breve contato estabelecido entre: Antropologia e Administração.
Em seguida, foram conceituados Antropologia, Administração,
Gestão Organizacional e Introdução à Antropologia, enfatizou-se
sua importância para o processo e desenvolvimento da pesquisa,
como também, para a sociedade em que o autor está inserido. Logo
se preparou um questionário para a obtenção de dados.
Diante do questionário pronto, foi-se para aplicação nas
turmas do segundo período de administração e quarto período
de antropologia, onde foi possível aplicar 47 questionários, 10 em
antropologia e 37 em administração. Depois se seguiu para análise
dos dados os quais resultaram nos gráficos representados a seguir:
Figura 1 Gráfico do número de pessoas
que cursaram as disciplinas.
Figura 2 Gráfico dos aprovados e reprovados nas disciplinas.
Fonte: SIMÃO, Andresson L. F. 2019.
Figura 3 Gráfico dos que conseguiram
definir e dar um conceito a disciplina.
Figura 4 Gráfico dos alunos que tiveram
dificuldades nas disciplinas.
Fonte: SIMÃO, Andresson L. F. 2019.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Figura 5 Gráfico representando o número de
pessoas que gostaram de cursar as disciplinas.
Figura 6 Gráfico da caracterização da relação criada entre os alunos e as disciplinas.
Fonte: SIMÃO, Andresson L. F. 2019.
Figura 7 Gráfico mostrando o número de
pessoas que acreditam na influência da disciplinas nos futuros locais de trabalho.
Figura 8 Gráfico do número de pessoas
que acreditam que as disciplinas possam
influenciar os alunos a trocarem de curso.
Fonte: SIMÃO, Andresson L. F. 2019.
Figura 9 Gráfico das perspectivas dos alunos
com as disciplinas de outros cursos.
Figura 10 Gráfico de pessoas que concordam com outras disciplinas na sua grade
curricular
Fonte: SIMÃO, Andresson L. F. 2019.
Pode notar-se que os gráficos contém as opiniões coletadas
nos dois cursos o de Antropologia e Administração, também é
possível observar certa comparação das respostas e a afinidade de
resposta dos alunos com relação as disciplinas, os dados coletados
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
de modo quantitativo foram expressos em gráficos para melhor
compreensão do leitor e observador. A partir de uma análise dos
gráficos, percebe-se que 100% dos alunos que responderam os
questionários cursaram as referidas disciplinas, e em administração
teve-se aprovação de 100%, porém, em antropologia apenas
70% foram aprovados. Na hora de definir as disciplinas, 92% de
administração conseguiram e 100% de antropologia definiram
bem a disciplina. Com relação as dificuldades nas disciplinas em
antropologia 40% tiveram dificuldades e em administração 11%. Em
relação a terem gostado de cursar a disciplina o apenas o curso de
antropologia apresentou uma faixa negativa de 10%. Com base nos
dados coletados as relações dos alunos com as disciplinas foram em
administração 30% ótima, 0% boa, 57% regular e 13% ruim. Já em
antropologia, 50% disseram ser ótima, 30% boa, 10% regular e 10%
ruim.
De acordo com os alunos de administração, 89% acreditam
que a disciplina de Introdução à Antropologia vai influenciar
futuramente no local de trabalho e 70% de antropologia dizem que
a disciplina de Gestão Organizacional irá influenciar futuramente
em seu trabalho no âmbito profissional. No levantamento de dados
de quantos dos entrevistados acreditavam que esse contato com
as disciplinas podia fazer com que os alunos trocassem de curso
antropologia ficou dividida 50% responderam sim e outros 50%
responderam não, em administração 32% disseram que sim isso
podia chegar a ocorrer.
E sobre o contato que as disciplinas de outros cursos fazem
em outras áreas, 76% de administração e 50% de antropologia
acharam uma ótima oportunidade de ter contato com outras áreas,
e apenas 10% de antropologia acharam perda de tempo, os outros
40% de antropologia e 24% de administração, ficaram entre ter
currículo com base em outras áreas ou outros. Por fim com relação
à concordância da distribuição de outras disciplinas advindas de
outros cursos em administração 86% concordam e em antropologia
80% concordam.
Pode-se concluir que os questionários aplicados no 2º
período de Administração e 4º período de Antropologia, foram
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
capazes de coletar dados muito relevantes e de suma importância
não só para a pesquisa como também para um panorama do ponto
de vista e opiniões dos alunos. Através deles foi possível alcançar
os objetivos propostos onde se pode tanto fazer o levantamento do
número de alunos que cursaram a disciplina quanto realizar a análise
de como esses alunos relacionaram-se com as disciplinas propostas
neste artigo e suas perspectivas com relação a elas, com base na
análise dos dados em porcentagem, percebe-se que a relação que os
alunos de administração criaram com a disciplina de Introdução à
Antropologia é uma relação que não é boa mais também não é ruim,
e sim regular, o que pode ser uma relação suportável, e os alunos
de Antropologia criaram uma relação ótima, acredita-se que possa
vir a ocorrer uma melhora nessa relação, e que deve ser alvo de
outra pesquisa o porquê dessa relação ter ficado regular para com os
alunos do 2º período de Administração.
Considerações finais
Esperava-se, que por meio da pesquisa desenvolvida nos
cursos de Antropologia e Administração do INC/UFAM, pudesse
descrever a relação que os alunos desenvolvem quando cursam
disciplinas de outros cursos, e com base nos dados coletados pode-se
analisar essas relações e suas opiniões sobre esse contato estabelecido
entre as disciplinas.
O levantamento das disciplinas, e cursos que faziam
essa disponibilização de disciplinas foi algo muito importante na
pesquisa, pois, nela foi possível observar um pouco da história
dos cursos e principalmente da implantação do primeiro curso de
Bacharelado em Antropologia do Brasil, e a Universidade Federal
do Amazonas com polo em Benjamin Constant, isso é de suma
relevância conhecer a história e descobrir que com muita luta hoje
os brasileiros do interior do Estado do Amazonas podem cursar uma
faculdade, então, pode-se observar que a pesquisa atingiu temas
além do que foi proposto.
Considerando o que foi proposto e analisando os dados
coletados apresentados anteriormente, pode-se dizer que houve um
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
resultado satisfatório quanto ao que foi pretendido, pois como foi
possível constatar, os estudantes tanto de Antropologia como de
Administração, mostraram interesse e opiniões diferentes, quase
que em todos os dados coletados, mais especificamente nas relações
que estabeleceram com as disciplinas de outro curso.
Referências
CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública. 2 ed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2008.
FERREIRA, A. A.; REIS, A. C.; PEREIRA, M. I. Gestão Empresarial:
de Taylor aos nossos dias. São Paulo: Pioneira Thomson Learing,
2002.
JÚNIOR, Adolfo Neves de Oliveira; SILVA, Heloísa Helena Corrêa
da; MONTE, Paulo Pinto. A implementação do curso de antropologia
na região do Alto-Solimões- AM. São Paulo: Alexa Cultural, 2017.
LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. Tradução:
Marie-Agnès Chauvel. Prefácio: Maria Isaura de Queiroz - São
Paulo: Brasiliense, 2007.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas
de Pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e
técnicas de pesquisa, elaboração, analise e interpretação de dados. 7
ed. São Paulo: Atlas, 2009.
PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Metodologia da pesquisa:
Abordagem teórico-prática. 6 ed. Campinas, SP: Papirus, 2000.
RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Portugal/ Lisboa:
Edições 70, 2013.
ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. 11ed. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
O futebol enquanto elemento de sociabilidade indígena na Comunidade Indígena de
Guanabara III
Valdenilson Aicate Tananta
Ana Maria de Mello Campos
Sebastião Melo Campos
Introdução
A Comunidade Indígena Ticuna Guanabara III pertence
ao município brasileiro de Benjamim Constant–Amazonas, situada
na Mesorregião do Alto Solimões à margem direita do rio Solimões.
O meio de chegada à localização dá-se unicamente por meio fluvial.
A comunidade indígena de Guanabara III até 1963 era
terra devoluta, desabitada. Após chegaram três famílias vindas do
Ceará na época da borracha: o Senhor Washiton Júlio Coelho e sua
esposa Lindalva (com oito filhos), o senhor Raimundo Marques da
Silva e sua esposa Maria Barbosa (sete) e o senhor Manoel Dias da
Silva e sua esposa Augustas; pioneiros de Guanabara III. Nesse tempo, esta ainda não era área demarcada como Terra Indígena. Essas
famílias sobreviviam da agricultura, neste lugar calmo e também de
farturas. Na área de terra firme, resolveram construir suas moradias:
Figura 1. Mapa Terra Indígena de Lauro Sodré
Fonte: siteproctedplanet.net
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Segundo os moradores da comunidade no ano de 1969
começaram, a chegar os primeiros indígenas na localidade, as primeiras famílias indígenas da etnia Ticuna foram a família do senhor
Manoel Fernandes Pedrosa e sua esposa a senhora Alice Belisa Benedito, depois foi o seu Ricardo Fidelis Bento e sua esposa a senhora Dona Alice Luciano, os dois casais vieram do município de São
Paulo de Olivença, buscando a sobrevivência da família em um lugar
de terra firme, os mesmos chegaram aqui para vender seus produtos
como: farinha, banana, peixe, carne, tracajá, dentre outros e passaram a residir nesta área.
As famílias que ali chegaram, observaram que na área era
farto em fauna e flora, na caça, pesca e resolveram ficar, pois vieram
da comunidade indígena Asakaia, comunidade essa que pertencente
ao município de São Paulo de Olivença, os mesmos eram explorados
e vendiam seus produtos bem mais baratos, ficaram na localidade,
mais precisamente lá nos fundos da comunidade, onde tinha o igarapé e passaram na época trabalhar e vender seus produtos para a família do senhor Vitor Magalhães. Porém, ao chegar ao igarapé já haviam três famílias residindo nesta localidade, as três não indígenas.
No ano de 1969, os indígenas Ticuna que chegaram na localidade, continuaram a morar no igarapé na várzea e os não indígenas moravam em terra firme, na margem do Rio Solimões, uns
separados dos outros. Os indígenas estavam com muita dificuldade
devido à enchente e resolveram falar com as famílias não indígenas
e pediram licença para residir junto em terra firme. E foi assim que
o senhor Manoel Fernandes Pedrosa pediu licenças das famílias não
indígenas e os mesmos aceitaram, e as famílias passaram a conviver
juntos na mesma localidade.
Na convivência das famílias indígenas e não indígenas os
mesmos decidiram se reunir para correr atrás de melhoria para o
povoado, pois na localidade havia crianças sem estudar, e os mesmos
precisavam de acompanhamento vigilante de saúde foi então que em
meio às reuniões escolheram o senhor Manoel Fernandes Pedrosa
para representar o povo daquela localidade, o mesmo foi escolhido
por ser um senhor de idade e por sua experiência de vida. Portanto,
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
residiram as famílias indígenas e não indígenas nesta localidade, uns
respeitando os outros nos espaços plantavam e cultivam a terra em
busca da sobrevivência, tiravam dos igarapés os seus sustentos, porém diante da convivência de um certo tempo, passaram a acontecer
alguns conflitos entre indígenas e não indígenas, devido a pose de
terras e exploração do lugar e o reconhecimento.
O Senhor Manoel Fernandes Pedrosa foi o primeiro cacique da localidade, o mesmo sentiu a necessidade de buscar melhorias para esta, buscando então o reconhecimento pela FUNAI, e foi
no dia 06 de maio de 1973 que a comunidade foi fundada, porém
mesmo sendo fundada, a referida localidade ainda não era legalizada. No ano 1973, as famílias indígenas e não indígenas passaram a
ter conflito entre eles, e em 1976 os não indígenas saíram da localidade por conflitos de convivência, os mesmos não gostavam de realizar
as festas étnicas culturais das famílias Ticuna, enquanto os indígenas
não aceitavam o consumo de bebidas alcoólicas pelos não indígenas, desta forma, resolveram sair e ir morar na cidade de Benjamin
Constant. Permanecendo apenas um não indígena, o senhor Antônio Marques da Silva, pois o mesmo tinha casado com uma indígena
Ticuna e construído sua família.
A demarcação de Terras indígenas deu prioridade aos indígenas que habitavam neste local, de acordo com o senhor Antônio,
os moradores não indígenas não foram indenizados pela (FUNAI),
devido não ter deixado plantação de árvores frutíferas e nem árvores
em madeira de lei, os mesmos tinham somente roça, deste modo
tiveram que deixar o local. Precisamente em 1983, os moradores indígenas tiveram a documentação em mãos oficializando a localidade
como Terras Indígenas, onde as respectivas famílias passaram a buscar o desenvolvimento desta localidade.
A luta foi incansável pela demarcação das terras silvícolas e pelo reconhecimento da abrangência. Houve busca incessante
de melhoria para as famílias dessa área em 2003. A (FUNAI) reconheceu a região como oficial e foi demarcada como área indígena
pertencente a terras indígenas de Lauro Sodré, em junção das quatro comunidades: São Luiz, São João de Veneza, Guanabara III e
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Lauro Sodré. A partir daí, as transformações foram acontecendo e
os benefícios foram surgindo; tornando a paragem mais prazerosa
e harmônica; pois a localidade foi reconhecida e recebeu o nome
de Comunidade Indígena de Guanabara III. A mesma ganhou este
nome devido ao igarapé que existe no perímetro. O, então, Cacique
na época quis homenagear a grande fonte de riqueza e fartura que
existe nesta redondeza.
Ultimamente, a comunidade vem crescendo devido aos casamentos, vários Ticunas vieram do Peru, da comunidade indígena
Ticuna Belém do Solimões que pertence o município de Tabatinga /
Brasil, das proximidades da Colômbia e dentre outros lugares, fazendo com que a comunidade crescesse, umas das normas do Cacique é
que os rapazes e moças casem e continuem morando na comunidade, desta forma mantendo o crescimento populacional local.
Atualmente, residem doze famílias: quatro descendentes
de peruanos, três descendentes de colombianos e cinco famílias brasileiras (sendo elas indígenas das etnias Ticuna e Kokama) que se
casaram com os indígenas Ticuna de Guanabara III e residem na
mesma. A comunidade é composta por um total de 573 moradores,
sendo 250 homens, 200 mulheres e 123 crianças.
Aspectos sociológicos do futebol e a sociabilidade
Na comunidade de Guanabara III, o campo de futebol é um
local de lazer, facilitando as diversas formas de interação carregadas
de conhecimentos e trocas de experiências, cujas diferenças sociais
são temporariamente discutidas, dialogadas e reconhecidas através
de uma simples interação através dos jogos de futebol de campo.
Para SIMMEL (1929), todo espaço público é construído socialmente, na medida em que as formas de sociabilidades e de apropriação
desses espaços são dinâmicas e manifestam processos sociais mais
amplos de uma sociedade dentro de um contexto de tempo e lugar.
A sociabilidade diante da prática do futebol torna-se para
os comunitários, algo propício para a interação, socialização e a interatividade, onde um simples jogo de futebol reúne crianças, jovens
e adultos, dos dois gêneros - masculino e feminino - ambos amantes
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
e praticantes do futebol. Neste evento, aproveitam para se conhecer
quando as pessoas de outras comunidades, os mesmos interagem, se
comunicam e dialogam sobre diversos assuntos, acontecendo assim,
uma troca de experiência e conhecimentos, ficando viável a boa convivência entre comunitários e visitantes.
Para os atletas, o futebol se tornou uma práxis, aquela partida à tarde no campo da comunidade, àquela pelada como queiram
chamar os indígenas quando vão jogar bola, é honrado pelos jovens
e adultos, o futebol depois do trabalho na roça, pesca ou depois da
aula, a tardezinha os jovens se reúnem na beira de um campo improvisado para a prática do esporte, é notório o laço afetivo entre cada
indígena na formação dos times, os mesmos não procuram só os
mais habilidosos e talentosos, formam os times, muita das vezes, por
afinidade, por parentesco ou por outros aspectos. O final da tarde é
considerado o momento ideal para as peladas, essas práticas quase
que diárias servem como treinos para os campeonatos e torneios nas
comunidades vizinhas, eventos estes que acontecem com frequência
nas comunidades mais próximas.
Diante do convívio, dos diálogos durante a pesquisa de
campo, foi notório a percepção de muitos diálogos formais e informais entre os residentes da referida comunidade (campo de pesquisa), como também membros de comunidades vizinhas. Diálogos que
condizem planos, projetos e ideias em prol a melhoria das comunidades, como conjunte de sociabilidade cultural e harmonioso. Desde
modo, acredita-se que esses momentos das partidas de futebol não
deixam de ser um tempo óbvio para a socialização de conhecimento
e troca de ideias em prol a melhoria da comunidade, fato esse que os
momentos são favoráveis para discussão de fatos convenientes que
ajudam na inter-relação dos comunitários.
A sociabilidade cultural durante os eventos nas comunidades indígenas tornam-se aspectos importantes na socialização
cultural, eventos como: aniversário da igreja, dia do índio, festa juninas, formaturas, campeonatos e torneios, dentre outros são eventos
primordiais onde aspectos sociais e fatos de sociabilidade entre pessoas e grupos acabam acontecendo. Diante de todos esses eventos,
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
vivenciamos os aspectos sociais favoráveis dentro dos campeonatos e
torneio, fatos estes que acontecem com frequência durante qualquer
evento desses já citados, os fatos mais favorecidos são a socialização
de culturas, a inter-relação dos povos étnicos, a construção do elo de
amizade e convivência, o conhecimento geográfico e é claro, um fato
interessante o casamento de jovens e adultos entre os grupos étnicos,
durante os eventos sociais.
Os grupos étnicos sempre vão estar reunidos, pois juntos
lutam pela autonomia e reconhecimentos dos seus direitos, perante
a sociedade a qual fazem parte. Diante esse fato, em vários momentos, os grupos indígenas se mantem organizado, buscando melhorias
ao seu povo, trazendo para dentro das aldeias algo que possam junto desfrutar de uma sociedade mais justa e humana, nem que para
isso passam a praticar cultura de outros povos, como por exemplo,
o futebol. De acordo com Turner (1990), o jogo de futebol pode ser
entendido como um ritual, ou seja, apresenta sequências pré-determinadas e, portanto, previsíveis na sua configuração mais geral. As
inovações tecnológicas, especialmente a das câmeras digitais de pequeno porte, permitiram que novas sequências deste ritual fossem
registradas, criando-se assim novos tropos.
De acordo com Volpato (2002) o jogo:
Foi sendo historicamente esportivizado em virtude de acontecimentos econômicos, políticos e sociais. Neste processo, a supervalorização do esporte performance, muitas vezes leva os profissionais à não
perceberem a dimensão educativa do jogo. A competição presente
no jogo de regras, pode servir para estimular o jogo com o outro
de forma cooperativa, onde o adversário seja visto como parceiro
que possibilita a realização do próprio jogo, não como inimigo a
ser vencido ou aniquilado. Na verdade, essa é uma das características que mais diferencia jogo e esporte de rendimento. (VOLPATO,
2002, p.104)
Acredita-se que há muito anos os indígenas vêm adequando outros aspectos culturais de grupos étnicos diferentes, dentro
do seu convívio social cultural e contato, porém, acreditamos que a
prática desses outros aspectos culturais não remetem aos indígenas
esquecerem sua cultura ou deixarem de praticar a mesma. O futebol
para os indígenas tornou-se uma manifestação cultural dentro das
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
comunidades indígenas, como um evento que traz um elo entre os
grupos indígenas e não indígenas.
Diante disso, Rodrigues (2014) ressalta:
Nesse sentido, o futebol, até então apontado como agregador de sociabilidade, capaz de proporcionar lazer e as mais diversas sensações
aos jogadores e torcidas, desde o orgulho de suas identidades até
perspectivas profissionais, pode também ser compreendido como
um elemento de negociação indígena. (RODRIGUES, 2014, p.80).
O futebol vem sendo um dos aspectos mais praticados dentro de uma comunidade indígena e vem cada vez mais se alastrando,
encontrando novos talentos e pessoas habilidosas nessa modalidade
esportiva, os indígenas adequaram essa modalidade esportiva dos
brancos ou civilizados como costumam chamar. Desde modo, há
muito tempo vem sendo praticado o futebol, com isso em meios aos
eventos de futebol que realizam, os mesmos buscam socializar com
outras comunidades, uma simbólica confraternização, conhecimentos e até aspectos culturais. Acredita-se que esses eventos significativos como: torneios, campeonatos e pelada, como costumam chamar,
têm uma grande importância que é de socializar e unir os grupos
indígenas, pois quem já teve o prazer de assistir já viram o quando
eles jogam, torcem e se inter-relacionam.
Nas partidas de futebol se relacionam equipes indígenas
contra equipes convidadas. Nesse sentido, as equipes convidadas
seriam times formados por instituições, grupo de pessoas que, em
geral, buscam evidenciar um bom relacionado dos indígenas com
a sociedade envolvente, sobretudo, com a instituição representada
pela equipe convidada.
Os aspectos sociológicos do futebol são visíveis: os indígenas se reúnem para jogar e assistir as partidas; se organizam para
torcer pelas equipes; disputam competições contra equipes de outras
aldeias, de instituições e organizações parceiras e das cidades e comunidades vizinhas.
A sociabilidade dentro dos eventos de futebol é tão viável
que tantas vezes, jovens e moças acabam se conhecendo e casando
com jovens e moças das outras comunidades que vem participar,
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
acabam formando família e ajudando no crescimento da comunidade, vários desses fatos já aconteceram, muita vezes os jovens vêm
jogar bola, participando do torneio se apaixona por uma moça da
comunidade onde o evento estar sendo realizado e acaba ficando na
comunidade. Porém, o mais interessante que é tudo muito rápido,
acabam se conhecendo, pouco tempo de namorando, casam, constrói uma família, moradia na comunidade e acabam sendo mais um
integrante da comunidade, isso quando o rapaz não leva a moça para
morar na comunidade onde vive, como de fato torna-se muitas vezes, mais viável.
Os eventos não deixam de ser um ponto incentivador aos
comunitários, sendo eles jovens e adultos, independentemente de
gêneros, classe, grupos ou crença, os eventos são muito assistidos
pela maioria dos comunitários como algo saudável e harmonioso
diante de tudo que acontece quando é realizado.
Diante dos fatos de socialização existente dentro dos
eventos de futebol, a sociabilidade agrega nacionalidades e sistemas
culturais distintos, tornando o evento esportivo fundamental aos
grupos étnicos que participam do evento, pois os mesmos fazem
questão de serem convidados e de participar, onde o espírito esportivo, além de falar mais alto do que o espírito de competidor, traz no
semblante, a vontade de serem campeões. Neste sentido Shigunov e
Pereira (1993) argumentam:
A competição possui aspectos positivos e negativos, dependendo da
forma como essa é utilizada. Ou seja, a competição pode auxiliar na
formação integral da criança, nos aspectos cognitivo, social, físico
e afetivo e nas atitudes saudáveis e de autovalorização, se utilizada
com objetivo de emancipação, integração e lazer. Porém, se a competição for priorizada para se destacar as vitórias, auto-promoção
e sobrepujança ao adversário, se estará negando uma convivência
sadia, onde o ser humano precisa estar em primeiro lugar. (SHIGUNOV E PEREIRA, 1993, pág. 26).
Entende-se, que por ser tratar de um processo social que
se caracteriza por situações conflituosas, a competição pode influenciar no desenvolvimento afetivo-social de todos os envolvidos, tanto
indígenas, como não indígenas. Não sendo garantia de resultados
somente positivos, como também negativos, com certeza, depende- 50 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
rá da forma como esta será orientada e conduzida. Interessante da
competição e o entusiasmo das comunidades na interatividade que
se socializa, onde os mesmos querem levar o prêmio para a comunidade, servindo de exemplo para as crianças do ato de saber lhe dar
com a vitória e a perda no campeonato.
O futebol interno no interior da comunidade: Apostas x
Torneios
Figura 02. Campo de futebol na Comunidade de Guanabara III
Fonte: TANANTA. Valdenilson. Setembro de 2019.
O futebol tornou se uma manifestação cultural dentro das
aldeias indígenas, onde adequaram os jogos esportivos, principalmente o futebol, como uma forma de lazer e interatividade entre os
povos indígenas e não indígenas, porém, essa manifestação cultural
vem cada vez mais tomando gosto pelos indígenas. Diante da prática
do futebol, as crianças, os jovens e adultos vem cada vez gostando
da prática do futebol, tirando um pouco do seu tempo para a prática
desta atividade.
Perante os jogos que acontecem dentro da comunidade, os
mesmos recebem um grande incentivo dado pelos comunitários, em
um entusiasmo contagiante de vitórias e perdas, onde o que vale é
a competição entre os times, a cerca de competição Brotto (1997)
enfatiza:
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Competição é um processo de interação social, em que os objetivos
são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição
umas às outras, e os benefícios são concentrados somente para alguns [...] cooperação é um processo de interação social, em que os
objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios
são distribuídos para todos. (BROTTO,1997, p. 6).
Nas peladas da tarde - como eles costumam chamar- sempre a interatividade dentro do campo de futebol vem acontecendo
através das famosas apostas entre os times, podendo ser apostado
um simples refrigerante, uns trocados, algo simbólico para o time
ganhador, podendo de certa forma ser compartilhado com todos os
jogadores dos demais times. É também de práxis as apostas serem
mínimas, somente para brincar e incentivar o time a querer vencer,
mostrando habilidade e competência diante dos adversários.
O interessante das peladas que acontecem entre os próprios
comunitários de uma mesma comunidade, é o espirito de competidor, da vontade de sempre querer ganhar, muita vezes fica percebido quando o time perde, há raiva no semblante de alguns jogadores
devido o companheiro ter errado os passes ou o gol. Diante disso,
há uma troca com outros que estão esperando na beira do gramado, muita vezes são constantes, principalmente se aquele eu estiver
esperando tem algo para contribuir com a aposta. Os mesmos não
procuram mais os talentos e os habilidosos porque a vitória requer
esforço de todos os jogadores.
Um fato bem instigante é o aumento das apostas entre os
dois times que mais ganharam, quando a noite vem chegando, os
dois times combinam em aumentar as apostas, se era um refrigerante, agora para aquele jogo serão dois , se eram dez reais passam a
ser vinte reais, deste modo, a aposta acontece em concordância com
todos os jogadores dos dois times.
Um aspecto bem interessante, nos jogos de futebol que
chamam de pelada, é que a mesma não tem arbitro, os jogares têm a
plena consciência de marca as adversidades de minutos, faltas, saída
da bola, gol, de jogo, dentre outras regras atribuídas ao jogo. Os jogadores têm o respeito mútuo das agressões físicas ou verbais, podendo
até ser excluído (expulso) do jogo aquele que cometer uma agressão
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
mais brusca e ofensiva. Porém, mediante as apostas que são feitas
nas peladas, as mesmas são mínimas, mas muito significativas para
eles, pois mostra a capacidade, a habilidade, a união e a competência
deles dentro de campo.
Tornam-se mais interessantes as apostas feitas em torneios
nas comunidades vizinhas, é um evento mais preparado, planejado
e organizado, onde as apostas têm valores mais altos e muitos times
participam vindos de vários lugares, e trazem consigo o otimismo
de serem os vencedores. As apostas, muita vezes requerem diálogos
com os responsáveis pelos times mais o organizador do evento, todos concordam com as regras e o que está sendo apostado naquele
momento. Diante dos torneios, as apostas são basicamente dinheiro,
uma certa quantia, algo como um suíno, um bovino, um frango caipira, um pato, um jabuti, um tracajá dentre outros prêmios.
O jogador Arlindo Marques explicita quem realiza os jogos
na comunidade e alguns de seus objetivos:
“Aqui na nossa comunidade indígena de Guanabará III, sempre são
realizados pelo próprio moradores da comunidade e as vezes pelo
cacique da comunidade. O objetivo do torneio na nossa comunidade é sempre voltado para arrecadar dinheiro, para nós comprar nosso alimento, remédio, roupas, calçados, materiais para nosso filho
estudar, para pagar nossa conta de luz e outros”. (Caderno de Campo. Entrevista realizada com Arlindo Marques, em junho de 2019).
Desde modo, os torneios dentro da comunidade tornam-se muito importantes, transformando-se em diversos pontos positivos, pois vai além da interação e da sociabilidade dos grupos étnicos,
os torneios têm também o intuito de ajudar nas diversas formas financeiras de determinadas situações dos comunitários.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Participação em campeonatos regionais
Figura 03. Jovens indígenas praticando esporte em Guanabara III
Fonte: TANANTA. Valdenilson. Setembro de 2019
Os campeonatos e jogos organizados pelos indígenas sempre ocorrem nos campos tradicionais, alguns de terra batida, que
carregam sua história e suas festividades. Nesse sentido, o campo
não é somente o espaço dos jogos de futebol, mas também, o ponto
de encontro entre indígenas de uma mesma etnia ou entre outras
etnias e ainda local onde os jogadores mostram suas habilidades aos
não-indígenas visitantes, não somente através do futebol, mas também através de danças, músicas, entre outras manifestações culturais. Para tanto, os campos de futebol tornam-se referência indígena
ao contemplar todas as suas atividades como um centro cultural.
O morador da comunidade de Guanabara III exalta a importância dos jogos na referida comunidade, onde evidenciamos
como a sociabilidade se configura nesses eventos.
“O campeonato em 2010 na nossa comunidade tava indo bem, tinha
10 times e duas comunidade e 8 de outras comunidades indígenas e
não indígenas, que estavam participando do campeonato na nossa
comunidade vem jogar bola também. Durante os jogos na comunidade é muito divertido agente conhece outras pessoas de outras
comunidades, nossos parentes que participa dos campeonatos também eles jogam em outros times. Ele defende a comunidade onde
mora. E também porque casou com outra menina de outra comunidade”. (Caderno de Campo Valdenilson. Entrevista realizada com
Ezequiel em junho de 2019).
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Os times são formados dentro das comunidades, eles se
organizam formando mais de um time, onde são inscritos nas categorias, essa paixão pelo futebol atrai muitos indígenas nas comunidades onde são realizados os campeonatos, desde modo para a
realização desse evento costuma-se ter uma apoio de algum órgão
público ou privado pra que seja mais atraente tanto a premiação
quanto todo o evento.
A preparação dos times vem cheia de estilos, com nomes
do time, camisas na maioria das vezes e os jogadores todos uniformizados, diferentes da pelada praticada dentro da comunidade, no
campeonato terão árbitro de jogo e todos terão que obedecer às regras e as marcações feita pela equipe técnica de árbitros.
Muitas comunidades participam, uma ou outra que deixam de participar.Porém as que participam, sempre levam dois ou
mais times, a participação dos campeonatos não se resume somente
em jogos, claro que os jogos é a tração dos campeonatos. Contudo, os comunitários também, de certa forma, participam na torcida.
Torna-se interessante também a participação das mulheres no campeonato como jogadores de futebol, elas mostram em quadra ou no
campo de futebol seus talentos, habilidade e que sabe jogar bola.
Considerações Finais
Apesar das condições diversas, como falta de recursos financeiros e matérias, pudemos realizar esta pesquisa com eficiência,
esperando contribuir para um foco mais aprofundado um estudo
com bons resultados e compreensão. Os esportes para os residentes
da comunidade apresentam-se como uma prática corporal dotada
de sentidos e significados, os quais estão relacionados à satisfação
que a atividade física provoca e a sensação de que tal vivência é uma
construção do próprio grupo, com base em seu sistema de valores,
vontades, necessidades e expectativas. Cabe aos atletas, assim como
eles mesmos se definem, buscar compreender os elementos que conferem esses sentidos e significados à atividade física, o que é fundamental para a manutenção dos mesmos em seus eventos e programas culturais e esportivos.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Vários elementos apresentados ao longo deste estudo podem subsidiar perspectivas propositivas, tanto voltadas para a educação básica, quanto para a formação profissional em Educação
Física. Em relação à educação básica, um desafio é encontrar estratégias de ensino que motivem os adultos, jovens e crianças a estudar
e terem consequentemente sonhos para uma formação e educação
transformadora, que favoreça a transmissão de conhecimentos e valores – como a prática de atividade física ao longo de toda a vida,
já que a prática esportiva faz parte do cotidiano, criando redes de
sociabilidade entre os moradores da comunidade de Guanabara e
comunidades adjacentes.
Diante dos resultados, vimos que a prática do futebol de
campo indígena é de suma importância na vida dos comunitários,
nos aspectos de lazer e diversão, conciliando numa interação cultural, para obtenção de resultados tivemos que conviver momentos
preciosos dentro do campo de pesquisa para que os fatos se tornassem verídicos e sucintos os dados coletados. Desta forma, acredita-se que a temática em questão vai além do campo de enfoque, assim
conquistando espaço mais preciosos para algo de remoto seja feita
para que a prática do esporte seja valorizado nas comunidades ribeirinhas.
Mediante das dificuldades citadas, vimos que a prática do
esporte praticada nas comunidades precisam ser incentivadas, construídas e assistidas para que projetos, programas e eventos possam
ser realizados para incentivar ainda mais os jovens das comunidades ribeirinhas do município de Benjamin Constant possam ter uma
vida saudável na prática do esporte, livrando-se os mesmos do mundo das drogas, sendo que a cada passo diante das realizações possam
ter fundamentos na vida dos atletas ribeirinhos, assim valorizados e
respeitados.
Referências
BROTTO, F.O. Jogos cooperativos. Santos: Ed. Re-Novada, 1997.
RODRIGUES, Letícia Berloffa. A prática do futebol entre indígenas
de Dourados. Dissertação de Mestrado em História, UFGD, 2014.
SHIGUNOV, V.; PEREIRA, V.R.. Pedagogia de educação física:
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
o desporto coletivo na escola, os componentes afetivos. São Paulo:
IBRASA, 1993.
SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio
Guilherme (Org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1929,
p. 11-25.
TURNER, V. Le phénomène rituel: structure et contre-structure.
Paris: PUF, 1990.
VOLPATO, G. Jogo, brincadeira e brinquedo: uso e significados no
contexto escolar e familiar. Florianópolis: Cidade Futura, 2002.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Técnico em Agropecuária no Município de
Tefé-AM
Renata Gomes de Lima Melo
Sandra Regina Gregório
A Formação do técnico em agropecuária: contextualização
Para entendermos a trajetória de implantação desse curso,
bem como compreendermos o contexto econômico e político relativos ao perfil de formação dos acadêmicos dos cursos técnicos em
agropecuária; precisamos buscar informações que nos auxiliem nesse percurso. Assim, descrevemos um pequeno relato histórico que
nos remete à importância dessa formação específica no Brasil.
O Decreto nº 8.319 de 1910 é, para Sobral (2009), a primeira regulamentação do ensino agrícola neste país. Esse ordenamento
jurídico organizou o trajeto em quatro categorias: Ensino Agrícola
Superior, Médio, Aprendizagens Agrícolas e Ensino Primário Agrícola.
As políticas educacionais eram constatadas como preocupação; pois, para os educadores da Primeira República (que eram
ligados ao movimento da Escola Nova), as políticas de educação estavam voltadas principalmente ao meio urbano. Dessa forma, contribuía com o aumento do êxodo rural.
O autor identifica como “ruralismo pedagógico”, que, no
entender de Vanilda Paiva, procurava:
fazer o homem do campo compreender o ‘sentido rural da civilização brasileira’ e de reforçar os seus valores a fim de prendê-lo à terra,
e para tanto era preciso adaptar os programas e currículos ao meio
físico e à cultura rural. (apud SOBRAL, 2009, p. 83)
Para Koller e Sobral (2010), a diferença entre os ensinos
técnico e agrotécnico se deve ao fato de que o primeiro cresceu junto
com o processo de industrialização, enquanto o segundo só teve sua
emergência entre os anos 1950-1960 com a modernização agrícola.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Surgiu, então, o chamado êxodo rural por parte dos agricultores. Eles acabavam deixando suas atividades e serviam como
mão de obra barata para as indústrias. Com isso, a visão voltada para
o campo passou a surgir de uma maneira que foi identificada a carência de políticas que pudessem manter o povo; ou (ao menos) uma
parte dele no campo.
Assim, as primeiras pedagogias de ensino agrícola começam a surgir. Alguns autores relatam que o Governo passou a disponibilizar subsídios para os produtores e houve a escassez de profissionais que entendessem as novas tecnologias; para que as mesmas
pudessem ser desenvolvidas no campo, pois haveria aquisição de
insumos e maquinários agrícolas. Essas funções passaram a ser desempenhadas pelos extensionistas rurais, que eram formados pelas
Escolas Agrotécnicas emergentes.
Segundo Koller e Sobral (2010), as escolas técnicas agrícolas eram destinadas aos filhos dos produtores rurais e a crença era de
que ele só seria capaz de aprender se efetivasse algo repetidamente
na prática - o que explica o princípio do “aprender a fazer fazendo”.
E, para isso, implantou-se o modelo de escola-fazenda.
Tavares (2004, p.43) apresenta os espaços da aprendizagem
que a escola fazenda transparecia e explica as características desse
tipo de escola:
Sala de aula, onde se desenvolvia o estudo teórico acerca dos conhecimentos gerais e específicos do curso; Laboratório de Prática e Produção (LPP), onde eram realizadas as aulas práticas demonstrativas
e os professores coordenavam projetos de produção agropecuária;
o Programa Agrícola Orientado (PAO), através do qual os alunos
desenvolviam, individual ou coletivamente, trabalhos voltados à
produção financiados pela Escola - sendo que, no final, após serem
descontados os custos de manutenção, o lucro caberia aos alunos -;
e a Cooperativa Escolar Agrícola (COOP), que objetivava proporcionar uma vivência de cooperação com vistas ao desenvolvimento
coletivo.
O extensionista rural, enquanto profissional, passou a
prestar serviços de nível intermediário; garantindo, em parte, o aumento da produção mediante a intensificação da exploração do labor
daqueles que trabalham diretamente na produção.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Por volta de 1970, as escolas agrotécnicas, segundo Tavares
(2004), tinham o papel de ensinar os futuros técnicos a controlar e
dominar os trabalhadores rurais. A instituição ensinava os alunos a
serem também dominados devido à orientação pedagógica. Orientação esta, baseada num “ritual e numa organização hierárquica e
extremamente rígidos: disciplina rigorosa, autoritarismo, carga horária pesada, exames frequentes, desprezo pela discussão a respeito
dos fins das técnicas que são aprendidas, ausência de espírito crítico,
etc.” (MACHADO, 1989, p.144).
Durante os anos de 2001 e 2008, para que as escolas agrotécnicas federais tivessem maior autonomia e também para que houvesse aumento de capital, o objetivo era passar a se constituir nos
denominados CEFET - Centros Federais de Educação Tecnológica.
Porém, em 2008, em 29 de dezembro, é aprovada a lei de
criação nº 11.892 dos Institutos Federais. Com a criação dos que hoje
são os IF - Institutos Federais de Educação, Ciências e Tecnologia,
como novo ente jurídico, todos os antigos processos são cessados.
O Técnico em Agropecuária no Amazonas
A história do curso de agropecuária no Amazonas cruza-se
com a história da Escola Agrotécnica Federal de Manaus - EAFM,
instituição de ensino médio e profissionalizante localizada na Zona
Leste de Manaus-AM com uma área de 167 hectares. A EAFM foi
criada pelo Decreto Lei nº 2.225 de 05/1940 para contribuir com
o ensino agrícola na região norte. Inicialmente, foi criada como
Aprendizado Agrícola Rio Branco, com sede no Estado do Acre.
(PDI/EAFM, 2007).
As atividades foram iniciadas em 19 de abril de 1941 sendo
transferida para o Amazonas em 05 de setembro de 1946 por meio
do Decreto Lei nº 9.758. Assim, foi elevada à categoria de escola e
passou a ser chamada de Escola de Iniciação Agrícola do Amazonas.
(PDI/EAFM, 2007). Posteriormente, passou a ser chamada Ginásio
Agrícola do Amazonas e em 12 de maio de 1972, foi elevada à categoria de Colégio Agrícola do Amazonas, pelo Decreto nº. 70.513.
Nesse mesmo ano, transferiu-se para o atual endereço, localizado na
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
zona leste da cidade de Manaus-AM. (PDI/EAFM, 2007).
Em 1979, através do Decreto nº. 83.935, de 04 de setembro, recebeu o nome de Escola Agrotécnica Federal de Manaus (PDI/
EAFM, 2007) e assim transformou-se em autarquia educacional de
regime especial, pela Lei nº. 8.731, de 16 de novembro de 1993, vinculada ao Ministério da Educação e do Desporto, através da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, nos termos do art. 2º do anexo
I do Decreto Nº. 2.147 de 14 de fevereiro de 1997. (MEC-SETEC,
1993). Passou-se a denominar-se Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Amazonas1 – Campus Manaus Zona Leste,
em 2008 através da Lei Nº. 11.892 de 29 de dezembro de 2008. (PDI/
EAFM, 2007).
As recomendações impostas pelo governo federal sempre
foram seguidas, mesmo passando por várias mudanças em sua concepção de ensino, pois a sua formação sempre procurou seguir todos
os padrões de desenvolvimento rural vigentes nas diversas épocas
em que esteve presente no cenário da formação profissional agrícola
do Estado.
Dentro do paradigma do modelo Escola Fazenda que era
“aprender a fazer e fazer para aprender”, a instituição adotou outros
pacotes pedagógicos. Este paradigma era adotado pela extinta Coordenação Nacional do Ensino Agrícola – COAGRI/MEC que tinha
como referência curricular e pedagógica os princípios da revolução
verde. Hoje, na visão de vários estudiosos e pesquisadores que trabalham na linha da agroecologia, os paradigmas citados contribuem
para a degradação ambiental da Amazônia brasileira, além aumentar
o desemprego e a miséria no campo. (PDI/EAFM, 2007).
Atualmente, o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Amazonas – IFAM conta com 15 campis, distribuído
1 É um novo modelo de instituição de educação profissional e tecnológica criado pelo
Ministério da Educação. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas foi estruturado a partir das potencialidades já existentes no Centro Federal de Educação e Tecnologia do Amazonas e das Escolas Agrotécnicas Federais de Manaus e de
São Gabriel da Cachoeira. É uma instituição de educação superior, básica e profissional,
pluricurricular e multicampi, especializada na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos
técnicos e tecnológicos com as suas práticas pedagógicas, nos termos da Lei № 11.982, de
29 de dezembro de 2008. (Fonte: IFAM, 2018)
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
nos seguintes municípios do estado do Amazonas: Manaus (Campus
Manaus Zona Leste, Manaus Distrito Industrial e Manaus Centro),
São Gabriel da Cachoeira, Coari, Lábrea, Maués, Parintins, Tabatinga, Presidente Figueiredo, Itacoatiara, Humaitá, Manacapuru, Eirunepé e Tefé.
Destes citados acima, os municípios que ofertam o curso
técnico em agropecuária são: Tefé, Lábrea, Humaitá, São Gabriel
da Cachoeira, Presidente Figueiredo, Tabatinga, Parintins, Manaus
Zona Leste e Eirunepé.
O objetivo do IFAM, na oferta de cursos técnicos em agropecuária, é contribuir para o desenvolvimento agrícola na região do
estado do Amazonas, com atuação de mão de obra qualificada e preparada para atuar em diversas áreas, inclusive quintais produtivos.
Tendo como missão, promover com excelência a educação, ciência e
tecnologia para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Campus Tefé e o Curso Técnico em Agropecuária
Nesse item é feito um relato sobre as questões históricas
voltadas ao município de Tefé (AM) para que possamos apresentar
um dos locais de estudo deste projeto. São dadas informações quanto
à localização e identificação geográfica, além de economia, educação
e um pouco sobre sua origem. Além disso, contempla informações
sobre o curso técnico em agropecuária do IFAM Campus Tefé.
O Município de Tefé-AM
O município de Tefé fica localizado no interior do Amazonas, região norte do Brasil. Este nome originou-se de tribos indígenas que habitavam o território antigamente. A área em que hoje
pertence a Tefé era, nos primórdios, habitada pelos índios, predominantemente as tribos Tupebas ou Tapibas. (ALE, 2018; VISITETEFE,
2018).
Individualmente, penso que todas as pessoas deveriam viajar para a
Amazônia, nem que seja uma única vez. Há algo de mágico na floresta, nos rios, e na imensidade de vida que encontramos na Amazônia,
e aqui, em especial, no estado do Amazonas. Sobrevoar o Amazonas
já é algo incrível, águas, florestas e rios como estradas curtas ou longas
formam uma estética singular. (CASTRO, 2018, p.34).
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Enviado para o Amazonas, a serviço da Espanha, o padre
Samuel Fritz2 fundou as primeiras missões jesuíticas para catequisar os índios nessa região no século XVII. Essas missões também
eram responsáveis por prestar serviços sociais à comunidade indígena. (PORTAL DO AMAZONAS, 2018). Os portugueses, desrespeitando o Tratado de Tordesilhas, subiram o Rio Solimões, vindos do
Grão-Pará, com a finalidade de conquistar o Amazonas e dominar
as terras dos espanhóis, o que resultou em um grande conflito entre
as duas nações, quando estes chegaram à região (ALE, 2018; VISITETEFE, 2018).
O governador do Grão-Pará enviou tropas comandadas
pelo Capitão Correia de Oliveira, em 1708, para expulsar os espanhóis. Assim sendo, o padre Sana promulgou que Samuel Fritz deveria deixar a região do Amazonas, conforme ordem da Coroa Portuguesa. Samuel Fritz se retirou e foi até o Peru em busca de apoio para
combater os portugueses.
Muitos indígenas que lutavam em apoio aos portugueses
morreram vítimas do confronto, e novamente os espanhóis voltaram
a dominar a região, conforme já estava estabelecido pelo Tratado de
Tordesilhas. (ALE, 2018; 2018; VISITETEFE, 2018). Em 1709, portugueses e espanhóis voltaram a entrar em confronto. Novamente,
Portugal sai vitorioso, o que leva os índios a uma fuga em massa para
o interior das matas e para a cabeceira do Rio Tefé, onde atualmente
está a área do município de Tefé. (ALE, 2018; VISITETEFE, 2018).
População e Identificação geográfica
A cidade de Tefé está a 523 km da capital amazonense Manaus, geograficamente localizada no centro da região amazônica,
conforme mostra a figura 1 (VISITETEFE, 2018).
2 Entre 1685 e 1687 – O padre jesuíta Samuel Fritz é enviado pela Coroa espanhola para
apossar das terras e iniciar as Missões (Fonte: Mamirauá, 2018)
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Figura 1. Localização de Tefé no Amazonas
Fonte: G1 Amazonas, 2018.
A população estimada do município, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010 era de
62.230 habitantes, sendo considerado o 6º mais populoso do estado.
No censo de 2010 50,7% da população eram homens (31.518 habitantes), 49,3% (29.945 habitantes) mulheres, 88% (50.069 habitantes) vivia na zona urbana e 12% (11.384 habitantes) na zona rural.
Economia e Educação
Segundo dados do IBGE em 2010, o município de Tefé
arrecada em média anualmente uma receita bruta de aproximadamente 55 milhões de reais e possuía despesas que somavam aproximadamente 47 milhões de reais. Segundo a fonte, estes valores são
originados de arrecadação de impostos, tarifas, projetos, convênios
municipais e prestação de contas. Com relação a fábricas e indústrias
no município, podemos dizer que é um setor pouco diversificado,
pois não existem médias ou grandes indústrias. Encontramos apenas pequenas fábricas de material cerâmico para construção civil,
móveis, metalúrgicas e vidraçarias.
A agricultura é basicamente de produtos de subsistência
como hortaliças e frutas regionais produzidas apenas para atender as
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
necessidades locais. O município possui grandes áreas de cultivo da
mandioca para produção de farinha dividindo com o município de
Uarini a produção da farinha mais valorizada do Estado do Amazonas, conhecida como a “Farinha do Uarini”, onde são produzidas toneladas de farinha de mandioca para abastecer a cidade de Manaus.
(SUSSUMO; MENDES, 2016).
A produção de pescado possui grande destaque na economia local. A cidade de Tefé fica localizada próxima às maiores áreas
de pesca do Amazonas, devido a isso, é grande a quantidade de empresas instaladas em flutuantes relacionadas à venda e compra de
pescado, principalmente peixes lisos, tambaqui e pirarucu, que são
vendidos tanto para mercado interno (Tefé/Manaus) como externo
(Colômbia/Peru e Ásia). (SUSSUMO; MENDES, 2016).
O comércio local é o setor mais desenvolvido da economia
do município, pois existe uma grande quantidade de pequenas lojas dos setores de vestuário, calçados, eletrodomésticos, móveis, eletroeletrônicos, material de construção, armarinhos, tecidos, estivas e
bebidas. A cidade oferece uma gama de serviços e devido à isso, Tefé
tem um grande fluxo diário de pessoas como destacamos. A cidade
é sede dos principais Bancos e Instituições Financeiras que não são
encontradas nos municípios vizinhos, fazendo com que as pessoas
que moram nos municípios próximos se desloquem até Tefé.
Possui também quartéis militares das Forças Armadas,
instituições de ensino superior e de saúde, Polícia Federal, ONGs e
entidades de preservação do meio ambiente e do índio, sede do Poder Judiciário e Político Administrativo do Amazonas. É o principal
porto fluvial e rota de passagem de grandes embarcações que navegam no rio Solimões. A cidade possui Aeroporto e este é administrado pela Infraero equipado para receber médias e grandes aeronaves
da região. Por isso, devido a esses pontos importantes, a cidade de
Tefé exerce forte influência econômica sobre as cidades de Alvarães,
Uarini, Fonte Boa, Maraã, Jutaí, Carauari, Eirunepé, São Paulo de
Olivença, Santo Antônio do Içá e Tabatinga. (VISITE TEFE, 2018).
Para chegar a Tefé, temos duas opções: ou se vai voando, por meio
da restrita e cara malhar aérea em que operam apenas duas companhias, ou por meio dos rios que formam as principais vias de acesso
ao município e entornos. (CASTRO, 2018, p.34)
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
A cidade de Tefé é o município polo da região do Triângulo
Jutaí – Solimões - Juruá, é a cidade com maior número de Instituições Educacionais da região possuindo universidades, centros técnicos e grande rede de escolas e instituições de ensino particulares.
Tefé possui instituições de ensino superior de caráter público e de caráter privado, bem como instituições que oferecem cursos de nível médio técnico: Centro de Estudos Superiores de Tefé
(CEST) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Universidade Aberta Brasil (UAB), Universidade Paulista (UNIP), além
da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) por intermédio da
UAB e o Instituto Federal do Amazonas (IFAM). Além destas instituições, o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM)
oferece cursos de nível técnico, bem como o IFAM e o SENAC.
Conhecendo o Campus Tefé
O Instituto Federal do Amazonas é uma instituição que
possui natureza jurídica de autarquia, integrante da Rede Federal
de Ensino, detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógico e disciplinar definidas em estatuto
próprio, vinculada ao Ministério da Educação e supervisionado pela
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC).
O Campus Tefé foi criado na Expansão III3 dos Institutos
Federais, em parceria com a Prefeitura Municipal de Tefé e desde
01/04/2014 iniciou suas atividades administrativas e didático-pedagógicas com 200 (duzentos) alunos nos cursos de informática, administração e contabilidade, no prédio da Escola Municipal Professor
Luzivaldo Castro (endereço provisório – Figura 2), na rua João Stefano, nº 625 – Bairro Juruá, com um quadro composto por 16 servidores docentes, 05 (cinco) administrativos e, 01 (um) colaborador.
(PDI/IFAM TEFE, 2014).
3 A expansão pode ser identificada como uma política pública planejada e implementada
em todas as mesorregiões brasileiras com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais. A fase 3 foi concluída em 2014. (Fonte: SILVA, 2015)
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Figura 2. Prédio Provisório – IFAM Campus Tefé
Fonte: Arquivo da autora (Melo, R. G. L., 2018)
Atualmente, o Campus Tefé oferece cursos na forma integrada a nível de ensino médio e subsequente. Os cursos ofertados
são: Administração, Agropecuária, Informática e Secretariado. A
principal missão do Campus é promover com excelência educação,
ciência e tecnologia para o desenvolvimento da Região do Solimões.
O curso técnico em agropecuária do Campus Tefé conta
com profissionais da área técnica do curso, como: agrônomo, veterinários, engenheiros de pesca e agrônomo, além de técnico em agropecuária.
Como foi citado anteriormente, o mesmo encontra-se em
funcionamento em local provisório até que a obra definitiva (figura
3) fique pronta. Com o espaço reduzido para os alunos e servidores,
todas as atividades são realizadas de forma improvisada, não havendo, portanto, espaço suficiente para a realização de aulas práticas
como deveriam, de fato, acontecer. Dessa maneira, o aluno acaba
cumprindo mais a carga horária referente às aulas teóricas.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Figura 3 - Obra definitiva em andamento – IFAM Campus Tefé
Fonte: Arquivo da autora (Melo, R. G. L., 2018)
Porém, apesar das dificuldades que os docentes encontram
para executar ações, os mesmos buscam parcerias para que as aulas práticas ocorram em estabelecimentos que aceitam as visitas dos
alunos. Assim, as visitas acontecem, na maioria das vezes, aos finais
de semana para que não atrapalhe o horário das aulas dos demais
docentes.
Aulas práticas são importantes para os alunos que serão
formados técnicos em agropecuária, pois especificamente nesse eixo
tecnológico, a práxis – teoria e prática tornam-se mais fáceis e mais
simples. Freire (1996) apresenta os meios para a existência de um
ensino que faça sentido na vida das pessoas. O autor menciona que
é preciso respeitar os saberes dos educandos, e, além disso, é preciso
discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em
relação com o ensino dos conteúdos. Inserir os alunos em ambientes que propiciem e contribuam para o aprendizado estabelece mais
confiança para os mesmos.
O IFAM Campus Tefé possui o curso técnico em agropecuária desde o ano de 2016, sendo que a primeira turma a concluiu
no ano de 2018. Em 2015, alguns servidores foram designados pela
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Portaria nº 051/2015 – GDG/IFAM/CAMPUS TEFÉ, de 01 de julho
de 2015, para comporem a Comissão responsável pela criação do
Plano de Curso do Curso Técnico de Nível Médio em Agropecuária
na Forma Integrada. A comissão era composta por médicos veterinários, agrônomo, engenheiro agrônomo, pedagogo, engenheiro de
pesca e florestal.
O curso Técnico de Nível Médio em Agropecuária concentra-se no nível de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e no
eixo tecnológico de Recursos Naturais na forma integrada. A carga
horária final do curso é 4.340 horas, sendo 4.040 horas de carga horária total e 300 horas de estágio. (PDI/IFAM TEFÉ, 2014).
A oferta do Curso Técnico de Nível Médio em Agropecuária na Forma Integrada pretende suprir a carência da região, onde há
necessidade da implantação de uma unidade de ensino profissional
de qualidade para atender à demanda de especialização de mão-de-obra local. Atendendo as características dos arranjos econômicos
locais das especificidades socioambientais amazônicas e suas respectivas influências culturais. Além de ofertar uma estrutura física adequada com laboratórios didáticos e quadro de docentes qualificados,
para este fim. (PDI/IFAM TEFÉ, 2014).
Neste contexto, o IFAM Campus Tefé, com a oferta do curso Técnico de Nível Médio em Agropecuária na Forma Integrada,
busca formar técnicos capazes de atuar nessa região, valorizando o
saber e habilidades específicas da população local e as diversidades
culturais. (PDI/IFAM TEFÉ, 2014).
A elaboração da proposta de implantação do Curso Técnico de Nível Médio em Agropecuária na Forma Integrada, baseada
nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional (2012), toma como ponto de partida o relatório da Audiência
Pública realizada no Município de Tefé, realizada em novembro de
2012, que apontou como fundamental o desenvolvimento do setor
agrário do município, e o indicativo atendendo o Plano de Desenvolvimento Institucional do IFAM Campus Tefé, para o período de
2014-2018.
O objetivo geral do IFAM Campus Tefé, no que diz respeito
ao curso é ofertar o ensino Técnico de Nível Médio em Agropecuária,
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
com vistas a proporcionar formação de profissionais capazes de atuar
no desenvolvimento da matriz produtiva local e regional. Atendendo
às necessidades do mundo do trabalho e promovendo o desenvolvimento socioeconômico e ambiental da Mesorregião Centro Amazonense, visando, ainda, o desenvolvimento sustentável através do
uso de técnicas adequadas que propiciem o incremento da atividade
agropecuária e seus arranjos econômicos (PDI/IFAM TEFE, 2014).
Além disso, também são objetivos do curso: Oferecer condições para que o aluno desenvolva as competências profissionais
requeridas na área de Agropecuária, facilitando e ampliando as possibilidades de atuação e interação com outros profissionais; Desenvolver as competências específicas da habilitação profissional; Oferecer um ensino contextualizado, associando teoria à prática; Oferecer
educação profissional, considerando o avanço da tecnologia e a incorporação constante de novos métodos e processos de produção;
Promover uma Educação Profissional sempre integrada e articulada
com a Educação Básica, a ciência e a tecnologia e, consequentemente, observando as expectativas da sociedade e as tendências do mundo de trabalho. (PDI IFAM TEFE, 2014).
O aluno, ao concluir o curso Técnico de Nível Médio em
Agropecuária na Forma Integrada do IFAM campus Tefé, será um
profissional apto a aplicar seus conhecimentos práticos no mundo
do trabalho, no que diz respeito às técnicas de produção e gestão da
agropecuária e agroindústria empresarial e comunitária, na identificação dos elementos sociais e culturais da sociedade, articulando saberes locais e saberes técnico-científicos para solução de problemas,
desenvolvendo ações de sustentabilidade articuladas às técnicas de
metodologia de pesquisa com uma postura crítica quanto a realidade
em que estiver inserido (PDI IFAM TEFE, 2014).
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produção agroecológica: Floresta Nacional de Tefé. Curitiba: CRV,
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20/05/18
Tefé. Disponível em: https://www.visitetefe.com/?lightbox=dataItem-ixqc3s0x. Acesso em: 20/05/18
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Reflexões Ecológicas de Educação Ambiental
e Sustentabilidade
Lucas Patrício de Lima
Gilvânia Plácido Braule
Sebastião Melo Campos
Introdução
Podemos acompanhar em nosso cotidiano o quanto o ser
humano está destruindo o meio ambiente. O crescimento das cidades, as indústrias e os veículos estão causando transtornos para o ar,
solo e as águas. O desenvolvimento sustentável é necessário, porém,
o ser humano precisa cuidar do meio ambiente, pois dependemos
dele para sobreviver neste planeta e não comprometer o futuro das
próximas gerações.
Pesquisar sobre alfabetização ecológica e sustentabilidade
na escola partiu de uma preocupação em como o mundo esta sendo
transformado de uma forma negativa pelo homem e como as pessoas devem aprender a lidar ecologicamente de forma sustentável.
O estudo inicial foi sobre desenvolvimento sustentável no processo
de ensino e aprendizagem de uma escola pública e no decorrer das
leituras e pesquisas bibliográficas deparou-se com a teoria de alfabetização ecológica e desde então, passou-se a ver alfabetização ecológica como um caminho mediador para uma educação equilibradora,
onde homem e meio ambiente possam se respeitar de forma natural,
respeitando a sistemática, ou seja, a classificação de todo o processo
da vida.
Entende-se que a compreensão ecológica é necessária para
as próximas gerações aprenderem a respeitar a natureza e cuidar do
planeta terra promovendo um desenvolvimento equilibrado para o
desenvolvimento sustentável, é importante considerar no currículo
da educação básica o estudo da natureza e da interdependência entre
o ser humano e o ambiente para promover a cultura e o desenvol- 73 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
vimento local sustentável, ou seja, precisa-se de fato desenvolver a
alfabetização ecológica.
Definição de Educação Ambiental, alfabetização ecológica
e sustentabilidade
A educação ambiental segundo Reigota (2012, p. 12), “não
deve ser vista apenas pelo ponto de vista dos aspectos biológicos da
vida, assim não se trata apenas de garantir a preservação de espécies
animais, vegetais e de recursos naturais”.
Segundo o autor, o que deve ser uma prioridade na educação ambiental são as análises econômicas, sociais e culturais entre a
humanidade e a natureza e as relações entre os seres humanos, com
o objetivo maior de superar os mecanismos de controle e de dominação que impedem a participação consciente e democrática de todos.
A Educação Ambiental,
Deve procurar favorecer e estimular possibilidades de se estabelecer
coletivamente uma “nova aliança” (entre os seres humanos e a natureza e entre nós mesmos) que possibilite a todas as espécies biológicas, inclusive a humana) a sua convivência e sobrevivência com
dignidade (REIGOTA, 2012, p. 14).
Educação Ambiental é um processo que tem como uma
das finalidades formar indivíduos preocupados com os problemas
ambientais e que busquem a conservação e preservação dos recursos naturais e a sustentabilidade. É importante destacar que a mesma não pode e nem deve ser confundida com ecologia, pois esta é
apenas um dos inúmeros aspectos relacionados à questão ambiental.
Para um melhor entendimento é necessário conhecer algumas determinações legais, como a Política Nacional de Educação Ambiental
- Lei nº 9795/1999 que em seu art 1º estabelece:
Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial
à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Nesse entendimento podemos notar a importância que
tem a coletividade na preparação de mudanças de comportamentos.
- 74 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Porém, o primeiro passo para que essa coletividade venha de fato
acontecer é a compreensão, sensibilização/conscientização, no que
diz respeito as crises que ameaçam o futuro do planeta, visto que os
mesmos podem ser considerados como instrumentos para a educação ambiental. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Ambiental em seu art. 2° definem:
A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade
intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com
os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética
ambiental.
A Educação Ambiental é a ação educativa permanente pela
qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua
realidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza.
A Educação Ambiental tem como uma das intenções trabalhar conhecimentos como cidadania, sustentabilidade, justiça
social, apoiada no diálogo, na conscientização, como diz Loureiro
(2009, p. 24) “[...] no fortalecimento dos sujeitos, na superação das
formas de dominação capitalistas e na compreensão do mundo em
sua complexidade e da vida em sua totalidade”.
Um dos conhecimentos que a educação ambiental busca
trabalhar é a questão sustentável, termo esse que tem sido muito usado ultimamente e com frequência, porém, não utilizado de maneira consciente. Capra (2006, p. 13) define o termo sustentável como
aquele “capaz de satisfazer as suas necessidades e aspirações sem diminuir as chances das gerações futuras”.
A Educação Ambiental é um processo constante, onde os
sujeitos adquirem conhecimentos, habilidades, valores que os possibilita solucionar problemas ambientais para as presentes e as futuras
gerações. É importante ressaltar que educação ambiental incorpora
várias dimensões como sociais, políticas, econômicas, culturais, ecológicas e éticas.
A educação Ambiental deve estimular as pessoas a serem portadoras de soluções e não apenas de denúncias, embora estas devam ser
- 75 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
as primeiras atitudes diante dos desmandos socioambientais. Deve
produzir também mudanças nas suas próprias condutas, modificando, por exemplo, seus hábitos de consumo (BARBIERI, 2011, p. 83).
Com isso, fica notório que a Educação Ambiental, tem
como um dos objetivos a conscientização/sensibilização ambiental,
através da criação de comportamentos ecológicos corretos, colocados em prática pelos cidadãos por todos. Para isso, é importante
estabelecer estratégias, para a construção do processo de cidadania
e da qualidade de vida das pessoas. E a escola torna-se uma aliada
importante, ao incorporar essas atitudes e valores, que despertem
um olhar especial para perceber que os recursos naturais são finitos, e o uso dos recursos naturais exagerado só dificultará viver com
qualidade.
A natureza não precisa do homem para sobreviver, pelo
contrário, o homem que precisa da natureza para sobreviver. A natureza permaneceria linda e formosa como era e como foi criada. Mas
o homem com sua ambição financeira parece que ainda não se deu
conta disso.
É importante saber que a educação ambiental vai além da
questão conservacionista, é uma opção e estilo de vida. De acordo
com Gadotti (2000), trata-se de uma opção de vida por uma relação
saudável e equilibrada com o contexto. Ela deve estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos.
Segundo Garrett Hardin (1968, p. 1243-1248), ecologista
americano, as maneiras de definir a Educação Ambiental são as seguintes:
Educação ambiental é a preparação de pessoas para a vida enquanto
membros da biosfera;
Educação ambiental é o aprendizado para compreender, apreciar,
saber lidar e manter os sistemas ambientais na sua totalidade;
Educação ambiental significa aprender a ver o quadro global que
cerca um problema específico, sua história, seus valores, percepções, fatores econômicos e tecnológicos, e os processos naturais que
o causam e que sugerem ações para saná-lo;
Educação ambiental é a aprendizagem de como gerenciar e melhorar as relações entre a sociedade humana e o ambiente, de modo
integrado e sustentável;
Educação ambiental significa empregar novas tecnologias, aumen-
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
tar a produtividade, evitar desastres ambientais, melhorar os danos
existentes, conhecer e utilizar novas oportunidades e tomar decisões acertadas;
Educação ambiental é fundamentalmente uma educação para resolução de problemas com base na sustentabilidade e no aprimoramento contínuo para encontrar soluções melhores.
Entende-se pelos conceitos apresentados, que a Educação
Ambiental é compreendida como um processo participativo, em que
o educando assume o papel de elemento central do processo ensino-aprendizagem pretendido, participando ativamente no diagnóstico
de problemas e busca de soluções, sendo preparado como agente
transformador, através do desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes.
O termo sustentabilidade é um dos assuntos mais discutidos na contemporaneidade, muito por causa das transformações
negativas que vêm acontecendo no mundo. A necessidade de construir um futuro sustentável faz-se urgente. Porém, não se pode falar
e pensar em uma comunidade sustentável, sem falar em educação,
pois está oferece e facilita meios para que um novo modo de pensar
seja introduzido.
Segundo Haiduke (2013), a sustentabilidade é: [...] o processo político, participativo que integra a sustentabilidade econômica, ambiental, espacial, social e cultural, sejam elas coletivas ou
individuais, tendo como foco o alcance e a conservação da qualidade
de vida, seja nos momentos de disponibilização de recursos, seja nos
períodos de carência, tendo como probabilidades a cooperação e a
solidariedade entre os povos e as gerações.
De acordo com isso, podemos entender a sustentabilidade
como a segurança da sobrevivência da humanidade, já que a mesma
tem a preocupação de utilizar os recursos naturais de forma consciente.
Dessa forma, educar o ser humano para a sustentabilidade
não é uma tarefa fácil, porém possível, e isso tem sido proposto, é
o que podemos chamar de ecopedagogia. De acordo com Razzoto
(2009, p. 100), “o conceito de Ecopedagogia está relacionado com
a sustentabilidade para além da economia e da ecologia”. Além de
- 77 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
pensar enfoques pertencentes ao planeta, inclui pensar abordagens
de uma educação para o futuro, uma educação que tenha como uma
das principais prioridades a harmonia entre homem e natureza.
[...] a ecopedagogia só tem sentido como projeto alternativo global
onde a preocupação não está apenas na preservação da natureza
(Ecologia Natural) ou no impacto das sociedades humanas sobre
os ambientes naturais (Ecologia Social), mas num novo modelo de
civilização sustentável do ponto de vista ecológico (Ecologia Integral) que implica uma mudança nas estruturas econômicas, sociais
e culturais. Ela está ligada, portanto, a um projeto utópico: mudar
as relações humanas, sociais e ambientais que temos hoje [...]. (GADOTTI, 2005, p. 21)
Nesse ponto de vista, a escola possui um papel importantíssimo que é formar cidadãos críticos e participativos, pois são as
pequenas atitudes que fazem diferença e que cada um precisa ter a
consciência que precisa fazer sua parte buscando o bem estar social,
pois todos nós fazemos parte deste planeta, levando sempre em consideração que todas as atitudes, sendo elas positivas ou negativas,
trarão consequências sociais e ambientais a todos.
Como meio principal de criar condições para a sustentabilidade e para melhor conhecer o ambiente em que vive, Capra (2006)
sugere a alfabetização ecológica, pois a mesma é uma estratégia pedagógica que procura o aprendizado por intermédio do contato com
a natureza. O autor afirma que o propósito dessa alfabetização ecológica é desenvolver a competência das/nas pessoas de perceberem as
diferentes conexões que fazem parte da “teia da vida”. Desta forma,
Layrargues (2003, p. 2) afirma que:
[...] uma pessoa ecologicamente alfabetizada seria aquela que possui
o senso estético de encantamento com o mundo natural e com a teia
da vida. Seria aquele individuo portador do sentimento da biofilia,
descrito por Wilson (1984), como sendo a ligação que os seres humanos subconscientemente buscam para se integrar com o restante
da vida, em busca de uma maior intimidade com o mundo natural.
A finalidade da Alfabetização Ecológica se baseia então na possibilidade de nutrir esse sentimento de afinidade para com o mundo
natural, ou seja, despertar a biofilia nos educandos.
A importância da alfabetização ecológica se dá pelo fato
da mesma trabalhar os princípios básicos da ecologia, e por que não
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
dizer os princípios da Educação Ambiental e sustentabilidade? A alfabetização ecológica se baseia na possibilidade de alimentar o sentimento de afinidade para com o mundo natural, que no caso é com a
vida, a terra, a água e o ar, ou seja, despertar a “biofilia” nos educandos, “biofilia” termo usado por E. O. Wilson, que significa “instinto
de conservação, amor à vida”. Termo esse que pode ser considerado a
maior esperança para o nosso futuro, um futuro sustentável.
A causa para que tenhamos esse amor é em favor da nossa própria sobrevivência, nós como seres racionais, precisamos nos
comprometer com isso. Precisamos estar cientes que é necessário
conservar nosso bem maior, que é fundamental valorizar a harmonia
da atividade humana com a conservação da biodiversidade, e que o
uso racional dos recursos naturais é em favor de benefícios para os
cidadãos de hoje e das futuras gerações.
Para termos a consciência que nossa sobrevivência depende da harmonia com relação à conservação da biodiversidade, precisamos saber que é necessário, em primeiro lugar entender os princípios básicos da ecologia. Mas para entendermos esses princípios,
precisamos saber o que é ecossistema, termo esse que apesar de ser
muito discutido, muitas pessoas ainda não sabem o que é, sendo ele
muito importante para a ecologia.
Ecossistema é o nome dado a um conjunto de comunidades que vivem em um determinado local e interagem entre si e
com o meio ambiente, constituindo um sistema estável, equilibrado
e autossuficiente. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1935
pelo ecólogo Arthur George Tansley. Desde então, faz parte do vocabulário da comunidade científica e da sociedade.
Um ecossistema é formado por dois componentes básicos:
o biótico e o abiótico. O primeiro diz respeito aos seres vivos da
comunidade, tais como plantas e animais. Esses seres desempenham
diferentes papéis em um ecossistema e ocupam diferentes níveis tróficos, podendo ser produtores, consumidores ou decompositores.
Além dos componentes bióticos, temos os componentes
abióticos, que são as partes sem vida do ambiente, como o solo, a atmosfera, a luz e a água. Esses fatores são fundamentais para a manu- 79 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
tenção da vida, pois garantem a sobrevivência das espécies, atuando,
inclusive, no metabolismo dos seres vivos, como é o caso da água.
Sendo assim, todos os seres vivos de um ecossistema dependem uns dos outros, ou seja, um ecossistema se gera no dejeto,
pois os resíduos de uma espécie é o alimento de outra, existindo assim essa troca de matéria e energia entre eles, em ciclos que se dão
continuamente ao longo da rede da vida. Assim sendo, cada ecossistema, mesmo que pequeno, é importante para garantir o equilíbrio
do planeta.
Para se ter uma compreensão melhor dos princípios básicos da ecologia, dividiremos em duas partes, os que especificamente
as crianças vivenciam e entendem em seu dia a dia e, os que de modo
geral fazem parte da sustentabilidade, também podemos chamá-los
de linguagem da natureza.
Explicando os princípios da alfabetização ecológica, Capra
(2006) aponta a alfabetização ecológica, ou seja, os conhecimentos
básicos da ecologia, como dependência da nossa sobrevivência, da
capacidade de cada um entender esses princípios (interdependência,
reciclagem, parceria, flexibilidade, diversidade) e a sustentabilidade
como consequência de todos. Defende que a compreensão sistêmica
da vida baseia-se na compreensão de três fenômenos:
[...] o padrão básico de organização da vida é o da rede ou teia; a
matéria percorre ciclicamente a teia da vida; todos os ciclos ecológicos são sustentados pelo fluxo constante de energia proveniente sol.
Esses três fenômenos básicos – teia da vida, os ciclos da natureza e
o fluxo de energia – são exatamente os fenômenos que as crianças
vivenciam, exploram e entendem por meio de experiência diretas
com o mundo natural. (CAPRA, 2006, p. 14)
Segundo Monteiro (2012), a Alfabetização Ecológica também pressupõe a compreensão de que a saúde e o bem-estar e a própria sobrevivência humana, dependem da convivência com e não
contra a natureza.
Ensinar os princípios básicos da ecologia são objetivos básicos da alfabetização ecológica. Através dela é possível “compreender as múltiplas relações que se estabelecem entre todos os seres vivos e o ambiente onde vivem, e que tais relações, constituem a teia
que sustenta a vida do planeta”. (CAPRA, 2006, p. 11).
- 80 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
A Alfabetização Ecológica quando iniciada nos primeiros
anos de vida escolar, nos dá a possibilidade de melhoria na forma
como se aprende, conhece e compreende os vários aspectos e desafios ao longo de nossa existência.
Os temas de conservação e preservação dos recursos naturais há muito vem sendo discutido, assim como vem aumentando a
lista de florestas desmatadas, animais em extinção, rios poluídos, enfim. Frente a essa situação, é preciso e necessário refletirmos sobre as
crianças e principalmente a educação que recebem em sala de aula,
limitando-se somente entre quatro paredes, sem nenhum contato
com a natureza. De Lima Ribeiro (2012, p. 6) diz:
As crianças nesse ambiente são privadas de conhecimentos relacionados ao modo como acontecem às interações naturais. Elas têm
uma ideia limitada da importância de animais que não estão no seu
cotidiano, passam a ver a natureza como parte dissociada do ambiente social o qual elas estão integradas.
Nesta perspectiva, vemos a alfabetização ecológica como
um caminho para esta sensibilização e conhecimento da natureza,
identificando-se como parte integrante do meio e assim garantindo
oportunidades de contato com o meio ambiente em diversos espaços
e de forma interdisciplinar.
Ecologia e Educação Ambiental: Alfabetização ecológica
no Ensino Fundamental
Trabalhar com o tema Educação Ambiental significa pensar num
futuro melhor para nosso mundo e para as pessoas que aqui vivem,
colocando em prática uma ação transformadora das nossas consciências e de nossa qualidade de vida. Mas não podemos esquecer
que a educação ambiental surgiu do movimento ecológico. “Surge
da preocupação da sociedade com o futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e futuras gerações” (CARVALHO,
2012, p. 51).
É importante compreender o conceito de ecologia para
entender o porquê dos movimentos ecológicos. Segundo o dicionário
Houaiss (p. 264), “ecologia1 significa ciência que estuda as relações
1 O surgimento da ecologia no âmbito das ciências está associado ao ano de 1866, quando, pela primeira vez, o biólogo alemão Ernest Haeckel, importa difusor das idéias evolucionistas de Charles Darwin, usou esse conceito na literatura científica. Naquele momen-
- 81 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
entre os seres vivos e o meio ambiente.” Carvalho explica que a “palavra ecologia, além de designar uma área do conhecimento científico, foi associada aos movimentos e práticas sociais que ganharam as
ruas e conquistaram muitos adeptos para o projeto de mudança da
sociedade em uma direção ecológica”. (2012, p. 45).
Mas sabemos que o sentido de ecologia, no contexto dos
movimentos sociais, se refere ao campo de ações sociais, “[...] a
ecologia é uma ‘ideia-ponte’, que transitou de um mundo a outro,
do conhecimento científico às lutas sociais, e hoje habita esses dois
mundos com sentidos e pretensões diferentes em cada um deles.”
(CARVALHO, 2012, p.45).
Os pensamentos ecológicos partiram da preocupação com
a conservação do planeta e a manutenção das sociedades. Com a
disseminação destes pensamentos, surge a educação ambiental, que
busca despertar em todos a consciência de que o ser humano é parte
do meio ambiente, tentando superar a visão antropocêntrica, que fez
com que o homem se sentisse sempre o centro de tudo, esquecendo
a importância da natureza, da qual é parte.
Com os avanços tecnológicos, esquecemos que nossa dependência da natureza continua e que por isso, precisamos urgentemente se dar conta que enquanto as tecnologias estão crescendo a
cada dia, a cada dia um pedaço da natureza vai deixando de existir.
Nesse processo de conscientização Campos (2013, p. 23) diz:
to, Haeckel definia-a como a ciência das relações dos organismos com o mundo exterior.
Essa definição desencadeou um movimento de afirmação de autonomia da ecologia em
relação à ciência biológica. Assim, apenas nos últimos anos do século XIX a ecologia alcançou maior status e autonomia, ainda que sua afiliação predominantemente ao campo
da biologia, constituindo um dos seus grandes ramos. Outro conceito central que define
o principal dos estudos ecológicos é do ecossistema. Este surge apenas em 1935, cunhado
pelo ecólogo inglês Arthur Tansley. Tudo isso torna essas datas referenciais significativas
para a formação da ecologia como ciência, no processo de constituição das ciências naturais, no qual ela pode ser reconhecida como uma “jovem ciência”.
Seu desenvolvimento como ciência passa por muitos outros nomes e trata de outras
questões e conceitos importantes. Mas, de modo geral, ela busca compreender inter-relações entre os seres vivos, procurando alcançar níveis cada vez maiores de complexidade
na compreensão da vida e de sua organização no planeta. Assim, o estudo de ecossistemas singulares (unidades botânicas simples, por exemplo), a ecologia caminhou para o
estudo de totalidades mais complexas e inclusivas, como é o caso das noções de biosferas
e ecossistemas e, mais recentemente, da controvertida “hipótese Gaia” (CARVALHO,
2012, p. 39-40)
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
A escola depois da família é uma instituição que vai complementar
o conhecimento crítico dos alunos. E a sua participação neste processo envolve diversos aspectos como: o social, político, valores éticos e morais, intelectual e entre outros. A escola deve e pode exercer
uma influência benéfica na vida educacional de cada cidadão, uma
vez que, é através dela que os mesmos terão conhecimentos dos seus
direitos e deveres dentro da sociedade da qual pertence.
A educação ambiental nas escolas contribui para a formação de cidadãos conscientes, capazes para decidirem e atuarem na
realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida,
com o bem-estar de cada um e da sociedade. Para isso, é importante
que, mais do que informações e conceitos, a escola se disponha a
trabalhar com atitudes, com formação de valores e com mais ações
práticas do que teóricas para que o aluno possa aprender a amar,
respeitar e praticar ações voltadas à conservação ambiental.
A escola é o lugar onde o aluno dará sequência ao seu
processo de socialização, porém, comportamentos ambientalmente
corretos devem ser aprendidos na prática, no decorrer da vida escolar com o objetivo de contribuir para a formação de cidadãos responsáveis, mas para que isso aconteça, a escola deve oferecer a seus
alunos os conteúdos ambientais de forma contextualizada com sua
realidade.
No entanto, para facilitar esse processo, é importante que
a figura do professor diante de seus alunos deva ser um instrumento
de ação para a conscientização e sensibilização dos mesmos, educando-os de forma correta desde a conservação da limpeza da sala
de aula, até a preservação do meio em que comunidade escolar está
inserida na sociedade.
Entende-se que é preservando a natureza que se pode ter
uma boa qualidade de vida, não apenas para nós seres humanos, mas
para as florestas, animais, peixes, enfim, a vida dos recursos naturais
existentes no planeta. Na compreensão de Segura (2001, p. 165):
Quando a gente fala em educação ambiental pode viajar em muitas
coisas, mas a primeira coisa que se passa na cabeça ser humano é o
meio ambiente. Ele não é só o meio ambiente físico, quer dizer, o
ar, a terra, a água, o solo. É também o ambiente que a gente vive – a
escola, a casa, o bairro, a cidade. É o planeta de modo geral. (...) não
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
adianta nada a gente explicar o que é efeito estufa; problemas no
buraco da camada de ozônio sem antes os alunos, as pessoas perceberem a importância e a ligação que se tem com o meio ambiente,
no geral, no todo e que faz parte deles. A conscientização é muito
importante e isso tem a ver com a educação no sentido mais amplo
da palavra. (...) conhecimento em termos de consciência (...) A gente só pode primeiro conhecer para depois aprender amar, principalmente, de respeitar o ambiente.
Cabe a todos os educadores e futuros, ensinar e conscientizar os alunos que é fácil e necessário preservar a natureza. Assim, é
possível se ter uma vida melhor, por isso, deve - se cuidar do “verde”
existente no planeta, através de uma convivência diária e prática de
um bom cidadão que busca um mundo melhor.
Para isso, é preciso compreender melhor o que é alfabetização ecológica. Capra (2006, p. 231) aborda sobre este assunto e diz
que,
[...] significa entender os princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas). Entender como tudo funciona, isto
é, entender as relações e como estas se interligam em prol de algo
maior. Sendo mais preciso, é o estudo das relações que interligam
todos os moradores desta grande casa que é o planeta Terra.
Trabalhando ecologia no cotidiano escolar, explorando em
todas as disciplinas, é possível “amenizar” a preocupação quanto à
preservação do meio ambiente, pois as crianças são muito sensíveis a
essas questões, aos animais, as plantas, as flores, florestas etc., elas se
preocupam com algo novo que elas aprendem na escola.
Para facilitar e despertar o interesse do aluno para que se
torne mais prazeroso é necessário trabalhar de forma lúdica, ainda que às vezes seja difícil de ser desenvolvida, pois requer muita
prática, mudanças de comportamento, tendo como alvo alcançar a
todos, mas também a consciência que a maiorias das vezes isso não
é possível.
Voltando um pouco na história, podemos notar que o ser
humano antigamente usava a natureza como fonte de auxílio para
sobreviver e sustentar suas famílias. Por um longo tempo, o homem
passou a querer mais e mais, querendo se destacar para os outros,
mostrando que quem tem o poder é ele, então começou a explorar a
natureza com ânsia de ambição, e essa ambição se perpetua até hoje.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
A Educação Ambiental se tornou hoje uma ferramenta importantíssima na luta contra a destruição ambiental na qual todos os
seres vivos estão inseridos. Alunos e principalmente os professores,
por serem mediadores do conhecimento, tornam-se os principais
agentes de transformação e conservação do meio ambiente, pois é na
escola onde mais se conversa sobre esse assunto ou pelo menos deveria conversar, e é na escola o melhor lugar para se criar condições
para melhorar o mundo em que vivemos com relação às questões
ambientais.
Para que se crie um caráter sensível e preocupado com o
meio ambiente, é necessário que se forme a consciência de que o
ambiente não é propriedade de ninguém, mas devemos reconhecê-lo
como um lugar de todos, por isso, torna-se necessário que todos se
integrem no cuidado dos recursos naturais. Segundo Segura (2001,
p. 48):
Para a EA vista como aposta de vida, prática cidadã e construção
cotidiana de uma nova sociedade, este conceito parece mais “iluminado” de sentido pois estabelece uma série de outras conexões
importantes: a relação eu-nós pressupõe envolvimento solidariedade e a própria participação. Poderia ter escolhida “conscientização”
ou “sensibilização”, talvez as expressões mais citadas quando se fala
em EA, mais foi buscada no conceito de pertencimento uma síntese
dessas duas idéias.
Para muitos professores trabalharem temas transversais,
como o meio ambiente no cotidiano escolar, é muito difícil, pois, a
maioria das vezes, as salas de aula são sempre lotadas, com muitos
conteúdos para serem ensinados durante o ano letivo, o qual deve
ser cumprido segundo a grade curricular da escola. Com essa preocupação de cumprir com os conteúdos da grade curricular, os conteúdos são trabalhados de forma rápida, não permitindo uma boa
aprendizagem.
Os professores, devido a sua posição de líderes, podem
contribuir com o aprendizado sobre o meio ambiente, desde as séries iniciais, despertando no aluno o gosto e a paixão pela natureza.
Portanto, no início da vivência escolar, deve-se despertar na criança,
através das aulas teóricas e práticas do ensino de ciências, o gosto
pela educação ambiental.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Uma das formas de começar a mudar o cenário do futuro dos nossos filhos e netos seria começando a trabalhar com a Educação Ambiental desde a educação infantil, com o intuito de formar cidadãos
conscientes dos valores ambientais. Todos já sabem e concordam
que a Educação Ambiental é um instrumento poderoso e capaz de
fornecer as condições necessárias, na escola, para que sejam estabelecidas novas relações com meio ambiente. (WOLF, 2007, p. 202)
Compreendemos a importância de trabalhar a Educação
Ambiental, começando pela base, ou seja, pela educação infantil.
Além de ser nessa etapa que a criança é ansiosa, curiosa e com a
mente fértil para adquirir conhecimentos, a criança é sensível com
relação ao meio ambiente, e trabalhando isso na base, não precisaria trabalhar tanto a conscientização quando adulto, pois ele já seria
consciente de sua responsabilidade.
Considerações Finais
Diante dos estudos teóricos e práticos, nota-se que a alfabetização ecológica é necessária para compreensão dos aspectos ambientais, ressaltando a formulação de conceitos das vidas existentes
ao redor de cada indivíduo.
Muito se discute sobre Educação Ambiental, mas pouco
se entende sobre alfabetização ecológica, pode-se colocar aqui como
está sendo a base para educação ambiental, pois tudo se parte da
compreensão de conceitos e aprendizagem de definições sobre os
elementos da natureza e homem. Pensa-se que sem alfabetização
ecológica não há educação ambiental e muito menos desenvolvimento sustentável.
É importante fazermos essa pergunta para si mesmo: “Quem
pode fazer o desenvolvimento sustentável”? O desenvolvimento
sustentável é o resultado das relações humanas, do desejo e da
vontade das pessoas de alcançarem uma melhor qualidade de vida
para todos. O desenvolvimento depende da união das pessoas, da
decisão de se colocarem como sujeitos sociais.
Mas o desejo pela qualidade de vida parte da conscientização de como viver melhor, e, para viver melhor, deve-se viver harmoniosamente com a natureza, aproveitando-a em todos os sentidos,
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
o seu ar puro, a sua beleza, o valor das plantas e dos seus animais,
aprendendo a reaproveitar os elementos naturais para consumir e
suprir as necessidades sem provocar danos como desmatamentos,
poluição dos rios, lagos e igarapés, e consumo de elementos prejudiciais ao ar e aos demais elementos da natureza.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Deslocamento transfronteiriço entre Brasil e
Peru e a organização do serviço de transporte da
Associação de Transportes Fluviais de Motores
peque-peques de Benjamin Constant/AM
Selomi Bermeguy Porto
Introdução
As fronteiras são lugares que apresentam singularidades
de traços que as tornam uma caixa de pandora, cheias de segredos
e mistérios a serem desvendados. Lugar de afirmação e resistência,
aceitação e exclusão, de trocas de saberes, de busca de reconhecimento, de discursos plurais de atores que disputam e/ou compartilham espaço, tempo, identidade, cultura, enfim, suas vivências e
experiências sob o grande guarda chuva do pluralismo cultural que
torna essa região em abundância de diversidade sociocultural.
Essa diversidade encontrada na fronteira é fruto das interações transfronteirças, tendo como estimulador a migração entre os
países e o deslocamento entre os povos que residem na região fronteiriça, que por sua vez, faz emergir as questões ligadas a etnicidade
que reflete a forma de organização e interação desses grupos sociais
fronteiriços, principalmente quando consideramos a participação do
imigrante nas relações comerciais e econômicas como influenciador
do contexto social, econômico e cultural.
Este trabalho apresenta uma abordagem teórica-metodológica em torno das questões de imigração/deslocamento1 trans1 Adotamos o termo imigração para se referir a mobilidade de pessoas entre países definida no texto como transfronteiriça com perspectiva de permanência no país hospedeiro
Gonçalves (2009), Jakob (2011), Santos (2012) e Oliveira (2014). Enquanto que o termo
deslocamento transfronteiriço é empregado no sentido de mobilidade sem finalidade de
permanência, apenas para fins de compras, passeios, trabalho, estudo etc. entre os municípios fronteiriços da tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru. O termo “deslocamento
transfronteiriço” que utilizamos neste trabalho surge a partir das contribuições teóricas
de Moura, Branco e Frikowski (2005), Cunha (2005) e Farias (2012) que utilizam o termo
movimentos ou deslocamentos pendulares para se referir aos deslocamentos sem finalidade de permanecia no lugar, de caráter apenas transitório, em fluxo contínuo.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
fronteiriço, etnicidade e empreendedorismo em discussão com dados empíricos de pesquisa de campo coletadas através de entrevista
individual e entrevista em grupo focal com os motoristas fluviais
da Associação de Transportes Fluviais de Motores Peque-peques de
Benjamin Constant que prestam os serviços de transporte entre as
cidades fronteiriças de Benjamin Constant/Brasil e Islandia/Peru.
Nosso objetivo é apresentar a forma de organização e as relações laborais entre brasileiros e peruanos na prestação de serviço de transporte fluvial no deslocamento fronteiriço entre Benjamin Constant/
Brasil -Islândia/Peru e vice versa.
Nesta forma de organização social em torno do empreendedorismo social cria-se uma rede de relações entre brasileiros e peruanos, emergida inicialmente por interesse econômico.
O transporte fluvial é o meio utilizado para fazer o deslocamento de pessoas e mercadorias entre as duas cidades fronteiriças
Benjamin Constant e Islândia. A duração do percurso entre as cidades é de 10 a 15 minutos pelo transporte comercial convencional
utilizado. Islândia fica a vista de Benjamin Constant. Em Islândia
vive aproximadamente 3 mil habitantes, município com uma arquitetura diferenciada, pois toda cidade é suspensa por pontes devido
os períodos de enchente do rio que deixa a localidade totalmente
inundada. Já Benjamin Constant, de acordo com o último censo de
2017 do IBGE possuía 41.329 habitantes, cidade mais desenvolvida
economicamente e com melhor estrutura se comparada a Islândia,
todavia, sofre também com a enchente do rio que a depender do
nível inunda vários pontos da cidade.
Hoje, o deslocamento entre os municípios vizinhos é organizado por associações. Em Benjamin Constant existe uma (1) e em
Islândia três (3) que integram vários trabalhadores brasileiros e peruanos. Na relação entre os trabalhadores motoristas fluviais brasileiros e peruanos existe interdependência e conflitos entre as partes,
aspectos comuns nas relações de grupos sociais.
Nas seções seguintes inicialmente é feita uma abordagem
teórica buscando diferenciar migração transfronteiriça de deslocamento transfronteiriço, em seguida fazemos uma análise dos dados
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
empíricos da pesquisa de campo a luz das teorias sobre a forma de
organização dos trabalhadores motoristas fluviais brasileiros e suas
relações com os motoristas fluviais peruanos que prestam o serviço de transporte que acarreta deslocamento fluvial transfronteiriços
de passageiros entre Benjamin Constant/Islandia-Islândia/Benjami
Constant.
Deslocamento Transfronteiriço entre as cidades fronteiriças de Benjamin Constant/Brasil e Islândia/Peru
Não é possível fazer uma reflexão sobre as relações laborais
entre brasileiros e estrangeiros em ramo de negócios nos municípios
fronteiriços baseados apenas numa visão disciplinar. Propomos um
diálogo interdisciplinar entre a economia, a antropologia, a sociologia, história e geografia que estarão integradas nas discussões sobre
migração, etnicidade e empreendedorismo.
A tessitura teórica para tratar o tripé - migração/deslocamento, etnicidade e empreendedorismo - assume o compromisso de
considerar os grupos sociais, trabalhadores motoristas fluviais, sob a
luz de um olhar e pensar teórico crítico num entendimento de atender com dois aspectos orientados por Oliveira (2014, p.25), a saber:
o primeiro, de que os grupos sociais são constituídos “a partir de
diferentes experiências culturais, religiosas e raciais”; segundo, “é preciso o máximo de cuidado na elaboração de análises e, principalmente,
de conceitos, para não reproduzir os mecanismos dos dominadores e
colonizadores”.
Incorpora ao rol de teóricos que contribuirão para discutir esta categoria, além de Oliveira (2014) participa deste diálogo
Gonçalves (2009), Jakob (2011), Santos (2012) no que se trata de migração transfronteiriça. Moura, Branco e Frikowski (2005), Cunha
(2005) e Farias (2012) complementam a discussão ao contribuir
para situar o que consideramos em nosso trabalho de deslocamento
transfronteiriço.
Santos (2012, p.63) diz que é possível inferir que o processo histórico de ocupação humana da região amazônica teve influência das migrações, principalmente as transfronteiriças, uma vez
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
que a região faz fronteira com vários países. Gonçalves (2009, p.18)
faz lembrar que a “migração transfronteiriça tem aumentado em
volume e significância, desde 1945 e, mais particularmente, desde
meados dos anos 80”. Jakob (2011, p.429) enfatiza que as localidades situadas junto às áreas de fronteira internacional possuem uma
expressiva mobilidade populacional, assim como uma significante
migração internacional entre os países limítrofes, o que resulta em
deslocamentos de curta distância nas áreas de fronteira internacional.
Os municípios brasileiros da tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru, em especial Benjamin Constant/AM e Tabatinga/AM
fazem parte desse processo de migração transfronteiriça Amazônica,
principalmente de imigrantes peruanos para o Brasil com destino
nos municípios brasileiros supracitados.
Além de estes municípios contarem com a presença permanente de imigrantes que se estabelecem na região se estruturando
com moradia, família, estudo, trabalho especialmente como autônomo “dono de empreendimentos”. Ainda existe um fluxo contínuo de
estrangeiros com finalidades específicas que promovem o que caracterizamos em nosso trabalho de deslocamento transfronteiriço.
O termo deslocamento transfronteiriço que utilizamos
aqui vem na mesma perspectiva de Cunha (2005, p.6) de considerar
que os movimentos diários sem caráter permanente não devem ser
definidos como migração, “mas sim, genericamente, como um tipo de
mobilidade populacional”. Para Moura, Branco e Firkowski (2005, p.
124) “a migração envolve mudança de residência, os deslocamentos
pendulares caracterizam-se por deslocamentos entre o município de
residência e outros municípios, com finalidade específica”.
Na fronteira entre Brasil e Peru representada respectivamente por Benjamin Constant e Islândia esta realidade descrita
pelos autores fazem parte da realidade do viver na fronteira como
observado na fala de um dos motoristas2 fluviais que pertence ao
quadro de associados da Associação de Transportes Fluviais de Motores Peque-peques de Benjamin Constant, vejamos:
2 Para preservar o participante da pesquisa foi criado nome fictício para identificar o
entrevistado.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
O movimento durante a semana é mais de peruanos e final de semana mais de brasileiros. Durante a semana os peruanos vêm trabalhar em Benjamin Constant, outros estudar, esses vêm de manhã
e só voltam no final da tarde. Os outros peruanos que vem fazer
compras, principalmente os donos de restaurantes não demoram,
voltam logo. Os brasileiros, principalmente nos fins de semana vão
almoçar com a família e passear em Islândia. Também o movimento
é bom quando sai o pagamento porque os brasileiros vão fazer compras em Islândia. (Rio Javarí, 46 anos, entrevista 2019).
Farias (2012, p.5) detalha melhor o que Moura, Branco e
Firkowski (2005) chamam de finalidades específicas ao esclarecer “os
diferentes significados das noções de migração (vinculada à mudança
definitiva do município de residência) e pendularidade (expressando
o deslocamento para fins diversos [trabalho, estudo, lazer, etc.] entre
municípios, a partir de diferentes temporalidades e distâncias)”, sem a
intenção de mudança permanente.
Com base nos dados da pesquisa de campo e a luz das contribuições teóricas é possível afirmamos que além dos casos de imigração com permanência no país de destino existe entre os municípios de fronteira deslocamentos transfronteiriços, sem a intenção de
permanência apenas para fins específicos. Podemos aferir que o deslocamento de brasileiros para o município peruano são motivados
especialmente por questões comerciais de compras e lazer (passeio),
por outro lado, além destes aspectos os peruanos buscam no Brasil
estudo e trabalho.
Oliveira (2014, p.32) considera a livre circulação entre os
países fronteiriços como um fator relevante para os estudos migratórios. Salienta que se trata de uma questão presente “nos itinerários migratórios e se inscreve no conjunto dos processos de mobilidade
humana em âmbitos regional e internacional. No Amazonas, essa temática vem emergindo com certa intensidade devido à migração de
trabalhadores peruanos para a Amazônia [...]”.
Essa dualidade de trânsito transfronteiriço presente na região locos da pesquisa respalda nossa preocupação de definir o uso
do termo migração transfronteiriça e deslocamento transfronteiriço.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
A Organização da Associação de Transportes Fluviais de
Motores Peque-peques de Benjamin Constant/AM
Conforme anteriormente mencionado o transporte de
pessoas e mercadorias entre os municípios fronteiriços de Benjamin
Constant e Islândia se dar unicamente por via fluvial. Atualmente,
encontra-se organizada em Benjamin Constant uma (1) associação com 22 associados motoristas fluviais que prestam o serviço de
transporte.
Para ser um associado é preciso ser brasileiro ou naturalizado. Não é permitido que peruanos integrem-se na Associação de
Benjamin Constant e nem brasileiros na Associação de Islândia, que
hoje possui 3 associações prestando este tipo de serviço.
Nas figuras seguintes é apresentando a estrutura física da
Associação Fluvial de Benjamin Constant.
Figura 1: Associação Fluvial de Benjamin Constant
Fonte: pesquisa de campo, 2019.
A estrutura física é parecida com uma casa flutuante, localmente chamada de balsa. Estrutura simples de madeira com acesso
improvisado.
Figura 2: Embarcações brasileiras utilizadas para transporte dos passageiros
Fonte: pesquisa de campo, 2019.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
As embarcações são de madeira com cobertura de lona e
a maioria dos motores de polpa são rabêta, localmente conhecido
como peque-peque. A aparência estética dessas embarcações deixa a
desejar. A arquitetura das embarcações recebe influencias da criação
peruana. No quesito segurança não é disponibilizado coletes salva
vidas para os passageiros, salvo as raras vezes que acontecem as vistorias da capitania no município. O percurso geralmente é rápido e
tranquilo, mas é preciso que o motorista esteja atento, principalmente nas proximidades das cidades devido o fluxo constante de embarcações.
A origem da Associação surgiu devido a necessidade de organização destes trabalhadores, pois antes da criação da associação
todos ficavam aportados na beirada do porto disputando clientes e
trajeto de viagens. Isso ocasionava muitos conflitos entre os motoristas fluviais e entre os clientes como explicado pelo associado: antes
não era organizado. Ficavam na beira e era cada um por si, mas dava
muita briga entre motoristas e também entre os clientes. Depois que
foi organizada a associação. (Rio Javarí, entrevista, 2019). Sobre este
tipo de organização do trabalho em forma de associativismo, vejamos o que dizem Fiorini e Zampar (2015, p.280):
Da mesma forma que as empresas que se reúnem em redes setoriais
aumentam seu poder de negociação; as pessoas também podem expandir as possibilidades de otimizar negócios, através do associativismo, que se apresenta como saída eficiente, principalmente para
pequenos investidores. (FIORINI e ZAMPAR, 2015, p. 280).
O associativismo é uma das formas de empreendedorismo
solidário constituído por grupos que apresentam objetivos e interesses comuns entre si e que unem forças para defendê-los. “A ideia,
é que pessoas e empresas se unam e se ajudem mutuamente para
resolver os problemas e encontrar novas soluções criativas” (FIORINI e ZAMPAR, 2015, p.180). No grupo pesquisado a adesão ao
associativismo surgiu como alternativa de organização do trabalho
e proteção do negócio, sendo que hoje só podem prestar este tipo de
serviço os que pertencem ao quadro de associados, que atualmente
conta com um número fechado de 22 associados.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Através da organização da associação foi possível estabelecer acordos com os motoristas fluviais peruanos, que também se
organizaram em forma de associação. Foi firmado um acordo entre
brasileiros e peruanos que cada associação só poderiam fazer o trajeto de ida com passageiros, ou seja os motoristas fluviais de Benjamin
Constant, por exemplo, só poderiam levar passageiros para Islândia,
mas não poderiam trazer, assim também se aplicaria aos motoristas
fluviais de Islândia que só poderiam levar passageiros para Benjamin
Constant.
Todavia, os motoristas fluviais de Benjamin Constant reclamam que os motoristas fluviais peruanos não cumprem com o
acordo, que muitas vezes aportam suas embarcações fora da bolsa
da Associação e levam passageiros de Benjamin Constant para Islândia. Reclamam também do comportamento dos clientes peruanos
que quando estão na balsa da Associação de Benjamin aguardando
completar lotação, mas se veem um motorista peruano chegando
para deixar passageiros em Benjamin Constant, os clientes peruanos
entram na embarcação peruana e seguem viagem para Islândia. Em
suas falas afirmam que o passageiro peruano dar preferência quando tem esse tipo de oportunidade de fazer viagem com motoristas
peruanos.
Aqui na nossa Associação o mínimo de passageiro para saída é dois,
em Islândia eles fazem a viagem com 01 (um) mesmo. Aqui todos
para trabalharem na associação precisam ser registrados no cartório, em Islândia qualquer um dirige a embarcação até de menor. Eles
são desorganizados e gananciosos. Não cumprem o acordo. (Rio Javarí, entrevista, 2019)
Se por um lado existe uma relação de interdependência
entre os trabalhadores motoristas fluviais brasileiros e peruanos na
prestação do serviço, por outro lado, esta mesma relação faz emergir
conflitos de ordem étnica e econômica, ambos entrelaçado nas relações de poder. Isso porque o poder “constitui um elemento integral
de todas as relações” (ELIAS, 1980, p.80).
Vejamos, a partir da existência de duas cidades fronteiriças
próxima uma da outra que possuem atrativos para ambas as partes,
resulta numa necessidade de deslocamento de pessoas para ativida- 96 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
des específicas, que se transforma numa oportunidade de negócio na
prestação de serviço de transporte de passageiros. Ambos os grupos
- motoristas fluviais brasileiros e motoristas fluviais peruanos – tem
interesse em comum que o fluxo de pessoas entre as cidades sejam
frequentes e intensas e ambos possuem algo que interessa um ao
outro: os passageiros, uma vez que passageiros vindos de Benjamin
Constant só podem voltar com motoristas da associação peruana e
passageiros vindos de Islândia só podem retornar com motoristas
brasileiros, logo existe uma interdependência e reciprocidade entre
ambos os grupos.
Quando algum grupo descumpre as regras gera conflito
entre os grupos, como por exemplo, trazer passageiros que estejam
em território que não seja da sua associação e cobrar valor menor do
que é definido pela associação do país que o passageiro esteja.
As normas de um determinado grupo identificam-se com
a estrutura. Assim, “seria impossível explicar conflitos sem normas,
se estes não tivessem qualquer estrutura e, nesse sentido, qualquer
ordem” (ELIAS, 1980, p.82). Os conflitos também estão ligados com
a forma de enxergar o outro. Os motoristas fluviais peruanos são
visto pelos motoristas fluviais brasileiros como “desorganizados e gananciosos” essa visão em parte se dá devido à forma como avaliam o
trabalho dos peruanos de não respeitarem muitas vezes os acordos e
de cobrarem a corrida mais barata que o brasileiro o que faz com que
muitos clientes queiram fazer viagem com peruanos mesmo estando
em território brasileiro (Benjamin - Islândia).
Para entender essas relações é preciso traçar um diálogo
com a etnicidade, com atenção para a formação dos grupos étnicos
existentes nessas relações fronteiriças subsidiado muitas vezes por
atividades de fins comerciais e econômicas.
Poutignat e Streiff-fenart, (1998, p.141) em consonância
com o entendimento de Barth entendem que a etnicidade é uma forma de organização social, baseada na atribuição categorial, que classifica as pessoas em função de sua origem suposta que se acha validada na interação social de signos culturais socialmente diferenciados.
O estudo da etnicidade amplia as questões Nós/Eles, não se
trata apenas de considerar as questões endógenas de um determina- 97 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
do grupo, mas sua interação com os outros grupos, pois o contexto
externo influencia na identificação de um grupo étnico.
E quando se considera os grupos em foco de nosso estudo
é percebível as constantes interações e influências mútuas enlaçadas
numa mistura de percepções, julgamentos, aceitação, resistência, solidariedade, redes sociais, culturais e econômicas que ultrapassam os
limites étnicos.
Considerações finais
A fronteira é um espaço de muitas interações sociais, econômicas, políticas, formais e informais que se interligam numa teia
de relações de interdependência formando uma figuração própria
do lugar. São hábitos, rotinas e necessidades singulares do lugar que
se transformavam em muitos casos em oportunidades de negócios.
Este é o caso da Associação de Transportes Fluviais de Motores Peque-peques de Benjamin Constant/AM que surgiu a partir da necessidade que brasileiros e peruanos tinham de se deslocar entre as
cidades fronteiriças Benjamin Constant/Brasil e Islândia/Peru.
A forma de organização do trabalho por meio do associativismo melhorou as atividades e a prestação do serviço de transporte
dos trabalhadores brasileiros. Isso porque a criação da Associação
possibilitou a migração desta atividade de trabalho do mercado informal para o formal, uma vez que inicialmente o serviço de transporte fluvial era prestado na informalidade, por meio da organização
em forma de associativismo estes trabalhadores ingressam no mercado de trabalho formal, garantem direito e representatividade.
Na fronteira é inevitável as relações entre grupos étnicos
de nacionalidades diferentes que se manifestam nos campos sociais,
culturais, políticos e econômicos. Em especial fazendo referência
ao serviço de transporte fluvial que envolve brasileiros e peruanos
existem uma forte relações de poder, interdependência e conflitos de
natureza étnica e econômica.
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Ala Hospitalar Diferenciada: Perspectivas de
Atendimento Humanizado aos Indígenas para o
Tratamento da COVID-19 no Hospital Nilton Lins
em Manaus/AM1
Aline dos Santos Pedraça
Claudenor de Souza Piedade
Israelson Taveira Batista
Shigeaki Ueki Alves da Paixão
Sidney Raimundo Silva Chalub
Introdução
De onde vem a diversidade cultural da população do Brasil? Quem foram os ancestrais que deixaram o legado para que o
País se tornasse um ambiente diversificado com suas peculiaridades
e identidades formuladas pela difusão da cultura? O compositor
Emerson Maia (Garantido, 1995) na toada “ÍNDIO” descreve:
Eu sou um índio/ Sou um índio guerreiro/ Sou também feiticeiro/
Mas eu não quero guerra/ Quero a paz na terra/A selva pra caçar/
E o rio pra pescar/ Eu sou um índio/Pense nisso seu branco/ Já tiraste o encanto/ O esplendor da floresta/ Quase nada me resta/ Eu
só quero viver/ Ver meu filho crescer/ Me deixe em paz seu moço/
Ou eu fico louco/ Respeite os limites pra manter minha nação/ Não
preciso do seu saber/ Por que isso me faz sofrer/ Eu já tenho a beleza/ Da mãe natureza pra sobreviver. (Toada Boi Bumbá Garantido
– Festival Folclórico de Parintins - 1995).
A poesia retrata o índio bradando por seu direito, não querendo modificar sua vida em função de um progresso que dizima
suas raízes. As populações indígenas no Brasil, historicamente, foram massacradas e agredidas por sua forma de vida, seus costumes
e crenças. A inserção de uma cultura forjada pela colonização portuguesa fez romper certos valores que caracterizam os povos por sua
essência, esse extravio de valores torna a sociedade muito desigual e
1 O presente estudo teve a sua primeira versão apresentada à Revista Científica Somalnlu.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
fragilizada pelas diferenças de tratamento, desrespeito aos direitos
de ir e vir, principalmente das classes que menos se impõe, como é o
caso dos indígenas.
Diegues (2019) ao se reportar sobre as desigualdades sociais, destaca que a diversidade e a identidade dos povos indígenas
ainda que numa escala compassada, vem conquistando espaços pontuais de reflexão, retidos, ocasionalmente, por uma mantilha invisível, dando sobrevida aos preconceitos, que vão se efetivando na
extensão dos discursos produzidos e pelas atitudes “normatizadas”
da qual Foucault (1997) discorre que essas práticas conservadoras
se revelam nas circunstâncias e expressões que intensificam as desigualdades, delegam privilégios e sustentam a marginalização.
Este estudo destaca a importância da implementação da
ala diferenciada do Hospital Nilton Lins destinada para tratamento
dos indígenas que contraíram o Corona Vírus, cujo objetivo dessa
seção é aprimorar o atendimento às populações indígenas, melhorando assim, a assistência à parcela da sociedade que causa preocupação pelas peculiaridades de sua existência, permitindo aos indígenas, pacientes da COVID-19, o acesso a um espaço que possibilita,
entre outras condições específicas, posicionar uma rede de dormir,
espaço para exercícios espirituais entre outros. A disponibilidade de
um setor estratégico para atendimento dos indígenas tem relevância,
pois segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
o Amazonas é o estado brasileiro que possui a maior quantidade de
indígenas, algo em torno de 183.514 indivíduos, desse quantitativo
70% vivem em aldeias, logo, existe um público bastante significativo
que justifica a viabilidade da criação da ala diferenciada.
Assim, o estudo tece considerações sobre a necessidade de
humanização do tratamento aos povos indígenas, destacando que
não se trata de uma forma de subsidiar um privilégio, mas uma necessidade em favorecer um público diferente, demandado as condições específicas diferenciadas que os define, demonstrada por quem
conhece a realidade das etnias e suas particularidades. ELIAS (2000),
aponta para a necessidade evitarmos anomias frente às incompreensões identitárias das nossas alteridades como imprescindíveis às melhores adequações de integração nos relacionamentos sociais, que;
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Seria possível apontar muitos casos em que a “anomia” é tratada
como um problema, enquanto seu oposto, a situação das pessoas
“bem integradas”, ou seja
lá qual for o nome que se dê a isso, é apresentada de modo a parecer
relativamente “não problemática”, “normal” e, às vezes, por implicação, como um fenômeno que não precisa ser estudado. (ELIAS,
2000, p.190).
Nesse sentido, assume-se um parâmetro de relevância a
compreensão do contexto em análise, a fim de conceber as interações provenientes dos tratamentos estabelecidos com as condições
de respeito ao outro, e pela alteridade reconhecimento aspectos que
permitam a melhor identificação do modelo de atendimento médico
a ser promovido aos povos indígenas.
As abordagens se processam pela discussão sobre a construção histórica do tratamento aos indígenas, conversando com autores que tratam da identidade, da valorização dos costumes, crenças
e misticismo, muito peculiar para os indígenas, traçando um estudo de caráter documental e bibliográfico, conciliando entrevistas,
relatos e experiências reais vivenciadas por profissionais da saúde e
áreas afins para subsidiar informações que sustentam que a criação
do espaço tem relevância social e cultural, visto que em todo o Brasil, nesse período de cuidados com as populações mais vulneráveis a
contrair a COVID-19 precisam ser vistas nas suas particularidades.
É esperado que a realização deste estudo concilie informações que possam esclarecer alguns pontos que são pertinentes
a melhoria de tratamento às populações indígenas, e que subsidie
novas oportunidades de discussão sobre o papel do índio na sociedade, suas características cultural, social e as implicações que a imposição da cultura ocasiona nas comunidades, nas etnias que vão se
distanciando dos costumes e tradições, adentrando a mazelas como
drogas, álcool, prostituição entre outros. A visibilidade de condições
específicas para com os indígenas é uma luta antiga e quando oportunizada, deve ser tratada com respeito, responsabilidade e acima de
tudo, duradoura, para não se tornar somente uma menção. E como
ressalta Elias (2000), a necessidade de evitar estigmatizar as relações
sociais, seja por valores ancestrais, ou mesmo de hábitos e costumes
distintos, que;
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
O mesmo acontece com o problema expresso no fato de que praticamente todas as sociedades estigmatizam outros grupos como sendo
grupos de status inferior e de menor valor. Uma grande quantidade
de estereótipos serve para esse propósito. Tradicionalmente, o conceito de “preconceito” é usado como símbolo unificador para o desprezo de grupos em palavras e atos. Mas a natureza do preconceito,
o motivo pelo qual um grupo estabelecido encara um grupo outsider como estando em uma posição mais baixa e tendo menos valor,
permanece normalmente sem esclarecimento. Também há casos
em que não se trata apenas de dois, mas de três ou mais estágios
de estigmatização dos grupos: o grupo A possui, aos olhos de seus
membros, um status e um valor mais elevados do que os do grupo B,
que por sua vez apresenta, aos olhos de seus próprios membros, um
tipo de pessoas dignas de maior valor do que as do grupo C. (ELIAS,
2000, p.210 e 211).
Tais rupturas devem ser aniquiladas, pois a comunidade
a ser atendida é a humana, visto suas especificidades e peculiaridades, sem para tanto, promover nenhum tipo de estigmatização, mas
a compreensão dos aspectos concernente a sua genuína ancestralidade, assim como tais medidas permitem maior eficácia ao tratamento,
e melhorias nas condições de saúde dos pacientes atingidos por essa
doença que ceifa vidas e distanciam socialmente as pessoas, forma
a propósito consideradas as mais eficazes diante da desconhecida
doença, não só modificam as relações comunitárias, como também
promovem novas estruturas de relacionamento, e que nesse contexto
precisam ser fortemente inseridas para os mecanismos de recuperação e tratamento assistido nas alas hospitalares.
Metodologia
Para o estudo da viabilidade da utilidade da implantação
da ala especial para indígenas no Hospital Nilton Lins, foi feita pesquisa documental que segundo Souza (2019) é um tipo de pesquisa que enfatiza publicações em fontes diversificadas e dispersas que
combinada com a pesquisa bibliográfica consegue transmitir informações concisas e consistentes.
As fontes de publicações podem vir de tabelas estatísticas,
jornais, revistas, relatórios, filmes, documentos oficiais entre outros,
consideradas fontes primárias e confrontada com a pesquisa biblio- 104 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
gráfica, que utiliza fontes como livros, periódicos e outras fontes elaboradas e dispostos em plataformas com critérios específicos, que
permitem levantar as discussões importantes acerca do tema voltado ao atendimento dos indígenas no sistema de saúde do Amazonas
com determinada propriedade.
Nesse trabalho foi feita uma pré-análise do tema, com
levantamento dos pontos importantes que respondem às questões
pertinentes; foi organizado o material que subsidiou a interpretação
dos dados, com a definição das categorias que definiram os objetivos do estudo, com a seleção da bibliografia para análise, destacando
as informações com relevância para que seja feito o tratamento dos
dados, que colaboraram com a condução das hipóteses casuísticas
que permitiu analisar o caso da ala especial para atendimento dos
indígenas do Amazonas.
Resultados e Discussão
O surgimento da crise com a COVID-19 trouxe a sociedade sérias restrições no que tange aos cuidados com a vida, a sociedade passou a conviver com uma realidade, nunca experimentada, ocasionando o medo pela forma de contágio, o alto grau de letalidade e
a falta de informação sobre as formas de enfrentamento da doença.
Castro (2020) destaca que foi em trinta de janeiro de 2020
que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a Epidemia
pelo Novo Corona vírus (SARS-CoV2) como Emergência de Saúde
Pública de Importância Internacional. E o Brasil aos três de fevereiro de 2020 declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional por meio da Portaria do Ministério da Saúde (MS), No.
188 que estabeleceu, também, o Centro de Controle de Operações
de Emergências em Saúde Pública (COE-nCoV), como estrutura
nacional da gestão coordenada da resposta à emergência no âmbito
nacional.
As decisões foram tomadas em meio a uma infinidade de
incertezas, uma vez que a doença se mostrou severa e muito perigosa
devido sua forma de contágio, por outro lado, a sociedade ficou impactada pelas formas de ações impostas e o conflito de tomadas de
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decisão por parte das autoridades como créditos para as conduções
dos trabalhos.
Foi seguindo o Regulamento Sanitário Internacional, que
o Ministério da Saúde (MS) do Brasil publicou um Plano de Contingência Nacional a COVID-19, essa doença que modificou a forma de
comportamento social, cujo plano foi lançado no mês de fevereiro
de 2020 com a definição do nível de resposta e a estrutura de direção
apropriada, juntamente com essas determinações foi apresentado
um protocolo para o manejo de casos suspeitos, denominado “protocolo de tratamento do novo coronavírus 2019-ncov”.
De acordo com Mehta (2020), em 12 de março de 2020, a
COVID-19 foi confirmada em 125.048 pessoas em todo o mundo,
com uma mortalidade de aproximadamente 3,7%, em comparação
com uma taxa de mortalidade inferior a 1% por influenza. Esses dados sinalizaram para uma tomada de decisão acerca de tratamentos
mais urgentes e eficazes.
A busca na atualidade está no desenvolvimento de novas
terapias, inclusive os antivirais e vacinas, visto que, há evidências que
sugerem que um subgrupo de pacientes com COVID-19 grave pode
ter uma síndrome de tempestade de citocinas, dessa maneira os profissionais da saúde recomendam a identificação e o tratamento da
hiper inflamação usando terapias aprovadas existentes, com perfis
de segurança comprovados, para atender à necessidade imediata de
reduzir o aumento da mortalidade.
A realidade frente ao Corona Vírus é muito incerta pois as
formas de tratamento e de prevenção são muito volúveis e a doença
tem apresentado comportamentos que extrapolam as pesquisas e as
concepções das pesquisas e tratamentos. Cabe ressaltar, que a COVID-19, segundo Bay (2020) muitos dos pacientes em faixa etária
diversa e características fisiológicas diferentes, por comportamento
assintomático do vírus expande o risco de contaminação, uma vez
que pessoas, potencialmente contaminadas, e sem sintomas passam
a transitar entre outas pessoas, como no caso de Wuhan da China.
A sociedade por suas relações de muita proximidade, facilita o risco de contágio acentuado, e o isolamento social, segundo
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Bezerra (2020) se mostra a maneira mais adequada para controlar o
número alarmante de contágio na população, mesmo que tal medida afete fortemente a economia, predisposição a conflitos familiares,
desenvolvimento de patologias como depressão, síndrome do pânico
e outras, mas ainda assim, é uma medida preventiva eficaz, se obedecida com os critérios de higiene e limpeza. Mas, se o vírus chega
e atinge povos que conservam costumes milenares, e cuja tradição
sustenta a interação entre pessoas, que muitas das vezes não têm o
discernimento da gravidade da doença e não tem hábitos de obedecer a recomendações.
Leão (2018) indica que Norbert Elias ao elaborar a teoria
sobre os processos de civilização estudou os costumes das sociedades em oito séculos de história tendendo a compreender a transformação de comportamentos e das necessidades do controle e da
proibição para o equilíbrio das forças que impulsionam os sistemas
de relações sociais.
A receptividade de fatores que exigem mudanças em civilizações que preservam costumes e tradições são difíceis de assimilação e se torna um alvo preferencial para o acometimento da doença
por um víeis mais difícil de tratar.
A comprovação entre os estreitos vínculos entre o processo
civilizador individual e processo civilizador social observando um
alto nível de diferenciação e especialização das funções. O processo de civilização, pela abordagem de Elias (1994) é composto pelos
fluidos e refluxos da história que orienta, lentamente, a formação das
estruturas individuais assim como as ações sociais, rumando para
maior diferenciação dos vínculos entres os indivíduos da sociedade.
Historicamente, os índios nativos das regiões no mundo
são atacados e forçados a se desprender de suas tradições, o que os
obriga a se distanciar das cidades e migrar para regiões distantes,
com isso por falta de opção são forçados a se adaptar a novas fontes
de alimentos, em consequência da dificuldade de obter alimentos. A
condição de migração natural dos Povos Indígenas, como nômades,
se faz pela busca de alimentos.
À medida que situações, excepcionais, interferem na rotina
da sociedade, ela tende a incorporar novas adaptações que faz uma
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fusão entre o tradicional e as novas exigências que são impostas por
uma relação de crise.
Elias (1994) constituiu seus estudos baseando-se na “civilidade pueril”, que abordava concepções dos usos e apropriações do
conceito de civilidade, adaptando as deformações para um modelo
cuja razão de ser é a apreensão em um tempo longo da história, nessa
vertente que elucida as tensões entre as invariantes sociológicas e a
historicidade cultural sintetizada, onde as configurações históricas,
“ universais de processos”, não cessam de mudar, mesmo que a tendência sejam uma interrelação moldal de pessoa a pessoa.
Parafraseando com Elias se percebe que as mudanças são
recorrentes das movimentações das pessoas, ou seja, é um processo contínuo e mutável, que vai se engembrando e construindo uma
personificação social, onde há um juízo de poder muito grande, que
tende a suprimir os mais fracos ou que não se dispõem a lutar.
Tavares (2018) descreve que o poder, por Foucault (2006)
como a relação e práticas sociais historicamente criadas, e sua atenção voltada para a forma analítica do poder, que significa analisar
as formas que esse poder pode tomar, ao ser exercido, as esferas em
que ele penetra; os discursos que ele incentiva e os que ele deseja que
não sejam incentivados; as estratégias de que ele se utiliza para se
fazer sentir e para criar verdades sobre os indivíduos que ele penetra; enfim, o “como do poder”, as redes de relações que ele engendra.
Poder sem um sujeito específico que se insere nas microrrelações
cotidianas.
A sociedade que tende a manter os costumes, as tradições
são passivas desse poder exercido sobre si, muitas civilizações sucumbiram por não se integrar às formas de poder que foram impostas a sua forma de vida. Por isso se faz importante o conhecimento
das causas, a relação de vivencia e a maneira como os povos sobrevivem para interferir mais de forma passiva que não agrida ou desqualifique a essência das etnias.
Com essa perspectiva que o Hospital de Retaguarda Nilton Lins criou uma ala exclusiva para atendimento dos indígenas.
A figura 1 traz o ambiente decorado com motivos indígenas para a
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
receptividade, dando a eles a oportunidade de se sentir à vontade,
valorizados e com o compromisso de um serviço de qualidade.
Figura 1- Detalhes da ala preparada para receptividade
dos indígenas.
Fonte: Própria (2020).
A preocupação da equipe de planejamento das ações é fornecer um atendimento com certo grau de humanidade de modo que
os pacientes se permitam interagir por espontaneidade que a proximidade com a equipe de saúde seja aconchegante, assim como eles
recepcionam os profissionais em suas habitações.
A estruturação de uma atmosfera apropriada e vinculada
as suas formas de vivencias sociais nas comunidades tornam aprazíveis ao paciente, uma vez que aspectos identitários de seus hábitos e
costumes são inseridos como proposta de interação, em cujos espaços promovem a ambientação mais adequados ao seu modo de vida.
A consolidação de uma estrutura pensada para articular
serviços médicos e linguagens comunicacionais não verbais, proporcionam ampla interação, reduzindo-se a preocupação com as
tradições fortemente atingidas pelas normas que operacionalizam
os novos protocolos de biossegurança, todas adotadas para a maior
redução da propagação da enfermidade, mas como se pontual acentuam os temores, dificultam a recuperação pelos novos protocolos
de extremo rigor, pondo em risco até mesmo a recuperação dos pacientes quando não observados aspectos do cotidiano na forma de
atendimento da população indígena.
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A figura 2 destaca o ambiente hospitalar com adaptações
para os indígenas, o que para alguns pode soar como facilitação demais, mas para a equipe de atuação e pesquisadores que acompanham o desenrolar das atividades, é uma forma de integração, uma
forma de dizer ao indígena que ele tem seu lugar social e que deve ser
olhado por sua essência.
Figura 2- Ambiente do Hospital Nilton Lins destinado aos
pacientes indígenas.
Fonte: Próprio (2020).
A receptividade e a forma de tender a simular uma situação que adapta a vida do índio em sua aldeia, onde ele pode estender uma rede se sentindo confortável para o tratamento. A figura 2a
mostra uma encenação dos indígenas como numa atividade tribal.
Na figura 2b, assim como a 2c e 2d mostram a mesclagem do ambiente do hospital tradicional com as redes que na figura 2e destaca
um paciente em seu momento de repouso.
Afinal, qual é a finalidade da criação dessa ala exclusiva
para os indígenas? O Doutor Israelson Taveira Batista que é o médico
responsável pelo setor responde a questionamentos sobre essa medida, o mesmo foi conduzido ao comando desse setor por ter vasta
experiência em saúde indígena. A figura 3 mostra o Médico responsável pela ala indígena tomando atitudes junto a equipe de trabalho
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
para o atendimento humanizado para os indígenas. As orientações
é para que a equipe de atendimento possa socializar as condições
amistosas com os pacientes, que deve interferir, mas sem causar atrito, fazer com que os paciente se sintam acolhidos, mostrando que a
recuperação deles é a prioridade e que é um novo momento, onde
o indígena vai ver que alguém, numa esfera maior vê sua contribuição na sociedade. Os indígenas são detentores de saberes que são
repassados para as gerações e muitos dos hábitos e forma de vida do
amazonense é reflexo da cultura indígena.
Figura 3- A equipe de trabalho em planejamento e ação dentro
da ala.
Fonte: Próprio (2020)
É observado no detalhe que a equipe está toda parametrizada e focada nas atividades, sob o comando da equipe médica que
é gerenciada pelo Doutor Israelson, detalhe na figura 3ª, fazendo a
prescrição de informação para a auxiliar, na figura 3b, 3c e 3d os
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
profissionais destacam que a equipe é concisa e apta para realizar as
atividades com os indígenas.
Em questionamentos sobre a razão da existência da ala
especial para indígenas, o Médico Israelson detalha um pouco de
sua experiência em atendimentos às comunidades indígenas, assim
ele descreveu a importância do atendimento diferenciado aos povos
originários:
Eu vejo esse projeto, essa atitude com bons olhos, pois anteriormente íamos até a população, levávamos o atendimento preventivo a
eles até mesmo de tratamento e agora estão invertendo o papel e,
também mantendo a dignidade sem incidir diretamente nas suas
culturas e seus costumes, abrindo uma ala, uma enfermaria, um
hospital especializado para o tratamento dos indígenas, então isso
eu vejo como um diferencial enorme com respeito, com hombridade a dignidade a essa população que devemos muito a eles. (Batista,
entrevista, maio, 2020).
A seção destinada aos indígenas resguarda os valores que
diferenciam suas práticas e forma de vida, destacando o valor das
tradições, bem como mencionou Batista, o projeto faz o viés contrário, permite que o indígena chegue ao sistema de saúde, invertendo
a dinâmica experimentada que o profissional da saúde visita a aldeia
para levar saúde e bem estar às comunidades.
Mendes (2018) Em 1999 descreve que foi através da Lei 9
836, que foi instituído o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena SASI, passando a gestão da saúde indígena para a Fundação Nacional
de Saúde (FUNASA). O SASI tinha como missão instituir, no âmbito
territorial indígena, a APS e a continuidade da assistência nos diferentes níveis de atenção, atendendo às especificidades de cada povo
(o que incluía desde questões de cunho sociocultural até aspectos
logísticos e epidemiológicos), respeitando seus saberes tradicionais e
garantindo a participação e o controle social no processo de gestão.
Com relação a forma de vida, as doenças ocasionais, adaptabilidade, realidades e outros fatores que sobressaltam as características dos povos indígenas, Batista enfatiza alguns pontos de extrema
relevância:
No percorrer desses anos, de trabalho com as etnias e atendimento
às populações ribeirinhas e o povo indígena, a gente foi tendo conta-
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
to com várias etnias e em Manaus existe um povo, uma comunidade
onde nela vivem umas trinta e cinco etnias diferentes, no mesmo
povoado, onde todos trabalham vivem com uma perfeita harmonia,
em comunidade respeitando a cultura um do outro e, essa comunidade fica aqui em Manaus na região do Tarumã. O maior cuidado
que se deve ter nesse trabalho é justamente o respeito principalmente, o respeito entre ambos, o respeito entre os profissionais, entre o
relacionamento profissional indígena, profissional paciente, e olhar
diferenciado, saber que é uma população que é diferenciada, que requer o máximo, o maior cuidado devido a suas peculiaridades, seus
costumes suas crenças, principalmente, então interferir sem criar
atrito, ajudar, tratar curar, sempre que possível sem interferir nas
culturas, manter a sua individualidade o máximo possível. (Batista,
entrevista, maio, 2020).
.
Sabe-se que os povos que tem uma relação mais próxima
com a natureza tem sua própria forma de cuidar de sua saúde, e a
preocupação do médico quando diz que se deve interferir sem criar
atritos, se refere a uma preocupação real, que historicamente vem
sendo negligenciado aos indígenas, o respeito a sua cultura e crenças.
Garnelo (2018) e Brasil (2018) enfatizam que é grande o
desafio que persiste na realização da diretriz que propõe a articulação entre as chamadas “medicinas tradicionais” e o sistema médico
oficial, pois as iniciativas oficiais de incorporação das práticas e saberes nativos resultaram na constituição de dispositivos de controle
pelo Estado, com uma aparência essencialmente integracionista, e
as propostas oficiais de uma atenção diferenciada parecem ser vistas
como problemáticas pelos próprios gestores, e a própria racionalidade biomédica impede a flexibilização das ações em direção ao diálogo intercultural.
A construção de um seção onde o indígena possa deitar-se
em sua rede, onde possa fazer suas orações e rituais é uma forma
de respeito pela sua cultura, é uma valorização de suas capacidades,
essa integração de saberes, o respeito às tradições indígenas fazem
do projeto do Hospital Nilton Lins, uma ação única no Brasil, que
tende a valorizar os indígenas pelas suas peculiaridades e particularidades etnicas.
Batista acrescenta as características da condição de saúde
indígena quando fala sobre aspectos pontuais e importante para ga- 113 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
rantir credibilidade na proposta do tratamento diferenciado e humanizado para os indígenas:
A população indígena e suas etnias, também são uma população
que além de fragilizada, é uma população que tem uns diferenciais
de saúde, uma população que muitos deles tem umas alterações genéticas diferenciadas, uma população mais imunossuprimida e que
requer mais cuidados, o manejo medicamentoso e de evolução, o
tratamento da doença dessa população tem que ser diferenciada devido seus acometimentos, pelos seus comportamentos, seus hábitos
isso tudo altera seu organismo, é uma população que requer mais
cuidado e atenção, um olhar diferenciado, um manejo diferenciado, principalmente no meio dessa pandemia por COVID-19, e que
essa população algumas delas não se adaptam muito bem a certos
medicamentos, certos medicamentos não dão certo, então tem que
rever dose, rever medicamento, isso requer, realmente, um olhar e
um cuidado diferenciado para essa população, porque muitos deles
são acometidos de anemia, descraseias, alterações genéticas, então
até mesmo às vezes, são acometidos de desnutrição, tanto proteica
quanto calórica. Então, são pacientes que precisam realmente de um
cuidado e de um olhar especial, um cuidado maior ainda na hora
de inferir, de interferir, de introduzir certas condutas sem causar
nenhum tipo de atrito, cultural entre os cuidadores e os cuidados e
os que serão cuidados. (Batista, entrevista, maio, 2020).
Sousa (2020) destaca que uma Reforma Sanitária não é sustentável por si só, como reforma da sociedade, porque muitas questões demandam atenção, como colonização, genocídio e racismo. A
colonização, forma de poder que delimitou a organização da modernidade, estabeleceu dentro de regimes de verdade e de autorizações
que legitimam alguns indivíduos, instituições, saberes, falas e espécies, em detrimento de outras. A falta de clareza e a insuficiência das
concepções de saúde, que são possíveis de serem construídas com os
povos indígenas, promovem fragilidades na configuração institucional e no processo de gestão do Sistema Único de Saúde – SUS Brasil.
A fragilidade a respeito das políticas públicas de atenção
aos indígenas não é mais bem difundida por que não é de interesse
da maioria e se arrasta em projetos que ficam nas mesas dos gabinetes, quando Dr. Israelson cita suas experiências ele destaca sua vontade, propriamente dita, que transpõe as competências médicas, o
juízo de um cidadão engajado e preocupado com as etnias.
A saúde coletiva, atendimento à saúde comunitária ela nos fez aproximar-se dessa área, por ser uma área muito carente de profissional,
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
um povo muito a beira da sociedade, em que não havia um olhar
direcionado a essa população. Um povo muito sem dignidade e esse
projeto vem, justamente para isso, para resgatar a dignidade desse
povo, que era tão esquecido e vivia tão à margem da sociedade. (Batista, entrevista, maio, 2020).
Como se pode perceber a gravidade da ação do vírus causador da COVID-19, requer todo cuidado em sempre manter o
diálogo e a tomada de decisão compartilhada, principalmente em
relação a conscientização de uma das principais medidas que é o distanciamento social. A medicina tem trabalhado para romper os limites, assim como muitos outros segmentos da área da pesquisa que
buscam soluções para a crise, mas a inclusão de políticas públicas
que dê tratamento especifico aos povos indígenas é sim uma forma
de respeito. A figura 4 destaca o resultado de um tratamento diferenciado, com uma indígena recebendo alta médica após tratamento da
COVID-19.
Figura 4- Paciente curada após tratamento em ala indígena no
Hospital Nilton Lins.
Fonte: Governo do Amazonas/ 2020.
A estrutura do Hospital Nilton Lins oferece um tratamento diferenciado para os pacientes indígenas que já foram muito menosprezados pela sociedade, a maneira de dar mais humanidade aos
indígenas, poderia vir a muito tempo. Para Elias (2000) esse temor
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nas relações desiguais advém da espoliação com as quais os povos
originários foram submetidos, causando-lhe receios em estabelecer maiores interações, destinando-se aos povos indígenas a precariedade em serviços de saúde, por vezes sucumbem pelos fatos já
apresentados, que sua condição sofre frente aos tipos de dominações
históricas, que;
Quando nos perguntamos por que conflitos internos atravessam
toda a estrutura da sociedade humana, a resposta está nesse temor
que os diversos grupos despertam uns nos outros permanentemente. Eles temem ser escravizados, espoliados, despojados ou destruídos pelos outros. Não deixa de ser proveitoso, do ponto de vista
prático, recordar que só se pode esperar uma maior igualdade nos
ou entre os grupos humanos, caso se consiga reduzir o nível do temor reciproco, tanto no plano individual quanto no plano coletivo.
(ELIAS, 2000, p. 212 e 213).
Tais enraizamentos dos problemas que são específicos para
essa classe de pessoas, que na maioria das vezes vivem à margem das
políticas públicas, sofrendo com injustiças sociais são provenientes
das estratificações sociais desiguais, porém as mudanças devem incorporar implementações de medidas enérgicas em favor das transformações qualitativas ao atendimento da saúde coletiva indígena.
Sem essa preocupação, testemunharemos os povos originários sobrevivendo em condições precárias, propensas a desenvolvimento de
patologias que interagem com seus organismos fragilizados pela deficiência de nutrientes, oriundos do acesso a material industrializado
que implicam com a forma de alimentação que fora acostumado, em
decorrência da escassez de fontes alimentos nutritivos e a proximidade dos produtos modificados causam impactos significativos na
vida dessas comunidades e etnias.
Conslusão
Os indígenas são remanescentes de uma colonização que
rompeu com os povos originários que habitavam as terras brasileiras
por muito tempo. A sensibilidade dos povos da floresta, dos rios, nativos das regiões faz com que eles absorvam o melhor da natureza e
transformem em ensinamentos. Há um a dívida cultural muito grande para com os filhos natos do Brasil, assim como todos nós somos
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construtores dessa nação que tende a se reconfigurar para se tornar
mais sustentável. As lutas das etnias para reconhecimento e direitos a
Terra, a saúde digna, a respeito a suas crenças e tradições ainda estão
longe de serem efetivadas.
A sociedade usufrui das culturas herdadas, mas pouco valoriza o indígena, não é porque ele tem característica de vida própria
que tem que ficar à margem da sociedade. As atitudes que sinalizam
para o respeito a diversidade e agrega condições dignas de tratamento para os indígenas é um avanço a favor do reconhecimento de valor
do índio na sociedade.
A sociedade amazonense vivencia um momento de diferenciação, mesmo tardiamente, de uma atitude que vê os povos indígenas com suas especificidades, delegando a eles a possibilidade de
integração social, onde os governantes acionam os líderes indígenas
para emoldurar uma possibilidade de acesso, que vão motivando novas formas de inserção social das mais variadas etnias da Amazônia.
A atitude de subsidiar condições específicas de tratamento
a certas classes de indivíduos da sociedade pode criar uma tendência
de grupos que se julgam diferenciados para reclamar acionamento
de direitos, mas como sustenta os especialistas em saúde indígena,
esses povos tem características especificas, em se tratando de saúde,
por isso um tratamento diferenciado é necessário, mesclando a medicina tradicional com os avanços tecnológicos para trazer a intervenção sem causar largo impacto na vida dos indígenas.
É esperado com este estudo o reconhecimento de atitudes
de identificação das características dos povos, sem que eles se sintam
menosprezados pelas autoridades de saúde e outras formas de direitos constituídos. A tradição, as histórias decantam as angústias dos
indígenas nas festas folclóricas, o indígena não quer nada mais que
ter o seu direito de viver, de poder escolher manter suas tradições e
mitos. A Amazônia é vista por sua diversidade e riquezas sendo os
indígenas parte integrante da essência da floresta que o mesmo vive
em simbiose com ela e por exclusão tem no seu modo de vida isento de muitas patologias, que por ausência de contato não adquirem
imunidade e quando, em contato com as civilizações são vulneráveis
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
a vírus, bactérias e outras formas de infecção que causam danos
severos.
Referências
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Um relato etnográfico sobre a sopa da liberdade no
Município de Benjamin Constant–AM
Alessandro Bezerra da Silva
Ana Maria de Mello Campos
Daniel Henrique Auanário Nascimento
Marques Roberto Lobato
Renison do Nascimento Castro
Sebastião Melo Campos
Tales Vinícius Marinho de Araújo
Introdução
Este artigo apresenta pesquisa etnográfica sobre a produção e entrega de sopa pelo Grupo Liberdade, que vem desenvolvendo
diversas ações sociais no município de Benjamin Constant– Amazonas. Devido ao pouco tempo de pesquisa e análise centramo-nos na
ação de distribuição de sopa aos adictos1.
Para alcançar os propósitos da investigação, fizemos coletas de dados nos meses de agosto, setembro e meados de outubro do
ano de 2019. Durante a pesquisa, realizamos entrevistas abertas com
os membros do grupo e com os adictos em situação de rua.
A pesquisa possibilitou: 1) refletirmos sobre o uso de
drogas na cidade de Benjamin Constant, 2) compreendermos esta
problemática como problema social, 3) vivenciar os desafios da formação de um grupo de apoio e prevenção às drogas, 4) analisar a
articulação do grupo com o governo local 5) eliminar os estigmas e
pré-conceitos aos adictos.
Os encontros foram registrados no caderno de campo, no
qual estão registrados os nomes dos participantes, alguns com nomes fictícios, a fim de proteger suas identidades. Todos foram informados sobre os objetivos da pesquisa e possíveis usos de suas narrativas, em palestras, seminários e publicações de cunho científico.
1 Adicto é um homem ou mulher que tem a vida controlada pelas drogas. Escolhemos
este termo, pois os membros dos grupos se referiam aos usuários desta forma, nunca
utilizavam os termos “drogados” ou “viciados”.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Utilizamos as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, entrevista semiestruturada e profunda com os sujeitos políticos (Bourdieu, 2007) — neste ponto, os participantes do grupo e os
adictos em situação de rua. Conforme Bourdieu (2007) “a entrevista profunda, permite ouvir diversas vezes o mesmo sujeito, buscando
sempre acrescentar novos dados à pesquisa”. O maior desafio da prática de campo foi estranhar o que nos é familiar — nesta situação, o
que nos conduzia à familiaridade era o preconceito. A maioria dos
sondados em situação de carência que fizeram parte da pesquisa são
nossos conhecidos, vizinhos ou colegas de infância. O fato de nos
reaproximarmos deste bloco socialmente marginalizado nos fez refletir acerca da “venda que colocamos nos olhos, tentando negar a
existência destes”.
Segundo Roberto Cardoso de Oliveira (2006), “é necessário entender a etnografia com o olhar antropológico sobre o chamado saber científico e torná-la como fator cultural a partir de suas dimensões”. Assim, a pesquisa etnográfica constitui-se no exercício do
olhar (ver), escutar (ouvir) e descrever as observações, situando-nos
no interior do fenômeno observado. Dessa forma, foi possível obter
dados e observar o comportamento dos participantes do grupo e dos
adictos em situação de rua.
Acompanhamos os integrantes dos benfeitores por intermédio de reuniões, distribuição da sopa, diálogos no grupo de aplicativo de celular. Por morarmos na mesma cidade e conhecermos
tantos os adictos quanto os membros, foi necessário exercer o distanciamento, recomendado pelo antropólogo Gilberto Velho (1978), “o
próprio trabalho de investigação e reflexão sobre sociedade e a cultura
possibilita uma dimensão nova da investigação cientifica, de consequências radicais — o questionamento e exame sistemático de seu próprio ambiente”. Com isso, buscaremos entender o contexto que já é
familiar, mas transformando-o no exótico, buscando compreender e
elaborar um mecanismo de classificação de maneira que contenha os
elementos de rigor cientifico para a sociedade, abarcando a distância
social e o objeto que está sendo estudado.
Velho (1978) afirma não ser fácil praticar o estranhamento;
pois, este exercício envolve um esforço constante e sistemático para
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
descontruir os estereótipos que tenhamos em relação aos sujeitos
pesquisados.
A escolha pelo tema surgiu por meio da prática de campo da disciplina Antropologia Urbana. Precisávamos pensar e refletir sobre a cidade e o meio urbano. Quando pensávamos em uma
problemática social, lembrávamos do elevado número de adictos na
cidade. Nesta mesma época, ouvíamosmuitos relatos no meio acadêmico sobre Sopa da Liberdade do Grupo da Liberdade direcionadas
a eles.
Após diversas aulas teóricas, compreendemos que seria
possível descrever as ações da organização; e, ao mesmo tempo, ouvir as narrativas dos incluídos, durante o processo.
A pesquisa teve como objetivo geral conhecer o Grupo
Liberdade e descrever a distribuição de sopa pelo mesmo, afim de
conhecermos o seu funcionamento, observando como os adictos em
situação de rua recebiam essas ações.
Local da Pesquisa
Benjamin Constant está situado há 1.119 km em linha reta
da capital Manaus, na mesorregião do Alto Solimões, em uma região
de fronteira entre o Brasil, a Colômbia e o Peru, algo que se torna um
desafio maior para o grupo. Isto, já que, por ser uma região fronteiriça, acaba se tornando uma porta de entrada fácil para os tóxicos
circularem no local. E, assim, colaborando e facilitando para que os
jovens possam entrar no mundo dessas substâncias.
Ao falarmos de fronteira, estamos abrindo nossa visão
para um leque de características e aspectos nelas; uma vez que, segundo Albuquerque (2012), as fronteiras são, portanto, lugares privilegiados de observação de variados problemas sociais e das suas
implicações em diversas escalas, desde o cotidiano até às relações
internacionais entre Governos.
Atualmente a cidade de Benjamin Constant tem sofrido
com o alto índice de cidadãos consumindo drogas. Frequentemente,
encontramos quem — pelo uso frequente das substâncias — se encontram em situação de abandono e desprezo (seja pela família; ou,
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
seja pela sociedade). Assim, passa-se a viver diariamente nas ruas
(em muitos momentos, sem ter alimentação alguma). Com isso, sistemas de apoio são criados; a fim de que possam disponibilizar algum tipo de apoio para esses encarecidos. Este relatório, então, vem
descrever sobre o grupo Liberdade formado por enternecidos que se
disponibilizaram a entregar sopas para os adictos.
Em vista disso, esta prática nos possibilitou vivenciar a uma
problemática urbana tão estigmatizada pela população e órgãos governamentais. Vivenciar e acompanhar as ofertas nutritivas fez-nos
despojar dos preconceitos e distanciamento social que criávamos
com estes carentes. Tivemos aproximações e diálogos com alguns
deles — em alguns momentos longe do campo de averiguação, nós
(enquanto pesquisadores) começamos a receber olhares duvidosos
de alguns que nos viam na Orla, local de encontro da sopa, ou até
mesmo quando algum dos desfavorecidos nos parava para conversar
na rua.
O Grupo Liberdade
Figura 1. Slogan do Grupo Liberdade
Fonte: Grupo de WhatsApp do Grupo Liberdade
O Grupo Liberdade surgiu em meados de dezembro de
2018, iniciado por intermédio de um diálogo produtivo entre os
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
amigos Jander da Silva Maciel e Augusto César Nunes Alves. Vale
ressaltar que, há anos, Jander da Silva Maciel havia trilhado o caminho da dependência química; e após os tratamentos de reabilitação,
conseguiu manter-se firme na caminhada. Atrelado a isso, ele almejava mais pessoas caminhando ao seu lado. Com isto em mente, Jander encontrou grande apoio em Augusto, um homem militante pelas
causas dos menos favorecidos, solidário, com ideias visionárias.
Entusiasmado com o projeto solidário, Jander convidou
seu amigo Weike Andrade de Almeida; e, Augusto convidou sua esposa Taís Santos. Segundo Weike, após defesa do seu Trabalho de
Conclusão de Curso com a temática sobre o Uso de drogas lícitas e
ilícitas na Escola Estadual Imaculada Conceição, os amigos se embaçaram nas análises da referida abordagem dele; e, formularam o
macroprojeto do Grupo Liberdade. Este foi apresentado em forma
de palestra na mesma instituição (única escola de Ensino Médio da
cidade).
As ideias do plano foram se espalhando pela circunscrição:
vários começaram a participar como colaboradores (de alimentos,
mão-de-obra e de ideias.
De acordo com Jander, o Grupo Liberdade, sem recursos
financeiros, buscou apoio com o poder público local em dezembro
de 2018. Entretanto, encontraram barreiras partidárias: um dos lemas do grupo era a não aceitação de partidos políticos com intuito
de autopromoção.
A sopa em si surgiu pelo motivo de termos apresentado o projeto
para o poder público e então eles ficaram “enrolando”, e então, vendo essa enrolação toda, nós tomamos a iniciativa de fazermos algo,
enquanto, corríamos atrás de outros apoios, assim, surgiu a sopa.
(Entrevista realizada com Jander).
O Grupo Liberdade aguardou pelo apoio local até meados
de 2019. Sem apoio governamental, em junho de 2019, a equipe se
organizou e realizou a entrega da primeira sopa, com a ajuda de diversos que doaram alimentos. No decorrer dos dias, as informações
sobre a entrega da sopa se disseminaram nos arredores de forma positiva. Assim, diversas pessoas começaram a integrar o bloco pioneiro como colaboradores.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
De acordo com Jander, a família do Weike teve uma participação bastante ativa; pois os membros dela ajudavam de forma direta na elaboração. A maioria das sopas foram realizadas na cozinha
da Dona Lene (mãe do Weike). A preparação ficava sob a responsabilidade de Weike e sua esposa, que estava grávida neste período.
Outras vezes, a sopa foi realizada na casa de Augusto com apoio direto de Taís. Ressaltamos que esses locais, onde eram feitas as refeições,
ficavam distantes do lugar de entrega. Com isto, o traslado da panela
da sopa tornava-se um desafio. Para esta logística, a equipe contou
com o apoio da professora Ligiane e de seu esposo, e do Augusto.
Dona Cosma foi outra integrante ativa e de fundamental importância no processo, sempre acompanhando as ações e colaborando de
todas as formas.
Inicialmente, a iguaria da Liberdade tinha como objetivo
oferecer uma alimentação para os adictos que transitavam no centro
da cidade, ao tempo em que almejavam criar uma relação de aproximação com os mesmos.
As primeiras refeições começaram a serem distribuídas
nas segundas-feiras, a partir das 21h00 na praça do centro. Depois,
mudaram o local para a orla — local de maior concentração e trânsito dos adictos.
Os fundadores criaram um recurso em uma rede social,
com o intuito de publicar e organizar as ações, conseguir contribuições e expandir o projeto. Os mesmos passaram a divulgar pessoalmente os objetivos da equipe nos comércios. Assim, alguns comerciantes começaram a doar alimentos para a preparação do prato.
Tudo precisava ser organizado: o dia de ir ao comércio e às casas dos
colaboradores, o de recolher os alimentos, o de fazer a sopa, e quem
desempenharia cada função.
Alguns membros tinham alguma afinidade com os adictos. Isso facilitou um pouco a entrega da sopa. Outros passavam e
olhavam com desconfiança; mas aos poucos foram se “achegando”.
Alguns sempre perguntavam se a ação envolvia igrejas. Com as outras entregas, eles foram se abrindo lentamente com os integrantes;
e, então ficou perceptível que, via a oferta da alimentação, eles estrei- 126 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
tavam laços de confiança e apoio. O conjunto começou a convidar
para a entrega alguns familiares dos beneficiados; com o intuito de
se reaproximarem aos poucos, visionando os caminhos para a reabilitação. Enfatizamos, igualmente, a participação de alguns jovens
estudantes que estavam iniciando o uso de drogas — os familiares
tomavam conhecimento do fato, pediam apoio ao Grupo Liberdade;
os integrantes se mobilizavam para diálogos, no intuito de demonstrar a realidade da dependência química; estes jovens, acompanhados de seus familiares, participavam entregando a sopa, ao tempo
que dialogavam com os adictos.
Metas do Grupo
O bloco tem o macroprojeto, objetivando trabalhar em três
fases. A primeira, na prevenção, tratamento e acompanhamento. A
prevenção iria envolver a Secretaria de Educação, o Social. Durante
essa, iriam ser identificados os casos que precisam de acompanhamento, aqueles casos de início, que precisariam de acompanhamentos psicológicos, acompanhamento na assistência social; e, seriam
encaminhados à assistência.
Na segunda fase, os casos mais graves seriam encaminhados ao centro terapêutico em Benjamin Constant ou nas proximidades. Para esta etapa, um colaborador se propôs a ceder um terreno
na BR-307, que liga Benjamin Constant à área de Atalaia do Norte.
Na terceira, haveria o acompanhamento pós-tratamento,
apoiando e reinserindo os cidadãos no convívio social. Esse acompanhamento seria paralelo ao com as famílias.
Para ilustrar, durante esse período de oferta de nutrição,
aconteceram muitos convites para irem às escolas. O grupo foi. Inclusive, em uma escola na comunidade de Novo Oriente, onde ocorreu a Semana do Combate às Drogas. Eles foram convidados a palestrar e apresentar o projeto nesse tempo. Weike ressalta a importância
das palestras nas escolas como meio de aproximação e abertura; no
intuito de identificar e ajudar os discentes usuários de drogas ilícitas:
Com a apresentação do projeto em forma de palestra na Escola Estadual Imaculada Conceição, alguns estudantes que ouviram falar
sobre o projeto e tinham problemas com o uso de drogas, buscaram
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
ajuda comigo como professor que mais tinha confiança e aproximação pela idade, logo eu chamei os pais de todos e conversei com
eles sobre os problemas que seus filhos estavam enfrentando e não
tinham coragem de falar para os seus pais. Após isso eu os convidei
para participarem do projeto junto com seus filhos (meus alunos),
para eles observarem a realidade caso continuassem usando drogas
ilícitas, e conversassem com os dependentes químicos em situação
de rua. (Entrevista com Weike Almeida).
A Orla, um espaço público de encontro dos adictos
Imagem 2. Foto da Orla em Benjamin Constant–Amazonas.
Fonte: CASTRO, Renison, 2020.
A orla é um espaço público, construído pela Prefeitura de
Benjamin Constant em convênio com o Governo do Estado. Foi estruturada com o intuito de ser um ambiente de lazer para as famílias
Benjaminenses, um ponto turístico da área. Porém, com o passar
do tempo, o local passou a ser abandonado; e, por conta da grande venda de bebidas alcoólicas, virou um local perigoso e em pleno
abandono. O poder público não buscou mais fazer a manutenção; e,
assim, passou a ser cada vez mais esquecida.
Os adictos, vendo local em total abandono, começaram a
se apossar do perímetro para dormirem (por eles não terem mais o
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
apoio das famílias). O meio deixou de ser um ambiente familiar e se
tornou um ambiente bastante perigoso.
Hoje, relegada de vez, a orla permanece sendo frequentada
por quem decide beber durante o dia; frequentando (deste modo) os
bares que estão ainda em funcionamento no local. Pelo horário noturno; vemos um descaso total — pouca iluminação e muitos adictos
no local. Muitos evitam frequentar, por ocorrer um grande número
de assaltos e pela violência muito grande.
A Entrega da Sopa da Liberdade
Em se tratando em relação à entrega da sopa, um indivíduo
despreparado pode tirar conclusões precipitadas sobre esse ato. Isto,
pois pode não estar apto (muito menos, capacitado) para se deparar com aquela situação de trabalho dessa organização — pensando
assim que essa equipe vem trabalhando desorganizadamente. Mas,
muito pelo contrário: levando em consideração uma perspectiva e
um olhar antropológico mais aprofundado; observa-se que é um
grupo inteiramente sério, em se tratando do campo de trabalho que
eles abordam.
Inicialmente o ritual da distribuição da sopa começava ao
entardecer com o preparo e arrecadação das verduras e legumes que
foram doados por comerciantes e simpatizantes da organização para
se processar o cozimento, que era feito na casa de alguns dos colaboradores que se disponibilizam para isso (consoante supracitado).
Ou, em muitos dias, a escolha era feita via uma espécie de sorteio ou
consenso feito no grupo de WHATSAPP (que tratava dos assuntos
do ramo em questão); ou decidido também mediante conversa pós
realização da entrega do prato.
O início da partilha da preparação começava a partir das
21:00 na orla da cidade de Benjamin Constant–AM. Embora o local
parecesse deserto, existia uma movimentação bastante razoável de
boa parte dos usuários de entorpecentes, principalmente dos que ficam situados nas redondezas da Praça da Matriz; pedindo recursos
monetários para manter seu vício. Apesar de a ideia da distribuição
fosse inicialmente para os adictos; atraia também a atenção e compa- 129 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
recimento de pessoas que estavam bebendo em bares ali perto, onde
acontecia a reunião da equipe. Alguns dos primeiros ficavam desconfiados com aquela situação; dificultando sua aproximação para
conversar e trocar ideias com algum integrante do conjunto. A abordagem com os almejados precisava ser diferenciada e com calma;
no intuito de “quebrar o gelo”; e, assim, a aproximação aconteceria
pouco a pouco.
A sopa era apenas uma forma de aproximação, para chamar a atenção daqueles que estavam às margens da sociedade, nesse
caso os do alvo a ser beneficiado. Tal aproximação sugeria transparecer apoio de solidariedade e apoio; demonstrando que eles não estavam sozinhos; e, que, pelo menos, uma pequena parte da sociedade
ainda se importava com eles, tanto com seu bem estar físico quanto
psicológico — pois em muitos relatos presenciados durante a oferta;
eles afirmavam terem sofrido abandonos por parte de familiares e
amigos, afirmando que viviam apenas aos cuidados de DEUS e dependendo de sua própria esperteza.
Logo após os integrantes da organização ganharem parcialmente a confiança dos usuários, por intermédio da refeição (também, por conta de conversas e principalmente em ser ouvintes para
as problemáticas que esses compartilhavam durante a realização da
entrega; ocasionadas as dificuldades por sua vivência sofrida); proporcionaram os favorecidos a nós ter uma concepção de que a iguaria simplesmente é uma ponte para o desabafo dos problemas que
ocorrem diariamente, ou simplesmente para um escape momentâneo da vida de adictos moradores de rua.
Levamos em consideração um exemplo que nos foi bastante marcante e que precisa ser ressaltado nesse trabalho. Um dos
favorecidos sempre estava presente na distribuição de sopa — sendo um dos mais animados e se movimentando para trazer aqueles
que ainda não tinham uma confiança para se socializar com todos
do grupo —; porém, chegando calado sem falar nada (nem sequer
soltar uma piadinha como de costume); para ele foi oferecida (como
sempre uma porção). Nada obstante, isso foi negado; espantando a
maioria do pessoal presente (que já o conhecia muito antes de nós).
Apenas, disse “Preciso falar com você”, com relação a um
integrantes mais antigos do ramo. Minutos depois, percebemos que
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
algumas pessoas do Grupo Liberdade passavam muita confiança
para esta pessoa; o fato de sermos novos no grupo fez com que não
participássemos deste diálogo. Após acabar a conversa, pudemos entender que o adicto havia sido pego pela polícia e torturado (mesmo
não cometendo nenhum crime ou delito). O discurso que ele afirmava ter ouvido dos policiais seria aquele que expressa muito bem a sociedade em que vivemos hoje sobre que “não importa quem roubou,
mas tu vai pagar por quem fez isso”.
Aparentemente, pensávamos que era apenas isso. Todavia,
ao percebermos que ele chegou quase chorando para uma conversa;
ele tentou esconder algo. Contudo, foi quase impossível, por estar
visível no corpo: uma marca de enforcamento por corda. Acerca do
acontecido, Weike Almeida relata o que aconteceu:
O adicto foi preso acusado de furto a um comércio, agredido injustamente somente pelo achismo e preconceito da polícia. No entanto, a tentativa de homicídio contra ele foi feita por outros presos,
o dependente afirmou que a tentativa de homicídio contra ele foi
a mando do comerciante que havia sido assaltado e que a polícia
deixaria ele ser assassinado dentro do âmbito prisional se não fosse
sua mãe. Um fato curioso e importante de ser ressaltado no trabalho
é que quem salvou a vida do dependente foi a própria mãe, pois
quando ela viu que a polícia havia apreendido seu filho ela passou o
dia e noite rodeando a delegacia, pois ela temia pela vida do filho. E
por volta das 23 horas ela ouviu gritos e reconheceu que era de seu
filho, então ela entrou aos gritos na delegacia pedindo para os policiais salvarem seu filho, então eles entraram na sela e pegaram seu
filho que já estavam com alguns hematomas e com o pescoço queimado pela corda que tentaram o matar. Após isso a polícia soltou o
dependente na companhia da sua mãe e mandou levá-lo ao hospital.
(Entrevista com Weike Almeida).
Outro caso que podemos levar em consideração retrata o
cidadão chamado de “especial”. Nessa situação, percebemos claramente que aquele breve momento da ajuda desta equipe e principalmente da conversa era uma forma de escapar da vida corrida que em
eles se encontram. Seu prazer principal — quando estava tomando a
sopa — era relatar como era sua vivência entre família, e se debruçar
nas lembranças que ele guardava com carinho dessas ocasiões. Algumas vezes pra animar a noite, cantava canções religiosas, que (de
algum jeito) deixavam-no mais próximo das lembranças de sua mãe,
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
que ele sempre insistia em dizer que era obreira, que sempre orava
para DEUS o proteger. Nenhum deles sente orgulho da situação em
que se encontram na dependência química. Em todos os momentos,
diziam isso, em forma de pequenas palestras, em meio às conversas;
que “experimentar é um caminho sem volta e leva à perdição”; e, eles
próprios se dão como exemplo disso.
Acrescido a isso, é perceptível que eles são solidários uns
com os outros. Quando algum deles não podia comparecer para tomar a sopa; o outro que comparecia buscava uma vasilha para levar
aonde o outro se encontrava. Ou, quando algum deles chegava antecipado; comia normalmente — mas, quando ofereciam para repetir;
não aceitavam: pensando nos outros, pois poderia faltar aos demais.
Por diversos motivos, as refeições não ocorriam com frequência. A maior dificuldade era arrecadar os alimentos nos domingos nos comércios, e em outros locais. Acompanhamos muitos
diálogos dos integrantes do Grupo Liberdade pelo recurso de aplicativos de mensagens. Foram diversos e intensos os conflitos entre os
integrantes acerca da organização das atividades a serem desempenhadas.
Em outubro de 2019, o Grupo Liberdade interrompeu suas
atividades de entregas de sopa. Em entrevista recente com Jander,
é citado o desejo de retorno do projeto, juntamente com os demais
fundadores:
O Grupo Liberdade não morreu, só está descansando, à espera da
hora certa para voltar, o momento certo, porém não se sabe se vai
ser com o mesmo nome, (...) não tem problema nenhum em voltar
com os mesmos integrantes, pois tínhamos uma química muito boa.
(Entrevista com Jander).
Considerações finais
Podemos concluir que o grupo e a distribuição da sopa têm
uma grande importância para a vida dos adictos que vivem abandonados. Por estarem sem amparo algum, eles buscavam apoio nesses
cidadãos que tentavam ajudá-los. Desta forma, evidenciamos que as
ações da organização não estão moldadas apenas aos beneficiados
almejados, mas agrega toda a sociedade. Os reflexos das atividades
atingem mais favorecidos do que o próprio ramo imagina.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Compreendemos concomitantemente que, apesar das dificuldades, o órgão sempre busca se colocar no lugar dos amparados
por si, sempre buscando entendê-los e nunca com o pensamento de
julgar; mas, sim, de ajudar. Até mesmo na parte da coleta de alimentos — sempre colocando a vida dos beneficiados em primeiro lugar
(cada passo, cada ação, sendo pensada, analisada em conjunto, pelo
bem de todos).
Além de tudo isso, foi possível observar o laço de amizade
e confiança que os abrangidos tinham com os integrantes do conjunto (e, até mesmo para com a nossa parte). Hoje, lamentamos muito a
interrupção das ações. Torcemos para que o ramo retorne e continue
fazendo o trabalho de imensa relevância social constante e ininterruptamente.
Agradecimentos
Agradecemos aos fundadores do Grupo Liberdade, a todos os colaboradores e aos adictos por todos diálogos e experiências
compartilhadas.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
“El Patrón”:
imaginários sobre o modo de vida dos
Traqueteiros na Tríplice Fronteira (Brasil,
Colômbia e Peru)
Enio Gilberto Haiden Mendonça
Cristian Farias Martins
Sebastião Melo Campos
Introdução
O referente artigo aborda a região de tríplice fronteira
constituída por três países (Brasil, Peru e Colômbia). Tabatinga é a
cidade brasileira da região, a qual faz fronteira terrestre com Letícia
(Colômbia). Isto é, apenas uma rua, um marco de fronteira e bases
das polícias nacionais e das instituições alfandegárias dos dois países
separam formalmente essas cidades.
Existen marcas del límite - hitos - que muestran la división política
del território y que emplazados en el espacio se observan a lo largo
de toda la línea divisoria. En algunos lugares resaltan, porque son
utilizados como referentes para hacer construcciones o porque su
función divisoria no se toma em cuenta para ello. (APONTE, 2011.
p. 204)
Existe também uma fronteira fluvial entre Brasil, Peru e
Colômbia. Chegando ao cais, podemos ver esse fluxo com embarcações — por exemplo, barcos, canoas, navio a motor (barcos de passageiros intermunicipais) — com plataformas ou balsas de embarque e
desembarque de passageiros e mercadorias vindos do Peru, Colômbia e diversas partes de municípios do Alto Solimões e Manaus (que
se localizam às margens do Rio Solimões). E, assim basicamente, está
constituído o cenário físico da Tríplice Fronteira, com suas particularidades, como a música, comida, dança, língua e moeda.
Interessante observar o fluxo de pessoas, veículos e mercadorias (de gêneros alimentício, eletrônico, construção civil, para
ilustrar) atravessando a barreira diariamente, num ritmo quase que
- 135 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
frenético. E, conforme a Política Nacional Antidrogas do Brasil, de
combate ao tráfico de tóxicos; mediante estes obstáculos terrestres,
aéreos e marítimos, a fiscalização no âmbito de frear o tráfico e os
crimes conexos dos dois países (Brasil /Colômbia — nessa zona de
trânsito, em que podemos entrar e sair dos países com apenas um
passo — não atua com frequência no cotidiano dessa zona. Como
pudemos observar, existe uma fiscalização de abordagem policial na
referente área, apenas em alguns dias da semana ou quando autoridades do Estado estão presentes na cidade; aumentando o efetivo das
forças militares nessa região, sinalizando que existe um combate no
que diz respeito ao comércio de drogas e armas.
Notícias sobre a circulação de altos índices desses insumos (drogas e armas) nesse ambiente são apresentados diariamente
nos jornais, mídias eletrônicas, emissoras locais de televisão aberta.
Como exemplo, a rede de televisão Record exibiu uma reportagem
retratando o tráfico de drogas nesse cenário urbano em que reatualiza a imagem dessa abrangência como “lugar perigoso e dominado
pelo narcotráfico”. Inicia esta matéria jornalística sobrevoando por
intermédio de um avião monomotor esse território (Brasil, Colômbia e Peru); descrevendo essa faixa como “rota de trânsito para o
tráfico internacional de drogas”.
Desse modo, o contexto fronteiriço entre Brasil, Peru e Colômbia, para além de um espaço geográfico específico, é um lugar
imaginado como periférico e perigoso ao Estado do Amazonas e à
nação brasileira; já que esse quadro, tal qual as favelas, seria habitado também por pessoas moralmente inferiores chamadas narcotraficantes. O artigo aborda um breve histórico do tráfico de drogas na
região, com o objetivo de contextualizar os discursos antropologicamente analisados ao longo deste trabalho.
Por que os indivíduos se tornam traqueteiros?
Em entrevista realizada com Seu Zé (nome fictício), cujo
filho se encontra no sistema prisional de Tabatinga, preso pelo crime
de tráfico de internacional drogas, acusado de ser uma mula1 - pes1 Mula e uma pessoa conhecida no universo do crime para o transporte da droga, até
mesmo em diferentes regiões do planeta.
- 136 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
soa utilizada pelo traficante para realizar o transporte de entorpecentes à longas distâncias. Quando arguido sobre a razão de seu filho
ter cometido tal delito, ele respondeu:
Devido ao sistema do município, área de fronteira, falta de emprego,
então o jovem ele é ambicioso, ele quer dinheiro, ele quer luxar, ele
quer fazer alguma coisa, até mesmo querer ajudar os pais, e não tem
como. E o poder de sedução da fronteira e muito grande. Os traficantes eles aproveitam as famílias, os jovens mais humildes, pra fazer a
sedução e faz com que o jovem caia na área do tráfico de drogas e
acontece o que aconteceu com meu filho. (Fonte: Caderno de campo
Enio. Entrevista do Seu Zé no dia 16/08/2012).
Percebe-se que a localização, com a sua precariedade de
geração de empregos formais, é tida pelo interlocutor entrevistado
como um fator de “sedução” do jovem para o mundo do crime, especialmente quando ele almeja “luxar”, ser inserido numa sociedade
de consumo que lhe promete status e poder mediante o consumo
de certos produtos (motos, tênis, roupas, para exemplificar) que o
diferenciem socialmente do próximo.
Nos meios onde se concentra a criminalidade, os indivíduos se socializam segundo essas regras vigentes no seio dessas categorias marginalizadas, as quais são determinadas para esse comportamento desviante ou não? Em nossa visão, não.
Para dar uma impressão e um contraste melhor que isso
não se estabelece automaticamente, apenas pelo fato de um jovem
morar numa favela ou numa zona subalterna (sendo uma “desculpa”
de ingressar numa carreira criminal); apontamos uma análise respeitante que foi retratada por “zona ou fator de sedução/intersticial”
num comentário de Philippe Robert (1939): “na medida em que seus
atores entendiam que fosse mais fácil, numa zona intersticial, integrar-se à delinquência profissional do que ao mercado de trabalho
estável”. Um dos fatores relevantes para o filho do seu Zé é este argumento; pois, segundo este genitor, nessa contextualização, é mais
fácil entrar “na área do tráfico de droga”.
Discordamos do que é apresentado como fator preponderante por Robert (1939), supracitado; já que, sob este raciocínio, fica
implícito que o jovem escolhe adentrar o mundo do crime simples- 137 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
mente porque essa seria uma “vida fácil”. Minimamente, consoante exposto, tratado é o assunto como se a imersão na criminalidade
fosse vetor automático e inarredável à ação do jovem (e, o cidadão
se transmutasse em traficante tão somente por morar num contexto influenciador nesse sentido; e ser fácil ganhar dinheiro com essa
opção). Isto é repassado sob este viés , quando existem princípios
absorvidos, fatores morais que (muitas vezes) fazem um indivíduo
preferir o sacrifício dos empregos formais e informais à adesão ao
tráfico; gerando um comportamento divergente diante da sociedade
que se advoga “normal” (em que, esse ser vive; e, em que, possui necessidades de satisfazer seus desejos de âmbito pessoal e moral). Isto,
a nosso pensar, pode deixar um contraste melhor para explicar esse
dado empírico acima.
Se, por um lado existem as “seduções” materiais que levam
os indivíduos a enveredarem pelo mundo do crime, por outro lado,
parece haver fatores de ordem cultural que, conforme a experiência
policial abaixo apontada, podem fazer indivíduos viverem trajetórias de vida distintas, mesmo que eles tenham nascido e crescido no
mesmo bairro:
Você pega duas pessoas que cresceram na mesma rua uma estudou virou professor, hoje e um educador e está transformando vidas; a outra
escolheu o caminho errado virou traficante, mas nem por isso essas
pessoas se deixaram de se falar, muitas vezes vocês vai ter essas duas
pessoas na mesma mesa, tomando cerveja conversando e falando coisas boas, a diferença e que o professor vai voltar vai dormi e no outro
dia tá dando aula melhorando o mundo, o outro cara na mesma noite
está negociando a morte de alguém, e pelo menos essa visão que eu
tenho. ((Fonte: Caderno de campo Enio. Delegado da Policia Federal
/ Entrevista realizada em 22/07/2013)
Temos um exemplo clássico de duas trajetórias de vida
(Professor, Traficante). Há dois significados de arcabouço teórico
para compreender (Identidade e Papéis). Esses dois indivíduos se
encontram, em linhas gerais, conforme diz CASTELLS (1942): “Em
termos mais genéricos, pode-se dizer que identidades organizam
significados, enquanto papéis organizam funções”.
No momento, encontra-se a figura do lente transformando
vidas. Esse docente pertence a normas estruturadas por instituições
- 138 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
e organizações da sociedade como a escola; onde, assume o “papel”
de professor que tem como “função” educar e encaminhar futuramente esse indivíduo numa estrutura social dentro de uma normalidade na visão do educador.
Concomitantemente, o traficante passa por uma construção de identidade por vários elementos, associados a redes criminosas “acusadas pela sociedade” como uma categoria divergente dos
padrões normais. Esse material é processado e se reorganizam significados em função de tendências, projetos determinantes para tal estilo de vida escolhido por esses indivíduos. Evidentemente, o nosso
principal ator expressa o real contexto procurando alternativas no
tráfico de drogas (de que e muitas vezes, os exemplos e argumentos
destacados pelo delegado da Policia Federal partem também, por um
viés interessante de se pensar como o “Fator Família”).
Um dos fatores que seria importante determinante para a
diferenciação entre o indivíduo que se torna um professor daquele
que se torna um traficante, ainda segundo o interlocutor policial acima entrevistado, seria a estrutura familiar:
Eu não posso te resumir se um ponto crucial, mas que talvez nós consigamos resumir isso a um fato especial, seria a atuação da família, talvez a atuação da família né, é que né, que certa forma nós conseguimos observar a família um pouco fragilizada nessa região, você filhos
que não respeitam pais, você ver menores de idade envolvidos com
bebidas alcoólica, você basta fazer uma simples ronda como a Polícia
Federal infelizmente tem que suprir algumas necessidades de outras
policiais aqui né, que não é nosso desejo em suprir, muitas vezes por
vontade e você vai em determinadas boates você encontra meninas de
treze, quatorze anos, (tamanho) uma, duas, horas da manhã, meninos de treze, quatorze anos,(tamanho)uma, duas, horas da manhã
ingerindo bebida alcoólica. Então, aonde entra a família? Aonde entra
a preocupação da família daquele menor não está ali? Talvez aquele
fato crucial da família não fazer intercessão correta, aquele acompanhamento correto naquele momento, ocasione pelo menos a oportunidade daquela pessoa ter sido [PAUSA] Vamos tratar de um “desvio de
conduta” e ingressar no caminho errado. Muitas vezes ingressa, por
exemplo, experimentando se tornando devedora e tendo que vender
pra sustentar o vício, um exemplo, outras vezes uma questão financeira, pô aquele cara lá, na mesa dele, pô tem comida, tem bebida, eu
tenho aqui dez reais não consigo nem comprar um refrigerante uma
cerveja pra mim, vai pra esse caminho também, então, talvez você
resumir uma mudança dessa a um ponto é muito complicado, mas eu
- 139 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
prefiro botar o fator Família como algo muito importante e que mais
vemos hoje é a família (Fonte: Caderno de campo Enio. Policial /
Entrevista).
O entrevistado afirma que a estrutura (ou desestrutura familiar) não é o único fator responsável pela entrada dos jovens no
mundo do crime, mas que ela pode ser um dos fatores mais importantes a este problema social. A experiência do policial acima entrevistado mostra que muitos pais não controlam o acesso dos filhos
menores de idade ao consumo de álcool e à permanência desses jovens em lugares e durante horários impróprios à sua adequada formação moral. Esse fato, segundo ele, pode ser um fator que aumenta
os riscos desses jovens serem seduzidos para o vício do álcool (e de
drogas ilícitas) ou para a entrada na organização criminosa
Nesse sentido, a não “intercessão”, o não “acompanhamento” dos pais no cotidiano de vida dos filhos seria um fator facilitador
dos seus desvios graduais de conduta: inicialmente o menor de idade
vai beber álcool num bar e lá encontra uma pessoa conhecida ou
do seu círculo próximo de relações que se tornou traficante e que,
naquele momento, desfruta dos símbolos do poder conquistado
(possivelmente roupas e tênis de grifes famosas, além de uma arma).
Sem o suporte de uma formação moral equilibrada ou da presença
de alguém que o faça se afastar da “sedução” do envolvimento com a
ilegalidade, certamente esse alvo ingressará no “mercado da droga”,
segundo a perspectiva do agente policial supracitado. O envolvimento com a ilegalidade, certamente esse alvo ingressará no “mercado da
droga”, segundo a perspectiva do agente policial supracitado.
O mesmo vale para o varejo das drogas, nas periferias: juventude
ociosa e sem esperança é presa fácil para os agenciadores do comércio clandestino de drogas. Não é difícil recrutar um verdadeiro
exército de jovens quando se oferecem vantagens econômicas muito
superiores às alternativas proporcionadas pelo mercado de trabalho
e benefícios simbólicos que valorizam a auto-estima, atribuindo poder aos excluídos. (SOARES, 2006, pág. 96)
Por isso, faz sentido esse contexto cruel em que não é difícil
em recrutar um exército de jovens que queiram ingressar no varejo
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
e atacado de drogas, a desigualdade e evidente por faltas de políticas
públicas que proporcione a acessibilidade a uma oportunidade de
emprego, esses sentimentos podem agregar fatores na escolha desse
estilo de vida subsequente. O tráfico de drogas e o reflexo da crise
social, curiosamente criada a partir desses fatores que incluem a ausência do Estado na perspectiva de vida desses indivíduos, associados também valores de âmbitos pessoais como foi dito acima e que
reforçamos na seguinte citação de Velho (2003):
Umas das principais contribuições de Becker, assim como de Kai
Erikson e de John Kitsuse, foi perceber que o comportamento desviante não é uma questão “inadaptação cultural”, mas um problema
político, obviamente vinculado a uma problemática de identidade.
(VELHO. 2003, p. 24)
Sublinhando que o problema do desvio está no âmbito do
senso comum, remetido a uma perspectiva de patologia política e
familiar cujo o estado ocupa uma parcela da culpa, simplificando
nosso diagnóstico ao nosso outsider/traficante da fronteira podemos
resumir que ele não está fora de sua cultura, mas que realiza um
movimento divergente de outros segmentos da sociedade fronteiriça em que existem áreas de comportamento em que ele agirá como
qualquer cidadão “normal”.
Essa situação é semelhante ao caso do filho do seu Zé que
citamos anteriormente, que cometeu o ato infracional de transportar
droga para ele e, sobretudo para seus pais, o tráfico de drogas representava o emprego que nunca teve, uma garantia de renda melhor
nessa região em troca de dinheiro “fácil” oferecida pelo traficante.
Em que esse traficante funciona também como uma espécie de agenciador para novos outsiders, em que muitas vezes esse
indivíduo agenciado pelo traficante não se encontra apenas no quadro social da pobreza, mas nas classes média esse tipo de desvio é
comum, onde podemos pegar um exemplo da trajetória de vida do
economista Ronald Soares narrado no livro biográfico por SOARES
(2012). Ronald, classe média rica de família tradicional do Rio de
Janeiro, ganhou muito dinheiro no mercado financeiro e optou por
ser traficante para distribuir droga na Europa, até que foi capturado
- 141 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
na Inglaterra com duas toneladas de cocaína e encarcerado num presidio de segurança máxima. Portanto, é evidente nortear tal comportamento sublinhando uma perspectiva de cunho econômico é meio
utópico, em que eu acredito num conjunto de fatores dessa categoria
numa tomada de decisão mais eficaz para ele naquele momento dependendo do contexto, portanto a criminalidade no âmbito do tráfico de drogas pode atravessar todas as fronteiras da sociedade, já que
é produto simultâneo tanto de fatores econômicos quanto culturais.
A fala de outra interlocutora “dona Mariquinha” (nome
fictício), uma líder religiosa, comenta de igual modo à importância
do “Fator Família” como vital à entrada dos jovens no mundo do
crime:
Em primeiro lugar se é adolescente vem mais dos pais tá, porque os
pais se o filho ele não corrige os filho da maneira da educação que ele
tem que dar, porque se o filho sai hoje, sai amanhã, ele vai deixa o
filho sair; o filho chega todo bêbado, todo cheio de coisa e não vai chegar sentar seu filho e conversa com seu filho, então ele tem quer chega
e conversar: - meu filho porque tá acontecendo isso? Não é assim, não
é esse caminho que você quer? Então não, muitas das vezes os pais vão
mais com ignorância já vão pra porrada, parte pra porrada, então eu
acho que não é na porrada que a gente vence as coisas; a gente vence
na conversa, então, vem mais dos pais porque muitas das vezes os pais
são cachaceiros, beberrão, são agressivos com a família dentro de casa.
Então isso ai traz muito mal exemplo. Hoje em dia, tanto pras mulheres como pros homens, adolescência né, então ai já vão crescendo,
crescendo e já vão se tornando adulto já viciado. Aí do vicio não tem
dinheiro porque aqui nós não temos emprego, nós não temos nada,
pouco o emprego que tem ai vai roubar vai matar vai assaltar pra
poder ter seu vício entendeu? Eu acho que e por aí entendeu? (Fonte:
Caderno de campo Enio. Entrevista de Dona Mariquinha realizada
em 06/01/2013).
Essas contingências de criação dos pais, que muitas vezes
“são cachaceiros, beberrão, são agressivos com a família” ajudam a explicar traços reveladores do perfil nos lares dos jovens em Tabatinga, a partir de um conjunto de fatores subdividindo em lotes, por
exemplo: alcoolismo/desemprego/educação/infraestrutura, associado esses elementos podemos ter uma certa liberdade em esboçar
uma lógica cuidadosamente analisada em função desses lotes para
tal “desvio de conduta” em que esse adolescente envereda.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
GOFFMAN (1981), por sua vez comenta o que há por trás
desse “comportamento desviante” diante a sociedade.
Se deve haver um campo de investigação chamado de “comportamento desviante” são os seus desviantes sociais, conforme aqui definidos, que deveriam, presumivelmente, constituir o seu cerne. As
prostitutas, os viciados em drogas, os delinquentes, os criminosos,
os músicos de jazz, os boêmios, os ciganos, os parasitas, os vagabundos, os gigolôs, os artistas de show, os jogadores, os malandros
das praias, os homossexuais, e o mendigo impenitente da cidade
seriam incluídos. São essas as pessoas consideradas engajadas numa
espécie de negação coletiva da ordem social. Elas são percebidas
como incapazes de usar as oportunidades disponíveis para o progresso nos vários caminhos aprovados pela sociedade; mostram um
desrespeito evidente por seus superiores; falta-lhes moralidade; elas
representam defeitos nos esquemas motivacionais da sociedade.
(GOFFMAN 1981, p. 121).
Portanto, o comportamento desses outsiders e sempre classificado ou submetido por julgamentos por diferentes camadas da
sociedade, tanto no campo social como no campo jurídico, se observarmos mais a fundo esses outsider que denominamos o termo
“traficante” ele vai ter duas interpretações, por exemplo, na ótica do
campo jurídico, quem vai ser o traficante?
Vai ser aquele indivíduo que possui certa quantidade de
entorpecente, enquadrado na infração penal da constituição de acordo com o artigo 33, da lei nº 11.343/2006 como prática de comércio
de drogas ilícitas com altas pena e inafiançável, sobretudo equiparado com o crime hediondo pela Constituição Federal de 1988 e ponto
final.
Embora no campo social o termo “traficante” ele vai se estender realizando um movimento mais do que um ato em si, como
foi visto na ótica jurídica. A sociedade vai construir enquanto tal, a
partir de discursos que revelam signos ou toda uma dramaticidade
que revelam o criminoso, até mesmo realizando uma compilação de
papéis sociais dentro do tráfico (usuário, usuário-traficante, pequeno, médio e grande traficante) e realizam esse contraste de classificação através de rótulos, sejam em situação social, indicadores de
filiação a uma família, econômica, política e assim criar estereótipos
para distinguir um ser desviante de uma pessoa que possui parâmetros de normalidade seguindo regras moralmente aprováveis.
- 143 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
A Dinâmica do Tráfico de Drogas na Tríplice Fronteira
A estrutura do tráfico nessa zona de fronteira não é diferente de outras regiões do Brasil ou do mundo, embora o traficante
nessa região tenha várias estruturas entre diferentes níveis de comercialização no âmbito de produção, distribuição e consumo como
pode ser visto a partir da colaboração do Delegado da Policia Federal
que combate o tráfico de drogas a vários anos nessa região de fronteira, em que esses outsiders possuem uma organização com redes por
várias regiões do Brasil e exterior:
Classicamente, classicamente nós temos uma estrutura que e o produtor, vamos a um exemplo aqui mais concreto, aqui no Peru temos
umas das plantação das plantações a droga e retirada e levada ao laboratório do laboratório e produzido, nessa área de plantação e laboratório muitas vezes fica o dono que tem as pessoas que simplesmente
raspam pó e a folha tem as pessoa que produz a droga e tem as pessoa
que faz a segurança da área, os soldados, nisso daí, ele muitas vezes
tem um transportador de confiança dele, já e uma outra estrutura,
são as vezes famílias né, acostumadas a fazer o transporte de droga são pessoas que são conhecidas por fazer só transporte de droga,
esse transporte de droga a droga vai ser transportada, muitas vezes
e comprada por soldado outras vezes não, uma estrutura própria o
transportador de armas de segurança até Manaus, por exemplo, em
Manaus nós teremos a figura do receptor, muitas vezes ele e ligado ao
produtor , muitas vezes não.. ele apenas e o comprador e o produtor
e apenas o vendedor, esse grande comprador e o que vai vender para
pequenos os pequenos compradores e vendedores ne, que são os dono
de boca de fumo isso seria uma cadeia simplificada de como funciona
aqui a produção, transporte e venda da droga em Manaus , usamos
como exemplo a cidade de Manaus...Muitas vezes o dono do negócio
se quer está na região, muitas vezes o dono do negócio sequer vê a droga, muitas vezes o dono do negócio só mexe no dinheiro, essa e outra
a realidade muito comum não só aqui, mas em grande parte do país...
O dono da droga não toca, o dono da droga se quer está próximo de
onde e produzido e de onde e vendido a droga, mas ele usufrui toda a
renda e todo lucro da produção da venda da venda no caso, isso genericamente assim numa visão bem geral e o mais ou menos o cenário
em que visualizamos. (Fonte: Caderno de campo Enio. Delegado da
Policia Federal / Entrevista realizada em 22/07/2013.
Na fala acima, foi usada a cidade de Manaus como exemplo
dessa estrutura em que foi demonstrada pelo Delegado, que possui
a ausência em relação a preços, valores, mas isso e apenas um detalhe. O que quero ressaltar aqui e a restrição social ou anonimato
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
em que essa categoria desviante permanece sem despertar a atenção
de ninguém, o traficante estabelece uma ocultação do seu universo aos olhos de quem está fora desse círculo, muitas vezes quando
são apreendidos causam certo espanto as pessoas, pois achavam
que conheciam nosso principal ator, considerando que dividiam ou
compartilhavam o mesmo espaço social, por exemplo, vizinhança,
lugares públicos como supermercado, igreja, clubes, escola e etc.. E
segundo essa circunstância camuflava sua outra identidade que possuía no mundo do tráfico. Como podemos ver no discurso de um
interlocutor que podemos chamar de “seu Chico”:
Assim, eu conheci, mas não de maneira direta, mas indireta entendeu? Mas eu nunca tive contato de amizade com o traficante aqui na
cidade né, eu já soube que fulano de tal era traficante, mas ele não
figurava isso pra ninguém nu é, não chegava e falava que ele tava
nesse ramo e não era tão explicito né era uma coisa, mesma que secreta, mais de segredo que agente quando descobria muitas vezes até
se assustava né pela conduta que muitas vezes a pessoa leva, então
muitas vezes e uma pessoa que você não desconfia que ela é traficante.
(Fonte: Caderno de campo Enio / Seu Chico / Entrevista realizada
em 25/04/2013).
Hábitos exercidos entre o público são procedimentos de
comportamentos normais capaz de esconder seu desvio diante a
sociedade, e a manutenção dessa camuflagem e feita por mentiras
como diz GOFFMAN (1981):
Ele sofre também de “aprofundamento de pressão”, ou seja, pressão
para elaborar mentiras, uma atrás da outra, para evitar uma revelação. Suas técnicas adaptativas podem, elas próprias, ferir sentimentos e dar lugar os mal-entendidos por parte de outras pessoas.
(GOFFMAN 1981, p. 73).
Essa roupagem podemos assim falar para explicar melhor
tal tese que defendo e baseada necessariamente na posição em que
ele vive, porque sabemos que ele é um indivíduo perseguido como
vimos no debate anteriormente entre políticas de agências antidrogas que visam atrapalhar seu estilo de vida, e nesse cenário de medo
constroem-se as estratégias desses indivíduos em criar códigos nas
conversas, vestuários, vocabulários e etc... Elaborados como compo- 145 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
nente de uma autodefesa nas ações policiais realizadas por escuta
telefonemas em que os órgãos de segurança aderiram à sofisticação
para capturar esses outsiders. Em função desses fatores o esforço por
esses indivíduos vai criar uma divisão de mundo com significados
de quem está fora desse círculo de relações, não vai descobrir, pois o
tratamento com as pessoas “comuns” produz uma imagem em que o
efeito desse tratamento vai ser a certeza do segredo de sua identidade
assegurada por parte da comunidade local.
E essa dinâmica do tráfico vem crescendo e com isso o
trabalho investigativo das policias intensifica colocando em prática
as políticas antidrogas, adotando medidas de combate contra outras
prática ou modalidades criminais que envolvem lavagem de dinheiro, armas, assaltos, roubos, sequestros que ramificam a partir do
tráfico de drogas como carro-chefe dessas matrizes criminais como
comenta o antropólogo Luiz Eduardo Soares (2006), que foi ex-secretário nacional de segurança pública, “As drogas financiam as armas e estas intensificam a violência associada às práticas criminosas,
e expandem seu número e suas modalidades”. Em que podemos ver
num dado empírico de campo essa realidade vivenciada no discurso
de uma moradora da cidade de Tabatinga-Brasil em que coloco um
questionamento se o município em que ela vive é violento? Através
de um aparelho gravador e transcrevida na integra em que podemos
chamar a interlocutora de Dona Severina2:
Olha na realidade ela não era, mas tá se tornando uma cidade um
pouco né, violenta, por quase que e a gente vê morte quase todos os
dia né, então ela tá se passando a ser uma cidade um pouco violenta, e
não tantos por (...) somente por negócio de assasinamento, como também por acidente e acidente e assaltos que não tinha na nossa cidade
e hoje já tem, que não pode nem andar de cordão que já tão puxando,
então eu acho que é porai que na nossa cidade tá ficando sim, violenta
sim né, daqui uns tempo vai ficar mais. (Fonte: Caderno de campo
Enio /Dona Severina: Entrevista realizada em 11/03/2013).
Essa modalidade nova de crime na fronteira como o assalto, não era comum na cidade, mas que foi problematizada no discurso da “Dona Severina” como um evento novo para ela, em que se
2 Nome fictício
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
percebe certo medo em caminhar pelas ruas da cidade com objeto
de valor. É claro que também não podemos associar todo assalto que
acontece na cidade pelo fator do tráfico de drogas, mas que na maioria dessas práticas de crime, a noção de um grupo com redes criminosas associadas ao tráfico e muito presente no discurso das pessoas
que convivem essa realidade da fronteira.
Esse discurso foi umas das minhas motivações para iniciar
esse presente trabalho em linhas gerais, pois vale a pena ressaltar
que tal grupo pesquisado como diz GOFFMAN (1981), mostra certo
desrespeito diante da sociedade que segue um padrão e demostra
certos tributos de moralidade e valores. E para ficarem mais claro
tais modalidades de crime ocasionadas pelo tráfico solicitei a realização de entrevista com o Delegado da Superintendência de Polícia Federal em que aceitou tal participação na construção da minha
pesquisa, em que expliquei que seu papel de Delegado na esfera de
um órgão público, seria muito importante para entrar em contraste
a outros segmentos sociais da sociedade civil local e instituições do
Estado, no qual utilizei um aparelho gravador que posteriormente
realizei a transcrição de algumas fala do Delegado para análise:
Os crimes passionais são poucos em relação ao tráfico de drogas que
pode ser visto como uma coluna central onde ao entorno dele nós visualizamos esses crimes periféricos, então o tráfico de drogas aqui ele
faz com que exista a violência , seja por acerto de dividas, seja por
disputa de território, enfim... Até por questão de vaidade, por exemplo, casos comuns de que um cidadão desavisado acaba se engraçando
por uma mulher de traficante, o traficante vai e é executa esse rapaz
que se engraçou com a mulher dele caso que aconteceu se não me
engane na frente do hospital, então são os fatos que ocorrem aqui em
Tabatinga, isso faz Tabatinga se tornar violenta. (Fonte: Caderno de
campo Enio. Delegado da Policia Federal / Entrevista realizada em
22/07/2013).
O discurso do Delegado foi muito interessante para pensar
o imaginário sobre a criminalidade nessa região de tríplice fronteira
onde ele denomina o tráfico de drogas como uma “coluna central”
em que pela ótica em que visualiza esses “crimes periféricos” ou “modalidades” como, por exemplo, assassinatos, assaltos, furtos, roubos
são causados pela essa coluna central. Em que alguns casos de crime
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
ocorrem com pessoas sem algum tipo de vínculo com o tráfico, mas
pelo simples fato ou circunstância de se envolver com algo que tenha
relação com o traficante em que ele não gostar de tal situação esse indivíduo vai sofrer represálias como diz o Delegado; “Até por questão
de vaidade, por exemplo, casos comuns de que um cidadão desavisado
acaba se engraçando por uma mulher de traficante, o traficante vai e
é executa esse rapaz”. Mas lembrando, que essa questão em que todo
o traficante tenha esse espirito de execução eu não compartilho no
discurso a partir de um princípio no meu trabalho antropológico de
não generalizar elementos na construção dessa categoria, devido ser
um trabalho qualitativo e lhe dar com o subjetivo no imaginário das
pessoas pensando umas às outras. Portanto, existem divergências relativas de acordo com a visão de determinados segmentos da sociedade na construção desse outsider onde tais atribuições de significado, valores, se organizam através do imaginário em que indivíduo se
autodenomina e denomina o “outro” que seria a figura do traficante.
De modo que o Fator Família determina diretamente o caminho (contextualmente positivo ou negativo) que o indivíduo tomará na sua trajetória de vida, já que esta é tida como uma unidade
moral norteadora da sua vida, e que tem papel decisivo na assimilação de determinadas normas e valores “normais” à sociedade.
Considerações finais
Procuramos elementos na trajetória desta pesquisa para
que pudéssemos compreender o estilo de vida dos traficantes na região de tríplice fronteira. Tema este muito complexo, pode-se observar que há distintas hierarquias e redes com o território em que esses
indivíduos se encontram nessa zona de fronteira com seus coadjuvantes (assassinos, mulas, aviões, operadores de Justiça e etc...).
Observando de maneira geral essa tríplice fronteira que
podem gerar estratégias de vantagem para nosso ator criado pela espacialização do território/fronteira em função das redes ilegais que
está diretamente ou indiretamente ligada entre os três países (Brasil,
Peru e Colômbia) no âmbito internacional da estrutura e distribuição espacial no mercado ilícito de drogas, percebemos em campo
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
que o fator fronteira não simbolizou uma segregação dos indivíduos
para essa atividade ilícita, por exemplo, seja rico, pobre, negro, indígena ou branco, gordo, magro e etc... Ou seja, não existe um perfil
que identifique o “traficante”.
Por meio de relações conflituosas e harmoniosas em alguns
momentos entre a categoria traficante e o jargão da trilogia fronteiriça surge um clima de intranquilidade e insegurança representada
pela violência, sinônimos de medo e naturalizada em homicídios ligados ao tráfico de drogas que ocorrem quase que diariamente nessa
tríplice fronteira em que podemos ver no discurso muito comum na
gíria local quando um indivíduo morre “menino novo, podendo trabalhar (...) ele bem mexia com o negócio”, analisando esses pequeno
fragmentos ao longo do trabalho foi possível um desfecho em que
não existe uma verdade única para interpretar o porquê da escolha
desse vínculo de estilo de vida empurrando para uma carreira criminal e ingressando em organizações criminosas.
Referências
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urbano fronterizo em la Amazonia. Universidad Nacional De Colômbia. Sede Amazonia. Leticia, Colômbia, 2011.
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1987.
GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
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SOARES, Luiz Eduardo. Segurança pública: presente e futuro. Estudos Avançados, 2006.
SOARES, Luiz Eduardo. Tudo ou Nada: História de um brasileiro
preso em Londres por associação ao tráfico de duas toneladas de cocaína. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
VELHO, Gilberto. Desvio e divergência: Uma crítica da patologia
social. 8° Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Educar e Cuidar na Educação Infantil
Elina Oliveira Ruiz
Marinete Lourenço Mota
Sebastião Melo Campos
Introdução
A realização da averiguação deu-se pelo trabalho das disciplinas obrigatórias no curso de Pedagogia das Práticas de Pesquisa
Pedagógica no Curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto de
Natureza e Cultura (INC), polo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
A temática do educar e cuidar na Educação Infantil surge a
partir da identificação com a área durante as disciplinas de Educação
Infantil e as Práticas da Pesquisa Pedagógica do Curso de Pedagogia,
na tentativa de saber como os professores educam e cuidam as crianças neste nível de ensino considerado básico na formação do ser humano; pois é nesta fase que se inicia o fortalecimento da construção
do ser sujeito.
Desta forma, percebe-se que velar e doutrinar são elementos a entranhar-se na ação pedagógica, para estabelecer uma visão
integrada do desenvolvimento da pessoa, com base em concepções
que respeitem à diversidade, ao momento e à realidade peculiares da
infância. Esse processo requer um esforço significativo, e precisamos
estar conscientes da necessidade e da busca de novos caminhos para
novas transformações. O trabalho da pesquisa embasou-se na abordagem qualitativa, a qual foi essencial para a compreensão do estudo; oportunizando o entendimento, e o aprofundamento de ambas
as ações nas práticas pedagógicas docentes na etapa verificada, utilizando-se dos instrumentos, desde a coleta de dados até à entrevista
semiestruturada, o questionário fechado e a observação.
Histórico e conceito da Educação Infantil no Brasil
O referido trecho escolar avaliado que nós conhecemos já
passou por muitas transformações; uma vez que (como é notório)
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
os indivíduos semelhantes no período clássico eram considerados
como um adulto em miniatura, e o cuidado e a educação destes eram
feitos somente pela família, principalmente pela mãe (ARIES, 2006).
Sofreu grandes transformações ao longo dos últimos
tempos; e, este processo, além de longo, foi difícil. Isto, porque (durante ele) surge uma nova concepção de criança, totalmente diferente da visão tradicional. Se, por séculos e em diferentes culturas, esta
imagem era vista como um ser sem importância; em oposição, ela é
considerada em todas as suas especificidades.
A partir dessas novas percepções respeitantes, foram surgindo na sociedade brasileira instituições para o atendimento respectivo, desde em ramificações assistencialista/compensatória em
creches e pré-escolas para abrigar, guardar crianças, órfãos e filhos
de labutador, facilitando o envolvimento do trabalho das mães no
mercado fabril fora do lar.
Craidy e Kaercher (2001) apresentam uma série de ideias
que justificam o surgimento da Educação Infantil; visto que durante muito tempo esses membros sondados eram de responsabilidade
apenas da própria família, a qual preparava seus amparados para a
vida adulta, por meio da convivência no lar entre adultos e iguais.
Seguindo este parecer,
[...] muitas teorias nesta época também estavam interessadas em
descrever as crianças, sua natureza moral, suas inclinações boas
ou más. Defendiam a ideia de que proporcionar educação era,
em alguns casos, uma forma de proteger a criança das influências
negativas do seu meio e preservar-lhe a inocência, em outros, era
preciso afastar a criança da ameaça da exploração, em outros, ainda, a educação dada as crianças tinha por objetivo eliminar as suas
inclinações para a preguiça, a vagabundagem, que eram consideradas “características” das crianças pobres (CRAIDY E KAERCHER,
2001, p. 14).
A LDBEN no 9.394/96, disciplina que este ser figura como
sujeito de direito em vez de tratá-lo, consoante ocorria nas leis anteriores a esta, como objeto de tutela. A mesma norma proclama
pioneiramente na história da Legislação pátria a Educação Infantil
como direito das pessoas de 0 a 6 anos como dever do Estado.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Por conseguinte, a família tem que compartilhar com o Estado a educação de seus filhos; na qual ocasião, serão comtempladas
vagas em creches e pré-escolas públicas.
Em 1998, é criado o RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil), um documento que procura nortear o
trabalho realizado com indivíduos de 0 a 6 anos de idade.
Este ramo tem sido bastante questionado e tem recebido
diferentes definições com a contribuição das diversas correntes do
pensamento científico e político. Numa visão mais antropológica,
Brandão (2007, p. 07) explica que:
Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da
vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar.
Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação.
Interpretando as ideias de Brandão (2007), todos os dias e
em todos os momentos, vivenciamos a educação. Somos seres que
aprendemos; independente de espaço ou tempo, na escola, em casa,
na rua ou igreja. Em todo lugar, ocorre o processo de ensino aprendizagem. Neste contexto, tanto um quanto outro fator perante à criança estão em processo de construção e levam ao conhecimento e às
descobertas do mundo, das novidades ao seu redor.
Brandão (2007) afirma que a escola não é o único lugar
onde acontece a educação. Há várias modalidades desta. A informal
que acontece na família, passada de geração para geração, uma vez
que não há uma forma única nem um único modelo; porque cada família, cada tribo, tem o seu modo de ensinar. Há também a educação
formal que é a praticada de forma sistemática com intencionalidades
no âmbito da instituição escolar. E, a não formal que é exercida pelos
Meios de Comunicação Social, como rádios, TVs e igrejas, que oportunizam diferentes aprendizados aos sujeitos sociais.
Didonet (2003) defende que na Educação Infantil a criança deve ter acesso a todas as oportunidades e possibilidades de desenvolvimento, crescimento e aprendizagem. Esta primeira etapa da
Educação Básica é dever do Estado, que vem complementar a ação
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
da família (CF/1988, Art. 208) e deverá ser ofertada em creches e
pré-escolas para aqueles de zero a seis anos de idade; merecendo
toda a atenção do Governo com políticas públicas afirmativas e críticas no que diz respeito a uma oferta de qualidade.
Nesta mesma perspectiva, sob os princípios de uma Legislação democrática no país a, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN) nº 9. 394/96 define que:
Art.29. A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica,
tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis
anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Art. 30. A Educação Infantil será oferecida em:
I- Creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos
de idade;
II- Pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
No que se refere a estes artigos, a Educação Infantil é de
responsabilidade de todos, e cada um destes entes deve assumir
(diante das ações que lhe são atribuídas) o comprometimento com
efetivação do processo educativo; que abarca os aspectos físicos, intelectual, cultural e social, os quais são essenciais para o desenvolvimento integral das pessoas.
Nesse sentido, as escolas devem proporcionar um ambiente favorável para que os educandos tenham uma educação de qualidade e todo cuidado precípuo. Apesar de esta menção à educação e
aos cuidados não negar a automática associação de ambos.
Nos termos da LDB, Lei no 9.394/96, em seu Art. 2º:De
acordo com a LDB Lei no 9.394/96, em seu Art. 2º:
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Conforme esta afirmação regida por Lei, fica explícito o
disciplinar de que (para haver o pleno desenvolvimento do discente)
é inarredável o empenho da família, do Poder Público e de toda sociedade, nos cuidados com a educação e com todos os outros direitos
que a pessoa enquanto cidadã merece.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
O espaço desta fase da capacitação é de suma relevância
para os sujeitos; necessitando, portanto, de atenção especial, para
o desenvolvimento de aprendizagens significativas por parte dos
profissionais que nela atuam. Neste ponto, o transmissor deve criar
situações de comunicação que desenvolvam as habilidades e potencialidades da parcela alvo, sendo “[...] essencial que o educador infantil seja ‘preparado’ e ‘competente’ e essa competência se apoia pelo
menos em três fundamentos: Solido conhecimento; Disposição para
aprender; Uma certeza de que se aprende” (ANTUNES, 2004, p. 10).
Este ínterim abordado é onde atingimos o ponto central
da instrução formal; e, esta é oferecida para complementar a ação da
família, proporcionando (assim) condições adequadas de desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social, para os beneficiados.
Em consonância com Ferreira (2003, p. 10):
As famílias não procuram a instituição apenas para que proporcione a seus filhos os aprendizados definidos no currículo escolar. Elas
buscam compartilhar com os professores educadores o cuidado e a
educação de seus filhos. Esperam que estes sejam acolhidos em sua
individualidade, que comporta necessidades variadas.
As ideias de Ferreira (2003, p. 10) nos mostram que a vertente sondada é vista como um ensino de suma importância para a
classe; e, as instituições desta são indispensáveis na sociedade.
Diante desse argumento, além de todos os cuidados
que se devem ter com os envolvidos que recebem a transmissão ministrada; os estabelecimentos respeitantes devem desenvolver trabalhos educativos que possibilitem mudanças
sociais e significativas para estes englobados. Este fenômeno
deve transcorrer assim; tendo em vista o fato de que, quando
o ensino tem um grande valor em nossas vidas, ele é guardado e repassado para as pessoas em nosso redor e este se torna
inesquecível.
Os Paradigmas do Cuidar e Educar na Educação Infantil
Atualmente, este período educacional está sendo idealizado com mais seriedade. Isso é observável; uma vez que, em alguns
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
anos, as creches eram vistas somente pela ótica do cuidado: nelas,
ingressavam aqueles que somente seriam cuidados; sem haver uma
educação que favorecesse o seu desenvolvimento. Por outro viés, a
Pré-escola era vista pelo ato de educar, onde havia uma educação
coordenada. Estas descrições nos fornecem uma visão de ruptura
entre o cuidar e o educar na, então, Educação Infantil.
As ideias de Ferreira (2003) nos informam que, para ocorrer o processo de cuidado e de ensino/aprendizagem do corpo discente da melhor forma possível; é de suma importância que este percurso venha a ter uma sintonia entre quem cuida e quem é cuidado;
posto que o educar e cuidar são inseparáveis. No entendimento de
Ferreira (2003, p. 11):
Nas creches nota-se uma frequente discriminação entre “as professoras”, entendidas como responsáveis pela parte mais nobre da
educação, e “auxiliares, atendentes, serventes ou pajens”, responsáveis pela parte menos nobre, de cuidado das crianças e do ambiente.
Supostamente, as primeiras formam a mente da criança, responsabilizando-se pelas atividades ditas de aprendizagem cognitiva. Já as
outras cuidam da alimentação, da higiene, da limpeza, do descanso
e da recreação, atividades que, teoricamente, requerem menor qualificação. Como a discriminação é grande, quem educa não se propõe a cuidar e quem cuida não se considera apto para educar, como
se essa cisão fosse possível.
Para Kramer (2006, p. 74), o atendimento à criança não
é visto como uma solução para os problemas sociais. Ao contrário:
quanto mais for executado, maior resultado oferecerá. Portanto, o
lente deve ser um pesquisador; reconhecendo sempre o seu papel
na sala de aula. Isto, porque, para instruir alguém, é necessário conhecer a história de vida deste ser, quem são os seus pais, qual é a
sua cultura, o seu convívio, a sua economia. Este conjunto ajuda o
ministrador a ter um bom relacionamento com relação à educação
de sua turma.
Educar e cuidar na Educação Infantil: uma relação de integração necessária
O desenvolvimento integral do indivíduo prioriza muitos
pontos, que são fundamentais no processo da sua formação. Esses
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
ocorrem desde o seu nascimento até à fase adulta, normalmente.
Nesse sentido, Kramer (2006, p. 17) vem demostrar que o zelo com
alguém vai além de vesti-lo e alimentá-lo. Requer um amplo parâmetro de direitos respeitantes à saúde, à educação, à segurança, ao
lazer, para mencionar institutos afins considerados essenciais para
sua vida. Nesse entendimento, o RCNEI (1998, p. 24):
O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a da alimentação e dos cuidados
com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e
das oportunidades de acesso a conhecimentos variados.
Nessa perspectiva, percebe-se que velar compreende uma
atenção maior por parte dos adultos, que devem proporcionar um
ambiente interativo; respeitando os limites e as especificidades do
beneficiado, levando-nos à compreensão da articulação entre o educar e cuidar averiguados.
Com relação a esse mister, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p. 22) afirma que a prática
pedagógica nela se constitui nisso:
Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças
a serem e estarem no mundo é o grande desafio da Educação Infantil e de seus profissionais, embora os conhecimentos derivados da
psicologia, antropologia, medicina etc. Possam ser de grande valia
para desvelar o universo infantil apontando algumas características
comuns de ser das crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e diferenças.
Considerando essa amplitude, é fundamental salientar que
todos esses itens exercidos nessa fase devem ser efetivados de forma
significativa, favorecendo ao sujeito um crescimento saudável e Intelectual.
Concordando com o disciplinado na Lei do Estatuto da
Criança e do Adolescente–ECA nº 8.069 de 13 de julho de 1990, em
seu Art. 4º:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao espor-
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
te, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Diante deste contexto, além de todos os esmeros que se
deve ter com os infantes, para que eles tenham um bom desenvolvimento; é indispensável que esses recebam dos lentes uma educação
de qualidade; garantindo, deste modo, um futuro de condizente.
Os eixos norteadores “cuidar e educar” devem ser privilegiados, de maneira indissociável; compreendendo-se, portanto,
como um novo modelo de Educação Infantil — pois um eixo está
integrado ao outro; designando o ensino e o aprendizado de todos os
beneficiados, que estão inseridos no ambiente educacional. É, pois,
por meio do contato direto com outras pessoas que o infante será
capaz de se desenvolver e aprender as coisas novas do mundo a sua
volta.
Diante disso, faz-se necessário que, ao trabalhar com a
formação das crianças, chegue-se a permitir a elas os cuidados básicos, e que estes, venham possibilitar a sua aprendizagem e o seu
desenvolvimento, de maneira adequada; já que é mediante o contato
direto, com outras pessoas e com novas oportunidades, que o sujeito
será capaz de se desenvolver e melhorar o mundo a sua volta. Nesse
entendimento, Craidy e Kaercher (2001, p. 16)
A educação da criança pequena envolve simultaneamente dois processos complementares e indissociáveis: educar e cuidar. As crianças desta faixa etária, como sabemos, tem necessidade de atenção,
carinho, segurança, sem as quais elas dificilmente poderiam sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam contato
com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com
as pessoas e as coisas deste mundo e com as formas de expressão
que nele ocorrem. Esta inserção das crianças no mundo não seria
possível sem que atividades voltadas simultaneamente para cuidar e
educar estivessem presentes.
As ideias de Craidy e Kaercher (2001, p. 16) sugerem que
trabalhar com formação de menores é dar a elas os cuidados básicos
que possibilitem a sua aprendizagem e desenvolvimento, é proporcionar um ambiente educativo com condições adequadas de um ensino de qualidade; constatando-se, via essa relação inseparável entre
o conferir informação e zelar, que o escolar poderá se dispor para
conviver em sociedade onde existe uma cultura ampla.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p. 23) diz que:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam
contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica
de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.
Este par associado constitui dois eixos indissociáveis na
vida humana e escolar; tendo em vista que, assim como alguém precisa de cuidados, ele precisa de educação: pode-se dizer que quando um professor está educando, ao mesmo tempo ele está cuidando.
Para Antunes (2003, p. 21), “A escola precisa ajudar toda criança a se
autoconhecer, pois assim sentir-se-á apoiada em bases firmes sobre
as quais construirá sua vida e saberá identificar o que necessita ser
mudado e como realizar essa mudança”. O que pressupõe decisões
políticas e legais no âmbito da Educação Infantil.
Metodologia
A respeito de análises e resultados das informações coletadas pela pesquisa, bem como de discussões sobre a importância
e os desafios do educar e cuidar, vivenciados por docentes de uma
instituição pública pré-escolar da rede municipal de Benjamin Constant, a técnica de avaliação dos itens foi feita por meio de categorias
de uma forma mais específica; sendo usado, para esta, informações
obtidas em entrevista semiestruturada, questionário fechado e
observações do estágio na Educação Infantil. Conseguintemente,
após as obtenções dos registros, possibilitou-se analisar, sistematizar,
discutir as informações e agrupar os assuntos em forma de unidades
de categorias analíticas.
O educar e cuidar no contexto institucional pré-escolar na
visão docente
No cotidiano escolar da instituição pública investigada,
observou-se que os eixos norteadores da prática pedagógica na Educação Infantil (quanto ao par de ações investigadas) na Pré-escola
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
são praticados na perspectiva dos dois paradigmas: assistencialista,
onde os dois eixos são trabalhados separadamente e ora interligados,
indissociáveis com base na função pedagógica nesta etapa da Educação Básica.
A ruptura entre os dois termos é caracterizada pelas atividades praticadas na instituição pré-escolar quando as professoras
deixam as crianças irem ao banheiro sozinhas, sem acompanharem
para dar as possíveis orientações de lavar as mãos corretamente, de
como deve ser a higiene íntima das meninas e dos meninos. Situações essas que exigem práticas educativas e integradoras entre o cuidar e o educar, uma vez que a Pré-escola tem objetivos intencionais a
serem alcançados. Consoante notório, estes encaminhamentos estão
sempre juntos, servindo como parâmetros educativos no contexto
institucional pré-escolar como um todo dentro da sala de aula e em
outros espaços da escola, conforme afirma Craidy e Kaercher (2001,
p. 16):
A educação da criança pequena envolve simultaneamente dois processos complementares e indissociáveis: educar e cuidar. As crianças desta faixa etária, como sabemos, tem necessidade de atenção,
carinho, segurança, sem as quais elas dificilmente poderiam sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam contato
com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com
as pessoas e as coisas deste mundo e com as formas de expressão
que nele ocorrem. Esta inserção das crianças no mundo não seria
possível sem que atividades voltadas simultaneamente para cuidar
e educar estivessem presentes. O que se tem verificado, na prática, é
que tanto os cuidados como educação tem sido entendidos de forma muito estreita.
Mediante várias práticas de ruptura, ou estreita relação entre os eixos, buscou-se compreender qual o conceito deles que norteiam as práticas pedagógicas docentes na instituição pré-escolar.
O gráfico a seguir apresenta mais precisamente a internalização por parte das professoras acerca dos docentes acerca dos
conteúdos construídos sobre o zelar na Pré-escola. Pensamentos que
retratam a questão desse princípio imbricados aos cuidados básicos
de saúde e alimentação das classes.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Gráfico 1 - O cuidar na Educação Infantil
Fonte: Informações coletadas durante a pesquisa, janeiro de 2013.
Compreendemos que 67% das professoras afirmam que
esmero na Pré-escola está pautado em princípios básicos elementares, como lavar as mãos, escovar os dentes, tomar banho e cortar as
unhas, o que leva a uma concepção reducionista e à separação entre
os dois fatores.
Sabemos que os desvelos devem ser também relacionados
ao desenvolvimento do cidadão de maneira integral. Craidy e Kaercher (2001, p. 16) declaram:
Cuidar tem significado, na maioria das vezes, realizar
as atividades voltadas para os cuidados primários: higiene, sono,
alimentação. Quando uma sociedade faz exigências de trabalho
às mães e aos pais de crianças pequenas (ou a outros adultos que
sejam responsáveis por elas), tem a obrigação de prover ambientes
acolhedores, seguros, alegres, instigadores, com adultos bem
preparados, organizados para oferecer experiências desafiadoras e
aprendizagens adequadas às crianças de cada idade.
No cotidiano pré-escolar, foi possível perceber pouquíssimas atividades docentes de forma em que as ações encontravam-se
articuladas, destacando-se aquelas em que professoras são mais ativas
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
e que apresentam ter um conhecimento um pouco mais aprofundado sobre a Educação Infantil; e, pelo desenvolvimento de atividades,
como música, pintura trabalhados de forma mais interdisciplinar;
atendendo o desenvolvimento integral das turmas.
As brincadeiras na Pré-escola cooperam como uma forma específica de aprendizagem do ser em amadurecimento: A esse
respeito, define Antunes (2004, p. 31) que “Brincando a criança desenvolve a imaginação, fundamenta afetos, explora habilidades e, na
medida em que assume múltiplos papéis, fecunda competências cognitivas e interativas”. Poucas são as tarefas nesse prisma orientadas e
aplicadas pelas docentes; o que caracteriza um certo desrespeito com
o processo de desenvolvimento na Educação Infantil.
O cuidar e educar são elementos a entranhar-se na ação pedagógica, para estabelecer uma visão integrada do desenvolvimento
da criança, com base em concepções que respeitem a diversidade, o
momento e a realidade peculiar da infância. Esse processo requer
um esforço significativo, e precisamos estar conscientes da necessidade e da busca de novos caminhos para novas transformações.
No entanto, o processo de cuidado e de ensino-aprendizagem é
muito mais efetivo e prazeroso quando há uma real sintonia entre
quem cuida e quem é cuidado, entre quem ensina e quem aprender, em que o professor educador é capaz de perceber o momento
da criança, de proporcionar condições que a acolham e motivem,
envolvendo-a e compartilhando com ela atividades variadas [...]”.
(FERREIRA, 2003, p. 12)
Ao tentar, conhecer por meio do questionamento, a relação do trabalho educativo do docente na pré-escola de maneira integrada com a família e de como o educador articula o seu trabalho
pedagógico na pré-escola com a família das crianças, 83% dos entrevistados responderam que é um grande desafio, ficando mais a cargo
da gestão escolar e da coordenação pedagógica, conforme relata a
professora (Ruiz, Entrevista, 2013):
No ano de 2012, a coordenação ajudou muito com relação a este
tema, havia bastante reunião para os pais, promoveu projetos que
envolvia a participação das crianças e dos pais. Geralmente essas reuniões tratam dos comportamentos das crianças, do nosso trabalho
na escola e da colaboração da família com o processo educativo1.
1 Padrão de apresentação das falas dos sujeitos envolvidos na pesquisa
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
O educar e cuidar na pré-escola envolve uma interação
indispensável com a família, pois a criança precisa se sentir importante em ambas as instituições Sociais: família e escola para então
consolidar os aspectos de desenvolvimento integral, ou seja, o aspecto afetivo-emocional é definidor para a segurança, conquistas e
desenvolvimento de potencialidades e habilidades da criança, e para
isso Antunes (2004, p. 145) afirma que:
Toda criança, ainda que não revele, adora sentir que seus pais a reconhecem como pessoa única, indivíduo distinto e que se mostram
dispostos em cooperar para que explore seus próprios recursos,
vença devagarinho seus medos e orgulhem-se de suas conquistas. O
amor que se recebe, o exemplo que se colhe e a educação que se propicia, nessa ordem, são seguramente as mais importantes heranças
desejadas por um filho em seu crescimento.
A relação entre a família e a escola deve ser construída
através de relações e parcerias, pois, quando há uma comunicação
clara e verdadeira, o beneficiamento será maior para a criança. Desta
forma, salientamos que 100% dos entrevistados responderam que a
escola promove festas com a participação dos pais, alunos, professores e funcionários.
Os espaços físicos, os materiais didáticos e tecnológicos
na pré-escola também se configuram como dimensões essenciais no
desenvolvimento de ações pedagógicas integradoras, neste sentido,
buscou-se identificar os tipos de recursos dispostos na instituição
que auxiliam os professores em suas tarefas de educar na pré-escola.
Os recursos didáticos, materiais e tecnológicos na
pré-escola
A criatividade no cotidiano educativo pré-escolar é o recurso considerado como definidor de práticas pedagógicas docentes
na perspectiva da qualidade na Educação Infantil, pois a pré-escola
não dispõe de materiais didáticos para suprir a necessidade de um
trabalho integrado com as crianças, os poucos materiais disponíveis
são comprados pelos pais, como por exemplo, papel ofício, giz de
cera, lápis e borracha.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Os poucos materiais didáticos são preparados pelas professoras, como livros, brinquedos, cartazes, elas fazem isso, para que
o ensino não se torne tão cansativo e monótono para as crianças,
tornando, assim, um ambiente um pouco mais agradável, prazeroso,
estimulante para a interação das crianças.
O recurso tecnológico, no tocante à informatização (computadores, internet) para a Educação Infantil, consolida ainda mais o
descaso, a discriminação para com este segmento escolar pelas políticas públicas educacionais, enfatizado pelo depoimento de uma das
professoras a seguir:
Houve uma entrega de notebook para os professores, mas a educação
infantil não teve este privilegio, por que disseram que os professores
de educação infantil não tem necessidade. Sabemos que o notebook
é uma ferramenta, que podemos usar de várias maneiras, sendo um
recurso didático novo para algumas crianças (ALVES, Entrevista,
2013).
A exclusão social das crianças repercute pela exclusão das
educadoras, onde a criança é considerada como um objeto e não
como um sujeito de direito em processo de formação. Ora, vivemos
em uma era da comunicação cuja tecnologia evolui rapidamente e
que em muitas situações contribui significativamente com a qualidade de vida das pessoas, e se as propostas pedagógicas infantis devem
formar cidadãos atuantes na sociedade, as crianças precisam também ter contanto e manusear os recursos tecnológicos para então,
aprenderem e internalizarem bases cognitivas de conhecimentos.
A educação infantil é uma etapa de suma importância para
a vida de uma criança, pois os professores devem trabalhar de forma
com que venham desenvolver capacidades e habilidades para que a
criança se torne um cidadão com competência e potencial para viver
na sociedade, mas para isso, a pré-escola exige uma diversidade de
materiais concretos, afinal as crianças estão numa fase classificadas
por Piaget (apud BOOCK, 1999) de operatório concreto em que elas
aprendem manuseando, construindo, manipulando, agindo e interagindo com o meio e com os objetos.
Percebe-se que 100% dos entrevistados responderam que
são usados diferentes recursos pedagógicos em sala de aula como
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
jornais, revistas, livros diversos, mas, que é difícil porque a instituição não dispõe de um espaço físico adequado para organizar e guardar os materiais.
Salientamos que 83% dos professores afirmaram que suas
salas de aula são organizadas de acordo com o tipo de atividade realizada, mas que nem sempre isso é possível de se fazer pela questão
da infraestrutura da escola, a qual precisa ser ampliada para que se
possam desenvolver atividades educativas mais integradas.
As estruturas das salas de aulas são muito estreitas, o que
dificulta a locomoção das crianças e da professora, dificultando também a realização das atividades e isso faz com que os alunos tropecem uns nos outros, implicando negativamente nas ações do educar
e cuidar em sala de aula, uma vez que os espaços físicos são fundamentais na pré-escola para o desenvolvimento de ações educativas
de qualidade, os
Ambientes físicos escolares de qualidade são espaços educativos
organizados, limpos, arejados, agradáveis, cuidados, com flores e
árvores, móveis, equipamentos, e materiais didáticos adequados
á realidade da escola, com recursos que permitam a prestação de
serviços de qualidade aos alunos, aos pais e a comunidade, além de
boas condições de trabalho aos professores, diretores e funcionários
em geral (BRASIL, 2004, p. 43).
A maior parte dos materiais didáticos para o trabalho
docente na pré-escola encontra-se fixados nas paredes, como por
exemplo, imagens e símbolos, o alfabeto, cartaz do tempo, dias da
semana, numerais, painéis dos aniversariantes, as vogais, proporcionando apenas o contato visual pelas crianças. Esses materiais são
utilizados como método de aprendizagem que têm sua importância
para o desenvolvimento da imaginação da criança.
Considerações Finais
Como contribuição a pesquisa traz reflexões sobre o papel
dos educadores na educação infantil, com relação ao educar e cuidar e podemos dizer que esta alcançou seus objetivos, assim como
a identificação do paradigma de educação infantil de acordo com a
prática pedagógica docente.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Como resultado, destacamos que a Educação Infantil apesar de ter grandes avanços, precisa ser mais valorizada, tanto pelos
dirigentes maiores da sociedade, tanto pelos dirigentes maiores, sociedade como pelos professores que atuam nesta área, caracterizado
as dificuldades vivenciadas pelos docentes na pré-escola, uma instituição adequada conforme a faixa etária da criança que garanta
a qualidade deste ensino, mas que tem falta de recursos matérias e
financeiros.
Desta forma, percebe-se que o cuidar e educar são elementos a entranhar-se na ação pedagógica, para estabelecer uma visão
integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções
que respeite a diversidade, o momento e a realidade peculiares da
infância. Esse processo requer um esforço significativo, e precisamos
estar conscientes da necessidade e da busca de novos caminhos para
novas transformações.
Referências
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aula como um espaço do crescimento integral. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Prática Docente no Ensino da Matemática:
Diferentes Concepções e Olhares
Edson Franco Felix
Maria Francisca Nunes de Souza
Sebastião Melo Campos
Introdução
A Matemática, como ciência, desempenha um papel fundamental no mundo científico e na sociedade, por isso está cada vez
mais presente na vida das pessoas. No campo da educação, esta ciência possibilita, particularmente, aos alunos do nível Fundamental o
desenvolvimento do pensamento lógico, intuitivo e racional. Exerce influência, principalmente, sobre a aquisição de postura crítica,
o aguçamento da imaginação, o desenvolvimento da criatividade, a
melhoria da intuição, o incentivo à iniciativa, a capacidade de resolver problemas, de criar modelos, de fazer simulações e de interpretar
dados.
Qualquer educador que está no processo de ensino aprendizagem deve descobrir como se produz conhecimento em determinadas áreas de educação, por exemplo, a disciplina de Matemática que é um desafio para os discentes. Assim, a atitude do docente
precisa ser de construir conhecimentos com os discentes utilizando
as diversas fontes possíveis de conhecimentos no campo da Matemática, conforme o interesse destes discentes para não os limitar a
recebê-las de maneira pronta e acabada, e sim ir à busca de novos
recursos pedagógicos que possam favorecer o desempenho dos alunos pela disciplina.
A Matemática está focada em todas as áreas de conhecimentos, como na disciplina de ciências, português, biologia, história
e outros, ou seja, está direta ou indiretamente em nosso meio.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Prática docente no Ensino da Matemática: Diferentes concepções e olhares.
Ao decorrer da observação em sala de aula, pode se entender que a prática docente no ensino da disciplina de Matemática
é uma matéria que ainda não desperta interesse para os discentes.
Mediante de livros bibliográficos consultados, pode-se compreender
que a Matemática parece ser um bicho de sete cabeças para os discentes. O aluno não tem a oportunidade de se expressar, apenas recebe
informações transmitidas pelo professor/a, o ensino era transmitido
pelo docente através do quadro branco e livros didáticos.
Como diz Mizukami (1986, p. 8):
O ensino, em todas em suas formas, nessa abordagem, será centrada
no professor. Esse tipo de ensino volta-se para que é externo ao aluno: o programa, as disciplinas, o professor. O aluno apenas executava prescrições que lhe são fixadas por autoridade exterior.
Nessa abordagem, podemos compreender que o aluno não
tinha voz e nem vez de falar, ele apenas escutava e memorizava as
atividades, o professor era o centro das atenções de tudo, somente
a opinião dele prevalecia. O docente age assim, porque acredita que
o conhecimento pode ser transmitido para o aluno dessa forma. Ele
acredita no mito da transmissão do conhecimento, conhecimento
como forma de estrutura. De acordo com Becker (2001, p. 15-16),
na pedagogia diretiva:
O professor gritara para um aluno, xingará outra aluna até que a
palavra seja monopólio seu. Quando isso acontecer, ele começará a
dar aula. Como é essa aula? O professor fala, o aluno escuta. O professor dita, e o aluno copia. O professor decide o que fazer, e o aluno
executa. Falaria como Paulo Freire, em pedagogia do oprimido. Por
que o professor age assim? Muitos dirão: por que aprendeu que é
assim que se ensina.
Segundo Becker (2001, p. 16) “um professor diz que o conhecimento se dá à medida que as coisas vão aparecendo e sendo
introduzidas por nós nas crianças.”
Ainda continua Becker: “Outro professor diz: o conhecimento “é transmitido assim; através do meio ambiente família, percepções, tudo.”
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Os conhecimentos a serem adquiridas pelas crianças se
dão primeiramente na família, ela vai aos poucos se adaptando com
as culturas e costumes que a cerca, também pelo conhecimento do
ambiente familiar onde está vivenciando o seu desenvolvimento psicológico, pois conhecimento é transmitido de várias formas, depende de cada família, o tipo de educação que lhe oferecem, em seu ambiente familiar que sempre estão direcionados a novos olhares vindo
de ambas as parte para o ensino e aprendizagem dos seus filhos.
Cada família tem sua cultura dentro de uma abordagem
conhecedora pelos seus antepassados, vindo de geração em geração,
sendo valorizado pelos filhos, netos, bisneto e tataranetos, sempre
desenvolvendo construção e organização pessoal de sua realidade.
Para Becker (2001, p. 29):
A abordagem Humanista é uma abordagem de relações interpessoais e ao crescimento que dela resulta, no desenvolvimento da
personalidade de cada indivíduo, no seu processo de construção e
organização pessoal da sua realidade, e em sua capacidade de atuar,
como uma pessoa integrada.
Neste pensamento, o docente deve assumir a função de
facilitador da aprendizagem, onde ele/a estará em contato com os
problemas vitais que tenham repercussão em sua existência. Cabe
ao docente compreender que deve ser um facilitador da aprendizagem dos alunos, pois é o docente que vai despertar o interesse ao seu
aluno pela a Matemática. Para Muzikami (1986, p. 38); “O professor
em si não transmite conteúdo, dá assistência, sendo um facilitador
da aprendizagem. O conteúdo já advém das próprias experiências
dos alunos”.
Os conteúdos dados em sala de aula precisam partir da
experiência familiar vivida do aluno conforme sua realidade, dessa
forma, o discente possa reestruturar e agir com interesse na disciplina que está sendo estudada, socializando com a realidade deles com
uma nova prática de ensino.
O docente é um auxiliar do discente, um facilitador, o aluno já traz um saber que ele precisa, apenas, saber organizá-lo, ou
ainda, rechear de conteúdo o seu saber trazido do seu cotidiano.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Quanto a uma prática pedagógica centrada numa abordagem sociocultural, o docente procura desmitificar e questionar com
o discente a cultura dominante, valorizando a linguagem e cultura
deles, dando oportunidade a cada aluno produzir sua cultura.
Segundo Mizukami (1986, p. 99), “para que o processo
educacional seja real, é necessário que o educando, por sua vez, se
torne educador, pois enquanto essa relação não se efetiva, não haverá
educação.
Quando um docente passa a assumir uma sala de aula, ele
tem que ter a consciência do seu objetivo perante um ambiente escolar, pois, ali ele/a vai passar a lidar diariamente com várias pessoas de
diversas culturas, os seus alunos irão esperar do professor incentivo
no desenvolvimento do ensino e aprendizagem tornando em si mesmo um educador.
Uma educação social nas escolas vem valorizar compreensões adequadas da Matemática que correspondem aprendizagem de cada
um. “No entanto, apesar dessa evidência, tem se buscado, sem sucesso, uma aprendizagem em Matemática pelo caminho da reprodução de procedimentos e da acumulação de informações”. (PCNs,
1997, p. 38).
O docente tem que deixar de reproduzir os conhecimentos
da matéria de Matemática de maneira mecânica, rígida, sem levar os
conhecimentos sociais e culturais dos discentes. Diante da presença
dos alunos, o docente deve ser um pesquisador da realidade de vida
dos seus alunos. Provocando desafios, mexendo com seus psicológicos perante dinâmicas, jogos, brincadeira que estejam relacionadas
com a disciplina dada, oficinas, debates e outros através de jogos de
matemáticas irá ser desenvolvidos raciocínios com rapidez e conhecimentos de regras por parte da turma.
É importante considerar que a aprendizagem é a razão
fundamental da educação escolar, onde busca melhor resultados do
desempenho intelectual no processo de ensino e aprendizagem.
A prática educativa da Matemática com diferentes olhares
vem nos favorecer uma prática desafiadora tanto para os discentes
como aos docentes, porque os docentes não está apitos a novos métodos, e isso passa a ser desafia para a escola.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Portanto para que possa haver novos olhares na prática pedagógica docente do ensino da Matemática, a escola tem que
primeiramente quebrar com esse tabu, fazendo isso iremos dar um
grande passo ao ensino e aprendizagem principalmente na disciplina de Matemática, despertando força de vontade tanto nos discentes
como nos docentes.
O Ensino da Matemática e a dificuldades de Aprendizagem.
O ensino da Matemática caracterizou-se pela memorização e mecanização, também conhecido como na primeira abordagem “ensino tradicionalismo”. Com isso, se exigia do aluno que decorasse demonstrações de teoremas memorização e praticasse listas
com enorme quantidade de exercícios a ser cumpridos.
Segundo Mizukami (1986 p. 36) O “ensino renovado” em
face de se ter verificado que não era nas tarefas de cálculo que os
alunos tinham os piores resultados, mas sim nas tarefas de ordem
mais complexa, que exigiam algum raciocínio, flexibilidade e espírito crítico.
A disciplina de Matemática infelizmente ainda hoje em
pleno século XXI continua sendo considerada a grande vilã dentre
as áreas do conhecimento.
Podemos notar que a disciplina de Matemática na escola
ainda são problemas que poderão não ter respostas claras ou simples, mas poderá ter discussão servindo como aspecto facilitador
com, por exemplo, o aproveitamento dos conhecimentos que os alunos trazem de casa. O docente deve ancorar estas experiências dos
alunos aos conteúdos que o professor pretende ensinar nesta disciplina usando a criatividades e imaginação.
Dentro esses aspectos destacam-se a importância do conhecimento prévio do aluno como ponto de partida para o aprendizado de
trabalho com deferentes hipóteses e representações que as crianças
produzem, da relação a ser estabelecidas entre a linguagem matemática e a linguagem materna do uso de recursos didáticos como
suporte a ação reflexiva do aluno (PCN, 1997 p. 79).
Neste Sentido, Paulo Freire diz que o verdadeiro educador
precisa valorizar os conhecimentos e experiências dos discentes. As
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
atividades são executadas a parti das atividades tendo um objetivo de
despertar nos discentes interesses pela matéria, para que isso possa
ocorrer depende muito da metodologia trabalhada. Como nós sabemos a disciplina de Matemática e mais uma das matérias que prepara os alunos para Olimpíadas da Matemática. Como diz Stopassol
(1997, p. 110):
Precisamos então, valorizar a inteligência de nossos alunos, trabalhando com criatividades ambíguas, complexas, com desafios, fazer
com que eles se tornem sensível ao estimulo do ambiente, sejam capazes de adaptarem-se as mudanças e consigam resolver problemas
não convencionais.
Atualmente temos bastantes discussões sobre educação. As
escolas são ambientes que possibilitam uma educação de aprendizagem, visto que os discentes irão aprender o segredo da escrita do
cálculo, dos jogos de sinais e muitos mais que virão.
O professore e pesquisador Garding (1997, p. 8) afirma
que: “Os discentes têm dificuldade de fato, eles têm dificuldades até
mesmo com os modelos mais simples e com relações diretas com a
realidade”.
A Matemática é à base de todas as outras matérias, por que
ela vem dar suporte às linguagens Matemáticas, possibilitando um
raciocínio lógico para as demais disciplinas.
Neste sentido a importância da Matemática é um processo de aprendizagem na educação escolar. “[...]” “A consequência dessa visão em
sala de aula é a imposição autoritária do conhecimento matemático
por um professor que, supõe-se dominar e transmite a um aluno
passivo, que deve se moldar a autoridade da perfeição científica.”
(CARVALHO, 1994, p. 15).
Desta forma percebe - se que a disciplina de Matemática,
vem mexer bastante com os discentes. Todo educador dependendo
da área que atua tem que desenvolver metodologia que favoreçam
educação de qualidade onde possa mexer com o psicológico dos seus
alunos, focando sempre em novas ferramentas, que possam despertar interesse no aluno pela disciplina de Matemática.
Entretanto, a aprendizagem da Matemática com as crianças é muito mais difícil do que com os adultos, ao trabalhar com
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
criança o docente tem que desenvolver vários métodos, ir à busca de
novas ferramentas pedagógicas que possam ser coisas novas na vida
deles, e aos poucos os alunos iram compreender a importância da
matemática em sua vida.
A Matemática deve ser aprendida por todos os educandos
não importa a raça, cor, sexo, situação social e econômica, o que importa que todos aprendam da mesma forma que os outros, passando
a ter interesse pelo campo da Matemática desenvolvendo conhecimentos necessários para vida deles, tais conhecimentos devem ser
aplicados no seu cotidiano.
A prática pedagógica do docente no Ensino da Matemática
Os sujeitos desta pesquisa foram os discentes, e docente.
Para que, os resultados desta pesquisa fossem mais ricos e qualitativos relacionados à prática pedagógica do docente na disciplina de
Matemática foram aplicados questionários aos discentes e docentes.
Na turma onde foi feita a observação, tem uma demanda
de trinta e sete (37) alunos, sendo que vinte e três (23) meninos e
quatorze (14) meninas, apresentando a faixa etária de nove (09) a
dez (10) anos, residentes de vários bairros como: Colônia, Coimbra,
Centro e outros.
Havia uma (01) professora atuando na turma do 4º ano, a
docente com chuva ou sem chuva estava presente em sala de aula.
Isto é, os alunos também se encontravam presente todos os dias.
Os alunos mostravam-se bem agitados na maioria das vezes incomodava em sala de aula a agitação deles, principalmente na
disciplina de Matemática, por sua vez a docente não trabalhava todos os conteúdos que pretendia executar em aula, devido à inquietação deles e também a maioria copiam devagar do quadro e do livro
didático.
Observou-se no decorrer da atividade de observação participativa que a maioria dos discentes demonstrava a insatisfação com
as atividades que a docente desenvolvia em sala de aula que eram
através de exercícios dos livros didáticos e cópia no quadro. As atividades realizadas pela docente não chamavam atenção dos discen- 175 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
tes. Os discentes não se preocupavam em ficarem atentos nas ações
pedagógicas da professora. Os discentes falavam ao mesmo tempo e
quase sempre a docente chamava a atenção dos mesmos.
Durante as observações constatou-se que os alunos falavam sobre outros assuntos, riam, questionavam, e ofendiam os colegas verbalmente, fisicamente, reclamavam do espaço e do comportamento de alguns, e sempre a docente ficava chamando a atenção de
todos para se concentrarem na aula.
Nas figuras 1 e 2 podemos constatar a docente chamando
atenção dos seus alunos, também fazendo com que ele participe das
atividades em sala.
Figura 1-2: Turma II do 4º ano do Ensino Fundamental
Fonte: Felix. 2013.
Na imagem 1 e 2 podemos observar a docente conversando com seus alunos, haja vista que se notou as cadeiras em sala de
aula organizadas enfileira. Sob as carteiras estavam os livros didáticos e caderno. Também se constatou que nessas imagens a docente
trabalhou na abordagem tradicional.
Segundo Libâneo (1982, p. 12) indica que: “essa abordagem como pedagogia liberal em sua versão conservadora, enfatizando que o papel da escola é de informação intelectual e moral dos
alunos, para que estes possam assumir o seu papel na sociedade”.
Hoje, embora exista um grande esforço em superar o ensino tradicional ainda encontramos práticas pedagógicas nas salas de
aula reproduzindo conteúdo dos livros didáticos com aulas expositivas centradas na figura do professor, induzindo o aluno a condição
de elemento passivo e não atuante em seu processo de desenvolvimento intelectual.
- 176 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
A docente adotou em seu método de trabalho os livros didáticos que a escola oferece e, às vezes traz alguns livros de sua casa
para trabalhar em sala com os alunos, através de leituras e interpretação de texto. Quando questionado se a professora trabalha com
metodologias diferenciadas na disciplina de Matemática. Os sujeitos
pesquisados responderam.
Gráfico 01: Resposta dos discentes
Neste gráfico, 90% dos discentes responderam que às vezes
a docente trabalha com outro tipo de metodologia que possam despertar interesse pela disciplina de Matemática. Enquanto 7% disseram que a professora sempre trabalha com outras metodologias e 3%
marcaram que nunca ela traz outro tipo de metodologia que possam
despertar interesse neles pela disciplina de Matemática.
Podemos perceber que a maioria dos discentes falaram que
a docente traz novos método de trabalho para sala de aula, mas isso
não é o suficiente para despertar o ensino e aprendizagem deles pela
disciplina de Matemática. Cabe ao docente trabalhar com materiais
didáticos da realidade do aluno, desenvolvendo o interesse de todos
pelos conhecimentos matemáticos.
A docente “X” da turma do 4ª ano do Ensino Fundamental
não desenvolvia o seu planejamento de acordo com as dificuldades
dos seus alunos encontrada em sala de aula, em seu planejamento
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
a mesma tinha como recursos metodológicos os livros didáticos da
escola.
No que diz respeito às avaliações eram feitas através de
exercícios copiados no quadro branco, em livros didáticos pedagógicos, a interação da participação deles em sala de aula. Vale ressaltar
que a docente dava o visto no caderno, porém percebeu que os discentes não gostavam desse tipo de avaliação. De acordo com Ambrósio (2007, p. 66) diz que:
Avaliação está ligada à filosofia da educação. É interessante notar
que o fenômeno aprendizagem é reconhecido em todas as espécies
e relaciona-se a capacidade de sobrevivência. No homem não diferente. Aprende-se a respirar, a comer, a andar e assim por diante.
Portanto, a docente tem que rever a sua forma de avaliação
com os seus alunos, para que todos possam participar das atividades
dentro e fora da sala de aula. A mesma tem que desenvolver avaliação dos seus alunos trabalhando com uma prática inovadora em que
possam despertar interesse de todos discentes pela disciplina.
Formação docente no Ensino da Matemática
Acredita que a formação docente é algo primordial para
quem atua como professor e vem ser uma possibilidade para conhecer novas técnicas de ensino como teoria e prática, também é uma
forma para que eles tenham uma visão sobre os assuntos que vem
surgindo a cada dia no processo educativo na sua formação.
Segunda a educadora da turma do 4º ano diz que; tem doze
(12) anos de experiência na educação, é graduada em Pedagogia, tem
a especialização em Psicopedagogia, trabalha a 4 anos na Escola Estadual Professora Rosa Cruz.
Podemos perceber que docente X do 4º ano do Ensino
Fundamental estar qualificada na área da Educação, pois a mesma
está trabalhando em sua área de especialização. Segundo a fala da
Professora: “Contribuir com as crianças vem ser bem gratificante
para sua carreira, é através deles que devemos ter novos olhares para
o ensino e aprendizagem”.
De acordo com Menezes (apud: OLIVEIRA, 2010, p. 31)
salienta que: “Compreendemos que a formação de educadores re- 178 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
quer trilhar novos caminhos, dentre os quais, o caminho da esperança, da busca de novos conhecimentos, o caminho da ética, do
comprometimento, da responsabilidade dentre tantos caminhos”.
A formação é uma prática que serve como o aprimoramento de conhecimentos para a qualificação de cada docente para
sua profissionalização, é um suporte para a conquista de um novo
aprendizado, obter novas informações e esclarecimentos a respeito
das novas técnicas de ensino como melhoria da qualificação profissional no diz respeito ao ensino-aprendizado dos discentes, podendo
executar os conhecimentos adquiridos no contexto da sala de aula,
contextualizando com a realidade deles. Conforme vele ressaltar o
que Libâneo (2005, p. 38), fala que:
“[...]” O curso de pedagogia deve formar pedagogo stricto sensu,
isto é, um profissional qualificado para atuar em vários campos
educativos para atender demandas sócio-educativas de tipo formal
e não-formal e informal, decorrentes as novas realidades- novas
tecnologias, novos atores sociais, ampliados das formas de fazer,
mudanças nos ritmos da vida, presença dos meios de comunicação
e informações, mudanças profissionais, desenvolvendo sustento,
preservação ambiental – não apenas na gestão, supervisão e coordenação pedagógica de escolas, como também na pesquisa, na administração dos sistemas de ensino,”[...]”
Para que possamos ser educadores, temos que ter formação em diversas áreas de conhecimentos, a formação possibilita novos olhares para educação levando a curiosidade a diversos fatores.
Os educadores da disciplina de Matemática devem fazer
uma reflexão contínua sobre a sua visão de mundo e ação no mundo,
atitudes como cidadão e como educador. Por outro lado, deve envolver a cultura na disciplina de matemática no que se refere à formação
dos conceitos matemáticos vistos de diferentes pontos de vista como
da história, de vida dos alunos, como é a vivencias deles na família e
entre outros.
No entanto os professores são os que realmente conseguem
desenvolver ações que fazem vários cidadãos contribuírem positivamente na sociedade em que está convivendo. No qual, muitos valorizam bastante aqueles professores que fizeram a diferença em suas
vidas, pois, eles são os mestres que se responsabilizam em mediar
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
conhecimentos para todos aqueles que acreditam em um País melhor para si e para todos os outros cidadãos existentes.
Considerações Finais
Para que o professor tenha uma prática pedagógica que
possa favorecer no ensino e aprendizagem dos alunos na disciplina
de Matemática, não vai depender somente do educador, e sim de
uma parceria que possa envolver a escola juntamente com a política
pública do município onde está inserida a escola.
Portanto, a escola juntamente com os membros que compões a mesma, devem trabalhar novos conceitos de metodologia
pedagógicas, despertando os interesses dos alunos pelas disciplinas
especialmente de Matemática, através de elaboração de jogos, dinâmicas, brincadeira, filmes, documentários, vistas a outro ambiente e
outros métodos que favoreçam um ensino e aprendizagem de qualidade aos alunos a onde eles possam construir conhecimentos inovadores para sua vida.
Trabalhando dessa forma, o professor estará levando em
conta a experiência de vida acumulada pela criança na interação
com o seu meio social, além de oferecer condições para que a própria
criança vá construindo seu conhecimento através do contato direto
com o objeto de estudo sob a orientação do professor.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Temas transversais na educação:
o cinema em São Paulo de Olivença/AM
Josenildo Santos de Souza
Maria Auxiliadora dos Santos Coelhos
Michel Justamand
Renan Albuquerque
Introdução
Este trabalho é resultado de atividades do projeto “Curso
de capacitação sobre o uso do cinema como instrumento de articulação de temas ambientais e pluralismo cultural no ensino fundamental no município de São Paulo de Olivença/AM”, desenvolvido
junto a Universidade Federal do Amazonas, por meio da Pró-Reitoria de Extensão - PROEXT. Com o projeto, buscou-se possibilitar aos
educadores repensar sua prática pedagógica com o uso do cinema,
como instrumento que permeia o cotidiano do educando. Além de
fortalecer as atividades de ensino, pesquisa e extensão, estimulando
a circulação das novas tecnologias, neste caso, o cinema voltado para
os temas do meio ambiente e pluralismo cultural no processo educacional formal e não-formal.
O projeto originou-se das atividades desenvolvidas por
meio de projetos de extensão “Dias de Cinema e Vídeo na UFAM/
INC/BC-UFAM” em 2006-1 e 2007; “Cine Club Itinerante/INC/BC-UFAM” em 2008-2, onde foi constatado o problema da desconexão
dos temas transversais sobre meio ambiente1 e pluralismo cultural2
nas escolas com a realidade dos educandos, bem como a necessidade
de incorporar o cinema como instrumento de intervenção didático
1 Por ambiente, seguimos o entendimento de Enrique Leff (2001, p. 17), para quem o
“ambiente não é a ecologia, mas a complexidade do mundo; um saber sobre as formas de
apropriação do mundo e da natureza através das relações de poder que se inscreveram
nas formas dominante de conhecimento”.
2 Edgar Morin (2001, p. 56), considera que “a cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que
se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência
da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social”.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
pedagógica para conteúdos relativos ao desenvolvimento local, em
uma sociedade cada vez mais influenciada pelos produtos da indústria cultural.
Cinema e educação no ensino fundamental
O cinema foi transposto para educação, por oferecer um
suporte criativo da sensibilidade estética nos processos de aprendizagem, notadamente no que diz respeito à utilização dos produtos cinematográficos no ensino em todas as áreas do conhecimento. Entretanto, necessita ser direcionado, planejado e articulado no
currícular vigente no ensino básico. Aos temas transversais do meio
ambiente e pluralismo cultural, em se tratando de cultura popular, os
filmes possibilitam uma aprendizagem dos modos de conduta, hábitos, tipos físicos reproduzidos por meio dos personagens, pois
filmes inspiram no mínimo tanta autoridade cultural e legitimidade
para ensinar papéis específicos, valores e ideais quanto locais mais
tradicionais de aprendizagem, tais como escolas públicas, instituições religiosas e a família. (GIROUX apud SETTON, 2004, p.133).
O cinema possibilita aprendizagem para crianças, jovens
e adultos, sejam em aldeias, sejam nos grandes centros metropolitanos, ele permite o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e
competencias pessoais e sociais, que amplia os horizontes de cultura
e de participação no exercicio de cidadania nos dias atuais, conforme
Pfromm Netto (2001). Já o valor pedagogico do cinema para a formação integral dos individuos, seja no aspecto individual ou coletivo contribuindo para suscitar discussões dos problemas da realiddee
local no bioma amazônico (MUNHOZ, 2007) .
Estes recursos, devem ser usados no contexto de sua articulação com conteúdos interdisciplinares como o meio ambiente e
pluralismo cultural, para Pfromm Neto (2001). Segunto o autor, os
alunos do ensino fundamental, estão mais expostos ao bombardeio
não orientado das mídias tradicionais como rádio, televisão e vídeo.
No caso do cinema, estes conteúdos podem ser absorvidos de forma
mais eficiente. O cinema pode ser empregado na formação contiunada de educadores e profissional da educação a serviço da preparação
e do aperfeiçoamento e atualização de profissional.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
O embasamento teórico metodológico ao uso do cinema
em sala de aula teve apoio em Duarte (2002), Napolitano (2005),
Pfromm Netto (2001), Silva (2007), Teixeira (2008) que reconhecem
o cinema como uma dimensão pedagógica educacional com implicações metodológicas envolvendo filmes.
Napolitano (2005)
prescreve uma série de estratégias de uso, escolha, debates e abordagens temáticas dos conteúdos disciplinares relacionado a filmes
e documentários. Entretanto, José Moran (apud NAPOLITANO,
2005) alerta para os usos inadequados do cinema e vídeo no ambiente educativo escolar, para suprir a ausência de professores em sala de
aula.
A metodologia seguiu as propostas de Napolitano (2005)
ao uso do cinema, pois mostra a importância e o planejamento estratégico básico necessário, com ênfase no conteúdo fílmico em temas
transversais para a utilização da linguagem cinematográfica em sala
de aula, inclusive com indicação de filmes. Já para Pfromm Netto
(2001) as pessoas aprendem por meio dos filmes quando usados de
modo adequado e apropriado, são capazes de reter o que visualizaram em menos tempo, pois os filmes tendem a estimular o pensamento crítico e a solução de problemas da realidade local.
Desta maneira, os filmes exibidos no curso de capacitação
foram selecionados principalmente a partir da indicação de Napolitano (2005), Silva (2007) e Teixeira (2008) que possibilita um olhar
crítico de trabalhar e perceber o filme como instrumento metodológico e pedagógico para desdobramento de atividades interdisciplinares envolvendo os temas ambientais e de pluralismo cultural.
Cinema e Educação no Município de São Paulo de
Olivença/AM.
Ao longo da história o município de São Paulo de Olivença
recebeu muitas denominações até chegar ao nome atual. Entre as
várias denominações, no final do século XVII, inclui-se a de “São
Paulo Apóstolo”, depois Aldeia de São Paulo dos Kambebas. Inicialmente, a área territorial estava integrada ao município de Tefé, do
qual é posteriormente desmembrada. Em 1882, elevada à vila, a an- 185 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
tiga Aldeia de São Paulo dos Kambebas passa a denominar-se São
Paulo de Olivença, como sede do município do mesmo nome. Seu
território original experimenta vários desmembramentos, dando
origem aos municípios de Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá
e Amaturá.
Fig. 1. Foto mostrando a vista da frente da cidade
Fonte: Curso de capacitação sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio
ambiente e pluralismo cultural no ensino fundamental do Alto Solimões. Foto. Souza, J. S.
São Paulo de Olivença, 2011.
A cidade de São Paulo de Olivença foi sede da prefeitura
Apostólica, hoje Diocese do Alto Solimões. Finalmente, a denominação São Paulo de Olivença, segundo Otaviano de Melo, na Obra
Topônimos Amazonenses, foi o nome dado pelo coronel Joaquim
de Melo e Póvoas, em 1759, em reverência a cidade portuguesa de
Olivença, antes de sua tomada pelos espanhóis.
O Município pertence à Mesorregião do Alto Solimões,
ocupando uma área de 19.746 km², com uma densidade demográfica de 1,5 hab/km², dista da capital Manaus à 1.235 km. Conforme o
IBGE (2010) possui uma população estimada em 31.426 habitantes.
A renda per capita do município conforme índice IFDM (2006) é de
0,4758 e o IDH é de 0,54, IDI 0,17. A taxa de analfabetismo entre a
população de 10 a 15 anos é de 31.30 e de 15 anos ou mais 41.50, o
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
IDEB (2009) do município é de 3,6. Em 2009 existiam 77 escolas,
sendo 71 na zona rural e 6 na zona urbana, 8. 239 alunos matriculados e 282 docentes no ensino fundamental na rede municipal e
estadual.
Fig. 2. Mapa do município de São Paulo de Olivença.
Fonte: Google mapas.
O curso estava previsto para o período de 21 a 25/02/2011,
mas houve a necessidade de mudança na programação para o período de 30/01/2011 a 04/02/2011, visando adequar-se ao calendário
escolar da rede municipal e estadual. As aulas no município de São
Paulo de Olivença deram início na Escola Estadual Nossa Senhora
da Assunção, mas em virtude da reforma na escola, houve a mudança para o Anfiteatro Dom Adalberto Marzzi. O curso foi de 40 horas/
aula intensivas acontecendo pela manhã/tarde num total de 8h/aula
e 05 (cinco) dias semanais. Na sequência apresentamos as principais
etapas e estratégias metodológicas:
a) Operacionalização do projeto: A operacionalização
do projeto contou com o apoio da Prefeitura Municipal por meio
da Secretaria Municipal de Educação do município de São Paulo de
Olivença, coordenadoria regional da SEDUC e gestores das escolas
do município. A capacitação dos professores foi um dos pontos fundamentais.
1 – Inscrição do público participante no curso: As inscrições foram planejadas para serem realizadas pela Secretaria Munici- 187 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
pal de Educação, pela internet e no Instituto de Natureza e Cultura
no período de 25/10/2010 à 10/12/2010. Entanto não aconteceu. As
inscrições foram realizadas pela equipe do projeto no município no
dia 29/01/2011, sábado, na Secretaria Municipal de Educação a partir de uma lista pré-selecionada organizada pela Secretaria Municipal e Coordenação Regional da SEDUC.
2 – Aula expositiva e dialogada com a utilização de textos
e de filmes: A etapa auxiliou os educadores no desenvolvimento de
aulas que envolvia os temas do meio ambiente e pluralismo cultural, estimulados por meio de sessões fílmicas e materiais de apoio
textual, identificando as abordagens fílmicas dos conteúdos a serem
utilizados em sala de aula.
As aulas expositivas foram realizadas no decorrer da semana pela manhã/tarde, sendo abordados temas para discussão na
prática pedagógica em sala de aula. Análise crítica dos textos com os
filmes exibidos ressaltando a importância dos temas transversais no
contexto educacional.
Neste sentido, os conteúdos trabalhados foram: 1. O filme
e sua relação com a educação; 2. Cinema e cultura; 3. Os novos desafios do educador; 4. Como usar o cinema em sala de aula; 5. A seleção de filmes para uso em sala de aula; 6. A utilização do conteúdo
fílmico por temas e disciplinas; 7. Como explorar um filme em sala
de aula; 8. Planejamento das atividades e procedimentos básicos; 8.
Roteiro de avaliação/exercício educacional de uso do filme em sala
de aula.
3 – Leitura e análise crítica de textos: os participantes realizaram leituras de textos sobre o uso do filme em sala de aula com
temas do meio ambiente e pluralismo cultural. Na oportunidade em
que ocorreram os debates e troca de experiências entre os participantes que puderam refletir suas concepções acerca da utilização do
filme como instrumento pedagógico.
Os professores foram orientados a discutir os filmes na
perspectiva dos temas transversais e outros temas que podem ser
explorados no âmbito da sala de aula com a utilização de filmes e
documentários. Essa atividade levou o educador a refletir a proposta
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
de Napolitano sobre os problemas e possibilidades do uso do cinema
na escola, pois o professor deve
Refletir sobre o público-alvo da atividade planejada, conhecendo seus limites e suas possibilidades gerais (faixa etária, etapa de
aprendizagem), mas também (...) ao escolher os filmes para a sala de
aula, deve ter o cuidado de respeitar os valores culturais, religiosos
e morais dos alunos e de suas famílias, mesmo discordando deles
(NAPOLITANO, 2005, p. 19).
4 – Exercícios individuais e em grupo: os professores foram
divididos em grupos e para cada grupo um filme foi indicado para
assistirem envolvendo os temas ambientais e de pluralismo cultural. A metodologia de grupo de estudo foi um meio dos educadores
participantes exporem de forma escrita a compreensão das leituras e
dos filmes exibidos, de forma que mostrassem suas opiniões, críticas,
anseios e expectativas a respeito do tema e sua articulação ao planejamento das atividades para aplicação em sala de aula.
5 – Roda de experiência: A metodologia de roda de experiência foi uma oportunidade para os professores falarem das experiências com o uso do filmes e ou docume4ntários no ambiente
escolar, mas também serviu para exporem as aflições e angustias. Os
debates ocorreram em forma de troca de experiências dos professores com o uso do cinema como instrumento pedagógico em sala de
aula, acrescido da leitura dos textos, filmes e documentários exibidos.
Por meio das fichas de inscrição foi possível constatar que
muitos educadores já utilizavam filmes e documentários na sua prática docente. O que nos levou a perguntar por meio de questionário
na ficha de inscrição em qual situação faziam uso de filmes e ou documentários.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Fig. 3. Gráfico situacional de uso de filmes e/ou documentários
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
O resultado do questionário, nos possibilitou identificar
que 74% não faziam uso de filmes e não especificaram, talvez por
não conhecerem a metodologia. Uma minoria faz uso diverso para
estimular o olhar crítico, compreensão e assimilação de conteúdo,
produção textual, palestras, explicar conteúdos e assuntos relacionados a saúde.
A escola e os professores ao articularem o cinema devem
refletir as perspectivas de uso educativo, a metodologia adequada,
a organização curricular, um projeto educativo que viabilize o uso
interdisciplinar por todos os professores ou em disciplinas cujo conteúdo temático permita um planejamento coletivo, integrador e facilitador da aprendizagem.
Ao articular o cinema na escola, o educador privilegia relações educativas diferenciadas entre “muitos modos de transmissão e produção de conhecimento, de constituição de padrões éticos,
de valores morais e competências profissionais” (DUARTE, 2009, p.
16), apresentando aos educandos as diferenças culturais existentes.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Este momento foi singular, pois permitiu a todos socializarem as atividades desenvolvidas em sala de aula, as dificuldades para
o trabalho usando a metodologia proposta pelo curso.
6 – Utilização de equipamentos multimídia/Aula Prática: Inicialmente não prevista na metodologia, mas observamos que
muitos não sabiam manusear os equipamentos. No transcorrer do
curso de capacitação, identificou-se que a maioria dos professores
não sabiam manusear os equipamentos eletroeletrônico existente
nas escolas, para uso de filmes em sala de aula. A partir da identificação, cuidou-se de uma atividade prática para ensinar a ligar, desligar, conectar (notebook, caixa de som, microfone, Datashow, DVD),
projetar filmes.
Foi uma atividade que permitiu aos educadores a prática
pedagógica de manuseio dos equipamentos que contribuem no desenvolvimento das atividades no trabalho em sala de aula com filmes. Por meio de questionário da ficha de inscrição entregue aos
participantes foi possível identificar a infraestrutura e os recursos
multimídia presentes na realidade das escolas do município.
Fig. 4. Gráfico apresenta os aparelhos multimídia presentes
nas escolas.
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
O gráfico apresenta como resultado, que nas escolas existem diferentes recursos tecnológicos que permitem aos professores
fazerem uso de filmes e/ou documentários. Entretanto, Sampaio
(1999) propõe a necessidade de uma formação que capacite o professor a enfrentar os desafios da sociedade tecnológica, impulsione
e oriente a sua prática docente para cumprir sua tarefa utilizando as
tecnologias que servem a variados fins pedagógicos.
7 – Projeção de Filmes, documentários e debate entre os
participantes - foram utilizados os filmes: Os Sem florestas de Tim
Johnson e Karey Kirkpatrick por meio do qual podem ser explorados
os temas do meio ambiente, urbanização e meio rural, alimentação
saudável, transporte, sinalização, saúde e ética; Brincando nos campos do senhor de Hector Babenco, os temas Interculturalidade, pluralidade cultura, religiosidade e rituais, evangelização nas aldeias, saúde e plantas medicinais; Fronteira das Almas, de Hermano Penna,
pelo qual pode ser trabalhado o tema pluralidade cultural, violência no campo, assentamento rural, agroecologia, os documentários:
Pluralidade Cultural, de Paulo Aspis, os temas pluralidade cultural
e ambiental; Ilha das flores, de Jorge Furtado, os temas do meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, desenvolvimento local, emprego
e renda, segurança alimentar, agroecologia, resíduos sólidos, desigualdades sociais.
Apresentamos o filme ilha das flores. Após a exibição houve debates em que cada participante pode fazer uma análise crítica
do filme associado à leitura dos textos a partir da experiência docente nas disciplinas que ministra. Os filmes trabalhados tomaram
por base Setton (2004, p.31) que sugere uma “linha pedagógica que
orientasse o trabalho, no sentido de dar ênfase a tal ou qual nível de
ensino, tipos de abordagens ou área do conhecimento”.
8 – Apresentação de Seminário: O seminário propiciou
pesquisas de campo, com o levantamento de dados envolvendo principalmente as questões ambientais. O seminário foi uma atividade
em grupo e oportunizou aos participantes a construção coletiva de
um planejamento interdisciplinar envolvendo os temas de meio ambiente e pluralismo cultural no ensino fundamental, considerando
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
inclusive a experiência dos professores participantes ao uso de filmes.
A organização dos grupos de seminário, tomou como base
a experiência dos professores que no questionário da ficha de inscrição, responderam que faziam uso de filmes em sala de aula.
Figura 5. Filmes e temas relacionados pelos educadores em sala de
aula.
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
A partir do questionário junto a ficha de inscrição dos
participantes, foi possível identificar informações relevantes para
organização das atividades didáticas. Os professores apontaram ainda que minimamente o uso de filmes em atividades de sala de aula.
Podemos observar que alguns filmes e/ou documentários estavam
relacionados aos temas ambientais.
A problemática ambiental, é um tema da Conferência de
Estocolmo (1972), trouxe em seu bojo a questão ambiental como um
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
“problema social para o desenvolvimento” (LEFF, 2001, p. 130), devido a um conjunto de fatores: a poluição e degradação do meio ambiente, esgotamento dos recursos naturais devido ao ritmo acelerado
de exploração para a produção e o consumo, afetam a qualidade de
vida da população.
O curso fortaleceu a compreensão dos participantes para a
necessidade em orientar o processo educativo para a valorização da
cultura ecológica dos educandos, frente aos problemas ambientais
do município em ações ecologicamente adequadas e culturalmente
apropriadas. Oportunizou-se ainda a aplicação teórico/prática dos
textos e dos filmes, a socialização do ensino-aprendizagem, tendo
em vista a realidade e especificidade de cada escola e comunidade.
Quando pensamos em incluir o cinema em nossas atividades escolares (...) em primeiro lugar, (...) dívida os alunos em grupos de
trabalho e solicite, como tarefa de atividade de estudo, a assistência
do filme selecionado, sistematizando-a na forma de relatório escrito
a partir de um roteiro. (NAPOLITANO, 2005, p. 81)
Os filmes quando produzidos pelos cineastas e roteiristas,
em geral, não visam objetivos educacionais. Entretanto, é possível
aprender, desaprender e reaprender com o cinema, por meio de leituras, releituras e exercícios educacionais das narrativas cinematográficas (FRESQUET, 2009).
9 – Avaliação dos participantes no curso: A avaliação foi
realizada em duas etapas. Uma foi a aplicação de uma avaliação escrita em forma de questionário que foi entregue aos participantes no
dia anterior. A outra foi uma avaliação oral, momento que oportunizou aos participantes exporem sua avaliação do desenvolvimento do
projeto tendo em vista os objetivos gerais e específicos, sua importância para aplicações na prática pedagógica.
A avaliação é parte indispensável das estratégias do professor. É necessário para avaliar se os objetivos foram alcançados.
Na organização do trabalho pedagógico, é importante perceber que
A avaliação é a guardiã dos objetivos. Os objetivos estão, em parte,
diluídos ocultos, mas a avaliação é sistemática (mesmo quando informal) e agir em estreita relação com eles. No cotidiano das escolas, os objetivos estão expressos nas práticas de avaliação. (FREITAS
apud CARVALHO, 2007, p. 31)
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Por isso, desenvolvemos com os educadores participantes
uma avaliação em dois níveis, uma escrita e outra oral, focalizando
o trabalho pedagógico com o uso do cinema em sala de aula para os
temas transversais do meio ambiente e de pluralismo cultural com a
utilização dos filmes exibidos, leitura dos textos, roda de experiência
e apresentação de seminários.
Participação dos professores no curso de capacitação sobre
o uso de filmes e documentários
A realização do projeto no município, levou a participação
e capacitação de 52 professores e profissionais da educação, de 24 escolas da rede pública de ensino das áreas urbanas, rurais/ribeirinhas
e indígenas em incursões no âmbito do uso das novas tecnologias
educativas, tendo como foco as abordagens teórico-metodológicas
para o uso do cinema como instrumento pedagógico inovador.
Fig. 6. Relação de escolas com participação de professores.
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
O curso de capacitação para professores do ensino fundamental sobre o uso do cinema como instrumento de articulação de
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
temas ambientais e de pluralismo cultural no ensino fundamental
das escolas públicas do município de São Paulo de Olivença no Alto
Solimões, foi muito importante pois promoveu o melhoramento das
atividades de ensino de temas ambientais e de pluralismo cultural
com os recursos cinematográficos e/ou documentários em sala de
aula com a utilização de textos, filmes.
Avaliação dos Participantes
A avaliação foi realizada em duas etapas. Uma foi a aplicação de uma avaliação escrita em forma de questionário que foi entregue aos participantes no dia anterior. Uma outra uma avaliação
oral, foi um momento que oportunizou aos participantes exporem
sua avaliação do desenvolvimento do projeto tendo em vista os objetivos gerais e específicos, sua importância para aplicações na prática
pedagógica.
Nesse sentido, ao final do curso buscamos um processo
avaliativo participativo e interativo, convidando os participantes a
realizarem uma avaliação livre. Avaliar é um ponto importante em
qualquer processo educativo, tanto para os alunos quanto para os
professores. As respostas ao questionário obtivemos o seguinte resultado:
Fig. 7. Os temas abordados foram?
Fig. 8.As metodologias utilizadas no curso foram?
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
Buscamos saber dos participantes que avaliassem os temas
abordados no processo de formação continuada. Os temas abordados foram o meio ambiente e o pluralismo cultural na perspectiva
interdisciplinar dos temas transversais, foram avaliados bom, excelente e ótimo com 95% pelos participantes.
Um outro item que buscamos compreender foi a metodologia usado na realização do curso. A metodologia é crucial para o
processo de ensino-aprendizagem como parte integrante da avaliação na formação continuada. Um feedback necessário para a organização de cursos a serem oferecidos posteriormente envolvendo o
cinema e a educação. O resultado foi expressivo entre ótimo, excelente e bom com 95%.
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Fig. 09. Os filmes utilizados no curso foram?
Fig. 10. Qual a contribuição do curso na sua prática pedagógica em
relação aos temas ambientais e pluralismo cultural?
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
A seleção dos filmes exibidos durante o curso e disponibilizados aos professores para assistirem em grupo em casa, para
discussão e debates durante as aulas, preparação de seminário com
elaboração de plano de ensino foi um outro ponto que buscamos
avaliação dos participantes. Observamos que a exibição dos filmes
despertou nos participantes buscarem identificar situações mostradas nas imagens cinematográficas a realidade ambiental e cultural do
município, em uma perspectiva reflexiva crítica.
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
De igual modo, a prática pedagógica do professor influencia diretamente na participação dos alunos.
Fig. 11. Como você percebeu a proposta do curso de trabalhar filmes e documentários em sala de aula com temas de meio ambiente
e pluralismo cultural?
Fig. 12. Você acredita que projetos dessa natureza são relevantes
para sua atuação profissional?
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
Associamos o trabalho com filmes em sala de aula e a atuação profissional do professor, para os conteúdos dos temas transversais do meio ambiente e pluralismo cultural dado a realidade do
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
bioma amazônico e sua importância no contexto local, regional, nacional e global.
Os participantes afirmaram a importância metodológica e
a influência do uso de filmes e documentários na atuação profissional. 80% dizem que projetos de formação continuada para o uso de
filmes no processo educativo, e 90% afirmaram ser relevante o uso de
filmes em sala de aula.
Fig. 13. O curso atendeu as suas expectativas?
Fig. 14. Aponte sugestões para aprimoramento do curso?
Fonte: Questionário da ficha de inscrição entregue aos participantes. Curso de capacitação
sobre o uso do cinema como articulação de temas do meio ambiente e pluralismo cultural no
ensino fundamental do Alto Solimões. São Paulo de Olivença, 2011.
Os participantes creditam que o curso atendeu as expec- 200 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
tativas, afirmando que 95% estavam satisfeitos. Foi relevante as contribuições quanto ao aprimoramento, quanto ao planejamento na
realização e oferta de futuros cursos de formação continuada. 30%
sugeriram um maior tempo, carga horária para o curso, que foi condensado em uma semana com carga horária de 40h/a.
Outros propuseram que o curso fosse realizado no período
de férias, sendo que o curso foi programado com bastante antecedência e o período foi planejado em comum acordo com a Secretaria
Municipal de Educação.
Quanto a sugestão de plano de ensino de acordo com a
realidade da escola, ao final foi esclarecido que a partir das propostas que foram apresentadas coletivamente, e considerando o projeto
político da escola, os professores poderiam adequar os planos a realidade e necessidades da comunidade escolar para o uso de filmes
em sala de aula.
O processo de avaliação foi significativamente singular e
parte indispensável das estratégias na formação dos professores. É
necessário para avaliar se os objetivos foram alcançados. Na organização do trabalho pedagógico, é importante perceber que
A avaliação é a guardiã dos objetivos. Os objetivos estão, em parte,
diluídos ocultos, mas a avaliação é sistemática (mesmo quando informal) e agir em estreita relação com eles. No cotidiano das escolas, os objetivos estão expressos nas práticas de avaliação. (FREITAS
apud CARVALHO, 2007, p. 31)
Por isso, desenvolvemos com os educadores participantes
uma avaliação em dois níveis, uma escrita e outra oral, focalizando
o trabalho pedagógico com o uso do cinema em sala de aula para os
temas transversais do meio ambiente e de pluralismo cultural com a
utilização dos filmes exibidos, leitura dos textos, roda de experiência
e apresentação de seminários.
Conclusão
Este projeto por meio do curso de capacitação de professores do ensino fundamental tornou-se um momento importante na
formação de educadores, pois realizar um trabalho pedagógico no
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Alto Solimões é um grande desafio, mas acima de tudo um compromisso com a educação no que tange aos temas ambientais e pluralismo cultural, pois incorporar o cinema nas práticas escolares possibilita inovar o fazer pedagógico do educador de forma criativa no
processo de ensino-aprendizagem.
Desta maneira, percebemos o cinema como um potencial
instrumento pedagógico inovador que possibilita uma nova postura
frente às metodologias tradicionais em sala de aula e reflexão das
peculiaridades ambientais e culturais do município, na construção
do conhecimento dos educadores e educandos. Na avaliação de um
dos participantes, afirma que
O curso nos forneceu novos esclarecimentos de como trabalhar a
tecnologia em sala de aula como recurso que visa desenvolver no
aluno a capacidade de memorização, atenção, curiosidade em expor
a sua opinião crítica ou não crítica em relação aos temas que se referem a proposta do curso.
Outro fator a destacar, foi que contribuiu para a mudança de atitudes ao redor do meio ambiente e pluralismo cultural dos
participantes em relação a sua prática docente e discente, pois, como
podemos depreender da afirmação de um dos participantes que não
se identificou diz que “irá melhorar as metodologias utilizando as
mídias. Ressalta ainda que o curso trouxe uma proposta inovadora
de trabalhar no cotidiano escolar com os educandos”.
Assim, é possível afirmar que contribuiu na melhoria das
práticas pedagógicas, no diálogo interdisciplinar dos temas ambientais e pluralismo cultural articulando a percepção e produção
de uma nova metodologia pedagógica com o uso do cinema, que
possibilita redimensionar o olhar do educador e do educando para
o aprendizado audiovisual na construção do conhecimento retratado na tela do cinema, pois “educar é ao mesmo tempo transformar
e conservar” (SETTON, 2004, p. 51) corroborando na reflexão do
cinema enquanto mediação pedagógica.
Dessa forma, pode-se dizer da contribuição do curso para
a comunidade de um modo geral, pelo fato de ter contribuído com a
socialização de uma teoria metodológica que permite uma crítica da
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
realidade socioambiental e cultural. Além disso, o grande número de
escolas atingidas, se traduz de igual modo, em que podemos inferir
o benefício da comunidade escolar do município direta e indiretamente.
Corroboram ainda, os depoimentos dos discentes membros da equipe na apropriação do conhecimento aproximando teoria
e prática, e aos participantes do curso de capacitação para deslocar o
olhar para uma nova forma de produzir o conhecimento no campo
educativo. Percebe-se, com isso, a importância do uso do cinema,
mas também a necessidade e dificuldade do docente em realizar novas práticas pedagógicas que inclua o cinema no planejamento escolar.
O projeto sobre o uso do cinema se firmou como de fundamental importância no processo formativo dos professores e contribuiu para consolidar a presença da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) por meio do Instituto de Natureza e Cultura com o
apoio da Pró-Reitoria de Extensão – PROEXT e a possibilidade de
futuras parcerias para o desenvolvimento de projetos no município
de São Paulo de Olivença/AM.
Referências
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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PFROMM NETO, Samuel. Telas que ensinam: mídia e aprendizagem do cinema ao computador. Campinas, Alínea, 1998.
SANCHEZ, Camilo Torres & SOUZA, J.S. Projeto de Extensão
“Dias de Cinema e Vídeo na UFAM”. Pôster apresentado no IX
Congresso Iberoamericano de Extensão Universitária: Gestion Y
Evaluación de La Extensión Universitária, Santa Fé de Bogotá, Colômbia, 6 a 7 de novembro de 2007.
SETTON, Maria da Graça Jacintho (Org.). A cultura da mídia na
escola: ensaios sobre cinema e educação. São Paulo: Annablume:
USP, 2004.
SILVA, Roseli Pereira. Cinema e educação. São Paulo: Cortez, 2007.
SOUZA, J.S. Projeto de Extensão “Cine Club Itinerante/INC/BC-UFAM”. Semana Nacional de Ciência e Tecnologia II Mostra Institucional UFAM/UEA. Itacoatiara/AM, 2009.
______, Relatos de Experiência do Projeto de Extensão “Cine
Club Itinerante/INC/BC-UFAM”. Congresso de Extensão – CONGREX UFAM EDU, 2009.
TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro (Org.). A escola vai ao cinema.
2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
- 204 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Sobre as/os autores
Alessandro Bezerra da Silva
Estudante de Antropologia no Instituto Natureza e Cultura–UFAM,
e-mail:
[email protected]
Aline dos Santos Pedraça
Doutoranda em Ciência da Educação pela UNIT Brasil - Universidad del Sol – UNADES. Mestra em Serviço Social e Sustentabilidade
na Amazônia- PPGSS\UFAM; Engenheira Eletricista - UNINORTE-AM. Bacharela em Serviço Social - UNINILTON LINS-AM.
Especialista em Políticas Públicas de atenção à Família- Salesiana
Dom Bosco. MBA em Eficiência Energética e Energias -IPOG-AM.
Especialização em Gestão de Projetos e Portfólios pelo FMU-LAUREATE. Coordenadora de projetos e qualificação do Instituto Joana Galante; Vice-presidente da Aliança em Inovação Tecnológica e
Ações Sociais do Amazonas -AITAS-AM; Conselheira Consultiva
da Associação Brasileira dos Engenheiros Eletricistas do AmazonasABEE-AM. Membro do grupo de Pesquisa Processos Civilizadores
na PanAmazônia/ GPPCPAM.
Ana Maria de Mello Campos (org.)
Formada em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas
/ Instituto de Natureza e Cultura de Benjamin Constant-AM. Mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas
/ PPGAS-UFAM. Doutoranda em Antropologia pela Universidade
Nova de Lisboa/Portugal. Email:
[email protected]
Andresson Luan Franco Simão
Estudante de Antropologia no Instituto Natureza e Cultura–UFAM
- 205 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
Claudenor de Souza Piedade
Mestre em Biotecnologia e Recursos Naturais da Amazônia, pela
Universidade do Estado do Amazonas - UEA (2009) com ênfase em
Físico-Química, voltada a bioatividade de moleculas; Especialista em
Metodologia do Ensino de Química do Ensino Médio pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA (2016) com enfoque em software educativos- Simuladores; Graduado em Licenciatura Plena em
Química pela Universidade do Estado do Amazonas- UEA (2005).
Trabalhou no Centro Universitário do Norte-UNINORTE, Professor Nível superior entre 2010 a 2016; Servidor Publico - Secretaria
de Educação do estado do Amazonas (SEDUC) Função Professor de
Química- 40 horas. Tem experiência na área de educação em Química, atuou nos seguintes campos: teoria do funcional da densidade, propriedades fotofísicas, estrutura eletrônica, relaxante muscular
e estrutura molecular e eletrônica. Também possui experiência na
área administrativa, atendimento ao público, segurança patrimonial
e educação nos níveis infantil, fundamental, médio e Superior.
Cristian Farias Martins
Doutor em ciências sociais pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação
sobre Américas (CEPPAC - 2010). Atualmente leciona antropologia no campus avançado da Universidade Federal do Amazonas, na
cidade de Benjamim Constant, fronteira com a Colômbia e o Peru.
Tem como áreas de interesse (e formação) estudos comparativos e
interdisciplinares sobre formação das “cidades de fronteira”, imigração e memória, “cultura” cristã e “libertação” nas Américas.
Daniel Henrique Auanário Nascimento
Estudante de Antropologia no Instituto Natureza e Cultura–UFAM,
e-mail:
[email protected]
Érica Fabrícia Melo (org.)
Bacharela em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas
– UFAM, no Instituto de Natureza e Cultura – INC, em Benjamin
- 206 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Constant. Mestra em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos –UNISINOS/RS. Professora substituta na UFAM, no
INC. Contato: ericaantropos@ gmail.com
Edson Franco Felix
Formado em Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas, pelo Instituto de Natureza e Cultura
Elina Oliveira Ruiz
Formada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Natureza e Cultura; e, Especialista
em Educação Infantil e Ensino Fundamental pelo Centro Educacional de Pesquisa da Amazônia.
Enio Gilberto Haiden Mendonça
Bacharela em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas
/ Instituto de Natureza e Cultura de Benjamin Constant-AM. Mestrando em Antropologia e Etnografia na Universitat de Barcelona,
e-mail:
[email protected]
Gilvania Plácido Braule
Docente-pesquisadora do INC/UFAM, e-mail: gilvaniabc@gmail.
com
Israelson Taveira Batista
Médico, formado pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA
(2013). Assistente prescritor no Centro de Referência em Diagnóstico e Tratamento das Mucopolissacaridoses (MPS) e doenças raras no
Amazonas. Fundador do projeto social Instituto ASAS para a Amazônia. Pós-Graduado em medicina interna e ultrassonografia, pós
graduando em genética humana, e gestão pública. Atuando princi- 207 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
palmente nos serviços público de urgências e emergências e rotinas
em clínica médica nas enfermarias da Fundação Hospital Adriano
Jorge - FHAJ, Centro de Terapia de Reposição Enzimático do Amazonas, Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do
Amazonas - FCECON, Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro e Centro de Combate ao Covid-19 no Hospital Nilton Lins
Josenildo Santos de Souza
Mestre em Estudos Amazônicos pela Universidad Nacional de Colômbia (UNAL), especialista em Ética e graduado em Filosofia pela
UFAM. Professor da Universidade Federal do Amazonas no Instituto de Natureza e Cultura – Campus Benjamin Constant.
Lucas Patrício de Lima
Formado em Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas, pelo Instituto de Natureza e Cultura, e-mail:
[email protected]
Marcilene Assis de Souza
Bacharelado em Administração pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, email
[email protected]
Maria Auxiliadora dos Santos Coelho
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Para (UFPA),
Graduada em Pedagogia pela UFAM. Foi bolsista do projeto de extensão Curso de capacitação sobre o uso do cinema como articulação
de temas ambientais e pluralismo cultural no ensino fundamental do
Alto Solimões. Professora da Universidade Federal do Amazonas no
Instituto de Natureza e Cultura – Campus Benjamin Constant/AM.
Maria dos Reis da Silva
Bacharela em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas. E-mail:
[email protected]
- 208 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Maria Francisca Nunes de Souza
Docente-pesquisadora do INC/UFAM, e-mail: mfrance22@yahoo.
com.br
Marinete Lourenço Mota
Docente-pesquisadora do INC/UFAM, Licenciatura em Pedagogia
pela Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Natureza e
Cultura; Mestre em Educação e Doutorado: Sociedade e Cultura na
Amazônia, e-mail:
[email protected]
Marques Roberto Lobato
Estudante de Antropologia no Instituto Natureza e Cultura–UFAM.
E-mail:
[email protected]
Michel Justamand
Doutor em Ciências Sociais/Antropologia, Mestre em Comunicação
e Semiótica, Graduado e Licenciado em História, Pós-Doutor em
História, todos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
– PUC/SP. Licenciado em Pedagogia, com Habilitação em Administração Escolar, pelo Centro Universitário Nove de Julho – UniNOVE/SP. Pós-Doutor em Arqueologia pela Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP. Pós-Doutor em Cultura e Sociedade pela
Universidade Federal da Bahia – UFBA. Professor Associado 1 do
Curso de História da Arte, da Universidade Federal de São Paulo –
UNIFESP, em Guarulhos.
Renan Albuquerque
É Professor Adjunto IV da Faculdade de Informação e Comunicação
(FIC) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Possui graduação em Comunicação Social pela UniNiltonLins (2001), especializações em Psicopedagogia pela Universidade Cândido Mendes/RJ
(2002), Comunicação Empresarial pela UniNiltonLins (2004) e Psicologia Social também pela UniNilltonLins (2005). É mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (2008) e doutor
- 209 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do
Amazonas (2013). Tem pós-doutorado em Antropologia pela PUC-SP (2017). No presente, desenvolve estágio de pós-doutoramento em Psicologia Social pela PUC-SP (2019-). Na Ufam, é Professor
Permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA/Ufam) e Coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCCom/Ufam),
onde orienta pesquisas em nível de mestrado e doutorado. Lidera o
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ambientes Amazônicos (NEPAM/
Ufam) e coordena o Laboratório de Editoração Digital do Amazonas
(LEDA/Ufam). É membro do Conselho Consultivo da Compós (20182020). Tem experiência em pesquisas sobre conflitos na Amazônia e
impactos socioambientais, desenvolvendo estudos em áreas rurais, ribeirinhas, indígenas e com atingidos por barragens.
Renata Gomes de Lima Melo
Bacharela em Nutrição pela Universidade Federal do Amazonas.
Especialista em Gestão da Segurança de Alimentos – SENAC. Mestra em Educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
E-mail:
[email protected]
Renison do Nascimento Castro
Estudante de Antropologia no Instituto Natureza e Cultura–UFAM,
e-mail:
[email protected]
Sandra Regina Gregório
Bacharela em Nutrição pela Universidade Santa Úrsula - USU. Especialista em Nutrição Experimental –Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro, UNIRIO. Mestra em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Doutora em Ciência de Alimentos - Universidade Estadual de Campinas,
UNICAMP. e-mail: gregorio.sandra@gmailcom
- 210 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Sebastião Melo Campos (org.)
Formado em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade
Federal do Amazonas. É bacharel em Serviço Social pela Universidade Paulista UNIP. Especialista em História e Geografia pelo Centro Educacional de Pesquisa da Amazônia. É formado em Técnico
Florestal pelo Centro de Estudos do Amazonas CETAM. Atualmente está cursando o sexto período de Licenciatura em História pela
Universidade Paulista UNIP. Mestre em Ciência e Meio Ambiente:
Área de Concentração – Recursos Naturais e Sustentabilidade pela
Universidade Federal do Pará. Professor da Rede Pública Municipal,
SEMED e SEDUC. Email:
[email protected]
Selomi Bermeguy Porto
Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia. Bacharel em Administração. Ambos pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Especialista em Gestão de Marketing em Serviço e Social. Docente
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM, Campus Tabatinga.
Sidney Raimundo Silva Chalub
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Amazonas (1994) e mestrado em Medicina (Cirurgia Geral) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002) Doutorado pela Santa Casa
de Porto Alegre 2010. Atualmente é diretor de ensino e pesquisa da
Fundação Adriano Jorge. Experiência na área de Medicina, com ênfase em Cirurgia Digestiva, atuando principalmente nos seguintes
temas: cirurgia, aparelho digestivo, oncologia, trauma e FCECON.
Shigeaki Ueki Alves da Paixão
Pesquisador integrante do grupo de pesquisa em Geopolítica e Modernização na Amazônia Setentrional - UFRR. Membro do Grupo
de Pesquisa do Laboratório Lugares e Espaços Contemporâneos: Jor- 211 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
nalismo, Migrações e Audiovisual - UFRR. Constituinte do grupo de
pesquisa Corpo, Gênero, Corporeidade, Ensino e Multiculturalidade; tendo como linhas de pesquisa: Aspectos socioantropológicos da
Educação Física e Esportes; Corporeidade, saúde, gênero e interação
social; Práticas Corporais e interculturalidade na Amazônia. É vinculado ao grupo de estudo, pesquisa e observatório social: Gênero,
Política e Poder - GEPOS - PPGSCA - IFCHS - Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Professor da Rede Pública de Ensino do
Estado de Roraima desde 2002, tendo iniciado atividades no magistério atuando em modalidades distintas de vinculação institucional
temporário até a aprovação por meio de provimento em concurso
público no ano de 2009, sendo atualmente Professor Sênior A, da
carreira do Magistério, da Secretaria de Estado da Educação e Desporto - SEED, do Governo do Estado de Roraima. É Técnico em
Turismo do quadro funcional do Governo do Estado de Roraima
atuando na Chefia de Difusão Turística - DITUR, como Chefe da
Divisão de Projetos e Programas Especiais (11/2004 a 02/2006 - I
Etapa). Aprovado por concurso no cargo de Técnico em Turismo no
ano de 2005 e efetivado por meio de desempenho correspondente a
avaliação probatória. Chefe da Divisão de Difusão Turística (03/2006
- II Etapa). Exerceu no período de 02/2013 até 12/2014 a Direção
do Órgão Oficial do Turismo do Governo do Estado de Roraima,
assumindo a titularidade da Diretoria do Departamento de Turismo.
Possui graduação em Letras com habilitação em língua portuguesa
e inglesa e literaturas correspondentes pela Universidade Federal de
Roraima (2007); graduação em Comunicação Social - Habilitação
em Publicidade e Propaganda pela Faculdade Atual da Amazônia
(2007); Graduado como Gestor em Tecnologia do Turismo com ênfase em Ecoturismo pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia- IFRR (2010); Graduado em Relações Internacionais pela
UFRR (2016); graduando em Licenciatura em Pedagogia da Universidade Aberta do Brasil por meio do IFAM e UNIVIRR (2017); Especialização em Metodologia do ensino da língua portuguesa e estrangeira por meio do Grupo Educacional UNINTER (2012); Mestre
em Geografia pelo PPGGEO/ UFRR (2014). Dirigente do Órgão Oficial do Turismo do Governo do Estado de Roraima tendo assumido
- 212 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
a titularidade de 02/2013 a 12/2014 como Diretor do Departamento
de Turismo. Colunista da Revista Amazônia e site BV NEWS, escrevendo a coluna Vida Roraimeira. É membro do Conselho Editorial
do Periódico Científico SOMANLU do PPGSCA|IFCHS|UFAM.
Atuou como Membro Conselheiro de Estado da Cultura - CEC/ RR.
Membro Titular do Conselho Consultivo do Parque Nacional do Viruá Caracaraí Roraima por meio do ICMBio Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade. Membro Suplente do Conselho
Municipal de Meio Ambiente- CONSEMMA da Prefeitura Municipal de Boa Vista - RR. Membro Titular da Setorial de Moda e Membro Suplente do Pleno do Conselho Nacional de Políticas Setoriais
do Ministério da Cultura do Brasil para o período de 2016-2017.
Conselheiro eleito, na jurisdição CRA - RR (atualmente licenciado),
Conselheiro Regional Efetivo, com mandato de 4 (quatro) anos, de
04.07.2017 a 31.12.2020. Doutorando do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia-PPGSCA/IFCHS, da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.
Tales Vinícius Marinho de Araújo
Mestre em Ciências e Meio Ambiente – Universidade Federal do
Pará/UFPA.
Valdenilson Aicate Tananta
Bacharel em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas /
Instituto de Natureza e Cultura de Benjamin Constant-AM. E-mail:
[email protected]
- 213 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
- 214 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
Sugestões de leitura
disponíveis em www.alexaloja.com
Coleção FAAS - Fazendo Antropologia no Alto Solimões
Dirigida por Gilse Elisa Rodrigues e Michel Justamand
1 - Antropologia no Alto Solimões.
Gilse Elisa Rodrigues e Michel Justamand (orgs.), 2012
2 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões.
Gilse Elisa Rodrigues e Michel Justamand (orgs.), 2012
3 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões 2.
Adailton da Silva e Michel Justamand (orgs.), 2015
4 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões: gênero e educação.
Gilse Elisa Rodrigues, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2016
5 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões: diversidade étnica e fronteira.
Gilse Elisa Rodrigues, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2016
6 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões: diálogos interdisciplinares.
Gilse Elisa Rodrigues, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2016
7 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 7.
Michel Justamand, Renan Albuquerque Rodrigues e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2017
8 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões: diálogos interdisciplinares II.
Michel Justamand, Renan Albuquerque Rodrigues e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2017
9 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 9.
Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.). 2017
10 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 10.
Carmen Junqueira, Michel Justamand e Renan Albuquerque (orgs.), 2017
11 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 11.
Michel Justamand, Renan Albuquerque e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2018
12 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 12.
Iraildes Caldas Torres e Michel Justamand (orgs.), 2018
13 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 13.
Antonio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2018
14 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 14.
Ana Beatriz de Souza Cyrino, Dorinethe dos Santos Bentes e Michel Justamand (orgs.), 2018
15 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 15.
Antônia Marinês Goes Alves, Elenilson Silva de Oliveira e Michel Justamand (orgs.), 2018
- 215 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
16 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 16.
José Lino do Nascimento Marinho, Maria Isabel Araújo e Michel Justamand (orgs.), 2018
17 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 17.
Walmir de Albuquerque Barbosa, Marilene Corrêa da Silva Freitas, Artemis de Araujo Soares e Michel Justamand (orgs.), 2018
18 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 18.
Antônio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2018
19 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 19.
João Bosco Ladislau de Andrade, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs.), 2019
20 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 20 - O pensamento dissidente/
divergente e as questões amazônicas
Ildete Freitas Oliveira, Michel Justamand e Nelly Mary Oliveira de Souza (orgs), 2019
21 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 21
Michel Justamand, Sandra Oliveira de Almeida e Vânia Cristina C. de Andrade (orgs), 2019
22 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 22
Michel Justamand, Sandra Oliveira de Almeida e Vânia Cristina Cantuário de
Andrade (orgs), 2019
23 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 23
Antônio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs), 2019
24 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 24
Antônio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz (orgs), 2019
25 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 25
Ana Maria de Mello Campos, Michel Justamand e Sebastião Melo Campos, 2019
26 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 26
Antônio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz, 2020
27 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 27
Antônio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz, 2020
28 - Fazendo Antropologia no Alto Solimões, vol. 28
Antônio Carlos Batista de Souza, Michel Justamand e Tharcísio Santiago Cruz, 2020
Coleção FAAS TESES - Fazendo Antropologia no Alto Solimões - Teses
Dirigida por Adailton da Silva e Michel Justamand
1 - Os Kamaiurá e o Parque Nacional do Xingú.
Carmen Junqueira. 2018
2 - Da cana ao caos - Usos sociais do meio ambiente em perspectiva comparada.
Thereza Menezes, 2018
- 216 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
3 - Órfãos das letras no contexto amazônico: memórias de uma prática docente na
Tríplice Fronteira Brasil-Peru-Colômbia.
Maria de Nazaré Corrêa da Silva, 2019
4 - Os Rikbaktsa: mudança e tradição.
Rinaldo Sergio Vieira Arruda, 2019
5 - Seringueiros do Médio Solimões: fragmentos e memórias de vida e trabalho.
José Lino do Nascimento Marinho. 2019
6 - O parto na fronteira amazônica Brasil e Peru: etnografia sobre a assistência
obstétrica no município de Benjamin Constant.
Ana Maria de Mello Campos, 2019
Coleção Carmen Junqueira
Dirigida por Michel Justamand e Renan Albuquerque
1 - Carmen e os Kamaiurá.
Michel Justamand, Renan Albuquerque e Vaneska Taciana Vitti (org.), 2019
2 - Carmen e o indigenismo.
Michel Justamand, Renan Albuquerque e Vaneska Taciana Vitti (org.), 2019
3 - Sexo e Desigualdade: entre os Kamaiurá e os Cinta Larga.
Carmen Junqueira, 2019
4 - Índios do Ipavu
Carmen Junqueira, 2019
5 - O tacape do diabo e outros instrumentos de predação
Eunice Paiva, Carmen Junqueira, Renan Albuquerque e Gerson André A. Ferreira, 2019
Coleção Arqueologia Rupestre
Dirigida por Gabriel Frechiani de Oliveira e Michel Justamand
1 - As pinturas rupestres na cultura: uma integração fundamental
Michel Justamand, 2006
2 - Pinturas rupestres do Brasil: uma pequena contribuição.
Michel Justamand, 2007
3 - As relações sociais nas pinturas rupestres
Michel Justamand, 2007
4 - Comunicar e educar no território brasileiro: uma relação milenar
Michel Justamand, 2012
5 - A mulher rupestre
Michel Justamand, 2014
- 217 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
6 - O Brasil desconhecido: as pinturas rupestres de São Raimundo Nonato – PI.
Michel Justamand, 2015
7 - Arqueologia da Sexualidade
Michel Justamand, Andrés Alarcón-Jiménez e Pedro Paulo A. Funari, 2016
8 - Arqueologia do Feminino Michel Justamand,
Gabriel Frechiani de Oliveira, Andrés Alarcón-Jiménez e edro Paulo A. Funari, 2017
9 - Arqueologia da Guerra.
Michel Justamand, Gabriel Frechiani de Oliveira, Vanessa da Silva Belarmino e Pedro
Paulo A. Funari, 2017
10 - Arqueologia e Turismo.
Michel Justamand, Pedro Paulo A. Funari e Andrés Alarcón-Jiménez, 2018
11- Uma história do povoamento do continente americano pelos seres humanos: a
odisseia dos primeiros habitantes do Piauí.
Gabriel Frechiani de Oliveira, Michel Justamand e Pedro Paulo A. Funari, 2019
12 - Caçadores da pré-história: recorrências temáticas na pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara - PI
Vanessa da Silva Belarmini, 2019
13 - Grafismos rupestres no Abrigo do Índio em Palestina de Goiás: espacialidade
e visibilidade
Grazieli Pacelli Procópio, 2020
14 - Luta corporal na Pré-História: ensaio antropológico e histórico
Leandro Paiva, 2019
15 - Pinturas rupestres: o cinema na pré-história,
Cidiclei Alcione Biavatti, 2020
Coleção Diálogos Interdisciplinares
Dirigida por Josenildo Santos de Souza e Michel Justamand
1 - É possível uma escola democrática?
Michel Justamand (org.), 2006
2 - Políticas Educacionais: o projeto neoliberal em debate.
Lilian Grisolio Mendes e Michel Justamand, 2007
3 - Diálogos Híbridos.
Camilo Torres Sanchez, Josenildo Santos de Souza e Michel Justamand (orgs.), 2016
4 - Neoliberalismo: a máscara atual do capital.
Michel Justamand, 2017
5 - Diálogos Interdisciplinares e Indígenas.
Maria Auxiliadora Coelho Pinto, Michel Justamand e Sebastião Rocha de Sousa, 2017
- 218 -
Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
6 - Diálogos Interdisciplinares I: história, educação, literatura e política.
Émerson Francisco de Souza (org.), 2017
7 - História e representações: cultura, política e gênero.
Lilian Grisolio Mendes e Michel Justamand (orgs.), 2017
8 - Diálogos Híbridos II.
Camilo Torres Sanchez, Josenildo Santos de Souza e Michel Justamand (orgs.), 2018
9 - A educação ambiental no contexto escolar do município de Benjamin Constant – AM.
Sebastião Melo Campos, 2018
10 - Políticas Públicas de Assistência Social: moradores em situação de rua no município de Benjamin Constant – AM.
Sebastião Melo Campos, Lincoln Olimpio Castelo Branco, Walter Carlos Alborado
Pinto e Josenildo Santos de Souza, 2018
11 - Tabatinga: do Conhecimento à Prática Pedagógica.
Maria Auxiliadora Coelho Pinto (org), 2018
12 - Tabatinga e suas Lendas.
Maria Auxiliadora Coelho Pinto e Cleuter Tenazor Tananta, 2018
13 - Violência sexual contra crianças, qual é a questão? Aspectos constitutivos
Eliane Aparecida Faria de Paiva, 2018
14 - A implantação do curso de antropologia na região do Alto Solimões - AM.
Adolfo Neves de Oliveira Júnior, Heloísa Helena Corrêa da Silva e Paulo Pinto Monte
(orgs.), 2018
15 - Estudos Clássicos e Humanísticos & Amazonidades - Vo.l. 2.
Renan Albuquerque e Weberson Grizoste (org), 2018
16 - Ars moriendi, a morte e a morte em si.
Miguel A. Silva Melo, Antoniel S. Gomes Filho, Emanuel M. S. Torquao e Zuleide F. Queiroz (org), 2018
17 - Reflexões epistemológicas: paradigmas para a interpretação da Amazônia.
Salatiel da Rocha Gomes e Joaquina Maria Batista de Oliveira (org), 2018
18 - Diálogos Híbridos III - Agroecologia.
Camilo Torres Sanchez (org.), 2018
19 - Processos psicossociais na Amazônia.
Marcelo Calegare e Renan Albuquerque (org.),2018
20 - Teoria e prática em adminstração e ciências contábeis I: intercâmbios nordestinos.
Antoniel dos Santos Gomes Filhos, Antonio Wilson Santos, Marcos Jonaty Rodrigues
Belo Landim e Maria Erilúcia Cruz Nacedo (orgs), 2018
21 - Teoria e prática em adminstração e ciências contábeis II: intercâmbios nordestinos.
Antoniel dos Santos Gomes Filhos, Antonio Wilson Santos, Marcos Jonaty Rodrigues
Belo Landim e Maria Erilúcia Cruz Nacedo (orgs), 2018
- 219 -
Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
22 - Reinvenção do rádio: tecnologia, educação e participação.
Guilherme Gitahi de Figueiredo, Leni Rodrigues Coelho e Núbia Litaiff Morix Schwamborn (orgs), 2018
23 - Afeto & Comum: reflexões sobre a práxis psicossocial.
Bader B. Sawaia, Renan Albuquerque e Flávia R. Busabello (orgs), 2018
24 - Crimes de ódio e violência contra LGBT no Brasil: um estudo a partir do Nordeste do Brasil.
Miguel Ângelo Silva de Melo, 2018
25 - Reflexões sobre violência e justiça.
Ernandes Herculano Saraiva, Guilherme José Sette Júnior e Neuton Alves de Lima,
2018
26 - Política de educação do surdo: problematizando a inclusão bilíngue em escolas da
rede municipal de ensino de Benjamin Constant-AM.
Maria Francisca Nunes de Souza e Maria Almerinda de Souza Matos (orgs), 2019
27 - Tradução cultural e processos socioculturais na Amazônia,
Alexandre de Oliveira (org), 2019
28 - Balbina, vidas despedaçadas
Renan Albuquerque, 2019
29 - Olhares comunicacionais
Renan Albuquerque, Noélio Martins Costa e Georgio Ítalo Oliveira (orgs), 2019
30 - Saberes Amazônicos
Maria Auxiliadora Coelho Pinto, Júnior Peres de Araújo e Ismael da Silva Negreiros
(orgs), 2019
31 - As Primeiras-Damas e a assistência Social: relações de gênero e poder
Iraildes Caldas Torres, 2019
32 - Imagens e imaginários na Amazônia
Alexandre de Oliveira (org), 2019
33 - Amazônia: prospecção de múltiplas lentes
Liliane Costa de Oliveira, Viviane de Oliveira Lima Zeferino e Israel Pinheiro (orgs),
2019
34 - Amazônia e educação na região do Médio Juruá
Ana Lúcia Garcia Torres, Eloá Arevalo Gomes, Iatiçara Oliveira da Silva, Silvia Regina Sampaio Freitas (orgs), 2019
35 - Amazônia saúde e ambiente na região do Médio Juruá
Ana Lúcia Garcia Torres, Eloá Arevalo Gomes, Iatiçara Oliveira da Silva, Silvia Regina Sampaio Freitas (orgs), 2019
36 - Educação em pauta
Fátima Aparecida Kian e Ailton Paulo de Oliveira (orgs), 2019
37 – Tecnologias na formação inicial de professores
Luis Carlos Rabelo Vieira, 2019
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
38 – Produções teórico-práticas nos contextos de saúde,
Nazaré Maria de Albuquerque Hayasida e Gisele Cristina Resende, 2019
39 – Protagonismo Internacional do Brasil na Agenda de Segurança Alimentar,
Shigeaki Ueki Alves da Paixão, 2019
40 – Serviço Social, Trabalho e Sustentabilidade
Roberta Ferreira Coelho de Andrade, Hamida Assunção Pinheiro, Lidiany de Lima
Cavalcante e Marinez Gil Nogueira Cunha, 2019
41 – Diálogos interdisciplinares em educação profissional,
Alexandre de Oliveira e Xênia de Castro Barbosa, 2019
42 – Corpos, sociedade e extensões.
Ártemis de Araújo Soares, Shigeaki Ueki Alves da Paixão e Ghislaine Raposo Bacelar
(org.), 2020
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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Diálogos intedisciplinares do Alto Solimóes
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Ana Maria de Mello Campos, Érica Fabrícia Melo e Sebastião Melo Campos
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