Albert P. Dahoui
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Índice
1 – Introdução
1.1 – As devidas explicações 51.2 – Palavras de incentivo 71.3 – Diferença entre ficção e não-ficção 101.4 – Os vários tipos de ficção 121.5 – Tema, gênero e trama 131.6 – Rápidas palavras sobre Estilo 14
2 - Personagens
2.1 – Introdução à teoria dos personagens. 152.2 – Definindo os personagens 18
2.2.1 – Apresentando os personagens ao leitor. 19
2.3 – Os vários tipos de personagens 222.4 – Arquétipos 262.5 – A mente masculina e feminina 322.6 – Contrariando o desejo do Protagonista 342.7 – Definindo o Antagonista 35
3 – Estrutura da história
3.1 – Estruturas básicas 383.2 – Estrutura básica de uma história 393.3 – Algumas dicas de como estruturar uma história 433.4 – Um método de estruturar uma história 45
4 – Narrativa
4.1 – O Método do Actor’s Studio de Nova Iorque 514.2 – Mostrando e não dizendo (
Show not tell
) 524.3 – Escolhendo um Ponto-de-Vista (POV) 564.4 – Ritmo da história 59
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4.5 – Progressão da história
O sucesso de escrever
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4.6 – Técnicas para enriquecer a narrativa
4.6.1 – Cadinho: chave para uma boa história 664.6.2 – Circunscrição da história (Espaço e Tempo) 674.6.3 – Suspense – mantendo o leitor interessado 694.6.4 – Criando tensão 704.6.5 –
Flashbacks
714.6.6 – Criando credibilidade: suspensão da descrença 724.6.7 – Quando o menos é mais 744.6.8 – Técnica do instantâneo 754.6.9 – Ressonância 76
4.7 – Cenas de amor 784.8 – Problemas imprevistos no decorrer da história 794.9 – Como salvar uma história que está caminhando mal ou empacou 81
5 – Diálogos
5.1 – Introdução 845.2 – Marcadores de diálogos 88
5.21 – Marcadores anteriores, no meio e posteriores. 905.22 – Estilo jornalístico de marcação 91
5.3 – Monólogos 925.4 – Diálogos que não funcionam e os que quebram as regras 94
5.4.1 – Diálogos telegráficos (excessivamente rápidos) 955.4.2 – Quebrando as regras do diálogo tradicional 965.4.3 – Diálogos melodramáticos 975.4.4 – Diálogos cospe-fogo 1005.4.5 – Diálogos esdrúxulos 101
5.5 – Comentário final sobre diálogos 102
6 – Revisão
6.1 – Revisar é fundamental 1036.2 – Lipoaspiração 107
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7 – Escrevendo para cinema, televisão, teatro e outras mídias.
7.1 – Cinema 111
7.1.1 – Comentários gerais sobre escrever para cinema 116
7.2 – Televisão 1177.3 – Teatro 1197.4 – Outras mídias 121
8 – Não-Ficção
8.1 – Técnicas de ficção aplicadas a não-ficção 1238.2 – Pesquisa: chave para o sucesso. 1248.3 – Algumas sugestões para a não-ficção 126
9 – Embalando o produto
9.1 – Procurando uma editora 1299.2 – O mercado americano 1339.3 – Lançando o livro 1419.4 – Aspectos financeiros 1449.5 – Cuidados que o autor deve ter 146
10 – Informações e um modelo de estrutura
10.1 – Informações na Internet
10.1.1 – Mecanismos de busca 15010.1.2 – Sites brasileiros de interesse 15010.1.3 – Sites internacionais de interesse 15110.1.4 – Print-On-Demand – Impressão Por Encomenda (IPE) 152
10.2 – Um modelo de estrutura de romance 154Bibliografia 157
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O sucesso de escrever
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Drama.Tragédia.Mistério/Suspense.Espiritualista/Esotérico/Espírita/Sobrenatural.Regional.Romântico.Ficção científica.Esportes.Espionagem/Thriller.Aventura ou assuntos para adolescentes.É muito natural que a pessoa normalmente escreva sobre aquilo que gosta de ler.Por razões pessoais, alguém se sente atraído por determinado tema, trata de ler sobre o assunto e acaba por desenvolver suas próprias histórias a esse respeito. Sua atenção fica sempre polarizada por este assunto e as demais notícias do mundo não o impactam tanto quanto o assunto pelo qual se sente atraído. É natural que este escritor irá direcionar sua criatividade para um dos temas acima. Não significa dizer que não possa atuar em outro segmento, mas terá que se sentir atraído pelo novo assunto.
1.5 – Tema, gênero e trama.
Quando vamos escrever uma história temos três aspectos globais a serem considerados. O primeiro é o tema, o segundo é o gênero e o terceiro é a trama. Em poucas palavras, poderíamos definir como:
Tema
é o assunto. O tema aborda um assunto das relações humanas. Não é uma coisa independente como trama ou personagens, mas é uma relação entre trama e personagens.
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Um exemplo facilita a compreensão. Você resolveu escrever sobre a maneira como o homem está destruindo o meio-ambiente. O
tema
é, portanto, ecológico. Já o
gênero
é a forma como você irá abordar esse tema. Pode ser uma história repleta de ação onde nosso herói resolve lutar contra uma grande empresa que mata baleias para extrair seu óleo e ganhar dinheiro. Neste caso, o
gênero
é aventura.A
trama
é como vamos desenvolver nossa história. Pode ser a história de umbaleeiro que fica horrorizado com a morte das baleias e resolve mudar de vida. Ele éperseguido por seu antigo capitão; sabe coisas demais. A
trama
é, pois, o conjunto dos fatos encadeados que constituem a ação de uma obra de ficção.Resumindo, neste exemplo, o tema é ecológico, o gênero é aventura e a trama é a história de um ex-baleeiro que é perseguido por seu antigo capitão e, resolve denunciar o morticínio das baleias à televisão na tentativa de impedir que tal degradação continue.É importante estabelecer-se antecipadamente o tema, o gênero e a trama, pois irão influenciar a forma de escrever e a pesquisa sobre o assunto. Pode-se escrever sobre o mesmo tema, modificando o gênero e, conseqüentemente, a trama e com isto se obter uma história original e fresca com uma trama que impele o leitor até o fim. Escolhercerto o tema – deve ser algo atual, mesmo que possa relacionar-se com algo do passado– é meio caminho para se escrever algo que encontre eco no público.
1.6 – Rápidas palavras sobre Estilo
Se há algo subjetivo é Estilo. Um leitor pode adorar um determinado escritor e achar seu estilo encantador, já outro leitor poderá achá-lo tedioso e excessiva mente rebuscado. Como então escolher o seu estilo, a sua própria voz? Como ser original e não tentar copiar alguns ‘monstros sagrados’ da literatura?
Seja você mesmo
. Você tem uma personalidade que lhe é própria e que ninguém poderá copiar. Ao escrever, procure se lembrar de que o escritor escreve sobre o que gosta e sobre um assunto que domina. Seja simplesmente você e tudo há de correr bem.
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2 - Personagens
2.1 – Introdução à teoria dos personagens.
Vamos partir do pressuposto que você nunca escreveu um livro. Durante sua vida escreveu algumas páginas, mas sempre teve vontade de escrever algo maior do que simples contos ou algumas páginas onde você colocou um pouco de si. Se, por outro lado, você é um escritor renomado, não custa ler um pouco sobre a teoria dos Personagens, pois, com sua experiência, você poderá tirar algumas idéias interessantes para aprimorar sua arte. Afinal de contas, todos nós estamos sempre aprendendo.De repente, você teve a idéia de escrever sobre um determinado tema e deseja contar uma história que imaginou. Como o processo criativo é muito individual, seria impossível estabelecer o que vem primeiro: o desejo de escrever ou a idéia de uma história. Provavelmente, as duas aparecem simultaneamente, uma em sinergia com a outra. A penas para podermos estabelecer um método didático, vamos estabelecer que você vai escrever um livro de ficção. (Para aqueles que pretendem escrever um livro de não-ficção, o processo é muito parecido, mesmo que algumas etapas possam ser diferentes. Todavia, no capítulo dedicado aos trabalhos de não-ficção, iremos abordar técnicas de ficção ligadas à não-ficção que poderão ser úteis para o seu livro de não-ficção. Deste modo, mesmo que seu apetite esteja voltado para a não-ficção, sugerimos que leia o que iremos abordar em ficção, pois você verá que lhe será de valia. Aliás,sugiro sempre que o escritor de ficção também escreva não-ficção, e vice-versa, pois isto só irá enriquecê-lo como escritor. Nada como conhecer os dois lados da medalha).
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O Mestre
•
Principais características de caráter:
Simpático, meigo, determinado, adaptável e de gênio brando.
•
Lado negativo do caráter:
tendência ao vício e ao sexo desbragado, teimosia burra, falsidade.
•
Características físicas:
Magro, baixo, rosto simpático nem sempre belo, mas agradável.
O Pescador
•
Principais características de caráter:
Alerta, buliçoso, esperto, um tanto recluso,infantil.
•
Lado negativo do caráter:
Misógino, espantadiço, tendências homossexuais.
•
Características físicas:
Atlético, rosto feminino, simpático.
O Xamã
•
Principais características de caráter:
Paciente, perseverante, generoso,equilibrado e sábio.
•
Lado negativo do caráter:
tendência ao descontrole emocional, astúcia, tendência à duplicidade.
•
Características físicas:
Alto, esguio, rosto feio lembrando um animal de rapina ou uma cobra.
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A Donzela
•
Principais características de caráter:
Meiga, graciosa, maternal, elegante e sedutora.
•
Lado negativo do caráter:
Falsidade, sensualidade exacerbada, consumismo doentio. Exagero no vestir.
•
Características físicas:
Bela, roliça e naturalmente sensual. Tendência à obesidade quando mais velha.
A Cerebrina
•
Principais características de caráter:
Forte, autoritária, organizada e inteligente. Adora crianças, mas nem sempre tem paciência para educá-los.
•
Lado negativo do caráter:
Tirânica, tendências ao descontrole emocional, loucura.
•
Características físicas:
Quadris e seios largos, rosto sério. Tendência à obesidade e ar matronal.
A Guerreira
•
Principais características de caráter:
Belicosa, fiel, ciumenta e sensual.Demonstra determinação e age, algumas vezes, usando mais o emocional do que o racional.
•
Lado negativo do caráter:
Infiel e explosiva. Tendência à prostituição e a vulgaridade.
•
Características físicas:
Sensual, nem sempre bela, mas atraente.
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O sucesso de escrever
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A Anciã
•
Principais características de caráter:
Calma, benevolente, justa e digna.
•
Lado negativo do caráter:
Rixenta, explosiva e tendência a julgar precipitadamente as pessoas.
•
Características físicas:
Rosto severo com certa bondade, corpo esguio.
A Militante
•
Principais características de caráter:
Valorosa, ciumenta e muitas vezes incompreendida devido ao seu modo um tanto masculino.
•
Lado negativo do caráter:
Ciúme doentio, força excessiva e tendência à tirania.Nem sempre usa a inteligência para obter o que deseja, preferindo a força bruta.
•
Características físicas:
Forte, masculinizada e rosto severo.Se desejar basear-se nos arquétipos acima, sugerimos que mescle os tipos, tornando-os mais complexos. Construa um personagem usando os lados positivos e negativos de sua personalidade, ou seja, seus pontos fortes e fracos, para conseguir alguém bem próximo da realidade. Para aqueles que gostam dos aspectos esotéricos da realidade,pode usar as definições de Raios (os sete raios divinos), o que facilita a construção dos personagens. Há, também, um estudo psicológico intitulado
Eneagramas
,
que podem lhe dar nove aspectos sobre a personalidade humana. Além destes instrumentos, é muito comum que um personagem tenha aspectos masculinos e femininos em proporções variadas. Caberá ao escritor brincar de Deus – é divertido – e arquitetar um personagem interessante. Quanto mais original o seu personagem for, mais instigará o leitor a continuar lendo.
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cercam e sua única saída é precipitar-se no vazio e cair os cinquenta andares até a morte. Ele olha para trás e um dos perseguidores grita:– Manoel, não seja tolo. Só queremos conversar. Ele vira-se e prepara-se para saltar para morte. No momento em que vai pular, se vira e grita: – A verdade prevalecerá.
Macete
: Se quiser mudar depois a ordem da cena, e estiver usando o MS-Word, abra uma tabela no computador. Na primeira coluna, numere as cenas. Na segunda coluna, o título resumido da ação (se desejar). Na terceira e mais larga das colunas, escreva o texto. Se desejar abrir uma quarta coluna, poderá fazê-lo para anotações, como por exemplo, o nome dos personagens, o tipo (Protagonista=Guerreiro+Cerebrina), outras informações que achar pertinente, por exemplo: descrever a roupa dos perseguidores para mostrar que são homens ricos. Ao colocar isto numa tabela, você poderá modificara ordem das cenas, apenas alterando o número e dando um comando para reorganizar,pois o computador fará o resto. Você poderá também escrever tudo em Excel, pois émais fácil organizar tabelas e numerar de forma crescente as cenas e eventualmentesomar alguma coluna adicional que você deseje, como por exemplo, o tempo de cadacena. Isto é particularmente útil para televisão e cinema ou teatro.Se estiver usando cartões, numere-os na parte superior direita, de preferência a lápis. Desta forma, você poderá trazer uma cena para a frente ou para trás, apenas re-numerando os cartões.Escreva todas as cenas e veja os Pontos de Virada. Anote o número da cena doPonto de Virada em vermelho. Analise para ver se estão bem distribuídos. Se optar pordois Pontos de Virada e seu livro tiver cerca de 200 páginas, o primeiro deverá estarentre as páginas 40 e 45, terminando na página 50. O segundo Ponto de Virada –Reviravolta – deverá estar entre as páginas 140 e 145 e terminar a cena na página 150. Orestante ficará para o desfecho da história.
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– Mas eu não escrevo assim – dirá um escritor. – Eu simplesmente me sento e deixoa história fluir livremente. Quem me guia é a inspiração!– Maravilha – responderei. – Você não deixa de ter um método de trabalho, mesmo que aparentemente não tenha nenhum. É um método intuitivo que funciona muito bem para certos escritores talentosos, mas que pode levar a uma barafunda terrível aquele que está começando. Todavia, este livro é dedicado ao escritor novato ou que deseja ampliar sua gama de conhecimentos. Para esses, é interessante ter um certo método. Nada impede que você depois reveja como ficou sua história e compare com o que tinha planejado inicialmente. Com certeza, a sua história ficou muito mais interessante do que quando a planejou, mas responda-me com sinceridade: se você não tivesse planejado pelo menos uma trilha, você teria chegado ao seu destino? Provavelmente não. É muito fácil o escritor se perder nos meandros da inspiração e, no final de um trabalho, ou pior ainda,no meio dele, se encontrar perdido. E agora, para onde vai essa história? Seu herói virou bandido, seu vilão arrependeu-se e entrou para um convento, seu conflito morreu por falta de motivação e seus personagens tornaram-se inócuos e desvitalizados. O quefazer? Voltar atrás e reescrever, mas agora, do alto de sua experiência, você poderá guiar melhor o FMC – Fluxo Mental Criativo – para que ele não se transforme numa babel de idéias e que a parte racional de seu cérebro possa dar direção e estrutura à história.Se você optar por escrever cena a cena, você poderá ter as seguintes vantagens:1 – Uma visão geral da história antes mesmo de se aventurar a escrevê-la. Se a sinopse cena-a-cena já é impactante, trata-se, pois, de uma boa história. Então você sabe que terá menos cenas a reescrever no final.
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2 – Fica mais fácil agrupar as cenas por capítulos. Você não terá um capítulo com 5 páginas e outro com 40. Se, já na sinopse, uma cena é muito comprida,divida-a.3 – Poderá analisar cena a cena para ver se você está revelando demais e,portanto, tirando a tensão do leitor, ou se você está caminhando bem deixando sempre o leitor ‘enganchado’ para a próxima cena.4 – Você poderá analisar se a história está fluindo ou se ela se diluiu em algum ponto.5 – Ponha em sua mente que um livro é um produto a ser comercializado por uma editora e, portanto, deve ser estruturado para agradar ao leitor. Se sua história não lhe agrada, como irá agradar o leitor? Neste ponto, o escritor poderá dizer que escreve somente para seu próprio prazer. Sem problema!Acho excelente, mas se a história lhe agrada, provavelmente vai agradar a uma série de pessoas que pensam como você. E por que não ganhar dinheiro com isso? Não há nada de errado em se ganhar dinheiro escrevendo. Portanto,prepare seu livro para ser um sucesso e não apenas mais um produto medíocre.No final deste livro, dou um Método mais detalhado para estruturar uma história.
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4.7 – Cenas de amor
As cenas de amor são sempre difíceis, pois podem descambar para um erotismo exacerbado – o que pode não ser próprio para o tipo de leitor que o escritor quer atingir– ou para situações ridículas – o que fará o leitor rir e não se emocionar com o romance entre os dois personagens – ou finalmente, poderá se tornar maçante – que é o pior dos casos.Mesmo se tratando de um livro destinado a adultos, o escritor deve tomar cuidado para não vulgarizar a ação. Cenas de sexo implícito podem até existir desde que seja mim prescindíveis para a compreensão da história. Todavia, não devem ser descritas deforma chula para não ferir a sensibilidade do leitor, a não ser que o livro seja definitivamente pornográfico, quando, então, termos de baixo nível serão aceitos.Por outro lado, a descrição de uma cena de amor que implicará em sexo não precisa ser um rol de lavanderia. Ou seja, não há a necessidade de se descrever cada peça de roupa que os personagens estão retirando como se estivesse descrevendo um desfile de moda. Deixe que o leitor imagine que cor de saia Maria está usando ou que tipo de camisa Jorge está a ponto de retirar.Os diálogos devem ser bem aquilatados; o que se diz no calor da paixão, é muitas vezes um lugar comum ou ridículo. Imaginem encher páginas de ‘eu te amo ’e ‘eu também’. O leitor ficará enfastiado e tenderá a pular rapidamente a cena, indo ao final.Para que escrever algo se você já sabe que o leitor não lerá?Muitas vezes, a cena de amor é o desfecho de um romance, portanto, não precisa ser exaustivamente descrito. Por outro lado, com o intuito de criar tensão no leitor, o escritor pode interromper a cena quando ela está chegando ao seu auge.Imaginem que dois personagens desejam ardentemente um ao outro. Lutam com trauma série de circunstâncias que os atrapalharam no passado. Finalmente estão a sós e se beijam e, quando estão a ponto de se despirem, chega o marido da personagem e o
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amante se vê obrigado a fugir pela janela dos fundos para não ser pego em flagrante. A tensão é muito mais interessante do que simplesmente uma ardente cena de sexo.Autores de sucesso conseguem arrastar uma cena de amor por várias páginas,usando diálogos interessantes, quase nenhum contato físico a não ser os olhos nos olhos, e sem chegar ao sexo ou a intimidades maiores. Neste caso, o escritor usa da emoção, dos desencontros, do desejo dos personagens, sem que haja a necessidade de descrições de cenas picantes. O picante é a própria situação dos personagens que se desejam, se amam, mas por uma série de razões não conseguem satisfazer seu amor.Um livro não ficará melhor nem pior só porque o escritor descreveu uma cena de amor físico, a não ser que isto seja absolutamente imprescindível para o entendimento de algum personagem e da história em si. Podendo, evitem dar o desfecho apenas para manter o leitor agarrado ao livro.
4.8 – Problemas imprevistos no decorrer da história
Lá pelas tantas, após escrever várias páginas, você olha para o que escreveu e vê que não é o que você queria. Você sente que a história está com problemas sérios. Sua história, na sua opinião, está indo para a UTI.O primeiro passo é identificar o tipo de problema. Dependendo do que seja, é possível salvar o paciente. Vamos relacionar alguns dos muitos tipos de problema que podem surgir.A) Você deixou que um personagem tomasse as rédeas da história e agora ele está descambando para um terreno do qual você não está gostando.É muito natural o escritor deixar livre o seu Fluxo Mental Criativo (FMC) e, assim,os personagens tomam vida própria e fazem o que bem desejam. Há duas opções. A primeira é deixar o FMC livre e ver para onde tudo isso irá levá-lo. Posso garantir-lhe que você se surpreenderá, de forma agradável ou desagradável, dependendo do que o
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seu FMC ditar. Como catarse é ótimo – você estará expulsando seus demônios internose podem até ajudá-lo a se conhecer melhor –, todavia, como literatura pode não sermuito aconselhável. Neste caso, verifique o que você já escreveu, veja para onde está sedirigindo a história, faça os cortes que achar necessários para voltar ao que vocêplanejou (Você planejou mesmo ou está escrevendo de qualquer modo?) ou então revejaos rumos de sua história. Pode até se tornar melhor do que você imaginou.Quando estava escrevendo um dos romances que publiquei (Moisés, o enviado deYahveh), eu tinha planejado que Moisés seria um calhorda da pior laia, mas, nodecorrer da história, eis que o personagem tomou-se de brios, gritou a plenos pulmõesque não era o canalha que eu tinha imaginado e acabou por se tornar um Protagonistamoralmente poderoso. Quando terminei de escrever e reli, deixei como estava, pois atéeu passei a gostar dele, mesmo que, no início, minha idéia fosse fazer dele um anti-herói. Portanto, não desanime e continue a escrever; pode ser que você venha adescobrir coisas maravilhosas das quais nem sequer suspeitava.Para evitar que seu personagem descambe demais e mude completamente suahistória, planeje bem e escreva uma sinopse cena-a-cena. Ao fazer isto, você terá achance de rever cada um dos personagens e observar se estão corretamentepersonificados.B) Um desânimo profundo tomou conta de você. Você se deu conta de que suahistória é por demais comum (não é grave), ou é uma mixórdia de vários livros quevocê leu (o que é pior). Sua vontade é largar tudo e dedicar-se a outro hobby.Volto a insistir: planeje sua história no início, pois se assim fizer, descobrirá que elaé fraca. Terá, portanto, tempo para dar uma guinada antes de escrever 500 páginas edescobrir que fez uma miscelânea horrorosa. Todavia, você ainda pode salvar a suahistória. Mude o destino de sua viagem. Reveja o final e transforme-a em algo que nemvocê previu. Como? Diremos em breve.
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estrutura de um
sitcom
ou uma série de televisão, ou seja: uma cena de abertura de 3minutos que inclui um
teaser
, ou seja, os
highlights
(pontos altos) que serão apresentadono programa, e quatro segmentos de 12 minutos. No fundo, todos devem seguir amesma estrutura. A primeira parte é a Apresentação, terminando com um ‘gancho’. ASegunda parte com a Confrontação 1, terminando com um Ponto de Virada que, numdocumentário, é algo que deixa o espectador intrigado. A Confrontação 2 segue amesma estrutura e, finalmente, a Resolução, com o término do programa. É de se preverque tanto um (série de televisão) como o outro (documentário) devem terminar comuma mensagem moral, um apelo à resolução do problema focado ou a revelação de umsegredo (quando se tratar de documentários históricos). Já a Novela (
soap opera
) é um assunto muito mais complexo. Todos já tiveramoportunidade de seguir uma novela de sucesso e observaram os seguintes detalhes:1) A Novela é dividida em capítulos. Normalmente vai de 90 a 150 capítulos. É feitapara durar entre 4 e 5 meses.2) Cada capítulo é dividido em abertura de 3 minutos e 4 partes de 12 minutos cada.3) É constituída de uma trama principal com, pelo menos, 3 a 5 tramas secundárias. Astramas secundárias têm relação com a trama principal; não são histórias soltas que nadatem a ver com a história principal.3) Cada uma das tramas tem vários pontos de virada, vários
Pinch
(Embargos) – pontosde intensidade dramática e cada capítulo termina com um ‘gancho’, que deixa oespectador com vontade de assistir ao próximo capítulo.4) As novelas acompanham sistematicamente a reação do público e podem ser reescritasde acordo com o andamento da aceitação do público. A novela
Redenção
foi tão bemaceita pelo público de então que ficou sete meses no ar. Outras que não fizeram sucessoforam retiradas rapidamente e substituídas por outra novela. O acompanhamento dopúblico é fundamental, já que a novela é produto que vive de audiência. Se estiverobtendo sucesso, a Televisão poderá cobrar mais caro pelo segundo de anúncio durante
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a audiência. Caso a audiência caia, os anunciantes poderão retirar seu apoio e o produtoirá fracassar. Tal produto, portanto, poderá sofrer grandes mudanças no decurso daapresentação. Tramas secundárias podem ser priorizadas, enquanto que personagensque não agradaram podem ‘viajar’ ou até mesmo ‘morrer’.5) A Novela tem um autor principal, mas, na realidade, é escrita por vários autores dacasa, como são chamados. Trata-se, portanto, de uma obra coletiva (ou quase). Istoexigirá, por parte do autor, muito desprendimento, pois terá que ‘aturar’ várias pessoasmexendo em seu ‘filho’.6) O final da novela é resolvido através de um conjunto de fatores: autor, diretor, atoresimportantes e, especialmente, a reação popular. Ela pode ser adiada ou acelerada deacordo com a receptividade popular. Se não houve identificação do público com ospersonagens e a história, é melhor realmente encerrar a novela, mesmo queabruptamente, para evitar a debandada da audiência para o concorrente.Trabalhar numa grande rede, entretanto, é privilégio de poucos. Conheço autoresque não agüentaram a pressão e desistiram. Num ambiente onde se fundem váriaspersonalidades fortes para estruturarem uma história é inevitável que surjam conflitos,exigindo um espírito de trabalho em equipe muito apurado. Os individualistas nãoencontram espaço num ambiente com esse e a adaptação nem sempre é possível. Mas é,sem dúvida, uma experiência memorável para quem conseguir mesclar-se no ambienteda televisão.
7.3 Teatro
De todos os meios de comunicação, o teatro é o que oferece o melhor termômetroem relação à aceitação do público. Pelo fato de se ter uma audiência presente, é possívelsentir-se de chofre o que está funcionando e o que não está. Por outro lado, o teatro
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exige muito menos ação física do que o cinema, mas muito mais ação emocional atravésdo diálogo e das situações criadas. Como não se pode ficar trocando o cenário a todahora, é necessário trabalhar com um cenário (no máximo 3 – um para cada ato) e istoexige um diálogo muito mais atraente. Num filme de ação, os diálogos são levados aum mínimo, mas no teatro, eles são a própria alma do espetáculo.Quem estuda teatro, acaba adquirindo uma experiência em diálogos extremamenterica. Por outro lado, a criação de situações equívocas, que levam ao riso ou à tristeza,são fundamentais nesta milenar arte. É neste ponto que o método do Actor’s Studio deNova Iorque, já mencionado anteriormente, é de suma importância para se criar oconflito, seja ele cômico ou dramático. Se cada personagem tem um roteiro diferente emsua mente, as situações terão que ser equívocas e, portanto, hilariantes ou até mesmotrágicas.Sugerimos a leitura de peças clássicas, sejam recentes sejam antigas, para que oescritor de peças teatrais se acostume com o ritmo e andamento, que diferem muito dosdas demais artes.Não se esqueça, entretanto, que uma peça teatral precisa ser encenada. Desta forma,não escreva a peça inteira antes de ter um produtor disposto a bancar o custo deprodução. Escreva apenas um argumento (uma sinopse mais detalhada), que podevariar de 12 a 20 páginas. O produtor, provavelmente, terá suas próprias idéias, as quaiso escritor terá que incorporar, caso deseje trabalhar em conjunto com o produtor e osatores. Um ator experiente sabe de antemão o que funciona e o que não funciona. Umescritor novato terá muito que lucrar se escutar o que o produtor, o diretor e os atoresterão a sugerir.Um ator experiente é importante quando se tratar de diálogos. Como são eles queirão interpretar o que o escritor escreveu, ele poderá sugerir mudanças importantes.Muitas vezes, um diálogo parece funcionar no papel, mas quando é falado, torna-se umdesastre. É neste ponto que o ator torna-se valioso em suas críticas e sugestões.
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Cena 6 – Local 3 – O Protagonista vê seu desejo obstruído e nasce o CONFLITO.(PONTO DE VIRADA).
PARTE 2 – CONFRONTAÇÃO
Cena 7 – Novo local – O problema se complica.Cena 8 – Local diferente – O Antagonista se prepara para obstaculizar de modocompleto o Protagonista.Cena 9 – Terceiro Local – Surge uma ajuda inesperada de um novo personagem.Cena 10 – Retorno a algum Local anterior – O Guardião orienta o Protagonista, criandoum obstáculo imprevisto. (EMBARAÇO 1).Cena 11 – Um outro local – O Antagonista se choca com os amigos do Protagonista.Cena 12 – Retorno a algum Local anterior – O Protagonista se vê entre duas correntes dedecisão. (MEIO DA HISTÓRIA) (Pode ser uma calmaria – cena de amor ou dediscussões filosóficas – ou de forte impacto emocional – um abandono imprevisto deseu amor ou de uma amizade importante).Cena 13 – Um novo local – A situação se deteriora.Cena 14 – Novo local – O Protagonista tenta normalizar a situação. (EMBARAÇO 2)Cena 15 – Mais um Local – Uma nova e imprevista crise se instaura e muda o rumo daHistória. (REVIRAVOLTA)
PARTE 3 - RESOLUÇÃO
Cena 16 – Retorno ao Local do Conflito – Reversão de expectativas. Protagonista se vêengolfado em problemas e parece não ter mais saída.Cena 17 – Novo Local – Sub-tramas começam a se resolver. (Não deixe pontas soltas).Cena 18 - Um outro Local – A Hora da revelação. A luta entre Protagonista eAntagonista. Todos os segredos começam a ser desvendados.
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O sucesso de escrever
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Cena 19 –Novo Local – Todas as sub-tramas são resolvidas, para o bem ou para o mal.Cena 20 – Um Local novo e nunca visitado ou renovado – RESOLUÇÃO FINAL. Todosos segredos são desvendados. Surpresa completa para o leitor. Termina com a Moral daHistória.Neste modelo, tivemos 20 cenas, mas nada impede que haja mais ou até mesmomenos cenas. A cena pode ser quebrada em duas ou três cenas, sem nunca dar ao leitora finalização completa, a não ser a última, por razões óbvias já que a história deveterminar. Se fosse um filme, tais cenas seriam divididas em pelo menos uma dúzia decenas menores e mais dinâmicas.Quando mencionamos um novo
LOCAL
é para exatamente irmos criando umaseqüência de suspense e de cenas interrompidas, o que traz ainda mais tensão à história.Nada impede, entretanto, que tudo ocorra dentro de uma mesma locação (no caso doteatro).Faça alguns exercícios com tal modelo e crie o seu próprio para ir treinando oplanejamento estrutural de sua história. O conselho dos grandes mestres é de perderum certo tempo planejando a história e somente depois que a tiver bem definida,começar a escrever. Procure, neste caso, manter-se dentro da trilha (não um trilho queimpede a criatividade) para não fugir demais daquilo que você mesmo planejou. Boasorte e comece a escrever. Já!
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Albert P. Dahoui
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Bibliografia
CLEAVER, JERRY –
Immediate Fiction: A complete writing course
– St. Martin’s PressKRESS, NANCY -
Beginnings, Middles & Ends (Elements of Fiction Writing)
– Writers Digest BooksBURROWA, JANET –
Writing Fiction
– Pearson Longman PublishersLUKEMAN, NOAH –
The First Five pages – A writer’s guide to staying out of the rejection pile
–FiresideLUKEMAN, NOAH –
The Plot Thickens: 8 ways to bring fiction to life.
– St. Martin’s PressSTEIN, SOL –
Stein on Writing
– Griffin Trade PaperbackCHIARELLA, TOM –
Writing Dialogues
– Writers Digest BooksHUNTLEY, CHRIS & PHILLIPS, M. A. –
Dramatica Theory
– Screenplay Systems Inc.HUNTLEY, CHRIS & PHILLIPS, M. A. –
Storyview
- Screenplay Systems Inc.CAMESON, BLITHE & COOK, MARSHALL J. –
Your novel proposal – From Creation to Contract
–Writers Digest BooksFIELD, SYD –
Manual do Roteiro
– Editora Objetiva.COMPARATO, DOC –
Roteiro, Arte e Técnica de escrever para cinema e televisão
– Editorial Nórdicaltda.DICKERSON, DONYA –
Guide to Literary Agents
– Writers Digest Books
RELAÇÃO DE LIVROS PUBLICADOS PELO AUTOR.
Pela Heresis – um selo das Publicações Lachatre Editora Ltda (
lachatre.com.br
)1)
A Queda dos Anjos
; 2)
A Era dos Deuses
; 3)
O primeiro faraó
; 4)
Os patriarcas de Yahveh
; 5)
Moises,O enviado de Yahveh
; 6)
Jesus, o divino discípulo
; 7)
Jesus, o divino mestre
; 8)
The Making of de A Sagados Capelinos
; 9)
Shiva, a alvorada da Índia
.Pela Virtualbookworms.com –
Estados Unidos
(
virtualbookworms.com/outcaste.html
)1)
Outcaste
; 2)
Dispersed
(lançamento planejado para Maio 2004)
Este trabalho foi revisado graciosamente por
Maria Albertina F.G. Estácio
2004 – Albert Paul Dahoui
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