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A religiosidade na literatura de cordel

Temática

A literatura de cordel é um instrumento da poesia popular impresso, com influência de espanhóis, franceses e portugueses. Os folhetos presos em barbantes chamados de cordéis são apresentados em lugares populares como feiras, praças, mercados de grande movimentação e bancas de revista. Devido a sua importância enquanto documento histórico, social e como instrumento de comunicação, poetas e estudiosos da cultura dedicaram-se a classificar e catalogar a literatura de cordel, tendo em vista a variedade de informações contidas em seus folhetos. O presente artigo tem como objetivo analisar os conteúdos religiosos na Literatura de Cordel, especificamente, os que abordam o tema “santidade” nos cordéis da Biblioteca Átila Almeida, situada no Campus I da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).Palavras-chave: Comunicação e religiosidade. Literatura de cordel e santidade. Biblioteca Átila Almeida.

A religiosidade na literatura de cordel 1 The religiosity in cordel literature Elthon Ferreira RIBEIRO2 Orlando Ângelo da SILVA3 Resumo A literatura de cordel é um instrumento da poesia popular impresso, com influência de espanhóis, franceses e portugueses. Os folhetos presos em barbantes chamados de cordéis são apresentados em lugares populares como feiras, praças, mercados de grande movimentação e bancas de revista. Devido a sua importância enquanto documento histórico, social e como instrumento de comunicação, poetas e estudiosos da cultura dedicaram-se a classificar e catalogar a literatura de cordel, tendo em vista a variedade de informações contidas em seus folhetos. O presente artigo tem como objetivo analisar os conteúdos religiosos na Literatura de Cordel, especificamente, os que abordam o tema “santidade” nos cordéis da Biblioteca Átila Almeida, situada no Campus I da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Palavras-chave: Comunicação e religiosidade. Literatura de cordel e santidade. Biblioteca Átila Almeida. Abstract The Cordel Literature is an instrument of popular poetry printed, influenced by spanish, french and portuguese. The booklets are stuck in string called strings are presented in popular places like fairs, squares, markets of great movement and magazine stands. Because of their importance as a historical document, poets and scholars of the culture have been dedicated to classifying and cataloging the cordel literature, taking into consideration the variety of information contained in its booklets. This article has the objective of analyzing the religious contents in the Cordel Literature, specifically those that approach the theme "sanctity" in the cords of the Atila Almeida Library, located in Campus I of the State University of Paraíba (UEPB). Keywords: Communication and religion. Cordel literature and holiness. Átila de Almeida Library. Artigo resultante de parte da investigação intitulada: “A religiosidade no cordel: comunicação de escritos populares” (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/UEPB - Cota 20152016), apoiada nos estudos do Grupo de Pesquisa “Comunicação, Memória e Cultura Popular”. 1 2 Aluno especial do Programa de Pós-graduação em Literatura e Interculturalidade pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: [email protected] Mestre em Ciências da Sociedade. Professor do Departamento de Jornalismo da UEPB. E-mail: [email protected]. 3 Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 128 Introdução Ao tratar da literatura de cordel, é necessário entender inicialmente a noção de cultura. Segundo ALBUQUERQUE (2011), a cultura não é mais relacionada com a natureza e se torna a representação da sociedade e da civilização, principalmente num mundo mais racional e sem encantamentos. Com isso, a cultura pode ser classificada em três tipos: cultura popular, erudita e cultura de massa. No caso da cultura popular, ela estaria ligada a ideia de sobrevivência, tradição, em que a memória, as ações são preservadas. A literatura de cordel é um instrumento da poesia popular impresso, com influência de espanhóis, franceses e portugueses. Os folhetos são presos em barbantes chamados de cordéis e apresentados em lugares populares como feiras, praças, mercados de grande movimentação e bancas de revista. O cordel em terras brasileiras teve seu auge entre as décadas de 30 e 50 do século XX, com inovações de João Martins de Athayde no que diz respeito ao seu formato impresso (entre 15 e 17 cm x 11 cm; com 6 ou 8 páginas) que permanecem até os dias atuais. Desde o seu surgimento, a literatura de cordel esteve atrelada as manifestações artísticas, históricas e sociais das classes populares. No Brasil, essa função foi ressaltada pelo pouco acesso aos meios de comunicação de massa, fazendo com que os cordéis fossem as principais fontes de informação da população carente. Desta forma, devido a sua importância enquanto documento histórico, poetas e estudiosos da cultura dedicaram-se a classificar e catalogar a literatura de cordel, tendo em vista a variedade de informações contidas em seus folhetos. As diversas transformações ocorridas na humanidade ao longo dos anos fizeram com que o conteúdo de informações se tornasse documentos com níveis hierárquicos, assuntos e tipos obedecendo a códigos de classificação bibliográficos. Albuquerque (2011) explica que as classificações bibliográficas são instrumentos na organização de acervos em que os documentos são armazenados segundo a área de assuntos. E, entre esses documentos, estariam os cordéis que por possuírem diversos temas como romances, religião, humor, heroísmo, vilania e outros, também teriam uma classificação bibliográfica. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 129 Júlio Caro Baroja citado por Albuquerque (2011) propõe a seguinte classificação para os cordéis com base nos folhetins da Espanha: antigos; cavalheirescos; novelescos: de amores e aventuras; biográficos e de aventura propícia; de cativos e renegados; de mulheres valentes; homens bravos e aventureiros; contrabandistas e guapos; bandoleiros; históricos; religiosos: hagiográficos; castigos de Deus, milagres e intervenções da Virgem Maria, expositivos, didáticos, ascéticos; casos raros e prodígios; crimes; controvérsias; satíricos: sobre mulheres, sobre pessoas de distinta condição; narrações fantásticas: contos conhecidos no folclore europeu; contos localizados; para representar diálogos e monólogos e por fim, desilusões. Vários autores brasileiros também fizeram diversas classificações sobre os temas encontrados nos cordéis. “Roberto Câmara Benjamin, sugere uma classificação para os temas de religião: fatos de época ou de acontecido, romances e opinião. No entanto, para a primeira classificação alguns estudiosos consideram ciclo; a segunda é gênero e a última é um julgamento de valor.” (ALBUQUERQUE, 2011, p.72). Sendo assim o presente artigo buscou ampliar os horizontes entre a Literatura de Cordel e a religiosidade, compreendendo a sua importância como instrumento de informação, de senso crítico e lúdico. Verificou-se aqui, a possibilidade de avançar com as teorias e práticas sobre o cordel, entendendo-o como um instrumento de comunicação e, que, assim sendo, pode-se contribuir com o campo da comunicação, pelo seu caráter interdisciplinar, dialogando com a cultura, religião e a literatura. Além disso, o estudo também se torna relevante pelo fato da UEPB ter uma das maiores bibliotecas de Literatura de Cordel do mundo, adquirida dos herdeiros do pesquisador Átila Almeida, onde a pesquisa de campo foi desenvolvida. Na pesquisa constatou-se que os cordelistas trataram nos cordéis analisados, temas que giram em torno da religiosidade, especificamente “santidade”. Fato provocado pela influência do catolicismo na região do Nordeste, fazendo com que os folhetos discursem e se dirigem diretamente aos fiéis. 1 Religiosidade e santidade: classificação das temáticas As classes elaboradas ou recriadas no tocante à “Literatura Popular”, nas classificações bibliográficas, são ao todo vinte e sete, segundo a autora Maria Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 130 Albuquerque (2011), quais sejam: Agricultura trata de técnicas utilizadas para cultivo de plantas; Biografias e Personalidades correspondem aos cordéis sobre pessoas atuais e de destaque; Bravura e Valentia contam as bravuras dos cangaceiros e aqueles mesmo “fracos” são capazes de lutar com homens fortes; Cidade e Vida Urbana descrevem cidades e Estados; Ciência fala sobre conhecimentos adquiridos com a teoria ou prática de estudos científicos; Contos trata sobre os folhetos que falam de estórias; Crime trata sobre a violação das condutas morais e éticas; Cultura sobre tradições e costumes do povo, tem ainda as classificações: Educação; Esporte; Erotismo; Feitiçaria; Fenômeno Sobrenatural; História; Homossexualismo; Humor; Intempéries (folhetos que tratam de assuntos relacionados às secas, tempestades, inundações); Justiça; Meio Ambiente; Moralidade; Morte; Peleja (homenagens a antigos amigos poetas); Poder; Político e Social; Religião; Romance; Saúde/ Doença. No que diz respeito à classe temática religião ou religiosidade, os temas envolvem fé, evangelização, santidade, maternidade, santificação, perdão, bondade, transgressão, divindade, salvação, regeneração, libertação, humildade, aconselhamento, profecia, imaginação, criação, crucificação, pregação, cristianismo, transformação, sermão, devoção, ensinamentos e natividade. Por exemplo, dentro do tema fé existem as figuras: crente, milagre, milagres e fiéis; do tema natividade, os vocábulos: natal e Jesus; o vocábulo profetizou figurativa ao tema profeta; Deus figurativiza o tema divindade e assim por diante. Tendo como base essa classificação de Maria Albuquerque (2011), fez-se um levantamento dos cordéis da Biblioteca Átila Almeida que possuem em seus títulos, versos, palavras associadas com o tema “santidade”, dentro de uma temática maior, “religiosidade”. Entretanto, a autora ressalta que a classificação tem como ponto fundamental a organização dos acervos dos folhetos de cordéis, facilitando, portanto, no momento da procura de acordo com o tema desejado pelo usuário, entretanto, as classificações temáticas tratadas são inesgotáveis, podendo ter novas classificações. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 131 2 Estudo dos cordéis Para realizar a pesquisa, utilizamos o aporte teórico-conceitual das teorias e estudos referentes às seguintes questões: Literatura de Cordel/cordel (ALBUQUERQUE, 2011); religiosidade (FILHO, 2011) e análise de conteúdo (FONSECA JÚNIOR, 2011; BARDIN, 2010). Os procedimentos metodológicos seguiu os seguintes passos: catalogação dos cordéis referentes ao tema, disponibilizados na Biblioteca Átila de Almeida, situada no Campus I da UEPB; análise de conteúdo dos cordéis selecionados, análise documental e revisão da bibliografia específica. A análise de conteúdo foi utilizada nesta pesquisa com o intuito de identificar por meio dos textos expressos nos cordéis disponíveis na Biblioteca Átila Almeida, os que discursem acerca da “Santidade”. O método utilizado viabilizou não só a catalogação dos folhetos de acordo com a classificação das temáticas propostas por Albuquerque (2011), como também facilitou a compreensão dos enunciados escritos pelos cordelistas pesquisados, dando margem ao entendimento de suas posições e pensamentos referentes à temática “Santidade”. A Biblioteca Átila Almeida, Campus I da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) conta atualmente de um acervo com mais de nove mil títulos e exatos 15.2324 volumes de cordéis, no qual para esta pesquisa foram catalogados cerca de 1.500 folhetos (unidade de amostragem), dos quais 105 abordam, em seus títulos, termos associados à religião. Após o levantamento dos títulos, foram analisados os conteúdos informacionais de cada cordel. Nesta segunda etapa foi realizada a leitura integral dos cordéis selecionados, com o objetivo de obter as informações necessárias para uma posterior classificação. Optou-se pela escolha dos folhetos com o tema “Santidade”, constando de quinze folhetos, quais sejam: 1-A briga dos três santos (Marco Di Aurélio), 2-A chegada do Santo Papa (José Soares), 3- Conheça a vida dos santos juninos (Isonel Nascimento Araújo), 4-Assim era São Francisco (Gonzaga Vieira), 5- O encontro de Frei Damião com o Padre Cícero no céu (Natanael de Lima), 6-Encontro de São 4 Dados informados pela Biblioteca Átila de Almeida em 25/04/2016 e 06/12/2016. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 132 Francisco com Padim Ciço do Juazeiro (Manoel Monteiro), 7- Festa dos Santos (João Pedro do Juazeiro), 8-História do senhor João de Deus: João Paulo II (José Camelo de Melo), 9-João Paulo II: Nascimento, vida e morte (Antonio klévisson Viana e Arievaldo Viana), 10-Os mais violentos dias do Piancó: Vida e morte do Padre Aristides (Josealdo Rodrigues Leite), 11-Meu São José dos Cordeiros (João Pedro do Juazeiro), 12- São Frantônio, o santo do milênio (Jota Batista), 13-São Jorge, o santo guerreiro: nascimento, vida e morte (Gonçalo Ferreira da Silva), 14-No sesquicentenário do Padre Cícero (F. Silva Nobre), 15-Visita do Santo Papa ao Brasil e sua palestra com o presidente João Figueiredo em 30 de julho de 1980 (Apolônio Alves dos Santos). Nos cordéis a foram analisados desde os seus títulos, as capas, expressões religiosas, imagens, em que se observou a utilização de palavras nos versos dos cordéis como: “santos”, “São”, “santo”, “santidade”, a presença de acontecimentos envolvendo a fé, os santos e personalidades da Igreja Católica. Realizou a leitura dos mesmos na íntegra e utilizadas as técnicas de pesquisa: análise de conteúdo e análise documental, sendo esses elementos importantes, pois os caracterizam como pertencentes ao tema “Santidade”. Segundo a definição5, santidade é a qualidade ou característica de quem pode ser considerado santo, dotado de virtudes, inocência, piedade e pureza. O conceito de santidade está intrinsecamente relacionado com a religiosidade e a fé. De acordo com a doutrina cristã, a santificação é o processo de tornar algo ou alguém santo, ou seja, que possui santidade. Trata-se da separação e renúncia daquilo que é impuro, mau e profano, dedicando-se a uma vida de devoção e consagração total a Deus, no qual o tema “Santidade” está dentro de uma temática mais ampla, a Religiosidade. 5 Definição encontrada no site http://www.significados.com.br/santidade/. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 133 Figura 1- Gráfico sobre os folhetos com a temática “Religiosidade” e “Santidade” encontrados na Biblioteca Átila Almeida 6 3 Análise dos cordéis da temática “santidade” 3.1 Folheto: A briga dos três santos, de Marco Di Aurélio (2004) Entre os cordéis da temática Santidade, foram selecionados cinco para análise de conteúdo mais detalhada, entre eles: “A briga dos três santos”, autoria de Marco di Aurélio (2004). Ao ser analisado, o seu conteúdo foi classificado como cordel com tema ligado a “Santidade” dentro da temática Religião, por ter elementos que comprovam isso, a começar pelo título que tem a palavra “santos”. O cordel cita “São José, São Francisco e São Pedro”, repetindo a expressão “santo” várias vezes, além de tratar de seus feitos. O autor através da história da briga entre os três santos São José, São Pedro e São Francisco, trata das suas ações quanto à água, incluindo o tema Rio São Francisco, 6 Dados coletados na Biblioteca Átila Almeida na Universidade Estadual da Paraíba em maio de 2017. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 134 em que são importantes para que a população por meio de sua fé consiga ter água num Nordeste tão seco. Abaixo, trechos do cordel destacado em negrito as palavras e expressões que evidenciam a ligação com a temática Santidade. O que agora vou contar Que parece não se crer É uma briga de santo Não sou eu nem é você Não cabe açúcar nem sal Não bote colher de pau Pois quem botar vai morrer (AURÉLIO, 2004, p.1). São Pedro é o chaveiro Abre a porta que quer São José intercessor São Francisco homem de fé O povo pede pros três Mesmo pedido se fez como carta de melé (AURÉLIO, 2004, p.2). O autor trata também sobre o São Francisco como santo e ao mesmo tempo como o rio, em que São José e São Pedro brigam e fazem com que o rio diminuía a cada dia. O São Francisco que foi Um rio muito sereno Hoje é tão cobiçado Todo dia é mais pequeno Pois São José e São Pedro Brigando não sentem medo Vai São Francisco morrendo (AURÉLIO, 2004, p.3). No final do cordel, Marco Di Aurélio faz o leitor refletir sobre de quem é a culpa pela falta de água? O homem também é culpado por sua incompetência, porém o ser humano acusa apenas o céu (divino), as autoridades, e nunca a si próprio. Em nossos grandes jornais Culpamos agora o céu Culpamos os governantes De civil a coronel Mas não se ouviu a ciência Nem mesmo a competência escrita em voz de cordel O homem apenas vai Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 135 Seguir com a incompetência Com passado e futuro Só pela conveniência Do poder que o satisfaz Que todo minuto a mais Lhe enche de onipotência (AURÉLIO, 2004, p.6). 3.2 Folheto João Paulo II: Nascimento, vida e morte, de Antonio Klévisson Viana e Arievaldo Viana O cordel “João Paulo II: Nascimento, vida e morte”, de Antonio Klévisson Viana e Arievaldo Viana (s/d), o mais longo dos cordéis selecionados, trata desde o nascimento de João Paulo II em 1920, conforme a estrofe: Foi em mil e novecentos E vinte, se não me engano No dia 18 de maio A mando do Soberano Nasce o menino Para pastor do destino De parte do gênero humano (VIANA & VIANA, s.d., p.2). No cordel são contados diversos acontecimentos, entre eles, o que envolve a família de João Paulo II, como as mortes do seu pai, mãe e irmã. Sobre a vida religiosa, o cordelista trata sobre o seu ingresso num grupo de teatro que se apresenta em missas, e já é o primeiro indício de sua vocação ao sacerdócio. Wojtyla ingressa num grupo E passa a representar Faz teatro para as massas Buscando assim, resgatar A fé que havia no povo Trazendo um alento novo Para a vida retomar (VIANA & VIANA, s.d., p.7). Depois disso, ele entra para estudar na Igreja, tem aulas no seminário e, finalmente, depois de ser padre, bispo, cardeal João Paulo II assume o papado, após a morte do Papa João Paulo I. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 136 Karol adotou o nome De João Paulo II Em homenagem ao primeiro A fim de mostrar ao mundo Que os planos de Deus não falham E jamais se atrapalham Pois o seu poder é profundo (VIANA & VIANA, s.d., p.14). Durante o tempo em que ficou como Papa, João Paulo II foi muito importante para a Igreja Católica e para o mundo. Porém, seu Pontificado Mudou o perfil do mundo Foi um divisor de águas Rio perene e profundo Qualquer teólogo garante A igreja mudou bastante Com João Paulo II Só o tempo mostrará Sua real dimensão Mas o povo, para sempre O trará no coração Merece o pesar e pranto Pois foi ele um Homem Santo Que, humilde, beijou o chão (VIANA & VIANA, s.d., p.24). O “Santo Padre” como é denominado João Paulo II pelos cordelistas Antonio Klévisson Viana e Arievaldo Viana, morreu aos 84 anos, em 2005, vítima de uma parada cardiorrespiratória, último fato tratado no cordel. 3.3 Folheto: Os mais violentos dias do Piancó: Vida e morte do Padre Aristides, de Josealdo Rodrigues Leite (2006) No cordel “Os mais violentos dias do Piancó: Vida e morte do Padre Aristides.” de Josealdo Rodrigues Leite (2006) trata sobre os 80 anos da passagem da Coluna Prestes, resgatando a história da vida e a violenta morte do Padre Aristides, por ocasião da passagem da Coluna Prestes por Piancó, em que o padre e os seus companheiros lutaram defendendo aquela cidade sertaneja. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 137 Padre Aristides foi uma figura marcante da história política do Vale do Piancó e da Paraíba. Sua marca registrada na história é fruto não só de sua carreira política, mas, também, de sua trágica morte, sendo ele trucidado por integrantes da Coluna Prestes, em um barreiro. Podemos observar a importância da figura do padre nos seguintes trechos: Vou falar de um cabra macho Daqueles cabras da peste Que enfrentou com coragem A fúria da Coluna Prestes Foi Padre Aristides um louco Mas como ele, eram poucos Que enfrentava o que viesse (LEITE, 2006, p.7). É relatado que ele não gostava do curso que fazia. Então, seu pai o colocou no seminário onde se ordenou padre. Depois, se tornou líder político na cidade de Piancó. O nome ficou conhecido Padre Aristides Ferreira da Cruz Pelos feitos realizados Do Padre com a sua luz O povo dele se agradou E para política levou O seguidor de Jesus (LEITE, 2006, p.12). Nos últimos versos tratam dos momentos tensos da passagem da Coluna Prestes no Vale do Piancó, momentos antes do Padre Aristides morrer. Padre Aristides viu logo Que ali iria morrer E pediu uma última coisa Que queria fazer Pedir perdão a Deus Piedade para os seus Mas nem isso pôde ter (LEITE, 2006, p.37). 3.4 Folheto: Festa dos Santos, de João Pedro do Juazeiro (2005) O cordel “Festa dos Santos”, autoria de João Pedro do Juazeiro, trata de uma “festa no céu” repleta de santos (mais de trinta mencionados), entre eles: São Pedro, São Matheus, São Miguel, São Judas Tadeu, Imaculada Conceição, São Benedito, São Bento, Virgem Maria, São José, anjos e outros seres celestiais que cantam, tocam Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 138 instrumentos, dançam, alegram o céu, realizam milagres e presenciam acontecimentos como: a beatificação de Padre Cícero, conforme podemos observar nos trechos: Para quebrar a rotina Chegou São Miguel Com a guitarra na mão Com maracá Manoel São Pedro sem besteira Grita é roque pauleira Vão chamar Gabriel (JUAZEIRO, 2005, p.6). Ainda hoje no céu Tem festa noite e dia Aqui neste cordel Descrevo que a alegria É pela beatificação Do “Padim Ciço Romão” Paz, amor que irradia (JUAZEIRO, 2005, p.8). O cordelista no final convida o leitor a comprar o cordel porque assim os anjos farão festa no céu e ficarão felizes. Caro leitor findo Quando um bandolim Os anjos celestiais Entram um canto assim Comprem este cordel E receberão no céu Um galardão sem fim (JUAZEIRO, 2005, p.8). 3.5 Folheto: São Frantônio, o santo do milênio, de Jota Batista (1994) O “São Frantônio, o santo do milênio” autoria de Jota batista (1994) trata de um curioso caso ocorrido nas cidades de Caridade e Canindé, no Ceará, em que dois exprefeitos planejavam se construir duas estátuas gigantescas dos seus padroeiros: Santo Antônio e São Francisco das Chagas. Entretanto, um ex-prefeito de Caridade, ‘Raulzim’, construiu apenas a estátua de Santo Antônio e, em Canindé, outro exprefeito ‘Zé Hugo’, fez a estátua do padroeiro local, São Francisco. O poeta decidiu, então. juntar os dois santos e construir o São Frantônio. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 139 Eu digo e não me envergonho Que o povo desta comarca Quis afastar o demônio Pra não ver cair à barca Sem espera e sem demora Chamaram Franze D’Aurora Para dar início à obra E disseram pro Franze Deixe Santo Antônio em pé Que tem dinheiro de sobra (BATISTA, 1994, p.1). Tenho outra idéia melhor A pagode não me tome Pra coisa fica menor A gente junta os dois nomes Sacoleja na cumbrica Balança o corpo e a cuca Eu tô com um medo medonho A seca tá nos matando E o povo está apelando -Valei-nos, ó São Frantônio (BATISTA, 1994, p.4). O autor Jota Batista avisa ao concluir os versos que não está faltando com respeito com os santos Santo Antônio e São Francisco, não leve a sério. Minha mente eu não alugo Peço aqui perdão a Deus Aos dois santos não expurgo Isso é apenas versos meus Não levem a sério o artista Inda mais Jota Batista Por causa deste rabisco De toda fé que disponho Dou vivas a Santo Antônio E palmas para São Francisco (BATISTA, 1994, p.7). O cordel São Frantônio, o santo do milênio foi inclusive destaque em várias reportagens, incluindo o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão. A cidade de Canindé, retratada no cordel, retomou o projeto e deu início à construção de um gigantesco monumento dedicado a São Francisco das Chagas, que mede 43 metros. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 140 Considerações finais Diante dos argumentos propostos pode- se considerar que ao estudar a religiosidade e santidade nos cordéis da Biblioteca Átila Almeida, pode-se constatar sua importância enquanto meio de comunicação, que aborda de maneira contestadora e descontraída conteúdos críticos e ao mesmo tempo lúdicos relacionados ao imaginário religioso. Desta forma, puderam-se identificar, por meio de suas obras, as influências e posicionamentos dos poetas e cordelistas a respeito de temas que circundam a moral e a religiosidade, especialmente, a santidade. Tendo em vista, contudo, que suas condutas estão atreladas ao contexto histórico e social em que estão inseridos, sendo seus folhetos, reflexo das suas realidades. Após o estudo, constatou-se que a temática “Santidade” dentro do tema “Religiosidade”, encontrada nos folhetos de cordéis analisados é caracterizada pela forte presença do catolicismo na região do Nordeste e que suas narrativas, em sua maioria, prezam pela consolidação das tradições religiosas, relatando os mais diversos acontecimentos envolvendo santos como São Pedro, São Francisco, Santo Antônio, seres celestiais, anjos, além de personalidades da Igreja Católica, a exemplo do Padre Cícero, Padre Aristides Ferreira da Cruz e Papa João Paulo II, cujos discursos se dirigem diretamente aos seus fiéis. Apesar do avanço dos meios de comunicação, o folheto de cordel com a sua diversidade temática continua tendo uma grande importância cultural para sociedade, sendo utilizado como instrumento de informação, comunicação e de análise por estudantes e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. Mas, fundamentando-se nas metodologias: análise de conteúdo, documental e revisão bibliográfica específica, conforme discutido acima, se torna necessária uma reflexão mais abrangente sobre a religiosidade encontrada nos cordéis, no que diz respeito ao âmbito da escrita dos mesmos, na tentativa de observar, também, eventuais aspectos adversos ou não de tal processo discutido na presente pesquisa e seus impactos para os leitores, o que representaria um tema interessante para futuras pesquisas em outros cordéis. Ano XV, n. 1. Janeiro/2019. NAMID/UFPB - http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/tematica 141 Referências ALBUQUERQUE, Maria Elizabeth B. C. de. Literatura popular de cordel: dos ciclos temáticos à classificação bibliográfica. 2011. 322 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011. AURÉLIO, Marco di. A briga dos três santos. Timabaúba, 2004. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições LDA, 2010. 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