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Práticas intergeracionais e TIC

Instrumento - Revista de Estudo e Pesquisa em Educação

Neste artigo propomo-nos realizar uma revisão da literatura sobre a implementação de programas intergeracionais mediados pelas TIC referenciados em bases de dados. Foram utilizados dezassete artigos de diversas bases de dados que contemplam os tema-chave a abordar. Posteriormente foram desenvolvidas as subcategorias que resultaram da análise dos trabalhos: envelhecimento ativo e aprendizagem ao longo da vida; TIC e aprendizagem intergeracional; e TIC e aproximação familiar. A análise dos dados demonstra que a aplicação de programas intergeracionais mediados pelas TIC contribui para solidificar processos de aprendizagem e alterar a perceção tanto dos mais novos como dos mais velhos em relação à outra geração, contribuindo para a aproximação familiar, especialmente, nas famílias separadas por grandes distâncias.

ISSN 1984-5499 Licenciado sob uma Licença Creative Commons Práticas intergeracionais e TIC: um contributo para uma revisão da literatura Intergenerational practices and ICT: a literature review contribution Prácticas intergeneracionales y TIC: una contribución para una revisión de la literatura Paula Cristina Mota1, Rui Neves2 Instituto Superior de Ciências Educativas, Odivelas, Portugal / Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal Recebido em: 20/04/2018 Aceito em: 26/09/2018 Resumo Neste artigo, propomo-nos a realizar uma revisão da literatura sobre a implementação de programas intergeracionais mediados pelas TIC referenciados em bases de dados. Foram utilizados dezessete artigos de diversas bases de dados que contemplam os temas-chave a abordar. Posteriormente foram desenvolvidas as subcategorias que resultaram da análise dos trabalhos: envelhecimento ativo e aprendizagem ao longo da vida; TIC e aprendizagem intergeracional; e TIC e aproximação familiar. A análise dos dados demonstra que a aplicação de programas intergeracionais mediados pelas TIC contribui para solidificar processos de aprendizagem e alterar a percepção tanto dos mais novos como dos mais velhos em relação à outra geração, contribuindo para a aproximação familiar, especialmente, nas famílias separadas por grandes distâncias. Palavras-chave: Idosos. Programas intergeracionais. Jovens. TIC. Abstract The purpose of this paper is to present a revision of the specialized literature concerning recent intergenerational programmes developed with ICT. Seventeen papers were selected from different databases in order to enable thoughts on the key issues to be consider on this research. Then, the following subcategories, that resulted from the data analysis, were developed: active ageing and lifelong learning; ICT and intergenerational learning; ICT and familiar approach. The data analysis shows that applying an intergenerational program with ICT contributes to the learning process enhancement and to modify young and older people insights that will influence the next generations. This generation impact also contributes to reunite different family members , mainly for those who are distant from each other. Keywords: Elderly. Intergenerational program. Young people. ICT. Resumen En este artículo se presenta una revisión de la literatura sobre la implementación de programas intergeneracionales mediados por las TIC referenciados en las bases de datos. Se analizaron diecisiete artículos de diversas bases de datos que incluyen los temas llave a tratar. Posteriormente fueron desarrolladas las subcategorías que resultaron del análisis de los trabajos: envejecimiento activo y aprendizaje permanente; TIC y aprendizaje intergeneracional; TIC y aproximación familiar. El análisis de los datos ha demostrado que ejecutar 1 2 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Paula Cristina Mota, Rui Neves programas intergeneracionales mediados por las TIC aporta ventajas en el proceso de aprendizaje y cambia la percepción de los jóvenes y de las personas mayores sobre la otra generación. También aproxima las familias, especialmente las que están apartadas por grandes distancias. Palabras clave: Adultos mayores. Programas intergeneracionales. Jóvenes. TIC. Introdução O envelhecimento é um processo biológico que se caracteriza pela passagem do tempo, variando de acordo com as características de cada um, o seu estilo de vida e as suas condições socioeconômicas e de saúde. É uma etapa de maturidade, sabedoria e experiência de vida, mas, por outro lado, é o período em que se revelam maiores momentos de solidão, falta de autoestima, depressão e agravamento de problemas de saúde (FILADELFO; ADRINA, 2016). Neste sentido, o aumento da idade torna as pessoas mais vulneráveis à discriminação, contribuindo para o seu isolamento (SPITERI, 2016). Portugal se configura, neste momento, como uma sociedade envelhecida, tendência que deverá se acentuar nas próximas décadas. A par deste acontecimento, está a aumentar o número de indivíduos pertencentes ao grupo acima dos 85 anos, fase que originará uma diferente forma de organizar a vida pós-laboral, assim como um acréscimo de perda de autonomia que conduz a uma dependência e consequente encaminhamento para instituições ou aumento de períodos de solidão (FERREIRA, 2015). Entre as gerações de 50-64 anos, a quem foi concedida a oportunidade de acesso à educação, saúde e proteção social, notam-se diferenças positivas em nível de estatuto social, de vida e de perspectivas sobre o futuro. Pelo contrário, encontra-se uma maior exposição à pobreza acima dos 65 anos, enfatizando-se aqueles com mais de 80 anos e mulheres, o que se associa a situações precárias em relação a rendimentos, saúde, habitação, baixos níveis de qualificação e acesso tardio à proteção social (QUARESMA; RIBEIRINHO, 2016). Estamos em um momento em que predominam duas ideias opostas em relação ao envelhecimento: uma se refere à pessoa que envelhece como foco de saber, conhecimento e experiência, que organiza a sua vida de acordo com as suas preferências e expectativas; a outra relata a pessoa de forma mais negativa, sendo caracterizada como vulnerável, física, mental e socialmente (LOPES; ARAÚJO; NASCIMENTO, 2016; QUARESMA; RIBEIRINHO, 2016). Envelhecer não é um momento que se reporta a uma fase concreta da vida, é algo que faz parte da sequência do desenvolvimento humano, e encarar o envelhecimento como um processo abre portas a diferentes formas de atuação e quebra as barreiras do preconceito (AGUDO; PASCUAL; FOMBONA, 2012). Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 6 Paula Cristina Mota, Rui Neves Práticas Intergeracionais Os primeiros movimentos sobre as práticas intergeracionais surgiram nos Estados Unidos, na década de 1960, com programas que pretendiam juntar pessoas com mais idade com as crianças do jardim de infância, de forma a promover a inclusão social de pessoas em situação de pobreza, violência e consumo de substâncias. Na Europa, foi na década de 1990 e na Inglaterra que surgiram as primeiras iniciativas destinadas a promover a participação social das pessoas com mais idade, em iniciativas de voluntariado. Foi a partir dessa década que a política europeia começou a ter em consideração este tema, configurando-se três eventos importantes: o Ano Europeu para as Pessoas Idosas e a Solidariedade entre Gerações, em 1993; o Ano Internacional das Pessoas Idosas, em 1999; e o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações, em 2012. Esta agenda contemplou uma grande variedade de programas intergeracionais, atividades, práticas e iniciativas que decorreram por toda a Europa (VIEIRA; SOUSA, 2016). O envelhecimento da população europeia está a criar uma nova moldura populacional, o que impulsiona a importância das práticas intergeracionais. Assim, cresce o interesse em reforçar estas práticas, que permitem uma troca de recursos e aprendizagens entre as várias gerações e com benefícios tanto em âmbito individual como social, surgindo como resposta ao envelhecimento populacional e às suas transformações (VIEIRA; SOUSA, 2016). A realização de atividades intergeracionais apresenta benefícios a ambas as gerações. Os participantes mais velhos usufruem do apoio prático que os mais novos fornecem, ao passo que os alunos tomam contato com as dificuldades sentidas pelos participantes com mais idade, reconfigurando a forma como encaram o envelhecimento. Desta forma, coloca-se a tônica nos pontos fortes em vez de nos atributos negativos das pessoas. A qualidade do contato intergeracional encoraja as pessoas mais velhas a assumir um papel mais ativo no desenvolvimento das suas capacidades pessoais e sociais. Estudos anteriores confirmam que a interação continuada entre gerações, em diferentes contextos, traz uma atitude mais positiva em relação às pessoas com mais idade (SPITERI, 2016). Ao mesmo tempo, a interação intergeracional configura percursos de troca de conhecimentos, dado que, ao contatar pessoas mais novas, aqueles que têm mais idade adquirem e partilham momentos de sabedoria. Configura-se, assim, uma relação de aprendizagem mútua que conduz a uma Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 7 Paula Cristina Mota, Rui Neves noção mais positiva sobre as diferentes gerações e à diminuição do preconceito (POLTRONIERI et al., 2015). Práticas Intergeracionais e TIC Em relação às práticas intergeracionais, salientam-se as que têm por base a utilização de alguma forma de nova tecnologia, cabendo aos mais jovens o papel de apoiar na aprendizagem da educação tecnológica e digital, sendo também essenciais na aquisição de capacidade de manuseamento dos dispositivos tecnológicos por parte dos mais velhos (POLTRONIERI et al., 2015). Devido ao fato de ser ainda uma novidade, a utilização das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), por parte de pessoas com mais idade pode ser vista com receio, necessitando, assim, de apoio e incentivo à sua utilização (SOUZA; SALES, 2016). É através da utilização de computadores e internet que os idosos podem ter acesso a diversos serviços que lhes facilitam as tarefas diárias. Dentre estes serviços podem se destacar a realização de operações bancárias, compras, consulta de e-mail, uso de redes sociais para comunicação com a família, amigos e conhecidos, fazer novas amizades e pesquisar informação sobre entretenimento e saúde (SALES et al., 2014). Assim, o contato com tablets, computadores ou smartphones pode impulsionar o bem-estar emocional e psicológico do utilizador com mais idade (SOUZA; SALES, 2016). De forma a conseguir este objetivo, é necessário e importante desenvolver ações de formação dos mais idosos em literacia digital, para que estes possam potenciar a sua autonomia e seus meios de desenvolvimento pessoal e social. Uma das melhores formas de desenvolver estas ações é através de programas intergeracionais (ROBERTO; FIDALGO; BUCKINGHAM, 2014). Metodologia Este artigo apresenta-se como uma revisão de estudos sobre a questão das práticas de intergeracionalidade e a aplicação das TIC, com o objetivo de caracterizar o “estado de arte” neste nível. Assim, realizamos, neste estudo, uma pesquisa documental sobre a questão da intergeracionalidade e as TIC, sendo que os documentos analisados se compõem de artigos acadêmicos, dissertações de mestrado, teses de doutoramento e relatos de experiências. Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 8 Paula Cristina Mota, Rui Neves O levantamento bibliográfico deste estudo foi realizado em diversas bases de dados, como ERIC, b-on, RIA, RCAAP e Google Scholar, e centrou-se em revistas da especialidade como Sociologia; Tecnologias da Informação e Comunicação; Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia; Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano; Kairós Gerontologia; Journal of Intergenerational Relationships; Educational Gerontology; Activities, Adaptation and Aging; Clinical Gerontologist; Revista Portuguesa de Saúde Pública; International Journal of Lifelong Education. Os descritores utilizados para a realização da pesquisa foram: intergeracionalidade, TIC, on-line, Internet, educação digital, envelhecimento ativo, programas intergeracionais, traduzidos igualmente para inglês e espanhol. Para a realização deste trabalho, foram selecionados como critérios de inclusão a disponibilidade on-line das publicações; i) publicações em português, inglês e espanhol; ii) publicações entre 2010 e 2017; iii) artigos de revisão da área das TIC, idosos e práticas intergeracionais. Os critérios de exclusão centraram-se na não disponibilidade integral dos artigos e dissertações. Neste contexto, os artigos foram analisados em termos de conteúdo (BARDIN, 2013) de acordo com diversas etapas, que vão ao encontro da organização dos estudos e sistematização dos conteúdos; da descrição analítica dos dados; e de seu tratamento e interpretação. Dos inúmeros artigos relacionados de alguma forma com práticas intergeracionais ou TIC para pessoas com mais idade, foram analisados dezessete estudos que atenderam aos critérios estabelecidos anteriormente, resultando em um artigo nacional, dez internacionais, duas dissertações de mestrado e uma tese de doutoramento. No âmbito da publicação, seis foram publicados no Journal of Intergenerational Relationships; dois, na revista Educational Gerontology; um, na revista Education and Information Technologies; dois, na Revista Kairós Gerontologia; um, na Clinical Gerontologist; um, no International Journal of Lifelong Education; e um, na Inovagogia. O público-alvo foi a população com mais idade, e a faixa etária dos jovens varia entre os que frequentam a educação pré-escolar e aqueles que frequentam a universidade, com a presença ou ausência de relações familiares. O Quadro 1 descreve as fases da elaboração deste artigo, desde a organização dos trabalhos a serem analisados até a sua seleção. Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 9 Paula Cristina Mota, Rui Neves Seleção em bases de dados Quadro 1 Fases de seleção dos trabalhos Resultado 245 trabalhos 55 trabalhos para leitura de resumos 35 trabalhos analisados integralmente Seleção final de 17 trabalhos Pré-análise Definição dos descritores Organização do corpo da pesquisa Critérios de inclusão/exclusão Exclusão de 190 trabalhos Temas-chave não coincidentes com os requisitos Definição das subcategorias a analisar Análise dos resumos Exclusão de 20 trabalhos Análise completa dos textos Exclusão de 18 trabalhos (relatos que focam ou práticas intergeracionais ou as TIC individualmente) Todos incluídos na revisão da literatura Cumprem os requisitos de práticas intergeracionais mediadas pelas TIC Fonte: Elaborado pelos autores. A descrição dos artigos encontra-se no Quadro 2, que reúne os títulos, autores, ano, país, publicação e temas-chave. A1 A2 Título/autor A young child’s intergenerational practice through the use of visual screen-based multimodal communication to acquire Qur’anic literacy (AKHTER, 2016) Knowledge exchange, social interactions, and empowerment in an intergenerational technology program at school (GAMLIEL GABAY, 2014) Quadro 2 Descrição dos trabalhos selecionados Ano/país 2015 Reino Unido Publicação Journal of Intergeneration al Relationships Temas-chave Interação entre neto e avó Aquisição literária da criança (7 anos) e práticas intergeracionais Pesquisa de termos multiculturais fornecidos pela avó Desenvolvimento de ideias através da interação social Apoio do mais velho no desenvolvimento social do mais novo 2014 Israel Educational Gerontology Idosos e crianças realizam atividades com o computador Escola básica do primeiro ciclo Benefícios mútuos para ambas as gerações Decurso de um ano letivo Duas horas semanais/uma vez por semana Professora como supervisora 32 crianças e 29 idosos Valorização do apoio dos mais novos Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 10 Paula Cristina Mota, Rui Neves A3 An 2011 intergenerational USA e-mail pal project on attitudes of college students towards older adults (CHASE, 2011) A4 LMS projects: a 2014 platform for Rússia intergenerational e-learning collaboration (LYASHENKO; FROLOVA, 2014) A5 O papel da 2014 solidariedade Portugal intergeracional no âmbito da literacia digital (ROBERTO et al., 2014) Aproximação entre grupos Importância do computador como ferramenta tecnológica e plataforma sociocultural para interação intergeracional e troca de conhecimentos Educational Identificar se a utilização do e-mail com Gerontology uma pessoa mais velha influencia as atitudes dos alunos Identificar se esta é uma forma útil de comunicação Estudantes de curso de Psicologia; segundo grupo de alunos que não participam do estudo Grupo de intervenção com 28 alunos, idades entre 19/24 anos Grupo dos 34 participantes com mais idade recrutados através de flyers. Média de idades entre 65/85 anos Cada aluno interagia com um participante mais velho, designado de e-mail pal, durante 6 semanas Enviar pelo menos um e-mail por semana Aumento nas atitudes positivas em relação aos mais velhos Education and Implementação de um sistema de Information aprendizagem para práticas entre grupos Technologies de diferentes idades em uma universidade Objetivo de aumentar a qualidade da informação a todos os participantes Aumentar o envolvimento dos alunos em um processo educacional ativo Criar condições de interação intergeracional entre alunos e professores Promover atividades de aprendizagem tanto on-line como off-line Melhorar capacidades digitais dos professores Criar uma cultura de comunicação intergeracional através das TIC Revista Kairós Analisar a intenção de jovens Gerontologia universitários em ajudarem os mais velhos a adquirir competências digitais Questionário aplicado a 135 estudantes Promoção de estratégias educacionais pró-sociais para reforçar o valor da solidariedade Recolher informações para o desenho de programas entre gerações utilizando as TIC A construção de atividades Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 11 Paula Cristina Mota, Rui Neves A6 For students, by 2017 students: service- USA learner involvement in the development of visiting kits to facilitate interaction with older adults (TURNER; BROWN; JARROTT, 2017) A7 Proactive aging 2015 and China intergenerational mentoring program to promote the well-being of older adults: Pilot Study (AU;NG; GARNER; LAI;CHAN, 2015) A8 What do older 2016 people learn Malta from young people? Intergenerational learning in “day centre” community settings in Malta intergeracionais com TIC pode não conduzir a uma aproximação entre grupos Planear e refletir sobre o programa a desenvolver de forma a obter um clima que favoreça a aprendizagem intergeracional e o desenvolvimento e clarificação de valores Construção de comportamentos prósociais, histórias digitais Valorização da ALV no âmbito da literacia digital Journal of Desconforto em relação às interações Intergeneration intergeracionais al Relationships Desafio da interação Dificuldade na identificação de atividades adequadas e no despertar do interesse da pessoa mais velha “Virginia tech citizen scholar engagement program” Produção de kits que facilitem a comunicação e interação entre jovens e pessoas com mais idade Compreensão e valorização das interações intergeracionais Criação de interface web para obter informação sobre idosos portadores de doenças Clinical Estudos-piloto para estudar um programa Gerontologist psicoeducacional em envelhecimento proativo de cidadãos com mais idade Participação de 17 seniores e 36 universitários Programa de mentor intergeracional com a participação de alunos universitários a desenvolver atividades com pessoas com mais idade e autônomos, para apoiar idosos mais frágeis Alterações de motivação nos jovens Melhorias na qualidade de vida dos mais velhos Transferência e reforço de conhecimento International Análise sobre as motivações das pessoas Journal of com mais idade para frequentar centros Lifelong de dia Education Aferir o que as pessoas com mais idade aprendem com os jovens (16/24 anos) que estão no centro de dia O impacto do envelhecimento na aprendizagem intergeracional não capacita jovens e pessoas mais velhas à Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 12 Paula Cristina Mota, Rui Neves (SPITERI, 2016) A9 Relações 2017 intergeracionais Brasil mediadas pelas tecnologias digitais (CARLETO; SANTANA, 2017) A 10 El uso de las TIC en 2012 las actividades Espanha intergeneracionale s (PRADO; SEVILLANO, 2012) construção de comunidades mais ativas Projetos em centros de dia podem tornar os mais velhos mais positivos Alteração de atitude dos mais velhos sobre o envelhecimento Aprendizagem não se restringe à tecnologia, mas a assuntos de interesse mútuo Benefício na aprendizagem das tecnologias e no papel que as tecnologias desempenham na vida diária, assim como na sua influência na vida dos familiares mais jovens Atitudes mais positivas dos jovens após a interação Revista Kairós Influência das TIC nas relações familiares Gerontologia com idosos 160 pessoas: 80 idosos que participam do programa de inclusão digital, 40 familiares, 40 idosos que não participam Dificuldades no uso pleno e compreensão dos equipamentos Influência positiva na autonomia Utilização de chamadas telefônicas e mensagens de texto e, a um menor grau, utilização de computador, comunicação instantânea, e-mail, redes sociais Os que frequentam o programa utilizam mais estes recursos Facilitar o contato frequente e suprir a ausência física Necessidade de capacidades cognitivas para o seu manuseamento Influência positiva nas relações intergeracionais Diminui o isolamento e aumenta a tranquilidade da família Instrumentalizar os mais velhos para utilizar os recursos Congreso Atividade intergeracional e inclusiva para Virtual desenvolver as TIC em centros de idosos Internacional Aproveitamento de recursos e sobre desenvolvimento de relações Innovación intergeracionais Pedagógica y “Antes y Ahora” encontro entre duas Praxis gerações Educativa Ciberaula – espaço de convivência com Inovagogia temas que ligam passado/presente Favorecimento da socialização e relacionamento Partilha de espaço comum, participação Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 13 Paula Cristina Mota, Rui Neves A 11 Intergenerational 2011 relationships and Austrália community computer training: overcoming the digital divide (NYCYK; REDSELL, 2011) Journal of Intergeneration al Relationships A 12 Undergraduates 2012 mentoring older USA adults: breaking stereotypes Journal of Intergeneration al Relationships (SHEDLETSKY, 2012) A 13 IT Guide: 2014 Intergenerational Suécia inspiration for migrants (LUNDBERG;LUN DBERG, 2014) Journal of Intergeneration al Relationships A 14 An 2012 Intergenerational Singapura learning program in Singapore (COUNCIL FOR THIRD AGE, Journal of Intergeneration al Relationships de atividades e estabelecer laços Os participantes com mais idade planificam, executam e avaliam Recolha dos mais velhos para utilizar com fotos digitais, scanner, câmera Detectar problemas, identificar carências e limitações Centros comunitários com formação low cost e acesso a computadores “Skylarkers 60 e Better Program” aprendizagem informal através do computador Início em 1996 – formato tutor/aluno Necessidade de aprendizagem em Word, e-mail, chat, redes sociais Tutores voluntários – 18/30 anos Participantes – 50/90 anos Aulas individuais, três dias por semana, 50 minutos por sessão Ansiedade dos participantes com mais idade Aluno como tutor em aprendizagem básica na internet para pessoas com mais idade Aferir percepção dos mais jovens Cada aluno trabalha com um idoso Aulas de 2 horas Introdução aos princípios da internet a pessoas com pouca ou sem experiência Redução da ansiedade dos mais velhos Aumento eficácia em internet, mas não nas demais capacidades Jovens imigrantes de países fora da Europa, entre os 16/19 anos para apoiar os mais velhos com as TIC Apoiar os jovens no conhecimento, visão e contato com a sociedade Ganhar confiança para aprender a língua e conhecer a história do país Objetivo de incluir os mais velhos no mundo digital e partilhar experiências positivas com os jovens Inclusão de ambos os grupos Sessões em internet cafés, aulas e apoio domiciliário Programa de aprendizagem intergeracional, jovens como tutores dos mais velhos Melhorar as capacidades em TIC dos participantes mais velhos, de forma a mantê-los ligados à família e amigos Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 14 Paula Cristina Mota, Rui Neves 2012) Duração de um ano Aprendizagem de software básico, apresentações em PowerPoint, Skype, Facebook Melhorias no bem-estar mental, físico e social Possibilidade de contatos regulares com a família Melhorou a percepção dos jovens sobre os idosos e a autopercepção dos mais velhos Alunos com uma liderança positiva na responsabilidade de preparar atividades Alunos tornaram-se mais empáticos e pacientes Fonte: Elaborado pelos autores. Quadro 3 Descrição dos trabalhos selecionados (continuação) D1 D2 Título/autor Ano/país Aprendizagem 2014 intergeracional Portugal com Tecnologias de Informação e Comunicação (PATRÍCIO, 2014) Publicação Tese doutoramento em Ciências da Educação – Tecnologia Educativa Eu ajudo-te, é 2014 fácil, eu também Portugal não sei escrever Impacto das tecnologias educativas, em contexto de Jardim de Infância, num processo de desenvolvimento de literacia digital Dissertação de mestrado em Ciências da Educação – Tecnologia Educativa Temas-chave Aprendizagem intergeracional com as TIC Aprendizagem de competências digitais Aprendizagem ao longo da vida Envelhecimento ativo Solidariedade intergeracional 2011 TINA – projeto com avós 50+ e netos 5+ Promover ligação intergeracional através das TIC Aquisição de competências digitais Interação/comunicação intergeracional 2012 Oficinas TIC – troca intergeracional entre jovens e adultos idosos 2013 Oficinas TIC – troca intergeracional entre adultos e idosos 19 crianças entre 3/5 anos 17 usuários de centro de convívio 74/94 anos Utilização das TIC como promotora de desenvolvimento de crianças e idosos nos seus contextos Recurso acessível em um processo de partilha de saberes Decurso de um ano letivo Atividades propostas pela escola, encarregados de educação, familiares Atividades com recurso ao quadro Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 15 Paula Cristina Mota, Rui Neves e intergeracional (PEREIRA, 2014) D3 Avós digitais: os 2016 usos sociais da Portugal videochamada na comunicação intergeracional familiar (LUÍS, 2016) Dissertação de mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação interativo Atividades de plantação dinamizadas pelos mais velhos Os mais velhos tiveram sempre uma atitude mais positiva Manutenção dos laços sociais entre gerações da mesma família Entrevistas a 15 avós entre 58 e 83 anos com netos no estrangeiro Videochamada partilha um espaço e possibilita laços e solidariedade intergeracional Utilização de diversas plataformas on-line Fonte: Elaborado pelos autores. Após a análise de todos os trabalhos relacionados com a temática em estudo, apresentamos as subcategorias que consideramos ser de extrema importância ao desenvolvimento de projetos intergeracionais mediados pelas TIC. O envelhecimento ativo e a aprendizagem ao longo da vida (ALV) Na linha de ação do “envelhecimento saudável”, os programas educacionais para adultos com mais idade atuam como uma forma de reduzir a dependência futura. Desta forma, é necessário considerar a ideia que o adulto tem sobre a aprendizagem antes de serem desenvolvidos programas deste tipo, de forma a perceber como é que estes adultos percecionam estes momentos (MEHRAEEN, 2017). Considera-se que esta é uma geração que começa a alterar padrões de vida com recurso ao exercício físico, o que os torna, normalmente, mais saudáveis e com uma maior esperança de vida, sendo assim identificados como o grupo com maior crescimento na aprendizagem e utilização da internet. A ALV preconiza o lidar com um mundo em rápida mudança; atualizar conhecimentos e capacidades; desenvolver capacidades para trabalhar; aprender a utilizar as novas tecnologias para benefício pessoal e público; e resolver problemas novos. Assim, a ALV pode assegurar às pessoas com mais idade a aquisição de competências para o seu desenvolvimento pessoal, o seu envolvimento cívico e a sua participação social (BRINK, 2017). Neste contexto de aprendizagem pelas pessoas com mais idade, salienta-se a maioria dos trabalhos analisados, dado que quase a sua totalidade reflete ações de participação dos adultos maiores Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 16 Paula Cristina Mota, Rui Neves com as TIC. No entanto, realçam-se os estudos A4, A7, A10 e D1, visto que o adulto maior desempenha um papel mais ativo que varia entre a aquisição de competências tecnológicas para a prossecução do trabalho; ao apoio a adultos mais velhos e mais fragilizados; a integrar jovens imigrantes em um novo país; ou a auxiliar outros adultos com mais idade; recorrendo, em todos os estudos, à utilização das TIC. TIC e Aprendizagem Intergeracional Os estereótipos relacionados à idade são um dos impedimentos na prossecução de um ambiente intergeracional amistoso na busca por um envelhecimento ativo nas sociedades. Estes estereótipos verificam-se nas diversas gerações, sendo que uma grande maioria de adultos maiores considera os jovens como sendo “rebeldes”, “impetuosos”, com “alterações no nível do humor” e “imaturos”. Da mesma forma, os mais novos detêm ideias preconcebidas sobre os mais velhos, que variam entre serem “doentes”, “socialmente isolados”, “pobres” e “deprimidos” (LOU; DAI, 2017). Neste contexto, termos como “sênior” ou “pessoa mais velha” associam-se a palavras como “desagradável”, “letárgico”, “aborrecido”, “mesquinho”, o que pode conduzir a percepções negativas sobre o envelhecimento, mesmo entre pessoas com mais idade (SPITERI, 2016). É através da realização de projetos intergeracionais que a percepção dos participantes mais ou menos jovens se altera, dando lugar a atitudes mais positivas entre as gerações; ao aumento de motivação nos mais jovens; ao aumento da qualidade de vida nos mais velhos; a uma atitude mais positiva dos adultos com mais idade face ao envelhecimento; ao aumento da autonomia e diminuição do isolamento; a melhorias na socialização e no relacionamento entre gerações, o que pode ser verificável nos artigos A3, A8, A9, A10, A12 e A13, que versam sobre as alterações encontradas após a realização de programas intergeracionais mediados pelas TIC. TIC e aproximação familiar A tendência para a diminuição da interação intergeracional entre as famílias reside na alteração do contexto familiar, na modernização, no urbanismo e nas migrações (LOU; DAI, 2017). O fato de se utilizarem tecnologias com as pessoas de maior idade permite que estas tenham uma visão diferente dos mais jovens, auxiliando, também, a compreensão dos membros mais jovens das suas famílias. Com a utilização e consequente explicação sobre os procedimentos a tomar para trabalhar Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 21, n. 1, p. 5-20, jan./jun. 2019 17 Paula Cristina Mota, Rui Neves com as TIC, os participantes revelam-se entusiasmados com as possibilidades oferecidas pelas redes sociais, assim como pelos momentos de interação que poderão usufruir com as suas famílias, devidos aos novos interesses em comum (SPITERI, 2016). Através da comunicação e contato intergeracional mediado pelas TIC, a aproximação das pessoas com mais idade e sua família e amigos pode diminuir o seu isolamento e facilitar uma relação mais próxima. Este fato resulta em uma maior tranquilidade por parte das famílias, especialmente aquelas separadas por uma maior distância, porque possibilita um maior contato e aumenta a comunicação (CARLETO; SANTANA, 2017). Entre os trabalhos analisados, destacam-se os A1, que relata a utilidade das TIC no desenvolvimento da literacia de uma criança e na transmissão de saberes pela sua avó; A8, que aborda a influência das tecnologias nos familiares mais jovens; A9, que relata a influência das TIC nas relações familiares; D1, que aborda uma oficina TIC entre avós e netos; D3, que reflete a utilização da videochamada nas relações familiares. Considerações finais Ao longo deste estudo, apresentamos os vários trabalhos realizados no período em análise (2010-2017) centrados em práticas intergeracionais medidas pelas TIC em Portugal e em outros países. Apesar de se encontrarem inúmeros relatos relacionados a práticas intergeracionais, aqueles que englobam projetos realizados com o apoio das tecnologias ainda são, de alguma forma, escassos. A implementação de projetos desta natureza aporta benefícios a todas as gerações envolvidas, proporcionando aos adultos com mais idade uma melhoria na sua qualidade de vida, uma atitude mais positiva relativamente ao envelhecimento, o aumento da sua autonomia e melhorias na relação e socialização com as gerações mais novas. Por outro lado, os participantes mais jovens sofrem, frequentemente, uma alteração em relação à percepção do mais velho, começam a encarar o processo de envelhecimento como algo natural e tomam conhecimento das experiências e histórias de vida que os mais velhos lhes proporcionam. Referências AKHTER, Parven. A young child’s intergenerational practices through the use of visual screen-based multimodal communication to acquire Qur’anic literacy. 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