Experiências narrativas: um relato de formação
em saúde
Patrícia Martins Goulart
Luciane Maria Pezzato
Virgínia Junqueira
Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Resumo
Apresentamos uma discussão com base no módulo “Encontros e Produção de
Narrativas”, parte integrante da matriz curricular de uma formação universitária
em saúde. O estudo decorre de relatos referentes à dimensão da experiência
em campo vivenciada pelos estudantes, contemplando a escuta de usuários/as
vinculados a Unidades de Saúde, com atenção às demandas de saúde. Durante
um semestre, duplas de estudantes realizam visitas domiciliares quinzenais aos
usuários/as, produzindo diários de campos que serão base para a construção de
uma narrativa. O processo situa a narrativa como recurso pedagógico potente,
para a tomada de consciência de si, do outro e das condições concretas de
existência.
Palavras-chave: Narrativas, Saúde, Educação.
Linhas Críticas, Brasília, DF, v.24 - Ahead of print, p.237-254.
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Narrative experiences: an account of health
education
Abstract
We present a discussion based on the module "Meetings and Production of
Narratives", an integral part of the curricular matrix of a university education in
health. The study is based on reports about the practical dimension experienced by
students, which includes listening to users linked to Health Units, with attention to
health. During a semester, pairs of students conduct biweekly home visits to users,
producing field diaries that will be the basis for the construction of a narrative. The
process situates the narrative as a potent pedagogical resource for the awareness
of oneself, the other and the concrete conditions of existence.
Keywords: Narratives, Health, Education.
Experiencias narrativas: un relato de formación en
salud
Resumen
Presentamos una discusión con base en el módulo "Encuentros y Producción de
Narrativas”, parte integrante de la matriz curricular de una formación universitaria
en salud. El estudio deriva de relatos referentes a la dimensión de la experiencia
en campo vivenciada por los estudiantes, contemplando la escucha de usuarios /
as vinculados a Unidades de Salud, con atención a las demandas de salud. Durante
un semestre, dobles de estudiantes realizan visitas domiciliarias quincenales a los
usuarios / as, produciendo diarios de campos que serán base para la construcción de
una narrativa. El proceso sitúa la narrativa como recurso pedagógico potente, para
la toma de conciencia de sí, del otro y de las condiciones concretas de existencia.
Palabras clave: Narrativa, Salud, Educación.
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GOULART, PATRÍCIA et al. Experiências narrativas: um relato de...
Expériences narratives: un compte rendu de
formation en santé
Résumé
Nous présentons une discussion basée sur le module “Réunions et Production de
Récits”, une partie intégrante de la matrice curriculaire d'une éducation universitaire
en santé. L'étude est basée sur des rapports sur l'étendue de l'expérience sur le terrain
vécue par les étudiants, y compris l'écoute des usagers des unités de santé,offrant
une attention aux demandes de santé. Pendant un semestre, des paires d'étudiants
rendent visites toutes les deux semaines aux usagers, produisant des journal qui
serviront de base à la construction d'un récit. Le processus situe le récit comme
une ressource pédagogique puissante pour la conscience de soi, de l'autre et des
conditions concrètes de l'existence.
Mots-clés: Récits, Santé, Formation.
Introdução
Neste artigo discutiremos a potência das narrativas como espelho, de si e do
outro, com base em um relato de experiência decorrente de uma das turmas de
estudantes matriculados no módulo “Encontros e Produção de Narrativas”, parte
integrante da matriz curricular de uma formação universitária em saúde, em marcha
há mais de uma década na Baixada Santista, SP.
Busca-se refletir acerca das dimensões relacionais entre narrativas, educação e saúde,
no que concerne aos processos de aprendizagens implicados na relação saúdedoença-cuidado, com atenção a leitura de si, a partir da leitura do outro. O texto se
atém à relação dialética que se instaura entre um público de idosos (narradores) e
jovens universitários, durante um semestre letivo, do ano de 2017.
Servem de inspiração os princípios da hermenêutica, de Paul Ricoeur e releituras,
cujo pensamento remete-nos à possibilidade de pensar o discurso como um campo
de múltiplos sentidos, conscientes e inconscientes (Ricoeur, 2012). Interessa-nos
tal perspectiva, uma vez que esta não consiste tanto na construção ou captação
do sentido dos símbolos, dos mitos e das metáforas, mas no esforço efetivo de
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compreensão de nós próprios e do mundo, numa dimensão temporal e histórica
(Fonseca, 2014).
Concordamos com Silva (2011), quando diz que em toda cultura, há mediação
simbólica da ação, que se sobressai pela manifestação da linguagem, que acaba por
revelar a reflexão sobre o ser. Assim, compreender o ser é compreender suas relações
com essas mediações, cuja função é fazer pensar, transformar visões de mundo, ou
seja, colocar em funcionamento a consciência reflexiva, para ir além de uma leitura
ingênua ou supostamente neutra da realidade (Silva, 2011).
Ademais, o círculo hermenêutico proposto por Ricoeur convida a um permanente
exercício nas formas de pensar e de produzir conhecimento de natureza crítica,
reflexiva e necessariamente interdisciplinar (Melo, 2016).
O campo: aspectos gerais
No campus de uma universidade federal situada no litoral paulista foram
implantados, a partir de 2006, seis cursos na área da saúde, cujas atividades
contemplam a formação interdisciplinar e interprofissional e o trabalho em equipe
na perspectiva da integralidade da atenção (Capozzolo et al., 2014). A estrutura
curricular se organiza em torno de quatro eixos, a citar, um eixo com o foco na
área especifica de graduação e outros três eixos comuns aos cursos, centrados na
dimensão Biológica, Social e do Trabalho em Saúde -TS. Nosso objeto se constrói
a partir deste último eixo, que assim como os outros dois é transversal aos
mencionados cursos, e especificamente de relatos teórico práticos de estudantes
que integram uma das turmas que compõem o mencionado módulo.
Nos eixos comuns, as turmas são mescladas de modo equânime entre os diferentes
cursos, de modo a propiciar o movimento interdisciplinar, que se rege pela seguinte
pergunta: O que todo e qualquer profissional que atua na área da saúde deve saber,
independentemente de sua área de formação? Tal eixo é formado por módulos, que
percorrem os três primeiros anos de graduação e visam proporcionar aos estudantes
uma visão abrangente do processo saúde/doença/cuidado e do Sistema Único de
Saúde (SUS) (Capozzolo, Casetto & Henz, 2013).
No terceiro semestre de graduação, acontece o módulo “Encontros e Produção
de Narrativas”, no qual duplas (ou eventualmente trios) de estudantes, de
diferentes cursos (Nutrição, Fisioterapia, Serviço Social, Psicologia, Terapia
Ocupacional e Educação Física) acompanham, durante um semestre letivo, uma
pessoa ou família, com o propósito de construir conjuntamente uma narrativa da
história de vida e saúde dos narradores.
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Este processo acontece em visitas domiciliares com frequência quinzenal, nas quais as
duplas, previamente subsidiadas por recursos teóricos e vivenciais, são acompanhadas
por um docente que se responsabiliza pela supervisão de uma média de oito duplas.
As atividades, que envolvem cerca de 240 estudantes, concentram-se em áreas de
maior vulnerabilidade da área de abrangência da região, com atenção ao público
vinculado ao SUS.
Em geral, a seleção dos narradores é realizada a partir de indicação das equipes
dos serviços de saúde, e ou instituições públicas, mediante uma arquitetura que
envolve várias articulações, com vistas a garantir o adequado desenvolvimento das
atividades, em diferentes campos de atuação, como no caso deste artigo, em que
participaram estudantes da Universidade da Terceira Idade –UATI e residentes de
um asilo municipal.
Preparando o terreno: Encontros e Produção da Narrativas
Nos primeiros encontros em sala de aula, apresenta-se a proposta do módulo e o
cronograma geral das atividades, com vistas a acordar um enquadre que pressupõe
uma agenda quinzenal, com atenção à disponibilidade de local e horário dos
narradores. Trata-se de uma construção sujeita a mudanças, uma vez que o sujeito
pode demonstrar interesse em participar da atividade e logo após desistir, cabendo
ao docente e estudantes realizarem os devidos remanejamentos. Esta situação não
raramente causa desconfortos em sala, uma vez que para alguns estudantes, estas
variáveis deveriam estar “controladas”, como se fosse uma “aula tradicional” com
base exclusiva em conteúdos teóricos ou em caráter de laboratório.
Destaca-se, como uma das estratégias empreendidas, a criação de um grupo por
meio de um aplicativo de celular, o qual complementava informações trabalhadas
em aula e/o servia para tratar situações inusitadas, nas quais todos tinham um papel
de colaborar com sugestões de encaminhamentos.
O módulo ocupa 80 horas, das quais 24 horas, em média, são destinadas aos encontros
com os narradores. Antes do primeiro encontro com os narradores as aulas acontecem
no campus da universidade, com recursos diversos, a citar textos e vídeo debates,
com vistas a despertar a sensibilidade para a escuta e produção textual de narrativas.
O diário de campo é um instrumento chave nesta caminhada. Hess (2006) concebe
esta ferramenta como uma fotografia instantânea. Neste consta o registro sistemático
por parte do estudante que busca descrever os encontros, apontando as falas dos
participantes, além de seus anseios, dúvidas, percepções e o modo como a experiência
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os afeta (Azevedo, Pezzato & Mendes, 2017).
O diário configura também uma ferramenta de avaliação do módulo, no qual o
estudante retrará suas impressões em campo, suas experiências do encontro com o
“outro e com a história do outro”, para compor a narrativa. Como diz Walter Benjamim
(1987, p. 24): “O trabalho em uma boa prosa tem três graus: um musical, em que ela
é composta, um arquitetônico, em que ela é construída, e, enfim, um têxtil, em que
ela é tecida.”
Diante disso, orienta-se que os diários apresentem três tipos de relatos articulados
entre si: as notas descritivas, trazendo o que foi observado; as notas reflexivas,
trazendo possível conexões e relações entre a experiência e as discussões teóricas;
e, as notas intensivas, expressando as sensações e os sentimentos vivenciados no
decorrer dos encontros.
São previstos cerca de cinco a seis encontros para a escuta da história de vida,
os quais são intercalados com as supervisões em classe, a fim de que a turma
discuta os sentidos e significados das narrativas em seu processo de formação e
mais especificamente nos sentidos e significados da saúde, para além dos aspectos
biológicos. Em torno da quarta visita a dupla apresenta um primeiro esboço da
narrativa ao narrador a fim de complementá-la, com atenção aos modos de perceber
e vivenciar os processos de saúde e doença.
Outra produção dos estudantes consiste na elaboração de um texto que denominamos
“Experiência Narrativa”. Trata-se de uma articulação teórico-prática com base
nos registros contidos nos diários de campo, supervisões e discussões em sala.
Orientamos que os estudantes explorem os sentidos e significados provocados
pelo trabalho realizado com a respectiva dupla (ou trio), com a turma e o docente,
além das características do território visitado. Objetiva-se que o estudante reflita
criticamente acerca de si, em sua condição de estudante, e também na futura condição
de profissional da saúde.
Passagens de relatos com conteúdos objetivos e subjetivos contidos na “Experiencia
da Narrativa” de uma turma de estudantes, e seus desdobramentos nos processos
de aprendizagem formam o escopo desta explanação. A vivência advém da história
de três narradoras e um narrador, nas faixas de 60 a 75 anos de idade, acometidos
por doenças crônicas, a citar hipertensão arterial sistêmica, transtornos do sono e
deficiência de visão.
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Na prática....
Com o propósito de fortalecer e explicitar os sentimentos que a “leitura do
narrado” provoca nos narradores, e formar um fio condutor dos encontros, as aulas
desta turma em questão previam a construção de um diário por parte da docente.
Os conteúdos consistiam em trechos das falas dos estudantes, na ordem sequencial,
sem o apontamento de nomes.
A seguir, destacamos uma passagem deste registro, com conteúdos trazidos pelos
estudantes após o primeiro encontro com os respectivos narradores:
Tão faladeira que não haveria silêncio para encerrar a reunião.
Usa uma máscara para dormir. Sofre de insônia.
Antidepressivo, toma há mais de 15 anos.
Lembrei que estava sem o meu caderno de notas.
Os assuntos foram acontecendo.
Filho mais velho levado para o mundo das drogas.
O que vem pela frente?
Ansiosas para a próxima saga!
Durante a leitura do texto, seguia-se um silêncio reflexivo e podia-se observar a
mudança no clima da sala, por meio da postura atenta dos estudantes, que pareciam
indagar: Esta fala é minha? O que eu disse mesmo?
A aula partia da fala dos estudantes, ou melhor, do que a docente captou do encontro
com os estudantes, oferecendo elementos para a reflexão do grupo, na qual ela
também se enxergava como parte. Aos poucos, os estudantes percebiam que a
atmosfera dos encontros com os narradores, se reproduzia em classe, a partir das
sínteses que, por conseguinte, em uma relação dialética, produziam novas formas
de ver e perceber o vivenciado, como se lê na reflexão de uma das estudantes, em
seu texto:
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Durante o módulo de TS-Narrativas, tivemos experiências e vivenciamos as incertezas
e conquistas que surgiam diante do encontro com o outro e da narrativa que este
nos trazia; discutimos, nas supervisões, meios de lidar com diversas questões que
iam surgindo ao longo das semanas e meses; trocamos impressões, transcendendo a
esfera teórica ao mesmo tempo em que nos apoiamos nesta, através dos textos que
compõem o módulo. Segundo Jorge Larrosa Bondía, (2002, p.21) "a experiência é o
que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que
acontece, ou o que toca". (Estudante G).
Destacam-se dois disparadores que se mostraram potentes nestes encontros,
conforme podemos avaliar nos textos dos estudantes (que denominaremos aqui de
auto narrativas). Uma das primeiras atividades consistiu na organização e seleção das
duplas que trabalhariam juntas durante o semestre. Após a escolha, que atendia ao
critério de unirem-se com colegas de diferentes cursos, cada estudante foi orientado
a contar para o seu par um fato importante sobre a própria vida. O relato deveria ser
escrito em forma de narrativa para que fosse lido ao colega na aula seguinte. Paralela
a esta atividade indicaram-se fragmentos do texto “Dona Risoleta”, contido na obra
Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos de autoria de Ecléa Bosi (1994), para
auxiliar na realização da tarefa. Esta vivência despertou algumas questões, como
seguem:
A escolha da dupla era um ponto importantíssimo para o desenvolvimento
do trabalho principal do módulo. A maior parte dos alunos da turma eu não
conhecia muito bem, nem como trabalhavam. Assim, foi um tiro no escuro!
As primeiras atividades em sala de aula acabei fazendo com a colega que estava
imediatamente ao meu lado direito – fizemos uma primeira narrativa uma da outra
.Assim foi por mais algumas atividades – contar a história da dona Risoleta, etc tive
uma primeira impressão boa dela, mas também sabia que isso não queria dizer que
conseguiríamos trabalhar bem como grupo (o que infelizmente ocorre pouquíssimas
vezes). Decidimos fazer juntas, G e eu. Não pensei muito sobre isso, foi naturale estava
tranquila quanto a correr o risco (Estudante E).
Nas falas a seguir, percebemos os efeitos decorrentes da interdisciplinaridade, tanto
no campo subjetivo quanto objetivo. Vejamos:
Não estava tão habituada com ela, mas ora, não podia fazer com a (...) porque
somos do mesmo curso. Fim de aula nos reunimos, conversamos, conversa vai,
conversa vem, rosas, amores, a vida... Escrevi sobre a N. ela escreveu sobre minha
pessoa. Vi coisas que nunca tinha percebido. O olhar do outro sobre a minha
realidade. Já dizia Eliane Brum “E o que a rotina faz com a gente é encobrir essa
verdade, fazendo com que o milagre do que a vida é se torne banal.” (Estudante
L).No que diz respeito a nossa dupla, posso dizer que é bem fácil perceber que
somos pessoas bem diferentes e com jeitos muito diferentes. Isso ficou claro nas
poesias. Mas longe de ser um problema, a diferença foi enriquecedora! Foi namescla
da produção das duas que pudemos fazer algo realmente melhor do que se tivéssemos
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feito individualmente. Durante todo o semestre tive a impressão de que nossas ideias
e ações se complementavam espontaneamente. (Estudante E).
A fim de sensibilizar os estudantes para o trabalho com o público de “idosos” foi
orientado que eles trouxessem para a aula seguinte, uma foto de si na infância, uma
foto de alguém significativo, de preferência jovem e outra foto desta mesma pessoa
na velhice. Inicialmente foi orientado que os estudantes identificassem os colegas
na infância, com base nas fotos espalhadas sobre a mesa. Este momento provocou
reflexões acerca da passagem do tempo e de aspectos culturais percebidos na fotos,
como por exemplo, a comemoração do aniversário em família de uma colega nascida
na Coreia.
O estilo das roupas e ornamentos típicos neste tipo de evento levou os colegas
a discutirem acerca do jeito reservado da colega, um traço comum na cultura
coreana. Estas fotos também despertaram reflexões acerca do significado atribuído
às diferentes vivências, as quais vão construindo a própria biografia. Por outro lado, a
observação das fotos com pessoas significativas, na juventude e na velhice, suscitou
um sentimento de afetividade na turma e discussões acerca do significado do tempo.
Um ponto “alto” desta experiência diz respeito à escolha do narrador. Observam-se
expectativas diversas, das quais se destacam o medo do silêncio ou de lidar com as
emoções do “outro”, como o choro, como se lê:
A escolha do narrador aflorou muito mais emoções: a pessoa narradora seria a alma
de tudo aquilo, achar alguém que estivesse realmente disposto a participar conosco
da atividade parecia um fator essencial para como ocorreria o desenrolar do trabalho
no semestre. A professora apresentou uma lista com o nome e o telefone de possíveis
narradores e aleatoriamente dividimos os potenciais narradores - que já haviam
demonstrado interesse em participar - entre os grupos para entrar em contato. Nossa
dupla ficou com a Dona N. (Estudante G)
Os estudantes começam a experienciar no “aqui e agora” o “lá então”, quando serão
profissionais em suas diferentes áreas de atuação. Nestes momentos, os docentes
também exercitam modos de lidar, com atenção à situação específica, sem receitas
prontas. Não se trata de algo simples, dada a cultura do cumprimento de manuais no
âmbito teórico, que esbarra com o desenho curricular contra hegemônico da proposta
pedagógica em questão. A teoria, neste sentido, compõe uma dimensão fundamental,
mas é subordinada à situação em pauta e não o contrário.
As orientações configuraram um momento ímpar para a turma, que começava a se
constituir como um grupo, cujo objetivo comum é “cuidar do outro”, por meio da
escuta, dos registros atentos dos acontecimentos nos diários de campo, com vistas
à produção da narrativa. Esta postura implica deixar o papel de “estudante passivo”,
e assumir o compromisso com o “outro”, como se observa:
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Na semana seguinte a cada encontro vinham as supervisões, e essas foram fundamentais
para nortear os próximos encontros, aliviarmos angústias e compartilharmos cada
encontro com os colegas e com a professora – ela sempre nos orientando, mas também
nos deixando livres para criarmos, conduzirmos nós mesmos nossos encontros como
achássemos melhor - . Era interessante ouvir como estavam sendo os encontros das
demais duplas/trio da sala, como eles se portavam em seus encontros, como estava
se dando o relacionamento deles com seus narradores, visto que eu e minha dupla
estávamos nos dando extremamente bem com Dona N., tão bem que parecia um
encontro de almas. (Estudante G).
Mas nem tudo são flores. Na medida em que os encontros transcorriam os estudantes
se aperfeiçoavam na difícil arte da escuta, com a iminência de atender as demandas
de outros eixos e seus respectivos módulos.
O percurso teve momentos difíceis, e grande parte deles não foram causados pelo
módulo em si, nem pela narradora, nem pelos colegas em geral, nem pelos textos,
nem pela professora. Há fontes alheias a cada um dos módulos que compromete a
qualidade dos cursos. Na Universidade (...) somos constantemente solicitados a realizar
um grande número de atividades e trabalhos em todos os módulos, ou seja, devido à
sobrecarga, ao cansaço, à urgência, à falta de tempo, nem todos os trabalhos alcançam
bom resultados. (Estudante C).
No que se refere à escuta, os docentes procuram sensibilizar os estudantes para o
som das vozes apagadas da história”, como apontam Campos e Furtado (2008), em
uma releitura de Gadamer. Todavia, o desânimo provocado por discursos longos,
enfadonhos e aparentemente “comuns” se traduz em sofrimento bem como em
material de orientação. Vejamos:
Esse encontro foi longo e saí de lá me sentindo sugada. Como a professora bem definiu
na supervisão, nossa narradora havia sido verborrágica. Por um lado, isso dava um
certo alívio, pois não teríamos dificuldade para extrair histórias e pensamentos dela,
por outro assustava porque é difícil lidar com pessoas que falam muito e não escutam:
é muito cansativo e dificilmente o diálogo é possível (Estudante E).
Era cansativo, era desanimador. Nem sempre era interessante. Sua dicção era horrível,
precisava de muito esforço para compreender suas palavras, ele salivava muito e isso
incomodava também. A canseira chegava, o sono, a vontade de sair correndo dali
(Estudante A).
Um elemento comum neste percurso diz respeito ao sentimento de “invadir o espaço
do outro”, conforme relata o estudante:
Eu sempre saia dali exausta e com vontade de nunca mais voltar. Havia muitos olhares
triste e cansados, e não havia nada que podíamos fazer. Eram só mais duas garotas
entrando em um espaço que não foram chamadas (Estudante A).
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O trabalho com o público asilado é especialmente delicado e suscita diferentes
sentimentos, diante de situações de marginalização social, pobreza, doenças,
incapacidade, abandono, dentre outros.
Diante das circunstâncias, por vezes, os estudantes se utilizam de medidas extremas,
revelando a importância da prática no processo de ensino-aprendizagem e dos
momentos de orientação, a fim de refletirem acerca de estratégias inusitadas, como
visto nas passagens a seguir:
Decidimos adotar algumas estratégias para ver se o diálogo poderia fluir melhor (...)
Colocamos um despertador para não ter que interrompê-la (narradora) – deixando-a
ciente disso, tentamos falar um pouco mais, fazer comentários das coisas que ela
falava para que não fosse um monólogo e passamos a fazer perguntas que pudessem
demonstrar interesse e direcionar um pouco a conversa para que não parecesse que
ela estava dando uma aula (Estudante E).
As coisas foram melhorando, já no segundo encontro não a senti verborrágica, mas é
fato que ela nunca deixou de ser muito falante. Aos poucos fui relaxando e deixando de
me preocupar com o fato de ser uma atividade acadêmica e fui encarando a experiência
com mais leveza e espontaneidade (Estudante E).
A cada encontro os vínculos em sala, como também entre os estudantes e os
respectivos narradores se aprofundam, aflorando identificações.
Minha narradora me lembrava muito minha mãe em muitas de suas histórias, em seu
jeito de agir e de pensar, e isso, muitas vezes (...) mexia demais comigo. No primeiro
encontro principalmente, juntou a emoção de ser o início, a curiosidade em saber tudo
sobre ela, a semelhança nos cargos ocupados no trabalho, os concursos, conflitos, ser
rígida e querer tudo sempre bem certo e ao mesmo tempo ser a pessoa mais carinhosa,
amável, leal, confidente e porto seguro de muita gente. Essa ideia de querer quem
a quer perto, de viver intensamente os momentos que a vida proporciona e deixar
que o tempo se encarregue do que está fora do eixo. Assim, “é importante também,
entender a relação dialética que se estabelece entre narrativa e experiência. Foi preciso
algum tempo para construirmos a ideia de que assim como a experiência produz o
discurso, este também produz a experiência. Há um processo dialético nesta relação
que provoca mútuas influências.” Cunha (1997, p.3 ) ( Estudante G).
Hora da despedida: sínteses
Como pretendemos retratar nas passagens a seguir, o produto da narrativa, aliado
à experiência de retratar a experiência vivenciada por meio da autonarrativa, ou
seja, o falar de si, articulado com aspectos teóricos, leva à ampliação da consciência,
ou de uma consciência crítica (Melo, 2016).
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Último dia antes da entrega da narrativa, Sr W. estava falante, queria falar sobre Deus
e as coisas do universo. E fez perguntas, várias, queria saber da nossa vida. Namora?
Mora onde? e seus pais? o que você espera do futuro? quer casar e ter filhos? e digo
que foi difícil, falar sobre mim para alguém que até então eu só tinha escutado. Bom,
foi nesse último momento que estabelecemos finalmente uma conexão. Meu coração
amoleceu de tal forma que por alguns minutos cogitei a possibilidade de voltar outras
vezes, sem compromisso de narrativa, mas como pessoa que conseguiu conectar sua
alma com outra depois de uma trajetória tão difícil e sofrida. (Estudante A).
O módulo de narrativas exige do estudante que esteja disposto a viver novas
experiências, conhecer novos caminhos e maneiras de enxergar o mundo. Desta
maneira, portanto, deve estar disposto a sofrer uma transformação com base nos
encontros e diálogos com o narrador, pois o conhecimento que este nos passará será
um processo que envolve e transforma (Nóvoa, 2014). E, independentemente de qual
seja a história do narrador, sempre há algo de surpreendente, mesmo que seja algo
simples e presente no cotidiano. Como diz Brum (2006), devemos valorizar as “coisas
pequenas” da vida, “a vida que ninguém vê”. (Estudante B).
As aulas introdutórias ao módulo começaram a traçar um pouco sobre esse delicado
processo de escrita. Aos poucos entendi a importância das palavras e do modo como
estas são postas, remetendo ao trecho “Quando fazemos coisas com as palavras, do
que se trata é de como damos sentido ao que somos e ao que nos acontece, de como
correlacionamos as palavras e as coisas, de como nomeamos o que vemos ou o que
sentimos e de como vemos ou sentimos o que nomeamos”, de Jorge Larrosa Bondía,
no texto Notas sobre a experiência e o saber de experiência. (Estudante N).
E nestes movimentos, observam-se a descoberta de novas dimensões de si e do
outro no processo de saúde-doença- cuidado a partir do exercício teórico prático
na escuta e produção de narrativas, como se lê:
Diversas vezes também me perguntava qual seria a relação da narrativa com a área
da saúde. Como poderíamos conciliar as duas práticas? As perguntas logo foram
respondidas. O texto “A narrativa como ferramenta para o desenvolvimento da
prática clínica” (Favoreto & Camargo, 2011), também trabalhado em sala, ressalta
que “A importância da narrativa para o indivíduo estaria, assim, nas possibilidades
que ela cria de percebermos, vivenciarmos e julgarmos nossas ações e o curso de
nossas vidas”. Essas possibilidades criadas poderiam, assim, ser facilmente usadas
para o entendimento da saúde do indivíduo “como um todo”, permitindo uma análise
diferente, diria até dotada de “muita sensibilidade”, que, para além de um diagnóstico, facilitando, muitas vezes, o encontro do mesmo - olha para “o que” essas pessoas falam
mas também “como” elas falam. (Estudante N).Conforme Maria Isabel da Cunha, "as
narrativas provocam mudanças na forma como as pessoas compreendem a si próprias
e aos outros e, por este motivo, são, também, importantes estratégias formadoras de
consciência numa perspectiva emancipadora" (Cunha1997, p.185) Creio que tanto
nós, estudantes, quanto a própria narradora, estamos entendendo mais de sua vida e
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de suas inquietações, e creio que ela esteja enxergando certos aspectos do conteúdo
narrado com um olhar mais unificado do que tinha antes dos encontros. "Quando uma
pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que reconstrói a trajetória
percorrida dando-lhe novos significados. Assim, a narrativa não é a verdade literal dos
fatos, mas, antes, é a representação que deles faz o sujeito e, dessa forma, pode ser
transformadora da própria realidade" (id., p.187).(Estudante C).
A narrativa despertou uma sensibilidade diferente em mim, nunca antes
apontada. Comecei a enxergar as relações sociais, em geral, de maneira diferente.
Aspectos descritivos e notas intensivas pareciam agora indistinguíveis, mas ao mesmo
tempo eram identificados de maneira clara quando analisados com mais tempo. Creio
que no texto “Narrativas na formação comum” os autores (Capozzolo et al., 2014)
conseguiram expressar exatamente minha experiência com todo esse processo de
escutar, dialogar e narrar com alguém: “Utilizar o recurso das narrativas na formação de
profissionais de saúde nos ensina que os sentidos compartilhados são mais potentes e
que a elaboração conjunta destes últimos têm uma eficácia maior que a da prescrição
técnica unilateral.” (Capozzolo, et.al, 2014, p. 446).( Estudante N).
Foi uma experiência de contato, onde pude me perceber, junto com
minhas parceiras de narrativa, em uma situação de extrema proximidade e em uma
relação de confiança, pois essas condições são precisas para que a contação de histórias
se desenvolva bem. Mais que isso, pude me perceber mais como sujeito, ao passo
que entendi melhor o campo problemático que sou transpassado. As frases de T. por
vezes, captavam minha atenção diferentemente de outras devido a correlação que eu
fazia com minha própria vida. Como diz Nóvoa (2014):“Não há conhecimento exterior
à nossa interrogação, ao exercício pessoal através do qual damos sentidos às nossas
vidas. Não há conhecimento sem conhecimento de nós mesmos”. (Estudante L).
Qual é o alcance da narrativa? É uma das estudantes desta turma, quem responde:
Em várias esferas de nossas vidas construímos narrativas. São versões do que
aconteceu, interpretações de fatos, o que deveria ter acontecido, o que eu gostaria
que tivesse acontecido, o que eu quero que acreditem. Difícil apreender o estatuto
da verdade dos acontecimentos. Que verdade é essa que ocupou filósofos por tantos
séculos? Uma abstração que, como tal, será deixada de lado, pois todos nós temos
vozes, e elas não soam em uníssono, nem mesmo se levarmos em conta as múltiplas
vozes que saem de uma mesma pessoa (Estudante C).
Coisas a melhorar no módulo
Esta experiência também revelou limitações do módulo, inscritas na dificuldade
dos estudantes em compreender os propósitos do mesmo. Ponderamos que uma
estratégia salutar seria convidar estudantes de semestres anteriores para uma
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conversa no início das atividades letivas, a fim de estabelecer uma troca de impressões
com as turmas. Ademais, nos parece interessante que a cada ano possamos, com
auxílio dos estudantes, organizar uma edição de “Experiências da Narrativa”, a fim
de contribuir no processo de ensino-aprendizagem dos participantes. Vejam o que
escreve uma estudante:
Os textos lidos e discutidos no início do módulo foram imprescindíveis, como por
exemplo, o texto de Bosi, (1994). A narrativa de Dona Risoleta fez com que nós
estudantes nos aproximássemos deste universo das narrativas, e, da melhor maneira,
pudéssemos então compreender o objetivo e maneira de escrita deste tipo de texto.
Porém, acredito que ainda tenha faltado algum conteúdo que deixasse a ideia da
narrativa melhor compreendida entre os estudantes do módulo. Digo isto pelo fato
de ter percebido que muitos alunos apenas compreenderam a narrativa ao final do
modulo (Estudante B).
Considerações finais
Este relato, em sintonia com a perspectiva de Ricoeur, procura mostrar que o
processo de conhecimento envolve necessariamente, e em todos os níveis, um
movimento no sentido de apreensão do objeto (polo objetivo) e um movimento no
sentido da construção desse objeto por parte daquele que investiga ou capta o que
está sendo narrado (polo subjetivo) (Melo, 2016).
No âmbito das narrativas, há a possibilidade de (re)elaborar questões internas e
fortalecer a autoria e a autonomia dos envolvidos. Não se trata da descrição fiel
de um fato, como dizem Marques e Satriano (2017), mas como ele foi construído
mentalmente pelo narrador. Advoga-se que o narrado nos permite conhecer mais
acerca da subjetividade do narrador do que a “verdade” em si do narrado (Marques
& Satriano, 2017).
Aqui privilegiamos a experiência de narrativas com idosos, uma população que
cresce exponencialmente no Brasil. Projeções do Ministério da Saúde apontam que
a população idosa triplicará nas próximas quatro décadas, passando de menos de 20
milhões em 2010 para cerca de 65 milhões em 2050 (Brasil, 2017).
Veras (2012) infere que o aumento da proporção de idosos amplia o uso dos
serviços de saúde, como também a necessidade de aumentar as ações de promoção
e a educação em saúde, com o foco na prevenção e o retardamento de doenças.
Especialmente porque o idoso tem como característica básica a multiplicidade de
doenças crônicas e estas, após sua instalação, tendem a não regredirem.
Daí a importância do cuidado, especialmente na velhice. O termo “cuidado” remete
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GOULART, PATRÍCIA et al. Experiências narrativas: um relato de...
à palavra latina coera, cujo significado é “aquilo que propicia a cura”, o que, de certa
forma, pressupõe a “arte” de curar. Conhecer essa arte implica a disposição de
entregar-se a uma relação na qual existe um ser que está disponível para cuidar do
outro, aliviando sua dor, apaziguando seu sofrimento (Coelho e Ferreira, 2015).
Mas o que significa ser idoso? O envelhecimento é um fenômeno do processo da vida,
assim como a infância, a adolescência e a maturidade, e é marcado por mudanças
biopsicossociais específicas, associadas à passagem do tempo. No entanto, este
fenômeno varia de indivíduo para indivíduo. Logo, o processo de envelhecimento
transcende dimensões puramente naturais e biológicas, mas também pode ser
considerado um fenômeno profundamente influenciado pela cultura, onde os
indivíduos reagem a partir de suas referências pessoais e culturais (Ferreira et al.,
2010).
Estudos de Ferreira et al., (2010) evidenciam a massiva representação negativa do
envelhecimento, baseada em aspectos ancorados em termos como “velho”, “limitação”,
“doença” e “inútil” (Ferreira, 2010). Persiste uma visão deficitária nesta fase da vida,
que, segundo os autores, é típica de uma sociedade centrada na produção, no
rendimento, na juventude e no dinamismo (Ferreira et al., 2010).
Czeresnia (2003), por sua vez, reitera que saúde e o adoecer são formas pelas quais
a vida se manifesta. São experiências singulares e subjetivas, impossíveis de serem
reconhecidas e significadas integralmente pela palavra. E acrescenta que é na relação
entre o ato de adoecer, a palavra do paciente e a do profissional de saúde, que
ocorre a tensão entre a subjetividade da experiência da doença e a objetividade dos
conceitos que lhe dão sentido.
O Módulo “Encontro e Produção de Narrativas” tem mostrado um diferencial no
percurso da graduação dos estudantes, que decorre de vários aspectos, a citar a
inter-relação entre teoria e prática, o trabalho interdisciplinar e interprofissional, o
exercício da delicada arte da escuta e a relação de parceria entre os serviços públicos
de saúde, que transcendem o viés acadêmico tradicional (Capozzollo, et al., 2014).
Parte-se do pressuposto que a produção das narrativas e autonarrativas, bem como
o exercício da linguagem e interpretações dos discursos na busca pela apreensão do
fenômeno, favorece uma maior compressão de si, do outro e do contexto.
Outrossim as dificuldades e momentos de tensão, inerentes a este trabalho, se
convertem em vias de aprendizagem individual e grupal. O docente não ocupa o
protagonismo da sala, mas se coloca como um facilitador, compartilhando os anseios
e aportando caminhos a serem seguidos, com a participação ativa dos envolvidos.
E como não poderia deixar de ser, contribui nas transformações, na medida em que
se transforma como pessoa e profissional.
O processo situa a narrativa como recurso pedagógico potente, para a tomada de
consciência de si, do outro e das condições concretas de existência.
Linhas Críticas, Brasília, DF, v.24 - Ahead of print, p.237-254.
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Patrícia Martins Goulart é Doutora em Psicologia Social (Universidade Autônoma de
Barcelona- UAB). Docente Convidada da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
- Campus Baixada Santista. Membro do Grupo Processo e Gestão Trabalho e(m) Saúde
- CNPq. E-mail:
[email protected]
Luciane Maria Pezzato é Doutora em Saúde Coletiva. (Universidade Estadual de
Campinas - UNICAMP). Docente da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
- Campus Baixada Santista. Departamento de Saúde, Clínica e Instituições.
E-mail:
[email protected]
Virgínia Junqueira é Doutora em Ciências. (Universidade de São Paulo -USP) Docente
da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - Campus Baixada Santista.
Departamento Gestão e Cuidados em Saúde. E-mail:
[email protected]
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