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Leishmaniose Visceral no HDT em Araguaína - TO.

2019, Leishmaniose Visceral no HDT em Araguaína - TO

https://doi.org/10.20873/uft.2446-6492.2020v7n1p119

Visceral Leishmaniasis (LV) has become one of the most important diseases in Brazil in the present context, due to its incidence with a chronic evolution character and systemic involvmente that results in high lethality. This case report portrays a patient with fever and a significant drop in general condition and other signs and symptoms whose clinical identification sustained by complementary examinations for LV was essential for the establishment of an adequate treatment.

Revista de Patologia do Tocantins 2020; 7(1):.119-121 DOI: 10.20873/uft.2446-6492.2020v7n1p119 Viza Júnior et al. 119 LEISHMANIOSE VISCERAL NO HDT DE ARAGUAÍNA Visceral leishmaniosis in hdt of araguaína Gilson de Abreu Viza Júnior¹, Anderson Barbosa Baptista². RESUMO A Leishmaniose Visceral (LV) tornou-se uma das doenças mais importantes no Brasil no atual contexto, em razão da sua incidência com caráter de evolução crônica e envolvimento sistêmico que resulta em alta letalidade. Este relato de caso retrata um paciente com febre e queda significativa do estado geral e outros sinais e sintomas cuja identificação do quadro clínico sustentado por exames complementares para LV foi essencial para o estabelecimento de um tratamento adequado. Palavras-Chave: Leishmaniose Visceral; Anemia; Anfotericina B desoxicolato. ACESSO LIVRE Citação: Viza Júnior G de A1, Baptista AB2, (2020). Leishmaniose Visceral no HDT de Araguaína. Revista de Patologia do Tocantins., 7(1):. 119-121 ABSTRACT Visceral Leishmaniasis (LV) has become one of the most important diseases in Brazil in the present context, due to its incidence with a chronic evolution character and systemic involvmente that results in high lethality. This case report portrays a patient with fever and a significant drop in general condition and other signs and symptoms whose clinical identification sustained by complementary examinations for LV was essential for the establishment of an adequate treatment. Keywords: Visceral Leishmaniasis; Anemia; Anfotericina B desoxicolato Instituição:¹Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Tocantins, Brasil; ²Professor Doutor do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Tocantins, Brasil. Autor correspondente: : Gilson de Abreu Viza Júnior; [email protected] Editor: Guedes V. R. Medicina, Universidade Federal do Tocantins, Brasil. Publicado: 09 de junho de 2019. Direitos Autorais: © 2020 Viza Júnior et al. Este é um artigo de acesso aberto que permite o uso, a distribuição e a reprodução sem restrições em qualquer meio, desde que o autor original e a fonte sejam creditados. Conflito de interesses: os autores declararam que não existem conflitos de interesses. RELATO DE CASO Revista de Patologia do Tocantins, Vol. 7 No. 1, julho 2020 Revista de Patologia do Tocantins 2020; 7(1):. DOI: 10.20873/uft.2446-6492.2020v7n1p Viza Júnior et al. 120 hepatoesplenomegalia, ausência de dor à palpação superficial e profunda. INTRODUÇÃO A Leishmaniose Visceral (LV) é causada pelo protozoário intracelular do gênero Leishmania e transmitida especialmente pelo flebotomíneo Lutzomyia longipalpis, tornou-se uma das doenças mais importantes no Brasil sendo a região norte e nordeste as que apresentam a maior incidência1. Sua importância está relacionada a razão da sua incidência com caráter de evolução crônica e envolvimento sistêmico que resulta em alta letalidade, sobretudo em indivíduos não tratados e em crianças desnutridas por conta da baixa condição socioeconômica. Além disso, é considerada emergente em indivíduos portadores de infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida2. Em 2017, os delegados dos países endêmicos, participantes da Reunião Regional de Leishmanioses, aprovaram o Plano de Ação de Leishmanioses nas Américas 2017-2022, que detalha as metas, indicadores e ações para cumprir com os compromissos da Resolução CD 55 R09 de 2016, com o objetivo de reduzir a morbidade e mortalidade por leishmanioses na região mediante o fortalecimento do diagnóstico, tratamento, reabilitação, prevenção, vigilância e controle3. A Organização Mundial de Saúde preconiza três medidas profiláticas: destruição do vetor, tratamento dos casos humanos e destruição dos reservatórios que são os cães soropositivos, no entanto é necessário que as ações de educação em saúde sejam concretas e efetivas onde o SUS é o responsável pela participação social e descentralização administrativa4. Existe uma nova realidade de contagio da doença no Brasil, antigamente as pessoas mais expostas e consequentemente mais susceptíveis ao contágio eram os moradores das áreas rurais ou pessoas com o estilo de vida mais rural, nos últimos anos a realidade mudou pois houve um maior acometimento de pessoas com estilo extremamente urbanos isso se deve ao deslocamento dos vetores antes de áreas rurais ou matas agora para áreas urbanas, além do incremento de turismo ecológico5. Este relato de caso tem como objetivo mostrar a importância do diagnóstico de LV e inicio precoce do tratamento quando foram excluídos outros diagnósticos. RELATO DE CASO O. P. B., 32 anos, masculino, pardo, natural de São Geraldo do Araguaia - PA e procedente de Araguaína – TO, deu entrada no Hospital de Doenças Tropicais de Araguaína – TO dia 18/04/2019. Na ocasião, o paciente apresentava uma história de febre há mais de 30 dias, contínua, vespertina, associada a astenia, mialgia, perda de peso de 5,0kg em 30 dias (sic). Ao exame físico apresentava regular estado geral, lúcido e orientado em tempo e espaço, febril 39,2 °C, acianótico, anictérico, hipocorado 3+/4+, hidratado, PA: 90x60 mmHg, FC 146 bpm, FR 24 irpm, peso 61,6 kg, satO2 98%. O abdome era plano, RHA presentes, tenso, presença de Ao exame laboratorial da admissão, paciente apresentava pancitopenia: Hemoglobina 5,2 g/dL, Hematócrito 16,9 %, Leucócitos 1.200/mm³, plaquetas 83.000/mm³, TGP 46 U/L, TGO 30 U/L, FA 82 U/L, PTF 7,0 g/dL, Alb 2,7 g/dL, Glob 4,3 g/dL, BTF 0,5 mg/dL, BD 0,1 mg/dL, BI 0,4 mg/dL, Ur 28 mg/dL, Cr 1,04 mg/dL, Na 130 mmol/L, K 4,0 mmol/L, Glicemia 104 mg/dL. Sorologias do dia 04/04 apresentou: Toxo IgM soro não reativo (SNR), IgG R, CMV IgM SNR, IgG R, EBV IgM SNR, IgG R, Brucelose IgM SNR, IgG R, Anti-HIV SNR, HBsAg SNR, Anti-HBs SNR, Anti-HCV SNR. Nos exames de imagem, a tomografia computadorizada de abdome do dia 05/04/2019 observou-se hepatoesplenomegalia e aumento do calibre da veia porta e veia esplênica; em Ultrassonografia de Abdome anterior do dia 28/03/2018 observou-se sinais de esteatose leve e hepatoesplenomegalia. Paciente foi internado com suspeita de leishmaniose visceral e iniciado tratamento com Anfotericina B desoxicolato. Além disso, paciente recebeu 3 unidades de hemoconcentrado e tratamento sintomatológico. No primeiro dia de internação, paciente não apresentou febre, evoluiu com melhora do estado geral e dos exames bioquímicos. No dia 22/04/2019 o resultado do exame para LV foi positivo. DISCUSSÃO O Hospital de Doenças Tropicais se localiza no Norte do Estado do Tocantins, região com grande incidência de LV, que possuem características ambientais favoráveis como a baixa elevação e a alta precipitação pluviométrica, o que pode ser explicado pela maior presença do vetor em altitudes mais baixas, e em locais mais úmidos1. A cidade de Araguaína apresentou números alarmantes de LV, principalmente entre 2006 e 2007 e está entre os quatro municípios com maior número de registros do país. Surtos da doença atingiram progressivamente, a partir de 2008, áreas centrais e periurbanas6, chamando a atenção do poder público para a efetivação dos processos profiláticos e educação em saúde. O diagnóstico preciso e rápido é importante, pois a mortalidade pode atingir 90% dos pacientes. Os sintomas como febre intermitente, alterações esplênicas, hepáticas, renais, pulmonares e no tecido hemacitopoético podem ser indícios da doença7. De acordo com a Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde todo indivíduo com febre e esplenomegalia, proveniente de área com ocorrência de transmissão de LV ou proveniente de área sem ocorrência de transmissão, descartando os diagnósticos diferenciais mais frequentes da região é considerado caso suspeito de LV8. Há várias possibilidades para a realização do diagnóstico, que é baseado no encontro do parasita no tecido da medula Revista de Patologia do Tocantins, Vol. 7 No. 1, julho 2020 Revista de Patologia do Tocantins 2020; 7(1):. DOI: 10.20873/uft.2446-6492.2020v7n1p Viza Júnior et al. 121 óssea, baço, fígado ou linfonodos. Testes sorológicos como da Organização Pan Americana de Saúde por meio do teste imunofluorescência indireta, ELISA e técnicas de biologia imunocromatográfico positivo. molecular, reação em cadeia da polimerase, no entanto como há especificidades variáveis e o custo é alto, pode ser adotada a prática clínica, achados clínico-epidemiológicos e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS exames mais acessíveis como testes imunocromatográficos, 1. Reis, L.P., Balieiro, A.A.S., Fonseca, F.R., Gonçalves, comumente conhecidos como teste rápido, que utilizam M.J.F. Leishmaniose visceral e sua relação com fatores antígenos recombinantes; pacientes com resposta favorável climáticos e ambientais no Estado do Tocantins, Brasil, ao teste terapêutico são realizados e o tratamento iniciado9,10. 2007 a 2014. Cad. Saúde Pública, 35 (1) 10 Jan 2019. O tratamento escolhido foi a Anfotericina B desoxicolato como 2. Vilela, M., Afonso, M., Costa, S., Costa, W., & Rangel, está recomendado pela Organização Pan Americana de Saúde. E. (2014). Lutzomyia (Lutzomyia) longipalpis: Fatores Logo no primeiro dia de internação o paciente já apresentou associados ao processo de expansão e urbanização da cura inicial devido a ausência de quadro febril e melhora do leishmaniose visceral americana. In Conceição-Silva F. estado geral. A duração do tratamento com esta medicação & Alves C. (Eds.), Leishmanioses do continente americano (pp. 183-192). Rio de Janeiro: SciELO – deve ser de 14 dias e estará completado quando houver 6 Editora FIOCRUZ Disponível em: meses de ausência de recaída, é preciso ficar vigilante às http://www.jstor.org/stable/10.7476/9788575415689. questões de desenvolvimento de resistência às drogas, o 13. consequente aumento do tempo de internação e maior custo 3. Organização Pan-Americana da Saúde: Leishmanioses: 10, 11, 12 de internação . Informe Epidemiológico nas Américas: Washington: Outra opção de tratamento seria antimônio penta-valente NOrganização Pan-Americana da Saúde; 2018 [acesso metil glucamina (Glucantime), que produz efeitos colaterais 19 de abril de 2019] Disponível em: como a arritmia, artralgias, adinamia, anorexia, dor no local da www.paho.org/leishmaniasis. aplicação (IM) e aumento da diurese, em casos graves e que 4. Castro, J.M. et al. Conhecimento, Percepções de Indivíduos em Relação à Leishmaniose Visceral essa medicação não responda a escolha será da Anfotericina Humana Como Novas Ferramentas de Controle. que pode produzir flebite, cefaléia, febre, calafrios, astenia, Ensaios Cienc., Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v.20, n.2, p. dores musculares e articulares, vômitos e hipotensão durante 93-103, 2016. a infusão13. 5. Silva EG, Silva EG, Lava CO, Santana SC. A enfermagem O quadro de anemia foi tratado com hemotransfusão. Nos e a sistematização do atendimento ao portador da níveis de hemoglobina inferior a 7 g/dL existe grande risco de Leishmaniose Tegumentar Americana. Rev Cient Fac hipóxia tecidual e comprometimento das funções vitais14. Educ e Meio Ambiente [Internet]. 2018;9 (ed esp): Dessa maneira, foram feitas quantidades de hemácias 507-511. doi: suficientes para correção dos sinais/sintomas de hipóxia. https://doi.org/10.31072/rcf.v9iedesp.640. 6. Toledo, C.R.S., et al. Vulnerabilidade à transmissão da Esse estudo demonstra a importância de um diagnóstico leishmaniose visceral humana em área urbana precoce, e faz uma alerta para a necessidade de medidas de brasileira. Rev. Saúde Publica, 51:49, 2017. controle e políticas de educação em saúde que sejam efetivas 7. Lima, M.B. & Batista, E.A.R. Epidemiologia da para evitar o contágio, principalmente onde há incidência de leishmaniose visceral humana em Fortaleza-CE. RBPS; cães contaminados e o número de notificações é alto. É 22 (1) : 16-23, 2009. necessário que pesquisas em busca de uma vacina evoluam 8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em como método definitivo para a prevenção. Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Faz se necessário que haja maior investigação científica no Leishmaniose visceral: recomendações clínicas para Estado do Tocantins de casos suspeitos e notificados, redução da letalidade / Ministério da Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. – condutas adotadas e óbitos, bem como possibilidades de Brasília: Ministério da Saúde, 2011 Disponível em: tratamentos alternativos e complementares, inclusive http://portalms.saude.gov.br/images/pdf/2016/deze disponíveis na Relação Nacional de Plantas Medicinais de mbro/14/lv_reducao_letalidade_web_revisado.pdf. Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus). Por termos 9. Junior, L.G.C., et al. Leishmaniose visceral infantil: encontrado pouca publicação da Região Norte do Brasil esse relato de caso. Rev. Med. (São Paulo). jul.-set.; relato fica limitado a uma análise sem maiores detalhes 95(3):133-7, 2016. comparativa. 10. Organización Panamericana de la Salud. Leishmaniasis CONCLUSÃO A conduta de tratamento imediato baseado no exame clínico, complementado pelos achados laboratoriais para suspeita de Leishmaniose Visceral foi adequada e pertinente, proporcionando ao paciente bom prognóstico e menor tempo de internação, demonstrado pela ausência de febre nos dias que se seguiram à internação e que representam uma prova terapêutica positiva. O diagnóstico foi confirmado pelo critério en las Américas: recomendaciones para el tratamiento. Washington, D.C.: OPS, 2013. 11. Monge-Maillo B, López-Vélez R. Therapeutic options for visceral leishmaniasis. Drugs. ;73(17):1863-88, 2013. doi:10.1007/s40265-013-01330. 12. Alvar J, Croft S, Olliaro P. Chemotherapy in the treatment and control of leishmaniasis. Adv Parasitol.;61:223-74,2006. http://dx.doi.org/10.1016/S0065-308X(05)61006-8. 13. Pereira, M.D., Lopes, J.D., Neves, M.G.C. 145Com. Ciências Saúde. 2015; 26(3/4): 145-150RELATO DE CASOLeishmaniose Visceral em criança: um relato de Revista de Patologia do Tocantins, Vol. 7 No. 1, julho 2020 Revista de Patologia do Tocantins 2020; 7(1):. DOI: 10.20873/uft.2446-6492.2020v7n1p Viza Júnior et al. caso sobre a recidiva da doença. Com. Ciências Saúde, 26(3/4): 145-150, 2015. 14. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Guia para o uso de hemocomponentes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010. Revista de Patologia do Tocantins, Vol. 7 No. 1, julho 2020 122