Capítulo 3
Elementos
de máquinas
MECÂNICA 1
E
ste capítulo utiliza todos os conceitos desenvolvidos durante o curso
de Mecânica. A combinação dos temas fundamentais (mecânica básica, resistência dos materiais, materiais e processos produtivos e desenho técnico mecânico) e a introdução de alguns conceitos de cinemática proporcionam subsídios para a realização de projetos.
3.1 Introdução aos elementos de transmissão
Elementos de transmissão são dispositivos mecânicos que possibilitam normalmente a transferência de torque ou carga. Essa transmissão pode ocorrer por
meio de rotação ou translação. São exemplos de elementos de transmissão as engrenagens, correias, cabos de aço, acoplamentos etc.
3.1.1 Movimento circular uniforme
O movimento circular é em geral utilizado na transmissão de potência ou torque. A maioria dos elementos girantes é acionada por motores elétricos ou de
combustão interna. Em função dos atritos mecânicos e da inércia dos elementos desprezamos as condições de partida (transiente inicial) e, no fim, obtemos
apenas um movimento de rotação constante. Dessa forma, dizemos que o elemento possui velocidade angular constante ou movimento circular uniforme.
Consideramos que os elementos girantes possuem pequenas deformações,
de modo que todos os pontos desses elementos percorrem uma volta no
mesmo intervalo de tempo, o tempo total de um ciclo que denominamos
período (T).
Damos o nome de frequência (n) ao número de rotações em determinado intervalo de tempo. Exemplos: rotações por minuto (rpm), rotações por segundo (rps) etc. Frequência e período são grandezas inversamente proporcionais
segundo a relação:
n=
1
T
Pela definição de movimento circular uniforme, a velocidade tangencial (V) é
constante:
V=
154
S
(constante) (I)
t
CAPÍTULO 3
Sabendo que o espaço percorrido no tempo T é o comprimento de uma circunferência (S = 2 r) e substituindo na equação (I), obtemos a seguinte relação:
V=
S 2πr
1
=
= π ⋅ d ⋅ = π ⋅ d ⋅ n ⇒ V = πdn
t
T
T
m
s
em que:
d = diâmetro (m)
n = frequência (rps = rotações por segundo)
Como a maioria dos dispositivos mecânicos, usualmente sua frequência é indicada em rotações por minuto (rpm). A equação da velocidade torna-se:
V=
π ⋅ d ⋅ n m
, em que: n = rotações por minuto (rpm)
60 s
Transmissões de movimentos circulares uniformes
Podemos dizer que os tipos de transmissão de movimento circular mais comuns
na mecânica ocorrem por meio de pares de engrenagens, polias, correias ou
correntes.
O esquema a da figura 3.1 mostra um par de engrenagens, e o esquema b, a representação de um sistema que utiliza polias ligadas por correia.
Figura 3.1
n1
n1
(1)
d1
(2)
d2
(1)
V1
d1
a) Representação de
um par engrenado;
b) sistema que utiliza polias
ligadas por uma correia.
V2
V
(2)
d2
n2
n2
V1 = V2
a)
b)
Assumindo a hipótese de que não há escorregamento, as velocidades tangenciais
desses elementos necessariamente são iguais, ou seja:
V1 = V2 = V = π ⋅ d ⋅ n
Portanto, para as engrenagens (1) e (2), temos:
πd1n1 = πd2n2 ⇒
n1 d2
(I)
=
n2 d1
155
MECÂNICA 1
A equação (I) é definida como a relação de transmissão de (1) para (2), e se expressa como i1,2.
Logo: i1,2 =
n1
d
ou i1,2 = 2
n2
d1
Exemplo
Duas polias ligadas por correias têm diâmetro d1 = 20 cm e d2 = 40 cm.
Sabendo que a primeira possui frequência igual a 50 rpm, calcular a rotação da
segunda polia e a velocidade linear dos pontos da correia em metros por minuto.
Um desenho esquemático do sistema pode ser observado na figura 3.2.
Figura 3.2
Exemplo de transmissão
por meio de polias
ligadas por correia.
V
n1
(1)
d1
(2)
d2
n2
Solução:
Como sabemos,
n1 d2
50 40
20 ⋅ 50
=
⇒
=
⇒ n2 =
⇒ n2 = 25 rpm
n2 d1
n2 20
40
A velocidade V, em um ponto da correia, é a mesma que nos pontos tangentes
às polias.
Portanto:
V = π ⋅ d1n1 = π ⋅ 20 ⋅ 50 = 1000π ⇒ V = 3142
cm
m
⇒ V = 31, 42
min
min
Relação de transmissão total
Em diversas aplicações, quando desejamos obter determinado torque ou determinada rotação, utilizamos caixas de redução. Exemplo disso é a transmissão
(câmbio) de um automóvel.
156
CAPÍTULO 3
Conhecida a rotação do motor transmitida por diversos pares de polias e engrenagens, podemos determinar qual é a rotação de saída, ou seja, a relação de
transmissão total (it).
No sistema indicado na figura 3.3, é possível equacionar e determinar de modo
literal a relação total do conjunto (it). Dessa forma, partindo do motor, temos:
i1,2 =
n1
⇒ n1 = i1,2 ⋅ n2
n2
Figura 3.3
6
Motor
1
Conjunto de polias e
engrenagens:
a) 1 e 2 são representações
esquemáticas da vista
superior das polias;
b) 3, 4, 5 e 6 são
representações
esquemáticas da vista
superior das engrenagens.
4
5
2
3
A polia de número 2 e a engrenagem de número 3 são solidárias ao mesmo eixo.
Desse modo, concluímos que a rotação n2 é igual à rotação n3. A relação entre
as engrenagens 3 e 4 é dada por:
i3,4 =
n3
⇒ n3 = i3,4 ⋅ n4
n4
As engrenagens 4 e 5, por estarem acopladas ao mesmo eixo, têm também a mesma frequência de rotação. Portanto, n4 = n5. A relação do último engrenamento
(engrenagens 5 e 6) é obtida por:
i5,6 =
n5
⇒ n5 = i5,6 ⋅ n6
n6
157
MECÂNICA 1
Substituindo as equações a fim de obter uma única equação, temos:
n1 = i1,2 ⋅ n2
⇒ n1 = i1,2 ⋅ n3
⇒ n1 = i1,2 ⋅ i3,4 ⋅ n4
⇒ n1 = i1,2 ⋅ i3,4 ⋅ n4 ⇒ n1 = i1,2 ⋅ i3,4 ⋅ n5
⇒ n1 = i1,2 ⋅ i3,4 ⋅ i5,6 ⋅ n6
Dessa forma, notamos que it = i1,2 · i3,4 · i5,6. Assim, n1 = it · n6.
Concluímos que a relação de transmissão total é o produto das relações de transmissões parciais.
Nesse exemplo, temos ainda:
Frequência do motor = nm = n1 e frequência de saída = ns = n6
Substituindo em n1 = it · n6 ⇒ nm = it · ns
Portanto, ns (rotaÁ„ o de saÌda) =
nm
.
it
3.1.2 Rendimento em transmissões mecânicas
Durante um processo de transmissão mecânica real, notamos que a energia disponível (trabalho) que entra no sistema deveria ser igual à energia disponível que
se obtém na saída desse dispositivo. Entretanto, observamos que essa energia disponível na saída (Es) é sempre menor que a energia disponível de entrada (Ee).
Como a energia em determinado sistema se conserva (princípio da conservação da energia), uma parte dela é transformada em calor, normalmente devido
a atritos (entre partes girantes ou escorregamento), ou a imperfeições geométricas, como excentricidade, tolerâncias (nenhum elemento é perfeito). A diferença entre as energias de entrada (Ee) e de saída (Es) é a energia perdida (Ep)
sob a forma de calor, referente às resistências passivas.
Em situações mais realistas, devemos contabilizar esse desvio de energia. Isso
é realizado com base na definição de rendimento ( ) de uma máquina. O rendimento é a relação entre as energias de saída (Es) e de entrada (Ee). Portanto:
η=
Es
Ee
η=
Ep
E e − Ep
Ep
Es
=
= 1−
⇒ η = 1−
Ee
Ee
Ee
Ee
(
)
Como as perdas são inevitáveis, temos sempre < 1.
Se um conjunto é composto por várias máquinas, conforme indicado na figura
3.4, o rendimento total ( t) é dado por:
158
CAPÍTULO 3
Ee
η=
η1
E1
η2
E2
η3
E3
Es
⇒ Es = ηt ⋅ Ee
Ee
η1 =
E1
⇒ E1 = η1 ⋅ Ee (1)
Ee
η2 =
E2
⇒ E2 = η2 ⋅ E1 (2)
E1
η3 =
E3
⇒ E3 = η3 ⋅ E2 (3)
E2
ηn =
Es
⇒ Es = ηn ⋅ En − 1 (n)
En − 1
En-1
ηn
Es
Figura 3.4
Conjunto composto de
diversas máquinas em série.
Substituindo E1 da equação (1) na equação (2) e depois E2 da equação (2) na
equação (3), e assim sucessivamente, temos na enésima equação:
Es = η1 ⋅ η2 ⋅ η3 .....ηn ⋅ Ee = ηt ⋅ Ee Es = η1 · η2 .....ηn · Ee = ηt · Ee
em que, η1 · η2 · η3.....ηn = ηt
Conclui-se, então, que o rendimento total é o produto dos rendimentos parciais.
A tabela 3.1 apresenta alguns dados aproximados de rendimentos que podem ser
utilizados como referência.
Mancais de rolamento (par)
η = 0, 99
Mancais de deslizamento (par)
0, 95 ≤ η ≤ 0, 98
Transmissões por correias
0, 96 ≤ η ≤ 0, 98
Transmissões por correntes
0, 95 ≤ η ≤ 0, 98
Transmissões por cabos
0, 94 ≤ η ≤ 0, 96
Transmissões por engrenagens cilíndricas
0, 97 ≤ η ≤ 0, 98
Transmissão por rosca sem fim
0, 45 ≤ η ≤ 0, 97
Tabela 3.1
Rendimentos aproximados
por dispositivo
159
MECÂNICA 1
3.1.3 Momento torçor ou torque
Em aplicações mecânicas, conhecida a potência (N) em quilowatts (kW) e
a frequência (n) em rotações por minuto (rpm), é possível determinar uma
equação relacionando a frequência e a potência com o momento torçor (Mt)
ou torque.
Partimos da definição de potência (N):
N=
S
trabalho F ⋅ S
=
= F⋅ = F⋅v
t
t
tempo
em que:
N = potência (W)
F = força (N)
S = espaço (m)
t = tempo (s)
m S
v = velocidade =
s t
Portanto, N = F · v (I)
Para uma seção circular, conforme indicado na figura 3.5, o torque em uma
transmissão desse tipo é dado por:
Mt = F
2Mt
d
⇒F=
d
2
Figura 3.5
Indicação das
dimensões e forças.
F
d
2
d
160
CAPÍTULO 3
A velocidade tangencial é igual a v = π ⋅ d ⋅ n . Substituindo na equação (I),
obtemos:
N=
2Mt
⋅ π ⋅ d ⋅ n = 2π ⋅ Mt ⋅ n
d
Portanto, Mt =
1 N
⋅ . (II)
2π n
No Sistema Internacional (SI), como normalmente a potência é dada em
quilowatts e a frequência em rotações por minuto, a equação (II) do momento
torçor é dada por:
Mt =
60 ⋅ 1000 N
N
⋅ = 9 550
2π
n
n
em que:
N = potência (kW)
n = frequência (rpm)
Mt = torque (N · m)
No sistema MK*S (técnico), com a potência em cavalo-vapor (cv) e frequência
em rotações por minuto (rpm), a equação (II) torna-se:
Mt =
N
60 ⋅ 75 N
N
⋅ = 716, 2 ⋅ ⇒ Mt = 716, 2 ⋅
n
2π
n
n
em que:
N = potência (cv) ( 1 cv = 75 kgf ⋅ m/s )
n = frequência (rpm)
Mt = torque (kgf · m)
Exemplo
Na transmissão mecânica da figura 3.6, determinar:
a) o valor da rotação e a potência na engrenagem (3);
b) o torque de saída do redutor.
Dados:
Nmotor = 20 cv; nmotor = 870 rpm; i1,2 = 2; iredutor = 18;
par de mancais
= 0,99;
redutor
correias
= 0,97;
= 0,91.
161
MECÂNICA 1
Figura 3.6
6
Redutor
(S)
Motor
1
Eixo de saída
4
5
Engrenagens
2
3
Par de mancais
Acoplamento
Solução
a) A rotação da polia (1) é a mesma que a rotação do eixo motor.
Portanto: n1 = nm = 870 rpm
i1,2 =
n1
n
870
⇒ n2 = 1 =
= 435 ⇒ n2 = 435 rpm
n2
i1,2
2
A rotação na polia (2) é a mesma que na engrenagem (3), porque os eixos estão
acoplados e giram juntos.
n2 = n3 = 435 rpm
A potência na engrenagem (3) é obtida após considerar as perdas na transmissão
por correias e por dois pares de mancais.
Portanto, N3 = Nmotor · ηcorreias η2par de mancais = 20 · 0,97 · 0,992 ⇒ N3 = 19 cv.
b) Para calcular o torque de saída, precisamos da potência e frequência de saída.
• Cálculo da potência de saída (Ns):
Ns = Nm · ηcorreias ηpar de mancais · ηredutor= 20 · 0,97 · 0,99 · 0,91 ≅ 17,5 cv
∴ Ns = 17,5 cv
162
CAPÍTULO 3
• Cálculo da rotação de saída (ns):
it =
n
nm
870
⇒ ns = m =
= 24, 2 ⇒ ns = 24, 2 rpm
it
ns
36
em que: it = i1,2 · iredutor = 2 · 18 = 36
• Cálculo do torque de saída:
Mts = 716, 2
Ns
17, 5
= 716, 2 ⋅
= 517, 9 ⇒ Mts ≅ 518 kgf · m
24, 2
ns
3.2 Motor elétrico
Motor elétrico é a máquina que tem a função de transformar energia elétrica em
energia mecânica. Existem diversos tipos de motores elétricos, que podem ser
vistos com mais detalhes no capítulo 1 do livro 3, Eletroeletrônica para Mecânica.
Os motores de indução de corrente alternada, trifásica, assíncrona de gaiola ou
de anéis, que funcionam com velocidade praticamente constante e cuja carga
aplicada ao eixo varia muito pouco, são os mais adequados para quase todos os
tipos de máquinas acionadas.
Na figura 3.7, podemos observar a geometria de um motor elétrico em corte.
Figura 3.7
Motor elétrico em corte.
163
MECÂNICA 1
Quando não existe carga no motor (em vazio), o eixo gira praticamente com a
rotação síncrona (ns), que é dada pela equação:
ns =
120 ⋅ f
p
em que:
f = frequência
p = número de polos
Por exemplo, em um motor de 4 polos, 60 Hz, a rotação síncrona será de:
ns =
120 ⋅ 60
= 1 800 ⇒ ns = 1 800 rpm
4
Observamos que, à medida que aumenta a carga na ponta de eixo, cai a rotação
do motor, e denominamos a diferença entre a rotação síncrona (ns) e a rotação
com carga n de escorregamento (s) do motor, que pode ser expresso em rpm
ou como fração em porcentagem da velocidade síncrona.
s (rpm) = ns – n ou s (%) =
ns − n
⋅100
ns
Por exemplo, o escorregamento em porcentagem de um motor de 8 polos,
com rotação de 870 rpm, é de:
s=
900 − 870
⋅ 100 ⇒ s = 3, 3%
900
3.2.1 Conjugado do motor
O conjugado do motor é o momento torçor ou torque gerado pelo motor elétrico. Em um motor normal, a representação gráfica do conjugado (C) em relação
à rotação (n) é uma curva com características similares às da figura 3.8.
Na curva destacamos quatro pontos importantes, que são definidos por:
Cp – conjugado com rotor bloqueado ou conjugado de partida. Deve ser o maior
possível, para que possa vencer a inércia inicial da carga.
Cmín – conjugado mínimo. É o menor conjugado desenvolvido pelo motor ao acelerar desde a velocidade zero até a velocidade correspondente ao conjugado máximo. Se esse valor é pequeno, a partida pode ser demorada e sobreaquecer o motor
nos casos de alta inércia.
164
CAPÍTULO 3
Cmáx – conjugado máximo. É o maior conjugado desenvolvido pelo motor e deve
ser capaz de vencer eventuais picos de carga, como em britadores, misturadores etc.
Cn – conjugado nominal ou de plena carga. É o conjugado desenvolvido pelo
motor à potência nominal, sob tensão e frequência nominais.
Figura 3.8
Representação gráfica
do conjugado (C). Os
valores dos conjugados
relativos a esses pontos são
especificados pela norma
da ABNT-NBR 7094.
C
Cmáx
Cp
s
Cmín
Cn
nn
ns
n(rpm)
Os motores de indução trifásicos com rotor de gaiola são classificados em categorias, cada uma adequada a um tipo de carga, definidas em norma da ABNTNBR 7094. São elas:
Categoria N – Conjugado e corrente de partida normal e baixo escorregamento. São características da maioria dos motores encontrados no mercado usados
em bombas, máquinas operatrizes, ventiladores etc.
Categoria H – Conjugado de partida alto e baixo escorregamento. Motores
utilizados para cargas que exigem maior conjugado de partida, como britadores,
cargas de alta inércia, transportadores de cargas etc.
Categoria D – Conjugado de partida alto, alto escorregamento (mais de 5%).
Motores usados para acionar prensas excêntricas, elevadores e cargas que necessitam de conjugados de partida muito altos.
As curvas de conjugado em função da rotação para cada categoria são indicadas
na figura 3.9.
165
MECÂNICA 1
Figura 3.9
Curvas de conjugado em
função da rotação para
diferentes categorias.
C
%
Cn
Categoria D
250
Categoria H
200
150
100
Categoria N
n(rpm)
3.2.2 Elementos de transmissão
Os elementos de transmissão, como as polias e os acoplamentos, precisam ser
balanceados dinamicamente antes de instalados e estar perfeitamente alinhados
entre si. Pode ser feita, porém, uma avaliação estática das polias, de forma simples, com auxílio de uma régua de alinhamento, para verificar se a régua encosta
nas duas faces da polia simultaneamente. Esses dispositivos bem como sua respectiva simbologia são indicados na figura 3.10.
Figura 3.10
Representação de
montagem de uma correia.
x
Polia motora
Lado
bambo
Fr
Lado tenso
f
C
Polia movida
Régua para
alinhamento
166
CAPÍTULO 3
Na figura:
f = flecha ou deflexão;
C = distância entre centros das polias.
A tensão na correia precisa ser suficiente apenas para evitar o escorregamento
enquanto funciona. O valor da flecha recomendado é de aproximadamente 1%
da distância entre centros, ou seja, f = 0,010 · C (consultar catálogo de correias).
A figura 3.11 representa esquematicamente as cargas aplicadas pela polia no eixo
do motor.
Figura 3.11
Cargas aplicadas pela
polia no eixo do motor.
Fr
Fa
x
Na figura:
Fr = força radial;
Fa = força axial;
x = distância entre o encosto da polia no eixo até a metade da largura da
polia.
Os valores permitidos das cargas axiais e radiais, bem como o diâmetro da polia motora, devem ser consultados em manuais ou catálogos de fabricantes. Os
limites definidos não devem ser ultrapassados, a fim de evitar graves consequências nos rolamentos ou no eixo do motor.
Casos os valores calculados no projeto não atendam os dados especificados
nos manuais, o fabricante deve ser consultado para dar uma solução mais
apropriada.
Na maioria das vezes, a solução consiste em modificar o tipo de rolamento,
substituir o material do eixo ou, em último caso, colocar um acoplamento na
ponta de eixo, fazendo com que a carga atue em outro eixo, independente do
motor.
167
MECÂNICA 1
As informações
foram obtidas no
manual de motores
elétricos da Weg
Motores Ltda.
3.2.3 Placa de identificação
A placa de identificação contém informações úteis, como o tamanho da carcaça, a categoria, a frequência e, principalmente, a potência e a rotação nominal
do motor. Essas informações são necessárias para o cálculo do momento torçor
(torque), utilizado como base de qualquer dimensionamento.
3.3 Correias e polias
A correia é um elemento de transmissão de potência e movimento entre dois
eixos paralelos ou reversos. Sua construção é simples e apresenta grandes vantagens em relação a outros tipos de transmissão, como:
•
•
•
•
•
•
funcionamento silencioso;
por ser flexível, absorve choques e vibrações;
rendimento de 95% a 98%;
adequada para grandes distâncias entre os centros das polias;
serve como proteção de sobrecarga, pela possibilidade de deslizamento;
não necessita de lubrificação.
Uma das principais razões para optar por esse tipo de transmissão é o fato de ser
mais econômico, tanto na instalação, quanto na manutenção.
As correias apresentam inúmeras vantagens, mas em compensação possuem limitações, tais como:
•
•
•
•
•
vida útil menor;
escorregamento de 1% a 3%;
não são compactas;
as cargas nos mancais são maiores.
não funcionam bem em velocidades muito altas.
O esquema a da figura 3.12 mostra a configuração de montagem para eixos paralelos, e o esquema b, a condição de montagem para eixos reversos.
Figura 3.12
a) Condição de montagem
para eixos paralelos;
b) condição de montagem
para eixos reversos.
a)
b)
3.3.1 Classificação de correias e polias
Em princípio, as correias se classificam segundo a forma de sua seção transversal.
Temos correias chatas (seção retangular) e correias V (seção trapezoidal).
168
CAPÍTULO 3
Em consequência, as polias utilizadas na transmissão por correias são de dois
tipos: polias lisas, que possuem a superfície lisa e abaulada na face de apoio da
correia, e polias ranhuradas, que possuem a superfície com canais trapezoidais.
As correias planas, para eixos paralelos ou reversos, podem ser usadas com relações de transmissão até 5 (em casos extremos, até 10). As correias em V, para
eixos paralelos, são utilizadas com relações de transmissão até 8 (em casos extremos, até 15).
Figura 3.13
a) Polia ranhurada;
b) polia lisa.
a) Polia ranhurada
b) Polia lisa
3.3.2 Esforços na correia
Algumas dimensões importantes em transmissão por polias são indicados na
figura 3.14.
Figura 3.14
Dimensões principais em
transmissão por polias.
Polia motora
d
b
Motor
d
a
T1
T2
d
C
Lado tenso
Lado bambo
D
D –d
2
Polia movida
169
MECÂNICA 1
Nomenclatura:
d = diâmetro da polia motora;
D = diâmetro da polia movida;
C = distância entre centros das polias;
= coeficiente de atrito entre a correia e a polia plana;
= ângulo de abraçamento da polia menor (rad);
Mt = momento torçor;
T0 = força estática de esticamento;
T1 = força de tração no lado tenso;
T2 = força de tração no lado bambo;
F = força tangencial de atrito;
R = força radial resultante.
Para evitar escorregamento, as correias devem necessariamente ser tensionadas
durante a montagem. Assim, em condições estáticas, a correia está sob ação de
uma força de tração (T0). Como o motor está desligado, esse carregamento possui a mesma intensidade em ambos os lados, conforme mostra a figura 3.15.
Figura 3.15
Montagem e
condição estática.
T0
T0
T0
T0
Em funcionamento, o conjugado desenvolvido pelo motor provoca um desequilíbrio entre as forças T0. Dessa forma, temos:
T1 = T0 +
F e
F
T2 = T0 −
2
2
T1 – T2 = F
Sendo F a força tangencial de atrito definida pelo conjugado do motor, temos:
Mt =
2Mt
F⋅d
⇒F=
= T1 − T2 (I)
2
d
Segundo a lei de Euler, tem-se a condição para o não escorregamento das correias sobre a polia:
T1
≤ eµα
T2
170
CAPÍTULO 3
em que: e = 2,72 (base dos logaritmos neperianos).
Na condição limite, temos:
T1
= eµα ⇒ T1 = T2 ⋅ eµα (II)
T2
Substituindo (II) em (I), resulta:
T1 – T2 = F ⇒ T2eμα – T2 = F ⇒ T2 (eμα – 1) = F ⇒ T2 =
F
e
e −1
µα
T1 = F + T2
Com T1 e T2, podemos calcular o valor da força resultante (R) utilizando o teorema dos cossenos:
R2 = T12 + T22 + 2T1T2 cosβ
em que: α + β = 180° ⇒ β = 180° − α
β = 2δ e senδ =
D−d
2⋅C
Exemplo
Na transmissão proposta, determinar a força radial na ponta de eixo do motor
elétrico.
Dados: N= 25 cv; Nm = 1 165 rpm; D = 360 mm; d = 180 mm; C= 450 mm;
μ = 0,5 (correias trapezoidais).
senδ =
D − d 360 − 180 180
=
=
= 0, 2 ⇒ δ ≅ 11, 5o
2C
2 ⋅ 450
900
β = 2δ = 2 ⋅ 11, 5 = 23o
α = 180o − β = 180o − 23o = 157o ⇒ α = 157o ⇒ α =
157o ⋅ π
= 2, 74 rad
180o
T1
= eµα = e0,5⋅2,74 = e1,37 = 3, 94
T2
T1 = 3, 94 ⋅ T2
Mt = 716 200 ⋅
N
25
= 716 200 ⋅
= 15 369 kgf ⋅ mm
m
1165
171
MECÂNICA 1
Mt = F ⋅
2Mt 2 ⋅ 15 369
d
⇒F=
=
171 kgf
2
d
180
Portanto, F = 171 kgf
Sabendo que T2 =
F
171
171
= 0,5 ⋅ 2,74
=
⇒ T2 = 58 kgf
e −1 e
− 1 3, 94 − 1
µα
T1 = 3, 94 ⋅ T2 ≅ 229 ⇒ T1 = 229 kgf
R2 = 2292 + 582 + 2 ⋅ 229 ⋅ 58 ⋅ cos 23° ⇒ R2
2
R
23° ⇒ R2 = 52 441 + 3 364 + 24 439 = 80 244
R ≅ 283 kgf ou R ≅ 2 773 N
3.3.3 Cálculo de transmissão por correia em V
Como a correia é um elemento normalizado, seu dimensionamento é de responsabilidade do fabricante. Sendo assim, é um elemento que deve ser selecionado.
O método de seleção normalmente é indicado nos catálogos e manuais fornecidos pelos fabricantes.
Vamos mostrar um exemplo de como é determinado o número de correias do
tipo V, para a transmissão indicada na figura 3.16.
Exemplo
São necessárias as seguintes informações:
a) tipo do motor;
b) potência do motor;
c) rotação do motor;
d) tipo de máquina ou equipamento acionado;
e) rotação da máquina;
f) distância entre centros;
g) tempo de trabalho diário da máquina.
Dados:
•
•
•
•
•
•
•
•
172
motor AC de alto torque;
Nm = 25 hp;
nm = 1 160 rpm;
carcaça: 180 L;
máquina acionada: britador;
tempo de serviço: 8 h/dia;
perfil da correia em V: correias super HC da Gates;
relação de transmissão: 2.
CAPÍTULO 3
Figura 3.16
Exemplo de seleção
de correia do tipo V.
D
C
d
1. Determinar a potência projetada (HPP).
Solução
HPP = HP · Fs
em que:
HP = 25 hp (potência do motor)
Fs = fator de serviço
Máquina conduzida
(britador)
Máquina condutora
(motor AC, alto torque)
}
da tabela 1
→ Fs = 1,6
Serviço normal: HPP = 25 · 1,6 = 40 hp
2. Determinar o perfil apropriado
Solução
HPP = 40 hp
nm = 1 160 rpm
}
do gráfico 1
→ perfil 5V
173
MECÂNICA 1
3. Determinar os diâmetros das polias.
Solução
N = 25 hp
nm = 1 160 rpm
}
da tabela 2
→ dmín = 6” = 152,4 mm
Adotaremos d = 180 mm.
Como i1,2 = ⇒ D = d ⋅ i = 180 ⋅ 2 = 360,
portanto: D = 360 mm
4. Determinar o comprimento experimental da correia (L).
Solução
L = 2C + 1, 57 (D + d) +
C=
(D − d)2
4C
3d + D 3 ⋅ 180 + 360
=
= 450
2
2
L = 2 ⋅ 450 + 1, 57 (360 + 180)
2
360 − 180)
(
+
4 ⋅ 450
L = 900 + 847,8 + 18 = 1 765,8
L = 1 765,8 mm
5. Escolher a correia adequada.
Solução:
L = 1 765,8 mm perfil 5V
tabela 4
→ Lc = 1 805 (ref. 5 V710)
6. Recalcular a distância entre centros (DC).
Solução
DC =
174
A − h (D − d)
2
CAPÍTULO 3
A = Lc – 1,57 (D + d) = 1 805 – 1,57 (360 + 180)
A = 957,2 mm
D − d 360 − 180
=
= 0,188
A
957, 2
DC =
957, 2 − 0, 09 (360 − 180)
2
tabela 6
→ h ≅ 0,09
470, 5
DC = 470,5 mm
7. Determinar a potência transmitida por correia (hp).
Solução
hp = (hpb + hpa) ⋅ Fc ⋅ Fg (HP)
nm = 1160 rpm
d = 180 mm
i=2
5 V710
}
hpb = 11,5 HP
tabela 11
→ hp = 1,27 HP
a
tabela 7
→ Fc = 0,91
D − d 360 − 180
=
= 0, 38
DC
470, 5
tabela 9
→ Fg = 0,94
hp = (11,5 + 1,27) ⋅ 0,91 ⋅ 0,94 = 10,92 ⇒ hp = 10,92 HP
8. Determinar o número necessário de correias (N).
N=
40
HPP
=
= 3, 66 ⇒ N = 4 correias
10, 92
hp
Concluímos que, para essa transmissão, são necessárias 4 correias de perfil 5 V.
3.3.4 Desenho da polia
Como as dimensões dos canais da polia já estão padronizadas, podemos elaborar o desenho da polia, considerando o diâmetro da ponta de eixo (48k6), onde
vai alojar-se a polia, obtido do catálogo de motores elétricos para carcaça 180 L,
conforme indicado na figura 3.17.
175
MECÂNICA 1
Figura 3.17
17,5±0,4
Polia para 4 correias
de perfil 5 V, calculado
na seção 3.5.
38º
±15’
+3
13 –1
1
+0,2
∅180
78,5±1
51,5 +0,1
15 0
48F7
3.4 Cabos de aço
Cabos de aço são elementos flexíveis, que resistem apenas à tração. Segundo seu
uso, podem ser classificados em cabos de movimento e cabos estacionários.
Os cabos de movimento são caracterizados pela frequente mudança de direção.
Ora são enrolados em tambores, ora curvam-se nas polias endireitando-se em seguida para continuar em movimento linear. Exemplos são os cabos empregados
em pontes rolantes, elevadores e guindastes.
Os cabos estacionários, ou fixos, são usados como tirantes em pontes, linhas de
transmissão e estruturas metálicas.
3.4.1 Construção e tipos de cabos
Os cabos de aço são constituídos de pernas enroladas em hélice ao redor de uma
alma de fibras naturais (AF) ou artificiais (AFA), que, em casos muito solicitados, pode ser de aço (AA). As pernas são formadas por fios ou arames de aço
também enrolados em hélice. O esquema da figura 3.18 mostra a nomenclatura
dos itens que constituem um cabo de aço.
Conforme a direção em que os cabos e os fios das pernas são torcidos podemos ter:
a) torção à direita: as pernas são torcidas da esquerda para a direita;
b) torção à esquerda: as pernas são torcidas da direita para a esquerda;
c) torção regular: os fios de cada perna são torcidos em sentido oposto à torção das
pernas;
d) torção Lang: os fios de cada perna são torcidos no mesmo sentido da torção
das pernas.
176
CAPÍTULO 3
Figura 3.18
Nomenclatura dos
elementos que constituem
um cabo de aço.
Arame
Alma
Arame central
Perna
Cabo de aço
A figura 3.19 mostra o esquema para os diferentes tipos de torção.
Figura 3.19
Diferentes tipos de
torção na região das
pernas do cabo de aço.
Regular
à direita
Regular
à esquerda
Lang
à direita
Lang
à esquerda
177
MECÂNICA 1
As almas de fibras naturais são normalmente de sisal ou rami e as de fibras artificiais são em geral de polipropileno, usado apenas em casos especiais. A figura
3.20 mostra alguns exemplos de almas de cabo de aço.
As almas de fibra natural geralmente dão maior flexibilidade e funcionam como
depósito de lubrificante para o cabo de aço, mas as de almas de aço fornecem
maior resistência aos amassamentos e aumentam a resistência à tração.
Figura 3.20
Exemplos de almas
de cabos de aço.
Cabo com alma de fibra
AF (fibra natural)
ou
AFA (fibra artificial)
Cabo com alma de aço
formada por cabo
independente
AACI
Cabo com alma de aço
formada por uma
perna
AA
3.4.2 Formas construtivas de cabos
As fabricações mais comuns das pernas inteiramente metálicas, compostas por
um conjunto de camadas de fios de igual passo, colocados em várias disposições,
deram origem às construções dos Seale, Warrington e o Filler.
Quanto maior o número de fios para um mesmo diâmetro de cabo, maior sua
flexibilidade. Se os fios externos, porém, são muito finos, desgastam-se e rompem-se mais facilmente.
A figura 3.21 mostra algumas formas construtivas de cabos.
Figura 3.21
Formas construtivas
dos cabos.
6 x 19 + AF
Warrington
1 + 6 + (6 + 6)
6 x 19 + AF
Seale
1+9+9
6 x 36 + AF
6 x 31 + AF
Warrington-Seale Warrington-Seale
1 + 6 + (6 + 6) + 12 1 + 7 + (7 + 7) + 14
178
6 x 25 + AACI
Filler
1 + 6 + 6 + 12
6 x 37 + AF
3 operações
1 + 6/12/18
8 x 19 + AF
Warrington
1 + 6 + (6 + 6)
8 x 19 + AF
Seale
1+9+9
6 x 37 + AF
Warrington
1 + 6 + (6 + 6)/18
2 operações
6 x 41 + AF
Filler
1 + 8 + 8 + 8 + 16
CAPÍTULO 3
3.4.3 Informações úteis
1) O cabo deve ser medido conforme indica a figura 3.22.
Figura 3.22
Método para medição
do cabo de aço.
0
0
1
1
2
2
1
1
0
3
0
3
0
1
0
2
1
2
2
4
3
4
4
2
4
3
4
6
4
2
5
5
6
8
6
5
2
5
8
6
7
6
8
6
9
1/128i n
8
1/128i n
7
9
0
3
0,
3
0,05
7
0
7
Certo
Errado
2) A fixação deve ser feita por meio de grampos do tipo pesado, com a base colocada para o lado do trecho mais comprido do cabo, como mostra a figura 3.23.
Figura 3.23
Método correto para
fixação por meio
de grampos.
3.4.4 Dimensionamento dos cabos de movimento
A dimensão dos cabos de movimento deve ser realizada conforme a norma
DIN15020.
O diâmetro mínimo (dmín) é dado pela equação:
dmÌ n = k ⋅ F
sendo:
k = fator de trabalho, indicado pela tabela 3.2;
F = solicitação do cabo em
mm
kgf
.
179
MECÂNICA 1
Grupo da transmissão
por cabo
Valores mínimos
mm
de k em
kgf
Número de ciclos
por hora
0
até 6
0,28
1
de 6 a 18
0,30
2
de 18 a 30
0,32
3
de 30 a 60
0,35
4
acima de 60
0,38
Tabela 3.2
Valores para o fator
de trabalho (k).
Os valores de k foram calculados para cabos de aço que possuem:
σ r = 160
Tabela 3.3
Diâmetro mínimo do
tambor e da polia.
kgf
e coeficiente de segurança (ks) de 4, 5 ≤ k s ≤ 8, 3 .
mm2
Os diâmetros mínimos do tambor e das polias são obtidos com base na relação
com o diâmetro do cabo, conforme a tabela 3.3.
Valores mínimos
Grupo
D
d
Tambor
Polia
Polia compensadora
0
15
16
14
1
18
20
14
2
20
22
15
3
22
24
16
4
24
26
16
Exemplo
Determinar o diâmetro e as características do cabo de aço para aplicação em
uma ponte rolante, para uma talha de 4 cabos, conforme a figura 3.24, que apresenta as seguintes características:
•
•
•
•
180
capacidade: Q = 20 000 kgf;
número de ciclos por hora = 12;
rendimento da talha = 0,97;
peso da talha = 360 kgf.
CAPÍTULO 3
Figura 3.24
F
F
Polia
compensadora
Q
Q
Solução
A força de tração F na entrada do tambor é dada por:
F=
20 000 + 360
= 5 247 kgf
4 ⋅ 0, 97
Com 12 ciclos por hora, obtemos da tabela 3.2 o valor de k = 0,30. Dessa forma:
dmím = k ⋅ F = 0,30 √5 247 = 21,7 ⋅ dmín = 21,7 mm
Optando pelos cabos para pontes rolantes da empresa Cimaf, concluímos que
eles apresentam as seguintes características:
Diâmetro de 7/8”, tipo Filler AF 6 × 41.
De acordo com a tabela 3.3, o diâmetro mínimo do tambor é dado por:
Dt
= 18 ⇒ Dt = 18 ⋅ d
d
Dt = 18 ⋅ 22 ⋅ 2 = 399,6
∴ Dt = 400 mm
181
MECÂNICA 1
3.5 Correntes
Assim como os demais elementos já vistos, as correntes também transmitem
potência e movimento. Neste estudo vamos considerar apenas correntes de
rolos, no acionamento de um ou mais eixos paralelos, com as engrenagens
contidas em um mesmo plano, a partir de uma única engrenagem ou roda
dentada motora.
A figura 3.25 mostra a representação esquemática e a nomenclatura dos
elementos.
Figura 3.25
Representação esquemática
e nomenclatura
dos elementos.
Corrente dupla
de rolos
Eixos
Engrenagem ou
roda dentada
Corrente
Mt
Engrenagem
Como nessa transmissão não ocorre deslizamento, a relação de transmissão pode
ser de até 7 e possui rendimento de 97% a 98%.
Se houver necessidade de uma relação de transmissão maior que 7, deverá ser estudada uma relação dupla, conforme mostra a figura 3.26.
Figura 3.26
Relação dupla.
Para ter uma transmissão com menos cargas de choque e desgaste, limita-se o
número de dentes das engrenagens: maior que 9 e menor que 120.
182
CAPÍTULO 3
3.5.1 Definições e componentes de uma corrente
Uma corrente de transmissão é composta de elos externos e elos internos, montados alternadamente, conforme se observa na figura 3.27.
Figura 3.27
Elo externo
pt
D
Componentes de
uma corrente.
W
p
d
Elo interno
No trecho da corrente dupla de rolos da figura 3.28, temos:
p = passo da corrente;
D = diâmetro do rolo;
W = largura entre placas;
d = diâmetro do pino;
pt = passo transversal.
Pode-se obter o comprimento da corrente em número de passos (Lp), por meio
da equação:
z + z 2 ( z 2 − z1 )
Lp = 2Cp + 1
+
2
4π 2 ⋅ Cp
2
em que:
Cp =
C;
p
C = distância entre centros (30 a 50 p);
Cp = distância entre centros em passos;
p = passo da corrente;
z1 = número de dentes da engrenagem menor;
z2 = número de dentes da engrenagem maior.
183
MECÂNICA 1
3.5.2 Velocidade tangencial da corrente
Para o sistema representado na figura 3.28, podemos definir:
p
γ 2 p
p
(I)
sen = = ⇒ D =
γ
D
2
D
sen
2
2
em que:
p = passo;
= ângulo de contato.
O valor do ângulo é de:
γ=
360° , em que z é o número de dentes da engrenagem.
z
Substituindo em (I), obtemos:
D=
p
180∫
sen
z
Figura 3.28
Dimensões principais em
transmissão por correntes.
p
A
B
γ
2
γ
D
A velocidade tangencial da corrente é dada por:
v=
184
πDn z ⋅ p ⋅ n
=
1000 1000
CAPÍTULO 3
em que:
m
;
V = velocidade tangencial
min
z = número de dentes do pinhão;
p = passo da corrente (mm);
n = rotação (rpm).
Para que o funcionamento seja suave, é recomendável que o pinhão tenha no
mínimo 17 dentes.
3.5.3 Seleção de correntes
A seleção de correntes é feita com critérios definidos por meio de tabelas, gráficos, catálogos ou manuais fornecidos pelos fabricantes.
As informações básicas para realizar essa seleção são:
a) potência a transmitir;
b) rotação em rpm dos eixos;
c) características do acionamento;
d) distância entre centros.
Tabela 3.4
Cada fabricante define seu critério para o fator de serviço. A empresa Daido, por
exemplo, define conforme mostra a tabela 3.4.
Fator de serviço
para correias do
fabricante Daido.
Motores combustíveis
Tipo de motor
Característica do maquinário
Motor
elétrico
ou
turbina
Combustão
interna
Transmissão
hidráulica
Combustão
interna
Transmissão
mecânica
Constante: transporte com carga constante, agitadores de líquidos,
misturadores, bombas centrífugas e alimentadores.
1,0
1,0
1,2
Meio impulsivo: transporte de carga irregular, máquinas operatrizes
em geral, fornos automáticos, secadores, esmagadores, máquinas
para fabricação de papel e trefiladores e compressores.
1,3
1,2
1,4
Bastante impulsivo: equipamentos para elevação de peso, prensas,
britadores, perfuratrizes, laminadores, equipamentos para obras civis,
minas em geral, rotocultivadores e trituradores para material duro.
1,5
1,4
1,7
Exemplo
Selecionar uma corrente de rolo adequada para acionar um compressor, a partir de
uma engrenagem acoplada a um motor elétrico, conforme mostra a figura 3.29.
185
MECÂNICA 1
Figura 3.29
Nm
650
Dados:
Nm = 7,5 kW (10 cv); nm = 875 rpm; i = 4; C = 650 mm.
Solução
Da tabela:
Motor elétrico Fs = 1,3
Compressor
}
da tabela 3.4
→ Fs = 1,3
Portanto, a potência corrigida é dada por:
Gráfico em que
as potências são
assumidas com
carga constante e
vida aproximada
de 15 mil horas,
com manutenção e
lubrificação correta.
N = 7, 5 ⋅ 1, 3 = 9, 75 kW
Consultando o gráfico de seleção, com a potência de 9,75 kW e a rotação de
875 rpm, obtém-se a corrente simples no 50 com pinhão de 23 dentes.
A corrente no 50 tem o passo p = 15,875 mm.
O número de dentes da engrenagem (2) é de z2 = i · z i ⇒ z2 = 4 · 23 = 92 dentes.
O comprimento da corrente é dado pela fórmula:
z + z 2 ( z 2 − z1 )
Lp = 2Cp + 1
+
2
4π 2 ⋅ Cp
2
Substituindo os dados, obtemos:
650
23 + 92 (92 − 23)
Lp = 2 ⋅
+
+ 2
15, 875
2
4π ⋅ 40, 94
2
Lp = 81,89 + 57,5 + 2,95 = 142,3
∴ Lp = 142 passos
186
CAPÍTULO 3
3.6 Eixos
Eixos são elementos de máquinas em geral utilizados para transmitir torque e
rotações. Há casos, entretanto, em que o eixo é fixo com solicitação apenas à
flexão simples.
Neste material, consideramos somente os eixos de seção circular, de materiais
dúcteis, solicitados à flexão e à flexo-torção com carregamento estático, sem análise das concentrações de tensões e fadiga.
3.6.1 Dimensionamento de eixos sujeitos à flexão
Eixos sujeitos à flexão normalmente são de médio teor de carbono (ABNT
1030 a 1050). Foi visto em resistência dos materiais que, na flexão simples,
desprezando os efeitos da força cortante (Q), a tensão normal ( ) é dada pela
expressão:
σ=
M
πd3
, em que: W =
W
32
No dimensionamento do eixo, devemos admitir que:
σ ≤ σ adm ⇒
⇒
σ
M
≤ σ adm = e ⇒
W
ks
πd3
M
M
σ
≤
⇒
≥
⇒d≥
adm
3
32 σ adm
πd
32
3
32M
π ⋅ σ adm
em que:
M = momento fletor na seção mais solicitada (N ⋅ mm);
W = módulo de resistência à flexão da seção circular (mm3);
d = diâmetro do eixo (mm);
adm = tensão admissível (MPa);
e = tensão de escoamento do material do eixo (MPa);
ks = coeficiente de segurança definido por normas ou determinado pela empresa
com base na aplicação.
Por exemplo, na flexão: 5 ≤ ks ≤ 8.
Exemplo
Determinar o diâmetro do eixo do conjunto da polia, conforme o carregamento
proposto pela figura 3.30.
187
MECÂNICA 1
Figura 3.30
/4
/2
/4
P
2
P
2
P
2
P
2
/4
pθ
M
P
2
/2
/4
P
Dados: ℓ = 100 mm; P = 20 ;
adm
= 60 MPa
Solução
O momento fletor máximo é dado por:
M=
P ℓ P ⋅ ℓ 20 ⋅ 103 ⋅ 100 2 ⋅ 106
⋅ =
=
=
⇒ M = 2, 5 ⋅ 105 N ⋅ mm
2 4
8
8
8
O diâmetro é obtido por:
d≥
3
32 ⋅ M
=
π ⋅ σ adm
3
32 ⋅ 2, 5 ⋅ 105
= 34, 9 ⇒ d ≥ 34, 9 mm
π ⋅ 60
3.6.2 Dimensionamento de eixos sujeitos à flexo-torção
Sabemos que, em uma transmissão direta, o esforço é apenas de torção, mas normalmente a transmissão se faz com polias, engrenagens ou outro elemento de
máquina, em que a torção vem acompanhada da flexão.
Nesses casos de flexo-torção, a tensão normal à flexão, , e a tensão de cisalhamento à torção, , são dadas, respectivamente, por:
188
σ=
M
M
M
=
≅
3
W πd
0,1d3
32
τ=
Mt
M
Mt
= t3 ≅
Wt πd
0, 2 ⋅ d3
16
CAPÍTULO 3
Como essas tensões máximas atuam na seção transversal da barra simultaneamente, usamos dois critérios de resistência para dimensionar o eixo, considerando o carregamento estático, sem concentrações de tensão e fadiga.
1) √σ2 + 4τ2 ≤ σadm
2) 0,35σ + 0,65 √σ2 + 4τ2 ≤ σadm
De (1), obtemos: d ≥
6
De (2), obtemos: d ≥
3
102 (M2 + M2t )
2
σ adm
3, 5M + 6, 5 M2 + M2t
σ adm
em que:
M = momento fletor (N · mm)
Mt = momento torçor (N · mm)
adm = tensão admissível (MPa)
σ adm =
σe
ks
é especificado por norma ou adotado com valor de 8 ≤ ks ≤ 10.
Exemplo
Determinar o diâmetro do eixo AB, sabendo que a força resultante (R) no eixo,
em razão da transmissão por correias na polia movida, é de 2 kN, conforme indicado na figura 3.31.
Figura 3.31
100
B
Ft
60
(4)
(3)
50
A
Fr
(2)
R
(1)
189
MECÂNICA 1
Dados:
N1 = 12,5 cv = 9,2 kW; n = 870 rpm; i1,2 = 2; ηcorreias = 0,97;
ηmancais = 0,99; d3 = 76,5 mm; σadm = 50 MPa.
Solução
Mt3 = 9 550 ⋅
N3
n3
N3 = N1 ηcorreias . ηpar mancais = 9,2 · 0,97 · 0,99 = 8,83 kW
n3 =
n1 870
=
= 435 ⇒ n3 = 435 rpm
i1,2
2
Mt3 = 9 550 ⋅
Mt3 = Ft3 ⋅
tg α =
Fr3
Ft3
8, 83
= 193, 85 N ⋅ m
435
2Mt3 2 ⋅ 193, 85 ⋅ 103
d3
⇒ Ft3 =
=
= 5 068 N
d3
2
76, 5
⇒ Fr3 = Ft3 ⋅ tg 20o = 5 068 ⋅ 0, 364 ≅ 1845 N
O diagrama para o plano horizontal é indicado na figura 3.32.
Figura 3.32
Diagrama para o
plano horizontal.
Plano horizontal
HA
HB
A
1
B
3
2
4
1845 N
50
100
MH
6,92 104
190
60
CAPÍTULO 3
1)
∑ H = 0 ⇒ −H
2)
∑M
i
A
A
− HB + 1845 = 0 ⇒ HA + HB = 1845 N
= 0 ⇒ −HB ⋅ 160 + 1845 ⋅ 60 = 0 ⇒ HB =
1845 ⋅ 60
= 692
160
HB = 692 N
3)
∑M
B
= 0 ⇒ HA ⋅ 160 − 1845 ⋅ 100 = 0 ⇒ HA =
1845 ⋅ 100
= 1153
160
HA = 1 153 M
Momento fletor (MH):
MH1 = 0
MH2 = 0
MH3 = – HA ⋅ 60 = –1 153 ⋅ 60 = 69 180 Nmm ≅ – 6,92 · 104 Nm
MH4 = 0
O diagrama para o plano vertical é indicado na figura 3.33.
Figura 3.33
Planovertical
VA
2000 N
A
1
Diagrama para o
plano vertical.
VB
B
3
2
4
5 068 N
50
105
60
100
MV
2,526 105
191
MECÂNICA 1
1)
∑V
2)
∑M
1
= 0 ⇒ − VA − VB − 2 000 + 5 068 = 0 ⇒ VA + VB = 3 068 N
A
= 0 ⇒ − VB ⋅ 160 + 5 068 ⋅ 60 − 2 000 ⋅ 50 = 0 ⇒
⇒ − VB ⋅ 160 + 304 080 − 100 000 = 0 ⇒
3)
∑M
B
VB = 2 526 N
= 0 ⇒ VA ⋅ 160 + 2 000 ⋅ 210 − 5 068 ⋅ 100 = 0 ⇒ VA = 542 N
Momento fletor (MV):
A seção (3) é a mais solicitada, e temos:
MV1 = 0
MV2 = −2 000 ⋅ 50 = −100 000 = 105 N ⋅ mm
MV3 = −2 526 ⋅ 100 = −2, 526 ⋅ 105 N ⋅ mm
MV4 = 0
A seção 3 (no diagrama) é a mais solicitada. Temos:
MH = 6, 92 ⋅ 104 N ⋅ mm
MV = 2, 526 ⋅ 105 N ⋅ mm
O momento fletor resultante é obtido por:
(
MR2 = MH2 + M2V = 6, 92 ⋅ 104
) + (2, 526 ⋅ 10 )
2
5 2
⇒
MR = 261907 N ⋅ mm
O momento torçor em (3) é dado por:
Mt3 = F ⋅ d3 = 5 068 ⋅ 76, 5 = 193 850 N ⋅ mm
t3
2
2
Substituindo nas fórmulas do diâmetro, obtemos:
2
2
102 (261907) + (193 850)
⇒
1) d ≥
d ≥ 40, 2 mm
2
50
6
2) d ≥ 3 3, 5 ⋅ 261907 + 6, 5
192
(261907)2 + 193 850
50
⇒ d ≥ 39, 3 mm
CAPÍTULO 3
3.7 Engrenagens
As engrenagens são elementos de transmissão de movimento rotativo e torque, entre eixos paralelos, concorrentes ou reversos sem deslizamento, em geral com alto
rendimento. É uma transmissão do tipo rígido e tem a desvantagem de apresentar
maior ruído e custo mais elevado comparado aos demais tipos de transmissão.
A figura 3.34 mostra diversos tipos construtivos de engrenagens e engrenamentos.
a)
b)
c)
d)
e)
f)
Figura 3.34
As engrenagens cilíndricas admitem, para um estágio, uma relação de transmissão i ≤ 8, com rendimento 0, 96 < η < 0, 98.
Na transmissão com parafuso sem-fim, o rendimento varia no intervalo
0, 45 ≤ η ≤ 0, 97, em função da relação de transmissão (i).
3.7.1 Engrenagens cilíndricas de dentes retos (ECDR)
Definições e características geométricas
Podemos observar, na figura 3.35, as dimensões principais para uma engrenagem cilíndrica de dentes retos.
Tipos de engrenagens
e engrenamentos:
a) engrenagem cilíndrica
de dentes retos;
b) engrenagem cilíndrica
de dentes helicoidais;
c) cônica de dentes retos
com eixos concorrentes;
d) cônica de dentes
helicoidais;
e) helicoidal com
eixos reversos;
f) parafuso (ou rosca)
sem-fim.
193
MECÂNICA 1
Figura 3.35
Dimensões principais
para uma engrenagem
cilíndrica de dentes retos.
Flancos
p
e
v
hf
Pé ou raiz do dente
hk
di
dp
de
Na figura:
de = diâmetro externo;
di = diâmetro interno;
dp = diâmetro primitivo;
p = passo;
v = vão do dente;
e = espessura do dente;
hk = altura da cabeça;
hf = altura do pé;
z = número de dentes.
Da circunferência primitiva, podemos obter:
πdp = p ⋅ z ⇒ dp =
A fórmula m =
p
⋅ z ⇒ dp = m ⋅ z
π
p
é definida como o módulo da ECDR.
π
Construtivamente, hk = m. Temos, então:
de = dp + 2 ⋅ hk = m ⋅ z + 2m = m ( z + 2)
Portanto, de = m(z + 2).
194
CAPÍTULO 3
O valor do diâmetro interno é dado por: di = dp – 2hf . Mas, construtivamente,
temos: hf = (1,2 a 1,3) m. Substituindo, obtemos:
di = m ⋅ z − 2 ⋅ 1, 2m = m ( z − 2, 4)
Portanto, di = m(z – 2,4).
A tabela 3.5 mostra valores dos módulos normalizados.
Módulos normalizados
Tabela 3.5
Variação
0,25; 0,50; 0,75; …; 3,75; 4,00
0,25
4,00; 4,50; 5,00; …; 7,00
0,50
7,00; 8,00; 9,00; 10,00; …; 16,00
1,00
Forças no engrenamento
Em uma transmissão que utiliza ECDR cujo perfil do dente é denominado evolvente, o carregamento tem o nome de força normal (Fn), e sua direção forma
com a tangente às circunferências primitivas o ângulo de pressão de 20°. Esse
carregamento pode ser decomposto em duas direções:
• força tangencial (Ft), responsável pela transmissão de torque e movimento;
• força radial (Fr), que atua diretamente no eixo provocando flexão.
A figura 3.36 mostra, para um par engrenado, a força normal e suas componentes.
Figura 3.36
Par de engrenagens
e disposição dos
carregamentos.
n1
dp 1
Ft2
FN
O1
Fr1
α
C
a
Ft1
α
Fr2
FN
O2
dp 2
n2
b
195
MECÂNICA 1
Na figura:
= ângulo de pressão (= 20°);
Ft = força tangencial;
Fr = força radial;
N = potência (cv ou kW);
n = rotações por minuto (rpm);
a = distância entre centros de engrenagens;
b = largura das engrenagens.
Do engrenamento, temos: tg α =
Sabemos que Mt = Ft ⋅
Fr
⇒ Fr = Ft ⋅ tg α .
Ft
2 ⋅ Mt
d
.
⇒ Ft =
2
d
O momento torçor (Mt), no Sistema Internacional (SI), é dado pela equação:
Mt = 9 550
N , em que a potência (N) é dada em kW, a rotação (n) em rpm e o
n
torque (Mt), em N · m.
No sistema técnico ou gravitacional o torque é dado pela expressão:
Mt = 716, 2
N
, em que a potência é dada em cv (cavalo-vapor), a rotação em
n
rpm e o torque em kgf · m.
Exemplo
Para a ECDR da figura 3.37, determinar as dimensões geométricas, bem como
as forças atuantes no engrenamento.
Figura 3.37
Exemplo de forças atuantes
no engrenamento.
n1
(1)
FN
p
1
d
Fr
Ft
Ft
Fr
FN
p
2
d
n2
196
(2)
a
CAPÍTULO 3
Dados:
N1 = 12,5 cv = 9,2 kW;
n1 = 870 rpm;
z1 = 13 dentes;
m1 = 4 mm;
i1,2 = 2,4.
Solução
Engrenagem (1):
dp1 = m1 ⋅ z1 = 4 ⋅ 13 = 52 ⇒ dp1 = 52 mm
de1 = m1 ( z1 + 2) = 4 (13 + 2) = 60 ⇒ de1 = 60 mm
di1 = m1 ( z1 − 2, 4) = 4 (13 − 2, 4) = 42, 4 ⇒ di1 = 42, 4 mm
Engrenagem (2):
Como, i1,2 =
d2 m ⋅ z 2 z 2
=
⇒ z 2 = z1 ⋅ i1,2 = 13 ⋅ 2, 4 ,
=
d1 m ⋅ z1 z1
portanto, z2 = 31 dentes.
Para que haja o engrenamento: m1 = m2 = 4 mm.
Portanto, substituindo na equação, obtemos:
dp2 = m2 ⋅ z 2 = 4 ⋅ 31 = 124 ⇒ dp2 = 124 mm
de2 = m2 ( z 2 + 2) = 4 (31 + 2) = 132 ⇒ de2 = 132 mm
di2 = m2 ( z 2 − 2, 4) = 4 (31 − 2, 4) = 114, 4 ⇒ di2 = 114, 4 mm
A distância entre centros (a), é dada por:
a=
dp1 + dp2
2
=
m ( z1 + z 2 )
2
=
4 (13 + 31)
2
= 88
Portanto, a = 88 mm.
Mt = 9 550
Ft1 =
2Mt1
d1
N
9, 2
= 9 550 ⋅
≅ 101 N ⋅ m
n
870
=
2 ⋅ 101⋅ 103
≅ 3 885 ⇒ Ft1 = 3 885 N
52
197
MECÂNICA 1
Fr1 = Ft1 ⋅ tg20o = 3 885 ⋅ 0, 364 = 1414 ⇒ Fr1 = 1414 N
Portanto, Ft = Ft = 3 885 N e Fr1 = Fr2 = 1414 N .
1
2
Dimensionamento de ECDR
Existem dois critérios para dimensionar engrenagens cilíndricas de dentes retos:
• critério de resistência;
• critério de pressão (pitting).
Critério de resistência
Considera-se apenas a força tangencial (Ft) agindo no dente do pinhão (engrenagem menor), o que provoca flexão e origina na raiz uma tensão dada pela
fórmula:
σ=
Ft ⋅ q
(1)
b⋅m⋅e
em que:
N
;
= tensão normal
mm2
Ft = força tangencial (N);
b = largura do pinhão (mm);
q = fator de forma (valor que depende da natureza geométrica);
m = módulo (mm);
e = fator de carga, sendo:
• e = 0,8 para trabalho contínuo (12 a 24 horas/dia);
• e = 1 para trabalho normal;
• e = 1,5 para pouco uso.
Figura 3.38
Carregamentos
e dimensões.
Fr
F
Ft
h
198
CAPÍTULO 3
Os valores correspondentes ao fator de forma (q) para ângulo de pressão = 20°
sem correção são apresentados na tabela 3.6.
No de
12
dentes (Z)
Fator (q)
4,5
13
14
15
16
17
18
21
24
28
34
40
50
65
80
100
α
4,3
4,1
3,9
3,75
3,6
3,5
3,3
3,2
3,1
3,0
2,9
2,8
2,7
2,6
2,6
2,45
Tabela 3.6
Como σ ≤ σ adm e sabendo que dp = mz e Mt = Ft ⋅
d
, substituindo em (1),
2
Valores do fator de forma
para engrenamento externo.
temos o módulo m dado por:
m=
3
2 ⋅ Mt ⋅ q
, em que é a relação entre b e m.
λ ⋅ z ⋅ e ⋅ σ adm
b
= 10 .
m
Adotaremos = 10 ou
A tensão admissível será dada conforme a tabela 3.7.
Tensão admissível de flexão
MPa (N/mm2)
Material
Bronze fosforoso
60 – 70
Ferro fundido cinzento
35 – 45
Ferro fundido nodular
55 – 70
Aço fundido
70 – 90
Aços-carbono
ABNT
1010 – 1020
70 – 90
1045 – 1050
85 – 120
cromo-níquel
140 – 200
cromo-molibdênio
150 – 200
Tabela 3.7
adm
Aços ligados
Materiais sintéticos (resinas)
30 – 40
Critério de pressão (pitting)
Esse critério verifica a pressão decorrente do contato entre os flancos dos dentes
de duas engrenagens e sua vida em horas de funcionamento.
Tensão admissível*
Fonte: Stipkovic Marco.
Pitting, ou
“pipocamento”, é
o aparecimento de
pequenas fissuras
logo abaixo da
superfície do dente
que se propagam
em geral para a
direção da raiz do
dente, podendo
levá-lo à ruptura.
199
MECÂNICA 1
O critério de pressão deve ser utilizado apenas para verificação do pinhão (engrenagem menor). Se o pinhão suportar uma quantidade razoável de horas de
funcionamento, com a coroa, certamente, ocorrerá o mesmo.
Partindo da equação de Hertz, obtemos a seguinte expressão:
bdp2 = 2f 2
Mtp
p
2
adm
⋅
i±1
(mm3 )
i
em que:
i = relação de transmissão;
dp = diâmetro primitivo do pinhão (mm);
Mtp = momento torçor no eixo do pinhão (N · mm);
b = largura do pinhão;
padm = pressão admissível no contato dos materiais (N/mm2);
+ = engrenamento externo;
– = engrenamento interno;
f = fator de característica elástica do par, obtido pela tabela 3.8 para ângulo de
pressão igual a 20°.
Tabela 3.8
Fator de característica (f) para
ângulo de pressão igual a 20°.
Material
E (GPa)
F
Pinhão de aço
Engrenagem de aço
E1 = 210
E2 = 210
478
Pinhão de aço
Engrenagem de FoFo
E1 = 210
E2 = 105
390
Pinhão de ferro fundido (FoFo)
Engrenagem de aço
E1 = 105
E2 = 105
338
A pressão admissível (padm) depende da dureza e da duração em milhões de
rotações:
padm =
0, 487 ⋅ HB N
mm2
1
W6
em que:
N
;
HB é a dureza Brinell
mm2
W é o fator de números de ciclos (adimensional): W =
200
60 ⋅ n ⋅ h
,
106
CAPÍTULO 3
sendo:
n = rotação do pinhão em rpm;
h = duração ou vida em horas de funcionamento.
Exemplo
Para o conjunto da figura 3.39, determinar o módulo da engrenagem (3) pelo
critério de resistência e efetuar a verificação utilizando o critério de pressão.
Figura 3.39
6
Ns
ns
Exemplo para aplicação
dos critérios de resistência
e de pressão.
4
5
3
2
Motor
elétrico
1
Dados:
Nm = 25 cv = 18,4 kW;
nm = 1 165 rpm;
correias = 0,96;
par de mancais = 0,99;
i1,2 = 2; i3,4 = 2,5;
z3 = 17 dentes;
vida de 10 000 horas;
aço ABNT 8640 com dureza no flanco do dente de HB = 5 200
N
.
mm2
Solução
Inicialmente, determinamos a potência e a rotação na engrenagem (3):
201
MECÂNICA 1
N3 = ηcorreias ⋅ ηpar de mancais ⋅ Nm = 0, 96 ⋅ 0, 99 ⋅ 18, 4 ⇒ N3 = 17, 49 kW
n3 =
nm 1165
=
= 582, 5 ⇒ n3 = 582, 5 rpm
i1,2
2
Mt3 = 9 550
m3 =
3
N3
17, 49
= 9 550 ⋅
⇒ Mt3 = 286, 75 N ⋅ m
582, 5
n3
2 ⋅ Mt3 ⋅ q
λ ⋅ z3 ⋅ e ⋅ σ adm
Admitimos:
z3 = 17 dentes ⇒ q = 3, 6
t = 8 horas ⇒ e = 1
ABNT 8640 ⇒ 200 MPa
λ = 10 (adotado)
Substituindo na equação, teremos:
m3 =
3
2 ⋅ 286 750 ⋅ 3, 6
≅ 3, 9 ⇒ m3 = 4 mm
10 ⋅ 17 ⋅ 1⋅ 200
Verificando pelo critério de pressão:
b ⋅ dp2 = 2f 2 ⋅
Mtp
p
2
adm
⋅
i+1
i
Como sabemos:
dp3 = m3 ⋅ z3 = 4 ⋅ 17 = 68 ⇒ dp3 = 68 mm
λ=
b
= 10 ⇒ b = 10 ⋅ m = 10 ⋅ 4 ⇒ b = 40 mm
m
i3,4 = 2, 5
202
CAPÍTULO 3
Cálculo da pressão admissível:
p
2
adm
2f 2 ⋅ Mt3 i + 1 2 ⋅ 4782 ⋅ 286 750 (2, 5 + 1)
⋅
=
=
i
b ⋅ d32
40 ⋅ 682 ⋅ 2, 5
padm = 996
padm =
N
mm2
0, 487 ⋅ HB
W
1
6
1
⇒ W6 =
0, 487 ⋅ HB
padm
6
6
0, 478 ⋅ HB
0, 478 ⋅ 5 200
W =
=
= 270
996
padm
W=
60 ⋅ n ⋅ h
106 ⋅ W 106 ⋅ 270
⇒
h
=
=
⇒ h = 7 725 horas
60 ⋅ n
60 ⋅ 582, 5
106
Como a proposta é para 10 000 horas, temos de recalcular aumentando, por
exemplo, o módulo de 4 mm para 5 mm:
dp3 = 5 ⋅ 17 = 85 ⇒ dp3 = 85 mm
b = 10 ⋅ 5 ⇒ b = 50 mm
2
=
padm
2 ⋅ 4782 ⋅ 286 ⋅ 750 (2, 5 + 1)
50 ⋅ 85 ⋅ 2, 5
2
= 713
N
mm2
6
0, 478 ⋅ 5 200
W =
= 2 008
713
h=
106 ⋅ 2 008
= 57 453
60 ⋅ 582, 5
h = 57 453 horas, portanto, atende a vida proposta, que é de 10 000 horas.
Esse projeto poderia ser otimizado com a diminuição da largura da engrenagem
ou a utilização de um módulo de 4,5 mm.
3.7.2 Engrenagens cilíndricas de dentes helicoidais (ECDH)
Nas engrenagens cilíndricas de dentes helicoidais, como os dentes são inclinados, o contato entre eles se dá progressivamente, o que torna o engrenamento
helicoidal mais suave e com maior grau de recobrimento.
grau de
recobrimento é
o número que
determina quantos
pares de dentes
se encontram
engrenados
simultaneamente.
203
MECÂNICA 1
Características geométricas de uma ECDH
As características geométricas de uma ECDH são indicadas na figura 3.40 e na
tabela 3.9.
Figura 3.40
Algumas características
geométricas.
β
Pa
Pn
β
Pf
Tabela 3.9
Características geométricas
de ECDH.
Descrição
Símbolo
dp
Número de dentes
z
Módulo frontal
mf
pf
mn
=
π cos β
Módulo normal
mn
pn
π
Passo frontal
pf
mf ⋅ π
Passo normal
pn
mn ⋅ π
Passo axial
pa
pf
tgβ
Diâmetro primitivo
dp
mf ⋅ z
mf
sec β =
Ângulo da hélice
204
Fórmula
dp
mn ⋅ z
Distância entre centros
a
z1 + z 2
⋅ mf
2
Altura da cabeça do dente
hk
mn
CAPÍTULO 3
Descrição
Símbolo
Fórmula
Altura do pé do dente
hf
1, 2mn
Diâmetro externo
dk
dp + 2 ⋅ hk = z ⋅ mf + 2mn
Diâmetro do pé do dente
df
dp − 2hf
Número de dentes virtual
zn
z
cos3 β
Ângulo de pressão normal
n
Ângulo de pressão frontal
f
20°
tgα f =
tgα n
cos β
Esforços no engrenamento de uma ECDH
Forças atuando sobre o dente de uma engrenagem helicoidal são essencialmente
tridimensionais, de modo que sua resultante pode ser decomposta em três direções. Para uma engrenagem com hélice à direita, essas reações são indicadas na
figura 3.41.
Figura 3.41
Reações para
uma engrenagem
helicoidal à direita.
F
αn
Fr
αf
Ft
Fa
β
Dente
β
Cilindro primitivo
As forças são, respectivamente:
Ft =
2Mt
Ft
, Fr = Ft ⋅ tgα f , Fa = Ft ⋅ tgβ e F =
dp
cos α n ⋅ cos β
205
MECÂNICA 1
Dimensionamento de ECDH
O dimensionamento das ECDH é análogo ao das ECDR, corrigindo-se apenas
um fator que considera o ângulo de hélice ( ).
Critério de pressão
b ⋅ dp2 = 2f 2 ⋅
Mtp
p
Tabela 3.10
Valores para o fator de
correção devido à hélice.
ϕp
2
adm
⋅ ϕp
⋅
i+1
i
ϕp = fator de correção de hélice, tabela 3.10
1
1,11
1,22
1,31
1,40
1,47
1,54
1,60
1,66
1,71
0
5º
10º
15º
20º
25º
30º
35º
40º
45º
Critério de resistência
σm
x
=
Ft ⋅ q
b ⋅ mn ⋅ e ⋅ ϕ r
ϕr = fator de correção de hélice
Tabela 3.11
Fator de correção de hélice
para o critério de resistência.
ϕr
mn = módulo normal
Para determinar o valor de ϕr em função de , usa-se a tabela 3.11.
1,00
1,20
1,28
1,33
1,35
1,36
1,36
1,36
1,36
1,36
0
5º
10º
15º
20º
25º
30º
35º
40º
45º
Para determinar o fator de forma (q), devemos calcular o número virtual de
dentes (zn):
zn =
z .
cos3 β
3.7.3 Outros tipos de engrenagens
Existem outros tipos de engrenagens que não são abordadas neste material. Caso
seja necessário, sugerimos como material de apoio o livro de engrenagens de
Stipkovic M.
206
CAPÍTULO 3
3.8 Mancais de rolamento e deslizamento
Mancais são elementos de máquinas que servem de suporte, rotativo ou fixo, para
os eixos das máquinas.
Os mancais podem ser classificados em dois grupos:
a) mancais de rolamento;
b) mancais de deslizamento.
A figura 3.42 mostra um eixo de uma serra circular que recebe cargas da polia plana (C) e da serra circular (D) e as transmite até os mancais (A) e (B), que por sua
vez descarregam as cargas sobre a estrutura ou corpo que está fixo em uma base.
D
A
B
Figura 3.42
Eixo de uma serra circular.
C
3.8.1 Mancais de rolamento
Para o mancal de rolamento a carga é transferida por meio de elementos rolantes (esferas, rolos etc.), com atrito desprezível comparado ao de um mancal de
deslizamento.
A característica comum dos mancais de rolamento é um número determinado
de elementos (esferas ou rolos). As esferas ou rolos são postos entre dois anéis, um
fixo e outro rotativo, conforme exemplo da figura 3.43.
Os mancais de rolamento podem ser divididos conforme a direção das forças
que suportam. Citamos dois tipos:
a) mancais radiais, em que a direção da força é de preferência radial, como nas
engrenagens de dentes paralelos, polias, rodas etc.;
207
MECÂNICA 1
Figura 3.43
Direção do raio
Exemplo de mancal
de rolamento.
Fr
Fr
Fa
Direção paralela
ao eixo
b) mancais axiais, em que a direção da força que predomina é axial, como nas
engrenagens de dentes helicoidais, coroa e eixo sem-fim, turbinas, ventiladores
axiais etc. Para cada tipo de engrenamento temos um tipo de elemento rolante,
conforme mostra a figura 3.44.
Figura 3.44
Tipos de elementos
rolantes.
Esfera
Rolamentos rígidos de esfera
Rolamentos de esferas de contato angular
Rolamentos autocompensadores de esferas
Rolamentos axiais de esferas
Rolos
Rolamentos de rolos cilíndricos
Rolamentos de rolos cônicos
Rolamentos autocompensadores de rolos
Rolamentos axiais de rolos
Agulhas
Rolamentos de agulhas
Inúmeros são os tipos e dimensões de rolamentos e suas aplicações, o que torna
inviável descrições individualizadas. Para a seleção do rolamento adequado, recomendamos a consulta de catálogos de fabricantes que apresentam grande nível
de detalhamento.
Descrição de alguns tipos de rolamentos
A seguir são descritos alguns tipos de rolamentos que possuem maior aplicação.
a) Rolamentos rígidos de uma carreira de esferas.
Os rolamentos rígidos de uma carreira de esferas são de construção simples, não
separáveis e capazes de funcionar em altas rotações.
Esse tipo de rolamento suporta cargas radiais e, em algumas situações, carga axial,
em ambos os sentidos, e requer pouca manutenção. Em razão dessas características, aliadas a preços menores, é o mais utilizado de todos os tipos de rolamentos.
208
CAPÍTULO 3
A figura 3.45 mostra em vista espacial um rolamento rígido de uma carreira de
esferas e a denominação de cada item.
Figura 3.45
Anel externo
Rolamento rígido de uma
carreira de esferas.
Esfera
Anel interno
Anel interno
b) Rolamentos de uma carreira de esferas de contato angular.
São rolamentos normalmente montados em pares, um contra o outro, para suportar cargas em ambos os sentidos. Não são desmontáveis e têm a capacidade
de operar com elevadas cargas axiais e com rotações relativamente altas.
A figura 3.46 mostra em vista espacial um rolamento de uma carreira de esferas
de contato angular e a denominação de cada item.
Figura 3.46
Anel externo
Anel interno
Rolamento de uma
carreira de esferas de
contato angular.
Gaiola
Esfera
c) Rolamentos de uma carreira de rolos cilíndricos.
São rolamentos desmontáveis. Suportam elevada carga radial e praticamente nenhuma carga axial. Podem se deslocar axialmente sobre as pistas, compensando
assim as dilatações longitudinais sofridas pelo eixo. Por esse motivo são utilizados como rolamentos livres.
209
MECÂNICA 1
A figura 3.47 mostra em vista espacial um rolamento de uma carreira de rolos
cilíndricos e a denominação de cada item.
Figura 3.47
Rolamento de uma carreira
de rolos cilíndricos.
Anel externo
Anel interno
Gaiola
Rolos
d) Rolamentos de uma carreira de rolos cônicos.
São rolamentos adequados para suportar cargas radiais e axiais em um único
sentido e são geralmente do tipo separável. Devem ser montados sempre em pares, a fim de suportar cargas nos dois sentidos.
A figura 3.48 mostra em vista espacial um rolamento de uma carreira de rolos
cônicos e a denominação de cada item.
Figura 3.48
Rolamento de uma
carreira de rolos cônicos.
Anel externo
Anel interno
Gaiola
Rolos cônicos
e) Rolamentos autocompensadores de rolos.
São rolamentos que suportam elevadas cargas radiais e cargas axiais e atuam em
ambos os sentidos. São insensíveis a erros de alinhamento do eixo em relação à
caixa e a flexões do eixo.
210
CAPÍTULO 3
A figura 3.49 mostra em vista espacial um rolamento autocompensador de rolos
e a denominação de cada item.
Figura 3.49
Rolamento
autocompensador de rolos.
Anel externo
Anel interno
Gaiola
Rolos
f) Rolamentos axiais de esferas de escora simples.
São rolamentos separáveis e de montagem simples, que suportam cargas puramente axiais em um único sentido. Neste caso, necessitam, no mesmo eixo, de
mais dois rolamentos radiais para suportarem as cargas nessa direção.
A figura 3.50 mostra em vista espacial um rolamento axial de esferas de escora
simples e a denominação de cada item.
Figura 3.50
Rolamento axial de esferas
de escora simples.
Anel externo
Esfera
Anel interno
Gaiola
g) Rolamentos de agulhas.
São rolamentos com rolos cilíndricos finos e compridos e possuem elevada capacidade de carga. São adequados para arranjos de rolamentos em que o espaço
radial disponível é limitado.
A figura 3.51 mostra em vista espacial um rolamento de agulhas e a denominação de cada item.
211
MECÂNICA 1
Figura 3.51
Rolamento de agulhas.
Anel externo
Anel interno
Rolos
Gaiola
Escolha de rolamentos
É difícil estabelecer regras gerais para a escolha do rolamento adequado para
cada caso.
De modo geral, podemos dizer que os rolamentos devem ser:
a) de esfera para pequenas cargas e rotações altas;
b) de rolos para grandes cargas radiais;
c) autocompensadores se ocorrer desalinhamento dos eixos;
d) de rolo cilíndrico se houver deslocamento axial completamente livre;
e) de esferas de contato angular para cargas axiais relativamente intensas e altas
velocidades;
f) de rolos cônicos para grandes combinações de carga axial e radial.
Seleção do tamanho do rolamento utilizando a fórmula da vida
A vida de um rolamento é definida em função do número de rotações ou de horas de funcionamento até o aparecimento de uma avaria, que pode ser decorrente
do primeiro sinal de fadiga em qualquer um de seus elementos.
A vida nominal de um rolamento é o número de rotações alcançado ou ultrapassado por 90% de uma amostra superior a 30 rolamentos idênticos sob determinada capacidade de carga dinâmica até o aparecimento de certas fissuras
provenientes da fadiga.
Para determinado rolamento, o experimento é realizado com diferentes cargas
radiais (F), conforme indicado na figura 3.52.
F1
F2
.
.
.
Fn
212
L1
L2
→
→
milhões de rotações
milhões de rotações
Ln
→
milhões de rotações
CAPÍTULO 3
Da experiência, concluiu-se que há uma relação entre a força (F) e a vida (L) em
milhões de rotações:
F1 p L1 = F2 p L 2 = ... = Fn p Ln = constante
Figura 3.52
Indicação de carregamento.
F
n
Dessa forma, constatou-se que há uma carga (F) que, aplicada ao rolamento,
resulta em uma vida nominal de 1 milhão de rotações:
p
F 1=F=C
O significado físico da constante C, portanto, é a força radial que, aplicada a
rolamentos idênticos, permite uma vida nominal de 1 milhão de rotações, com
90% de probabilidade de não apresentar falha. Essa constante é denominada capacidade dinâmica do rolamento. Temos, então:
C
p
F L =C⇒L =
F
p
em que:
p = expoente devido ao tipo de rolamento, sendo:
• p = 3, para rolamentos de esferas;
• p=
10 , para rolamentos de rolos.
3
Nos casos em que a força possui somente direção radial ou axial, temos:
P=F
213
MECÂNICA 1
Em casos em que há ação simultânea de cargas axiais e radiais, cuja carga resultante é constante em intensidade, direção e sentido, a carga equivalente sobre o
rolamento pode ser obtida com base na equação geral:
P = x ⋅ Fr + y ⋅ Fa
em que:
P = carga dinâmica equivalente (N);
Fr = carga radial (N);
Fa = carga axial (N);
x = fator de carga radial;
y = fator de carga axial.
Caso a rotação do rolamento seja constante, a vida nominal pode ser expressa
em horas (Lh):
106
106 C
Lh =
⋅L =
60 ⋅ n
60 ⋅ n P
p
em que:
n = frequência em rpm;
Lh = vida nominal em horas de trabalho.
Segundo a empresa FAG:
106 ⋅ L
=
Lh =
60 ⋅ n
1
p
⋅ 60
C
3
P ⇒
60 ⋅ n
500 ⋅ 33 ⋅
1
1
p
33 ⋅
33 ⋅
⇒ Lh =
3 C ⇒ p Lh = p
3 ⋅C
n P
500
n
P
500
fL
Portanto, fL = fn ⋅
fn
C
(segundo FAG).
P
em que:
fL = fator dinâmico;
fn = fator de rotação.
Segundo a empresa SKF, a vida nominal em horas (Lh) é dada pela fórmula:
Lh =
214
106 C
⋅
60 ⋅ n P
p
CAPÍTULO 3
em que:
Lh = vida nominal em horas de trabalho;
n = rotações em rpm;
C = capacidade de carga dinâmica (N ou kN);
P = carga equivalente (N);
p = constante em função do rolamento.
Nas aplicações convencionais, a vida nominal ajustada (ampliada) é calculada
pela expressão:
Lha = a1 ⋅ a2 ⋅ a3 ⋅ Lh (horas)
em que:
Lha = vida nominal ampliada em horas;
a1 = fator para a probabilidade de falha;
a2 = fator para matéria-prima;
a3 = fator para condições de serviço (devido à lubrificação e às temperaturas de
funcionamento).
Para a confiabilidade geralmente aceita de 90% e para materiais aos quais corresponde o valor de C e condições de funcionamento normais, temos:
a1 = a2 = a3 = 1,
com o que as duas fórmulas de vida ficam idênticas: Lha = Lh
Exemplo
No rolamento de uma carreira de esferas (6308) da figura 3.53 atua uma carga
radial de 3 000 N e uma carga axial de 1 800 N a uma rotação de 870 rpm.
Determinar a vida nominal em horas.
Figura 3.53
Exemplo para cálculo
da vida nominal de
um rolamento.
Fa
Fa
215
MECÂNICA 1
Dados: Fr = 3 000 N; Fa = 1 800 N; n = 870 rpm.
Rolamento 6308:
C = 41 000 N;
C0 = 24 000 N.
Solução
As fórmulas, tabelas e dados foram obtidos do catálogo da empresa SKF
(©SKF 2001).
A carga dinâmica equivalente para rolamentos individuais é dada por:
P = xFr → quando
Fa
≤e
Fr
P = xFr + yFa → quando
Tabela 3.12
Fa
>e
Fr
Fa
C0
e
x
y
0,025
0,22
0,56
2
0,04
0,24
0,56
1,8
0,07
0,27
0,56
1,6
0,13
0,31
0,56
1,4
0,25
0,37
0,56
1,2
0,50
0,44
0,56
1
Fa 1800
=
= 0, 6
Fr 3 000
Fa
1800
=
= 0, 075 ⇒ e ≅ 0, 27, x = 0, 56 e y = 1, 6
C0 24 000
Portanto, como
Fa
= 0, 6 > e , o valor da força dinâmica equivalente é dado
Fr
por: P = 0,56 · 3 000 + 1,6 · 1 800 = 4 560 ⇒ P = 4 560 N.
216
CAPÍTULO 3
Substituindo na fórmula da vida nominal, temos:
3
p
Lh =
106 C
106 41000
=
= 13 925 , Lh = 13 925 horas
60 n P
60 ⋅ 870 4 560
3.8.2 Mancais de deslizamento
Mancais de deslizamento são elementos em forma de anel, em geral de bronze ou
outro material antifricção, usualmente denominados bucha e utilizados como
apoios para eixos de máquinas. Como apresentam inúmeras características positivas e negativas em relação aos mancais de rolamento, a escolha deverá ser feita
com critério específico, para cada aplicação.
A tabela 3.13 mostra a comparação entre mancais de deslizamento e de rolamento.
Tabela 3.13
Comparação entre
mancais de deslizamento e
mancais de rolamento.
Características
Mancal de deslizamento
Mancal de rolamento
Amortecimento de choques e vibrações
Melhor*
–
radial
Melhor*
–
axial
–
Menor
Atrito por partida
–
Menor*
Manutenção
–
Menor*
Combinação de carga
–
Melhor*
Nível de ruído
Menor
–
Sensibilidade à poeira
Menor
–
Custo para grandes mancais
Menor
–
–
Menor
altas
Melhor
–
baixas
–
Melhor
Dimensão
Consumo de lubrificante
Rotações
* Vantagens mais significativas.
Existem muitas aplicações nas quais as cargas são leves, sem muita responsabilidade e sem necessitar de tolerâncias justas entre o eixo e a bucha, com pouca ou
nenhuma lubrificação. Para aplicações com tais características não há necessidade de usar mancais de rolamento. Por motivos econômicos, nessas condições, os
rolamentos são normalmente substituídos por buchas.
217
MECÂNICA 1
Tipos de mancais de deslizamento
Temos inúmeros tipos de mancais de deslizamento, muitas vezes desenvolvidos
para aplicações específicas. Entretanto, apresentamos apenas os mais representativos, ou seja, os mancais radiais, axiais e longitudinais.
Quanto a sua construção, os mancais radiais podem ser inteiriços ou bipartidos,
conforme indicado na figura 3.54.
Figura 3.54
Mancal inteiriço e
mancal bipartido.
Mancal inteiriço
Mancal bipartido
Bucha
Caixa
Bucha
Nas buchas normalmente são feitas ranhuras para distribuição dos lubrificantes.
As ranhuras sem canais de saída podem ser observadas nos esquemas a, b e c da
figura 3.55. Para esse tipo de ranhura, a alimentação do lubrificante é limitada.
Os tipos de ranhuras para lubrificação por graxa são indicados nos esquemas d,
e, f. As ranhuras com canais passantes são mostradas nos esquemas g, h e i. Esse
tipo de ranhura facilita a transferência de calor.
Figura 3.55
Diversos tipos de
ranhuras nas buchas.
218
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
CAPÍTULO 3
Dimensionamento de mancais radiais
Como normalmente o diâmetro do eixo já está definido, o dimensionamento do
mancal reduz-se à determinação de seu comprimento ou largura (ℓ).
As dimensões principais para mancais são indicadas na figura 3.56.
Figura 3.56
Dimensões principais
de um mancal radial.
D
d
Na figura:
d = diâmetro do eixo;
D = diâmetro interno da bucha;
ℓ = largura do mancal.
Nas condições de funcionamento, o mancal está sendo solicitado por uma carga
F e rotação n, e a distribuição da pressão conforme representado na figura 3.57.
Li
de nha
ce
ntr
o
F
Figura 3.57
Distribuição de pressão
em um mancal.
hmín.
Lubrificante
2
2
–Z
+Z
y
219
MECÂNICA 1
Para condições mais realistas, como indicado na figura 3.58, o cálculo da pressão torna-se complexo. Dessa forma, simplificamos com a seguinte hipótese: a
pressão (p) distribui-se uniformemente na projeção do diâmetro do eixo ao longo da bucha.
Figura 3.58
Distribuição de pressão,
assumindo simplificações.
d
p
Nessa condição, temos:
p=
F
(pressão média do mancal)
S
p=
F
d⋅ ℓ
em que:
F = carga nominal (N);
ℓ = largura do mancal (cm);
p = diâmetro do eixo (cm);
S = d⋅ ℓ.
Para velocidade, v < 0, 3
m
.
s
A verificação é feita quanto à pressão admissível (padm):
p=
F
≤ padm ou ℓ ≥ F
d⋅ ℓ
d ⋅ padm
Para velocidade, v > 0, 3
m
.
s
A verificação será feita pelo produto p · v:
p ⋅ v ≤ (p ⋅ v )m
220
x
p
CAPÍTULO 3
Como o desenvolvimento de mancais envolve materiais, lubrificantes, folga entre eixo e mancal, uso de tabelas, gráficos e dados práticos, a continuidade do
estudo depende de consulta complementar a bibliografias técnicas.
3.9 Chavetas
As chavetas têm a função de unir dois elementos mecânicos a fim de transmitir
momento torçor (torque), por exemplo, a união de eixos com acoplamentos, com
polias e com engrenagens. A figura 3.59 mostra esquematicamente a união de
elementos por meio de chavetas.
Figura 3.59
Acoplamento de eixo
e engrenagem por
meio de chaveta.
Rasgo da chaveta no cubo
Chaveta
Rasgo da chaveta
no eixo
Chaveta
Eixo
3.9.1 Chavetas paralelas retangulares ou quadradas
Entre os inúmeros tipos de chavetas existentes, as mais usadas são as paralelas
retangulares ou quadradas regidas pela norma ABNT P-PB-122.
Essas chavetas são fabricadas em três tipos fundamentais, A, B e C, como mostra
a figura 3.60, e possuem dimensões e tolerâncias definidas por norma.
Figura 3.60
Tipo A
Tipo B
Tipo C
h
h
h
b
b
b
Tipos fundamentais
de chavetas.
As dimensões b e h da seção transversal são padronizadas em função do diâmetro do eixo. O comprimento, ℓ, é determinado por cálculo, ou proporcional ao
elemento em que for aplicado. As dimensões principais das chavetas são indicadas na figura 3.61.
221
MECÂNICA 1
Figura 3.61
Dimensões principais
das chavetas.
h
h
L
bh
b
b
3.9.2 Tipos de ajustes na montagem
A norma ABNT P-PB-122 define também as tolerâncias para rasgos de chaveta
em função do diâmetro do eixo. Esquematicamente, para um acoplamento, as
tolerâncias são indicadas na figura 3.62.
Figura 3.62
h
Chaveta
Cubo
h h11
Tolerâncias para o
acoplamento.
Eixo
t1
b h9
Cubo
b
Eixo
Eixo-chaveta. Ajuste com folga: h9/H9
Ajuste normal: h9/N9
Ajuste com interferência: h9/P9
Chaveta-cubo. Ajuste com folga: h9/D10
Ajuste normal: h9/JS9
Ajuste com interferência: h9/P9
A ISO/R775 recomenda, para ponta de eixo de máquinas elétricas, tolerâncias
para o rasgo do eixo P9, e rasgo do cubo H9.
3.9.3 Cálculo do comprimento L da chaveta
Como os valores de b e h já estão definidos em função do diâmetro do eixo, então, basta dimensionar o comprimento L da chaveta ao cisalhamento e a compressão (esmagamento). A figura 3.63 indica esquematicamente alguns carregamentos e a área sujeita ao cisalhamento.
222
CAPÍTULO 3
Figura 3.63
Indicação dos
carregamentos.
b
E
h
F
Mt
h
b
Lc
Cisalhamento na chaveta
τ=
F
≤ τ adm
Sc
F
F
≤ τ adm ⇒ Lc ≥
b ⋅ τ adm
b ⋅ Lc
em que: Sc = área solicitada ao cisalhamento.
Esmagamento na chaveta
O esmagamento pode ocorrer na chaveta ou no rasgo do cubo.
σ=
F
≤ σ adm
Se
F
2F
≤ σ adm ⇒ L e ≥
h ⋅ Le
h ⋅ σ adm
2
em que: Se = área solicitada ao esmagamento.
O comprimento L deve ser o maior entre os dois critérios: L > Lc e L > Le
Exemplo
Um motor elétrico possui potência nominal de 25 hp, rotação de 1 165 rpm e,
na carcaça, 180 L. Sabendo que o diâmetro da ponta de eixo mede 48 mm, determinar o comprimento mínimo da chaveta.
Dados: σ adm = 100
N
N
; τ adm = 60
2
mm
mm2
223
MECÂNICA 1
Solução
O torque do eixo é dado pela equação:
Mt = 9 550
N
25 hp ≅ 18, 65 kW
n
Mt = 9 550 ⋅
Mt =
18, 65
= 152, 88 N ⋅ m
1165
2Mt 2 ⋅ 15 2880
Fd
⇒F=
=
= 6 370 N
d
2
48
O comprimento da chaveta ao cisalhamento (Lc) é obtido por:
Lc ≥
6 370
F
=
= 7, 6 ⇒ Lc = 7, 6 mm
b ⋅ τ adm 14 ⋅ 60
A largura b = 14 mm e a altura de 9 mm da seção transversal da chaveta foram
obtidas da norma PB-122.
Comprimento da chaveta ao esmagamento (ℓ e):
ℓe ≥
2F
2 ⋅ 6 370
=
= 14, 2 ⇒ ℓ e = 14, 2 mm
9 ⋅ 100
h ⋅ σ adm
Então: ℓ > ℓ e > ℓ c ⇒ ℓ > 14, 2 mm
Observe que o comprimento da chaveta foi pequeno, porque o torque é inversamente proporcional à rotação. Assim, se a rotação fosse dez vezes menor, o
comprimento da chaveta seria dez vezes maior.
3.9.4 Outros tipos de chavetas
Chaveta Woodruff (meia-lua)
Esse tipo de chaveta é muito usado em máquinas e na indústria automobilística, por alojar-se bem no rasgo do eixo. Facilita ainda a montagem em eixos
cônicos, adaptando-se bem à conicidade do fundo do rasgo do cubo, além de
gerar menos concentrações de tensão e oferecer maior facilidade de usinagem.
É utilizada em transmissões de torques pequenos e médios. Sua representação
é indicada na figura 3.64.
A principal desvantagem desse tipo de chaveta é o enfraquecimento do eixo em
razão da necessidade de maior profundidade para seu alojamento.
224
CAPÍTULO 3
Figura 3.64
Chaveta Woodruff
(meia-lua).
Como curiosidade, citamos outros tipos de chavetas.
• Chavetas inclinadas com cabeça e sem cabeça
Esse tipo de chaveta é fácil de montar e desmontar. A figura 3.65 indica as dimensões principais desse elemento.
Figura 3.65
Chaveta inclinada com
cabeça e sem cabeça.
W D
1:96
W
45°
H
H
1:96
E
C
W
W
L
L
• Chavetas Pratt e Whitney, ou chavetas embutidas
O rasgo para o alojamento do eixo possui o mesmo comprimento da chaveta arredondada nos extremos, como mostra a figura 3.66.
Figura 3.66
Chaveta embutida.
H
D
W
L
• Chavetas tangenciais
São formadas por um par de cunhas, colocadas uma em cada rasgo, defasadas
entre si 120°, conforme mostra a figura 3.67. São utilizadas quando há necessidade de absorver impacto nos dois sentidos de rotação.
225
MECÂNICA 1
Figura 3.67
120
°
Chavetas tangenciais.
3.10 Anéis elásticos, pinos e cupilhas
3.10.1 Anéis elásticos
Os anéis elásticos são elementos de máquinas usados em eixos ou furos, com a função de posicionar e impedir movimentos axiais de peças.
Como os anéis são confeccionados em aço mola, normalmente a carga axial aplicada é limitada pela resistência do material do eixo ou do furo no qual é feita a
ranhura para seu alojamento.
Figura 3.68
Anéis elásticos para
eixos e para furos.
O anel elástico é conhecido também como anel de retenção, anel de segurança ou
anel de trava. A figura 3.68 mostra anéis elásticos para eixos e para furos com
seus respectivos canais.
d1
Eixo
d2
m
nmín =
d1 – d2 . 3
2
nmín =
d2 – d1 .
3
2
n
Anel elástico para eixos
d1
d2
m
Anel elástico para furos
n
226
Cubo
CAPÍTULO 3
O anel elástico tem a função de impedir movimentos de translação do eixo. Como
exemplo, o esquema a da figura 3.69 mostra uma engrenagem cuja translação é
impedida por um anel elástico na ponta do eixo, e o esquema b exibe um rolamento fixo ao cubo cuja translação é limitada por três anéis elásticos.
Figura 3.69
Exemplos de utilização
de anéis elásticos.
a)
b)
Exemplo
Determinar as dimensões A, B, C e D do canal do eixo no qual será colocado
um anel elástico para fixação do rolamento, como mostra a figura 3.70.
Figura 3.70
D
0,1
B 2,15 mín.
∅60
C
∅60
A 33 0
Exemplo de um eixo
no qual será colocado
um anel elástico.
0
C 57 0,300
D 4,5
B
A
31
Solução
Fornecido o diâmetro do eixo, de acordo com a tabela referente a eixos na seção
3.13, concluímos que as medidas são:
A = 33+0,1 mm; B = 2,15 mm (mínimo); C = 57–0,300 mm; D = 4,5 mm
227
MECÂNICA 1
3.10.2 Pinos
Pinos são elementos de união entre duas ou mais peças com a finalidade de posicionar ou fixar as peças e, assim, garantir alinhamento e montagem. São usados
tanto nos casos de manutenção como para transmitir forças ou torques.
Os pinos de superfície lisa mais comuns são o pino cônico, mostrado no esquema a
da figura 3.71, o pino cônico com rosca, esquema b, e o pino cilíndrico, esquema c.
Figura 3.71
Pinos de superfície lisa:
a) pino cônico;
b) pino cônico com rosca;
c) pino cilíndrico.
a)
b)
c)
O pino cônico (a) é fabricado com conicidade 1:50 e pode ser colocado várias
vezes em um mesmo furo.
O pino cônico (b), com haste roscada, tem a função de facilitar a retirada, uma
vez que um simples torque na porca o remove.
O pino cilíndrico (c) necessita de um furo com tolerâncias adequadas, porque é
solicitado por esforços cortantes.
Exemplos de conjuntos com tais pinos são indicados e comentados na figura 3.72.
Figura 3.72
Exemplos de montagem
com pinos.
Fixação por pressão
F
Extração com torque na porca
Fixação com torque na porca
Os pinos cilíndricos ou cônicos, mostrados na figura 3.73 com entalhe parcial
ou total na superfície externa, podem ser fixados diretamente em um furo feito
com broca, sem necessidade de acabamento ou precisão no diâmetro.
228
CAPÍTULO 3
Figura 3.73
Exemplos de pinos
com entalhes.
d
Temos também o pino elástico ou pino tubular partido de elevada resistência ao
corte, fabricado de fita de aço para mola enrolada. Mesmo depois de colocado no
furo de menor diâmetro, esse pino permanece com o efeito mola-fixo no furo. A
figura 3.74 mostra esquematicamente sua geometria.
Figura 3.74
Pino elástico.
Dimensionamento dos pinos
Calcula-se o diâmetro do pino para uma união, conforme mostra a figura 3.75,
submetida à carga P, como solicitação ao cisalhamento puro.
Figura 3.75
Exemplo de união.
P
d
P
Dessa forma:
τ=
P
πd4
P
≤
⇒
≥
⇒d≥
τ
adm
4
z ⋅ τ adm
4
πd
z⋅
4
4P
π ⋅ z ⋅ τ adm
em que z = número de pinos.
229
MECÂNICA 1
Na transmissão de torque através do pinhão, fixado ao eixo por pino cilíndrico,
como indicado na figura 3.76, tem-se para o dimensionamento:
Figura 3.76
Eixo fixado por pino.
F
Rebitar
+
Mt
Mt
D
d
F
d
D
Mt = F ⋅
2Mt
D
⇒F=
2
D
M
2 t
F
τ=
≤ τ adm ⇒ D2 ≤ τ adm ⇒
πd2
πd
2
2
4
4
M
πd2
⋅ τ adm ≥ t ⇒ d ≥
4
D
4 ⋅ Mt
π ⋅ D ⋅ τ adm
3.10.3 Cupilhas ou contrapinos
Cupilha ou contrapino é um elemento obtido de um arame maleável de seção
semicircular que, dobrado convenientemente, forma uma cabeça e um corpo
cilíndrico.
Regido pela norma ABNT P-PB-171, é utilizado para limitar o movimento axial de alguns elementos de máquinas. Pode ser designado da seguinte
forma:
Contrapino d × ℓ – Material Norma
em que d é o diâmetro nominal, ℓ é o comprimento e o material que o compõe
é norma técnica.
Exemplo: a denominação para um contrapino de aço com diâmetro nominal
igual a 3,2 mm, comprimento igual a 50 mm, é:
Contrapino 3,2 × 50 – Aço ABNT P-PB-171
230
CAPÍTULO 3
Informações complementares são indicadas na figura 3.77 e na tabela 3.14.
Figura 3.77
2
d
1
d1
d
c
d
1
2 d1
1
2 d2
a
d
b
Dimensões e informações
complementares
para contrapinos.
Exemplo de aplicação
amín. 0,5 amáx.
amín.
Forma opcional
dos pontos
Tabela 3.14
Dimensões (em mm) e
informações complementares
para contrapinos.
Diâmetro nominal
1
1,2
1,6
2
2,5
3,2
4
5
6,3
8
10
13
máximo
0,9
1
1,4
1,8
2,3
2,9
3,7
4,6
5,9
7,5
9,5
12,4
mínimo
0,8
0,9
1,3
1,7
2,1
2,7
3,5
4,4
5,7
7,3
9,3
12,4
máximo
1,6
2,5
2,5
2,5
2,5
3,2
4
4
4
4
6,3
6,3
3
3
3,2
4
5
6,4
8
10
12,6
16
20
26
máximo
1,8
2
2,8
3,6
4,6
5,8
7,4
9,2
11,8
15
19
24,8
mínimo
1,6
1,7
2,4
3,2
4
5,1
6,5
8
10,3
13,1
16,6
21,7
acima de
3,5
4,5
5,5
7
9
11
14
20
27
39
56
80
até
4,5
5,5
7
9
11
14
20
27
39
56
80
110
acima de
3
4
5
6
8
9
12
17
23
29
44
69
até
4
5
6
8
9
12
17
23
29
44
69
120
ℓ1
mínimo
1,5
1,8
2,3
2,8
3,5
4,6
5,5
7
9,2
12
14
15,5
ℓ2
mínimo
4
5
5
6
6
8
8
10
12
14
16
20
d
a
b
c
d1
d2
231
MECÂNICA 1
O diâmetro do furo de alojamento é o mesmo que o diâmetro do pino com tolerância H14 para d1 > 1,2 e H13 para d1 < 1,2.
A figura 3.78 mostra aplicações práticas de cupilhas.
Figura 3.78
a) União de peças
com furos no pino
com duas cupilhas;
b) comprimento L da mola
limitado pela cupilha.
Cupilha
L
Cupilha
Cupilha
a)
b)
3.11 Parafusos, porcas e arruelas
Entre os elementos de união desmontáveis, os parafusos são os mais utilizados,
pelo custo reduzido e fácil aplicação.
Os parafusos podem ser de fixação ou de movimento. Os parafusos de movimento são usados na transmissão de forças. As roscas têm formato trapezoidal,
quadrado ou de dente de serra.
Por serem mais utilizados em máquinas e equipamentos, apenas os parafusos de
fixação são abordados neste livro.
3.11.1 Características dos parafusos de fixação
O parafuso de fixação pode ser dividido em três partes: cabeça, corpo e rosca,
conforme indicado na figura 3.79.
Figura 3.79
Partes de um parafuso.
Cabeça
232
Corpo
Rosca
CAPÍTULO 3
A figura 3.80 mostra esquematicamente diversas formas de cabeça de parafusos.
Figura 3.80
Diversas formas de
cabeça de parafuso.
A rosca normalmente é de perfil triangular, com ângulo de 60° ou 55°, dimensões em milímetros (rosca métrica) ou em polegadas (rosca UNC e rosca
Whitworth). As dimensões principais podem ser observadas na figura 3.81.
Figura 3.81
Diâmetro maior d
Truncada ou arredondada
Diâmetro efetivo d2
Diâmetro menor d1
p
Dimensões principais de
uma rosca triangular.
Passo p
d
Chanfrado
45º
Raiz
Crista
d2
d1
Ângulo da rosca
Define-se o passo de uma rosca (p) como a distância entre dois filetes consecutivos, medida paralelamente ao eixo.
Avanço é a distância que a porca percorre paralelamente ao eixo da rosca, quando gira uma volta. Exemplo: em uma rosca de três entradas, o avanço é equivalente a três vezes o passo.
A rosca pode ser grossa, média e fina. A rosca de uso corrente é a grossa, que não
é recomendada em aplicações em que haja vibrações.
A rosca fina, muito usada na indústria automobilística, é a mais indicada para
suportar vibrações.
A designação da rosca métrica é feita pela letra M (maiúscula), seguida pelos números indicativos do diâmetro nominal (diâmetro externo) e do passo, em milímetros, separados pelo sinal “×”. Exemplo: rosca M10 × 1,25.
Na designação da rosca de passo normal pode ser suprimida a informação referente ao passo. Exemplo: rosca M10.
233
MECÂNICA 1
3.11.2 Classes de resistência de parafusos
Sistema de designação
Os símbolos são formados por dois algarismos separados por um ponto (x.x).
1
da resistência à tração nominal (Rm)
a) O primeiro algarismo indica
100
em MPa.
b) O segundo algarismo indica 10 vezes a relação entre o escoamento nominal
(Re) e a resistência à tração nominal (Rm).
Por exemplo, em um parafuso com classe de resistência 5.6, temos:
Rm
= 5 ⇒ Rm = 500 MPa
100
10 ⋅
Re
6Rm 6 ⋅ 500
= 6 ⇒ Re =
=
= 300 ⇒ Re = 300MPa
Rm
10
10
Esses símbolos com dois algarismos separados pelo ponto, normalmente, vêm
marcados nos parafusos e são utilizados quando é necessária a certificação de
suas propriedades mecânicas. A figura 3.82 mostra esquematicamente sua
localização.
Figura 3.82
Indicação da classe
de resistência.
8.8
12.9
8.8
12.9
3.11.3 Fixação por atrito
As fixações por atrito são dimensionadas em função da força axial de compressão (Fa) entre as peças, originada pelo torque de aperto dado no parafuso.
Este, quando solicitado, desenvolve uma força de atrito (Fat) que mantém as
partes unidas.
Nas tabelas 3.15 e 3.16 constam os valores de torque, força de aperto e diâmetro
dos parafusos cuja classe de resistência é respectivamente 5.6 e 8.8.
234
CAPÍTULO 3
D
(mm)
p
(mm)
As
(mm2)
Frup
(kgf)
Fcismax
(kgf)
Fa
(kgf)
Tamin
(kgf*m)
Tamax
(kgf*m)
4
0,7
8,78
448
161
226
0,14
0,18
5
0,8
14,18
723
252
364
0,29
0,36
6
1
20,12
1 026
363
517
0,50
0,62
8
1,25
36,61
1 866
645
940
1,2
1,5
10
1,5
57,99
2 956
1 008
1 490
2,4
3,0
12
1,75
84,27
4 295
1 452
2 165
4,2
5,2
16
2
156,67
7 985
2 582
4 024
10
13
20
2,5
244,79
12 477
4 034
6 288
20
25
24
3
352,5
17 967
5 809
9 054
35
43
Tabela 3.15
Classe de resistência 5.6.
D
(mm)
p
(mm)
As
(mm2)
Frup
(kgf)
Fcismax
(kgf)
Fa
(kgf)
Tamin
(kgf*m)
Tamax
(kgf*m)
4
0,7
8,78
743
268
483
0,31
0,39
5
0,8
14,18
1 200
419
781
0,62
0,78
6
1
20,12
1 703
603
1 108
1,06
1,33
8
1,25
36,61
3 099
1 072
2 016
2,6
3,2
10
1,5
57,99
4 908
1 675
3 193
5,1
6,4
12
1,75
84,27
7 133
2 412
4 640
8,9
11,1
16
2
156,67
13 261
4 289
8 627
22
28
20
2,5
244,79
20 719
6 701
13 479
43
54
24
3
352,5
29 836
9 649
19 409
75
93
Exemplo
Tabela 3.16
Classe de resistência 8.8.
Determinar o diâmetro do parafuso para suportar a carga de 5 kN, somente por
atrito, para o carregamento indicado na figura 3.83.
Dados: Q = 5 kN; μ = 0,15; parafuso de classe 8.8.
235
MECÂNICA 1
Figura 3.83
Fat
Fa
Q
Q
Solução
Q ≤ Fat ⇒ Q ≤ Fa ⋅ µ ⇒ Fa ≥
Q
5 000
⇒ Fa =
= 33 333 N ≅ 3 401 kgf
µ
0,15
Com Fa = 3 401 kgf, da tabela da classe de resistência 8.8, escolhe-se o parafuso
M12, que tem Fa = 4 640 kgf.
Se considerarmos o coeficiente de segurança, conforme o tipo de solicitação, o
diâmetro do parafuso ficaria muito grande e inviável para a aplicação.
A solução mais adequada seria a utilização de mais parafusos, ou fazer o parafuso trabalhar sujeito a cisalhamento.
Como sabemos, os parafusos devem estar sujeitos apenas a esforços de tração. O
parafuso, porém, pode estar sujeito a cisalhamento se for colocado sem folga no
furo das peças, de modo que a parte roscada não esteja na região sujeita a cisalhamento, como mostra a figura 3.84.
Figura 3.84
Exceção à regra.
Q
Q
Então, τ =
S=
236
Q
Q
≤ τ adm ⇒ S ≥
S
τ adm
πd2
Q
≥
⇒d≥
4
τ adm
4Q
π ⋅ τ adm
CAPÍTULO 3
Retomando os dados do exemplo anterior e adotando
d≥
adm
= 100 N/mm2, temos:
4 ⋅ 5 000
8 ⇒ d ≥ 8 mm
π ⋅ 100
Observe que se obtém uma solução com o diâmetro menor, mesmo levando em
conta o coeficiente de segurança.
Existem outras soluções que podem ser adotadas caso os esforços sejam de cisalhamento. As técnicas consistem em descarregar o esforço cortante em outros
elementos, tais como: pinos, chavetas, buchas, ressaltos etc. Algumas dessas técnicas são esquematicamente mostradas na figura 3.85.
Figura 3.85
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Dispositivos para fixação
de uniões sujeitas a
esforços cortantes.
3.11.4 Furos de passagem de parafusos
Furos de passagem de parafusos, se realizados conforme recomendação normativa, não exigem a utilização de arruelas (lisas ou de pressão), exceto quando os
elementos estão sujeitos a vibrações. Nesse caso, usaremos arruelas de pressão.
A arruela lisa deve ser utilizada se o diâmetro do furo de passagem for superior
ao estipulado por norma, ou em furos do tipo oblongo.
Algumas montagens são mostradas na figura 3.86.
Figura 3.86
Peça com furo oblongo
Arruela de pressão
Exemplos de montagens
com arruelas.
Parafuso
Arruela lisa
Furo oblongo
Peça
Os tipos e dimensões de parafusos, porcas e arruelas de pressão e lisas encontram-se tabelados pela norma ABNT, ou em livros, catálogos de fabricantes,
manuais etc.
237
MECÂNICA 1
Tabela 3.17
Furo de passagem para
parafusos ABNT-PB50
dimensões em mm.
Para parafusos de rosca métrica, a tabela 3.17 fornece os valores do diâmetro do
furo de passagem.
Diâmetro do furo de passagem D
Diâmetro
nominal da
rosca
d
238
Séries
Fina(1)
H 12
Média
H 13
Grossa
H 14
1
1,1
1,2
1,3
1,2
1,3
1,4
1,4
1,5
1,6
Diâmetro do furo de passagem D
Diâmetro
nominal da
rosca
d
Séries
Fina(1)
H 12
Média
H 13
Grossa
H 14
30
31
33
35
1,5
33
34
36
38
1,6
1,8
36
37
39
42
1,7
1,8
2,0
39
40
42
45
1,8
1,9
2,0
2,1
42
43
45
48
2
2,2
2,4
2,6
45
46
48
52
2,2
2,3
2,7
2,8
48
50
52
56
2,5
2,7
2,9
3,1
52
54
56
62
3
3,2
3,4
3,6
56
58
62
66
3,5
3,7
3,9
4,1
60
62
66
70
4
4,3
4,5
4,8
64
66
70
74
5
5,3
5,5
5,8
68
70
74
78
6
6,4
6,6
7
72
74
78
82
7
7,4
7,6
8
76
78
82
86
8
8,4
9
10
80
82
86
91
10
10,5
11
12
90
93
96
101
12
13
14
15
100
104
107
112
14
15
16
17
110
114
117
122
16
17
18
19
120
124
127
132
18
19
20
21
125
129
132
137
CAPÍTULO 3
Diâmetro do furo de passagem D
Diâmetro
nominal da
rosca
d
Séries
Fina(1)
H 12
Média
H 13
Grossa
H 14
20
21
22
24
22
23
24
24
25
27
28
Diâmetro do furo de passagem D
Diâmetro
nominal da
rosca
d
Séries
Fina(1)
H 12
Média
H 13
Grossa
H 14
130
134
137
144
26
140
144
147
155
26
28
150
155
158
165
30
32
(1) Os furos de passagem da série fina devem ter um escareamento na área correspondente à concordância entre a cabeça e o corpo do
parafuso.
As dimensões d e D são indicadas na figura 3.87.
Figura 3.87
Dimensões para
consulta à tabela 3.17.
D
d
3.12 Molas
As molas são usadas para exercer forças, proporcionar deslocamentos ou, ainda,
armazenar energia e absorver choques, no regime elástico.
Temos diversos tipos de molas, mas as de maior aplicação são as helicoidais, feitas de fios de seção circular. As molas helicoidais podem ser solicitadas às cargas
de tração ou compressão.
3.12.1 Dimensões principais da mola cilíndrica helicoidal
A mola helicoidal recebe esse nome porque possui o tipo de enrolamento em forma de hélice, que pode ser à direita ou à esquerda. A figura 3.88 indica as dimensões principais de uma mola helicoidal e sua respectiva nomenclatura.
239
MECÂNICA 1
P = carga axial
D = diâmetro médio da mola
d = diâmetro do fio da mola
= ângulo de hélice
p = passo da mola
R = raio médio da mola
= folga entre fios da mola
Figura 3.88
P
P
Dimensões principais
e nomenclatura para
mola helicoidal.
p
d
α
2πr
µ
D
As molas normalmente são montadas de modo que fiquem ligeiramente comprimidas, ou seja, possuem um carregamento inicial, indicado como Pi na figura
3.89. Em qualquer circunstância para a qual a mola foi projetada deverá existir
uma folga mínima ( 0), de modo que, para uma carga P maior que Pi, os fios de
hélice não se toquem.
Figura 3.89
fi
Mola cilíndrica helicoidal.
Pi
L0
µ0
Li
µ
L
fu
f
P
Livre
Aperto inicial Pi
Carregada
folga máxima µ 0 = 0,1 d
Na figura:
L = comprimento livre ou sem carga;
Li = comprimento inicial da mola após aplicar a carga inicial (Pi);
L0 = comprimento da mola carregada;
fi = flecha inicial da mola;
fu = flecha útil da mola;
f = flecha da mola;
0 = folga mínima entre os fios da mola.
240
CAPÍTULO 3
Costuma-se adotar para molas de flexão o ângulo de hélice ( ), entre 6° e 10°:
6° ≤ α ≤ 10°
Portanto, tgα =
p
p
.
=
2πR π ⋅ D
Essa análise considera as extremidades da mola em esquadro e esmerilhadas.
3.12.2 Tensões em molas cilíndricas helicoidais
A figura 3.90 mostra uma mola cilíndrica helicoidal sujeita a compressão, de
fio de seção circular, carregada por uma força axial P. Vamos imaginar que
cortássemos a mola na seção transversal A e mantivéssemos os esforços que a
parte removida exercia antes do corte. Na seção, teríamos os seguintes esforços
internos solicitantes:
N = P ⋅ senα
Q = P ⋅ cos α
M = P ⋅ senα ⋅ R
Mt = P ⋅ cos α ⋅ R
Figura 3.90
Esquema de tensões em
mola cilíndrica helicoidal.
P
P
α
A
Mt
α
d
M
N
P
Seção A Q
R
P
D
A
Para a maioria dos casos, o ângulo é pequeno se a relação d/D também for
pequena. Os efeitos dos esforços internos solicitantes N, Q e M podem ser desprezados em relação ao momento de torção (Mt), e o dimensionamento é feito
levando em conta apenas o torque.
241
MECÂNICA 1
Portanto, a tensão de cisalhamento é τ =
Wt =
Mt
, em que:
Wt
D
πd3
e Mt = P ⋅
2
16
D
8 ⋅P ⋅D
π ⋅ d3 ⋅ τ
8 ⋅P ⋅D
8P ⋅ D
2
3
,
ou
d
=
ou
P
=
τ
=
τ=
=
⇒
π⋅τ
8 ⋅D
π ⋅ d3
πd3
πd3
16
P⋅
Se considerarmos o efeito da força cortante Q e o efeito devido à curvatura
(D/d), temos de corrigir a tensão com a constante K, chamada fator de correção Wahl.
τ =K⋅
8 ⋅P ⋅D
π ⋅ d3
O valor de K pode ser obtido da equação:
K=
(4C − 1) + 0, 615 , em que C = D .
d
(4C − 4) C
3.12.3 Fórmula da flecha e comprimento da mola
A flecha ou deflexão da mola cilíndrica helicoidal é dada pela expressão:
f=
π ⋅ N ⋅ D2 ⋅ τ
d⋅G
em que:
N = número de espiras ativas ou úteis;
G = módulo de elasticidade transversal.
O comprimento mínimo da mola (L) livre ou sem carga, com duas espiras inativas, é dado pela equação:
L ≥ (N + 2) d + f + 0,1 d ⋅ N
A primeira parcela da fórmula é o comprimento da mola sólida, a segunda é a
flecha e a última refere-se à folga mínima entre os fios, após carregamento, adotada com valor de 10% do diâmetro do fio da mola.
242
CAPÍTULO 3
Exemplo
Determinar o diâmetro e o número de espiras úteis da mola cilíndrica helicoidal
no dispositivo da figura 3.91, sem considerar o fator de correção Wahl.
Dados:
adm
= 400 MPa; P = 150 N; G = 85 GPa.
Figura 3.91
P
50 mm
60 mm
Mola
livre
Ø22 mm
Ø22 mm
Solução
Como o carregamento é sem carga inicial, o valor da flecha é dado por:
f = 60 − 50 = 10 ⇒ f = 10 mm
Em função do diâmetro do furo = 22 mm, adota-se D = 16 mm para o diâmetro
da mola. Pela fórmula do diâmetro do fio da mola, temos:
d=
3
8 ⋅P ⋅D
=
π ⋅ τ adm
3
8 ⋅ 150 ⋅ 16
≅ 2, 48 ⇒ d = 2, 5 mm
π ⋅ 400
A partir da fórmula da flecha, calculamos o número de espiras (N).
f=
πND2 ⋅ τ adm
f ⋅ d⋅G
10 ⋅ 2, 5 ⋅ 85 ⋅ 103
= 6, 6 espiras
⇒
N
=
⇒N=
d⋅G
π ⋅ D2 ⋅ τ adm
π ⋅ 162 ⋅ 400
∴ 7 espiras
Complementando o exemplo, vamos verificar a folga entre as espiras.
243
MECÂNICA 1
Quando carregada, a folga é
0
e o comprimento L0 = 50 mm.
L0 = z (µ + d) + 2d ⇒ L0 − 2d = z (µ + d) ⇒ µ =
Substituindo, temos: µ =
L0 − 2d
−d
z0
50 − 2 ⋅ 2, 5
− 2, 5 = 3, 9
7
Sabendo a folga mínima, µ 0 = 0,1⋅ d = 0,1⋅ 2, 5 ⇒ µ 0 = 0, 25 mm .
Como µ = 3, 9 mm e µ 0 = 0, 25 ⇒ µ > µ 0 , a condição está satisfeita.
244
CAPÍTULO 3
3.13 Anexos – Catálogos de fabricantes
3.13.1 Catálogo de correias da empresa Gates do Brasil
245
MECÂNICA 1
246
CAPÍTULO 3
247
MECÂNICA 1
248
CAPÍTULO 3
249
MECÂNICA 1
250
CAPÍTULO 3
251
MECÂNICA 1
252
CAPÍTULO 3
253
MECÂNICA 1
254
CAPÍTULO 3
255
MECÂNICA 1
256
CAPÍTULO 3
257
MECÂNICA 1
258
CAPÍTULO 3
259
MECÂNICA 1
260
CAPÍTULO 3
261
MECÂNICA 1
3.13.2 Catálogo de anéis elásticos da empresa Dober
262
CAPÍTULO 3
263
MECÂNICA 1
3.13.3 Catálogo completo de correntes de transmissão da
empresa Daido
264
CAPÍTULO 3
265
MECÂNICA 1
266
CAPÍTULO 3
267