https://dx.doi.org/10.1590/2316-82422019v4001vl
Cultura e economia
em Nietzsche∗
Vanessa Lemm∗∗
Resumo: Discuto a possibilidade de superar a dominação por meio
de uma diferenciação entre duas distintas abordagens econômicas
da animalidade do ser humano, as quais correspondem aos modos
contrastantes de politizar a vida na cultura e na civilização. Ao
passo que a economia da civilização representa um tratamento
exploratório da animalidade, cujo objetivo é a autopreservação do
grupo ao preço de normalizar o indivíduo, a economia da cultura
denota uma abordagem não exploratória da animalidade, dirigida
para a pluralização de formas de vida inerentemente singulares.
Uma análise dessas economias revela que a cultura não pode ser
alcançada por meio de uma política de dominação e exploração.
Palavras-chave: cultura, civilização, política, economia,
escravidão, animalidade.
* * Tradução de Davi Maranhão De Conti.
** Professora da University of New South Wales (UNSW Sydney), Sydney, Austrália.
ORCID https://orcid.org/0000-0002-8444-0470
Correio eletrônico:
[email protected]
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |67
Lemm, V.
Uma das narrativas de Nietzsche acerca do tornar-se sobrehumano toma a forma de uma antevisão de uma futura “aristocracia
superior” (Nachlass/FP 10 [17], KSA 12.462; 9 [153], KSA 12.424).
Essa antevisão foi frequentemente interpretada como se Nietzsche
oferecesse um programa político que busca a implementação de uma
“cultura superior” por meio de uma política autoritária de dominação e
exploração1. A opinião de que uma política de dominação e exploração
é um meio para alcançar uma “cultura superior” pressupõe que a
política, como um meio “inferior” de cultura, pode ser identificada
com a cultura. A partir dessa perspectiva, ambas, política e cultura,
perseguem o mesmo objetivo – uma elevação enobrecedora do ser
humano – e ambas buscam alcançá-lo pelo mesmo meio: autoridade,
hierarquia e escravidão; contudo, por identificar, de maneira falsa,
cultura e política no pensamento de Nietzsche, essa interpretação
falha em reconhecer a diferença crucial entre cultura e civilização
que enfatizo ao longo da obra: nomeadamente, que a política é não
apenas um meio “inferior” de cultura, como também não pode tratar
adequadamente as questões culturais (Nachlass/FP:19 [11], KSA
13.546)2.
Considero que em Nietzsche a distinção entre cultura e
civilização é mais fundamental que a distinção entre cultura e
política. A distinção entre cultura e civilização revela que há dois
modos diferentes, antagônicos em que a vida animal humana pode
ser politizada. Por um lado, há a política da civilização, por outro,
a política da cultura3. Enquanto a política da civilização institui
1 Ansell-Pearson, por exemplo, identifica o aristocracismo de Nietzsche a um “programa político de
uma nova legislação aristocrática”, em que “o objetivo é ganhar controle sobre as forças da história
e produzir, por meio de uma conjunção de legislação filosófica e poder político (‘grande política’),
uma nova humanidade” (Ansell-Pearson, 1994, pp. 42-43 e 148).
2 Acerca da prioridade da cultura sobre a política, veja Tracy B. Strong,1975, pp. 94-95 e 201-202).
3 Conway delineia uma útil distinção entre o que ele denomina “macropolítico (ou institucional) e
micropolítico (ou infra-institucional) – encarnações de seu [Nietzsche] perfeccionismo” CONWAY,
1997, p.48. Deixando a questão do perfeccionismo de Nietzsche de lado, pode-se dizer que a política
de civilização, como uso o termo, é sempre, primariamente, uma forma de “macropolítica” interessada
68| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
formas de organização social e política que requerem a disciplinação
e domesticação da animalidade do ser humano, a política da cultura
proporciona uma reconceituação da relação entre vida e política que
emancipa a vida de ser o objeto de dominação política. O objetivo
da política da civilização é produzir uma sociedade normalizada
por meio da prática de dominação e exploração. Em contraste, o
objetivo da política da cultura é cultivar uma sociedade aristocrática
mediante o reavivamento de uma concepção antagonística de ação
pública (inspirada pela cidade-estado grega e a cidade-estado da
Renascença) que promove a responsabilidade sobre si4. Essas duas
maneiras de politizar a vida pressupõem o que se pode denominar
duas diferentes economias de vida. Neste texto, argumento que a
economia da civilização requer uma relação exploratória com a
animalidade, em que o objetivo é extrair máxima utilidade do animal
humano. A economia da civilização visa preservar o grupo mediante
uma acumulação de recursos, a despeito do fato de que o custo é a
escravização do indivíduo. Em contraste, a economia da cultura busca
superar essa forma de escravização. A economia da cultura requer
um gasto da comunidade para o bem da pluralidade individual. Os
gastos da cultura são direcionados para o estabelecimento de formas
de vida social e política que são baseadas em uma relação livre com
o outro, para além de todo cálculo.
Meu argumento baseia-se em uma investigação da controversa
afirmação de Nietzsche de que a realização de uma cultura superior
“necessita da escravidão em algum sentido” (JGB/BM 257, KSA
5.205). De modo a entender a relação entre cultura e escravidão,
na instituição de formas sociais e políticas, enquanto a política da cultura, como uso o termo, é,
primariamente, uma forma de “micropolítica” que opera fora, abaixo e, mais importante, contra o
quadro institucional da civilização. A única desvantagem que percebo no termo “micropolítica” ´é
que ele não captura o entendimento nietzschiano da política da cultura como uma “grande política”.
“Grande política” é micropolítica no sentido de que busca efetuar uma transformação de instituições.
4 Para uma discussão da perspectiva de Nietzsche de uma futura sociedade aristocrática, veja meu
artigo 2008.
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |69
Lemm, V.
começarei por distinguir os vários usos do termo “escravidão” que
são encontrados na obra de Nietzsche. Nietzsche utiliza o termo, em
primeiro lugar, para definir uma condição da vida humana. A vida
humana é escravizadora, na medida em que não é autossuficiente,
mas sujeita às necessidades da vida, como a autopreservação. Em
um segundo sentido, o termo “escravidão” descreve o caráter da vida
humana como ele se revela em sociedade. Como discuti em outro
lugar5, o animal humano não pôde manter a saúde do animal singular
e esquecidiço e foi levado a buscar a companhia de outros de modo a
sobreviver. A vida em sociedade é experienciada como escravizante
precisamente porque é um lembrete da falta de autossuficiência do
animal humano. Uma vez que o projeto da civilização busca resolver
o problema da necessidade, a escravidão constitui um aspecto da
civilização. A cultura, pelo contrário, toma o problema da escravidão
na civilização com o objetivo de superá-lo e mover-se em direção a
formas de sociabilidade que são experienciadas como livres, como
um luxo, ao invés de como uma obrigação ou uma necessidade. Em
seguida, forneço uma análise da noção nietzschiana de economia
de vida por meio de uma leitura de exemplos de seus trabalhos
inaugurais, intermediários e tardios. Esses exemplos sustentam o
argumento de que o domínio da “cultura superior” é incompatível
com uma política de dominação e exploração.
Escravidão em um sentido ou outro
Quando Nietzsche contempla “a necessidade de uma nova
escravidão”, uma “nova espécie de escravidão” (FW/GC 377, KSA
3.564) para promover o cultivo do animal humano, insiste que esse
cultivo diz respeito ao “inteiro bicho “homem”, a o homem” (JGB/
BM 188, KSA 5.108)6. Essa “nova espécie de escravidão”, que
5 Cf. Vanessa Lemm, 2009, cap. 2.
6 Em um texto anterior, Nietzsche já identifica “como uma verdade que soa cruel o fato de que a
70| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
conduz ao devir de uma “cultura superior”, não deve ser confundida
com a escravização de uma maioria para o bem de uma minoria.
Nietzsche não sugere que alguns devam ser sujeitados à dominação e
à exploração para o benefício de outros. Ao invés disso, conclui que o
que é necessário para a elevação do animal humano é que o “inteiro
bicho ‘homem’” seja sujeitado à disciplina moral da civilização. A
disciplina moral da civilização consiste, aqui, em uma “escravização
do indivíduo”, mas essa escravização é benéfica à preservação do
indivíduo, na medida em que ela é um “meio para assegurar a duração
de algo para além do indivíduo” (Nachlass/FP 2 [182], KSA 12.157).
Nietzsche insiste que um tipo superior de ser humano é possível
“somente pela submissão do inferior” (Nachlass/FP 2 [76], KSA
12.96). Sugiro que, nessa citação, “superior” e “inferior” referem-se
a diferentes estágios no desenvolvimento da vida humana. Ao passo
que “inferior” designa o processo de civilização, “superior” designa
o processo de cultivo. A questão é se o “inferior” (civilização) pode
tornar-se um meio para a elevação do “superior” (cultura). Em
outras palavras, a questão da cultura é “como se pode sacrificar o
desenvolvimento [Entwicklung] da espécie humana para ajudar a
trazer à existência uma espécie superior [Art] a ela?” (Nachlass/FP
7 [6], KSA 12.273) ou como a longa história de “desenvolvimento
moral” do ser humano pode tornar-se um meio de cultivar um tipo mais
elevado, mais livre de animal humano? A resposta de Nietzsche a essa
questão é clara: apenas na medida em que invoca um contramovimento
que leva a sua própria superação, a civilização (disciplina moral)
escravidão pertence à essência da cultura” (CV/CP, O estado grego, KSA 1.767). Na pólis grega, a
relação entre escravidão e cultura toma a seguinte forma: “Cultura [Bildung], que é antes de mais nada
uma verdadeira fome por arte, repousa sobre uma terrível premissa: mas isso se revela no nascente
sentimento de vergonha. De modo a haver um amplo, profundo e fértil solo para o desenvolvimento
da arte, a esmagadora maioria deve ser servilmente sujeitada às necessidades a serviço da minoria,
para além da medida necessária para o indivíduo. Às suas expensas, por meio de seu trabalho extra,
aquela classe privilegiada deve ser removida da luta pela sobrevivência, de maneira a produzir e
satisfazer um novo mundo de necessidades” (CV/CP, O estado grego, KSA 1.766). O modelo grego
de escravidão não é, contudo, um modelo para o “novo tipo de escravização” a que Nietzsche se
refere quando explica sua noção de “aristocracia superior” do futuro (FW/GC 377, KSA 3.564).
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |71
Lemm, V.
torna-se significativa para a cultura, isto é, para o cultivo de um tipo
mais elevado de ser humano (Nachlass/FP 5 [98], KSA 12.225).
Antes que a cultura tomasse para si essa questão, a escravidão
já era uma realidade que definia de modo inerente o processo
de civilização e socialização humana. Nietzsche entende esse
processo como de crescente escravização, na medida em que os
laços da sociedade (e do estado) são experienciados por um animal
que é esquecidiço e solitário como restrições a sua liberdade7.
Contanto que vivam em sociedades civilizadas, os seres humanos
são sujeitados a algum tipo de escravidão, porque a escravidão
define a vida em sociedade independentemente de ter tal sociedade
orientação política liberal, socialista ou nacionalista. Nietzsche é
particularmente crítico da hipocrisia de socialistas que prometem
o impossível: uma “sociedade livre” (FW/GC 356, KSA 3.595),
uma sociedade livre da escravidão. Ele também se distancia de
sua fé em “uma comunidade como redentora” (JGB/BM 202, KSA
5.124). Em oposição aos socialistas (e cristãos), Nietzsche afirma
que, em virtude de havermos nos tornado humanos na e por meio da
socialização, não há mais a opção de vivermos em uma sociedade
que não seja escravizadora8. Contudo, se a escravidão é inerente à
vida em sociedade, a questão torna-se: em que sentido a “cultura
superior” necessita da “escravidão em algum sentido”? (JGB/BM
257, KSA 5.205)
Para além da forma de escravidão inerente à civilização e à
socialização, Nietzsche afirma que a escravidão define a vida humana
7 “A tremenda máquina do estado subjuga o indivíduo... tudo que um ser humano faz a serviço do
estado é contrário a sua natureza” (Nachlass/FP 11 [407], KSA 13.187).
8 Nietzsche é pessimista em relação ao problema da escravidão porque ele acredita que a exigência de
providenciar as necessidades da vida não pode ser abolida (GT/NT 18, KSA 1.115). Ele, portanto,
rejeita a ideia de uma emancipação final da necessidade em um futuro estado (comunista). Nesse
sentido, Nietzsche antecipa a crítica arendtiana da concepção de Marx de liberdade como uma
liberdade da necessidade. Como Nietzsche, Arendt questiona a possibilidade de uma emancipação
final da necessidade e, ao invés disso, considera que liberdade genuína deve refletir uma superação
da dominação. Veja Hannah Arendt, The Human Condition, 1958, pp.79-135.
72| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
em um nível existencial ainda mais profundo. A vida humana não
é autossuficiente mas se mantém em necessidade de proteção e
preservação. Essa necessidade é particularmente aguda quando
a vida é ameaçada por “condições desfavoráveis”, ou, para usar
termos econômicos, quando a vontade de potência possui poucas
reservas (JGB/BM 262, KSA 5.214). O problema da necessidade é
o problema da civilização par excellence, uma vez que a civilização
luta continuamente contra a ameaça sempre latente de um estado de
necessidade [Notzustand]:“ali [na comunidade] se acham, coexistindo
e dependendo de si mesmos, homens que querem impor sua espécie,
em geral porque têm de impor-se, ou correr o pavoroso risco de serem
exterminados” (JGB/BM 262, KSA 5.214). O projeto da civilização
enfrenta esse problema por meio de deliberações econômicas: “A
vontade de acumular poder é especial para o fenômeno da vida,
para a alimentação, para a procriação e para a herança” e pertence
inerentemente à “sociedade, ao estado, ao costume e à autoridade”
(Nachlass/FP 214 [121], KSA 13.300). Todavia, uma vez que, para
Nietzsche, “todo ser vivo faz tudo que pode não apenas para preservarse, mas para elevar-se” (Nachlass/FP 214 [121], KSA 13.300), quando
o animal humano é sujeitado à necessidade de autopreservação, ele
experimenta essa necessidade como uma restrição à sua vontade de
potência. De uma perspectiva da vida como vontade de potência, a
necessidade de autopreservação é escravizadora9. Viver buscando
apenas autopreservação ou, em termos econômicos, buscando apenas
sair do vermelho, é a mais degradante forma de vida, porque é a mais
servil, a forma de vida menos livre. Nietzsche lamenta que isso “seja,
contudo, o que todos nós fazemos na maior parte de nossas vidas”
9 Pode-se perguntar se, em um nível ainda mais profundo, a escravidão não é uma expressão do fato
de que a vida “é apenas um meio para algo, é a expressão de formas de crescimento de poder”
(Nachlass/FP 9 [13], KSA 12.344). Se a vida como vontade de potência reflete uma lógica radical
de meios e não fins, isto é, se tudo é um meio (significativo) para um outro meio e assim por diante,
se tudo vive de todo restante, então, a escravidão, em um sentido extra-moral, como vontade de
potência, pode ser interpretada como aquilo que vincula todas as formas de vida reciprocamente.
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |73
Lemm, V.
(SE/Co. Ext. III, 5, KSA 1.375). Apesar de a vida humana ser, “em
grande parte”, definida pela escravidão, pelo trabalho com vistas a
compensar um déficit, a questão permanece se a vida como escravidão
(como dívida) pode ser superada – não indefinidamente, porque isso é
impossível, mas ao menos temporariamente. Os momentos históricos
em que a cultura predomina sugerem que uma tal superação da
escravidão (dívida) é possível. Quando a cultura atinge seu auge e se
impõe, alcança-se a libertação da escravidão, se não indefinidamente,
ao menos por um período limitado (JGB/BM 262, KSA 5.214).
Em Schopenhauer como Educador, Nietzsche afirma que
uma “cultura superior” somente pode ser alcançada com base em
uma transcendência da “luta pela existência”, isto é, da vida como
autopreservação (SE/Co. Ext. III, 5, KSA 1.375). Ao longo do texto,
ele associa a “luta pela existência” com a vida animal, e a consecução
de uma cultura superior com uma vida “verdadeiramente humana”
(SE/Co. Ext. III, 5, KSA 1.375). A conjunção de animalidade e
autopreservação por um lado, e de verdadeira humanidade e cultura
por outro levou muitos comentadores a assumirem que cultura em
Nietzsche deve denotar uma superação da animalidade10. Argumento,
pelo contrário, que essa referência à animalidade é uma referência
específica à animalidade do ser humano civilizado, isto é, a um animal
que é inerentemente definido pela sua luta pela autopreservação.
Essa forma “bárbara” de animalidade, própria da civilização, deve
ser superada de modo a alcançar a cultura, mas essa superação
depende de um retorno da animalidade entendida como uma força
plena de vida, que leva o ser humano para além de suas necessidades
de autopreservação. Sob meu ponto de vista, a animalidade do ser
humano civilizado, em Schopenhauer como Educador, tem importantes
afinidades com o que Nietzsche posteriormente se refere como
10 Para uma interpretação da cultura como uma transcendência da animalidade, veja Walter Kaufmann,
1974, p.152; e James Conant, 2001, pp. 224-25.
74| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
“demasiado humano”. Como discuto em outro texto11, a cultura
deve, portanto, ser entendida como uma superação do demasiado
humano, ao invés de como uma superação do animal.
Ao longo de sua obra, Nietzsche usa imagens de fragmentação
e completude para descrever as formações e transformações da vida
animal humana em geral e do tipo superior (sobre-humano) em
particular12. Para mim, a imagem do ser humano como um fragmento
relaciona-se com a questão de se a escravidão (incompletude), como
algo que pertence inerentemente à vida humana, pode ser superada
(completada). 13Em sua obra inicial, Nietzsche define cultura como
a convicção de que:
em quase todos os lugares encontramos a natureza pressionando em direção
ao ser humano e, repetidamente, falhando em alcançá-lo, obtendo sucesso,
contudo, em produzir os mais maravilhosos começos, traços individuais e
formas: de modo que os seres humanos entre os quais vivemos se assemelhem
a um campo sobre o qual estão espalhados o mais preciosos fragmentos
de escultura, onde tudo nos convida: venha, assista, complete, junte o
que deve estar junto, nós temos um imensurável anseio por tornarmo-nos
inteiros. (SE/ Co. Ext. III, 6, KSA 1.383).
A mesma ideia persiste em um texto de sua obra tardia:
A maior parte dos seres humanos representa pedaços e
fragmentos [Einzelheiten] do ser humano: deve-se juntá-los para
11 Cf. Vanessa Lemm, 2009, cap. 1.
12 Em “Schopenhauer como Educador”, Nietzsche utiliza a metáfora de fragmentos de uma escultura
que devem ser reunidos para que uma escultura completa do ser humano superior apareça (SE/ Co.
Ext. III, 6, KSA 1.383). No Nachlass, ele utiliza a metáfora dos fragmentos de uma peça, de seres
humanos como “prelúdios e ensaios” de um superior “sintético ser humano” (Nachlass/FP 10 [111],
KSA 12. 520), assim como a metáfora dos fragmentos de uma imagem, possivelmente um quebracabeça, que precisa ser terminado, peça por peça, para que se torne visível a completa imagem do
ser humano superior (Nachlass/FP 10 [111], KSA 12. 520). Finalmente, ele fala do ser humano
como incompleto e fragmentário sob o domínio da civilização (sociedade) e como completo e inteiro
sob o domínio da cultura (Nachlass/FP 27 [16], KSA 11.278; 10 [8], KSA 12.464).
13 Para uma ampla discussão da relação entre completude e economia em Nietzsche, veja Wolfgang
Müller-Lauter, 1999, pp. 173-226.
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |75
Lemm, V.
que apareça um ser humano completo. Épocas e pessoas, em
sua totalidade, podem ser fragmentárias [Bruchstückhaftes] nesse
sentido. É, talvez, parte da economia do desenvolvimento humano
[Entwicklung] que o ser humano deva desenvolver-se pedaço por
pedaço. (Nachlass/FP 10 [111], KSA 12. 520)
De acordo com Nietzsche, a fragmentação e a incompletude
que caracterizam a vida humana são completadas, tornam-se inteiras,
mediante o aparecimento de naturezas superiores (sobre-humanas):
ensino que há seres humanos superiores e inferiores e que, sob certas
circunstâncias, um único ser humano pode justificar a existência de todo
um milênio – isto é, um ser humano completo, pleno, valioso e grandioso
em relação a incontáveis, incompletos e fragmentados seres humanos.
(Nachlass/FP 27 [16], KSA 11.278).
Esses animais humanos excepcionais são miraculosos
[Wundertiere] (JGB/BM, 269, KSA 5.222) porque, por meio deles,
pode-se ver o quanto a vida humana se desenvolveu: eles são “marcos
que indicam quão longe a humanidade pode avançar” (Nachlass/FP
10 [111], KSA 12. 520).
Alguns comentadores argumentam que a incompletude em
Nietzsche define a forma de vida da maioria; que a incompletude da
maioria é o preço que deve ser pago pela completude dos poucos,
seletos, nobres seres humanos. Considero que a incompletude
pertence inerentemente à civilização, ao passo que a completude
pertence à cultura. Sob o domínio da civilização, a plena realização
da vida animal humana é impossível. Seu desenvolvimento deve
permanecer fragmentário e incompleto de modo a assegurar não
apenas a preservação da vida animal humana como tal, mas também
a de qualquer forma social ou política dada. A incompletude deve,
nesse sentido, ser entendida como o objetivo de toda sociedade:
uma divisão de trabalho entre os afetados da sociedade: assim, indivíduos
e classes produzem uma alma incompleta, mas, por esse motivo, mais útil,
76| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
de modo que certos afetos permaneceram quase rudimentares em todo tipo
de sociedade. (Nachlass/FP 10 [8], KSA 12.464)
A incompletude, como a escravidão, define a sociedade em geral
e não é uma característica específica de uma sociedade aristocrática.
Pelo contrário, uma sociedade aristocrática, como Nietzsche a imagina,
é o tipo de sociedade que deseja superar a incompletude produzida
pela socialização e pela civilização e promover a grandeza concebida
como “amplitude [Umfänglichkeit] e multiplicidade [Vielfältigkeit]
na totalidade [Ganzheit] por meio da diversidade [Vielen] dos seres
humanos” (JGB/BM 212, KSA 5.145).
No fim, contudo, essa aparência [Erscheinen] de totalidade
e completude é somente uma ilusão [Schein]. Não conhece nem
início nem fim o devir da vida animal humana em geral, e o devir
do tipo mais elevado (sobre-humano) em particular. Não é a reunião
teleológica de fragmentos incompletos direcionados a um ponto de
chegada que é alcançado quando o todo parece estar completo. Ao
contrário, o devir de um tipo mais elevado (sobre-humano), como o
devir da vida animal humana, é uma reunião sem limites de fragmentos
que não podem ser completados, que não podem devir um todo14. Da
perspectiva da vida e do devir, a cultura nunca é um verdadeiro devir
um todo, mas, sempre, somente um “imensurável anseio de tornar-se
inteiro” (SE/ Co. Ext. III, 6, KSA 3.183). A cultura vê, nesse anseio
pela completude, um desejo que não deve ser consumado, pois ele
estimula a autossuperação do humano. Consequentemente, parece
que, no fim, a vida animal humana, quer sob o domínio da civilização,
quer sob domínio da cultura, não pode completar-se ou tornar-se
14 Nietzsche distingue sua noção de elevação, avanço e devir animal humano da moderna ideia de
progresso: “A humanidade não representa um desenvolvimento para melhor ou mais forte ou mais
elevado, do modo como hoje se acredita. O ‘progresso’ é apenas uma ideia moderna, ou seja, uma
ideia errada. O europeu de hoje permanece, em seu valor, muito abaixo do europeu da Renascença;
mais desenvolvimento não significa absolutamente, por alguma necessidade, elevação, aumento,
fortalecimento” (AC/AC 4, KSA 6.171). Acerca da diferença entre devir e evolução, veja também
Alan Schrift, 2001, pp. 47-62.
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |77
Lemm, V.
um todo. Ao invés disso, ela deve permanecer sempre fragmentária
e incompleta. Resta, entretanto, uma significativa diferença entre
a incompletude da cultura e aquela da civilização. Enquanto a
civilização percebe, na incompletude do ser humano, reduções e
rebaixamentos de valor instrumental para a preservação do grupo,
a cultura percebe, na incompletude do ser humano, a produção dos
“mais maravilhosos começos” e dos “mais preciosos fragmentos”,
os quais são sinais de sua pluralidade inerente [Vielartig] (SE/ Co.
Ext. III, 6, KSA 1.383).
A Economia da Vida
Exemplos de diferentes fases de Nietzsche como autor revelam
que ele formula em termos econômicos a questão de como superar
a escravidão. Em Schopenhauer como Educador, essa questão
toma a forma de uma narrativa sobre a economia da natureza15.
Nietzsche afirma que a natureza não é econômica e calculadora, mas
inerentemente pródiga e extravagante: “A Natureza é uma péssima
economista: seu gasto é muito maior que o rendimento que ela busca;
a despeito de toda sua riqueza, ela está fadada a arruinar-se mais
cedo ou mais tarde” (SE/ Co. Ext. III, 7, KSA 1.404). O problema
da natureza é que ela gostaria de ser generosa e caridosa, uma vez
que “a natureza quer sempre ser de utilidade geral” (SE/ Co. Ext.
III, 7, KSA 1.404), mas ela não sabe como empregar suas forças de
maneira econômica, de modo a produzir os melhores e mais adequados
meios e instrumentos para o bem-estar de todos e de tudo16. Em
15 Sob minha perspectiva, Nietzsche não inventa uma grande narrativa da economia da vida/natureza
para justificar, legitimar e santificar uma concepção de “cultura superior” ou a política autoritária de
dominação necessária para alcançá-la. Sua narrativa acerca da cultura como um problema econômico
persiste ao longo de sua obra e continuamente reaparece em diferentes formas. Isso indica que
sua concepção da economia da vida não deve ser pensada como algo exterior a sua concepção de
cultura e política, como algo acrescentado para justificar uma suposta política de dominação, mas,
antes, como uma parte constitutiva de sua concepção de cultura e de política.
16 Veja, em comparação, “Economia da bondade. – A bondade e o amor, as ervas e forças mais salutares
78| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
outras palavras, a natureza gostaria de ser igualitária, mas ela não
o é. Sua incapacidade de dar igualmente para todos é o que causa
sua tristeza e melancolia (SE/ Co. Ext. III, 7, KSA 1.404). Nietzsche
acredita que a única maneira de redimir a natureza e de compensar
sua “fraqueza” é promover a pluralização da singularidade por meio
da cultura.
A cultura almeja o cultivo do gênio e, portanto, privilegia o
indivíduo singular em relação ao grupo. O que caracteriza o gênio da
cultura, como discutido anteriormente, é que se gasta e se desperdiça
a si mesmo. Distribui-se a todos, quando a natureza falha em ser
generosa e caridosa com todos. A meta geral da cultura é: “adquirir
poder [Macht] de modo a ajudar a evolução da physis e ser, por
um momento, o corretor de suas tolices [Thorheiten] e inépcias
[Ungeschicklichkeiten]. Primeiramente, apenas para si, para ter
certeza; mas, por meio de si, para todos, no final”. (SE/Co. Ext. III,
3, KSA 1.350)
Nietzsche detecta essa estratégia na própria natureza, em
particular na vida das plantas e dos animais. A natureza, de acordo
com essa perspectiva, é indiferente ao indivíduo e sempre se esforça
apenas pela saúde, pela vida e pelo futuro do todo. A natureza produz
seus exemplos mais elevados para redimir-se de sua incapacidade de
dar igualmente a todos. A geração de seus exemplos mais elevados
é um meio de superar sua própria limitação econômica e poder
levar toda a natureza para além de si mesma (SE/ Co. Ext. III, 6,
KSA 1.383). Nietzsche sugere adotar essa estratégia e investir no
cultivo da singularidade como um meio de superar a desigualdade
encontrada na natureza.
Em Além do Bem e do Mal, Nietzsche desenvolve esse problema
econômico por meio da distinção entre uma economia da civilização,
no trato com seres humanos, são achados tão precioso que bem desejaríamos que se procedesse
o mais economicamente possível na aplicação desses meios balsâmicos: mas isto é impossível. A
economia da bondade é o sonho dos mais arrojados utopistas” (MA I/ HH I, 48, KSA 2.69).
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |79
Lemm, V.
orientada para a conservação, e uma economia da cultura, orientada
para o gasto irrestrito17. De acordo com essa distinção, a civilização é
um meio usado pela natureza para impor uma economia mais rígida
sobre si. A civilização reduz os gastos, estreita as perspectivas e
limita os horizontes:
considere-se toda moralidade sob esse aspecto: a “natureza” nela é que
ensina a odiar o laisser aller, a liberdade excessiva, e que implanta a
necessidade de horizontes limitados, de tarefas mais imediatas – que
ensina o estreitamento das perspectivas, e em determinado sentido também a
estupidez, como condição de vida e crescimento. (JGB/BM 188, KSA 5.108)
Nietzsche vê, nesse estreitamento autoimposto, um aspecto
valioso da economia da civilização e deseja redimir essa estupidez
como uma forma de inteligência animal necessária ao aprimoramento
da vida18. A estupidez da civilização revela que ela ainda é parte da
vida animal. Ela reflete a necessidade do que Nietzsche denomina,
em Da Utilidade e dos Inconvenientes da História para a Vida, um
horizonte. Apenas no interior de um horizonte, pode o animal humano
concentrar-se em uma meta, uma direção e uma crença. A economia
da civilização, portanto, representa não apenas um momento de
17 A distinção de Nietzsche entre economia da civilização e economia da cultura claramente influenciou
a distinção de Bataille entre as atividades produtivas e improdutivas dos seres humanos. Bataille
argumenta que “a atividade humana não é inteiramente redutível a processos de produção e
conservação, e o consumo deve ser dividido em duas partes distintas. A primeira parte redutível
é representada pelo uso do mínimo necessário para a conservação da vida e a continuação da
atividade produtiva dos indivíduos em uma dada sociedade; é, portanto, uma questão simplesmente
da condição fundamental da atividade produtiva. A segunda parte é representada pelos assim
denominados gastos improdutivos: luxo, luto, guerra, cultos, construção de monumentos suntuosos,
jogos, espetáculos, artes, atividades sexuais perversas (i.e., apartadas de finalidade genital) – tudo
isso representa atividades que, ao menos em circunstâncias primitivas, não têm fim para além de
si mesmas.” Bataille, 1985, p.116-29.
18 O tema da redenção da estupidez é típico do século dezenove (como, por exemplo, em O Idiota
de Dostoievski). Ele reflete uma crítica ao ideal iluminista apresentado no ensaio de Kant O que é
o Esclarecimento?, que favorece o uso público da razão em relação ao uso privado (i.e., estúpido).
Veja “O que é o Esclarecimento?” em Kant, 1996. Acerca da redenção da estupidez em Nietzsche,
ver também FW/GC 3, KSA 3.374.
80| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
criatividade reduzida e de pluralização limitada de formas de vida,
mas também um momento de acumulação de forças vitais, que são
a precondição para os livres gastos da cultura.
Em sua obra póstuma, o devir sobre-humano identifica-se com
o gasto irrestrito da cultura, o qual se apoia na e vive da civilização.
Esta é entendida como “a transformação do ser humano em uma
máquina”:
à medida que o consumo do ser humano e dos seres humanos se torna
cada vez mais econômico, e o “maquinário” de interesses e serviços é
integrado de modo sempre mais intricado, um contramovimento é inevitável:
denomino isso como a secreção de um excedente de luxo do ser humano:
isso visa trazer à luz uma espécie mais forte, um tipo superior que surge e
se preserva sob condições diferentes daquelas do ser humano ordinário.
Meu conceito, minha metáfora para esse tipo é, como se sabe, a palavra
“sobre-humano”. (Nachlass/FP 10 [17], KSA 12462)
Nietzsche aceita a exploração do animal humano pela economia
da civilização somente na condição de que esta seja contraposta pela
cultura, isto é, pelo objetivo de superar a exploração em direção ao
gasto irrestrito. Ele é crítico, contudo, de ideologias políticas de massa,
quer socialistas, liberais ou nacionalistas, porque essas ideologias
parecem instituir uma exploração que não busca nada para além de
si mesmas (Nachlass/FP 10 [17], KSA 12.462)19. Falta às ideologias
políticas de massa o discernimento de que o aprimoramento ulterior
da vida depende inerentemente da cultura: “a sociedade de hoje
apenas representa a cultura, falta-lhe, contudo, o ser humano culto”
(Nachlass/FP 9 [119], KSA 12.404). A falta de uma (política da)
cultura e de otimismo econômico são sintomas da vida decadente
característica das modernas ideologias políticas de massa20. Estas
19 Para um exemplo desse tipo de exploração, veja a noção foucaultiana de poder disciplinar. Michel
Foucault,1995, pp. 170-228.
20 Esses sintomas são particularmente dominantes no ideal liberal: “sabe-se, de fato, o que eles
provocam: eles enfraquecem a vontade de potência, eles são o nivelamento de montanha e vale
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |81
Lemm, V.
exemplificam o risco de que a economia da civilização possa levar
ao crescente gasto de todos, ocasionando uma “perda coletiva”21. A
despeito de suas perspectivas otimistas e de suas promessas de trazer
“a maior felicidade para o maior número”, ideologias igualitárias
de massa tornam o indivíduo humano fraco, doente e inepto para a
liberdade. As técnicas repressivas e restritivas da civilização são
significativas e louváveis apenas na medida em que a economia
da autopreservação não seja compreendida como um fim em si
mesma, mas, sempre, apenas como um meio de alcançar aquilo que
Bataille denomina “a função insubordinada do gasto irrestrito”22. Em
contraste, o que distingue a economia da cultura é que ela permite um
relacionamento livre com o outro, relacionamento que não é dominado
por considerações utilitárias. Como argumentei, no capítulo anterior,
essa liberdade é essencialmente caracterizada como uma liberdade
para perder. Ela reflete a instituição de uma propriedade positiva
da perda, da qual pode surgir nobreza, honra e hierarquia em uma
ordem que dá valor e sentido ao gasto além da utilidade. Nietzsche
refere-se a esta ordem como aquela da “aristocracia superior” do
futuro (Nachlass/FP 10 [17], KSA 12.462).
Talvez surpreendente para alguns leitores, Nietzsche afirma que
o movimento democrático do século XIX fornece um solo adequado
para uma tal futura “aristocracia superior”.23 Ele acredita que o
exaltado a um princípio moral, eles fazem pequeno, covarde e presunçoso – é o animal de rebanho
que sempre triunfa com eles”. Liberalismo: de forma clara, redução ao animal de rebanho [HeerdenVerthierung]...” (GD/CI “Incursões de um extemporâneo” 38, KSA 6.139).
21 Esses aspectos da crítica nietzschiana à economia moderna e às ideologias políticas foram buscados
extensamente na obra de Bataille, The Accursed Share: An Essay on General Economy, trad. Robert
Hurley, vols. 2 e 3 (Nova Iorque: Zone Books, 1991). No original, Georges Bataille, “Le sens de
l’économie générale”. In : La Part Maudit (Paris: Les éditions de Minuit, 1970), pp. 57-80.
22 Bataille, 1985, p.129.
23 Acerca da tentativa de vincular os aspectos aristocrático e democrático do pensamento político de
Nietzsche, veja Wendy Brown, 2000. Hatab distingue “o encontro entre democracia e aristocracia na
esfera cultural” do “encontro entre democracia e aristocracia na política” (Lawrence Hatab, 2002).
Enquanto o primeiro encontro pertence às “questões de criatividade e normalidade, excelência e
mediocridade”, o último pertence “à formação de instituições, às verdadeiras práticas políticas, à
82| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
movimento democrático levará, a despeito de si24, a um tipo mais
elevado e nobre de animal humano: “enquanto a democratização
da Europa resulta, portanto, na criação [Erzeugung] de um tipo
preparado para a escravidão no sentido mais sutil: o homem forte,
caso singular e de exceção, terá de ser mais forte e mais rico do que
possivelmente jamais foi...” (JGB/BM 242, KSA 5.182)
A democratização e a homogeneização da Europa não devem
ser obstruídas, mas apressadas (Nachlass/FP 9 [153], KSA 12.424),
precisamente porque fornecem as melhores condições para a
enobrecedora pluralização de singularidades25. A razão para isto é que
Nietzsche percebe, no movimento democrático, não uma superação,
em última instância, da escravidão, uma vez que um evento político
não pode resolver um “problema existencial” (SE/ Co. Ext. III, 4, KSA
1.363), mas um “novo e sublime desenvolvimento da escravidão”
(Nachlass/FP 2 [13], KSA 12.71).
Nietzsche percebe, além do mais, no movimento democrático,
o “herdeiro do movimento cristão”, quer dizer, a continuação da
civilização, moralização e humanização por meio da dominação e
da exploração (JGB/BM 202, KSA 5.124). Suas percepções acerca
do movimento democrático ecoam seu elogio e sua crítica ao projeto
de civilização. O movimento democrático é um movimento de
civilização e, em algum sentido, revela todas as características de
sua política de crueldade. Ainda que os meios da civilização, na era
justificação da coerção e à dimensão da soberania” (ibid., p. 141). Hatab sustenta que “o aristocracismo
de Nietzsche é defensável relativamente ao primeiro encontro, mas não no que diz respeito ao
segundo encontro” e questiona se se pode talvez “argumentar em favor de uma coexistência entre
uma elite cultural nietzschiana e uma política democrática igualitária” (ibid., p. 141). Sob minha
perspectiva, essa coexistência pode ser concebida como uma relação agonística que, por um lado,
democratiza a cultura e, por outro, cultiva a democracia.
24 “Se se tivesse feito o surgimento dos grandes e raros homens dependente da aprovação de muitos
... – bem, nunca teria havido um único homem significativo!” (Nachlass/FP 11 [283], KSA 13.109).
25 Um tipo nobre de pessoa (uma personalidade solitária) “pode manter-se e desenvolver-se mais
facilmente em uma sociedade democrática, isto é, quando os meios mais brutos de defesa não são
mais necessários e hábitos de ordem, honestidade, justiça e confiança são partes das condições
usuais” (Nachlass/FP 10 [61], KSA 12. 493).
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |83
Lemm, V.
da democratização, hajam se tornado mais refinados e sutis, isso não
significa que as técnicas gerais da civilização se tornaram menos
cruéis nessa era. Pelo contrário, escravidão, na era da democratização,
é um “fragmento de barbárie” em comparação, por exemplo, com
a escravidão na pólis grega (Nachlass/FP 7 [167], KSA 10.296). A
única coisa que foi refinada, afinal, é a sutileza com que as modernas
sociedades de massa (baseadas em uma moralidade utilitária) extraem
máxima utilidade da vida animal humana. Ideologias políticas de
massa e suas políticas econômicas transformam o animal humano
em uma máquina (Nachlass/FP 10 [17], KSA 12.462: uniformidade,
regularidade e eficiência com vistas à máxima exploração (KSA
12:10 [11]; GD/CI, Incursões de um extemporâneo 37, KSA 6.136).
A Nietzsche concerne, primordialmente, se o desenvolvimento de
uma economia do máximo uso nas sociedades de massa pode gerar
tensão suficiente para provocar um contramovimento que ultrapassará
esse “novo tipo de escravidão” e levará ao cultivo de um tipo mais
elevado e livre de animal humano. Sugiro que o aforismo 262, em
Além de Bem e de Mal, fornece uma resposta a esta questão.
O domínio (Herrschaft) da Cultura Superior
No aforismo 262 de Além de Bem e de Mal, Nietzsche afirma
que o domínio da “cultura superior” ocorre quando as circunstâncias
são favoráveis ou, em termos econômicos, quando não há qualquer
deficiência de poder. Quando a economia da civilização acumulou
riqueza suficiente, a necessidade de autopreservação cessa de dominar
as formas de produção e sociabilidade; então, “de um golpe se rompem
o laço e a coação [Zwang] da antiga disciplina [Zucht]: ela não mais
se sente como indispensável, como determinante da existência – se
quisesse continuar, só poderia fazê-lo como uma forma de luxo, de
gosto arcaizante”. (JGB/BM 262, KSA 5.214)
84| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
Quando a “velha disciplina” não é mais necessária para
preservar a vida, quando a vida superou a necessidade, deixa, então,
de ser experienciada como escravidão e dívida, e passa a ser, como
excesso, luxo e transbordamento [Überfluss].
O excedente de poder e riqueza que aprimora o desenvolvimento
da cultura afeta diretamente o modo em que a vida está sendo
politizada. Sob o domínio da civilização, a “educação” é essencialmente
concebida como “o meio de arruinar as exceções para o bem da regra”,
e a “educação superior” é essencialmente concebida como “o meio
de direcionar o gosto contra exceções para o bem do medíocre”
(Nachlass/FP 9 [139], KSA 12. 414). Contudo, sob o domínio da
cultura, a educação torna-se “a estufa do luxuoso cultivo da exceção,
do experimento, do perigo, da nuance” (Nachlass/FP 9 [139], KSA 12.
414). O luxuoso cultivo da cultura não pode mais ser contido pelos
“laços e restrições [Zwang] da velha disciplina [Zucht]” e excedeos como a infinita pluralização e variação da vida animal humana.
Que a “cultura superior” viva para além da moralidade explica por
que Nietzsche acredita que “os grandes momentos da cultura hajam
sempre sido, moralmente falando, tempos de corrupção” (Nachlass/
FP 16 [10], KSA 13.485).
O luxuoso cultivo da cultura, além disso, manifesta-se como
a abertura de um espaço público [Schauplatz] no qual o indivíduo
humano pode atrever-se a tornar-se visível como animal e como
esquecidiço, como singular e como único: “a variação, seja como
desvio (rumo ao mais sutil, mais raro e elevado), seja como degeneração
e monstruosidade, aparece no palco de maneira súbita e magnífica, o
indivíduo se atreve a ser indivíduo e se coloca em evidência”. (JGB/
BM, 262, KSA 5.214)
Esse espaço público da cultura é modelado a partir da ágora, o
mercado da pólis grega, onde as pessoas se encontram para competir
e desafiar um ao outro para somar maior virtude26. A política da
26 A visão arendtiana de ação pública é, nesse sentido, comparável à visão nietzschiana de vida
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |85
Lemm, V.
cultura abre um espaço público que não está ao alcance do Estado.
É por isso que Nietzsche afirma que “todos os grandes períodos da
cultura foram períodos politicamente empobrecidos” (Nachlass/
FP 19[11], KSA 13.546; veja também GD/CI, VIII, 4, KSA 6.106).
A ênfase na inesperada e imprevisível mudança de sorte
associada ao domínio da cultura indica que o domínio da civilização
não deve ser mal-entendido como um consciente e calculado poupar
de reservas em preparação para um futuro melhor. Ao invés disso,
a cultura existe para além do domínio e do controle, a despeito do
fato de que Nietzsche, algumas vezes, parece requerer exatamente
o oposto, qual seja, uma provocação e manipulação consciente de
circunstâncias favoráveis27. O devir da cultura é uma questão de
sorte e “muita coisa incalculável” [Glücksfalle] (JGB/BM 274, KSA
5.227), ainda que se tenha “quinhentas mãos” para “agarrar o acaso”
(JGB/BM 274, KSA 5.227).
Nietzsche descreve o domínio da cultura como um perigoso
e inquietante “ponto de inflexão da história” [Wendepunkt der
Geschichte]:
nessas viradas da história se mostram um ao lado do outro, e com frequência
um no outro emaranhado e entrelaçado, um esplêndido, silvestre, multiforme
incremento e extensão para o alto, uma espécie de ritmo tropical no afã do
crescimento, e um tremendo perecer e se arruinar, mediante egoísmos que
se opõem selvagemente e como que explode, que disputam entre si por
“sol e luz” e já não sabem extrair, da moral até então vigente, nem limite,
nem freio, nem consideração. Foi essa própria moral que fez acumular a
pública sob domínio da cultura. Para uma comparação entre Nietzsche e Arendt que ressalte a
afinidade entre os dois autores, veja o texto de Herman W. Siemens, 2006.
27 Em uma passagem em sua obra póstuma, Nietzsche levanta a “perversa e sedutora” questão de se
é ou não tempo “de fazer o experimento de criação fundamental, artificial e cônscia do tipo oposto
[superior] e de suas virtudes” (Nachlass/FP 2 [13], KSA 12.71]). Tal proposta contrasta rigorosamente
com o entendimento de que o cultivo de um tipo mais elevado de ser humano não é previsível,
controlável e cônscio. Sugiro, portanto, que o “experimento de um fundamental, artificial e cônscio
cultivo” de um tipo sobre-humano mais elevado pode possivelmente ser abarcado por uma futura
civilização e moralidade, mas não por uma futura sociedade e cultura aristocráticas, pois, quando a
cultura alcança predomínio, ela o faz não por cônscio planejamento social, mas por um golpe de sorte.
86| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
força a tal ponto, que fez retesar o arco de modo tão ameaçador – agora
ela é, ela está “ultrapassada” [überlebt]. Atingiu-se o ponto inquietante e
perigoso em que a vida maior, mais múltipla e mais abrangente vive além
da velha moral; o “indivíduo” está aí, obrigado [genöthigt] a uma legislação
própria, a artes e astúcias próprias de autopreservação, auto-elevação,
auto-redenção. (JGB/BM, 262, KSA 5.214)
O que distingue o domínio da cultura é o perigoso e inquietante
emaranhamento do que, de outro modo, parece separado e incompatível,
nomeadamente, a união de crescimento e ruína, vida e morte,
sublimidade e monstruosidade, ganho e perda, excedente e déficit.
Todas essas distinções são temporariamente obscurecidas, e tudo se
torna seu oposto, ou, antes, tudo se metamorfoseia em alguma outra
coisa. No ponto de inflexão da história, a vida não pode preservar-se
e, ainda que pudesse, não poderia fazê-lo por muito tempo. Ela já
está sempre voltada para sua morte. A liberdade alcançada por meio
da cultura manifesta-se como ganho e excedente, mas, porque ela
também se manifesta como gasto irrestrito, todo ganho ou excedente
é sempre desperdiçado ou gasto. É uma liberdade sempre muito
frágil para manter-se. A liberdade da cultura é inquietante e perigosa
porque a liberação que ela alcança é evidente por todos os lados,
todavia, ela é tão fugaz que esvaece antes que possa estabilizar-se
em uma forma de vida.
O ponto alto da cultura, como consequência, só pode ser um
ponto de inflexão e deve ter vida curta por razões econômicas28. O
declínio da cultura é inevitável: ele é tão repentino quanto a ascensão
da cultura, mas não tão imprevisível. Uma vez que o excedente de
poder e de riqueza da cultura é exaurido, é necessária uma “nova
moralidade” e disciplina, uma nova economia de autopreservação.
Quando a “velha moralidade” tiver sido ultrapassada, quando o
indivíduo singular e esquecidiço é “obrigado [genöthigt] a uma
legislação própria, a artes e astúcias próprias de autopreservação,
28 Veja, em comparação, KSA 13:14 [182].
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |87
Lemm, V.
auto-elevação, autorredenção” (JGB/BM 262, KSA 5.214), isto não
pode manter-se por muito tempo, não mais que o período de uma
vida, pois tudo para além do período da vida de um indivíduo requer
civilização, socialização e humanização (Nachlass/FP 2 [182], KSA
12. 157). Uma vez que o indivíduo singular e esquecidiço tenha gasto
seu excedente de vida e poder, confronta-se com um novo estado
de necessidade e precisa de uma nova economia calculadora e de
autopreservação.
Em última instância, entretanto, o domínio da cultura
certamente terá curta duração, porque a cultura, como a civilização,
não é autossuficiente. Cultura e civilização dependem uma da outra
para sua preservação e elevação. A cultura não se mantém por conta
própria, apoia-se na “velha moralidade”: “foi essa própria moral
que fez acumular a força a tal ponto, que fez retesar o arco de modo
tão ameaçador” (JGB/BM 262, KSA 5.214). Uma vez que os laços
da “velha moralidade” sejam quebrados, uma vez que a cultura se
mantenha por si própria, os gastos da liberdade e da criatividade do
animal logo exaurirão. Necessita-se, então, de um novo começo, um
novo armazenamento de força e poder. Todavia, esse novo domínio
da civilização porvir extrai sua vitalidade do domínio da cultura que
o precedeu29. Em outras palavras, assim como a cultura depende
de – e alicerça-se em – uma disciplinação e exploração anterior do
animal por meio da civilização, a civilização depende de – e alicerça29 A interdependência de cultura e civilização, isto é, de liberdade e moralidade [Zwang], repousa
sobre sua relação antagonística. Conforme Siemens e Gerhardt, o que é crucial nesse antagonismo
é que ele produz leis éticas (Herman W. Siemens, 2002; Volker Gerhardt, 1983). Para ambos os
autores, o papel do genius é fornecer leis éticas à comunidade, o que é possível sob a condição de
que a relação antagonística entre o genius e a comunidade seja medida e esteja em equilíbrio. Sobre
a importância de medida, veja Paul Von Tongeren, 2002. Concordo com ambos não apenas que,
considerado da perspectiva da civilização, o genius é a inspiração de “novas moralidades”, como
também que o objetivo do agon é alcançar “um equilíbrio de forças tirânicas” como uma condição de
possibilidade para a aplicação de “novas moralidades” (Herman W Siemens, 2002, p.106). Do ponto
de vista da cultura, contudo, o genius é não apenas uma fonte de leis éticas, mas, primordialmente,
uma fonte de liberdade. O genius é um libertador que rompe leis éticas, que afeta “o equilíbrio de
leis tirânicas” em vista de um novo, mais justo equilíbrio de forças por vir.
88| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
se em – uma liberação e elevação anterior do animal por meio da
cultura. A despeito de a cultura e de a civilização dependerem
mutuamente da relação agonística que mantêm entre si, Nietzsche
atribui prioridade à cultura sobre a civilização. A cultura é a fonte
do sentido e da significância da civilização: a cultura fornece um
objetivo para a economia da civilização. Apenas a cultura tem o
poder de romper o ciclo econômico da civilização: a cultura supera
uma forma de produção definida pela exploração e pela dominação.
Culture and Economy in Nietzsche
Abstract: I discuss the possibility of overcoming domination by
differentiating between two different economical approaches to the
animality of the human being which correspond to the contrasting
ways of politicizing life in culture and in civilization. While the
economy of cilization representes an exploitative approach to
animality, whose aims is the self-preservation of the group at the
cost of normalizing the individual, the economy of culture stands
for a nonexploitative approach to animality directed towards the
pluralization of inherently singular forms of life. An analysis of
these economies shows that culture cannot be attained through a
politics of domination and exploitation.
Keywords: culture, civilization, politics, economy, slavery,
animality.
Referências
ANSELL-PEARSON, K. An Introduction to Nietzsche as Political Thinker.
Cambridge: Cambridge University Press, 1994.
ARENDT, Arendt, The Human Condition. Chicago: University of Chicago Press,
1958.
BATAILLE, G. “The Notion of Expenditure” e, Visions of Excess: Selected Writings
1927-1939. Ed. Allan Stoekl, Minneapolis: University of Minnesota Press, 1985.
. The Accursed Share: An Essay on General Economy, trad. Robert Hurley,
vols. 2 e 3. Nova Iorque: Zone Books, 1991.
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |89
Lemm, V.
BROWN, Wendy, “Nietzsche for Politics”. In: SCHRIFT, Alan D. (Ed). Why
Nietsche Still? Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 2000,
pp. 205-23.
CONANT, James. “Nietzsche’s Perfectionism”. In: SCAHCHT, Richard (Ed.)
Nietzsche’s Postmoralism: Essays on Nietzsche’s Prelude ro Philosophy’s Future.
Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
CONWAY, D., Nietzsche and the Political. Florence, Kentucky: Routledge, 1997.
FOUCAULT, Michel, Discipline and Punish. Nova Iorque: Vintage Books, 1995.
GERHARDT, Volker. “Prinzip des Gleichgewichts”. In: Nietzsche-Studien 12,
1983, pp.111-33
KANT, I. What is Enlightenment? In: SCHMIDT, James (ed). Eighteenth-Century
Answers and Twentieth Century Questions. Berkeley e Los Angeles: University
of California Press, 1996, pp.58-63.
KAUFMANN, Walter. Nietzsche: Philosopher, Psychologist, Antichrist. Princeton:
N.J.: Princeton University Press, 1974.
HATAB, Lawrence. “Prospects for a Democratic Agon: Why We Can Still Be
Nietzscheans”, Journal of Nietzsche Studies, n.24, 2002, p.132-47.
LEMM, Vanessa. “Nietzsches Vision einer ‘Neuen Aristokratie’”, Deutsche
Zeitschrift für Philosophie 56 (2008): pp. 365-83.
. Nietzsche’s Animal Philosophy. Nova Iorque: Fordham University Press,
2009.
MÜLLER-LAUTER, Wolfgang. Über Freiheit und Chaos: Nietzsche-interpretationen
II. Berlin: De Gruyter, 1999.
. Nietzsche’s Animal Philosophy. Nova Iorque: Fordham University Press,
2009.
NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal. Trad. Paulo César de Souza. Companhia
das Letras. Edição do Kindle, 2017.
. A Gaia Ciência. Trad. Paulo César de Souza. Companhia das Letras.
Edição Kindle, 2016.
90| Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019.
Cultura e economia em Nietzsche
. Humano Demasiado Humano. Trad. Paulo César de Souza. Companhia
das Letras. Edição Kindle, 2017.
. Crepúsculo dos Ídolos. Trad. Paulo César de Souza. Companhia das
Letras. Edição Kindle, 2017.
. Nascimento da Tragédia. Trad. Paulo César de Souza. Companhia das
Lettras. Edição Kindle, 2007.
. Kritische Studienausgabe in 15 Bänden. Ed. Giorgio Colli e Mazzino
Montinari. Berlin: De Gruyter, 1988.
. O Anticristo e Ditirambos de Dionísio. Trad. de Paulo César de Souza.
Companhia das Letras. Edição Kindle, 2016.
. “The Greek State.” em On the Genealogy of Morals. Trad. de C. Diethe.
Ed. Keith Ansaell-Pearson. Cambridge: Cambridge University press, 2001.
. Untimely Meditations. Trad. de R. J. Hollingdale. Cambridge: Cambridge
University Press, 1997.
SCHRIFT, Alan. “Rethinking the Subject: Or How One Becomes-Other Than
What One Is”. In. SCHACHT, Richard. Nietzsche’s Postmoralism Essays on
Nietzsche’s Prelude to Philosophy’s Future. Cambridge: Cambridge University
Press, 2001.
SIEMENS, H. Agonal Communities of Taste: Law and Community in Nietzsche’s
Philosophy of Transvaluation, Journal of Nietzsche Studies, n. 24, p.106, 2002.
. “Action, Performance and Freedom in Hanna Arendt and Friedrich
Nietzsche”. In: International Studies in Philosophy 37, n. 3, 2006, pp. 107-26
STRONG, T. Friedrich Nietzsche and the Politics of Transfiguration. Berkeley and
Los Angeles: University of California Press, 1975.
TONGEREN, Paul Von. “Nietzsche’s Greek Measure”. In: Journal of Nietzsche
Studies 24, 2002, pp. 5-24.
Artigo recebido para publicação em 12/08/2018
Artigo aceito para publicação em 15/10/2018
Cad. Nietzsche, Guarulhos/Porto Seguro, v.40, n.1, p. 67-91, janeiro/abril, 2019. |91