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Paisagem Cultural

Abstract Philosphy is that ‘search for knowledge’ by man which aims to improve our knowledge of what is around us and create institutions which make a better life possible. In this article we aim to demonstrate that culture is a spiritual and material product of man within a community and as such identifies with the same community, (Cassierer 1968. Herder 1971). Our understanding of culture is of a space where all the anthropological dimensions of man are expressed, be they existential, intellectual, decisive and actional. Philosophy intervenes and accompanies the process of man’s learning through the assimilation of those values with contribute to his full realization. Starting from the subjective and objective concepts of culture, this article aims to study the relation between philosophy as man’s conscious knowledge and culture as the fruit of man’s intelligence. A philosophical reading makes it possible to see the foundations and characteristics of culture, and thereby conclude that Mocambique is a group of cultures and none can claim to be superior to any other. Only complementarity and the principle of complementarity can be used also in relation with other cultures which come from outside Mozambique. keywords: culture; tradition

Paisagem Cultural A QUESTÃO DA TRADIÇÃO: Algumas considerações preliminares para se investigar o saber-fazer tradicional1 CASTRIOTA, Leonardo Barci (1) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (MACPS) Rua Paraíba, 697 – Funcionários, Belo Horizonte, Minas Gerais. CEP. 30130-140 [email protected] RESUMO À luz de uma pesquisa que se propunha a identificar e documentar os saberes tradicionais de mestres artífices da construção e da arquitetura no Vale do São Francisco, no Estado de Minas Gerais, este texto se debruça sobre a questão teórica da tradição. Recorrendo a vários autores, principalmente do campo da Antropologia, procura-se definir a tradição e entender o seu funcionamento, bem como aos mecanismos de sua transmissão. O texto vai mostrar que, diferentemente de uma visão corrente, que vê a tradição como uma dimensão estática da cultura, ela vai ser, como aponta Raymond Williams, sempre seletiva, constituindo uma versão intencionalmente seletiva de um passado modelador e de um presente pré-modelado. Com isso, ela pode se constituir numa força ativa na contemporaneidade, o que fica patente quando, através desse conceito, se analisa, por exemplo, o saber-fazer tradicional. Palavras-chave: tradição, transmissão, invenção, saber-fazer, Rio São Francisco Entre 2011 e 2014, estivemos desenvolvendo o projeto de pesquisa “Mestres Artífices da Construção Tradicional no Vale do São Francisco: Os Desafios da Preservação do SaberFazer”, com o patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG). Este projeto de pesquisa identificou e documentou os saberes tradicionais de mestres artífices da construção e da arquitetura no Vale do São Francisco, no Estado de Minas Gerais, desenvolvendo metodologia proposta pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e realizando uma reflexão sobre a permanência e a transformação dessas técnicas. Tratava-se de se dar sequência a uma pesquisa anterior, 1 Este texto é derivado da pesquisa “Mestres Artífices da Construção Tradicional no Vale do São Francisco: Os Desafios da Preservação do Saber-Fazer”, que teve o patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) 1 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural realizada com o patrocínio do IPHAN, onde havia se mapeado os mestres artífices das regiões Central, do Campo das Vertentes e do Vale do Jequitinhonha no Estado, nos anos de 2009 e 2010. Desta vez, o grupo interdisciplinar envolvido tomava uma região significativa de Minas Gerais, o Vale do São Francisco, que teve um importante papel na formação histórica do Estado e que apresenta hoje um importante acervo relativo ao saber fazer tradicional da construção, a ser registrado e analisado. Ao se iniciar o processo, pareceu-nos necessário se investigar preliminarmente uma questão teórica subjacente à nossa pesquisa: a questão da tradição, que perpassava as demais questões investigadas. Afinal de contas, cabia se interrogar sobre o que viria, de fato, a ser a tradição, questão fundamental da qual derivavam outras questões, que apareciam ao longo do nosso trabalho. Qual seria, por exemplo, a relação entre tradição e cultura e como funcionaria o processo de transmissão pressuposto nesta ideia? Qual seria o papel da tradição no mundo contemporâneo, marcado pela globalização e pela extrema volatilidade de todas as referências? E finalmente, caberia falarmos de um desaparecimento da tradição? Se a tradição está, de fato, como apontam muitos autores, desaparecendo – ou se transformando profundamente – frente ao avanço inexorável do processo de modernização, parecia-nos necessário um esforço suplementar no sentido de definir a tradição e entender o seu funcionamento. Tradição e mudanças culturais Paul Oliver, no verbete “Tradição e transmissão” da Encyclopedia of vernacular architecture, enuncia que se consideram tradicionais “aqueles aspectos do comportamento, dos costumes, do ritual ou do uso de artefatos que foram herdados das gerações anteriores”. Assim, poderíamos denominar como traditum os exemplos mais distintos dentro uma tradição, de um “soneto” a uma “insígnia”; nesse raciocínio, o campo da arquitetura seria marcado intrinsecamente pela tradição, na medida em que todas as tipologias, tecnologias e ofícios edilícios do passado que persistem até o presente poderiam ser considerados como tradita. A tradição teria, então, uma dimensão necessariamente conservadora: o presente repetiria o passado através daquilo que dele herdou. Neste sentido, a tradição foi 2 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural comumente entendida como um segmento relativamente inerte de uma estrutura social, uma “sobrevivência do passado”, não sendo de se estranhar, portanto, que ela seja vista, muitas vezes, como uma dimensão cristalizada, imóvel, da cultura. No entanto, a ligação que a tradição estabelece entre o passado e o presente é mais complexa do que poderia parecer à primeira vista: se as tradita são permanências do passado, elas existem no presente, onde desempenham normalmente a função de emprestar sua chancela de autoridade a atos do presente. Para cumprir tal função, a tradição será, como aponta Raymond Williams, sempre seletiva, “uma versão intencionalmente seletiva de um passado modelador e de um presente pré-modelado, que se torna poderosamente operativa no processo de definição e identificação social e cultural”. (WILLIAMS, 1979, p. 118.) É neste sentido que Oliver denomina tradicional uma sociedade “que depende da autoridade de suas tradições para afirmar pensamentos e ações do presente”.2 Desta forma, a despeito de seu viés eminentemente conservador, poderíamos ver sempre se manifestando na tradição uma “força ativamente modeladora”, uma dimensão que em última instância, vai lhe garantir uma certa plasticidade. A Antropologia reforça essa perspectiva ao apontar para o fato de que todos os sistemas culturais, mesmo aqueles tradicionais, estão em contínuo processo de modificação. Não haveria, assim, uma cultura estática, e o próprio processo de transmissão incorporaria possibilidades de mudanças, através das quais as culturas se mantêm flexíveis e podem absorver as inevitáveis variações trazidas pelo tempo. Neste aspecto, cabe distinguir, no entanto, entre dois tipos de transformações da cultura: aquelas mudanças internas, que resultam da própria dinâmica do grupo, e aquelas mudanças, usualmente bruscas e rápidas, trazidas pelo contato de um sistema cultural com outro. (LARAIA, 1988). O primeiro tipo de transformação é o resultado de um desenvolvimento interno do grupo, quando, por exemplo, se consegue resolver um problema colocado, ou se atinge um novo estado cultural. O grande motor aqui vai ser, como aponta Ronald Lewcock, “o desejo de novidade e o instinto 2 ENCYCLOPEDIA, 1997, p. 117. O autor continua: “Tradições são manifestas na organização e orientação do assentamento, nos ritos de consagração, nos tipos construtivos, sistemas estruturais e formas de telhado, tecnologias e técnicas de construção, especialização e papeis de gênero dos construtores, na relação de espaços significativos, e nos elementos que são decorativos ou que têm valor simbólico. Edificações representam a síntese de muitas tradita. ” (Tradução do autor) 3 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural humano fundamental ligado à curiosidade”.3 No que concerne à arquitetura vernacular, o autor observa que “dentro de uma tradição, o desenvolvimento e a aceitação de uma mudança física pode acontecer através da resolução de um problema que é inerente à ordem existente”. Já o segundo tipo de transformação – através de contato intercultural – este será, de fato, como demonstra Claude Lévi-Strauss, o grande motor do avanço das culturas, que, em diálogo, conseguiriam incorporar elementos trazidos da outra cultura. A própria diversidade das culturas seria, assim, muitas vezes, um impulso para avanços internos: “Muitos costumes nasceram, não de qualquer necessidade interna ou acidente favorável, mas apenas da vontade de não permanecerem atrasados em relação a um grupo vizinho que submetia a um uso preciso um domínio em que nem sequer se havia sonhado estabelecer leis”. (LÉVI-STRAUSS, 1985, p. 51) Para o antropólogo francês, o grande mecanismo que permitiria o avanço das culturas residiria justamente na colaboração entre elas: “A possibilidade que uma cultura tem de totalizar este conjunto complexo de invenções de todas as ordens a que nós chamamos civilização é função do número e da diversidade das culturas com as quais participa na elaboração – a maior parte das vezes involuntária – de uma estratégia comum.”(LÉVI-STRAUSS, 1985, p. 51) Assim, as “formas da história mais cumulativas” nunca seriam resultado de culturas isoladas, “mas sim de culturas que combinam, voluntária ou involuntariamente, os seus jogos respectivos e realizam por meios variados (migrações, empréstimos, trocas comerciais, guerras) estas coligações (...)”. No entanto, este processo, denominado por Claude Lévi-Strauss de “colaboração entre culturas” – que o considerava como levando a avanços civilizatórios –, pode, às vezes, se mostrar catastrófico, com a destruição e o apagamento de uma cultura pela outra. Neste ponto, parece-nos necessário considerar a distinção, proposta por Ronald Lewcock, que separa as transformações trazidas pelas influências externas em duas espécies, distinguíveis uma da outra pela extensão pela qual são assimiláveis pela cultura existente: segundo ele, poderíamos falar de “influências transculturais” “se as influências são 3 LEWCOCK, Ronald. “Westernization and cultural interaction”. ENCYCLOPEDIA, 1997, p. 121. No que se refere à arquitetura vernacular, o autor observa que “dentro de uma tradição, o desenvolvimento e a aceitação de uma mudança física pode ocorrer através da resolução de um problema que é inerente à ordem existente.”(Idem) (tradução do autor) 4 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural relativamente assimiláveis com facilidade”, e de uma “cultura externa impactante” se elas não o são.4 Alain Gheerbrant vai nos fornecer um exemplo elucidativo desta diferença ao comparar o encontro dos índios Ianomâmis, do Norte do Brasil e Venezuela, com a tribo Yekuna e com a civilização branca: De qualquer forma, sabemos com certeza que o povo ianomâmi ainda estava florescendo até há alguns anos atrás. Mas eles não estavam vivendo em isolamento total. Na Venezuela, a cultura material dos ianomâmis estava evoluindo – sem, no entanto, tomar nada emprestado do “mundo dos brancos”. No último quarto de século, eles vêm adotando alguns avanços – canoas, redes de algodão fiado, plantação de pequenas bananas e mandioca – provavelmente como resultado da interação com os Yekuana, uma tribo de agricultores sedentários. Cansado de guerras, eles têm estado trocando mais que tradições; eles têm casado entre si. Esta transformação poderia ter acontecido suavemente, não tivesse sido pela intromissão dos brancos, em busca de ouro e diamante. (GHEERBRANT, 1992, p. 14-115) Enquanto conseguiam assimilar traços de outra cultura indígena, o encontro dos Ianomâmis com os brancos vai ser devastador. Nas palavras do antropólogo Darcy Ribeiro: Quando a civilização chegou, foi como a praga. Os indígenas pensaram que estavam lidando com uma tribo que estava no mesmo nível deles, mas logo descobriram que eles eram infinitos em número. Um dia, um índio, que queria visitar uma cidade comigo, disse: ‘É assustador; eles parecem formigas’. A chegada dos brancos pôs seus valores de ponta-cabeça. Elas se viam como uma tribo amada pelos seus deuses, e, então, subitamente, apareceu essa tribo muito maior, muito mais poderosa. Isto resultou em disputa com seus deuses, com os seus pajés. Eles não sabiam mais em que pé estavam. O mesmo se deu em relação aos aviões. Assim que se deram conta de que seus inimigos eram os senhores desses pássaros com asas rígidas, eles ficaram completamente atônitos. Com a chegada do branco, os índios tiveram que se colocar uma série de questões sérias sobre o seu lugar num esquema mutável de coisas. (Darcy Ribeiro, in GHEERBRANT, 1992, p. 176-177) 4 Influências transculturais acontecem se duas culturas têm base comum suficiente para que as ideias possam se deslocar facilmente de uma sociedade para outra. Isso não acontece se duas sociedades têm paradigmas, ou visões de mundo, completamente diferentes. Em lugar de interagir através de mistura, um conjunto de ideologias termina por destruir o outro, com os “efeitos correspondentes nas 'representações coletivas' da cultura, incluindo aí sua arquitetura vernacular.” (LÉVI-STRAUSS, 1985, p. 82) 5 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural Continuando com o exemplo dos indígenas brasileiros, e seu contato com a cultura branca, cabe enfatizar que se trata de um caso extremo: o desaparecimento cultural é seguido aqui pelo extermínio físico, com as terras indígenas sendo ocupadas pelos fazendeiros, mineradores, estradas, usinas hidrelétricas e cidades. O contato brusco entre duas culturas com perspectivas e visões de mundo completamente diferentes poucas vezes mantém algum lugar para influências transculturais: ao verem seu mundo desaparecer com extrema rapidez, aos indígenas resta somente a luta pela sobrevivência, pelo não desaparecimento.5 Os múltiplos significados da tradição Outra abordagem importante sobre a tradição é a do sociólogo americano Edward Shils, que, na obra Tradition (1981) mostra que o termo tem, de fato, uma série difusa, e muitas vezes contraditória, de significados. A sua definição de "tradição" é muito ampla: a tradição seria um tractitum “qualquer coisa que é transmitida ou passada do passado para o presente ... tendo sido criada através de ações humanas ... [de] pensamento e da imaginação, ela é passada de uma geração para a próxima "(SHILS, 1981, p. 12). Essa definição inclui tanto a substância que está sendo transmitida quanto o processo de transmissão; não contém, no entanto, os aspectos relacionados ao "como" e ao "porquê": como se dá o processo de transmissão e porque ele se comporta dessa forma. No restante do livro, Shils vai discutir, então, principalmente o "como", deixando o "porquê" para pesquisas posteriores. É interessante percebermos que a definição de Shils é um pouco mais ampla do que estamos acostumados; no entanto, ela responde bem ao velho problema da "cultura tradicional rural" versus "cultura não tradicional moderna urbana": ambas seriam construídas por "complexos de tradição"; no entanto, esses complexos difeririam quanto ao seu tipo. Qual seria, então, para ele a substância da tradição? Shils responde: Todos os padrões consolidados da mente humana, todos os padrões de crença ou modos de pensar, todos os padrões consolidados das relações sociais, todas as práticas técnicas e todos os artefatos físicos ou objetos 5 Leonardo Castriota apresenta um interessante estudo de caso, concernente aos índios Cinta-Larga, que habitam o Noroeste do Brasil, e o efeito do encontro dessa cultura com a dos brancos, bem como tentativas de recriação de sua cultura, com a colaboração de uma arquiteta mineira, que residiu entre eles. (CASTRIOTA, 2009, p. 21-38) 6 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural naturais [que] são suscetíveis a se tornarem objetos de transmissão; cada um deles é capaz de se tornar uma tradição (SHILS,1981, p. 16). Isso equivaleria, então, como podemos perceber, a uma espécie de catálogo completo da cultura humana: trabalhar esse catálogo em detalhes, a enumeração e descrição das classes de entidades que formam a substância da tradição e de suas qualidades, esta seria, a seu ver, a tarefa do etnólogo. O que faz, então, qualquer dessas substâncias se tornar uma "tradição"? Para ele, ela teria que se tornar objeto do processo de transmissão em pelo menos dois atos de transmissão, isto é, tem que ser praticada por pelo menos três "gerações de praticantes" ("geração" não significa necessariamente uma sucessão biológica) e "para se tornar uma tradição, e para continuar a ser uma tradição, um padrão ou uma ação tem que ter entrado na memória." (SHILS,1981, p. p. 167). Aqui é importante acrescentar ainda que, os dois elementos – a substância e o processo de transmissão, que formariam a definição mínima da tradição - deve-se adicionar o valor que se atribui à tradição pela sociedade: a tradição vai ser sempre considerada plena de autoridade, normativa ou prescritiva (SHILS,1981, p. 23-25), devendo, além disso, haver consenso na sociedade sobre esse ponto (p. 161). Esse vai ser o caso, para ele, não apenas das tradições "tradicionais" ("nós fazemos isso porque nossos antepassados faziam", "se era bom para os nossos pais, é bom para nós"," o pecado (= desvio) é punido"), mas isso também se aplica às tradições modernistas "antitradicionais" (por exemplo, as tradições do liberalismo, socialismo, ou revolutionarismo, como também as tradições da filosofia analítica ou de investigação científica). São esses dois elementos, então, a substância e o processo de transmissão, que definiriam nosso objeto com bastante clareza, delimitando-o imediatamente em relação às "nãotradições", como por exemplo, hábitos (pessoais), moda (social) (SHILS,1981, p. 307), e de categorias mais gerais, como, por exemplo, circunstâncias sociais e econômicas (SHILS,1981, p. 306-307), ou sentimentos pessoais (SHILS,1981, p. 31), etc. Para o autor, as tradições têm limites, sejam esses claros ou vagos. 7 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural Seguindo a argumentação de Sihls, a questão seguinte que se coloca, numa ordem lógica, se relaciona aos critérios de classificação para as classes de substâncias que fazem parte da tradição: o próximo passo seria a realização de uma espécie de "catálogo de tradições" (que se contraporiam às "não-tradições"), apresentando-se com clareza os princípios da sua classificação e uma descrição das suas fronteiras, tanto em nível de unidades sociais ou culturais concretas quanto no da teoria abstrata. Um bom exemplo disso seria a questão concernente à chamada "literatura popular", sobre a qual se poderia perguntar inicialmente o que ela seria. Quais tipos de textos ficam dentro e fora do alcance da "literatüra popular" numa dada sociedade em um dado período. Quais são as qualidades que definem cada grupo de textos e traçar os limites entre eles? Será que, por exemplo, a "narrativa pessoal" pertence à classe da "literatura popular" em uma determinada sociedade em um determinado momento, ou não pertence, e, em caso afirmativo, com que base?3 Shils nos mostra como as conquistas da geração passada vivem na geração do "presente" – cada geração sendo o seu próprio "presente", e como as tradições - cuja essência parece ser a estabilidade –, de fato, mudam, crescem e diminuem. Ele também descreve as circunstâncias gerais que fazem as tradições "nascer", "morrer" (SHILS,1981, p. 283-285) e ser "revividas" (SHILS, 1981, p. 285-286). Como as tradições se comportam numa determinada sociedade, numa vila, numa instituição, numa família: essa vai ser a tarefa do etnólogo, tarefa para a qual Shils fornece um importante referencial teórico. Não há novidade quando Shils fala da existência de diferentes tradições: uma cultura é necessariamente composta de diversas tradições que podem ser classificado de diversas formas; assim, por exemplo, há tradições primárias e derivadas (SHILS,1981, p. 17) ou complementares (SHILS, 1981, p. 135); tradições de crença e tradições técnicas; tradições que defendem um apego ao passado (ou seja, às próprias tradições) e aquelas que, paradoxalmente, advogam o desmantelamento de tradições (por exemplo, as tradições de modernização, a tradição liberal, a tradição de investigação científica). Algumas tradições seriam, por sua própria natureza, estagnadas, enquanto outras são essencialmente dinâmicas (SHILS,1981, p. 81). 8 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural As diversas tradições que compõem uma cultura e nas quais a sociedade se baseia, existem em diversas inter-relações (SHILS,1981, p. 273-283). Assim, elas poderiam se apoiar umas às outras, ou, alternativamente, elas poderiam estar em conflito umas com as outras (SHILS,1981, p. 159; 279-280); elas poderiam estar em contato e mesmo se sobrepor, ou poderiam estar completamente separadas e não se interpenetrarem (SHILS,1981, p. 57). As tradições também poderiam existir em paralelo umas com as outras ou poderiam estar em hierarquias (SHILS,1981, p, 159; 268). As tradições podem formar "famílias de dependentes" (SHILS,1981, p. 44), ou, alternativamente, "conjuntos de fluxos paralelos" (SHILS,1981, p. 159). As tradições também podem variar quanto à sua posição na sociedade: centrais versus periféricas, tema que é tratado no Capítulo 6 da obra. As tradições de uma sociedade podem ainda ser consideradas no contexto de seu confronto com as tradições de outras sociedades. Cada unidade cultural e social, da comunidade de base celular da família e da aldeia até um estado inteiro, terá o seu próprio conjunto de tradições e subtradições. Uma questão que aguarda mais investigação é se elas formam um sistema e de que tipo e de complexidade é esse sistema. Exemplos: Até que ponto estão as tradições literárias escritas e orais em contato em uma aldeia num determinado momento? De que forma elas interagem? Com quais quadros mais amplos elas interagem? Como eles fazem isso e em que grau? Como funciona essa interação nos diversos gêneros em que a literatura popular se manifesta? Quais são as inter-relações das atividades literárias escritas e orais com a literatura popular? Como a literatura popular "morre" (SHILS,1981, p. 283-286) - ou seja, quais são os processos que levam ao empobrecimento e à transformação de uma tradição literária popular? Essas são apenas algumas sugestões das muitas potencialidades que o livro de Shils nos oferece, ao analisar a complexa questão da tradição, fornecendo-nos um quadro geral teórico consistente e amplo. Shils, sendo um sociólogo teórico, escreve sobre o nível macro, sobre aquilo que R. Redfield chamou de "a grande tradição"; caberia, então, às ciências que examinam a tradição colocar este quadro referencial em funcionamento, aplicando-o concretamente à análise da tradição ao nível da pequena unidade social e cultural, a "pequena tradição ", que é o nosso campo de investigação. 9 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural A invenção da tradição Outra ideia importante nessa abordagem é aquela da "invenção da tradição", conceito de destaque no livro homônimo de 1983, editado por Eric Hobsbawm e Terence Ranger, que argumentam que muitas "tradições" que parecem ou que pretendem ser antigas, têm, muitas vezes, uma origem bastante recente, sendo, muitas vezes, inventadas. (É importante anotar que naquele texto, os autores distinguem a "invenção" de uma tradição no sentido em que apontam do ato de se iniciar uma tradição que não reivindique ser antiga.) A “tradição inventada” poderia, assim, significar uma série de práticas, normalmente governada por regras abertamente ou tacitamente aceitas e de um ritual de natureza simbólica, que pretendem inculcar certos valores e normas de comportamento pela repetição, que automaticamente implica em continuidade com o passado. De fato, onde é possível, elas normalmente tentam estabelecer continuidade com um passado histórico aceitável. (HOBSBAWM; RANGER, 1984, p. 1) Esse fenômeno seria particularmente claro, a seu ver, no desenvolvimento moderno da "nação" e do "nacionalismo". Um bom exemplo apresentado por Hobsbawn e Ranger é a reconstrução do edifício do parlamento inglês, que invocava o ambiente construído e sua suposta continuidade com o passado como uma "tradição inventada". Naquele caso, retomar-se o estilo gótico em pleno século XIX significava reforçar a ideia de uma nação inglesa, que teria sua origem na Idade Média. A ideia da “invenção da tradição” tem sido amplamente usada na análise de fenômenos culturais os mais diversos, tais como, por exemplo, a Bíblia e o sionismo (MASALHA, 2007), o mito das "terras altas" na Escócia (SIEVERS,2007) e as tradições das principais religiões (TOMOKO, 2005), apenas para mencionar alguns usos. Esse conceito também foi muito influente no uso de ideias relacionadas, tais como a ideia de "comunidades imaginadas" (imagined communities) de Benedict Anderson5 e do "efeito pizza" (pizza efect)6, ideias que também nos parecem particularmente importantes ao se abordar o tema da tradição. Uma das implicações mais importantes da ideia da “invenção da tradição” é que, de acordo com ele, a distinção nítida entre "tradição" e "modernidade" seria muitas vezes, ela própria, inventada. O conceito vai ser, de fato, como sabemos, "altamente relevante para aquela inovação histórica relativamente recente, a "nação", com seus fenômenos associados: o nacionalismo, o Estado-nação, os símbolos nacionais, as histórias e todo o resto". 10 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural Hobsbawm e Ranger observam bem, a nosso ver, o "paradoxo curioso, mas compreensível: as nações modernas e todos os seus apetrechos geralmente afirmam ser o oposto da ficção, ou seja, afirmam estar enraizadas na mais remota antiguidade, e o oposto do construído, a saber, comunidades humanas tão 'naturais' que não requerem qualquer definição diferente da autoafirmação." (HOBSBAWM; RANGER,2006, p. 14) Uma outra implicação dessa ideia é que o conceito de "autenticidade" – muito importante para a discussão na área do patrimônio – também passa a ser questionado6. É interessante perceber que, na mesma linha que outros pesquisadores, principalmente aqueles advindos da Antropologia, Hobsbawm introduz os conceitos de "novidade" e de "bricolage" como sendo fundamentais para a tradição, mostrando como ela envolve muitas vezes a adaptação e o "re-enxertamento" (regrafting) de velhos conteúdos em novos. No quadro que traça, Hobsbawm propõe três categorias de "tradições inventadas": (a) aquelas que estabelecem ou simbolizam a coesão social ou o pertencimento a grupos e comunidades reais ou artificiais; (b) aquelas que estabelecem ou legitimam instituições, status ou relações de autoridade, e (c) aquelas cujo principal objetivo seria a socialização, a inculcação de crenças, sistemas de valores e convenções de comportamento. (HOBSBAWM; RANGER,2006, p. 9) Finalizando esse tópico, cabe anotar que, apesar de toda sua importância, a ideia de uma "tradição inventada" não deixa de ser questionada: Peter Burke escreve que apesar da "invenção da tradição" ser uma "frase esplendidamente subversiva", ela esconderia "sérias ambiguidades". Para ele, Hobsbawm contrastaria as tradições inventadas com a "força e adaptabilidade" das tradições genuínas, o que parece legítimo. No entanto, deveríamos nos perguntar onde, de fato, terminaria a sua "adaptabilidade" (ou a "flexibilidade" de Ranger) e começaria a invenção? Considerando que todas as tradições se modificam, seria possível ou útil tentar se discriminar as tradições "genuínas" das "falsas"? Richard Handler, por sua vez, também critica o conceito, apontando que essa distinção (entre as tradições "inventadas" e "autênticas") se traduziria, na verdade, na distinção mais profunda entre o "genuíno" e o espúrio", "urna distinção que pode ser insustentável, "porque todas as 6 A esse respeito, confira JOKILEHTO, 2006. 11 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural tradições (como todos os fenômenos simbólicos) são criadas ("espúria") pelo homem ao invés de naturalmente dadas ("genuínas")." Questões teóricas subjacentes a uma investigação sobre a tradição Ao se iniciar uma pesquisa sobre a tradição, há vários pontos advindos dessas reflexões que nos parecem pertinentes. Em primeiro lugar, aqueles que se referem ao próprio conceito de tradição, parecendo-nos muito apropriada a definição fornecida por Sihls, segundo a qual um tractitum poderia ser “qualquer coisa que é transmitida ou passada do passado para o presente ... tendo sido criada através de ações humanas ... [de] pensamento e da imaginação, ela é passada de uma geração para a próxima "(SHILS, 1981, p. 12). Os três elementos apontados por ele parecem-nos importantes aqui, no caso da investigação sobre os mestres artífices: a substância, o processo de transmissão e o valor que se atribui à tradição pela sociedade: ao longo de nossas pesquisas vimos que o saber fazer transmitido pelos mestres vai ser, de fato, considerado plena de autoridade, normativa ou prescritiva (SHILS,1981, p. 23-25), havendo, aliás, consenso na sociedade sobre esse ponto (p. 161).7 No que se refere às técnicas da construção tradicional, podemos perceber, como o faz Paul Oliver na Encyclopaedia que as tradições se manifestam, de fato, em diversos de seus elementos: na organização e orientação do assentamento, nos ritos de consagração, nos tipos construtivos, sistemas estruturais e formas de telhado, tecnologias e técnicas de construção, especialização e papeis de gênero dos construtores, na relação de espaços significativos, e nos elementos que são decorativos ou que têm valor simbólico. Assim, as edificações vão representar a síntese de muitas tradita. Neste ponto, podemos observar ainda que a metodologia prescrita pelo Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), do IPHAN, que foi utilizado por nós, é bastante precisa, estando atenta para essa variedade de elementos. 7 É interessante perceber que um dos métodos utilizados para se localizar os mestres artífices da construção e da arquitetura tradicional foi se perguntar à própria comunidade, que não tinha dúvida em indicar esses indivíduos reconhecidos socialmente por seu saber. 12 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural Um segundo ponto, sublinhado pelos diferentes autores, refere-se à inserção temporal desse saber fazer investigado: se as tradita são permanências do passado, elas vão existir no presente, como aponta, por exemplo, Raymond Williams. (WILLIAMS, 1979, p. 118)8 Edward Shils nos mostra como as conquistas da geração passada vivem na geração do "presente" - cada geração sendo o seu próprio "presente", e como as tradições - cuja essência parece ser a estabilidade -, de fato, mudam, crescem e diminuem. Nesse sentido, um projeto como o Mestres Artífices trata de realizar uma espécie de “instantâneo” do estado da tradição construtiva, documentando e analisando como ela existe no presente em uma determinada região. Para isso, uma metodologia como a proposta pelo Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), do IPHAN, também nos parece muito adequada, na medida em que permite um registro bastante minucioso não só das técnicas em si, mas de suas circunstâncias, aí se incluindo a localidade em que elas são exercidas e as condições materiais para a sua execução. Além disso, o INRC, apesar de se referenciar ao presente, num registro sincrônico, também nos induz a promover um mergulhar diacrônico, ao pressupor também alguma pesquisa histórica sobre o desenvolvimento dessas técnicas ao longo do tempo, o que é feito através de entrevistas e pesquisas documentais. Trata-se, na verdade, de se perceber aquilo que é apontado por Katharina Weiler, ao analisar o processo de avaliação e transmissão das técnicas artesanais na Índia: Tradições estão intimamente ligados com a continuidade e a natureza processual da cultura, sendo que por trás do conceito de tradição escondese tanto a ideia de passagem e da aceitação de formas culturais. As tradições conectam passado e presente, elas descrevem os processos de aprendizagem nos quais as formas (trans) culturais podem ser recebidas e transformadas, para, mais uma vez, ser aprendidas, testadas e corrigidas. (WEILER, Katharina. 'Lebendige Handwerkstraditionen' – ein transkultureller Mythos am Beispiel Indiens. In: FALSER; JUNEJA, 2013. p. 247.) Finalmente, parece-nos importante considerar aquela dimensão da "invenção da tradição", conceito de destaque no livro de Eric Hobsbawm e Terence Ranger, que apontam para o fato de que muitas "tradições" que parecem ou que pretendem ser antigas, têm, muitas vezes, uma origem bastante recente, sendo, muitas vezes, inventadas. Se os autores se 8 Como já anotamos, a tradição será, como aponta Raymond Williams, sempre seletiva, “uma versão intencionalmente seletiva de um passado modelador e de um presente pré-modelado, que se torna poderosamente operativa no processo de definição e identificação social e cultural”. (WILLIAMS, 1979, p. 118) 13 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural referem primordialmente à invenção de tradições nacionais, a noção que introduzem tem sido muitas vezes usada para analisar outros fenômenos do campo da cultura, como vimos. No caso específico das técnicas construtivas tradicionais investigadas por este projeto, este conceito parece-se se aplicar à perfeição, o que já foi mostrado por nós em trabalho anterior, principalmente tomando a situação da região de Ouro Preto, onde pudemos constatar uma ação institucional do IPHAN na manutenção e/ou reintrodução dessas técnicas, ao realizar oficinas para capacitação de mão de obra9. Além disso, é digno de menção o caso paradigmático do Mestre Juca, em Ouro Preto, reinventor da tradição da cantaria naquela região: depois de ter trabalhado por décadas como parte da equipe técnica do IPHAN, utilizando técnicas modernas para o restauro, aquele artífice resolve redescobrir as técnicas utilizadas pelo seu antepassado, o que logra fazer depois de várias tentativas frustradas. No caso da presente pesquisa, encontramos essa mesma dimensão, ao nos depararmos com a reinvenção da técnica da construção em pedra, no Alto São Francisco, onde essa serve para reforçar um caráter de localidade e unicidade, sendo muito utilizada, por exemplo, na construção de novas pousadas e estabelecimentos turísticos10. Referências CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo; Belo Horizonte: Annablume; IEDS, 2009. 9 Katharina Weiler anota, a esse respeito: “Na busca de dar sentido ao passado com a ajuda de bens culturais, essa se torna uma área que é objto de intensa luta, com o patrimônio fornecendo a governos e às ciências históricas, bem como a grupos ou pessoas comuns o potencial para moldar as suas próprias memórias.” (WEILER, Katharina. 'Lebendige Handwerkstraditionen' – ein transkultureller Mythos am Beispiel Indiens. In: FALSER; JUNEJA, 2013. p. 247.) Por isso, segundo ela, uma pesquisa “transcultural” do conceito de tradição no contexto do artesanato e do património cultural da Índia vai requerer em primeiro lugar “uma história cuja metodologia vá além dos limites tradicionais de pesquisa historiográfica”, questionando tanto as “metanarrativas dominantes” quanto os mitos em questão. 10 Citando novamente Katharina Weiler, cabe lembrar que ela, no texto já citado sobre as técnicas tradicionais na Índia, mostra, apoiando-se em trabalho de Bernardo S. Cohn, que sob o imperialismo britânico, as tradições apresentam não apenas transformações, que se deram durante o processo de transmissão, mas também, algumas vezes, foram sempre negociadas, conscientemente inventadas, reinventadas e autenticadas contextualmente, e sempre reavaliadas e instrumentalizadas de novo. (WEILER, Katharina. 'Lebendige Handwerkstraditionen' – ein transkultureller Mythos am Beispiel Indiens. In: FALSER; JUNEJA, 2013. p. 248.) 14 FORUM PATRIMONIO: ambiente Construído e Patrimônio Sustentável Belo Horizonte, v.7, n.1. Jan / Jun. 2014 ISSN 1982-9531 http://www.forumpatrimonio.com.br/ Paisagem Cultural ENCYCLOPEDIA of vernacular architecture of the world. Cambridge: University Press, 1997. FALSER, Michael; JUNEJA, Monica. Kulturerbe und Denkmalpflege transkulturell: Grenzgänge zwischen Theorie und Praxis. Bielefeld: Transcript Verlag, 2013. GHEERBRANT, Alain. The Amazon: past, present and future. London: Thames and Hudson, 1992. HOBSBAWM Eric; RANGER,Terence. The Invention of Tradition. Cambridge: Cambridge University Press, 1983. JOKILEHTO, J.. Considerations on authenticity and integrity in world heritage context. City & Time. v. 2. n. 1, 2006. Disponível em: http://www.ct.ceci-br.org. Acesso em 15/04/2014. LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. LÉVI-STRAUSS,Claude. Raça e História. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 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