Costa, Dutra
Páginas 1-22
Avaliação da Carreira no Mundo Contemporâneo: Proposta de um Modelo
de Três Dimensões
Luciano Venelli Costa¹
Joel Dutra²
Resumo
Este ensaio teórico tem por objetivo discutir um modelo de três dimensões na
avaliação do sucesso na carreira. A primeira refere-se às tradicionais medidas objetivas de
sucesso na carreira, operacionalmente avaliadas em função da progressão salarial e do número
de promoções (JUDGE et al., 1995). A segunda leva em consideração o forte componente de
subjetividade da carreira contemporânea, ou seja, o chamado sucesso subjetivo na carreira
(GATTIKER e LARWOOD, 1986), mensurado pelos sentimentos de realização e satisfação.
Uma terceira dimensão da carreira, emergente da gestão por competências, é a que considera
a carreira na perspectiva de desenvolvimento, ou seja, o sucesso pode ser medido pela
capacidade da pessoa de atuar em níveis crescentes de complexidade do trabalho (DUTRA,
2004). O artigo apresenta os instrumentos e escalas de avaliação do sucesso na carreira até
então utilizados e validados e o resultado é a proposta de criação de novos instrumentos para a
avaliação das carreiras no mundo contemporâneo, que leve em consideração as recentes
mudanças no mundo do trabalho.
Abstract
This theoretical paper aims to discuss a model of three dimensions in the assessment
of career success. The first one refers to the traditional measures of objective career success,
operationally assessed on the basis of pay progression and the number of promotions (JUDGE
et al., 1995). The second dimension takes into account the strong component of subjectivity in
the contemporary career, namely the so-called subjective career success (GATTIKER &
LARWOOD, 1986), measured by the feelings of accomplishment and satisfaction. A third
dimension of the career, emerging of the competency management, is considering a career
development perspective, ie, success can be measured by the person's ability to operate at
increasing levels of job complexity (DUTRA, 2004). The article presents the tools and scales
for assessment of career success so far used and validated and the result is the proposed
creation of new tools for the evaluation of careers in the contemporary world, which takes
into account recent changes in the world of work.
Artigo recebido em 14/03/2011
Aprovado em 03/06/2011
____________________________
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² Joel Souza Dutra é professor Livre Docente do Departamento de Administração da Faculdade de Economia e
Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde ministra cursos de graduação e pós-graduação;
mestre pela Fundação Getúlio Vargas FGV-SP e doutor pela FEA-USP; coordenador do PROGEP – Programa
de Estudos em Gestão de Pessoas e vice-coordenador do MBA-RH da Fundação Instituto de Administração
(FIA).
1
¹ Possui graduação em Engenharia Elétrica - ênfase Eletrônica pelo Centro Universitário da FEI (1992),
mestrado em Administração pela Universidade Metodista de São Paulo (2003) e doutorado em Administração
pela Universidade de São Paulo (2011). Atualmente é coordenador de curso - gestão de RH - da Universidade
Metodista de São Paulo.
Avaliação da Carreira no Mundo Contemporâneo:
Proposta de um Modelo de Três Dimensões
1. Introdução
O século XXI está sendo chamado de Era do Conhecimento. No final do século XX,
estudiosos da administração já anunciavam uma nova economia ou sociedade, que se
distingue pela importância do conhecimento, convertido em capital intelectual, como
diferencial competitivo e fonte de poder (STEWART, 1998). Com essa maior valorização de
ativos intangíveis e do conhecimento, alguns poderiam pensar que o comportamento humano
perderia espaço e relevância. Pelo contrário, quanto mais a empresa se concentra no chamado
ativo intangível, representado por marcas, desempenho, inovação tecnológica e de produto,
atendimento diferenciado, melhoria de processos, dentre outros, mais forte se torna a
dependência dos negócios ao desempenho humano. O comportamento humano passa a
integrar o caráter intrínseco dos negócios, tornando-se elemento de diferenciação e
potencializando a vantagem competitiva (FISCHER, 2002).
Essa crescente valorização do capital humano e da capacidade de uma pessoa fazer
diferença nos resultados organizacionais, seja individualmente ou em grupo, têm estimulado
práticas de gestão de pessoas voltadas não só à retenção das pessoas, práticas conhecidas
como sendo de retenção de talentos, mas também ao comprometimento das pessoas com os
objetivos das organizações. Na Era Industrial, como o trabalho era manual e objetivamente
observável em função do tempo semanal de dedicação, o controle era simples, mas na Era do
Conhecimento, a presença física de uma pessoa não significa que ela está entregando todas as
suas competências para ajudar a resolver um problema. Se a pessoa não quiser contribuir para
a equipe ou a organização, ela consegue esconder suas competências e “fingir” estar dando o
máximo de si. O que leva as pessoas a efetivamente entregarem o máximo de suas
competências não está necessariamente vinculado ao tempo semanal de dedicação ou à
dedicação exclusiva, mas a uma relação com a organização que satisfaça os seus interesses de
carreira (MAYNARD e JOSEPH, 2008).
Para as organizações, é necessário desenvolver, reter e obter a máxima entrega das
competências dos seus recursos humanos. Para isso, é preciso manter um núcleo estável e
fortemente comprometido de pessoas, embora este, geralmente, seja formado por aqueles
profissionais mais qualificados e capacitados a gerirem as suas próprias carreiras
(FONTENELLE, 2007).
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2
A questão é: quais critérios as pessoas têm utilizado para avaliarem suas carreiras?
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No passado, havia certo consenso sobre o que era uma pessoa bem sucedida na carreira.
Profissionais que obtinham constantes promoções em grandes organizações eram socialmente
reconhecidas como bem sucedidas. Uma frase comum era: “ele entrou lá como office boy e
saiu como diretor ou presidente”.
Em determinado momento, pessoas que “galgaram os degraus” da vida corporativa, mas
que em algum momento perderam o controle das suas vidas pessoais e familiares, passaram a
ser citados como maus exemplos de sucesso na carreira. Apesar de conquistar os postos tão
almejados pela maioria, eram pessoas infelizes e pessoalmente descontentes com o caminho
trilhado. Estudiosos passaram então a dividir a avaliação do sucesso na carreira em objetivo e
subjetivo ou extrínseco e intrínseco.
No século XXI, em função das reengenharias, fusões e aquisições, os contratos
psicológicos que davam a entender que a lealdade a uma única organização levaria ao topo
começaram a ser quebrados. A carreira com o foco na vida para a empresa passou a ser
substituída por formas diversificadas de autogestão das carreiras, hoje batizadas de carreiras
sem fronteiras (DEFILLIPPI e ARTHUR, 1994), carreiras de Proteu (HALL, 2002), carreira
caleidoscópio (MAINIERO e SULLIVAN, 2006), dentre outras.
Coerente com as necessidades do mundo contemporâneo, Dutra (2004) apresenta uma
abordagem diferenciada da carreira, desvinculada do cargo, de promoções ou de status
profissional, mas condizente com a percepção de crescimento na Era do Conhecimento: a
carreira como desenvolvimento. Esta abordagem pode revelar uma nova dimensão na
avaliação da carreira, com correlações tanto com a abordagem objetiva quanto com a
subjetiva do sucesso profissional, mas diferente de ambas.
Este artigo tem o objetivo de revisitar e comparar os conceitos de carreira, sucesso e
métodos operacionais de mensuração do sucesso na carreira, discutindo a avaliação da
carreira em três dimensões: objetiva (salários e promoções); subjetiva (realização e satisfação)
e desenvolvimento (por níveis de complexidade do trabalho).
2. O que é carreira?
Hall (2002) apresenta quatro significados distintos que as pessoas atribuem ao termo
carreira: carreira como mobilidade vertical, independente da área, profissão ou organização;
independente da direção up/down; e carreira como seqüência de experiências relacionadas a
funções ao longo da vida, não se limitando a funções profissionais. Ao passo que considerar a
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empregos durante a vida, que parte do princípio que todos os trabalhadores têm carreira,
3
carreira como profissão, tais como, médico, advogado, professor; carreira como seqüência de
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Proposta de um Modelo de Três Dimensões
carreira somente como mobilidade vertical ou profissão seja restrito demais, admiti-la como
história de vida também é muito amplo. Uma melhor delimitação precisa ser apresentada.
London e Stumpf (1982) apresentam a seguinte definição:
Uma carreira é uma seqüência de posições ocupadas e de trabalhos realizados durante
a vida de uma pessoa. A carreira envolve uma série de estágios e a ocorrência de
transições que refletem necessidades, motivos e aspirações individuais e expectativas
e imposições da organização e da sociedade (LONDON e STUMPF, 1982, p. 4).
Esta definição não se limita a profissão ou mobilidade vertical, nem é tão ampla a ponto
de englobar qualquer atividade ou experiência da vida, além do mundo do trabalho, mas
também abrange os trabalhos voluntários e informais.
Segundo Motta (2006), o achatamento hierárquico da empresa moderna descaracteriza a
carreira como postos a galgar. O autor acrescenta à definição de carreira a perspectiva de
desenvolvimento:
Independentemente das organizações, as carreiras se constroem como uma seqüência
de percepções individuais, atitudes e comportamentos que deixam transparecer um
desenvolvimento e um êxito nas experiências de trabalho e de vida de uma pessoa
(MOTTA, 2006, p. 12).
Desenvolvimento profissional pode ser definido como a “capacidade para assumir
atribuições e responsabilidades em níveis crescentes de complexidade” (DUTRA, 2004 p. 65),
onde a complexidade é um conjunto de características objetivas de uma situação, as quais
estão em processo contínuo de transformação (LE BOTERF, 2003).
Hughes (1937) já afirmava que todos têm uma carreira e que, ao desenvolvê-las, damoslhes formas e, ao longo do tempo, mudamos as instituições pelas quais passamos. Hughes foi
um dos primeiros a afirmar o papel transformador do sujeito sobre as instituições no intuito de
construir sua carreira.
Das contribuições apresentadas por London e Stumpf, Motta, Dutra, Le Boterf e
Hughes, a carreira pode ser definida como a seqüência de posições ocupadas durante a vida de
uma pessoa, em função não só dos trabalhos, estudos e outras experiências de vida, mas
também das suas percepções individuais, atitudes e comportamentos profissionais, que
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complexidade, e em constante transformação. Essas posições são influenciadas e negociadas
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resultam em desenvolvimento de competências para lidar com situações de trabalho de maior
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considerando motivos e aspirações individuais, expectativas e imposições da organização e da
sociedade.
3. O que é e como se mede o sucesso na carreira?
Judge et al. (1995) afirmam que o sucesso na carreira pode ser definido como as
realizações percebidas ou reais que os indivíduos têm acumulado como resultado de suas
experiências de trabalho. Esta definição leva em conta somente uma dimensão, a realização
do indivíduo.
A maioria dos pesquisadores tem avaliado o sucesso na carreira por componentes
extrínsecos e intrínsecos. O sucesso extrínseco é relativamente objetivo e observável e
tipicamente consiste de resultados altamente tangíveis tais como pagamento e ascendência
(JASKOLKA, BEYER e TRICE, 1985). Já o sucesso intrínseco é definido como uma
avaliação subjetiva do indivíduo sobre seu sucesso e costuma ser expressa em termos de
emprego, carreira e satisfação com a vida (GATTIKER & LARWOOD, 1988; JUDGE et al.,
1995).
Estas duas dimensões não contemplam a questão da carreira como aprendizagem e
desenvolvimento profissional. Segundo Dutra (2002), em um modelo de gestão de pessoas
composto por três dimensões – movimentação, desenvolvimento e valorização -, a carreira faz
parte da dimensão “desenvolvimento”, e o progresso na carreira é avaliado pela ampliação do
espaço ocupacional e pela capacidade de entregar resultados em níveis maiores de
complexidade. Esta dimensão da carreira que leva em conta o progresso na carreira, mesmo
sem movimentação ou com base em movimentações laterais – e não verticais -, torna-se
particularmente relevante a partir do momento em que as organizações oferecem poucos
níveis para ascendência vertical e a empregabilidade torna-se uma preocupação mais presente
nos planos do trabalhador.
Ainda na perspectiva do desenvolvimento, é importante considerar a proposição da
carreira sem fronteiras, que “é uma seqüência de oportunidades de trabalho que vão além do
cenário de um simples emprego” (DEFILLIPPI e ARTHUR, 1994, p. 309). Está relacionada
com a motivação para o exercício do trabalho (know why), a informação para a execução do
trabalho (know how) e uma rede de relacionamentos que a sustenta (know whom). É o
desenvolvimento e rede de contatos. A carreira sem fronteiras apresenta um novo elemento na
avaliação da carreira, que é a constituição da rede de contatos interna e externa à organização.
Página
independentemente das trajetórias impostas por ela, mas em função das suas perspectivas de
5
indivíduo que organiza suas metas, expectativas e caminho, além dos limites da organização e
Avaliação da Carreira no Mundo Contemporâneo:
Proposta de um Modelo de Três Dimensões
A literatura de carreira, as propostas de avaliação da carreira e as próprias definições de
sucesso contemplam apenas de forma independente as diversas dimensões da carreira
contemporânea. Não há um modelo que integre estas dimensões – compensação (salário e
status do cargo – sucesso objetivo), realização (satisfação com a carreira – sucesso subjetivo)
e desenvolvimento (de competências e da rede de contatos) -, de forma a proporcionar uma
avaliação mais abrangente da carreira profissional.
Como se relacionam as três dimensões da carreira e como elas podem ser avaliadas de
forma integrada?
Pesquisas empíricas precisam ser realizadas para avaliar se as três dimensões são
completamente independentes ou correlacionadas. Para tanto, é necessário analisar como estas
variáveis podem ser operacionalizadas e se há fundamentação teórica sólida para embasá-las.
Antes da análise das variáveis operacionais, partindo da hipótese de independência das
dimensões, a Figura 1 representa como a progressão da carreira no tempo pode acontecer em
cada dimensão. O progresso no tempo está representado em forma de um delta ( = variação)
nestas dimensões:
C - Compensação
t1
C
t0
R
P = progresso na carreira
D
D - Desenvolvimento
R - Realização
Figura 1 – Perspectiva gráfica do progresso na carreira em três dimensões.
No exemplo apresentado na Figura 1, a variação (exibida na figura) do progresso na
carreira ( P), entre o instante t0 e t1 (dois anos, por exemplo), seria pequena em termos de
realização ( R), média em termos de compensação ( C), mas grande em termos de
desenvolvimento ( D).
média ou grande) da variação (delta – ) do progresso na carreira, de acordo com a ocupação
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expectativas entre a pessoa e a organização, prevendo uma ordem de grandeza (pequena,
6
Uma vez validado este modelo de avaliação de carreira, será possível conciliar e avaliar
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ou a estratégia de gestão. Por exemplo, a participação em uma equipe de projeto internacional
pode não oferecer grande progresso em termos de compensação, mas pode trazer média
realização e grande desenvolvimento. Já uma proposta de ocupação baseada em teletrabalho
pode representar um grande progresso em termos de satisfação (realização), sem nenhuma
compensação adicional ou aparente desenvolvimento. A organização pode propor estes tipos
de alterações na relação de trabalho de acordo com o desejo de progresso da pessoa. Há
pesquisas com indícios que pessoas mais jovens desejam mais desenvolvimento e pessoas
mais velhas desejam mais realização (COSTA e CHIUZI, 2009).
4. Como avaliar o sucesso objetivo na carreira?
A avaliação do sucesso objetivo na carreira refere-se à avaliação por parâmetros
externamente e objetivamente mensuráveis. Os mais comuns são as recompensas financeiras,
o nível hierárquico e o número de promoções (STURGES, 1999). A seguir, serão
apresentadas e discutidas algumas formas de avaliar esses parâmetros.
Abele e Spurk (2009) avaliaram o sucesso objetivo na carreira com a seguinte escala:
•
Salário mensal antes das taxas e impostos distribuído em 13 faixas: 0 = sem salário; 0,5 =
salário inferior a 500 euros; 1 = salário inferior a 1.000 euros; 10 = salário inferior a 10.000
euros; e 11 = salário superior a 10.000 euros;
•
Status hierárquico convertido em uma variável com três parâmetros: permissão para delegar
trabalho (0 = não; 1 = sim); responsabilidade sobre projetos (0 = não; 1 = sim); e posição de
liderança oficial (0 = não; 1 = sim). A variável “Status hierárquico” poderia variar entre zero e
três pela soma destas três variáveis.
Van der Heijden et al. (2009) utilizaram três itens:
•
O sucesso objetivo hierárquico foi medido pelo número de promoções, que por sua vez foi
definido como “qualquer incremento no nível hierárquico e/ou qualquer incremento
significativo nas responsabilidades da função ou no escopo da função que os empregados
experimentaram desde que foram contratados pela organização atual (1 = sucesso hierárquico
objetivo na organização) ou durante toda a sua carreira (2 = sucesso hierárquico objetivo na
O sucesso objetivo financeiro foi medido pela renda bruta mensal atual (3).
Página
•
7
carreira)”;
Avaliação da Carreira no Mundo Contemporâneo:
Proposta de um Modelo de Três Dimensões
Ng et al. (2005) fizeram uma análise de vários instrumentos de medida do sucesso
objetivo na carreira e constataram que alguns autores mediam a compensação total, incluindo
salário, bônus, stock options, e outros, ao invés do salário anual. Como a compensação total e
o salário eram variáveis altamente correlacionadas, eles a consideraram como mesma
categoria. Os autores também perceberam que muitos mediam o número de promoções que as
pessoas recebiam em suas carreiras, enquanto outros mediam a taxa de promoção, ou seja, o
número de promoções dividido pelo tempo na organização. Eles optaram por excluir os
estudos de taxa de promoções, porque além do cálculo envolver a estabilidade na organização,
a idade da pessoa era altamente correlacionada com este tempo na organização.
Dries et al. (2009) afirmam que as medidas operacionais das pesquisas sobre preditores
de sucesso nos parâmetros objetivos da carreira geralmente ocorrem de forma não sistemática,
necessitando de muitos detalhes para descrever o estudo e tornando difícil estabelecer teorias
preditivas de sucesso na carreira, em um volume grande de pesquisa acumulada sobre a
questão. Em uma direção diferenciada, os autores propõem uma fórmula para calcular
objetivamente o sucesso na carreira de gerentes, a Medida de Sucesso na Carreira Gerencial
(Managerial Career Success Measure – MCSM), composta de três fatores a serem
multiplicados:
•
Indicador de nível (L): representa o nível hierárquico gerencial dentro do total de níveis
possíveis
a
serem
ocupados
por
um
gerente
na
organização:
Li = (li – 1) / (lmax – 1), onde: li é o atual nível gerencial ocupado pela pessoa, iniciando em 1
do nível gerencial mais inferior; lmax é o número que representa o nível máximo gerencial
possível de ser ocupado na organização. Se o gerente ocupar o menor nível gerencial (igual a
1), o Li é igual a zero, zerando o sucesso na carreira objetiva, uma vez que os indicadores são
multiplicados;
•
Indicador de estabilidade (Y): representa o número de anos nos quais a pessoa ocupa posição
gerencial (yi), relativa ao número máximo de anos que ela poderia ocupá-lo. Um gerente que
assume a posição aos 20 anos e se aposenta aos 65 anos, teoricamente poderia ocupá-la por 45
anos (ymax). Este número varia de país para país em função das leis de aposentadoria. A
fórmula que calcula a estabilidade é:
Indicador de mobilidade (M): representa o número de mudanças de nível hierárquico
gerencial
que
um
gerente
realizou
desde
que
entrou
na
companhia:
Página
•
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Yi = (ymax - yi + 1) / ymax.
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Mi = (li – ls + 1) / lmax, onde li é o nível atual; ls é o nível gerencial ocupado inicialmente na
organização e lmax é o nível máximo que ela poderia ocupar.
A fórmula completa é:
MCMSi = [(li – 1) / (lmax – 1)] * [(ymax - yi + 1) / ymax] * [(li – ls + 1) / lmax] * 100
O valor é multiplicado por 100 por uma vantagem conceitual, podendo a Medida de
Sucesso na Carreira Gerencial variar de zero a 100. O valor é proporcional ao nível gerencial
ocupado e ao número de promoções em nível gerencial obtidas em menor tempo. Um gerente
deveria ser julgado como bem-sucedido em sua carreira quando um máximo de progresso
vertical foi realizado em um mínimo de tempo na organização. Esta medida faz alusão a
reconhecer os empregados de alto-potencial (high potential employees) ou com carreiras
“meteóricas” (fast-track careers), cuja identificação, desenvolvimento e retenção são vistas
como cruciais para o futuro da organização (DRIES et al., 2009).
5. Como avaliar o progresso no nível de complexidade do trabalho?
Dutra (2004, p. 65) conceitua o desenvolvimento profissional da pessoa como carreira,
que é a “capacidade para assumir atribuições e responsabilidades em níveis crescentes de
complexidade”. Avaliar o progresso na carreira em termos de desenvolvimento implica em ter
uma base referencial de níveis de complexidade do trabalho. A seguir, serão apresentados
alguns modelos destes níveis de complexidade.
Dalton e Thompson (1986) criaram uma classificação de estágios da carreira ao estudar
as características das pessoas que são valorizadas nas organizações e consideradas como
pessoas de alto desempenho (high performers). A classificação tem quatro estágios
identificados na Figura 2. Os estágios não são determinados por idade. Há pessoas de todas as
idades em todos os estágios da carreira. Porém, as pessoas que estão nos estágios mais altos –
III e IV – são as que têm em média melhores avaliações de desempenho.
Embora a classificação dos estágios de carreira possa identificar níveis de
meta os estágios III e IV, porque há muitas pessoas nos estágios I e II mais satisfeitas com
Página
reconhecem a fragilidade em determinar que as pessoas nas organizações devam ter como
9
reconhecimento de competências para carreiras nas organizações, os próprios autores
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suas carreiras. Esta constatação sugere que não haja correlação entre os estágios de carreira e
o sucesso subjetivo na carreira.
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Tarefa principal: Desenvolver sub-tarefas sob supervisão;
Papel: Auxiliar;
Questão psicológica: Dependência.
Características:
Trabalha sob supervisão e direção de um profissional mais experiente no campo;
O trabalho nunca é de responsabilidade exclusiva dele(a) e as tarefas são uma parcela de um projeto ou
atividade maior com outro líder.
ESTÁGIO 2
Tarefa principal: Estabelecer competências diferenciadas;
Papel: Colaborador individual;
Questão psicológica: Independência.
Características:
Aprofunda-se em um tipo de problema ou área técnica;
Assume responsabilidade por uma parcela definida do projeto, processo ou clientes;
Trabalha independentemente e produz resultados significativos.
ESTÁGIO 3
Tarefa principal: Guiar, desenvolver, gerenciar interfaces;
Papel: mentor, defensor, integrador;
Questão psicológica: Assumir responsabilidade por outros.
Características:
Envolvido o suficiente em seu próprio trabalho para dar contribuições técnicas significativas, mas começa a
trabalhar em mais que uma área;
Atua com maior amplitude e aplicação de habilidades técnicas;
Estimula os outros por meio de idéias e informações;
Envolvido em desenvolvimento de pessoas em um ou mais dos seguintes modos:
a. Age como um líder da idéia para um pequeno grupo;
b. Serve como um mentor para profissionais mais jovens;
c. Assume uma posição de supervisão formal;
Negocia com externos em benefício da organização, isto é, tem relações externas com organizações clientes,
desenvolvimento de novos negócios etc.
ESTÁGIO 4
Tarefa principal: Definir a direção da organização;
Papel: diretor, patrocinador, estrategista;
Questão psicológica: Assumir responsabilidade pela organização.
Página
Provê direção para a organização por meio de:
a. Mapeamento do ambiente em que está a organização para realçar oportunidades e ameaças;
b. Foco de atividades em áreas de competências distintivas;
c. Gestão do processo pelo qual as decisões são tomadas;
Exercita poder formal e informal para:
a. Iniciar ações e influenciar decisões;
b. Obter recursos e consentimentos;
Representa a organização a:
a. Indivíduos e grupos em diferentes níveis dentro da organização;
b. Indivíduos e instituições fora da organização;
Patrocina indivíduos promissores para testá-los e prepará-los para funções-chave na organização.
10
Características:
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Figura 2 – Características dos estágios de carreira (DALTON e THOMPSON, 1986)
Stamp (1990) criou outra graduação em termos de níveis de complexidade para atuação
em organizações, que ela nomeou “Matriz de relações profissionais” (Matrix of Working
Relationships), dividida em sete níveis caracterizados no Figura 3.
Nível
Tema
Responsabilidades
Horizonte de
tempo
I
Qualidade
Gerenciar a si e a recursos para
um efeito ótimo; decisões práticas
Até 3 meses
II
Serviço
Demonstrar a proposta da
organização em resposta a
situações particulares ou clientes
Até um ano
III
Hábito
Manter várias propostas de modos
sendo realizadas na provisão de
serviços ou produção de bens, ou
seja, os meios
Até dois anos
IV
Desenvolvimento
Gerenciar a relação entre o intento
estratégico e os meios
Até cinco anos
V
Intento
estratégico
Assegurar o bem-estar interno e
externo da organização
Até 10 anos
VI
Cidadania
corporativa
VII
Presciência
corporativa
Obter e definir a inteligência;
alertar e proteger unidades
estratégicas contra excesso de
turbulência; prioridades para
investimento e não-investimento;
representar a organização na
arena transnacional.
Definir e disseminar a visão e os
valores; projetar contextos para
vantagens estratégicas além dos
próximos 25 anos.
Funções típicas
Trabalhador de primeira
linha responsável por
tarefas operacionais
Gestor de primeira linha
ou supervisor; Técnico
de primeiro nível;
Profissional especialista
Gerente médio;
Especialista principal;
primeiro oficial
Gerente geral; líder de
função; especialista ou
profissional chefe
Diretor de subsidiária;
Presidente de uma
unidade estratégica
independen-te;
especialista de grupo
De 15 a 20 anos
Executivo de grupo
corporativo; conselho
corporativo; analista
estratégico
Mais de 20 anos
Presidente (CEO) de
uma organização muito
grande
Figura 3 – Níveis da matriz de relações profissionais – adaptado de Stamp (1990).
A matriz de relações profissionais de Stamp (1990) é mais detalhada e tem níveis
superiores aos mais altos estágios da carreira de Dalton e Thompson (1986), mas ambas só
fazem sentido nas carreiras organizacionais.
O conceito de horizonte de tempo de Stamp é originário dos trabalhos de Elliot Jaques,
da década de 50, no projeto Glacier, cujo objetivo era obter uma referência de salário
julgamento e discrição ao tomar as decisões necessárias para resolver e superar os problemas
11
que surgem enquanto se executa as tarefas. Jaques utiliza um modelo que ele nomeou “níveis
Página
equitativo com base nas capacidades das pessoas. Ele define o trabalho como o exercício de
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Proposta de um Modelo de Três Dimensões
de trabalho” (work levels) para as funções dos gestores e dos subordinados nas organizações
hierárquicas. Este nível é medido em função do período de tempo (time span) de
discernimento do trabalho na função, ou seja, o maior período de tempo durante o qual o uso
do discernimento é autorizado e esperado, sem revisão por um superior (JAQUES e CASON,
1994). Por exemplo, se em uma determinada função, o tempo previsto para a tarefa mais
longa a ser executada sem supervisão é de três meses, o nível de trabalho é da camada I. Se o
tempo máximo é de três meses a um ano, o nível de trabalho é da camada II, e assim por
diante (FIGURA 4).
Camada
Camada VII
Camada VI
Camada V
Camada IV
Camada III
Camada II
Camada I
Tempo previsto para a tarefa mais longa sem supervisão
Acima de 20 anos
De 10 a 20 anos
De 5 a 10 anos
De 2 a 5 anos
De 1 a 2 anos
De 3 meses a 1 ano
De 1 dia a 3 meses
Figura 4 – Níveis de trabalho (JAQUES e CASON, 1994)
Muitos consultores têm utilizado as referências de Jacques, Stamp e Dalton/Thompson
para definir planos de carreira e modelos de gestão por competência nas organizações, mas
não há bases conceituais suficientes para avaliação de carreiras fora do contexto das grandes
organizações, que ainda têm vários níveis hierárquicos.
6. Como avaliar o sucesso subjetivo na carreira?
A avaliação do sucesso subjetivo na carreira leva em conta os sentimentos de realização
e satisfação da pessoa com a própria carreira (JUDGE et al., 1995).
Ng et al. (2005) avaliaram a carreira de forma subjetiva pela escala de satisfação com a
carreira. A escala de satisfação com a carreira (GREENHAUS, PARASURAMAN e
WORMLEY, 1990) é composta de cinco itens, identificados abaixo:
1. Estou satisfeito com o sucesso que tenho alcançado em minha carreira.
2. Estou satisfeito com o progresso que tenho alcançado em direção aos meus
objetivos de renda.
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3. Estou satisfeito com o progresso que tenho alcançado em direção aos meus
12
objetivos de carreira como um todo.
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4. Estou satisfeito com o progresso que tenho alcançado em direção aos meus
objetivos de promoção.
5. Estou satisfeito com o progresso que tenho alcançado em direção aos meus
objetivos de desenvolvimento de novas habilidades.
A escala foi aplicada a gerentes, que indicavam o quanto eles concordavam ou
discordavam com cada declaração usando uma escala de Likert de 5 pontos. O índice de
confiabilidade ( = alpha de Cronbach) da escala é 0,88.
Posteriormente a escala de Greenhaus, Parasuraman e Wormley (1990) foi aplicada em
muitos estudos que avaliavam a influência de outros construtos sobre a carreira subjetiva
(SEIBERT, KRAIMER e LIDEN, 2001; ABELE e SPURK, 2009; DRIES et al., 2009).
Esta escala avalia prioritariamente a satisfação com a carreira em relação à expectativa
anterior ou a objetivos de carreira. Dries et al. (2009) criticam a escala de Greenhaus,
Parasuraman e Wormley (1990), afirmaando que abordagens sócio-psicológicas para avaliar o
sucesso na carreira sugerem a possibilidade de múltiplas dimensões da carreira na abordagem
subjetiva, e que novas medidas deste construto seriam interessantes para avaliar as carreiras
baseadas em realização e não somente na satisfação com o avanço ou progresso vertical.
Judge et al. (1995) consideraram que, se a carreira é uma seqüência de posições
profissionais ocupadas ao longo da vida de uma pessoa (LONDON e STUMPF, 1982), o
sucesso na carreira deveria incluir também, além da escala de satisfação com a carreira de
Greenhaus, Parasuraman e Wormley (1990), a satisfação no trabalho atual como uma
referência de sucesso na carreira de forma subjetiva.
A satisfação no trabalho é um construto que vem evoluindo por décadas, sendo
equiparada inicialmente à própria motivação que levava os trabalhadores a apresentarem
certos indicadores de comportamento organizacional. Este construto representa a totalização
de quanto o indivíduo que trabalha vivencia experiências prazerosas no contexto das
organizações. A escala de satisfação no trabalho (EST), construída e validada no Brasil, é
composta de cinco dimensões: satisfação com o salário, com os colegas de trabalho, com a
chefia, com as promoções e com o próprio trabalho (SIQUEIRA, 2008).
Além da escala de satisfação no trabalho, outra escala que pode conter elementos para
O movimento de psicologia positiva estuda fatores que fazem a vida valer a pena, ao
13
invés da psicologia tradicional, que é uma ciência devotada a diagnósticos e tratamentos de
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avaliar a carreira de forma subjetiva é a escala de satisfação com a vida.
doenças mentais. Um dos fenômenos que a psicologia positiva estuda é o bem-estar subjetivo
Avaliação da Carreira no Mundo Contemporâneo:
Proposta de um Modelo de Três Dimensões
(subjective well-being – SWB). O SWB pode ser decomposto em três partes: afeto positivo
(alegria, otimismo), afeto negativo (tristeza, raiva) e satisfação com a vida (life satisfaction –
LS) (PROCTOR, LINLEY e MALTBY, 2009).
Há escalas de satisfação com a vida unidimensionais e multidimensionais. As
unidimensionais avaliam a satisfação da pessoa com sua vida como um todo, enquanto as
multidimensionais avaliam a satisfação com domínios específicos da vida. Dentre as várias
escalas já validadas, uma que merece atenção neste trabalho é a Extended Satisfaction With
Life Scale (ESWLS) de Alfonso et al. (1996), que avalia nove domínios e serve para um
público de qualquer idade. Os domínios são: geral, sexo, social, escola, família,
relacionamento, si próprio, físico, emprego. Cada fator pode ser excluído conforme a
necessidade do público. A escala contém 50 itens. Posteriormente, esta escala foi ampliada
por Gregg e Salisbury (2001) com mais três domínios: renda, saúde e segurança. Estas,
portanto, de maior interesse para a avaliação do sucesso subjetivo na carreira.
7. O modelo multidimensional de sucesso na carreira
Dries, Pepermans e Carlier (2008) propõem um modelo multidimensional de sucesso na
carreira. O modelo foi construído na Bélgica com base no entendimento que 22 gerentes de
cinco indústrias diferentes tinham sobre a definição de sucesso na carreira. Participaram da
etapa de análise mais 30 experts de carreira e os três autores.
O modelo propõe 42 construtos, agrupados em nove regiões, que por sua vez compõem
uma matriz de quatro quadrantes (FIGURA 5). Uma das regiões – contribuição – ocupou dois
quadrantes e foi dividido em contribuição percebida e real.
No eixo horizontal, de um lado está o sentimento (affect) e, do outro, a realização
(achievement). Os quadrantes do lado esquerdo, do sentimento, contêm as regiões do sucesso
na carreira pelo sentimento da própria pessoa. Os quadrantes do lado direito, da realização,
contêm as regiões associadas a fatos observáveis externamente.
No eixo vertical, a parte inferior refere-se ao intrapessoal e a parte superior ao
interpessoal. O foco intrapessoal é quando a fonte de validação está na própria pessoa, ou
seja, sentimentos e realizações para si própria. O foco interpessoal é quando a fonte de
validação é externa à pessoa, ou seja, são sentimentos e realizações em relação aos outros,
Com os eixos ortogonais, os quatro quadrantes que se formam são:
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dentro do contexto em que a pessoa se envolve ao desenvolver sua carreira.
Costa, Dutra
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I.
Realizações-interpessoais: são realizações (factuais) em relação aos outros ou ao
contexto. Este quadrante contém três regiões de significado: desempenho
(sucesso em termos de atingir resultados em um conjunto de metas observáveis);
promoção (sucesso em termos de progredir e crescer em termos de nível e
experiência); e contribuição real (sucesso em termos de contribuir com algo
tangível à coletividade, tanto para a organização quanto para as pessoas);
II. Realizações-intrapessoais: são realizações para si. Este quadrante contém duas
regiões de significado: desenvolvimento (sucesso em termos de alcançar seu
máximo potencial através da autogestão de desafios e experiências de
aprendizagem); e criatividade (sucesso em termos de criar algo novo ou
extraordinário);
III. Sentimentos-intrapessoais: são sentimentos de sucesso em relação a si próprio.
Este quadrante contém duas regiões de significado: segurança (sucesso em
termos de suprir suas necessidades financeiras e de emprego); e satisfação
(sucesso em termos de alcançar satisfação pessoal e felicidade, tanto na família
quanto no trabalho);
IV. Sentimentos-interpessoais: são sentimentos de sucesso na carreira na sua relação
com os outros, no contexto da organização ou da sociedade. Este quadrante
contém três regiões de significado: reconhecimento (sucesso em termos de
sentir-se adequadamente recompensado e apreciado por seus esforços e
talentos); cooperação (sucesso em termos do sentimento de realizar bom
trabalho junto aos pares, superiores, subordinados e clientes); e contribuição
percebida (sucesso em termos de sentir-se satisfeito com seu serviço à sociedade
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através do trabalho, de forma ética).
Avaliação da Carreira no Mundo Contemporâneo:
Proposta de um Modelo de Três Dimensões
Interpessoal
IV
I
7 – Reconhecimento
1 – Desempenho
8 – Cooperação
2 – Promoção
9a – Contribuição percebida
9b – Contribuição real
Sentimento
Realização
5 – Segurança
3– Desenvolvimento
6 – Satisfação
4 – Criatividade
III
II
Intrapessoal
Figura 5 – Quadrantes do modelo muldimensional de sucesso na carreira – adaptada de
Dries, Pepermans e Carlier (2008)
A Figura 6 apresenta os 42 construtos do modelo multidimensional de sucesso na
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QUADRANTE I – Conquista-interpessoal
1 - Desempenho
• Ser bem-sucedido na realização de metas de desempenho.
• Trabalhar em um ciclo contínuo de motivação, ação, resultados e crescimento.
• Ter bom desempenho na relação esforço-resultado, demonstrando que faz um bom trabalho.
• Fazer esforço extra para conquistar coisas boas.
• Estar motivado e focado, continuamente perseguindo novas metas.
• Destacar-se; ser o melhor naquilo que faz.
2 – Promoção
• Ser ambicioso: querer progredir, tanto horizontalmente quanto verticalmente.
• Ter experiências diversas para construir uma carreira, para crescer dentro da organização.
• Obter promoções; subindo na organização.
9b - Contribuição real
• Demonstrar que é valioso para a organização.
• Dirigir uma equipe de trabalho em um ciclo contínuo de motivação, ação, resultados e crescimento.
• Ser capaz de exercer poder ou influência; deixando sua marca.
• Ser um elo importante no processo que conduz ao sucesso da organização.
QUADRANTE II – Conquista-intrapessoal
3 – Desenvolvimento
• Realizar as próprias metas.
• Obter crescimento e desenvolvimento pessoal como resultado das experiências profissionais.
• Obter desenvolvimento pessoal pela aprendizagem através de experiências diversas.
• Ter aprendizagem contínua de várias formas
• Adquirir muitas experiências, dentro e fora do trabalho.
• Adquirir conhecimento formal.
• Ser capaz de expressar-se através do trabalho e das realizações.
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carreira, dentro das respectivas regiões (DRIES, PEPERMANS e CARLIER, 2008).
Costa, Dutra
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• Ser capaz de gerenciar e mapear a própria carreira; alcançar tudo por si próprio.
• Criar oportunidades na vida.
4 – Criatividade
• Trabalhar criativamente; realizar inovação, ter idéias extraordinárias.
QUADRANTE III – Sentimento-intrapessoal
5 – Segurança
• Ter liberdade para comprar o que deseja; não ter restrições financeiras.
• Sentir estabilidade e segurança (de trabalho).
6 – Satisfação
• Estar satisfeito com o equilíbrio vida-trabalho.
• Estar feliz com tudo que tem e com todas as possibilidades atuais.
• Sentir-se saudável e feliz, tanto em casa quanto no trabalho.
• Permitir que a família tenha um papel importante na sua vida junto com sua carreira.
• Sentir satisfação e auto-realização em função das suas conquistas pessoais.
• Sentir-se bem; experimentando um caloroso sentimento interior.
• Ter orgulho de si mesmo e das próprias conquistas.
• Perseguir a independência como uma fonte importante de felicidade.
QUADRANTE IV – Sentimento-interpessoal
7 – Reconhecimento
• Ser reconhecido pelas próprias realizações; provando seu valor.
• Ser respeitado e apreciado pelos colegas de trabalho.
• Receber compensação boa e justa; tendo o que merece em relação ao seu desempenho.
8 – Cooperação
• Ter boa relação com o empregador; do tipo que nem sempre requer palavras.
• Valorizar as pessoas, conforme elas façam diferença na organização.
• Estar entre pessoas e cooperar com elas.
9a - Contribuição percebida
• Contribuir pessoalmente para o bem-estar da organização – e também para a sociedade como um todo.
• Acreditar ter realizado coisas positivas, de forma ética.
• Perceber que uma pessoa pode fazer um mundo de diferença em uma organização.
Figura 6 – Regiões e construtos do modelo de Dries, Pepermans e Carlier (2008)
Este modelo leva em consideração as várias áreas da vida que as pessoas consideram ao
se auto-avaliarem em relação às suas carreiras. As várias regiões propostas pelos autores
representam aspectos da carreira e da vida que balizam a percepção de sucesso na pessoa que,
após algum tempo de trabalho, avalia sua vida profissional e se considera mais ou menos
bem-sucedida.
Considerações finais
O artigo apresenta três dimensões da avaliação da carreira: objetiva, subjetiva e
desenvolvimento. A avaliação objetiva refere-se à compensação pelo trabalho, ou seja, ao
salário e às promoções obtidas; a avaliação subjetiva está ligada ao sentimento de realização,
trabalhos cada vez mais complexos.
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desenvolvimento representa a capacidade obtida ao longo da vida profissional em atuar em
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ou seja, à percepção interna de sentir-se feliz e satisfeito com a carreira; e a perspectiva do
Avaliação da Carreira no Mundo Contemporâneo:
Proposta de um Modelo de Três Dimensões
A operacionalização da avaliação objetiva, embora realizada de formas diferentes entre
os autores apresentados, basicamente usa como referência a progressão salarial e o número de
promoções. No mundo contemporâneo, as promoções em termos de cargos é menos
freqüente, sendo comum as movimentações horizontais e o reconhecimento pelo trabalho,
independente da mudança de cargo, nível ou status. Além disso, dependendo do nível salarial,
boa parte da compensação é obtida por meios indiretos, como recompensas em stock options,
subsídios educacionais, carros, computadores e outros serviços de atendimento às
necessidades pessoais e familiares. Com o intuito de propor um modelo que não seja
exclusivo do mundo corporativo, a avaliação objetiva da carreira pode ser medida
considerando somente a compensação anual obtida, incluindo todos os benefícios
transformados em valores monetários.
A avaliação do desenvolvimento faz todo o sentido em termos de avaliação externa da
carreira no mundo contemporâneo, pois as fronteiras entre os cargos são muito tênues e as
pessoas têm de duas a três grandes transições na carreira durante a vida, tendendo a aumentar
essa quantidade de transições nos próximos anos, pela própria mudança das oportunidades de
trabalho.
Ter uma referência para avaliar a carreira em termos de complexidade do trabalho vai
além de uma única trajetória e pode ser aplicada para alguém que ora exerce uma atividade de
nível gerencial em uma pequena empresa, mas que depois exerce um cargo de direção de uma
faculdade e, posteriormente, torna-se um empresário de um negócio virtual que atua dentro e
fora do país. Aparentemente estes trabalhos são incomparáveis, porém seu nível de
complexidade pode ser avaliado, se houver uma referência sólida de níveis de complexidade
de trabalho que sirva para todos ou a maioria dos tipos de trabalho.
Pelas referências apresentadas neste artigo em termos de operacionalização do conceito
de complexidade de trabalho, há ainda uma carência conceitual mais sólida para definir os
níveis de complexidade de forma mais abrangente. Os modelos apresentados atendem, até
certo ponto, às carreiras gerenciais organizacionais, mas não servem aos profissionais liberais
e às pessoas que fazem transições de carreira radicais.
A avaliação subjetiva da carreira já é mais plausível em termos de operacionalização. O
modelo multidimensional de Dries, Pepermans e Carlier (2008) abre caminho para a
vários aspectos da vida profissional e suas interfaces. Apesar dos autores terem identificado as
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regiões e os construtos que as compõem com base em uma pesquisa com gerentes, elas
Página
construção de um instrumento de percepção de sucesso na carreira, levando em conta os
servem de referência, com maior ou menor peso, para o que as pessoas consideram como uma
Costa, Dutra
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carreira bem sucedida, ou seja, ter bom desempenho, galgar postos almejados, contribuir com
a sociedade, desenvolver-se como pessoa, criar algo diferente para a sociedade, ter segurança
material e empregabilidade, sentir-se satisfeito com a vida pessoal, familiar e profissional, ser
reconhecido pela sociedade, pela família, e pelas organizações, cooperar com os colegas de
trabalho e obter resultados em equipe.
Embora o ideal fosse avaliar a carreira também de forma objetiva e por
desenvolvimento, a percepção que a pessoa tem da sua carreira é o que a direciona
efetivamente para as tomadas de decisão. Na era do conhecimento e num ambiente
profissional instável, levar em consideração como o indivíduo interpreta sua própria carreira
passa a ser tão relevante quanto as possibilidades apresentadas para o crescimento na carreira
de forma objetiva dentro e fora da organização (ARTHUR, KHAPOVA e WILDEROM,
2005).
Bailyn (2006) afirma que a definição organizacional de sucesso e as trajetórias de
carreira que delas resultam geralmente não são congruentes com as necessidades e orientações
individuais, e isto tem conseqüências negativas tanto para a satisfação com o trabalho e para a
eficácia organizacional.
De qualquer forma, é muito importante que haja pesquisas no sentido de operacionalizar
a avaliação do nível de complexidade do trabalho que as pessoas realizam, não só para
avaliação do progresso na carreira, mas também para servir de parâmetro para uma equidade
de compensação. De posse da instrumentação em termos de avaliação do desenvolvimento, o
modelo proposto de avaliação da carreira em três dimensões pode ser melhor analisado,
inclusive para estudos das correlações entre elas e evolução do modelo de forma integrada.
Por fim, as mudanças contemporâneas levam à necessidade de repensar os instrumentos
de avaliação de carreiras, tanto pelas pessoas quanto pelas organizações, a fim de se ter
indicadores para uma conciliação de expectativas entre pessoas e organizações mais adequada
à variedade de possibilidades de carreira no século XXI.
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