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PÓS-GRADUAÇÃO NO INPE: A ALIANÇA
PESQUISA-DESENVOLVIMENTO E ENSINO
MARIA LÍGIA MOREIRA
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da Universidade Estadual de Campinas – SP
[email protected]
LÉA VELHO
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Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas – SP
[email protected]
RESUMO
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de especialistas para desenvolver as suas atividades, o instituto inicialmente se apoiou em uma
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ABSTRACT
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strategies adopted to build its graduate studies center. We also present a picture of the students
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purpose of identify and analyze part of the results obtained by this education center.
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Cadernos de
de Pesquisa,
Pesquisa, v.v.39,
jan./abr. 2009
Cadernos
39, n.136,
n. 136,p.243-268,
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A produção de conhecimento, a educação continuada, e a emergência
da chamada “sociedade do conhecimento” foram fortemente impulsionadas no
período posterior à Segunda Grande Guerra. As rápidas mudanças científicas e
tecnológicas estiveram diretamente relacionadas com a capacidade dos países
em investir no desenvolvimento dos recursos humanos que nelas atuaram e
que as direcionaram. Como apontado por Gibbons et al. (1994), a condução,
difusão e aplicação da ciência não poderiam estar confinadas às universidades
e aos centros acadêmicos, o que motivou a organização de novos arranjos
institucionais entre governos, universidades, indústria e outras organizações
privadas. Assim, a geração do conhecimento extrapola os limites das instituições
tradicionalmente dedicadas ao ensino e pesquisa, quais sejam, as universidades.
Neste sentido, na década de 60, a decisão do Brasil de desenvolver
pesquisas na área espacial levou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
– Inpe – a criar estratégias para a aliança entre as suas atividades de pesquisa
e desenvolvimento e as de ensino, já nos primeiros anos de sua existência.
Originado do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades
Espaciais – Gocnae –, como principal órgão de execução civil para o desenvolvimento das pesquisas espaciais no Brasil, o Inpe, desde o início, teve entre seus
objetivos a constituição de um núcleo de pesquisadores e técnicos brasileiros
especializados. Mirando-se no progresso americano, o instituto contou com
alguns “desbravadores”, em especial o então diretor científico, Dr. Fernando
de Mendonça, cuja visão era de que o sistema de pós-graduação – PG – representaria uma contribuição indispensável à formação de recursos humanos
qualificados – e escassos no país naquele momento – e ao fortalecimento do
potencial científico-tecnológico nacional.
No mesmo período em que o país ingressou no pequeno grupo de países
que desenvolviam atividades espaciais, houve várias ações por parte do Estado
para a organização da pós-graduação brasileira. Considerando-se a importância
da formação de recursos humanos em nível de pós-graduação como parte
da política científica e tecnológica do país e outras formas de condução dessa
atividade – para além dos muros das universidades – o objetivo central desse
trabalho é analisar o contexto mais geral, os objetivos e as estratégias do Inpe
na organização de seu núcleo de PG, com destaque para alguns resultados
obtidos. Para isso, são apresentados parte da história desse núcleo e o perfil
dos egressos dos programas de Astrofísica e Geofísica Espacial. Mais especifi-
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camente, este trabalho procurou responder às seguintes questões: Como se
deu a organização do núcleo de PG no Inpe? Quais foram os objetivos e as
estratégias para a constituição desse núcleo? Quais os resultados alcançados
pela PG em quatro décadas? Tais resultados são coerentes com os objetivos
para os quais a PG no Inpe foi criada? Qual o perfil acadêmico e profissional
dos egressos?
Para responder a essas questões, o trabalho foi desenvolvido em duas
etapas. Primeiramente, procurou-se conhecer os principais marcos da instituição formal da PG no Brasil a partir da década de 50 e, nesse contexto,
descrever o início das atividades de PG no Inpe. Essa descrição tem como foco
central a identificação das premissas e objetivos da criação da PG no instituto.
Em seguida, para conhecer os resultados obtidos pela PG, foram coletadas
informações sobre os egressos dos programas de Astrofísica e de Geofísica
Espacial, derivados do Programa de Ciência Espacial – PCE. O PCE foi um
dos primeiros organizados pelo instituto e representa uma área de atuação
tradicional desse (Perilo, Nascimento, Silva, 1992). Foram utilizados dados dos
egressos obtidos no Serviço de Pós-Graduação do Inpe e na Plataforma Lattes
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
Para a seleção dos egressos, uma vez que nem todos disponibilizaram
seus dados na Plataforma Lattes, considerou-se para a amostra aqueles que
registraram a última titulação, visto que conhecer o perfil acadêmico foi um
dos objetivos do trabalho. Os dados da “última titulação” foram relacionados
com os da “instituição de destino” com o objetivo de se saber se os egressos
estão ativos na pesquisa, onde atuam e como se distribuem segundo o nível de
titulação. Considerou-se como tendo perfil de pesquisador aquele com, pelo
menos, o grau de doutor, uma vez que este grau é exigido para os que buscam
auxílios à pesquisa (no CNPq, por exemplo) e para os que atuam em programas
de PG. As informações sobre a área de graduação dos alunos de mestrado
e doutorado foram utilizadas para analisar se houve, no decorrer do tempo,
políticas de seleção direcionadas a uma ou outra área de graduação específica.
Para o levantamento da história do Inpe, foi utilizado material bibliográfico disponível em sua biblioteca. As informações sobre a constituição da
pós-graduação no Brasil, disponíveis no portal eletrônico da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes – e do CNPq, assim
como os dados disponíveis na Plataforma Lattes, foram fundamentais para o
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trabalho. Por intermédio da Plataforma Lattes, foi possível resgatar os dados
de 70% dos egressos do mestrado e 68% dos egressos do doutorado. Ao
descrever a trajetória dos programas, inicialmente foi apresentado o número
total de formados. No entanto, para análise do perfil acadêmico e profissional,
visto que há egressos do doutorado que também realizaram o mestrado no
Inpe, considerou-se o número de indivíduos formados em cada um dos programas, e não o número de alunos formados em cada curso, a fim de evitar
a duplicidade de informação. Deste modo, as informações sobre o perfil dos
egressos do mestrado e doutorado estão agregadas por programa.
PÓS-GRADUAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DE CIÊNCIA E
TECNOLOGIA
Como apontado por Martins (2005), um dos fenômenos mais significativos no ensino superior brasileiro é o sistema nacional de pós-graduação. A
constituição desse sistema derivou de ações por parte do Estado – no processo
de organização e financiamento – e da participação da comunidade acadêmica.
Concebida como capaz de formar os cientistas de que o país precisava para
atingir os mais altos níveis de competência e desenvolvimento, a PG no Brasil
foi institucionalizada a partir da década de 50.
No processo de institucionalização do sistema de PG podem ser destacados alguns marcos: a criação do Conselho Nacional de Pesquisas – CNPq
(atualmente Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
e da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
Capes (atualmente Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior) em 1951; a publicação do Parecer n.977, da Câmara de Ensino Superior do Conselho Federal de Educação, em 1965; a promulgação da Reforma
Universitária, em 1968; e a publicação do Parecer n.77/69.
As missões do CNPq e da Capes no sistema de PG convergem em
termos de uma política de formação de recursos humanos. A Capes se volta
mais para as questões de ensino e o CNPq, para a pesquisa. O objetivo básico
do CNPq foi, desde o início, fomentar as atividades de pesquisa, por meio
de auxílios para a manutenção de laboratórios, além de capacitar científica e
tecnologicamente os profissionais mediante concessão de bolsas de estudo.
Com essa política, já em 1951 o CNPq concedeu 48 bolsas de fomento à
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pesquisa no país e no exterior. Uma década depois, foram concedidas 299
bolsas no país e 20 bolsas no exterior; e em 1971 foram concedidas 2.163
bolsas no país e 95 no exterior, entre bolsas de iniciação à pesquisa, formação
e qualificação, e estímulo à pesquisa (CNPq, 2006). O decreto de criação do
CNPq definia entre suas atribuições:
a) Promover investigações científicas e tecnológicas [...]
b) Auxiliar a formação e o aperfeiçoamento de pesquisadores e técnicos, organizando ou cooperando na organização de programas especializados [...]
concedendo bolsas de estudo ou de pesquisa e promovendo estágios em
instituições técnico-científicas e em estabelecimentos industriais no país ou no
exterior. (Brasil, 1951)
Na década de 70, o CNPq passou a coordenar o Sistema Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – SNDCT –, criado para formalmente organizar a ação governamental na área de Ciência e Tecnologia – C&T.
O Decreto n.70.553/72, de criação do SNDCT, delimitou as áreas de competência na formulação e execução da política nacional de desenvolvimento do
setor de C&T, atribuindo ao CNPq as tarefas de assessoramento sob o ponto
de vista científico e tecnológico.
Este decreto estabeleceu que as atividades do setor devessem ser organizadas sob a forma de um sistema, no qual se deveriam integrar todas as
entidades usuárias de recursos governamentais para quaisquer fins vinculados
à pesquisa científica e tecnológica. Estabeleceu também o esquema que iria
orientar a elaboração dos Planos Básicos de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico. Coube ao CNPq a função de articulador da política de C&T, na
qual a formação de recursos humanos era uma das missões estratégicas.
Paralelamente, a Capes tem desempenhado, desde a sua criação, papel
de fomento ao sistema de pós-graduação, fornecendo subsídios ao Ministério
da Educação na formulação de políticas para esse segmento, na coordenação
e estímulo à formação de recursos humanos para a docência em grau superior,
para a pesquisa e para o atendimento da demanda por profissionais dos setores públicos e privados. Além da concessão de bolsas no país e no exterior, a
Capes atua no apoio à infraestrutura do sistema, no custeio de dissertações e
teses, e apoio a outras atividades acadêmicas.
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A agência tem por finalidades a elaboração de planos de atuação setoriais
ou regionais; promoção de estudos e avaliações necessários ao desempenho
de suas atividades; apoio ao processo de desenvolvimento científico e tecnológico nacional; manutenção do intercâmbio e contato com outros órgãos da
Administração Pública ou entidades privadas nacionais e internacionais. Dentre
as responsabilidades da Capes está a de elaborar a proposta do Plano Nacional
de Pós-Graduação, acompanhando e coordenando a sua respectiva execução.
Esses planos têm sido, segundo Soares et al.
Elemento crucial na construção do sistema, imprimindo uma direção para sua
consolidação e institucionalização. Através deles realizaram-se diagnósticos sobre
a situação da pós-graduação e foi formulado um conjunto de metas e de ações
que em grande parte foram cumpridas. (2002, p.74)
A Capes criou, a partir da década de 70, um sistema de acompanhamento
e avaliação da pós-graduação que, apesar de incompleto e de analisar mais
quantitativamente do que qualitativamente (Hortale, 2003; Spagnolo, Calhau,
2002), tem tido um papel importante na consolidação do sistema, contribuindo
para que os programas aumentem e mantenham um padrão de qualidade. O
sistema de credenciamento também é um dos pontos fortes da política da
Capes. Como apontado por Martins et al.:
Um dos êxitos desse sistema deve-se à montagem de um eficiente método de
credenciamento, no qual se analisa não apenas a pertinência da abertura dos
cursos, mas suas condições acadêmicas de funcionamento [...], procurando
detectar e sanar suas possíveis falhas. (2000, p.55)
Ao lado dessas instituições, ao longo do tempo foram construídos dispositivos legais para a sustentação e o direcionamento do sistema. Em 1961,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação fez uma referência explícita aos programas de PG, embora de maneira bastante ampla, mencionando que estes
se configuravam, entre as modalidades de ensino, como “programas abertos
à matrícula de candidatos que hajam concluído a graduação e obtido os respectivos diplomas” (Brasil, 1961). Foi o Parecer 977/65, da Câmara de Ensino
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Superior do então Conselho Federal de Educação, que de fato foi fundamental
para criar e expandir a PG no país, uma vez que formou o balizamento legal
da estrutura e do funcionamento dos programas.
O texto do parecer 977/65 (Brasil, 1965) está subdividido nos tópicos:
definição da pós-graduação; origem; necessidade, conceito; o exemplo da PG
nos Estados Unidos; a PG na LDB de 1961; a PG e o Estatuto do Magistério;
definição e característica do mestrado e doutorado. De acordo com o parecer,
a PG tem como objetivos a formação de um corpo docente preparado e competente e de pesquisadores de alto nível, e a qualificação profissional de outros
quadros técnico-administrativos necessários ao desenvolvimento nacional.
Outro documento a ser destacado é a Lei n.5.540/68 (Brasil, 1968), da
Reforma Universitária, a qual estabeleceu, no Art. 17, que “nas universidades
e nos estabelecimentos isolados de ensino superior” poderiam ser ministrados,
entre outros, programas de PG, abertos à matrícula de candidatos diplomados
em programas de graduação que preenchessem as condições prescritas em cada
caso. A lei definiu que caberia ao Conselho Federal de Educação conceituar os
programas de PG e baixar normas gerais para a sua organização.
O parecer n.77/69, no contexto da Lei 5.540/68, estabeleceu os procedimentos, requisitos e condições para o credenciamento dos programas de PG.
Relatado por Newton Sucupira, fixou as exigências explicitadas e defendidas no
parecer n.977/65, também do mesmo autor. Podem ser destacados: o processo
de credenciamento e re-credenciamento a cada cinco anos, o estabelecimento
de que o credenciamento dos programas de PG seria concedido mediante
parecer do Conselho Federal de Educação e homologado pelo Ministro da
Educação e Cultura, e a definição dos requisitos básicos para a organização
e funcionamento dos programas, inclusive a qualificação do corpo docente e
sua produção científica.
De acordo com Martins (2005), os pareceres n.977/65 e n.77/69 tiveram importância fundamental, tanto no conceito como no formato da PG.
Após quatro décadas da edição desses pareceres, a constituição do sistema da
PG brasileira é um dos melhores resultados da política científica e tecnológica
brasileira. Pelos resultados apresentados pela PG e pelo seu padrão de qualidade, constata-se que o país, com a atuação da comunidade acadêmica, do
CNPq e da Capes, e apoiado nos instrumentos legais que orientam o funcionamento da PG, foi capaz de constituir um amplo e diversificado sistema que
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representa a dimensão de maior êxito do ensino brasileiro (Matos, Velloso,
2002; Martins, 2005).
Início das atividades de pós-graduação no Inpe
Na década de 60, enquanto o sistema de pós-graduação estava sendo
organizado, o Inpe (então Gocnae) dava os primeiros passos para a constituição de seu núcleo de PG. A formação de recursos humanos foi um objetivo
explícito do instituto desde a sua criação:
...exercer outras atividades que se relacionem com as atribuições, previstas no
presente artigo, inclusive o desenvolvimento de intercâmbio técnico-científico
e a cooperação internacional, D SURPRomR GH IRUPDomR GH HVSHFLDOLVWDV e a
coordenação entre as atividades espaciais e a indústria brasileira. (Brasil, 1961,
Art. 2º, grifo nosso)
Naquele período, programas de PG em funcionamento regular quase inexistiam no país, como expressou o Parecer n.977/65 e o Decreto
n.63.343/68. Segundo o decreto, que tratou da implantação de centros de
pós-graduação, as universidades nacionais, naquela época, não dispunham de
recursos humanos e materiais suficientes que permitissem a criação de programas de pós-graduação nos diferentes campos do conhecimento. Embora
não tivesse caráter universitário, mas como órgão subordinado ao CNPq,
alinhando-se aos objetivos desse e diante da necessidade de desenvolver
competências na área espacial, até então raras no país, o Inpe,
...decidiu assumir esse papel [de ensino] porque o Brasil não contava, na época,
com centros educacionais voltados para a preparação de especialistas em pesquisa
e em desenvolvimento espacial. (Oliveira, 1991, p.34)
Em 1963 foram iniciadas as atividades de pesquisa e a formação do
grupo de pesquisadores. Foi ainda formalizado o planejamento da “vida futura
da organização” (Inpe, 1974), que estabeleceu para o período 1968-1972 a
ênfase na formação de pessoal, logo após o período da implantação do insti-
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tuto. Seguindo esse objetivo, o Inpe criou, em 1966, o Programa Porvir para
formar especialistas, mestres e doutores, tanto no campo da ciência espacial,
como no das aplicações de interesse do país em meteorologia, comunicações
educacionais, levantamento de recursos naturais, transferência de tecnologia e
computação aplicada. O programa buscava “motivar todos os seus elementos
humanos a darem contribuição válida para o desenvolvimento do país” (Kamoi,
Ribeiro, 1976, p.42). Uma das diretrizes do programa era sugerir assuntos
de tese que abordassem os problemas reais nas áreas de saúde, agricultura,
educação etc.
A partir de 1966, com o apoio do CNPq e de outros órgãos internacionais, o Inpe enviou estudantes brasileiros para o exterior. Uma equipe de
pesquisadores foi para os Estados Unidos para fazer doutorado em universidades como as de Stanford, da Califórnia, de Michigan e de Cornell. Nos anos
seguintes, outros pesquisadores foram para universidades francesas e inglesas
(Oliveira, 2003, p.34).
Como ocorreu em outras instituições (Martins, 2005), o retorno dos
pesquisadores que se especializaram no exterior e a vinda de pesquisadores de
outros países contribuíram com a implantação dos primeiros programas no Inpe.
O período da publicação do Parecer n.977/65 foi chamado por Saviani
(1988) de “período heróico”, porque foi necessário criar as condições para a
implantação de pós-graduação stricto sensu praticamente a partir “do nada”. A
pós-graduação do Inpe também viveu esse “período heróico”. A organização
dos primeiros programas contou com atores institucionais cuja formação era,
na maioria dos casos, de pesquisa e tecnologia, mas que se empenharam em
traçar também os perfis pedagógicos dos cursos e, à medida que delineavam a
condução dos projetos da instituição, também colaboravam com os currículos
dos programas.
Em 1971 o Gocnae foi extinto e foi criado o Instituto de Pesquisas
Espaciais, subordinado ao CNPq e sob orientação da Comissão Brasileira de
Atividades Espaciais – Cobae. A formação de recursos humanos continuou a
ser um dos principais objetivos do instituto:
...promover a formação e o aperfeiçoamento de pesquisadores e técnicos;
organizar programas especializados ou cooperar na organização dos mesmos;
conceder bolsas de estudo ou de pesquisa e promover estágios em instituições
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técnico-científicas e em estabelecimentos industriais do País ou do Exterior.
(Brasil, 1971, Art. 3º)
O Decreto n.69.905, de 1972, que estabeleceu o primeiro Regimento
do Inpe, definia as atribuições de uma área de ensino, à qual se subordinava a
“Seção de Formação e Orientação” que, juntamente com o Comitê Acadêmico,
os Coordenadores de Área e o Corpo Docente, formavam o sistema de ensino
no instituto. À Seção de Formação e Orientação caberia: “A organização dos
programas e programas de pós-graduação e dos outros programas aprovados,
e da orientação das atividades escolares dos alunos” (Brasil, 1972, Art. 34).
Nessa fase, já havia programas em andamento nas áreas de ciência
espacial e da atmosfera, eletrônica e telecomunicações, análise de sistemas e
aplicações, sensores remotos e aplicações, computação aplicada e tecnologias
educacionais, conduzidos por um corpo docente formado principalmente pelos
pesquisadores e tecnologistas do instituto. Os programas tinham objetivos bem
definidos, alinhados aos objetivos dos projetos que estavam nascendo e aos
objetivos dos programas stricto sensu expressos no Parecer n.977/65 e no texto
da Reforma Universitária. Ou seja, tinham natureza acadêmica e de pesquisa,
eram voltados para a formação de pesquisadores para os projetos do Inpe e
de docentes que viriam a atuar nos próprios programas.
Segundo Kamoi e Ribeiro (1976), os candidatos aos programas eram
escolhidos com base na sua classificação nas universidades, sendo selecionados
aqueles colocados no primeiro terço superior das suas turmas. Deste modo,
o instituto procurava garantir o nível de excelência nos trabalhos acadêmicos
e de pesquisa, uma vez que os alunos se dedicavam aos estudos e ao trabalho
no próprio instituto.
Integrando ensino, pesquisa e desenvolvimento, no início da década
de 70 foi implantado o mestrado em Tecnologias Educacionais, originado
do Projeto Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares (Saci). O
objetivo do projeto era a teleducação com emprego de satélites. A integração
ensino-pesquisa buscava permitir a atualização e o conhecimento científico
no desenvolvimento de tecnologias educacionais próprias e transferência de
tecnologias desenvolvidas em outras partes do mundo. Os alunos dedicaramse à elaboração de materiais didáticos, técnicas de avaliação e no reestudo de
procedimentos de ensino (Inpe, 1974). Dentre as contribuições desse projeto
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para a educação do país destacam-se a introdução da primeira experiência de
aplicação da tecnologia de satélites na educação e, pelo programa Tecnologias
Educacionais, a formação de 64 mestres em educação entre 1970 e 1974,
dentre os quais muitos vieram a atuar no ensino superior brasileiro. Uma
característica marcante, de acordo com Andrade (2005), é que o programa
esteve intimamente ligado à prática. Uma vez que o projeto Saci integrava uma
área de desenvolvimento, o programa Tecnologias Educacionais teve caráter
de “treinamento em serviço”.
Na década de 70, dentro da política modernizadora do governo, o sistema científico e a formação de recursos humanos eram vistos como elementos
de importância estratégica. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico do
país se dava com a participação de investimentos estrangeiros (Morel, 1979),
o que reforçava a dependência científica e tecnológica dos países “periféricos”
como o Brasil que se vinculavam aos “centrais” na forma de uma parceria em
que era maior a compra de NQRZKRZ do que o desenvolvimento de competência própria, inclusive a competência dos recursos humanos. Nesse contexto,
a política de PG adotada pelo Inpe convergiu para o objetivo do país de criar
uma massa crítica nacional que pudesse impulsionar o desenvolvimento pela
competência própria e, paralelamente, ao inter-relacionar as dissertações, teses e projetos com a realidade e as necessidades nacionais, o instituto buscou
contribuir para a solução de problemas reais do país.
O mestrado em Engenharia de Sistemas, criado em 1968, teve por objetivo formar profissionais especializados em técnicas de gerenciamento para
empreendimentos de grande porte e para responder à “necessidade de capacitação de pessoal na área científica e tecnológica em sistemas e planejamento,
administração e capacitação gerencial” (Kamoi, Ribeiro, 1976, p.7). Inspirandose no complexo sistema montado pelos Estados Unidos para gerir o projeto
Apollo, que culminou com a primeira viagem do homem à Lua em julho de
1969 (Oliveira, 1991), esse programa buscava a formação e aperfeiçoamento
de recursos humanos capazes de gerar ideias e dar assessoramento em política
científica para o setor espacial, e aptos a atuar no planejamento, controle e
avaliação de projetos. Entre 1968 e 1976, o programa formou 114 mestres.
Os primeiros programas do Inpe possuíam características sui generis
(Inpe, 1974). O relatório enviado para o CNPq com o pedido de credenciamento do programa de Ciência Espacial ressaltava que no Inpe o ensino estava
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intimamente associado à pesquisa, com professores lecionando apenas um ou,
no máximo, dois programas, e o resto do tempo atuando na pesquisa; e que, de
maneira similar, os alunos assistiam aulas pela manhã e pela tarde trabalhavam
em projetos, “desenvolvendo assim experiência maior que a obtida simplesmente em trabalhos de tese ou dissertação” (Inpe, 1974). Com essa política
de integração ensino-pesquisa, os estudantes não eram somente estudantes
de pós-graduação, mas ao lado de experientes pesquisadores participavam
ativamente nos projetos.
Como resultado do esforço dedicado ao ensino, ao longo de quatro
décadas o instituto formou 1.346 mestres e 290 doutores, como mostra o
quadro a seguir.
GRÁFICO 1
ALUNOS FORMADOS PELO INPE ENTRE 1968 E 2005
Alguns dos programas iniciados na década de 60 foram extintos, outros desmembrados ou reestruturados. Atualmente o instituto conta com os
programas de Astrofísica, Geofísica Espacial, Sensoriamento Remoto, Meteorologia, Engenharia e Tecnologias Espaciais e Computação Aplicada. A tabela
1 apresenta o ano de reconhecimento dos programas que foram extintos ou
desmembrados.
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TABELA 1
ANO DE RECONHECIMENTO DOS PROGRAMAS
EXTINTOS OU DESMEMBRADOS
Programa
Ciência Espacial (desmembrado em 1994)
Tecnologias Educacionais (transferido para Universidade
Federal do Rio Grande do Norte em 1974)
Análise de Sistemas (extinto em 1990)
Eletrônica e Telecomunicações (extinto em 1989)
Mestrado
1968
-
Doutorado
1973
-
1971
1968
1973
1982
Todos os programas atualmente em andamento são reconhecidos pela
Capes. A tabela 2 apresenta o ano de reconhecimento desses programas.
TABELA 2
ANO DE RECONHECIMENTO DOS PROGRAMAS EM ANDAMENTO
Programa
Computação Aplicada
Astrofísica
Geofísica Espacial
Engenharia e Tecnologia Espaciais
Meteorologia
Sensoriamento Remoto
Mestrado
1968
1994
1994
1994
1968
1972
Doutorado
1974
1994
1994
1994
1974
1998
A racionalidade sobre a qual se estruturou a PG no Inpe, qual seja, a da
relação estreita entre ensino, pesquisa e atividade em projetos concretos de
desenvolvimento e produção, encontra respaldo na literatura que analisa o papel da formação de recursos humanos nos processos de inovação tecnológica.
Segundo Mowery e Sampat (2004), a condução em conjunto da pesquisa e
ensino, sob as circunstâncias apropriadas, permite que cada uma das atividades possa ser realizada de modo mais eficaz. Essa condução permite que os
estudantes sejam agentes ativos no processo de aprendizagem. Ao envolver os
alunos na pesquisa, os programas do Inpe estimularam que esses ultrapassassem
a fronteira dos rituais meramente acadêmicos. Na avaliação de Hill (2006),
o envolvimento dos alunos em projetos concretos de pesquisa e desenvolvimento é importante especialmente para a transmissão dos componentes
tácitos do conhecimento. No exemplo do Inpe, a integração pesquisa-ensino
é possivelmente a melhor estratégia adotada na estruturação do núcleo de PG.
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Para que se possa, na prática, verificar se as premissas conceituais e o
formato de PG adotado pelo Inpe atingiram o objetivo planejado – a formação
de especialistas na área espacial, de forma a atender tanto as necessidades do
Inpe como a de outras instituições atuando no setor – foi feita a análise detalhada com os egressos de dois programas. É disso que trata a próxima seção.
Trajetória dos programas de Astrofísica e Geofísica Espacial
Os programas de Astrofísica e Geofísica Espacial fizeram parte do Programa de Ciência Espacial – PCE –, primeiramente denominado Ciência Espacial
e da Atmosfera, organizado a partir de 1968. O PCE inicialmente contou com
áreas de concentração em Combustão e Propulsão, e Astrogeofísica. A partir
de 1972 foi criada a área de concentração em Mecânica Orbital. Em 1980 teve
início a área de concentração em Radioastronomia e Astrofísica.
Durante a década de 70, entre os principais objetivos do Inpe estava
a formação e aperfeiçoamento de pessoal científico nas áreas de Geofísica e
Astrofísica (área de concentração Astrogeofísica), para que o país reforçasse
sua posição na comunidade científica mundial e pudesse vir a ter sua própria
tecnologia. Essas áreas estavam vinculadas à Missão Ciência Espacial que, no
período 1976-1979, era responsável por 55% das publicações do instituto em
periódicos de circulação internacional (Inpe, 1980).
Alguns dos projetos relacionados com o PCE na década de 70 eram: a
formação de engenheiros especializados em sistemas de propulsão de foguetes,
meteorologia por satélites, estudos radioastronômicos, desenvolvimento de
técnicas de medidas geofísicas e astrofísicas por meio de balões estratosféricos,
entre outros. Naquela década, os mestres e doutores obtinham o título em
Ciências Espaciais e da Atmosfera.
Em 1994 houve o desmembramento do PCE, e as áreas de concentração
em Astrogeofísica e Astrofísica deram origem a programas isolados. A área de
Combustão e Propulsão e a área de Mecânica Orbital passaram a ser áreas
de concentração do Programa de Engenharia e Tecnologia Espacial – ETE. A
figura a seguir mostra a organização do PCE até 1994.
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FIGURA 1
ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO DO PROGRAMA DE CIÊNCIA ESPACIAL ATÉ 1994
Programa de Geofísica Espacial
Embora o programa tenha sido reconhecido em 1994, o mestrado
existe de fato desde 1968 e o doutorado desde 1974, ambos como áreas de
concentração do PCE. O programa formou os primeiros mestres do Inpe
em 1968. Os dois primeiros doutores do programa se formaram em 1980.
Segundo o regimento, os seus objetivos são:
...formação de pessoal já graduado, preferencialmente nas áreas de ciências
exatas e engenharias, capacitando-os a atuar nas áreas de ensino, pesquisa e
aplicações em universidades, institutos de pesquisas e empresas, em questões
que envolvam o desenvolvimento da pesquisa espacial ou, ainda, advindas do
conhecimento direto de ciência ou de tecnologia associada.
GRÁFICO 2
MESTRES E DOUTORES EM GEOFÍSICA ESPACIAL (POR DÉCADA)
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Desde o início, o programa contou com docentes pesquisadores do
próprio instituto. Entre 1968 e 2005, formaram-se 103 mestres e 70 doutores.
O gráfico a seguir apresenta o número de formados por década.
Perfil dos mestres e doutores
A maior parte dos mestres e doutores obteve graduação em instituições
públicas, em maior número nas áreas de Física e Engenharias, seguidas por
Astronomia, Ciência da Computação e Meteorologia; em instituições como
a Universidade de São Paulo – USP –, a Universidade Estadual do Rio de
Janeiro – UERJ – e Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. A falta de
homogeneidade na formação, identificada já na década de 70 seria, segundo
o Relatório de Atividades do Inpe de 1975, compensada por disciplinas que se
destinavam a nivelar os conhecimentos. Atualmente não há disciplina específica
para esse fim. Essa heterogeneidade ao longo dos anos não permite afirmar
que em algum período tenha sido dada prioridade a uma ou outra área de
graduação em determinados períodos, embora a maior parte dos que ingressaram no programa tenham sido da área de Física.
GRÁFICO 3
ÁREAS DE GRADUAÇÃO DOS MESTRES E DOUTORES
EM GEOFÍSICA ESPACIAL
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Dos mestres formados no Inpe, 38% realizaram também o doutorado
no instituto. A última titulação de 56% dos egressos é o doutorado, de 38%,
o pós-doutorado é de 6%, o mestrado. Entre os doutores formados, 55% já
concluíram também o pós-doutorado.
Quanto à instituição de destino, 85% dos egressos estão no Inpe ou em
instituições de ensino superior (Tab. 3). Dos que estão no Inpe, a maior parte
tem como última titulação o pós-doutorado e atua como pesquisador efetivo
ou como bolsista do CNPq. Dos egressos, 8% atuam em outras instituições
de C&T, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA –, o Ministério do
Meio Ambiente, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp.Os demais egressos (13%) não
informaram a instituição de destino.
TABELA 3
INSTITUIÇÕES DE DESTINO DOS MESTRES E DOUTORES EM GEOFÍSICA
INSTITUIÇÃO DE DESTINO
Inpe
Instituição de ensino superior
Outras instituições de C&T
Instituição de ensino médio
% DE EGRESSOS
57%
28%
6%
9%
A relação entre as instituições de destino dos egressos e a última titulação
obtida mostra que aqueles que concluíram o pós-doutorado se concentram
no Inpe. Aqueles que têm como última titulação o doutorado, distribuem-se
entre o Inpe e as instituições de ensino. A distribuição por nível de titulação é
apresentada na tabela a seguir:
TABELA 4
ÚLTIMA TITULAÇÃO E INSTITUIÇÃO DE DESTINO
DOS MESTRES E DOUTORES EM GEOFÍSICA ESPACIAL
PERCENTUAL DE EGRESSOS
Última titulação
Mestrado
Doutorado
Pós-Doutorado
Outras
Instituições
Inpe
instituições de
de ensino
68%
42%
75%
C&T
16%
8%
3%
superior
37%
19%
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Não
informaram
16%
13%
3%
Total
100%
100%
100%
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Quanto ao vínculo com o Inpe, observou-se que a maior parte daqueles
que obtiveram os títulos entre 1968 e 1999 são atualmente ocupantes de cargos
efetivos. No entanto, o vínculo com o Inpe daqueles que se formaram entre
2000 e 2005 se dá principalmente por meio de bolsas de agências de fomento
à pesquisa. Esse quadro reflete a política de contratação do governo federal nos
últimos anos que retraiu a contratação de pesquisadores em cargos efetivos. Por
sua vez, esse quadro mostra a forte atuação das agências, sobretudo o CNPq,
no incentivo a permanência de pesquisadores e alunos-bolsistas na instituição.
Programa de Astrofísica
O programa teve início como área de concentração do PCE em 1980,
com a transferência do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie,
do Observatório Nacional para o Inpe, por determinação do CNPq. Em 1994,
com o desmembramento do PCE, a área de concentração passou a ser o
Programa de Astrofísica.
O regimento do programa aponta que o objetivo deste é “formar especialistas e realizar pesquisa científica nas várias áreas da Astrofísica”. Segundo a
coordenação do programa, os tópicos das dissertações e teses são, em geral,
intimamente vinculados aos projetos e atividades de pesquisas em desenvolvimento na Divisão de Astrofísica do Inpe.
Entre 1982 e 2005, formaram-se 65 mestres e 34 doutores em Astrofísica, conforme o gráfico a seguir:
Perfil dos mestres e doutores
A maior parte dos egressos obteve graduação em Física (68%), principalmente em instituições públicas, dentre as quais a USP e a UFRJ. Os graduados
em instituições privadas vieram em maior número da Universidade Mackenzie.
O ingresso de graduados em Física se distribui ao longo do tempo no programa,
mesclando-se a outras áreas como Astronomia e Matemática, entre outras
(Gráf. 5). Como ocorre no programa de Geofísica Espacial, a heterogeneidade
na graduação dos alunos ao longo dos anos não permite afirmar que em algum
período tenha sido dada prioridade a uma ou outra área de graduação, embora
a maioria dos alunos se concentre na área de Física.
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GRÁFICO 4
ALUNOS FORMADOS EM ASTROFÍSICA ENTRE 1980 E 2005
GRÁFICO 5
ÁREAS DE GRADUAÇÃO DOS MESTRES E DOUTORES EM ASTROFÍSICA
Aproximadamente metade dos egressos do mestrado realizou também o
doutorado no Inpe. A última titulação de 18% dos egressos é o mestrado, de
43%, o doutorado e de 39%, o pós-doutorado. A maior parte dos doutores
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formados continuou sua formação acadêmica, concluiu ou está cursando o
pós-doutorado.
Quanto à instituição de destino, 89% dos egressos estão no Inpe ou
em instituições de ensino superior (Tab. 5). Dos que estão no Inpe, aproximadamente metade tem como última titulação o pós-doutorado e atua como
pesquisadores, alunos-bolsistas ou com outras bolsas do CNPq. Dos que
estão em instituições de ensino superior, 53% têm o doutorado como última
titulação e 30%, o pós-doutorado.
TABELA 5
INSTITUIÇÕES DE DESTINO DOS MESTRES E DOUTORES EM ASTROFÍSICA
INSTITUIÇÃO DE DESTINO
INPE
Instituição de Ensino Superior
Outras Instituições de C&T
Instituição de Ensino Médio
% DE EGRESSOS
46%
43%
9%
2%
A inserção de mais de 40% dos egressos como pesquisadores no Inpe
mostra que o programa tem atendido principalmente a demanda interna,
contribuindo diretamente para as várias áreas da Astrofísica. E mais, o número
expressivo de egressos que atuam como professores mostra que o programa
não só tem contribuído para a formação de pesquisadores como também de
agentes difusores do conhecimento espacial em instituições de ensino.
Ao relacionar a instituição de destino e a última titulação obtida, procurou-se saber se a relação nível de formação e atuação em pesquisa se
confirmaria, considerando que a formação continuada é uma característica
comum daqueles que se dedicam à pesquisa. Os resultados mostram que sim.
A maioria dos que buscam a formação continuada tem vínculo com instituições
de pesquisa, principalmente com o Inpe, onde há maior concentração dos que
obtiveram os mais altos graus acadêmicos. A tabela 6 mostra a relação entre
a última titulação obtida e as instituições de destino dos mestres e doutores
do programa.
Observa-se um grande número de egressos vinculados a instituições de
ensino superior, principalmente como professores. Dentre essas instituições
está a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp –, a
Universidade Presbiteriana Mackenzie e a Universidade Federal de Minas Ge-
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rais – UFMG. Outras instituições de Ciência e Tecnologia como o ComandoGeral de Tecnologia Aeroespacial – CTA – e o Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas – CBPF – também são instituições em que há egressos do programa.
TABELA 6
ÚLTIMA TITULAÇÃO E INSTITUIÇÃO DE DESTINO
DOS MESTRES E DOUTORES EM ASTROFÍSICA
Última
titulação
Mestrado
Doutorado
Pós-Doutorado
Inpe
40%
39%
57%
PERCENTUAL DE EGRESSOS
Outras
Instituições
Instituições de
instituições de
de ensino
ensino médio
C&T
superior
10%
40%
10%
13%
48%
5%
38%
-
Total
100%
100%
100%
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao se analisar o contexto em que constituiu o núcleo de pós-graduação
do Inpe, percebe-se que a história desse núcleo está entrelaçada com a história
do instituto. Não seria possível separá-las. Desde o início, o Inpe buscou favorecer o “casamento da pesquisa com a pós-graduação”, em um processo de
aprendizado fortemente impulsionado pelas interações da pesquisa, experiência
prática e ação, que permitem aos alunos “aprenderem fazendo” e “aprenderem
interagindo”. Nesse processo, o instituto tem contado com a atuação de atores individuais que se alinham aos objetivos do instituto na direção de formar
recursos humanos para compor seus quadros e o de outras instituições.
Embora na década de 60 o país estivesse em um contexto de dependência científica e tecnológica em relação aos países “centrais”, principalmente
aos Estados Unidos, o Inpe buscou constituir personalidade própria na pósgraduação. Desde o início, o instituto perseguiu os objetivos de interação
com a realidade nacional, aliança de pesquisa e ensino, e formação de recursos humanos para atuar em atividades espaciais que, se não “completas”,
são sobretudo “brasileiras”. Ainda que não seja uma universidade, o instituto
abraçou o desafio de formar recursos humanos, mostrando a viabilidade de
novos arranjos institucionais para a produção do conhecimento. O número
de formados e a contribuição dos egressos dos dois cursos estudados para o
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Instituto e para outras instituições de ensino e pesquisa dão um panorama da
contribuição do núcleo de PG do Inpe para o avanço das atividades espaciais
e do conhecimento sobre o espaço no Brasil.
Os resultados obtidos com os dados dos egressos dos programas de
Astrofísica e Geofísica Espacial apontam que a formação continuada é uma
característica comum dos formados. Observa-se também que aqueles que
têm maior nível de titulação estão em maior número em instituições de pesquisa. Além desses que atuam diretamente no desenvolvimento de atividades
espaciais, há um grande número de egressos em instituições de ensino superior, ou seja, atuando na difusão do conhecimento na área espacial. Como a
contribuição dos programas para a formação do quadro de pesquisadores do
Inpe é bastante representativa, durante a análise dos dados foram levantadas
informações sobre a composição do quadro de servidores da Coordenação
de Ciências Espaciais e Atmosféricas – CEA – do Inpe, área a que se vinculam
aos programas. Atualmente, 61% dos doutores ativos na CEA são egressos
dos programas do Inpe, o que reafirma a contribuição dos programas para a
qualificação do pessoal da própria instituição.
As instituições de C&T em que os egressos atuam são públicas, o que já
seria esperado, visto que são essas que concentram as atividades de pesquisa
espacial no país. A falta de atores institucionais da iniciativa privada, que é uma
das características do programa espacial brasileiro, sem dúvida dificulta a inserção profissional dos mestres e doutores. Em virtude disso, muitos não têm
vínculo empregatício, principalmente os formados nos anos mais recentes. É
importante ressaltar que só entre os anos 2000 e 2005 foram concedidos 97
títulos de mestre e doutor nos programas de Geofísica Espacial e Astrofísica do
Inpe e grande parte desses egressos ainda não tem vínculo profissional efetivo.
A limitação do Inpe para absorver os pós-graduados nos últimos anos e a falta
de oportunidades de inserção em outras instituições são questões que chamam
a atenção e que certamente requerem outros estudos, pois extrapolam os
objetivos desse trabalho.
Ao se analisar como o Inpe organizou suas estratégias de constituição
do núcleo de PG, constata-se que a principal característica do instituto é a
aliança pesquisa-desenvolvimento-ensino, mediante um modelo inovador de
produção do conhecimento.
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Recebido em: março 2007
Aprovado para publicação: janeiro 2008
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