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Análise dos modelos de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Município de Maputo: 1999-2013
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ÍNDICE
PÁGINAS
Declaração de Honra ......................................................................................................................................................i
Epígrafe ........................................................................................................................................................................ ii
Dedicatória .................................................................................................................................................................. iii
Agradecimentos ............................................................................................................................................................iv
Lista de tabelas .............................................................................................................................................................vi
Lista de Abreviaturas.................................................................................................................................................. vii
Resumo ...................................................................................................................................................................... viii
Capitulo I: Elementos Introdutórios..........................................................................................................................1
1.1.
Introdução ....................................................................................................................................................1
1.2.
Contexto Histórico da Gestão dos Resíduos sólidos em Moçambique ........................................................3
Capitulo II: O estudo...................................................................................................................................................7
2.1.
Objecto do estudo e Delimitação do Tema ..................................................................................................7
2.2.
Justificativa e Relevância do estudo.............................................................................................................7
2.3.
Objectivos do estudo:...................................................................................................................................8
Objectivo Geral:...........................................................................................................................................8
Objectivos específicos: .................................................................................................................................8
2.4.
Problematização ...........................................................................................................................................9
Pergunta de Partida: ...................................................................................................................................10
2.5.
Hipóteses....................................................................................................................................................10
Capitulo III: Metodologia .........................................................................................................................................11
3.1.
Tipo de pesquisa: .......................................................................................................................................11
3.2.
Método de abordagem:...............................................................................................................................11
3.3.
Método de procedimento............................................................................................................................12
3.4.
Técnicas de recolha de dados .....................................................................................................................12
Capitulo IV: Enquadramento teórico e conceptual ................................................................................................14
4.1.
Quadro Teórico ..........................................................................................................................................14
4.1.
Quadro conceptual .....................................................................................................................................16
4.2.
Revisão da Literatura .................................................................................................................................19
Breve história de surgimento dos resíduos sólidos e sua classificação ......................................................19
Licenciatura em Administração Pública,
Elias Langa
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Classificação dos resíduos sólidos ...............................................................................................................19
Caracterização física dos resíduos sólidos ...................................................................................................21
Sistemas da recolha dos Resíduos sólidos Urbanos .....................................................................................23
Tipos de transportes usados na colecta de resíduos sólidos no país.............................................................24
Associações e cooperativas de reciclagem em Moçambique:......................................................................27
Formas de deposição final dos resíduos Sólidos urbanos: ...........................................................................27
Gestão dos resíduos sólidos como um problema da Administração Pública ...............................................29
Impacto da gestão dos resíduos sólidos Urbanos no meio ambiente e na saúde .........................................31
Papel da educação ambiental na Gestão dos Resíduos sólidos ....................................................................33
4.3.
Gestão dos resíduos sólidos no Município de Maputo durante a governação de Artur Canana, Eneas
Comiche e David Simango......................................................................................................................................34
Artur Canana (1999-2003) ..........................................................................................................................34
Horário de recolha de lixo vigente na Cidade de Maputo até 2003 ............................................................36
Equipamento de transporte de lixo pertencente ao CMM até ao ano 2003 .................................................36
Eneas Comiche (2004-2008).......................................................................................................................37
Resumo das quantidades dos RSU produzidos diáriamente na cidade de Maputo .....................................37
Sistema de gestão dos RSU.........................................................................................................................37
Veículos disponíveis no CMM até 2007 .....................................................................................................40
Outros intervenientes no processo de gestão dos resíduos sólidos..............................................................40
David Simango (2009-2013).......................................................................................................................41
Esquema de recolha dos Resíduos sólidos nas zonas suburbanas ...............................................................42
Esquema da recolha dos resíduos sólidos nas zonas urbanas......................................................................43
Equipamento disponível na ENVIROSER e ECOLIFE para a recolha dos resíduos sólidos .....................44
Capitulo V: Apresentação e Discussão dos Resultados da Pesquisa .....................................................................45
5.1.
Enquadramento Geográfico da cidade de Maputo .....................................................................................45
5.2.
Análise crítica do Actual modelo de GRSU...............................................................................................46
Análise FOFA do actual modelo de GRSU ................................................................................................52
Capitulo VI: Conclusões e Recomendações .............................................................................................................53
6.1.
Conclusões .................................................................................................................................................53
6.2.
Recomendações para a implantação de um modelo sustentável de GRSU ................................................54
Referências Bibliográficas...........................................................................................................................................58
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Maputo: 1999-2013
Trabalho de Fim do Curso em cumprimento dos requisitos exigidos para a obtenção do grau de
licenciatura em Administração Pública na Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Letras
e Ciências Sociais, Departamento de Ciência Política e Administração Pública.
O Licenciando
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Elias Bartolomeu Langa
O Supervisor
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Licenciatura em Administração Pública,
Presidente de Júri
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Elias Langa
O Oponente
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Declaração de Honra
Declaro que este trabalho nunca foi apresentado na essência, para a obtenção de qualquer grau e
resulta da minha investigação, estando ao longo do texto e nas referências bibliográficas
indicadas as fontes utilizadas.
O Declarante
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(Elias Bartolomeu Langa)
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Elias Langa
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Epígrafe
“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito. Não sou o
que deveria ser, mas Graças a Deus, não sou o que era antes”.
(Martin Luther King)
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Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus Pais, Bartolomeu Langa e Palmira Chirindza, que sempre foram
e serão exemplo de carácter e dignidade. E pelo ensinamento de que o estudo é o único bem que
realmente é meu.
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Elias Langa
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Agradecimentos
Após uma longa caminhada de mil e quatrocentos e sessenta (1460) dias, consegui realizar este
feito. No entanto, nada disso seria possível, se não fosse o apoio e a presença de alguns
envolvidos que estiveram comigo durante a longa trajectória.
Sendo assim, aqui vão os meus agradecimentos:
À DEUS, meu PAI e criador, pela dádiva de vida e por me fortalecer a cada nascer do sol.
Aos meus Pais, aos quais devo parte do que tenho e do que sou. Agradeço a dedicação, confiança
e o apoio emocional que depositaram em mim e nos meus estudos. A sua presença significou
segurança e certeza de que não estou sozinho nessa longa e maravilhosa caminhada.
Ao meu supervisor, Dr. Tomás Heródoto Fuel, que dedicou o seu precioso tempo para tutelar
esse trabalho. O seu olhar crítico e construtivo ajudou-me a superar os desafios e a perceber que
a diferença entre o impossível e o possível encontra-se na força de vontade, no esforço e na
dedicação. Sou eternamente grato.
A todo corpo docente do Departamento de Ciência Politica e Administração Pública da
Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, pela paciência,
tolerância e persistência em compartilhar os seus conhecimentos e experiências com os
estudantes.
Aos meus amigos, Carlota “idiota”, Matuassa “menino maravilha”, Maguengue “Guenguito”,
Tsamuele “meu puto”, Selito “seleman”, Onofre “meu irmão”, Zandamela “mupfana wanga”,
que ouviram os meus desabafos, presenciaram e respeitaram as minhas derrotas e sucessos,
partilharam este longo passar de anos, acompanhando, rindo, chorando, sentindo, participando,
aconselhando e dividindo as suas companhias com este jovem esforçado. Com vocês aprendi que
a amizade é tudo para uma pessoa. Agradeço por terem sido e por serem o que são na minha
vida, e por terem me suportado. As alegrias de hoje também são vossas, pois os vossos estímulos
e carinhos foram armas para a minha vitória.
À turma especial, o meu muito obrigado, pois vocês são uma família que jamais irei me
esquecer, cada um de vós teve a sua contribuição para a materialização deste trabalho.
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Ao grupo “ Estudantes Unidos em Cristo”, palavras me faltam para descrever o quão importante
vocês foram na minha vida, com vocês aprendi que com a Fé não existe limites.
À “family 3001”, pelos momentos únicos proporcionados.
Finalmente, e não menos importante, o meu muito obrigado se estende a todos que directa ou
indirectamente contribuíram para a materialização deste trabalho. Muito Khanimambo!
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Lista de tabelas
Tabela 1 : Classificação dos resíduos sólidos e sua respectiva proveniência;
Tabela 2: Categoria dos RSU;
Tabela 3:Sistema de Recolha dos RSU;
Tabela 4: Tipos de transportes usados na colecta dos RSU;
Tabela 5: Opções em termos de dias da semana para a recolha dos RSU;
Tabela 6: Opções em termos de horários de recolha;
Tabela 7: Exemplos em termos de Associações e cooperativas de Reciclagem;
Tabela 8: Métodos de Educação Cívica;
Tabela 9: Estimativa da produção dos RSU;
Tabela 10: Horário de recolha dos RSU;
Tabela 11: Equipamentos para a recolha dos RSU;
Tabela 12: Quantidade dos resíduos sólidos produzidos diáriamente;
Tabela 13: Contentores disponíveis para a remoção dos resíduos sólidos em 2004;
Tabela 14: Veículos disponíveis no CMM em 2007;
Tabela 15: Equipamento disponível na Eviroserv e Ecolife; e
Tabela 16: Análise FOFA.
Lista de Figuras
Figura 1: Exemplo de recolha primária na zona de Maxaquene;
Figura 2: Exemplo de um camião compactador que faz a recolha na zona urbana;
Figura 3: Exemplo de uma lixeira a céu aberto;
Figura 4: Residências ao lado da lixeira;
Figura 5: Exemplo de recolha dos RSU porta a porta; e
Figura 6: Exemplo de um camião Skip Loader e compactador;
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Lista de Abreviaturas
AMOR – Associação Moçambicana de Reciclagem;
CMM – Conselho Municipal de Maputo;
CONSOL – Cooperação de Maputo para Soluções Ambientais;
DSMSS – Departamento dos Serviços Municipais de Saúde e Salubridade;
DMGRSUS- Direcção Municipal de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos e Salubridade;
EDM – Electricidade de Moçambique;
GRSU – Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos;
MICOA – Ministério para Coordenação da Acção Ambiental;
PDGRS – Plano Director de Gestão dos Resíduos Sólidos; e
RSU – Resíduos Sólidos Urbanos;
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Resumo
O presente trabalho foi desenvolvido a partir de dados recolhidos no Conselho Municipal de
Maputo, conjugados com a revisão bibliográfica relativa à gestão dos resíduos sólidos urbanos e
entrevistas estruturadas a todos os actores envolvidos no processo. Este procurou numa primeira
fase explorar a maneira como foi sendo feita a gestão dos resíduos sólidos no Município, no
período compreendido entre 1999-2013, de forma a fazer uma análise profunda do actual modelo
no referente ao envolvimento dos diferentes actores no processo de gestão. A investigação
pretende contribuir para fortalecer a compreensão da gestão dos resíduos sólidos no Conselho
Municipal de Maputo, tendo em conta a sua dimensão ambiental, económica e social. O estudo
também pretende desenvolver um quadro de boas práticas de gestão dos resíduos sólidos. Como
decorrente da análise dos procedimentos do actual modelo de gestão municipal dos resíduos
sólidos, o estudo mostra que a terciarização dos serviços de limpeza urbana às empresas e
associações privadas trouxe resultados positivos no referente à cobertura dos serviços para zonas
que antes encontravam-se excluídas no acesso a este serviço básico, ao mesmo tempo que
permitiu a geração de renda familiar. Para além das oportunidades, o estudo identifica também
os desafios que se encontram associados ao processo de terciarização. Não obstante, o estudo
conclui que o processo de terciarização adoptado pelo Conselho Municipal constitui uma
condição necessária, mas não suficiente para estancar a problemática do lixo, recomendando a
necessidade de introdução de um processo de gestão integrado dos resíduos sólidos com
responsabilidade partilhada entre os diferentes stakeholders1
Palavras Chave: Descentralização, Participação e Gestão de resíduos sólidos
1
Partes interessadas.
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Capitulo I: Elementos Introdutórios
1.1.
Introdução
O Presente estudo intitulado, “Análise dos modelos de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos no
Município de Maputo: 1999-2013”, faz parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau
de licenciatura em Administração Pública pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da
Universidade Eduardo Mondlane.
Este trabalho procura apresentar uma proposta para a gestão dos resíduos sólidos urbanos no
Município de Maputo, preocupando-se em buscar alternativas economicamente atractivas e
ambientalmente sustentáveis, que valorizem recursos renováveis e possibilita a melhoria das
condições de vida das populações carentes que passam a vida colectando lixo na lixeira de
Hulene.
A urbanização, o crescimento dos bairros, os fluxos migratórios internos associados ao aumento
exponencial na produção dos resíduos sólidos urbanos, tem desafiado o Conselho Municipal de
Maputo a enfrentar novas realidades.
A cidade de Maputo gera cerca de 1.135.000 toneladas de lixo por ano, mas uma ínfima parte do
volume é submetido ao tratamento de reciclagem e o restante depositado na lixeira de Hulene,
sem nenhum tratamento, o que por sua vez, afecta o solo ao alterar as suas características físicoquímicas, representando dessa forma, uma ameaça à saúde púbica, devido ao ambiente propício
ao desenvolvimento de transmissores de doenças.
Com vista a reverter esse cenário, o Governo Central através do MICOA, aprovou em 2012 a
Estratégia Nacional de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos que prevê varias acções dentre elas
a criação de Banco de Dados, elaboração de Planos de Gestão dos Resíduos Sólidos e de outros
instrumentos específicos nos municípios, visando a promoção de formas adequadas de
tratamento e destinação adequada dos resíduos sólidos urbanos até o ano 2025.
Percebendo que a problemática dos resíduos sólidos na cidade de Maputo cresce e se agrava, o
presente trabalho busca aprofundar um estudo que aborde a gestão dos resíduos sólidos urbanos
em toda a sua complexidade, olhando para a responsabilidade de cada stakeholder envolvido no
processo e indicando soluções baseadas na sustentabilidade ambiental, social e económica.
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Neste caso, o presente estudo é constituído por seis (6) capítulos. O primeiro inclui a presente
introdução, seguida de uma breve contextualização histórica da gestão dos resíduos sólidos
urbanos em Moçambique e em particular no Conselho Municipal de Maputo.
O segundo capítulo apresenta o objecto a delimitação, a justificação e a relevância, os objectivos,
a problematização, a questão de partida e as hipóteses do estudo. O terceiro apresenta os
procedimentos metodológicos adoptados na operacionalização do estudo, destacando o tipo de
pesquisa, método de abordagem, método de procedimento e técnicas de recolha de dados. O
quarto capítulo apresenta o enquadramento teórico conceptual, sublinhando a linha teórica de
orientação do estudo, a conceituação dos termos essenciais para a compreensão do estudo e a
revisão da literatura relacionada com as boas práticas de gestão dos resíduos sólidos urbanos em
geral e em Moçambique, concretamente no Conselho Municipal de Maputo (CMM).
O quinto reserva-se a apresentação e discussão de dados, iniciando pelo enquadramento
geográfico do Município de Maputo, seguidamente da análise crítica do actual modelo de gestão
dos resíduos sólidos urbanos e a respectiva análise FOFA2.
Finalmente, o sexto capítulo apresenta as conclusões gerais decorrentes das constatações do
presente estudo e respectivas recomendações. O trabalho conta ainda com referências
bibliográficas e anexos.
2
Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças.
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1.2.
Contexto Histórico da Gestão dos Resíduos sólidos em Moçambique
Actualmente o mundo apresenta tendências de evolução diversificada, reveladoras de
significativas transformações
na organização
do
espaço, da emergência
de novas
territorialidades, de modificações nas velhas relações cidade e campo, de recomposições nas
dinâmicas sociais em contínua experimentação e da definição de novas culturas urbanas.
No caso de Moçambique, um dos fenómenos mais interessantes dessa tendência na geografia do
País são os crescentes níveis de urbanização das cidades, causados pela grande migração da
população rural para áreas urbanas.
A aglomeração populacional aliada aos padrões de consumo, padrões de deslocamento e às
actividades económicas urbanas, exercem intensos impactos sobre o meio ambiente em termos
de consumo de recursos e eliminação de resíduos (Bernardo, 2008).
Para melhor compreenção o processo de gestão de resíduos sólidos pelo CMM, mostra-se
necessário, numa primeira fase, compreender a forma como estava organizada a estrutura
administrativa e política do País no período colonial e pós colonial. No período colonial, as áreas
urbanas3 e rurais4 estiveram sob a autoridade política administrativa do estado centralizado. O
modelo administrativo colonial determinava a existência de representantes políticos nas cidades
que presidiam as câmaras municipais5 (CMM, 2010).
Segundo a Postura Municipal de 1998, a câmara municipal de Lourenço Marques encontrava-se
dividida em duas zonas distintas: a zona urbana e suburbana. Nesse período, os serviços de
limpeza e recolha dos resíduos eram prestados de acordo com as características de cada zona. Na
3
A área urbana era constituída por dois bairros: O 1º Bairro abrangia a parte sul da cidade, entre a baía e uma linha
que acompanha o trajecto que engloba todos os fogos confinantes com os arruamentos que se mencionam:
Largo dos Pioneiros, Av. 24 de Julho, Rua de Capelo, Rua de Lidemburgo, Av. Trabalho (sentido leste), Rua de
Correia Monteiro, Rua Estácio Dias, Rua João Albasini, Largo José Albasini, Av.Caldas Xavier, Av. Lisboa, Av. D.
Maria José Mouzinho de Albuquerque, Av. Augusto de Castilho, Avenida Joaquim de Araújo, Av. António Enês e
estrada para a Ponta do Mar.
2º Bairro compreende a parte norte da cidade, integrada no foral entre o trajecto definido no 1º e nos actuais limites
do foral de Lourenço Marques, delimitado pelos Portarias nºs 1131, de 5 de Abril de 1919, 18233, de 2 de Janeiro de
1965, e 20 416, de 1 de Julho de 1967.
4
A área rural era constituída pela área situada entre os limites do foral e os limites do concelho, delimitada pelos
Portarias nºs 12 624, de 19 de Agosto de 1958, e 18 005, de 12 de Setembro de 1964.
5
Estas câmaras não tinham poderes vinculativos e os seus membros eram escolhidos pelas autoridades governantes
portuguesas para darem apoio ao executivo hierárquico unitário, na coordenação e implementação de planos, numa
hierarquia que culminava no governador colonial da província ultramarina de Moçambique.
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zona da cidade, a limpeza das vias públicas deveria estar pronta até as 9horas e até as 11 horas na
zona suburbana.
O mesmo documento descreve que na zona urbana era vedado aos munícipes atirarem para a rua
ou passeios os resíduos resultantes das limpezas domésticas de casas e quintais, os quais, para o
efeito, utilizavam recipientes de modelo ou aproveitavam os locais e instalações destinadas pela
camara municipal à junção e recolha dos produtos de limpeza para remoção sistemática.
Todos os munícipes residentes na área da cidade (desde que utilizem o serviço municipal de
remoção de lixos) deveriam possuir recipiente próprio. Cada recipiente deveria indicar sempre,
de forma visível, o número da casa a que pertence, podendo também indicar o nome do
proprietário.
Mais adiante, a postura explica que os recipientes com os produtos resultantes de limpezas de
casas e quintais a remover pelos serviços municipais, deveriam ser obrigatoriamente colocados
(das 21 horas do dia anterior até as 6 horas da manhã do dia seguinte) na porta do respectivo
edifício e não à beira do passeio. Até as 9 horas da manha quer tenham sido feitas as remoções,
quer não, os recipientes deveriam ser retirados da via pública.
Na zona suburbana (que era caracterizada por construções de carácter precário e provisório, e
ainda nos locais onde não podiam funcionar convenientemente fossas sépticas), a camara
municipal montava um sistema de remoção de baldes de dejectos.
Os baldes obedeciam o modelo aprovado pela camara municipal e poderiam ser adquiridos na
secção de Limpezas e Transportes ou Comércio. O serviço de remoção dos baldes era
obrigatoriamente nocturno e deveria ser feito com o menor ruído possível. Sempre que era
viável, eram estabelecidas estações intermediárias de despejo e desinfecção dos baldes, fazendose para cada casa a substituição diária de um balde sujo por um balde limpo e desinfectado.
Com a proclamação da independência, as cidades de Moçambique passaram a estar
administrativamente dependentes do Governo Central sobre a direcção da FRELIMO. Muitas
estruturas administrativas da época dos colonos Portugueses mantiveram-se. O país, sobre o
Governo do Partido único estabeleceu novos sistemas de governação e gestão urbana, os quais
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mostravam-se bastante similar (quer seja em estrutura assim como em funções) às camaras do
período colonial.
Poucos anos depois da independência, Moçambique voltou a estar mergulhado numa guerra civil
entre as tropas da Resistência Nacional de Moçambique e a FRELIMO, que foi responsável pela
migração da população das zonas rurais para as zonas urbanas, que por sua vez aumentou de
forma significativa o número de habitantes nas cidades e a demanda pelos serviços públicos
dentre os quais, o da Gestão dos Resíduos Sólidos.
O crescimento das cidades moçambicanas não foi acompanhado pela provisão de infra-estruturas
e de serviços urbanos, entre eles, os serviços públicos de saneamento básico, que incluem o
abastecimento de água potável, a colecta e tratamento de esgotos sanitários, a estrutura para a
drenagem urbana e o sistema de gestão e manejo dos resíduos sólidos.
Esses factores, associados ao carácter marcadamente intervencionista do Estado acabaram por ter
efeitos contraproducentes na sociedade e na administração moçambicana, levando a uma certa
letargia política, a diferenças regionais cada vez mais acentuadas, ao regionalismo, à paralisação
da administração que nalgumas zonas do país era incapaz de prestar mesmo os serviços mais
básicos, ao subdesenvolvimento económico, à evasão fiscal e, em última análise, ao descrédito,
se não mesmo perda de legitimidade do Estado, (Chichava e Faria, 1999).
Foi precisamente dentro desse contexto, como avança Canhanga (2008) que, durante as décadas
de 80 e 90 muitos países em desenvolvimento assistiram a um conjunto de reformas políticas e
administrativas que implicaram rupturas que modificaram a forma de organização da
administração pública. Estes factores forçaram certos Estados a abandonarem paradigmas de
desenvolvimento centralmente planificados e adoptaram sistemas políticos e económicos mais
descentralizados e responsabilizados com a esfera não estatal.
Para estimular este novo paradigma de actuação do Estado e o seu relacionamento com as
diferentes instituições, Mutahaba (2009) advoga que os Governos foram obrigados a deixar de
ser o principal veículo para atingir o desenvolvimento sócio-económico tornando-se num meio
de direcção e facilitador do processo. Os pacotes que constituíram as intervenções da reforma
incluíam:
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Um governo com um enfoque na formulação de políticas, estabelecimento de padrões e
regulamentação dos outros actores;
Uma maior partilha de responsabilidades de desenvolvimento e prestação de serviços
com actores não governamentais através da privatização, contratação e arranjos de
parcerias; e
Uma descentralização da responsabilidade da provisão de serviços a instituições de
governo locais controlados pelos cidadãos ou a agências autónomas subsidiárias do
governo.
Face a situação da mudança do paradigma de actuação do estado, o quadro legal do saneamento
básico e em particular no que se refere à gestão de resíduos sólidos urbanos (GRSU), remeteu
para as autarquias6 as atribuições e competências relacionadas com a remoção de lixo, limpeza
pública e investimentos associados ao tratamento e eliminação de lixos. Consequentemente, os
municípios passaram a ser responsáveis pela recolha e transporte de resíduos sólidos urbanos não
perigosos, utilizando para tal, os meios, métodos e processos de recolha apropriados, com base
nas necessidades técnicas de cada situação, de modo a garantir condições de higiene para que,
não sejam postos em risco a saúde pública e o ambiente.
Com vista a custear (em parte) as despesas resultantes das actividades de GRSU, foi introduzida
em 2002, uma taxa de limpeza que passou a ser cobrada na factura de electricidade através do
sistema da facturação da empresa Electricidade de Moçambique (EDM). Em 2007, introduziu-se
uma nova taxa de limpeza definida, tendo em conta o escalão do consumo de energia da EDM,
de modo a torná-la proporcional à produção de resíduos sólidos, por considerar "injusto" que os
pequenos e grandes produtores pagassem o mesmo valor (CMM, 2007).
Actualmente, a taxa de lixo ou de limpeza é cobrada usando o sistema de facturação da EDM.
Portanto, todos os usuários de energia eléctrica, quer no sistema pré-pago (Credelec) ou no póspago (Contrato), são obrigados a pagar a taxa de lixo quando liquidam as suas contas de
consumo de energia eléctrica, ou seja, a taxa de lixo vem inclusa mensalmente na factura ou no
recibo da credelec. Esta é a única via que garante uma cobrança de receitas ao município com um
baixo risco de falhas e custos reduzidos.
6
Lei 2/97 de 18 de Fevereiro – Lei das autarquias locais - no seu Capitulo I, Artigo 6 na sua alínea B.
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Capitulo II: O estudo
2.1.
Objecto do estudo e Delimitação do Tema
A urbanização nos países em vias de desenvolvimento e o crescimento drástico da população a
escala mundial, faz com que as condições de vida dos cidadãos não sejam as mais adequadas, na
medida em que traz consigo vários desafios a nível dos centros urbanos, sendo os mais críticos: a
ocupação desordenada; falta de infra-estruturas para o abastecimento de água; e a deficiente
gestão dos resíduos sólidos, MICOA (2012).
Segundo o MICOA (2006), com a tomada de consciência do progressivo esgotamento dos
recursos limitados do nosso planeta, a rejeição natural e sistemática de tudo o que não era
objecto do processo de fabrico foi substituída pela crescente preocupação de valorização dos
resíduos sólidos.
Reconhecendo que a gestão dos resíduos sólidos é uma tarefa complexa que depende da
organização e cooperação entre o sector familiar, comunidades, empresas privadas e autoridades
Municipais, assim como da aplicação e selecção de soluções técnicas apropriadas para a recolha,
reciclagem e deposição final dos resíduos sólidos, o presente trabalho circunscreve-se na análise
dos modelos de gestão dos resíduos sólidos no tocante ao envolvimento dos stakeholders e o seu
impacto na gestão dos resíduos sólidos urbanos no Município de Maputo.
Em relação a delimitação do tempo, o presente estudo centra-se no período entre (1999-2013), de
forma a compreender e analisar os diferentes modelos de GRSU que foram sendo adoptados pelo
CMM para melhor avaliar o actual.
2.2.
Justificativa e Relevância do estudo
Tomando em consideração que a problemática de lixo, não atinge somente grandes centros
urbanos, cidades pequenas, ainda que produzam menor quantidade, também sofrem com a
degradação ambiental e social relacionada aos resíduos sólidos produzidos por todos, quer seja
no espaço doméstico, nas vias públicas, nos locais de trabalho, nas escolas etc.
Admitindo que a má gestão dos resíduos sólidos urbanos põe em causa os aspectos estéticos da
cidade e o bem-estar dos munícipes. As exposições indevidas de resíduos sólidos originam
incómodos à população quer através do mau odor, assim como pela poluição visual.
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Análise dos modelos de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Município de Maputo: 1999-2013
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O presente estudo mostra-se relevante, na medida em que, a limpeza das ruas é de interesse
comunitário e deve ser encarada dando prioridade o aspecto colectivo em relação ao aspecto
individual, respeitando os anseios dos munícipes. Uma cidade limpa dá orgulho aos seus
habitantes, melhora a sua aparência estética, ajudando a atrair novos residentes e turistas para
áreas com potencial turístico. Por outro lado, os resíduos sólidos urbanos não devidamente
tratados são os principais responsáveis pela proliferação de vectores transmissores7 de doenças,
afectando de uma forma indirecta a economia do país ao contribuir para a redução da esperança
de vida da população activa.
Partindo desse pressuposto, o trabalho em estudo analisa os mecanismos instituídos pelo CMM,
com vista a melhorar a qualidade e a cobertura do Sistema de Gestão dos Resíduos Sólidos
Urbanos, contando com o envolvimento dos diferentes actores, uma vez que a participação tem
um papel fundamental na criação de valor público, na medida em que, a comunidade partcipa da
acção governamental, podendo, inclusive, alterar o seu propósito para resultados desejados.
2.3.
Objectivos do estudo:
2.3.2. Objectivo Geral:
O presente estudo tem como objectivo principal analisar os modelos de gestão dos
resíduos sólidos urbanos adoptados pelo CMM, no tocante
ao envolvimento
dos
diferentes actores e o seu impacto na gestão, no período compreendido entre 1999-2013.
2.3.2. Objectivos específicos:
Apresentar a evolução dos paradigmas de gestão dos resíduos sólidos no Município de
Maputo;
Examinar criticamente o actual modelo de gestão de resíduos sólidos e o papel reservado
aos diferentes actores envolvidos; e
Fazer sugestões e recomendações para com vista a uma gestão integrada dos RSU.
7
É o caso de ratos, baratas, moscas e outros.
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2.4.
Problematização
O fornecimento de serviços básicos de remoção de resíduos sólidos, juntamente com o
fornecimento de água potável e do saneamento, é um dos principais fundamentos da boa
governação urbana. O fracasso na remoção dos resíduos sólidos traz consigo degradação do meio
ambiente, imundície e perigo de doenças na vida diária dos cidadãos (Grest, 2009).
A urbanização massiva e não planeada, associada ao aumento do consumo dos bens produzidos
pelo próprio homem e por outro da utilização de materiais e produtos pouco duráveis, contribui
de forma significativa para o aumento da quantidade dos resíduos sólidos urbanos produzidos.
A gestão municipal está directamente envolvida com esse tipo de resíduo urbano, pois é
produzido pelos munícipes, ficando a gestão sob a responsabilidade das entidades municipais.
As preocupações são de toda ordem, pois de um lado os munícipes cobram uma cidade limpa, e
de outro, esses mesmos munícipes descartam, na maioria das vezes os resíduos em locais não
permitidos, além de que, os serviços de recolha nem sempre atendem a todas as demandas, como
são os casos da abrangência do serviço de colecta, principalmente nos locais de difícil acesso.
Deste modo, há necessidade de despertar a consciência de todos os munícipes no aproveitamento
dos serviços oferecidos no que tange ao tipo de acondicionamento e na sensibilização de que a
responsabilidade de uma boa gestão dos resíduos sólidos é colectiva e compartilhada.
Foi estimado que em 2007 menos de 35% do total dos resíduos sólidos produzidos foram
colectados pelo sistema oficial de recolha do Conselho Municipal, enquanto, mais de 65% foi
tratado de forma informal, onde na maioria das vezes os munícipes optaram por queimar e
enterrar o lixo nos seus bairros, especialmente nas zonas suburbanas, assim como deita-lo em
lugares impróprios e como consequência o sistema de drenagem ficou bloqueado pelos resíduos
sólidos não removidos, agudizando dessa feita as inundações no período das cheias com
agravamento de índices de malária, cólera e outras doenças que afectam a saúde pública,
registando prejuízos económicos e grandes inconvenientes para todos os afectados, (Grest,
2009).
Partindo do pressuposto que os modelos até então encontrados e praticados, tratam somente de
método convencional de colectar o lixo e jogar em uma lixeira a céu aberto sem nenhum
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tratamento adequado, a busca de um modelo de gestão destinado ao tratamento de resíduos
sólidos urbanos (RSU) de forma colectiva e compartilhada , preservando o meio ambiente e
gerando trabalho e renda para as camadas de baixo poder económico, tem sido o principal
desafio imposto ao CMM. Dentro dessa perspectiva surge a seguinte:
2.4.1. Pergunta de Partida:
De que forma o CMM assegurou o envolvimento dos diferentes actores na GRSU no
período entre 1999-2013 com vista a implantação de uma gestão integrada dos RSU?
2.5.
Hipóteses
Na prática, verifica-se ausência de mecanismos e ferramentas adequadas que estimulem
o envolvimento dos diferentes actores na gestão dos resíduos sólidos;
Devido a falta de condições adequadas ao trabalho, associada a ausência de unidades de
obtenção de benefícios a partir de resíduos sólidos, os munícipes sentem-se
desincentivados a participarem em programas de recolha selectiva.
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Capitulo III: Metodologia
3.1.
Tipo de pesquisa:
A definição do tipo de pesquisa é determinada em função da área de investigação. Do ponto de
vista do objectivo geral, o presente trabalho baseia-se na pesquisa do tipo explicativa, na medida
em que, analisa as diferentes formas que são tratadas as problemáticas do lixo no CMM,
procurando identificar as principias variáveis e determinantes para um bom modelo de GRSU,
contando com a participação dos diferentes stakeholders.
3.2.
Método de abordagem:
O método, em seu sentido geral, como destacam Cervo, Bervian e Da Silva (2007), é a ordem
que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um certo fim ou resultado
desejado. Nas ciências, entende-se por método o conjunto de processos empregados na
investigação e na demonstração da verdade.
Soares (2003), avança que existem duas formas de abordar o problema que pretendemos
investigar, a abordagem qualitativa e quantitativa8.
Dentro dessa perspectiva, podemos considerar que a escolha do método de análise depende
fundamentalmente do objecto de pesquisa. Sendo assim, o presente estudo baseou-se no método
qualitativo, na medida em que trata-se de uma pesquisa onde avança que o investigador entra no
campo com o que lhe interessa investigar, no qual, não supõe o encerramento no desenho
metodológico de somente aquelas informações directamente relacionadas com o problema
explícito a priori no projecto, pois a investigação implica a emergência do novo nas ideias do
investigador, processo em que o marco teórico e a realidade se integram e se contradizem de
formas diversas no curso da produção teórica.
Terence e Filho (2006), acrescentam que este tipo de pesquisa constitui uma modalidade em que
o pesquisador procura aprofundar-se na compreensão dos fenómenos que estuda (acções dos
indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente e contexto social), interpretando-os
segundo a perspectiva dos participantes da situação enfocada, onde trabalha-se com o universo
8
Ela é especialmente projectada para gerar medidas precisas e confiáveis que permitam uma análise estatística, é
apropriada para medir tantas opiniões, atitudes e preferências como comportamentos.
A Pesquisa Quantitativa não é apropriada nem tem custo razoável para compreender "porquês".
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de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um nível
profundo das relações dos processos e dos fenómenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis, sem, no entanto, se preocupar em estabelecer relações lineares de
causa e efeito.
3.3.
Método de procedimento
Segundo Lakatos (1981), os principais métodos de procedimentos na área de ciências sociais são:
histórico, comparativo, estatístico, funcionalista, estruturalista, monográfico ou estudo de caso.
Com o objectivo de se ter o conhecimento mais amplo e detalhado do problema, optou-se pelo
estudo de caso, no qual, Gil (2008), defende que visa estudar um caso particular (Município de
Maputo), buscando o entendimento ou a compreensão da lógica de influencia dos diferentes
stakeholders no processo de GRSU, sem visar a generalização deste entendimento para outros
casos, onde procura-se descrever todas as características de um sistema com todas suas
manifestações, a sua estrutura, o seu funcionamento e todos aspectos do problema em estudo, de
modo a se ter um quadro completo descritivo.
Por sua vez o estudo de caso tem como limitação a restrição de seus casos à unidade estudada,
não sendo possível proceder a generalizações. Frisa-se que deve ser aplicado com todo rigor
científico, através do estabelecimento de objectivos, levantamento de hipóteses e utilização de
técnicas para colecta e análise de dados Lakatos e Marconi, (2007).
3.4.
Técnicas de recolha de dados
Com vista a concretização da presente pesquisa, recorreu-se à pesquisa bibliográfica e a pesquisa
(análise) documental. Na perspectiva de Cervo, Bervian e Da Silva (2007) a pesquisa
bibliográfica, é o meio de formação por excelência na medida em que constitui a pesquisa
propriamente dita na área das ciências humanas, geralmente é o primeiro passo para qualquer
pesquisa científica. No caso em apreço, consistiu na procura de explicar o problema a partir de
referência teóricas publicadas em livros e artigos relacionados com a questão das boas práticas
de GRSU, tendo em conta inclusão dos diferentes actores envolvidos no processo.
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Por outro lado a pesquisa documental, que é uma das formas que assume a pesquisa descritiva,
esta que observa, regista, analisa e correlaciona factos, baseou-se na investigação, análise e
consulta dos documentos atinentes as melhores praticas de GRSU.
Na segunda fase do trabalho foram efectuadas visitas ao campo, com vista a estabelecer um
contacto directo com os vários intervenientes do processo. Em relação as entrevistas a que
destacar que foram feitas entrevistas estruturadas, quer seja aos funcionários públicos assim
como aos diferentes actores na esfera social, na medida em que trata-se de entrevistas não
dirigidas nas quais há liberdade total por parte do entrevistado, que poderá expressar suas
opiniões e sentimentos. A função do entrevistador é de incentivo, levando o informante a falar
sobre determinado assunto, sem, entretanto, forçá-lo a responder (Marconi e Lakatos, 2003).
Durante as entrevistas as respostas foram anotadas no próprio momento com vista a evitar as
inconveniências resultantes de anotação posterior (falha de memória ou distorção do facto).
Como referem Cervo, Bervian e Da Silva (2007) o entrevistador não deve confiar
demasiadamente na sua memória. Deve anotar, cuidadosamente, os dados, registando-os
sumariamente durante a entrevista e completando suas anotações logo em seguida ou o mais
breve possível.
A Informação sobre administração da gestão de resíduos na Cidade de Maputo foi recolhida
usando observação pessoal bem como das entrevistas com os intervenientes e parceiros:
membros do governo, membros do corpo municipal, organizações não governamentais (ONGs),
comunidades e público. Informação específica foi recolhida na:
Legislação, regulamentos de RSU da Cidade de Maputo;
Políticas, regulamentos nacionais e municipais sobre gestão de resíduos sólidos;
programas em curso, reciclagem, compostagem; e
Situação actual dos RSU na Cidade de Maputo em relação a infra-estruturas, educação e
Participação comunitária e pública na Gestão dos Resíduos Sólidos Municipais.
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Capitulo IV: Enquadramento teórico e conceptual
No presente capitulo apresentamos a perspectiva teórica (funcionalista) que serviu de base para
a analise do problema em causa, a busca de um modelo sustentável de GRSU, a conceituação dos
termos cruciais para uma melhor compreensão do trabalho e por fim a revisão da literatura que
está directamente ligada a questão das boas práticas de GRSU.
4.1.Quadro Teórico
Tendo em conta o nosso objecto de estudo, o presente trabalho
baseou-se na perspectiva
funcionalista, as suas teses fundamentais encontram se associados a teóricos como RadcliffeBrow e Bronislaw Malinowski, dois dos seus mais importantes sistematizadores. Embora no
referente ao conceito de função os dois adoptam posições divergentes9, por outro lado denota-se
um coincidência de perspectivas no referente a alguns dos principais vectores de análise, nesse
caso os postulados da unidade funcional e do funcionalismo universal os quais advogam que
cada actor, costume, ideia, crença, desempenham uma função vital, e representam uma parte
indispensável dentro de um todo que é a função.
Associado a essa perspectiva de análise, encontramos o Robert Merton, que sem recusar o ponto
de vista dos dois acima mencionados, emana uma critica aos seus postulados. Demarcando o que
segundo ele constitui o funcionalismo absoluto de Malinowski. Merton enuncia no seu
paradigma de análise funcional, todo conjunto de orientações genéricas para análise da
sociedade, trazendo uma importante distinção entre as funções Manifestas e Latentes
Segundo Manor (1998), a perspectiva funcionalista é a mais habilitada para analisar o
funcionamento das instituições resultantes da descentralização. Na medida em que vai procurar
enfatizar a análise da capacidade de articulação das instituições e dos diferentes intervenientes
envolvidos na prossecução dos objectivos da organização.
Partindo do pressuposto que a gestão dos resíduos sólidos é uma tarefa complexa que não
depende apenas das autoridades municipais mas também da organização e cooperação entre o
sector familiar, comunidades, empresas privadas e autoridades Municipais, a perspectiva
9
Malinowski, intrasigentimente fiel ao paradigma biológico de análise, atribui a função o significado de satisfação
de necessidade e para Radcliffe-Brow, função corresponde a contribuição de um modo de actividade ou de
pensamento para a continuidade e persistência da estrutura social.
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funcionalista, mostra-se relevante na medida em que vai nos permitir analisar a lógica de
interacção dos diferentes actores no processo de GRSU:
Munícipes
Governo:
CMM; MICOA
Empresas
Internacionais:
ECOLIFE;
EVIROSERV
Cooperações e
associações que
actuam ao nível
dos bairros
GRSU
Associações de
Reciclagem
Catadores dos
resíduos sólidos
Fonte: Adaptado pelo autor
Cada actor representa uma parte indispensável na GRSU e por via das suas acções desempenha
um papel fundamental para a funcionalidade de um modelo de GRSU como um todo unitário, de
modo eficiente e eficaz. A não inclusão de um dos stakeholders afecta o modelo como um todo,
levando a uma gestão deficitária dos resíduos sólidos urbanos.
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4.1. Quadro conceptual
Com vista a assegurar uma melhor compreensão do estudo em causa, mostra-se necessário a
clarificação de alguns conceitos chaves a serem operacionalizados. Sendo assim de forma a
garantir uma percepção menos ambígua o presente trabalho será desenvolvido à luz dos
seguintes conceitos: Descentralização, participação , Gestão de resíduos sólidos.
Na perspectiva de Faria e Chichava (1999), a descentralização pode ser definida como a
organização das actividades da administração central fora do aparelho do governo central,
podendo ser através de:
Medidas administrativas (e fiscais) que permitam a transferência de responsabilidades e
recursos para agentes criados pelos órgãos da administração central; ou
Medidas políticas que permitam a atribuição, pelo governo central, de poderes,
responsabilidades e recursos específicos para autoridades locais.
Alves e Godoy (2005) citando Crook e Manor (1998) e Agrawal e Ribot (1999) defendem que a
descentralização:
refere-se à transferência de autoridade e responsabilidade do governo
central aos níveis mais baixos de hierarquia político-administrativa e
territorial e/ou para comunidades locais. Referem ainda que a
descentralização significa que o Governo e/ou comunidade local passam a
tomar decisões relativas às atribuições designadas por uma lei maior e
concernente à sua jurisdição. Existe uma partilha de responsabilidades e
autoridades entre o governo central e os governos estaduais ou locais em
algumas questões, onde os poderes são distribuídos entre os diferentes
níveis e de forma regulamentada.
A descentralização desempenha um papel crucial para a melhoria dos serviços públicos locais na
medida em que através da participação dos diferentes actores locais vai assegurar que os
serviços públicos respondam aos anseios e preocupações das comunidades locais, sem esquecer
que a participação permite a criação do valor público porque as comunidades sentem se parte
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integrante dos projectos de desenvolvimento. Sendo assim mostra-se necessário trazer o conceito
de participação patente no presente trabalho:
Segundo Friedman (1996), a participação é processo pelo qual se envolve as pessoas em acções
sociais, políticas e económicas relevantes, dando a elas o poder de agir como sujeitos activos
A participação permite que as pessoas cintam-se parte integrante do processo de
desenvolvimento, e consequentemente assegura que sejam reunidas as sinergias necessárias para
o alcance dos objectivos pretendidos, melhorando dessa feita o serviço ofertado, no caso
concreto o da gestão dos resíduos sólidos, o qual pode ser entendido como:
Remoção, transferência, tratamento, reciclagem, valorização de recursos, e
eliminação de resíduos sólidos produzidos em áreas urbanas, constitui a
maior responsabilidade do governo local e um serviço complexo
envolvendo organização apropriada, capacidade técnica e de gestão e
cooperação entre numerosos parceiros em ambos sectores público e
privado (Poleto, 2010).
E na perspectiva do MICOA, (2006) Gestão de resíduos sólidos é a maneira de conceber,
implementar e administrar sistemas de limpeza pública, considerando uma ampla participação
dos munícipes.
Numa versão mais actualizada a mesma organização acrescenta que Gestão de Resíduos
sólidos:
são todos os procedimentos viáveis com vista a assegurar uma gestão
ambientalmente segura, sustentável e racional dos resíduos, tendo em
conta a necessidade da sua redução, reciclagem e reutilização, incluindo a
separação,
recolha,
manuseamento,
transporte,
armazenagem
ou
eliminação de forma a proteger a saúde humana e o ambiente contra
efeitos nocivos que possam advir dos mesmos MICOA (2012).
Sendo assim podemos constatar que diferentemente do conceito de 2006, a versão actualizada de
2012 incorpora na sua definição medidas que visam minimizar a produção dos resíduos sólidos,
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e maximizar a reutilização dos componentes recicláveis que integram os resíduos, visando
proteger a saúde humana e o ambiente.
A seguir apresentamos a revisão da literatura onde descrevemos as principais ideias dos estudos
feitos sobre a GRSU a nível internacional, em Moçambique e particularmente no CMM.
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4.2.Revisão da Literatura
4.2.1. Breve história de surgimento dos resíduos sólidos e sua classificação
Na perspectiva de Cruz (2005), desde os tempos remotos o homem desfez-se dos resíduos que
produzia, abandonando-os em qualquer local. Situação esta que incompreensivelmente, ainda
hoje é possível presenciar, quer seja nos países desenvolvidos assim como em vias de
desenvolvimento. Os primeiros problemas surgem com a sedentarização do homem, quando este
começa a agregar em comunidade e consequentemente a quantidade de resíduos aumentou,
sendo indispensável encontrar soluções para eliminação dos resíduos que necessáriamente
produz como resultado das actividades fisiológicas, domésticas, agrícolas entre outras. Por outro
lado Junkes (2002) sustenta que os resíduos surgiram no dia em que os homens passaram a viver
em grupos, fixando-se em determinados lugares e abandonando os hábitos de andar em lugar em
lugar a procura de alimentos. A partir desse momento, processos para a eliminação dos resíduos
passaram a ser motivo de preocupação, embora as soluções visassem unicamente transferir os
resíduos produzidos para locais afastados das aglomerações humanas.
A má disposição dos resíduos sólidos traz consigo muitos problemas relativos a saúde publica e
meio ambiente, como é o caso especifico da cólera peste bubónica, a febre tifóide entre outras.
Cada Estado ao longo da sua história procurou dar uma solução para o problema de gestão dos
resíduos sólidos, em função do seu nível de desenvolvimento, recursos, e a vontade de resolver a
questão, infelizmente na maioria das vezes, consistia em, levar os resíduos para um local longe
da cidade, isto é para zonas periféricas, obrigando as classes desfavorecidas a conviverem com
os resíduos produzidos pelas cidades.
4.2.2. Classificação dos resíduos sólidos
Vários autores declaram que não existe um acordo no referente a classificação dos resíduos
sólidos Urbanos. Poleto (2010) avança que existe vários critérios que são usados para a
classificação dos resíduos sólidos, sendo as mais utilizadas as que levam em conta a origem,
composição química e perigosidade.
A classificação dos resíduos sólidos é de extrema importância, na medida em que possibilita a
verificação dos materiais presentes nos resíduos gerados, permitindo inferir sobre a viabilidade
da implantação da colecta selectiva, os recursos humanos necessários, aquisição de viaturas de
transportes, a definição das dimensões das instalações para a reciclagem e a destinação adequada
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dos resíduos sólidos. Segundo o Decreto 13/2006 de 15 de Junho, que regulamenta a gestão dos
resíduos sólidos, preconiza que os resíduos sólidos podem ser classificados em:
Tabela 1: Classificação do RSU e sua respectiva proveniência
Classificação
Resíduo Sólido Domestico
Proveniência
Provenientes de actividades diárias em casas,
apartamentos, condomínios e demais edificações
residenciais.
Proveniente de estabelecimentos comerciais e de
serviços que podem ser escritórios, restaurantes e outros
similares.
Provenientes das habitações, cuja remoção não se torne
possível por meios normais, atendendo ao volume,
forma ou dimensão que apresentam, ou cuja disposição
nos contentores seja considerada inconveniente pelo
Município.
Resultantes da conservação de jardins particulares, tais
como aparas, ramos, troncos ou folhas.
Resultantes da limpeza pública de jardins, parques, vias,
cemitérios e outros espaços públicos.
Resultantes de actividades industriais tais como
metalúrgica, química, petroquímica, alimentar etc.
Proveniente de hospitais públicos, privados e clínicas.
Resíduos Sólidos Comerciais
Resíduos Domésticos Volumosos
Resíduos de Jardins
Resíduos de Jardins Públicos
Resíduos Sólidos Industriais
Resíduos Sólidos Hospitalares
Fonte: Decreto 13/2006 de 15 de Junho
Categoria dos resíduos sólidos urbanos:
Tabela 2: Categoria dos RSU
Matéria orgânica putrescível
Plásticos
Papel
Vidro
Metal ferroso
Madeira
Panos, trapos, borrachas
Contaminantes químicos
Contaminante biológico
Pedra, terra e cerâmica
Diversos
Restos alimentares, flores e podas das arvores
Sacos, sacolas, embalagens de refrigerantes, recipientes de produtos de
limpeza, utensílios da cozinha, etc.
Caixas, revistas, cartões, papel, cadernos livros pastas etc.
Copos, garrafas de bebida, pratos , espelhos, embalagem de produtos
alimentícios.
Palha-de-aço, alfinetes, agulhas, embalagens de produtos.
Caixas, tábuas, palitos de fósforo, tampas, móveis e lenha.
Roupa, Pano de limpeza, pedaços de tecido, bolsas, mochilas, sapatos, tapetes,
luvas, cintos etc.
Pilhas, medicamentos, lâmpadas, insecticidas, colas em geral, cosméticos,
embalagens de produtos químicos etc.
Papel higiénico, cotonetes, algodão, curativos, gazes e panos com sangue,
fraldas descartáveis, seringas, cabelos, pêlos.
Vasos de flores, pratos, restos de construção, terra, pedras decorativas.
Velas de cera, restos de sabão, carvão, giz, pontas de cigarros, rolhas, cartão de
credito e outras matérias de difícil identificação.
Fonte: Zanta e Ferreira, (2002)
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4.2.3. Caracterização física dos resíduos sólidos
Monteiro et al (2001) avança que as principais propriedades físicas dos resíduos sólidos são a
composição gravimétrica,
vimétrica, peso específico e teor de humidade. Os componentes mais utilizados
na determinação da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos variam de País para
País, mas os componentes mais comuns nas pesquisas são nomeadamente:: papel, plásticos,
vidros, metais e matéria orgânica
ânica.
A composição gravimétrica varia com o local, em função dos hábitos
os (como alimentação e forma
de vestir) e do nível educacional da população, da actividade económica dominante (industrial,
comercial ou turística), do desenvolvimento económico e do clima, (Boscov,, 2008).
2008
Composição gravimétrica
trica dos
do resíduos sólidos na zona de cimento em Maputo
Map
Gráfico1: Composição dos RSU na zona
z
urbana
3% 2% 2% 2%
10%
Matéria Orgánica
Papel
12%
Plástico
69%
Vidro
Metais
Tecid
Tecidos
Outros
Fonte: CMM, 2010
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Gráfico 2: Composição dos resíduos sólidos na zona suburbana
Composição dos residuos
residuos sólidos nas zonas suburbana
5%
4%
9%
Materia organica
2%
Vidro
5%
Metal
69%
Tecido
pedra
outro
Fonte: CMM, 2010
Como ilustra os dados dos gráfico, podemos constatar que os resíduos sólidos produzidos nas
áreas urbanas e suburbanas são na sua maioria constituídos por resíduos orgânicos10. E uma
alternativa de tratamento e consequentemente de aproveitamento desse tipo de resíduos consiste
na capostagem11 isto é na transformação desse tipo de resíduos em adubo orgânico usado na
agricultura na medida em que proporciona uma melhoria nas propriedades físicas,
ísicas, químicas e
biológicas do solo. No caso da cidade de Maputo, encontramos a FERTILIZA uma cooperativa
que se dedica a valorização dos resíduos orgânicos. Havendo dessa feita a necessidade de
disseminar este tipo de prática
tica a outros municípios porque contribui de certa forma para a
redução do volume dos resíduos através da sua reutilização. No referente aos resíduos
constituídos por objectos de plásticos, encontramos na cidade a RECICLA, uma cooperativa que
se dedica a reciclagem do plástico.
10
Fazem parte desses resíduos
uos os restos de alimentos, frutos, folhas, etc.
A compostagem é o processo
esso que faz uso de um princípio natural de decomposição
mposição da matéria orgânica na
presença de oxigénio. Neste processo, milhares de bactérias actuam quebrando moléculas
oléculas até transforma-las
trans
em
gases (gás carbónico e água) e minerais, resulta
resultando dessa feita num composto orgânico,
nico, que pode ser usado para a
agricultura em escala ou doméstica.
11
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4.2.4. Sistemas da recolha dos Resíduos sólidos Urbanos
Monteiro et al (2001) avança que sob ponto de vista sanitário, a eficiência da recolha reduz os
riscos de mau acondicionamento dos resíduos sólidos na fonte. O sistema de colecta, deve ser
bem organizado, a fim de produzir o maior rendimento possível e servir, pela pontualidade, de
estímulo para que os munícipes colaborem. Essa participação é importante para a solução do
problema, e consiste, principalmente no adequado acondicionamento dos resíduos sólidos e na
colocação dos recipientes em locais pré-stabelecidos. E o horário de recolha deve ser escolhido
de forma a satisfazer os interesses dos munícipes e dos encarregados de recolha e de acordo com
a legislação municipal, não devendo perturbar a população. Nos centros comerciais recomendase que a recolha deve ser feita no período nocturno, quando as ruas estiverem com pouco
movimento. E nos bairros residenciais a colecta deve ser realizada preferencialmente durante o
dia, evitando-se os horários com grandes movimentos de veículos nas principais vias.
Segundo MICOA (2006), existem 4 principais sistemas de recolha dos resíduos sólidos urbanos,
nomeadamente:
Tabela 3 : Sistema de Recolha dos RSU
Tipo de sistema
Sistema de contentores
comuns
Entrega
colecta
ao
camião
de
Colecta a beira da calçada
Colecta ao domicílio
Características
Os residentes depositam os
resíduo
sólidos
num
contentor comum donde
por sua vez são colectado
pelos serviços municipais
ou terciarizados.
Os camiões de colectas
estacionam em locais fixos
e em horas pré-definidas
recebendo directamente os
recipientes contendo os
resíduos dos moradores.
Os moradores colocam os
resíduos na calçada em dias
da semana combinados com
os serviços de colecta.
Vantagens
Reduz pontos de colecta.
Desvantagens
Uma complexa mistura de
resíduos ocorre sem a
devida segregação.
Facilita os trabalhos dos
serviços de colecta e
rentabiliza o tempo.
Requer a pontualidade e a
disponibilidade
dos
moradores,
requer
a
regularidade por parte dos
serviços.
Reduz a dependência dos
serviços em relação ao
morador.
Os trabalhadores colectam
os resíduos directamente
dentro das casas.
Evita a acumulação dos
resíduos na via pública,
reduz a dependência do
morador em relação aos
serviços de limpeza.
Requer regularidade por
parte dos serviços de
colecta, muito pessoal
viaturas e boas vias de
acesso.
Afecta a privacidade dos
moradores e requer grande
número de trabalhadores,
viaturas e vias de acesso,
tornando assim o processo
dispendioso.
Fonte: MICOA, 2006
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Vários são os factores que influenciam na escolha do tipo de veículo a ser utilizado na recolha
dos resíduos sólidos urbanos, dentre os quais a quantidade, custos de aquisição e manutenção,
condições de operação de tráfego distância e estado das vias.
4.2.5. Tipos de transportes usados na colecta de resíduos sólidos no País
Tabela 4: Tipos de transportes usados na colecta dos RSU
Tipo
Vantagens
Desvantagens
Tracção animal
Custo baixo.
Requer pastos, pouco higiénico, e
lento.
Tracção humana
Custo baixo.
Lento
e
remove
pequenas
quantidades.
Triciclos
Custo baixo e circula em vias
É lento remove volumes reduzidos.
estreitas.
Tractor
Circula em vias precárias, colecta
É lento, espalha resíduo ao longo da
volumes grandes e pesados.
via, remove volumes reduzidos.
Camião basculante
Rápido e fácil de manusear.
Espalha resíduo ao longo da vias.
Camião compactador
Colecta
Os resíduos sólidos devem ser de
resíduos
grandes
sólidos
quantidades de
devido
a
baixa densidade.
compactação e é seguro e higiénico.
Fonte: MICOA, 2006
Em alguns bairros dos municípios do Pais, como resultado da construção desordenada associada
a dificuldade de acesso nos bairros suburbanos como é o caso dos bairros Maxaquene e
Urbanização, os serviços de colecta dos resíduos sólidos tem sido primários levados acabo por
micro-empresas e associações, onde a recolha dos resíduos sólidos é feita porta a porta mediante
o uso de tchovas como ilustra a imagem , e numa primeira fase estes são condicionados nos
contentores e posteriormente levados para a lixeira de Hulene.
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Figura 1: Exemplo de Recolha Primaria no Bairro
B
de Maxaquene
Fonte: Jornal noticia online,099 de Janeiro 2015
20
E nas zonas de cimento também designada por área urbana, organizada territorialmente,
obedecendo a uma planta ortogonal com rede viária pavimentada, construção, em geral, vertical;
concentração de comércio, serviços e algumas indústrias, a recolha dos resíduos sólidos é feita
mediante o uso de camiões compactadores como ilustra a imagem.
Figura 2 : Exemplo de um camião
mião compactador qque faz a recolha dos RSU na zona urbana
Fonte:PDGRS5
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A colecta dos resíduos sólidos urbanos no país, com excepção de alguns sectores das cidade de
Maputo e Matola, que terciarizam12 esse serviço, é realizado pelos serviços municipais.
Principais opções em termos de frequência de recolha de resíduos
Tabela 5: Opções em termo de dias da semana para a recolha dos RSU
Frequência de recolha
Diária excepto aos domingos
3 vezes por semana
2 vezes por semana
Observações
Lixo não se armazena por mais de 24 horas;
Ideal para o usuário e não afecta a saúde publica.
Ideal para o sistema considerando a relação custo
beneficio.
Mínimo admissível do ponto de vista sanitário para
países de clima tropical.
Fonte: MICOA, 2006
A escolha de frequência de recolha dos resíduos sólidos, é um factor determinante para a
implantação de um sistema eficaz. O processo de escolha é feita em concordância com os
munícipes para que por sua vez, esses possam cumprir com os dias e horas acordados, para as
empresas efectuarem a recolha dos resíduos sólidos, facilitando desse modo os serviços.
Horário de recolha dos resíduos sólidos
Tabelas 6: Opções em termos de horários de recolha dos RSU
Horário
Vantagens
Desvantagens
Diurno
Mais económico;
Permite melhor fiscalização dos
serviços.
Interfere com o trânsito;
Cansa
os
trabalhadores
e
consequentemente
reduz
a
produtividade.
Causa incomodo por excesso de
ruído;
Aumenta os custos de mão-de-obra;
Dificulta a fiscalização;
Requer iluminação e segurança.
Nocturno
Recomendável para áreas comerciais
e turísticas;
Não interfere com o trânsito;
O lixo não fica exposto ao público
durante o dia .
Fonte: MICOA,2006
Segundo a Associação Moçambicana de Reciclagem AMOR, no País existem poucas acções de
tratamento prévio dos resíduos sólidos e devido a falta de investimento, 5% dos resíduos
colectados é que são transformados em produtos acabados. E estas práticas de reciclagem apenas
são praticadas nos municípios de Maputo, Matola, Inhambane, Beira e Nampula. Os valores dos
12
A terciarização é feita mediante a contratação de empresas e associações especializados em serviços de limpeza
urbana.
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materiais recicláveis é inquestionável, mas a capacidade de absorção dos mesmos pela indústria,
faz com que ainda seja um mercado limitado, onde poucos realmente lucram, sendo a maior
parte dos materiais exportada para a África do sul, e Suazilândia (MICOA 2010).
Allen e Jossias (2011), acrescentam que o maior problema para a promoção da reciclagem em
Moçambique é a carência de indústrias locais que usem materiais reciclados e,
consequentemente, a falta de mercados locais para aquisição de recicláveis. Com a excepção do
plástico e sucata, todos os demais materiais recicláveis são exportados. Neste contexto, o
mercado de recicláveis é imprevisível e instável visto que depende do preço dos recicláveis no
mercado internacional. Assim, actualmente, o mercado moçambicano para a maioria dos
materiais recicláveis não é economicamente sustentável.
4.2.6. Associações e cooperativas de reciclagem em Moçambique:
Tabela 7: Exemplo de associações e cooperativas de reciclagem
Empresa ou Associação
ALMA
FERTILIZA
PAGA LATA
PRO CUMPUTER
RECLAM
RECICLA
TERRA NOVA Ltd.
Fonte: MICOA,2010
Actividade
Limpeza de resíduos e reciclagem de
ferro e sucatas.
Tratamento de composto.
Reciclagem de resíduos sólidos
(papel, vidro, cartão).
Reciclagem de tinteiros.
Reciclagem de ferros e sucatas.
Reciclagem de plásticos.
Tratamento de composto.
Localização
Inhambane
Maputo
Maputo
Maputo
Maputo
Maputo
Beira
4.2.7. Formas de deposição final dos resíduos sólidos urbanos:
A deposição final dos resíduos sólidos urbanos pode ser agrupado em três principais formas:
Lixeira: Segundo Mota et al (2009) é uma área a céu aberto com a finalidade de serem
depositados ou descarregados, os resíduos sólidos provenientes dos mais diversos locais como:
residências, comércio, fábricas, hospitais, entre outros, sem nenhum tratamento prévio e nem
medidas de protecção ao ambiente, causando contaminação das aguas subterrâneas e do solo com
o chrome produzido pela decomposição dos materiais. As lixeiras constitui uma das formas de
deposição dos resíduos ainda usados pela maioria dos municípios do Pais, sem excluir o
Município de Maputo, que ainda opta por depositar os seus resíduos urbanos na lixeira de Hulene
a céu aberto como ilustra a imagem.
Figura 3: Exemplo de uma lixeira a céu aberto
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Fonte: Autor
Facto este que periga a vida dos munícipes que tem as suas residências na zona circunvizinha da
lixeira, devido a poluição do ar, a geração de gases tóxicos e a proliferação de ratos, baratas e
outros insectos que são transmissores de doenças. Nestes locais, geralmente
ralmente existem pessoas que
utilizam os restos alimentícios e outros resíduos como forma de subsistência que são os
denominados catadores
res de lixo, como retrata a imagem a seguir:
Figura 4 : Exemplo de residências
sidências ao lado da
d lixeira
Fonte: Olho cidadão, 06 dee Janeiro de 2013
Aterro controlado, segundo Poleto
Pole (2010) aterro controlado é o local de deposição final de
resíduos sólidos urbanos no qual não são aplicadas todas as técnicas necessárias para assegurar
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uma efectiva protecção do meio ambiente e a saúde publica , baseando-se apenas no método de
recobrimento dos resíduos sólidos com uma camada de material inerte na conclusão de cada
jornada de trabalho.
Aterro sanitário, é o local de deposição de resíduos sólidos urbanos com mínimos impactos
ambientais, que utiliza várias técnicas de engenharia, infra-estrutura para um bom funcionamento
do aterro, controle sanitário e ambiental durante todo o período de operação. Monteiro et al
(2001), acrescentam que este é o método mais adequado para a deposição final dos resíduos
sólidos urbanos na medida em que procura evitar os danos ambientais e em particular para a
saúde e segurança pública.
O grande desafio que os conselhos municipais enfrentam ao nível do País é a construção de
aterros sanitários. Actualmente existe em Moçambique, um aterro para resíduos sólidos
industriais perigosos em Mavoco, um aterro sanitário de categoria média na vila de Songo e no
Município de Vilanculos.
4.2.8. Gestão dos resíduos sólidos como um problema da Administração Pública
A evolução da Administração Pública é caracterizada pela existência de três (3) principais
paradigmas: patrimonalista, burocrática e gerencial.
O paradigma patrimonalista caracteriza-se pela não distinção entre património público e privado,
pelo carácter personalizado do poder assim como pela inexistência de uma esfera pública
contraposta a vida privada e a consequente lógica subjectiva do sistema jurídico e tendência a
corrupção do quadro administrativo. Estas características contribuíram negativamente para o
funcionamento eficiente da administração pública, associada a falta de previsibilidade dos actos
administrativos, tornando assim o Estado ineficiente na prestação dos serviços ao cidadão, como
é o caso da gestão dos resíduos sólidos.
Por outro lado a administração pública burocrática, fundamenta-se em regras objectivas e
delimitação da autonomia. Tornando administração pública assente em competências oficiais
fixas, ordenadas por leis ou regulamentos administrativos. Devido ao crescente funcionalismo do
poder burocrático, fez com que os funcionários públicos prestassem uma maior ênfase nas
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normas e regras, concentrando-se nas necessidades e perspectivas dos órgãos públicos e não nas
necessidades e perspectivas dos cidadãos consumidores.
Foi precisamente dentro desse contexto de insatisfação disseminada com relação a administração
pública burocrática que surge a nova administração pública ou administração pública gerencial,
que na perspectiva de Bresser Pereira (1998), é orientada para o cidadão-consumidor e para a
obtenção de resultados. Pressupondo que os políticos e funcionários públicos são merecedores de
grau limitado de confiança, e como estratégia serve-se da descentralização e do incentivo a
criatividade e a inovação.
Paula (2005), apresenta a proposta de um novo paradigma da administração pública que surge
como uma síntese das práticas, visões e tendências da administração publica gerencial.
A administração pública societal apresentada pela autora, baseia-se em quatro principais eixos:
Visão alternativa para o desenvolvimento, concepção participativa e deliberativa de
democracia associada a noção de gestão social;
Processo de reinvenção politico institucional e o novo perfil do gestor público;
A busca por um projecto de desenvolvimento que atenda aos interesses nacionais,
construção de politicas e instituições mais permeáveis a participação social e mais
focadas nas demandas dos cidadãos.
Partindo do pressuposto segundo o qual a gestão social destaca-se como acção gerencial baseada
no diálogo na esfera pública, podemos analisar o processo da gestão dos resíduos sólidos dentro
do campo científico da gestão social, porque a gestão dos resíduos sólidos tornou-se um desafio
para a administração pública municipal, pelo facto de constituir um tema de interesse público de
grande relevância para as sociedades modernas, por outro lado devido aos seus diversos aspectos
estruturais técnicos, operacionais e logísticos.
Nesse sentido, a questão da gestão dos resíduos sólidos, constitui um dos maiores problemas a
serem enfrentados pelas administrações públicas municipais. Autores como Massukado e Zanta
(2006), chamam atenção ao facto de Estados tratarem o problema de gestão de resíduos sólidos,
como uma questão de baixa prioridade estratégica e de curto prazo, com poucos programas,
políticas públicas e investimentos.
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4.2.9. Impacto da gestão dos resíduos sólidos Urbanos no meio ambiente e na saúde
O desenvolvimento económico, o crescimento populacional, a urbanização e a revolução
tecnológica vêm sendo acompanhados por alterações no estilo de vida e nos modos de produção
e consumo da população. Como decorrência directa desses processos, vem ocorrendo um
aumento na produção de resíduos sólidos, tanto em quantidade como em diversidade,
principalmente nos grandes centros urbanos.
Além do acréscimo na quantidade, os resíduos produzidos actualmente passaram a abrigar em
sua composição elementos sintéticos e perigosos aos ecossistemas e à saúde humana, em virtude
das novas tecnologias incorporadas ao quotidiano. Entretanto,
boa
parte dos resíduos
produzidos actualmente não possui destinação sanitária e ambientalmente adequada na sua
maioria são depositados em vazadouros a céu aberto, em quase todos os municípios do País.
Diversos problemas de ordem operacional, ambiental, social, na saúde, dentre outros, surgem
quando as etapas da gestão de resíduos sólidos urbanos não são bem planeados e implementados.
Monteiro et al (2001) advoga que a gestão dos resíduos sólidos envolve questões económicas e
sociais no cenário da limpeza urbana, como também políticas públicas locais, quer seja da saúde,
trabalho, planeamento urbano, etc.
Nos últimos anos os problemas ambientais têm se agravado, principalmente devido a
interferência humana no meio ambiente, o que pode causar diversos impactos ambientais13. A
geração de resíduos sólidos em áreas urbanas, aliada ao consumo excessivo, bem como a sua
deposição final, são desafios enfrentados pelo poder público em diversos municípios.
Mota, ( 2009) ressalta que o manejo adequado dos resíduos é uma importante estratégia de
preservação do meio ambiente, assim como de promoção e protecção da saúde. Uma vez
acondicionados em aterros, os resíduos sólidos podem comprometer a qualidade do solo, da água
e do ar, por serem fontes de compostos orgânicos voláteis, pesticidas, solventes e metais pesados,
entre outros.
O mesmo autor avança que a decomposição da matéria orgânica presente no lixo resulta na
formação de um líquido de cor escura, o chorume, que pode contaminar o solo e as águas
13
Impactos ambientais são decorrentes de qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do
meio ambiente que afectam, entre outros factores, a saúde, a segurança e o bem-estar da população.
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superficiais ou subterrâneas pela contaminação do lençol freático. Pode ocorrer também a
formação de gases tóxicos, asfixiantes e explosivos que se acumulam no subsolo ou são lançados
na atmosfera. Os locais de armazenamento e de disposição final tornam-se ambientes propícios
para a proliferação de vectores e de outros agentes transmissores de doenças.
A associação entre saúde e saneamento ambiental é evidente na medida em que em países onde
os sistemas de saneamento são adequados, há menos problemas de saúde e para variar os países
em que as condições de saneamento ambiental são precárias há elevados índices de doenças
(Poleto, 2010).
Os vários impactos ambientais decorrentes das diferentes formas de disposição de resíduos
sólidos oferecem também riscos importantes à saúde humana. Sua disposição no solo, em
lixeiras ou aterros, por exemplo, constitui uma importante fonte de exposição humana a várias
substâncias tóxicas. As principais rotas de exposição a esses contaminantes são a dispersão do
solo e do ar contaminado, e a infiltração do chorume, o último pode ocorrer não apenas
enquanto a lixeira ou o aterro está em funcionamento, mas também depois de sua desactivação,
uma vez que os produtos orgânicos continuam a degradar. Estudos têm indicado que áreas
próximas a aterros apresentam níveis elevados de compostos orgânicos e metais pesados, e que
populações residentes nas proximidades desses locais apresentam níveis elevados desses
compostos no sangue.
Assim, esses depósitos de resíduos sólidos constituem potenciais fontes de exposição para
populações, tendo sido relatado riscos aumentados para diversos tipos de câncer, anomalias
congénitas, baixo peso ao nascer, abortos e mortes prematuros em populações vizinhas a esses
locais, (Lopes 2007).
A Cidade de Maputo é o maior centro de crescimento económico e, assim, de atracção para
migrantes rurais os quais vem a procura de emprego e das melhores condições de vida. A
maioria destas pessoas vive em assentamentos informais ao redor da cidade agravando os
problemas do já fraco sistema de GRSU. E na perspectiva de Cuna (2004), esta situação afecta a
economia do país ao concorrer seriamente para a redução da vida média efectiva do indivíduo,
quer pelo aumento da mortalidade ou pelo aumento de doenças no seio da população.
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4.2.10. Papel da educação ambiental na Gestão dos Resíduos Sólidos
Vários estudos revelam que é necessário buscar formas eficazes e capazes de mobilizar cada
munícipe para uma participação efectiva no quotidiano da limpeza urbano, quer seja através de
campanhas ou associações de forma a despertar a consciência destes em relação aos problemas
do lixo no ambiente e na saúde.
Segundo MICOA (2006), isso é possível mediante o uso dos meios de comunicação social por
um lado e por outro a realização de debates, palestras ou conferências em escolas, clubes e outras
entidades associativas. Para além de despertar a consciência dos munícipes é preciso mobilizalos o que só será possível se forem mantidas as campanhas permanentes
Métodos de educação cívica
Tabela 8: Métodos da Educação Cívica
Método
Posters
Cartazes
Vantagens
Desvantagens
São mais abrangente e de baixo
Dificuldade de percepção e fácil
custo.
destruição.
São mais abrangentes pois a pessoa
Fácil destruição.
vê e lê o que esta escrito.
São mais abrangentes para todo o
Imagens áudio visuais
munícipe e de fácil percepção.
Actualização dos trabalhadores e
Jornais ambientais e escolares
Seminários
Jornadas de limpeza
Custos elevados.
Não é abrangente.
alunos são de baixo custo.
Permite a troca e transmissão de
Não
experiencia em tempo real;
imediata das actividades;
Permite a obtenção de informação,
São
organizada, detalhada e actualizada.
participação.
São um meio de sensibilização
Não garante a participação massiva;
muito prático;
Não
É possível a sua realização com
sistemática.
garante
restritos
garante
implementação
em
a
termos
de
continuidade
recursos locais.
Teatro
Representação assistida por gente, é
Em
caso
de
mensagem
mal
divertida e logo a mensagem chega a
elaborada todos os assistente da peça
comunidade.
estarão mal informados dependentes
dos gestos que forem usados.
Fonte: MICOA,2006
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A educação cívica é fundamental para a consciencialização dos diferentes stakeholders
envolvidos no processo de gestão dos resíduos sólidos urbanos, porque desperta a
responsabilidade que cada um deve assumir de forma a estancar a problemática. Mas para que
esse processo alcance os resultados desejados é necessário criar-se mecanismo de fazer com que
as mensagens sejam percebidas e entendidas pelo público alvo, não devendo restringir-se apenas
para jovens, como tem acontecido.
4.3.Gestão dos resíduos sólidos no Município de Maputo durante a governação de Artur
Canana, Eneas Comiche e David Simango
4.3.1. Artur Canana (1999-2003)
Após a luta pela independência nacional as cidades de Moçambique passaram a estar
administrativamente dependentes do governo central, principalmente no referente aos recursos
financeiros.
O tema sobre organização e infra-estruturas municipais não era prioritário, como consequência
as áreas de saneamento municipal, como é o caso da gestão dos resíduos sólidos, gestão de águas
residenciais foram descuidados, (CMM, 2010).
Com a introdução das autarquias em 1999, a estrutura administrativa dos municípios teve que
assumir de um momento para o outro, todas as responsabilidades de prestação de serviços
municipais. Por conseguinte, esta mudança não foi acompanhada de uma adequada capacitação
dos municípios.
E a administração responsável pela gestão dos resíduos sólidos, não conseguiu gerir os requisitos
de uma edilidade do tamanho e complexidade de Maputo, que ainda encontrava-se na fase de
crescimento.
Diante do exposto, a ausência de um sistema de gestão dos resíduos sólidos urbanos na cidade
fez com que o lixo fosse acumulando por toda parte, influenciando negativamente a vida diária
da população em termos de saúde, trânsito, estética e ambiente, (Cuna, 2004).
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A falta de recursos para a implantação de um sistema eficaz de GRSU, é apontado como a
génese do problema. A recolha dos resíduos sólidos era ineficaz devido a falta de equipamentos,
quer seja contentores e viaturas por parte do CMM.
Cuna, (2004) avança que uma parte dos poucos contentores e viaturas do CMM encontravam-se
bastante degradados. A recolha era feita por veículos de diferentes tipos, e nas áreas de recolhas
na altura o CMM só dispunha somente de 60 contentores com capacidade de 6m³ cada .
Associado a esse problema, era a existência de uma fraca frota de viaturas de que o município
era proprietário, aliado a incapacidade financeira de recorrer ao aluguer de viaturas privadas.
Cerca de 75% da frota municipal tinha idade superior a 7 anos, o que por conseguinte levava a
constantes paralisações por avarias embaraçando desta feita o sistema de limpeza da urbe.
A questão da qualidade, quantidade e estado de viatura ganha relevância especial pelo facto da
distancia14 para a lixeira municipal ser razoavelmente grande para se pensar em recorrer a meios
alternativos, como carroças e txovas, (Cuna,2004).
A combinação desse dois (2) factores a falta de fundos – devido a esse factor, a empresa que
vinha fazendo a recolha do lixo numa parte da cidade, a Interwaste, rescindiu unilateralmente o
seu contrato com o CMM por falta de pagamento, (Jornal Noticia, 10/11/2001) - estado precário
dos equipamentos contribuiu para que em determinado período a cidade das acácias fosse
considerada a “ capital do lixo”.
Estimativa da produção dos resíduos sólidos no município de Maputo em 1998-1999
Tabela 9: Estimativa da produção dos resíduos sólidos
Área de produção
Quantidades de lixo por dia
Área urbanizada
0.750kg/pessoa/ dia
Área suburbana
0.280kg/pessoa/dia
Área Peri-Urbana
Sem informação (não há recolha)
Cuna:2004
Tendo em conta os dados presentes podemos deduzir que o lixo doméstico recolhido na cidade
de Maputo era de aproximadamente 300 toneladas por dia, ou seja 9000 toneladas por mês.
14
Aproximadamente 10Km
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Pesquisas efectuadas pela Cooperação Técnica Alemã em 2003 indicam que a cidade de Maputo
contava com uma produção diária de 1kg de lixo por pessoa, remetendo a cerca de 1100
toneladas de resíduos sólidos produzidos por dia.
4.3.1.1. Horário de recolha de lixo vigente na Cidade de Maputo até 2003
Tabela 10: Horário de recolha dos RSU
Tipo de viatura
Horário de recolha
1º Turno: 6h.00 às 18h.00;
Camiões compactadores
2º Turno: 20h.00 às 2h:00
Basculante Caixa aberta; Caixa fixa
Turno único das 6h.00 às18h.00
Carros de apoio a varredura manual
1º Turno: 6h.00 às 18h.00;
2º Turno: 20h.00 às 2h:00
Fonte: Cuna, 2004
4.3.1.2. Equipamento de transporte de lixo pertencente ao CMM até o ano 2003
Tabela 11: Equipamento de Recolha dos RSU
Tipo de
Número de
equipamento
viaturas
Contentor
0.8
e
Marca
Estado
Rendimento diário
6
Scania e Iveco
Bom
5 Viagens por dia
Contentor 6m³
2
Mercedes
50% Bom
30 Viagens por dia
Contentor de 10m³
2
Scania
Bom
11 Contentores por
1.1m³
dia
Contentor de 16m³
2
Scania e Iveco
Bom
12 Contentores por
dia
Viatura de remoção
2
Mercedes
Bom
2 Remoções por dia
2
Scania e Iveco
Bom
9 Remoções por dia
Viatura caixa fixa
1
Tata
Bom
2 Remoções por dia
tractores
2
Iveco e Mferg
Bom
Pá carregadora
1
Total
20
manual
Basculante
caixa
aberta
Fonte: Cuna,2004
OBS: De referir existiam ainda fora desta tabela 11 viaturas avariadas estando 5 com avaria
grossa, 4 avaria ligeira, e 2 viaturas para o abate.
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4.3.2. Eneas Comiche (2004-2008)
Após a governação de Artur Canana, aumentou de forma significativa a importância da área dos
RSU, por um lado impulsionado pela sensibilidade e consciência da população acerca dos riscos
e incómodos ligados a fraca prestação destes serviços pelo Conselho Municipal através do seu
Departamento dos Serviços Municipais de Saúde e Salubridade (DSMSS) e por outro, o assunto
subiu a agenda política do órgão.
4.3.2.1.Resumo das quantidades dos RSU produzidos diariamente na cidade de Maputo
Tabela 12: Quantidade dos resíduos sólidos produzidos diariamente
Tipo
Produção por dia/ toneladas
Produção pordia/%
Resíduos sólidos domésticos
594
56
Resíduos comerciais
258
24
Resíduos sólidos verdes
30
3
89
8
Resíduos sólidos volumosos
10
1
Resíduos sólidos de construção
50
5
Resíduos sólidos de varredura
22
2
Total
1052
100%
Resíduos
sólidos
dos
mercados/feiras
Fonte: CMM,2008
4.3.2.2.Sistema de gestão dos RSU:
Acondicionamento
Os serviços municipais recomendavam que o lixo deveria ser acondicionado em sacos plásticos.
Segundo o MICOA (2006), esta recomendação era seguida pela maioria dos residentes da zona
de cimento e uma minoria das zonas suburbanas, onde os resíduos sólidos eram colocados em
sacos plásticos próprios e depositados em contentores instalados pelo Conselho Municipal.
A maioria dos moradores das áreas suburbanas usavam para a deposição do lixo um tipo de
material menos dispendioso ao seu dispor, como é o caso de sacos, baldes plásticos, latas, e
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caixas de papelão, o que resultava em uma grande variedade de formas e tamanho. Criando dessa
feita dificuldades de transporte.
Dependendo da área e do número de beneficiários, os contentores de depósito e recolha de
resíduos sólidos tinham capacidade variável, sendo de 1m³, 6m³, 10m³ até 16m³. Em outros
locais tais como hotéis, restaurantes e armazéns, os proprietários de unidades comerciais ou
industriais eram obrigados a possuírem os seus próprios contentores, (MICOA, 2006).
Horário de deposição dos resíduos sólidos nos contentores
Era recomendado a todos os moradores tanto das áreas urbanas como suburbanas a fazerem a
deposição do lixo nos contentores no horário entre as 17 e 20h, salve alguns bairros de difícil
acesso onde os serviços de recolha primárias são efectuadas por meio de tchovas.
Sistema de recolha dos resíduos sólidos
Na cidade de Maputo predominam os seguintes sistemas de recolha de resíduos:
1. Sistema de concentração dos resíduos sólidos em contentores públicos, no qual os
residentes depositam os resíduos em contentores comuns donde por sua vez são
recolhidos para a deposição final.
Este é o sistema que era predominante em alguns bairros da zona de cimento, e em todos os
bairros suburbanos que são cobertos pelos serviços de recolha dos resíduos sólidos. Nos bairros
suburbanos a DSMSS distribuiu ao longo das avenidas e ruas 5 contentores de 10m³ e ( tipo roll
on e roll of) e cerca de 25 contentores de 6m³, (CMM, 2008).
Os contentores foram distribuídos de tal modo a assegurar que cada bairro dispunha de pelo
menos 1 contentor.
2. Recolha dos recipientes de resíduos sólidos à beira do passeio, este sistema era mais
usual em zonas mais privilegiadas da cidade, onde os moradores colocavam os resíduos
no passeio em dias e horas acordadas com os serviços de recolha, (MICOA, 2006).
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Fazem parte deste sistema de recolha a maioria dos bairros de cimento, onde a recolha era
basicamente feita mediante o uso de sacos plásticos, os quais os moradores deixavam à beira do
passeio, para posterior remoção pelos serviços de recolha.
Segundo CMM (2008), Para esse tipo de recolha, usavam-se na sua maioria camiões
compactadores e de caixa aberta.
Horário de recolha
O horário de recolha é um aspecto fundamental a considerar para a eficiência no processo de
gestão dos RSU. No Município da cidade de Maputo, com excepção de alguns bairros
suburbanos onde a remoção é feita no período diurno, a recolha para o local de deposição final é
feita no período nocturno, começando a partir das 20 até as 5horas, (MICOA, 2006).
Meios de transporte
Os tipos de veículos mais usuais, para a recolha são os triciclos de tracção humana (vulgo
tchova), as viaturas basculantes de recolha manual e de caixa aberta, viaturas de compactação,
viaturas de cargas e descarga de contentores de grande volumes, e particularmente os tractores
em distritos municipais com precárias condições de acesso no interior dos bairros.
A maior parte da frota usada para o transporte dos resíduos sólidos encontrava-se em condições
degradadas causadas pelo uso permanente e fraca manutenção.
Segundo CMM (2008) o DSMSS contava com cerca de 354 contentores de 1.1m³ para camiões
do tipo compactadores, 76 contentores de 6m³ e 5 contentores de 10m³ para os bairros
suburbanos e mercados, como ilustra a tabela a seguir:
Tabela 13: Contentores para a remoção dos RSU disponíveis em 2004-2008
Tipo de contentor
Contentores de 1.1m³
Contentores de 6m³
Contentores de 10m³
Total
Fonte: CMM, 2008
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Numero/Qtd.
354
76
5
435
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4.3.2.3.Veículos disponíveis no CMM até 2007
Tabela 14: Veículos disponíveis no CMM até 2007
Tipo
Compactador
Skip loader
Roll on, Roll
off
Basculante
Caixa fechada
Caixa aberta
tractor
Pa carregadora
Bulldozer
Total
Potência
Em circulação
8
3
1
Disponível
Em reparação
1
1
1
1
2
5
3
2
1
1
26
4
Paralisada
Avariado
Total
Sem recuperação
1
1
1
2
7
3
2
2
2
2
10
4
3
2
34
4.3.2.4.Outros intervenientes no processo de gestão dos resíduos sólidos
Além dos Serviços de Salubridade do Município da cidade de Maputo, outros intervenientes tais
como as comunidades devidamente organizadas e agentes privados para o efeito, licenciados
pelo Conselho Municipal, participavam na remoção e recolha do lixo em particular nas zonas
suburbanas sem acesso aos camiões de remoção, ( MICOA,2006).
No referente a este ponto, Segundo o CMM, (2008) desde o inicio de 2007 uma empresa privada
opera na área suburbana para aumentar o grau de cobertura dos serviços. E uma associação15 sem
fins lucrativos e uma macro–empresa16 proveniente do sector informal realizam a recolha
primária dos resíduos sólidos nos bairros Maxaquene “A” e Urbanização, tendo assinado os
contratos com o Conselho Municipal de Maputo em 2004.
15
16
Associação de Desenvolvimento de Agua e Salubridade do bairro de Urbanização (ADASBU)
Uaene Gama de Serviços de Maputo (U.G.S.M)
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4.3.3. David Simango (2009-2013)
No programa quinquenal referente ao período entre 2009-2014, o governo definiu como um dos
objectivos desenvolver infra-estruturas de GRSU e saneamento do meio, reconhecendo as
dificuldades que o sistema formal de GRSU enfrenta.
No País a GRSU, continua a ser problemática, tal como se verifica na maior parte dos países em
vias de desenvolvimento onde do total dos resíduos sólidos produzidos somente 40% são
recolhidos pelos serviços municipais e governos distritais. Em detrimento desta situação os
municípios,
governos distritais, chefes das localidades, líderes comunitários e instituições
ligadas à GRSU quer seja nacionais e internacionais tem se dedicado a práticas conducentes a
uma boa GRSU.
Com vista a melhorar a qualidade e a cobertura dos serviços de recolha dos RSU, meu
entrevistado Dr, Anselmo Inguane17 avançou-me que o CMM optou por terciarizar os serviços de
GRSU a empresas privadas.
Acreditando que a terciarização desses serviços a empresas privadas especializadas no ramo e
com melhores equipamentos quer seja em termos de camiões, contentores entre outros, haveria
de trazer maiores ganhos em escala de eficiência e eficácia que não seriam possíveis caso o
CMM presta-se de forma directa os serviços. Essa melhoria reflecte-se em termos de redução
de custos relacionados a aquisição, manutenção de equipamentos assim como de formação e
capacitação dos recursos humanos que encontravam-se directamente afectos no DSMSS, assim
como de maior qualidade do serviço a ser prestado ao munícipe.
Foi precisamente dentro desse contexto que o CMM assinou o contrato com duas empresas
privadas ambas de gabarito internacional, é o caso da ECOLIFE predestinada a actuar
especificamente na zona urbana, e a ENVIROSERV que actua somente na zona suburbana.
A ENVIROSERV faz a recolha secundária dos resíduos para a deposição final, ficando a recolha
primária para as microempresas e associações que fazem a recolha porta a porta usando carrinha
de mão vulgo txova para deposição nos contentores comuns deixados ao longo das principais
vias.
17
Técnico Superior de Monitoria e Avaliação afecto na DMGRSU
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Figura 5 : Exemplo da recolha dos RSU porta a porta para a deposição no contentor comum
Fonte: Autor
4.3.3.1.Esquema
Esquema de recolha dos Resíduos sólidos
sól
nas zonas suburbanas
1ª Fase
Recolha porta a porta
Usando-se carinha de mão
2ª Fase
Acondicionados em
contentores da Enviroserv
3ª Fase
4ª Fase
Recolha dos camiões da
Enviroserv nos contentores
Deposição final na lixeira de
Hulene
Fonte: Adaptado pelo autor
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Horário de recolha:
A recolha primária dos resíduos sólidos na zona suburbana é feita no período diurno, ficando a
recolha final sobe a responsabilidade da Enviroserv. Esta faz a recolha para a deposição final no
período entre as 19h até as 8h, salvo alguns dias que o faz de dia, caso não tenha o feito no
período nocturno devido a problemas de várias ordens.
Zona urbana
Nas zonas urbanas o sistema de recolha encontra-se dividido em duas grandes zonas, a de altos
edifícios que apresenta uma densidade populacional alta e a zona com vivendas individuais que
apresenta uma densidade populacional mais reduzida.
Nessas zonas os munícipes têm a responsabilidade de depositar os resíduos sólidos nos
contentores no período entre as 15h.30 até as 19h. Por sua vez a recolha para deposição final fica
a responsabilidade da empresa privada ECOLIFE no período entre as 19h.00 até as 8h.
4.3.3.2.Esquema da recolha dos resíduos sólidos nas zonas urbanas
1ª Fase
Deposição do lixo nos
contentores
2ª Fase
Recolha do lixo nos
contentores pela ECOLIFE
3ª Fase
Transporte e Deposição
final na lixeira de hulene
Fonte: Adaptado pelo autor
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4.3.3.3.Equipamento
Equipamento disponível na ENVIROSER
ENVIROSER e ECOLIFE para a recolha dos
d resíduos
sólidos
Tabela 15
: Equipamento
mento disponível para a rrecolha dos RSU Enviroserv e Ecolife
Empresa
ECOLIFE
Tipo de camião
ca
Quantidade
Tipo de contentores
Qtd.
Compactado
Compactadores
9 Camiões
5.5 m³
41
2.5 m³
6
1.1 m³
651
Total
9 camiões
EVIROSERV
698 Contentores
Contentore
SKIP LODER
4
6m³
100
Roll on Roll Off
O
3
12m³
45
Total
7
145
Fonte: Dr, Anselmo Inguane
Perante esse cenário de terciarização dos serviços da recolha dos RSU, o Conselho
onselho Municipal
dispõe na sua frota de cerca de 3 camiões skip loader e um compactador,, para corrigir
corrigi possíveis
eventualidades de má prestação de serviços.
s
Figura 6 : Exemplo de camiões
miões Skip Looader e compactador
Fonte: PDGRS
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Capitulo V: Apresentação e Discussão dos Resultados da Pesquisa
No presente capítulo iremos apresentar os dados recolhidos no terreno e a sua respectiva análise.
É de frisar que os dados serão analisados a luz dos objectivos, hipóteses, quadro teórico e
conceptual que o presente trabalho apresenta. No entanto numa primeira fase iremos apresentar o
perfil do Município de Maputo, para depois fazer a análise crítica do actual modelo de gestão dos
resíduos sólidos e sugerir possíveis arranjos tendo em vista um modelo eficiente, eficaz e
sustentável.
5.1.
Enquadramento Geográfico da cidade de Maputo
A capital da República de Moçambique, Maputo, fica situada na costa sudoeste da África, no
extremo sul do pais, entre os paralelos 25° 40´ e 26° 30´ entre os meridianos de 32° 35´ e 33°
10´´. Sob o ponto de vista das suas condições naturais pertence a macro região da África Austral
que se estende desde o rio Zambeze ao norte e o extremo sul do continente Africano.
Administrativamente, a cidade de Maputo possui o estatuto de província, e como capital é a
cidade mais importante dos pais. De acordo com os dados fornecidos pela Direcção Municipal de
Endereçamento, a cidade está estruturada em 5 distritos municipais e 53 bairros.
A cidade de Maputo é formado por um núcleo constituído por áreas urbanas densamente
povoadas e zona peri-urbana onde misturam-se moradias simples, construídas na maioria das
vezes em terrenos bem parcelados.
O núcleo, a semelhança de todas outras grandes cidades possui um centro localizado na planície
aluvial, conhecida vulgarmente por Baixa, (Cuna, 2004). É nesta zona onde localiza-se
predominantemente a área comercial, e grande parte dos serviços públicos e privados.
A zona suburbana representa uma área particularmente problemática. Ela estende-se logo a
seguir ao núcleo da cidade, e é caracterizada por construções desordenadas que redundam na
ausência de vias de acesso associado ao problema de saneamento.
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5.2. Análise crítica do Actual modelo de GRSU
Actualmente vivemos num mundo globalizado economicamente, no qual a tecnologia, a
Sociedade, a política, a cultura estão constantemente em processo de renovação, e diante desta
flexibilidade, surgem mudanças em diversos sectores, reflectindo várias transformações nas
organizações e no cenário mundial. Razão pela qual mostra-se necessário que a administração
pública procure meios de se adequar aos novos modelos para melhor execução de suas
actividades, e providenciar os serviços públicos de forma eficiente e eficaz à colectividade.
A Administração Pública, com vista a aperfeiçoar e melhorar a prestação dos serviços públicos
opta pela terciarização, ou seja transfere a terceiros a realização de determinados serviços, cuja
interrupção poderia comprometer o andamento da máquina administrativa.
Um dos problemas que aflige o Município de Maputo são os resíduos sólidos, que de forma
geral, são de alta complexidade ambiental, social e económica, o que faz surgir a necessidade de
um novo posicionamento do CMM, tendo como objectivo primordial garantir para todos os
munícipes um ambiente que assegure boas condições de vida. Zelando dessa feita ao slogan “
Maputo, cidade limpa, bela, próspera e solidária”
Foi precisamente dentro desse processo que o CMM com o objectivo de reduzir os custos
aumentar a eficiência, eficácia e abrangência do serviço de Recolha dos resíduos sólidos
urbanos, e ainda assegurar um maior controlo do serviço prestado ao munícipe, que é ao mesmo
tempo cidadão, cliente e utente do serviço.
Optou por terciarizar os serviços de GRSU a empresas privadas assim como a associações
privadas, as quais tem como única missão manter a cidade e as zonas suburbanas livres daquilo
que constitui uma ameaça à saúde publica, zelando dessa feita ao que vem plasmado na lei mãe
no seu Titulo III, capitulo V e artigo 89 “ 1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente
equilibrado e o dever de o defender; 2. O Estado e as Autarquias locais, com a colaboração das
associações de defesa do ambiente, adoptam politicas de defesa do ambiente e velam pela
utilização racional de todos os recursos naturais ״.
Ficando patente que a terciarização dos serviços de GRSU pelo CMM, visa assegurar a
operacionalização dos dispositivos legais, assim como buscar vantagens operacionais e
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estratégicas garantindo uma eficiência administrativa que se consubstancie na melhor paridade
na relação custo-beneficio, ou seja, agilidade, eficiência e economicidade18.
Partindo do pressuposto que o Estado é o maior comprador de serviços através dos órgãos da
Administração directa e indirecta.
A introdução do processo de terciarização dos sistema de GRSU, para além de assegurar uma
maior abrangência dos serviços até aos bairros recônditos do Município de Maputo, onde devido
aos problemas de difícil acesso associados as ruas estreitas e não pavimentadas as viaturas do
CMM não conseguiam chegar para fazer a recolha dos resíduos, excluindo dessa forma essas
comunidades do acesso a esse serviço básico.
A terciarização criou novas oportunidades para o surgimento de associações e empresas de
pequeno e médio porte nos bairros de difícil acesso19, gerando novas oportunidades de emprego
e consequentemente impulsionando o crescimento económico na medida em que estas empresas
constituem uma fonte para a geração de renda aos seus trabalhadores.20
Embora o processo de terciarização tenha trazido benefícios para ambos os sectores públicos e
privado, tendo estimulado a economia através do aumento de postos de trabalhos ao mesmo
tempo que resolvia questão de recolha dos RSU, assim como reduzir desigualdades regionais
entre os bairros no que tange ao acesso aos serviços de limpeza.
Por outro lado, mostra-se necessários elucidar os principais desafios que se colocam a margem
do presente processo.
O planeamento prévio a contratação dos serviços do sector privado constitui uma variável
fundamental se não vital, na medida em que vai criar uma inevitável atribuição ao órgão
contratante: a gerência do processo de terciarização que envolve dentre as demais funções a
questão de fiscalização e acompanhamento regular dos serviços prestados.
18
Reduzindo dentre outros encargos os gasto com pessoal efectivo, aquisição e manutenção de equipamentos.
As quais dedicam-se ao processo de recolha primaria dos Resíduos sólidos.
20
Actualmente o CMCM conta com duas empresas contratadas, ambas de gabarito internacional Ecolife e Eviroser e
44 microempresas e associações que actuam a nível dos bairros municipais.
19
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Diante do exposto cabe a Direcção Municipal de Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos e
Salubridade (DMGRSUS) a função de fiscalização e zelar pelo cumprimento dos contratos
assinados com as demais empresas e associações.
Dentro desta lógica, importa referenciar que a terciarização não deve apenas ser orientada para a
questão de redução de custos. A redução de custos constitui um meio e uma consequência desse
processo e não um fim.
Um factor que merece destaque no processo de terciarização empregue pelo CMM, é o facto de
este cingir-se apenas na recolha dos resíduos para a sua deposição final. Deixando de lado os
outros intervenientes que desempenham um papel central na questão de colecta selectiva21.
E para que o processo de terciarização alcance os resultados desejados, que consistem em manter
a cidade limpa e reduzir o volume do lixo produzido, é necessário que esteja associado a outros
programas dentre os quais, a educação ambiental dos munícipes e a colecta selectiva.
A colecta selectiva no processo de gestão dos resíduos sólidos, contribui com uma série de
vantagens que se traduzem em resultados positivos, tais como a diminuição do impacto
ambiental das lixeiras, permite a geração de trabalho e renda na medida em que os catadores se
organizam em torno de uma associação ou cooperativa para colectar, separar, comprar e
comercializar o material reciclável, ajuda também a resgatar a cidadania através do processo de
participação possibilitando uma melhor articulação entre catadores, empresas, associações
ecológicas, escolas, contribuindo para mudar valores e atitudes individuais para com o ambiente,
incluindo a revisão de hábitos de consumo.
Actualmente a cidade das acácias alberga cerca de 1.100.000 pessoas, que produzem cada dia
cerca de 1.100 toneladas22 de resíduos sólidos o que significa que cada habitante da capital
moçambicana produz diariamente cerca de 1kg de lixo. Do conjunto de resíduos produzidos,
699.6 toneladas são depositadas diáriamente na lixeira a céu aberto de Hulene.
Apenas 36.4% cerca de 400.04 toneladas é que é recolhido, tratado e vendido na sua maioria por
pessoas individuais ou organizadas em grupos, as quais fazem do lixo a sua fonte de rendimento.
21
Colecta selectiva é o ato de separar e colectar materiais recicláveis na própria fonte geradora para que não sejam
descartados como lixo
22
CMM, 2013
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Com base nos dados previamente apresentados, podemos constatar que são produzidos na capital
do País cerca de 330.000 toneladas de resíduos por mês, dos quais apenas 36.4% correspondente
a 120.120 toneladas é que são colectados para a reciclagem, e os restantes 209.880 toneladas
permanecem na lixeira de Hulene sem nenhum tratamento adequado.
Estes dados são uma prova da existência no Município Maputo de poucas organizações que se
dedicam a actividades de colecta selectiva, sendo na maioria das vezes essas actividades
realizadas por indivíduos isolados que devido a falta de oportunidades de emprego, recorrem a
actividade de catar o lixo como única opção para a sua sobrevivência. Não existindo a nível
Municipal programas de capacitação e valorização desse grupo de indivíduos, que na maioria das
vezes são observados com medo, pena, nojo, indiferença por outras pessoas.
Associado a esse factor surge a questão de Educação Ambiental, que constitui a outra face da
mesma moeda, como avança Bernardo (2008), a colecta selectiva sem ampla educação ambiental
cai na mesma infelicidade de um cinema sem anúncio ou placas: ninguém vai saber de sua
existência, levando a iniciativa ao fracasso.
A educação ambiental é uma peça fundamental para o sucesso do programa de colecta selectiva,
e consequentemente de um bom sistema de gestão dos resíduos sólidos. Essa forma de educação,
que neste caso visa ensinar os munícipes acerca do seu papel como gerador de lixo, é
principalmente dirigida à comunidade: escolas, repartições públicas, residências, escritórios, etc.
construindo dessa feita valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente.
Com a educação ambiental os munícipes poderão aprender a fazer a separação dos objectos
recicláveis antes da sua deposição na lixeira, reduzindo o seu volume e consequentemente os
custos relacionados com o processo de gestão, ao mesmo tempo que possibilita o
reaproveitamento ou reutilização dos objectos outrora rejeitados ou deitados.
No tocante aos aspectos acima referenciados, segundo fontes da DMGRSUS foi ensaiado no
primeiro semestre de 2013 pela Cooperativa de Maputo para Soluções Ambientais (COMSOL)
na zona de Sommershield “A” um modelo de gestão de resíduos enfatizando a questão de
recolha selectiva.
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O projecto consistia no acondicionamento separado do lixo que cada família produzia, num
processo em que o material reciclável como plástico, papel, garrafa, lata entre outros era
separado do lixo orgânico para a sua posterior utilização.
O lixo reciclável era recolhido porta a porta todas as segundas-feiras pelos catadores da
cooperativa, enquanto a gestão do lixo orgânico continuava sob responsabilidade do Conselho
Municipal da cidade de Maputo.
Segundo Ludite Sara23 depois de três meses de implementação o projecto mostrou que é possível
reduzir a quantidade de lixo que vai ao aterro, através da separação dos resíduos sólidos
inorgânicos e orgânicos. Neste processo, seria depositado na lixeira o que não é reciclável e nem
aproveitável para outros fins.
Tendo acrescentado também que este tipo de projecto traz ganhos na consciencialização sobre
uma abordagem diferente da gestão do lixo, porque implica a responsabilidade do munícipe na
gestão individual dos resíduos produzidos.
Para José Maria C. Langa24, todo o munícipe tem que ser responsável pelo lixo que produz e
colaborar na sua separação e entrega aos catadores. Langa sublinhou que a recolha selectiva tem
benefícios ambientais, pois reduz a quantidade de detritos que vai à lixeira do Hulene que neste
momento está numa fase de saturação.
O material recolhido como plástico, papelão, garrafas e latas é posteriormente vendido às
fábricas de reciclagem existentes na cidade de Maputo.
Entretanto, um dos grandes constrangimentos enfrentados pelos catadores é a existência de
poucas fábricas de reciclagem e o baixo preço estipulado pelo comprador, lesando deste modo os
catadores.
Neste contexto, a Katia Ferrari25, é da opinião que o País, particularmente a capital, precisa de
mais fábricas de reciclagem, pois contrariamente este tipo de iniciativas pode ficar
23
Técnica de planificação na Direcção Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos e Salubridade da cidade de
Maputo.
24
Coordenador da COMSOL para a área de catadores.
25
Representante da Associação Internacional de Voluntários Leigos em Moçambique . (LVIA).
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comprometido. “ É preciso termos fábricas de reciclagem de forma a tornar o lixo aproveitável,
reduzindo deste modo o impacto ambiental e a quantidade de resíduos sólidos que vai ao
depósito final ou lixeira por não mais ser reutilizável”.
Com base no referenciado, fica claro que o actual modelo de gestão de resíduos sólidos adoptado
pelo CMM, embora apresente algumas vantagens relativas é necessário que seja acompanhado
de programas municipais, de forma a sensibilizar e envolver os outros do seu importante papel
no processo dos 3R´S (Reduzir, Reutilizar, Reciclar), por outro de políticas que estimulem a
criação de indústrias de reciclagem.
No entanto mostra-se necessário recorrer a análise SWOT ou FOFA do actual modelo de Gestão
dos resíduos sólidos, de forma a tomar um posicionamento claro em relação a situação real do
sector em estudo.
A análise FOFA irá fornecer os dados e a informação necessária para um sucesso no ponto de
partida no processo de planeamento tendo em conta os factores que contribuem ou atrapalham a
execução de acções para um bom sistema de Gestão dos resíduos sólidos.
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5.2.1. Análise FOFA do actual modelo de GRSU
Tabela 16: Analise FOFA
Forças
Fraquezas
Aumento da cobertura dos serviços de Recolha dos Dificuldade na fiscalização e monitoria dos
resíduos sólidos.
contratos celebrados com cerca de 44 micro
empresas .
Disponibilidade de maior quantidade de Falta de estímulos institucionais para a criação de
Contentores para a deposição do lixo.
projectos de reciclagem.
Colecta regular do lixo, contribuindo para que não
Falta de fiscalização eficiente de forma a assegurar
haja um grande acumulo nas vias publicas.
que não aja deposição inadequada de resíduos por
parte dos munícipes.
Especialização das empresas na prestação de
Existência de poucos projectos de educação e
serviços.
consciencialização ambiental que atinja todos os
munícipes e não apenas os jovens.
Aperfeiçoamento operacional das empresas na
Não existe uma separação previa do lixo reciclável
prestação de serviços.
e não reciclável durante colecta e deposição.
Maior agilidade e flexibilidade na oferta de
serviços.
Oportunidades
Aumento de oportunidades para o surgimento de
novas empresas, estimulando o desenvolvimento
através do aumento do nível de emprego e receitas
para o estado.
Aumento da competitividade entre as empresas
estimulando a concorrência.
Aumento da qualidade do serviço ofertado ao
cidadão/cliente.
Envolvimento dos munícipes através de
associações e cooperativas.
Capacitação dos catadores de lixo.
Ameaças
Crescimento desordenado da população urbana.
Expansão do sector informal.
Aumento excessivo no consumo de produtos e bens
descartáveis.
Deposição de produtos impróprios nos contentores
o que contribui para a sua rápida degradação.
Fonte: adaptado pelo autor
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Capitulo VI: Conclusões e Recomendações
Neste último capítulo apresentamos as conclusões gerais do estudo e as recomendações visando
a implementação de modelo integrado de GRSU.
6.1. Conclusões
A questão ambiental como avança Bernardo (2008), tem sido actualmente alvo de discussões na
sociedade, tanto no ambiente político, empresarial como académico. Hoje a importância da
preservação da natureza é necessidade de consciência de todos, pelo bem-estar e qualidade de
vida de cada indivíduo, pela sobrevivência do homem como espécie.
Nos últimos anos, esta consciência vem crescendo entre as pessoas mais alertas às necessidades
sociais e mais comprometidas em cumprir com seu papel na sociedade, exercitando a
solidariedade e sua cidadania.
O presente trabalho procurou abordar a necessidade de adopção de um modelo de GRSU visto
como instrumento importante para a promoção do desenvolvimento sustentável, olhando para a
responsabilidade dos diferentes actores envolvidos no processo.
Dentro dessa lógica vários académicos defendem que para uma boa gestão dos resíduos sólidos,
deverá passar necessáriamente pela operacionalização do conceito de gestão integrada dos
resíduos, porque este abarca consigo medidas visando a redução dos resíduos na fonte,
valorização de materiais recicláveis etc.
Neste caso, análise dos dados colhidos no campo, evidencia que a terciarização dos serviços de
limpeza urbana, embora tenha trazido consigo algumas vantagens operacionais e estratégicas que
consubstanciam-se na melhor paridade em relação ao custo e benefício, isto é, proporcionou uma
maior cobertura, agilidade, eficiência e economicidade na prestação de serviços. Por si só não
consegue resolver de forma sustentável a problemática do lixo, havendo uma necessidade de ser
acompanhado por outros programas municipais que incluam os diversos actores envolvidos no
processo de GRSU.
Portanto, em relação as hipóteses levantadas anteriormente, constatou-se que os mecanismos
adoptados pelo CMM, não são totalmente viáveis para uma gestão integrada dos resíduos
sólidos. Porque por um lado o actual modelo limita-se simplesmente na recolha e deposição final
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dos resíduos, sem incluir os diversos actores que jogam um papel fundamental na redução e
reutilização dos resíduos sólidos, por outro nota-se uma fraca articulação das autoridades
municipais com os munícipes no processo de consciencialização da sua responsabilidade na
valorização do lixo que não é lixo no momento de acondicionamento, e que do lixo pode ser
extraída matéria-prima para o fabrico de novos bens.
6.2. Recomendações para a implantação de um modelo sustentável de GRSU
Um dos primeiros caminhos para resolver a questão dos resíduos sólidos urbanos, é trabalhar
para garantir as actividades de saneamento básico que incluem a colecta desse material seguida
da correcta deposição final. Mas a simples deposição dos resíduos sólidos em lixeiras a céu
aberto acaba não sendo a alternativa mais adequada para lidar com uma questão tão complexa.
Razão pela qual a colecta e a deposição final dos resíduos sólidos efectuada pelas empresas e a
associações contratadas e subcontratadas pelo CMM, é uma condição necessária mas não
suficiente para estancar a problemática do lixo na capital. Havendo a necessidade da introdução e
operacionalização do conceito gestão integrada dos resíduos sólidos.
Este processo poderá consistir na escolha de alternativas para a redução da quantidade de
resíduos gerados, assim como da separação dos materiais recicláveis, que podem ser
reincorporados na cadeia produtiva através das organizações que se dedicam a reciclagem.
E a forma de aplicar a gestão integrada dos resíduos sólidos deverá passar necessáriamente pela
implantação da colecta selectiva, na medida em que através da separação na fonte geradora dos
resíduos sólidos (residências, escritórios, mercados etc.), vai contribuir para a redução da
quantidade dos resíduos sólidos que são destinados para a lixeira de Hulene.
A colecta selectiva de resíduos se apresenta como uma solução indispensável, pois permite a
redução da quantidade de lixo que se destinará para a lixeira. E para que esse processo se
materialize os munícipes jogam um papel vital, devendo serem orientados para a divisão dos
recicláveis em recipientes diferentes tendo em conta a sua composição. Trazendo nesse caso o
engajamento dos munícipes na problemática do lixo, esse engajamento irá ocorrer porque só
haverá o encaminhamento dos resíduos para a reciclagem após a separação prévia feita por cada
indivíduo no momento da geração do lixo.
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Sendo assim a colecta selectiva vai obrigar a adopção de alternativas correctas para a destinação
e deposição dos resíduos sólidos, e assegurar que os munícipes realmente contribuam na
discussão sobre as melhores alternativas para problemática do lixo, visando a implantação de
novas atitudes e posturas porque estes vão passar a sentirem-se parte integrante da solução,
reunindo dessa feita maiores sinergias para estancar o problemas através de adopção de atitudes
ambientalmente correctas.
Um outro aspecto que contribui para que a terciarização dos serviços por si só não seja capaz de
estancar o problema do lixo, é o desenvolvimento económico que se regista na capital o qual
vem acompanhado do crescimento populacional e consequentemente da urbanização massiva
associada ás alterações no estilo de vida e nos modos de produção e consumo dos munícipes.
Como consequência directa desse processo, vem ocorrendo um aumento na produção dos
resíduos sólidos, tanto em quantidade e diversidade.
Face a essa situação mostra-se necessário a adopção de acções educativas que visem implantar
atitudes de consumo mais conscientes por parte dos munícipes, onde podem passar a ter maior
preferência por produtos de maior durabilidade como é o caso de produtos de vidro e porcelana
em vez dos materiais descartáveis.
Um outro factor não menos importante e que merece a nossa devida atenção é o papel e a
utilidade cívica dos catadores de lixo, os quais na sua maioria são observados com pena, nojo e
indiferença por parte dos munícipes. Importa no presente estudo recordar que essa camada
vulnerável de pessoas é responsável pela redução de cerca de 36.4 % do lixo que diáriamente é
depositado na lixeira de Hulene.
Entretanto é preciso reconhecer o contexto vulnerável, precário e frágil das condições do seu
trabalho, assim como da exclusão social dessas pessoas. O que impõe a necessidade de adopção
de estratégias ou programas que visem tornar a actividade dos catadores de lixo, digna e com
menos riscos, ao mesmo tempo que garante a geração de renda e inclusão social desse segmento
importante de trabalhadores vitais para um bom sistema de GRSU.
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Devidamente capacitados, os catadores poderão ter um papel fundamental nas GRSU, podendo
tornar-se agentes activos e parceiros da DMGRSUS, valorizando o seu trabalho de recolha e
revenda de material reciclável e dignificando-se como capital humano da nossa sociedade.
Associado ao actual modelo de GRSU, uma outra prática pode ser adoptado quer através de
programas de divulgação ou de consciencialização dos munícipes, pois a melhor forma de
resolver a problemática do lixo é minimizando a sua produção. Com vista a garantir a
prossecução desse objectivo vários países tem implementado o projecto dos 3R´s ( Reduzir,
Reutilizar e Reciclar).
A implementação desse projecto no Município de Maputo, poderá minimizar a geração de
resíduos, e maximizar as práticas de reutilização e reciclagem.
A redução da produção do lixo consiste em diminuir o consumo de embalagens que de alguma
maneira não podem ser reaproveitadas para outras actividades, isto é incrementar acções que
visem minimizar a geração dos resíduos na fonte assim como evitar desperdícios. Uma das
atitudes para reduzir a quantidade de lixo gerado é a utilização de produtos fabricados com
tempo de vida útil prolongado26.
A reutilização vai consistir na implementação de acções que tenham em vista optimizar a
máxima utilização dos bens antes de serem descartadas.27 E por fim a reciclagem que é um
processo que consiste em transformar o lixo que não é lixo em matéria-prima usada para a
produção de novos bens. Os resultados desse processo podem ser expressivos no campo
ambiental económico e social.
Para o meio ambiente, a reciclagem sempre reduz a acumulação progressiva de lixo devido o seu
reaproveitamento como matéria-prima. Evitando o corte de várias árvores se o papel for
reciclado, bem como as emissões de gases como gás carbónico, metano, entre outros.
26
Substituir o uso de objectos descartáveis por objectos que dão para lavar e continuarem a serem usadas; Assinar
jornais e revistas com outras pessoas; evitar empacotamentos desnecessários levando consigo a sua bolsa quando vai
as compras etc.
27
Usar a outra face dos papeis já usados para fazer rascunho, ou anotações; aproveitar embalagens descartáveis para
fazer artesanato; restaurar moveis antigos ao invés de comprar novos
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Quanto às questões sociais, a reciclagem permite um aumento de emprego e renda para as
populações mais pobres que podem trabalhar como catadores, gerando deste modo melhorias
ambientais para todo o processo. Enquanto no aspecto económico a reciclagem permite o
reaproveitamento de toneladas de resíduos que podem ser aproveitados neste processo, gerando
mais riquezas para as empresas e da mesma forma gerando mais renda para as camadas sociais
mais humildes.
Ficando patente que a educação e consciencialização ambiental são factores determinantes para a
implantação de um sistema de GRSU eficiente. A responsabilidade é de toda a sociedade não
podendo ser excluída nenhuma parte dela, nem mesmo as pessoas com dificuldades de acesso a
meios de comunicação. É imperativo encontrar alternativas para o acesso à informação.
Síntese de um modelo de GRSU, com responsabilidade compartilhada entre os
Stakeholders
CONSELHO
MUNICIPAL:
DIRECÇAO DE GESTAO
DOS RESIDUOS SOLIDOS
URBANOS
PROGRAMAS DE
CAPACITAÇAO DOS
CATADORES DE LIXO
TERCEALIZAÇAO DOS
SERVIÇOS A EMPRESAS E
ASSOCIAÇÕES
ASSOCIAÇOES E
COOPERATIVAS DE
RECICLAGEM
CIDADE LIMPA
PROMOÇAO DA GESTAO
INTEGRADA DOS RESIDUOS
SOLIDOS ( COLECTA
SELECTIVA , ABORDAGEM
DOS 3R´s)
MUNICIPES,
COMERCIANTES ENTRE
OUTROS PRODUCTORES
DO LIXO
Fonte: Adaptado pelo autor
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Lei 2/97, Boletim da República, I Série, no 7º, 2º Suplemento, 18 de Fevereiro de 1997;
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http://www.mol.co.mz/noticias/011110.html.
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Anexo I: Lista dos entrevistados
Nº
1
Nome do Entrevistado
Anselmo Inguana
Função
Local
Técnico Superior de Monitoria e
Direcção Municipal de Gestão dos
Avaliação
Resíduos
Sólidos
Urbanos
e
Salubridade
2
Ludite Sara
Técnica de Planificação
Direcção Municipal de Gestão dos
Resíduos
Sólidos
Urbanos
e
Salubridade
3
José Maria Langa
Coordenador para área de catadores
Cooperativa de Maputo para soluções
Ambientais
4
Katia Ferrari
Representante
da
Associação
Associação
Internacional
Internacional de Voluntários leigos
Voluntários leigos em Moç.
5
Arsénio Banze
Técnico de Planificação
Livaningo
6
Arlindo Langa
Coordenador de Projectos
MICOA
7
João Mugabe
Catador de lixo
Lixeira de Hulene
8
André Tomwela
Catador de lixo
Lixeira de Hulene
9
Tomas Joao
Catador de lixo
Lixeira de Hulene
10
José Semana
Catador de lixo
Lixeira de Hulene
11
Ana Manhiça
Catador ade lixo
Lixeira de Hulene
12
Ricardo Fernando
Comerciante
Mercado Central
13
Belarmina Cossa
Comerciante
Mercado Central
14
Anacleta Guambe
Comerciante
Mercado Central
15
Sérgio Pedro
Comerciante
Mercado central
16
Alfredo Domingos
Munícipe
Bairro Central
17
Francisco Pairrime
Munícipe
Bairro Central
18
Jonas Vilanculos
Munícipe
Bairro Urbanização
19
Adelina Bernando
Munícipe
Bairro Maxaquene
20
Dino Constatino
Munícipe
Bairro da Polana
21
Belarmino Samuel
Munícipe
Bairro de Mafalala
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