You are welcome to cite this article, but please reference it
appropriately – for instance in the following form:
Araújo, Irta Sequeira Baris de. 2013. Educação
ambiental em Timor-Leste contemporâneo. Revista
VERITAS, vol 1, nº 2 (pp.103-117), Díli: PPGP-UNTL
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TIMOR-LESTE CONTEMPORÂNEO
Irta Sequeira Baris de Araújo
Resumo
Este artigo apresenta a importância da educação ambiental em Timor-Leste
contemporâneo através de uma abordagem filoso-educacional, ritualista,
etnográfica e reflorestação. Com este tipo de abordagens, apresentamos as
actividades necessárias que possam fazer modificação nos hábitos e atitudes de
cidadãos (nomeadamente os alunos na sua escolaridade) quanto à percepção que
eles têm da natureza. Pois, com a natureza que o ser humano constrói o senso de
responsabilidade, de valores mais humanizados e permeia todo o processo
educativo estabelecendo desde cedo relações saudáveis com o meio ambiente e
entre as pessoas, formando cidadãos capazes de assumir novas atitudes na busca
de soluções para os problemas sócio-ambientais.
Palavras-chaves: Educação ambiental, Tveduambiental, tecnologizar a natureza
e o ambiente timorense.
Rezumu/abstratu
Artigu ida ne‟e aprezenta konabá importânsia husi edukasaun ambientál iha
Timor-Leste kontemporáneu liu husi nala‟ok ida filós-edukasionál ritualista,
etnográfika nó reflorestasaun. Hó tipu nala‟ok ida ne‟e, ami aprezenta atividade
hirak ne‟ebé maka presiza, nó bele halo modifikasaun iha abitu nó hahalok
sidadaun sira nian (liuliu alunu sira iha sira ninia eskolaridade) haree ba sira
ninia hanoin konabá natureza. Hó natureza maka emar moris harii mahnoin
responsabilidade, prinsipiu umanizadu nó hirak ne‟ebé maka sai matadalan ba
prosesu edukasaun sira hotu, hamosu kedas hó nune‟e relasaun saudavél hó
meiu ambiente nó emar sira, froma hó nune‟e sidadaun hirak ne‟ebé bele asumi
hahalok foun hodi hafoti solusaun ba problema sósiu-ambientál sira.
Liafuan-Xavé: edukasaun ambientál, tveduambiental, teknolojizar natureza nó
ambiente timor-oan.
Uma parte deste texto (nomeadamente o ponto de 3.1 e 3.2) foi buscada no meu trabalho de
Pós-graduação em Educação Ambiental apresentado na UNTL, em 2009. Agradeço ao
Professor Vicente Paulino pelas sugestões e pelos comentários.
Mestre em Educação e Movimentos Sociais, pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Pós-Graduada em Educação Ambiente, pela Universidade Nacional Timor Lorosa‟e.
Professora de Língua Portuguesa I, no Departamento de Ensino da Língua Portuguesa da
UNTL.
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Abstract
This paper presents the importance of environmental education in Timor-Leste
contemporary through a philoso-educational, ritualistic, and reforestation
ethnographic approach. With this kind of approaches, we present the necessary
activities that can make change in habits and attitudes of citizens (including
students in their schooling) as the perception they have of nature. Therefore with
nature that humans construct their sense of responsibility, more human values
and permeates the whole educational process by establishing early on healthy
relationships with the environment and each other, forming citizens able to take
on new attitudes in seeking solutions for socio-environmental problems.
Keywords: Environmental Education, Tveduambiental, technologize nature and
the Timorese environment
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TIMOR-LESTE CONTEMPORÂNEO
Introdução
Pensar em educação ambiental significa recorrer os estudos sociológicos,
antropológicos, ambientalistas e filosóficos para poder compreender o caminho
da história, da cultura de gentes, do ambiente geográfico e dos seus impactos
global e glocal. É muito vulgar que metaforicamente o homem percorre vários
caminhos para chegar a cidade Roma, que no contexto da educação ambiental é
para combater os actos prejudiciais do sistema social com actos intelectuais que
possam construir uma nova natureza dentro da mente do ser humano.
A nova ciência não é simplesmente criar os actos abstractos e fazer
camuflagem das razões principais de um estudo. A ciência deve ser considerada
como um meio da intervenção do homem no mundo, e, para tal, o objecto deste
trabalho – linguagem e mundo – não pode deixar fora das áreas políticas e
económicas da sociedade actual, não pode deixar de ser tocada também pela
vida que nos cerca e pela razão da qual os saberes tradicionais também têm
papel importante em busca das razões científicas, porque a ciência pensa a vida
e, como tal, pensar sobre a vida significa pensar também a natureza.
Permite-nos, nesta perspectiva, a pensar nas ideias que se encadeiam nos
discursos dos filosófos e intelectuais de outros campos do saber sobre a vida do
“homem na lingaugem e linguagem no homem” (BENVENISTE, 1992). O
homem na sua existência não pode viver sem a relação dual “homem-natureza”
e “natureza-homem” que se encarna no corpo e na alma. É por isso, a linguagem
que se encarna na carne do homem é também uma dádiva para a natureza que
dá-lhe o ar fresco sem limitação do tempo. Com ela, o homem fala de coisas
maravilhas e estranhas que na sua essência, as vezes, fazem parte da viagem
deste “ser vivo” no espaço e no tempo.
1. A educação ambiental como acção de recivilizar a humanidade
O relacionamento do ser humano com a natureza e com todas as coisas,
desde tempos remotos, é estabelecido pela interferência dos ecossistemas.
Encontra-se actualmente o problema comum como o “aquecimento global”, a
contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das
florestas, entre muitas outras formas de agressão do meio ambiente. Torna-se
clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação à
natureza, no sentido de promover, sob um modelo de desenvolvimento
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sustentável, a compatibilização de práticas económicas, com reflexos positivos
evidentes na qualidade de vida dos cidadãos. Neste sentido, a Educação
Ambiental é muito importante para “educar” os cidadãos, conduzindo-lhes para
a ideia de “consciência crítica” sobre a problemática ambiental através a
“participação emancipatória”, pois
é o meio reflexivo, crítico e auto-crítico contínuo, pelo qual podemos
romper com a barbárie do padrão vigente de sociedade e de
civilização, em um processo que parte do contexto societário em que
nos movimentamos, do “lugar” ocupado pelo sujeito, estabelecendo
experiências formativas, escolares ou não, em que a reflexão
problematizadora da totalidade, apoiada numa acção consciente e
política, propicia a construção de sua dinâmica. (...). Emancipar não é
estabelecer o caminho único para a salvação, mas sim a possibilidade
de construirmos os caminhos que julgamos mais adequados à vida
social e planetária, diante da compreensão que temos destes em cada
cultura e forma de organização societária, produzindo patamares
diferenciados de existência (LOUREIRO, 2009, p. 32)
A educação ambiental é muito importante para todos os cidadãos, através
dela desenvolve e implementa a “pedagogia participativa”, que pode incutir os
cidadãos activos uma “consciência crítica” sobre a problemática ambiental,
compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a génese e a evolução de
problemas ambientais.
A relação dual vice-versa e circulativa que se verifica na figura acima, está
associar-se a vivência timorense no seu tudo a partir da natureza que caracteriza
o Timor como um país paisagístico, mítico e na sua natureza holística, em que se
misturam as desgraças e a força dos poderes naturais. Por isso que é necessário
estabelecer as fronteiras entre a linguagem, homem e a natureza com clareza e
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bem-definidas para a preservação da sua essência relacional no espaço e no
tempo. Neste âmbito que necessitamos também a capacitação dos agentes
profissionais e os educadores são aportes que devem ser reflectidos numa
perspectiva interdisciplinar, nomeadamente a questão de “biologização da
natureza” (JONAS, 2013). A desgraça é o desafio que a educação ambiental
precisa anotar criticamente e reconstruir críticas inovadoras em dois vertentes de
ensino: formal e não formal. Reconstruir ao mesmo tempo as potências que são
consideradas como a força, neste caso uma política educacional virada para uma
transformação social na sua totalidade do homem nos seus discursos para com a
natureza em que a vida se insere.
A questão de biologização da natureza no ambiente timorense ainda está em
situação precária, nomeadamente no que diz respeito a questão da educação
ambiental. A base epistemológica que formula a educação ambiental e com
crescente demanda social, exigindo algum tipo de tratamento no que difere as
questões ambientais no âmbito da educação, ela encontra-se na maior parte no
desinteresse de professores e dos próprios timorenses. Isso devido, não de facto
por má vontade política, mas porque ainda não existe linhas de orientações
claramente definidas que possam subsidiar reflexões necessárias sobre o
ambiente a partir da educação ambiental, como explica Loureiro (2004, p.17):
[...] educar é transformar pela teoria em confronto com a prática, com
consciência adquirida na relação entre o eu e o outro, nós (em sociedade) e o mundo. É desvelar a realidade e trabalhar com os sujeitos
concretos, situados espacial e historicamente. É, portanto, exercer a
autonomia para uma vida plena, modificando-nos individualmente
pela ação conjunta que nos conduz às transformações estruturais.
Logo, a categoria educar não se esgota em processos individuais e
transpessoais. Engloba tais esferas, mas vincula-as às práticas
coletivas, cotidianas e comunitárias que nos dão sentido de
pertencimento à sociedade.
Esta ideia “educar para transformar a teoria em prática” nos conduz para a
valorização dos princípios éticos emanado na “lei nature” de David Hume que o
filósofo alemã Hans Jonas caracteriza “biologia filosófica”. Entendendo-se
também como um meio de reconciliação da natureza humana com o material e
moral, em constante interacção onde se insere no ciclo de “educar para cuidar”,
“educar para preservar” e “educar para recivilizar” a natureza no seu todo.
Significando que promover a educação ambiental no espaço escolar e nas
organizações comunitárias locais é para formar um “sujeito ecológico”
(CARVALHO, 2004, pp.18-19) que capaz de preservar a natureza que está em
risco, evitando assim, a “grave crise sócio-ambiental” (GUIMARÃES, 2004, p.
25).
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2. É possível tecnologizar a natureza através da educação?
Tecnologizar a natureza é uma possibilidade de realizar ateologicamente a
totalidade do movimento da terra à volta de outros universos celestiais que
também estão a movimentar-se no seu próprio espaço, pois isso pode causar a
nossa natureza “planeta terra”. Para solucionar tal causa, necessitamos o apoio
do controlo do virtual, enquanto espaço de efectividade em geral”. Não
deixando, porém, de salientar que “os perigos desta tendência são claros: criarse-ia uma Terra única, onde tudo está suportado numa tecnologia evanescente,
anulando-se as diferenças entre o humano e o não humano. Tendência celebrada
pelos cyberpunks, mas que é inaceitável, pelo menos para aqueles que
consideram que a liberdade humana implica uma ruptura com a „natureza‟” (Cf.
MIRANDA, S/D). Na verdade está a tornar-se claramente problemática a fusão
de “aquecimento global” e da virtualização do espaço controlado
tecnologicamente.
Estamos a viver no ritmo de intensa transformação ao qual somos expostos
na contemporaneidade onde nos permite estabelecer uma relação entre a
condição de crise e a forma como o homem se relaciona e representa o tempo e
espaço no qual se insere, por conseguinte, como se relaciona e representa o meio
ambiente. Estamos a viver numa crise ambiental e isso seria um reflexo para
operar o nosso conhecimento sobre o mundo. É uma forma de conhecer o
mundo baseada na razão “instrumental modernista” de que fala Max Weber para
poder perceber a totalidade do problema de “desencantamento do mundo” que
extraí o sentido de tudo que existe, como explica Enrique Leff (2006,p.16): “a
crise ambiental não é apenas a falta de significação das palavras, a perda de
referentes e a dissolução dos sentidos que o pensamento da pós-modernidade
denuncia: é a crise do efeito do conhecimento sobre o mundo”. A explicação de
Enrique Leff apresenta, antes de tudo, a realidade degradante ou da consequente
escassez de recursos naturais como uma forma de conhecer o mundo baseado na
racionalidade instrumental moderna que tecnologizar o mundo, produzindo
assim, uma nova relação sujeito/objecto, homem/natureza.
O domínio da natureza pela acção humana através dos avanços da ciência e
do subsequente desenvolvimento de novas tecnologias. É daí que começa a
fixar-se as maiores contradições da modernidade, como afirma Enrique Leff
(2001, p.60):
Uma das principais causas da problemática ambiental foi atribuída ao
processo histórico do qual emerge a ciência moderna e a Revolução
Industrial. Este processo deu lugar à distinção das ciências, ao
fracionamento do conhecimento e à compartimentalização da
realidade em campos disciplinares confinados, com o propósito de
incrementar a eficácia do saber científico e a eficiência da cadeia
tecnológica de produção.
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E como resultado da apropriação científica e tecnológica da natureza,
baseada numa perspectiva instrumental e de controlo sobre seus fenómenos,
vivenciamos nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, a
intensificação de uma série de problemas sócio-ambientais em diferentes partes
do mundo, tais como: a urbanização acelerada, o crescimento demográfico, o
consumo excessivo de recursos não-renováveis, os fenómenos de desertificação
do solo, a contaminação tóxica dos recursos naturais, o desflorestamento, a
redução da biodiversidade, o efeito estufa e a redução da camada de ozónio e
suas implicações sobre o equilíbrio climático, e uma série de catástrofes
ambientais de proporções gigantescas das quais temos sido espectadores através
dos meios de comunicação. Isto significa que estamos a viver na profunda “crise
ecológica” que nos leva para o mundo sem sentido, por isso, devemos
desenvolver a política de preservação e salvação nacional da natureza no sentido
de “corrigir formas destrutivas de relacionamento entre o homem e seu ambiente
natural, contrariando a lógica estrutural e institucional actualmente
predominante” (CASTELLS, 2000, p. 143).
3. Timor-Leste contemporâneo na perspectiva da educação ambiental
Reze a lenda que Timor-Leste é um país de sândalo e por isso “The name of
Timor was famous for its sandalwood and still alludes to tropical fragrance”
(Paulino, 2012:89). Os antepassados deste país não deixaram a sua natureza
como se fosse uma parte inferior aos seus espíritos de vida. O espaço da
natureza é o lugar de realização das actividades pessoas, familiares e sociais; é
sempre previlegiado como lugar de ritualização e sacralização de coisas, porque
“o avô mais alto rompe no céu a primeira alvorada. Vejo a luz orientar o tempo.
Cumes profundos: mistério, medo e fascínio. Sagrada montanha. Montanha
Justa; a pedra, a árvore e o crocodilo, a cobra verde que a trovoada na face lisa
do monte”. Estes signos representativos da natureza estão associar-se sempre as
nuvens no céu e o cardo no campo, a folha no vento de outono e ao açor no
bosque (HIEDEGGER, 2005). A partir daí é que percebemos a coexistência do
homem-natureza e natureza-homem para a sustentabilidade de coisas e que não
são apenas uma obra artística das coisas em uso. O uso excessivo das coisas da
natureza pelo homem faz com que o ambiente acaba-se em desuso. Hoje, a
natureza glocal se torna também uma preocupação mundial. O facto de ser uma
questão glocal, qual seria a razão do qual veio a ser uma coisa preocupante com
a natureza timorense? É uma das questões que a própria população local não
consideram como um “problema principal”, mas em termos de visão do
desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente a nível nacional
e internacional para o futuro de Timor-Leste é a questção educacional.
É um grande desafio, pois, quanto mais fala na questão da natureza e da
preservação do meio ambiente timorense que ainda é virgem as áreas florestais,
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que precisam de um estudo abrangente em todo o sector tradicional ou modenro
para proteger estas relíquias naturais. No âmbito deste, temos que educar a
população para poder preservar o que resta de belo e único da natureza com a
implementação e socialização do programa “vamos cuidar o nosso planeta”. É
necessário desenvolver a educação ambiental de forma multidisciplinar, porque
“a educação ambiental não é uma coisa neutra, mas ideológico. É um acto
político, baseado em valores para a transformação social (GERASIMOV, 2008),
por isso, deve ser ensinada nas escolas desde o Ensino Básico até o Ensino
Superior. No caso concreto de Timor-Leste, a educação ambiental focaliza-se
nas questões de resoluções dos problemas ambientais e sociais que afligem toda
a sociedade; investindo nas crianças e ensinando-lhes a lei de vida propocionada
pela natureza como amar o ambiente, não deitar o lixo, não cortar as árvores e
respeitar os valores culturais dos lugares sagrados e das áreas protegidas.
Significando que proteger a natureza é manter o equilibrio da qualidade de vida.
A lei da natureza nos ensina que todo o ser humano tem o direito de ter boa
qualidade de vida, de obter boa qualidade de Educação e quanto ao aspecto do
ser vivo, ele simultaneamente precisa de uma qualidade da natureza para a sua
sobrevivência. Em virtude da lei da natureza, Timor-Leste na sua Constituição,
artigo 61º, todos os cidadãos “têm direito a um ambiente de vida humano, sadio
e ecologicamente equilibrado e o dever de o proteger e melhorar em prol das
gerações vindouras”.Isto é, o direito de todo cidadão timorense ao uso da
natureza para a vida diária, permitindo que eles a utilizem de forma sensata
sem transformar o meio ambiente de acordo com seus princípios básicos
consagrados na Constituição.
A sociedade timorense está a enfrentar uma situação de crise em todo o
aspecto de vida política e econômica, vivendo em situação de ameaça multidimencional e pela sequência da crise económica e financeira, alimentar e
energética, mas também decorrente das alterações climáticas, cujos impactos
para os paises mais pobres e vulneraveis. A solução é a implementação da
educação ambiental em todos os sectores para desenvolver a intelectualidade da
população para combater esta crise principalmente a respeito da crise ambiental
mundial. Se estamos a viver numa crise da “natureza pura”, então, devemos dar
atenção as novas formas de pensar, educar e produzir, especialmente por quem
trabalha com a educação Ambiental. Politicamente, entretanto, a estratégia de
educação ambiental em Timor-Leste é incipiente, porque ainda não há recursos
humanos qualificados nesta área. Esta é uma área na qual cada cidadão do país
precisa conhecer a importância de preservar para dar valor e ter responsabilidade
com o seu ambiente.
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3.1. A civilização e os problemas ambientais
O que está em risco é a Terra em sua totalidade, e os homens em seu
conjunto. A História global entra na natureza, a natureza global entra
na História: e isto é inédito na Filosofia (SERRES, 1991, p 15).
No século XXI, a questão principal da humanidade é relativa ao meio
ambiente, quanto ao aumento da temperatura da Terra, o derretimento das
geleiras na Antártica, inundações, elevação do nível dos mares, chuva ácida e o
efeito estufa, isto tudo, devido as mudanças provocadas à natureza pela
inteligência do homem civilizado que criou uma forma de vida insustentável ao
planeta (CAVALCANTI, 1995). As atividades económicas, industriais, sociais e
políticas sem controlos desencaderam os efeitos da degradação do meio
ambiente.
A natureza de sustentabilidade é uma questão de luta contra os problemas
que o homem provocou ao meio ambiente “a cada incursão no pensamento
actual que dá substrato à ideia de sustentabilidade”. Nesse sentido, é necessário
discutir com os intelectuais e governantes, especialmente na área de educação
ambiental para resgatar os valores culturais sobre as teorias, políticas e práticas
para equilibrar o processo da relação harmônica do homem com a natureza de
acordo com as necessidades universais e do bem comum.
A questão ambiental em Timor-Leste está consagrada na Constituição da
Repúplica Democrática de Timor Leste (RDTL) e nas Leis de Base da Educação
para a protecção do meio ambiente (Constituição RDTL 2002, Lei de Bases da
Educação, 2008). A Constituição da RDTL valoriza a civilização cultural
timorense formada a partir dos mitos e das lendas que se associam com natureza,
por exemplo, os agricultores do distrito de Same utilizam a lei de proibição
chamada horok para proteger a natureza. Esta prática cultural ainda sobrevive no
interior do país. Quanto ao centro do país, especialmente na capital de Díli, a
natureza perdeu a sua aura original. O desenvolvimento e as necessidades
económicas tornaram a cidade de Díli mais civilizada, mas “desorganizada”, daí
é que desaparece a sua aura exótica e perde o respeito pela sagrada natureza.
A este facto, os cientistas, os líderes políticos, economistas e toda a
sociedade devem considerar a educação ambiental como um dos instrumentos de
superação da insustentabilidade da sociedade actual. Desse modo, é um caso em
que todas as pessoas de várias idades e níveis de estratificação social (as
crianças, os adultos, o país e os educadores) devem se preocupar com a natureza,
com perguntas como: As crianças: onde é que está agora o meu espaço lindo da
natureza que antes o meu mundo imaginário desenhava? Os adultos: Porque é
que acontece o efeito estufa? Onde é que está a minha história da luta para
ganhar a independência? E os educadores: Quais são os métodos mais
profissionais ou adequados para educar as pessoas a respeitarem a natureza
como o lugar sagrado para a sobrevivência da humanidade.
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Esta preocupação é sentida também pelos educadores deste jovem país,
Timor-Leste, que no contexto de educação é ainda um grande desafio para a
nação. Uma nação onde a educação enfrenta muitos problemas no seu
desenvolvimento. De acordo com o jornal Labarik (edição de 2009), o currículo
da educação ambiental para o ensino já está enquadrado nas escolas primárias.
Nos ensinos primários para os alunos do 1º ano entra como discilpina “o estudo
do meio”, e nesta disciplina os professores explicam sobre o meio ambiente, a
questão de saneamento e do corpo humano. Por exemplo com os desenhos sobre
as plantas, o corpo humano e a informação do cuidado de higiene pessoal. Neste
contexto, pode-se inserir a transmissão de valores culturais para a preservação
do meio ambiente.
3.2. Áreas protegidas consideradas como sagradas
Após a restauração da indepêndencia em 2002, todos os sistemas
administrativos passam a ser dirigidos pelos próprios timorenses. É necessário
recordar também que na fase de transição, sob a direção das Nações Unidas ou
United Nation Transitory Administration East Timor (UNTAET estabelece
algumas linhas de orientações sobre a protecção do meio ambiente. Nesse caso o
regulamento UNTAET/REG/2000/19, 30 de Junho de 2000 do projecto de
regulamento cita sobre as áreas protegidas, que foi aprovada pelo decreto lei do
parlamento em 16 de Junho de 2007.
Para efeitos de protecção de áreas específicas, espécies em perigo,
bancos de corais, terras alagadas, áreas de mangues, zonas históricas,
culturais e artísticas, e para efeitos de conservação da biodiversidade e
protecção dos recursos biológicos de Timor Leste (UNTAET, 2000).
A lei do Estado é um outro tipo de preservação do meio ambiente e que na
tradição da crença animista também tem a actuação as leis tradicionais que é o
uso do lulik o chamado horok. Em geral este modelo de lulik é igual em todos os
distritos, por exemplo o que acontece com o distrito de Same sub distrito de
Alas. Este sub distrito é muito conhecido pelos governantes como sub distrito
mais pobre entre todos os sub distrito de Timor-Leste. Mesmo assim, a sua
cultura de sobrevivência não se diferencia muito dos outros distritos do país
acerca da lei tradicional sobre o direito de ter uma plantação.
Antes da entrada dos portugueses, este sub distrito era dividido em 5 sucos e
19 aldeias cada família tinha direito a uma plantação com a concordância dos
velhos lia-na’in. Segundo o senhor Fortunato Doutel Sarmento ao jornal kla‟ak;
2008 esta plantação ou terra era passada de geração a geração com o mesmo
tamanho de terreno indicado pelos velhos e do uso para a sobrevivância de uma
knua. Os descendentes sabiam dos limites da sua plantação pois recebiam como
herança. Assim, as regras deveriam respeitadas por todos, pois segundo a crença
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se um vizinho tentasse fazer manobra de privatizar o terreno do outro vizinho,
essa pessoa e a família tinham como castigo, má sorte pelo resto da vida. Como
é que eles podiam saber a limitação da sua plantação?
Todas as plantações são protegidas pela lei natural timorense chamada
“horok”. É certo que esta lei natural tem diferentes tipos de aplicação,tais como
horok asu kesi (cão atado), horok kidun mean naklosu (doença de anus
vermelho) e horok rai lakan (a luz de relâmpago). Estes horok são ritualizados e
para sentir o seu poder existencial e natural devem ser enfeitados pelas folhas de
árvores, bétel e areca, a cauda do cão ou cifre de cabrito ou vaca ou os cránios
do porco, como símbolos de pacto entre a natureza, homens e os espíritos. E, se
alguém rouba algumas plantas nas zonas protegidas pelos referidos horok deve
ir ao encontro do dono de terreno para ser salvo nas doenças indesejadas.
4. Criar TVEduambiental
A educação ambiental efectuada através da televisão é muito importante
para a promoção da ideia de preservação da natureza. É por isso, necessário criar
a TVeduambiental ou criar o programa TVeduambiental (aqui em Timor-Leste)
para promover e divulgar os debates relacionados ao “meio ambiente” e à
educação ambiental, cujo objectivo é questionar a relação entre forma e
conteúdo no desafio comunicativo e formativo exercido pelos programas do
governo em torno da política de preservação e valorização da natureza exótica
de Timor-Leste. Sabendo que os programas do governo se esforçam por divulgar
acções comunitárias de solidariedade ao meio ambiente, mas mantém silêncios
sobre questionamentos integrativos da crise ambiental e da sociedade, porque
pouco se diferenciam do discurso geral dos média e da publicidade sobre o
problema ambiental de Timor-Leste com uma postura reducionista e não
conservacionista do meio ambiente.
É por isso que necessário criar TVeduambiental para promover a educação
ambiental a todos os cidadãos. A TVeduambiental não pode ser vista como uma
transmissora neutra de conteúdos, mas como um meio institucionalizado no qual
precisa-se decifrar linguagem e postura como contribuição formativa crítica para
a educação ambiental, porque ela é uma práxis educativa e social que tem por
finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes dos
indivíduos na família e na sociedade.
Para transformar a crise ambiental é necessário fazer um plano estratégico e
pedagógico para consciencializar as relações sociais e da produção humana na
natureza. Entretanto, na prática do ensino-aprendizagem, todos os educadores,
alunos e cidadãos exemplares da nação devem colaborar activamente na política
de salvação nacional do meio ambiente timorense, fazendo uma pedagogia
crítica ao programa do governo que não beneficia a “preservação e salvação” da
natureza, de modo que evite um trabalho educativo abstracto, pouco relacionado
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com o quotidiano dos sujeitos sociais timorenses e com a prática educativa
desses mesmos sujeitos. Neste sentido, cada sujeito social deve harmonizar a sua
relação com a natureza e com todo o meio envolvente que o rodeia. Harmonizar
relações com a natureza deve ser forçada pela convivência mútua com animais e
plantas. Cada sujeito social tem obrigação moral de criar uma “casa de educação
ambiental” que é a sua própria casa de habitação, onde pode construir o “jardim
saudável” enfeitado pelas árvores, flores e pedras. Pode criar também a “casa
ambiente” nas escolas. Através a TVeduambiental pode produzir o programa,
por exemplo, “Caminhos da Natureza”, “viajar no espaço natural” ou “Eu quero
muito verde”, cujo objectivo é sensibilizar as crianças e os cidadãos exemplares
da nação ao perigo do meio ambiente no Timor-Leste contemporâneo e no
futuro que há-de-vir.
O programa “eu quero muito verde” reporta para a socialização da
consciência cívica de crianças na criação do novo “espaço verde”, é uma
iniciativa humanista e ambientalista que preocupa com a falta do “espaço verde”
nas escolas, sensibilizando as crianças sobre a importância das árvores para a
vida dos homens.
Conclusão
Estamos comprometidos com o futuro do planeta terra na escola global e a
futura da humanidade, por isso, temos obrigação de civilizar e solidarizar a
Terra, transformar a espécie humana em verdadeira humanidade. A consciência
de nossa humanidade nesta era globalização tecnológica ou “modernidade
virtualizante” deveria conduzida pela “educação consciencialista” no sentido de
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perspectivar o futuro com o ensinamentos dos princípios éticos para
compreender a importância do planeta terra.
As novas formas de ensino devem também ser profissionais de acordo com
os princípios básicos da lei. As propostas de educação ambiental nas escolas
devem ser multidisciplinares e também através de informações para a
comunidade através de consulta pública, divulgação pelos meios de
comunicação: como rádio, televisão, jornais e palestras, um meio de dar
informação não só baseado nas leis mas também nos principios ético-moral,
despertando a consciência ecológica da preservação da própria natureza.
Vimos que Timor-LEste possui atualmente as reservas naturais que são
consideradas “lugares sagrados” como o monte Cablaque em Ainaro a Sul do
país, contém um relevo de 800 e 1500m de altitude. Esta área tem sempre o
clima quente e um período de chuva e de seca, durante a noite a humidade
aumenta para a zona ao sopé do monte, com uma atmosfera de beleza e magia
extraordinários. Na ponta leste, a região de Tutuala é considerada como “casa”
ou “santuário” dos animais marinhos. É uma região exótica porque ainda
conserva os recursos naturais como os animais e a floresta. No centro do país
principalmente no capital nas zonas litorais ainda se conserva uma
biodiversidade marinha e mangues e na zona sul, na montanha de Daré
encontram-se árvores centenárias, como os condueiros. Tasi-Tolu é uma das
regiões pantanosas mais importantes em Timor-Leste com a presença de 45
pássaros de água e 20 espécies de aves pernaltas. Três lagoas salgadas com o
total de cerca de 70 hectares, praia e uma zona interior dominada por Eucalyptus
de savana (Cf. FREITAS, 2009).
Para melhorar todas as relações ecológicas: a) cada nação deve definir a
estratégia de prevenção da natureza em risco segundo a sua cultura e para seu
uso próprio; fortalecendo o conceito de conceitos de base, tais como a
“qualidade de vida” e a “felicidade humana” no contexto do ambiente global; b)
cada nação deve determinar as medidas que garantirão a preservação e o
melhoramento do potencial humano, que desenvolverão o bem-estar social e
individual em harmonia com o ambiente biotísico e com o ambiente criado pelo
homem. Estes pressupostos, cada nação pode formar uma população mundial
consciente e preocupada com o ambiente e com os seus problemas. Uma
população que tenha os conhecimentos. O estado de espírito, as motivações e o
sentido de compromisso que lhe permitam trabalhar individual e colectivamente
na resolução das dificuldades actuais, e impedir que elas se apresentem de novo
(CARTA DE BELGRADO, 1975).
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