Carina Gonzalez y Sousa
Doutoranda Universidade de São Paulo-USP
[email protected]
www.artecarinagonzalez.com
A experiência estética no limiar dos sentidos do mundo.
Caminhos da Arte no paradigma da contemporaneidade.
The aesthetic experience on the threshold of the senses of the world.
Art of the ways the paradigm of contemporaneity.
Resumo: As narrativas contemporâneas como o próprio amago da comunicação se
inserem no corpo orgânico da existência sendo lidas como sujeito mundo em atos,
percepções e desenvolvimento que demostram a necessidade da presença da metáfora,
como campo aberto da fluidez do tempo, exercendo uma forma capaz de exaurir os
sentidos de informações em descoberta.
Palavras Chaves: Metáfora, Estética, Arte, Comunicação, Percepção.
Abstract: Contemporary narratives as the communication very heart fall within the
organic body of existence being read as a subject world acts, perceptions and development
that demonstrate the need for the presence of metaphor, as the open time of fluidity,
exerting a form capable of exhausting way information in discovery.
Keywords: Metaphor, Aesthetics, Art, Communication, Perception.
O Universo como argumento é por força uma grande obra de
arte, um grande poema- pois um belo argumento é sempre um poema,
uma sinfonia, da mesma forma que o verdadeiro poema é um
argumento sonoro.”1
Charles Sanders Peirce.
Iniciamos no presente texto uma reflexão sobre adentrar o organismo vivo e
pulsante da contemporaneidade onde jaz ainda que presentes correspondências pregressas
é estar entre, um desejo latente oriundo de uma ontologia e um impulso fecundo do
The U iverse as an argument is necessarily a great work of art, a great poem – for every fine
argument is a poem and a symphony – just as every true poe is a sou d argu e t. Charles Sanders
Peirce.
1
constructo em contínuo, este em conformidade ao idealismo objetivo, que nos esclarece,
“ estamos acostumados a falar de um mundo externo e de um mundo interno de
pensamento. Mas eles são apenas adjacências sem nenhuma linha fronteiriça real entre
eles “ ( CP.7439 ).
Antes de percorremos alguns grãos de areia nos caminhos da metáfora das
palavras do mundo, anseio me aprofundar mais sobre o cerne do cotidiano que se
apresenta como a própria obra a desnudar-se. Inicialmente percorrendo os signos das
correspondências pregressas, me refaço em indagações diante dos diagramas expostos da
facticidade, onde conforme Peirce, a “experiência é o inteiro resultado cognitivo do viver
“( CP. 7527, apud Ibri) que como personagens, se vestem muitas vezes de outra roupagem
mas que se apresentam no seu discurso da peça encenada em costuras de um corpo ainda
alinhavados em conjecturas que ressoam dizeres na dramaturgia da vida de forma que a
cognição se defronta no palco do mundo com as ocorrências dos diálogos passados que
ecoam pelas coxias do pensamento atravessando as possibilidades que permeiam uma
razão e sensibilidade, no próprio contínuo em vir a ser.
Tentando diagnosticar os ardis que impedem uma compreensão, em amarras de
um mecanicismo que se apresenta ainda em faces de impedimento de uma volúpia de
percepções criativas, vemos o hábito, terceiridade, conforme as Categorias
Fenomenológicas de Charles Sanders Peirce, em algumas vertentes, pois o que permanece
possui uma conduta assimilada no âmbito do geral, quiçá por ser eficiente, mas,
levantamos neste texto aqui reflexionado dois elementos visíveis nas margens dos
processos comunicacionais atuais, primeiramente posto que verificamos que chagas
sociais se desprendem de seu tempo Cronos, em passado e aviltam o presente. Indago
sobre a permanência de formas de conduta em desalinho, em desarmonia ao que
consideramos o que cercam o aspecto de uma Estética, que em suma estaria voltada a
evolução do que está ligado ao bem ético, bem lógico, como ao que emerge nas relações
para esse fim, admirável, o summum bonum. Poderemos encontrar ainda um entrave se
dentre o hábito se configurar uma postura dogmática, o que sendo assim demostraria uma
impossibilidade de criação, o que vemos como uma conduta cega, que não permite a
metáfora dentre os próprios diagramas de cognição, que não permite o acaso, o elemento
da primeiridade, que pode interagir com a lei, e despontar como o fator de liberdade.
Vemos como crucial a necessidade de encontrar a experiência estética no limiar
dos sentidos do mundo, para transmutar as relações imediatas e no âmbito da metáfora
encontrar percepções, significados, informações que conjuguem novas conjecturas,
“ Esse algo novo irá requerer uma nova forma de dizê-lo, desde que para
percebê-lo se tenha, por assim dizer, a coragem de despir a razão de suas âncoras
cravadas no chão conceitual do passado, que, em verdade, anestesia a sensibilidade
para aquilo que reclama seu lugar semântico entre nós humanos “.(IBRI, pg. 258,
2006).
O sentimento, a qualiconsciência, vigente como forma de primeiridade, levada
poente esperando percorrer como Novalis em, Os Hinos a noite,
De entre os seres vivos que têm o dom da sensibilidade haverá algum que não
ame, mais do que todas as aspirações feéricas do extenso espaço que o rodeia, a luz, em
que tudo rejubila as suas cores, os seus raios, as suas vagas, e a suave omnipresença do
seu dia que desponta? Como se fora a alma mais íntima da vida, respira-o gigantesco orbe
dos astros sem repouso, que flutua dançando no seu fluxo azul –respira-o a pedra
faiscante, em sempiterna paz, as plantas sugadoras e meditativas, e os animais selvagens
e ardentes, de tão várias figuras – todavia, mais do que todos, respira-a o excelso
Estrangeiro, de olhar pensativo, passos incertos, lábios docemente apertados e repletos de
harmonias. Como um rei da terrestre Natureza, ela convoca todas as potências para
inúmeras transformações, prende e desprende perenes vínculos e envolve todos os seres
terrenos na sua celeste imagem. Somente pela sua presença desvela toda a maravilha dos
impérios do mundo. (...) Mais celestes do que aquelas estrelas cintilantes nos parecem os
olhos infinitos que a Noite em nós abre.” (Novalis,, 1998, p.17).
Destilando a especiaria do sabor da bruma noturna, entre a luz e a sombra, o
interior e o exterior, compreende-se que “ É o mundo externo que observamos
diretamente. O que se passa internamente, apenas sabemos pelo modo como é refletido
em objetos externos” (CP 8.144, apud Ibri), mas enquanto poética, conduzimos a vagueza
onde podemos encontrar com o que pode se conceber sendo um olhar na sinestesia do
sentimento, adentrando as formas pelo que exala do outro nele mesmo, desenvolvendo
um deixar-se impregnar pela liberdade do próprio acaso, “ de fato, acaso nada mais é
senão o aspecto externo daquilo que internamente em si mesmo é sentimento “(CP 6.265,
apud Ibri ) nas ramas do próprio significado, ou seja, um debruçar-se sobre a obra mundo,
desvencilhando a propriedade da Arte como obra que dependa do artífice homem, e do
observador, passando a confluência de ambos no próprio modo de cognição do cotidiano,
abarcando para a experiência do viver os modos de ser da Arte. Buscar a metáfora dentre
a conduta do externo para acercar-se de uma interioridade é reconhecer um interlúdio
fecundo.
Estando cônscios de que há uma natureza fluida no tempo presente que convive
com a capacidade de se ver diante de incertezas e da diluição de fronteiras, o que converge
para um espaço onde o deslocamento é nele mesmo o descortinar, como um traço sendo
feito caminho, identidade em mobilidade, do que se apresenta e do que podemos
encontrar, se deixamos expandir os signos pelo que ecoa em diálogos sensíveis onde
ausculto os demais presentes naquele fractal, nos aproximando da geometria do mundo.
Assumir a possibilidade de se ver para além da forma, a presença no significado de um
fractal no próprio modo de conceber um sentido, é como caminhar pela poesia,
encontrando nas palavras escritas do conhecer, outros dele mesmo, em diferença e
unidade.
Ao acordar como que de um sonho, o relógio desperta e deixa-se amanhecer no
leito de Mnemosine, filha de Urano, o Céu e de Géia, a Terra, onde impetuosamente o
tempo se desfaz em unidade na forma de Musa, escrevendo as metáforas de um universo
nas folhas manuscritas do existir, no limiar do sentimento, fazendo-se Arte, literatura do
cosmo. Percorrer o sensível é deixar-se abarcar por esse oceano, permitindo-se, ser poeta.
A poesia é fruto em mundo germinado, onde sem palavras, o silêncio pode nos dizer os
recônditos cantos que ressoam da interioridade. Ver o poema na natureza do viver, é
descobrir-se, desprendendo-se da face aparente para emanar as forças pulsantes dos
sentidos além do imediato, as ressonâncias das tessituras sonoras da compreensão que
vibram nas relações de semioses em um diagrama exposto em continuo, de maneira que
aonde o horizonte termina será apenas o começo de onde nossos olhos podem tocar,
porque a imensidão infinita é morada em nosso pensar, e o pensar como existente, tornase palpável em sendo imaterial por estar nas conjecturas do próprio existir.
Sendo assim, nos colocamos frente ao paradigma da contemporaneidade,
vivenciados inadvertidamente ou não, em relação a nossa própria vontade, frente mesmo
a realidade, “ o real é aquilo que não é o que eventualmente dele pensamos, mas que
permanece não afetado pelo que possamos dele pensar”( CP 8.12, apud IBRI), e ainda,
E o que é realidade? Não haveria tal coisa chamada verdade a menos que existisse
alguma coisa que é como é, independentemente de como possamos pensar que seja. Isto
é a realidade, e temos de investigar o que é a sua natureza. Falamos de fatos duros.
Desejamos que nosso conhecimento se conforme aos fatos duros. Contudo a dureza do
fato reside em sua insistência sobre o percepto, sua insistência inteiramente irracional – o
elemento de Segundidade nele presente. Este é um fator muito importante da realidade. (
CP. 7. 659 ).
Reconhecer que os fenômenos tem um certo grau de dispersão ao mesmo tempo
que há leis, semelhanças, regularidades, é estar diante do Falibilismo, que “ é a doutrina
de que nosso conhecimento nunca é absoluto, mas é como se sempre flutuasse em um
contínuo de incerteza e indeterminação.” ( CP. 1.171 ).
Estando inseridos na Segundidade, a experiência da alteridade, o que posso
extrair, destilar na alquimia das relações do viver, como impulso de uma experiência
estética no âmago do existir imbuídos em conjunção do acaso, liberdade, com o elemento
ágapico que contribua para um desenvolvimento, para um crescimento, é um desafio pra
a contemporaneidade em meio a mídia e tecnologia, ideais de conduta que se aproximem,
aos ditames para uma razoabilidade.
Aqui estamos nos aproximando do que vemos como o esculpir a natureza das
coisas em nós mesmos, a Arte como processo de cognição do próprio viver, o ato criativo
aliado a um propósito, regenerado por experiências assume um papel investigativo dentre
a hipótese do conhecer o corpo vivente e move-se diante de sua própria dúvida que o
inqueri a suas possíveis escolhas, moldando sua escultura para atingir o que seria uma
obra admirável. Se faz enaltecido para tal, uma prática não muito comum, como já
relatamos, que deve confluir uma disposição na construção de um diagrama que conjugue
a presença da metáfora como propriamente a liberdade de atingir significados,
informações, rumos novos de compreensão e em sintonia a essa disposição, quais os
fatores desse novo pensar em sentidos, que me descortinam um olhar que desvende a
força agápica.
A vida é mais que uma esfinge onde a verdade do enigma nos encobre como areias
do nosso próprio deserto. Mesmas imagens em percepções de metáforas de sentido, na
experiência estética.
Tronco de árvore
- Natureza feito palheta aos olhos da Arte. Fotos- Carina G. y Sousa
Ainda sobre a primeiridade, sensilibidade e a experiência da infinitude, ou
melhor, a fusão finito, infinito ( IBRI, 1994, p. 56 ) vemos através de Schelling que, “ a
completa e incontestável objetividade da intuição intelectual é a arte em si mesma. Pois
a intuição estética é simplesmente a intuição intelectual tornando-se objetiva.” (
Schelling, 1978, p. 229 ). Vislumbrar-se com o mergulho na profundidade do oceano da
percepção é respirar o pulso do mundo, na música das esferas do sentimento.
“ Há uma poética permeando idealidade e realidade que, como universo de
possibilidades heurística, supera a atividade puramente consciente, que é a habilidade
metamorfoseadora e necessária à consecução do objeto artístico: “Se fôssemos procurar
em alguém as duas atividades, a saber, a consciente, que é ordinariamente denominada
arte, embora seja ela apenas uma parte, aquele aspecto dela que é exercitado com
consciência, pensamento e reflexão, e que pode ser ensinada, apreendida e adquirida
por meio da tradição e da prática, teríamos, de ouro lado, de procurar no fator
inconsciente que adentra a arte, aquilo que não pode ser apreendido, nem obtido por
prática nem por qualquer outro caminho, mas pode apenas ser inato por uma dádiva da
natureza, é isto que podemos chamar, em uma palavra, de elemento de poesia na
arte”(Schelling, pg. 222, 223, 1978 ). A experiência estética revela o Uno, o Absoluto;
este deve ser o ponto primário de toda filosofia: daí a importância da arte para ela. O
absoluto, agora, não mais está excluído da esfera da experiência possível; ao contrário,
ele é experiência originária imediata emque há esta exclusão do tempo na consciência
plena do infinito. Schelling vê no mundo um todo que não se opõe, que não resiste, e
que se interioriza como sentimento estético. ( IBRI, 1978, p. 57 ).
Tronco
Natureza de um caminho
Fotografias – Carina Gonzalez y Sousa
Da passagem, ( caminho ), quando me ergo, sustento (tronco ) um destino ante
meus olhos, feito intercâmbio de raiz, galhos e folhas, posso ser o meio de um através,
cordão do próprio útero. Do passado a raiz me nutre pelas experiências, onde após os
anéis, cresço e refaço-me em aprendizado ainda que metamorfoseado, sobre ramos na
aventura de outras folhas, ( formas ), do existir, escrevendo as palavras do que encontrei
através do tempo, entre os através, do sentimento. O que é do ser, no mesmo viver em
pertencimento outro? A geometria da vida se expande na rede de relações expostas em
veias de fluxo de sentidos, em mediações em continuo, no desabotoar-se nas estações da
sensibilidade, em manancial de aprendizados. Afago no peito o som que pertence ao eco
dos desenhos expostos que a cada frase melódica, discorre sobre condutas, apreendidas
no universo de percepções, adentrando o espaço da Arte, para que em meio ao não tempo
da primeiridade, possa responder as indagações do próprio modo de ser da experiência.
Soleiras em espera das janelas do porvir, aonde contemplo as paisagens da poesia,
onde a interioridade narra a dramaturgia da saga mitológica do sentir. Imagens revelamse palavras como personagens encenando seu texto, emergindo das coxias do movimento,
a exterioridade refazendo pensamento. Do contemporâneo observo, o limiar do próprio
tempo.
Quando as soleiras tornam-se janelas-Fotografias-Carina Gonzalez y Sousa
Talvez o limiar me diga o verso/ Onde por tantas noites eu divago/E dentre
essas passagens disperso/No tempo que amanhece em acaso/Na imensidão que se faz
universo/Tardiamente o ontem beija o porvir/Na espera dos lábios sentirem o
ardor/Desse fio tênue entrelaçado, do existir. ( Sousa, 2015)
O que por tanto tempo espero chegar, deixou-se partir. O que tão breve partiu, deixou-se por tanto
tempo estar.
“ Viver na soleira não é tarefa fácil. Afinal, sair da área de segurança da
especificidade por ser algo que desafie nossa cotidianidade porque uma soleira “
significa, portanto, atravessar uma zona perigosa onde batalhas invisíveis, mas reais,
são travadas”( Barbarena apud Otte, 2010, p. 128 ). Habitar a soleira também é uma
oportunidade de resguardar-se das luzes triunfantes do estar-viver-o-dentro ou do estarviver-o-fora absolutos. Nesse sentido, a mirada contemporânea não se deixa cegar pelas
luzes do século e consegue entrever nessas a parte da sombra. Ao navegar por essa
perversa obscuridade, o passageiro contemporâneo é aquele que percebe o escuro do
seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpretá-lo, pois
“contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do
seu tempo” As sombras da soleira são desafiadoras porque ser contemporâneo é, antes
de tudo, uma questão de coragem”.( Agaben, apud Barbarena, pg. 59, 60, 2009 ).
E o tempo certamente me encontra diante do imaginário corpo distante, sendo
que permanece a observar-me onde ainda me atenho rente ao mastro, olhando o horizonte
como quem deseja o caminho pelo seu destino nas terras distantes. Certo de que estarei
absorta pela imensidão, acolhe-me no mesmo dizer de minha alma, e então se entrega
sem receios ou medos, sendo que de mim, se fez clepsidra, se possível fosse medir o
sentimento.
Assim o Kairos surge como presença, onde o tempo é outro nele mesmo.
PÁSSAROS a pousar em dia de chuva no lago do horizonte.
Fotografia – Pássaros adormecidos- Carina Gonzalez y Sousa
Desvincular-se do modo habitual de vermos o mundo, nos aproxima da categoria
fenomenológica, primeiridade, onde está imbuído o sentido da liberdade, criatividade,
espontaneidade. Inventariar a experiência é se defrontar com o modo de ser das
categorias. Acercamo-nos da expansão criadora que fecunda os dizeres incônditos da
alma, através da experiência da Arte que impele o movimento da contemplação.
“(...) como claro espelho do objeto, de forma tal que tudo se passa como se só o
objeto existisse, sem alguém que o percebesse, que fosse impossível distinguir o sujeito
da própria intuição e que ambos se fundissem em um único ser, numa única consciência
inteiramente plena e de uma visão única e intuitiva, quando, enfim, o objeto se liberta de
todo vínculo como que não é ele, e o sujeito, de todo nexo com a vontade, então, aquilo
que é conhecido desse modo já não é a coisa particular enquanto particular, é a idéia, a
forma eterna, objetividade imediata da vontade, neste plano, assim, aquele que é tomado
por esta contemplação já não é um indivíduo, que em verdade é aniquilado nesta mesma
contemplação, mas se torna o sujeito que conhece de modo puro, liberto da vontade, da
dor, do tempo. (Schopenhauer, apud, Ibri, 1969 ).
Conforme nos diz Schopenhauer, “ a música nos fornece aquilo que antecede toda
forma, o núcleo íntimo, o coração das coisas”. Por essa razão busco em todas as
linguagens, nos códigos assim dispostos da Arte, os diálogos sonoros, para encontrar na
imagem, na palavra, nas cores, nos gestos, o que emana de melodia. Transpondo formas
em frases melódicas de compreensão, onde o ritmo da narrativa desagua em sentidos
análogos por gênese. O limiar da experiência atravessa um cotidiano de incompreensão,
mas adentra o horizonte que se lança para o coração das coisas na busca de encontrar a
seiva que nutre a natureza de uma unidade. Na fotografia – Pássaros adormecidos,
apresenta-se a busca da sonoridade das palavras para dizer um eco em talvez, um adagio.
Ávido sonho resgata-me em gotas da chuva azul, no tênue lago que se fez
noite, onde as folhas vestiram-se de pássaros para esperar a manhã. Pausados
emudecem na espera, do amor de tuas cores em porvir, repouso em silêncio
arpejando como o cintilante anil nas águas adormecidas das horas restantes. Quero
a esperança no deserto de teu olhar, para que a saudade beije o gesto que murmura
entre as asas molhadas, o que se deixou ficar a espera de te amar. Assim é tão outro
esse movimento que suspenso respira a imensidão, onde sou apenas mais uma
folha que do luar encanta-se com a luz, desejando abrir as asas, sou pássaro, que
talvez como fênix ressurja em meio a meus outros tantos, face de mim mesmo,
para apenas sentir, que a chuva era na verdade as lágrimas de te ver partir. (
Sousa, 2015)
Na esfera do urbano, deixar-se transpor um olhar tecido da cidade, em arquitetura
de caminhos perceptivos é abrir-se para uma sensibilidade aonde quer que ela esteja. Pele
do concreto em aparência abstrata que emoldura o pensamento em um novo quadro,
desfeito e refeito outra moldagem, entre uma nova cor desnuda-se. A imagem rompe-se
em outra face, antes pulsando em solidão. Quanto do que é belo, bom esta a espera da
descoberta. O que é do organismo urbano é de nós também, mesma natureza.
Feridas urbanas como seres de Ovídeo - entre a fotografia e a linguagens de uma pintura
abstrata.
Corpo urbano feito pintura abstrata.
Corpo urbano feito pintura abstrata.
O edifício como corpo cubista em cor.
Edifícios da arquitetura do pensar, podem ser projetos de diagramas que despontem
para novas formas antes não percebidas, que sugerem uma nova atmosfera sensível. Do
mesmo modo que o edifício se transmuta em fotografias-quadro-cubista, podem ser
transmutados os nossos projetos de significação, abarcando possibilidades dentre a
permanência.
O caminho do asfalto na imagem da poeira cósmica. Mesma fotografia entre sombras,
cores e movimento.
“ Esta existência é, presumivelmente, uma existência especial. Não
necessitamos supor que toda forma necessita, para sua evolução, emergir neste
mundo, mas apenas, que ela necessita entrar em algum dos teatros de reações,
entre os quais este é um. Em resumo, se vamos considerar o universo como um
resultado da evolução, devemos pensar que não apenas o universo existente,
aquele locos no cosmos, no qual nossas reações estão limitadas, mas todos o
mundo platônico, que em si mesmo é igualmente real, é também evolucionário
em sua origem “ ( CP.6-192-194-195, CP. 6.200 ).
Percorremos neste texto um desejo de refletir sobre a experiência estética, como
ensejo de adentrar um caminho que se encontre com a razão e a sensibilidade.
Tentamos observar os caminhos da cognição da metáfora presentes na Arte e no existir,
como aprendizado, como voz a ecoar por talvez um universo aspirando por ainda uma
profunda compreensão. No ensejo de continuar estas conjecturas permanecemos na
volúpia de ouvir a criação que se faz melodia a cada dia que nos desperta.
Fotografias – Carina Gonzalez y Sousa
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