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A experiência estética no limiar dos sentidos do mundo

A experiência estética no limiar dos sentidos do mundo. Caminhos da Arte no paradigma da contemporaneidade. The aesthetic experience on the threshold of the senses of the world. Art of the ways the paradigm of contemporaneity. Resumo: As narrativas contemporâneas como o próprio amago da comunicação se inserem no corpo orgânico da existência sendo lidas como sujeito mundo em atos, percepções e desenvolvimento que demostram a necessidade da presença da metáfora, como campo aberto da fluidez do tempo, exercendo uma forma capaz de exaurir os sentidos de informações em descoberta. Abstract: Contemporary narratives as the communication very heart fall within the organic body of existence being read as a subject world acts, perceptions and development that demonstrate the need for the presence of metaphor, as the open time of fluidity, exerting a form capable of exhausting way information in discovery. http://www.usp.br/estetica/ind, p. 1 - 17, 27 nov. 2015.

Carina Gonzalez y Sousa Doutoranda Universidade de São Paulo-USP [email protected] www.artecarinagonzalez.com A experiência estética no limiar dos sentidos do mundo. Caminhos da Arte no paradigma da contemporaneidade. The aesthetic experience on the threshold of the senses of the world. Art of the ways the paradigm of contemporaneity. Resumo: As narrativas contemporâneas como o próprio amago da comunicação se inserem no corpo orgânico da existência sendo lidas como sujeito mundo em atos, percepções e desenvolvimento que demostram a necessidade da presença da metáfora, como campo aberto da fluidez do tempo, exercendo uma forma capaz de exaurir os sentidos de informações em descoberta. Palavras Chaves: Metáfora, Estética, Arte, Comunicação, Percepção. Abstract: Contemporary narratives as the communication very heart fall within the organic body of existence being read as a subject world acts, perceptions and development that demonstrate the need for the presence of metaphor, as the open time of fluidity, exerting a form capable of exhausting way information in discovery. Keywords: Metaphor, Aesthetics, Art, Communication, Perception. O Universo como argumento é por força uma grande obra de arte, um grande poema- pois um belo argumento é sempre um poema, uma sinfonia, da mesma forma que o verdadeiro poema é um argumento sonoro.”1 Charles Sanders Peirce. Iniciamos no presente texto uma reflexão sobre adentrar o organismo vivo e pulsante da contemporaneidade onde jaz ainda que presentes correspondências pregressas é estar entre, um desejo latente oriundo de uma ontologia e um impulso fecundo do The U iverse as an argument is necessarily a great work of art, a great poem – for every fine argument is a poem and a symphony – just as every true poe is a sou d argu e t. Charles Sanders Peirce. 1 constructo em contínuo, este em conformidade ao idealismo objetivo, que nos esclarece, “ estamos acostumados a falar de um mundo externo e de um mundo interno de pensamento. Mas eles são apenas adjacências sem nenhuma linha fronteiriça real entre eles “ ( CP.7439 ). Antes de percorremos alguns grãos de areia nos caminhos da metáfora das palavras do mundo, anseio me aprofundar mais sobre o cerne do cotidiano que se apresenta como a própria obra a desnudar-se. Inicialmente percorrendo os signos das correspondências pregressas, me refaço em indagações diante dos diagramas expostos da facticidade, onde conforme Peirce, a “experiência é o inteiro resultado cognitivo do viver “( CP. 7527, apud Ibri) que como personagens, se vestem muitas vezes de outra roupagem mas que se apresentam no seu discurso da peça encenada em costuras de um corpo ainda alinhavados em conjecturas que ressoam dizeres na dramaturgia da vida de forma que a cognição se defronta no palco do mundo com as ocorrências dos diálogos passados que ecoam pelas coxias do pensamento atravessando as possibilidades que permeiam uma razão e sensibilidade, no próprio contínuo em vir a ser. Tentando diagnosticar os ardis que impedem uma compreensão, em amarras de um mecanicismo que se apresenta ainda em faces de impedimento de uma volúpia de percepções criativas, vemos o hábito, terceiridade, conforme as Categorias Fenomenológicas de Charles Sanders Peirce, em algumas vertentes, pois o que permanece possui uma conduta assimilada no âmbito do geral, quiçá por ser eficiente, mas, levantamos neste texto aqui reflexionado dois elementos visíveis nas margens dos processos comunicacionais atuais, primeiramente posto que verificamos que chagas sociais se desprendem de seu tempo Cronos, em passado e aviltam o presente. Indago sobre a permanência de formas de conduta em desalinho, em desarmonia ao que consideramos o que cercam o aspecto de uma Estética, que em suma estaria voltada a evolução do que está ligado ao bem ético, bem lógico, como ao que emerge nas relações para esse fim, admirável, o summum bonum. Poderemos encontrar ainda um entrave se dentre o hábito se configurar uma postura dogmática, o que sendo assim demostraria uma impossibilidade de criação, o que vemos como uma conduta cega, que não permite a metáfora dentre os próprios diagramas de cognição, que não permite o acaso, o elemento da primeiridade, que pode interagir com a lei, e despontar como o fator de liberdade. Vemos como crucial a necessidade de encontrar a experiência estética no limiar dos sentidos do mundo, para transmutar as relações imediatas e no âmbito da metáfora encontrar percepções, significados, informações que conjuguem novas conjecturas, “ Esse algo novo irá requerer uma nova forma de dizê-lo, desde que para percebê-lo se tenha, por assim dizer, a coragem de despir a razão de suas âncoras cravadas no chão conceitual do passado, que, em verdade, anestesia a sensibilidade para aquilo que reclama seu lugar semântico entre nós humanos “.(IBRI, pg. 258, 2006). O sentimento, a qualiconsciência, vigente como forma de primeiridade, levada poente esperando percorrer como Novalis em, Os Hinos a noite, De entre os seres vivos que têm o dom da sensibilidade haverá algum que não ame, mais do que todas as aspirações feéricas do extenso espaço que o rodeia, a luz, em que tudo rejubila as suas cores, os seus raios, as suas vagas, e a suave omnipresença do seu dia que desponta? Como se fora a alma mais íntima da vida, respira-o gigantesco orbe dos astros sem repouso, que flutua dançando no seu fluxo azul –respira-o a pedra faiscante, em sempiterna paz, as plantas sugadoras e meditativas, e os animais selvagens e ardentes, de tão várias figuras – todavia, mais do que todos, respira-a o excelso Estrangeiro, de olhar pensativo, passos incertos, lábios docemente apertados e repletos de harmonias. Como um rei da terrestre Natureza, ela convoca todas as potências para inúmeras transformações, prende e desprende perenes vínculos e envolve todos os seres terrenos na sua celeste imagem. Somente pela sua presença desvela toda a maravilha dos impérios do mundo. (...) Mais celestes do que aquelas estrelas cintilantes nos parecem os olhos infinitos que a Noite em nós abre.” (Novalis,, 1998, p.17). Destilando a especiaria do sabor da bruma noturna, entre a luz e a sombra, o interior e o exterior, compreende-se que “ É o mundo externo que observamos diretamente. O que se passa internamente, apenas sabemos pelo modo como é refletido em objetos externos” (CP 8.144, apud Ibri), mas enquanto poética, conduzimos a vagueza onde podemos encontrar com o que pode se conceber sendo um olhar na sinestesia do sentimento, adentrando as formas pelo que exala do outro nele mesmo, desenvolvendo um deixar-se impregnar pela liberdade do próprio acaso, “ de fato, acaso nada mais é senão o aspecto externo daquilo que internamente em si mesmo é sentimento “(CP 6.265, apud Ibri ) nas ramas do próprio significado, ou seja, um debruçar-se sobre a obra mundo, desvencilhando a propriedade da Arte como obra que dependa do artífice homem, e do observador, passando a confluência de ambos no próprio modo de cognição do cotidiano, abarcando para a experiência do viver os modos de ser da Arte. Buscar a metáfora dentre a conduta do externo para acercar-se de uma interioridade é reconhecer um interlúdio fecundo. Estando cônscios de que há uma natureza fluida no tempo presente que convive com a capacidade de se ver diante de incertezas e da diluição de fronteiras, o que converge para um espaço onde o deslocamento é nele mesmo o descortinar, como um traço sendo feito caminho, identidade em mobilidade, do que se apresenta e do que podemos encontrar, se deixamos expandir os signos pelo que ecoa em diálogos sensíveis onde ausculto os demais presentes naquele fractal, nos aproximando da geometria do mundo. Assumir a possibilidade de se ver para além da forma, a presença no significado de um fractal no próprio modo de conceber um sentido, é como caminhar pela poesia, encontrando nas palavras escritas do conhecer, outros dele mesmo, em diferença e unidade. Ao acordar como que de um sonho, o relógio desperta e deixa-se amanhecer no leito de Mnemosine, filha de Urano, o Céu e de Géia, a Terra, onde impetuosamente o tempo se desfaz em unidade na forma de Musa, escrevendo as metáforas de um universo nas folhas manuscritas do existir, no limiar do sentimento, fazendo-se Arte, literatura do cosmo. Percorrer o sensível é deixar-se abarcar por esse oceano, permitindo-se, ser poeta. A poesia é fruto em mundo germinado, onde sem palavras, o silêncio pode nos dizer os recônditos cantos que ressoam da interioridade. Ver o poema na natureza do viver, é descobrir-se, desprendendo-se da face aparente para emanar as forças pulsantes dos sentidos além do imediato, as ressonâncias das tessituras sonoras da compreensão que vibram nas relações de semioses em um diagrama exposto em continuo, de maneira que aonde o horizonte termina será apenas o começo de onde nossos olhos podem tocar, porque a imensidão infinita é morada em nosso pensar, e o pensar como existente, tornase palpável em sendo imaterial por estar nas conjecturas do próprio existir. Sendo assim, nos colocamos frente ao paradigma da contemporaneidade, vivenciados inadvertidamente ou não, em relação a nossa própria vontade, frente mesmo a realidade, “ o real é aquilo que não é o que eventualmente dele pensamos, mas que permanece não afetado pelo que possamos dele pensar”( CP 8.12, apud IBRI), e ainda, E o que é realidade? Não haveria tal coisa chamada verdade a menos que existisse alguma coisa que é como é, independentemente de como possamos pensar que seja. Isto é a realidade, e temos de investigar o que é a sua natureza. Falamos de fatos duros. Desejamos que nosso conhecimento se conforme aos fatos duros. Contudo a dureza do fato reside em sua insistência sobre o percepto, sua insistência inteiramente irracional – o elemento de Segundidade nele presente. Este é um fator muito importante da realidade. ( CP. 7. 659 ). Reconhecer que os fenômenos tem um certo grau de dispersão ao mesmo tempo que há leis, semelhanças, regularidades, é estar diante do Falibilismo, que “ é a doutrina de que nosso conhecimento nunca é absoluto, mas é como se sempre flutuasse em um contínuo de incerteza e indeterminação.” ( CP. 1.171 ). Estando inseridos na Segundidade, a experiência da alteridade, o que posso extrair, destilar na alquimia das relações do viver, como impulso de uma experiência estética no âmago do existir imbuídos em conjunção do acaso, liberdade, com o elemento ágapico que contribua para um desenvolvimento, para um crescimento, é um desafio pra a contemporaneidade em meio a mídia e tecnologia, ideais de conduta que se aproximem, aos ditames para uma razoabilidade. Aqui estamos nos aproximando do que vemos como o esculpir a natureza das coisas em nós mesmos, a Arte como processo de cognição do próprio viver, o ato criativo aliado a um propósito, regenerado por experiências assume um papel investigativo dentre a hipótese do conhecer o corpo vivente e move-se diante de sua própria dúvida que o inqueri a suas possíveis escolhas, moldando sua escultura para atingir o que seria uma obra admirável. Se faz enaltecido para tal, uma prática não muito comum, como já relatamos, que deve confluir uma disposição na construção de um diagrama que conjugue a presença da metáfora como propriamente a liberdade de atingir significados, informações, rumos novos de compreensão e em sintonia a essa disposição, quais os fatores desse novo pensar em sentidos, que me descortinam um olhar que desvende a força agápica. A vida é mais que uma esfinge onde a verdade do enigma nos encobre como areias do nosso próprio deserto. Mesmas imagens em percepções de metáforas de sentido, na experiência estética. Tronco de árvore - Natureza feito palheta aos olhos da Arte. Fotos- Carina G. y Sousa Ainda sobre a primeiridade, sensilibidade e a experiência da infinitude, ou melhor, a fusão finito, infinito ( IBRI, 1994, p. 56 ) vemos através de Schelling que, “ a completa e incontestável objetividade da intuição intelectual é a arte em si mesma. Pois a intuição estética é simplesmente a intuição intelectual tornando-se objetiva.” ( Schelling, 1978, p. 229 ). Vislumbrar-se com o mergulho na profundidade do oceano da percepção é respirar o pulso do mundo, na música das esferas do sentimento. “ Há uma poética permeando idealidade e realidade que, como universo de possibilidades heurística, supera a atividade puramente consciente, que é a habilidade metamorfoseadora e necessária à consecução do objeto artístico: “Se fôssemos procurar em alguém as duas atividades, a saber, a consciente, que é ordinariamente denominada arte, embora seja ela apenas uma parte, aquele aspecto dela que é exercitado com consciência, pensamento e reflexão, e que pode ser ensinada, apreendida e adquirida por meio da tradição e da prática, teríamos, de ouro lado, de procurar no fator inconsciente que adentra a arte, aquilo que não pode ser apreendido, nem obtido por prática nem por qualquer outro caminho, mas pode apenas ser inato por uma dádiva da natureza, é isto que podemos chamar, em uma palavra, de elemento de poesia na arte”(Schelling, pg. 222, 223, 1978 ). A experiência estética revela o Uno, o Absoluto; este deve ser o ponto primário de toda filosofia: daí a importância da arte para ela. O absoluto, agora, não mais está excluído da esfera da experiência possível; ao contrário, ele é experiência originária imediata emque há esta exclusão do tempo na consciência plena do infinito. Schelling vê no mundo um todo que não se opõe, que não resiste, e que se interioriza como sentimento estético. ( IBRI, 1978, p. 57 ). Tronco Natureza de um caminho Fotografias – Carina Gonzalez y Sousa Da passagem, ( caminho ), quando me ergo, sustento (tronco ) um destino ante meus olhos, feito intercâmbio de raiz, galhos e folhas, posso ser o meio de um através, cordão do próprio útero. Do passado a raiz me nutre pelas experiências, onde após os anéis, cresço e refaço-me em aprendizado ainda que metamorfoseado, sobre ramos na aventura de outras folhas, ( formas ), do existir, escrevendo as palavras do que encontrei através do tempo, entre os através, do sentimento. O que é do ser, no mesmo viver em pertencimento outro? A geometria da vida se expande na rede de relações expostas em veias de fluxo de sentidos, em mediações em continuo, no desabotoar-se nas estações da sensibilidade, em manancial de aprendizados. Afago no peito o som que pertence ao eco dos desenhos expostos que a cada frase melódica, discorre sobre condutas, apreendidas no universo de percepções, adentrando o espaço da Arte, para que em meio ao não tempo da primeiridade, possa responder as indagações do próprio modo de ser da experiência. Soleiras em espera das janelas do porvir, aonde contemplo as paisagens da poesia, onde a interioridade narra a dramaturgia da saga mitológica do sentir. Imagens revelamse palavras como personagens encenando seu texto, emergindo das coxias do movimento, a exterioridade refazendo pensamento. Do contemporâneo observo, o limiar do próprio tempo. Quando as soleiras tornam-se janelas-Fotografias-Carina Gonzalez y Sousa Talvez o limiar me diga o verso/ Onde por tantas noites eu divago/E dentre essas passagens disperso/No tempo que amanhece em acaso/Na imensidão que se faz universo/Tardiamente o ontem beija o porvir/Na espera dos lábios sentirem o ardor/Desse fio tênue entrelaçado, do existir. ( Sousa, 2015) O que por tanto tempo espero chegar, deixou-se partir. O que tão breve partiu, deixou-se por tanto tempo estar. “ Viver na soleira não é tarefa fácil. Afinal, sair da área de segurança da especificidade por ser algo que desafie nossa cotidianidade porque uma soleira “ significa, portanto, atravessar uma zona perigosa onde batalhas invisíveis, mas reais, são travadas”( Barbarena apud Otte, 2010, p. 128 ). Habitar a soleira também é uma oportunidade de resguardar-se das luzes triunfantes do estar-viver-o-dentro ou do estarviver-o-fora absolutos. Nesse sentido, a mirada contemporânea não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue entrever nessas a parte da sombra. Ao navegar por essa perversa obscuridade, o passageiro contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpretá-lo, pois “contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo” As sombras da soleira são desafiadoras porque ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de coragem”.( Agaben, apud Barbarena, pg. 59, 60, 2009 ). E o tempo certamente me encontra diante do imaginário corpo distante, sendo que permanece a observar-me onde ainda me atenho rente ao mastro, olhando o horizonte como quem deseja o caminho pelo seu destino nas terras distantes. Certo de que estarei absorta pela imensidão, acolhe-me no mesmo dizer de minha alma, e então se entrega sem receios ou medos, sendo que de mim, se fez clepsidra, se possível fosse medir o sentimento. Assim o Kairos surge como presença, onde o tempo é outro nele mesmo. PÁSSAROS a pousar em dia de chuva no lago do horizonte. Fotografia – Pássaros adormecidos- Carina Gonzalez y Sousa Desvincular-se do modo habitual de vermos o mundo, nos aproxima da categoria fenomenológica, primeiridade, onde está imbuído o sentido da liberdade, criatividade, espontaneidade. Inventariar a experiência é se defrontar com o modo de ser das categorias. Acercamo-nos da expansão criadora que fecunda os dizeres incônditos da alma, através da experiência da Arte que impele o movimento da contemplação. “(...) como claro espelho do objeto, de forma tal que tudo se passa como se só o objeto existisse, sem alguém que o percebesse, que fosse impossível distinguir o sujeito da própria intuição e que ambos se fundissem em um único ser, numa única consciência inteiramente plena e de uma visão única e intuitiva, quando, enfim, o objeto se liberta de todo vínculo como que não é ele, e o sujeito, de todo nexo com a vontade, então, aquilo que é conhecido desse modo já não é a coisa particular enquanto particular, é a idéia, a forma eterna, objetividade imediata da vontade, neste plano, assim, aquele que é tomado por esta contemplação já não é um indivíduo, que em verdade é aniquilado nesta mesma contemplação, mas se torna o sujeito que conhece de modo puro, liberto da vontade, da dor, do tempo. (Schopenhauer, apud, Ibri, 1969 ). Conforme nos diz Schopenhauer, “ a música nos fornece aquilo que antecede toda forma, o núcleo íntimo, o coração das coisas”. Por essa razão busco em todas as linguagens, nos códigos assim dispostos da Arte, os diálogos sonoros, para encontrar na imagem, na palavra, nas cores, nos gestos, o que emana de melodia. Transpondo formas em frases melódicas de compreensão, onde o ritmo da narrativa desagua em sentidos análogos por gênese. O limiar da experiência atravessa um cotidiano de incompreensão, mas adentra o horizonte que se lança para o coração das coisas na busca de encontrar a seiva que nutre a natureza de uma unidade. Na fotografia – Pássaros adormecidos, apresenta-se a busca da sonoridade das palavras para dizer um eco em talvez, um adagio. Ávido sonho resgata-me em gotas da chuva azul, no tênue lago que se fez noite, onde as folhas vestiram-se de pássaros para esperar a manhã. Pausados emudecem na espera, do amor de tuas cores em porvir, repouso em silêncio arpejando como o cintilante anil nas águas adormecidas das horas restantes. Quero a esperança no deserto de teu olhar, para que a saudade beije o gesto que murmura entre as asas molhadas, o que se deixou ficar a espera de te amar. Assim é tão outro esse movimento que suspenso respira a imensidão, onde sou apenas mais uma folha que do luar encanta-se com a luz, desejando abrir as asas, sou pássaro, que talvez como fênix ressurja em meio a meus outros tantos, face de mim mesmo, para apenas sentir, que a chuva era na verdade as lágrimas de te ver partir. ( Sousa, 2015) Na esfera do urbano, deixar-se transpor um olhar tecido da cidade, em arquitetura de caminhos perceptivos é abrir-se para uma sensibilidade aonde quer que ela esteja. Pele do concreto em aparência abstrata que emoldura o pensamento em um novo quadro, desfeito e refeito outra moldagem, entre uma nova cor desnuda-se. A imagem rompe-se em outra face, antes pulsando em solidão. Quanto do que é belo, bom esta a espera da descoberta. O que é do organismo urbano é de nós também, mesma natureza. Feridas urbanas como seres de Ovídeo - entre a fotografia e a linguagens de uma pintura abstrata. Corpo urbano feito pintura abstrata. Corpo urbano feito pintura abstrata. O edifício como corpo cubista em cor. Edifícios da arquitetura do pensar, podem ser projetos de diagramas que despontem para novas formas antes não percebidas, que sugerem uma nova atmosfera sensível. Do mesmo modo que o edifício se transmuta em fotografias-quadro-cubista, podem ser transmutados os nossos projetos de significação, abarcando possibilidades dentre a permanência. O caminho do asfalto na imagem da poeira cósmica. Mesma fotografia entre sombras, cores e movimento. “ Esta existência é, presumivelmente, uma existência especial. Não necessitamos supor que toda forma necessita, para sua evolução, emergir neste mundo, mas apenas, que ela necessita entrar em algum dos teatros de reações, entre os quais este é um. Em resumo, se vamos considerar o universo como um resultado da evolução, devemos pensar que não apenas o universo existente, aquele locos no cosmos, no qual nossas reações estão limitadas, mas todos o mundo platônico, que em si mesmo é igualmente real, é também evolucionário em sua origem “ ( CP.6-192-194-195, CP. 6.200 ). Percorremos neste texto um desejo de refletir sobre a experiência estética, como ensejo de adentrar um caminho que se encontre com a razão e a sensibilidade. Tentamos observar os caminhos da cognição da metáfora presentes na Arte e no existir, como aprendizado, como voz a ecoar por talvez um universo aspirando por ainda uma profunda compreensão. No ensejo de continuar estas conjecturas permanecemos na volúpia de ouvir a criação que se faz melodia a cada dia que nos desperta. Fotografias – Carina Gonzalez y Sousa BIBLIOGRAFIA BARBARENA, Ricardo. Das luzes às soleiras: perspectivas críticas na literatura brasileira contemporânea. Porto Alegre: Luminara, 2015. BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 2000. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Rio de Janeiro: Vozes, 1988. BARTHES, Roland. A aventura semiológica. Tradução: Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2001. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ECO, Humberto. Obra Aberta. Forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. São Paulo: Editora Perspectiva. JORGE, Ana Guimarães. Introdução à percepção: entre os sentidos e o conhecimento.São Paulo: Paulus, 2011. _______________Topologia da Ação Mental. São Paulo: Anna Blume, 2006. _______________Qualia e consciência. In FACOM n 17, pg. 55- 59, 2007 IBRI. Ivo Assad. Kosmos Noethos. A arquitetura metafísica de Charles S. Peirce. 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