Imagens da infância na Atenas clássica
Images of childhood in Classical Athens
Alexandre Santos de Moraes*
Fábio de Souza Lessa**
Resumo: Neste texto, propomos uma reflexão sobre o espaço ocupado
pela infância na sociedade ateniense do período clássico (séculos V e IV
a.C.). Partiremos da dificuldade de demarcação e conceitualização dessa
faixa etária entre os helenos e da sua visão social negativa para entender a
importância das crianças em Atenas, para além da perpetuação do grupo
doméstico e da pólis, pensando nas suas relações de afeto familiar e na
sua socialização por meio de jogos e de brincadeiras infantis. As imagens
áticas pintadas em suporte cerâmico serão a documentação essencial para
o presente estudo.
Abstract: In this article, we aim to ponder on the role of infancy in the
Athenian society in the scope of the classical period (5th and 4th centuries
B.C.). We start with the difficulty of definition and conceptualization of
this age range among the Hellenes, in addition to their negative social
perspective about them, in order to understand the importance of children
in Athens, far beyond the perpetuation of the domestic group and of the
polis. To do so, we intend to take also into account their affective relations
in the family’s realm as well as their socialization by means of games and
children’s play. The Attic images painted on ceramic supports will be the
major type of document used in this study.
Palavras-chave:
Infância.
Cerâmica ática.
Atenas Clássica.
Afeto familiar.
Keywords:
Childhood.
Attic pottery.
Classical Athens.
Family affection.
Recebido em: 30/11/2020
Aprovado em: 09/01/2021
Professor Adjunto de História Antiga do Instituto de História e do Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal Fluminense. Membro do Núcleo de Representações e de Imagens da Antiguidade (NEREIDA/UFF)
e colaborador do Laboratório de História Antiga (LHIA/UFRJ).
**
Professor Titular de História Antiga do Instituto de História e dos Programas de Pós-Graduação em História Comparada
e de Letras Clássicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Membro do Laboratório de História Antiga da UFRJ e
membro colaborador do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra.
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Romanitas – Revista de Estudos Grecolatinos, n. 16, p. 61-80, 2020. ISSN: 2318-9304.
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A
Introdução
infância e a juventude receberam grande atenção acadêmica a partir do século
XX.1 Nas Ciências Humanas e Sociais, adotou-se como perspectiva o fato de que
as idades da vida são eventos biológicos socialmente refletidos (BOURDIEU,
2008, p. 113; DEBERT, 2007, p. 51; EISENSTADT, 1976, p. 1; GROPPO, 2000, p. 8; MORAES,
2013). Essa noção esteve fortemente influenciada por clássicos como Coming of age in
Samoa (1928), de Margaret Mead, e The sexual life of savages in NorthWestern Melanesia,
de Bronislaw Malinowski (1929). Os Estudos Clássicos não ignoraram essa tendência.
Em 1933, Clarence Allen Forbes publicou Neoi: a contribution to the study of Greek
associations; em 1936, Werner Jaeger lançou o bastante examinado Paideia, die formung
des griechischen menschen; em 1939, Henri Jeanmaire apresentou seu Couroi et courètes:
essai sur l’éducation spartiate et sur les rites d’adolescence dans l’Antiquité Hellénique. A
questão da iconografia da infância foi tratada no livro Child life in Greek Art (1932), de
Anita Klein, um catálogo relativamente extenso de imagens sobre as crianças. As idades
da vida passam a ser, portanto, objeto de preocupação acurada dos pesquisadores.
Esse impulso, sobretudo ligado às análises das primeiras fases da vida, recrudesce
por volta de meados do século XX. Trata-se, portanto, de um tema extremamente recente
e que acompanha, por óbvio, as condições materiais que o tornaram objeto de interesse.
Na década de 1990, Mark Golden (1993) oferece uma obra de referência sobre o assunto,
que acaba por inspirar vários especialistas a se debruçar sobre a infância no mundo antigo
(FERREIRA, 2010, p. 139). Sua proposta foi investigar a vida pública e privada das crianças
atenienses de 500 a 300 a.C. (GOLDEN, 1993, p. 13).
Tendência similar é percebida com o advento da juventude sob novas lentes de
observação. Jon Savage (2009) observa que os norte-americanos popularizaram a palavra
teenager precisamente nessa época. Segundo o autor, foi um termo de marketing usado
por publicitários e fabricantes para estimular novas práticas de consumo. Ainda de acordo
com o autor (SAVAGE, 2009, p. 11), “o fato de que, pela primeira vez, os jovens se tornaram
um público-alvo também significava que eles tinham se transformado num grupo etário
específico com rituais, direitos e exigências próprios”. Os desenvolvimentos ulteriores,
sobretudo na historiografia, são bastante conhecidos, a recordar principalmente os
debates estimulados pela obra L’enfant et le vie familiale sous l’Ancien Régime (1973), de
Philippe Ariès.
1
Uma boa síntese desse debate pode ser consultada no capítulo de Luísa de Nazaré Ferreira (2010, p. 137-142)
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Não é fortuito que esses temas tenham assumido preeminência nos períodos
posteriores às Grandes Guerras do século XX e às experiências de crise que se desdobraram
a partir delas:
Na medida em que existe o desejo de adotar uma nova orientação, isso terá de
fazer-se através da juventude. As gerações mais velhas ou intermediárias podem
ser capazes de prever a natureza das mudanças futuras e sua imaginação criadora
pode ser empregada para formular novas políticas; mas a nova vida será vivida
apenas pelas gerações mais jovens. Estas viverão os novos valores que os velhos
professam somente em teoria. Sendo assim, a função da juventude é a de um
agente revitalizador. Trata-se de uma espécie de reserva que se revela apenas se
tal revitalização for desejada (MANNHEIM, 1976, p. 92-93).
Nesse sentido, Karl Mannheim (1976, p. 92-93) observa oportunamente que a
juventude emergia então como uma categoria etária de cunho revitalizador, na qual era
depositada a expectativa por uma mudança política no então instável cenário mundial. Já
Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt (1996, p. 7-9), em meados dos anos 1990, apontaram
a dificuldade para se definir juventude e viram esta fase da vida também como resultante de
uma construção sociocultural. Entenderam a idade como portadora de uma característica
específica: é uma condição transitória. Em síntese: “os indivíduos não pertencem a grupos
etários, eles os atravessam”. Ora, diante das crises que se anunciam nesse início de
século XXI, sobretudo as que envolvem nossa relação destrutiva com o meio ambiente, a
popularização do pensamento de nítidos contornos fascistas, o fracasso da promessa de
que a globalização solaparia os nacionalismos conservadores e, não menos importante, a
crise sanitária exposta pela disseminação planetária do novo coronavírus, as preocupações
com a infância e juventude parecem gozar de terreno favorável para sua renovação e a
Antiguidade, mais uma vez, pode e deve ser convidada a participar das reflexões acerca
de nossos dilemas do presente da vida social.
Neste texto, nos propomos a analisar o caráter de liminaridade que caracteriza não
tão somente a juventude, mas também a infância. Essa é uma fase, na contemporaneidade
e na Antiguidade, em que a presença feminina/materna se faz muito presente.2 Na Grécia
Antiga, o acompanhamento das crianças comumente ficou entregue às mulheres do oîkos:
mãe, avó, amas. O que intencionamos estudar é, num primeiro momento, esse mundo
da afetividade feminina para com a infância; já num segundo, o próprio universo das
crianças helênicas. As imagens áticas pintadas em suporte cerâmico do período clássico
Segundo Margarida Moreno Conde (2015, p. 38), as crianças do sexo feminino permaneciam no gineceu depois dos
primeiros sete anos de vida, enquanto os meninos passavam, após esse período, a desfrutar da figura do pedagogo
no oîkos e somente depois eram enviados à escola. Já os heróis tinham a sua infância desenrolada fora da casa paterna
(SCHMITT PANTEL, 2019, p. 238).
2
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(séculos V e IV a.C.) constituirão o corpus documental prioritário da pesquisa, mas sempre
dialogando com os textos literários gregos.
Crianças gregas: breve reflexão conceitual
Refletir sobre o problema da demarcação e conceituação das faixas etárias na
Grécia antiga, em especial acerca da infância, nos remete a algumas imprecisões. Em
primeiro lugar, porque a contagem cronológica do tempo de vida não parece ter sido
prática generalizada na Antiguidade.3 Em segundo lugar, porque a reflexão sobre o tempo
de vida e suas respectivas etapas não pode ser dissociada, pelo menos no caso grego,
das visões mais gerais que os antigos possuíam a respeito do tempo propriamente dito e
dos ritmos da natureza. Em terceiro lugar, porque há evidências de que as mudanças no
corpo eram tomadas como símbolos diacríticos mais importantes do que costumamos
admitir em termos hodiernos.4
Não menos relevante é o fato de que a língua grega não dispunha de vocábulos
cujos sentidos se aproximassem de “infância” ou “idade adulta”, por exemplo. Para designar
“crianças”, o vocábulo παῖς era um dos mais frequentemente utilizados. Seu sentido está
associado a uma ideia de parentesco filial e, sendo comum aos dois gêneros, costuma
ser vertido para “filho” ou “filha”. É frequentemente evocado para se referir à genealogia
de determinada personagem ou sujeito. Sentido similar se aplica ao vocábulo τέκνον,
também traduzível por criança (BAILLY, 2000, p. 1908), mas frequentemente vertido por
“filho” ou “filha”; é o que se observa, por exemplo, em Heródoto, quando Sólon narra
ao rei Creso a felicidade do ateniense Telo, que tinha “dois filhos belos e bons” [παῖδες
ἦσαν καλοί τε κἀγαθοί] e que, além disso, “também viu os filhos [τέκνα] sendo gerados
por todos eles” (HERÓDOTO. Histórias, I, 30). Em ambos os casos, as palavras também
podem qualificar sujeitos em “idade adulta” que costumam ter relações afetivas com o
interlocutor, mas seu uso mais comum é para se referir às crianças.
Segundo Meyer Fortes (1986, p. 99), “reveste-se de significado quando o quadro político e legal assume preeminência
sobre a família e o parentesco na determinação da cidadania”. Essa questão é utilizada por Thomas M. Falkner (1990)
para justificar aquela que parece ser a primeira tentativa de sistematizar a vida em fases na Grécia antiga. Trata-se de
um poema atribuído a Sólon, no qual o legislador divide o curso de vida dos homens em ἑβδμάς, ou seja, períodos
de sete anos (Solon. frag. 27 West). Segundo o autor, a necessidade de organizar a vida dos cidadãos com base em
princípios impessoais veio à tona com a reorganização social na Atenas do século VI a.C., “de modo que o poema reflete
a crescente importância da idade cronológica na vida social ateniense”, apesar do fato de que o modelo de Sólon
parece antes uma “criação artística do que uma descoberta de ordem natural” (FALKER, 1990, p. 7-8).
4
Vê-se, por exemplo, a questão do cabelo, tomado como referência inúmeras vezes para definir as posições etárias
dos sujeitos, em função de seu tamanho, aspecto e coloração. Como observou Irwin (1990, p. 210), “através da cor,
tamanho e maneira com que o cabelo era usado, os poetas gregos retrataram juventude ou velhice, beleza ou feiúra,
nobreza ou baixeza”.
3
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Não menos evidente é o sentido da palavra νήπιος, que pode definir a condição
de “ser criança” em função da fala: ainda que a etimologia não esteja bem assentada nos
dicionários,5 o estudo de Susan Edmunds (1990, p. 10), sobretudo a partir das análises que
fez da épica homérica, demonstrou que “quando alguém é nēpios é paîs hōs, ‘como uma
criança’, ao passo que quando alguém é ēpios, é patēr hōs, ‘como um pai’” (EDMUNDS,
1990, p. 10). Ainda de acordo com a autora, “o personagem caracterizado como ἤπιος
é maduro, dá bons conselhos, entende de justiça e promove a coesão social; o νήπιος,
contudo, é associado a um mundo perigoso e fragmentado, ao risco de tornar-se um
órfão, alijado do mundo social, ou incapaz de observar leis de hospitalidade, estando
assim fora da rede de conexões humanas” (EDMUNDS, 1990, p. 98). Curiosamente, a
palavra νήπιος é a que mais se aproxima do sentido latino de infantia, “que significava
na origem ‘incapacidade de falar’ e foi depois empregue para designar o período de vida
até aos setes anos de idade” (FERREIRA, 2010, p. 142-143). Há pelo menos dois outros
qualificativos frequentemente usados para definir crianças quando associados a sujeitos:
τυτθός, “pequenino”, “de baixa estatura”, e νέος, “novo”, “novidade”.
Aparentemente, poderíamos observar, por meio do contexto sociodiscursivo de
uso dessas palavras, alguma definição possível acerca das diferenças e períodos próprios
a cada fase da vida no mundo grego. Porém, o que predomina entre os especialistas é a
não concordância quanto à designação e mesmo a percepção de fronteiras para cada uma
das etapas etárias gregas (GOLDEN, 1993, p. 12-22; SOARES, 2011, p. 13-28). Em outras
palavras, a infância, assim como a velhice, como conceito, se encontrava praticamente
ausente dos textos antigos (CONDE, 2015, p. 41), o que não significa que as crianças não
foram objeto de atenção e que a documentação antiga não cuidou de oferecer alguns
pontos de vista demasiado significativos sobre as experiências desses primeiros anos da
vida, sobretudo no marco de suas relações familiares.
Esta etimologia de νήπιος não é consensual entre os gramáticos. O dicionário de Bailly (2000, p. 1326), por exemplo,
considera que a origem da palavra é obscura. O léxico de Liddell & Scott (1992) também não afirma que o vocábulo
teria sua origem em ἒπος, diferentemente de Franco Montanari (2000, p. 1334), que identifica o prefixo νη- e, por
isso, considera “que não fala” como um dos significados possíveis. O dicionário etimológico de Robert Beekes (2010),
retomando as proposições de Lacroix (1937, p. 261), também considera como válida a assunção de νη- como um
prefixo de negação. Chantraine (1983, p. 723), a seu turno, julga que o sentido “que ainda não fala” não se apoia em
nenhuma tradição antiga, de modo que, para o autor, o sentido principal é “de pouca idade”.
5
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Afetos familiares: mães e filhos em imagens áticas
Ademais, nossa vida infantil não é desejável,
e ninguém no seu juízo se disporia a suportar o seu retorno
(Aristóteles, Ethica Eudemia, 1215b).
Aristóteles, na epígrafe acima, deixa claro o quanto a infância é uma fase delicada
na vida dos gregos antigos. Ele prossegue (1219b) afirmando que “não existe felicidade
infantil”. Talvez esse quadro de “infelicidade” estivesse ligado à ideia de que as crianças,
de modo geral, apresentavam uma carência de coragem que as distinguia dos adultos
(SOARES, 2011, p. 45-6). Ou, ainda, à visão predominante entre os pesquisadores que se
dedicam ao estudo da infância na Grécia Antiga de que essa faixa etária era formada por
pessoas mentalmente incapazes (GOLDEN, 1993, p. 5; SOARES, 2011, p. 51-2). Seguindo
essa lógica, as crianças, além de incapazes, poderiam ainda assumir um papel passivo na
história (LEVI; SCHMITT, 1996, p. 16).
Tudo o que vimos até o presente momento nos direciona para refletir acerca
do estatuto social da criança, sempre vista como marginal pelos helenos e, por isso,
equiparada à mulher e ao escravo (GOLDEN, 1993, p. 7; FERREIRA, 2011, p. 61, 72). Essa
relação entre criança e mulher foi eternizada por Aristóteles (Politica, 1260a) ao afirmar
que “é aproximadamente a mesma a dificuldade levantada acerca da mulher e da criança;
têm elas também qualidades, e deve a mulher ser moderada, corajosa e justa, e pode uma
criança ser chamada de imoderada ou moderada, ou não?”.
Se comparadas aos jovens e aos adultos,6 a criança é considerada um ser imperfeito
e inferior; física, intelectual e eticamente (FERREIRA, 2010, p. 145-7; GOLDEN, 1993, p. 7).7
No fundo, a criança não se encontra completamente desenvolvida (Arist., Pol., 1260a), o que
fez com que a cultura grega não lhe reconhecesse como portadora de uma personalidade
autônoma. Lançando mão de referências da Ilíada (IV, v. 2) e da Odisseia (XI, v. 603),
que associam juventude à deusa Hebe, Mark Golden (1993, p. 4) afirma que a sociedade
grega não parece ter sentido a nostalgia da infância, preferindo exaltar a juventude e os
belos corpos. Porém, não podemos deixar de lembrar que, ao contrário da mulher e dos
escravos, a condição inerente à infância é temporária (FERREIRA, 2010, p. 147).
Assim como Pauline Schmitt Pantel (2019), Luísa Ferreira (2011, p. 59-60, 66, 81;
2010, p. 139, 146) já havia atentado para o fato de que os documentos literários, epigráficos
Vale reforçar que a juventude era vista como o período da vida enaltecido pelos gregos antigos como o momento
mais perfeito e o mais efêmero da existência (CONDE, 2015, p. 31).
7
Sobre essa questão da inferioridade da criança e de sua associação às mulheres e aos escravos, ver: Platão,
República, 431c.
6
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e a cultura material disponíveis podem ainda não permitir um conhecimento completo e
satisfatório sobre o universo infantil no mundo antigo. Porém, a helenista não deixa de
ressaltar que informações significativas acerca das crianças gregas provêm do repertório
imagético pintado na cerâmica ática dos períodos arcaico e clássico. Predominam, nesse
corpus imagético, cenas de entretenimento e de demais atividades cotidianas. Apesar de
as crianças não terem sido completamente ignoradas, a literatura grega tendeu a silenciar
a infância, se compararmos com as referências sobre a juventude e a velhice.
Uma simples busca na base de dados Beazley Archive atesta a importância da
documentação imagética para o estudo da infância grega. Ao digitarmos a palavra inglesa
child, nos deparamos com um universo de 506 vasos áticos figurados. É claro que o estado
de conservação das cerâmicas e as temáticas nelas pintadas são variáveis.
Desse grande universo de vasos com temática infantil, selecionamos apenas cinco
para análise neste texto: uma amphora,8 um lékythos, 9 uma hýdria10 e dois choes.11 Todos
esses vasos pertencem ao estilo de figuras vermelhas.12 Tal seleção não foi aleatória, pois
sabemos que o corpus de figuras vermelhas era mais rico na representação da infância e
as suas formas de figuração também variaram bastante, diferentemente da situação dos
vasos de figuras negras (FERREIRA, 2011, p. 72-5).
O nosso corpus imagético para esse texto privilegia duas temáticas que predominam
nas cerâmicas de figuras vermelhas e que adquiriram cada vez mais importância no
decorrer do século V a.C., a saber: os afetos familiares e as brincadeiras infantis.13 Segundo
Luísa Ferreira (2011, p. 69, 76), nesse momento, as cenas de gineceu tornaram-se muito
mais frequentes e as crianças passam a estar cada vez mais presentes ou até mesmo
a constituírem o tema principal das imagens. Continua a autora a argumentar que os
artistas áticos representaram todas as experiências que preenchiam o cotidiano de uma
criança; as relações familiares e sociais, a educação e as brincadeiras.14 Reforçamos que
o afeto, presente na relação entre mães e filhos funciona como veículo para estabelecer
uma ligação emocional estruturante no momento de formação do caráter do indivíduo
(SOARES, 2011, p. 109-10).
Vaso usado para líquidos e sólidos. Servia para armazenar e transportar vinho, óleo e demais artigos.
Vaso usado para óleos e unguentos. Também servia como oferenda para o morto.
10
Vaso usado para o armazenamento e o transporte de água da fonte.
11
Vaso semelhante a uma oinochoe, destinado a medir o vinho no festival das Antestérias. Também servia para as
brincadeiras infantis no festival.
12
Apresenta os elementos da decoração em tom claro sobre fundo escuro, já que o estilo chamado de figuras negras
se constitui pela apresentação dos elementos da decoração em tom escuro sobre fundo claro.
13
Cenas de gravidez e de parto são temas raros na arte grega, com exceção das cenas de nascimento de personagens
míticos, como o de Atena (CONDE, 2015, p. 32).
14
Julgamos necessário ressaltar que Platão, na República (378c-d), condena o fato de se contarem às crianças narrativas
que ele considerava como não pertinentes.
8
9
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Recorrendo ao trabalho clássico de Philippe Ariès (2006, p. xi), observamos a
sua afirmação de que a partir do fim do século XVII é que a família se tornou o lugar
de uma afeição necessária entre cônjuges e entre pais e filhos, algo que não acontecia
anteriormente. Porém, o convívio diário entre crianças, mães e amas gregas, isto é, a
intimidade do gineceu, já havia despertado o interesse dos pintores atenienses.15
No tocante à arte do pintor, Alain Schnapp (1996, p. 35) salienta que esta consiste
em servir-se da observação para ultrapassar a singularidade dos seres, chegando à
qualidade estética que transcende cada detalhe para integrá-lo na unidade da obra, algo
que guarda proximidade com o que Jean-Pierre Vernant (1991, p. 47) já havia mencionado.
Para o helenista, qualquer estudo iconográfico deve tratar de explorar o entrelaçamento
de signos e estabelecer a combinatória dos elementos significativos da imagem, de seu
relacionamento no interior das diversas séries homogêneas, em função da geografia, da
natureza dos objetos e da temática.
Outra questão no que se refere à representação infantil e que nos permite retornar
ao debate acerca da concepção de inferioridade das crianças frente aos adultos é o fato
de serem comumente representadas como um adulto em tamanho diminuto, como
uma versão em miniatura. Assim sendo, “a criança é um ser imperfeito, incompleto, em
comparação com o adulto” e a sua distinção de um adulto nas imagens se dá pela estatura
menor (FERREIRA, 2010, p. 145; 2011, p. 61, 67, 75). Essa questão também não escapou
à análise de Philippe Ariès (2006, p. xiii, 17-18). Segundo o autor, até o fim do século
XIII não existiam crianças caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens de
tamanho reduzido.16
Nesta seção do presente texto nos dedicaremos a analisar cenas referentes aos
afetos desenvolvidos entre mães e filhos. Segundo Anita Klein (1932, p. 1), a vida da
criança grega nos momentos iniciais de sua existência não pode ser observada sem, ao
mesmo tempo, vê-la em suas interações com a mãe ou com a ama. Munidos de tais
informações, passemos à interpretação da primeira imagem (Figura 1), pintada em uma
amphora datada de 470-60 a.C. e atribuída ao pintor Bóreas.17
Antes de passarmos propriamente para a análise das imagens, convém enfatizar que elas não constituem ilustrações
de textos escritos. Pelo contrário, “elas criam as suas próprias composições, levando em conta os constrangimentos do
espaço disponível e talvez também o gosto dos consumidores desses objetos” (SCHMITT PANTEL, 2019, p. 196).
16
Ariès (2006, p. 18) sublinha que essa recusa em aceitar, na arte, a morfologia infantil é encontrada na maioria das
sociedades arcaicas, como a grega.
17
O método semiótico proposto por Claude Calame (1986) para as imagens pressupõe:
1º. verificar a posição espacial dos personagens, dos objetos e dos ornamentos em cena;
2º. fazer um levantamento dos adereços, mobiliário, vestuários e os gestos, estabelecendo um repertório dos signos;
3º. observar os jogos de olhares dos personagens.
3.1. perfil: o receptor da mensagem do vaso não está sendo convidado a participar da ação. Neste caso, o personagem
deve servir como exemplo para o comportamento do receptor;
15
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Figura 1 - Amphora atribuída ao pintor Bóreas, datada de 470-60 a.C.
Localização: The British Museum - inv. E282, Temática: mãe e filho, Proveniência: Vulci, Etrúria, Forma:
amphora, Estilo: Figuras Vermelhas, Pintor: Bóreas, Data: 470-60 a.C. (British Museum), 500-450 a.C. (Brazley);
Indicação Bibliográfica: FERREIRA, 2011, fig. 2; www.beazley..ox.ac.uk/index.htm (vaso number 206109 consultado em outubro de 2020); https://www.britishmuseum.org/collection/object/G_1843-1103-33.
Acesso em: outubro de 2020.
No centro da imagem, temos uma mulher, tudo indica que a mãe da criança, vestida
com um chitón jônico, manto, colar, brincos e cabelos envoltos por um tecido. Esses
signos denotam ser, para as imagens áticas, a personagem uma esposa legítima e bemnascida (LESSA, 2010, p, 37).18 A personagem se encontra de pé e de frente, mas com o pé
esquerdo voltado para a direita; ela olha para a esquerda, levantando a mão direita com
um gesto de aceno também em direção à esquerda. Se levarmos em consideração a outra
face representada, podemos pensar em uma cena típica de partida, na qual contamos
com a esposa, o filho e o marido guerreiro.19 Talvez o gesto da personagem feminina – o
olhar para a esquerda e o levantar a mão direita com um gesto de aceno também em
direção à esquerda – possa significar um gesto de unir as duas cenas, formando uma
enunciação holística do vaso.
3.2. três quartos: o personagem que olha tanto para o interior da cena quanto para o receptor está possibilitando, a
este último, participar da cena;
3.3. frontal: personagem convida o receptor a participar da ação representada.
18
Em trabalho anterior, verificamos os signos recorrentes que identificavam uma personagem feminina figurada em
uma cerâmica ática como esposa bem-nascida. Ver o quadro síntese que se encontra no livro Mulheres de Atenas:
Mélissa do gineceu à agorá (LESSA, 2010, p. 37).
19
Na face oposta, temos um guerreiro, barbudo, com cabelo comprido, cachos pardos caindo ao lado das orelhas,
manto pendurado no braço esquerdo, capacete inclinado para trás, e um grande escudo com dispositivo de cobra
arqueando para a esquerda. Ele está de pé à esquerda, segurando a lança vertical na mão direita.
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Há um consenso entre os especialistas de que, nas cenas semelhantes às que
estamos analisando, o esquema cênico é regularmente composto da mãe em pé (Figuras
1 e 2) ou sentada (Figura 3), amamentando a criança ou simplesmente a segurando no
braço esquerdo enquanto o bebê vira o rosto em direção ao dela (KLEIN, 1932, p. 2). No
caso da imagem que estamos estudando, a mãe segura o bebê, que se encontra nu em
seu braço esquerdo, que se senta à esquerda, mas se vira para a direita e estende ambos
os braços, como se fosse para o guerreiro presente na outra face. A criança usa sobre o
ombro esquerdo um cinto cruzado infantil, um amuleto de proteção. Deve-se destacar o
cuidado do pintor com as formas do corpo da criança e em destacar o sexo masculino.
Claramente, a esposa havia cumprido a sua função mais fundamental na sociedade grega:
a concepção de filhos do sexo masculino.
Interessante é trazer para a discussão as colocações de Timothy McNiven (2007,
p. 85) acerca da linguagem não-verbal das crianças na imagética ática. De acordo com o
autor, os pintores atenienses desenvolveram uma sofisticada linguagem dos gestos para
permitir a comunicação dos seus personagens. Diante da ausência de expressões faciais,
os gestos adquirem uma dimensão econômica e efetiva para mostrar graficamente as
reações de cada personagem em cena e para indicar a sua comunicação entre eles. O
aprendizado da linguagem não-verbal se inicia antes mesmo de as crianças começarem
a falar e se dá pela imitação espontânea ou ensinada pelos mais velhos. Vale frisar que
o mesmo processo é pertinente para o aprendizado da fala. Assim como acontece no
caso da linguagem verbal, o processo de aprendizagem não-verbal joga um papel na
socialização das crianças, ajudando-as a se encaixarem na sociedade.
A próxima imagem (Figura 2) apresenta elementos cênicos muito semelhantes a
essa primeira. De imediato, elas têm em comum o que poderíamos chamar de transposição
do esquema iconográfico da kourotrophoi, “a que nutre, a criadora de jovens” (FERREIRA,
2011, p. 63, 76; 2010, p. 141).20 Nessas cenas, contamos com a representação da criança
no colo da mãe ou da ama.
Se na amphora temos a integração da kourotróphos em uma cena familiar de partida
de um guerreiro, no lékythos atribuído por Beazley ao pintor Pistóxeno, a sua integração
acontece em uma cena típica de interior de uma casa, haja vista o espelho pendurado na
parede e a banqueta, ambos posicionados atrás da personagem.
20
Na Odisseia (IX, v. 27), o termo faz referência à terra de Odisseu: “É uma ilha áspera, mas boa criadora de mancebos
(kourotróphos)”.
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Figura 2 - Lékythos atribuído a Pistóxenos, datado de 475 a 425 a.C.
Localização: Ashmolean Museum (Oxford) - inv. V320, Temática: mãe e filho, Proveniência: não fornecida,
Forma: lékythos, Estilo: Figuras Vermelhas, Pintor: atribuído a Pistóxenos, Data: 475 a 425 a.C.; Indicação
Bibliográfica: FERREIRA, 2011, p. 76; www.beazley..ox.ac.uk/index.htm (vaso number 211374. Acesso em:
outubro de 2020.
Assim como na imagem anterior, temos, nesse lékythos, uma personagem feminina
no centro da cena, ricamente adornada e com os cabelos envoltos por um tecido. Ela
possui, apoiado sobre o seu braço esquerdo, uma criança, possivelmente um menino. O
corpo da criança é bem delineado, destacando os músculos do seu peito. Embora seja
um bebê com um olhar muito vivo, sua cabeça lembra a de um adulto (FERREIRA, 2011, p.
76). Talvez possamos retornar à questão já discutida acerca da representação das crianças
como adultos em tamanho diminuto.
Ao retratar a mãe mantendo a criança sobre o seu braço esquerdo enquanto
sua mão direita segura o braço esquerdo da criança, a cena nos possibilita perceber a
curiosidade, que é uma característica expressiva das crianças que começam a descobrir o
seu entorno (FERREIRA, 2011, p. 76).
Essa imagem, assim como a próxima (Figura 3), revela a presença de gestos
que codificam a relação mais próxima entre pais e filhos. Essas imagens podem até ser
representações particularmente escassas na cerâmica grega, mas em todas elas encontrase presente certa ternura, como as cenas no interior do oîkos (CONDE, 2015, p. 37).
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Cumpre observar, no entanto, que o laço estreito que une mãe e filhos é sugerido
de várias formas pelos artistas gregos (KLEIN, 1932, p. 6-7). Uma delas é a figurada
na hýdria abaixo, datada entre os anos de 450 a 400 a.C., e atribuída ao pintor do
Polygnotan Circle.
Figura 3 - Hýdria, de Polygnotan Circle, datada de 450-400 a.C.
Localização: Coleção da Universidade de Havard (Robinson Collection III. 1), Temática: afeto materno,
Proveniência: Vari, Forma: hýdria, Estilo: Figuras Vermelhas, Pintor: Polygnotan Circle, Data: 450-400 a.C.,
Indicação Bibliográfica: WILLIAMS, 1993, p. 93-94, fig. 7.2; LESSA, 2010, p. 60; FERREIRA, 2011, p. 78; www.
beazley..ox.ac.uk/index.htm (vaso number 8184. Acesso em: outubro de 2020.
Nessa hýdria, temos quatro personagens. A comunicação estabelecida pelos
personagens na imagem não está diretamente direcionada para o receptor externo – o
público ateniense do século quinto ou mesmo nós no século atual –, mas apenas voltada
para o âmbito interno da própria cena, demonstrando atenção a uma única ação: a
transferência do recém-nascido do colo da mãe para o de uma ama.
Mais uma vez recorremos ao trabalho de Timothy McNiven (2007, p. 86-7). Nas
imagens atenienses, os bebês apresentam gestos extremamente limitados, se comparados
à figuração de crianças mais velhas e de adultos. Dentre os gestos infantis mais comuns
nas imagens áticas, conta-se aquele da criança estendendo um ou ambos os braços em
direção a outra pessoa como sinal de que quer ser pega. Essa hýdria apresenta uma
cena certamente ambientada no gineceu, espaço típico de ação feminina, no qual poucos
homens entravam (LISSARRAGUE, 1993, p. 241). Temos em cena uma personagem
feminina que pode ser considerada uma esposa bem-nascida. Ela veste um chitón e um
himátion de cores claras e plissados, seus pés estão descalços, seu cabelo está preso e
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envolto em um tecido, sua cor de pele é clara e ela aparece sentada numa cadeira de
encosto elevado.
A presença do recém-nascido é outra característica que nos permite conceder a
essa personagem feminina o status de esposa legítima e bem-nascida. Ela está sentada
em uma cadeira no centro da cena, voltada para a esquerda, com os pés sobre um assento
e entregando o seu filho para uma ama situada também à esquerda. O recém-nascido
usa um amuleto preso em um cordão, um símbolo apotropaico para afastar os males.
Certamente, para tornar a vida o mais segura possível para os seus filhos, os pais sempre
tinham o cuidado e usar os amuletos frequentemente. Segundo Klein (1932, p. 7), a corda
que a criança carregava era pendurada em um dos ombros e cruzava o corpo de modo
a ficar próximo ao quadril do outro lado. Prossegue ainda a autora, afirmando que a
quantidade de amuletos em uma corda variava, mas parece que foi de 3 a 6 na maioria
dos casos.
A preocupação dos helenos com as crianças revela o cuidado dos pais com o
bem-estar dos filhos e a percepção de que a criança, sobretudo em idades iniciais, exige
atenção especial (FERREIRA, 2010, p. 147).
Retornemos mais diretamente à imagem. A ama veste um chitón e uma túnica
simples com mangas longas. As fitas de cores escuras que decoram a sua roupa podem
ser uma indicação de escravidão. À direita, em pé, há um homem com poucos fios de
barba na face, vestindo um himátion e inclinado sobre um bastão no qual sustenta sua
mão direita. De acordo com Martin Robertson e Mary Beard (1993, p. 26), o bastão é
um símbolo de poder, autoridade, exterioridade, portanto atributos que remetem ao
espaço público. Enquanto para Williams (1993), esse homem é provavelmente o filho
mais velho, a descrição do Corpus Vasorum Antiquorum (CVA) o concebe como o pai e,
consequentemente, o esposo. Não podemos deixar de ressaltar a presença masculina no
gineceu por ser algo considerado como incomum. Inclusive, podemos observar, como o
fizeram Robertson e Beard (1993, p. 23), que a imagem masculina, quando representada
em cenas de interior, normalmente excede o pescoço decorativo do vaso, o que pode
fazer parecer que o homem seja grande demais para o espaço doméstico no qual está
introduzido, isto é, o homem é visto como inadequado para este espaço. Na extrema
esquerda, temos um tear. Esta representação nos fornece indícios acerca das obrigações
básicas que competiam a uma esposa abastada, quais sejam: a procriação, a criação e
educação dos filhos e a colaboração para a autossuficiência do grupo doméstico, tecendo
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roupas para o uso familiar e gerenciando os bens da casa (WILLIAMS, 1993, p. 94; LESSA,
2010, p. 60-1).21
A procriação e, principalmente, a criação e educação dos filhos, pelo menos nos seus
primeiros anos de vida, foram vistas como fundamentais para uma esposa legítima. Essa
inferência é resultante do fato de que a concepção de um filho significa a concretização
do herdeiro, que será responsável pela manutenção do patrimônio, por cuidar dos pais
na velhice, por realizar os funerais familiares e também por manter o culto doméstico.
Reforçamos que a função dos filhos na Grécia antiga era prestar assistência aos mais
velhos, aos pais em especial (FERREIRA, 2010, p. 147).
Quanto à criança presente em cena, constatamos que ela é do sexo masculino,
sendo este detalhe de suma importância, pois o nascimento de um filho do sexo masculino,
conforme já afirmamos, constitui uma clara indicação para o observador ateniense de
que essa esposa havia cumprido sua obrigação para a reprodução da linha de cidadãos
(ROBERTSON; BEARD, 1993, p. 24; LESSA, 2010, p. 63).22
Ainda quanto à figuração das crianças na imagética ática, podemos acrescentar
que se elas não estivessem dormindo, poderiam ser vistas sentadas em seus berços, sella
cacatoria,23 ou brincando ou ainda observando o que se passa no entorno (KLEIN, 1932,
p. 4), conforme veremos nas próximas duas imagens que estudaremos.
Imagens da infância: as crianças de Atenas
As duas próximas imagens (Figuras 4 e 5) foram pintadas em duas choes e fazem
referências ao cotidiano infantil, ao mundo dos brinquedos e dos jogos. As choes estão
vinculadas às Anthestérias, festa realizada em honra a Dioniso e associada ao florescimento,
simbolizando a passagem do inverno à primavera (LIMA, 2000, p. 92). As choes foram
fabricadas em grande quantidade no último quartel do século V a.C., sendo destinadas
a servir o vinho. O repertório que normalmente decorava uma chous era fixo: crianças a
engatinhar nuas, portando amuletos ou sentadas na sella cacatoria; crianças mais velhas a
brincar sozinhas ou acompanhadas; crianças com seus carrinhos ou animais de estimação,
além de outras (FERREIRA, 2011, p. 79).
Passemos à primeira chous. Nela, temos representada uma criança ao centro,
sentada numa cadeira-alta e portando um chocalho, além de uma enócoa (vaso para a
De acordo com Williams (1993, p. 94), a roca se constituiu num símbolo literário de uma esposa bem-nascida, sendo
isso apropriado pelos pintores, o que explica o fato de encontrarmos um número significativo de vasos cuja temática
apresenta esposas fiando e tecendo.
22
Cf. XENOFONTE. Econômico, VII, 12.
23
Tipo de assento no qual a criança é encaixada, como o representado na figura 4.
21
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retirada do vinho da cratera) e um carrinho. A referência aos brinquedos e ao vinho nos
remete diretamente às Anthestérias.
Figura 4 - Chous, sem autoria, datado de 450 a 400 a.C.
Localização: British Museum - inv. 1910.0615.4, Temática: brinquedos infantis, Proveniência: Atenas, Forma:
chous, Estilo: Figuras Vermelhas, Pintor: não fornecido, Data: 450 a 400 a.C.; Indicação Bibliográfica: FERREIRA,
2011, fig. 2; www.beazley..ox.ac.uk/index.htm (vaso number 11041. Acesso em: outubro de 2020.
O espaço cênico é o interno, pois as crianças crescem no gineceu, onde escutam dos
membros femininos da família canções e narrativas míticas; divertem-se com brinquedos
ou animais domésticos e participam de festas religiosas, como as Anthestérias (MAFFRE,
1988, p. 148-9).24
No festival das Anthestérias, os meninos eram presenteados com uma coroa para
usar na cabeça, um pequeno jarro conhecido como chous e um pequeno carrinho. Também
era nessa ocasião que eles, pela primeira vez, experimentavam o vinho (GARLAND, 2009, p.
94). Dentre os brinquedos, predominavam os feitos em casa. Há evidências arqueológicas
de miniaturas de cavalos com rodas, barcos, piões, chocalhos e bonecas com os membros
móveis, além de bonecas e animais de pano (GARLAND, 2009, p. 95; FLACELIÈRE, 1988, p.
104). Acrescentemos também o ioiô.
A questão da produção dos brinquedos em casa pelas próprias crianças é atestada
por Aristófanes, nas Nuvens (vv. 878-81). Este é um argumento de Estrepsíades para
enaltecer o filho frente a Sócrates.
A imagem seguinte, pintada na segunda chous, repete o esquema cênico básico
das cenas de crianças no âmbito das Anthestérias. Temos, no centro do vaso, um bebê
A participação de crianças em cerimônias religiosas é anterior ao período clássico. Segundo Langdon (2008, p. 58), a
presença de crianças nas cenas rituais da cerâmica geométrica é sinal de um mundo social no qual os jovens tiveram
um adequado lugar na vida ritual da comunidade.
24
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engatinhando em direção ao carrinho que se encontra encostado na parede. A criança
porta amuletos transpassados pelo dorso.
Figura 5 - Chous, sem autoria, datado de 450 a 400 a.C.
Localização: Antikensammlungen - inv. 2459, Temática: brinquedos infantis, Proveniência: não fornecido,
Forma: chous,, Estilo: Figuras Vermelhas, Pintor: não fornecido, Data: 450 a 400 a.C.; Indicação Bibliográfica:
www.beazley..ox.ac.uk/index.htm (vaso number 11381. Acesso em: outubro de 2020.
A imagem corrobora o que falamos até o presente momento acerca da proteção
das crianças com amuletos apotropaicos e de sua representação com um corpo diminuto,
mas com feições mais adultas.
No que se refere aos jogos de olhares dos personagens, as cinco imagens que
analisamos no presente texto trazem uma representação em perfil. De acordo com o método
de análise iconográfica proposto por Claude Calame (1986, p. 101), a representação em
perfil é o tipo mais comumente encontrado nos vasos do período clássico. A comunicação
estabelecida pelos personagens nas imagens não está diretamente direcionada para o
receptor externo, o público ateniense do período clássico ou mesmo nós, no século atual,
mas apenas voltada para o âmbito interno da própria cena, demonstrando atenção às
ações desenvolvidas. Logo, as cenas servem como exemplo a ser seguido pelos receptores.
Conclusão
Neste texto, buscamos apreender o espaço da infância na sociedade grega, no
geral, e na ateniense, em particular, a partir de dois vieses, a saber: as relações de afeição
desenvolvidas no gineceu pelos membros da família com as suas crianças e o processo de
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socialização infantil por intermédio da participação em jogos e brincadeiras. As imagens
áticas de figuras vermelhas constituíram o corpus documental para a nossa análise.
Mesmo equiparando as crianças às mulheres e aos escravos, havia com frequência,
por parte dos helenos, um cuidado com a primeira infância, pois é nítida a preocupação
com o bem-estar dos filhos nessa faixa etária. Defendemos que tal preocupação excedia
a ideia dos filhos legítimos como propiciadores da continuidade do grupo doméstico e da
pólis. Ter abordado a infância por meio dos afetos familiares e da sua relação estreita com
os membros femininos da família foi relevante para percebermos o quão importante era
essa faixa etária na Atenas clássica. Podemos ainda acrescentar a importância dos filhos
para o futuro amparo dos pais na velhice.
A educação (paideía) das crianças na fase inicial de suas vidas – até, pelo menos,
os sete anos de idade – costumava ser responsabilidade das mães e parentes femininas,
mas, por opção, apesar de sua relevância, não constituiu objeto de estudo neste artigo. A
inserção social da criança na família acabou ganhando maior destaque no texto.
Por fim, estudar a infância ateniense não é um fim em si mesmo. Não teria sentido se
as questões que foram fundamentais para a sociedade grega antiga não nos permitissem
uma reflexão sobre o mundo contemporâneo e o Brasil, em especial. A situação de nossas
crianças, muitas vezes relegadas à própria sorte nas ruas das várias cidades brasileiras,
é algo que nos sensibiliza, principalmente diante de uma pandemia como a covid-19.
Coincidentemente ou não, estamos refletindo sobre criança grega num ano em que o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 30 anos. O ECA corresponde a uma
das primeiras legislações do mundo a adaptar os princípios da Convenção sobre os Direitos
da Criança da ONU, ocorrida em 1989. Mais do que fazer de crianças e adolescentes
brasileiros sujeitos do Direito, o ECA ainda precisa atuar no sentido de oferecer condições
de sobrevivência e de educação que os transformem em verdadeiros cidadãos.
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