CADERNOS MATEUS DOC
10
GLOBALIZAÇÃO
GLOBALIZATION
Casa de Mateus
27-29 Novembro
November
2015
CADERNOS MATEUS DOC
10
Globalização
Globalization
27-29 Nov. 2015
Instituto Internacional Casa de Mateus
Índice Table of Contents
04
O Programa Mateus DOC
The Mateus DOC Program
06
The Mateus DOC Meeting
O Seminário Mateus DOC
09
Prefácio
Rui Tavares
27
I
Cientistas, Arquitetos e Portugal Global
Uma rede de investigadores portugueses no
estrangeiro: Global Portuguese Scientists (GPS.PT)
David Marçal
Globalizações, passado e presente
Tiago Cruz
49
II
Direito, Europa e Mundo
Direito do mar: internacionalização do direito
europeu ou europeização do direito internacional?
Ana Rita Babo Pinto
A União Europeia e a globalização – agente,
paradigma normativo e vítima
Graça Enes
85
III
Identidades e Desigualdades
Globalização, identidade e património
– contributos de uma perspectiva ilosóica
Maria José Figueiroa-Rêgo
Globalização das desigualdades
num mundo em movimento
Maria João Guia
Comunicação global e nichos culturais:
uma abordagem à estética das mensagens
Luís Lima
141
IV
Nómadas Globais: uma visão antropológica
da globalização
Globalização: Globalizações? Desglobalização?
Humberto Martins
Turistas backpacker: os antituristas
na era da híper-mobilidade
Márcio Martins
175
Notas Biográicas
Biographical Notes
182
A Agenda do Mateus DOC IX
The Mateus DOC IX Agenda
4
IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
MATEUS DOC
The Program
Mateus DOC is a program aimed at
researchers from all scientiic ields. The
program’s main objective is to stimulate
interdisciplinary dialogue among young
researchers from diferent ields and
to encourage them to discuss the most
pressing issues of our time in an academic
but informal way. Our goal is therefore
to train the participants to relect and
develop further innovative research
from a broader perspective, integrating
contributions from other ields and
methodologies. This approach will not
only enrich their scientiic work through
the combination of diverse methods and
the fusion of distinct contents, but it will
also pave the way for the establishment
of new cultural horizons, helping
young scientists to position themselves
culturally and socially.
The program Mateus DOC starts of with
a call for proposals. Candidates submit
a summary to the Institute explaining
how they will approach a given theme
— chosen annually by the Steering
Committee of the IICM. Each year a
Selection Committee will evaluate the
proposals and structure the debate on the
basis of the received contributions. The
selected proposals are then redistributed
to all participants who elaborate further
on their papers in order to incorporate
the other participant’s ideas into a
brief 5-page preliminary report, to
be submitted to the IICM. These are
redistributed again to everyone before
the seminar. Within 30 days after the
seminar the participants are asked to
hand in their inal articles, which must
take into account the debate held at
the Casa de Mateus. Both the articles
and a brief description of the overall
discussions are made available at the
Institute’s website.
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
5
O Programa
MATEUS DOC
O Mateus DOC é um programa dirigido a
investigadores de todas as áreas cientíicas.
O objectivo principal do programa consiste
em estimular o diálogo interdisciplinar
entre jovens investigadores de diferentes
áreas, confrontando-os com temas de
atualidade e interesse geral. Pretende-se,
desta forma, habituar os participantes
a encarar os seus temas de relexão e
investigação numa perspectiva alargada
que inclua sistematicamente pontos de
vista exteriores à área cientíica respectiva.
Esta abordagem não só enriquece
o trabalho cientíico através do
estabelecimento de novas associações
de método ou de conteúdo, como também
abre novos horizontes culturais, ajudando
a melhor posicionar, cultural e socialmente,
o percurso pessoal de cada um.
O programa MATEUS DOC começa com
um apelo à apresentação de propostas.
Os candidatos submetem ao IICM a sua
proposta de interpretação e formas de
abordagens de um tema anualmente
escolhido pela Comissão Diretiva do
IICM. Um Comité de Seleção estrutura o
seminário baseando-se nas contribuições
recebidas. As propostas selecionadas são
redistribuídas por todos os participantes
que se comprometem a desenvolver o
tema de acordo com sua proposta, tendo
em conta as contribuições dos restantes
participantes, sob a forma de um breve
artigo preliminar de 5 páginas a submeter
ao IICM. Os artigos são novamente
redistribuídos a todos antes do seminário.
No prazo de 30 dias após a realização
do seminário os doutorandos entregam
ao Instituto os artigos deinitivos tendo
em conta o debate realizado na Casa
de Mateus. Os artigos, acompanhados
de um resumo do seminário, são
publicados na página na internet
do Instituto.
6
IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
The meeting
at the Casa de Mateus
Between the 18th and the 20th of November 2015
the tenth edition of the Mateus DOC program
took place at the Casa de Mateus, focusing
on the theme “Globalization”. After carefully
reviewing all the submitted proposals, the best
working papers were selected, and Mateus DOC
convened a multi-faceted group of scholars,
scientists and researchers from the most varied
academic backgrounds and currently at the
doctoral or postdoctoral stages of their careers.
Four female researchers and ive male
researchers took part in this edition. Various
disciplinary ields were represented in the
meeting, even if approaches from the points
of view of law and philosophy predominated.
Here is the list of participants, coming from
research centres in Lisboa (2), Porto (3),
Coimbra (1) and Vila Real (3):
Ana Rita Pinto (Law), David Marçal
(Chemistry), Graça Enes (Law), Humberto
Martins (Sociology), Luís Lima (Philosophy),
Márcio Martins (Geography), Maria João
Guia (Law), Maria José Figueiroa-Rego
(Philosophy) e Tiago Cruz (Architecture).
This group of scholars participated in all
the debates revolving around the theme
“Globalization”, delving into its various
dimensions and adopting various approaches
to this concept from an interdisciplinary
viewpoint.
The meeting was also attended by members
of the Selecting Committee and special guests,
namely Álvaro de Vasconcelos, António Feijó,
António Fontainhas, Eduardo Marçal Grilo,
João Vale de Almeida, Rui Tavares, Miguel
Poiares Maduro, Ramón Villares e Sérgio Arzeni.
The members of the board of the Casa de
Mateus International Institute, António Cunha,
Jorge Vasconcelos, Artur Cristóvão and Teresa
Albuquerque, were also present.
The discussions revolved around the
themes that were at the core of the selected
proposals, such as: Scientists, Architects and
Global Portugal, Law, Europe and the World,
Identities and Inequalities, Global Nomads:
an anthropological view of globalization.
During these three days, the discussions
took place in an informal atmosphere,
accompanied by walks around the
countryside and chats by the ireplace.
The debates were conducted mainly by the
scholars, with a discrete participation by the
special guests and directors of the Institute.
The articles gathered in this volume relect
the diversity of viewpoints and approaches
that were at the core of the debates in
Mateus. The diferent languages used during
the debates also relect this and we have
hence decided to remain faithful to such
spirit of intercultural, interdisciplinary and
intergenerational communion by publishing
the articles in either Spanish, Portuguese or
English. The contents of this publication can
also be accessed through IICM’s webpage at
www.iicm.pt.
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
7
O seminário
na Casa de Mateus
O seminário da décima edição do programa
Mateus DOC decorreu entre os dias 18 e
20 de Novembro 2015, em Mateus. Após
um processo de seleção em duas etapas
que se iniciou com um apelo à submissão
de propostas de artigos a apresentar, o
Mateus DOC reuniu em Mateus um grupo de
investigadores, doutorandos e pós-docs, de
diversas disciplinas e áreas do saber.
A agenda do seminário estruturouse em torno dos seguintes tópicos:
Cientistas, Arquitectos e Portugal Global,
Direito, Europa e Mundo, Identidades e
Desigualdades, Nómadas Globais: uma
visão antropológica da globalização, que
enquadraram as discussões entre diferentes
perspectivas de abordagem do tema geral
desta edição “Globalização”.
Nesta edição participaram 4 investigadoras
e 5 investigadores. As disciplinas abrangidas
eram razoavelmente diversas apesar de uma
predominância de investigadores em direito
e ilosoia. Os participantes provenientes
de centros de investigação de Lisboa (2), do
Porto (3), de Coimbra (1) e de Vila Real (3),
são:
Durante os três dias do evento, as discussões
tiveram lugar numa atmosfera informal
permitindo aos investigadores presentes
re-equacionar, defender e amadurecer as
suas teses como forma de preparação para a
redação do artigo inal.
Ana Rita Pinto (Direito), David Marçal
(Química), Graça Enes (Direito), Humberto
Martins (Sociologia), Luís Lima (Filosoia),
Márcio Martins (Geograia), Maria João
Guia (Direito), Maria José Figueiroa-Rego
(Filosoia) e Tiago Cruz (Arquitectura).
Durante o seminário estiveram presentes os
seguintes convidados: Álvaro de Vasconcelos,
António Feijó, António Fontainhas, Eduardo
Marçal Grilo, João Vale de Almeida, Rui
Tavares, Miguel Poiares Maduro, Ramón
Villares e Sérgio Arzeni. Os membros da
direcção do Instituto Internacional Casa de
Mateus, António Cunha, Jorge Vasconcelos,
Artur Cristóvão e Teresa Albuquerque,
também estiveram presentes.
Os artigos inais aqui coligidos reletem
a diversidade de pontos de vista e que
estiveram na base do debate em Mateus.
Os conteúdos desta publicação podem
igualmente ser consultados no site do IICM:
www.iicm.pt.
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
I
Cientistas, Arquitetos
e Portugal Global
David Marçal e Tiago Cruz
No painel de abertura o debate teve como ponto de partida
alguns dos protagonistas do fenómeno da globalização: cientistas e arquitetos. O mote foi lançado por David Marçal com a apresentação da proposta de criação de “Uma rede de investigadores
portugueses no estrangeiro”. Posteriormente Tiago Cruz trouxe
à discussão a importância de olhar o conhecimento global na
perspetiva histórica da arquitectura portuguesa, com o seu artigo
“Globalizações, passado e presente”.
No debate que se seguiu às apresentações foram abordadas
importantes questões relacionadas com o papel do cientista e do
investigador português. Procurou-se entender a importância da
sua incorporação em redes cientíicas internacionais e, também,
como podem ser criadas condições para futuro acolhimento
desses investigadores no país de origem. E, como estes, mesmo
estando fora, podem desempenhar um papel positivo na sociedade portuguesa. Nesse âmbito falou-se da igura do estrangeirado e da questão da discriminação positiva.
Em relação íntima com a circulação do conhecimento, foi introduzido o conceito de viagem. Associado, num primeiro momento, à diáspora portuguesa nos séculos XV e XVI, evidencia as
possibilidades analíticas que nos traz o contacto com “o outro”
e facilita também a perceção de uma herança, com possibilidade
de criação de valor assente na especiicidade e na diferenciação.
27
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
35
Globalizações,
Passado e Presente
Tiago Cruz
1. Introdução
A relexão que agora se apresenta é o resultado de uma articulação ponderada entre algumas considerações decorrentes de um
projeto de investigação e o fórum de discussão e debate de ideias
proporcionado pelo encontro de investigadores Mateus DOC X.
Tendo como ponto de partida o referido estudo, em desenvolvimento no âmbito de um programa de doutoramento em Estudos
do Património, especialização em História da Arte13, este conjunto
de ideias foi lançado ao debate e procurou, sempre que possível,
estabelecer pontos de contacto com as diferentes perspectivas
que foram emergindo das várias sessões do encontro.
A supracitada investigação tem como linha de pesquisa privilegiada a procura de uma especiicidade para a arquitetura nacional no
largo tempo do manuelino. De acordo com o nosso ponto de vista é
fundamental perceber, dentro do contexto geral das transformações
decorridas na arte europeia dos séculos XV e XVI, a organização de
uma dinâmica própria na condução de uma resposta original e autónoma14. Vários autores nacionais identiicaram, na História da Arquitetura Portuguesa, e existência de traços comuns, de permanência15.
O conceito de globalização assume um papel preponderante na
demonstração da nossa hipótese de trabalho. A sua deinição e
possível caracterização revela-se, tal como icou demonstrado
ao longo das várias sessões de trabalho destes encontros Mateus
DOC, tarefa difícil e, necessariamente, em atualização constante. Ao invocarmos este conceito não nos podemos esquecer dos
múltiplos signiicados que foi adquirindo ao longo dos tempos e
do modo como, através dele, poderemos obter diferentes perspetivas históricas e de revisão do passado.
13 A investigação é
orientada pela Prof.ª
Leonor Botelho, docente
no Departamento de
Ciências e Técnicas do
Património, na FLUP.
14 A este propósito
refira-se a noção de
constante introduzida
pelo arquiteto Fernando
Távora. «[Esta] referese a qualquer coisa de
fundamental que não
pode ser substituído
pelo acessório ou pelo
decorativo.» (TÁVORA,
1993: 17-19). Reforçando
a ideia de continuidade,
Eduardo Souto de
Moura diz-nos que «o
progresso na arte e na
ciência dependem desta
continuidade e firmeza,
as únicas coisas que
permitem a mudança»
(SOUTO DE MOURA,
2003: 92).
15Tem vindo a ser
demonstrado, com
trabalhos de natureza
teórico-prática, a
existência de elementos
específicos de uma
arquitetura dita
portuguesa. Alexandre
Alves Costa, nas suas
36
aulas de História da
Arquitetura Portuguesa,
identifica-os como
invariantes, isto é,
independentes de um
determinado período
histórico (COSTA,
2007). Este tema é
também tratado por
José Manuel Fernandes
em várias publicações
e artigos (FERNANDES,
1991 e 2006), e por
Walter Rossa (2006),
entre muitos outros
autores.
16 Esta perspetiva será
debatida com mais
detalhe no seguimento
desta apresentação. Não
esquecemos, contudo,
o ponto de vista de
alguns intervenientes
no debate em Mateus
que defenderam a
partida dos primeiros
hominídeos de
África como sendo a
primeira globalização.
Compreendemos
o enquadramento
e a pertinência da
observação.
IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
Partimos para esta discussão centrando-nos em alguns dos protagonistas do fenómeno da globalização: arquitetos, construtores, clientes e mecenas. Ou seja, de um modo geral, todos os
agentes envolvidos de forma direta no processo da arquitetura e
da construção. Fazendo a ponte com a arquitectura portuguesa
construída ao longo dos séculos, um dos objectivos desta relexão foi trazer à discussão a importância de a olharmos num cenário de conhecimento global e numa perspetiva histórica. É, pois,
essencial compreender de que forma o enquadramento nacional, europeu e mediterrânico, entre outros contextos possíveis
e relevantes, permitiu responder – em circunstância de intensa
circulação de formas e ideias – às inovações técnicas, estéticas e
formais.
A globalização, enquanto processo, potencia confrontos e debates ideológicos e conceptuais. A era dos Descobrimentos – com
as trocas intercontinentais e o advento de uma forma de conhecimento mundializado – terá sido a primeira globalização16. As
viagens dos Descobrimentos são um dos atos fundadores de uma
sociedade globalizada (SERRÃO, 2012: 8-9). Estão na origem de
trocas de experiências e no conhecimento de novas realidades,
que de outra forma não teriam sido tornadas acessíveis. Para
além disso, com o estabelecimento de comunidades portuguesas em diferentes latitudes, estas viagens funcionaram também
como um instrumento para a promoção da interculturalidade.
«Ao conferirem à marcha dos povos europeus uma dimensão
mundial, que marcaria o devir de toda a humanidade, os
Descobrimentos situaram Portugal e a restante Ibéria numa
posição privilegiada de diálogo intra e extra-europeu». (BAPTISTA
PEREIRA, 1996).
Seguindo este ponto de vista, a importância destas viagens revela-se numa dupla perspetiva. Por um lado, foram importantes
ocasiões para a exploração do território e para o alargamento do
conhecimento geográico. Por outro lado, numa visão etno-antropológica, foram momentos determinantes para a descoberta do
Outro.
Sabemos que este processo de conhecimento do mundo pelos
portugueses decorreu num período de tempo relativamente cur-
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
to, desde as primeiras conquistas no Norte de África, a partir de
1415, até aos primeiros contactos com o Japão, em 1541. Não obstante, os horizontes do espaço cultural português foram ampliados de forma excecional, em múltiplos sentidos e em diferentes
direções, extravasando as tradicionais fronteiras e limites do
espaço europeu. Para o nosso caso particular, interessam sobretudo as implicações na concepção e percepção do objecto artístico.
«Os problemas para os quais cada obra de arte é a solução
encontrada ou proposta são problemas tipicamente artísticos; mas
porque a arte é uma componente constitutiva do sistema cultural,
existe decerto uma relação entre os problemas artísticos e a problemática geral da época.» (ARGAN, 2008: 17).
Se é certo que a arte portuguesa dos séculos XV e XVI relete uma
nova visão do mundo desencadeada pelo processo dos Descobrimentos, estas inluências – com novas imagens e novos modelos
– não são simplesmente assimiladas, mas sim interpretadas de
uma maneira própria e particular, revestindo a arte produzida
neste período de um carácter particular, individualizado e facilmente reconhecível.
2. História da arte como «ponto de encontro fundamental»
«Sempre que a arte acontece, a saber, quando há um princípio,
produz-se na história um choque (Stoss), a história começa
ou recomeça de novo. História não quer dizer o desenrolar de
quaisquer factos no tempo, por mais importantes que sejam.
História é o despertar de um povo para a sua tarefa, como inserção
no que lhe está dado.» (HEIDEGGER, 2009: 62).
A perspetiva globalizante da História da Arte revela-se, quanto a
nós, como particularmente pertinente num debate desta natureza. Ao promover uma discussão interdisciplinar e uma análise integrada da obra de arte, esta disciplina traduz-se como um
«ponto de encontro fundamental» (SERRÃO, 2009: 1). Assiste-se
atualmente a uma renovação de metodologias e tecnologias da
perceção e a «novas consciências éticas na correlação de tarefas»
(SERRÃO, 2012: 7). Estas conquistas da globalização – revestidas
de uma visão amadurecida do património – promovem o auto-
37
38
IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
conhecimento dos patrimónios regionais e o reforço dos olhares
micro-artísticos (SERRÃO, 2012: 4).
Se é certo que podemos ler as obras de arte – neste caso especíico, as obras de arquitetura – como testemunhos de memória e
identidade (JORGE, 2013), é importante termos em mente a sua
condição de historicidade (OLIVEIRA, 2004: 18). Fernando Távora chama-nos a atenção para a forma como devemos olhar para
o passado: «a história vale na medida em que pode resolver os
problemas do presente e na medida em que se torna um auxiliar
e não uma obsessão» (TÁVORA, 1992: 103).
Do passado podemos retirar importantes lições. Uma visão histórica do processo de globalização permitir-nos-á estabelecer
importantes paralelismos com o mundo contemporâneo.
«Aí [no pretérito] descobrimos mecanismos com objetivos idênticos destinados à apreensão do mundo, à multiplicação do conhecimento em rede, para airmação de interesses pretensamente
superiores, fossem militares, económicos e mercantis, ou valores
religiosos» (SERRÃO, 2012: 9).
A leitura do passado e da história deverá ser encarada como facto
mental, conceptual e não como representação mimética da passagem do tempo. O exame desse fenómeno (bem estudado por Claude-Gilbert) permite-nos encontrar «em singular cotejo com a realidade
global do novo milénio, (…) idênticos pressupostos de acção entre a
realidade dos séculos XV-XVI e a do dealbar do XXI no uso e coniguração de uma dimensão estética» (SERRÃO, 2012: 9).
Este é um dos fundamentos que nos permite tomar este método
de conhecimento como imprescindível para estudar as invariantes de uma arquitetura portuguesa ou de uma matriz de construção nacional.
Outra das faculdades da História da Arte é a possibilidade de estabelecer novas leituras e novos pontos de ancoragem. «Aprendi de
há muito em autores como Giulio Cargo Argan (‘a cultura estruturalmente historicista pode renovar-se se souber reformular as
suas metodologias e tecnologias de perceção’)» (SERRÃO, 2012:
2-3). A transmissão de conhecimento, elemento chave nesta discussão, permite que os temas abordados se revelem pertinentes
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
para o debate contemporâneo. É-nos permitida a revisitação
estética constante, promovendo-se a própria renovação de conceitos, fundamentos e campos e limites de análise.
«A contribuição particular do historiador consiste na descoberta das
múltiplas formas do tempo. O objectivo do historiador, seja qual for
a sua especialização, é retratar o tempo.» (KUBLER, 1991: 26).
3. Globalização: Universal e Particular
A utilização do termo globalização de forma mais constante
tem início na década de 80 do século XX (intensiicando-se nos
anos 90), fruto do debate originado por profundas alterações
nas estruturas económica, política e social do mundo ocidental
(HOBSBAWN, 1995). A origem do termo é recente mas refere-se a
um fenómeno antigo (SOBRAL, 2004). Como foi já anteriormente
exposto, vários investigadores partilham a ideia de que as viagens efetuadas pelos navegadores portugueses entre os séculos
XV e XVI se constituem como a primeira globalização. Há, por
vezes, uma visão pessimista associada a este fenómeno. Várias
vozes se têm erguido em sua defesa, traduzindo novos pontos de
vista.
«O universalismo, do qual Portugal se orgulha de ter sido pioneiro,
não é confundível com a massiicação uniformizadora. Pelo contrário!
Pressupõe a unidade na riqueza da diversidade humana, que se
expressa em todas as formas de criação e vivência cultural: das
línguas à gastronomia, das artes à ilosoia.» (SAMPAIO, 2003: 19).
Em Portugal, tal como noutros países, a questão impõe-se em
duas diferentes perspetivas. Sendo essencial entender o nosso enquadramento na realidade da Europa e do Mediterrâneo,
impõe-se também perceber de que forma este enquadramento
lhe permitiu desenvolver uma resposta única e particular.
«O autoconhecimento dos patrimónios regionais, o reforço dos
olhares micro-artísticos, a redeinição de ‘vanguardas periféricas’,
a valorização generalizada das produções artísticas coloniais
e pós-coloniais e o alargamento das práticas pluridisciplinares
enriqueceram, reconheçamo-lo, o mundo das artes e os seus
propósitos.» (SERRÃO, 2012:1).
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IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
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Se, por um lado a abertura a modos alternativos de pensamento
e consciencialização relativamente à pluralidade e à diferença se
constituem como preciosos testemunhos de progresso e emancipação humana, há que salvaguardar, da mesma forma, «(…) o
direito elementar dos povos e comunidades à redescoberta e proteção das suas raízes e marcas identitárias próprias» (SAMPAIO,
2003: 19).
Os esforços deverão ser concentrados no sentido de conhecer,
promover e valorizar o panorama artístico das ditas periferias e
optar pela utilização de novos métodos e estratégias de conhecimento, pesquisa e investigação. Existem presentemente novos
e renovados desaios que passam pelo indeclinável alargamento do campo e da tipologia do objeto de análise, bem como pelo
recurso indispensável a novas lógicas de abordagem. Não quer
isto dizer que os métodos e perspetivas que pertencem ao âmago da disciplina, tal como se foi pensando e materializando nos
últimos cento e cinquenta anos, não permaneçam válidos e operativos (MACHADO, 2008). Trata-se, sim, de verter para a disciplina conquistas da globalização (SERRÃO, 2012: 3).
4. Portugal Global
«(…) o acto verdadeiramente grande da História Portuguesa (…) o
grande acto cosmopolita da História (…) [foi esse] longo, cauteloso,
cientíico período dos Descobrimentos.»
(Álvaro de Campos (1966), Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação)
O caráter de resiliência da nação portuguesa tem sido destacado pela História de Portugal como uma das características únicas
do país, e esteve presente durante o debate em Mateus. Desde
a sua fundação em 1143 (e ressalvando o período da anexação
espanhola), o país soube manter-se como Estado-Nação independente e com fronteiras praticamente inalteradas. Como protagonista global ou mesmo depois, declinando estrategicamente
para a periferia, revela uma grande habilidade e saber na gestão
de alianças geoestratégicas.
Esta introdução inicial pretende chamar a atenção para a necessidade de perceção de uma herança comum. Serão as ediicações
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
41
realizadas no nosso território, ao longo dos diferentes períodos
históricos, apenas importações de modelos ou, traduzem, em si
mesmas, uma perspetiva coerente e original? A interação de diferentes culturas e diferentes locais introduz uma matriz dinâmica
que se concretiza, na realidade nacional, em edifícios ricos de
simbolismo e de signiicado.
A prossecução deste objectivo pressupõe o já referido olhar crítico integrador e uma visão globalizante.
«Um ensaio sobre a deinição da identidade nacional a partir dos
traços intuíveis no plano artístico só pode ser desenvolvido no seio de
uma História da Arte global, aberta ao contributo da Iconologia e do
olhar semiótico, desse prazer de desvendar e saber ver, sem perder de
vista a realidade produtiva e os confrontos sociais ou de tendências
que coabitam, nem a perduração das formas e das dinâmicas estéticas
memoriais no ciclo do tempo» (SERRÃO, 2007: 47).
Uma das questões mais debatidas durante o encontro Mateus
DOC X foi a da identidade. Apesar da existência de diferentes
pontos de vista, estamos convictos de que «[a] individualidade
portuguesa não desaparece como o fumo e se nós a possuímos
nada perderemos em estudar a Arquitectura estrangeira, caso
contrário será inútil ter a pretensão de falar em Arquitectura Portuguesa.» (TÁVORA, 1947: 12).
Caracterizando a arquitetura produzida em Portugal na época
manuelina17, é importante referir que esta inaugura uma nova
forma de encarar o espaço. A sua unicidade e a funcionalidade
mostram um momento particular na arquitetura portuguesa. A
arquitectura produzida no largo tempo do manuelino desenvolve-se numa fase de transição, congregando elementos do gótico inal, bem como princípios do pensamento renascentista e
maneirista. Apesar da permanência dos modelos góticos, introduzem-se alterações na composição do espaço interior e na volumetria.
«D. Manuel, rei absoluto e resoluto, busca uma imagem artística
que fosse ‘ao modo de Portugal’, isto é, sintomaticamente diversa
da arte ad modum Yspaniae (isabelino, plateresco, hispano-lamengo), e que parecesse de facto moderna, isto é, capaz de
17 Consideramos, como
arco temporal, o período
decorrente entre 1490
e 1530.
IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
42
aglutinar a tradição goticista e mourisca com a nova e pretendida
expressão proselista do centro decisório.» (SERRÃO, 2001: 23).
Como síntese deste modo de construir, reforçamos a ideia de que
o manuelino se constitui como «(…) um projeto ao mesmo tempo
humano ou material, radicado na particular conjuntura nacional
e na vontade do rei, e divino ou espiritual, assente na esperança
escatológica e na jubilosa expectativa da Parusia.» (LEITE, 2005).
5. As Viagens
Em relação íntima com a circulação do conhecimento, pretendemos introduzir, neste ponto, o conceito de viagem (CRUZ, 2015).
Podemos associá-lo, num primeiro momento, à diáspora portuguesa nos séculos XV e XVI, mas também (como já foi referido)
como algo capaz de evidenciar as possibilidades analíticas que
nos traz o contacto com o Outro e, ao mesmo tempo, facilitar a
perceção de uma herança, com possibilidade de criação de valor
na especiicidade e no diferenciado.
Não obstante as diiculdades que poderiam acarretar as deslocações na Idade Média, as viagens neste período eram muito mais
frequentes do que aquilo que até há alguns anos se julgava. «Os
historiadores têm vindo a demonstrar como a sociedade do Ocidente medieval conheceu uma intensa circulação de homens e
de ideias». (LOPES, 2006). Comprovando a abertura e permeabilidade a novos conhecimentos e experiências, os caminhos da
Europa foram intensamente percorridos por mercadores, peregrinos, clérigos e reis. Com motivações de ordem comercial, religiosa ou no âmbito de missões político-diplomáticas, a viagem
era, por vezes, acompanhada por um complexo ritual iniciático e
a chegada ao destino como o cumprimento de um ato espiritual
de grande elevação. A evangelização e o negócio contribuíram
para que esta época fosse um período rico em intercâmbios e no
estabelecimento de relações mais ou menos duradouras e com
propósitos nem sempre lineares.
Serão as viagens dos Descobrimentos portugueses ponto de partida para uma realidade internacional globalizada, acompanhadas
por uma atitude relexiva em relação ao conhecimento ancorado
numa forte ligação ao seu contexto de origem? Esta é tanto mais
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
eicaz quanto maior for a capacidade de investigar sobre o sentido das coisas e as suas raízes. A historiograia da arte portuguesa
tem-nos revelado a importância da viagem como possibilidade
de cruzamento de inluências e como contributo para a formação
do gosto de mecenas e de autores.
A viagem implica a deslocação do próprio sujeito do conhecimento. Constitui-se como uma forma de aproximação a realidades
complexas e permite percecionar diferentes espaços e tempos.
Ao viajarmos podemos tomar novos pontos de vista e identiicar novas centralidades de discurso e de pensamento. «(…) La
localización de las periferias depende del punto de vista del
observador» (ZARAGOZA CATALÁN, 2003: 108). Citando Álvaro
Domingues, «[é] o grau de afastamento a um centro que clariica
a posição periférica (física, social, morfológica)» (DOMINGUES,
1994: 5).
As viagens foram importantes fontes de informação, permitindo
o confronto com diferentes visões do mundo e com novas arquiteturas. Elas tiveram o mérito de apresentar novidades sobre
povos longínquos e inacessíveis à generalidade das populações.
«Ora os relatos produzidos pelos viajantes dos séculos XVI e
XVII, missionários ou laicos, oferecem o interesse de, enquanto
um primeiro olhar ocidental sobre um conjunto de sociedades
– ameríndias, africanas, orientais ou polinésias -, poderem ser
consideradas precursões das construções etnológicas que seriam
elaboradas mais tarde sobre essas sociedades.» (PEREZ, 1992: 74).
Por outro lado, o estabelecimento de comunidades portuguesas
em diferentes latitudes foi, inicialmente, uma nítida consequência dos Descobrimentos, não sendo também de estranhar que
estes hajam contribuído para que tivesse sido em língua portuguesa que se fosse desenhando um género literário só séculos
depois entendido como tal noutros países e a que frequentemente se viria associar a historiograia.
6. Conclusão
«(…) Com o nível de intensidade com que conhecemos hoje, a globalização é um fenómeno relativamente recente. Todavia, teremos de
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IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
recuar até ao século XV para encontrarmos a origem deste processo. A campanha dos descobrimentos portugueses deu início a uma
nova era e impulsionou a globalização (…).» (SOBRAL, 2004).
Tal como evidenciamos em alguns pontos de vista presentes
nesta relexão, o historiador de arte constitui-se como uma espécie de «operário de memórias» (SERRÃO, 2001: 44), sendo a sua
intervenção essencial no processo de entendimento do passado
e de informação do presente e do futuro.
«Face a um quadro global que altera relações de domínio, esbate
paradigmas e dilui fronteiras, tanto a produção artística como a
própria fruição e consumo das artes e, também, o papel atuante
da História da Arte – disciplina inserida nesse vasto mundo em
mutação com as suas teorizações críticas, a sua capacidade de
interrogar sentidos e a sua metodologia de análise das obras
artísticas –, vêem o seu papel interventivo substancialmente
alterado nos seus pressupostos.» (SERRÃO, 2012: 1).
Por outro lado, uma maior consciencialização das questões identitárias permite-nos reconstituir um quadro operativo de salvaguarda
e de proteção de elementos essenciais e extremamente presentes
na caracterização de fatores identitários. Deseja-se que as novas
gerações de historiadores, críticos de arte e demais proissões diretamente envolvidas neste processo (e tendo em conta uma perspectiva mais vocacionada para a preservação do património) possam
«lidar melhor com a ruína envolvente porque aprendem nestas
lições, que se tornam de evidenciada utilidade para uma cartograia
de registo face à extensão brutal das perdas identitárias e para uma
adequada intervenção preventiva.» (SERRÃO, 2014: 34).
Um outro aspeto, que remete novamente para a História da Arte
como ponto de encontro fundamental, e que permite concluir
esta relexão, é a importância da organização da atividade cientíica, hoje, numa base transnacional. Atualmente é possível falar
de uma verdadeira comunidade cientíica internacional. Portugal
e os investigadores portugueses têm beneiciado de uma incorporação cada vez mais profícua nas redes cientíicas internacionais,
garantindo o processo de intermediação cultural e devolvendo
conhecimento sobre «pontos de vista» que o tempo desmemorizou (SERRÃO, 2007: 44).
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
“Conhecer o passado é uma tarefa tão surpreendente como
conhecer as estrelas.”
(George Kubler (1991), A Forma do Tempo)
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Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
Tiago Cruz
Tiago Cruz (Vila Nova de Gaia, 1985) é mestre arquiteto
pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
(2010). Fre-quenta atualmente o 3º Ciclo de estudos em Estudos
do Patrimó-nio, especialização em História da Arte, no
Departamento de Ciências e Técnicas do Património, na
Faculdade de Letras da mesma Universidade. Tem
presentemente como principal inte-resse de investigação a
arquitectura construída no “largo tempo do manuelino” em
Portugal.
Tiago Cruz (Vila Nova de Gaia, 1985) is a master architect for
the Porto School of Architecture (2010). He is currently
attending the PhD in Heritage Studies, specialization in Art
History in the Department of Heritage Studies at the Faculty of
Arts of the same University. His main current research interest
is the architecture built on “the large time of the manuelino” in
Portugal.
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IICM · Instituto Internacional Casa de Mateus
Mateus DOC X
Sexta, 27 Nov.
Globalização
Globalization
Agenda
17:30
Conferência de Abertura · Globalização
Auditório de Geociências da Universidade
de Trás-os-Montes e Alto Douro
João Vale de Almeida, Embaixador da União Europeia
Rui Tavares, Historiador
Miguel Poiares Maduro, Professor de Direito
Partida para o Antigo Lagar da Casa de Mateus
19:45
Boas vindas e apresentações
dos participantes no Seminário
António Cunha, Ramón Villares, Jorge Vasconcelos,
Artur Cristóvão, José Tavares e Teresa Albuquerque
e todos os participantes
Relato do seminário Mateus DOC 9 · Migração
José Luís Ferreira
Lançamento do caderno Mateus DOC 8 · Infinito
20:30
Jantar - debate
Participam os oradores, os conferencistas e
convidados: Sergio Arzeni, António Feijó, E
duardo Marçal Grilo, Álvaro Vasconcelos
Cadernos Mateus DOC IX · Globalização - Globalization
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Sábado, 28 Nov.
Domingo, 20 Set.
08:45 - 11:00
Pequeno almoço no Lagar da Casa de Mateus
09:00 - 11:00
Pequeno almoço no Lagar da Casa de Mateus
Cientistas, Arquitectos e Portugal Global
Nómadas Globais: uma visão antropológica
da globalização
GPS: Global Portuguese Scientists – Cientistas
Portugueses no Mundo
David Marçal
Globalizações, passado e presente
Tiago Cruz
12:00
Partida para a Quinta da Costa
13:00 - 15:15
Direito, Europa e Mundo
Direito do mar: internacionalização do direito
europeu ou europeização do direito internacional?
Ana Maria Pinto
A União Europeia e a Globalização – Agente,
Paradigma, Normativo e Vítima
Graça Enes
16:00
Regresso ao Lagar da Casa de Mateus
19:00 - 22:00
Identidades e Desigualdades
Globalização, Identidade e Património
Maria José Figueiroa-Rêgo
A Globalização das desigualdades
num mundo em movimento
Maria João Guia
Comunicação Global e Nichos Culturais:
uma abordagem à estética das mensagens
Luís Lima
Globalização: Globalizações? Desglobalização?
Etnografias da subjectividade na era dos grandes
números e categorias classificatórias
Humberto Martins
Turistas backpacker: os anti-turistas
na era da híper-mobilidade
Márcio Martins
13:00
Almoço na Copa da Casa de Mateus,
conclusões e despedidas
Programa Mateus DOC
Programa Principal / Main Sponsor
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