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Como citar este artigo na norma APA:
Acciari, A. S. (2024). Ética na prática da psicologia transpessoal in N. R. Veriguine, R. Pereira & F. A. P
Fialho (Orgs), Perspectivas em psicologia transpessoal (pp. 27-45). Editora Arquétipos.
doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-42-5.002. Disponível em
https://editoraarquetipos.com.br/produto/perspectivas-em-psicologia-transpessoal/
Ética na Prática da Psicologia Transpessoal
doi.org/10.54715/arque.978-65-84549-42-5.002
Arlete Silva Acciari1
RESUMO
A ética é um fator essencial na atividade profissional, especialmente, na área da saúde e do
desenvolvimento humano, contexto no qual se insere a Psicologia Transpessoal. O objetivo
deste artigo é apresentar os parâmetros da ética para a conduta do profissional que atua com
a Psicologia Transpessoal. Trata-se de um estudo qualitativo de caráter exploratório com
pesquisa bibliográfica e documental, que se mostrou profícua por propiciar a identificação de
material pertinente e classificá-lo por meio da análise qualitativa, de forma a produzir conteúdo
relevante sobre valores, com diretrizes norteadores da conduta ética na prática transpessoal.
Os resultados evidenciaram seis categorias de valores orientadores da ética na prática
transpessoal: afetividade, conhecimento, humanismo, racionalidade, relacionamento e
transcendência. Enquanto que nos parâmetros de conduta ética foram identificadas
atribuições que estabelecem normas quanto aos deveres e impedimentos (veto) na prática
profissional, esclarecimento e orientação para a atuação ética do profissional e três categorias
profissionais (terapeuta clínico, educacional e ambiental), com a recomendação de dez
orientações que sintetizam os parâmetros de conduta no estudo e prática profissional para
promover o desenvolvimento do ser integral, favorecer a emergência de valores do
supraconsciente e uma ética genuinamente humana, atemporal, não dogmática e
espiritualizada.
p. 28
Palavras-chave: Ética. Código de Ética. Valores. Psicologia Transpessoal. Ética Profissional.
1. INTRODUÇÃO
A questão da ética permeia a história da humanidade e torna-se tema central nas
relações profissionais, especialmente entre as disciplinas relacionadas à saúde e ao
desenvolvimento humano, como é o caso da Psicologia. Não se trata de estabelecer o que é
certo ou errado, bom ou mau, mas sim, de encontrar pontos de convergência que orientem as
práticas para o bem comum (Boff, 2014).
A ética profissional resgata e atualiza o sentido e a razão de ser das profissões, produz
relações humanizadas e proporciona à sociedade bens e serviços que contribuem para a
conquista de uma vida digna e plena. O trabalho profissional e ético vai além do cumprimento
de regras, normas, obrigações ou proibições, uma vez que se define por uma ação baseada em
1
Psicóloga (USF), Doutora e Mestra em Ciências (FCM-UNICAMP) e Especialista em Psicologia Transpessoal
(ALUBRAT). Criadora do ASA-Instituto de Psicologia Transpessoal. Atua com a abordagem transpessoal no âmbito
da clínica, educação e pesquisa. E-mail:
[email protected].
p. 29
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valores que dão sentido ao exercício da profissão e a sua representatividade diante das pessoas
e da sociedade (Rosales, 2007).
A Psicologia Transpessoal (PT) é também conhecida como a Psicologia da Consciência,
por se dedicar a compreender a consciência e seus múltiplos estados no processo de
desenvolvimento humano, visando a transcendência do ego e a conexão com o “verdadeiro
EU” ou Self, advinda dos processos de expansão da consciência que favorecem o contato com
o supraconsciente e valores universais como a ética.
Trouxe ampliações na visão antropológica de homem, buscando compreendê-lo em sua
multidimensionalidade, que inclui o nível físico, emocional, mental, social, cultural, espiritual e
cósmico, ampliando a compreensão sobre o ser humano, o relacionamento consigo, com o
outro e com o ambiente, sua ação no mundo, e também, as práticas de cuidado e bem-estar.
Integrou, em seus fundamentos, saberes da Psicologia do Ocidente e do Oriente e seus
paradigmas se assentam no campo da transdisciplinaridade.
Todos estes elementos lhe conferem uma proposta inovadora e atual em Psicologia,
contudo, é uma abordagem que apresenta um campo não hegemônico, no que concerne aos
aspectos teóricos e práticos, apresentando uma diversidade de abordagens em seu ensino e
aplicação. Além disso, por ser uma disciplina que atualmente se situa no campo da
especialização, congrega profissionais graduados em Psicologia e também em outras áreas, p. 30
tornando relevante um parâmetro ético comum aos profissionais da PT, independentemente
de sua graduação. Dessa forma, o objetivo deste artigo é apresentar os parâmetros da ética
para a conduta do profissional que atua com a PT.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Pierre Weil, pioneiro da PT no Brasil, foi também, um dos psicólogos que participaram
do processo de regulamentação da Psicologia no Brasil. Este autor, apresentou
questionamentos ao modelo de ética moralista e normatizante, esclarecendo que em nome da
paz se cultiva a raiva e nos preparamos para a guerra; em nome da tolerância agimos com
intolerância contra os intolerantes; em nome da igualdade, os orgulhosos são combatidos e
isto, podemos chamar de orgulho; em nome do amor, aqueles que se mostram frios e
insensíveis são criticados, e com isso, se mostra a ampla falta de sensibilidade e de
compreensão, e isto, é falta de amor (Weil, 1993).
Não há dúvida, de que está em curso uma grave crise mundial de valores, provocando
um obscurecimento ético (Boff, 2014). Para Weil (1993), este modelo de ética moralista e
normatizante é falho por ser racional e dogmático, visto que nega os valores essenciais,
profundos e universais. Este autor propõe um modelo que se denominou de ética espontânea,
fundamentada no supramental, região psíquica, na qual a sabedoria e o amor complementam
a razão e a liberdade de escolha, favorecendo a ação responsável, comprometida, cooperativa
e generosa. Possibilitando assim, a emergência dos valores universais, a transcendência da
fragmentação e da atitude egoísta e narcísica. Contudo, estabelece dez condições parâmetros
norteadores para uma escala de valores (Weil, 1993. p. 65):
I. Ser suficientemente simples para que todo mundo possa compreendê-lo;
II. Ser prático e de aplicação à vida cotidiana familiar e profissional;
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III. Ser universal, isto é, ter aplicações claras e evidentes nas diversas áreas da cultura e
atividade humana, mais particularmente na educação e saúde;
IV. Permitir a qualquer pessoa se situar quanto aos seus próprios valores, dando uma visão
clara do que lhe falta para ir adiante;
V. Levar em consideração a evolução do ser humano, partindo de sua vida instintiva ou
pulsional até a transcendência;
p. 31
VI. Levar em conta a energia e a sua transformação no homem; isto é, considerar o homem
um transformador de formas densas da energia para formas mais refinadas;
VII. Permitir a distinção de etapas, fases claras da evolução;
VIII. Em cada fase, distinguir os valores construtivos e destrutivos;
IX. Considerar o conflito e a contradição interna ou externa como um fator de despertar da
consciência;
X. E, enfim, é essencial expressar a realidade de uma ética natural, espontânea, sensível a
uma educação para o despertar, em cada um, o verdadeiro sentido da nossa existência.
E também, propõe um modelo de compreensão da ação ética baseado em valores com
o referencial dos sete principais centros energéticos (chakras) descritos na cultura hindu, iogue,
estudo da teosofia e consciensiologia. Neste aspecto, cada centro representa um estado de
consciência com um conjunto próprio de valores.
1. Segurança: refere-se ao princípio de preservação, está ligado ao sistema ou instinto de defesa
do indivíduo identificado com as necessidades do seu corpo físico, como a proteção contra as
intempéries, alimentação, locomoção e defesa contra agressão. Medo e raiva são emoções
destrutivas. A dualidade principal é a questão do ataque-defesa. Enquanto que a força vital,
confiança e capacidade de concretude são os aspectos positivos. Predomínio do impulso,
instinto e sensações;
2. Sensualidade: está ligado ao princípio de preservação da espécie, reprodução e sexo. É o
centro da sensualidade, do prazer sexual e do hedonismo. A dualidade principal é o prazer-dor.
Também é tido como o centro da vida e da conexão com o outro para existir. Predomínio do
instinto, sensações, desejos e fantasias;
3. Poder: depois da preservação do indivíduo em si e da espécie, vem a preservação e a
manutenção da sociedade e da vida social. Este é o centro do poder pessoal e a dualidade
principal é a ascendência-submissão. Pois, a vida social, para poder se manter, exige certa
ordem, hierarquia e disciplina. E para tanto, entra em cena a questão do poder nas relações
interpessoais e intrapessoais. Como me sinto diante de mim e diante do outro? Em virtude
disso, este centro também está fortemente relacionado às emoções e às relações. Predomínio
do ego, das emoções e da razão.
4. Amor: quando o indivíduo se equilibra nos três primeiros centros a sua consciência ascende
ao nível do altruísmo. Nesse contexto, o amor é querer bem e contribuir para a felicidade de
todos. É uma porta que se abre para a conexão com o ser que somos. A dualidade neste centro
é no eixo altruísmo-egoísmo. Predomínio do sentimento e da conexão com o Self;
5. Inspiração: uma vez aberto o coração para o mundo, as pessoas recebem inspirações com
mais frequência. É o centro da expressão do ser e de sua criatividade. Está relacionado a
p. 32
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comunicação e a capacidade de escuta. A dualidade está no eixo criação-autoanulação.
Predomínio da imaginação e intuição.
6. Conhecimento: o conhecimento está intimamente ligado ao valor da verdade. Existem várias
formas de procurar a verdade: uma é sensorial, racional e intelectual; a outra é por meio do
sentimento, da emoção e da intuição; a terceira, a sabedoria que une e harmoniza as duas
primeiras, depois de ter despertado a consciência ou, o conhecimento do conhecimento. A
dualidade está no eixo do certo-errado. Predomínio da percepção e intuição, quando em
desequilíbrio, o julgamento;
7. Transpessoal: os seis sistemas precedentes constituem a pessoa humana que ainda se
percebe como separada do universo, cosmo, natureza, espaço primordial, Deus ou o todo. No
estado de supraconsciência ou transpessoal, esta separação se dissolve; conhecedor,
conhecimento e conhecido se integram. Experiência de união, integração e espiritualidade. A
dualidade está no eixo conexão-separatividade. Predomínio da intuição e experiência de
integração e unidade.
Segundo Weil (1993) o valor de cada centro energético determina um certo estado de
consciência, que por sua vez, influencia o comportamento 35 e os parâmetros éticos de uma
pessoa. Para Maslow (1982) e Assagioli (2013) é fundamental, que de forma espontânea ou por
escolha consciente, a pessoa tenha acesso às experiências culminantes e ao supraconsciente,
pois assim, estará propensa a expressar valores superiores como a verdade, bondade, beleza,
plenitude, vitalidade, unicidade, perfeição, necessidade, culminância, justiça, ordem,
simplicidade, riqueza, facilidade, diversão, autossuficiência. Conferindo assim, o potencial
necessário para expressar a ética espontânea, pois o acesso aos estados superiores de
consciência favorece a conexão com os valores elevados de cada centro energético proposto
por Weil (1993).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de um trabalho qualitativo de caráter exploratório. Segundo Minayo (2001),
por meio da abordagem qualitativa é possível buscar respostas que não podem ser
quantificadas, mas é possível compreender significados, motivos, aspirações, crenças, valores
e atitudes.
Visando atingir o objetivo proposto, optou-se por uma revisão da literatura associada a
uma pesquisa documental sobre o tema da ética em PT, publicados em livros, artigos e
documentos divulgados de forma impressa ou em bases de dados online. Segundo Gil (2002),
a finalidade da pesquisa bibliográfica é colocar o pesquisador em contato com o que já foi
produzido sobre o tema pesquisado e publicado, principalmente, em livros e artigos científicos.
Por outro lado, a pesquisa documental é semelhante à pesquisa bibliográfica, porém, o que as
diferencia é a natureza das fontes, sendo que neste caso, o material não recebeu tratamento
analítico, apresenta fonte rica e estável de dados e estes podem ser reelaborados de acordo
com os objetivos da pesquisa.
A pesquisa bibliográfica e documental foi realizada sem delimitação de data nas
seguintes bases de dados online PubMed, PsycINFO e Google Schoolar, a partir dos seguintes
descritores: ética e psicologia transpessoal, ética na abordagem transpessoal e ética
transpessoal; valores e psicologia transpessoal, valores na abordagem transpessoal, valores e
p. 33
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transpessoal. Além da pesquisa em livros da biblioteca pessoal, por material correlato ao tema
da ética na PT.
O critério de inclusão dos textos e documentos foi a relevância da ética na prática da PT p. 34
e a congruência de pressupostos e paradigmas da PT no campo científico. Dessa forma, foram
identificados cinco documentos e três foram selecionados e analisados por indicarem diretrizes
éticas para a prática transpessoal: Código de Ética de Psicologia e Coaching Transpessoal,
Código Ética da Escola de Desenvolvimento Transpessoal e as orientações do Colégio
Internacional dos Terapeutas.
Para a análise dos resultados foi utilizado o método de análise de conteúdo segundo
Bardin (1977), por permitir a exploração qualitativa do material e possibilitar divulgação clara
e objetiva dos resultados na forma de categorias.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. PSICOLOGIA TRANSPESSOAL, ÉTICA E VALORES
A PT foi oficializada nos Estados Unidos em 1968 por um grupo de psicólogos,
psiquiatras e pesquisadores. Entre eles destacam-se: Abraham Harold Maslow, (psicólogo e, na
época, presidente da Associação Americana de Psicologia), Antony Sutich (psicólogo), Victor
Frankl (psiquiatra), Stanislav Grof (psiquiatra) e James Fadiman (bacharel em artes, mestre e
doutor em Psicologia). Destaca-se por ser uma abordagem em Psicologia que atualizou a visão
antropológica de homem, bem como, as perspectivas de cuidado e desenvolvimento humano
por considerar a vida psíquica sistêmica e multifatorial, influenciada por fatores bioquímicos,
psíquicos (mental-emocional), sociais, culturais e espirituais. Integra em sua fundamentação
teórica e métodos de aplicação, conhecimentos da psicologia do ocidente e do oriente
(Saldanha, 2006 e 2008; Acciari 2014; Saldanha & Acciari, 2019).
A PT se insere no contexto do paradigma transdisciplinar, que segundo Nicolescu (1999)
é uma abordagem que tece considerações mais significativas na elaboração do conhecimento
por não se opor ao holismo nem ao reducionismo, mas por considerá-los aspectos do
conhecimento integrado em um mundo multifatorial, multidimensional e multidiferencial, ou
ainda, o mundo da pluralidade complexa e da unidade aberta.
Ao buscar os fundamentos éticos da prática transpessoal, os dados da literatura
informam que no Brasil, a atuação psicológica antecedeu à regulamentação da profissão do
psicólogo, que se deu em 27 de agosto de 1962, por meio da Lei nº 4119 e o Código de Ética
profissional do Psicólogo foi aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia em 20 de dezembro
de 1971, pela Lei nº 5.766. No período anterior a esta data, os serviços de Psicologia eram
compartilhados entre profissionais da Medicina, Serviço Social, Pedagogia, Filosofia e
profissionais de outros campos disciplinares, com conhecimento psicológico advindo da
especialização ou experiência advinda do exercício profissional (CFP, 2005; Bezerra, 2019). Ou
seja, ocorria de forma transdisciplinar, como ocorre no campo de atuação da PT desde meados
de 1970 (Nicolescu, 1999; Saldanha & Oliveira, 2012).
Rosales (2007) esclarece que no âmbito da ética profissional, o significado dos valores
profissionais e os ideais com os quais os profissionais se identificam, aderem livre e
voluntariamente, visando orientar a prática profissional para a realização do bem comum.
Nesse sentido, foram selecionados quatro trabalhos que dialogam com esta proposta e
apresentam um grupo de valores que podem orientar a prática profissional na PT (Tabela 1)
p. 35
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Tabela 1 - Valores orientadores da prática na PT
Fonte
Valores
Antônio (2010)
Interconectividade, empatia e cuidado.
Lindsay (2009)
Respeito, competência, responsabilidade e integridade (Meta-código de Ética da Federação
Europeia de Associações de Psicólogos).
Maslow (1982)
Verdade, bondade, beleza, plenitude, vitalidade, unicidade, perfeição, necessidade,
culminância, justiça, ordem, simplicidade, riqueza, facilidade, diversão, autossuficiência.
Weil (1993)
1º centro-segurança (vitalidade, confiança e concretude positiva vida), 2º centrosensualidade (conexão com a via e com o outro para existir); 3º centro-poder
(relacionamento intrapessoal e interpessoal, ordem, hierarquia e disciplina); 4º centro-amor
(altruísmo e conexão com o self); 5º centro-inspiração (criatividade, comunicação e escuta);
6º centro-conhecimento (verdade e sabedoria); 7º centro-transpessoal (união, integração e
espiritualidade).
Fonte: elaborado pela autora (2024)
Para contextualizá-los no âmbito da prática profissional na PT foram classificados em p. 36
categorias, segundo o método de análise de conteúdo de Bardin (1977), considerando o seu
fim na prática transpessoal e não a etimologia ou significado das palavras (Tabela 2). Assim,
obtivemos seis categorias dos valores fundamentais para orientar a prática profissional na PT.
Tabela 2 - Categorias dos valores orientadores da prática na PT
Categoria
Valores
Afetividade
Bondade, confiança, vitalidade.
Conhecimento
Competência, concretude positiva para a vida, facilidade, necessidade, sabedoria.
Humanismo
Altruísmo, integridade, justiça, respeito, responsabilidade.
Racionalidade
Disciplina, hierarquia, ordem, simplicidade, verdade.
Relacionamento
Comunicação, cuidado, empatia, escuta, integração, relacionamento interpessoal e
intrapessoal, união.
Transcendência
Autossuficiência, beleza, conexão com a vida, com o outro para existir e com o Self,
criatividade, culminância, diversão, espiritualidade, interconectividade, perfeição,
plenitude, riqueza, unicidade.
Fonte: elaborado pela autora (2024)
Compreende-se que para a excelência da ética na atuação do profissional em PT é
fundamental que o mesmo faça investimento no desenvolvimento pessoal e profissional para
conduzir a sua prática a partir de um relacionamento afetivo com o seu cliente, dentro da
racionalidade profissional, fundamentando a sua ação em conhecimentos que possibilitem a
ação humanitária e em uma perspectiva transcendente. Para tanto, é necessária a formação
de qualidade, atualização constante, manter-se em psicoterapia e supervisão de um
profissional qualificado na PT. Estes princípios estão contemplados, mesmo que de forma
indireta, nos trabalhos de Maslow (sd, 1982 e 1994), Assagioli (2013), Saldanha (2008 e 2006),
Acciari (2014) e Acciari & Saldanha (2019).
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Estes valores e princípios, são preconizados em documentos importantes e
orientadores da ética universal, que dialogam com os princípios e objetivos da prática
transpessoal. Entre estes, destacam-se: Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU,
1948), Carta da Transdiciplinaridade (UNESCO, 1994) e a Declaração de Veneza (UNESCO,
1996).
p. 37
Dado o aspecto transdisciplinar da PT, considerando que a formação dos profissionais
se dá no âmbito da pós-graduação e que o conhecimento psicológico advém no nível da
especialização, recomenda-se que a disciplina de ética faça parte da grade curricular em todos
os cursos e que estes documentos sejam disponibilizados e estudados.
4.2. CÓDIGO DE ÉTICA EM PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
Na perspectiva de identificar um Código de Ética orientativo das práticas transpessoais,
foram identificadas três iniciativas atuais na direção da organização de parâmetros éticos no
âmbito da prática transpessoal e suas diretrizes foram classificadas, destacando as orientações
de conduta em cada documento.
4.2.1. CÓDIGO DE ÉTICA DE PSICOLOGIA E COACHING TRANSPESSOAL
Organizado pelo psicólogo Luiz Eduardo Valiengo Berni, com o objetivo de orientar os
profissionais do Campo Transpessoal, foram estabelecidos padrões de conduta profissional e
de ética nos serviços prestados pelos mencionados profissionais. Visando assim, garantir aos
usuários serviços de excelência quanto a competência e conduta profissional ética para o bemestar dos indivíduos e da sociedade. Berni (2019) estabelece cinco parâmetros para nortear a
conduta ética do profissional em PT:
I. Deveres: conhecer e cumprir este código de ética, manter-se atualizado e prestar serviço
de qualidade a partir dos fundamentos teóricos e recursos práticos da PT da
Transdiciplinaridade, das Técnicas Integrativas e Práticas Tradicionais somente com a devida
mediação de cunho teórico e prático da PT. Respeitar a diversidade das abordagens na PT,
compreender que ambos estão inseridos num contexto multiprofissional laico e que visam
o autoconhecimento e a autonomia de escolha. Sustentar o trabalho sob a égide do respeito
à dignidade e da escuta ativa, garantindo o protagonismo e autonomia da pessoa em sua
individualidade. Garantir o sigilo, a confiabilidade e os registros dos atendimentos
devidamente organizados. Discernir os casos que extrapolem o seu escopo profissional e
que devem ser encaminhados para outros profissionais e serviços;
II. É vetado ao profissional: utilizar única e exclusivamente de saberes tradicionais, práticas
religiosas ou exotéricas para caracterizar atendimento profissional em PT. Desenvolver
trabalho com cunho ideológico ou incutir crenças de qualquer natureza. Prolongar
desnecessariamente, o seu trabalho ou induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a
sua prestação de serviços;
III. Realização de estudos e pesquisas na produção de conhecimento: deve pautar-se pelos
padrões éticos deste Código de Ética e aquele de sua graduação e seguir procedimentos e
normas elevadas da academia;
p. 38
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IV. Relacionamento com outros profissionais: manter relação cordial e respeitosa. Partilhar
informações sobre seus atendimentos apenas em contexto acadêmico e de supervisão, sob
a égide do sigilo;
V. Valores e publicidade: é vedado publicidade sensacionalista, previsão taxativa de
resultados e utilizar valores como forma de atrair clientes.
4.2.2. CÓDIGO ÉTICO DA ESCOLA DE DESENVOLVIMENTO TRANSPESSOAL
Trata-se de um Código de Ética organizado por um campus virtual de cursos livres em
Portugal (http://escolatranspessoal.com/codigo-etico), visando orientar e estabelecer
parâmetros para a atuação dos profissionais formados por esta escola. Tal código contempla
cinco parâmetros norteadores éticos para o profissional da PT:
I. O Campo de atividade do terapeuta, consultor ou educador transpessoal: exerce atividade
de assessoria, desenvolvimento pessoal e autoconhecimento, o que não equivale ao
tratamento ou diagnóstico psicológico, psiquiátrico ou médico, âmbito da saúde clínica,
salvo quando este tiver formação em psicologia ou medicina. Cabe ao profissional discernir
quando a questão do cliente não se enquadrar em seu escopo de atuação, informá-lo e
encaminha-lo ao especialista correspondente. Especialmente, em casos de transtorno
psicopatológicos (transtornos psicóticos e de personalidade, esquizofrenia, bipolaridade,
p. 39
síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo, depressão, etc), transtornos
alimentares, do déficit de atenção, do espectro autista, entre outros;
II. Exercício de autorresponsabilidade: implica em firme e constante processo de atualização
e desenvolvimento profissional, cabe a estes responsabilizarem-se pelos aspectos legais do
seu próprio exercício profissional e reconhecer, quando a situação profissional ultrapasse as
suas competências;
III. Gerar espaço seguro e de confidencialidade: oferecer espaço físico e relacional seguro, de
sigilo e de confidencialidade, sem estabelecer relacionamento pessoal durante o processo
de acompanhamento e assessoria;
IV. Atitude respeitosa e inclusiva: adotar postura empática numa perspectiva transcultural e
isenta de julgamentos, guiando-se pelo propósito de favorecer a ampliação da consciência
para propiciar autoconhecimento e crescimento nas pessoas que requeiram os seus
serviços;
V. Dignificar o próprio trabalho: estabelecer contrato de trabalho esclarecendo a natureza e
finalidade do serviço prestado, local, dia, horário e valores para o mesmo no início do
processo. Ser transparente e não garantir resultados.
4.2.3. ORIENTAÇÕES DO COLÉGIO INTERNACIONAL DOS TERAPEUTAS
O Colégio Internacional dos Terapeutas (CIT), foi concebido na França em 22 de julho
de 1990 por Jean-Yves Leloup e no Brasil, faz parte da rede da Universidade da Paz (UNIPAZ)
desde 08 de setembro de 1992. É uma “escola de sabedoria” que congrega profissionais com
formação em PT e estabelece três categorias profissionais: terapeuta clínico, educacional e
ambiental. Além disso, preconiza a fidelidade à prática de dez orientações que sintetizam os
parâmetros de conduta no estudo e prática profissional em PT (CIT, 2008):
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I. Antropologia: reconhecer, respeitar e cuidar do ser humano na sua tríplice condição
existencial, físico, psíquico e espiritual, visando o cuidado integral do indivíduo;
p. 40
II. Ética: cuidar do Ser em si mesmo e no outro com respeito à inteireza, jamais reduzindo o
ser humano a um rótulo, também cuidando, nele, daquilo que não é doente, a partir do qual
uma dinâmica de cura é ativada;
III. Silêncio: prática diária meditativa do silêncio, visando a centralidade e abertura à
transcendência;
IV. Estudo: prática diária do estudo dos textos contemporâneos e os da sabedoria perene,
visando uma permanente atualização;
V. Gratuidade: prática diária da gratuidade, para o exercício da solidariedade, do serviço
desapegado ao outro, à sociedade, ao universo;
VI. Reciclagem: anualmente, dedicar um tempo-espaço de recolhimento para uma revisão,
reflexiva e meditativa, do processo de individuação. Recomendação: uma semana para
retiro de silêncio;
VII. Reconhecimento: necessidade de ser acompanhado por uma escuta terapêutica, zelando
pelo processo individual, evitando o risco da inflação egóica do julgar-se pronto, estancando
o processo contínuo de aprendizagem e aperfeiçoamento;
VIII. Anamnese Essencial: registros sistemáticos das vivências, no estado de vigília e no
onírico, que evidenciam a presença numinosa do Ser, na existência cotidiana;
IX. Evocação da Presença: lembrar o que realmente somos, o Ser que nos funda e informa,
através da respiração, da invocação, ou da atenção plena ao instante;
X. Fraternidade: encontros para a sinergia, estudo partilhado ou comunhão meditativa. Os
terapeutas partilham voluntariamente o seu tempo e estado de silêncio.
Estes três documentos foram selecionados pela complementariedade entre si e as suas
atribuições foram classificadas em três categorias, compreendendo que cada uma delas atende
a finalidades distintas e que visam a conduta ética do profissional na PT (Tabela 3).
Tabela 3 - Categorias de parâmetros para a conduta ética na PT
Documentos
Atribuições
Código de Ética de
Psicologia e Coaching
Transpessoal
Estabelece um conjunto de normas quanto aso deveres e impedimentos (veto) na
prática profissional, na realização de estudos, produção de conhecimento,
relacionamento com outros profissionais e sobre os valores cobrados pelos sérvios
e sua publicidade.
Código Ético da Escola
de Desenvolvimento
Transpessoal
Esclarece, orienta e estabelece parâmetros para a atuação ética do profissional
quanto ao campo de atividade, autorresponsabilidade, postura, relacionamento,
confidencialidade e autoavaliação.
Orientações do Colégio
Internacional dos
Terapeutas
Apresenta três categorias profissionais: terapeuta clínico, educacional e ambientar;
norteia a prática de dez orientações que sintetizam os parâmetros de conduta no
estudo e prática transpessoal.
Fonte: elaborado pela autora (2024)
As atribuições destes três documentos oferecem subsídios suficientes ao profissional,
que atua com a PT, para que este, possa se pautar, a fim de consagrar uma postura ética em
p. 41
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suas práticas, independentemente de sua graduação ou campo de atuação, o que não exclui a
obrigatoriedade do cumprimento das normas de condutas prescritas no Código de Ética de sua
profissão, advinda do campo da graduação. Observa-se também, que estes três documentos
oferecem contribuições significativas para atender aos princípios da ética profissional (Rosales,
2007), da ética espontânea (Weil, 1993), da ética psicológica (CFP, 2005), do paradigma
transdisciplinar (Nicolescu, 1999) e dos valores edificantes do ser (Maslow, 1982; Weil, 1993;
Lindsay, 2009; Antônio, 2010).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora a PT seja uma disciplina, atualmente, inserida no campo da especialização, sua
atuação tem se mostrado pujante nas últimas décadas no campo da aplicação clínica,
educacional e organizacional, por trazer atualizações e ampliações importantes no campo da
Psicologia, especialmente, por redimensionar a visão antropológica de homem ao considerar a
sua multidimensionalidade, incluindo a dimensão da espiritualidade na compreensão dos
processos humanos, na relação consigo mesmo, com os outros e com o ambiente, assim como,
nas práticas de cuidado, contemplando uma abordagem sistêmica e integrativa.
Além disso, destaca-se a relevância da dimensão transdisciplinar na PT, pois ao integrar
saberes de diversas disciplinas e entregar saberes para profissionais de áreas distintas,
consagra em seus pressupostos teóricos e arcabouço de práticas um caráter não hegemônico.
Assim, torna-se necessário referenciais consistentes para orientar a conduta ética dos
profissionais, visando garantir a excelência dos serviços prestados
Buscando colaborar com este campo e suprir esta demanda, o objetivo deste trabalho
foi apresentar parâmetros da ética para a conduta do profissional que atua com a PT. A revisão
da literatura mostrou-se profícua por propiciar a identificação de material pertinente e
classificá-lo por meio da análise qualitativa, de forma a produzir conteúdo relevante sobre
valores, e, diretrizes norteadores da conduta ética na prática transpessoal.
Entre os valores orientadores da ética na prática transpessoal foram identificadas
categorias que contemplam seis aspectos: afetividade (bondade, confiança e vitalidade),
conhecimento (competência, concretude positiva para a vida, facilidade, necessidade e
sabedoria), humanismo (altruísmo, integridade, justiça, respeito e responsabilidade),
racionalidade (disciplina, hierarquia, ordem, simplicidade e verdade), relacionamento
(comunicação, cuidado, empatia, escuta, integração, relacionamento interpessoal, e
intrapessoal e união) e transcendência (autossuficiência, beleza, conexão com a vida, com o
outro para existir e com o Self, criatividade, culminância, diversão, espiritualidade,
interconectividade e perfeição).
Enquanto que nos parâmetros de conduta ética foram identificadas atribuições que
estabelecem normas quanto aos deveres e impedimentos (veto) na prática profissional, na
realização de estudos, produção de conhecimento, relacionamento com outros profissionais e
sobre os honorários e publicidade; esclarece, orienta e estabelece parâmetros para a atuação
ética do profissional quanto ao campo de atividade, autorresponsabilidade, postura,
relacionamento, confidencialidade e autovalorização, apresentando três categorias
profissionais (terapeuta clínico, educacional e ambiental) e a recomendação da prática de dez
orientações que sintetizam os parâmetros de conduta no estudo e prática profissional. Pois, a
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ética na abordagem transpessoal é essencial no processo de desenvolvimento das habilidades p. 43
e competências necessárias ao crescimento profissional.
Este artigo mostra a relevância, para o profissional que pretende se especializar e atuar
no campo da PT, buscar uma instituição que lhe proporcione boa qualificação e que lhe
apresente os parâmetros da ética para a conduta profissional. Neste sentido, é fundamental o
investimento em uma formação consistente e efetiva, que verdadeiramente capacite, não
apenas no nível da teoria e da técnica, mas que promova o desenvolvimento do ser integral
para emergir os valores do supraconsciente e uma ética genuinamente humana, espontânea,
atemporal, não dogmática e espiritualizada.
As limitações deste estudo se concentram no fato de apresentar as informações já
publicadas em trabalhos anteriores e não ser fruto de um debate amplo e democrático. Creio
ser este, um caminho possível para a PT no futuro. Contudo, permitiu apresentar parâmetros
substanciais e suficientes para orientar a conduta ética do profissional que atua com a PT, para
que este, possa prestar serviços de excelência teórica e prática, a partir da aplicação dos
parâmetros da abordagem transpessoal, com respeito à dignidade humana em benefício do
desenvolvimento saudável de pessoas e da sociedade.
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