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Um renascimento para o cristianismo

2018, RJHR

Embora Cristo possa nascer mil vezes em Belém, Mas não dentro de ti, tua alma será esquecida; A cruz do Gólgota terá sido em vão erguida A menos que a erga dentro de ti também. Ângelo Silésio (1624-1677).

Recebido em: 04/05/2018 Aceito em: 30/05/2018 RESENHA: KUHN, Alvin Boyd. Um renascimento para o cristianismo. Tradução de Rodrigo Alva. Rio de Janeiro: Nova Era, 2006. Matheus dos Reis Gomes Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF http://lattes.cnpq.br/2596415377539460 Embora Cristo possa nascer mil vezes em Belém, Mas não dentro de ti, tua alma será esquecida; A cruz do Gólgota terá sido em vão erguida A menos que a erga dentro de ti também. Ângelo Silésio (1624-1677). “De muitas regiões do campo religioso, ecoa hoje o apelo de uma nova era na interpretação da Bíblia” (KUHN, 2006, p.15). As palavras citadas acima por Alvin Boyd Kuhn, doutor em religião comparada, contextualizou-as a uma das propostas pouco pesquisadas academicamente: a hermenêutica bíblica em conjunto a crítica feita pela historiografia. A obra de Kuhn trata-se do esforço de um dos maiores nomes da pesquisa sobre a veracidade bíblica e histórica de Jesus Cristo. Ainda existem lacunas que precisam ser preenchidas por pesquisas sobre a veracidade histórica de Jesus, mas a proposta do autor foi ampliar algumas questões do sincretismo, e a partir de então, reformular a leitura do evangelho a partir destas interpretações. A pergunta que vem à tona surge diante da dúvida se Jesus continua ainda sendo apenas um homem ou se Jesus foi a personificação do Deus de Israel em figura humana, que segundo os relatos bíblicos, ressuscitou ao terceiro dia e trouxe a humanidade um novo sentido de vida. Tal nuance torna-o, no mínimo, passível de questionamentos e posições intrigantes sobre a sua veracidade, tanto do lado teológico do fato, que com isso o cristianismo se ocupou boa parte de sua história, quanto do lado histórico em si, que só no final do século XIX surge. Em virtude a relação histórica, sine qua non, em toda a sua obra, foi RJHR XI: 20 (2018) – Matheus dos Reis Gomes muito sintetizada nos longos vinte e um capítulos. Mediante a tal implicação, podemos fazer a grande pergunta que corresponde um dos capítulos do livro de Kuhn: “Jesus, homem ou mito? ”. Sabemos que as pesquisas no campo arqueológico, principalmente a partir do século XIX, estão desmistificando o mito de que “um certo galileu” não tenha existido de fato. O autor nos trouxe uma nova hermenêutica bíblica, como também uma excelente exegese distinguida a partir das recentes descobertas dos manuscritos do mar morto entre as décadas de 1940 e 1950. Kuhn buscou abarcar todas as dimensões entre as sagradas escrituras e o processo histórico da concepção do cânon bíblico. No primeiro capítulo do presente volume, “Reacendendo uma Lâmpada Antiga”, o autor traz o questionamento sobre uma nova exegese bíblica, criticando a constituição do cânon judaico-cristão, postulando uma análise sobre historicidade bíblica no corpus das sagradas escrituras. O conhecimento baseado nas instruções sobre a veracidade do mito na antiguidade, o autor afirma que essas novas interpretações de uma exegese bíblica podem “ecoar hoje” uma nova inclinação para uma tendência do pensamento histórico-crítico da “gênesis” do cristianismo. Para tal método, o autor cita o descobrindo dos pergaminhos do mar morto deixados pelos essênios, e lançará a mão sobre eles; mas também, trará à tona, com maestria, um arcabouço histórico desde Filo de Alexandria – século I – com método alegórico para a exegese bíblica, até os descobrimentos do final do século XIX. Posteriormente, no capítulo “A descendência instável do Egito”, as influências de uma herança egípcia na “suposta” construção do mito “Cristo Jesus”, caem por terra pelo desmembramento que cristianismo tomou a partir do nascimento de Jesus, ao presente fato que, na formulação de uma teologia extremamente complexa e gradual ao longo da história do cristianismo, a evidenciação e as provas de cristianismo a partir das cartas paulinas, se tornam a questão central na resolução do seu livro. Diante de tais “evidências” no mito do Cristo, Kuhn apelará também para religião judaica para servir de apoio a sua concepção sobre construção etimológica e filológica sobre a origem da palavra “Israel”, e que, supostamente na sua interpretação, tudo passaria de uma história bem constituída, mas apenas uma história sem veracidade. Logo, a divisão da palavra ficará da seguinte forma: “IS”, seria uma abreviação da divindade egípcia Ísis. “RA” viria – segundo ele – do rei do sol Rá; por fim, “EL” decorria do hebraico, que tem por seu significado singular a tradução de “DEUS”. Desta forma, “ISRAEL” é essa conjuntura da descendência da influência egípcia sob a interpretação das 4 RJHR XI: 20 (2018) – Matheus dos Reis Gomes palavras “mãe”, divindade “Is”, divindade Ra que foi a atribuída a “pai” e El, Deus em hebraico, ou seja, “mãe-pai-Deus” abarcaria a palavra Israel. Obviamente o autor não parte do pressuposto que Israel fosse uma nação ou tribo, e muito menos se refere a pessoa de Jacó. Nos capítulos seguintes, a crítica é sob as pregações de Paulo aos Gregos. No título “A ruptura entre Judeus e Gregos”, o autor trabalha o viés das pregações de Paulo descritos nas sagradas escrituras, e deterá boa parte da sua argumentação sobre a propagação do cristianismo primitivo. Além disso, o autor abordará a fundamentação da filosofia helênica juntamente com conceito messiânico judaico em comparação com o conceito messiânico cristão, partindo das premissas que há grandes diferenciações entre tais conceitos e possíveis “novas” interpretações. Destarte, virá “Uma nova orientação, não uma nova revelação”. “O propósito desta obra é auxiliar nesse processo de reavaliação, apontando a tocha da verdade que fora quase totalmente extinta, mas que deu ao cristianismo seu nascimento e sua genialidade” (KUHN, 2006, p.47-48). Portanto, neste capítulo, Alvin trará sobre a análise antropológica da religião, comprando-as com outras perspectivas filosóficas e até teológicas e, por fim, trabalha com conceituação da palavra religião e os seus “conceitos”. Além disso, nos capítulos seguintes, o autor não fugirá sobre a perspectiva psicológica frente à religião. A psicologia da religião será abordada em segundo plano, mas haverá menções e definições sobre até onde psicologia é alcançada com todo processo histórico da conceituação de Deus e as influências para a criação “suposta” de Deus por “mãos humanas” e vice-versa. Podemos dizer que o capítulo “Jesus: Homem ou mito?”, é um dos capítulos centrais dos vinte e um longos capítulos da obra de Kuhn. O autor trabalha com maestria a suposta visão do judaísmo – como um todo – frente à Jesus, a figura do Cristo esperado pelos judeus, a qual os evangelhos afirmam ser o verbo encarnado. Mas ao trabalhar a questão do messiânica nas duas perspectivas, a crucifixão, a “derrota” humana de Jesus de Nazaré, não sustenta, de nenhuma forma, o messias esperado, ou melhor, ainda esperado pelos judeus. Desta forma, “[...] a razão pela qual os judeus se recusaram a aceitar Jesus é precisamente a sua derrota” (KUHN, 2006, p.127). Assim, em função dos outros supostos “messias” que surgiram em âmbito judaico, como se comprovaria a veracidade messiânica de Deus crucificado, “morto” pela sua criação, “enquanto que a fé que viveu na esperança de ver seu rei nesse trono suportar a angústia de perseguição impiedosa e derrota por dois mil anos” (KUHN, 2006, p.127). Logo, o problema da 5 RJHR XI: 20 (2018) – Matheus dos Reis Gomes teodiceia vem à tona, mas não só ela, mas a significação do sofrimento que a partir do cristianismo tomou um outro contexto, justamente pelo fato do próprio Deus ter chorado, sofrido e humilhado. Por fim, a perspectiva de Alvin é bastante clara no decorrer do seu livro, justamente ao partir do pressuposto que o nascimento do cristianismo passou por inúmeras influências de outras seitas e mitologias ao longo da história. Mas a crítica sobre o seu livro é bastante relevante, pois a teoria sincrética do autor apresenta questões que a maioria das afirmações sobre a historicidade de Jesus como uma lenda caiu por terra, principalmente quando no final do século XIX as pesquisas acadêmicas focaram justamente para a pesquisa sobre o Galileu. A presente obra é recomendada para áreas de ciências humanas, principalmente para os departamentos de história, teologia, ciência da religião, filosofia e afins. Entender que, independente da crença na veracidade sobre a história de Jesus é imprescindível dizer que pode passar séculos e mais séculos, que ainda haverá o brilho nos olhos dos pesquisadores ao falar de Jesus, para muitos um homem qualquer nascido em Belém, para outros, o próprio Cristo, o filho do Deus vivo. 6