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Gestualidade Em Perspectiva Dialógica

2020, PERcursos Linguísticos

RESUMO: O presente artigo objetiva refletir acerca dos principais apontamentos teóricos sobre gestualidade desenvolvidos por Volóchinov em dois de seus textos da primeira metade do século XX: A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926) e Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930). Como aporte teórico, utilizamos os pressupostos teórico-metodológicos do Círculo de Bakhtin, especialmente as considerações de Valentin Volóchinov. Utilizamos a metodologia da pesquisa bibliográfica, uma vez que nos apoiamos nos referidos ensaios já publicados para sistematizar ideias teóricas e desenvolver reflexões acerca da temática da gestualidade. Salientamos que, no decurso das nossas reflexões, fizemos uso de algumas charges que nos auxiliaram no processo de construção da argumentação. Os resultados revelaram que, ao construir os ensaios, Volóchinov aborda, mesmo que brevemente, questões sobre a gestualidade. Em A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica, verificamos que a gestualidade está diretamente ligada à noção de extraverbal, bem como ao caráter compartilhado e subentendido das avaliações de um dado grupo social e à personificação do terceiro participante. Já em Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado, observamos que a gestualidade se relaciona à noção de réplica (resposta) e à ideia de orientação social do enunciado.

PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • GESTUALIDADE EM PERSPECTIVA DIALÓGICA: APONTAMENTOS NOS TEXTOS VOLOCHINOVIANOS DE 1926 E 1930 Michel Pratini Bernardo da Silva 1 Pedro Farias Francelino2 RESUMO: O presente artigo objetiva refletir acerca dos principais apontamentos teóricos sobre gestualidade desenvolvidos por Volóchinov em dois de seus textos da primeira metade do século XX: A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926) e Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930). Como aporte teórico, utilizamos os pressupostos teórico-metodológicos do Círculo de Bakhtin, especialmente as considerações de Valentin Volóchinov. Utilizamos a metodologia da pesquisa bibliográfica, uma vez que nos apoiamos nos referidos ensaios já publicados para sistematizar ideias teóricas e desenvolver reflexões acerca da temática da gestualidade. Salientamos que, no decurso das nossas reflexões, fizemos uso de algumas charges que nos auxiliaram no processo de construção da argumentação. Os resultados revelaram que, ao construir os ensaios, Volóchinov aborda, mesmo que brevemente, questões sobre a gestualidade. Em A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica, verificamos que a gestualidade está diretamente ligada à noção de extraverbal, bem como ao caráter compartilhado e subentendido das avaliações de um dado grupo social e à personificação do terceiro participante. Já em Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado, observamos que a gestualidade se relaciona à noção de réplica (resposta) e à ideia de orientação social do enunciado. PALAVRAS-CHAVE: Gestualidade. Volóchinov. Ensaios de 1926 e 1930. Enunciado. ABSTRACT: The present paper aimed to reflect about the main theoretical notes around gesture developed by Volóchinov in two of his texts of the first half of the twentieth century: Discourse in Life and Discourse in Art: for a sociological poetics (1926) and The stylistic of the literary discourse II: construction of the utterance (1930). As theoretical contribution, we used the theoretical and methodology assumptions of Bakhtin Circle, specially the considerations of Valentin Volóchinov. We highlighted that the investigation of our research was bibliography, once we support each other in essays already published to summarize the ideas and to develop reflections concerning of them. We emphasize that, in the course of our reflections, we were used some cartoons that help us in the process of the construction of our argument. The results revealed that, in constructing the essays, Volóchinov points out, even though briefly, the questions about gesture. In Discourse in Life and Discourse in Art: To the sociological poetic, we verify that the gesture is linked to the notion of extraverbal, as well as 1 Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba (PROLING/UFPB), João Pessoa, Paraíba, Brasil. Endereço Eletrônico: [email protected] 2 Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba (PROLING/UFPB), João Pessoa, Paraíba, Brasil. Endereço Eletrônico: [email protected] 20 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • in the shared and implied character of the evaluations of a specific social group, and the personification of the third participant. While, In The stylistic of the literary discourse II: construction of the utterance, we observed that the gesture is relate to the notion of reply (response) and the idea of social orientation of utterance. KEYWORDS: Gesture. Volóchinov. Essays of 1926 e 1930. Utterance. Na interação discursiva, elementos verbais e não verbais são, indispensavelmente, produtores de sentidos. Um olhar, uma expressão do rosto e/ou um movimento do corpo podem significar bastante em um determinado contexto enunciativo. Nesse sentido, neste artigo, compreendemos os gestos (estáticos ou não), isoladamente ou em conjunto com elementos verbais, como enunciados concretos, unidades reais da comunicação discursiva. Em virtude disso, objetivamos refletir acerca dos principais apontamentos teóricos sobre gestualidade desenvolvidos por Volóchinov em dois de seus textos produzidos na primeira metade do século XX: A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926) e Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930)3. A escolha desses ensaios se justifica na medida em que são escritos do autor utilizados com grande frequência entre pesquisadores da comunidade acadêmica nacional e internacional da área de estudos da linguagem, pois neles estão muitos dos conceitos basilares de uma teoria dialógica do discurso. Além disso, são dois manuscritos em que se apresenta, de forma clara e deliberada, uma discussão sobre a temática da gestualidade, embora carente de maiores aprofundamentos. Desse modo, em nosso estudo, buscamos sistematizar e promover uma reflexão sobre os principais apontamentos teóricos, presentes nesses ensaios, que nos revelam a natureza dialógica dos enunciados concretos que, parcial ou integralmente, manifestam-se em gestos. Como pressupostos teóricos, utilizamos o pensamento linguístico-filosófico do Círculo de Bakhtin (especialmente os textos de Volóchinov), bem como os estudos discursivos de autores que se pautam nessa perspectiva de investigação da linguagem. O presente estudo é, inicialmente, de cunho bibliográfico e, por conseguinte, analítico, uma vez que se apoia em textos publicados para sistematizar ideias e desenvolver reflexões a seu respeito. O corpus analítico é composto por dois ensaios de Volóchinov, os quais foram publicados, respectivamente, em 1926 e 1930. Ressaltamos ainda que, no decurso de nossas incursões, utilizamos enunciados verbo-visuais, como charges, a fim de elucidar o fenômeno 3 A edição em análise foi traduzida por Sheila Grilo e Ekaterina VólKova Américo, em 2019, pela Editora 34. 21 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • investigado. Tecidas essas considerações preliminares, procedamos à exposição da nossa investigação. Apontamentos volochinovianos sobre gestualidade Neste estudo, consideramos os ensaios apresentados como posições socioaxiológicas de um determinado sujeito sobre um objeto do discurso. Em outros termos, A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica e Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado se constituem enunciados concretos, unidades reais da comunicação discursiva acadêmica da conjuntura sócio-histórica em que seu autor viveu. Em razão disso, compreendemos que, para a investigação de qualquer enunciado vivo e concreto, é indispensável recuperarmos o contexto extraverbal que o engendrou, procedimento que buscaremos realizar neste momento. Os manuscritos em tela são de autoria de Valentin Nikoláievitvh Volóchinov, filósofo, músico, linguista e crítico literário ligado ao Círculo de Bakhtin. Nascido em 18 de junho de 1895, em São Petersburgo, o autor ingressou no Instituto de História Comparada das Literaturas e Línguas do Ocidente e do Oriente (ILIAZV), renomado centro universitário de Língua e Literatura russas, em março de 1925. Na instituição, Volóchinov desenvolveu, entre os anos de 1925 e 1932, as atividades de doutorando, pesquisador, docente e técnico-administrativo (cargos de chefia). Segundo Grillo e Américo (2019), é comum, nos trabalhos do autor, a presença explícita de pensadores marxistas soviéticos, uma vez que o marxismo tornou-se, na época, uma orientação hegemônica na área das ciências humanas, uma abordagem teórico-metodológica oficial e obrigatória para o ingresso em instituições de pesquisa soviéticas. Entre os textos que escreveu quando esteve na ILIAZV, estão A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926) e Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930). No primeiro, o qual organizou em sete seções, buscou destacar a importância de uma abordagem sociológica para os estudos poético-literários, enquanto, no segundo, visou discutir a estilística do discurso literário em perspectiva sociológica. De acordo com Grillo e Américo (2019), ao investigarem seis relatórios desenvolvidos por Volóchinov durante o processo de doutoramento do pesquisador na ILIAZV, A palavra na vida e a palavra na poesia é fruto de um resumo expandido de um livro que nunca chegou 22 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • a ser publicado por ele. A obra, que, inicialmente, recebeu o nome Ensaio de poética sociológica, passou a se chamar, no decorrer dos relatórios, Introdução à poética sociológica. Ainda conforme as autoras, publicar artigos para, em seguida, transformá-los em um livro era um modo de trabalho recorrente de Volóchinov. Sobre Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado, ressaltamos que o texto, publicado em 1930 (um ano após a defesa de doutoramento de Volóchinov), faz parte de uma série de quatro ensaios sobre a estilística do discurso literário. Segundo Grillo e Américo (2019), embora tenha prometido quatro ensaios (O que a linguagem/língua?; A construção do enunciado; A palavra e sua função social; Gênero e estilo do enunciado literário), o autor publicou apenas três textos, uma vez que o último estaria, à ocasião, em processo de elaboração. Conforme as pesquisadoras, o quarto título nunca foi encontrado entre os manuscritos do estudioso. Gestualidade em A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926) Em Palavra na vida e palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926), Volóchinov elabora, inicialmente, uma crítica aos teóricos que aplicam o método sociológico na investigação, exclusivamente, de questões históricas nos estudos literários. Para o autor, a literatura é um fenômeno social e carece de uma abordagem sociológica. Em seu raciocínio, dois pontos de vistas podem ser considerados errôneos: o primeiro é a fetichização da obra de arte como coisa, visão que considera apenas os aspectos materiais da obra de arte e a combinação de suas propriedades; o segundo ponto de vista é aquele que se limita ao estudo do psiquismo do criador ou do contemplador. Segundo Volóchinov ([1926] 2019), os dois pontos de vistas falham por buscarem encontrar o todo na parte, ou seja, isolam a estrutura da parte e a apresentam como o todo. Entretanto, para ele, o artístico não está apenas no objeto ou no psiquismo do criador ou do contemplador, está na interação entre os três elementos. Apresentada essa problemática, Volóchinov expõe o objetivo do texto: “Compreender a forma do enunciado poético enquanto forma dessa comunicação estética específica, realizada no material da palavra” (VOLÓCHINOV, [1926] 2019, p. 117). Para isso, analisa o discurso do cotidiano comum, pois nele estariam as sementes da futura forma literária, para, em seguida, investigar a forma do enunciado literário. 23 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • Após esse contexto teórico-metodológico, Volóchinov inicia suas considerações, afirmando que a palavra, em uma dimensão imanente, não é autossuficiente, uma vez que ela surge de uma situação extraverbal. Somente em contato com vida, com a situação extraverbal que a engendrou, que ela se torna um todo concreto. Para Volóchinov, “a palavra entra em contato direto com o acontecimento cotidiano, fundindo-se com ele em uma unidade indivisível” (VOLÓCHINOV, [1926] 2019, p.118), isto é, em uma unidade inseparável. O autor traz, em seu texto, a ilustração de uma situação vivenciada por duas pessoas em um contexto de contemplação da neve que caía no ambiente em que ambos se encontravam. Ele se utiliza desse exemplo para desenvolver a noção de contexto extraverbal, afirmando que este (...) é composto por três aspectos: 1) O horizonte espacial comum dos falantes (a unidade do visível: o quarto, a janela etc.); 2) o conhecimento e compreensão da situação comum aos dois; e finalmente 3) a avaliação comum dessa situação (...). É sobre tudo isso que o enunciado se apoia diretamente – o “visto por ambos” (flocos de neve vistos pela janela), o “conhecido por ambos” (o mês de maio) e o “avaliado em concordância” (o inverno que já cansou, a primavera desejada) –, tudo isso está incluído no seu sentido vivo e é absorvido por ele, permanecendo, no entanto, sem marcação e expressão verbal. (VOLÓCHINOV, [1926] 2019, p.118-119) (Destaques do autor). Os apontamentos apresentados nos possibilitam uma reflexão sobre a questão da gestualidade, especialmente ao analisarmos atentamente os três elementos que constituem o aspecto extraverbal do enunciado. Faremos isso, a partir deste momento, retomando dois enunciados publicados no período da campanha eleitoral para presidência do Brasil, em 2018. Os gestos, materializados nas charges selecionadas, refletem/refratam os posicionamentos axiológicos dos sujeitos partícipes do pleito eleitoral da época. Observemos: Imagem 1 – Charge Bolsonaro Disponível em: http://www.ivancabral.com/ 2019/11/charge-patria-amada.html Imagem 2 - Charge Lula Disponível em: http://www.brasil247.com/charges/aroeirarock-in-lula 24 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • O primeiro aspecto que faz parte da situação extraverbal do enunciado é o horizonte espacial comum dos falantes. Em outras palavras, é aquilo que é conjuntamente visto pelos sujeitos que compõem a situação de comunicação. Os gestos, por sua vez, fazem parte desse aspecto. Na imagem 1, por exemplo, observamos o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro com suas mãos direcionadas para cima, representando uma arma de fogo, aspecto que ganhou grande proporção durante as eleições de 2018. Esse gesto vem acompanhado de um sorriso largo do candidato, sugerindo sentimento de satisfação e de regozijo por corresponder às expectativas do segmento que o apoia politicamente. A gesticulação tornouse reconhecida, em todo o país, como uma marca ideológica dos militantes e apoiadores do candidato. De semelhante modo, na imagem 2, observamos uma gesticulação realizada por Luís Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil e ícone do Partido do Trabalhadores (PT), que, na ocasião, tinha como candidato à Presidência da República o professor e advogado Fernando Haddad. O gesto, que representa a letra “L” de “Lula”, tornou-se um escudo de luta dos militantes e apoiadores de Fernando Haddad e do PT. Não podemos deixar de ressaltar que apenas um movimento de rotação, para cima ou para baixo, diferenciava os gestos adotados por ambos os candidatos, todos saturados de sentidos. O segundo aspecto da situação extraverbal é o conhecimento e a compreensão da situação comum aos sujeitos, isto é, aquilo que é conjuntamente sabido pelos participantes da situação de comunicação: o conhecimento compartilhado. Nas imagens 1 e 2, os gestos apenas veiculam o sentido que têm, em virtude de: reconhecermos, inicialmente, a forma e o movimento das mãos (arma de fogo e letra do alfabeto), bem como que o “L” de Lula remonta a outros momentos históricos do país, de pleitos eleitorais anteriores, quando esse signo já era muito utilizado; sabermos que o enunciado se materializou na campanha eleitoral de 2018; conhecermos os perfis dos partidos e dos candidatos envolvidos no processo; sabermos os discursos de cada um em relação às propostas de governo para o país etc. Por fim, o terceiro aspecto que compõe a situação extraverbal do enunciado é avaliação comum dessa situação. Nesse momento, entram em jogo os julgamentos de valores, a avaliação dos sujeitos em relação aos gestos discursivos dos candidatos. Em um dos enunciados apresentados acima, é veiculado, de forma consistente, o discurso do armamentismo, temática que gerou posicionamentos divergentes em 2018. Dessa forma, 25 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • quem adotasse, pelas ruas e lugares do país, o gesto da arma na mão, era, por conseguinte, a favor do porte e da posse legal de armas. Por outro lado, quem aderisse ao “L” de “Lula”, era, consequentemente, contra o porte e posse legal de armas e a favor de outras pautas de uma agenda política mais progressista. Outro conceito discutido por Volóchinov em Palavra na vida e palavra na poesia é a entonação, a partir do qual ele desenvolverá breves reflexões sobre gestualidade. Segundo o autor, ela “sempre está no limite entre o verbal e o extraverbal, entre o dito e não dito” (VOLÓCHINOV, [1926] 2019, p.123) e dois aspectos são essenciais para determinar, à palavra, um tom de aprovação, reprovação, indignação, humor, alegria etc., sobre os quais, sucintamente, falaremos a seguir. O primeiro diz respeito ao fato de que a entonação só é possível por causa do caráter compartilhado e subentendido das avaliações de um dado grupo social. Ela tem por base um “apoio coral”, o qual corresponde ao compartilhamento de uma mesma avaliação por um grupo de sujeitos. Caso isso não aconteça, a entonação pode enfraquecer ou cessar. O segundo aspecto que determina a tonalidade discursiva do enunciado é o terceiro participante ou objeto do discurso, o qual, explica Volóchinov, tem tendência à personificação, pois é visto como se fosse um objeto vivo, passível de indignação, de ironia etc. Essa humanização do objeto é chamada de metáfora entonacional. De semelhante modo, ocorre com a metáfora gestual, fenômeno que envolve, especificamente, a gestualidade. Para autor, (...) entendemos o gesto de modo amplo, o que inclui a expressão facial, tomada como a gesticulação do rosto. Assim, como a entonação, o gesto precisa de apoio coral das pessoas que estão em torno: apenas no ambiente da cumplicidade social é possível um gesto livre e seguro. Por outro lado, o gesto, assim como a entonação, abre a situação e introduz o terceiro participante, o protagonista. No gesto sempre dorme o embrião do ataque ou defesa, da ameaça ou do carinho, sendo que ao observador ouvinte é reservado o lugar de cumplicidade ou testemunha (VOLÓCHINOV, [1926] 2019, p. 126-127). Conforme observamos, a gestualidade também leva em consideração o caráter compartilhado e subentendido das avaliações de um dado grupo social e o terceiro participante ou objeto do discurso. Assim, ao visualizarmos as imagens 1 e 2 apresentadas anteriormente, reconhecemos, graças ao compartilhamento social desses aspectos, os gestos da arma e da letra “L”, bem como as avaliações que cada grupo faz deles. Esse princípio 26 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • volochinoviano funciona para todos os gestos, inclusive os mais simples do cotidiano, a exemplo da palavra “tchau”. É muito pertinente destacar, na citação acima, a afirmação de Volóchinov segundo a qual o gesto demanda um apoio coral e, um pouco mais que isso, a postura da cumplicidade. Nesse sentido, observamos que os gestos materializados nas charges, dos dois sujeitos retratados, não se limitam a um tempo, o das eleições de 2018. Como já afirmamos anteriormente, no caso do ex-presidente Lula, o gesto do “L” precede a esse momento, tendo já aparecido, e de forma muito mais intensa, em disputas eleitorais das quais ele já participou. Essa reiteração, em 2018, apenas consolida a adesão – o apoio coral, portanto – de sua militância. O mesmo se pode dizer do candidato – e hoje presidente – Jair Bolsonaro. No caso dele, que é mais recente, o uso do signo ideológico gestual da mão em forma de arma continua até os dias de hoje, praticamente há quase dois anos das eleições, e essa reiteração, inclusive, adquire outros matizes entonacionais, outros sentidos, pois a crise política que se instaurou recentemente tem levado o presidente a repetir esse gesto, agora não apenas no contexto de uma promessa de campanha – a do armamento – mas no contexto de uma reafirmação dos compromissos assumidos como forma de manutenção no poder. Não podemos deixar de evidenciar que, para Volóchivov ([1926] 2019), os gestos também constituem uma resposta, conceito 4 recorrente nos textos do Círculo de Bakhtin. Para o autor, eles não se constituem elementos emocionais ou passivos do falante; pelo contrário, “Ao entonar e gesticular, o homem ocupa uma posição social ativa em relação a determinados valores, condicionada pelos próprios fundamentos da sua existência social” (VOLÓCHINOV, [1926] 2019, p. 127). Caminhando para as últimas seções do ensaio, Volóchinov, ao investigar agora o discurso literário, afirma que a obra poética está entrelaçada com o contexto cotidiano não dito. Nesse sentido, as avaliações sociais subentendidas e os sujeitos que participam da interação social são muito importantes em sua constituição. Vale ressaltar que, conforme salientamos no início deste artigo, Volóchinov não elabora um aprofundamento de suas considerações sobre gestualidade no ensaio em questão, especialmente no momento em que 4 Qualquer enunciado vivo é uma réplica, uma resposta responsiva ativa do sujeito em relação a um objeto do discurso. Segundo Bakhtin ([1953] 2016), todo ouvinte ocupa simultaneamente uma posição responsiva ativa ao perceber e compreender o significado de um discurso, ou seja, ele concorda, discorda, completa, polemiza etc. Para Volóchinov ([1929] 2009, p. 101), toda enunciação, mesmo na forma imobilizada da escrita, é uma resposta a alguma coisa. Desse modo, “Toda inscrição prolonga aquelas que a precedem, trava uma polêmica com elas, conta com as reações ativas da compreensão, antecipa-as” (VOLÓCHINOV, [1929] 2009, p. 101). 27 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • discorre sobre o discurso literário, motivo pelo qual não discutiremos, com mais intensidade, esta parte. Gestualidade em Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930) Conforme exposto, Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930) compõe uma série inconclusa que Volóchinov denominou Estilística do discurso literário. No ensaio, o autor busca, em sua primeira seção (Comunicação social e interação discursiva), retomar aspectos teóricos discutidos no artigo precedente – O que é linguagem/língua (1930) – chegando à relevante conclusão de que “a essência real da língua é o acontecimento social da interação discursiva, realizada em um ou muitos enunciados” (VOLÓCHINOV [1930] 2019, p. 268). Nas duas seções seguintes (Discurso monológico e discurso dialógico e A dialogicidade do discurso interior), o autor busca evidenciar a natureza dialógica de todo discurso, inclusive do discurso interior, o qual, a seu ver, independente da nossa vontade, sempre se funde com outros pontos de vista que não participam da classe social a que pertencemos. “É como se a nossa consciência se dividisse em duas vozes independentes e contraditórias entre si” (VOLÓCHINOV [1930] 2019, p. 275). Nas seções posteriores (A orientação social do enunciado; A parte extraverbal (subentendida) do enunciado; A situação e a forma do enunciado; a entonação, a escolha e a disposição de palavras; e A estilística do enunciado cotidiano), Volóchinov realiza uma produtiva discussão, mostrando dois aspectos: 1. O sentido do enunciado cotidiano “depende da situação e de como está determinada a orientação social para o ouvinte-participante dessa situação” (VOLÓCHINOV [1930] 2019, p. 286); 2. Todo enunciado apresenta uma forma composta por três elementos fundamentais: a entonação, as escolhas lexicais e a disposição das palavras. Antes de discutirmos os apontamentos teóricos sobre gestualidade que aparecem no decorrer do ensaio, vale ressaltar que, no texto, Volóchinov concebe o discurso literário como discurso do cotidiano, da realidade social, produzido por uma pessoa real em condições reais. Na visão dele, esse procedimento de simular a interpretação de um enunciado literário como um enunciado do cotidiano é um “fazer de conta” e ocorre porque não há um disco gramofone que veicule a transmissão de uma conversa real entre pessoas vivas. Dado o exposto, a partir desse momento, discutiremos dois aspectos importantes sobre nosso objeto de estudo, os 28 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • quais aparecem no ensaio em investigação: o gesto como réplica de um enunciado e o gesto como resultado da orientação social do enunciado. Assim como em Palavra na vida e palavra na poesia, ao abordar a noção de réplica, Volóchinov discute a questão da gestualidade, conforme vemos a seguir: Em condições normais, sempre concordamos ou não concordamos com aquilo que ouvimos. Habitualmente, respondemos a todo enunciado do interlocutor, se não com palavras, ao menos com gestos: o movimento das mãos, o sorriso, o balanço da cabeça etc. É possível falar que toda comunicação ou interação discursiva ocorre na forma de uma troca de enunciados na forma de um diálogo (VOLÓCHINOV, [1930] 2019, p. 272). (Destaques do autor). Nesse sentido, os gestos também constituem uma réplica, uma resposta responsiva ativa do sujeito em direção a um objeto do discurso. Logo, a gestualidade pode acompanhar um dado material verbal ou, isoladamente, constituir um todo semântico produtor de sentido. Por meio dos gestos, podemos concordar ou discordar, aceitar ou refutar etc., isto é, podemos nos posicionar frente a outros discursos que circulam numa dada esfera de comunicação da língua. Utilizamos, inevitavelmente, todos os nossos sistemas de linguagens para nos comunicarmos uns com os outros. Somos, por sua vez, sujeitos ativamente responsivos. Ao buscar evidenciar a importante natureza dos elementos extraverbais no processo de produção de sentidos de um enunciado, Volóchinov apresenta o seguinte exemplo: “O homem de barbicha branca, sentado à mesa, depois de um minuto de silêncio disse: “É!”. O jovem em pé à sua frente enrubesceu, deu-lhe as costas e foi embora.” (VOLÓCHINOV, [1930] 2019, p. 28). Segundo o estudioso, no fragmento exposto, verificamos duas réplicas que têm os sentidos determinados pela relação entre elementos verbais e extraverbais. A primeira é um enunciado verbal, constituído pela oração “É”, enquanto a segunda é um enunciado gestual, caracterizado pela reação orgânica do interlocutor (o rubor do rosto) e o seu gesto (sair em silêncio). Dessa forma, a gestualidade, em relação ou não com a materialidade verbal, constitui-se um enunciado concreto ou, pelo menos, parte integrante dele. Em relação às charges 1 e 2 expostas nesse artigo, vale destacar que cada uma mostra os gestos que ganharam evidência durante o pleito eleitoral de 2018. Elas constituem réplicas, compreensões responsivas ativas dos sujeitos-enunciadores sobre os discursos que envolvem essas expressões gestuais, assiduamente veiculados pelos militantes, apoiadores e candidatos à Presidência da República. Se observarmos a parte verbal, em ambos os casos, os sujeitos Bolsonaro e Lula parecem responder, com esses gestos que estamos analisando, aos gritos 29 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • motivadores de seus seguidores e apoiadores. No caso da charge 1, com as mãos levantadas e com os dedos dispostos em forma de arma, o candidato parece reagir à euforia da multidão que grita: “Mito!, Mito!...”. De modo parecido, a mão erguida com os dedos em formato de “L” parece sugerir uma reação do ex-presidente Lula ao enunciado “Aumenta que isso aí é Lula livre!” (não necessariamente vindo de uma multidão, como sugere o enunciado da charge 1). Outro aspecto discutido em Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado é a orientação social do enunciado concreto. Segundo Volóchinov ([1930] 2019), ela sempre estará presente em qualquer enunciado do homem, seja ele verbal ou mesmo gestual (por meio dos gestos e expressões faciais), uma vez que é uma das forças vivas organizadoras que, em relação com as condições extraverbais, constitui a força estilística e a estrutura gramatical do enunciado. Para Volóchinov ([1930] 2019), o autor de uma obra literária realiza o processo de construção da imagem externa de uma personagem com base na orientação social do enunciado. Nesse viés, Essa forma exterior corporal do comportamento social do homem (movimento das mãos, pose, tom da voz), que costuma acompanhar o seu discurso, é determinada principalmente pela consideração e, por conseguinte, pela avaliação correspondente do auditório presente (VOLÓCHINOV, [1930] 2019, p. 281). Nesse sentido, ao gesticular, sempre levamos em consideração o nosso interlocutor, o outro que participa do processo de interação discursiva. Em vista disso, os “modos do homem” (VOLÓCHINOV, [1930] 2019, p. 281), suas expressões gestuais, resultam da orientação social de seu enunciado. É importante salientar que a relação “eu” e “outro”, através da orientação social do enunciado, pressupõe, devido à forte influência do método marxista nos escritos volochinovianos, a consideração da inter-relação sócio-hierárquica entre os interlocutores, isto é, o pertencimento da classe social dos interlocutores, seus bens, suas profissões, seus cargos etc. Segundo Volóchinov ([1930] 2019), possuir “bons modos” é considerar o seu interlocutor, enquanto dispor de “maus modos” é desconsiderá-lo; é ignorar a relação sóciohierárquica entre ambos. Nesse sentido, o autor busca mostrar que a gestualidade não é resultado de características inatas ou do próprio caráter do sujeito, mas da relação que ocorre entre os sujeitos da interação discursiva. 30 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • Ao discutir isso, Volóchinov cita um exemplo presente no livro Almas Mortas, de Gógol, importante escritor russo. Segundo o estudioso, os “bons modos” de Tchítchikov (personagem da história), os quais diferem a depender de quem ele visita, correspondem à expressão gestual de uma consideração do seu auditório social, isto é, da habilidade de compreender a personalidade do seu interlocutor. Esse procedimento também ocorre nas charges 1 e 2, as quais também foram elaboradas levando-se em consideração um auditório social, a saber: internautas interessados por política brasileira que acessam as respectivas páginas na internet dos autores dos enunciados. A partir das considerações apresentadas, formulamos um quadro que sintetiza os principais apontamentos discutidos. Vejamos: Quadro 1 – Síntese dos apontamentos sobre gestualidade nos escritos de 1926 e 1930 Quadro-síntese Gestualidade 1) Horizonte espacial comum; Palavra da vida e palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926) Extraverbal 2) Conhecimento e compreensão da situação comum; 3) Avaliação comum. Metáfora gestual Resposta 1) O caráter compartilhado e subentendido das avaliações de um dado grupo social; 2) O terceiro participante. 1) O gesto como réplica de um enunciado. 1) O gesto como réplica de um enunciado. Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930) Resposta 1) O gesto como resultado da orientação social do enunciado Orientação social Fonte: Elaboração própria a partir de Volóchinov ([1926, 1930] 2019) 31 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • No quadro acima, observamos categorias discutidas durante nossa investigação, as quais podem embasar futuras discussões analíticas sobre gestualidade, aspecto cujo estudo vem crescendo no campo das pesquisas em discurso na atualidade. Adiante, partimos para nossas considerações finais sobre a reflexão elaborada. Considerações finais O presente artigo buscou investigar apontamentos teóricos sobre a questão da gestualidade nos escritos volochinovianos, especialmente nos textos produzidos na primeira metade do século XX, a saber: A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926) e Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930). A pesquisa visou sistematizar ideias teóricas e desenvolver uma análise acerca da forma como o autor construiu reflexões produtivas para o estudo da gestualidade em perspectiva sociológica nos estudos da linguagem. Durante nossas discussões, fizemos uso de algumas charges para compreender de forma mais empírica a natureza dialógica da gestualidade, foco do nosso estudo. Em A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926), verificamos que a gestualidade, como materialidade em que se concretiza o enunciado, pertence ao elemento extraverbal da unidade real da comunicação discursiva, o qual é constituído pelo horizonte espacial comum, pelo conhecimento e compreensão da situação comum e pela avaliação comum. Além disso, os gestos têm por base o caráter compartilhado e subentendido das avaliações de um dado grupo social, bem como são direcionados ao terceiro participante, o qual é personificado, compreendido como um objeto vivo. Em Estilística do discurso literário II: a construção do enunciado (1930), observamos, durante a discussão do autor, dois apontamentos que refletem diretamente a questão da gestualidade. O primeiro corresponde à noção de resposta: todos os enunciados são uma réplica, uma resposta responsiva do sujeito em direção a um objeto do dizer. Logo, os gestos não são elementos acidentais ou fortuitos; pelo contrário, são, individualmente ou em relação com os elementos verbais, réplicas, enunciados-resposta. Já o segundo apontamento, apresentado pelo ensaio, diz respeito à orientação social do enunciado: os gestos, assim como as escolhas estilísticas, gramaticais e frasais, levam em consideração o interlocutor, isto é, a inter-relação sócio-hierárquica entre os interlocutores que participam da interação discursiva. 32 PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 10 •n. 25 • 2020 • ISSN: 2236-2592 • Dossiê: Discursos de resistência e corpos (re)existentes • A presente discussão revela que a temática da gestualidade tem seu lugar nas reflexões desenvolvidas pelos autores do conhecido Círculo de Bakhtin, a exemplo de Valentin Volóchinov. Sabemos que essas considerações não aparecem, na maioria das vezes, em primeiro plano nas obras, porém, elas nos possibilitam uma reflexão sobre o assunto, a fim de desenvolvermos importantes pesquisas científicas no campo de estudos do discurso. Destacamos, por fim, que este trabalho, em grande parte, é bibliográfico, por isso, estudos analíticos, com base nas categorias discutidas, poderão ser produzidos posteriormente. Referências BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra; notas da edição russa de Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. 176p. GRILLO, Sheila; AMÉRICO, Ekaterina Vólkova. Registros de Valentin Volóchinov nos arquivos do ILIAZV. In: VOLÓCHINOV, Valentin. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. 400p. VOLÓCHINOV, Valentin Nikolaevich. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Trad. Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2017 [1929]. VOLÓCHINOV, Valentin Nikolaevich. A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica (1926). In: VOLÓCHINOV, Valentin Nikolaevich. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. 400p. VOLÓCHINOV, Valentin Nikolaevich. Estilística do discurso literário I: a construção do enunciado. In: VOLÓCHINOV, Valentin Nikolaevich. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. 400p. Charge 1. Disponível em: http://www.ivancabral.com/2019/11/charge-patria-amada.html. Acesso em: abril de 2020 Charge 2. Disponível em: http://www.brasil247.com/charges/aroeira- rock-in-lula Acesso em: abril de 2020. 33