GRAMÁTICA REFLEXIVA E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Josefa Felix do Nascimento1
Jéssica Almeida dos Santos2
José Marcos de França3
GT 7 - Educação, Linguagens e Artes
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir e analisar as possibilidades de uso da gramática
reflexiva no processo de ensino da língua portuguesa em contraponto com a gramática
normativa. Para análise, tomamos a Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação, de
Cereja e Magalhães (1999), única obra do gênero que se intitula reflexiva, no sentido de ver
como ela se alinha, em seus aspectos estrutural, textuais e discursivos, à concepção de gramática
reflexiva. Nesse sentido, a nossa discussão parte de um contraponto entre o que seria um ensino
de base normativa em relação a um ensino de base reflexiva, colocando em foco os aspectos
linguísticos, epilinguísticos e metalinguísticos suscitados pelo ensino de uma gramática
reflexiva.
Palavras-chave: Ensino de Gramática. Gramática Reflexiva. Ensino de Língua Portuguesa.
RESUMEN
El presente trabajo tiene como objetivo discutir y analizar las posibilidades del uso de la
gramática reflexiva en el proceso de enseñanza de La lengua portuguesa en contrapunto con la
gramática normativa. Para análisis, tomamos la Gramática Reflexiva: texto, semântica e
interação, de Cereja e Magalhães (1999), única obra del género que se intitula reflexiva, en el
sentido de mirar como ella se línea, en sus aspectos estructurales, textuales y discursivos, la
concepción de gramática reflexiva. En ese sentido, nuestra discusión parte de un contrapunto
entre lo que sería la enseñanza de base normativa en relación a una enseñanza de base reflexiva,
poniendo en foco los aspectos linguísticos, epilinguísticos e metalinguísticos suscitados por la
enseñanza de la gramática reflexiva.
Palabras clave: Enseñanza de Gramática. Gramática Reflexiva. Enseñanza de Lengua
Portuguesa.
Graduada em Letras Português-Espanhol da Faculdade Pio Décimo. E-mail:
[email protected]
Graduanda do curso de licenciatura em Língua Espanhola da Universidade Federal de Sergipe. E-mail:
[email protected]
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Professor de Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa da Universidade Federal de Sergipe. E-mail:
[email protected]
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PALAVRAS INICIAIS
Muito tem se falado acerca de uma óptica sobre o processo de ensino da gramática
portuguesa. Todavia, o desempenho docente nos mostra que apenas o estudo das teorias
gramaticais não influi ou caracteriza contundentemente o aprendizado e a prática da leitura e
da escrita. Apesar disso, nem todos os docentes exploram ou inovam metodologias que aliem o
desenvolvimento dessas habilidades comunicativas sem deixar de lado a essência do que as
regras gramaticais significam para nós e, com isso, essa relação homóloga (gramática – leitura
– escrita) vem atravessando um descaso no que diz respeito ao ensino da Língua Portuguesa
(LP) na sala de aula.
Existe uma dificuldade quando se trata de inovar a didática nesse campo,
principalmente ao se tentar buscar fazer isso em sala de aula através de novas práticas
pedagógicas que possibilitem o estudo de textos contextualizando o assunto gramatical. Ao
invés de encontrar e classificar as palavras em classes gramaticais em um texto, seria mais
profícuo para o aluno refletir sobre as possibilidades de uso de tais palavras. A prática
tradicional de identificar e classificar as palavras num texto, por exemplo, não é suficiente para
que haja ampliação no conhecimento da gramática, já que há a necessidade de ir além desse
universo para que se possa descobrir a função delas dentro do texto em análise (leitura:
interpretação e compreensão).
Não é necessário que ocorra da parte do aluno apenas o ato da descoberta do saber
em função do que venha a ser cada classe gramatical e, até que saiba classificá-las
individualmente, o que de fato importa é que o aluno venha saber diferenciar o papel de cada
uma delas dentro de um determinado contexto no qual estão inseridas, enfocando, portanto,
suas múltiplas funções em diversificados enunciados. Isso sim é o que se pode denominar como
sendo desafiar o processo de ensino da gramática de acordo com as novas exigências, o que tem
sido e é um grande “nó” para quem leciona Língua Portuguesa e, com e por isso, se julga
necessário que o professor permanentemente se qualifique no universo do ensino continuado,
para que possa encarar esse quadro com determinação e dar conta do desafio, podendo assim
fazer com que o estudante reflita sobre a língua que utiliza.
O ensino de gramática não se encaixa e não pode ter como foco fundamental a
proteção ou conservação da composição de uma língua. Seu real papel dentro da sociedade
escolarizada é ajudar o indivíduo no processo baseado no conhecimento e no uso de sua própria
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língua materna. O ensino tradicional de gramática normativa tem se mostrado ineficiente em
alcançar esse propósito.
Em vista disso, nosso trabalho está assim dividido: num primeiro momento,
discutiremos o papel e o lugar da gramática no ensino de língua portuguesa: que gramática é
ensinada nas aulas de português; num segundo momento, discutiremos sobre a concepção de
gramática reflexiva e sua proposta de ensino; por fim, faremos uma abordagem analítica da
obra Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação, de Cereja e Magalhães (1999), até o
presente momento a única assim intitulada.
O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: QUE GRAMÁTICA ENSINAR?
Há muito as disciplinas de línguas, literaturas e produção de texto eram agregadas
em uma grande área – Língua Portuguesa, o que não mais encontramos hoje em dia. Naquele
formato, o ensino de Literatura oferecia (como ainda pode oferecer) ao professor de línguas
uma síntese de teorias que a fazia importante para uma escolha baseada por um determinado
ensino que visava de fato à contemplação das atividades de gramática reflexiva, o que seria,
sem dúvidas, o mais adequado, tendo como foco a discussão de sentidos inerentes ao
conhecimento intuitivo. Essa conduta induzia o alunado a concretizar o seu próprio conceito
sobre um determinado conteúdo, fazendo jus ao que caracterizamos como “ato crítico ou
perceptivo”.
O objetivo de se ensinar gramática não é fazer com que aqueles que a estudam
adquiram novas possibilidades de linguagem e passem assim a utilizá-las, pois, dessa forma
eles estariam deixando de lado a sua própria linguagem, seu registro particular e construtor de
parte da sua história, pois queiram ou não, esta lhes é própria. Contudo, o principal foco no
termo “ensinar gramática” fundamenta-se numa abrangência em relação à sua própria
capacidade de uso, desenvolvendo-se e ampliando sua habilidade e competência comunicativa
por intermédio de atividades com textos dos mais variados tipos e gêneros.
Por base, na construção dessa linha de trabalho gramatical busca-se, através de
levantamento de hipóteses, verificar se essas atividades correspondem ou não ao funcionamento
da língua. Existe também uma confrontação entre o conhecimento que o aluno traz internalizado
(construído através de suas raízes) e os recursos linguísticos que ele ainda não domina (as que
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lhes serão ensinadas na escola), e para levá-lo à aquisição de novas habilidades e conceitos, é
preciso fugir de um pressuposto e antigo método de memorização, que é hoje contido como
algo baseado na gramática tradicional.
O ensino tradicional baseia seus estudos num conjunto de regras que regulamentam
o uso da norma culta, a gramática normativa que define o conceito de como se deve utilizar a
língua socialmente, se torna assim um conjunto de regras linguísticas, todavia algumas vezes
não chega a realidade da linguagem oral vivida em sociedade, como assevera Irandé Antunes
(p. 30):
Tais definições não são feitas por razões propriamente linguisticas, quer dizer,
por razões internas à própria língua. São feitas por razões históricas, por
convenções sociais, que determinam o que representa ou não o falar social
mais aceito. Daí por que não existem usos linguisticamente melhores ou mais
certos que outros; existem usos que ganharam mais aceitação, mais prestigio
que outros por razões puramente sociais, advindas, inclusive, do poder
econômico e político da comunidade que adota esses usos. (ANTUNES, 2007,
p. 30).
Sendo assim, um ensino tradicional baseado em uma conjuntura da gramática
normativa não se julga totalmente eficaz no processo de ensino reflexivo vez que a sua maneira
de analisar e estudar os textos não condizem com a conceitualização dos dias atuais o que
retarda o processo de ensino reflexivo, pois algumas vezes esse método de ensino baseado em
regras e normas acaba por ofuscar o conhecimento prévio do aluno sobre sua própria língua.
GRAMÁTICAS REFLEXIVA: O QUÊ? PARA QUÊ?
Para muitos, ao se ouvir falar em gramática logo vem à mente aquele conceito
tradicional, ou seja, um conjunto de normas; regras para o bom funcionamento da língua, para
falar e escrever corretamente.
Mas hoje já se pode enfocar, no âmbito escolar, o uso de uma nova gramática que
tem por centralização um trabalho de reflexão diante do que o aluno já domina - a chamada
“gramática reflexiva”, baseada em um trabalho de recursos linguísticos de que o aluno ainda
não domina que seriam os valores de cada palavra dentro de uma frase ou um texto. Por
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exemplo, a palavra jovem em uma frase pode comportar-se como sendo adjetivo e pode também
está como sujeito (substantivo) da oração. Vejamos a seguir, para melhor entendermos.
a) O escritor é jovem e famoso.
b) O jovem permanece dormindo.
Explicando: no primeiro exemplo, a palavra jovem é um adjetivo e qualifica o
escritor; já no segundo exemplo, o termo jovem admite valor de substantivo e vem
acompanhado por artigo. Esta é uma característica do substantivo.
É cabível à escola e aos professores de LP do século XXI, lançarem uma
metodologia que atenda as exigências de um ensino crítico e reflexivo. Nessa perspectiva, cabe
à escola e a nós, professores de língua portuguesa, disseminar uma aparição do português livre
de um preconceito linguístico e centrada em pauta de inclusão sociocultural do indivíduo, onde
a língua portuguesa deve deixar de ser vista como um conjunto de regras, como se fosse um
jogo onde o aluno tivesse como real valor o dever de desmembrá-lo. Desse modo, cabe ao
professor proporcionar aos seus um ensino da língua baseado em reflexão sobre estrutura e
funcionamento da própria, nesse caso, o trabalhar com a gramática reflexiva é muito importante,
visto que, ensinar com base em textos ao invés de frases soltas fortalece e sintetiza melhor a
reflexão crítica do aluno e, dentro desse ensino, cabe ao professor mostrar as diversas funções
de uma palavra, mostrar que um adjetivo vai muito além dele mesmo (dessa classificação)
dependo da forma de como o está empregado no texto.
Vejamos, então, o que seja uma gramática reflexiva:
A gramática reflexiva é a gramática em explicitação. Esse conceito se refere
mais ao processo do que aos resultados: representa as atividades de observação
e reflexão sobre a língua que buscam detectar, levantar suas unidades, regras e
princípios, ou seja, a constituição e funcionamento da língua. Parte, pois, das
evidências lingüísticas para tentar dizer como é a gramática implícita do falante,
que é a gramática da língua. (TRAVAGLIA, 2003, p. 33)
De acordo com a definição acima, essa gramática está presa ao processo de
“constituição e funcionamento da língua”. Ela se propõe a um instrumento de reflexão e
observação sobre a língua o que implica o uso de uma metodologia dedutiva, em que se parte
do todo para a parte, do geral para o específico. Ou seja, a partir dos fatos linguísticos4 é que se
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Essaconcepçãode gramática permite aliar atividades linguísticas, epilinguísticas e metalinguísticas.
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estabeleceriam as normas, as regras que regem os fatos, os princípios e o funcionamento da
língua.
É nesse momento que surge a pergunta: Por que trabalhar a gramática reflexiva em
sala de aula diante de tantas já existentes? A gramática reflexiva tem como proposta de ensino
trabalhar com as diversas áreas do campo linguístico e não apenas com o produto do ato
linguístico (fala). Ou seja, parte das evidências linguísticas para dizer como é a gramática
implícita ou a gramática internalizada do falante, isto é, o conhecimento que o falante tem do
sistema da língua e não de regras.
A reflexão que essa gramática concede, portanto, tem como base a construção de
exemplos tanto do cotidiano quanto do uso da linguagem contextualizada no afã de facilitar o
entendimento dos elementos que compõem a língua enfatizada em atividades de classe.
Segundo Nascimento e Santos (2005, p.5), “As atividades de gramática reflexiva
podem levar o aluno a explicitar fatos da estrutura e do funcionamento da língua através da
observação dos efeitos de sentido que os elementos linguísticos produzem”. A quantidade e
qualidade do material linguístico encontrado na gramática reflexiva, a torna uma arquitetura
inovadora, com um suporte teórico totalmente voltado para os subsídios dos campos
linguísticos, o que a faz com que o aluno recorra a subsídios que esteja limitado a regras da
norma padrão, ou seja, ela abre espaço para que o estudante possa refletir de maneira crítica
sobre as diversas formas de uso da intitulada língua em questão e, não apenas reproduza o que
lhe disseram, é fazer com que o aluno tenha sua própria autonomia de pensamento, pois, como
ressalva Nascimento e Santos (2005, p. 5), “O que seria o ensino reflexivo se não for para
propiciar ao indivíduo o ato do pensamento?”.
a) “Atividades linguísticas são aquelas que, praticadas nos processos interacionais, referem ao assunto em pauta,
‘vão de si’, permitindo a progressão do assunto” (GERALDI, 2013, p. 20).
b) “Atividades epilinguísticas são aquelas que, também presentes nos processos interacionais, e neles
detectáveis, resultam de uma reflexão que toma os próprios recursos expressivos como seu objeto” (GERALDI,
2013, p. 23). É uma atividade condizente à reflexão sobre a língua em contexto de uso, isto é, em situações reais
de interação comunicativa. Para Clare (2014), “Como atividades epilinguísticas, entenda-se o trabalho reflexivo
e de transformação elaborado com a linguagem escrita.”
c) “Atividades metalinguísticas são aquelas que tomam a linguagem como objeto não mais enquanto reflexão
vinculada ao próprio processo interativo, mas conscientemente constroem uma metalinguagem sistemática com
a qual falam sobre a língua” (GERALDI, 2013, p. 25). Para Travaglia (2003, p. 34-35), “As atividades
metalinguísticas são aquelas em que se usa a língua para analisar a própria língua, construindo então o que se
chama de metalinguagem, isto é, um conjunto de elementos linguísticos próprios e apropriados para se falar
sobre a língua. Nesse caso a língua se torna o conteúdo, o assunto, o tema, o tópico discursivo da situação de
interação.”
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A prática reflexiva nada mais é do que o balanceamento entre a prática cotidiana e
ato do pensamento, do refletir e, por isso, a educação (o exercício de educar, ensinar) deve estar
pautada nos pilares a seguir, segundo Edgar Morin (2003): saber fazer; aprender a aprender;
aprender a conviver; aprender a ser.
Assim, o indivíduo estará mais apto a se tornar um ser de autonomia própria e capaz
de lidar com uma informação de maneira mais flexível e de modo que não venha a ser
manipulado, pois saberá interpretar o que lhe foi dito e, como sabemos, a escola, em princípio
(mas não só) é o espaço mais conveniente para que se propicie, se produza o saber. Ser um
indivíduo pensante e crítico é ser alguém de mente ativa, fértil e reflexiva.
Assim sendo, gramática reflexiva é a que se encontra em explicitação, a qual
representa as atividades de observação e reflexão sobre a língua que se busca detectar, levantar
suas unidades, regras e princípios, ou seja, a constituição e funcionamento da língua. Daí se dá
a pretensão de inovação do ensino por uma possível mudança da metodologia, capaz de
desenvolver as habilidades comunicativas e, serve para ensinar ao aprendiz como é a língua e
quais os meios de se levar ao conhecimento da instituição social que a língua compõe, fazendoo pensar.
De acordo com a gramática reflexiva, os exercícios devem partir da extração de
vocábulos presentes em todo e qualquer texto. Trabalhar com elementos linguísticos de forma
reflexiva é relevante quando se objetiva formar alunos competentes na língua, e isto é papel do
professor, embora seja mais difícil do que pensamos. Contudo, aqueles que transmitem a noção
de gramática nos moldes tradicionais acabam por desempenhar o papel de maus protagonistas
junto aos seus alunos, pois transformam a disciplina em algo enfadonho, sem fundamento e
inútil.
Na sequência deste trabalho, apresenta-se uma discussão/análise de um exemplar
de uma gramática reflexiva, de autoria de Cereja e Magalhães (1999), que se intitula Gramática
Reflexiva: texto, semântica e interação, cuja proposta de ensino de língua defendida deve-se
dar por intermédio de procedimentos indutivos, ou seja, que induzem alguém a algo, cujo
objetivo é desenvolver o hábito perceptivo de se observar a sua volta; da análise e da auto
conclusão, para que haja promoção de uma educação linguística de forma totalmente apropriada
aos alunos. Esses procedimentos possibilitarão ao aluno a elaboração de seus próprios conceitos
acerca dos conteúdos gramaticais, a partir da observação de conjuntos de fatos e fenômenos
linguísticos existentes na língua e em decorrência de seus usos.
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A GRAMÁTICA REFLEXIVA EM DISCUSSÃO/ANÁLISE
A obra Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação (1999), de Cereja e
Magalhães, por seu título, remete a um tipo de gramática que a priori parece não se tratar de
uma gramática normativa, mas de um tipo que contempla, segundo seu subtítulo, o texto, a
semântica e a interação. Porém, vejamos como o livro está estruturado e o que isso revela de
seu discurso e de seus sujeitos-autores.
A obra está dividida primeiramente em unidades e dentro destas os capítulos, porém
os capítulos seguem em uma sequência numérica independente da unidade. A Unidade 1 é
intitulada A comunicação: linguagem, texto e discurso e nela estão contidos três capítulos: o
Capítulo 1 é intitulado Língua, linguagem e interação social; o 2, Comunicação e
intencionalidade discursiva; o 3, Texto e discurso. Os enunciados dos títulos de cada capítulo
que compõe a unidade provocam um efeito de sentido que não abrange a gramática normativa,
mas conceitos e categorias próprias da ciência da linguagem. Se o leitor cria a expectativa nos
primeiros capítulos de que não haverá uma abordagem semelhante à da GN, essa expectativa é
quebrada quando a Unidade 2 é intitulada Fonologia; a 3, Morfologia: a palavra e seus
paradigmas; e a 4, Sintaxe: a palavra em ação, pois retoma na memória discursiva do leitor o
discurso da divisão tradicional da GN, com todos os seus elementos. Mesmo acompanhados de
subtítulos que sugerem “algo mais” que morfologia ou sintaxe a abordagem segue o tradicional,
portanto, na essência do conteúdo e das explicações não fogem ao discurso da tradição
normativa.
Para manter a coerência com a proposta do livro, ao final de cada capítulo, os dois
últimos tópicos têm em seus enunciados, respectivamente, as expressões “na construção do
texto”, antecedida do nome do assunto ou da categoria gramatical que se está discutindo no
capítulo, como por exemplo, “Sons e letras na construção do texto”, “A ortografia na
construção do texto”, e “Semântica e interação”, como último tópico, em que sempre se
trabalha um texto, dos mais variados gêneros textuais/discursivos, onde se procura interpretar e
aplicar os conhecimentos do assunto trabalhado no capítulo.
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O título-enunciado (4) Gramática Reflexiva: texto, semântica e interação se
apresenta como uma tipologia gramatical que não se define como normativa. Propondo-se uma
gramática reflexiva, a obra, em seu subtítulo, diz que vai tratar com o texto, com a semântica e
será interativa. De acordo com a definição acima, ela se encaixaria numa metodologia de caráter
dedutivo, ou seja, partiria do geral para o específico. Com isso, implica dizer que estará tratando
da língua materna sob o prisma de uma outra verdade que não a normativa.
Essa vontade de verdade expressa no título-enunciado diz que a partir dos fatos da
língua observados se formulariam as regras da língua. É um título completamente atravessado
pela formação discursiva da Linguística. Além disso, ela se propõe interativa, o que certamente
não se trata de mera coincidência, de acordo com a proposta defendida em Travaglia (2003) em
cujo título consta a palavra interação, o que aponta o atravessamento discursivo de tal proposta.
Além disso, as palavras texto, semântica e interação que constam no subtítulo implicam um
efeito de sentido que vai além do simples estabelecimento de regras. Isso justificaria o subtítulo
da obra: texto, semântica e interação. A formação discursiva de onde provêm essas palavras
com certeza não é da gramática normativa.
A gramática reflexiva, então, serve para ensinar ao aprendiz como é a língua e quais
os meios de se levar ao conhecimento da instituição social que a língua compõe, fazendo-o
pensar, pois o que seria o ensino reflexivo se não for para propiciar ao indivíduo o ato do
pensamento? As atividades de gramática reflexiva podem levar o aluno a explicitar fatos da
estrutura e do funcionamento da língua através da observação dos efeitos de sentido que os
elementos linguísticos produzem. Pela aquisição da confrontação de dados, os alunos exercitam
sua capacidade de deduzir pelo raciocínio, criando suas próprias regras, influenciando-os à
reflexão sobre todas as suas ações de leitura e de escrita, auxiliando-os, portanto, na capacidade
de análise sobre e a respeito da língua, com a melhora do seu princípio cognitivo de
aprendizagem.
Na referida gramática, Cereja e Magalhães(1999) colocam como ponte de
construção de conhecimento o ato da descoberta, e ressalta o quão magnífico é fazer o aluno
descobrir aspectos significativos do conteúdo, ao invés de dar-lhes tudo pronto. Assim, todo e
qualquer professor que se cerca de atos reflexivos poderão dizer no decorrer do processo de
ensino-aprendizagem que além de o aluno adquirir uma habilidade que crescerá dentro e fora
do âmbito escolar, a sua aprendizagem se tornará super-resistente ao bombardeio do
esquecimento.
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Cereja e Magalhães (1999) abordam textos atualizados para com os nossos tempos,
o que acaba por deixar o livro mais atrativo, e trabalha abrangendo o texto como objeto de
ensino, proporcionando tal ensino não como dogma, como normatização exagerada, e sim como
forma de discussão.
Ensinar a pensar seria viajar em um oceano de possibilidades no qual se dará ao
aluno as condições necessárias para solucionar problemas de sua vida particular, ou de um todo,
por meio do agir vantajoso de soluções alternativas. Nesse sentido, o ensino de gramática por
esse viés tem por objetivo estimular o raciocínio através da observação, descoberta e
formulação de regularidades linguísticas, colocando o aluno numa postura ativa de quem faz
ciência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, vimos o nascimento de vários projetos com vistas à melhoria do
ensino de línguas, a exemplo dos PCN e as OCEM, que buscam dar uma nova proposta e
orientação aos professores. No entanto, nem sempre essas mudanças caracterizam a verdadeira
realidade das escolas.
Para que haja um desafio positivo em meio aos novos métodos de ensino do século
XXI é necessário que o professor de língua materna se desligue e abandone o ato de ensinar
gramática apenas para cumprir a carga horária, mas que a ensine com prazer e responsabilidade,
de forma que venha a cumprir com o objetivo de se ensinar a pensar e pensando ao ensinar. Isso
se dá através de exercícios que busquem estabelecer uma relação de interação entre
aluno/professor/conteúdo, levando o alunado a fazer ciência com seus próprios códigos
linguísticos. Nesse conceito, o professor estabelecerá uma melhor maneira de compreensão
acerca do que venha a ser “Gramática”. Optar por métodos indutivos para promover a
formulação de conceitos próprios e, dessa maneira, serão internalizados como melhor aprouver,
ou seja, provocação ou sentir do contentamento e prazer dos alunos.
Uma proposta holística do ensino de gramática deve permitir aos alunos
prepararem-se para a vida que os espera lá na frente, pois as relações familiares, o trabalho e
até mesmo o lazer se dão através de enunciados. A linguagem dá forma ao nosso mundo, à
nossa vida sociocultural e, ao mesmo tempo, reflete como e por que as pessoas se relacionam
através do simbolismo e significado da língua, estabelecendo uma forma de interação
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comunicativa dentro dessa sociedade, o que irá influenciar no que este indivíduo é e o que
pretende ser. Além disso, tal ensino tem por finalidade desenvolver a competência comunicativa
já adquirida pelo falante, possibilitando um maior número de recursos da língua de forma
adequada a cada situação dessa interação.
Através dos preceitos da gramática reflexiva, o estudante tem por visibilidade
estudar as condições linguísticas da significação, sendo assim, consegue veicular pelo uso
consciente da língua os significados ou sentidos que deseja, compreender aqueles que chegam
até ela, e de que forma chegam. Contudo, ressalva-se que é importante ensinar gramática dentro
de novos requisitos para que o aluno aprenda a empregar as palavras adequadamente dentro das
diferentes situações.
Assim, o ensino de gramática preocupado tão somente com a qualidade precisa
necessariamente trabalhar com as possibilidades significativas dos recursos linguísticos e com
a sua condição de uso para funcionar como pistas/caminhos, tanto na produção quanto na
compreensão de textos orais ou escritos com os quais interagimos no universo comunicacional.
REFERÊNCIAS
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caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática reflexiva: texto, semântica e interação.
São Paulo: Atual, 1999.
CLARE, N. A. V. Atividades lingüísticas e epilingüísticas no ensino criativo. Disponível
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FARACO, C. A. Ensinar x não ensinar gramática: ainda cabe esta questão? Calidoscópio, 4
(1), 2006. p.15-26
GERALDI, J. W. Portos de passagem. 5. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução
Eloá Jacobina. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
NASCIMENTO, J. F; SANTOS, J. A. Caminhando entre desafios: a gramática sob uma
nova perspectiva de ensino reflexivo. Educação, Base Nacional Comum Curricular e
Formação de Professor. Aracaju: v. 8, n. 1, 2015.
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TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 9. ed.
rev. São Paulo: Cortez, 2003.
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