Academia.eduAcademia.edu

Editorial n. 33

2017, Manuscrítica

NESTA EDIÇÃO, a Manuscrítica traz um dossiê sobre um suporte que resiste à modernidade dos recursos digitais, o caderno. Suporte ágil e discreto para anotações fugazes, colagens de dados, trânsito rápido entre a imagem e o texto, esses pequenos documentos recebem vários nomes: diários gráficos, sketchbooks, diários, cadernos de artista, cadernos de criação, de notas, diários de bordo... muitos são os nomes, porque inúmeras são as operações cognitivas ali realizadas. Talvez pela necessidade de uma instância matérica, não digital, de contato concreto com aquilo que a mão grafa ou cola. O artigo intitulado "Leitura cruzada dos cadernos de Gustave Flaubert e de anotações de Maxime Du Camp da viagem que fizeram juntos para o Oriente", de Lúcia Amaral de Oliveira Ribeiro (USP), inaugura o dossiê supracitado, estudando os cadernos de ambos escritores e mostrando a elaboração de imagens literárias que se assemelham, sobretudo porque dialogam com a tradição de construções imagéticas do século XIX. Em "Preparação para a autobiografia: o Caderno de anotações de Manuel Bandeira", Daniel da Silva Moreira (UFJF) discute, a partir da análise do Caderno de Anotações do poeta brasileiro, como é possível relativizar sua suposta negação com relação ao trabalho autobiográfico, recontextualizando, igualmente, o conceito de "poeta menor" ainda mal compreendido pela crítica. Em seu artigo intitulado "Autoficção por procuração: genealogia de um romance documento e seu impacto na leitura em Sujet Angot", William Vieira (USP) procura ilustrar a partir de notas, cartas, entrevistas e cadernos, como a escritora francesa Christine Angot manipula documentos e falas reais que servirão de matéria na construção de seu romance Sujet Angot, e discute, dentre outros temas, a noção de real e realidade para a autora no fazer literário. Já Victor Lemes Cruzeiro (UnB), em seu artigo "Cadernos de dor: o indizível das dores nas páginas de diários íntimos" parte do Diário de Luto, de Roland Barthes, e El Diario de Frida Kahlo-Un Intimo Autorretrato, de Frida Kahlo, para tratar de questões de fundo filosófico como o intraduzível e ilegível da dor. A partir da escrita de Stendhal sobre teatro entre 1802 e 1804, em "Dos cadernos de juventude a De l'Amour: a elaboração de uma matriz narrativa nos primeiros escritos de Stendhal", Maria Ignez Mena Barreto (USP) aborda o tema da experiência amorosa enquanto fenômeno dinâmico. No artigo "El nombre del universo: primeros apuntes sobre el Cuaderno de Teología de Mario Bellatin", Leonel Cherri Juan (UADER/CONICET) e Pablo Cuartas (Universidad de La Plata) descrevem o início do trabalho no Arquivo Bellatin a partir da leitura de um caderno com anotações do período que estudou teologia e que acolheu material para redação de narrativas, observando o trânsito entre notas de estudos e sua ficção. A literatura infantil está presente em duas contribuições neste número. Em "De canción de cuna a narración ilustrada: una aproximación crítico-genética al libro para niños Duerme, niño, duerme", Cielo Erika Ospina Canencio (Universidad de Chile) aborda o processo criativo de um livro infantil que transpôs uma canção de ninar em um texto narrativo-visual, sendo necessárias, para isso, transformações editoriais, textuais e imagéticas capazes de instaurar um ritmo narrativo. O livro infantil e a narrativa visual é também o tema do fac-símile desta edição: Hanna Araújo (UFAC) mostra o boneco do livro Bárbaro, de Renato Moriconi, narrativa visual de grande sucesso.

Manuscrítica § n. 33 • 2017 Editorial revista de crítica genética Editorial NESTA EDIÇÃO, a Manuscrítica traz um dossiê sobre um suporte que resiste à modernidade dos recursos digitais, o caderno. Suporte ágil e discreto para anotações fugazes, colagens de dados, trânsito rápido entre a imagem e o texto, esses pequenos documentos recebem vários nomes: diários gráficos, sketchbooks, diários, cadernos de artista, cadernos de criação, de notas, diários de bordo... muitos são os nomes, porque inúmeras são as operações cognitivas ali realizadas. Talvez pela necessidade de uma instância matérica, não digital, de contato concreto com aquilo que a mão grafa ou cola. O artigo intitulado “Leitura cruzada dos cadernos de Gustave Flaubert e de anotações de Maxime Du Camp da viagem que fizeram juntos para o Oriente”, de Lúcia Amaral de Oliveira Ribeiro (USP), inaugura o dossiê supracitado, estudando os cadernos de ambos escritores e mostrando a elaboração de imagens literárias que se assemelham, sobretudo porque dialogam com a tradição de construções imagéticas do século XIX. Em “Preparação para a autobiografia: o Caderno de anotações de Manuel Bandeira”, Daniel da Silva Moreira (UFJF) discute, a partir da análise do Caderno de Anotações do poeta brasileiro, como é possível relativizar sua suposta negação com relação ao trabalho autobiográfico, recontextualizando, igualmente, o conceito de “poeta menor” ainda mal compreendido pela crítica. Em seu artigo intitulado “Autoficção por procuração: genealogia de um romance documento e seu impacto na leitura em Sujet Angot”, William Vieira (USP) procura ilustrar a partir de notas, cartas, entrevistas e cadernos, como a escritora francesa Christine Angot manipula documentos e falas reais que servirão de matéria na construção de seu romance Sujet Angot, e discute, dentre outros temas, a noção de real e realidade para a autora no fazer literário. Já Victor Lemes Cruzeiro (UnB), em seu artigo “Cadernos de dor: o indizível das dores nas páginas de diários íntimos” parte do Diário de Luto, de Roland Barthes, e El Diario de Frida Kahlo – Un Intimo Autorretrato, de Frida Kahlo, para tratar de questões de fundo filosófico como o intraduzível e ilegível da dor. A partir da escrita de Stendhal sobre teatro entre 1802 e 1804, em “Dos cadernos de juventude a De l’Amour: a elaboração de uma matriz narrativa nos primeiros escritos de Stendhal”, Maria Ignez Mena Barreto (USP) aborda o tema da experiência amorosa enquanto fenômeno dinâmico. No artigo “El nombre del universo: primeros apuntes sobre el Cuaderno de Teología de Mario Bellatin”, Leonel Cherri Juan (UADER/CONICET) e Pablo Cuartas (Universidad de La Plata) descrevem o início do trabalho no Arquivo Bellatin a partir da leitura de um caderno com anotações do período que estudou teologia e que acolheu material para redação de narrativas, observando o trânsito entre notas de estudos e sua ficção. A literatura infantil está presente em duas contribuições neste número. Em “De canción de cuna a narración ilustrada: una aproximación crítico-genética al libro para niños Duerme, niño, duerme”, Cielo Erika Ospina Canencio (Universidad de Chile) aborda o processo criativo de um livro infantil que transpôs uma canção de ninar em um texto narrativo-visual, sendo necessárias, para isso, transformações editoriais, textuais e imagéticas capazes de instaurar um ritmo narrativo. O livro infantil e a narrativa visual é também o tema do fac-símile desta edição: Hanna Araújo (UFAC) mostra o boneco do livro Bárbaro, de Renato Moriconi, narrativa visual de grande sucesso. Editorial 1 Manuscrítica § n. 33 • 2017 Editorial revista de crítica genética Na seção de temática livre, temos a presença maciça da literatura brasileira contemporânea. No artigo “Nael, a construção de uma voz”, Maria da Luz Pinheiro de Cristo (UFES) discute a construção do narrador do romance Dois irmãos, de Milton Hatoum. As versões da abertura da obra mostram as operações do scriptor e o percurso de criação de um narrador complexo que mistura pontos de vista, ora distanciando-se, ora aproximando-se do conteúdo narrativo. De Milton Hatoum a Caio Fernando Abreu, de Manaus ao Rio Grande do Sul. Gabriela Richinitti (PUC-RS) analisa quatro versões datiloscritas do conto “Onírico”, de Caio Fernando Abreu, descrevendo o processo de construção de atmosferas (por meio de adjetivações, tempos verbais e até mesmo da pontuação) no artigo “O estreitamento do sonho nos rastros criativos de Caio Fernando Abreu: a gênese do conto ‘Onírico’”. A literatura do gaúcho é tema também do último artigo da edição, “A metamorfose do eu-lírico no poema “Se foi de sol aquela madrugada” de Caio Fernando Abreu”, de Sara Albuquerque (PUC-RS), mas neste é a poesia e a construção do eu-lírico em cinco versões do referido poema. Carla Cavalcanti e Silva (UNESP) assina a resenha do livro Os processos de Criação em À sombra das Raparigas em flor. A pulsão invocante e a Psicologia no Espaço em Proust de Philippe Willemart. A edição está rica em entrevistas. Em vídeo, Maria da Luz Pinheiro de Cristo (UFES) e Viviane Araújo Alves da Costa Pereira (UFPR) entrevistam o escritor Luiz Rufatto acerca de seu processo de criação e de suas atividades como editor, cronista, pesquisador e leitor. Laís Guaraldo (UFRN) e Luiza Soares (PUC-SP) entrevistaram Luiz Bolognesi, roteirista e diretor do primeiro filme de animação longa metragem produzida no Brasil, Uma história de amor e fúria (2013). O diretor abordou os desafios encontrados para organizar o método de trabalho de maneira que incorporasse a contribuição e diálogo de toda a equipe. Carla Cavalcanti e Silva Laís Guaraldo Mônica Gama Editoras Editorial 2 Manuscrítica § n. 33 • 2017 Editorial revista de crítica genética Manuscrítica Revista de Crítica Genética São Paulo n. 33 • 2017 Conselho Editorial Almuth Grésillon, Institut des Textes et Manuscrits Modernes (ITEM/CNRS) Alícia Duhá Lose (UFBA) Aparecido José Cirillo (UFES) Carla Cavalcanti e Silva (UNESP – Assis) Cecília Almeida Salles (PUC-SP) Claudia Amigo Pino (USP) Elida Lois (Universidad Nacional de San Martín – Argentina) Erica Durante (Brown University-EUA) Irène Fenoglio (ITEM-CNRS) Isabel Cristina Farias Lima (UFRS) Josette Monzani (UFSCAR) Márcia Ivana Lima e Silva (UFRS) Marcos Antonio de Moraes (IEB – USP) Maria Eunice Moreira (DELFOS–PUC-RS) Marie-Hélène Paret Passos (DELFOS–PUC-RS) Marlene Gomes Mendes (UFF) Miguel Rettenmaier (UPF) Mônica Gama (UFOP) Noêmia Guimrães Soares (UFSC) Philippe Willemart (USP) Roberto de Oliveira Brandão (USP) Rosa Borges (UFBA) Rosie Mehoudar (USP) Sergio Romanelli (UFSC) Sílvia Maria Guerra Anastácio (UFBA) Telê Ancona Lopez (IEB – USP) Verónica Galíndez (USP) Editorial 3 Manuscrítica § n. 33 • 2017 Editorial revista de crítica genética DIAGRAMAÇÃO Danielle Camara Silva ILUSTRAÇÕES Capa – Dayane Oliveira Manuscritos Marcel Proust, Eugène Delacroix – Bibliothèque Nationale de France; Fernando Pessoa – Espólio Fernando Pessoa; Jane Austen – Biblioteca Britânica; Willian Turner – Real Academia das Artes (Londres); Albrecht Durer Sterling and Francine Clark Art Institute; Paul Klee – Zentrum Paul Klee; Van Gogh – Van Gogh Museum; Anita Malfatti – IEB; Carolina Maria de Jesus – Fundação Biblioteca Nacional; Renato Moriconi (acervo pessoal do autor). REVISÃO Ricardo Alves Manuscrítica é uma publicação da Associação de Pesquisadores em Crítica Genética (APCG) e da Pós-Graduação em Estudos Linguísticos Literários e Tradutológicos em Francês Universidade de São Paulo com o apoio da CAPES EDITORAS DESTE NÚMERO Mônica Gama (UFOP) Laís Guaraldo (UFRN) Carla Cavalcanti e Silva (Unesp-Assis) SECRETÁRIA DA EDIÇÃO Dayane Oliveira (UFOP) EQUIPE EDITORIAL Aline Novais de Almeida Claudia Amigo Pino Maria da Luz Pinheiro de Cristo Mônica Gama Viviane Araújo Alves da Costa Pereira E-mail: [email protected] UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês. Coordenadora da Pós-Graduação: Profa. Dra. Eliane Gouvêa Lousada Vice-Coordenadora: Profa. Dra. Adriana Zavaglia ISSN 1415-4498 DIRETORIA APCG Presidente - Claudia Amigo Pino (USP) Vice-presidente - Mônica Gama (UFOP) PROJETO GRÁFICO Priscila Pesce L. de Oliveira Tesoureira - Carla Cavalcanti e Silva (UNESP – Assis) Secretária Geral - Viviane Pereira (UFPR) Secretária de divulgação - Aline Novais de Almeida (USP) Tesoureira suplente -Verónica Galíndez (USP) Secretária Geral suplente – Maria da Luz Pinheiro de Cristo (UFES) Secretária de divulgação suplente – Luciana Schoepps (USP) Editorial 4