UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E
ENGENHARIA DE ALIMENTOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE
ALIMENTOS
PRODUÇÃO DE MONO E DIACILGLICERÓIS A PARTIR DA
GLICERÓLISE ENZIMÁTICA DE ÓLEO DE OLIVA
Tese de Doutorado em Engenharia de
Alimentos do Programa de PósGraduação em Engenharia Química e
Engenharia de Alimentos da Universidade
Federal de Santa Catarina, como requisito
parcial à obtenção do Grau de Doutor em
Engenharia de Alimentos.
ROBERTA LETÍCIA KRÜGER
Prof. Dr. Jorge Luiz Ninow
Orientador - UFSC
Prof. Dr. Marcos Lúcio Corazza
Co-Orientador - UFPR
Florianópolis/SC, 2010.
Dedico mais esta etapa de minha vida à
duas pessoas que, pela sua simplicidade
e pouco estudo, nunca entenderam o que
é um Doutorado, mas sabiam que se
tratava de algo bom, algo especial, e
assim, por mim sempre torceram,
sempre rezaram para que tudo desse
certo... meus avós Joanna e Atíllio
Belin, que sempre estiveram ao meu
lado, e continuam, só que agora, como
anjos...
ii
Agradecimentos
A Deus, por sempre me colocar entre as pessoas certas e na hora certa.
A minha família, em especial aos meus pais, Rudolfo e Naides, minha
irmã Katiane e minhas tias Elizabeth e Rosemary pelo apoio sempre
incondicional.
Ao meu orientador Marcos L. Corazza, por sua incansável motivação e
por ser o principal responsável por este trabalho ter atingido seus
objetivos.
Ao meu orientador Jorge L. Ninow, por todo o suporte, apoio e
confiança repassada ao longo de todo o trabalho.
A Empresa Erechinense Instaladora Técnica Industrial Ltda –
INTECNIAL, em especial ao Eng. Ari Baldus e Marcelo Cantele, pela
confiança depositada e pelo apoio financeiro.
Ao Programa de Pós-graduação de Engenharia de Alimentos da URI –
Campus de Erechim, por toda a estrutura e apoio disponibilizado
durante o trabalho, em especial aos professores José Vladimir de
Oliveira, Débora de Oliveira e Marco Di Luccio.
Ao Programa de Pós-graduação de Engenharia Química e Engenharia de
Alimentos da UFSC, pela oportunidade e pelo precioso conhecimento
repassado.
A professora Fernanda de Castilhos, pela disposição, contribuições e
amizade.
Ao colega Fernando Voll pelo empenho e contribuições na etapa de
modelagem dos dados.
Ao meu “namorido” Érison Raimundo pelo constante incentivo e
compreensão.
Aos meus amigos e colegas de laboratório que fizeram destes últimos
anos, tempos de verdadeiro companheirismo e alegrias, em especial a
Clarissa Dalla Rosa, Elton Franceschi, Elisandra Rigo, Alexsandra
Valério, Manuela Balen, Melânia Sychoski, Karina Fiametti, Camila da
Silva e Gustavo Borges.
iii
À Universidade Paranaense – UNIPAR – Campus de Toledo, em
especial à Coordenadora do Curso de Farmácia, Patrícia M. F. Dobliski,
pelo apoio e incentivo.
As demais pessoas que de alguma forma compartilharam comigo os
desafios desta etapa, e as quais os nomes não estão escritos nesta página,
mas tem suas marcas eternizadas em meu coração.
iv
"Podemos escolher em recuar em direção à segurança
ou avançar em direção ao crescimento...
A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes,
e o medo tem que ser superado a todo a cada momento."
Abraham Maslow
v
Resumo da Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Química e Engenharia de Alimentos como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do Grau de Doutor em
Engenharia de Alimentos.
PRODUÇÃO DE MONO E DIACILGLICERÓIS A PARTIR DA
GLICERÓLISE ENZIMÁTICA DE ÓLEO DE OLIVA
Roberta Letícia Krüger
Setembro/2010
Orientadores: Jorge L. Ninow
Marcos L. Corazza
Este trabalho apresenta dados experimentais referentes à glicerólise de
óleo de oliva usando a enzima Novozym 435 em sistema com solvente
orgânico terc-butanol na produção de monoacilgliceróis (MAGs) e
diacilgliceróis (DAGs). Os experimentos foram desenvolvidos em
sistema batelada para o estudo das cinéticas das reações e avaliação dos
efeitos da temperatura (40 a 70ºC), concentração de enzima imobilizada
(2,5 a 15%, m/m, em relação aos substratos), relação molar de
glicerol:óleo (0,33:1; 0,8:1; 3:1; 6:1 e 9:1) e relação volumétrica de
solvente:substratos de 1:1 e 5:1 (v/v). Os resultados mostraram que a
glicerólise catalisada por lipase em meio com terc-butanol pode ser uma
potencial rota para a produção de altos conteúdos de MAGs e DAGs. Os
resultados também mostraram que é possível maximizar a produção de
MAGs e/ou DAGs, dependendo da relação molar de glicerol:óleo
utilizada no sistema reacional. Altos conteúdos de MAGs (~73% m/m) e
DAGs (~56% m/m) foram obtidos usando relação molar de glicerol:óleo
de 9:1 e 0,8:1, e concentrações de enzima de 15 e 10% (m/m),
respectivamente, ambos em 12 horas de reação a 55ºC e 600 rpm. Os
maiores conteúdos da mistura de MAGs + DAGs (~89% m/m) foram
obtidos utilizando relação molar de glicerol:óleo de 6:1, a 70ºC, 600
vi
rpm e concentração de enzima de 10% (m/m). Este trabalho também
apresenta um estudo de modelagem matemática dos dados
experimentais. Reações paralelas de glicerólise e hidrólise foram
consideradas para estimar as constantes da velocidade por minimização
da função objetivo. De um modo geral, correlações satisfatórias foram
obtidas entre os dados experimentais e os modelos propostos, obtendose assim, um melhor entendimento da cinética da reação. A única
condição que não apresentou boa correlação dos dados experimentais
com o modelo foi o uso da relação molar de glicerol:óleo de 9:1. Isto
aconteceu, provavelmente, pelos diversos fenômenos que envolvem o
uso do excesso de glicerol em reações enzimáticas.
vii
Abstract of Thesis presented to Chemistry Engineering and Food
Engineering Program as a partial fulfillment of the requirements for the
Degree of Doctor in Food Engineering.
PRODUCTION OF MONO AND DIACYLGLYCEROLS FROM
ENZYMATIC GLYCEROLYSIS OF OLIVE OIL
Roberta Letícia Krüger
September/2010
Advisors:
Jorge L. Ninow
Marcos L. Corazza
This work reports experimental data regarding the glycerolysis of olive
oil using Novozym 435 in tert-butanol organic system aiming at the
production of monoacylglycerols (MAGs) and diacylglycerols (DAGs).
Experiments were performed in batch mode, recording the reaction
kinetics and evaluating the effects of temperature (40 to 70ºC),
immobilized enzyme concentration (2.5 to 15wt%), glycerol:oil molar
ratio (0.33:1; 0.8:1; 3:1; 6:1 and 9:1) and using tert-butanol:oil/glycerol
volume ratio of 1:1 and 5:1 (v/v). Experimental results showed that
lipase-catalyzed glycerolysis in tert-butanol might be a potential route
for the production of high contents of MAGs and DAGs. Results also
showed that it is possible to maximize the production of MAGs and/or
DAGs, depending on the glycerol to oil molar ratio employed in the
reactional system. Higher contents of MAGs (~73wt%) and DAGs
(~56wt%) were achieved using glycerol to oil molar ratio of 9:1 and
0.8:1, and enzyme concentration of 15 and 10wt%, respectively, both in
12 hours of reaction at 55ºC and 600 rpm. Higher contents of the
mixture of MAGs + DAGs (~ 89%wt%) were achieved using glycerol to
oil molar ratio of 6:1, at 70ºC, 600 rpm, enzyme concentration of 10%
(wt%). This work also reports the kinetic modeling of experimental
data. The glycerolysis and hydrolysis parallel reactions were considered
with rate constants estimated by minimizing a maximum likelihood
viii
function. In general, a satisfactory agreement between experimental data
and model results was obtained, thus allowing a better understanding of
the reaction kinetics. The condition that did not present a good
correlation between the experimental data and the proposed kinetic
model was the relationship molar glycerol:oil of 9:1. This occured,
probably, because the several phenomena involved in the use of excess
glycerol in enzymatic reactions.
ix
SUMÁRIO
página
Agradecimentos................................................................................. iii
Resumo.............................................................................................. vi
Abstract ............................................................................................. viii
Sumário ............................................................................................. x
Lista de Figuras ................................................................................. xiii
Lista de Tabelas................................................................................. xix
Lista de Abreviações ......................................................................... xxiii
Capítulo 1
1
Introdução ............................................................................... 1
Capítulo 2
2
Revisão Bibliográfica.............................................................. 4
2.1 Limites atuais da tecnologia de modificação de óleos
e gorduras ....................................................................... 4
2.2 Azeite de Oliva............................................................... 6
2.3 Glicerol .......................................................................... 7
2.4 Monoacilglicerídeos e diacilglicerídeos ......................... 8
2.5 Glicerólise de óleos vegetais .......................................... 10
2.6 Lipases como catalisadores ............................................ 20
2.7 Glicerólise enzimática de óleos vegetais........................ 21
2.8 Solvente orgânico........................................................... 23
2.9 Cinética de reações enzimáticas ..................................... 24
2.10 Modelagem matemática de reações de glicerólise ......... 26
2.11 Considerações parciais ................................................... 30
Capítulo 3
3
Material e Métodos ................................................................. 32
3.1 Material ......................................................................... 32
3.2 Investigação e desenvolvimento de metodologia para
análise de MAGs, DAGs, TAGs e AGLs ..................... 33
3.2.1 Condições cromatográficas ............................... 33
x
3.3
3.4
3.5
3.6
3.7
3.8
3.9
3.2.2
Preparação e análise das soluções de
calibração ..................................................................... 33
3.2.3 Validação das curvas de calibração .................. 35
Descrição do aparato e procedimento experimental
utilizado nas reações de glicerólise enzimática em
batelada ......................................................................... 35
Preparação e análise das amostras ................................ 37
Estudo da cinética enzimática na presença de
solvente orgânico ......................................................... 37
Determinação das velocidades iniciais ......................... 38
Determinação da atividade enzimática residual ............ 40
Determinação do teor de água ........................................ 41
Modelagem matemática da reação de glicerólise ........... 42
Capítulo 4
4
Resultados e Discussão ........................................................... 44
4.1 Investigação e desenvolvimento de metodologia
para análise de MAGs, DAGs, TAGs e ácidos
graxos livres .................................................................. 44
4.1.1 Preparação e análise das soluções de
calibração ...................................................................... 44
4.1.2 Validação das curvas padrões ............................. 48
4.2 Estudo da cinética enzimática na presença de
solvente orgânico .......................................................... 48
4.2.1 Influência da concentração de enzima
imobilizada no meio reacional ...................................... 51
4.2.2 Influência da temperatura da reação .................. 52
4.2.3 Influência da relação molar glicerol:óleo........... 55
4.2.4 Influência da relação volumétrica de
solvente:substratos (glicerol e óleo) .................. 56
4.2.5 Determinação do erro experimental ................... 60
4.3 Medidas da atividade enzimática ................................... 61
4.3.1 Influência da temperatura e relação molar
glicerol:óleo ...................................................... 61
4.3.2 Influência da concentração de solvente
orgânico terc-butanol no meio reacional ........... 63
4.4 Determinação do teor de água ........................................ 64
4.5 Modelagem matemática ................................................. 65
xi
4.6
4.5.1 Mecanismo cinético 1 ........................................ 65
4.5.1.1 Modelagem matemática de dados da
literatura ............................................... 67
4.5.1.2 Modelagem matemática da reação de
glicerólise enzimática na presença
de solvente terc-butanol ....................... 73
4.5.2 Mecanismo cinético 2 ........................................ 83
Considerações finais ..................................................... 89
Capítulo 5
5
Conclusões .............................................................................. 91
5.1 Sugestões para trabalhos futuros................................... 92
Capítulo 6
6
Referências Bibliográficas ...................................................... 94
Capítulo 7
7
Produção científica.................................................................. 104
7.1 Artigo completo publicado em periódico ........................ 104
7.2 Artigo aceito para publicação.......................................... 104
7.3 Artigo submetido............................................................. 104
7.4 Trabalhos apresentados em Congressos .......................... 104
APÊNDICE A – Cromatogramas ..................................................... 105
APÊNDICE B – Detalhamento dos resultados do estudo cinético ..108
ANEXO 1 – Modelagem matemática utilizando a abordagem do
mecanismo cinético 2................................................... 123
xii
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 2.1 – Estrutura genérica de um TAG. ................................... 7
Figura 2.2 – Estrutura de uma molécula de glicerol......................... 8
Figura 2.3 – Etapas da reação de glicerólise (1 – 3) e hidrólise (4
– 6). Onde: Gly = glicerol e AGL = ácidos graxos livres.................. 11
Figura 2.4 – Tratamento da cinética de reações enzimáticas
utilizando esquema de Cleland. a) ping-pong bi bi; b) seqüencial
ordenado bi bi; c) seqüencial randômico bi bi................................... 26
Figura 3.1 – Vista da unidade experimental para produção
enzimática de MAGs e DAGs via glicerólise enzimática. Onde:
a) reator encamisado; b) banho termostático e c) agitador
mecânico com controle de velocidade............................................... 36
Figura 3.2 – Equipamento utilizado para medida de atividade
enzimática. Onde: a) reator encamisado; b) banho termostático e
c) agitador magnético. ....................................................................... 40
Figura 4.1 – Curva padrão para determinação por cromatografia
da monooleína. Condições cromatográficas utilizadas estão
descritas no item 3.2.1 ....................................................................... 45
Figura 4.2 – Curva padrão para determinação por cromatografia
da dioleína. Condições cromatográficas utilizadas estão descritas
no item 3.2.1 ...................................................................................... 45
Figura 4.3 – Curva padrão para determinação por cromatografia
da trioleína. Condições cromatográficas utilizadas estão descritas
no item 3.2.1 ...................................................................................... 46
Figura 4.4 - Curva padrão para determinação por cromatografia
do ácido oléico. Condições cromatográficas utilizadas estão
descritas no item 3.2.1 ....................................................................... 46
xiii
Figura 4.5 - Perfis obtidos por cromatografia gasosa típicos da
análise de reações de glicerólise. a) tempo zero de reação. b)
tempo de reação: 8h........................................................................... 47
Figura 4.6 - Cinética da reação de glicerólise sem adição de
enzima. Condições: 70ºC, relação molar G:O de 3:1 e 600 rpm e
relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Resultados
em base livre de solvente e glicerol................................................... 51
Figura 4.7 - Cinéticas da reação de glicerólise enzimática
realizadas a 70ºC, relação molar G:O de 3:1, 600 rpm e relação
solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Concentração de
enzima imobilizada Novozym 435 em relação a mistura glicerol
e óleo (m/m): (a) 2,5%, (b) 10% e (c) 15%. Resultados em base
livre de solvente e glicerol ................................................................ .53
Figura 4.8 – Cinéticas da reação de glicerólise enzimática
realizadas com relação molar G:O de 6:1, 10% (m/m) de enzima
imobilizada Novozym 435, 600 rpm e relação solvente:mistura
glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Temperatura de reação: (a) 70ºC, (b)
55ºC e (c) 40ºC. Resultados em base livre de solvente e glicerol ..... 54
Figura 4.9 – Cinéticas da reação de glicerólise enzimática
realizadas a 55ºC, 15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym
435, 600 rpm e relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1
(v/v). Relação molar de G:O: (a) 3:1, (b) 6:1 e (c) 9:1. Resultados
em base livre de solvente e glicerol................................................... 57
Figura 4.10 – (a) Cinéticas da reação de glicerólise enzimática
realizadas a 70ºC, 2,5% (m/m) de enzima imobilizada Novozym
435, 600 rpm, relação molar G:O de 3:1. (b) Cinéticas da reação
de glicerólise enzimática realizadas a 55ºC, 2,5% (m/m) de
enzima imobilizada Novozym 435, 600 rpm, relação molar G:O
de 9:1. Linhas contínuas (1): relação solvente:mistura glicerol e
óleo de 1:1 (v/v). Linhas pontilhadas (2): relação
solvente:mistura glicerol e óleo de 5:1 (v/v). Resultados em base
livre de solvente e glicerol. ............................................................... 58
Figura 4.11 – Cinética da reação de glicerólise enzimática
realizada em triplicata para avaliação do erro experimental.
Condições utilizadas: 40ºC, 10% (m/m) de enzima imobilizada
xiv
Novozym 435, relação molar G:O de 9:1, 600 rpm e relação
solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Resultados em base
livre de solvente e glicerol. ............................................................... 61
Figura 4.12 – Medida das atividades enzimáticas residuais ao
longo da glicerólise enzimática de óleo de oliva. Onde: Condição
A: 70ºC e relação molar G:O de 9:1; Condição B: 70ºC e relação
molar G:O de 0,8:1; Condição C: 40ºC e relação molar G:O de
9:1; Condição D: 40ºC e relação molar G:O de 0,8:1. ...................... 62
Figura 4.13 – Medida das atividades enzimáticas residuais ao
longo da reação de glicerólise enzimática de óleo de oliva. Onde:
Condição E: relação volumétrica solvente:mistura de 1:1 (v/v) e
Condição F: relação volumétrica solvente:mistura de 5:1 (v/v).. ...... 64
Figura 4.14 – Curvas cinéticas obtidas pelos dados
experimentais e pelo modelo para a reação de glicerólise
enzimática com relação molar glicerol:óleo de 4,5:1: (a) sem
solvente e sem adição de água, 40ºC e 10% (m/m) de enzima
imobilizada Novozym 435 em relação aos substratos, (b) sem
solvente e com adição de 2,6% de água (no glicerol), 40ºC e 10%
(m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 em relação aos
substratos e (c) com solvente (relação molar de solvente:óleo de
2:1), 45ºC e 15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435
em relação aos substratos. Parâmetros cinéticos do modelo
conforme apresentado na Tabela 4.4 ................................................. 69
Figura 4.15 – Simulação da reação de glicerólise enzimática a
45ºC, 15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435, relação
molar G:O de 0,8:1 e relação de solvente em óleo de 2:1 (v/v),
utilizando o modelo empregado neste trabalho. Parâmetros
cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela 4.4 ................ 70
Figura 4.16 – Cinética da reação de glicerólise enzimática sem
solvente no meio reacional. Condições: 55ºC, relação molar G:O
de 3:1, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e 600
rpm. Resultados em base livre de glicerol ......................................... 71
Figura 4.17 – Cinéticas da reação de glicerólise enzimática
realizadas a 55ºC, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym
435, 600 rpm e relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1
xv
(v/v). Relação molar G:O: (a) 0,8:1 e (b) 0,33:1. Resultados em
base livre de solvente e glicerol. ....................................................... 72
Figura 4.18 – Avaliação da ordem de reação dos coeficientes de
desativação enzimática (n e q). Condições enzimáticas: 55ºC,
relação molar glicerol:óleo de 9:1, 10% (m/m) de enzima................ 75
Figura 4.19 – Modelo e dados experimentais do efeito da relação
molar de glicerol:óleo na glicerólise enzimática de óleo de oliva
na presença do solvente terc-butanol. Condições experimentais:
55ºC, 15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e
agitação de 600 rpm. Relação molar G:O: (a) 3:1; (b) 6:1; (c)
9:1. Resultados em base livre de solvente e glicerol. Parâmetros
cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela 4.5. ............... 78
Figura 4.20 - Modelo e dados experimentais do efeito da
concentração de glicerol na reação de glicerólise de óleo de oliva
na presença de solvente terc-butanol. Condições experimentais:
relação molar G:O de 9:1, 40ºC, 10% (m/m) de enzima
imobilizada Novozym 435 e agitação de 600 rpm. Resultados em
base livre de solvente e glicerol. Parâmetros cinéticos do modelo
conforme apresentado na Tabela 4.5. ................................................ 79
Figura 4.21 - Modelo e dados experimentais do efeito da relação
molar de glicerol:óleo na glicerólise enzimática de óleo de oliva
na presença do solvente terc-butanol. Condições experimentais:
55ºC, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e
agitação de 600 rpm. Relação molar G:O: (a) 0,8:1; (b) 0,33:1.
Resultados em base livre de solvente e glicerol. Parâmetros
cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela 4.5. ............... 80
Figura 4.22 - Modelo e dados experimentais do efeito da
temperatura na reação de glicerólise de óleo de oliva na presença
de solvente terc-butanol. Condições experimentais: relação molar
G:O de 6:1, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e
agitação de 600 rpm. (a) 40°C; (b) 55°C; (c) 70°C. Resultados
em base livre de solvente e glicerol. Parâmetros cinéticos do
modelo conforme apresentado na Tabela 4.5. ................................... 81
Figura 4.23 - Modelo e dados experimentais do efeito da
concentração de enzima na reação de glicerólise de óleo de oliva
xvi
na presença de solvente terc-butanol. Condições experimentais:
relação molar G:O de 6:1, 70ºC e agitação de 600 rpm.
Concentração de enzima imobilizada Novozym 435 (m/m): (a)
2,5%; (b) 10%; (c) 15%. Resultados em base livre de solvente e
glicerol. Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado
na Tabela 4.5. .................................................................................... 82
Figura 4.24 – Correlação do modelo relativo ao Mecanismo
Cinético 2 com os dados experimentais. Efeito da relação molar
de glicerol:óleo na glicerólise enzimática de óleo de oliva na
presença do solvente terc-butanol. Condições experimentais:
55ºC, 15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e
agitação de 600 rpm. (a) 3:1; (b) 6:1. Parâmetros cinéticos do
modelo conforme apresentado na Tabela An.2 (Anexo).. ................. 84
Figura 4.25 - Correlação do modelo relativo ao Mecanismo
Cinético 2 com os dados experimentais. Efeito da relação de
glicerol:óleo na glicerólise enzimática de óleo de oliva na
presença do solvente terc-butanol. Condições experimentais:
55ºC, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e
agitação de 600 rpm. (a) 6:1; (b) 0,8:1; (c) 033:1. Parâmetros
cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela An.2
(Anexo). ............................................................................................ 86
Figura 4.26 – Correlação do modelo relativo ao Mecanismo
Cinético 2 com os dados experimentais. Efeito da temperatura na
reação de glicerólise de óleo de oliva na presença de solvente
terc-butanol. Condições experimentais: relação molar
glicerol:óleo de 6:1, 10% (m/m) de enzima imobilizada
Novozym 435 e agitação de 600 rpm. (a) 40°C; (b) 55°C; (c)
70°C. Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na
Tabela An.2 (Anexo). ........................................................................ 87
Figura 4.27 – Correlação do modelo relativo ao Mecanismo
Cinético 2 com os dados experimentais. Efeito da concentração
de enzima imobilizada Novozym 435 (m/m) na reação de
glicerólise de óleo de oliva na presença de solvente terc-butanol.
Condições experimentais: relação molar glicerol:óleo de 6:1,
70ºC e agitação de 600 rpm. (a) 2,5%; (b) 10%; (c) 15%.
xvii
Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela
An.2 (Anexo)..................................................................................... 88
Figura 1A – Cromatogramas da cinética da reação de glicerólise
enzimática utilizando solvente terc-butanol, 10% (m/m) de
enzima, 70ºC, relação molar glicerol:óleo de 3:1 e relação
volumétrica de solvente:mistura de 1:1 (v/v). Tempo de reação:
(a) zero; (b) 30 min; (c) 1h; (d) 2h; (e) 4h; (f) 8h e (g) 12h. Onde:
as áreas entre 4,5 a 5,5 min. correspondem a região de glicerol,
de 10,5 a 12,5 min. correspondem a região de ácidos graxos
livres, de 15 a 19 min. correspondem a região de MAGs, de 23 a
28 min. correspondem a região de DAGs e de 30 a 35 min.
correspondem a região de TAGs. ...................................................... 107
xviii
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 2.1 – Alguns dos principais estudos sobre glicerólise
encontrados na literatura ................................................................... 14
Tabela 3.1 – Preparação das soluções de calibração dos
glicérides ........................................................................................... 34
Tabela 3.2 – Preparação das soluções de calibração para ácido
graxo livre ......................................................................................... 34
Tabela 3.3 – Condições utilizadas nas reações de glicerólise com
solvente orgânico terc-butanol. Agitação mecânica de 600 rpm....... 39
Tabela 4.1 - Concentrações das amostras sintéticas e resultados
obtidos por análise em cromatografia gasosa para validação das
curvas de calibração, com os respectivos erros seguidos, entre
parênteses, pelos desvios padrões ..................................................... 49
Tabela 4.2 – Velocidades iniciais das cinéticas estudadas em
relação à formação de MAGs e DAGs e ao consumo de TAGs.
Valores para uma base de cálculo de 100 g de substratos. ................ 50
Tabela 4.3 - Teor inicial de água determinado nos substratos da
reação de glicerólise. Os resultados representam a média seguida
pelo desvio padrão entre parênteses .................................................. 65
Tabela 4.4 – Constantes cinéticas obtidas a partir da modelagem
cinética utilizando os dados de Yang et al. (2005a). ......................... 68
Tabela 4.5 – Constantes cinéticas obtidas na modelagem dos
dados experimentais utilizando a abordagem do mecanismo
cinético 1. .......................................................................................... 76
Tabela 4.6 – Parâmetros estimados pelo modelo cinético
(Equação de redução de atividade enzimática) ................................. 76
xix
Tabela B.1 – Resultados da cinética sem enzima. Condições:
70ºC, relação molar G:O de 3:1 e relação solvente:mistura
glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.6). ........................... 109
Tabela B.2 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 2,5%
de enzima, relação molar G:O de 3:1 e relação solvente:mistura
glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.7a). ......................... 109
Tabela B.3 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 3:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.7b). ................................................................................................. 110
Tabela B.4 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 15%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 3:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.7c)................................................................................................... 111
Tabela B.5 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.8a)................................................................................................... 112
Tabela B.6 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.8b) .................................................................................................. 113
Tabela B.7 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.8c)................................................................................................... 114
Tabela B.8 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 15%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 3:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.9a)................................................................................................... 115
Tabela B.9 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 15%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.9b) .................................................................................................. 116
xx
Tabela B.10 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 15%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.9c)................................................................................................... 117
Tabela B.11 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 2,5%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 3:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 5:1 (v/v) (Referente a Figura
4.10a)................................................................................................. 118
Tabela B.12 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 2,5%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.10b) ................................................................................................ 118
Tabela B.13 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 2,5%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 5:1 (v/v) (Referente a Figura
4.10b) ................................................................................................ 119
Tabela B.14 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.11 – Amostra 1) .............................................................................. 119
Tabela B.15 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.11 – Amostra 2) .............................................................................. 120
Tabela B.16 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.11 – Amostra 3) .............................................................................. 120
Tabela B.17 – Resultados da cinética sem solvente. Condições:
55ºC, 15% (m/m) de enzima e relação molar G:O de 3:1
(Referente a Figura 4.17) .................................................................. 121
Tabela B.18 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 0,8:1 e relação
xxi
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.18a)................................................................................................. .121
Tabela B.19 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 10%
(m/m) de enzima, relação molar G:O de 0,33:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura
4.18b) ................................................................................................ 122
xxii
LISTA DE ABREVIAÇÕES
AGL – Ácido Graxo livre
AOT - (bis (2-etil-hexil) sulfossuccinato de sódio)
DAG – Diglicerídeo ou diacilglicerol
E – Enzima
Eq. - Equação
ET – Enzima total
EC – Enzyme Comission
FA – ácido graxo livre
Gly – Glicerol
G:O – Glicerol:óleo
GRAS – Generally Recognized As Safe
Log P – Logaritmo do coeficiente de partição
ki - Ki*[ ET]
Ki – Constante cinética de velocidade
MAG – Monoglicerídeo ou monoacilglicerol
MSTFA - N-methy-N-trimethysiltrifluoroacetamide
OMS – Organização Mundial da Saúde
TAG – Triglicerídeo ou triacilgliceol
Terc – Terciário
xxiii
- CAPÍTULO 1 -
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, tem surgido um grande interesse nas áreas da
química e da biotecnologia visando obter novos produtos a partir de
óleos e gorduras. Esta tendência pode ser atribuída principalmente ao
fato de que oleoquímicos são derivados de recursos renováveis (óleos
vegetais e gordura animal) (Schmid, 1987; Damstrup et al., 2006a).
Adicionalmente, o uso de enzimas para modificar a estrutura e a
composição de óleos e gorduras vem crescendo consideravelmente nos
últimos anos, caracterizando-se em avanços significativos na área de
biotransformação (Rendón et al., 2001). É neste contexto que surge o
uso de monoacilgliceróis (MAGs) e diacilgliceróis (DAGs) na indústria
alimentícia e farmacêutica. Estes glicerídeos são os emulsificantes mais
utilizados na indústria alimentícia, cosmética (como estabilizantes de
emulsões) e farmacêutica (como ligantes em comprimidos e como
emolientes) (Boyle e German, 1996; Flack, 1970; Bornsceuer, 1995).
Além disso, os DAGs têm grande aplicação como aditivo funcional em
alimentos, trazendo benefícios para saúde, tal como, a redução da
gordura abdominal visceral (Cheong et al., 2007).
Atualmente, a produção de MAGs e DAGs em escala industrial é
realizada pela reação de glicerólise (transesterificação) a partir de
glicerol e triacilgliceróis (TAGs) de óleos vegetais, empregando-se altas
temperaturas (acima de 240ºC) e catalisadores químicos. Os
rendimentos obtidos são relativamente baixos e os produtos são
geralmente de baixa qualidade (Boyle, 1997). Em geral, o produto final
torna-se de cor escura e de odor desagradável, decorrentes da formação
de produtos indesejáveis obtidos devido às reações de polimerização
(Fregolente, 2006).
Por outro lado, os processos enzimáticos destacam-se pelos
benefícios obtidos, pois utilizam baixas temperaturas de operação (40 –
70ºC) e empregam, como catalisadores, lipases específicas aos produtos
que se deseja (no caso, MAGs e DAGs) e o emprego de gorduras
hidrogenadas não se faz necessário por não haver subprodutos de
1
polimerização (Fregolente et al., 2009). Dependendo da metodologia e
da enzima aplicadas pode-se garantir maiores rendimentos em reações
com temperaturas próximas a ambiente, o que proporciona produtos de
qualidade superior, com economia de energia e reduzida ocorrência de
subprodutos (Koblitz, 2003).
A produção destes emulsificantes através da reação de glicerólise
é também de grande interesse econômico e tecnológico por haver a
possibilidade de se utilizar como um dos substratos o glicerol resultante
do processamento de biodiesel, dando a este subproduto novas
aplicações e novos mercados, o que consequentemente tornaria ainda
mais interessante a produção destes biocombustíveis (Felizardo, 2003).
O glicerol, devido à combinação das suas propriedades físicas e
químicas, apresenta uma ampla variedade de aplicações e o fato de ser
atóxico, incolor e inodoro são aspectos apreciados pela indústria de
alimentos.
A glicerólise consiste na reação de um mol de TAG com um mol
de glicerol produzindo um mol de MAG e um mol de DAG. Então, um
mol de DAG reage novamente com um mol de glicerol para a formação
de outros dois moles de MAG (Fregolente, 2006).
Um dos fatores primordiais para viabilidade da reação de
produção de MAGs e DAGs reside no fato de que o glicerol deve estar
disperso no óleo. Devido à natureza polar do glicerol e apolar dos óleos
vegetais, tais compostos apresentam miscibilidade mútua bastante
limitada (Kaewthong e H-Kittikun, 2004). Uma alternativa para
dispersar o glicerol no óleo é utilizar uma molécula com características
polares e apolares, substância esta que pode ser um solvente orgânico.
Um meio reacional com um solvente satisfatório melhora a
miscibilidade entre os substratos e resulta em um sistema mais
homogêneo, com menor resistência à transferência de massa (Pawongrat
et al., 2007).
A partir do contexto acima exposto, o objetivo geral deste
trabalho é realizar um estudo cinético da glicerólise de óleo de oliva
catalisada por uma lipase imobilizada comercial em meio com solvente
orgânico e tratar matematicamente os dados experimentais, buscando a
melhor compreensão possível das etapas que envolvem esta reação para
que seja possível direcionar e maximizar o(s) produto(s) de interesse, de
acordo com as condições reacionais pré-estabelecidas.
Por sua vez, os objetivos específicos envolvem:
2
Investigação e desenvolvimento de metodologia para análise de
MAGs, DAGs, TAGs e ácidos graxos livres.
Estudo do efeito das variáveis do processo (temperatura,
agitação, concentração de enzima, de substratos e de solvente)
Estudos de casos da literatura para avaliação do uso das
ferramentas para modelagem e simulação de processos, no caso
utilizando rotinas do programa MATLAB.
Otimização da produção de MAGs e DAGs utilizando
concentrações mínimas de enzima e solvente orgânico.
Estudo da cinética enzimática na presença de solvente
orgânico.
Medidas de perda de atividade da enzima ao longo da reação.
Modelagem matemática da cinética dos dados experimentais
sem considerar a influencia da presença da enzima no meio
reacional.
Comparar a modelagem desenvolvida com uma modelagem
matemática dos mesmos dados que leva em conta a influencia
da presença da enzima no meio.
3
- CAPÍTULO 2 -
2.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O setor industrial oleoquímico tem apresentado interesse
permanente em desenvolver técnicas capazes de modificar as
propriedades físico-químicas, funcionais e organolépticas das matériasprimas oleosas, ampliando, desta forma, a possibilidade de aplicação de
seus produtos. Tal interesse aplica-se também para a indústria de
biocombustíveis, em especial ao biodiesel, que tem como subproduto do
processo o glicerol, para o qual também se busca aplicações alternativas.
O potencial da biotecnologia para o desenvolvimento de novas rotas de
processos visando à obtenção de produtos conhecidos e/ou novos a
custos mais competitivos vem ao encontro da necessidade destes setores
em alcançar suas metas de expansão.
Este capítulo tem por finalidade reunir informações sobre
reações de glicerólise para obtenção de MAGs e DAGs, por via
enzimática e com solvente orgânico, bem como informações pertinentes
sobre os mecanismos cinéticos envolvidos que auxiliarão no tratamento
matemático dos dados experimentais apresentados no Capítulo 4.
2.1 Limitações atuais da tecnologia de modificação de óleos e
gorduras
Óleos e gorduras são ésteres de ácidos carboxílicos com o
glicerol, denominados triglicerídeos ou triacilgliceróis (TAGs),
substâncias constituídas por uma molécula de glicerol ligada à três
moléculas de ácidos graxos. A natureza física destes compostos é
definida pelo comprimento da cadeia, pelo grau de insaturação e pela
distribuição dos radicais. Os TAGs são os principais componentes de
qualquer gordura animal ou vegetal. Dependendo da origem do óleo, o
conteúdo em TAGs e ácidos graxos pode variar significativamente
(Moretto e Fett, 1998).
4
Óleos e gorduras têm um papel fundamental na alimentação
humana. Além de fornecerem calorias, agem como veículo para as
vitaminas lipossolúveis, como A, D, E e K. Também são fontes de
ácidos graxos essenciais como o linoléico, linolênico e araquidônico e
contribuem para a palatabilidade dos alimentos (Karleskind, 1996; Gurr
e Harwood, 1996).
Desde os anos 80 tem surgido um crescente interesse na
tecnologia de modificação dos óleos e gorduras. Esta tendência pode ser
atribuída principalmente ao fato desses materiais serem obtidos de
fontes naturais e empregados como importantes matérias-primas para as
indústrias químicas, farmacêuticas e alimentícias (de Castro et al.,
2004).
Os óleos e gorduras naturais podem ser o único constituinte de
um produto ou podem fazer parte da mistura de diversos constituintes
em um composto. Existem casos, entretanto, que se torna necessário
modificar as características desses materiais, para adequá-los a uma
determinada aplicação.
Portanto, o setor industrial de óleos e gorduras tem desenvolvido
diversos processos para manipular a composição das misturas de TAGs.
A estrutura básica dos óleos e gorduras pode ser modificada, por meio
da síntese de ésteres para produção de emulsificantes (esterificação),
pela modificação química dos ácidos graxos (hidrogenação), pela
reversão da ligação éster (hidrólise) e reorganização dos ácidos graxos
na cadeia principal do TAG (interesterificação) (Hammond e Glatz,
1988). Sem levar em consideração os outros processos existentes, como
o fracionamento, pode-se afirmar que as limitações na obtenção desses
produtos estão associadas aos tipos de catalisadores químicos
empregados, que são pouco versáteis e requerem altas temperaturas para
atingir razoável velocidade de reação. Além disso, possuindo baixa
especificidade, geralmente fornecem produtos de composição química
mista ou contaminada, que requerem uma etapa posterior de purificação.
Nesse contexto, o enfoque biotecnológico vem se apresentando
como uma alternativa atrativa para exploração na indústria de óleos e
gorduras, principalmente quando são consideradas algumas das
vantagens dessa rota, tais como maior rendimento do processo, obtenção
de produtos biodegradáveis, menor consumo de energia, redução da
quantidade de resíduos e introdução de rotas mais acessíveis de
produção (de Castro et al., 2004).
5
2.2 Azeite de oliva
Dentre os óleos vegetais comestíveis comercializados
mundialmente, o azeite de oliva (Olea europeae sativa) é um dos mais
importantes e antigos, sendo largamente empregado nos países que
margeiam o Mediterrâneo. Dentre os óleos vegetais não refinados, o
óleo de oliva apresenta um dos mais apreciados flavours. Apresenta
ainda algumas propriedades nutricionais que fazem com que os
habitantes do Mediterrâneo tenham menor incidência de doenças
coronarianas do que povos de outras regiões que consomem mais
gorduras saturadas (Kiritsakis e Markakis, 1987).
O azeite de oliva contém aproximadamente 90% de ácidos graxos
insaturados, sendo o principal componente o monoinsaturado ácido
oléico. Seu conteúdo de ácidos graxos poliinsaturados é de nível baixo,
aproximadamente 10%. Tanto a polpa como a semente contém óleo e é
interessante notar que o óleo da semente e o da polpa do fruto da
oliveira são idênticos em composição (Moretto e Fett, 1998).
A composição do azeite de oliva extra virgem é resultante de uma
interação complexa entre as variedades de olivas, condições ambientais,
grau de maturidade do fruto e tecnologia de extração. O azeite extra
virgem é o único que não é extraído por solventes, sendo obtido por
prensagem a frio da oliva. Este azeite conserva seus componentes
originais, entre os quais os polifenóis, característicos pelo odor do
azeite. No entanto, quando o processamento inclui o uso de solventes
(azeites refinados), boa parte destes compostos fenólicos é perdida. Isto
ocorre também quando o azeite é alcalinizado para reduzir a acidez,
constituindo assim em perda de qualidade do produto (Angelis, 2001).
O azeite de oliva, como a maioria de óleos e gorduras
comestíveis, é composto por duas frações: a fração saponificável
(glicerídica) e a insaponificável (não glicerídica). Os compostos
glicerídicos incluem os TAGs, DAGs, MAGs e fosfolipídeos (RuizGutierrez e Pérez-Camino, 2000). A fração saponificável do azeite de
oliva, como na maioria dos óleos vegetais, representa em torno de 9899% da composição do óleo, sendo os TAGs os principais componentes
(95 - 98%), ou seja, ésteres de ácidos graxos e glicerol (Aued-Pimentel,
1991). Na Figura 2.1 é apresentada a estrutura genérica de um TAG. A
maioria dos TAGs encontrados em óleos são mistos, ou seja, os resíduos
6
de ácidos graxos (R1, R2, R3) são todos diferentes ou somente dois são
iguais.
Figura 2.1 – Estrutura genérica de um TAG.
Os principais ácidos graxos presentes no azeite de oliva são:
ácido oléico (C18:1), ácido linoléico (C18:2), ácido palmítico (C16:0),
ácido palmitoléico (C16:1) e ácido esteárico (C18:0). Outros ácidos
graxos, como o ácido linolênico (C18:3), normalmente estão presentes
na constituição do azeite de oliva, mas em quantidades inferiores a 1%
(Codex Alimentarius, 2003). Já os compostos não glicerídicos incluem
os hidrocarbonetos, ácidos graxos livres, ceras, ésteres etílicos e
metílicos de ácidos graxos, esteróis, álcoois e diálcoois triterpênicos e
outros constituintes e contaminantes, tais como fenóis e metais (RuizGutierrez e Pérez-Camino, 2000).
2.3
Glicerol
O glicerol (1,2,3-propanotriol) pode ser encontrado em todas as
gorduras e óleos, sendo um importante intermediário no metabolismo
dos seres vivos. O termo glicerol aplica-se geralmente ao composto
puro, ou seja, ao 1,2,3-propanotriol, enquanto o termo glicerina aplicase aos produtos comerciais que contenham 95% (m/m) ou mais de
glicerol na sua composição. Vários níveis e designações de glicerina
estão disponíveis comercialmente. Eles diferem um pouco em seu
conteúdo de glicerol e em outras características, tais como cor, odor e
impurezas. O termo glicerina loira tem sido utilizado para designar a
glicerina oriunda dos processos de produção do biodiesel, onde a fase
glicerinosa sofreu um tratamento ácido para neutralização do catalisador
e remoção de ácidos graxos eventualmente formados no processo. Em
geral, esta glicerina contém cerca de 80% (m/m) de glicerol, além de
7
água, metanol e sais dissolvidos (Mota et al., 2009). A estrutura
genérica de uma molécula de glicerol encontra-se na Figura 2.2.
Figura 2.2 – Estrutura de uma molécula de glicerol.
A glicerina natural, produzida a partir de óleos e gorduras, pode
ser obtida como subproduto na produção de sabões, biocombustíveis,
ácidos graxos e alcoóis de ácidos graxos, entre outros. A glicerina pode
ser vendida na sua forma bruta (glicerina natural), sem qualquer
purificação, ou ainda, comercializada na forma de padrão analítico (PA).
A partir de 1995, a crescente oferta de glicerol, produzido como
subproduto da produção de biodiesel, ocasionou uma diminuição no seu
preço de mercado. Tornou-se, desta forma, necessário buscar novas
aplicações para a utilização da glicerina (Felizardo, 2003).
Devido à combinação das suas propriedades físicas e químicas, a
glicerina apresenta uma vasta gama de aplicações. O fato de ser atóxica,
incolor e inodora faz desta uma substância apreciada pela indústria em
geral. Além disso, a glicerina pode ser utilizada como amaciante em
pães e a sua viscosidade permite sua utilização em xaropes (Ullmanns,
1992).
2.4
Monoacilgliceróis e Diacilgliceróis
Os monoglicerídeos ou monoacilgliceróis (MAGs) e os
diglicerídeos ou diacilgliceróis (DAGs) são os produtos mais valiosos
que se obtém em reações de glicerólise (Moquin et al., 2006). MAGs
são moléculas constituídas por uma molécula de glicerol ligada a uma
molécula de ácido graxo. DAGs, por sua vez, são moléculas constituídas
por uma molécula de glicerol ligada a duas moléculas de ácido graxo.
Por apresentarem um balanço hidrofílico-hidrofóbico em suas estruturas
(sendo o glicerol hidrofílico e o ácido graxo hidrofóbico), os MAGs ou
misturas deste com DAGs possuem importantes aplicações industriais,
representando de 70 a 75% de todos os emulsificantes sintéticos
8
utilizados nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética (FerreiraDias et al., 2001; Damstrup et al., 2005; Moquin et al., 2005; Cheirsilp
et al., 2007).
O campo de aplicações destes compostos em alimentos é variado:
emulsificantes, estabilizantes, umectantes e moléculas condicionadoras,
em produtos de padaria, margarinas, produtos derivados de leite e
confeitaria, entre outros, além de serem usados também como agentes
encapsulantes, lubrificantes, em pastas dentais e em produtos para pele e
cabelos (Boyle, 1997; Jackson e King, 1997; Noureddini et al., 2004;
Moquin et al., 2005; Damstrup et al., 2005). Todas essas aplicações são
atribuídas principalmente aos MAGs devido a sua característica aniônica
e estabilidade tanto em meio ácido quanto em meio básico (Boyle,
1997). Eles também são de grande interesse em química orgânica
sintética onde são utilizados como intermediários sintéticos e como
blocos de construção quiral (Pawongrat et al., 2007). Bellot et al. (2001)
e Kaewthong e H-Kittikun (2004) afirmam ainda que, devido às
propriedades lubrificantes e plastificantes, os MAGs são também
utilizados em processos têxteis e produção de plásticos.
Devido à importância mundial dos MAGs e os seus derivados
como aditivos ativos na superfície em uma gama extensiva de alimentos,
considerável atenção foi dada recentemente para melhorar sua síntese.
Os DAGs estão naturalmente presentes como componentes
secundários em vários óleos e gorduras comestíveis, são conhecidos
como aditivos funcionais em alimentos, na medicina e em indústrias de
cosméticos, às vezes associados com MAGs. Os DAGs foram aprovados
pela United States Food and Drug Administration (USA FDA) para uso
como emulsificante e aceito como Generally Recognized As Safe
(GRAS) (Geralmente Reconhecido como Seguro) em 2000 e aprovados
para diversas aplicações em alimentos. Recentemente, produtos lipídicos
contendo mais que 80% de DAGs adicionados aos alimentos foram
relacionados com diversos benefícios à saúde. No Japão, os DAGs
foram aprovados para venda como um Food for Specified Health Use
(FOSHU) (Alimento para Uso Específico em Saúde) em 1999 (Blasi et
al., 2007).
Recentemente, mostrou-se que os DAGs têm efeitos benéficos na
prevenção e administração da obesidade comparados com os TAGs,
principais compostos de óleos comestíveis (Kasamatsu et al., 2005).
Estudos clínicos mostram que óleos ricos em DAGs previnem o
9
acúmulo de gordura no corpo, especialmente gorduras viscerais
(Watanabe et al., 2001; Nagao et al., 2000).
O gosto e as propriedades físico-químicas dos DAGs são
comparáveis àqueles óleos vegetais disponíveis tradicionalmente (Soni
et al., 2001), uma vez que são estruturalmente muito similares
(Fregolente et al., 2009). Taguchi et al. (2001) mediram o valor
energético de DAGs e TAGs através de uma bomba calorimétrica, onde
obtiveram valores de 9,30 e 9,46 kcal/g, respectivamente, entretanto,
não observou-se diferença significativa na taxa de absorção pelo
organismo, que para ambos foi de 96,3%. Assim, justificam que a
característica dos DAGs em reduzir o acúmulo de gordura corporal não
é causada por diferenças no valor energético ou na taxa de absorção,
mas nos diferentes mecanismos metabólicos de TAGs e DAGs.
Pesquisas realizadas com ratos relatam que, ao contrário dos TAGs que
em excesso no organismo são estocados em forma de gordura
localizada, os DAGs são facilmente utilizados pelo organismo como
fonte de energia (Maki et al., 2002; Yasunaga et al., 2004). Kasamatsu
et al. (2005) afirmam que sucessivos aquecimentos e resfriamentos de
DAGs não apresentam efeitos genotóxicos, como ocorrem
tradicionalmente com óleos vegetais convencionais.
Os MAGs e DAGs são surfactantes não-iônicos e são os
principais tipos de emulsificantes alimentícios. São consumidos em um
nível anual de 85 milhões de quilogramas nos Estados Unidos, em
produtos alimentícios. As diretivas da Organização Mundial de Saúde
(OMS) requerem que estas misturas (EEC, código 471) tenham pelo
menos 70% de MAGs + DAGs, e um mínimo de 30% em MAGs, e que
os conteúdos de glicerol e TAGs estejam abaixo de 10%. Os MAGs
também são emulsificantes com estado GRAS (Arcos e Otero, 1996).
2.5 Gicerólise de óleos vegetais
Glicerólise é a reação que produz MAGs e DAGs a partir de
moléculas de glicerol ligadas à moléculas de TAGs. Esta reação pode
ser representada pelas seis etapas da Figura 2.3, sendo que as etapas
representadas pelas Equações (2.1) a (2.3) indicam as reações
envolvidas na glicerólise e as etapas representadas pelas Equações (2.4)
10
a (2.6) indicam as reações de hidrólise que podem ocorrer paralelamente
caso haja água suficiente no meio.
TAG Gly MAG DAG
k1
(2.1)
k2
DAG Gly 2MAG
(2.2)
TAG MAG 2 DAG
(2.3)
k3
k4
k5
k6
TAG H 2O DAG AGL
(2.4)
DAG H 2O MAG AGL
(2.5)
k7
k8
k9
k10
MAG H 2O Gly AGL
k11
(2.6)
k12
Figura 2.3 - Etapas da reação de glicerólise (2.1 – 2.3) e hidrólise (2.4 –
2.6). Onde: Gly = glicerol e AGL = ácidos graxos livres.
Como mostrado na Figura 2.3, um mol de TAG reage com um
mol de glicerol produzindo um mol de MAG e um mol de DAG. Então,
um mol de DAG reage novamente com um mol de glicerol para a
formação de outros dois moles de MAGs (Fregolente, 2006). Ou seja,
teoricamente, a glicerólise de um mol de TAG e dois moles de glicerol
pode produzir três moles de MAGs, entretanto, o rendimento em MAGs
depende do equilíbrio estabelecido em diferentes condições (Cheirsilp et
al., 2007). Por exemplo, se o interesse for a produção de DAGs, usa-se
TAGs em excesso no meio reacional e assim, um mol de TAG reage
com um mol de MAG e forma dois moles de DAGs.
A presença de água no sistema, se controlada, pode aumentar a
conversão de TAGs em DAGs (Equação (2.4)) e este em MAGs
(Equação (2.5)), mas se não houver controle na quantidade de água
presente, estes substratos podem ser convertidos em ácidos graxos livres
(Equação (2.6)). Cabe salientar que as etapas de hidrólise podem ocorrer
paralelamente a de glicerólise e que a partir de baixas concentrações de
11
água no meio, ácidos graxos livres já começam a ser formados. Às
vezes, a água é inadequadamente incorporada ao meio devido à natureza
hidrofílica do glicerol, o qual pode absorvê-la durante a reação (Temelli
et al., 1996). Além disso, o teor de água em estudos de enzimas em
meio orgânico é uma etapa fundamental, uma vez que esta definirá, por
exemplo, algumas propriedades da enzima, como atividade, estabilidade
e especificidade. Sabe-se que certa quantidade de água é necessária para
preservar ativa a conformação da enzima, por outro lado, o excesso de
água no meio reacional promove a hidrólise dos substratos e a
diminuição do rendimento dos produtos da glicerólise (Zheng et al.,
2009; Kumari et al., 2009). Moquin et al. (2005), em seu estudo de
glicerólise utilizando dióxido de carbono supercrítico consideraram a
presença de até 8% (m/m) de água no meio reacional positiva em
relação ao aumento da formação de MAGs. Por outro lado, Yadav e
Devi (2004) em seu estudo de hidrólise de oleína de palma pela lipase
imobilizada Lipozyme TL para a produção de ácidos graxos,
encontraram que concentrações acima de 3,6% (m/m) de água no meio
reacional começam a inibir a atividade da enzima. De acordo com estes
mesmos autores, adição de água acima do limite crítico aumenta a
espessura da camada de água formada ao redor da enzima. Isto prejudica
o contato dos substratos com o centro ativo da enzima (Kumari et al.,
2009). Para Zheng et al. (2009), a concentração de água encontrada
como limite para o início da inativação da enzima foi de 2% (m/m) no
meio reacional.
Os processos comerciais para a produção de MAGs e DAGs
utilizam glicerólise contínua de gorduras e óleos vegetais usando
catálise inorgânica alcalina, tais como NaOH, Ca(OH)2 ou CaO,
requerem alta demanda energética por serem conduzidos a altas
temperaturas (200 – 260ºC), produzindo, dependendo da relação molar
entre glicerol e triglicerídeos utilizada no meio reacional, de 35 a 60%
(m/m) de MAGs, 35 a 55% (m/m) de DAGs; 1 a 20% (m/m) de TAGs e
1 a 10% (m/m) de ácidos graxos livres (Ferreira-Dias et al., 2001;
Damstrup et al., 2005; Cheirsilp et al., 2007; Freitas et al., 2008). Este
processo de produção apresenta algumas desvantagens: baixa
produtividade, dificuldade de obtenção de produtos puros e o uso de
altas temperaturas, o que pode ocasionar sabor e coloração indesejáveis
(Boyle, 1997; Bellot et al., 2001; Damstrup et al., 2005). Além disso,
catalisadores químicos causam outros problemas, tais como, corrosão de
12
equipamento, perigo de queimaduras aos operadores, não são
reutilizáveis, a neutralização do volume reagido gera quantidades
relativamente grandes de sais, entre outros.
Ao final deste processo é necessária a purificação por destilação
molecular não somente para remoção de impurezas como também para
concentrar MAGs e DAGs a uma concentração maior que 90% (m/m)
(Kaewthong e H-Kittikun, 2004) (uma vez que a Organização Mundial
da Saúde requer que o produto final contenha abaixo de 10% (m/m) de
glicerol mais TAGs). Este método de separação não se trata de uma
destilação propriamente dita, pois nesta técnica a separação dos
compostos ocorre pela diferença de suas massas moleculares, e não
através de equilíbrio entre fases. Assim sendo, a destilação molecular é
considerada um processo de não equilíbrio (Batistela e Maciel, 1996;
Micov et al., 1997). O uso deste processo é de grande gasto energético,
o que acaba sendo mais uma desvantagem para o processo de glicerólise
convencional (Chew et al., 2008). Para separação e purificação dos
acilgliceróis (TAGs, DAGs, MAGs, AGLs e glicerol) formados na
reação enzimática, a técnica de destilação convencional não é
recomendada, pois esses compostos podem sofrer degradação e
oxidação quando expostos às elevadas temperaturas (Guo e Xu, 2006).
Em geral, MAGs são os produtos mais abundantes da reação de
glicerólise, com uma concentração que não chega a passar dos 58%
(m/m) (Noureddini et al., 2004). Para aumentar este rendimento, um
melhor entendimento da cinética da reação é necessário e métodos
alternativos de condução da reação têm ganhado força. Recentemente,
tem se destacado na literatura o interesse pelo desenvolvimento de
processos enzimáticos que possam substituir as tradicionais rotas
químicas para a produção de MAGs e DAGs.
Na Tabela 2.1 apresenta-se um resumo de algumas das principais
publicações em glicerólise, com o objetivo de ter-se uma visão geral dos
estudos já realizados para a produção de emulsificantes a partir da
reação de glicerol com óleos vegetais.
13
Tabela 2.1 – Alguns dos principais estudos sobre glicerólise encontrados na literatura.
Referência
Temelli et
al. (1996)
Óleo
vegetal
(relação
molar
G:O)
Óleo de
soja
(25:1)
Tüter e
Aksoy
(2000)
Óleo de
palma
Condições
de reação
Catalisador
Solvente
orgânico
Surfactante
Tempo
de
reação
(h)
Rendimento
250ºC, 4%
de água no
glicerol
(m/m), 20,7
MPa
-
CO2
supercrític
o
-
4
0,13 moles
MAG/100g
amostra
40ºC, 1300
rpm
Lipase
(Humicola
lanuginosa)
-
-
24
18% MAG
38% DAG
(m/m)
-
-
24
31% MAG
42% DAG
(m/m)
(1:2)
(500 U/g
óleo)
Tüter e
Aksoy
(2000)
Óleo de
palmito
(1:2)
40ºC, 1300
rpm
Lipase
(Humicola
lanuginosa)
(500 U/g
óleo)
(Continua)14
(Continuação Tabela 2.1)
Referência
Óleo
vegetal
(relação
molar
G:O)
Oleína
de Palma
(8:1)
Condições
de reação
Catalisador
Solvente
orgânico
Surfactante
Tempo
de
reação
(h)
Rendimento
45ºC, 300
rpm, 10%
de água no
glicerol
(m/m)
Lipase PS
(Pseudomonas sp.) (50%
em relação a
oleína – m/v)
-
16
55,7% MAG
21,2% DAG
(m/m)
Noureddini
et al. (2004)
Óleo de
soja
(2,5:1)
230ºC, 3600
rpm, reator
contínuo
(40mL/min)
0,18% de
NaOH (em
relação ao
óleo – m/m)
Acetona +
isooctano
(3:1– v/v).
Uso de
10% (m/v)
de óleo no
solvente
-
-
0,5
(tempo
de residência)
58% MAG
36% DAG
(m/m)
Yang et al.
(2005a)
Óleo de
girassol
(4,5:1)
40ºC, 500
rpm, 2,6%
(m/m) de
água no
glicerol
Novozym 435
(15% na
mistura G:O –
m/m)
-
-
8
10% MAG
32% DAG
(m/m)
Kaewthong
e HKittikun
(2004)
(Continua)
15
(Continuação Tabela 2.1)
Referência
Yang et al.
(2005a)
Damstrup et
al. (2005)
Óleo
vegetal
(relação
molar
G:O)
Óleo de
girassol
(4,5:1)
Condições
de reação
Catalisador
Solvente
orgânico
Surfactante
Tempo
de
reação
(h)
Rendimento
45ºC, 500
rpm
Novozym 435
tercbutanol
-
3
70% MAG
20% DAG
(m/m)
Óleo de
girassol
(4:1)
50ºC, com
agitação
magnética
-
1
74% MAG
23% DAG
(m/m)
(15% na
mistura G:O –
m/m)
Novozym 435
(30% em
relação ao
óleo – m/m)
(solvente:
óleo, 2:1 –
m/m)
tercpentanol
(solvente:
mistura,
4:1– m/m)
(Continua)
16
(Continuação Tabela 2.1)
Referência
Damstrup et
al. (2006a)
Moquin et
al. (2006)
Óleo
vegetal
(relação
molar
G:O)
Óleo de
girassol
(5:1)
Condições
de reação
Catalisador
Solvente
orgânico
Surfactante
Tempo
de
reação
(h)
Rendimento
40ºC, com
agitação
magnética
Novozym 435
(30% em
relação ao
óleo – m/m)
tercbutanol
+tercpentanol
(8:2 – v/v)
(solvente:
mistura,
2:1– m/m)
-
0,5
55,4% MAG
17% DAG
(m/m)
Óleo de
canola
(34:1)
250ºC, 8%
(m/m) de
água no
meio
reacional,
20 MPa
-
CO2
supercrítico
6
0,16 moles
MAG e 0,05
moles DAG
/100g óleo
(Continua)
17
(Continuação Tabela 2.1)
Referência
Fiametti
(2008)
Óleo
vegetal
(relação
molar
G:O)
Óleo de
oliva
Condições
de reação
Catalisador
Solvente
orgânico
Surfactante
Tempo
de
reação
(h)
70ºC, 600
rpm
Novozym 435
(7,5% na
mistura G:O –
m/m)
-
AOT (16%
na mistura
G:O – m/m)
2
61,1% MAG
(m/m)
(2:1)
Rendimento
Esmelindro
et al. (2008)
Óleo de
oliva
(2:1)
30ºC, 30
bar, 600
rpm
Novozym 435
(10% na
mistura G:O –
m/m)
propano
supercrítico
(solvente:
mistura,
4:1 –m/m)
AOT (10%
na mistura
G:O – m/m)
1
60% MAG
(m/m)
Valério et
al. (2009a)
Óleo de
oliva
(6:1)
70ºC, 600
rpm
Novozym 435
(9% na
mistura G:O –
m/m)
-
Triton-X
100
(15% na
mistura
G:O)
6
31,1% MAG
16,4% DAG
(m/m)
(Continua)
18
(Continuação Tabela 2.1)
Referência
Fregolente
et al. (2009)
Óleo
vegetal
(relação
molar
G:O)
Óleo de
soja
(8:1)
Condições
de reação
Catalisador
Solvente
orgânico
Surfactante
Tempo
de
reação
(h)
Rendimento
70ºC, 300
rpm,
Novozym 435
(2% em
relação ao
óleo – m/m)
-
-
24
24,3% MAG
48,2% DAG
(m/m)
Novozym 435
(7,5% na
mistura G:O –
m/m)
n-butano
supercrítico
(solvente:
mistura,
4:1–m/m)
AOT (7,5%
na mistura
G:O – m/m)
2
>65% MAG
(m/m)
3,5% de
água
Valério et
al. (2009b)
Óleo de
oliva
(2:1)
70ºC, 10
bar, 600
rpm
19
As principais vantagens destes processos catalisados por enzimas
são as condições amenas de temperatura e de pH utilizadas, ou seja,
baixas temperaturas e pH próximo do neutro (Ferreira-Dias et al., 2003).
Tais condições diminuem o consumo energético e minimizam a
ocorrência de reações indesejadas de polimerização. Além destas
vantagens, pesquisadores podem explorar a seletividade das lipases em
relação aos ácidos graxos e sua regioseletividade pela primeira posição
das moléculas de glicerol (posição α) em relação à segunda (posição β)
(Bornscheuer, 1995; Fregolente, 2006).
Como se observa na Tabela 2.1, além da glicerólise enzimática,
há outros estudos, como por exemplo, o uso da tecnologia de fluidos
supercríticos e/ou gases pressurizados como solventes (Temelli et al.,
1996; Moquin et al., 2006b; Esmelindro et al., 2008; Valério et al.,
2009b) que também procuram melhorar o rendimento e a qualidade dos
produtos obtidos. Porém, fica evidente que o maior número de estudos
em glicerólise envolvem a aplicação de lípases, principalmente da
enzima Novozym 435.
2.6 Lipases como catalisadores
A biotransformação pode ser aplicada às modificações
específicas ou interconversões da estrutura química realizadas por
catalisadores bioquímicos. Os óleos e gorduras são matérias-primas
versáteis para a aplicação desta tecnologia, sendo diversos os processos
implementados em escala comercial (de Castro et al., 2004).
O interesse industrial por tecnologias enzimáticas vem
aumentando gradativamente, principalmente nas áreas de engenharia de
proteínas e enzimologia em meios não convencionais, as quais
ampliaram consideravelmente o potencial de aplicação das enzimas
como catalisadores em processos industriais. As razões do enorme
potencial biotecnológico dessa enzima incluem fatos relacionados com:
i) modificação de óleos e gorduras; ii) especificidade em sínteses
orgânicas; iii) alta estabilidade em solventes orgânicos; iv) não
requerem a presença de co-fatores; v) melhora do flavor de alimentos
processados e vi) exibem uma alta enantiosseletividade. O
reconhecimento dessas vantagens tem proporcionado um aumento
considerável na produção e comercialização de lipases, resultando no
20
desenvolvimento de tecnologias alternativas consistentes para utilização
no setor industrial (de Castro et al., 2004).
As lipases são enzimas classificadas como hidrolases (glicerol
éster hidrolases, E.C. 3.1.1.3) e atuam sobre a ligação éster de vários
compostos, sendo os acilgliceróis seus melhores substratos. São
comumente encontradas na natureza, podendo ser obtidas a partir de
fontes animais, vegetais e microbianas. Catalisam a hidrólise de TAGs
de cadeia longa, levando à formação de ácidos graxos, MAGs, DAGs e
glicerol. A hidrólise de TAGs utilizando lipases é uma reação reversível
e, portanto, o equilíbrio pode ser alterado através da variação da
concentração de reagentes e/ou produtos (Abdel-Fattah e Gaballa,
2008).
As lipases podem catalisar não só hidrólises de óleos e gorduras,
mas, também, várias reações reversas, tais como, esterificação e interesterificação, entre outras (Blasi et al., 2007). Lipases são proteínas com
atividade de superfície considerável. Seus substratos naturais são
acilgliceróis de cadeia longa que têm baixa solubilidade aquosa (Reis et
al., 2006). A aplicação de lipases é ainda, limitada pelo alto custo da
enzima. A imobilização de lipases pode minimizar o problema de alto
custo destas enzimas, uma vez que assim, tornam-se de fácil separação
dos produtos e podem ser reutilizadas várias vezes ou ainda utilizadas
em processos contínuos (H-Kittikun et al., 2000; Kaewthong et al.,
2005). A aplicação de lipases imobilizadas está se mostrando de grande
interesse em indústrias de oleoquímica, pelas vantagens sob reações
químicas convencionais (Chew et al., 2008).
McNeill et al. (1992) já consideravam interessante o processo
de síntese de MAGs a partir de TAGs utilizando lipases como
catalisadores, pela alta especificidade e atividade em temperaturas
relativamente baixas, em sistemas com solvente orgânico com baixo
conteúdo de água. Estes autores também concordam que a qualidade dos
MAGs obtidos por via enzimática é superior em relação à síntese por via
química.
2.7 Glicerólise enzimática de óleos vegetais
A glicerólise de óleos e gorduras catalisada por lipases tem
atraído interesse em diversas pesquisas e também na indústria, e
acredita-se ser um método alternativo prático para os métodos químicos
21
na produção de MAGs e DAGs comerciais. As principais vantagens
destes processos catalisados por enzimas são as condições amenas
utilizadas de temperatura e de pH (próximo ao neutro) (Ferreira-Dias,
2003). Tais condições diminuem o consumo energético e minimizam a
ocorrência de reações indesejadas de polimerização (Chew et al., 2008).
Além destas vantagens, pesquisadores podem explorar a seletividade das
lipases em relação aos ácidos graxos e sua regioseletividade pela
primeira posição das moléculas de glicerol (posição α) em relação à
segunda (posição β).
A glicerólise enzimática de TAGs com lipase pode apresentar
rendimentos de 30 a 70% em MAGs (McNeil e Yamane, 1991;
Bornscheuer, 1995; Kaewthong e H-Kittikun, 2004).
Uma reação típica de glicerólise (sem catalisador) é chamada de
reação de estado sólido, onde são utilizadas temperaturas baixas, sendo a
reação muito longa, ou seja, com velocidade baixa (mais de uma
semana), tornando-se não atrativa do ponto de vista industrial. Em
sistemas livres de solvente é difícil alcançar alta produção de MAGs na
glicerólise enzimática (Yang et al., 2005a).
O sistema de glicerólise com lipase imobilizada como catalisador
pode ser considerado um sistema de três fases: uma fase hidrofóbica de
óleo, uma fase hidrófila de glicerol, e uma fase sólida de enzima. Com
as características comumente mais hidrófilas da enzima, o glicerol se
liga frequentemente às partículas de enzima de forma que o acesso das
moléculas de óleo para a enzima é dificultado. A transferência de massa
de glicerol em relação ao sistema também é limitada. Devido a esta
razão, a eficiência da reação é normalmente baixa, embora esta possa ser
melhorada por uma otimização em uma concentração menor de glicerol.
Outra opção pode ser imobilizar o glicerol em sílica-gel e assim, o
glicerol fica presente no meio reacional sem estar livre para aderir
imediatamente à enzima e formar a “capa” que dificulta o contato com o
óleo, ou ainda, o uso de um solvente para melhorar a homogeneidade do
meio (Yang et al., 2005b).
Vários estudos têm demonstrado a eficiência da glicerólise
enzimática, embora processos industriais ainda apresentam dificuldades
para implantá-la devido à falta de eficiência, causada principalmente
pelo longo tempo de reação que é atribuído à baixa miscibilidade entre o
glicerol e o óleo (Damstrup et al., 2005).
Cabe reforçar que do ponto de vista ambiental, o processo
enzimático é tecnicamente limpo e seguro. Neste contexto, diferentes
22
alternativas têm sido propostas com relação à síntese enzimática de
MAGs e DAGs, desde novas e fartas fontes de lipases, aperfeiçoamento
de métodos de imobilização destas, novas configurações de reatores e
utilização de agentes que aumentem a miscibilidade entre os reagentes,
como por exemplo, uso de solventes orgânicos (Freitas et al., 2008) e
fluidos pressurizados (Moquin et al., 2005; Esmelindro et al., 2008;
Valério et al., 2009b; Valério et al., 2010).
2.8
Solvente Orgânico
O glicerol é hidrofílico e insolúvel em óleos e acaba sendo
facilmente adsorvido na superfície de lipases imobilizadas, podendo
prejudicar a atividade da enzima e a estabilidade da reação (Su e Wei,
2008). O uso de solventes orgânicos aliados à alta agitação do meio são
ferramentas que podem ser utilizadas para minimizar esta situação
durante as reações de glicerólise.
Damstrup et al. (2005) afirmam que ao optar por glicerólise via
enzimática sem o uso de solventes no sistema, longos tempos de reação
e baixas conversões, em geral são atribuídos à baixa miscibilidade entre
o glicerol (hidrofílico) e o óleo (hidrofóbico) em baixas temperaturas,
podendo tornar a reação ineficiente.
Um meio reacional com um solvente satisfatório melhora a
miscibilidade entre os substratos e resulta em um sistema homogêneo,
com maior transferência de massa e menor viscosidade (Pawongrat et
al., 2007), e por consequência, com maior formação de MAGs e DAGs.
Solventes como n-hexano, n-heptano, dioxano, acetonitrila, acetona,
isooctano, 2-metil-2-propanol (terc-butanol), 2-metil - 2-butanol (tercpentanol), ou misturas de alguns deles são úteis em diferentes reações de
interesterificação catalisadas por lipases (Bellot et al., 2001; Kaewthong
e H-Kittikun, 2004; Su e Wei, 2008).
O parâmetro coeficiente de partição do solvente (P) entre o 1octanol e água pode ser introduzido como uma medida quantitativa da
polaridade do solvente e log P (expressão mais comum) está relacionado
com a atividade de biocatalisadores em solvente orgânico. Solventes
com diferentes log P são apresentados na literatura como um parâmetro
para caracterizar as propriedades dos solventes em reações envolvendo
lipídeos e lípases. De uma forma geral, este coeficiente fornece uma
medida da natureza lipofílica versus hidrofílica de um composto. O
23
valor de P descreve a distribuição de um composto em um sistema de
duas fases e é definido como a razão da concentração de equilíbrio de
um composto em uma fase rica em 1-octanol e a concentração em uma
fase rica em água (onde 1-octanol e água estão em equilíbrio). O valor
de log P tende a ser maior para compostos com estruturas apolares e
valor menor, ou até negativo, para compostos altamente polares (Jesus
et al., 1997; Damstrup et al., 2005; Su e Wei, 2008; Zheng et al., 2009).
Damstrup et al. (2005) estudaram vários solventes e misturas
destes, de polaridades variadas, ou seja, de uma ampla faixa de log P (0,34 a 4,5), para avaliar a melhora na eficiência dos processos de
glicerólise enzimática. O grupo demonstrou que com o uso de um
determinado solvente, aumenta-se a transferência de massa e o
equilíbrio de reação é alcançado dentro de poucas horas. Dos 13
solventes e misturas estudadas, os alcoóis terciários obtiveram os
melhores rendimentos em MAGs. Com terc-pentanol (log P = 0,89) foi
possível obter conteúdos em torno de 65% de MAGs e com terc-butanol
(log P = 0,35) acima de 80% (m/m) de MAGs, ambos em torno de duas
horas e meia de reação, utilizando 50 mL/10 g óleo, 30% de enzima
imobilizada (em relação à massa de óleo – m/m), 50ºC e relação molar
glicerol:óleo de 5:1. Os piores rendimentos foram obtidos com os
solventes clorofórmio (log P = 1,97) e heptano (log P = 4,5), com
rendimentos de 0,0 e 1,1% (m/m) em MAGs, respectivamente. Para os
solventes altamente polares, acetonitrila (log P = -0,34), etanol (log P =
-0,30) e acetona (log P = 0,24) os rendimentos em MAGs, para as
mesmas duas horas e meia de reação foram, respectivamente, 2,0; 21,0 e
11,5% (m/m). Resultados semelhantes estão apresentados em outros
estudos do mesmo grupo (Damstrup et al., 2006a; Damstrup et al.,
2006b). Su e Wei (2008) caracterizaram os valores de log P para tercpentanol e terc-butanol, como sendo: 1,4 e 0,8, respectivamente e em
seus experimentos com 11 solventes na produção enzimática de
biodiesel utilizando lipases, estes dois solventes citados foram os que
conduziram às maiores conversões dos substratos.
Poucos solventes têm sido estudados em glicerólise enzimática,
em alguns casos, baixos rendimentos em MAGs são obtidos ou na
prática industrial é inviável devido ao alto preço ou alta toxicidade
(Bornscheuer, 1995). Alguns estudos têm mostrado que o solvente tercbutanol, ou ainda, misturas contendo este, é satisfatório em sistemas de
reações contendo glicerol (Rendón et al., 2001; Monteiro et al., 2003).
24
2.9
Cinética de reações enzimáticas
O estudo da cinética de reações enzimáticas tem por principais
objetivos estudar a influência das variáveis envolvidas (concentrações
iniciais de substrato e enzima, temperatura, pH, presença de inibidores,
entre outros), conhecer as velocidades de consumo de substratos e de
formação de produtos e buscar uma correlação entre as transformações
envolvidas com equações matemáticas que possam representá-las.
Em geral, observa-se na literatura o tratamento da cinética de
reações catalisadas por enzimas como um caso de reação com um só
substrato. Entretanto, muitas enzimas de importância biológica
catalisam dois ou mais substratos e nestes casos, a abordagem mais
conhecida é a de Cleland. Utilizando a nomenclatura imaginária de
Cleland, reações com dois substratos, como é o caso da glicerólise,
podem ser classificadas como ping-pong ou sequencial. No mecanismo
ping-pong, um ou mais produtos devem ser liberados antes de todos os
substratos reagirem. No mecanismo sequencial, todos os substratos
devem combinar-se com a enzima antes da reação propriamente dita
ocorrer. Além disso, o mecanismo sequencial pode ser ordenado ou
randômico. No mecanismo sequencial ordenado, os substratos se ligam
com a enzima e produtos são liberados, em uma ordem específica. No
mecanismo seqüencial randômico, por outro lado, a ordem de
combinação dos substratos e da liberação dos produtos não é
obrigatória. Exemplos de reações de ping-pong bi bi, sequencial
ordenado bi bi e sequencial randômico bi bi, utilizando esquemas de
Cleland, podem ser observados a seguir na Figura 2.4. A expressão bi bi
é utilizada quando a reação ocorre entre dois substratos e tem como
resultado dois produtos (Marangoni, 2003).
Cada etapa da reação de glicerólise deve ser observada como um
mecanismo separadamente, e observando a Figura 2.3 (página 10) e o
estudo de Cheirsilp et al. (2007), todas estas reações demonstram se
enquadrar na teoria do mecanismo sequencial, onde os dois reagentes
devem se ligar a enzima, reagir, para só depois os produtos serem
liberados.
Um fator importante a considerar, nesta etapa, é a influência da
possível presença de um inibidor no meio reacional. Chama-se inibidor
da reação enzimática uma substância que acarreta diminuição da
velocidade da reação. Cabe resaltar que o inibidor pode ser uma das
substâncias que participam da reação, quer como substrato, quer como
25
produto. Outro fator importante que deve ser considerado no estudo da
cinética de reações é o cálculo da velocidade inicial de reação, pois o
único momento em que todas as condições experimentais são
conhecidas é nos instantes iniciais e, assim, a visualização da velocidade
de consumo dos substratos (ou a velocidade de formação de produtos)
pode fornecer dados sobre a influência das concentrações iniciais
(Borzani, 2001).
(a)
(b)
(c)
Figura 2.4 – Tratamento da cinética de reações enzimáticas utilizando
esquema de Cleland. (a) ping-pong bi bi. (b) sequencial ordenado bi bi.
(c) sequencial randômico bi bi. Fonte: Borzani (2001).
2.10
Modelagem matemática de reações de glicerólise
A determinação do mecanismo de uma reação enzimática não é
tarefa fácil nem trivial, além disso, mecanismos de inibições podem
estar envolvidos, bem como outros fenômenos nem sempre conhecidos.
Talvez por este motivo, encontram-se na literatura diversos estudos
26
cinéticos de reações de glicerólise (Arcos e Otero, 1996; Garcia et al.,
1996; Jakson e King, 1997; Corma et al., 1998; Tüter e Aksoy, 2000;
Watanabe et al., 2003; Noureddini et al., 2004; Weber e Mukherjee,
2004; Kaewthong e H-Kittikun, 2004; Damstrup et al., 2005;
Kaewthong et al., 2005; Kristensen et al., 2005; Yang et al., 2005a;
Yang et al., 2005b; Damstrup et al., 2006a; Negi et al., 2007; Blasi et
al., 2007; Pawongrat et al., 2007; Damstrup et al., 2007; Esmelindro et
al., 2008; Freitas et al., 2008; H-Kittikun et al., 2008; Valério et al.,
2009b; Fregolente et al., 2009; Kahveci et al., 2010; Valério et al.,
2010, entre outros), voltados a verificar, principalmente, a influência das
variáveis envolvidas na reação, como temperatura, relação molar
glicerol e óleo, emprego de diferentes catalisadores e de diferentes
solventes, entre outras. Porém, quando se trata de um estudo mais
profundo dos mecanismos cinéticos destas reações, visando a
modelagem matemática, há poucos estudos disponíveis relacionados à
reações de glicerólise a partir de óleo vegetal e glicerol. Alguns referemse à glicerólise não enzimática, como é o caso de Moquin et al. (2005) e
Moquin et al. (2006) e outros poucos abordam o tratamento dos dados e
modelagem matemática de reações de glicerólise enzimática para a
produção de MAG e DAG, como Cheirsilp et al. (2007), Tan e Yin
(2005) e (Valério et al., 2009a). Esse limitado número de trabalhos de
modelagem matemática de reações de glicerólise enzimática refletem a
complexidade deste tipo de estudo.
Moquin et al. (2005), realizaram a modelagem matemática de
dados descritos por Temelli et al. (1996), os quais estudaram a
glicerólise de óleo de soja na presença de CO2 supercrítico. As reações
foram conduzidas a 250ºC e pressão variando de 20,7 a 62,1 MPa,
relação molar de glicerol:óleo de 10:1 a 25:1 e concentração de água
variando de 3 a 8% (m/m) no meio. Os autores acompanharam a reação
durante as quatro primeiras horas e determinaram a composição em
termos de TAGs, DAGs, MAGs e AGLs, expressas em moles por 100g
de amostra. A composição em termos de glicerol no meio reacional foi
calculada por diferença entre a massa total e a soma dos demais
constituintes. Em outro trabalho do grupo (Moquin et al., 2006) sobre
modelagem cinética de reações de glicerólise e hidrólise de óleo de
canola em meio utilizando CO2 supercrítico, as reações foram
conduzidas também a 250ºC, mas desta vez com pressão variando de 10
a 30 MPa, relação molar de glicerol:óleo fixa de 34:1 e concentração de
água variando de 0 a 8% (m/m) no meio reacional. Em ambos os
27
trabalhos de Moquin et al., as equações elementares adotadas equivalem
às mesmas apresentadas na Figura 2.3 (página 10), onde reações de
glicerólise e de hidrólise podem estar ocorrendo paralelamente. Na
determinação das constantes de velocidade, encontrou-se que para todas
as condições estudadas, as constantes k2, k4, k6, k8, k10 e k11 são iguais a
zero, sugerindo que as equações da Figura 2.3 não são reversíveis, com
exceção da Equação (2.6). A constante de velocidade de maior valor, em
todos os casos, foi k5, indicando claramente que na ausência de glicerol,
rapidamente MAGs é convertido em DAGs. Ambos os trabalhos
mostraram que todas as equações de velocidade mudam sensivelmente
frente a qualquer variação na concentração de água e que os maiores
rendimentos em MAGs são obtidos utilizando pressão de 10 MPa e 4%
de água (m/m) no meio.
Cheirsilp et al. (2007) estudaram a cinética da glicerólise da
oleína de palma utilizando como catalisador lipase PS Amano
imobilizada, em meio com os solventes orgânicos acetona/isoctano
(razão volumétrica de 3:1), temperatura de 45ºC e agitação mecânica de
300 rpm. Tais autores verificaram o efeito das concentrações de água,
enzima, glicerol e oleína de palma, onde se observou que a formação de
MAGs é favorecida na presença de altas concentrações de glicerol e a
formação de DAGs é favorecida em relação à formação de MAGs
quando menores razões molares de glicerol:óleo são utilizadas. Para o
desenvolvimento do modelo matemático, os autores assumiram que a
etapa de hidrólise na reação de glicerólise é a etapa determinante da
velocidade, e então, a re-esterificação dos ácidos graxos liberados com o
glicerol em excesso acontece rapidamente. O esquema de hidrólise/reesterificação proposto está descrito a seguir:
TAG E H 2O TAG E H 2O DAG E AGL DAG E AGL
k1
k3
k5
k2
k4
k6
(2.7)
DAG E H 2O DAG E H 2O MAG E AGL MAG E AGL (2.8)
k7
k9
k11
k8
k10
k12
MAG E H 2O MAG E H 2O Gly E AGL Gly E AGL (2.9)
k13
k15
k17
k14
k16
k18
TAG E H 2 O; DAG E AGL; DAG E H 2 O; MAG E AGL;
Onde:
28
MAG E H 2 O; Gly E AGL são os diferentes complexos formados
entre a enzima e as espécies envolvidas.
A partir deste balanço, equações de velocidade da reação foram
propostas para os compostos livres e também para os diferentes
complexos enzimáticos formados durante a reação. As velocidades de
reação dos complexos enzimáticos foram descritas de acordo com a
hipótese do estado pseudo-estacionário. Estes autores descreveram a
concentração total de enzima como sendo a soma entre as enzimas livres
e os diferentes complexos formados durante a reação. As equações da
velocidade foram manipuladas algebricamente para que fossem
expressas apenas em função dos compostos simples, das constantes
cinéticas e da concentração total de enzima, que é um valor conhecido.
A Equação (2.10) exemplifica a expressão reajustada da velocidade da
reação para TAGs por Cheirsilp et al. (2007).
VmDAG TAG H 2O VrDAG DAG AGL ET
d [TAG ]
(2.10)
H 2O KmDAG DAG KmMAG MAG KmG GLy AGL
dt
k1 k3 ;
k2 k3
k
17
k18
Onde:
VmDAG
KmG
VrDAG
k 4 k6 ;
k 4 k5
KmDAG
k5 ;
k6
KmMAG
k11
k12
e
VmDAG e VrDAG são as velocidades iniciais da reação para a hidrólise de
TAGs e re-esterificação de DAGs;
KmDAG, KmMAG e KmG são as constantes de equilíbrio para DAGs, MAGs
e GLy.
Esses autores obtiveram um bom ajuste entre os dados
experimentais e o modelo proposto. Entretanto, observam-se
inconsistências matemáticas nas equações propostas para descrever as
velocidades da reação, uma vez que, em todas estas equações, a
concentração de ácido graxo está multiplicando todo o denominador, de
forma que temos uma indeterminação matemática quando a
concentração de ácido graxo é zero. Por um lado, o modelo não permite
29
a suposição de uma mistura inicial livre de ácidos graxos, pois esta
suposição causaria uma indeterminação na equação (divisão por zero) e,
por outro lado, não é possível provar matematicamente que as
constantes VmDAG e VrDAG representem as velocidades iniciais máximas
de reação de hidrólise de TAGs e esterificação do DAGs,
respectivamente, como são propostas pelos autores. O trabalho de
Cheirsilp et al. (2007) acaba se assemelhando, em partes, com o Tan e
Yin (2005), os quais também apresentam o estudo como sendo reações
de glicerólise, mas na etapa de tratamento matemático dos dados
acabam utilizando somente as reações de hidrólise.
Valério et al. (2009a) realizaram reações de glicerólise do óleo de
oliva utilizando como catalisador a lipase Novozym 435, na presença de
surfactante Triton X-100. Obtiveram altos rendimentos em MAGs e
DAGs (mais de 35% m/m) à 50ºC, com concentração de enzima
relativamente baixa (9% em relação à massa de substrato – m/m) e em
um curto tempo de reação (240 min). A modelagem cinética levou em
consideração as reações de glicerólise e hidrólise/esterificação (Eqs.
(2.1) –(2.3) e (2.4) – (2.6), respectivamente da Figura 2.3 – página 10).
As Eqs. (2.4) – (2.6) foram consideradas por se admitir a presença de
água no glicerol utilizado como substrato. A partir destas equações
obteve-se a velocidade das reações de cada composto. Os parâmetros
cinéticos foram considerados proporcionais à concentração de enzima e
o efeito da temperatura foi verificado com o uso da equação de
Arrhenius reparametrizada. Neste estudo obteve-se uma boa
concordância entre os dados experimentais e os resultados obtidos com
a cinética proposta.
2.11
Considerações Parciais
A leitura do estado da arte revelou o potencial em utilizar lipases
imobilizadas como catalisadores da reação de glicerólise, uma vez que,
as condições de operação tornam-se mais amenas, em relação à
temperatura e pH, evitando que os produtos adquiram cor e odor
indesejáveis como ocorre no processo convencional. Além disso,
esforços têm sido dirigidos para encontrar as concentrações iniciais dos
substratos e as variáveis de operação ideais para a maximização da
velocidade da reação, ao mesmo tempo em que maximizações dos
produtos são almejadas. Neste sentido, foram buscados recursos para
30
tentar facilitar a reação, como a utilização de solvente orgânico como
promotor de um meio mais homogêneo e com menor resistência à
transferência de massa, uma vez que glicerol e óleo são imiscíveis em
condições normais. A literatura tem mostrado que a utilização de
solventes orgânicos é de grande contribuição para a reação, com
destaque para o solvente terc-butanol, o qual vem sendo destacado em
publicações de otimização de solventes para reação de glicerólise (Yang
et al., 2005a; Damstrup et al., 2005; Damstrup et al., 2006a; entre
outros).
A modelagem da cinética e, consequentemente a obtenção das
constantes cinéticas em cada uma das etapas da reação de glicerólise, a
partir dos dados experimentais obtidos em laboratório, pode ampliar a
visão sobre o processo e o comportamento das variáveis frente à
perturbações, as quais podem ser direcionadas à maximização do
produto final em MAGs ou DAGs ou ainda, em ambos.
De todos os trabalhos apresentados na literatura, até o momento,
não foi encontrado nenhum que tenha priorizado o desenvolvimento de
um mesmo modelo matemático para a reação de glicerólise enzimática a
partir de óleo vegetal e glicerol, na presença de solvente, para a
produção de MAGs ou de DAGs. Também cabe salientar, que as
metodologias oficiais de análise disponíveis referem-se, somente, para
identificação e quantificação de MAG, DAG e TAG de reações de
biodiesel, onde as faixas de concentrações são bem diferentes das
encontradas em reações de glicerólise. Neste contexto, o presente
trabalho aborda a produção de MAGs e DAGs a partir glicerólise do
óleo de oliva, utilizando o solvente orgânico terc-butanol e lipase como
catalisador, as possíveis etapas reacionais envolvidas, bem como a
adequação da metodologia para análise quali e quantitativa dos
compostos envolvidos na reação através da cromatografia gasosa.
31
- CAPÍTULO 3 -
3.
MATERIAL E MÉTODOS
Neste capítulo é apresentada a descrição dos materiais utilizados,
dos aparatos experimentais e dos procedimentos adotados durante o
trabalho, bem como as metodologias utilizadas na determinação do
rendimento da reação de glicerólise e no tratamento dos dados
experimentais.
3.1 Material
Como substratos para a reação de glicerólise foram utilizados
azeite de oliva comercial da marca Arisco (extra virgem) e glicerol
(99,5%, Merck). O solvente orgânico utilizado foi o terc-butanol (99%,
Vetec).
O catalisador empregado neste trabalho foi a lipase comercial
Novozym 435 (Candida antarctica – EC.3.1.1.3) (Novozymes A/S),
imobilizada em resina acrílica aniônica macroporosa (diâmetro na faixa
de 0,3 - 0,9 mm), a qual atua randomicamente nas três posições do
triglicerídeo por ser uma enzima não específica. O solvente n-hexano
(Quimex, 99,5%) foi utilizado na etapa de remoção e lavagem das
enzimas do meio reacional ao final da reação.
Nas análises cromatográficas foram utilizados n-heptano,
piridina,
derivatizante
MSTFA
(N-methy-Ntrimethysiltrifluoroacetamide), padrões externos: monooleína, dioleína,
trioleína e ácido oléico (ácido graxo livre), todos de grau cromatográfico
e de procedência da Sigma-Aldrich. Estes compostos foram os
escolhidos para a calibração por serem os majoritários em cada uma de
suas classes, no caso do óleo de oliva.
32
3.2 Desenvolvimento de metodologia para análise de MAGs, DAGs,
TAGs e AGLs
A determinação do teor de MAGs, DAGs, TAGs e AGLs nas
amostras coletadas foi realizada a fim de conhecer o comportamento da
reação ao longo do tempo e determinar o rendimento em produtos
desejados (MAGs e DAGs).
3.2.1
Condições cromatográficas
As análises das amostras foram realizadas em cromatógrafo
gasoso (GC), – Shimadzu 2010, com injetor automático on-column e
detector de ionização de chama (FID). Utilizou-se a coluna capilar DB-5
(5% fenil, 95% metilsiloxano) de 30 m x 0,25 mm x 0,1 m (J e W
Scientific, nº de série: US7162944H). As condições de operação foram
segundo a Norma nº 14105, do Comitê Europeu para Padronizações,
sendo a programação de temperatura da coluna: 50ºC por 1 minuto,
seguido pelo aumento de 15ºC/min até 180ºC, 7ºC/min até 230ºC e
10ºC/min até 380ºC, permanecendo por 8 min. A temperatura do
detector era 380ºC, pressão do gás de arraste (hélio) de 80 kPa e o
volume injetado foi de 1µL.
3.2.2
Preparação e análise das soluções de calibração
Preparou-se uma solução mãe de cada padrão externo
(monooleína, dioleína, trioleína e ácido oléico), e a partir destas
preparou-se oito soluções de calibração em diferentes concentrações
para os glicérides, conforme a Tabela 3.1. Para a calibração do ácido
oléico, foram feitas outras sete soluções apenas com este padrão (Tabela
3.2), pelo fato de que este foi adquirido após realizada a calibração para
os demais padrões.
As condições de análise das soluções de calibração e das
amostras foram segundo a Norma nº 14.105 (2001) do Comitê Europeu
para Padronizações, porém, sem a utilização de padrões internos. Isto
porque as faixas de calibração sugeridas pelo método foram ampliadas,
assim, teve-se dificuldade de encontrar as concentrações dos padrões
internos que acompanhassem toda a faixa de abrangência escolhida.
Optou-se então pela calibração somente com os padrões externos.
33
Tabela 3.1 – Preparação das soluções de calibração dos glicérides.
Padrão
externo
Monooleína
(mg/L)
Dioleína
(mg/L)
Trioleína
(mg/L)
Solução de calibração
4
5
6
2000
3100
200
1
100
2
500
3
1000
890
2100
530
1000
1400
500
5000
3000
50
10.000
7
300
8
6200
200
730
50
7500
200
300
Tabela 3.2 – Preparação das soluções de calibração para ácido graxo livre.
Padrão externo
Ácido
oléico
(mg/L)
1
1000
2
50
Solução de calibração
3
4
5
100
750
300
6
25
7
500
34
Em cada solução de calibração foi adicionado 100 µL do
derivatizante MSTFA, o qual transforma os glicérides em seus
respectivos derivados voláteis, para que possam ser quantificados por
cromatografia gasosa. Após a solução foi agitada e deixada em
temperatura ambiente por 15 minutos para que o derivatizante reagisse.
Em seguida, completou-se o volume (10 mL) com n-heptano. As
soluções foram transferidas para os frascos de amostragem e levadas ao
GC-FID para análise. Todas as soluções foram preparadas em triplicata.
3.2.3
Validação das curvas padrões
Foram realizados testes para verificar a eficiência e
confiabilidade das curvas de calibração obtidas com os padrões
externos. Para tal, foram preparadas seis amostras sintéticas, do seguinte
modo: em misturas de óleo e glicerol foram adicionados padrões
externos de monooleína e dioleína, todos em concentrações conhecidas.
Após vigorosa agitação das amostras foram coletadas alíquotas para
análise. As porcentagens (m/m) obtidas para cada composto em cada
amostra foram comparadas com as porcentagens adicionadas nas
amostras sintéticas. Estes testes foram realizados em duplicata para
todas as amostras.
3.3
Descrição do aparato e procedimento experimental utilizado
nas reações de glicerólise enzimática em batelada
A unidade experimental delineada e montada para a condução das
reações consiste em um reator encamisado de vidro de 40 mL,
conectado a um banho termostático, o qual controla a temperatura do
meio reacional. O aparato consiste ainda de um agitador mecânico (IKA,
modelo RW 20), com controlador digital. Na Figura 3.1 é apresentada a
unidade experimental.
A obtenção das amostras do meio reacional foi realizada de forma
destrutiva, ou seja, para cada ponto coletado, toda amostra era retirada
do reator. Uma nova reação com as mesmas condições era iniciada e
deixada reagir até o próximo ponto a coletar e assim sucessivamente até
obter todos os pontos de cada cinética.
35
(c)
(b)
(a)
Figura 3.1 – Vista da unidade experimental para produção
enzimática de MAGs e DAGs via glicerólise enzimática. Onde: a)
reator encamisado; b) banho termostático e c) agitador mecânico
com controle de velocidade.
O procedimento experimental adotado na etapa de produção de
MAGs e DAGs consistiu nos seguintes passos: primeiramente a enzima
era colocada em estufa a 40 ºC por 1 hora para acondicionamento. Após,
eram adicionados ao reator, o azeite de oliva e o glicerol (em
quantidades nas quais o volume total era de 15 mL), o solvente orgânico
e a enzima. As relações mássicas (azeite, glicerol e enzima) e
volumétricas (solvente) utilizadas em cada reação foram determinadas
pelo planejamento. Para medida das massas dos substratos e da enzima
foi utilizado uma balança analítica com precisão de 0,0001 g. Em
seguida, era acoplado o agitador mecânico ao reator e este era fechado e
a reação iniciada. Ao final do tempo da reação, o agitador e o banho
eram desligados e o agitador era retirado do reator para que todo o meio
reacional fosse recolhido. Todo o volume do reator era retirado e filtrado
à vácuo com sucessivas lavagens com n-hexano para separar a amostra,
principalmente o glicerol aderido, da superfície das enzimas
imobilizadas. As amostras eram transferidas para frascos de amostragem
e acondicionadas em estufa a vácuo (70ºC; 0,5 bar) por 1 h a fim de
eliminar o excesso de n-hexano e de solvente.
36
3.4
Preparação e análise das amostras
Na preparação das amostras para a análise cromatográfica foram
pesadas 150 mg de cada amostra homogeneizada em balão volumétrico
de 5 mL, após foram adicionados 150 µL do derivatizante MSTFA,
seguido por vigorosa agitação da solução preparada e esta foi deixada
em temperatura ambiente por 15 minutos. Em seguida, o volume foi
completado (5 mL) com n-heptano. Uma alíquota de 0,833 mL desta
solução foi transferida para um balão volumétrico de 5 mL, o qual foi
completado com n-heptano, sendo que a solução preparada ficou com
concentração equivalente a 5 mg amostra/mL solvente.
Paralelamente à preparação da alíquota da amostra para análise
cromatográfica, outra alíquota, em média de 2 g, da mesma amostra era
levada para estufa a 105ºC até peso constante, a fim de calcular a
quantidade de solvente contida na amostra. Assim, posteriormente
foram realizados os cálculos de rendimentos em base livre de solvente.
Este procedimento foi adotado como um meio de padronizar os
resultados, uma vez que o solvente utilizado na reação (terc-butanol)
pode volatilizar parcialmente e de forma não uniforme com o decorrer
da reação, principalmente nas cinéticas que utilizam temperaturas de 55
e 70ºC.
3.5
Estudo da cinética enzimática na presença de solvente
orgânico
As faixas de temperatura utilizadas nos testes cinéticos foram
baseadas na temperatura ótima de atuação da enzima (Novozym 435)
fornecida pelo fabricante (Novozymes A/S), que é de 70ºC. Estudos
encontrados na literatura sugerem outras temperaturas ótimas para a
reação de glicerólise utilizando lipases, entre 35 e 65ºC (Kaewthong e
H-Kittikun, 2004; Kaewthong et al., 2005; Tan e Yin, 2005; Yang, et
al., 2005b). As faixas da relação molar glicerol:óleo de oliva
inicialmente utilizadas, 3:1 a 9:1, da concentração de enzima de 2,5 a
15% m/m (em relação a mistura glicerol e óleo) e a agitação de 600 rpm
foram baseadas nos resultados obtidos em estudos anteriores realizados
por Fiametti et al. (2009) e Valério et al. (2009a). A concentração de
solvente orgânico (terc-butanol) utilizada foi de 1:1 (v/v) em relação à
mistura glicerol e óleo para a maioria dos estudos. Duas cinéticas foram
37
repetidas utilizando uma relação de 5:1 (v/v) de solvente:mistura
glicerol e óleo, a fim de investigar a influência do aumento da
concentração do solvente no meio. As reações foram acompanhadas
durante 12 horas.
Definidas as faixas de estudo das variáveis, realizou-se um
conjunto de experimentos englobando grande parte das combinações
possíveis, como pode ser observada na Tabela 3.3. O experimento
número 7 foi realizado em triplicata a fim de se obter o desvio padrão
global do experimento, o qual foi assumido igual para todas as demais
cinéticas na etapa de modelagem dos dados.
3.6
Determinação das velocidades iniciais
A velocidade inicial de uma reação enzimática é definida pela
razão da variação de conversão em um determinado tempo pela variação
do tempo na faixa linear da curva cinética. Assim, a velocidade inicial
de cada reação (r) foi calculada através da seguinte equação:
r
C C C0
t
t t0
(3.1)
Onde:
r = velocidade inicial da reação (mol.min-1);
C = conversão de monoacilgliceróis ou diacilgliceróis no tempo t (mol);
C0 = conversão de monoacilgliceróis ou diacilgliceróis no tempo 0
(mol);
t = tempo (min);
t0 = tempo do início da reação (min).
Para o cálculo das conversões de formação de MAGs e DAGs foi
utilizado como base a massa molar dos compostos escolhidos como
representativos, a monooleína e a dioleína. Os valores utilizados foram
356,54 g/mol e 620,99 g/mol, respectivamente para MAGs e DAGs.
Para o cálculo das conversões de consumo de TAGs foi utilizado a
massa molar média para o óleo de oliva que é de 876,86 g/mol.
38
Tabela 3.3 – Condições utilizadas nas reações de glicerólise com solvente orgânico terc-butanol. Agitação
mecânica de 600 rpm.
Experimento
Temperatura (ºC)
1
2
3
4
5
6
7****
8
9
10
11
12
13
14
70
70
70
70
70
55
40
55
55
55
70
40
55
55
Relação molar
G:O*
3:1
3:1
3:1
3:1
3:1
3:1
9:1
9:1
9:1
9:1
6:1
6:1
6:1
6:1
% Enzima
(m/m)**
0
2,5
2,5
10
15
15
10
2,5
2,5
15
10
10
10
15
Relação solvente:substratos
(v/v)***
1:1
1:1
5:1
1:1
1:1
1:1
1:1
1:1
5:1
1:1
1:1
1:1
1:1
1:1
* Glicerol:Óleo;
** em relação a massa dos substratos óleo e glicerol;
***em relação ao volume dos substratos óleo e glicerol;
**** ensaio realizado em triplicata
39
3.7 Determinação da atividade enzimática (esterificação)
O procedimento adotado para determinação da atividade
enzimática das lipases foi descrito por Lagnone e Sant’Anna (1999) e
Bernardes et al. (2007) com modificações. A atividade da enzima foi
quantificada pelo consumo de ácido láurico e álcool n-propílico com a
razão molar ácido:álcool de 3:1, à temperatura de 60°C, com 5% (m/m)
de enzima, mantida pela adição da enzima ao meio reacional em um
reator de vidro aberto de 50 mL, provido de agitação magnética e
conectado a um banho termostático (Figura 3.2). Alíquotas de 150 L,
em triplicata, foram retiradas do meio reacional no tempo zero e após 40
minutos de reação e foram diluídas em 20 mL de acetona:etanol (1:1)
com a finalidade de cessar a reação e extrair ácidos restantes. A
quantidade de ácido láurico consumido foi determinada pela titulação
com hidróxido de sódio 0,01 N. Uma unidade de atividade foi definida
como a quantidade de enzima que conduz ao consumo de 1 mol de
ácido láurico por minuto nas condições experimentais descritas.
(b)
(a)
(c)
Figura 3.2 – Equipamento utilizado para medida de atividade
enzimática. Onde: a) reator encamisado; b) banho termostático e c)
agitador magnético.
A seguinte equação foi empregada para o cálculo da atividade de
esterificação da lipase:
40
AE
Va Vb M 103 Vf
t M IME Ve
(3.2)
Onde:
AE = atividade de esterificação (μmol de ácido/ min. MIME ou U/g);
Va = volume de NaOH gasto na titulação da amostra retirada no tempo
zero (mL);
Vb = volume de NaOH gasto na titulação da amostra retirada após o
tempo t (mL);
M = molaridade da solução de NaOH (mmol/mL);
Vf = volume final de meio reacional (mL);
MIME = massa de enzima imobilizada utilizada na reação (g);
Ve = volume da alíquota do meio reacional retirada para titulação (mL);
t = tempo de reação (min).
A atividade enzimática foi determinada no tempo zero, após duas,
seis e 12 horas de reação para seis condições experimentais diferentes,
no qual o objetivo foi o acompanhamento da alteração da atividade das
enzimas ao longo do tempo e frente à condições diversas do meio.
Todas as medidas foram realizadas em triplicata e o resultado
apresentado é relativo à média aritmética destas.
Neste trabalho, a atividade será reportada como atividade residual
(%), definida como a razão entre o valor da atividade enzimática no
tempo “t” e a inicial.
3.8 Determinação do teor de água
O teor de água foi determinado para os substratos, óleo e glicerol,
utilizando o método titulométrico de Karl Fischer (Mettler Toledo DL
50 - Graphix). O teor de água foi estimado tomando-se por base a
quantidade de reagente (com seu respectivo fator de correção)
necessária para titular a água presente na alíquota da amostra ensaiada.
O cálculo foi feito utilizando a seguinte equação:
v fc
Umidade
AAE
(3.3)
41
Onde:
v = volume de reagente de Karl Fischer gasto para titular a água
presente na amostra (ml)
fc = fator de correção do equivalente em água capaz de ser neutralizado
pelo reagente de Karl Fischer
AAE = alíquota de amostra ensaiada (mL)
Todas as medidas foram realizadas em triplicata.
3.9 Modelagem matemática da reação de glicerólise
Este trabalho teve também como objetivo a modelagem da
cinética da produção de MAGs e DAGs a partir de óleos vegetais e
glicerol.
Considerando a complexidade dos mecanismos cinéticos que
envolvem reações enzimáticas, os quais, nem sempre são claros, se
propôs neste trabalho, a obtenção de um modelo matemático para
glicerólise enzimática, desconsiderando as etapas de formação de
complexos enzimáticos, bem como, a separação da enzima dos produtos
finais, entre outras. Em relação à influência da presença da enzima na
reação, apenas adicionou-se um parâmetro empírico de redução da
atividade enzimática aparente, o qual considera a redução pelo excesso
de glicerol e a redução por perda natural de atividade. Esta abordagem é
tratada como Mecanismo cinético 1.
O modelo obtido com o Mecanismo cinético 1 foi comparado
com outra modelagem matemática realizada (Anexo 1) por Voll (2010),
onde todas as etapas envolvendo a formação de complexos enzimáticos
foram consideradas, bem como a desativação enzimática aparente citada
anteriormente. Esta abordagem é tratada como Mecanismo cinético 2.
Dentro da abordagem do Mecanismo cinético 1, fez-se,
inicialmente, testes com dados experimentais da literatura (Yang et al.,
2005a), para verificar o ajuste utilizando as equações cinéticas sugeridas
para as reações de glicerólise e eventual hidrólise. Os dados de Yang et
al. (2005a) referem-se à reação em batelada de glicerólise com e sem
solvente orgânico (terc-butanol) utilizando óleo de girassol e enzima
Novozym 435. As condições de operação utilizadas por estes autores
foram: para a reação sem solvente: 40ºC, relação glicerol:óleo de 4,5:1,
42
10% de enzima em relação à massa dos substratos e 500 rpm e nas
reações com solvente (2:1 em relação ao óleo) a temperatura foi de
45ºC, a relação glicerol:óleo foi de 4,5:1, 15% de enzima e 500 rpm. A
partir do modelo ajustado com os dados de Yang et al. (2005a) foram
simuladas algumas diferentes condições de entrada para a reação de
glicerólise. Estas condições simuladas também foram testadas
experimentalmente para avaliar a confiabilidade da indicação deste
modelo desenvolvido, principalmente em relação à maximização da
produção de DAGs. Posteriormente, os dados cinéticos obtidos na
primeira etapa do presente trabalho foram utilizados para o
desenvolvimento dos modelos, em ambas as abordagens (Mecanismo
cinético 1 e Mecanismo cinético 2).
Em todos os casos, o sistema de equações diferencias ordinárias,
estabelecido para cada mecanismo, foi implementado e resolvido no
software Matlab 7.0, usando a rotina ode23s. Para a estimação de
parâmetros cinéticos da reação foi empregado o Método de estocástico
Enxame de Partículas (Particle Swarm Optimization), como subrotina
no Matlab 7.0, conforme apresentado por Ferrari (2008) para a busca
inicial dos parâmetros os quais eram então usados como estimativa
inicial no método determinístico.
43
- CAPÍTULO 4 –
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo serão apresentados o desenvolvimento e validação
da metodologia de análise de MAGs, DAGs, TAGs e AGLs, vários
estudos cinéticos realizados para investigação da influência das
variáveis da reação e os resultados do estudo de modelagem matemática
da cinética da reação de glicerólise.
4.1 Desenvolvimento de metodologia para análise de MAGs, DAGs,
TAGs e AGL
4.1.1
Preparo e análise das soluções de calibração
As equações obtidas com as curvas padrões (concentração versus
área) para cada componente podem ser observadas nas Figuras 4.1 a 4.4.
Cada ponto representado nas figuras é uma média da triplicada
realizada.
Assim, a partir das curvas de calibração foram obtidas as
seguintes equações da reta: Y = 0,0000325.X; Y = 0,0000513.X; Y =
0,0000634.X; Y = 0,0000434.X, respectivamente para MAGs, DAGs,
TAGs e AGLs, onde Y = concentração (ppm ou mg/L) e X = Área
(UA). O resultado encontrado para cada composto, utilizando a curva de
calibração, era dividido pela concentração inicial da amostra e
multiplicado por 100. Foram obtidos, assim, resultados em porcentagem
do componente em relação a massa total da amostra (% m/m). Em
relação à quantificação do glicerol, optou-se por determiná-lo por
diferença entre a massa total e a soma dos demais constituintes.
44
3500
R² = 0,999
Concentração (mg/L)
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0,0E+00
2,0E+07
4,0E+07
6,0E+07
8,0E+07
1,0E+08
Área (UA)
Figura 4.1 – Curva padrão para determinação por cromatografia gasosa
da monooleína. Condições cromatográficas utilizadas estão descritas no
item 3.2.1.
2500
R² = 0,955
Concentração (mg/L)
2000
1500
1000
500
0
0,0E+00
1,0E+07
2,0E+07
3,0E+07
4,0E+07
Área (UA)
Figura 4.2 – Curva padrão para determinação por cromatografia gasosa
da dioleína. Condições cromatográficas utilizadas estão descritas no
item 3.2.1.
45
10000
9000
R² = 0,999
Concentração (mg/L)
8000
7000
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
0,0E+00
2,5E+07
5,0E+07
7,5E+07
1,0E+08
1,3E+08
1,5E+08
Área (UA)
Figura 4.3 – Curva padrão para determinação por cromatografia gasosa
da trioleína. Condições cromatográficas utilizadas estão descritas no
item 3.2.1.
1000
900
R² = 0,999
Concentração (mg/L)
800
700
600
500
400
300
200
100
0
0,0E+00 3,0E+06 6,0E+06 9,0E+06 1,2E+07 1,5E+07 1,8E+07 2,1E+07 2,4E+07
Área (UA)
Figura 4.4 – Curva padrão para determinação por cromatografia gasosa
do ácido oléico. Condições cromatográficas utilizadas estão descritas no
item 3.2.1.
46
Dois cromatogramas típicos obtidos nas análises de MAGs,
DAGs, TAGs e AGLs, utilizando a Norma Européia de Padronização nº
14105 (2001), encontram-se a seguir, para exemplificação. A Figura
4.5(a) corresponde ao tempo zero de uma determinada reação, e a Figura
4.5(b) corresponde à mesma amostra após 8 horas de reação.
As áreas entre 4,5 a 5,5 minutos correspondem à região de
glicerol, de 10,5 a 12,5 minutos corresponde à região de AGLs, de 15 a
19 minutos corresponde à região de MAGs, de 23 a 28 minutos
corresponde à região de DAGs e de 30 a 35 minutos corresponde à
região de TAGs.
Figura 4.5 – Perfis obtidos por cromatografia gasosa típicos da análise
de reações de glicerólise. (a) tempo zero de reação. (b) tempo de reação:
8h.
Outros cromatogramas de algumas das análises realizadas para o
acompanhamento da cinética encontram-se, para visualização, no
Apêndice A.
47
4.1.2
Validação das curvas padrões
Na Tabela 4.1 são apresentadas as concentrações de amostras
sintéticas preparadas com o intuito de validar as curvas de calibração
obtidas. Nesta tabela são apresentados os valores obtidos pelas equações
através das áreas obtidas das análises cromatográficas e o erro
percentual calculado para as amostras analisadas. A média do erro de
análise por cromatografia gasosa foi de 4,89% para MAGs, 9,13% para
DAGs e 6,63% para TAGs. Foram considerados, assim, erros aceitáveis
e as curvas de calibração válidas para serem utilizadas nas análises das
reações de glicerólise.
4.2
Estudo da cinética enzimática na presença de solvente
orgânico
No presente trabalho, utilizou-se o solvente orgânico terc-butanol
e os resultados das cinéticas aqui apresentados estão em termos de
fração mássica do sistema em base livre de solvente e de glicerol. O
detalhamento dos resultados obtidos encontra-se no Apêndice B. A
Tabela 4.2 apresenta as velocidades iniciais de formação de DAGs e
MAGs e de consumo de TAGs de cada cinética, as quais foram
calculadas para os primeiros 60 minutos de reação, os quais
corresponderam à faixa linear da curva. No decorrer do item 4.2 estão
discutidos os resultados obtidos para as velocidades iniciais de formação
dos produtos.
48
Tabela 4.1 – Concentrações das amostras sintéticas e resultados obtidos por análise em cromatografia gasosa para
validação das curvas de calibração, com os respectivos erros seguidos, entre parênteses, pelos desvios padrões.
Amostra
1
2
3
4
5
6
% MAGs % erro*
% DAGs % erro*
% TAGs % erro*
Adicionado
19,22
1,04
16,84
4,38
52,82
4,75
Quantificado
19,02
(±0,141)
16,10
(±0,523)
50,31
(±1,775)
Adicionado
27,43
10,72
25,08
20,74
39,23
1,93
Quantificado
30,37
(±2,079)
19,88
(±3,677)
38,47
(±0,537)
Adicionado
19,22
5,93
16,84
2,44
52,82
17,92
Quantificado
20,36
(±0,806)
17,25
(±0,289)
43,36
(±6,689)
Adicionado
27,43
3,06
25,08
14,58
39,23
7,84
Quantificado
28,27
(±0,594)
21,42
(±2,588)
36,15
(±2,178)
Adicionado
28,71
7,63
29,67
8,47
35,24
4,61
Quantificado
26,52
(±1,548)
32,18
(±1,775)
36,87
(±1,152)
Adicionado
28,71
0,94
29,67
4,18
35,24
2,71
Quantificado
28,44
(±0,191)
30,91
(±0,877)
36,20
(±0,678)
* Erro = ((׀valor adicionado – valor quantificado)׀/valor adicionado)
49
Tabela 4.2 – Velocidades iniciais das cinéticas estudadas em relação à formação de MAGs e DAGs e ao consumo
de TAGs. Valores para uma base de cálculo de 100 g de substratos.
Temperatura
(ºC)
70
70
70
70
70
55
40***
55
55
55
70
40
55
55
55
55
55
Relação
molar
G:O*
3:1
3:1
3:1
3:1
3:1
3:1
9:1
9:1
9:1
9:1
6:1
6:1
6:1
6:1
0,33:1
0,8:1
3:1
% Enzima
imobilizada
(m/m)
0
2,5
2,5
10
15
15
10
2,5
2,5
15
10
10
10
15
10
10
15
Relação
volumétrica
S:M**
1:1
1:1
5:1
1:1
1:1
1:1
1:1
1:1
5:1
1:1
1:1
1:1
1:1
1:1
1:1
1:1
0
r0
(mmol.min-1)
DAGs
0,0257
0,1551
0,1837
0,3936
0,5011
0,3271
0,1078
0,0684
0,1099
0,2330
0,2933
0,1869
0,2283
0,3604
1,0488
0,5725
0,5854
r0
(mmol.min-1)
MAGs
0,0173
0,5138
0,5476
1,8724
2,0215
1,9938
1,0161
0,5489
0,7677
1,4741
1,9400
1,3238
2,0470
2,3506
0,3291
0,3138
0,1792
r0
(mmol.min-1)
TAGs
-0,0264
-0,3326
-0,4945
-1,0984
-1,2005
-1,0725
-0,5024
-0,2942
-0,3888
-0,8257
-1,0397
-0,6993
-1,0230
-1,2303
-0,8945
-0,5492
-0,4943
*Glicerol:Óleo; **Solvente:Mistura; *** Média da triplicata.
50
4.2.1 Influência da concentração de enzima imobilizada no meio
reacional
Na Figura 4.6 está apresentada uma cinética de reação de
glicerólise sem a presença da enzima (catalisador). Pode-se observar que
a reação de glicerólise não é auto-catalítica e a velocidade da reação é
praticamente zero, confirmado a afirmação feita por Yang et al. (2005a),
de que esta reação em temperaturas amenas e sem adição de catalisador
condez à velocidades de reação extremamente baixas, podendo demorar
semanas para ocorrer a formação de algum produto. A partir deste
experimento evidencia-se então, a importância do uso de enzimas em
reações de glicerólise em condições amenas de temperatura.
100
90
80
TAG
DAG
MAG
FFA
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.6 – Cinética da reação de glicerólise sem adição de enzima.
Condições: 70ºC, relação molar G:O de 3:1 e 600 rpm e relação
solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Resultados em base livre
de solvente e glicerol.
Na Figura 4.7 são comparadas três cinéticas realizadas nas
mesmas condições, porém variando a concentração de enzima utilizada
nas reações. Pode ser observado a partir das Figuras 4.7(a) e (b) que o
aumento da concentração do catalisador aumenta a velocidade da
reação, o que fica evidenciado ao se observar as velocidades iniciais
obtidas: 0,514 e 1,872 mmol.min-1 para produção de MAGs e 0,155 e
0,394 mmol.min-1 para a produção de DAGs, respectivamente para as
reações com 2,5 e 10% (m/m) de enzima no meio reacional. Porém, a
51
partir da Figura 4.7(c) observa-se que a variação na concentração de
enzima de 10 para 15% (m/m) pouco altera o comportamento cinético,
principalmente em relação ao rendimento, após 12 horas de reação, em
MAGs (55,6 e 56,4% (m/m), respectivamente). Observando as
velocidades iniciais desta última cinética (com 15% de enzima (m/m)),
os valores obtidos se aproximam aos da cinética com 10% de enzima
(m/m): 2,021 e 0,501 mmol.min-1 para produção de MAGs e DAGs,
respectivamente.
Segundo Watanabe et al. (2003), Yang et al. (2005a), Damstrup
et al. (2007) e Valério et al. (2009b), a partir de uma determinada
concentração de enzima, podem ocorrer limitações de homogeneidade
do meio pela formação de agregados, o que afetaria a transferência de
massa pela dificuldade de contato entre o sítio ativo da enzima com os
substratos, fato que poderia inclusive prejudicar o rendimento nos
produtos finais.
Assim, deste grupo de experimentos pode-se observar que o
aumento da concentração de enzima de 10 a 15% (m/m) não se justifica,
ou mesmo pode ser desnecessário, uma vez que os rendimentos dos
produtos finais são pouco influenciados.
4.2.2
Influência da temperatura da reação
Na Figura 4.8 são comparadas as cinéticas realizadas em
diferentes temperaturas na faixa de 40 a 70ºC. Em relação à temperatura
de reação, a partir da Figura 4.8, não observa-se influência significativa
da temperatura na faixa de 55 a 70ºC na velocidade da reação, uma vez
que com duas horas de reação os rendimentos atingiram valores acima
de 50% (m/m) para MAGs e acima de 13% (m/m) para DAGs para
ambas as cinéticas. As velocidades iniciais foram muito próximas para
as reações na temperatura de 55 e 70ºC: 2,047 e 1,940 mmol.min -1 para
a produção de MAGs e 0,228 e 0,293 mmol.min-1 para a produção de
DAGs, respectivamente. A temperatura de 40ºC apresentou um perfil
semelhante às demais temperaturas, tendo, porém uma velocidade inicial
da reação menor (1,324 e 0,187 mmol.min-1 para a produção de MAGs e
DAGs, respectivamente). No entanto, ao final das 12 horas de reação a
40ºC foi obtido um rendimento em DAGs semelhante ao experimento a
55ºC (19,0 e 18,4% (m/m), para as reações a 40 e 55ºC,
respectivamente) e rendimento em MAGs em torno de 5 e 8% (m/m)
menor que as reações a 55 e 70ºC, respectivamente.
52
100
(a)
90
TAG
DAG
MAG
FFA
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
TAG
DAG
MAG
FFA
(b)
90
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
TAG
DAG
MAG
FFA
(c)
90
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.7 – Cinéticas da reação de glicerólise enzimática realizadas a
70ºC, relação molar G:O de 3:1, 600 rpm e relação solvente:mistura
glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Concentração de enzima imobilizada
Novozym 435 em relação a mistura glicerol e óleo (m/m): (a) 2,5%, (b)
10% e (c) 15%. Resultados em base livre de solvente e glicerol.
53
100
TAG
DAG
MAG
FFA
(a)
90
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
(b)
90
TAG
DAG
MAG
FFA
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
TAG
DAG
MAG
FFA
(c)
90
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.8 – Cinéticas da reação de glicerólise enzimática realizadas
com relação molar G:O de 6:1, 10% (m/m) de enzima imobilizada
Novozym 435, 600 rpm e relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1
(v/v). Temperatura de reação: (a) 70ºC, (b) 55ºC e (c) 40ºC. Resultados
em base livre de solvente e glicerol.
54
A faixa de temperatura de atuação da Novozym 435 é entre 40 a
70ºC (Damstrup et al., 2006a). Os resultados observados nas Figuras
4.8(a), (b) e (c) estão de acordo com resultados encontrados na
literatura. Por exemplo, Yang et al. (2005b) avaliaram o efeito de
temperatura na glicerólise enzimática de óleo de girassol em um sistema
livre de solvente e de surfactante, utilizando 10% (m/m) de enzima
(Novozym 435), relação molar de glicerol:óleo de 4.5:1, 500 rpm de
agitação e temperaturas de 40°C e 70°C. Depois de 24 horas de reação, a
conversão em MAGs alcançou 16 % (m/m) a 40°C, o mesmo valor que
foi observado com 5 horas de reação a 70°C (com 8% (m/m) de enzima
Novozym 435). Pawongrat et al. (2007) estudaram o efeito da
temperatura na produção de MAGs de óleo de atum com enzima lipase
IM12 AK. Eles observaram que na faixa de temperatura de 30 a 45°C, a
produção de MAGs aumentou com o aumento da temperatura. Cabe
enfatizar que a temperatura apresenta um papel importante no sistema
reacional. Um aumento da temperatura pode reduzir a viscosidade da
mistura, aumentar a solubilidade e o processo de difusão entre os
substratos, e assim, limitações de transferência de massa podem ser
reduzidas acarretando em aumento da velocidade de reação. Por outro
lado, a redução da atividade da enzima pode ser acelerada com o
aumento da temperatura.
4.2.3
Influência da relação molar de glicerol:óleo
Na Figura 4.9 pode-se observar a influência da relação molar de
glicerol:óleo, de 3:1 a 9:1, utilizando 55ºC, 15% (m/m) de enzima e
relação volumétrica de solvente:substratos de 1:1 (v/v). As cinéticas
utilizando relação molar de gliceol:óleo de 3:1 e 6:1 apresentaram
semelhante comportamento no rendimento de DAGs ao longo da reação,
inclusive com velocidades iniciais bem próximas, 0,327 e 0,360
mmol.min-1, respectivamente para relação 3:1 e 6:1. Por outro lado, para
a relação molar de 9:1, a velocidade inicial da reação foi de 0,233
mmol.min-1. É interessante observar que o rendimento de DAGs é maior
quanto menor a relação molar de glicerol:óleo. Ao final das 12 h de
reação, para as cinéticas com relação molar 3:1 e 6:1, a concentração de
DAGs é cerca de 23% (m/m) em ambas e, para a relação molar 9:1 é
cerca de 13% (m/m). A indicação de que a diminuição da concentração
de glicerol aumenta a produção de DAGs vem a colaborar com o
55
entendimento de resultados semelhantes apresentados por Moquin et al.
(2005); Moquin et al. (2006) e Cheirsilp et al. (2007).
Por outro lado, o rendimento em MAGs, ao final das 12 horas de
reação, é claramente influenciado pelo aumento da relação molar de
gliceol:óleo, cerca de 54, 64 e 73% (m/m) para as relações molares de
gliceol:óleo de 3:1, 6:1 e 9:1, respectivamente. Esta afirmação fica clara
ao ser observado as velocidades iniciais na formação de MAGs, para as
condições com 3:1 e 6:1 que foram de 1,994 e 2,351 mmol.min-1,
respectivamente. A cinética utilizando a relação molar de glicerol:óleo
de 9:1 conduziu a uma velocidade inicial mais baixa, 1,474 mmol.min-1,
aparentemente pelo aumento da viscosidade do meio causada pela
grande quantidade de glicerol e conseqüente diminuição da transferência
de massa inicial. Porém, a partir de 8 horas de reação, o rendimento
desta última reação ultrapassou as outras duas cinéticas que utilizaram
relação molar de glicerol:óleo de 3:1 e 6:1.
4.2.4 Influência da relação volumétrica de solvente:substratos
(glicerol e óleo)
Na Figura 4.10 é apresentada a comparação das cinéticas
realizadas em duas diferentes relações do solvente terc-butanol na
mistura glicerol/óleo, 1:1 e 5:1 (v/v). Na cinética a 70ºC, com 2,5%
(m/m) de enzima e relação molar glicerol:óleo de 3:1 (Figura 4.10(a)), o
aumento de 1 para 5 na relação de solvente na mistura, alterou
consideravelmente o perfil da reação. Esta diferença foi observada
principalmente nas primeiras 4 horas da reação. Porém, ao final da
reação (12 horas), as diferenças no rendimento de MAGs e DAGs entre
as duas reações diminuíram. Os rendimentos finais foram em torno de
36 e 30% (m/m) para MAGs e 22 e 17% (m/m) para DAGs, na reação
com relação volumétrica maior (5:1) e menor (1:1), respectivamente. A
velocidade inicial das cinéticas foi pouco afetada pelo aumento do
solvente no meio. Foram obtidas velocidades iniciais de 0,547 e 0,514
mmol.min-1 para a formação de MAGs e 0,155 e 0,184 mmol.min-1 para
a formação de DAGs, respectivamente, para as reações com relação
volumétrica de 5:1 e com 1:1.
56
100
(a)
90
TAG
DAG
MAG
FFA
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
(b)
90
TAG
DAG
MAG
FFA
80
70
60
50
40
30
Concentação % (m/
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
(c)
90
80
70
60
TAG
DAG
MAG
FFA
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.9 – Cinéticas da reação de glicerólise enzimática realizadas a
55ºC, 15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435, 600 rpm e
relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Relação molar de
G:O: (a) 3:1, (b) 6:1 e (c) 9:1. Resultados em base livre de solvente e
glicerol.
57
100
(a)
90
TAG
DAG
MAG
FFA
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
(b)
90
TAG
DAG
MAG
FFA
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.10 – (a) Cinéticas da reação de glicerólise enzimática
realizadas a 70ºC, 2,5% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435,
600 rpm, relação molar G:O de 3:1. (b) Cinéticas da reação de
glicerólise enzimática realizadas a 55ºC, 2,5% (m/m) de enzima
imobilizada Novozym 435, 600 rpm, relação molar G:O de 9:1. Linhas
contínuas (1): relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1 (v/v).
Linhas pontilhadas (2): relação solvente:mistura glicerol e óleo de 5:1
(v/v). Resultados em base livre de solvente e glicerol.
A mesma comparação foi realizada para as reações a 55ºC, com
2,5% (m/m) de enzima e relação molar de glicerol:óleo de 9:1 (Figura
58
4.10(b)). Nestas condições o aumento de 1 para 5 na relação de solvente
na mistura, apresentou influência positiva no rendimento em MAGs, ao
final da reação (cerca de 55 e 47% (m/m), para relação volumétrica 5:1 e
1:1, respectivamente). Por outro lado, o rendimento de DAGs
apresentou valores próximos nas duas reações (cerca de 17 e 14%
(m/m), para a relação volumétrica de 5:1 e 1:1, respectivamente). Em
relação às velocidades iniciais, para estas cinéticas, as diferenças
ficaram levemente mais pronunciadas, 0,768 e 0,549 mmol.min-1 para a
formação de MAGs e 0,110 e 0,068 mmol.min-1 para a formação de
DAGs, respectivamente, para as reações com relação volumétrica de 5:1
e com 1:1.
Yang et al. (2005b) compararam o rendimento em MAGs de
reações de glicerólise em batelada a 40ºC, razão molar glicerol:óleo de
4,5:1, 15% (m/m) de enzima Novozym 435 (em relação a massa de óleo
e glicerol), em diferentes concentrações de solvente terc-butanol no
meio reacional. O grupo avaliou razões mássicas de solvente:óleo de
1:1; 1,5:1; 2,2:1 e 3:1 e obteve rendimentos em MAGs em torno de 64,
70, 68 e 68%, respectivamente, concluindo assim que o aumento da
relação mássica solvente:óleo acima de 1,5:1 não beneficiava a reação e
justificaram pelo fato da maior concentração de solvente no meio
reduzir a concentração do substratos no meio reacional. Yang et al.
(2005b) afirmam ainda que, aumentos acima da relação mássica de 1,5:1
começam a reduzir, inclusive, a velocidade inicial da reação.
Ainda, Damstrup et al. (2006) realizaram testes de glicerólise em
reator contínuo, utilizando uma mistura de terc-butanol e terc-pentanol
(80:20 – v/v), em diferentes concentrações do meio: 0; 28; 44; 54 e 61%
(m/m) em relação aos substratos e observaram que até a concentração de
54% há diferença significativa positiva em relação ao rendimento em
MAGs e que acima desta não há melhora no rendimento.
Diante dos resultados obtidos, sugere-se que as diferenças
observadas nos rendimentos finais de MAGs e DAGs utilizando o
aumento de cinco vezes no volume de solvente não parecem ser
consideráveis. Este aumento no volume de solvente parece ser
desnecessário, ou provavelmente não se justifica, pelo menos em relação
à implicação de dimensionamento de equipamento, gasto energético e
tempo que a separação do solvente requer em uma etapa posterior.
Como uma forma de comparação dos resultados obtidos, cita-se o
estudo recente de Valério et al. (2009a), onde foi realizada uma
modelagem da cinética similar ao presente trabalho, porém com dados
59
experimentais de glicerólise enzimática de óleo de oliva em sistema
livre de solvente e utilizando surfactante. Este estudo envolveu a
investigação de variáveis como temperatura, concentração de enzima e
surfactante e relação molar de glicerol:óleo. Conteúdos estimados de
MAGs e DAGs (>35% (m/m)) foram obtidos em temperatura de 50ºC,
com quantidade de enzima relativamente baixa (9% m/m) em 4 horas de
reação. Assim, nota-se que utilizando o terc-butanol como solvente,
maiores rendimentos em MAGs e DAGs são obtidos.
4.2.5
Determinação do erro experimental
No decorrer dos experimentos houve a preocupação de mensurar
os erros sistemáticos e aleatórios envolvidos no processo de glicerólise
enzimática utilizando o solvente terc-butanol. Considerou-se que frente
ao fato de a amostragem ser do tipo destrutiva, da necessidade de
separação da enzima do meio reacional e da eliminação do excesso de
solvente, uma avaliação neste sentido fazia-se necessária. Após estas
etapas para obtenção das amostras, estas ainda passaram por
derivatização e diluição antes de serem encaminhadas para a análise
cromatográfica. Assim, foram realizadas três cinéticas nas mesmas
condições experimentais e a reprodutibilidade destas foi avaliada. A
Figura 4.11 apresenta o resultado da triplicata das cinéticas realizadas
para o cálculo do erro experimental, o qual também foi utilizado na
modelagem dos dados cinéticos realizados na sequência do presente
trabalho.
Os resultados obtidos foram expressos pelo desvio padrão dos
experimentos realizados para cada tempo de amostragem. Em relação a
MAGs o desvio padrão foi de ±1,85 a ±4,05% (sendo o maior desvio no
tempo de 12 horas de reação), em relação ao DAGs variou de ±1,11 a
±2,89% (sendo o maior desvio no tempo de 8 horas de reação), em
relação ao TAGs foi de ±1,26 a ±4,87% (sendo o maior desvio no tempo
de 2 horas de reação) e em relação a AGLs variou entre ±0,1 a ±1,48%
(sendo o maior desvio no tempo de 12 horas de reação). Estes resultados
mostram que apesar da grande manipulação na obtenção e preparo das
amostras, a reprodutibilidade experimental pode ser considerada.
60
100
TAG
DAG
MAG
FFA
90
Concentração % (m/m)
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.11 – Cinética da reação de glicerólise enzimática realizada em
triplicata para avaliação do erro experimental. Condições utilizadas:
40ºC, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435, relação molar
G:O de 9:1, 600 rpm e relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1
(v/v). Resultados em base livre de solvente e glicerol.
4.3
Medida da atividade enzimática
4.3.1
Influência da temperatura e relação molar de glicerol:óleo
As medidas das atividades enzimáticas residuais foram
determinadas ao longo das 12 primeiras horas de reação de algumas
condições experimentais aleatórias em que diferentes temperaturas e
relações molar de glicerol:óleo foram utilizadas, como se pode observar
na Figura 4.12. Nestas cinéticas foram utilizados 10% (m/m) de enzima
imobilizada Novozym 435 em relação aos substratos, relação
solvente:mistura de 1:1 (v/v) e agitação de 600 rpm.
Observa-se que as condições experimentais que mais mantiveram
a atividade enzimática são as correspondentes à temperatura de 40ºC e a
menor relação molar glicerol:óleo (0,8:1), sendo o fator predominante a
quantidade de glicerol, pois nas reações a 70ºC, a atividade residual
também foi maior na condição de menor relação molar glicerol:óleo.
61
100
Atividade residual (%)
95
90
85
80
75
Condição A
Condição B
70
Condição C
Condição D
65
60
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.12 – Medida das atividades enzimáticas residuais ao longo da
glicerólise enzimática de óleo de oliva. Onde: Condição A: 70ºC e
relação molar G:O de 9:1; Condição B: 70ºC e relação molar G:O de
0,8:1; Condição C: 40ºC e relação molar G:O de 9:1; Condição D: 40ºC
e relação molar G:O de 0,8:1.
Estes resultados foram associados também, com uma avaliação
visual realizada no momento do preparo das enzimas para o teste de
atividade. Para as enzimas que foram utilizadas nas reações com relação
molar de glicerol:óleo de 9:1, a eliminação do glicerol aderido nestas
tornava-se uma etapa crítica, pois a lavagem com hexano tinha que ser
feita inúmeras vezes até conseguir a máxima remoção do glicerol
aderido para que a análise pudesse ser realizada. Assim, percebe-se
claramente que o excesso de glicerol tende a formar uma “camada” em
torno do suporte da enzima e estas durante a reação acabam formando
grandes aglomerados que prejudicam o contato com o outro substrato
(óleo) para a formação dos produtos desejáveis.
Comportamentos como este podem ser decisivos na escolha do
modo de condução da reação. Sabe-se que o glicerol é hidrofílico e
insolúvel em lipídeos, assim, ele é facilmente adsorvido na superfície da
lipase imobilizada resultando em um efeito negativo para a atividade da
lipase e estabilidade da reação. Frente a esta situação, vários métodos
têm sido propostos para eliminar o efeito negativo causado pelo glicerol,
entre eles, a adição de sílica gel no meio reacional para adsorver o
glicerol e a lavagem das lipases com alguns solventes orgânicos
62
periodicamente para remoção da “camada” de glicerol. Porém, é visto
que qualquer uma destas propostas irá aumentar a complexidade
operacional da reação (Selmi e Thomas, 1998; Yang et al., 2005; Su e
Wei, 2008). Nas cinéticas em que as reações utilizaram relação molar
glicerol:óleo de 9:1 (Figuras 4.9(c); 4.10(b) e 4.11) observou-se
velocidades iniciais baixas e somente ao final das reações é que
rendimentos maiores em MAGs começam a ser obtidos, comparado com
as demais condições. Nestes casos, o efeito negativo do excesso de
glicerol conduziu à diminuição nas velocidades das reações.
Em relação ao resultado que indica a maior perda de atividade a
70ºC do que a 40ºC, apesar de 70ºC ser a temperatura ótima indicada
pelo fabricante da Novozym 435, a temperatura da reação tem influência
significativa na atividade e estabilidade das lipases. Temperaturas mais
altas podem ativar as moléculas dos substratos, reduzir a viscosidade do
meio reacional e aumentar a velocidade inicial da reação. Porém
temperaturas acima de 65ºC levam a uma maior velocidade de
desativação das lipases, além de aumentar a perda do solvente do meio
por evaporação (Cheong et al., 2007; Zheng et al., 2009).
Kaewthong e H-Kittikun (2004), em seu estudo sobre glicerólise
enzimática (com lipase de Pseudomonas sp.) de óleo de palma
utilizando como solvente uma mistura de acetona/isoctano (3:1),
obtiveram após 24 horas de reação, nas temperaturas de 0 e 45ºC, perda
de atividade enzimática em torno de 10 e 20%, respectivamente.
4.3.2
Efeito da concentração de solvente orgânico terc-butanol no
meio reacional
O efeito na atividade enzimática do aumento da concentração de
solvente no meio reacional foi avaliado. A Figura 4.13 apresenta uma
comparação entre a perda de atividade enzimática para uma cinética
utilizando relações volumétricas de solvente:substratos de 1:1 e 5:1
(v/v). Nestas cinéticas utilizou-se 10% (m/m) de enzima, temperatura de
55ºC, relação molar glicerol:óleo de 3:1 e agitação magnética de 600
rpm.
Com os resultados obtidos, pode-se observar (Figura 4.13) que o
aumento da concentração de solvente no meio (de 1:1 para 5:1 – v/v),
afetou levemente a atividade enzimática ao longo da reação, não
ultrapassando 3% de perda adicional ao final das 12 horas de
acompanhamento.
63
100
Atividade residual (%)
95
90
85
80
75
70
Condição E
Condição F
65
60
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.13 – Medida das atividades enzimáticas residuais ao longo da
reação de glicerólise enzimática de óleo de oliva. Onde: Condição E:
relação volumétrica solvente:mistura de 1:1 (v/v) e Condição F: relação
volumétrica solvente:mistura de 5:1 (v/v).
Kumari et al. (2009) no estudo de transesterificação enzimática
(utilizando lipase imobilizada) de óleo de Jatropha curcas, afirmam que
a presença do terc-butanol retarda a inativação da enzima pelo glicerol,
permitindo a sua estabilidade e reutilização por várias vezes. Estes
autores não encontram perdas significativas na atividade da enzima pelo
contato com o solvente, durante os sete primeiros ciclos testados (60
horas cada ciclo/reação), somente após 20 ciclos, chegou-se a 50% na
perda da atividade, a qual foi atribuída principalmente aos danos
causados à enzima durante as etapas de filtração e secagem em que eram
submetidas entre cada ciclo e, em pequena parte, devido a longa
interação com o solvente terc-butanol.
4.4
Determinação do teor de água
A estimação do teor de água no meio reacional torna-se
importante diante do fato de que dependendo da concentração de água
presente, os substratos podem ser direcionados à reações de hidrólise.
Isto poderá acarretar na competição entre as etapas da reação de
glicerólise na formação dos produtos finais. Os resultados de teor de
64
água nos substratos são apresentados na Tabela 4.3. As determinações
foram realizadas utilizando o método titulométrico Karl Fischer
conforme descrito no item 3.8 (Capítulo 3).
Tabela 4.3 - Conteúdo inicial de água nos substratos da reação de
glicerólise. Os resultados representam a média seguida pelo desvio
padrão experimental entre parênteses.
% Teor de água
2,3 (±0,3)
0,87 (±0,08)
Glicerol
Azeite de oliva
Assim, pelos resultados obtidos, optou-se por utilizar como
informação de entrada para a modelagem matemática dos dados
experimentais deste trabalho, o conteúdo inicial de água de 3% no
glicerol.
Como visto no Capítulo 2, estima-se que as etapas de hidrólise
podem ocorrer paralelamente a de glicerólise tendo a partir de 4% de
água no glicerol. Lembrando ainda que, às vezes, a água é
inadequadamente incorporada ao meio, devido à natureza hidrofílica do
glicerol, o qual pode absorvê-la durante a reação (Temelli et al., 1996).
4.5
4.5.1
Modelagem matemática
Mecanismo cinético 1
Nesta primeira abordagem proposta utilizou-se as equações
cinéticas apresentadas no item 2.5 (Capítulo 2, página 10), sendo para as
etapas de glicerólise as Equações (2.1) a (2.3) e para as etapas de
hidrólise as Equações (2.4) a (2.6) (que ocorrem paralelamente se
houver presença de água suficiente no sistema), como segue:
TAG Gly MAG DAG
(2.1)
DAG Gly 2MAG
(2.2)
k1
k2
k3
k4
65
TAG MAG 2 DAG
k5
(2.3)
k6
TAG H 2O DAG AGL
(2.4)
DAG H 2O MAG AGL
(2.5)
MAG H 2O Gly AGL
(2.6)
k7
k8
k9
k10
k11
k12
Onde: TAG, DAG, MAG, AGL, Gly e H2O são as frações molares em
termos de triacilgliceróis, diacilgliceróis, monoacilgliceróis, ácidos
graxos livres, glicerol e água, respectivamente.
A partir destas equações de reações propostas e do balanço de
massa realizado, em reator batelada para cada componente, obtêm-se as
seguintes equações diferenciais que envolvem a produção de MAGs e
DAGs (equações das velocidades das reações):
dTAG
k1 (Gly)(TAG ) k2 ( DAG)(MAG ) k5 (TAG )(MAG ) k6 ( DAG) 2
dt
k7 (TAG)( H 2O) k8 ( DAG)( AGL)
(4.1)
dDAG
k1 (Gly)(TAG ) k2 ( DAG)(MAG ) k3 (Gly)( DAG) k4 ( MAG ) 2
dt
2k5 (TAG)(MAG) 2k6 ( DAG) 2 k7 (TAG)( H 2 O) k8 ( DAG)( AGL)
k9 ( DAG)( H 2O) k10 (MAG)( AGL)
(4.2)
dMAG
k1 (Gly)(TAG) k2 ( DAG)(MAG ) 2k3 (Gly)( DAG) 2k4 ( MAG ) 2
dt
k5 (TAG)(MAG) k6 ( DAG) 2 k9 ( DAG)( H 2O) k10 (MAG)( AGL)
k11( H 2O)(MAG) k12 (Gly)( AGL)
(4.3)
66
dGly
k1 (Gly)(TAG ) k2 ( DAG)(MAG ) k3 (Gly)( DAG) k4 ( MAG ) 2
dt
(4.4)
k11 (MAG)( H 2O) k12 (Gly)( AGL)
dAGL
k7 (TAG)( H 2 O) k8 ( DAG)( AGL) k9 ( DAG)( H 2 O) k10 (MAG )( AGL)
dt
(4.5)
k11( H 2O)(MAG) k12 (Gly)( AGL)
dH 2O
k7 (TAG)( H 2 O) k8 ( DAG)( AGL) k9 ( DAG)( H 2O) k10 ( MAG )( AGL)
dt
(4.6)
k11(MAG)( H 2O) k12 (Gly)( AGL)
Onde:
ki = Ki*[Et], sendo i = 1, ..., 12
[Et] = Concentração de enzima no meio reacional (g enzima/g
substratos)
4.5.1.1 Modelagem matemática de dados da literatura
Os parâmetros do modelo cinético (Equações (4.1) a (4.6)) foram
ajustados a partir dos dados cinéticos obtidos do trabalho de Yang et al.
(2005a) em que a seguinte função de mínimos quadrados foi
minimizada:
f
C
NOBS N var
j
k
exp
jk
C
calc
jk
2
(4.7)
Onde:
calc
C exp
jk e C jk representam as concentrações de TAGs, DAGs, MAGs e
AGLs experimentais e calculadas pelo modelo (Equações (4.1) a (4.6)),
expressas em fração mássica percentual em base livre de solvente, água
e glicerol. NOBS refere-se ao número de observações experimentais e
Nvar o número de variáveis usadas na regressão (TAGs, DAGs, MAGs
e AGLs).
67
São apresentados na Tabela 4.4 as constantes cinéticas do modelo
correlacionado aos dados experimentais descritos por Yang et al.
(2005a) para a cinética sem e com a adição de solvente.
Tabela 4.4 – Constantes cinéticas obtidas a partir da modelagem cinética
utilizando os dados de Yang et al. (2005a)
Constantes
cinéticas
k1
k2
k3
k4
k5
k6
k7
k8
k9
k10
k11
k12
Valor da função
(Eq. (4.7))
Sem solvente
(mol.g-1.h-1)
63,19
0,0
26,11
71,65
0,23
0,0
14,012
0,0
1,13
970,23
1870,36
529,27
1.114,3
Com solvente
(mol.g-1.h-1)
1.364,78
0,0
8358,96
2316,56
3989,64
0,0
205,88
0,0
1159,41
253,98
3844,98
420,34
132,5
Neste primeiro estudo, optou-se por usar o procedimento
apresentado por Moquin et al. (2006), onde os parâmetros K2, K6 e K8
foram fixados iguais a zero, uma vez que referem-se à formação de
TAGs e considerando assim que as reações 1, 3 e 4 são irreversíveis ou
com baixa probabilidade de ocorrer.
Nas Figuras 4.14(a), (b) e (c) são apresentados os dados
experimentais, juntamente com o modelo ajustado, referentes à cinética
de glicerólise sem solvente e sem adição de água, sem solvente e com
adição de 2,6% (m/m) de água (no glicerol) e com solvente,
respectivamente.
68
(a)
(b)
(c)
Figura 4.14 – Curvas cinéticas obtidas pelos dados experimentais e pelo
modelo para a reação de glicerólise enzimática com relação molar
glicerol:óleo de 4,5:1: (a) sem solvente e sem adição de água, 40ºC e
10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 em relação aos
substratos, (b) sem solvente e com adição de 2,6% de água (no glicerol),
40ºC e 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 em relação aos
substratos e (c) com solvente (relação molar de solvente:óleo de 2:1),
45ºC e 15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 em relação aos
substratos. Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na
Tabela 4.4.
Analisando a Figura 4.14 pode-se observar que o modelo
proposto apresentou boa capacidade de correlação com os dados
experimentais da literatura, bem como, verifica-se que o uso do solvente
orgânico terc-butanol em reações de glicerólise é altamente positivo em
relação ao rendimento em MAGs. Observa-se também que a adição de
2,6% (m/m) de água (no glicerol) não alterou significativamente o perfil
69
cinético nem aumentou significativamente a produção de ácidos graxos
livres, indicando que esta concentração de água no meio tem pouca
influência nas reações de hidrólise.
A partir do modelo obtido no presente trabalho, simulou-se uma
reação com restrição de glicerol para verificar o comportamento desta
em relação aos produtos finais formados. Para isso utilizou-se, na
simulação, a seguinte condição reacional: relação molar glicerol:óleo de
0,8:1, temperatura de 45ºC e 15% (m/m) de enzima. O resultado obtido
encontra-se na Figura 4.15.
Figura 4.15 – Simulação da reação de glicerólise enzimática a 45ºC,
15% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435, relação molar G:O de
0,8:1 e relação de solvente em óleo de 2:1 (v/v), utilizando o modelo
empregado neste trabalho. Parâmetros cinéticos do modelo conforme
apresentado na Tabela 4.4.
Frente ao resultado obtido com a simulação apresentada na
Figura 4.15 nota-se que a restrição de glicerol no meio reacional está
diretamente relacionada com a maximização do rendimento de DAGs.
Tendo em vista que nos últimos anos vêm aumentado os estudos
relacionados aos benefícios para a saúde da substituição total ou parcial
dos triglicerídeos por diglicerídeos (Watanabe et al., 2001; Nagao et al.,
2000; Kasamatsu et al., 2005), este resultado torna-se de grande
interesse.
Assim, com o intuito de verificar as tendências mostradas neste
teste preliminar de modelagem cinética da glicerólise, realizou-se alguns
experimentos para comprovar a possibilidade de priorizar o rendimento
em DAGs, conforme indicado pelo modelo.
70
O primeiro teste realizado nesta etapa foi uma cinética da reação
sem solvente (Figura 4.16). A partir da Figura 4.16 observa-se que sem
o uso do solvente orgânico o rendimento em MAGs é prejudicado, não
passando de 15% em 12 horas de reação. Isto pode ser atribuído à baixa
miscibilidade da mistura reacional pela ausência do solvente. Por outro
lado, o rendimento em DAGs é favorecido (maior que 47% ao final das
12 horas), assim como apresentado também por Yang et al. (2005a) e
reforçado pela modelagem realizada na etapa anterior (Figura 4.13(a)).
Isto pode ser justificado pelo fato de que, sem um agente promotor da
homogeneidade, o meio reacional fica claramente dividido em três fases
distintas, as quais mesmo sob agitação vigorosa, praticamente não se
misturam. Ao cessar agitação, vê-se claramente a divisão de fases, onde
a enzima tende a ir para o fundo, logo acima se deposita o óleo e acima
deste o glicerol. Isso tudo ainda pode ser relacionado com as Equações
(2.1) a (2.3) (Capítulo 2, página 10), onde a Equação (2.2) é prejudicada
na ausência de homogeneidade, uma vez que, neste caso, a enzima acaba
tendo mais contato com o óleo do que com o glicerol pela posição das
fases.
100
TAG
DAG
MAG
FFA
90
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m/m)
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.16 – Cinética da reação de glicerólise enzimática sem solvente
no meio reacional. Condições: 55ºC, relação molar G:O de 3:1, 10%
(m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e 600 rpm. Resultados em
base livre de glicerol.
Buscando aprofundar o conhecimento nas reações que priorizam
a produção de DAGs, foram realizados dois experimentos, na presença
de solvente orgânico terc-butanol e com restrição de glicerol. Isto
71
porque o modelo preliminar confirmou que a maior produção de DAGs
está intimamente ligada à baixa concentração de glicerol no meio
reacional. Assim, na primeira reação foi utilizada uma relação molar de
gliceol:óleo de 0,8:1, a qual foi escolhida por ter sido simulada a partir
do modelo obtido na etapa anterior. E, na segunda reação, foi utilizada a
relação molar de glicerol:óleo de 0,33:1, com o objetivo de verificar o
comportamento da reação em uma condição de menor concentração
inicial de glicerol. Os resultados obtidos encontram-se na Figura 4.17.
100
(a)
90
TAG
DAG
MAG
FFA
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
100
TAG
DAG
MAG
FFA
(b)
90
80
70
60
50
40
30
Concentração % (m
20
10
0
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.17 – Cinéticas da reação de glicerólise enzimática realizadas a
55ºC, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435, 600 rpm e
relação solvente:mistura glicerol e óleo de 1:1 (v/v). Relação molar
G:O: (a) 0,8:1 e (b) 0,33:1. Resultados em base livre de solvente e
glicerol.
72
As cinéticas apresentadas na Figura 4.17 seguem a tendência
indicada pelo modelo de que quando há restrição de glicerol no meio,
prioriza-se a produção de DAGs. Para a condição utilizada na Figura
4.17(a) observa-se um rendimento em DAGs em torno de 57% (m/m) ao
final da reação e na condição de maior restrição de glicerol (Figura
4.17(b)) obteve-se em torno de 51% (m/m) de DAGs em 8 horas de
reação. É interessante observar na Figura 4.17(b) que ao final das 12
horas de reação, ainda há uma quantidade significativa de TAGs (em
torno de 37% (m/m)), indicando, por exemplo, se para estas condições
fosse adotado um sistema de batelada alimentada e alimentando de
forma controlada o glicerol, pode-se conseguir altos rendimentos em
DAGs.
4.5.1.2 Modelagem matemática da reação de glicerólise enzimática na
presença de solvente terc-butanol
Nesta etapa, o tratamento dos dados obtidos no estudo cinético
deste trabalho segue a abordagem do mecanismo cinético 1, descrita no
item 4.5.1, com o diferencial de que foi adicionado ao modelo um termo
de desativação enzimática pelo excesso de glicerol ao longo da reação.
Para o cálculo desta desativação, definiu-se primeiramente, a atividade
da enzima que é representada pelo termo “ a ”, e é definida como a
relação entre a concentração de enzima ativa ( [ E a ct ] ) e o total da
concentração de enzima ( [ET ] ), como segue:
a [ Ea ct ] /[ ET ]
(4.8)
Para representar a sensibilidade da reação de glicerólise em
relação a variação da temperatura ( T ), constantes da velocidade
aparente (Ki) foram expressas em termos de temperatura por uma
equação tipo Arrhenius:
ki k0i exp(
Ea i
)
RT
i 1,...,12
(4.9)
Onde:
ki (i 1,...,12) = constantes de velocidade aparente (mol/(g.min))
k0i ( i 1,...,12 ) = fatores pré-exponenciais (mol/(g.min))
73
Eai/R (i 1,...,12) = parâmetros de energia
Como já observado e discutido ao longo deste capítulo, tem-se
que o desempenho inicial da reação de glicerólise tende a ser
prejudicado com o aumento da concentração de glicerol no meio
reacional, em termos de rendimento de MAGs. Este resultado tem sido
atribuído à visível aderência do glicerol no suporte da enzima, causando
limitações na transferência de massa. Por esta razão, um fator empírico
de redução da atividade enzimática foi proposto nesta abordagem (bem
como na abordagem do mecanismo cinético 2 – Anexo 1, a qual será
discutida posteriormente) para descrever a desativação da enzima em
função do concentração do glicerol no meio reacional, a qual segundo
Fogler (1999), pode ser expressa como:
da
kd a n [G]q
dt
n 1 or 2; q 1 or 2
(4.10)
Onde:
kd = constante de redução da atividade enzimática ((min.molglicerol)-1)
a = termo relacionado à atividade residual da enzima
[G] = concentração de glicerol (mol/gsubstrato)
n = ordem relacionada com a redução da atividade da enzima
q = ordem da redução da atividade enzimática relacionada com a
concentração de glicerol
No início da reação o valor de “ a ” é assumido ser unitário (a =
1). As ordens de redução de atividade enzimática, n e q, foram
determinadas através de uma comparação simples entre os resultados
plotados de atividade residual das enzimas em reações que utilizaram
concentrações máximas de glicerol no meio reacional (relação molar
glicerol:óleo de 9:1) versus tempo de reação. Para isso, utilizou-se as
derivadas da Eq. (4.10) de acordo com as possíveis ordens de reação (1º
ou 2º) para n e q, como observado na Figura 4.18.
Para avaliação das ordens dos coeficientes, n e q, pela curva da
derivada da Eq. (4.10), foi observado qual destas combinações
apresentou melhor coeficiente de correlação (R2), ou seja, qual curva
obteve menor dispersão dos dados em relação à linha de tendência. A
mesma comparação foi realizada para a relação molar de glicerol:óleo
de 0,8:1, e resultados semelhantes aos da Figura 4.18 foram obtidos
(dados não apresentados).
74
n=1 e q=1
0,0005
1/(atividade residual*[Gly])
ln (atividade residual)/[Gly]
0,120
0,115
0,110
0,105
0,100
R² = 0,463
0,095
0,090
n=2 e q=1
0,0004
0,0003
0,0002
R² = 0,890
0,0001
0,0000
0
2
4
6
8
10
12
0
2
4
Tempo de reação (h)
n=1 e q=2
1,6E-05
1/(atividade residual*[Gly^2])
ln (atividade residual)/[Gly^2]
3,5E-03
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
3,0E-03
2,5E-03
2,0E-03
1,5E-03
1,0E-03
R² = 0,610
5,0E-04
0,0E+00
n=2 e q=2
1,4E-05
1,2E-05
1,0E-05
8,0E-06
6,0E-06
4,0E-06
R² = 0,869
2,0E-06
0,0E+00
0
2
4
6
8
Tempo de reação (h)
10
12
0
2
4
6
8
10
12
Tempo de reação (h)
Figura 4.18 – Avaliação da ordem de reação dos coeficientes de redução
da atividade enzimática (n e q). Condições enzimáticas: 55ºC, relação
molar G:O de 9:1, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435.
A partir da análise da Figura 4.18 pode-se afirmar que os valores
para n e q que melhor representam os dados experimentais são n = 2 e q
= 1, os quais foram assim fixados antes do procedimento de otimização
e não foram alterados ao longo deste processo.
Os parâmetros do modelo (k0i, Eai/R e kd) foram estimados do
ajuste dos dados experimentais através da minimização da função
objetivo, conforme a Equação (4.7).
Um programa computacional foi desenvolvido e implementado
para o procedimento de estimação dos parâmetros utilizando o software
Matlab 7.0. A subrotina “ode23s” (ferramenta da biblioteca do Matlab
7.0) foi usada para a resolução das equações diferenciais. Para a
estimação de parâmetros cinéticos da reação foi empregado o Método de
estocástico Enxame de Partículas (Particle Swarm Optimization)
(Ferrari,2008) e a subrotina de otimização “fmincon” (ferramenta da
75
biblioteca do Matlab 7.0) foi implementada para a minimização da
função objetivo (Eq. (4.7).
Os parâmetros estimados pelo modelo cinético proposto para esta
abordagem encontram-se nas Tabelas 4.5 e 4.6. Para o ajuste dos
parâmetros foram utilizados os dados obtidos no estudo da cinética da
glicerólise enzimática deste trabalho, compreendendo 13 conjuntos de
experimentos (cinéticas), com seis a nove pontos cada conjunto,
totalizando 110 pontos experimentais do conteúdo de TAGs, DAGs,
MAGs e AGLs.
Tabela 4.5 – Constantes cinéticas obtidas na modelagem dos dados
experimentais utilizando a abordagem do mecanismo cinético 1.
i
Eai/R (K)
1
4.775,03
2
2.324,87
3
815,99
4
1.529,71
5
1.945,2
6
3.572,25
7
1.804,99
8
2.641,07
9
4.544,51
10
108,59
11
938,91
12
3.930,29
Valor da função (Eq. 4.7)
Ki (mol.g-1.min-1)
837,55
2.263,72
956,10
1.036,06
1.183,76
2.509,06
429,76
953,45
962,34
1.092,09
1.245,96
609,25
630,43
Tabela 4.6 – Parâmetros estimados pelo modelo cinético (Equação da
redução da atividade enzimática)
kd (min.molglicerol)-1
n
q
21,89
2
1
Para o cálculo dos valores dos desvios quadráticos médios
( rmsd ) utilizou-se a Eq. (4.11), como segue:
76
X
NOBS
rmsdk
exp
j
X caj lc
j
NOBS
2
k TAG, DAG, MAG e AGL
(4.11)
Assim, os valores obtidos foram: rmsdTAG = 18,39; rmsdDAG =
7,87; rmsdMAG = 5,50 e rmsdAGL = 1,59 para TAGs, DAGs, MAGs e
AGLs, respectivamente.
A Figura 4.19 apresenta o ajuste do modelo proposto aos dados
experimentais das cinéticas sobre o estudo do efeito da relação molar de
glicerol:óleo na glicerólise enzimática de óleo de oliva na presença do
solvente terc-butanol. Nesta figura, observa-se claramente que para as
reações que utilizam uma relação molar de glicerol:óleo de até 6:1 o
modelo apresenta um bom ajuste. Porém, para a relação molar de
glicerol:óleo de 9:1, o modelo não é capaz de correlacionar de forma
adequada os dados e assim, o ajuste é visivelmente prejudicado. Isto se
deve, muito provavelmente, aos fenômenos causados pela aderência do
glicerol no suporte da enzima. Estes fenômenos envolvem as alterações
na transferência de massa, a formação de aglomerados e a formação da
“capa” de glicerol ao redor da enzima, entre outros. A consideração de
todos estes fenômenos pelo modelo o tornaria altamente complexo.
A Figura 4.20 apresenta o ajuste do modelo aos dados
experimentais de mais uma condição cinética, utilizando a relação molar
de glicerol:óleo de 9:1, desta vez, utilizando temperatura de 40ºC e
concentração de enzima de 10% (m/m) em relação aos substratos e,
neste caso, obteve-se um ajuste levemente satisfatório, melhor que nas
condições da Figura 4.19 para esta mesma concentração de glicerol. Isto
indica que o modelo consegue demonstrar uma “tendência” do
comportamento deste tipo de reação.
Na Figura 4.21 observa-se o ajuste do modelo aos dados
experimentais sobre o estudo do efeito da relação molar de glicerol:óleo
na glicerólise enzimática de óleo de oliva na presença do solvente tercbutanol, em concentrações de glicerol muito baixas (relação molar
glicerol:óleo de 0,8:1 e 0,33:1). Neste caso, não se obteve uma
correlação satisfatória, principalmente para a menor concentração de
glicerol, em parte justificada pelos poucos dados cinéticos disponíveis
nestas condições de restrição de glicerol, comparado ao volume de
dados em outras condições experimentais.
77
(a)
(b)
(c)
Figura 4.19 – Modelo e dados experimentais do efeito da relação molar
de glicerol:óleo na glicerólise enzimática de óleo de oliva na presença
do solvente terc-butanol. Condições experimentais: 55ºC, 15% (m/m) de
enzima imobilizada Novozym 435 e agitação de 600 rpm. Relação
molar G:O: (a) 3:1; (b) 6:1; (c) 9:1. Resultados em base livre de solvente
e glicerol. Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na
Tabela 4.5.
78
Figura 4.20 - Modelo e dados experimentais do efeito da concentração
de glicerol na reação de glicerólise de óleo de oliva na presença de
solvente terc-butanol. Condições experimentais: relação molar G:O de
9:1, 40ºC, 10% (m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e agitação
de 600 rpm. Resultados em base livre de solvente e glicerol. Parâmetros
cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela 4.5.
Na Figura 4.22 apresenta-se o ajuste do modelo aos dados
experimentais sobre o estudo da influência da temperatura (40, 55 e
70ºC) na reação de glicerólise de óleo de oliva na presença de solvente
terc-butanol, utilizando uma relação molar de glicerol:óleo de 6:1 e 10%
(m/m) de enzima em relação aos substratos. Neste grupo de
experimentos o ajuste do modelo foi excelente, representando fielmente
os dados do estudo.
Na Figura 4.23 observa-se o resultado do ajuste do modelo aos
dados experimentais sobre o estudo do efeito da concentração de enzima
(2,5; 10 e 15% - m/m) na reação de glicerólise de óleo de oliva na
presença de solvente terc-butanol, utilizando relação molar glicerol:óleo
de 6:1 e 70ºC. Neste grupo de experimentos, obteve-se um ajuste
satisfatório para as cinéticas utilizando 10 e 15% (m/m) de enzima e um
ajuste mais pobre para a concentração de 2,5% (m/m).
79
(a)
(b)
Figura 4.21 - Modelo e dados experimentais do efeito da relação molar
de glicerol:óleo na glicerólise enzimática de óleo de oliva na presença
do solvente terc-butanol. Condições experimentais: 55ºC, 10% (m/m) de
enzima imobilizada Novozym 435 e agitação de 600 rpm. Relação
molar G:O: (a) 0,8:1; (b) 0,33:1. Resultados em base livre de solvente e
glicerol. Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na
Tabela 4.5.
80
(a)
(b)
(c)
Figura 4.22 - Modelo e dados experimentais do efeito da temperatura na
reação de glicerólise de óleo de oliva na presença de solvente tercbutanol. Condições experimentais: relação molar G:O de 6:1, 10%
(m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e agitação de 600 rpm. (a)
40°C; (b) 55°C; (c) 70°C. Resultados em base livre de solvente e
glicerol. Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na
Tabela 4.5.
81
(a)
(b)
(c)
Figura 4.23 - Modelo e dados experimentais do efeito da concentração
de enzima na reação de glicerólise de óleo de oliva na presença de
solvente terc-butanol. Condições experimentais: relação molar G:O de
6:1, 70ºC e agitação de 600 rpm. Concentração de enzima imobilizada
Novozym 435 (m/m): (a) 2,5%; (b) 10%; (c) 15%. Resultados em base
livre de solvente e glicerol. Parâmetros cinéticos do modelo conforme
apresentado na Tabela 4.5.
82
4.5.2
Mecanismo cinético 2
A segunda abordagem avaliada no presente trabalho é
apresentada como Mecanismo Cinético 2, a qual foi desenvolvida por
Voll (2010) e aplicada aos dados experimentais do presente trabalho.
Cabe ressaltar que o detalhamento completo conforme desenvolvimento
de Voll (2010) está apresentada no Anexo 1, aqui serão utilizados
alguns resultados para efeito de comparação com os resultados obtidos
pelo Mecanismo Cinético 1. A principal característica desta segunda
abordagem está na inclusão dos parâmetros que envolvem a formação
dos complexos enzimáticos no decorrer das reações, o que torna o
modelo mais fenomenológico e por consequência mais complexo que o
modelo utilizado no Mecanismo Cinético 1. Ressalta-se também que há
aumento na complexidade computacional desta segunda abordagem, a
qual está relacionada com o aumento significativo do número de
parâmetros ajustáveis do modelo e nas manipulações algébricas
requeridas.
Os resultados obtidos foram comparados aos resultados obtidos
na abordagem do Mecanismo Cinético 1. Os ajustes com as cinéticas
que utilizaram relação molar de glicerol:óleo de 9:1 não foram incluídas
nesta abordagem por não terem apresentado boa correlação com os
dados experimentais. Nas Figuras 4.24 a 4.27 estão apresentados os
resultados das correlações do modelo obtido com o Mecanismo Cinético
2 e os dados experimentais.
Na Figura 4.24 são apresentados os dados experimentais e os
resultados do modelo cinético para as diferentes relações molares de
glicerol:óleo (3:1 e 6:1), para uma concentração de enzima de 15%
(m/m em relação aos substratos glicerol mais óleo). A correlação do
modelo cinético aos dados experimentais apresentou-se semelhante à
correlação obtida no Mecanismo Cinético 1 (Figura 4.19(a) e (b), sendo
que pode ser observado que ambas as abordagens utilizadas neste
trabalho são capazes de descrever quantitativamente o comportamento
da reação.
83
100
(a)
90
TAG
DAG
MA
AGL
G
80
70
60
m%
50
40
30
20
10
0
0
100
200
300
400 500
tempo (min)
600
700
600
700
100
(b)
90
80
70
m%
60
50
40
30
20
10
0
0
100
200
300
400 500
tempo (min)
Figura 4.24 – Correlação do modelo relativo ao Mecanismo Cinético 2
com os dados experimentais. Efeito da relação molar de glicerol:óleo na
glicerólise enzimática de óleo de oliva na presença do solvente tercbutanol. Condições experimentais: 55ºC, 15% (m/m) de enzima
imobilizada Novozym 435 e agitação de 600 rpm. (a) 3:1; (b) 6:1.
Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela An.2
(Anexo).
Na Figura 4.25 são apresentados os dados experimentais e
modelo ajustado para outros valores de relação molar de glicerol:óleo e
concentração de enzima fixa de 10 % (m/m). A partir desta figura pode
ser verificado que o modelo apresentou uma capacidade de correlacionar
os dados experimentais de uma maneira bastante eficiente para este
84
grupo de experimentos, diferentemente da correlação obtida para as
relações molares de glicerol:óleo de 0,8:1 e 0,33:1 (Figura 4.21) com o
Mecanismo Cinético 1. Isto implica que as considerações da formação
dos complexos enzimáticos no balanço de massa da reação de glicerólise
para o modelo é altamente representativo para estas condições de
restrição de glicerol.
Na Figura 4.26 são apresentados os dados experimentais e os
resultados do modelo para os experimentos em que é avaliado o efeito
da temperatura (40, 55 e 70ºC) na reação de glicerólise. Para tal, a
relação molar de glicerol:óleo foi fixada em 6:1 e a concentração de
enzima em 10% (m/m) (em relação à massa de substratos glicerol e
óleo). Pode-se observar que os resultados obtidos nesta abordagem são
praticamente equivalentes aos ajustes obtidos no Mecanismo Cinético 1
(Figura 4.22), sendo que ambos mostraram-se satisfatórios e
representativos.
A Figura 4.27 apresenta os dados experimentais e o resultado do
ajuste do modelo para cinéticas conduzidas a 70ºC, com relação molar
de glicerol:óleo de 6:1 e diferentes concentrações de enzimas (m/m):
2,5; 10 e 15% (em relação a massa de substratos glicerol e óleo).
Observa-se que nas três concentrações de enzima, o modelo do
Mecanismo Cinético 2 teve boas correlações com os dados
experimentais. Estes resultados se assemelham com as correlações
obtidas para as concentrações de 10 e 15% (m/m) utilizando o
Mecanismo Cinético 1.
De uma maneira geral pode ser observado a partir dos resultados
obtidos neste trabalho que ambas as abordagens investigadas
(mecanismo estequiométrico simples – abordagem denominada
Mecanismo Cinético 1; e abordagem mecanicista considerando um
mecanismo cinético ennzimático sequencial Bi Bi) mostraram-se
capazes de correlacionar e modelar os dados experimentais referentes à
cinética enzimática de glicerólise de óleo de oliva de maneira bastante
eficiente.
85
100
90
80
70
m%
TAG
DAG
MAG
AGL
(a)
60
50
40
30
20
10
00
100
90
100 200 300 400 500 600 700
tempo (min)
(b)
80
70
m%
60
50
40
30
20
10
00
100 200 300 400 500 600 700
tempo (min)
100
90
80
(c)
70
m% 60
50
40
30
20
10
0
0
100 200 300 400 500 600 700
tempo (min)
Figura 4.25 - Correlação do modelo relativo ao Mecanismo Cinético 2
com os dados experimentais. Efeito da relação de glicerol:óleo na
glicerólise enzimática de óleo de oliva na presença do solvente tercbutanol. Condições experimentais: 55ºC, 10% (m/m) de enzima
imobilizada Novozym 435 e agitação de 600 rpm. (a) 6:1; (b) 0,8:1; (c)
033:1. Parâmetros cinéticos do modelo conforme apresentado na Tabela
An.2 (Anexo).
86
100
80
70
m%
(a)
TAG
DAG
MAG
AGL
90
60
50
40
30
20
10
0
0
100
200
300
400
500
600
700
600
700
600
700
tempo (min)
100
(b)
90
80
70
60
m%
50
40
30
20
10
0
0
100
200
300
400
500
tempo (min)
0
100
(c)
90
80
70
m%
60
50
40
30
20
10
0
0
100
200
300
400
500
tempo (min)
Figura 4.26 – Correlação do modelo relativo ao Mecanismo Cinético 2
com os dados experimentais. Efeito da temperatura na reação de
glicerólise de óleo de oliva na presença de solvente terc-butanol.
Condições experimentais: relação molar glicerol:óleo de 6:1, 10%
(m/m) de enzima imobilizada Novozym 435 e agitação de 600 rpm. (a)
40°C; (b) 55°C; (c) 70°C. Parâmetros cinéticos do modelo conforme
apresentado na Tabela An.2 (Anexo).
87
100
(a)
90
TAG
DAG
80
MAG
70
AGL
60
m%
50
40
30
20
10
0
0
100
20
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50
600
700
600
700
600
70
tempo (min)
100
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(b)
80
70
60
m%
50
40
30
20
10
0
0
100
20
300
400
50
tempo (min)
100
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(c)
80
70
60
m%
50
40
30
20
10
0
0
100
20
300
400
500
tempo (min)
Figura 4.27 – Correlação do modelo relativo ao Mecanismo Cinético 2
com os dados experimentais. Efeito da concentração de enzima
imobilizada Novozym 435 (m/m) na reação de glicerólise de óleo de
oliva na presença de solvente terc-butanol. Condições experimentais:
relação molar glicerol:óleo de 6:1, 70ºC e agitação de 600 rpm. (a)
2,5%; (b) 10%; (c) 15%. Parâmetros cinéticos do modelo conforme
apresentado na Tabela An.2 (Anexo).
88
4.6
Considerações Finais
Os resultados apresentados neste capítulo contribuem para o
melhor entendimento da glicerólise enzimática para a produção dos
emulsificantes MAG e DAG. Na etapa de desenvolvimento da
metodologia de análise de TAGs, DAGs, MAGs e AGLs mostrou-se
que é possível quantificar quali e quantitativamente os compostos
mencionados com confiabilidade através de análise por cromatografia
gasosa. Os resultados positivos nesta etapa somente foram possíveis
mediante ajustes realizados no método escolhido como referência - NR
14.105 (European Committee for Standardisation, 2001), principalmente
em relação às faixas de calibração, que necessitaram ser ampliadas.
O estudo cinético indicou as condições experimentais para
maximização dos produtos desejáveis, onde foram discutidos fatores
ainda pouco explorados na literatura - a citar, a maximização da
produção de DAGs pela restrição de glicerol no meio reacional. Um
ponto interessante trata da concentração de enzima no meio reacional,
onde foi observado que concentrações acima de 10% (m/m, em relação
aos substratos glicerol e óleo) pouco influenciam na formação dos
produtos de interesse da reação. Outro ponto que merece destaque é o
aumento de cinco vezes na relação volumétrica do solvente terc-butanol
no meio reacional (de 1:1 para 5:1, v/v, em relação aos substratos). Este
aumento teve como resultado rendimentos levemente superiores em
MAGs e DAGs, em quantidades que provavelmente não justificam a
maior carga de solvente no meio reacional.
Em relação às velocidades iniciais observadas nas diferentes
condições experimentais, o maior valor encontrado para a produção de
MAGs foi utilizando as condições reacionais de 55ºC, 15% (m/m) de
enzima, relação volumétrica de solvente:substratos de 1:1 (v/v) e relação
molar de glicerol:óleo de 6:1. Para a produção de DAGs, as condições
em que obteve-se a maior velocidade inicial foram nas condições de
55ºC, 10% (m/m) de enzima, relação volumétrica de solvente:substratos
de 1:1 (v/v) e relação molar de glicerol:óleo de 0,5:1,5. As condições
experimentais que resultaram nas maiores conversões de MAGs, ao
final das 12 horas de reação, foram as que utilizaram relação molar de
glicerol:óleo de 9:1 (> 73%, m/m). É interessante observar que, apesar
disso, as reações que utilizaram a relação molar de glicerol:óleo de 9:1
foram as que apresentaram as menores velocidades iniciais para DAGs
(para concentrações de enzima de 10 e 15%, m/m). Por outro lado, as
89
condições experimentais que resultaram nas maiores conversões de
DAGs, ao final das 12 horas de reação, foram as que utilizaram a menor
relação molar de glicerol:óleo - 0,8:1 (> 56%, m/m). Assim como,
nestas condições, observou-se as menores velocidades iniciais para a
formação de MAGs. O experimento que se obteve, ao final da reação, o
maior rendimento de MAGs + DAGs (> 89%, m/m) foi o que utilizou as
condições de 70ºC, 10% (m/m) de enzima, relação volumétrica de
solvente:substratos de 1:1 (v/v) e relação molar de glicerol:óleo de 6:1.
As distintas abordagens estudadas na etapa de modelagem dos
dados cinéticos (Mecanismo Cinético 1 e Mecanismo Cinético 2)
mostraram que há uma grande dificuldade de correlacionar as reações
que utilizam relação molar glicerol:óleo de 9:1, provavelmente pelos
fenômenos causados pela aderência do glicerol no suporte da enzima.
Apesar de ambos os modelos considerarem um termo de desativação da
enzima pelo excesso de glicerol, nenhuma correlação obtida foi
satisfatória. O Mecanismo cinético 2 (Voll, 2010) resultou em um
modelo mais complexo, com um número maior de parâmetros a serem
ajustados. Por outro lado, em algumas situações este conseguiu uma
melhor correlação com os dados experimentais, como no caso dos
experimentos com restrição de glicerol e dos experimentos com baixa
concentração de enzima imobilizada Novozym 435 (2,5%, m/m). Para
todas as demais cinéticas, o modelo utilizando o Mecanismo cinético 1
foi satisfatório, apesar de não considerar os complexos enzimáticos
formados ao longo das reações, e por conseqüência ser mais simples.
Ambos os modelos apresentados trazem uma contribuição ímpar para o
estudo das reações de glicerólise. Isto porque não foi encontrado, até o
presente momento, outro estudo na literatura que explore a modelagem
matemática da glicerólise enzimática de óleo de oliva na presença de
terc-butanol para a produção de MAGs e DAGs.
90
- CAPÍTULO 5 -
5.
CONCLUSÕES
Primeiramente, pode-se dizer que a técnica de cromatografia
gasosa utilizada para análise de MAG, DAG, TAG e AGL, utilizando a
Norma Européia de Padronização nº 14.105, com as devidas
modificações, mostrou-se satisfatória quali e quantitativamente para os
compostos citados.
Os experimentos realizados provaram o potencial do uso de
enzimas lipases imobilizadas, no nosso caso, da Novozym 435, como
catalisadores da reação de glicerólise. Mostrou-se, também, a
contribuição da utilização de solvente orgânico como meio de diminuir a
resistência à transferência de massa no sistema glicerol/óleo, para
maximização da produção de MAGs.
As cinéticas das reações foram investigadas em diferentes
temperaturas, concentração de enzima, relações molares de glicerol e
óleo de oliva e concentração de solvente. Conteúdos apreciáveis de
MAGs (>62%, m/m) e DAGs (>55%, m/m) foram obtidos em
temperatura média (55ºC), com concentração de enzima relativamente
baixa (10%, m/m) em 720 minutos de reação. Nas condições de 55ºC,
15% (m/m) de enzima e relação molar glicerol:óleo de 9:1 obteve-se,
neste mesmo tempo, concentração de MAGs em torno de 73% (m/m),
embora esta condição não esteja entre as que apresentaram as maiores
velocidades iniciais para a produção de MAGs. Observou-se que as
velocidades iniciais da produção de DAGs mostraram-se inversamente
proporcionais a concentração de glicerol no meio reacional. Assim, a
maior velocidade inicial para produção de DAGs foi obtida com relação
molar de glicerol:óleo de 0,5:1,5.
As modelagens matemáticas utilizando a abordagem do
mecanismo cinético 1 e do mecanismo cinético 2 (o qual considerou os
complexos enzimáticos no balanço da reação de glicerólise e hidrólise)
apresentaram, em geral, resultados satisfatórios em relação ao ajuste dos
modelos aos dados experimentais. O mecanismo cinético 2 apresentou
uma melhor correlação dos dados com o modelo para as reações que
utilizaram a menor concentração de enzima (2,5% m/m) e nas reações
91
com condições de restrições de glicerol. Porém, ambos os modelos não
apresentaram boas correlações para as reações que utilizaram a maior
relação molar de glicerol:óleo (9:1). Para esta condição conseguiu-se
apenas demonstrar a tendência do curso que a reação terá nestes casos,
como apresentado nos resultados utilizando o mecanismo cinético 1. O
excesso de glicerol no meio reacional levou a um comportamento
diferenciado da cinética da reação, aparentemente, pelo aumento da
viscosidade e aderência deste ao revestimento da enzima, com
consequente diminuição da velocidade inicial da reação, entre outros
fatores.
Uma conclusão importante é que a relação molar de glicerol e
óleo é um fator seletivo, onde valores mais altos de glicerol favorecem a
formação de MAGs, enquanto que valores mais baixos favorecem a
formação de DAGs. Em relações molares médias de glicerol e óleo (6:1)
pode-se obter a maximização da mistura de MAGs + DAGs.
5.1 Sugestões para trabalhos futuros
Tendo como base os resultados obtidos neste trabalho, as seguintes
sugestões para trabalhos futuros podem ser delineadas:
Aprofundar o estudo em relação à redução de atividade causada
pelo excesso de glicerol e como incrementar estes fenômenos
nos modelos desenvolvidos;
Realizar mais estudos com restrição de glicerol visando a
maximização de DAGs.
Acompanhar o teor de água no meio reacional ao longo da
glicerólise enzimática;
Verificar a influência de diferentes concentrações de água no
meio reacional no rendimento dos produtos de interesse;
Estudar a reação de glicerólise enzimática em sistema de
batelada alimentada;
Estudar aplicações de enzimas não comerciais na reação de
glicerólise;
Avaliar o pH do meio no decorrer da reação e correlacionar
com a atividade da enzima;
Avaliação do número de ciclos de utilização da lipase
imobilizada em modo batelada, sem perda de eficiência;
92
Realizar a separação e purificação de MAGs e DAGs ao final
da glicerólise enzimática; e
Estimar os custos envolvidos no processo.
93
- CAPÍTULO 6 -
6.
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production in tert-amyl alcohol, World J. Microbiol. Biotechnol., 25,
41 – 46, 2009.
103
- CAPÍTULO 7 -
7.
PRODUÇÃO CIENTÍFICA
7.1
Artigo completo publicado em periódico
Valério, A.; Krüger, R. L.; Ninow, J. L.; Corazza, F. C.; de Oliveira, D.;
de Oliveira, J. V.; Corazza, M. L. Kinetics of solvent-free lipasecatalyzed glycerolysis of Olive Oil in Surfactant System. Journal of
Agricultural and Food Chemistry, v. 57, p. 8350 – 8356, 2009.
7.2
Artigo aceito para publicação
Krüger, R. L.; Valério, A.; Balen, M.; Ninow, J. L.; de Oliveira, J. V.;
de Oliveira, D. ; Corazza, M. L. . Improvement of mono and
diacylglycerol production via enzymatic glycerolysis in tert-butanol
system. European Journal of Lipid Science and Technology, 2010. DOI:
10.1002/ejlt.200900253.
7.3
Artigo submetido
Voll, F. A. P.; Krüger, R. L.; de Castilhos, F.; Cardozo Filho, L.; Cabral,
V.; Ninow, J. L.; Corazza, M. L. Kinetic modeling of lipase-catalysed
glycerolysis of olive oil. Submetido à Biochemical Engineering Journal,
em Março de 2010.
7.4
Trabalhos apresentados em eventos
Voll, F. A. P.; Krüger, R. L.; Castilhos, F.; Cardozo Filho, L.; Cabral,
V.; Ninow, J. L.; Corazza, M. L., et al. Modelagem cinética da
glicerólise enzimática do óleo de oliva. In: Congresso Brasileiro de
Engenharia Química – COBEQ. 2010, Foz do Iguaçu/PR.
Krüger, R. L.; Ninow, J. L.; Corazza, F. C.; Corazza, M. L.
Desenvolvimento de um modelo matemático para a reação de
104
glicerólise. In: 8º Simpósio Latino Americano em Ciências de
Alimentos – SLACA, 2009, Campinas/SP.
Krüger, R. L.; Balen, M.; Ninow, J. L.; Corazza, M. L. Estudo cinético
de glicerólise enzimática de óleo de oliva. In: 8º Simpósio Latino
Americano em Ciências de Alimentos – SLACA, 2009, Campinas/SP.
Balen, M.; Krüger, R. L.; Valério, A.; Corazza, M. L.; de Oliveira, D.
Estudo cinético da produção de mono e diglicerídeos através da
glicerólise enzimática de óleo de oliva utilizando surfactante Food
Grade. In: 8º Semana Acadêmica de Engenharia Química e de
Alimentos - UFSC, 2008, Florianópolis/SC.
105
APÊNDICE A – CROMATOGRAMAS
Neste capítulo são apresentados, para exemplificação, alguns
cromatogramas obtidos no decorrer do estudo. A Figura 1A corresponde
aos cromatogramas da cinética com as seguintes condições: 10% (m/m)
de enzima, 70ºC, relação molar glicerol:óleo de 3:1 e relação
volumétrica de solvente:mistura de 1:1 (v/v), ao longo das 12h de
reação. Ao final deste experimento obteve-se em torno de 55% (m/m) de
MAG e 25% (m/m) de DAG (resultados em base livre de solvente e
glicerol).
7.5
uV(x100,000)
Chrom atogram
5.0
2.5
0.0
uV(x100,000)
0.0
5.0
Chrom atogram
7.5
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
min
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
min
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
min
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
min
5.0
2.5
0.0
uV(x100,000)
8.0 Chrom atogram
5.0
7.0
6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
0.0
7.5
uV(x100,000)
Chrom atogram
5.0
5.0
2.5
0.0
5.0
Figura 1A – Continua...
106
Figura 1A – Continuação...
uV(x100,000)
8.0 Chrom atogram
7.0
6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
0.0
uV(x100,000)
8.0 Chrom atogram
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
min
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
min
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
min
7.0
6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
0.0
uV(x100,000)
8.0 Chrom atogram
5.0
7.0
6.0
5.0
4.0
3.0
2.0
1.0
0.0
5.0
Figura 1A – Cromatogramas da cinética da reação de glicerólise
enzimática utilizando solvente terc-butanol, 10% (m/m) de enzima,
70ºC, relação molar glicerol:óleo de 3:1 e relação volumétrica de
solvente:mistura de 1:1 (v/v). Tempo de reação: (a) zero; (b) 30 min; (c)
1h; (d) 2h; (e) 4h; (f) 8h e (g) 12h. Onde: as áreas entre 4,5 a 5,5 min.
correspondem a região de glicerol, de 10,5 a 12,5 min. correspondem a
região de ácidos graxos livres, de 15 a 19 min. correspondem a região de
MAGs, de 23 a 28 min. correspondem a região de DAGs e de 30 a 35
min. correspondem a região de TAGs.
107
APÊNDICE B – DETALHAMENTO DOS RESULTADOS DO
ESTUDO CINÉTICO
Neste capítulo são apresentados nas Tabelas B.1 a B.19 os
resultados experimentais obtidos nas cinéticas estudadas, em relação à
concentração de MAGs, DAGs, TAGs e AGLs (m/m). Todos os
experimentos utilizaram agitação magnética de 600 rpm e todos os
resultados estão expressos em base livre de solvente e glicerol.
108
Tabela B.1 – Resultados da cinética sem enzima. Condições: 70ºC, relação molar G:O de 3:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.6).
Tempo (h)
0
0,5
1
2
8
12
TAGs (%)
95,22
94,52
93,83
93,35
92,36
91,69
DAGs (%)
2,57
2,95
3,52
3,86
3,91
3,97
MAGs (%)
1,27
1,54
1,64
1,81
2,62
3,12
AGLs (%)
0,95
0,99
1,01
0,98
1,11
1,22
Tabela B.2 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 2,5% (m/m) de enzima, relação molar G:O de 3:1 e
relação solvente:mistura G/O de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.7a).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
95,20
88,23
84,11
81,08
77,70
71,45
65,68
58,13
51,33
DAGs (%)
3,15
4,99
7,13
7,89
8,93
11,30
12,73
14,53
17,08
MAGs (%)
0,79
5,31
7,26
9,39
11,78
15,85
20,27
25,89
30,06
AGLs (%)
0,86
1,46
1,51
1,63
1,59
1,40
1,33
1,46
1,54
109
Tabela B.3 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 10% (m/m) de enzima, relação molar G:O de 3:1 e
relação solvente:mistura G/O de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.7b).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
95,20
58,87
44,86
41,86
37,41
32,31
26,88
22,26
17,83
DAGs (%)
3,15
13,59
15,42
15,93
17,82
19,59
21,18
21,73
23,38
MAGs (%)
0,79
25,81
37,11
39,13
40,84
45,44
48,96
51,60
55,62
AGLs (%)
0,86
1,73
2,60
3,08
3,93
2,66
2,97
4,40
3,17
110
Tabela B.4 - Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 15% de enzima, relação molar G:O de 3:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.7c).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
12
TAGs (%)
95,20
61,32
49,32
35,56
32,04
27,13
18,07
8,64
DAGs (%)
3,16
12,75
15,14
19,79
21,83
23,37
27,66
31,51
MAGs (%)
0,79
24,76
33,94
42,80
44,03
47,22
51,33
56,36
AGLs (%)
0,86
1,17
1,61
1,85
2,10
2,29
2,93
3,48
111
Tabela B.5 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.8a).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
94,82
83,59
62,71
53,08
40,12
30,51
27,58
16,44
7,91
DAGs (%)
3,13
7,47
8,99
13,59
14,06
15,30
16,86
22,25
23,77
MAGs (%)
0,84
7,23
26,57
31,08
42,34
50,83
54,07
59,22
65,42
AGLs (%)
1,21
1,71
1,74
2,26
3,49
3,35
1,50
2,09
2,90
112
Tabela B.6 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.8b).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
94,63
83,72
64,37
52,73
40,81
31,42
26,79
23,02
15,05
DAGs (%)
3,13
4,53
9,33
10,57
11,63
13,34
15,03
16,70
18,37
MAGs (%)
1,03
10,08
22,57
33,67
44,82
50,64
54,15
57,24
62,02
AGLs (%)
1,21
1,67
3,73
3,03
2,74
4,60
4,02
3,04
4,56
113
Tabela B.7 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.8c).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
94,63
86,59
77,30
72,42
57,84
40,46
30,41
25,81
19,41
DAGs (%)
3,13
4,64
4,94
6,41
10,09
12,62
14,71
15,39
19,00
MAGs (%)
1,03
7,44
15,85
19,44
29,35
44,07
52,49
54,77
57,74
AGLs (%)
1,21
1,33
1,90
1,74
2,72
2,85
2,38
4,03
3,85
114
Tabela B.8 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 15% de enzima, relação molar G:O de 3:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.9a).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
95,20
71,57
57,54
51,03
38,77
30,90
30,59
24,06
17,72
DAGs (%)
3,16
5,48
11,61
11,97
15,35
18,35
18,77
20,17
22,86
MAGs (%)
0,79
21,97
28,97
34,33
43,44
45,71
46,47
51,49
53,59
AGLs (%)
0,86
0,98
1,88
2,66
2,44
5,04
4,18
4,27
5,83
115
Tabela B.9 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 15% de enzima, relação molar G:O de 6:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.9b).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
94,63
64,78
46,35
33,40
29,90
27,55
20,33
14,84
6,88
DAGs (%)
3,13
9,69
13,60
15,31
16,55
17,57
18,89
21,77
23,58
MAGs (%)
1,03
23,12
37,32
48,90
51,31
53,19
55,28
58,49
63,70
AGLs (%)
1,21
2,41
2,74
2,39
2,23
1,69
5,50
4,90
5,83
116
Tabela B.10 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 15% de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.9c).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
96,35
71,04
62,73
57,50
52,90
40,31
31,95
21,74
10,18
DAGs (%)
2,40
5,83
9,30
10,77
11,08
11,14
11,30
11,25
12,75
MAGs (%)
0,58
21,09
25,61
29,15
32,11
44,94
54,48
64,45
73,24
AGLs (%)
0,67
2,03
2,35
2,58
3,90
3,61
2,27
2,57
3,84
117
Tabela B.11 – Resultados da cinética nas condições: 70ºC, 2,5% de enzima, relação molar G:O de 3:1 e
relação solvente:mistura glicerol/óleo de 5:1 (v/v) (Referente a Figura 4.10a).
Tempo (h)
0
0,5
2
4
12
TAGs (%)
95,20
82,19
63,51
45,77
37,60
DAGs (%)
3,15
7,80
15,77
20,01
22,20
MAGs (%)
0,79
8,34
18,99
31,17
36,47
AGLs (%)
0,86
1,67
1,72
3,06
3,73
Tabela B.12 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 2,5% de enzima, relação molar G:O de 9:1 e
relação solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.10b).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
96,35
93,04
88,60
84,07
80,87
72,19
59,01
44,70
35,78
DAGs (%)
2,40
3,16
3,48
3,80
4,95
7,43
9,62
12,44
13,63
MAGs (%)
0,58
2,49
5,62
10,06
12,32
18,61
30,03
41,10
46,69
AGLs (%)
0,67
1,31
2,29
2,06
1,86
1,76
1,34
1,76
3,90
118
Tabela B.13 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 2,5% de enzima, relação molar G:O de 9:1 e
relação solvente:mistura glicerol/óleo de 5:1 (v/v) (Referente a Figura 4.10b).
Tempo (h)
0
0,5
2
4
12
TAGs (%)
96,35
86,12
57,57
48,45
24,87
DAGs (%)
2,40
5,37
10,09
11,37
17,09
MAGs (%)
0,58
7,03
29,74
38,07
54,67
AGLs (%)
0,67
1,48
2,60
2,11
3,36
Tabela B.14 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.11 – Amostra 1).
Tempo (h)
0
0,25
0,5
0,75
1
2
4
8
12
TAGs (%)
96,35
84,67
79,15
74,27
70,17
50.29
27,31
21,39
16,66
DAGs (%)
2,40
3,96
4,63
4,78
5,79
9,04
9,20
10,33
12,40
MAGs (%)
0,58
9,71
14,76
19,34
22,68
39,61
61,91
66,40
68,46
AGLs (%)
0,67
1,65
1,46
1,61
1,36
1,06
1,58
1,87
2,48
119
Tabela B.15 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.11 – Amostra 2).
Tempo (h)
0
1
2
4
8
12
TAGs (%)
96,35
66,83
41,15
25,53
18,99
7,64
DAGs (%)
2,40
5,61
9,64
12,57
12,25
14,00
MAGs (%)
0,58
26,11
46,96
58,44
65,03
73,11
AGLs (%)
0,67
1,45
2,25
3,45
3,73
5,25
Tabela B.16 – Resultados da cinética nas condições: 40ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 9:1 e relação
solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.11 – Amostra 3).
Tempo (h)
0
1
2
4
8
12
TAGs (%)
96,35
72,74
42,82
24,41
20,83
13,67
DAGs (%)
2,40
7,86
11,19
11,62
16,02
16,49
MAGs (%)
0,58
18,15
43,61
61,27
60,45
65,05
AGLs (%)
0,67
1,25
2,38
2,71
2,70
4,78
120
Tabela B.17 – Resultados da cinética sem solvente. Condições: 55ºC, 15% de enzima e relação molar G:O de
3:1 (Referente a Figura 4.17).
Tempo (h)
0
0,5
1
2
8
12
TAGs (%)
95,41
85,79
69,40
57,49
39,47
34,07
DAGs (%)
2,75
10,98
24,56
34,10
44,19
47,32
MAGs (%)
0,79
1,93
4,62
6,01
12,67
14,83
AGLs (%)
1,05
1,30
1,42
2,40
3,67
3,78
Tabela B.18 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 0,8:1 e
relação solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.18a).
Tempo (h)
TAGs (%)
DAGs (%)
MAGs (%)
AGLs (%)
0
95,54
2,40
0,83
1,22
0,5
72,72
20,20
5,04
2,03
1
66,64
23,73
7,55
2,07
2
47,67
33,42
13,67
5,25
8
30,88
49,26
13,41
6,45
12
23,81
56,74
12,80
6,65
121
Tabela B.19 – Resultados da cinética nas condições: 55ºC, 10% de enzima, relação molar G:O de 0,5:1,5 e
relação solvente:mistura glicerol/óleo de 1:1 (v/v) (Referente a Figura 4.18b).
Tempo (h)
0
0,5
1
2
8
12
TAGs (%)
95,75
61,18
48,69
42,93
37,41
37,24
DAGs (%)
2,21
31,17
41,29
45,99
51,08
51,59
MAGs (%)
0,91
5,74
7,95
7,12
6,68
6,05
AGLs (%)
1,13
1,91
2,07
3,96
4,83
5,13
122
- ANEXO 1 – Modelagem matemática utilizando a abordagem do
mecanismo cinético 2
Esta abordagem teve como objetivo avaliar o modelo matemático
obtido através de uma proposta diferenciada daquela utilizada no
mecanismo cinético 1, o qual desprezou, na formulação do balanço de
massa, a formação dos complexos enzimáticos e outras variáveis
relacionadas com a presença da enzima no meio reacional, os quais
estão aqui considerados. Esta fase do trabalho teve parceria com o
doutorando em Engenharia Química da Universidade Estadual de
Maringá – Fernando Voll, como referência, Voll, 2010.
Para o mecanismo cinético 2, as seguintes equações para as
reações de glicerólise e hidrólise foram propostas:
Glicerólise:
TAG E G TAG E G DAG E MAG DAG E MAG
k1
k3
k5
k2
k4
k6
(A.1)
DAG E G DAG E G MAG E MAG MAG E MAG
k7
k9
k11
k8
k10
k12
(A.2)
TAG E MAG TAG E MAG DAG E DAG DAG E DAG
k13
k15
k17
k14
k16
k18
(A.3)
Hidrólise/esterificação:
TAG E W TAG E W DAG E FA DAG E FA
k19
k 21
k 23
k 20
k 22
k 24
(A.4)
DAG E W DAG E W MAG E FA MAG E FA
k 25
k 27
k 29
k 26
k 28
k 30
(A.5)
MAG E W MAG E W G E FA G E FA (A.6)
k 31
k 33
k 35
k 32
k 34
k 36
123
Onde: G, W, FA e E correspondem as concentrações de glicerol, água,
ácidos graxos livres e enzima, respectivamente.
A velocidade de reação para cada componente do sistema pode
ser descrita pelas seguintes equações diferenciais:
d [TAG]
k1 [TAG] [ E ] [G] k2 [TAG E G] k13 [TAG] [ E ] [ MAG ]
dt
k14 [TAG E MAG] k19 [TAG] [ E ] [W] k20 [TAG E W]
(A.7)
d [ DAG]
k5 [ DAG E MAG ] k6 [ DAG] [ E ] [MAG ] k7 [ DAG] [ E ] [G]
dt
k8 [ DAG E G] 2 k17 [ DAG E DAG] 2 k18 [ DAG] [ E] [ DAG]
k23 [ DAG E FA] k24 [ DAG] [ E] [ FA] k25 [ DAG] [ E] [W]
(A.8)
k26 [ DAG E W]
d[MAG ]
k5 [ DAG E MAG ] k6 [ DAG] [ E ] [MAG ] 2 k11 [MAG E MAG ]
dt
2 k12 [MAG] [ E] [MAG] k13 [TAG] [ E] [MAG] k14 [TAG E MAG]
k29 [MAG E MAG] k30 [MAG] [ E ] [ FA] k31 [MAG] [ E ] [W]
(A.9)
k32 [MAG E W]
d [ FA]
k23 [ DAG E FA] k24 [ DAG] [ E ] [ FA] k29 [ MAG E FA]
dt
k30 [MAG] [ E] [ FA] k35 [G E FA] k36 [G] [ E] [ FA] (A.10)
d [G]
k1 [TAG ] [ E ] [G] k2 [TAG E G] k7 [ DAG] [ E ] [G]
dt
(A.11)
k8 [ DAG E G] k35 [G E FA] k36 [G] [ E] [ FA]
124
d [W]
k19 [TAG] [ E ] [W] k20 [TAG E W] k25 [ DAG] [ E ] [W]
dt
k26 [ DAG E W] k31 [MAG] [ E] [W] k32 [MAG E W] (A.12)
As velocidades de reação dos diferentes complexos enzimáticos
podem ser descritas como relações de pseudo-equilíbrio, como segue:
d[TAG E G]
0 k1 [TAG] [ E ] [G] k2 [TAG E G]
dt
k3 [TAG E G] k4 [ DAG E MAG]
(A.13)
d[ DAG E MAG ]
0 k3 [TAG E G] k4 [ DAG E MAG ]
dt
k5 [ DAG E MAG] k6 [ DAG] [ E ] [MAG]
(A.14)
d [ DAG E G]
0 k7 [ DAG] [ E ] [G] k8 [ DAG E G]
dt
k9 [ DAG E G] k10 [MAG E MAG]
(A.15)
d [ MAG E MAG ]
0 k9 [ DAG E G] k10 [ MAG E MAG ]
dt
k11 [MAG E MAG] k12 [MAG] [ E] [MAG]
(A.16)
d [TAG E MAG ]
0 k13 [TAG] [ E ] [ MAG ] k14 [TAG E MAG ]
dt
k15 [TAG E MAG ] k16 [ DAG] [ E ] [ DAG]
(A.17)
125
d [ DAG E DAG]
0 k15 [TAG E MAG ] k16 [ DAG E DAG]
dt
k17 [ DAG E DAG] k18 [ DAG] [ E ] [ DAG]
(A.18)
d [TAG E W]
0 k19 [TAG] [ E ] [W] k20 [TAG E W]
dt
k21 [TAG E W] k22 [ DAG E FA] (A.19)
d [ DAG E FA]
0 k21 [TAG E W] k22 [ DAG E FA]
dt
k23 [ DAG E FA] k24 [ DAG] [ E ] [ FA]
(A.20)
d [ DAG E W]
0 k25 [ DAG] [ E ] [W] k26 [ DAG E W]
dt
(A.21)
k27 [ DAG E W] k28 [MAG ][ E ][ FA]
d [ MAG E FA]
0 k27 [ DAG E W] k28 [ MAG E FA]
dt
k29 [MAG E FA] k30 [MAG] [ E] [ FA] (A.22)
d [ MAG E W]
0 k31 [ MAG ] [ E ] [W] k32 [ MAG E W]
dt
(A.23)
k33 [MAG E W] k34 [G E FA]
d [G E FA]
0 k33 [ MAG E W] k34 [G E FA]
dt
(A.24)
k35 [G E FA] k36 [G] [ E] [ FA]
126
A concentração total de enzima ( [ ET ] ) é expressa como a soma
das concentrações dos complexos e de enzima livre:
[ ET ] [ E] [TAG E G] [ DAG E MAG] [ DAG E G] [MAG E MAG]
[TAG E MAG] [ DAG E DAG] [TAG E W] [ DAG E FA]
[ DAG E W] [MAG E FA] [MAG E W] [G E FA]
(A.25)
As Eq.s (A.13)-(A.25), após algumas manipulações algébricas,
podem ser reescritas para expressar as concentrações dos complexos e
da enzima livre, em função das concentrações de TAG, DAG, MAG, FA,
G, W e ET. As funções resultantes podem ser substituídas nas Eq.s (A.7)(A.12), e após mais algumas manipulações algébricas as seguintes
velocidades de reação são obtidas:
V [TAG ] [G ] V2 [ MAG ] [ DAG ] V5 [TAG ] [ MAG ]
a [ ET ] 1
2
d [TAG ]
V6 [ DAG ] V7 [TAG ] [ H 2 O] V8 [ DAG ] [ FA]
dt
1 K1 [TAG ] [G ] K2 [ MAG ] [ DAG ] K3 [ DAG ] [G ]
K4 [ MAG ]2 K5 [TAG ] [ MAG ] K6 [ DAG ]2
K [TAG ] [ H O] K [ DAG ] [ FA] K [ DAG ] [ H O]
7
2
8
9
2
K [ MAG ] [ FA] K [ MAG ] [ H O] K [G ] [ FA]
10
11
2
12
(A.26)
V1 [TAG ] [G ] V2 [ MAG ] [ DAG ] V3 [ DAG ] [G ]
2
2
V4 [ MAG ] 2 V5 [TAG ] [ MAG ] 2 V6 [ DAG ]
a [ ET ]
V7 [TAG ] [ H 2 O] V8 [ DAG ] [ FA]
V9 [ DAG ] [ H 2 O] V10 [ MAG ] [ FA]
d [ DAG ]
dt
1 K1 [TAG ] [G ] K 2 [ MAG ] [ DAG ] K3 [ DAG ] [G ]
K 4 [ MAG ]2 K5 [TAG ] [ MAG ] K6 [ DAG ]2
K [TAG ] [ H O] K [ DAG ] [ FA] K [ DAG ] [ H O]
7
2
8
9
2
K [ MAG ] [ FA] K [ MAG ] [ H O] K [G ] [ FA]
10
11
2
12
(A.27)
127
V1 [TAG ] [G ] V2 [ MAG ] [ DAG ] 2 V3 [ DAG ] [G ]
2
2
2 V4 [ MAG ] V5 [TAG ] [ MAG ] V6 [ DAG ]
a [ ET ]
V9 [ DAG ] [ H 2 O] V10 [ MAG ] [ FA]
V11 [ MAG ] [ H 2 O] V12 [G ] [ FA]
d [ MAG ]
dt
1 K1 [TAG ] [G ] K 2 [ MAG ] [ DAG ] K3 [ DAG ] [G ]
K 4 [ MAG ]2 K5 [TAG ] [ MAG ] K6 [ DAG ]2
K [TAG ] [ H O] K [ DAG ] [ FA] K [ DAG ] [ H O]
7
2
8
9
2
K [ MAG ] [ FA] K [ MAG ] [ H O] K [G ] [ FA]
10
11
2
12
(A.28)
V [TAG ] [ H 2 O] V8 [ DAG ] [ FA] V9 [ DAG ] [ H 2 O]
a [ ET ] 7
d [ FA]
V10 [ MAG ] [ FA] V11 [ MAG ] [ H 2 O] V12 [G ] [ FA]
dt
1 K1 [TAG ] [G ] K 2 [ MAG ] [ DAG ] K3 [ DAG ] [G ]
K 4 [ MAG ]2 K5 [TAG ] [ MAG ] K6 [ DAG ]2
K [TAG ] [ H O] K [ DAG ] [ FA] K [ DAG ] [ H O]
7
2
8
9
2
K [ MAG ] [ FA] K [ MAG ] [ H O] K [G ] [ FA]
10
11
2
12
(A.29)
V [TAG ] [G ] V2 [ MAG ] [ DAG] V3 [ DAG] [G ]
a [ ET ] 1
V4 [ MAG ]2 V11 [ MAG ] [ H 2 O] V12 [G ] [ FA]
d [G ]
dt
1 K1 [TAG ] [G ] K 2 [ MAG ] [ DAG ] K3 [ DAG] [G ]
K 4 [ MAG ]2 K5 [TAG ] [ MAG ] K6 [ DAG]2
K [TAG ] [ H O] K [ DAG] [ FA] K [ DAG ] [ H O]
7
2
8
9
2
K [ MAG ] [ FA] K [ MAG ] [ H O] K [G ] [ FA]
10
11
2
12
(A.30)
128
V [TAG ] [ H 2 O] V8 [ DAG] [ FA] V9 [ DAG] [ H 2 O]
a [ ET ] 7
V10 [ MAG ] [ FA] V11 [ MAG ] [ H 2 O] V12 [G ] [ FA]
d [W ]
dt
1 K1 [TAG ] [G ] K2 [ MAG ] [ DAG] K3 [ DAG] [G ]
K4 [ MAG ]2 K5 [TAG ] [ MAG ] K6 [ DAG]2
K [TAG ] [ H O] K [ DAG] [ FA] K [ DAG] [ H O]
7
2
8
9
2
K [ MAG ] [ FA] K [ MAG ] [ H O] K [G ] [ FA]
10
11
2
12
(A.31)
Um ponto importante para a formulação do modelo é a
conveniente expressão da concentração de enzima em termos de massa
da enzima e massa de substrato, os quais são valores conhecidos no
início da reação.
As constantes Vi e K i (i 1,...,12) são funções das constantes
ki ( i 1,...,36 ). Os valores das velocidades inicial máximas de reação
( V max i ) podem ser encontradas pela seguinte expressão:
V max i
[ ET ] Vi
i 1,...,12
Ki
(A.32)
Por exemplo: a velocidade inicial máxima da reação para a
hidrólise de MAGs pode ser expressa como [ ET ] V7 / K7 , e a
velocidade inicial máxima da reação de glicerólise de DAGs pode ser
expressa como [ ET ] V3 / K3 .
Outras considerações, como o cálculo da atividade da enzima
(termo “a”), a estimação de desativação da enzima por perda de
atividade e pelo glicerol (da/dt) e a relação da reação de glicerólise com
a temperatura (Vi), seguem como apresentado para a abordagem do
mecanismo cinético 1 (Capítulo 4, item 4.5.1.2).
Porém, para o ajuste dos parâmetros, 10 conjuntos de
experimentos (cinéticas), com seis a nove pontos cada conjunto,
totalizando 67 pontos experimentais do conteúdo de TAGs, DAGs,
MAGs e AGLs, foram utilizados para o ajuste do modelo cinético. A
concentração de água no meio considerada foi a mesma que a utilizada
no mecanismo cinético 1, 3% no glicerol. Na Tabela An.1 encontram-se
os conteúdos iniciais utilizados no ajuste do modelo desta abordagem.
129
Tabela An.1 – Conteúdo inicial dos substratos (%m/m).
G:O
(mol/mol)
6:1
3:1
0.8:1
0.33:1
[TAG]
[DAG]
[MAG]
[FA]
[G]
[W]
57,74
72,34
87,92
91,79
1,91
2,40
2,21
2,12
6,3×10-1
6,0×10-1
9,5×10-1
1,08
7,4×10-1
6,5×10-1
1,13
1,08
37,81
23,28
7,56
3,78
1,17
7,2×10-1
2,3×10-1
1,2×10-1
Os parâmetros do modelo ( Ai , Ea i and kd ) foram estimados
do ajuste dos dados experimentais através da minimização da seguinte
função objetivo:
f
X
NOBS NCOM
j
k
exp
jk
X cajk lc
2
(33)
O programa computacional desenvolvido para implementação e
estimação dos parâmetros utilizou o mesmo software e as mesmas
subrotinas que o item 4.5.1.2, Capítulo 4, bem como os cálculos dos
desvios médios quadráticos (rmsd).
Os parâmetros ajustados pelo modelo cinético proposto para esta
abordagem encontram-se nas Tabelas An.2 e An.3. Os valores dos
desvios médios quadráticos foram de rmsdTAG = 4.19, rmsdDAG = 2.73,
rmsdMAG = 3.58 and rmsdFA = 1.04 para TAG, DAG, MAG e FA,
respectivamente.
130
Tabela An.2 – Parâmetros estimados pelo modelo cinético (equações
das velocidades de reação).
i
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Ki
(gsubstrato2/mmol2)
2,28×10-1
1,94×10-3
1,77×10-4
9,93×10-4
1,63×10-4
757,72
4,41×10-5
5236,95
8,90×10-3
2,96×10-3
2
Ai ( gsubstrato /
( genzima.min.mmol))
5953,71
16,42
50,85
47,46
2,02
10615
1796,63
282449000
117844
Ea i (K)
2201,07
6,45×10-3
1,32×10-2
1,01×10-1
41,97
1869,91
280,37
5468,07
1897,15
Tabela An.3 - Parâmetros estimados pelo modelo cinético (equação de
desativação)
kd
n
q
(min.mmolglicerol)-1
1,11×10-2
2
1
131