Casa Valongo: Da memória do Projecto

* As ideias contidas neste artigo são de seu(s) autor(es) e não necessariamente expressam as posições oficiais do Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos-DIVERSITAS.

Zenodo (CERN European Organization for Nuclear Research), 2022

168 Outra denominação muito utilizada é: navios negreiros. Consiste em um meio de transporte utilizado para transportar os africanos escravizados.

2000

A identidade de um povo deve-se procurar entre as brumas da memória. Neste campo, a História, como ciência, ocupa um lugar proeminente. De facto, as discussões que ela suscita e as conclusões que aturadamente delineia servem o propósito de construir de forma inequívoca as linhas de força que definiram os comportamentos do Homem ao longo dos tempos. Mas, se por um lado os discursos académicos sobre as origens e evoluções de dada comunidade não se podem definir sem a preciosa ajuda dos documentos, também é verdade que essa comunidade constrói ela própria a sua história. Assim sendo, a abrangência real do discurso histórico não se basta ao que se encontra escrito, ela envolve, por si só, todas as manifestações que ocorrem em determinado espaço e tempo. Este último é o plano referencial de qualquer abordagem histórica. Não são apenas os grandes feitos, protagonizados pelos "grandes nomes", que formam a história de um povo. São, antes de mais, os contributos de todas as pessoas que formam a história. São, por muitas vezes, as acções concertadas das pessoas anónimas, que fornecem o combustível necessário, que alimentam a História (aqui entendida como o conjunto das manifestações de determinada comunidade em determinado espaço ao longo de certo período de tempo). Desta forma, a história deve, acima de tudo, integrar os acontecimentos, que sem serem eles próprios extraordinários, fornecem as bases para os passos posteriores da evolução social. Não parecendo sensacionais, a maior parte dos acontecimentos "invisíveis", são-porque sem eles não se passaria para os graus de evolução subsequentes-, mais importantes que aqueles que mais se conhecem. Por sua vez, os acontecimentos que ocupam lugar de destaque na história nada mais são do que o culminar de processos, muitas das vezes longos, e por isso ao serem tratados de per si, não nos fornecem a verdadeira riqueza que encerram. Orson Welles, o famoso escritor e dramaturgo inglês resumia a sua arte nesta simples frase: "Um drama é a vida sem as suas partes chatas". Esta "máxima" assenta que nem uma luva ao trabalho de compilação que o dramaturgo deve fazer perante um enredo por muitas vezes enfadonho e monótono, mas não servirá, decerto, para definir o discurso histórico que actualmente se pretende elaborar. Realmente, houve tempo em que apenas os acontecimentos excepcionais eram dignos de atenção por parte dos historiadores. Este processo de "compilação histórica", (compreensível até certa altura), apresentava contudo limites evidentes e a sua insuficiência é hoje, para nós, por demais

Todas as idades são contemporâneas: estudos de residualidade literária e cultural, 2019

O presente trabalho versa sobre tensões entre memória e esquecimento presentes nas narrativas jornalísticas. Busca-se compreender, à luz dos conceitos ricoeurianos de “dever de memória” e “abuso de esquecimento”, os desafios e contradições suscitados pelo trabalho de memória operado pelo jornalismo. Para tanto, observa-se analiticamente um episódio da cobertura do massacre de Realengo feita pela revista Veja que se desdobrou em duas edições: a de 28 de dezembro de 2011, em que o periódico apresenta a Retrospectiva de 2011 e dedica uma matéria à tragédia ocorrida no Rio de Janeiro; e a de 4 de janeiro de 2012, na qual a revista publica a carta de uma professora, testemunha do assassínio, que critica o gesto de lembrança/esquecimento da revista, tensionando esse trabalho jornalístico de memória já tão comum no universo midiático. Tira-se, ao final, algumas lições a respeito do jornalismo como instância mediadora de memória e, por isso, sujeita aos dilemas da reminiscência, relativos sobretudo à tessitura da memória frente à textura da experiência dos acontecimentos.

Sociologia & Antropologia

Resumo O objetivo deste artigo é analisar as apropriações e os usos que diferentes atores sociais fazem do Cais do Valongo, localizado na região portuária do Rio de Janeiro, revelando como o local condensa diversas representações e significações. Para isso, selecionamos algumas celebrações relacionadas com associações do movimento negro e do movimento afro-religioso. Consideramos que elas enfatizam como esse lugar de memória pode ser visto como um estímulo à constante reflexão acerca do passado escravista brasileiro e do reconhecimento do legado das populações negras, que foram aqui escravizadas, para a construção da identidade nacional. Dito de outra forma, por meio da análise de algumas celebrações que enfatizam a herança africana, nos propomos a discutir como são construídas diferentes narrativas sobre o local, que pode ser visto como um estímulo à constante reflexão acerca do passado e do presente, como lugar de engajamento, de luta contra todos os tipos de desigualdades, contra...

2009

eis-me aqui, integrada à celebração dos dez anos de existência do Mestrado em Educação. Como é recente a parte de minha história que se entrelaça diretamente com o aniversariante, o honroso convite para apresentar este memorial leva-me a procurar enfocar o que me traz a este presente em construção e a indicar o futuro que se anuncia. Estruturei este texto, então, em três partes. A primeira trata de meus vínculos com os temas da educação e em particular da escola, tomando minha própria formação em seus primórdios para auxiliar a compreender a trajetória. A segunda parte traz os temas ligados à questão da discriminação, do racismo, da tolerância, que, em um primeiro momento, pareciam ruptura com minha trajetória anterior, mas que demonstraram ser um desenvolvimento necessário ao que vinha até então fazendo; até hoje me mostram, a cada vez, vínculos que ainda não percebera com os meus inícios, como a defesa do Estado laico, que ganhou, com o tempo, renovada dimensão. A terceira parte traz temáticas que me movem e que teoricamente entrelaçam as anteriores, porque as transversalizam, tratando do tema da paz e dos direitos humanos.

2020

This article refers to a study carried out within the scope of the IFRS-Campus Osorio photographic collection, based on the institutionalization of the institution's Memory Center. To this end, the objective is to analyze the photographic collection produced between 2010 and July 2014, that is, the first four years of operation of the said Campus. To carry out the proposal, carry out an adequate theoretical and methodological basis for understanding photography as a research source. It is perceived that it is fundamental to take into account as particularities that surround the collection, having in view as ways how to produce a photographic production in the institution's scenario. It is hoped to make future research feasible, in order to preserve the institution's history and memory.

Academia Oncology, 2024

People are living longer lives with incurable cancer, and the number of people living with incurable/metastatic cancer is growing. Although people are surviving longer, the quality of their life has yet to receive adequate research attention. Psychological vital signs, evidence-based psychological factors that are critical to patient wellbeing, can be applied to the wellbeing of patients living with cancer. This fits with the current shift to integrative cancer treatment that incorporates multiple aspects of the patient and prioritizes patient-centered care. The current paper will provide a clinician-friendly review of the psychological vital signs that relate to patients’ wellbeing when they are living with cancer indefinitely, when they are diagnosed with cancer but are not actively dying. Implications for education, future research, and practical assessment will be addressed.