Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
1
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Título
Actas do Encontro sobre Podcasts
Organização
Ana Amélia Amorim Carvalho
Ano
2009
Edição
Centro de Investigação em Educação (CIEd)
Instituto Educação e Psicologia
Universidade Minho
4710-057 Braga
500 Exemplares
Composição Gráfica
Vânia Sofia Cardoso
Depósito Legal
292038/09
ISBN78-972-8746-44-5
978-972-8746-69-8
Apoio à Edição das Actas
CIEd, Universidade do Minho
2
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Comissão Organizadora
Ana Amélia Amorim Carvalho (Coord.)
Aldina Marques
Cristina Aguiar
Henrique Santos
Lia Raquel Oliveira
Comissão Científica
Altina Ramos, Universidade do Minho
Álvaro Figueira, Universidade do Porto
Ana Amélia A. Carvalho, Universidade do
Minho
António Osório, Universidade do Minho
António Moreira, Universidade
de de Aveiro
António J. Mendes, Universidade de
Coimbra
Carlos Morais, Instituto Politécnico de
Bragança
Clara Coutinho, Universidade do Minho
Cristina Gomes, Instituto Politécnico de
Viseu
Duarte Costa Pereira, Universidade do
Porto Fernando Costa, Universidade
iversidade de
Lisboa
Henrique Gil, Instituto Politécnico de
Castelo Branco
Isabel Cabrita, Universidade de Aveiro
Isabel Chagas, Universidade de Lisboa
João Correia de Freitas, Universidade Nova
de Lisboa
João Paiva, Universidade do Porto
José Luís Ramos, Universidade de Évora
Lia Raquel Oliveira, Universidade do Minho
Lina Morgado, Universidade Aberta
Luísa Miranda, Instituto Politécnico de
Bragança
Maria João Gomes, Universidade do Minho
Maria João Loureiro, Universidade de
Aveiro
Maria João Silva,
ilva, Instituto Politécnico do
Porto
Maria José Marcelino, Universidade de
Coimbra
Paulo Dias, Universidade do Minho
Teresa Bettencourt, Universidade de Aveiro
Teresa Pessoa, Universidade de Coimbra
3
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
_______________________________________________________________________________________
Índice
Nota de Abertura
Conferência
A Podcasting Framework for Teaching and Learning in Higher Education
Palitha Edirisingha & Gilly Salmon……………………………………………………………………………………………. 7
Painel I: Podcasts no Ensino: Usos e Contextos
Podcasts no Ensino Superior em Regime Blended-Learning: um estudo na Universidade do Minho
Ana Amélia Amorim Carvalho, Cristina Aguiar & Romana Maciel…………………………………………………….... 22
O Telemóvel para ouvir e gravar Podcasts: exemplos no Ensino Secundário
Adelina Moura…………………………………………………………………………………………………….………….39
O Podcast no Ensino Básico
Sónia Catarina Cruz……………………………………………………………………………………………..…………..65
Podcast “Era Uma Vez…”: utilização educativa
Pedro Miguel Barbosa Dias……………………………………………………………………………………..……….….81
Painel II: Podcast: Princípios a Respeitar
Taxonomia de Podcasts: da criação à utilização em contexto educativo
Ana Amélia A. Carvalho, Cristina Aguiar & Romana Maciel……………………………………………………………...96
Da rádio ao podcast: princípios a não esquecer ao microfone
Vítor Manuel Santos Diegues……………………………………………………………………………………………..110
Formas de reforçar a mensagem áudio e de captar a atenção do ouvinte
Maria Aldina Marques……………………………………………………………………………………………………..124
Podcasts e vodcasts: prós e contras
Henrique M. D. Santos…………………………………………………………………………………………………….133
Comunicações
Full Paper
Podcasts na Licenciatura em Biologia Aplicada: Diversidade na Tipologia e Duração
Cristina Aguiar, Ana Amélia A. Carvalho & Romana Maciel……………………………….…………………………..140
Criação de podcasts pelo professor (informar e motivar para leituras): uma experiência no ensino universitário
Lia Raquel Oliveira………………………………………………………………………………………………………...155
Podcasts no Ensino Superior: Um Estudo em Licenciaturas de Gestão
Célio Gonçalo Marques & Ana Amélia A. Carvalho…………………………………………………………………….163
Os Podcasts na construção do conhecimento da História Local: um estudo de caso sobre evidência histórica com
alunos do 5ºano de escolaridade
Aline Rodrigues, Ana Amélia A. Carvalho & Isabel Barca……………………………………………………………..176
Narrativas e Podcast na disciplina de História: um estudo com alunos do 2.º ciclo
Hugo Martins…………………………………………………………………………………………………………………..188
Podcast – Enhancing Skills in the English Class
Célia Quintanilha de Menezes & Fernando Lopes Moreira………………………………………………………………203
Novas Estratégias no Ensino do Inglês - Blogues e Podcasts
Susana Alexandra Oliveira & Eduardo Luís Cardoso…………………………………………………………………..212
Podcasting: relato de uma experiência na disciplina de Educação Musical
Pedro Alexandre da Silva Mota & Clara Pereira Coutinho……………………………………………………………....225
GeomCasting: um estudo com alunos do ensino secundário
Aurora Maria Moreira da Rocha & Clara Pereira Coutinho ………………………………………………………………238
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
_______________________________________________________________________________________
Short Paper
Podcast no ensino básico: Relato de uma experiência
Rogério Ramos & Rui Raposo………………………………………………………………………………………….252
Utilização do Podcast num site de apoio ao estudo da Matemática: uma experiência no ensino secundário
Rute Almendra Lopes, Diogo Novais Machado & Clara Pereira Coutinho…………………………………….…...259
Podcast no Jardim-de-Infância: oralidade, criatividade e pensamento crítico
Ádila Faria & Altina Ramos………………………………………………………………………….……………………268
Decisão informada, decisão alimentada
Margarida Quinta e Costa, Michael Kaufmann & Pedro Simas……………………………………………………...274
Podcast e Vodcast: o potencial da ferramenta VoiceThread
João Batista Bottentuit Junior, Eliana Santana Lisbôa & Clara Pereira Coutinho………………………………….281
As Possibilidades do Podcast Como Ferramenta Midiática na Educação
Carolina Machado dos Santos de Sousa Franco…………………………………………………………………….287
Podcast: Uma Revisão dos Estudos Realizados no Brasil e em Portugal
João Batista Bottentuit Junior, Eliana Santana Lisbôa & Clara Pereira Coutinho………………………………….293
Poster
Novas Ferramentas da Web 2.0. geram Novas Parcerias
Cristina Aguiar, Carolina Alves & Romana Maciel………………………………..………………………………..…300
Podcasting no ensino da Física e reforço de aprendizagens de conteúdos
Susana Quadrado & João C. Paiva……………………………………………………..……………………………..305
“Podcast” – Pode o quê?
João Carlos Gonçalves de Matos……………………………………………………………………………………...309
Workshops
Podcast e a utilização do Audacity
Adão Sousa & Fátima Bessa……………………………………………………………………………………………314
Vodcasts com o Movie Maker
Carla Joana Carvalho……………………………………………………………………………………………………328
Screencast utilizando o Jing
Pedro Ferreira & Ricardo Pinto………………………………………………………………………………………….347
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
4
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Nota de Abertura
Os podcasts surgem em 2004 e, desde então, têm vindo a impor-se na sociedade e no
ensino. Inicialmente o termo era sinónimo de um ficheiro áudio, mas rapidamente outros
formatos surgem como o vídeo – o vodcast e o screencast, que consiste na captura do ecrã
com locução, sendo adequado para tutoriais - e a combinação de imagem com locução - o
enhanced podcast.
É o renascer do áudio e do vídeo no ensino, fomentado pela facilidade em editar e em
publicar online, a que se associa a facilidade em descarregar para dispositivos móveis que
permitem que os alunos os ouçam ou vejam em qualquer hora e em qualquer lugar.
Os podcasts constituem um recurso a não menosprezar no ensino presencial e a
distância. A forma como podem ser usados é muito variada, dependendo da criatividade do
professor que os reutiliza ou que os cria.
O Encontro sobre Podcasts constitui um reflexo da investigação e das experiências que
se fazem no país e no estrangeiro.
Ana Amélia Amorim Carvalho
5
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
6
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A Podcasting Framework for Teaching and Learning in Higher Education
Palitha Edirisingha
Beyond Distance Research Alliance
University of Leicester, UK.
Gilly Salmon
Beyond Distance Research Alliance
University of Leicester, UK.
Introduction
In this paper, we develop a framework for identifying podcasting approaches suitable for
teaching, learning and assessment in Higher Education (HE). The framework was developed
based on a multi-institutional and multi-disciplinary study of developing a range of podcasting
approaches in HE by practicing teachers from a variety of subject disciplines. Following a brief
overview of the definitions of podcasting as they apply in educational contexts, and a review of
current use of podcasting for learning, this paper outlines the methodology for developing
podcasting approaches. It then offers the framework and briefly describes eight approaches that
align with teaching, learning and assessment practices in HE. Each approach has been
developed to address a specific teaching and learning challenge. We invite practitioners to
adopt these approaches and develop their own podcasts to address similar or different teaching
and learning challenges.
Podcasting, originated as a technology to create and distribute personal ‘radio shows’
on the internet, is now becoming a technology to support learning in many education contexts.
Increasing numbers of research papers published on podcasting and formation of practitioner
groups to explore the potential of podcasting for learning indicate the increased interests from
teachers and technologists on the potential of podcasting for learning. The Podcasting for
Pedagogical Purposes group (podcastingforpp.pbwiki.com/), IMPALA (www.impala.ac.uk), and
Podagogy Research Group (wlv.ac.uk/Default.aspx?page=11527) are examples of UK based
communities of researchers and practitioners interested in the pedagogical applications of
podcasting. In the UK, the Higher Education Academy (HEA) and the Joint Information Systems
Committee (JISC) have funded a number of research and development projects to examine
podcasting for learning.
A number of social and technological trends work in favour of the increasing uptake of
podcasting in formal learning contexts. Software for creating and distributing podcasts, and
technical instructions on the use of software and tools are freely available on the internet,
making podcasting a ‘low threshold technology’ (Ramsden, 2007). Significant numbers of
students taking HE courses own one or more devices - iPods and other brands, and portable
computers with MP3 playback software, and mobile phones (Melville et al, 2009, Trinder et al,
7
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
2008); these devices can be used to playback podcasts. Advice on exemplar approaches to
using podcasting to improve student learning, and pedagogical models grounded in research
(e.g., Salmon and Edirisingha, 2008) also contribute to the uptake of podcasting for learning.
Defining podcasts and podcasting for learning
Salmon et al (2008) regard podcasts and podcasting as new practices that are still
evolving. According to their definition, a podcast:
is a digital media file that plays sound, and sound and vision
is made available from a website
can be opened and / or downloaded and played on a computer, and /or
is downloaded from a website to be played on a portable digital player (such as a mobile
phone or a dedicated player such as an iPod or other makes).
Those prefer a more technical approach to podcasting would disagree with the above
definitions of podcasts. It is true that technically speaking what distinguishes podcasts from
other forms of digital media is that technology that underpins podcasts enables digital media
files to be delivered on the internet using syndication feeds; podcasts, then, can be downloaded
automatically through a subscription service to playback on a suitable digital media player, such
as a dedicated MP3 or MP4 player or a computer. This process enables the content to be
‘automatically delivered to [a user’s] computer as soon as ‘new content’ is posted on the web’
(BBC, 2005). A subscription-based access makes podcasts ‘a pull’ technology rather than a
‘push’ technology – the user doesn’t have to seek and download new content manually
(Campbell, 2005).
The American Oxford Dictionary definition of podcasts as ‘a digital recording of a radio
broadcast or similar program, made available on the Internet for downloading to a personal
audio player’ also hints to the possibility of a non-subscription vision of podcasts, offering the
teachers and students the option of choosing the delivery and access technology.
Many
academic podcasters offer their podcasts as downloadable files from a website or an
institutional Virtual Learning Environment (VLE) (Lee, Miller and Newnham, 2008). Empowered
by the ‘low threshold technology’ involved in producing podcasts (Ramsden, 2007) and
benefiting form the institutionally available VLEs, many teachers at universities, colleges and
schools now deliver podcasts through their VLEs for students as downloadable files. This
approach is close to the approaches that we have recently documented (see Salmon and
Edirisingha, 2008). VLE-based podcasting is a popular option in academic contexts, given that
both students and staff are familiar and regular users of institutional VLEs (Edirisingha, Salmon
and Nie, 2008).
A review of podcasting in higher education
The body of literature on podcasting in HE is growing. Chan and Lee (2005) identified
that informal short podcasts help to address students’ anxieties and concerns about the course
8
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
content and to increase the sense of belonging to a learner community for distance learners.
Lee, McLoughlin and Chan (2008) showed that learners’ involvement in podcast creation
promoted collaborative knowledge building. Chinnery (2006) demonstrated that the use of
podcasts to bring authentic cultural experience to students learning foreign languages. Copley
(2007) showed the effectiveness of video podcasts to deliver supplementary lecture materials
within an undergraduate marine science course, increasing students’ enthusiasm for studies
and support in revision and preparation for assessments. Cebeci and Tekdal (2006)
demonstrated that podcasting is an effective technology to make learning material more
accessible to a wider diversity of learners. Baird and Fischer (2006) and N’gambei (2008) found
that podcasts can be effective in enhancing student engagement in course related activities and
reflection.
The above studies and a majority reported in the literature on podcasting in higher
education show positive benefits for learning. Students both surveyed and interviewed have
reported that they valued the flexibility offered by podcasts for accessing and using learning
material as well as the cognitive and motivational benefits obtained from listening.
The above results may not to be too surprising; long before podcast technology was
invented and became popular, benefits of audio for learning have been identified through its
predecessors: radio, audio cassettes, and audio-vision. The content medium of podcasting is
recorded audio, not a new medium in education. Durbridge’s research (1984) at the British
Open University has shown that audio can influence cognition through clarity of instruction, and
emotional aspects of learning; audio is effective in conveying immediacy and connection with
the teachers. Wood and Keeler (2001) reported that short audio recordings by tutors embedded
into emails have helped increase student participation in group activities, and added a sense of
online community and satisfaction with the overall learning experience.
The diversity of podcasting approaches reported in the literature offer the teachers
ample examples of podcasting for teaching and learning. However, we need a way of
conceptualising how podcasts can be integrated into the larger scheme of teaching, learning
and assessment. This paper goes beyond the level of describing a particular approach or
approaches to using podcasts and reporting evidence of students’ perceptions and attitudes
towards podcasting. It provides an overarching framework for teachers and learning support
staff to consider how the different approaches to using podcasting can be adapted to their own
teaching and learning contexts, and to develop their own podcasts to improve learning and
teaching.
A podcast framework for teaching, learning and assessment
Fig. 1 illustrates our podcasting framework. It consists of a core and a periphery,
showing teaching, learning and assessment activities. The core of the framework consists of the
main and common teaching and learning activities that occur in HE such as lecturers, seminars,
workshops, lab-work, field work, working with the aid of a computer, student presentations and
9
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
assessments. You can add more depending on your particular teaching and learning context
and the activities that you and your students carry out. In the periphery are some of the specific
issues related to student learning in HE. In this framework, we provide eight examples of how
podcasts have been used to support both the core
core teaching and learning activities and to
address issues related to student learning.
The podcasting approaches reported in this paper were generated through a research
and development project called IMPALA (Informal Mobile Podcasting And Learning Adaptation,
Adapt
www.impala.ac.uk). IMPALA examined how podcasts can bring the advantages of digital audio
(both tutor- and student-generated)
generated) to facilitate learning in HE. The research was carried out in
five UK universities (Leicester, Nottingham, Kingston, Gloucestershire
Gloucestershire and Royal Veterinary
College) across a range disciplines: Chemistry, Engineering, English Language, Human
Geography, Physical Geography, Genetics, Media and Communication, Physics, Sociology and
Veterinary Sciences. Impala has its friends in Scotland
Scotland (The University of Edinburgh), South
Africa (The University of Capetown), Australia (Charles Sturt University and University of New
England), and Portugal (University of Minho).
The IMPALA podcast development and research was initiated with a pilot study
s
at the
University of Leicester in the UK leading to development of a set of guidelines and a framework
for pedagogical design and development of podcast applications to address teaching and
learning challenges. IMPALA partners, from the above subject areas, developed podcasts and
trialed their use with students in undergraduate courses. We studied the impact of podcasting
on student learning through qualitative and quantitative data collection and analysis (See
Salmon and Edirisingha (2008) for more on IMPALA and the research findings).
Fig. 1. A podcasting framework for teaching, learning and assessment in HE
10
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Each approach to using podcasts will be illustrated using IMPALA approaches, relevant
to learning in HE - on-campus, online and at a distance. Table 1 provides a summary of the
approaches.
Purpose or teaching and learning Specific example of an approach to using
issue to be addressed
podcasts
1). Supporting learning from lectures
Pre-lecture podcasts to help students
understand difficult concepts in undergraduate
physics
2). Supporting learning in practical Instructional video podcasts to help learn
classes
computer software
3). Supporting learning from feedback
Personal and group feedback on essays
on assessed work
4). Supporting the development of Podcasts with advice on student presentations
learning and study skills
and assessments
5). Supporting online and independent Advice on time management, proposed study
learning
schedules and feedback on e-tivities
6). Supporting learning at a distance
Podcasts to address anxieties and other
emotional issues of distance learners
7). Developing reflective skills
Podcasts for mediating reflections
8). Supporting learning from self-study Video podcasts that animates and narrates
material
collections of anatomical specimens for vet
students
Table 1. Eight approaches to using podcasts to address specific teaching and learning objectives.
Supporting learning from lectures
Podcasts have been successfully used to help students to prepare for their forthcoming
lectures. Lecturers at the University of Edinburgh (Aliotta et al, 2008) used podcasts to help
students to understand conceptually difficult topics in first year undergraduate physics. Aliotta
and her colleagues were aware that students entering undergraduate physics courses tend to
hold fundamental misconceptions on the subject. They developed podcasts to address
students’ commonly held misconceptions, such as those on forces acting on objects and
rotational motion.
Students listened to these podcasts few days before the lecture where these concepts
were covered. In podcasts, students were prompted to think about what would be covered in the
lectures and to question their own understanding about the topics based on any previous
learning about them. The content on the podcasts have been scripted ahead of recording the
narrations in order to make the content accurate and clear for the listener. The podcasts were
more conversational than didactic, with examples to contextualise them (Stevens, 2007). Each
11
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
lasted approximately 8 minutes. The podcasts also included a set of multiple choice questions
to follow up in lectures.
The authors report small, but positive results on the effectiveness of these podcasts.
Students’ responses to follow-up in-lecture questions have resulted in a small, but consistent,
positive influence on the proportion of students able to provide correct answers to a series of
conceptual questions. Aliotta et al (2008) point out that in order to increase the impact of
podcasts, the content needs to be carefully directed and focused on the conceptually difficult
topic being addressed. Whether audio alone is suitable for teaching topics that require visual
illustrations is questionable. Enhanced podcasts (Salmon et al, 2008, pp. 24-25) with still and /
or animated graphical representations, might have been a better alternative. However, the
approach to using podcasts to address conceptually difficult topics have proved that podcasts
have helped students to understand difficult concepts covered in lectures.
Helping to learn software programs in practical classes
Mount and Chambers (2008) used podcasts in practical classes; their approach is
relevant in HE courses where students are required to learn a range of specialist software.
The use of computers and software for managing and analysing information is common
in most HE courses. Many universities use one or more kinds of e-learning technologies which
also require students to be familiar with a variety of software tools to access information from
data bases, to communicate with peers and to organise their work.
Despite the availability of learning technologies, the teaching of software tools is still
done using paper guides with illustrations and screenshots (Mount and Chambers, 2008).
Mount and Chambers who teach software in Geographical Information Systems (GIS) found
that paper-based guides has constraints; students often encounter difficulties in learning
software tools with paper, and they require one-to-one and group support. However, the
increasing student uptake of some of the courses means providing such personal and small
group support is increasingly becoming an issue for university teachers.
Software specific issues and students’ level of knowledge add further teaching and
learning challenges. In disciplines such as GIS, students are required to engage with and learn
the complex operations of a specialist software called GIS. As the authors pointed out, most of
the Geography students are new to the subject of GIS and GIS software. While students may
have good general computer skills, this lack of familiarity with GIS and software tools means
that they encounter a number of difficulties in learning the software. These problems presented
a significant barrier to achieving the learning outcomes of the module (Mount and Chambers,
2008).
In order the address these issues, Mount and Chambers developed a series of video
podcasts for teaching GIS software in students’ practical classes. They replaced all paperbased manuals with narrated screen capture videos, delivered as MP4 files. They produced 24
video podcasts, totaling 136 minutes of viewing, which replaced 60 pages of paper-based
12
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
manuals and 45 screenshot illustrations. These were made available as two alternative formats:
as downloadable video podcasts and as streamed video via the university’s VLE WebCT.
Mount and Chambers (2008) report that the video podcasts have contributed to student
learning positively. Students found that the video podcasts offered them flexibility in terms of
time and pace to revise the software tool that they studied. Students also considered that the
video podcasts promoted their independent learning skills. Unlike with paper-based material,
students were not require to seek help from the tutor. The richness of the media included in the
videos (narration, still images and video images) have been beneficial in guiding their learning
process. Students were more motivated to learn from podcasts with video and narration than
with paper-based material.
Supporting learning from feedback on assessed work
Feedback is an important activity in the teaching and learning process. Biggs (2003)
stresses that teaching and learning is more effective when objectives, outcomes, methods of
instruction and learning activities are all linked with assessment to form a constructive
alignment. Experts on assessment (e.g., Ramsden, 2003) identify the critical importance of
providing effective comments on students’ progress, and improvements that need to be made;
quality and quantity of feedback are also important for student learning.
France and Ribchester (2008) present an approach to using podcasts to help students
to learn from tutor’s feedback on assessed work. The approach that they developed exploits the
affordances of podcasts to improve the nature and quality of feedback comments. They used
podcasts to provide feedback for assessments for students on two geography modules during
one academic year. In the first module the final year undergraduates undertook three
assignments: a single PowerPoint slide designed to ‘persuade’ a world leader to change policy
on a key aspect of climate change (an e-postcard), a group oral presentation and a fieldwork
report. The second module was a first year module where student were assessed using short
question-and-answer test and a fieldwork report presented as a web site (France and
Ribchester, 2004).
The feedback was provided using two kinds of podcasts for each assignment. First was
a personal one, offering feedback on the quality of the assignment and the mark for each
assignment. The second podcast provided feedback on the performance of the group as a
whole with comments on general strengths and weakness of their work. Each student received
one sound file containing their personal feedback and the group feedback. The aim was to
enable each student to listen to comments on their own performance and then to compare and
contrast it with the group’s performance. Tutors also provided brief written feedback for two of
the assignments. The feedback podcasts were made available in the feedback section of each
student’s electronic progress file (personal development planner) within the University’s VLE.
Students received automatic emails as soon as new podcasts were available for them to
download.
13
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
France and Ribcester report that students reacted positively to their approach to using
podcasts for providing feedback. The flexibility and mobility of use were key advantages of
feedback podcasts. Students valued the reduction of the turn around time; they accessed
feedback as soon as it was made available. Students liked the greater depth and details
contained in the audio feedback than that they experienced in written feedback. Students also
valued the personalised nature of the feedback, and the immediacy and the sense of intimacy
conveyed from tutors voice, rather than via text.
Supporting the development of learning and study skills
Rothwell (2008) illustrates an approach to using podcasts to develop students learning
and study skills of first year undergraduate students. Rothwell teaches a core module taken by
students who were from different fields of study: all combining English Language with other
subjects from humanities, arts and social sciences. Students on Rothwell’s module were
assessed on a portfolio that they individually developed during the semester and their group
presentations.
Students had little contact with each other outside the module, limiting the
opportunities to develop a cohort identity and for peer-support to develop study skills for
assessed work.
Rothwell used podcasts to help students to develop a range of study skills required for
learning the module, including the core skills needed to develop portfolios and presentations.
The podcasts that she developed were about 10 minutes long, and were made available
fortnightly: to enhance students understanding of the core concepts and issues, to build a sense
of cohort identity, to encourage peer support for learning, to develop writing, speaking and
presentation skills. Each aspect was covered by 2-3 minutes sound clips explaining key
concepts covered in lectures and seminars, discussions between students and staff on
assessment tasks, senior students providing study tips. To develop student collaboration,
content for podcasts was generated from interviews with current and previous students, and
student mentors (senior students) who help with level one students at the faculty academic
skills development centre (a drop-in advice centre).
Rothwell reports a number of positive outcomes of her podcast approach. Podcasts
became a complementary resource for students to learn more about, and clarify issues related
to how they go about developing portfolios and preparing for presentations. The views of, and
advice from senior students on learning and studying have been a valuable source of learning.
Podcasts offered them choices in terms of time, location and sequencing of their learning.
Supporting students’ online and independent learning
Students enrolled in campus-based HE institutions generally carry out their majority of
studies through face-to-face methods such as lectures and seminars. However, the availability
of VLE provides opportunities for lecturers and tutors to offer some or most of the teaching and
learning activities online. Professor John Fothergill at the University of Leicester took this
14
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
opportunity, and using the intuitional VLE Blackboard, he has been teaching his undergraduate
engineering module mostly online since the early 2000.
While online learning offered the students many advantages, for example, the flexibility
of learning at a pace, time and locations suitable to their circumstances, it had its drawbacks.
He felt that, although the content of the course did not change during the few years of running
the course, the repeated presentations of recorded ‘e-lectures’ meant that over time the course
started ‘to lose life and lack lustre’ (Fothergill, 2008). He felt that even a well designed course
can look static and lack the liveliness of a course delivered using face to face methods such as
lectures and seminars. He also felt that students needed support and guidance to structure their
online learning activities.
Fothergill was looking for a technology that can help him to support students’ online
learning and to ‘enliven’ the course, and he found the answer in podcasting. He considered that
podcasts would enable him to ‘talk to the students’ regularly, to provide feedback on their
course work and performance in group work, and comment on results from assignments. For
the majority of students, learning and studying entirely online was a new experience, therefore,
the professor wanted to use podcasts to provide advice and guidance to students on
approaches to studying the module.
Fothergill developed podcasts on a weekly basis and made them available on the
module site of the VLE. His model of podcasts contained an initial item related to something that
was reported in the popular press related to the subject, a middle and a substantial section
(about 6 - 7 minutes) dealing with elements described above and a final section with humour.
More details on the podcasts can be found in Fothergill (2008, pp. 80-91).
Student evaluations during four academic years have shown that the podcasts were
popular amongst students; podcasts have helped students to carry out their learning and
studying on line. Students valued the guidance received from podcasts to structure their weekly
learning activities; being first time e-learners, they needed such guidance.
Supporting learning at a distance
Pre-conceptions and anxieties that students bring to learning are barriers to effective
learning (Chan and Lee, 2005). A small scale trail of using podcasts with a cohort of
undergraduate on-campus students at Charles Sturt University (CSU) in Australia proved that
short podcasts (about 5 minutes long) were useful in helping students to alleviate their anxieties
and to help them to address their misconceptions on the subject matter (Chan and Lee, 2005).
Building on the success of the pilot study, Chan, Lee and their colleagues used podcasts with a
range of undergraduate and postgraduate students, studying on-campus as well as off-campus
locations around Australia and overseas.
The podcasts at CSU were about 5 minutes long. Groups of volunteer students who
have completed the course previously or those who are not presently enrolled in were involved
in creating these podcasts. They managed the complete production process, from generating
15
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
ideas to making the final product available for students to listen. Lee and Tynan (2008, pp. 92102) describe the production process in detail. Podcasts were produced by students in groups
with the minimal intervention by the teaching staff. The student podcast producers were able to
exercise a high degree of autonomy and creativity. The format of the podcast was similar to a
talk-back radio programme where student presenters hold discussions on subject-related issues
in a relaxed and informal style. Occasionally, lecturers and subject experts featured in these
podcasts offering insights into the more difficult or complex issues and topics. The material
covered in these podcasts was supplementary to formal content with no assessments involved.
Research carried out to identify how podcasts helped student learning surfaced a
number of beneficial effects. The distance learners rated podcasts highly: listening to podcasts
has been an effective use of their time. Students improved their time management skills
preventing them from falling behind. Those who listened to podcasts reported that podcasts
helped with their motivation and engagement with their studies, leading to enhanced learning
outcomes. Podcasts have contributed to foster a sense of community amongst the distance
learners who do not generally get to meet their peers.
Podcasting to facilitate reflective learning
Ng’ambi (2008) used student-created podcasts to develop reflective learning skills. He
identified that the ability to listen to a podcast after it has been created provides a space for
reflection. The ability to listen repeatedly also helps this reflective process.
Ng’ambi developed his reflective podcast approach within a post-graduate course on
educational technology. The teaching objective was to enable students to acquire skills in
writing reflective academic essays on key aspects of educational technology literature. The
conventional teaching and learning resources and approaches consists of pre-seminar reading
materials, attending guest lectures, assigned individual readings and student presentations in
front of peers. Podcasts were integrated into this process. Student presentations, and questions
by peers and discussions were recorded and made available on the university’ VLE as
podcasts. Students were encouraged to listen to these podcasts, to reflect on the questions
posed by students and discussions that generated, and to write their reflective logs.
The impact of podcasting on student learning has been encouraging. Capturing
students’ presentations, questions from peers and group discussions as podcasts enabled
students to reflect on their learning process at a time and pace suitable to them. The technology
enabled the students to reflect in a safe and non-threatening environment.
Supporting learning from self-study material
The rationale for this approach is to provide wider access to, and more effective use of
self-study resources. The approach has been developed by lecturers at the Royal Veterinary
College (RVC) in London. RVC houses one of the largest collections of anatomical specimens
that have been dissected by previous students and teaching staff, during the institutions 200
16
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
year period as a leading veterinary school in the world. These specimens form an important
resource for the teaching and learning of the vet curriculum. However, access to these
specimens on a personal and individual basis is limited due the increased student numbers on
the modules. These specimens need to be studied at close range, mostly on an individual basis
or in small groups, with some tutor support. The tutors developed a series of short video
podcasts of these specimens to make these valuable learning resources available to students in
a more accessible form.
The video podcasts developed at the RVC were animated videos of anatomical
specimens supported by audio commentary by a teaching staff member.
The production
process started with student focus groups to identify the areas of anatomy that they found most
difficult to understand. These videos demonstrate different structures and tissues in particular
parts of the body. The podcasts were about 5 minutes long. The production of each podcast
involved both an academic staff with the subject matter knowledge and a learning technologist.
Cox et al (2008, pp. 103 - 112) describe the technology used to develop the anatomical video
podcasts. These RVC podcasts were delivered to students using the institution’s VLE
Blackboard.
Evaluation results have shown positive contribution to student learning. Students valued
the convenience of access to anatomical specimens as podcasts, which helped them to prepare
for lessons and to revise for exams. Podcasts offered students a new way of learning; students
were able to use their personally owned technologies such as video iPods to learn at a time and
pace suitable for their learning. Students found that they were able to make use of staff time
better and more efficiently, having viewed and reviewed the material before coming to the
practical classes.
Conclusions and a summary of recommendations
In this paper we developed a framework to guide our thinking on how podcasts can be
incorporated into the overall teaching, learning and assessment activities in HE. The growing
literature on podcasting provides us ample examples of approaches to using podcasting. The
framework developed in this paper, though a long-term research-to-practice programme on
podcasting, can help us to reflect on the bigger picture of teaching and learning activities that
teachers and students carry out, both face-to-face and on location, and to select an approach
that is most suitable to a recognised teaching and learning issue.
Starting with a clear pedagogical rationale is critical for the success of a podcasting
approach. All the eight podcasting approaches presented in this paper share a common feature;
they all have been developed to address a particular teaching and learning challenge.
Researching the impact of these approaches have shown positive benefits to student learning.
As the approaches described in this paper demonstrated, you can involve not only
teachers and subject experts, but also students and other stake-holders in the podcast
development process. The 4th, 6th and 8th approaches showed that content generated from
17
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
and by students have helped students to learn generic learning and study skills, to alleviate
study-related anxieties, and to develop reflective skills. Consider getting your students’ active
participation in developing podcasts.
VLE is the main delivery platform for all the podcasts described in this paper, and
research carried out on student use of podcasts showed that students were able to access and
use them without technical issues. Therefore, we can confidently say that VLE-based podcast
delivery works well for academic podcasts. If you use a subscription-based approach to deliver
your podcasts, it is important to help students understand how they can subscribe to your
podcasts in order to access them.
Podcasting can support learning face-to-face, online and on location, and to both learn
conceptual topics and practical subject matter. As this paper outlined, many social and technical
trends are working in favour of using podcasts for teaching and learning. So, please explore,
experiment and report back your stories of podcasting for learning. You can find us on
www.impala.ac.uk.
References
Aliotta, M., Bates, S., Brunton, K., and Stevens, A. (2008) Podcasts and lectures, In G. Salmon
and P. Edirisingha (Eds) Podcasting for Learning in Universities (pp. 33-42). London:
McGraw-Hill and Open University Press.
BBC
(2005)
Wordsmiths
hail
podcast
success.
Available
at:
http://news.bbc.co.uk/1/hi/technology/4504256.stm. Accessed: Jan 14, 2008.
Biggs, J. (2003) Teaching for Quality Learning at University: what the student does, 2nd Edn.
Maidenhead: SRHE and Open University Press.
Campbell, G. (2005) There’s Something in the Air: Podcasting in Education, EDUCAUSE
Review,
Vol.
40,
No.
6,
pp.
32–47.
At:
http://www.educause.edu/EDUCAUSE+Review/EDUCAUSEReviewMagazineVolume40/
TheresSomethingintheAirPodcast/158014, Accessed June 1, 2009.
Cebeci, Z. and Tekdal, M. (2006) Using Podcasts as Audio Learning Objects, Interdisciplinary
Journal
of
Knowledge
and
Learning
Objects,
Vol.
2,
pp.
47-57.
At:
http://ijklo.org/Volume2/v2p047-057Cebeci.pdf. Accessed June 1, 2009.
Chan, A. and Lee, M. J. W. (2005) An MP3 a day keeps the worries away: Exploring the use of
podcasting to address preconceptions and alleviate pre-class anxiety amongst
undergraduate information technology students. In D.H.R. Spennemann and L.Burr (Ed.)
Good Practice in Practice: Proceedings of the Student Experience Conference (pp.5870). Wagga Wagga, NSW. 5-7 September.
Chinnery, G. M. (2006) Emerging technologies - Going to the MALL: Mobile Assisted Language
Learning, Language Learning and Technology, Vol. 10, No. 1, pp. 9-16.
18
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Copley, J. (2007) Audio and video podcasts of lectures for campus-based students: production
and evaluation of student use, Innovations in Education and Teaching International. Vol.
44, No. 4, pp. 387-399.
Cox, B., Macharia, R., Short, N., and Whittleston, K. (2008) Podcasts and resources, In G.
Salmon and P. Edirisingha (Eds) Podcasting for Learning in Universities (pp. 103-112).
London: McGraw-Hill and Open University Press.
Durbridge, N. (1984) Media in Course Design, No. 9, Audio Cassettes. In A.W. Bates (Ed) The
Role of Technology in Distance Education (pp. 99-108). Kent, UK: Croom Helm.
Edirisingha, P., Salmon, G., and Nie, M. (2008) Developing pedagogical podcasts, In G. Salmon
and P. Edirisingha (Eds) Podcasting for Learning in Universities (pp. 152-168). London:
McGraw-Hill and Open University Press.
Fothergill, J. (2008) Podcasts and online learning, In G. Salmon and P. Edirisingha (Eds)
Podcasting for Learning in Universities (pp. 80-91). London: McGraw-Hill and Open
University Press.
France, D., and Ribchester, C. (2004) Producing websites for assessment: a case study from a
Level 1 fieldwork module, Journal of Geography in Higher Education. Vol. 28, pp. 49-62.
France, D., and Ribchester, C. (2008) Podcasts and feedback, In G. Salmon and P. Edirisingha
(Eds) Podcasting for Learning in Universities (pp. 70-79). London: McGraw-Hill and Open
University Press.
Lee, M. J. W., McLoughlin, C., and Chan, A. (2008) Talk the talk: Learner-generated podcasts
as catalysts for knowledge creation, British Journal of Educational Technology. Vol 39,
No. 3, pp. 501-521.
Lee, M.J.W., and Chan, A. (2007) Reducing the effects of isolation and promoting inclusivity for
distance learners through podcasting,Turkish Online Journal of Distance EducationTOJDE. Vol. 8, No. 1, pp. 85-104.
Lee, M.J.W., and Tynan, B. (2008) Podcasts and distance learning, In G. Salmon and P.
Edirisingha (Eds) Podcasting for Learning in Universities (pp. 92-102). London: McGrawHill and Open University Press.
Lee, M.J.W., Miller, C., and Newnham, L. (2009) Podcasting syndication services and university
students: Why don’t they subscribe? Internet and Higher Education, Vol. 12, No. 1, pp.
53-59.
Melville, D. and the members of the committee (2009) Higher Education in a Web 2.0 World:
Report of Committee of Enquiry into the Changing Learner Experience,
At:
http://www.clex.org.uk/CLEX_Report_v1-final.pdf. Accessed 29 May 2009.
Mount, N., and Chambers, C. (2008) Podcasts and practicals, In G. Salmon and P. Edirisingha
(Eds) Podcasting for Learning in Universities (pp. 43-56). London: McGraw-Hill and Open
University Press.
19
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Ng’ambi, D. (2008) Podcasts for reflective learning, In G. Salmon and P. Edirisingha (Eds)
Podcasting for Learning in Universities (pp. 132-145). London: McGraw-Hill and Open
University Press.
Ramsden (2003) Learning to teach in higher education, 2nd Edn. London: Routledge.
Ramsden, A. (2007) Podcasting as a social network tool: is it a student reality? Programme and
Abstracts of ALT-C 2007, pp. 117-118. Nottingham, 4-6 September.
Rothwell, L. (2008) Podcasts and collaborative learning, In G. Salmon and P. Edirisingha (Eds)
Podcasting for Learning in Universities (pp. 121-131). London: McGraw-Hill and Open
University Press.
Salmon, G. and Edirisingha, P. (Eds) (2008) Podcasting for Learning in Universities, London:
McGraw-Hill and Open University Press.
Salmon, G., Mobbs, R., Edirisingha, P., and Dennett, C. (2008) Podcasting technology, In G.
Salmon and P. Edirisingha (Eds) Podcasting for Learning in Universities (pp. 21-32).
London: McGraw-Hill and Open University Press.
Stevens,
A.
(2007)
Text
of
podcasts
used
in
this
work.
Available
at:
http://www.ph.ed.ac.uk/~spb01/content/media/podcasts/stevens.html. Accessed: June 1,
2009.
Trinder, K., Guiller, J., Margaryan, A., Littlejohn, A., and Nicol, D. (2008) Learning from digital
natives: bridging formal and informal learning, The Higher Education Academy, At:
http://www.academy.gcal.ac.uk/ldn/LDNFinalReport.pdf, Accessed: 28 June 2008.
Woods, R., and Keeler, J. (2001). The effect of instructor’s use of audio e-mail messages on
student participation in and perceptions of online learning: a preliminary case study, Open
Learning, Vol. 16, No. 3, pp. 263-278.
20
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
21
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcasts no Ensino Superior em Regime Blended-Learning: um estudo
na Universidade do Minho
Ana Amélia Amorim Carvalho
Universidade do Minho
[email protected]
Cristina Aguiar
Universidade do Minho
[email protected]
Romana Maciel
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo – Neste texto apresenta-se uma breve caracterização sobre a utilização de
podcasts no ensino superior e descrevem-se os estudos realizados na Universidade do
Minho ao longo de três semestres (2007-2009), no âmbito do projecto “Implicações
pedagógicas da utilização de podcasts em regime blended-learning”, bem como as
reacções dos alunos e dos professores à implementação desta ferramenta da Web 2.0 em
contextos pedagógicos. O projecto envolveu 6 docentes, 479 alunos e abrangeu 20
unidades curriculares onde foram disponibilizados 118 podcasts - 34 dos quais criados
pelos alunos.
Os docentes reconhecem as potencialidades pedagógicas dos podcasts mas também a
falta de reconhecimento institucional e o acréscimo de trabalho, que deverá ser
rentabilizado através da reutilização dos episódios criados. Os alunos foram receptivos à
introdução dos podcasts em contexto educativo, embora manifestando surpresa e, alguns,
uma certa resistência inicial, mas tiram pouco partido das tecnologias móveis para
usufruírem dos podcasts. Constatou-se uma maior adesão aos podcasts nos alunos de pósgraduação e nos trabalhadores-estudantes.
Introdução
Desde o aparecimento dos podcasts, em 2004, quando Adam Curry (VJ) e Dave
Winner (programador) emitiram o primeiro programa de rádio na Web (Richardson, 2006), que
as universidades rapidamente compreenderam a sua importância no ensino. Sensível ao papel
que os podcasts podiam desempenhar na aprendizagem, a Universidade de Duke ofereceu
ipods aos caloiros (Belanger, 2005), podendo os alunos optimizar o local e a hora em que os
ouviam. Assim, os caloiros, nativos digitais (Prensky, 2001), eram presenteados com
dispositivos móveis para fomentar a aprendizagem sem restrição de tempo e lugar.
22
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Os primeiros estudos surgem no ensino superior (Chan & Lee, 2005, Calder, 2006,
Cebeci & Tekdal, 2006, Chan et al., 2006, Frydenberg, 2006, Lane, 2006, Abt & Barry, 2007,
Evans, 2007, Gribbins, 2007, Guertin et al., 2007, Lee & Chan, 2007, McLoughlin & Lee, 2007,
Rosell-Aguiar, 2007, Salmon et al., 2007, Savel et al., 2007, Aguiar et al., 2008, Bongley et al.,
2008, Carvalho et al., 2008, Clothey & Schmidt, 2008, Harris & Park, 2008, Watson & Boggs,
2008, Carvalho & Aguiar, 2009, Carvalho et al., 2009a, b) e alguns deles reportam a gravação
de aulas que depois eram disponibilizadas online (Frydenberg, 2006, Evans, 2007, Guertin et
al., 2007), como as aulas em áudio e em vídeo disponibilizadas pelo MIT (Massachusets
Institute of Technology), nos Estados Unidos. Já temos mencionado (Carvalho, 2008, 2009,
Carvalho et al., 2009a) que não consideramos esta possibilidade uma boa opção, porque a
gravação é muito longa e capta o ruído de fundo, pausas e apartes, pertinentes no contexto da
aula mas muitas vezes não relevantes para o que se está a ouvir. Consideramos mais
proveitoso um texto bem estruturado, com frases bem pronunciadas para facilitar a
compreensão e com duração inferior a uma aula. De acordo com a revisão de literatura feita
(Frydenberg, 2006, Lee & Chan, 2007) e dos nossos estudos (Carvalho et al., 2008, 2009a), os
podcasts de curta duração são os mais aconselhados e também os preferidos pelos alunos.
A facilidade em produzir e em publicar online fez com que os podcasts tivessem
rapidamente vários adeptos. Inicialmente os podcasts eram ficheiros áudio mas rapidamente
surgiram ficheiros vídeo - designados vodcasts (Salmon et al., 2008) ou vidcasts (Newbutt et
al., 2009) - que podiam ser vistos num leitor de MP4. Nesta modalidade, mas centrado na
captação do ecrã ao qual se anexa locução surgem os screencasts, muito úteis para tutoriais.
E ainda se pode ter a combinação de imagem com locução, designado enhanced podcast.
Pelos aspectos mencionados, o primeiro tipo de podcasts que se impôs foi o podcast
áudio, mas com o aparecimento de outros formatos, alguns autores usam o termo audiocast
(McLoughlin & Lee, 2007, Webb & Cavanagh, 2008). Na Austrália, na Universidade de Charles
Sturt, têm usado, desde 2005, podcasts áudio para ajudar os alunos de licenciatura a combater
a ansiedade e para maximizar o interesse dos estudantes pela disciplina de Tecnologias da
Informação, mas rapidamente se expandiu aos alunos de pós-graduação em regime presencial
ou a distância (Chan & Lee, 2005, Chan et al., 2006, Lee & Chan, 2007, McLoughlin & Lee,
2007). Os podcasts usados oscilavam entre 3 e 5 minutos, tendo os autores optado por um
estilo de programa de rádio. Em 2006, decorreu no Reino Unido o projecto IMPALA (Informal
Mobile Podcasting And Learning Adaptation) que tendo usado sobretudo podcasts áudio
também incluíu vodcasts, sobretudo na área de Veterinária e na área de Geografia (Salmon et
al., 2007). Este projecto estudou dez casos em cinco universidades inglesas, nomeadamente
nas Universidades de Leicester, Kingston, Nottingham, Gloucestershire e no Royal Veterinary
College.
No projecto “Implicações pedagógicas da utilização de podcasts em regime blendedlearning” propusemo-nos estudar as implicações pedagógicas da utilização de podcasts -
23
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
sobretudo em formato áudio embora tennham sido também criados em vídeo - no apoio online
ao processo de ensino/ aprendizagem (e nunca em sessões presenciais).
O Projecto
No projecto “Implicações pedagógicas da utilização de podcasts em regime blendedlearning” participaram 479 alunos e 6 professores, tendo os vários estudos decorrido ao longo
de três semestres.
O projecto teve como objectivo principal caracterizar utilizações dos podcasts em contexto
educativo e as suas implicações na aprendizagem, na perspectiva de docentes e discentes,
integrando seis objectivos, quatro dos quais se abordam neste texto:
1. Identificar a aceitação dos podcasts pelos alunos e as suas opiniões, atendendo ao
nível de ensino (licenciatura versus pós-graduação), ao estatuto do aluno (ordinário
versus trabalhador estudante) e às dificuldades visuais (aluno sem dificuldades visuais
versus alunos com dificuldades visuais ou invisuais);
2. Verificar se os alunos usam as tecnologias móveis para ouvirem os podcasts:
3. Identificar quando os alunos ouvem os podcasts e o local onde o fazem;
4. Analisar as reacções dos professores relativamente à integração dos podcasts em
regime blended-learning.
Para a consecução destes objectivos foram criados os seguintes instrumentos de recolha
de dados:
- Questionário inicial ou de Literacia Informática (QLI), preenchido em cada turma antes de se
iniciar o estudo, para caracterizar a amostra relativamente ao seu nível de literacia informática,
incidindo, entre outros, sobre a posse de dispositivos móveis, a utilização de ferramentas da
Web 2.0, a familiaridade com os podcasts e os hábitos de audição;
- Questionário final ou de Opinião (QO), a ser realizado no fim do estudo. Este questionário
inquiria os respondentes sobre as suas reacções aos podcasts usados no semestre como
apoio à Unidade Curricular;
- Grelha de registo do podcast, a ser preenchida pelo professor, incidindo sobre o propósito do
podcast, a duração e as dificuldades sentidas, caso ocorressem.
- Diário de bordo a ser escrito por cada investigador-professor sobre a utilização dos podcasts
nas unidades curriculares de licenciatura e de pós-graduação.
Foram ainda realizadas entrevistas aos docentes, no fim de cada estudo, e aos alunos
que apresentavam posições díspares nos questionários relativamente aos podcasts.
O estudo decorreu ao longo de três semestres, dois em 2007-2008 e um em 20082009, funcionando o primeiro como estudo piloto.
Amostra
Neste estudo participaram seis docentes (DA a DF) da Universidade do Minho
pertencendo a cinco escolas, nomeadamente, Instituto de Educação e Psicologia (IEP) (dois
24
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
docentes), Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH), Instituto de Ciências Sociais (ICS),
Escola de Engenharia (EEng) e Escola de Ciências (EC).
Responderam aos questionários 479 alunos, sendo 372 de licenciatura e 107 de pósgraduação. A média de idades rondou os 21 anos no primeiro caso e 32 anos no segundo
grupo. O género feminino predominou claramente, sendo 68% dos alunos de licenciatura e
66% dos mestrandos do sexo feminino. A equipa dos 6 docentes disponibilizou um total de 84
podcasts (81 criados pelos próprios e 3 correspondentes à utilização de materiais feitos por
outrem, designados como materiais autênticos) nas unidades curriculares cuja docência
asseguraram. Paralelamente, os alunos tiveram também oportunidade de criarem os seus
podcasts em unidades curriculares de ciclos de estudo conducentes a Licenciatura e Mestrado,
perfazendo neste caso um total de 34 episódios.
A gravação de cada episódio foi feita recorrendo, na maioria dos casos, ao software
Audacity, sendo guardado como ficheiro mp3 e colocado na plataforma institucional de elearning ou, alternativamente, disponibilizado no Podomatic.
1º Semestre (2007/ 2008)
No primeiro semestre em que decorreu o projecto, optou-se por realizar um estudo de
carácter mais exploratório, para a equipa se familiarizar com os aspectos técnicos dos
podcasts e testar a implementação dos novos recursos criados, auscultar a receptividade dos
alunos à sua utilização e recolher sugestões relativas à tipologia, duração e finalidades
preferenciais dos podcasts em contextos pedagógicos específicos.
Neste semestre colaboraram 3 docentes e 176 alunos, sendo 151 de licenciatura e 25 de pósgraduação. Os podcasts foram implementados em Sistemas Multimédia (SM), uma unidade
curricular do Mestrado em Tecnologia Educativa, e em quatro unidades curriculares de
Licenciatura: Materiais Educativos Multimédia (MEM), Hereditariedade e Evolução (HE-BA),
Genes e Genomas (GG) e Métodos de Investigação (MI) (Tabela 1).
Ciclo Curso
Unidade
Docente
N° de
Estudantes
Podcasts
Curricular
podcasts
F
M T
Audição
4
5
16
3
119 57 176
(%)
Educação
MEM
DA
1
14
0 14
100
L
Biologia Aplicada
HE-BA
DB
4
29 18 47
79
GG
DB
6
29 18 47
57
Ciências da Comunicação
MI
DC
1
31 12 43
98
M
Tecnologia Educativa
SM
DA
4
16
9 25
96
Tabela 1. Estudantes e docentes envolvidos nos estudos do 1° semestre, respectivos cursos e número de
podcasts produzidos
Dos podcasts disponibilizados, todos áudio, 15 foram produzidos por 2 docentes e um
docente (DC) optou por reutilizar Materiais Autênticos, tratando-se neste caso de uma
entrevista.
25
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A docente do IEP (DA) criou 3 podcasts para dar feedback aos alunos sobre os
trabalhos realizados ou sínteses dos debates no fórum, e 2 ficheiros com o objectivo de
informar sobre o modo de utilização do fórum na Blackboard e sobre a estrutura da próxima
sessão. A docente da EC (DB) disponibilizou podcasts destinados a fornecer resultados de
aprendizagem e informações sobre os recursos de estudo. A docente do ICS (DC) utilizou uma
entrevista (Material autêntico) para os alunos analisarem, realizando um trabalho sobre o
método da entrevista.
A grande maioria dos alunos em cada unidade curricular referiu ter ouvido os podcasts
criados, excepto no caso dos alunos de Genes e Genomas (GG-BA), provavelmente pelo facto
das gravações terem sido igualmente disponibilizadas num ficheiro para impressão – que os
próprios estudantes rapidamente solicitaram (Aguiar et al., 2008).
À excepção dos podcasts sobre comentários (feedback) que eram de carácter
recomendável mas não obrigatório, os restantes podcasts foram obrigatórios.
Da análise destes resultados, e suspeitando da existência de alguma resistência
discente à novidade pedagógica, a docente (DB) optou por não disponibilizar o conteúdo dos
podcasts num formato alternativo em estudos futuros. Por outro lado, concluiu-se que seria
importante inquirir aos estudantes se achavam (ou não) a integração de podcasts no processo
de ensino/ aprendizagem uma mais-valia, tendo esta questão passado a integrar o questionário
a partir desta primeira série de estudos.
2º Semestre (2007/ 2008)
Os estudos deste semestre foram conduzidos por 5 dos docentes e foram desenvolvidos
nas unidades curriculares Análise Conversacional (AC), Tecnologia e Comunicação Educacional
(TCE) e Sistemas Operativos (SO) - de cursos de Licenciatura - e, nos ciclos de Mestrado, em
Educação e Tecnologias Multimédia (ETM), Avaliação da Usabilidade (AU), Aprendizagem e
Comunicação em Rede (ACR) e Liderança e Dinâmica de Grupos (LDG) (Tabela 2).
Ciclo
Curso
Unidade Docente N° de
Estudantes
Curricular
Podcasts F
M
T
7
46
5
67 40 107
AC
DE
3
6
0
6
TCE
DD
8
23
0
23
SO
DF
1
10 33 43
ETM
DA
18
7
3
10
AU
DA
2
5
3
8
ACR
DD
9
10 1
11
Podcasts
Audição Mais-valia
(%)
(%)
100
100
83
83
93
88
100
n.i
100
75
100
91
7
Estudos Portugueses
L
Educação
Ciências da Computação
Supervisão Pedagógica
Tecnologias e Arte Digital
M
Educação de Adultos e
Intervenção Comunitária
Mediação Educacional e
LDG
DC
5
6
0
6
67
n.i
Supervisão na Formação
Tabela 2. Estudantes e docentes envolvidos nos estudos do 2° semestre, respectivos cursos e número de
podcasts produzidos (n.i. – não inquiridos pelo facto de ter sido utilizada a primeira versão do QO)
26
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Este semestre envolveu 107 alunos, sendo 72 de licenciatura e 35 de mestrado.
Contrariando a tendência geral, o sexo masculino estava mais representado numa das
unidades curriculares abrangidas por este conjunto de estudos: Sistemas Operativos.
Foram disponibilizados 46 podcasts, 37 dos quais criados pelos docentes e 9 produzidos pelos
estudantes, tendo sido criados no âmbito da unidade curricular Educação e Tecnologias
Multimédia (ETM) para comentar criticamente a análise feita em grupo a software educativo
multimédia ou a jogos electrónicos.
Os podcasts criados por docentes foram maioritariamente expositivos (25), sendo 3 de
carácter obrigatório, 5 complementares aos conteúdos apresentados na aula (LDG) e os
restantes 17 facultativos (TCE e ACR). Foram disponibilizados pelos docentes DC do ICS (5),
DE do ILCH (2), DD do IEP (17) e DF da EEng (1) e tinham finalidades bem diversas: aprofundar
uma temática abordada na aula; desenvolver conteúdos extra aula; esclarecer sobre o projecto
e sobre a participação voluntária; clarificar as regras de avaliação; motivar para a leitura de um
livro ou descrever conceitos e tecnologia. A docente DA do IEP produziu 7 podcasts com
comentários, sendo 6 (obrigatórios) sobre os sites pessoais desenvolvidos, podendo os alunos
melhorá-los de acordo com as especificações de cada caso e noutra turma sobre a análise
feita a um site (de audição recomendável). A mesma docente criou também 4 podcasts com
instruções (ETM e AU) para trabalhos individuais e de grupo sendo, por isso, de audição
obrigatória. Neste caso pretendia-se avaliar a reacção dos alunos às especificações do
trabalho só em áudio, esperando que os alunos solicitassem a versão escrita, mas tal não
ocorreu, tendo estes transcrito as especificações, como pudemos apurar. A docente DE do
ILCH criou também um podcast com instruções para orientar uma tarefa dos alunos, sendo
este obrigatório. Neste semestre, os podcasts obrigatórios foram 23 e dos restantes 18, 17
foram facultativos e 1 de audição recomendável.
Neste semestre registaram-se níveis de audição superiores, sendo a única excepção
observada desta vez numa turma de Mestrado, concretamente na unidade curricular LDG, do
Instituto de Ciências Sociais. Nas unidades curriculares em que esses dados foram recolhidos
constatou-se que a maioria dos alunos considerou a integração de podcasts no ensino uma
mais-valia.
3º Semestre (2008/ 2009)
Com base nos resultados obtidos no 1º ano do projecto procurou-se desenvolver
estudos que não só visassem a optimização da integração dos podcasts no ensino, explorando
outras características e potencialidades desta ferramenta da Web 2.0. - mas que de algum
modo permitissem também responder às questões que entretanto foram surgindo – e sem
descurar a vertente de avaliação das reacções discentes à sua utilização. Esses estudos foram
por vezes efectuados em unidades curriculares já anteriormente contempladas no 1º semestre,
embora naturalmente envolvendo grupos de alunos diferentes, e tendo em conta as conclusões
retiradas. Nos cursos de licenciatura contemplaram-se as unidades curriculares Materiais
27
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Educativos Multimédia (MEM), Linguística Descritiva (LD), Métodos de Investigação (MI),
Psicologia Social (PS) e Hereditariedade e Evolução, quer na Licenciatura em Biologia
Aplicada (HE-BA) quer na de Biologia Geologia (HE-BG), e também nas unidades curriculares
Sistemas Multimédia (SM) e Hipertexto (HT), ambas do mestrado em Tecnologia Educativa
(Tabela 3).
Unidade Docentes
N° de
Estudantes
Podcasts (%)
Curricular
Podcasts F
M
T Audição Mais-valia
8
7
56
5
137 59 196
LD
D
4
13
6 19
79
79
Línguas Aplicadas
E
Educação
MEM
DA
3
8
3 11
100
82
L
Biologia Aplicada
HE-BA
DB
11
27
9 36
94
78
Biologia e Geologia
HE- BG
DB
8
20 10 30
100
100
Ciências da Comunicação
MI
DC
2
28 10 38
89
74
Sociologia
PS
DC
4
14
1 15
100
93
M
Tecnologia Educativa
SM
DA
3
9
8 17
100
94
HT
DD
21
18
12 30
100
94
Tabela 3. Estudantes e docentes envolvidos nos estudos do 3° semestre, respectivos cursos e número de
podcasts produzidos
Ciclo Curso
Este semestre envolveu 196 alunos, sendo 149 de licenciatura e 47 de mestrado. Em
termos de ficheiros áudio, foram disponibilizados 31 podcasts por 4 dos docentes que
integravam o projecto. Nas unidades curriculares Hipertexto (HT) e Linguística Descritiva (LD)
não foram criados podcasts pelas docentes que desafiaram os seus alunos a produzir
episódios. Em HT os alunos apresentavam-se, tendo sido disponibilizados 21 podcasts, em
vodcast ou enhanced podcast, todos facultativos. Em LD os alunos gravaram 4 podcasts áudio,
sintetizando assuntos relevantes que foram revistos previamente pela docente (DE), sendo
estes ficheiros de audição recomendável.
Neste semestre os podcasts produzidos pelos docentes foram sobretudo não
1
obrigatórios (25) e os obrigatórios foram 6, pertencendo 2 à unidade curricular MI, 2 a MEM,
sendo um com instruções para o trabalho em grupo e outro sobre recomendações para a
próxima sessão, por fim, 2 a HE-BA com orientações para o estudo.
Os podcasts não obrigatórios produzidos por docentes e discentes totalizaram 50, sendo 23 de
audição recomendável que se distribuem por serem 12 informativos (4 da unidade curricular
LD, 4 de HE-BA e 4 de HE-BG) e 11 comentários aos trabalhos dos alunos (1 de MEM, 3 de
SM, 4 de HE-BA e 3 de HE-BG), seguindo-se 21 facultativos elaborados pelos alunos de HT e
6 complementares à matéria apresentada na aula (4 de PS, 1 de HE-BG e outro de HE-BA).
As docentes DA e DB deram preferência à utilização de podcastes de audição
recomendável, tendo criado respectivamente 4 e 15 podcasts. A docente DC utilizou ainda 2
Materiais Autênticos obrigatórios (MI), à semelhança do 1º semestre, e também usou 5
1
Note-se que os alunos de HT e de LD criaram 25 podcasts (21 e 4 respectivamente). Ao todo
neste semestre foram criados 50 podcasts não obrigatórios, sendo 21 facultativos (HT), 6
complementares à matéria dada na aula e 23 de audição recomendável.
28
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
complementares à matéria dada na aula (PS), na continuidade do 2º semestre. A docente DD
manteve-se
se nos podcasts facultativos, tal como no 2º semestre.
Em termos globais, os podcasts foram predominantemente de audição recomendável. A
sua audição revelou níveis ainda superiores aos registados nos
no semestres anteriores
anterior e a sua
utilização em contexto
ntexto pedagógico foi considerada claramente uma mais-valia
mais valia pela grande
maioria dos alunos.
Uma vez que se observou um padrão semelhante em cada um dos semestres do projecto
(Carvalho et al., 2008a,, 2009a,c)
2009a os dados que se seguem são apresentados de forma global.
Assim, constatou-se
se que os alunos possuíam as tecnologias móveis necessárias à audição dos
podcasts, desde computadores portáteis (83% dos alunos de licenciatura e 94% dos de
mestrado) a outros dispositivos móveis como leitores de MP3 (69% e 57% dos alunos de
licenciatura e de mestrado,, respectivamente) ou de MP4 (14% e 6%) e também telemóvel 3G
(47% e 35%). Estes dados permitiram
permit
concluir que os alunos dispõem de
e dispositivos móveis
adequados à audição de podcasts,
podcasts podendo usufruir das vantagens da sua portabilidade para
os ouvirem ou verem em qualquer lugar ou em qualquer momento.
momento
Curiosamente, menos de metade dos discentes revelou saber
er o que são podcasts,
independentemente de serem alunos de licenciatura (41%
(
conhece, 58% desconhece) ou de já
graduados (48% conhece e 51% desconhece).
desconhece Mesmo assim, revelaram
m receptividade a
aceder a podcasts, embora neste caso a diferença seja notória entre os alunos de licenciatura
(56%) e os de mestrado (94%).
Audição dos podcasts
Nível de ensino
Como já atrás referido, os podcasts foram ouvidos pela grande maioria dos alunos em
cada um dos semestres abrangidos pelo presente projecto. Em termos globais, foram os
alunos de mestrado (96%) que mais ouviram os podcasts disponibilizados (Gráfico 1).
87
96
89
Audição de podcasts
100
50
0
Licenciatura
Mestrado
Total
Gráfico 1. Audição
dição dos podcasts disponibilizados nos
n três semestres do projecto (% de alunos)
Estatuto do aluno
O estatuto do aluno pouco distinguiu os resultados referentes à audição dos podcasts
(Gráfico 2), sendo, no entanto, ligeiramente superior a percentagem de alunos trabalhadorestrabalhadores
estudantes (96%) que ouviu os episódios, face a 94% dos alunos ordinários.
29
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Ordinário
Trabalhador-estudante
4
6
Sim
94
96
Não
Gráfico 2. Audição dos podcasts segundo o estatuto dos estudantes (%)
Estudantes com deficiências visuais
Como mencionado, era objectivo deste projecto atentar nas reacções de estudantes com
deficiências visuais, uma vez que os podcasts áudio poderiam ser uma particular mais-valia
para estes alunos, recebendo informação auditiva sem necessitarem de forçar os olhos. Nesta
investigação só 4% dos alunos declarou possuir tal deficiência, sendo um dado pouco
representativo. Uma aluna comentou: “Apesar da deficiência visual prefiro em escrito. Gosto de
ler e pensar. Em áudio fica a ideia de que pensam por mim”. Contudo houve também alunos a
declarar preferir a versão áudio, porque: “Torna mais fácil e menos entediante a aplicação da
matéria no estudo”, “Porque alguns não faziam tanto sentido se fossem em texto escrito, iriam
perder parte da informação” ou “Consigo prestar melhor atenção a ouvir do que a ler”. Refira-se
no entanto que esta preferência pelo formato não parece prender-se com a existência de
deficiência ou ausência da mesma, mas a outros factores como o estilo de aprendizagem, por
exemplo.
Local e turno
Os podcasts foram ouvidos quase exclusivamente no computador pessoal, directamente
na plataforma ou após descarga do ficheiro, em qualquer dos semestres em análise (Carvalho
et al., 2008a, 2009a,c) e independentemente do ciclo de estudos dos alunos. A audição dos
episódios é feita maioritariamente em casa (90% de todos os alunos), ou então no campus
(16%), preferencialmente à tarde (49%) ou à noite (46%). Este padrão foi mais uma vez
observado em qualquer dos semestres, embora no caso de alunos de licenciatura se tenha
registado uma tendência no sentido do momento da audição ser feito preferencialmente à tarde
(52% dos alunos) enquanto os de mestrado declararam ouvir os episódios maioritariamente à
noite (52% dos alunos), provavelmente pelo facto de trabalharem durante o dia.
Apesar da reconhecida versatilidade dos ficheiros áudio, não é comum os alunos realizarem
outras actividades em simultâneo com a audição dos podcasts: 46%, 46% e 88% dos alunos
envolvidos nos estudos no 1º, 2º e 3º semestres, respectivamente, declararam não associar
qualquer actividade à audição dos ficheiros áudio. Alternativas como passear, praticar desporto
ou lazer não foram quase indicadas pelos restantes estudantes, que assinalaram antes a
opção “outras actividades” (35%, 37% e 9% dos alunos do 1º, 2º e 3º semestres,
respectivamente). Nestas outras actividades realizadas em simultâneo com a audição inclui-se
o estudo e navegação na Web assim como a transcrição parcial ou mesmo integral do
30
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
conteúdo dos podcasts. Saliente-se
Saliente
também que cerca de metade dos alunos (49%), quer de
licenciatura
ura (50%) ou de pós-graduação
pós
(46%), referiram preferir o conteúdo dos ficheiros
áudio num formato escrito ou até nos dois formatos, pelo facto de “…serem
…serem complementares”.
complementares
Por outro lado, a não conjugação da audição de podcasts com actividades de natureza
diferente parece dever-se
se à necessidade de silêncio e concentração, requeridos
requerid
para ouvir
atentamente a gravação,, mas também à falta de hábito em associarem os dispositivos móveis
ao estudo.. Estes argumentos talvez justifiquem também porque os alunos repetem
re
a audição
dos episódios, fazendo-o maioritariamente para recapitular a informação, completar
apontamentos e aceder a informação da aula. Estes resultados
os são constantes ao longo dos 3
semestres e independentes do ciclo de estudos dos alunos;; em termos gerais,
g
apenas se
verifica uma alteração de prioridade em função do estatuto dos estudantes (Gráfico 3). Assim,
comparativamente, os trabalhadores estudantes repetem mais a audição dos episódios do que
os estudantes em regime ordinário quando necessitam aceder
aceder a informações das aulas a que
faltaram; quando a necessidade é a de completar apontamentos, o acesso aos podcasts é
mais privilegiado pelos estudantes ordinários do que por aqueles que trabalham.
100
88 85 86
Trabalhador
Trabalhador-estudante
80
Ordinário
60
45
30
40
20
18 21
Total
38
13
0
2
2
0
Recapitular
Completar
Aceder
informação da apontamentos
aula
Outro
Gráfico 3.. Motivos da repetição da audição dos podcasts de acordo com o estatuto dos estudantes e
considerando a amostra total de alunos (%)
Avaliação dos podcasts
Convidados a expressar-se
expressar se relativamente a alguns parâmetros pré-definidos
pré
como
indicadores da qualidade dos podcasts, os alunos pronunciaram-se favoravelmente
voravelmente em
qualquer dos semestres analisados (Gráfico 4). Esta postura foi constante nos 3 semestres e,
globalmente, os podcasts foram considerados audíveis, claros e gravados com um tom de voz
amigável.
31
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
96 95 95
100
80
60
40
20
0
90 93 90
90 93 91
21
Audíveis
Tom
amigável
4
L
M
Total
17
Extensos
Claros
Gráfico 4. Opinião discente acerca de parâmetros
parâmetros indicadores da qualidade dos podcasts (% de
alunos)
A partir do 2º semestre, inclusive, os alunos foram ainda inquiridos sobre o efeito da
voz do docente enquanto autor de podcasts. Assim, 44% dos alunos indicou ouvir com atenção
os podcasts e, exceptuando
uando 12% dos alunos para quem a voz do professor causa indiferença
ou 1% que a detestou (2 alunos de SO e 1 de HE-BG),
HE
, os estudantes referiram que a voz do
seu professor ajuda a compreender o conteúdo do podcast (19% e 34% dos alunos de
licenciatura e de mestrado, respectivamente) e que lhes causa uma sensação de proximidade
com o docente (26% e 34% dos alunos, respectivamente).
Aceitação dos podcasts
Em termos globais, a audição de podcasts teve a aceitação dos estudantes: 83% de
todos os alunos mostraram-se
mostraram se receptivos à audição de podcasts no fim das unidades
curriculares, face a 65% dos mesmos alunos no início de tais estudos. Este efeito foi notório
nos alunos de Licenciatura que, após terem estado envolvidos em experiências pedagógicas
onde se utilizaram
am podcasts, reconheceram a sua importância (81%), menos perspectivada
inicialmente, no Questionário de Literacia Informática (56% dos alunos receptivos).
100
QLI
80
QO
60
40
20
0
Licenciatura
Mestrado
Total
Gráfico 5. Receptividade em aceder a podcasts noutras unidades curriculares, com base nas
respostas ao Questionário de Literacia Informática (QLI) e ao
o Questionário de Opinião (QO).
Os alunos manifestaram também interesse em voltar a aceder a podcasts noutras
unidades curriculares (81% e 92% dos alunos de licenciatura e de mestrado,
do, respectivamente).
respectivamente
Paralelamente
aralelamente à aceitação e receptividade reveladas pelos discentes de uma forma
geral, algumas das maiores vantagens da utilização deste tipo de ferramenta em contexto
32
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
pedagógico foram também elencadas pelos estudantes: utilidade na cognição e aprendizagem,
aprendizagem
importância como inovação e diversificação metodológica ou na motivação, para além da
flexibilidade e do controlo que permite (Gráfico 6).
Vantagens dos podcasts
100
80
60
40
20
0
61
28
Motivação
48
24
Flexibilidade e Cognição e
Inovação e
controlo
aprendizagem diversificação
metodológica
Gráfico 6. Vantagens pedagógicas dos podcasts elencadas pelos estudantes (%)
Reacções dos docentes
Os docentes envolvidos
olvidos na primeira fase do projecto gostaram da experiência de criar
podcasts e manifestaram interesse em continuar a usar esta ferramenta como recurso
pedagógico. Julgaram ser interessante explorar podcasts com conteúdos diferentes e de curta
duração, uma
a tendência manifestada pela maioria dos alunos (Carvalho et al., 2008b). Os
mesmos estudantes revelaram-se
revelaram se atraídos pelo carácter inovador desta tecnologia mas
revelaram alguma resistência em mudar os seus hábitos.
Para os docentes envolvidos no 2º semestre
semestre os podcasts são uma ferramenta
poderosa no processo de ensino/ aprendizagem, não só pelo seu carácter inovador como pelo
contributo pedagógico que podem dar, mesmo para motivar os estudantes. E não só
consideraram ter sido a experiência muito positiva como manifestaram vontade de continuar a
utilizar esta ferramenta na sua docência, apesar de reconhecerem que a criação de podcasts é
morosa e trabalhosa, para além de não ser reconhecida institucionalmente (Carvalho et al.,
2009a). Como aspectos a explorar/
explora melhorar destacaram-se
se o alargamento da experiência a
podcasts de conteúdos e utilidades diferentes, a necessidade de reduzir o tempo de produção
de um podcast e a concepção de estratégias para reutilização futura dos episódios produzidos
Na última fase do projecto os docentes expressaram a opinião, já manifestada anteriormente,
de que a produção de podcasts de qualidade não é uma tarefa fácil nem rápida - sobretudo
porque envolve a escrita, treino e gravação do conteúdo do ficheiro áudio (Carvalho et al.,
al
2009c). Uma das maiores preocupações, até para rentabilizar o tempo dispendido, seria poder
reutilizar os materiais produzidos. Apesar das limitações recorrentes, continuam interessados
em manter a utilização de podcasts nas suas práticas docentes.
No que concerne à tipologia,
tipologia os docentes DB e DC crêem que os conteúdos
complementares são geralmente melhor aceites pelos alunos sobretudo, como sublinhado por
DC, quando os mesmos não são alvo de avaliação. A aprendizagem não formal permite-lhes
permite
efectivamente
te tirar partido das vantagens do podcast e da sua portabilidade, possibilitando a
33
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
sua audição/visualização em ambientes mais descontraídos e a realização de actividades em
simultâneo. Pelo contrário, quando o conteúdo do podcast constitui objecto de avaliação, os
alunos tendem a enfatizar as suas desvantagens e realçam a necessidade de estudo e
concentração que envolve, muitas vezes, a transcrição dos conteúdos e que inviabiliza a
participação noutras actividades. Neste contexto, a mesma docente reconhece que a aceitação
é maior “nos alunos que não têm uma visão instrumental de estudar só em função da nota, ou
seja, aqueles que se interessam mesmo”. A predisposição e interesse para a aprendizagem
constitui, para todos os docentes, um factor importante mas, como explicitado pela docente DE
“os podcasts - na modalidade que compreende a sua criação e disponibilização pelo professor
- funcionam bem com alunos interessados, autónomos, capazes de gerir o seu tempo e
interesse pela disciplina”. A mesma docente manifestou um certo desânimo perante a falta de
interesse dos alunos perante os podcasts por ela criados no 2º semestre, optando no semestre
seguinte por convidar os alunos a criarem podcasts sobre sínteses de matérias trabalhadas. A
experiência foi positiva, o que indicia que para alunos pouco interessados a estratégia de
serem eles a produzirem os podcasts parece resultar.
Apesar disso, como referido, a integração dos podcasts revelou-se em termos gerais
muito vantajosa a nível pedagógico, sendo que os docentes destacam, além das competências
técnicas e cientificas inerentes; a motivação; o facto de permitir diversificar metodologicamente
as estratégias de aprendizagem, com respeito por diferentes estilos de aprendizagem; a
flexibilidade e controlo da aprendizagem, na medida em que os alunos podiam ouvir os
podcasts em diferentes contextos, realizar actividades em simultâneo e explorar o(s)
conteúdo(s) da forma desejada (apenas ouvir ou transcrever a informação). Acresce o facto
desta ferramenta permitir rentabilizar o tempo da aula, por audição prévia de determinados
conteúdos ou remetendo ao aprofundamento de alguns aspectos focados na aula para a
audição posterior dos podcasts.
Considerações finais
A integração de podcasts como ferramenta pedagógica no ensino superior foi bem
aceite pelos discentes e pelos docentes, apesar do esforço inicial de adaptação e aceitação da
integração dos recursos tecnológicos. Em alguns estudantes detectou-se uma certa resistência
inicial à novidade pedagógica que se diluiu após o acesso e audição/visualização dos
podcasts, sendo que reconhecem as suas potencialidades, concretamente ao nível da
cognição e aprendizagem, pelo facto de ser uma metodologia alternativa e inovadora, pela
motivação inerente e pela flexibilidade e controlo da aprendizagem que proporciona,
permitindo-lhes utilizar os podcasts no local e momento da sua preferência.
No entanto, no que concerne à utilização dos podcasts, verificou-se que
independentemente do tipo de podcast disponibilizado, os estudantes raramente recorreram
aos dispositivos móveis, optando por ouvir/ver os podcasts no computador ou directamente da
plataforma, sobretudo em casa, sem realizar outras actividades em simultâneo. Deste modo,
34
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
numa investigação futura, propõe-se estudar que factores predispõem para a utilização dos
dispositivos móveis, auferindo das vantagens da portabilidade, reconhecidas pelos próprios
estudantes, como supra mencionado.
Ao longo dos três semestres, verificou-se um maior envolvimento dos docentes e do
número de podcasts criados. No 1º semestre os podcasts utilizados (n=16) foram na sua
maioria obrigatórios. No 2º semestre houve um envolvimento de mais docentes, tendo sido
criados 46 podcasts, sendo 23 obrigatórios e 23 não obrigatórios, que se distribuem por serem
facultativos, complementares e um recomendável. Por fim, no 3º semestre o número de
podcasts atingiu os 56, sendo só 6 obrigatórios. Os podcasts recomendáveis surgem em maior
número (23), seguindo-se os facultativos e, por fim, os complementares.
O valor desta tecnologia é também indiscutível para os docentes que participaram no
projecto, que desejam continuar a utilizar a ferramenta de futuro embora acautelem a intenção
de melhorar tecnicamente a sua qualidade e, sobretudo, a necessidade de tornar os podcasts
mais reutilizáveis. Vários docentes pretendem inclusivamente explorar outros tipos e formatos,
nomeadamente Materiais autênticos, adaptando conteúdos disponíveis na Web, vodcasts e
screencasts e enhanced podcasts. A criação de podcasts pelos alunos, só explorada em
algumas unidades curriculares, merece também a atenção e interesse de vários docentes que
desejam experimentar essa abordagem em investigações futuras, nomeadamente para aferir
se essa estratégia conduz efectivamente a um maior envolvimento por parte dos alunos menos
interessados e a uma maior aceitação dos podcasts.
Referências
Abt, G. & Barry, T. (2007). The Quantitative Effect of Students Using Podcasts in a First Year
Undergraduate Exercise Physiology Module. Bioscience Education e-Journal, 10, 1-9.
Acedido em http://www.bioscience.heacademy.ac.uk/journal/vol10/beej-10-8.pdf
Aguiar, C., Carvalho, A. A. & Carvalho, C. J. (2008). Atitudes e Percepções Discentes face à
Implementação de Podcasts na Licenciatura em Biologia Aplicada. In A. A. Carvalho
(org.), Actas do Encontro sobre Web 2.0. Braga: CIEd, Universidade do Minho, 191-202.
Belanger, Y. (2005). iPod First Year Experience Final Evaluation Report. Acedido em
http://cit.duke.edu/pdf/reports/ipod_initiative_04_05.pdf
Bongey, S., Cizadlo, G. & Kalnbach, L. (2008). Explorations in course-casting: podcasts in
higher education. Campus-Wide Information Systems, 23 (5), 350–367.
Calder, A. (2006). If you can’t beat ‘em, podcast’em!. FYHE Conference 2006, pp. 1-10.
Carvalho, A. A. A. (2008). Os Podcasts no Ensino Universitário: Implicações dos Tipos e da
Duração na Aceitação dos Alunos. In A. A. Carvalho (org.), Actas do Encontro sobre
Web 2.0. Braga: CIEd, Universidade do Minho, 179-190.
Carvalho, A. A. A. (2009). Podcasts no Ensino: Contributos para uma Taxonomia. Ozarfaxinars,
nº 8. http://www.cfaematosinhos.eu/Podcasts%20no%20Ensino_08.pdf
35
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Carvalho, A. A. & Aguiar, C. (2009). Impact of Podcasts in Teacher Education: from Consumers
to Producers. In Proceedings of SITE. Chesapeake: AACE, 2473-2480.
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Cabecinhas, R. & Carvalho, J. (2008a). Integração de Podcasts no
Ensino Universitário: Reacções dos Alunos. Prisma.com, nº 6, 50-74. Disponível em
http://prisma.cetac.up.pt/
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Cabecinhas, R. & Carvalho, J. (2008b). Influence of Podcasts
Characteristics on Higher Students' Acceptance. In: C. J. Bonk, M. M. Lee & T.H.
Reynolds (eds), Proceedings of E-Learn. Chesapeake: AACE, 3625-3633.
Carvalho, A. A.; Aguiar, C.; Santos, H.; Oliveira, L.,
Marques, A. & Maciel, R. (2009a).
Podcasts in Higher Education: Students and Teachers Perspectives. 9th WCCE – IFIP
World Conference on Computers in Education (aceite).
Carvalho, A. A., Lustigova, Z. & Lustig, F. (2009b). Integrating new technologies into blended
learning environments. In Elizabeth Stacey & Phillipa Gerbic (Eds), Effective Blended
Learning Practices: Evidence-Based in Perspectives in ICT-Facilitated Education.
Hershey, Pennsylvania: IGI Global, 79-104.
Carvalho, A. A.; Aguiar, C.; & Maciel, R. (2009c). A Taxonomy of Podcasts and its Application to
Higher Education. ALT-C (accepted).
Cebeci, Z. & Tekdal, M. (2006). Using Podcasts as Audio Learning Objects. Interdisciplinary
Journal of Knowledge and Learning Objects, 2, 47-57.
Clothey, R. & Schmitt, C. (2008). Education in Motion: Innovating with iPods. In Proceedings of
ED-MEDIA. Chesapeake, VA: AACE, 629-639.
Chan, A. & Lee, M. J. W. (2005). An MP3 a Day Keeps the Worries Away: Exploring the use of
podcasting to address preconceptions and alleviate pre-class anxiety amongst
undergraduate information technology students. Student Experience Conference 2005 –
Good Practice in Practice. Charles Sturt University, 59-71.
Chan, A., Lee, M. J. W. & McLoughlin, C. (2006). Everyone's learning with podcasting: A
Charles Sturt University experience. Proceedings of the 23rd annual conference: Who's
learning? Whose technology?. ASCILITE 2006. The University of Sydney, 111-120.
Frydenberg, M. (2006). Principles and Pedagogy: The Two P’s of Podcasting in the Information
Technology Classroom. ISECON – EDSIG, 23, 1-10.
Guertin, L. A., Bodek, M. J., Zappe, S. E. & Kim, H. (2007). Questioning the Student Use of and
Desire for Lecture Podcasts. MERLOT – Journal of Online Learning and Teaching, 3(2),
1-9. Disponível em http://jolt.merlot.org/vol3no2/guertin.htm
Evans, C. (2007). The effectiveness of m-learning in the form of podcast revision lectures in
higher education. Computers & Education, 1-8.
Frydenberg, M. (2006). Principles and Pedagogy: The Two P’s of Podcasting in the Information
Technology Classroom. ISECON – EDSIG, 23, pp. 1-10.
36
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Gribbins, M. (2007). The Perceived Usefulness of Podcasting in Higher Education: A Survey of
Students’ Attitudes and Intention to Use. Proceedings of the Second Midwest United States
Association for Information Systems (pp. 1-7). Springfield. IL.
Guertin, L., Bodek, M. J., Zappe, S. & Kim, H. (2007). Questioning the Student Use of and
Desire for Lecture Podcasts. MERLOT – Journal of Online Learning and Teaching, 3, 1-9.
Harris, H. & Park, S. (2008). Educational usages of podcasting. British Journal of Educational
Technology 39, no. 3, 548–551.
Lane, C. (2006). Podcasting at the UW: An evaluation of Current Use. The Office of Learning
Technologies,
University
of
Washington.
Disponível
em
http://catalyst.washington.edu/research_development/papers/2006/podcasting_report.pdf
Lee, M. J., & Chan, A. (2007). Reducing the Effects of Isolation and Promoting Inclusivity for
Distance learners Through Podcasting. The Turkish Online Journal of Distance Education,
8 (1), 85-104. Disponível em http://tojde.anadolu.edu.tr/tojde25/articles/Article_7htm
McLoughlin, C. & Lee, M. (2007). Listen and learn: A systematic review of the evidence that
podcasting supports learning in higher education. In C. Montgomerie & J. Seale (Eds.),
Proceedings of ED-MEDIA. Chesapeake, VA: AACE, 1669–1677.
Newbutt, N., Flynn, R. & Penwill, G. (2008). Creating a suitable and successful solution for the
integration of Podcasting and Vidcasting in a Higher Education E-Learning Environment. In
C. J. Bonk, M. M. Lee, T. H. Reynolds (eds). Proccedings of E-Learn, Chesapeake, VA:
AACE, 3028-3033.
Prensky, M. (2001). Digital natives, digital immigrants. On the Horizon, 9 (5), 1–2.
Richardson, W. (2006). Blogs, Wikis, Podcasts, and Other Powerful Web Tools for Classrooms.
Thousand Oaks, California; Corwin Press.
Rosell-Aguilar, F. (2007). Top of the pods – In search of podcasting pedagogy for language
learning. Computer Assisted Language Learning 20 (5), 471–492.
Salmon, G., Nie, M, & Edirisingha, P. (2007). Informal Mobile Podcasting And Learning
Adaptation (IMPALA). e-Learning research Project Report 06/07. Beyond Distance
Research Alliance. University of Leicester.
Salmon, G., Mobbs, R., Edirisingha, P. & Dennett, C. (2008). Podcasting technology. In G.
Salmon and P. Edirisingha (eds.), Podcasting for Learning in Universities. New York: Open
University Press, 20-32.
Savel, R. H., Goldstein, E., Perencevich, E. & Angood, P. (2007). The iCritical Care Podcast: A
Novel Medium for Critical Care Communication and Education. Journal of the American
Medical Informatics Association, 14 (1), 94-99.
Watson, R. & Boggs, C. (2007). The Virtual Classroom: Student Perceptions of Podcast
Lectures in a General Microbiology Classroom. In G. Richards (Ed.), Proceedings of
World Conference on E-Learning in Corporate, Government, Healthcare, and Higher
Education. Chesapeake, VA: AACE, 2170-2174.
37
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Webb, E. and Cavanagh, G. (2008). How Mobile is your Podcast? In Proceedings of World
Conference on Educational Multimedia, Hypermedia and Telecommunications 2008.
Chesapeake, VA: AACE, 3954-3958.
Investigação
realizada
no
âmbito
do
projecto
financiado
pela
FCT,
com
a
referência
PTDC/CED/70751/2006, integrado no CIEd.
38
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O Telemóvel para ouvir e gravar Podcasts: exemplos no Ensino
Secundário
Adelina Moura
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo - Criar um ambiente de aprendizagem na sala de aula com tecnologias de um
para um que motive os alunos exige comprar mais computadores. Com os alunos cada vez
mais conectados fora da sala de aula, os professores sabem que precisam duma
abordagem diferente do processo de ensino e aprendizagem. As tecnologias móveis, em
especial o telemóvel, podem oferecer soluções que ajudam a transformar a forma de criar,
ensinar e aprender. As tecnologias móveis andam nas mãos dos nossos alunos mas estão
proibidas na maioria das escolas. Isto arreda qualquer iniciativa de introdução do
podcasting nas práticas educativas. Entre outras ferramentas multimédia os podcasts
podem proporcionar práticas de aprendizagem inovadoras e personalizáveis. Neste texto
apresentaremos algumas experiências de aprendizagem curricular, realizadas com
podcasts (ficheiros áudio), telemóveis e leitores de mp4.
Introdução
Enquanto a sociedade está continuamente a disponibilizar novas tecnologias, a escola
continua a não compreender como usar a tecnologia que já faz parte da vida quotidiana dos
alunos. Esta situação é particularmente relevante quando se fala do telemóvel, por se tratar de
uma das tecnologias mais generalizada. A reacção mais comum, na maioria das escolas, é
banir a entrada e uso dos telemóveis na sala de aula. Numa altura em que estes dispositivos
estão cada vez mais potentes e com funcionalidades e serviços relevantes, do ponto de vista
educativo, proibir começa a não fazer sentido.
As tecnologias móveis (TM) estão a fazer emergir um novo paradigma educacional a
que se dá o nome de mobile learning (m-learning), isto é, aprendizagem através de dispositivos
móveis (telemóvel, PDA, Pocket PC, Tablet PC) (Quinn, 2000). Se no início o conceito mobile
learning estava centrado nas características de portabilidade e mobilidade dos dispositivos,
esta ideia foi-se alargando também à noção de mobilidade do utilizador (Prensky, 2001;
Kukulska-Hulme, 2005) e da própria aprendizagem. A discussão em torno deste novo
paradigma educacional começou há quase uma década com um aumento, cada vez mais,
significativo de investigação e projectos neste domínio.
As TM estão cada vez mais integradas, omnipresentes e conectadas, a par do reforço
de capacidades de interacção social, consciência de contexto e conexão à Internet. Este
39
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
conjunto de características faz com que se apresentem como ferramentas com potencial
educativo. Por intermédio das TM, a aprendizagem passará a fazer-se cada vez mais fora da
sala de aula e dentro de ambos os ambientes dos estudantes (real e virtual). A aprendizagem
tornar-se-á mais situada, pessoal, colaborativa e ao longo da vida. Os ambientes de m-learning
poderão proporcionar formas de aprendizagem situada em contextos autênticos. O contexto é
um elemento fulcral no âmbito do m-learning e Sharples et al. (2008) apresentam-nos dele uma
perspectiva interessante: “Context is a central construct of mobile learning. It is continually
created by people in interaction with other people, with their surroundings and with everyday
tools”.
De entre as diversas ferramentas multimédia de grande utilidade em ambiente
educativo encontra-se o podcasting. A palavra podcast é uma mistura entre as palavras iPod (o
leitor multimédia da Apple) e broadcasting, que significa difusão. Poder-se-á dizer que um
podcast é um ficheiro áudio, por norma em formato mp3 e o podcasting a sua disponibilização
na Internet.
Com o podcasting e o apoio de TM a aprendizagem deixou, há algum tempo, de se
circunscrever à sala de aula, fruto do acesso constante à informação, independentemente do
lugar e da hora (Moura & Carvalho, 2007; Mendes, 2007; Sharples et al., 2008). Em
consequência, a distribuição de unidades de conhecimento (Mendes, 2007) está a aumentar,
revelando as suas potencialidades. Neste texto descrevemos algumas experiências realizadas
com podcasts e o telemóvel e apresentamos alguns dados relativos ao uso de podcasts para
aprender e rever conteúdos sobre o romance Os Maias e as suas potencialidades como
recurso de aprendizagem da disciplina de Português, com alunos do ensino profissional.
O Podcast: Definição e usos
O podcasting começou no âmbito da Apple e rapidamente se expandiu. Trata-se de
uma página Web que contém episódios versando assuntos muito variados (arquivos de áudio
ou vídeo em formatos mp3, mv4).
A diferença entre o podcasting e os episódios ou programas tradicionais da rádio e TV,
agendados em horário e calendário, é que no podcasting os episódios estão disponíveis na
Internet, podendo ser subscritos gratuitamente por RSS, que automaticamente informa o
utilizador de novos episódios. O utilizador pode também descarregar, um a um, os episódios
para ouvi-los em qualquer lugar e a qualquer hora, no telemóvel ou leitores de mp3/mp4.
São várias as definições de podcasting e podcast. Para muitos autores a chave da
definição de podcasting está na possibilidade de descarregar os conteúdos de forma
automática. Barry (2006) considera que o termo podcast é ”used as an over-arching term for
any audio-content downloaded from the Internet either manually from a website or automatically
via software applications". Segundo Johnes (2005) um podcast “is an audio clip that is
broadcast over the internet and which may be listened to at a computer or on an MP3 player
(such as an iPod”).
40
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A primeira referência ao termo podcasting, remonta a 2004, num artigo de Ben
Hammersly (2004) onde analisa a prática de juntar ficheiros áudio a blogues e sugere, para
além do podcasting, o termo audioblogging. Com a popularização do termo podcasting,
expande-se também os termos podcasts e podcaster (autor dos podcasts).
Neste momento, ainda não há mecanismos que contabilizem o número de podcasts
existentes. O Feedburner, por exemplo, oferece-nos um indicador de crescimento do fenómeno
podcast desde 2004. A evolução do mercado de vendas de leitores de áudio e vídeo digital,
conjugada com o uso de ficheiros em formato mp3, tem vido a tornar popular descarregar
músicas da Internet e a popularizar os podcasts.
Os usos do podcast são variados. Podem desempenhar funções informativas,
educativas e de entretenimento, tradicionalmente atribuídas aos media. Podemos encontrar
podcasts informativos, cujo objectivo é oferecer notícias e informação actualizada. Podcasts
para entretenimento e outros para difusão cultural (actualidade cinematográfica, musical ou
literária) e podcasts disponibilizados pelas estações de rádio e TV.
No âmbito educativo o podcast tem sido usado como estratégia para difusão de aulas,
seminários ou revisão de conteúdos curriculares e também como ferramenta pedagógica,
centrada no aluno (Deal, 2007). A sua inclusão educativa exige estratégias que enquadrem
esta tecnologia dentro e fora da sala de aula, quer em modelos de ensino a distância ou
extensão da aula presencial (Coutinho & Júnior, 2007). As potencialidades educativas do
podcast têm sido referidas em experiências com alunos de diferentes níveis de ensino
(Carvalho et al. 2008b; Deal, 2007; Corbeil & Valdes-Corbeil, 2007; Moura & Carvalho, 2006a;
Johnes, 2005).
Um podcast tanto pode ser apenas um simples ficheiro áudio, como uma apresentação
audiovisual. Johnes (2005) apresenta alguns conselhos para melhorar o uso dos podcasts em
contexto educativo. O podcast deve ser um ficheiro curto e conter elementos importantes e
complementares do que foi trabalhado na aula. O material disponibilizado num podcast deve
ser provocador e levar o aluno a pensar. É preciso lembrar que depois da audição do podcast o
aluno é mais susceptível de ouvir música, por isso, o espaço de reflexão deve estar contido no
próprio podcast. Não se deve ter medo de deixar momentos de silêncio integrados nos
podcasts. Se se pretender levar o ouvinte a reflectir sobre uma questão, deve-se dar tempo no
podcast para o fazer, naquele momento, e não depois.
Os podcasts devem ser integrados em programas de estudo e os alunos devem
consciencializar-se de que há alguma vantagem em ouvi-los. Algumas destas recomendações
são também visíveis em Carvalho (2009) que apresenta uma taxonomia de podcasts com seis
dimensões: tipo, formato, duração, autor, estilo e finalidade (Carvalho et al., 2008a). A autora
recomenda que o podcast não seja de longa duração, mas breve e simples, claro e conciso,
assente numa estrutura com princípio, meio e fim (Carvalho, 2009).
Algumas das vantagens do podcast advêm do seu formato mp3, compatível com a
maioria dos modelos de telemóvel e leitores digitais que andam no bolso dos alunos, e das
41
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
características de flexibilidade e mobilidade que apresentam. Por poder facilmente ser
descarregado do computador para o leitor áudio ou telemóvel e ouvido onde e quando se
pretende, transforma-se numa estratégia de optimização do tempo do utilizador e um estímulo
à sua utilização.
Por outro lado, o aluno pode também ser produtor dos seus próprios podcasts, visto
que, a maioria dos telemóveis e leitores áudio possuem aplicação de gravação. Assim, o aluno
pode gravar a leitura de um texto em qualquer língua ou disciplina, gravar os seus próprios
apontamentos para mais tarde ouvir em momentos de espera ou a caminho da escola ou de
casa. São variadíssimos os exemplos em que o aluno pode criar os seus próprios ficheiros
áudio, podendo enviá-los do seu telemóvel directamente para a rede ou simplesmente partilhálos com os colegas, familiares ou professores.
M-learning: uma nova fase do e-learning
A expressão mobile learning (m-learning) ou aprendizagem móvel foi definida por
Quinn (2000) como “elearning through mobile computational devices: Palms, Windows CE
machines, even your digital cell phone”. Porém o foco na tecnologia não ajuda a compreender
a natureza da aprendizagem, sobretudo em contextos de aprendizagem mais alargados e
como parte de um estilo de vida cada vez mais móvel, fazendo do m-learning uma combinação
de experiências, como refere Sharpels et al. (2008) “It is the combined experience that
constitutes mobile learning”.
De um modo geral é possível chamar aprendizagem móvel a qualquer forma de
aprendizagem através de dispositivos de reduzidas dimensões, autónomos e suficientemente
pequenos para acompanhar as pessoas em qualquer lugar e a qualquer hora (Roschelle 2003;
Trifonova & Ronchetti, 2003; Liang et al., 2005). Na verdade, estamos na idade da mobilidade
pessoal e tecnológica, em que os dispositivos móveis são levados para todo o lado (Sharples
et al., 2008).
Desde 2000 que se regista um aumento de literatura sobre m-learning, um pouco por
todo o lado. Alguns investigadores (Sharples et al., 2008; Moura & Carvalho, 2008; Zurita &
Nussbaum, 2004; Waycott, 2004) têm procurado estudar as potencialidades deste novo
paradigma educacional, em diferentes contextos de aprendizagem e trabalho. O m-learning é
diferente do e-learning, por não ser apenas electrónico, mas móvel (Shepherd, 2001). Segundo
Hoppe et al. (2003) o m-learning é uma evolução natural do e-learning usando dispositivos
móveis com conexão wireless e para Harris (2001) “m-learning is the point at which mobile
computing and e-learning intersect to produce an anytime, anywhere learning experience.”
A penetração de TM na vida da maioria das pessoas, em especial o telemóvel, fez com
que se olhasse para as suas potencialidades e se integrassem em projecto de e-learning para
tornar os cursos mais acessíveis e portáteis. A Virginia Tech College of Engineering foi uma
das primeiras instituições públicas a exigir que os alunos comprassem um Tablet PC logo a
partir do 1º ano de formação.
42
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
No entanto, o uso frequente de dispositivos móveis não significa que os alunos ou
professores estejam preparados para o ensino e aprendizagem móvel (Corbeil & ValdesCorbeil, 2007). A maioria dos alunos que frequenta as nossas escolas é fruto da imersão nos
avanços tecnológicos que se têm verificado nas duas últimas décadas. São os “nativos digitais”
segundo Marc Prensky (2001):
“…raised in a ubiquitous technology environment, this new generation is
accustomed to the twitch-speed, multitasking, random-access, graphics-first,
active, connected, fun, fantasy, quick pay-off world of video games, MTV, and
Internet".
Apesar disso, muitos deles chegam à escola sem competências tecnológicas básicas,
obrigando a constantes desafios no sentido de uma efectiva literacia informacional e
tecnológica.
Para Scheroeder (2005) nos próximos anos a aprendizagem móvel conhecerá uma
larga expansão e o termo podcasting conhecerá também um desenvolvimento considerável.
Novas características dos podcasts serão exploradas tanto para cursos e-learning, como mlearning, através duma ampla gama de dispositivos móveis. Isto levará a que os alunos deixem
de estar presos aos seus computadores e à Internet, para passarem a aprender enquanto em
mobilidade, em qualquer parte e a qualquer hora (Sharples et al., 2007).
Dispositivos móveis, como o iPhone 3G, estão a possibilitar que a aprendizagem
aconteça independentemente do tempo e do lugar, capazes de possibilitar grande
interactividade, total conectividade e forte processamento. A generalização das tecnologias
móveis é inegável, como refere Wagner (2005):
“Wherever one looks, evidence of mobile penetration is irrefutable: cell
phones, PDAs, MP3 players, portable game devices, handhelds, tablets, and
laptops abound. No demographic is immune from this phenomenon. From toddlers
to seniors, people are increasingly connected and are digitally communicating with
each other in ways that would have been impossible only a few years ago”.
Isto obrigar as instituições de ensino a rápidas adaptações. Estará a escola
actualmente preparada para incluir as tecnologias móveis nas suas práticas pedagógicas e
tornar o m-learning uma realidade?
O futuro é já hoje. Muitos dos dispositivos móveis actualmente no mercado oferecem
um acesso completo à Internet, incluindo as versões móveis de software social. É provável que
haja mais inovação e competição entre os fabricantes de hardware, os fornecedores de
software e as empresas de Internet para controlo da Web móvel. Tudo isto pode conduzir a que
os milhões de utilizadores da Internet venham a ser utilizadores móveis. A tecnologia 4G
promete uma conexão mais rápida, mais fiável e a capacidade de “roaming” sem problemas
entre uma variedade de diferentes tecnologias de rede (BECTA, 2009).
43
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O Podcasting em ambientes educativos
O podcasting está a ter um considerável desenvolvimento em diversos níveis de
ensino. São vários os exemplos de introdução do podcast em contexto de sala de aula em
diferentes áreas disciplinares no nosso país (Carvalho, et al., 2008; Cruz & Carvalho, 2007;
Moura, & Carvalho, 2006a).
São várias as universidades americanas e europeias que adoptaram o sistema de
gravação de aulas para disponibilizar aos seus alunos uma diversidade de matérias
curriculares. A Universidade Central da Florida optou por integrar o sistema de gravação de
aulas da empresa Tegrity, disponibilizando sessões das aulas a cerca de 2500 alunos. Com
este programa os alunos não precisam de rever a aula inteira. Digitando palavras-chave é
possível abrir a aula no ponto exacto que se pretende. Se no princípio pode parecer algo novo
para os alunos, depois da fase de adaptação os estudantes usam esta tecnologia
confortavelmente.
A Purdue University, em West Lafayette, no Indiana usa um software que permite a
gravação das aulas e slides de ilustração para serem reproduzidos em iPods, iPod Touche,
Zune ou outros aparelhos.
Os podcasts resultam profícuos no caso de alunos que estudam longe de casa
podendo aproveitar o tempo do trajecto para rever ou completar matérias estudadas,
optimizando o tempo de viagem. O que parece ser ponto comum em diferentes experiências de
investigação é que para os alunos é confortável poder repetir a audição das aulas conforme a
necessidade e vontade.
Os telemóveis como ferramenta de gravação
Se até há algum tempo ver um jovem com os auriculares nos ouvidos era sinónimo de
estar a ouvir música, hoje isso pode não ser verdade, podendo também estar a rever matérias
curriculares ou a preparar-se para algum exame. Com o advento do podcasting e a sua
expansão em ambiente educativo, os leitores de mp3/mp4 e os telemóveis estão a tornar-se
em dispositivos usados para ouvir podcasts. Os alunos que têm dificuldade em compreender
os assuntos curriculares na sala de aula poderão ter a possibilidade de os ouvir as vezes que
necessitarem através dos podcasts (Moura & Carvalho, 2006b). Depois da aula acedem aos
podcasts e descarregam-nos para os seus leitores de mp3/mp4 ou para os seus telemóveis e
poderão ouvi-los novamente, podendo mesmo acompanhar algumas explicações com o
visionamento de gráficos. Gravar as aulas para posterior revisão é uma estratégia de estudo
desde há muitas décadas (Deal, 2007). Hoje é o telemóvel ou leitor mp3/mp4 a fazer o que
antes fazia o gravador de áudio. A maioria dos alunos que habitualmente usa os podcasts nas
suas práticas educativas, vê-os como uma ferramenta para revisão, mais do que substituição
das aulas (Malan, 2007). Para Nataatmadja & Dyson (2008) o maior benefício do podcast pode
estar no suporte que presta às actividades pedagógicas e não na sua substituição.
Gravar através de um telemóvel ou leitor mp3/mp4 é fácil para qualquer professor,
44
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
basta premir num botão para iniciar a gravação e, no fim, premir novamente para desligar.
Depois é levar para a sala de aula e deixar que os alunos transfiram os ficheiros do telemóvel
do professor para os deles ou que seja o próprio aluno a gravar os seus. Os alunos estão
habituados a transferir ficheiros de música entre dispositivos móveis, a maioria das vezes por
Bluetooth, sem grande dificuldade. O professor só tem de aproveitar estas competências a
favor do processo educativo. Da mesma forma os alunos podem gravar os seus próprios
ficheiros e passá-los para o telemóvel do professor para em casa os avaliar. Para quem tem
problemas de utilizar prolongadamente o ecrã do computador para leitura, os podcasts
afiguram-se uma alternativa.
A gravação de aulas não é um fenómeno novo, fez e continua a fazer parte da cultura
universitária e de algumas escolas secundárias. Nas aulas expositivas e de conteúdos mais
complexos, ou quando o professor fala demasiado rápido, a gravação pode ajudar o estudo
posterior. A gravação através do telemóvel ou leitor mp3/mp4 exige conhecimentos técnicos
mínimos, pelo que a sua utilização não levanta grandes problemas.
Embora o podcast deixe de fazer tanto sentido em ambientes de aprendizagem mais
colaborativos ou interactivos, pode também ser utilizado, tudo depende dos objectivos a
alcançar. Gravar um momento de discussão em grupo parece oferecer posteriormente
possibilidades de rever as intervenções e mais rapidamente realizar sínteses da discussão,
como nos foi dado observar. As ferramentas estão em cada sala de aula só nos resta usá-las
em benefício de uma aprendizagem mais profícua.
Ferramentas de podcast para telemóvel
Em 2005, os telemóveis vieram ocupar o lugar até então pertencente aos leitores mp3,
cujo mais popular é o iPod, quando os fabricantes de telemóveis entraram no mercado do mp3.
Os telemóveis há muito que se tornaram no “canivete suíço” tecnológico, como gosta de lhe
chamar Liz Korb (2008). Podem ser excelentes ferramentas para recolha e divulgação de
dados, ao possuírem: gravador de áudio, câmara fotográfica e vídeo.
Com o aparecimento dos telemóveis 3G começaram a surgir ferramentas de podcast
para telemóvel. São serviços especializados em podcasting através do telemóvel. Com estas
ferramentas é possível criar podcasts (áudio ou vídeo) com o telemóvel e publicá-los
directamente na Web. Para transformar o telemóvel num gravador de podcasts encontramos
disponíveis, entre outros, os seguintes serviços: Gcast, TalkShoe, Hipcast, Yodio, Cinch,
SayNow, PrivatePhone, FreeConferencePro, Utterz, Drop, Gabcast e o Jott.
O telemóvel ao tornar-se numa ferramenta multimédia e com acesso à Internet,
permite, através da tecnologia WiFi, descarregar episódios de podcasts com versão mobile. As
principais empresas fabricantes têm estado a trabalhar em aplicações de podcasting para
telemóvel. Por exemplo, a Nokia oferece soluções de podcasting para telemóvel com
capacidades de gravação em alta qualidade, alguns dos nossos alunos já possuem estas
aplicações só esperam que lhas proporcionemos dentro e fora da sala de aula.
45
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Actualmente, é possível desenvolver projectos educativos diversificados e integrados
para telemóvel, através de tecnologia de edição de página web mobile, podcasting mobile ou
quizes mobile. Os telemóveis 3G estão a abrir caminho a novas formas de desenvolver o
processo de ensino e aprendizagem ubíqua. Estão-se a tornar numa ferramenta imprescindível
para uma parte da população e afigura-se uma excelente ferramenta de aprendizagem
educacional que não deve ser proibida.
Dispositivos móveis para podcasts
O mercado de dispositivos móveis continua a expandir-se. O interesse por estes
dispositivos é visível em todas as idades, em particular, entre os mais novos.
Apresentamos a seguir os dispositivos móveis de computação/comunicação mais
comuns, as suas características e funções, o seu potencial para usos educacionais e os prós e
contra da sua utilização na aprendizagem móvel, seguindo as descrições feitas por Corbeil &
Valdes-Corbeil (2007).
O iPod é o leitor de áudio digital da empresa Apple, lançado em 2001, com 5 GB de
capacidade de armazenamento, apresenta uma interface simples centrada no uso de uma roda
clicável. Cinco gerações de iPods mais tarde o dispositivo reproduz músicas, filmes e álbuns de
fotos e permite armazenar até 80 GB de qualquer tipo de arquivo. Possui um calendário e um
livro de endereços que sincroniza com o Outlook Express. Para além disso, pode funcionar
como um dispositivo de armazenamento de dados.
Em 2007 foi lançado o iPod Touch, com ecrã sensível ao toque (semelhante à do
telefone iPhone), conexão à Internet com rede sem-fio (Wi-Fi) e um navegador de Internet,
para ser mais fácil comprar músicas sem usar o computador. Com capacidade ampliada para
80 e 160 GB, o Ipod Touch é uma ferramenta de aprendizagem com grandes potencialidades.
Relativamente aos benefícios educacionais, os alunos podem descarregar podcasts de
conteúdos relevantes e acompanhar conferências em áudio e vídeo. Os ecrãs actualmente são
mais generosos que anteriormente, possibilitado algum conforto durante o visionamento de
vídeos e leitura de e-livros. Os alunos poderão trocar informações, colaborar em projectos,
partilhar os resultados, rever os assuntos das aulas e preparar-se para os testes. O professor
pode mostrar passo a passo conteúdos visuais que são difíceis de apresentar apenas por
palavras. O microfone pode servir para captura de material áudio para uso educativo
(entrevistas, por exemplo).
Nos Estados Unidos o iPod já mostrou a sua popularidade entre os jovens, assim,
muitos professores estão a disponibilizar muitas das suas aulas em formato áudio para os
alunos descarregarem. O iPod torna-se num excelente dispositivo em mobilidade e vai de
encontro à necessidade de informação imediata dos “digital natives” (Prensky, 2001).
Os contras deste dispositivo prendem-se com o seu custo, podendo não ser acessível
a todos os alunos. Para além disto, requer o programa iTunes da Apple, que permite
descarregar gratuitamente os ficheiros mp3.
46
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A Apple tem sido uma empresa a apostar numa gama completa para a aprendizagem.
Todos os elementos são concebidos para funcionarem de forma integrada e conseguiu
apresentar a plataforma para aprendizagem móvel mais avançada. Assim, para a mobilidade
apresenta computadores portáteis (ultra finos), leitores de música digital e smartphones, que
fazem parte da forma como os estudantes vivem e interagem com o mundo. Há, neste
momento, várias instituições, sobretudo americanas, a adoptar estas tecnologias no processo
de ensino e aprendizagem. Estes dispositivos são a melhor forma de optimizar a utilização do
iTunes U, uma das maiores fontes de conteúdo educacional gratuito que se está a tornar num
importante meio de aprendizagem móvel. Para os professores é fácil a publicação de
conteúdos áudio e vídeo e aos alunos é fácil encontrar, descarregar, organizar e reproduzir
conteúdos. Estes exemplos deverão servir-nos para visionar a integração de TM nas práticas
educativas desde já.
O Podcast como ferramentas educacional: para lá da sala de aula
O podcasting tem uma grande utilização educacional. Ele está na vanguarda da
2
tecnologia, como referido no EDUCAUSE The Horizon Report –2006 “podcasting is at the
leading edge of a wave that will last for the next several years and beyond”. Um podcast
educacional pode conter gravação de aulas, apresentações, material complementar dos
conteúdos leccionados ou revisões para os exames.
Vantagens dos podcasts para os professores:
- pouco ou nenhum custo;
- para cursos a distância, o podcasting liga o professor e os alunos numa nova forma
de aprendizagem;
- a escola pode fazer podcasts específicos, sobre assuntos que possam ajudar os
estudantes a estudar para os exames.
Vantagens dos podcasts para os alunos:
- pouco ou nenhum custo associado;
- permite aos alunos aprender fora da sala de aula;
- os alunos podem ouvir os podcasts em qualquer lugar e a qualquer hora, no leitor de
mp3/mp4 ou no próprio telemóvel, que está sempre no bolso.
Alguns usos dos podcasts:
- rever assuntos para exame ou teste, gravar as aulas, recolher dados, fazer sínteses,
treinar a leitura, introduzir novos assuntos, rever assuntos relevantes, gravar entrevistas, gravar
momentos de discussão ou debate, etc.
Uma das virtudes do podcasting, é o facto de ser a tecnologia a ir ter com o utilizador e
não o inverso, como explica Johnes (2005) "podcast system is a push technology, contrasting
with the pull technology that is characteristic of many internet applications". Os podcasts são
2
http://www.nmc.org/pdf/2006_Horizon_Report.pdf
47
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
disponibilizados automaticamente ao aluno, desde que tenha ligação à Internet quer no
computador, quer no telemóvel, assim, o aluno não precisa de se lembrar de os descarregar
cada dia, pois o agregador RSS faz esse trabalho.
Os podcasts são usados desde há alguns anos em algumas escolas e universidades
de forma intensiva, por permitiram acesso a uma grande variedade de materiais educacionais
em qualquer lado e a qualquer momento (Dyson, 2008). Isto levanta algumas questões acerca
do impacto no processo de ensino e aprendizagem. Uma das questões é saber como os
podcasts podem apoiar a aprendizagem experimental ou o ensino de línguas estrangeiras com
conteúdos de qualidade, em vez de se perpetuar os modelos de educação tradicionais.
Descrição do Estudo
O estudo, sobre a utilização de podcasts para aprender e rever conteúdos
programáticos de Literatura Portuguesa, que apresentamos, foi realizado no ano lectivo
2008/2009, com alunos de duas turmas do Ensino Profissional, da Escola Secundária Carlos
Amarante. A amostra foi de conveniência, por se tratar dos alunos de duas das nossas turmas,
composta por 27 indivíduos do sexo masculino. Esta experiência inseriu-se no âmbito de uma
investigação mais ampla, que pretendia analisar as implicações do uso de tecnologias móveis
na aprendizagem, em especial o telemóvel. O objectivo principal da experiência que
descrevemos era analisar a reacção dos alunos sobre a possibilidade de estudar ou rever
conteúdos curriculares através de podcasts disponíveis no telemóvel ou leitor de mp4.
Antes de apresentarmos os dados desta experiência vamos descrever também outras
actividades complementares desenvolvidas ao longo da unidade programática e que ajudam a
compreender o contexto em que se explorou a utilização das TM e dos podcasts. Ao longo da
exploração da unidade temática foram diversas as actividades em que os alunos exploraram
diferentes funcionalidades dos seus telemóveis, em particular, a gravação, audição e
armazenamento de dados. A facilidade em gravar ficheiros áudio ou vídeo que facilmente se
transferem para qualquer ambiente ou dispositivo tecnológico proporcionou a criação de
situações de aprendizagem inovadoras e significativas que a seguir referimos.
Do aluno consumidor ao aluno produtor de podcasts
Actualmente, é fácil e rápida a gravação de voz e imagem através do telemóvel. Este
facto, levou-nos a encarar a possibilidade transformar os alunos em produtores de podcasts
(podcasters), em vez de apenas consumidores. A produção de podcasts permitiu que os alunos
assumissem, simultaneamente, os papéis de produtos e produtores (Morin, 2002). Produtos
dos trabalhos solicitados e produtores de objectos culturais, disponibilizados ao público em
geral, tornando-se também eles fonte de informação da obra estudada.
Tentando diversificar, tanto quanto possível, as diferentes expressões da linguagem, os
podcasts produzidos pelos alunosincluíram: entrevista, leitura, declamação, narração, debate e
canção. As gravações foram realizadas individualmente e em grupo conforme os objectivos das
48
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
actividades. Ultrapassados os obstáculos das primeiras gravações: estranheza na voz
registada, enganos e tom de voz, os alunos mostraram confiança e desinibição no
manuseamento dos dispositivos para gravação. Isto ajudou a superar constrangimentos e a
aumentar a sua participação em todas as tarefas de gravação propostas. As produções finais
foram seleccionadas pelos alunos para serem disponibilizadas na Web no podcast Geração
3
Móvel criado no Podomatic.
Leitura em voz alta
Falar e ouvir constitui uma actividade de aprendizagem mais significativa do que o
simples acto de ler. Com a gravação é possível rever a leitura realizada, tantas vezes quantas
as necessárias, não só para aprendizagem dos conteúdos lidos, como também para
consciencialização dos pontos fortes e fracos da leitura e aperfeiçoamento.
Foi neste contexto que tentamos despertar os alunos para as potencialidades da leitura
em voz alta, propondo que cada aluno, com a ajuda do telemóvel ou do leitor de mp3/mp4,
gravasse em casa um número variado de ficheiros áudio de textos informativos anteriormente
distribuídos e os trouxesse para a aula para serem ouvidos, analisados e avaliados em
conjunto. Na sala de aula preparou-se também um concurso de gravação de leitura em voz
alta, no sentido de sensibilizar os alunos para a melhoria da qualidade da leitura e o seu
reconhecimento como factor fundamental para a compreensão textual. Os melhores ficheiros
áudio foram depois publicados na Web e armazenados nos dispositivos dos alunos como
objectos de aprendizagem.
Os Maias em Rap
No sentido de motivar para a leitura e o estudo do romance Os Maias, desafiámos os
alunos a lerem um conjunto de páginas da obra, previamente estabelecidas, e a criarem letras
4
d’Os Maias em Rap. Dividimos a turma em pares e atribuímos um tema diferente a cada par :
Após a leitura das passagens da obra os alunos deveriam sintetizar por escrito as ideias de
forma a criar uma letra de Rap, procurando ser o mais fiel possível ao texto, no sentido de
tornar o produto final um objecto de aprendizagem. Por fim, os alunos deveriam gravar com o
5
telemóvel o respectivo vídeo musical . Notamos alguns constrangimentos, na maioria dos
alunos, no momento de reproduzir musicalmente o texto escrito. Apenas um aluno autorizou a
publicação da gravação realizada e que apresentamos na figura 1. As restantes gravações
foram partilhadas de forma restrita entre os alunos e usadas para aprendizagem curricular.
Os alunos mostraram satisfação na realização desta actividade que ajudou a potenciar a
aprendizagem colaborativa, a despertar o interesse e gosto pela leitura e a desenvolver
diferentes competências cognitivas e tecnológicas.
3
4
http://geramovel.podomatic.com/
Título, Subtítulo, Jantar no Hotel Central, Corridas de Cavalo, Jantar na casa dos Gouvarinho, Imprensa - Jornal a
Tarde e Corneta do Diabo, Sarau no Teatro da Trindade.
5
http://www.youtube.com/watch?v=PZ6I4V3_nE&eurl=http://recursoseb1.com/milp/&feature=player_embedded
49
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 1. Vídeocast d’Os Maias em Rap (Título)
Role- Play– Entrevista (Crítica Social – corrupção no século XXI)
Para compreensão e actualização de alguns temas presentes nos episódios de crítica
social do romance “Os Maias” propusemos aos alunos a realização de uma actividade de
expressão escrita colaborativa assente no conceito de role-play. Partindo do visionamento do
6
vídeo Corrupção em Portugal, do programa “Gato Fedorento” , os alunos, em pares, deveriam
encarnar um entrevistador e uma personagem tipo representativa de actos de corrupção.
Depois de escritos os textos, deveriam representá-los e produzir vodcasts ou podcasts áudio.
Todos os pares optaram pela gravação da representação em áudio
sendoposteriormente
disponibilizada no podcast da turma, como mostra a figura 2.
As actividades de grupo de tipo role-play permitem um tipo de interacção em que os
alunos assumem papéis, são criativos, lúdicos e inconscientemente tomam contacto com a
realidade representada, desenvolvendo competências de interacção e comunicação com os
seus pares.
6
http://www.youtube.com/watch?v=s8t3dreanZk&feature=PlayList&p=693D4315E03FF494&pla
ynext=1&playnext_from=PL&index=3
50
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 2. Role-play – Entrevista (Crítica Social – corrupção no século XXI)
Em jeito de conclusão poderemos dizer que a combinação de TM e podcasts pode
ajudar a melhorar o processo de ensino e aprendizagem e a motivar os alunos. Descarregar
podcasts directamente para o telemóvel através de Web Feeds é uma grande comodidade
para os utilizadores. Embora a subscrição de podcasts seja gratuita, a transferência de dados
pode acarretar custos quando feita através do telemóvel, tornando por enquanto muito
dispendiosa esta modalidade. No entanto, quisemos mostrar aos alunos a facilidade com que
se pode ter podcasts sobre os mais variados temas no nosso telemóvel. Assim, subscrevemos
os podcasts do programa “Escrita em Dia” da RTP1 através do nosso telemóvel 3G e
armazenámos alguns episódios que distribuímos por bluetooth aos alunos.
Teria sido mais profícuo se o acesso à Internet no telemóvel fosse economicamente
mais acessível, de forma a que os alunos pudessem acompanhar ou consultar a vasta gama
de podcasts disponíveis nas páginas Web de diferentes meios de comunicação social
nacionais e estrangeiros, com conteúdos com interesse para explorar em diferentes disciplinas
e na aula de língua materna, em particular. Aproveitando a capacidade de armazenamento que
a maioria dos telemóveis dos alunos possui (mais de 70% dos alunos possui telemóvel com
cartão de memória de 1 GB) é possível planear actividades lectivas baseadas em podcasts e
vodcasts.
Podcasts para aprender e rever conteúdos curriculares
Como complemento do estudo do romance “Os Maias” gravámos cerca de 30 ficheiros
51
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
áudio de curta duração (entre 24 segundos e 5 minutos) com explicação e análise dos pontos
mais importantes do estudo desta obra (figura 3). Para a sua exploração usámos as
7
potencialidades do podcasting .
8
Para a gravação de uma parte dos podcasts usamos o gravador MyPodcast que
permite uma fácil e rápida publicação na Web, os outros foram gravados com o telemóvel e
com o leitor de mp4, aproveitando momentos livres em que não tínhamos o computador
disponível. Foi depois necessário converter os ficheiros guardados no telemóvel em formato
AMR, para formato mp3. O conversor AMR é gratuito, por isso qualquer pessoa se pode iniciar
na criação de podcasts sem custos, com o seu telemóvel. Os ficheiros gravados com o leitor de
mp4 já são guardados em formato mp3, não precisando de qualquer conversão.
Figura 3. Geração Móvel: Podcast da professora
Estes podcasts, de apoio ao estudo do romance Os Maias, de Eça de Queirós,
serviram para os alunos aprenderem os conteúdos ou para a sua revisão, consoante o aluno
esteve ou não presente ou atento na sala de aula. Pretendíamos que os alunos com estes
ficheiros áudio pudessem usufruir das potencialidades dos dispositivos móveis que guardam no
bolso e ao mesmo tempo poder aprender onde e quando entendessem. Queríamos criar
oportunidades ao aluno para estudar de acordo com sua disponibilidade de tempo e incentivar
a autonomia no estudo,
9
No início do estudo do Módulo 8 disponibilizámos os podcasts aos alunos que os
puderam descarregar para os seus dispositivos de diversas formas: por bluetooth a partir do
telemóvel da professora, directamente da página da Internet, do computador da professora ou
da pen flash. Aos que não tinham telemóvel com memória suficiente para armazenar os
podcasts emprestámos um leitor de mp4, de forma a que fosse dado a todos os alunos as
7
8
9
http://geramovel.mypodcast.com
http://mypodcast.com/
No programa da disciplina de Português para o 11º ano do Ensino Profissional, o módulo 8
contempla o estudo do romance Os Maias, de Eça de Queirós.
52
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
mesmas condições de utilização.
Instrumento de recolha de dados
Tratou-se de uma investigação qualitativa cuja técnica de recolha de dados
seleccionado foi o inquérito por questionário, preenchido no final da experiência. Para Foody
(2006) um questionário é um método de recolha, análise e interpretação de um cenário ou
objecto, reflectindo a opinião dos participantes na amostra escolhida.
O questionário foi desenvolvido e aplicado em papel e composto por três partes. A
primeira parte do questionário teve como objectivo aferir informações sobre a audição dos
podcasts, com destaque para o local, o tipo de dispositivo usado e a duração. A segunda parte
centrou-se nas reacções dos alunos sobre a eficácia, rapidez e mobilidade do acesso a
informação para revisão da matéria através de apontamentos, manual ou podcasts. A terceira
parte visou conhecer a percepção dos alunos sobre os podcasts.
Antes de aplicar o questionário procedeu-se à sua validação empírica num grupo de
indivíduos semelhantes aos elementos da amostra (Coutinho, 2005).
Análise de Dados
Os dados foram tratados com o programa Excel. Para apresentação dos dados usámos
tabelas de frequência. Para os itens com resposta de tipo Likert calculámos as percentagens a
partir das frequências das respostas.
Audição dos podcasts: local e frequência
Quisemos saber quantos alunos tinham ouvido os podcasts, dos 27 participantes
apenas quatro disseram não o ter feito. Quando lhes pedimos para justificar, dois alunos
disseram ter sido por esquecimento de pedir os podcasts à professora, outro justificou dizendo
gostar mais de ler os conteúdos em papel, por poder resumir as partes mais importantes e
outro justificou a não utilização por falta de tempo. Estes alunos não fazem parte dos dados
apresentados a seguir pois para eles o questionário acabava na resposta à 1ª questão.
A maioria dos alunos (91%) diz ter ouvido os podcasts de 1 a 2 vezes por semana e
apenas 9% disse fazê-lo de 3 a 5 vezes por semana.
Relativamente aos locais onde costumavam ouvir os podcasts, 48% disse ser em casa,
39% na escola e 13% no autocarro. Quanto aos dispositivos usados para ouvir os podcasts
44% usou o telemóvel, 30% o leitor de mp4 e 26% o computador.
Questionámos sobre se a duração dos podcasts era suficiente, todos os alunos
consideraram que sim, excepto dois alunos que responderam negativamente e não justificaram
a resposta. Quanto à duração ideal dos podcasts a maioria dos alunos (57%) considerou cinco
minutos e 43% apontaram menos de 2 minutos como o tempo ideal, o que está de acordo com
a taxonomia apresentada por Carvalho et al. (2008a) que sugere a criação de podcasts de
curta duração, sendo preferível mais episódios, mas curtos (Carvalho, 2009).
Inquirimos sobre se os alunos ouviam os podcasts enquanto realizavam outras tarefas,
53
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
a maioria dos alunos (78%) disse não o fazer e apenas 22% disse fazê-lo enquanto estava no
MSN, navegava ou jogava na Internet. Quanto ao tom de voz usado na gravação dos podcasts
a maioria dos inquiridos (74%) considerou-o aceitável e 26% considerou-o bom.
Perguntámos como os alunos organizaram os podcasts nos seus dispositivos móveis.
Assim, 48% disse ter criado uma pasta para a disciplina e colocado aí os podcasts, 39%
respondeu tê-los apenas ordenado pelo número do episódio e 13% de forma aleatória. A forma
como os alunos descarregaram os podcasts variou, com 35% a fazê-lo por bluetooth, 30%
directamente da página da Internet, 22% do computador da professora e 13% do computador
portátil do colega. Estes dados mostram as diversas possibilidades que os alunos têm à sua
disposição para obtenção deste recurso de aprendizagem, sendo fácil a sua obtenção, desde
que o desejem.
Reacções dos alunos sobre a eficácia, rapidez e mobilidade do acesso à
informação para revisão da matéria através dos apontamentos, manual e podcasts
Alguns autores consideram estarmos numa época de renascimento e poder do áudio
na aprendizagem (Salmon & Edirisingha, 2008). O podcast, em particular o som, é visto como
ferramenta educativa (Chan et al., 2006) e como uma forma eficaz, rápida e móvel de aceder a
conteúdos (Evans, 2006). Por isso, quisemos saber a reacção dos alunos em relação à
eficácia, rapidez e mobilidade em estudar a partir dos apontamentos, do manual e dos
podcasts.
Relativamente à eficácia entre estudar pelos apontamentos, pelo manual e pelos
podcasts (tabela 1), a preferência foi para os apontamentos, com 91% dos alunos a considerar
o estudo mais eficaz através deste recurso, o que mostra a grande adesão a este recurso
tradicional de estudo. Já relativamente ao estudo a partir do manual só 56% concordou ser
mais eficaz e 35% manifestou indecisão. No que respeita a eficácia do estudo a partir de
podcasts, a maioria (79%) dos inquiridos concordou, mostrando que apesar de reconhecer
eficácia aos apontamentos está aberta a ferramentas inovadores para estudar.
Itens
Estudar a partir dos meus apontamentos é
uma forma eficaz de rever a matéria.
Estudar a partir do manual é uma forma
eficaz de rever a matéria.
Estudar a partir de podcasts é uma forma
eficaz de rever a matéria.
Discordância
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
2
9
0
0
21
91
3
9
8
35
13
56
1
4
4
17
18
79
Tabela 1. Eficácia dos apontamentos, manual e podcasts para estudar (N=23)
54
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Relativamente à rapidez em rever a matéria a partir da leitura dos apontamentos ou a
audição de podcasts (tabela 2), 56% dos alunos considerou os apontamentos como a forma
mais rápida para rever a matéria e 83% referiu os podcasts.
Itens
Ler os meus apontamentos é a forma
mais rápida de rever a matéria
Ouvir um podcast é a forma mais
rápida de rever a matéria
Discordância
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
2
9
8
35
13
56
0
0
4
17
19
83
Tabela 2. Rapidez em rever a matéria a partir da leitura dos apontamentos ou a audição de podcasts
(N=23)
Mobilidade
O paradigma da aprendizagem mudou com a introdução de TM na educação.
Subjacente à mobilidade proporcionada pelos dispositivos móveis, que fornece a capacidade
de aprendizagem “anytime, anywhere”, está a possibilidade de criação de experiências de
aprendizagem fora da sala de aula. Neste item a maioria dos alunos (86%) considerou gostar
de ouvir os podcasts onde e quando quer e apenas 14% mostrou estar indeciso. Esta questão
discute também a informalidade da aprendizagem, possibilitada pela utilização de dispositivos
móveis em qualquer lugar e a qualquer hora, não impondo um carácter tão formal como no
modelo tradicional.
Preferências dos alunos por diferentes recursos para revisões
A maioria dos alunos (65%) disse preferir fazer as revisões na aula com a professora,
embora 35% manifeste indecisão a este respeito (tabela 3). No entanto, estes dados são
reveladores da importância que a presença do professor tem na sala de aula. Já no que
respeita o uso do manual para revisões, 26% concordou e a mesma percentagem de alunos
discordou, tendo 48% dos inquiridos mostrado alguma indecisão relativamente a este item, o
que indicia um certo declínio no uso do papel.
A preferência pela audição dos podcasts para revisões é positiva, com 61% dos alunos
a gostar de usar este tipo de ferramenta e a mesma percentagem de alunos a pretender ouvir
mais podcasts no futuro, o que revela o acolhimento positivo deste recurso em contexto de
aprendizagem.
Fazendo uma identificação das respostas verificámos que são os alunos que
apresentam maiores dificuldades de aprendizagem, nas diferentes disciplinas, que preferem
fazer as revisões com a ajuda do professor do que consultar o manual ou ouvir os podcasts, o
que aponta para a pouca autonomia destes alunos em construir o seu percurso de
aprendizagem e dificuldades na extracção de informação, necessitando de um grande
acompanhamento do professor.
55
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A preferência pela audição dos podcasts para revisões é positiva, com 61% dos alunos
a gostar de usar este tipo de ferramenta e a mesma percentagem de alunos a pretender ouvir
mais podcasts no futuro, o que revela o acolhimento positivo deste recurso em contexto de
aprendizagem.
Itens
Discordância
Para revisões, gosto de as fazer na
aula com a professora
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
0
0
8
35
15
65
6
26
11
48
6
26
2
9
7
30
14
61
2
9
7
30
14
61
Para revisões, gosto de usar o manual
Para revisões, gosto de ouvir os
podcasts
Tenciono ouvir
novamente
alguns
podcasts
Tabela 3. Preferências para fazer revisões (N=23)
Percepções sobre os Podcasts em geral
Para analisar as percepções dos alunos sobre os podcasts em geral, dividimos os itens
em quatro dimensões que a seguir descrevemos. Quanto ao valor pedagógico dos podcasts
(tabela 4), a maioria dos inquiridos (61%) discordou da ideia de que com os podcasts deixaria
de ter necessidade de assistir às aulas e de que os podcasts substituem a professora (74%),
vindo de encontro às preferências pela presença da professora para revisões. A maioria (78%)
concordou que com os podcasts as aulas são mais rentabilizadas, funcionam como um
complemento à aula e ajudam a rever o que se aprende na sala (91%). Estes dados sugerem
uma percepção positiva quanto ao valor dos podcasts em contexto educativo e vão de encontro
ao pensamento de Nataatmadja & Dyson (2008) e Malan (2007) que consideram que os
podcasts funcionam mais como um complemento à aula presencial do que a sua substituição.
Itens
Com os podcasts não necessito de
assistir às aulas.
Discordância
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
14
61
5
22
4
17
Os podcasts substituem a professora
56
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Com estes podcasts as aulas são mais
rentabilizadas
Os podcasts são um complemento à
aula
Os podcasts ajudam-me a rever o que
aprendi na aula
17
74
4
17
2
9
2
9
3
13
18
78
0
0
2
9
21
91
0
0
2
9
21
91
Tabela 4 - Valor Pedagógico dos Podcasts (N=23)
No que respeita a organização dos podcasts (tabela 5) a maioria dos alunos (87%)
considerou que a matéria estava bem estruturada, que teve facilidade em usar os podcasts
(78%), que os conteúdos estavam apresentados de forma clara (87%) e que a informação
neles apresentada se entendia facilmente (91%). Esta questão da organização e clareza dos
conteúdos inseridos nos podcasts é ainda mais pertinente quando se trata de um público-alvo
com o perfil da nossa amostra (Ensino Profissional) com características peculiares a este nível
de ensino. Os dados de um estudo realizado pelo GEPE apresentam o perfil de desempenho
escolar dos alunos deste nível de ensino com “trajectos não lineares e de desempenho escolar
10
mediano” , exigindo uma grande adaptação dos objectos de aprendizagem ao público-alvo.
Itens
Discordância
Nestes podcasts a matéria está bem
estruturada
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
0
0
3
13
20
87
0
0
5
22
18
78
0
0
3
13
20
87
0
0
2
9
21
91
Tenho facilidade em usar os podcasts
Estes
podcasts
apresentam
conteúdos de forma clara
A informação apresentada
podcasts é fácil de entender
os
nestes
Tabela 5. Organização e clareza dos conteúdos (N=23)
10
Dados de um estudo titulado “Estudantes à entrada do Ensino Secundário”, http://www.min
edu.pt/outerFrame.jsp?link=http://www.gepe.minedu.pt/np4/%3FnewsId%3D7%26fileName%3
DEstudantes___entrada_do_secund_rio.pdf.
57
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Relativamente às implicações da utilização do podcast na aprendizagem (tabela 6), a
maioria dos inquiridos (83%) considerou que os podcasts ajudaram a interiorizar os conteúdos
e que a sua qualidade era boa (91%), apenas 56% referiu que com os podcasts o
aproveitamento escolar melhorou. Estes dados podem querer significar que embora os
podcasts ajudem o aluno a interiorizar os conteúdos, no momento de os aplicar em contexto de
avaliação a sua concretização falha, possivelmente por dificuldades de expressão escrita.
Itens
Discordância
Os podcasts ajudam a interiorizar os
conteúdos
Com
estes
podcasts
o
meu
aproveitamento escolar melhorou
A qualidade dos
podcasts é boa
conteúdos
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
0
0
4
17
19
83
2
9
8
35
13
56
0
0
2
9
21
91
dos
Tabela 6. Implicações da utilização do podcast na aprendizagem (N=23)
No que concerne às preferências dos alunos (tabela 7), a maioria (87%) revelou
preferência pela flexibilidade e mobilidade no espaço e no tempo que os podcasts
proporcionam, permitindo autonomia para ouvir conteúdos curriculares onde e quando deseja.
A maioria da amostra (70%) disse compreender para que servem os podcasts e gostar de os
ouvir (74%). Quanto a ouvir a professora a explicar a matéria na aula ou ouvi-la nos podcasts,
a maioria (56%) mostrou indecisão o que pode significar gostar de ambos já que nos podcasts
também ouvem a voz da professora num estilo informal (Carvalho et al, 2008b). Mas entre ouvir
os podcasts e lê-los no manual as opiniões divergem, com apenas 17% a concordar gostar
mais do manual, 44% a gostar mais de ouvi-los do que de lê-los e os restantes (39%) indecisos
entre um e outro. Estes dados mostram a preferência dos alunos pela utilização de dispositivos
digitais móveis na aprendizagem, indo de encontro a resultados de outros estudos realizados
com alunos do mesmo nível de ensino (Moura & Carvalho, 2008).
Itens
Gosto de ouvir os conteúdos das aulas quando quero
e onde quero
Discordância
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
0
0
3
13
20
87
Tenho dificuldade em compreender para que servem
os podcasts
58
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
16
70
7
30
0
0
17
74
5
22
1
4
2
9
13
56
8
35
10
44
9
39
4
17
Detesto utilizar os podcasts
Gosto mais de ouvir a professora a explicar a matéria
na aula do que ouvir os podcasts
Gosto mais de ler os conteúdos no manual do que
ouvi-los nos podcasts
Tabela 7. Preferências dos alunos (N=23)
Relativamente à adequação do podcast ao tipo de aluno (tabela 8), a maioria dos
inquiridos (61%) discordou que os podcasts sejam só para alunos motivados, no entanto, há
26% a concordar, o que revela que a questão da motivação também é um elemento importante
quando se opta pelo uso de podcasts na aprendizagem. Quanto ao item sobre se os podcasts
ajudam mais os alunos com dificuldades 74% concordou, possivelmente estes alunos, apesar
das dificuldades, sentiram que os podcasts os apoiaram no momento de aprender ou rever a
matéria. A grande maioria (83%) não considerou os podcast uma perda de tempo, sugerindo
tratar-se de um recurso positivo para a aprendizagem.
Itens
Discordância
Indecisão
Concordância
f
%
f
%
f
%
14
61
3
13
6
26
2
9
4
17
17
74
19
83
4
13
0
o
Os podcasts são só para alunos motivados
Os podcasts ajudam mais os alunos com
dificuldades
Os podcasts são uma perda de tempo
Tabela 8. Adequação do podcast ao tipo de aluno (N=23)
Conclusão
Para Deal (2007) o impacto educativo do podcast, tal como outra tecnologia
educacional, depende do contexto educativo, dos objectivos a alcançar e de como a ferramenta
é implementada.
A opinião dos alunos sobre o uso dos podcasts, nesta experiência é globalmente
positiva, apesar de nenhum deles ter tido contacto anterior com esta ferramenta em contexto
59
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
escolar. Embora os apontamentos tenham sido considerados o recurso mais eficaz para rever
a matéria, os inquiridos consideraram também os podcasts como uma ferramenta eficaz, rápida
e capaz de proporcionar maior mobilidade na aprendizagem. A indecisão entre a professora a
explicar a matéria na sala de aula e ouvir os podcasts pode-se explicar pelo facto de ser a
mesma pessoa e a mesma voz, não se notando grandes diferenças entre ambas que pudesse
ditar discrepâncias. Porém, o descarte do manual parece estar consentâneo com o perfil da
Geração Net (Tapscott, 1998) para quem a leitura no papel deixou de ser agradável. Os
inquiridos revelaram que os podcasts ajudam a rentabilizar as aulas e não substituem o
professor, são acima de tudo um complemento da aula que o aluno tem à sua disposição para
aprender ou rever a matéria sempre que queira, visto que o telemóvel ou o leitor mp4 não sai
do bolso do aluno, tornando-se numa extensão tecnológica dos jovens de hoje. Eles próprios
afirmam que podem esquecer-se de algum material para as actividades escolares mas, do
telemóvel nunca se esquecem.
Os alunos ao considerarem que gostaram de ouvir os podcasts onde e quando
desejavam vai de encontro a duas características da aprendizagem através de dispositivos
móveis: mobilidade e flexibilidade (Prensky, 2001).
Para esta experiência os alunos usaram os seus próprios dispositivos não precisando
de comprar outros, o que pode ser uma mais-valia económica para as instituições educativas
na implementação de contextos de aprendizagem móvel no futuro, como sugerem Dye et al.,
(2003) “The user will not buy a new device for mLearning, but might use an existing device for
something new, such as education”.
As potencialidades dos podcasts são inúmeras. Podem servir para que os jovens
aprendam a escutar e a estar atentos durante um tempo determinado, ajudando-os a conseguir
algum tempo de concentração. Podem servir para fixar algum conhecimento curricular ou para
preparar algo novo. Depois de ouvir os podcasts, poderão realizar um resumo, ajudando-os a
sintetizar algum tema, bem como incrementar o vocabulário. Podem servir para recordar
conteúdos ou para aprendê-los por falta de assiduidade, como aconteceu com alguns dos
nossos alunos.
Stansbury (2009), apoiado no relatório anual do New Media Consortium (NMC),
considera que num futuro próximo seis tecnologias emergentes afectarão a educação e as
escolas secundárias: “collaborative environments and online communication tools; mobile
devices and cloud computing; smart objects and the personal web”. A pergunta que colocamos
é saber se estaremos preparados para enfrentar estas mudanças e as necessidades das
gerações futuras, num contexto de sala de aula tradicional. Se os professores não estão ainda
familiarizados com a linguagem digital dos seus alunos, terão de a aprender, para maximizar e
proporcionar ambientes de aprendizagem inovadores e interactivos. É, pois, o momento da
escola começar a antecipar as necessidades das jovens gerações que educa.
Quando se fala em usar algumas TM, em especial o telemóvel, não é preciso treinar os
jovens como usá-las, elas pertence-lhes e fazem parte do seu dia-a-dia. A questão é que os
60
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
professores têm menos conhecimentos de utilização destas tecnologias do que os seus alunos
e por isso a maioria sente-se em desvantagem. Apesar disso, é conveniente dizer que estes
dispositivos exigem conhecimentos técnicos mínimos para serem usados, pelo que a sua
utilização não levanta grandes problemas técnicos, no entanto, levanta grandes questões
pedagógicas.
Embora não havendo um modelo de ensino ideal, nem uma ferramenta que resolva
todos os problemas do ensino e da aprendizagem humana, as TM e o podcasting podem ser
entendidos como ferramentas com potencialidades em contexto pedagógico que devem
continuar a ser investigadas. As experiências realizadas vão de encontro às necessidades de
audiências educacionais emergentes, envolvidas fora da sala de aula em complexas
interacções de comunicação online e móveis (Prensky, 2001), com um consumo elevado de
recursos multimédia, em particular, o áudio.
Referências
Becta
(2009).
Emerging
Technologies
for
Learning.
http://emergingtechnologies.becta.org.uk/index.php?section=etr&rid=14112/
(Acessível
a 21 de Abril de 2009).
Berry, R. (2006). Will the ipod kill the radio star? Profiling podcasting as radio. Convergence:
The International Journal of Research into New Media Technologies (12), 143—162.
Carvalho, A. A. A. (2009). Podcasts no Ensino: Contributos para uma Taxonomia. Ozarfaxinars,
nº 8. http://www.cfaematosinhos.eu/Podcasts%20no%20Ensino_08.pdf.
Carvalho, A. A; Aguiar, C.; Carvalho, C. J.; Oliveira, L. R.; Cabecinhas, R.;
Santos,
H.
&
Maciel,
R.
(2008a).Taxonomia
de
Marques, A.;
Podcasts.
http://www.iep.uminho.pt/podcast/Taxonomia_Podcasts.pdf/ (Acessível a 29 de Abril de
2009).
Carvalho, A., Cruz, S. & Moura, A. (2008b). Pedagogical Potentialities of Podcasts in Learning
– reactions from k-12 to university students in Portugal. In S. Wheeler, D. Brown & A.
Kassam (eds), Conference Proceedings of LYICT 2008. Joint Open and Working IFIP
Conference: ICT and Learning for the Net Generation. Kuala Lumpur, Malaysia: IFIP and
Open University of Malaysia, 23-32.
Chan, A., Lee, M.J.W. & McLoughlin, C. (2006). Everyone's learning with podcasting: A Charles
Sturt University experience. In L. Markauskaite, P. Goodyear & P. Reimann (Eds.),
Who's learning? Whose technology? Proceedings of the 23rd ASCILITE Conference,
111–120.
http://www.ascilite.org.au/conferences/sydney06/proceeding/pdf_papers/p171.pdf
(Acessível a 21 de Maio de 2009).
Corbeil, J., R.,
Valdes-Corbeil, M. E. (2007). Are You Ready for Mobile Learning? In
EDUCAUSE,
volume
30,
nº
2.
61
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
http://www.educause.edu/EQ/EDUCAUSEQuarterlyMagazineVolum/AreYouReadyforMo
bileLearning/157455 (Acessível a 2 de Maio de 2009).
Coutinho, C. & Júnior, J., B. (2007). Podcast em Educação: um contributo para o estado da
arte. In Actas do IX Congresso Internacional Galego Português de Psicopedagogia.
Universidade
da
Coruña.
A
Coruña,
837-
846.
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/7094/1/pod.pdf (consultado em 8 de
Maio de 2009)
Coutinho, C., P. (2005). Percursos da Investigação em Tecnologia Educativa em Portugal: uma
abordagem temática e metodológica a publicações científicas (1985-2000). Braga:
Universidade do Minho, Série “Monografias em Educação”, CIED.
Deal,
A.
(2007).
A
Teaching
With
Technology
White
Paper:
Podcasting.
http://connect.educause.edu/files/CMU_Podcasting_Jun07.pdf (Acessível a 20 de Abril
de 2009).
Dye, A., K'Odingo, J. A. & Solstad, B. (2003). Mobile Education: A Glance at The Future.
http://www.dye.no/articles/a_glance_at_the_future/ (Acessível a 17 de Abril de 2009).
Evans, L (2006). Using Student Podcasts in Literature Classes. Academic Commons, Center
for Teaching and Learning. http://www.academiccommons.org/ctfl/vignette/using-studentpodcasts-in-literature-classes.
Foody, W. (1996). Como Perguntar: Teoria e Prática da Construção de Perguntas em
Entrevistas e Questionários. Oeiras: Celta Editora.
Hammersley, B. (2004). Audible revolution. The Guardian 12 de Fevereiro de 2004, p. 27.
Harris, P. (2001). Goin' Mobile. http://www.astd.org/LC/2001/0701_harris.htm (Acessível a 21
de Maio de 2009).
Hoppe, H.U., Joiner, R., Milrad, M, Sharples, M. (2003). Guest editorial: Wireless and Mobile
Technology. In Education, Journal of Computer Assisted Learning, 19, 3, 255-259.
Johnes,
G.
(2005).
Case
study:
Podcasts
as
a
Learning
Tool
in
Economics.
http://www.economicsnetwork.ac.uk/showcase/johnes_podcasts.htm
Johnson, D. L., Maddux, C. D., Liu, L. (2000). Integration of technology into the classroom:
case studies. Binghamton, NY: the Haworth Press.
Korb,
L.
(2008).
Cell
Phones
in
Education
-
An
Interview
with
Liz
Korb.
http://cellphones.org/blog/interviews/cell-phones-in-education-an-interview-with-liz-korb/
(Acessível a 11 de Maio de 2009).
Kukulska-Hulme, A. (2005). Introduction. In Kukulska-Hulme, A. & Traxler, J. (eds).. Mobile
Learning: A Handbook for Educators and Trainers. London: Routledge, 1-6.
Liang, L., T. Liu, H. Wang, B. Chang, Y. Deng, J. Yang, C. Chou, H. Ko, Yang, S., Chan. T.
(2005). A few design perspectives on one-on-one digital classroom environment. Journal
of Computer Assisted Learning 21, no. 3:181-89.
Malan, D., J. (2007). Podcasting computer science E-1. In Proceedings of the 38th SIGCSE
62
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Technical
Symposium
on
Computer
Science
Education,
389-393.
http://portal.acm.org/citation.cfm?id=1227446. (Acessível a 19 de Abril de 2009).
Mendes,
M.
(2007).
Tendências
em
e-learning:
Mobile
Learning.
http://www.sinfic.pt/SinficNewsletter/sinfic/Newsletter81/Dossier2.html/ (Acessível a 11
de Abril de 2009).
Morin, E. (2002). O método 4 - as Ideias. Porto Alegre: Sulina.
Moura, A. & Carvalho, A. (2006). Podcast: para uma aprendizagem Ubíqua no Ensino
Secundário. In Alonso, L. P. et al. (eds), Vol 2: 8th Internacional Symposium on
Computer in Education. Universidad de León, León, 379-386.
Moura, A. & Carvalho, A. (2006a). Podcast: Uma Ferramenta para Usar Dentro e Fora da Sala
de Aula. In Rui José & Baquero C, (eds): Conference on Mobile and Ubiquitous Systems
(CSMU 2006). Universidade do Minho, Braga, 155-158.
Moura, A. & Carvalho, A. (2006b). Podcast: Potencialidades na Educação. In 3º Encontro
Nacional e 1º Encontro Luso-Galaico sobre Weblogs. Universidade do Porto,
Porto.http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/5_adelina_moura_e_ana_amelia_carvalho_pris
ma.pdf (Acessíível a16 de Maio de 2009)
Moura, A. & Carvalho, A. (2007). Learning anywhere, anytime through a laptop: a pilot study in
a secondary school. In Sánchez, Inmaculada Arnedillo (ed.), IADIS International
Conference Mobile Learning mLearning 2007. Lisboa, Portugal, 184-188.
Moura, A. & Carvalho, A. (2008). Mobile learning: teaching and learning with mobile phone and
Podcasts. In 8th IEEE International Conference on Advanced Learning Technologies,
2008 (ICALT 2008. Santander, Spain, 631-633.
Nataatmadja, I., Dyson. L. E. (2008). The Role of Podcasts in Students' Learning. In
International Journal of Interactive Mobile Technologies, Vol. 2, No. 3, pp. 17-21.
http://online-journals.org/i-jim/article/view/526/473 (Acessível a 10 de Abril de 2009).
Prensky, M. (2001). Digital Natives, Digital Immigrants. On the Horizon, Vol. 9, No. 5, 2001, pp.
1–5, http://www.marcprensky.com/writing/default.asp. (Acessível a 29 de Abril de 2009).
Quinn, C. (2000). mLearning: Mobile, Wireless, In-Your-Pocket Learning. In LineZine.
http://www.linezine.com/2.1/features/cqmmwiyp.htm. (Acessível a 28 de Abril de 2009).
Roschelle, J. (2003). Keynote paper: Unlocking the learning value of wireless mobile devices.
Journal of Computer Assisted Learning 19, 260-72.
Salmon, G. & Edirisingha, P. (2008). Podcasting for Learning in Universities. England: Open
University Press.
Scheroeder, R. (2005). Prep Pioneer Taps Tech Trend to Reach Busy Students. Online
Learning
Update,
University
of
Illinois
at
http://people.uis.edu/rschr1/onlinelearning/archive/2006_02_26_archive.html
Springfield
(Acessível
a 21 de Maio de 2009).
Sharples, M., Arnedillo Sánchez, I., Milrad, M., & Vavoula, G. (2008). Mobile Learning: Small
devices, Big Issues. In Technology Enhanced Learning: Principles and Products,
63
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Kaleidoscope Legacy Book. Springer-Verlag, Berlin.
Sharples, M., Taylor, J., Vavoula, G. (2007). A Theory of Learning for the Mobile.
http://www.lsri.nottingham.ac.uk/msh/Papers/Theory%20of%20Mobile%20Learning.pdf
(Acessível a 28 de Abril de 2009).
Shepherd, M. (2001). M is for Maybe. Tactix: Training and communication technology in
context. http://www.fastrak-consulting.co.uk/tactix/features/mlearning.htm/ (Acessível a
21 de Abril de 2009).
Stansbury , M. (2009). Survey shows barriers to Web 2.0 in schools : Research reveals which
tools
are
popular
in
schools,
which
aren't--and
why.
http://www.eschoolnews.com/news/top-news/?i=58264;_hbguid=0c7312b7-aeb6-4d039664-1770b1b83fb8 (Acessível a 25 de Abril de 2009).
Tapscott, D. (1998). Growing Up Digital: The Rise of the Net Generation. New York: McGraw
Hill.
Trifonova, A. & Ronchetti, M. (2003). Where is Mobile Learning Going?. In G. Richards
(Ed.), Proceedings of World Conference on E-Learning in Corporate, Government,
Healthcare, and Higher Education, 1794-1801.
Wagner, E., D. (2005).
Enabling Mobile Learning. In EDUCAUSE Review, 40, 3, 40–53.
http://www.educause.edu/EDUCAUSE+Review/EDUCAUSEReviewMagazineVolume40/
EnablingMobileLearning/157976 (Acessível a 21 de Abril de 2009).
Waycott, J. (2004). The appropriation of PDAs as learning and workplace tools: An activity
theory perspective. Unpublished PhD thesis, The Open University, United Kingdom.
Zurita, G., & Nussbaum, M. (2004). Computer supported collaborative learning using wirelessly
interconnected hand-held computers. Computers & Education, 42, 289–314.
Trabalho realizado no âmbito do projecto de doutoramento registado no CIEd.
64
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O Podcast no Ensino Básico
Sónia Catarina Cruz
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo – A presente comunicação reflecte sobre as potencialidades que o podcast
possibilita ao professor de modo a que este se sinta capaz de o usar em contexto de sala
de aula, abordando, por isso, possíveis usos e contextos da sua utilização, em particular no
ensino básico. De seguida são apresentados exemplos concretos e oferecem-se algumas
sugestões para criar e/ou rentabilizar podcasts disponíveis online. Por fim, tecem-se
algumas considerações sobre a utilização da ferramenta em contexto escolar.
Introdução
A generalização de novas tecnologias como as auto-estradas de informação ganha, a
cada dia que passa, uma maior relevância tais são as constantes inovações e invenções dos
novos “media” que permitem ao utilizador interagir com o mundo que o rodeia. Estas novas
tecnologias conhecem uma boa aceitação no mercado, principalmente, entre o público
estudantil uma vez que eles pertencem à geração Net (Oblinger & Oblinger, 2005). Os alunos
com que hoje convivemos nasceram rodeados pelos mais diversos dispositivos tecnológicos e,
por isso, aspiram um ensino diferente do que os seus professores, os da geração de papel
(Carvalho, 2009), seguramente tiveram. Eles são uns verdadeiros nativos digitais (Prensky,
2001). Cabe aos professores da geração de papel empenharem-se em ser emigrantes digitais
e acompanhar os seus alunos que frequentemente estão online a aceder e receber informação,
vivenciando as potencialidades do conectivismo (Siemens, 2005). “Eles reconhecem a
centralidade das redes de conhecimento nas suas vidas, estabelecendo conexões entre ideias
e pessoas, contribuindo para as redes sociais” (Carvalho, 2009: 1).
As novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) são, como refere Moura,
“um serviço basilar, na mesma linha em que o são a electricidade ou a água” (2008: 123) dado
que estar acessível em qualquer lugar e em qualquer altura tornou-se um requisito dos nossos
dias. Na verdade, as novas aplicações multimédia acrescentam à sua característica mais
definidora (a integração de linguagens e formas de representação: imagem, som e texto) outra
não menos importante: a interactividade. Não podemos esquecer que a World Wide Web foi
concebida com o intuito de ser um repositório do conhecimento humano, constituindo-se como
espaço de partilha (Berners-Lee et al., 1994):
65
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
"The World Wide Web (W3) was developed to be a pool of human knowledge,
which would allow collaborators in remote sites to share their ideas and all aspects of a
common project" (Berners-Lee et al., 1994: 76).
Nesse sentido, ferramentas como blogues, podcasts, wikis, myspace, hi5, flickr, entre
muitos outros milhares de serviços possibilitam o seu uso em contextos que extravasam o
âmbito pessoal e empresarial e permitem a partilha de ideias. A Web passa, assim, a ser
encarada como uma plataforma (Carvalho, 2008) cuja facilidade de publicação de conteúdos
oferece ao contexto educacional uma panóplia de opções para uso real em sala de aula. Desde
o jardim-de-infância ao ensino superior, este tipo de recursos pode ser aproveitado pelo
professor para alcançar objectivos definidos e desenvolver competências, impedindo, desta
maneira, que a escola permaneça alheia à evolução da sociedade na qual se supõe integrada.
Escrever online, em e-mail, fóruns ou posts é uma actividade estimulante que ajuda o aluno a
tornar-se num leitor e produtor de informação para a Web (Richardson, 2006). Para Prensky
(2001), os jovens gostam de estar envolvidos em diferentes tarefas sendo que preferem as
hiperligações à linearidade do texto (Prensky, 2001). Neste sentido, cabe ao professor
aproximar as suas intenções aos interesses dos seus alunos uma vez que se supõe que a
escola acompanhe a evolução da sociedade, da qual os seus alunos fazem parte.
Actualmente, muitos são os jovens que lidam com tecnologias como o podcast ao
serviço dos seus interesses pessoais, pelo que o professor pode aproveitar este conhecimento
e mostrar aos alunos como é possível aprender conteúdos curriculares com recursos às
tecnologias, muitas vezes considerados por eles como aborrecidos. O podcast é um exemplo
entre muitos outros recursos da Web 2.0 (O’Reilly, 2005).
O termo podcast surgiu com Adam Curry em 1994 e para Primo (2005: 17), o podcast
“é um processo mediático que emerge a partir da publicação de arquivos áudio na Internet”.
O termo podcast resulta da junção dos termos ipod (dispositivo de reprodução de
áudio/ vídeo da Apple) e broadcast (método de transmissão ou distribuição de dados), onde um
ficheiro áudio é denominado de epidose (episódio). Enquanto o termo podcast identifica o
produto, o termo podcasting caracteriza a emissão através da Internet (Carvalho, 2009b). “Por
ser uma tecnologia relativamente nova, com inúmeras possibilidades a serem exploradas, o
termo continua ainda muito associado à disponibilização de programação musical que esteve
na sua origem” (Júnior & Coutinho, 2007: 839). No entanto, esta realidade tende a alterar-se
uma vez que os podcasts estão a ser utilizados nos mais variados contextos com os mais
variados fins. Embora seja a nível pessoal e empresarial que se encontram mais podcasts
(disponibilizando o conteúdo de reuniões, telejornais, programas de carácter científico ou de
entretenimento), o contexto educacional começa a ser alvo do interesse de muitos docentes
que reconhecem nesta ferramenta uma excelente oportunidade de transmitir conteúdos e,
assim, ganhar tempo real para acompanhar os alunos de forma individualizada. O podcast
surge então como uma tecnologia alternativa de auxílio ao ensino tanto presencial (Moura &
66
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Carvalho, 2006a) como a distância (Moura & Carvalho, 2006b), pois permite disponibilizar
materiais didácticos como aulas, documentários e entrevistas em formato áudio que podem ser
ouvidos a qualquer hora e em diferentes espaços geográficos (Cruz et al., 2007). É a
emergência do ‘estudo móvel’!
É com base nestes pressupostos e na crença que a integração das tecnologias na
educação é essencial para o desenvolvimento de um país uma vez que forma alunos mais
preparados para o mundo e para o mercado de trabalho (que está em constante
transformação!), que apresentamos, por um lado, as potencialidades que o podcast pode ter
quando integrado no Currículo e, por outro, expomos possíveis usos que o podcast pode
assumir na aula fornecendo sugestões e exemplos concretos.
Potencialidades do podcast na sala de aula
Ao utilizar um podcast o professor alia informação, entretenimento, dinamismo e
rapidez ao processo de ensino-aprendizagem. Mas criar um podcast exige ao professor muita
dedicação uma vez que conceber e dinamizar actividades exige uma grande capacidade de
trabalho e criatividade. Na verdade, o saber que os mesmos conteúdos podem ser abordados
de forma “tradicional” e que, normalmente, não requerem aquele esforço, pode constituir uma
barreira para que o professor utilize estes recursos em aula. No entanto, vencida esta
realidade, o professor pode estar certo que o trabalho que vai desenvolver trará frutos,
sobretudo, no modo como os alunos reagem às actividades propostas (cujo interesse aumenta
a responsabilidade pessoal sobre o que aprende). Ao comunicar na linguagem dos alunos, o
professor capta o interesse daqueles para os conteúdos curriculares que pretende abordar.
Depois, ao propor uma actividade desafiante, o professor envolve os alunos na construção da
sua aprendizagem e possibilita o desenvolvimento de competências gerais como: i)
mobilização de saberes tecnológicos para compreender a realidade e para abordar situações e
problemas do quotidiano; ii) uso adequado de linguagens tecnológicas para se expressar; iii)
adopção de metodologias personalizadas de trabalho e de aprendizagem adequadas aos
objectivos visados; iv) pesquisa, selecção e organização da informação para transformar em
conhecimento mobilizável; v) cooperação com outros em tarefas e projectos comuns; vi)
realização de actividades de forma autónoma, responsável e criativa, entre outras
competências que se podem potenciar e que Abrantes (2001) enumera no Currículo Nacional
do Ensino Básico, Competências Essenciais (Currículo Oficial). Estas competências gerais
devem ser operacionalizadas nas diferentes áreas e dimensões do Currículo sendo que os
docentes devem definir de que modo é possível a operacionalização transversal no campo
específico do seu saber e no contexto de aprendizagem de cada aluno. Pretende-se, assim,
promover uma aprendizagem significativa que, no dizer de Jonassen, Peck & Wilson (1999) é
activa, construtiva, intencional, autêntica e cooperativa/colaborativa.
Dentro de múltiplas vantagens desta ferramenta destacamos a possibilidade de i)
utilizar áudio, textos, imagens, vídeo e hipertexto; ii) permitir a actualização constante; iii) poder
67
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
ser resultado de uma produção individual ou colectiva; iv) ser gratuito; v) permitir o acesso de
forma livre ou mediante registo ao conteúdo publicado; além de vi) permitir aos utilizadores a
recepção das actualizações feitas num podcast por meio de feeds do Real Simple Syndication
(pois quando um utilizador subscreve o serviço RSS é notificado por e-mail sempre que o
podcast subscrito é actualizado, não tendo de o consultar, mas estando sempre a par das
actualizações feitas pelos podcasters) e vii) possibilitar o download dos ficheiros para os
dispositivos de reprodução digital de áudio como ipods, MP3, MP4 players, etc (o que facilita a
audição dos conteúdos ao não ter que estar ligado à Web, podendo escutá-los numa qualquer
situação do seu quotidiano) ou outros dispositivos móveis.
Possíveis usos do podcast na aula
Recentemente, Carvalho et al. (2008a) propuseram uma taxonomia de podcast que
incide em seis dimensões, a saber: tipo, formato, duração, autor, estilo e finalidade (Carvalho,
2009). A existência desta taxonomia permite auxiliar os educadores no momento da criação do
seu podcast, uma vez que a taxonomia proposta não deixa de constituir um precioso recurso
com indicações a levar em consideração quando se cria um podcast.
Antes de avançar na criação de um podcast, é preciso que o autor esteja consciente
que criar um podcast (áudio) ou um dos formatos que emergem daquele como o vodcast
(vídeo), o screencast (captação do ecrã com locução) ou ainda o “enhanced podcast” (vídeo e
a combinação de imagem e locução) exige muita dedicação e grande esforço de trabalho.
Para criar um podcast, o autor (professor e/ou alunos, colegas, especialistas, etc.) deve
desenhar um fio condutor da sua acção que definirá o estilo do podcast: formal ou informal. No
caso particular do ensino, sendo o professor o autor, o podcast pode ser por disciplina, por
unidades temáticas, etc., de tipo Expositivo/ Informativo, Feedback/ Comentários, Instruções/
Orientações e Materiais autênticos (Carvalho, 2009). Estes quatro tipos de podcasts prendemse com a forma como o podcast pode ser utilizado. Assim, e segundo Carvalho (2009), um
podcast de tipo Expositivo/ Informativo incide sobre a apresentação de um determinado
conteúdo, uma síntese do que foi leccionado, um resumo, uma análise, etc. O podcast pode
incidir, igualmente, sobre forma de feedback onde o professor tece comentários sobre
trabalhos dos alunos, propõe caminhos, etc. Também se pode usar o podcast para
disponibilizar instruções, orientações para a realização de trabalhos, visitas de estudo,
orientações precisas, etc. Por fim, podem ser utilizados podcasts feitos para um público mais
alargado, que ultrapasse o alvo estudantil como é o caso das entrevistas de rádio, telejornal,
entre outros.
A forma como se vai constituindo o podcast vai torná-lo mais ou menos formal. No caso
do ensino básico, uma vez que existe uma relação próxima com os alunos, é natural que o
podcast seja informal, sendo, no entanto, que esta questão depende do tipo de podcast criado.
É compreensível que um podcast do tipo expositivo/informativo seja mais formal do que um
podcast do tipo feedback/comentário (Carvalho, 2009).
68
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A finalidade de cada podcast pode ser variada, podendo servir para “informar, divulgar,
motivar para a temática ou para fazer alguma actividade, orientar os alunos para questionarem
sobre determinado assunto” (Carvalho, 2009: 9). Tudo depende do modo como o professor o
coordena nas suas aulas, podendo esta ferramenta da Web 2.0 alicerçar uma abordagem mais
construtivista ou mais behaviorista (Carvalho, 2009)
Importa, igualmente, reflectir no tempo de duração de cada episódio. Júnior & Coutinho
(2007) consideram 30’’ (trinta segundos) como o tempo médio ideal de um podcast pois “o
objectivo de cada episódio é conter uma história curta e directa sobre um conceito e ainda
deixar pistas para a audição de novos episódios” (p.840). Embora concordemos que cada
episódio deva ser curto e suscitar o interesse para novas audições, o tempo indicado parecenos manifestamente curto, mesmo para alunos do ensino básico. Estamos em crer que a
taxonomia proposta por Carvalho et al. (2008a), ao identificar três categorias de podcast: curto
(entre 1 a cinco minutos), moderado (entre 6 e 15 minutos) e longo (com mais de 15 minutos) é
mais precisa. Pensamos que podcasts curtos conseguem manter a atenção dos alunos na
audição e compreensão e têm-se revelado como preferenciais pelos alunos nos estudos de
Carvalho et al (2009). Por isso, o professor deve atender a este aspecto muito importante dado
que é preferível criar mais podcasts do que incluir em apenas um o que pretende, tornando-o
exaustivo.
Para alunos de uma faixa etária entre os 10 e os 15 anos, como constitui o ensino
básico, conviria muito que a duração dos episódios gravados não ultrapassasse os 10 minutos
para que a atenção se mantenha. Ao versar sobre um tópico específico, os podcast de curta
duração captam o interesse do aluno que consegue estar atento à mensagem transmitida e, o
facto do aluno conhecer a voz do professor (ou de outros colegas!), faz com que a tarefa deixe
de ser impessoal, logo sente-se mais à vontade e predisposto para ouvir (o que acaba por
melhorar a relação professor-aluno; aluno-aluno). Além disso, ficheiros demasiado longos, pelo
espaço que ocupam nos servidores gratuitos, inviabilizam a audição/utilização dos episódios.
Também a utilização de música de fundo no podcast é possível, mas o autor do podcast deve
estar atento que esta pode captar a atenção do aluno em detrimento do que é transmitido,
como refere Carvalho (2009). Nesse sentido, e se for mesmo relevante, deve-se optar por
música instrumental e adequada ao assunto narrado. No entanto, devemos estar cientes que
os gostos musicais do autor/professor, podem não coincidir com os dos ouvintes/alunos, o que
os poderá afastar da audição de um assunto que certamente lhes interessaria (senão não
teriam ido até ao site!).
O professor pode, igualmente, gravar as suas aulas até porque, nalgumas disciplinas
em que os conteúdos pouco variam de ano para ano, o professor pode usar o mesmo podcast
rentabilizando o tempo para apoiar os alunos de forma individualizada:
“This technology allows the teacher to be synchronized with her/his pupils beyond
presenting advantages as the writing of lessons which makes possible the teacher to manage
her/his time, over all, in lessons whose contents do not move significantly from one year to the
69
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
other” (Cruz & Carvalho, 2007:314).
O facto dos conteúdos estarem gravados em podcasts possibilita aos alunos, e em
especial àqueles com mais dificuldades recordar e acompanhar os conteúdos programáticos,
permitindo ao professor, em sala de aula, acompanhar mais de perto as necessidades e
exigências dos seus alunos pois, deste modo, ao não ter de estar a falar para a turma (onde
muitas dúvidas nem sequer são levantadas!), pode atender às necessidades individuais dos
seus alunos. Além disso, o facto dos ficheiros poderem ser descarregados para o ipod ou
MP3/MP4 permite aos alunos terem sempre disponíveis os conteúdos que querem ouvir sem
estarem ligados à Web. Também a possibilidade de subscrever feeds permite que os alunos
saibam sempre quando o professor actualizou o podcast e, deste modo, estarem a par dos
conteúdos disponibilizados.
Todas as disciplinas, curriculares e curriculares não-disciplinares, podem beneficiar das
vantagens desta ferramenta. Através do podcast, o professor pode desenhar um modelo que
permita aos seus alunos tornarem-se competentes ao lhes garantir oportunidades de: i)
participar em projectos comunicativos que impliquem um uso vivo da língua em que
comunicam; e ii) utilizar estratégias de recepção, interacção e produção de textos, isto é,
estratégias que lhe permitam satisfazer exigências comunicativas. Torna-se, assim, imperioso
que se criem projectos “que mobilizem de modo produtivo a energia e o interesse dos
aprendentes” (Abrantes, 2001: 41).
Uma vez que, de acordo com o Currículo Nacional do Ensino Básico, se deve potenciar
a competência de comunicação, nomeadamente, “ouvir/ver textos orais e audiovisuais de
natureza diversificada” e “ler, escrever, ouvir e falar em situações de comunicação
diversificadas” (Abrantes, 2001: 47) adequados ao aluno, o podcast pode ser uma ferramenta
que auxilie o professor na concretização destes propósitos.
Existem já diferentes entidades privadas que fazem uso desta ferramenta para
promoverem cursos intensivos de línguas em que falantes nativos falam nos episódios de
forma natural e real, ao contrário dos métodos das editoras, criados artificialmente. Como
qualquer podcast podem ser ouvidos sempre que necessário, a qualquer altura e, por grande
parte ser gratuitos ou mais baratos que os cursos tradicionais, muitos são os que optam por
aprender línguas estrangeiras deste modo.
Além disso, alguns podcast disponibilizam textos de apoio e permitem o contacto com
as pessoas que os elaboraram, tirando dúvidas, colocando questões, etc. Um exemplo deste
tipo de podcast é o PortugueseLingQ
11
que ajuda estrangeiros a aprender Língua Portuguesa
(Fig. 1).
11
http://www.portugueselingq.com/.
70
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 1. Podcast PortugueseLingQ
Outros podcasts dão a conhecer obras, contos e poemas de autores nacionais e
estrangeiros e que podem ser usados pelo professor na sala de aula. São disso exemplo os
podcast “Estúdio Raposa”12 (Fig. 2) ou o exemplo dos podcasts de apoio à disciplina de Língua
13
Portuguesa das professora Teresa Pombo (Fig. 3) e Adelina Moura
14
(Fig. 4).
Figura 2. Podcast “Estúdio Raposa”
Figura 3. Podcast da disciplina de Língua Portuguesa de
Teresa Pombo
Figura 4. Podcast da disciplina de Língua
Portuguesa de Adelina Moura
Estes são apenas alguns exemplos do podcast que servem propósitos educacionais e
que os professores podem tirar partido nas suas aulas. Acreditamos que é através do uso
deste tipo de ferramentas que os alunos se apropriam “da facilidade de publicar e de interagir
na Web através das ferramentas disponibilizadas na Web 2.0” (Carvalho, 2007:35).
12
http://www.estudioraposa.com/;
http://profteresa.podomatic.com/
14
http://discursodirecto.podomatic.com/
13
71
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Um exemplo de utilização do podcast na aula
Na aula de História, como em qualquer outra disciplina do currículo, o podcast pode ser
utilizado de diferentes formas. No nosso caso, realizámos um estudo com uma turma do 9.º
ano (Carvalho & Cruz, 2007;Carvalho, Moura & Cruz, 2008) no intuito de aferir como os alunos
(n=27) reagiram à utilização do podcast em sala de aula. Trata-se de um podcast em áudio, de
tipo expositivo/informativo, criado num estilo formal pela professora (1.º momento do projecto) e
pelos alunos (2.º momento do projecto), de curta duração e com finalidades distintas. No
primeiro momento do projecto, a professora aproveitou esta ferramenta com o objectivo de
motivar os alunos para a temática que se ia abordar nas aulas seguintes e para propor as
actividades planeadas.
O podcast “historianove”
15
versa sobre a Hegemonia e Declínio da Influência Europeia
cuja proposta de trabalho convidava os alunos a ouvirem o episódio gravado, sendo que este
possuía palavras intrusas que deturpavam o sentido lógico da mensagem. Assim, num primeiro
momento, a tarefa proposta aos alunos era a de que depois de ouvirem o episódio,
identificassem as palavras intrusas e, com elas, construíssem um novo texto que transmitiria
uma mensagem coerente sobre o tema em estudo, que por sua vez seria publicado pelos
próprios alunos no podcast, enquanto registo escrito (Fig. 5).
Figura 5. Actividade proposta no podcast da disciplina
Esta actividade permitiu que os alunos desenvolvessem competências, nomeadamente,
a comunicação escrita na produção de pequenas narrativas. Ao relacionar diferentes aspectos
da História através da audição dos episódios e do registo de conceitos históricos,
proporcionou-se aos alunos uma oportunidade para o uso correcto do vocabulário específico
da disciplina. Além disso, os alunos produziram informação para a Web na qual se evidencia a
15
http://historianove.podomatic.com
72
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
sua compreensão da situação histórica partilhada com os colegas da turma e publicada na
Web (Fig. 6)
Figura 6. Resolução da actividade proposta no podcast da disciplina
Esta experiência foi também importante uma vez que ajudou os alunos a tomarem
conhecimento da ferramenta podendo aperceber-se das suas funcionalidades (o que viria a ser
muito importante para o momento de aprendizagem seguinte).
Os dados recolhidos permitiram-nos concluir que aprender a usar o podcast foi
considerado por 59,3% dos sujeitos como fácil e 40,7% consideraram essa aprendizagem
acessível. Nenhum aluno referiu que a aprendizagem desta ferramenta fosse difícil ou muito
difícil (Tabela 1).
Aprender a trabalhar com o podcast foi
f
%
Fácil
16
59,3
Acessível
11
40,7
Difícil
0
0,0
Muito difícil
0
0,0
Tabela 1. Aprendizagem com o podcast (N=27)
O podcast criado para a disciplina de História como auxílio às actividades da aula foi
considerado por 88,9% dos sujeitos como uma ideia desafiante, enquanto 11,1%
consideraram-na pouco desafiante (Tabela 2).
73
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O podcast criado para a disciplina de História como auxílio
f
%
Desafiante
24
88,9
Pouco desafiante
3
11,1
Aborrecida
0
0,0
Muito aborrecida
0
0,0
às actividades da aula foi uma ideia
Tabela 2. O podcast como auxílio às actividades da aula (N=27)
No segundo momento do projecto, os alunos foram convidados a criarem o seu próprio
podcast (no registo do criado pela docente) mas com a finalidade de informar os potenciais
ouvintes, nomeadamente os colegas da turma, sobre a temática que iria ser abordada.
Este segundo momento revela-se como outra forma que o professor tem ao seu dispor
para usar o podcast ao serviço do ensino dos conteúdos curriculares. Desta feita, o professor
pode optar por propor aos alunos que eles criem o seu próprio podcast de auxílio às aulas ou a
actividades propostas. No nosso estudo foi proposto aos alunos que, em pares, trabalhassem
os conteúdos da I e II Guerras Mundiais (Figuras 7 e 8), ao longo de 8 e 10 aulas, nos 1.º e 2.º
períodos lectivos, respectivamente. Em cada aula os alunos trabalhavam um subtema
pesquisando, para isso, informações na Web (e outras fontes se assim o entendessem) sobre
o subtema em questão. Desta feita, os alunos produziriam um texto que seria gravado na aula
seguinte ou em momento a combinar com a docente. As unidades temáticas propostas no
programa curricular foram divididas pela docente nos seguintes subtemas:
I Guerra Mundial
1. A Europa antes da Guerra;
2. A I Guerra Mundial. O armamento utilizado na Guerra;
3. A mundialização do conflito;
4. A participação de Portugal no conflito;
5. A vitória dos Aliados;
6. A Paz ;
7. Consequências da I Guerra Mundial.
II Guerra Mundial
1. As tensões internacionais;
A conquista da Europa pela Alemanha;
2. O Domínio Nazi: o extermínio judaico;
3. A Resistência;
4. A Guerra no Pacífico;
5. A Guerra no Mediterrâneo;
6. Dia D.
74
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O Aniquilamento do Japão;
7. Balanço da Guerra;
8. O novo mapa político.
Figura 7. Podcast criado por um grupo no âmbito do
Figura 8. Episódios narrados no podcast relativos
estudo da I Guerra Mundial
ao estudo da II Guerra Mundial
Assim, os alunos deveriam procurar livremente informação na Web sobre o assunto a
tratar em cada aula e colocar online o ficheiro áudio, previamente gravado com recurso ao
16
Audacity . Deste modo, os alunos participam na construção do seu conhecimento histórico ao
mesmo tempo que utilizam meios informáticos como suporte da comunicação.
Apuramos estatisticamente que a maioria afirmou ter aprendido a seleccionar a
informação mais relevante (74,1%), a sintetizar as ideias principais (77,8%), a organizar
logicamente as ideias (77,8%) e a ter publicado no podcast ajudou-os a produzir textos
(85,2%). Além disso, 59,3% dos inquiridos assinalou que a audição dos episódios narrados por
si ou pelos colegas os ajudou a estudar, inclusivamente, para as fichas de avaliação enquanto
40,7% referem que apenas em parte a audição dos episódios os ajudou no estudo (Tabela 3).
O facto de publicar no meu podcast
ajudou-me a
Analisar com cuidado os documentos
para construir um bom trabalho
Aprender a seleccionar a informação
mais relevante
Sim
Em Parte
Não
f
%
f
%
f
%
21
77,8
6
22,2
0
0,0
20
74,1
7
25,9
0
0,0
16
http://blogs.ua.pt/ficheiros/audacity.pdf. (permite a gravação offline e posterior publicação
online em sites como o Podomatic, MyPodcast, Oddeo, entre outros).
75
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Sintetizar as ideias principais
21
77,8
6
22,2
0
0,0
Organizar logicamente as ideias
21
77,8
6
22,2
0
0,0
Produzir textos
23
85,2
4
14,8
0
0,0
Estudar para as fichas de avaliação
16
59,3
11
40,7
0
0,0
Tabela 3. O podcast como ferramenta para o desenvolvimento de competências (N=27)
A duração média dos podcast criados pelos alunos ronda os três minutos por episódio.
Acreditamos que essa duração é adequada para a mensagem a transmitir e para os futuros
ouvintes que, por ser curta, diminui, na nossa opinião, a tendência a abandonar o podcast.
A avaliação de cada episódio do podcast atendeu à veracidade histórica, ao
cumprimento da tarefa, ao respeito pelo tema em estudo naquela aula e à capacidade de
concluir o estudo no tempo previsto, além de versar sobre as competências a desenvolver,
entre as quais, capacidade de analisar diferentes fontes, seleccionar a informação mais
relevante, sintetizar as ideias principais, organizar logicamente as ideias e produzir textos
coerentes e científicos do ponto de vista histórico.
Sugestões para criar e/ou rentabilizar um podcast
Para criar um podcast não é necessário um conhecimento apurado de software. Na
verdade, as recentes ferramentas da Web 2.0 são criadas de modo a que qualquer utilizador,
com o mínimo de conhecimentos informáticos (e estamos em crer que, actualmente, a grande
maioria dos professores detém esses conhecimentos), possam usá-las nas suas aulas. A
vontade, essa, depende de cada um!
Uma qualquer pesquisa em motores de busca como o Google, permite ao professor
encontrar tutoriais
17
para aprender a criar um podcast (caso opte por tentar saber como se faz
e não comece imediatamente a explorar e criar um!). Pode também consultar o texto de Sousa
& Bessa (2008). Existindo vários serviços de publicação de podcast, optámos por mencionar
18
um dos mais conhecidos entre os utilizadores da Web: o Podomatic . Este serviço possibilita
ao utilizador uma gravação imediata, no entanto, pode-se optar por um método de pré19
gravação, utilizando programas específicos como é o caso do software livre Audacity ,
também ele muito fácil de usar com tutoriais online e impressos. Lembramos que, para a
gravação, deve existir um ambiente calmo e sem barulhos de fundo.
Segundo Carvalho (2009b), o podcast deve ser estruturado com princípio, meio e fim
de maneira a captar a atenção do aluno ao mesmo tempo que se deve procurar a melhor
vocalização possível de maneira a que o discurso seja fluído, sem lapsos. Para o conseguir, o
17
http://tutorial.podomatic.com/; http://www.slideshare.net/sueli/podomatic.
www.podomatic.com
19
http://audacity.soucerforge.net
18
76
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
texto deve ser escrito de forma simples, clara e concisa, bem como a vocalização do mesmo.
Na gravação deve atender-se à entoação, às pausas, ao ritmo da locução (Carvalho, 2009b)
uma vez que a mensagem também pode ser melhor apreendida se aqueles aspectos forem
levados em consideração. Parece difícil? Com a prática tudo se consegue. Como refere
Carvalho (2009b:10), o “importante [é] praticar para ganhar sensibilidade para estes aspectos”.
Se o professor ainda não se sentir à vontade para criar um podcast, sempre pode
rentabilizar os podcast já existentes. Com certeza que pesquisando na Web, os docentes das
várias áreas curriculares encontram publicados podcast que podem servir as suas aulas.
Para rentabilizar os podcast existentes, devem os professores pesquisar o mais
concretamente possível quer nos motores de busca, quer nos sites que disponibilizam
podcasts e que têm um motor de busca interno, muitas vezes apresentando categorias, o que
facilita o encontro de podcast específicos para as aulas, como podemos ver no site Podomatic
(Fig. 9).
Figura 9. Pesquisa no Podomatic
Conclusão
Ao longo deste artigo defendemos a utilização do podcast em contexto escolar
salientando a necessidade da sua utilização em sala de aula com o intuito de ajudar os alunos
a aprender conteúdos e a desenvolver competências, bem como partilhar conhecimentos na
Web tornando-se consumidores e produtores de informação para a Web.
O podcast vem revolucionar o ambiente de sala de aula pois as mudanças que se
produzem na sociedade atingem a escola e conduzem, necessariamente, a uma redefinição do
papel do professor, da sua formação e do seu desenvolvimento profissional (Marcelo, 2002).
Como tivemos a oportunidade de constatar, o uso de podcast em contexto sala de aula
provoca um maior interesse na aprendizagem dos conteúdos e a particularidade de poder
ouvir, tantas vezes quanto se desejar, o mesmo episódio ou outros, permite aos alunos
compreenderem melhor o conteúdo abordado. A possibilidade da aprendizagem poder ocorrer
tanto dentro como fora da escola (através de dispositivos móveis como MP3/MP4, telemóveis,
smartphones, etc.) permite o respeito pelos diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos.
Quando é dada a oportunidade aos alunos de serem eles próprios a gravarem episódios, a
77
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
aprendizagem torna-se muito mais significativa uma vez que a pesquisa e a construção de um
texto para gravar no podcast exige-lhes maior preocupação uma vez que o resultado publicado
estará ao escrutínio de todos, logo, torna-se mais motivante do que o simples acto de ler (além
de competências como a escrita e oralidade podem ser desenvolvidas). Além disso tornam-se
Read/Write Web (Richardson, 2006), ou seja, produtores de informação para a Web,
ultrapassando o mero papel de leitores:
“that is what the Read/Write Web is all about: being able to share what you create
with others […] keep thinking about ways to add these student contributions to the larger
database of learning that’s out here” (Richardson, 2006: 5).
Concluímos, portanto, que é enorme a diversidade de podcasts que se podem criar e
que exigem muito empenho ao professor, mas cremos que vale a pena experimentar! Como
refere Carvalho (2009b), “se [o professor] fizer umas sínteses, explicar um conteúdo que não
ficou muito claro porque a aula acabou, clarificar um exercício complexo […] analisar um
poema, os seus alunos vão apreciar o esforço!” (p.11) e os nossos alunos merecem!
Face a estas possibilidades muito se vai alterar “na forma como interagimos com o
conteúdo e como comunicamos, sendo o mais importante criar situações que envolvam os
alunos na aprendizagem, que os ajudem a desenvolver o pensamento crítico e que os
preparem para a tomada de decisão, numa sociedade globalizada e concorrencial”. (Carvalho,
2007: 36).
Referências
Abrantes, P. (coord.) (2001). Currículo Nacional do Ensino Básico. Competências Essenciais.
Lisboa: Ministério da Educação, Departamento de Educação Básica. Disponível em:
http://www.dgidc.minedu.pt/fichdown/livrocompetencias/LivroCompetenciasEssenciais.pdf
(consultado
a
15/03/09).
Berners-Lee, T.; Cailliau, R.;Luotonen, A.;Nielsen, H. e Secret, A. (1994). The World-Wide Web.
Communications of the ACM, 37 (8), pp. 76-82.
Carvalho, A. (2007). Rentabilizar a Internet no Ensino Básico e Secundário: dos Recursos e
Ferramentas Online aos LMS. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 03, 25-40.
Disponível em http://sisifo.fpce.ul.pt.
Carvalho, A. (org.) (2008). Manual de Ferramentas da Web 2.0 para Professores. Lisboa:
DGIDC, Ministério da Educação. [ISBN 978-972-742-294-4].
Carvalho, A. (2009). Podcasts no ensino: Contributos para uma taxonomia. Ozarfaxinars, n.º 8
Disponível
em:
http://www.cfaematosinhos.eu/Podcasts%20no%20Ensino_08.pdf
(consultado a 26/05/09).
78
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Carvalho, A. A, Aguiar, C., Carvalho, C. J., Oliveira, L. R., Cabecinhas, R., Marques, A., Santos,
H.
&
Maciel,
R.
(2008a).
Taxonomia
de
Podcasts.
Disponível
em:
http://www.iep.uminho.pt/podcast/Taxonomia_Podcasts.pdf (consultado a 25/05/09).
Carvalho, A. A.,Aguiar, C., Santos, H., Oliveira, L., Marques, A. & Maciel, R. (2009). Podcasts in
Higher Education: Students and Teachers Perspectives. In 9th WCCE – IFIP World
Conference on Computers in Education (aceite).
Carvalho, A.; Moura, A., & Cruz, S. (2008b). Pedagogical Potentialities of Podcasts in
Learning: reactions from K-12 to university students in Portugal. In wheeler, S.; Brown,
D.; Kassam, A., (ed.) – LYICT 2008: proceedings of the Joint Open and Working IFIP
Conference ICT and Learning for the Net Generation, Kuala Lumpur, 2008, p. 23-32.
Cruz, S. & Carvalho, A. A. (2007). Podcast: a powerful web tool for learning history. In M. Nunes
& M. McPherson (eds). IADIS International Conference, e-Learning 2007- Proceedings.
Lisboa: IADIS, 313-318.
Cruz, S.; Júnior, J. B..; Coutinho, C. & Carvalho, A. A. (2007). O Blogue e o Podcast para
apresentação da aprendizagem na WebQuest. In P. Dias, C. V. de Freitas, B. Silva, A.
Osório e A. Ramos (orgs), Actas da V Conferência Internacional de Tecnologias de
Informação e Comunicação na Educação – Challenges 2007. Braga: Centro de
Competência da Universidade do Minho, 893-904.
Jonassen, D., Peck, K., & Wilson, B. (1999). Learning with technology: A constructivist
perspective. Upper Saddle River, NJ: Merrill/Prentice Hall.
Jonassen, D. (2007). Computadores, ferramentas cognitivas. Porto: Porto Editora.
Júnior, J.; Coutinho, A. (2007). Podcast em Educação: um contributo para o estado da arte. In
Barca, A.; Peralbo, M.; Porto, A.; Silva, B.D. & Almeida L. (Eds.), Actas do IX Congresso
Internacional Galego Português de Psicopedagogia. Setembro, Universidade da Coruña.
A Coruña, pp. 837-846.
Marcelo, C. (2002). Los profesores como trabajadores del conocimiento. Certidumbres y
desafios para una formación a lo largo de la vida. Educar, nº 30, pp. 27-56.
Moura, A, & Carvalho, A. (2006a). Podcast: Potencialidades na Educação. Revista Prisma.com,
nº3, 88-110.
Moura, A,; Carvalho, A. (2006b). Podcast: para uma Aprendizagem Ubíqua no Ensino
Secundário. In Alonso, L. P. et al. (eds), 8th Internacional Symposium on Computer in
Education. Universidad de León, León, Vol 2, 379-386.
Moura, A. (2008). A Web 2.0 e as Tecnologias móveis. In Carvalho, Ana Amélia Amorim (org.)
(2008). Manual de Ferramentas da Web 2.0 para Professores. Lisboa: DGIDC, Ministério
da
Educação.
[ISBN
978-972-742-294-4],
pp.
121
–
146.
Disponível
em:
http://hdl.handle.net/1822/8286 (consultado a 27/10/08).
Oblinger, D. & Oblinger, J. (2005). Introduction. In D. Oblinger & J. Oblinger (eds), Educating
the Net Generation. Educause.
79
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O’Reilly, T. (2005). What is Web 2.0. Design patterns and Business models for the next
generation of Software. Disponível em: http://www.oreillynet.com/lpt/a/6228 (consultado a
10/01/07).
Prensky, M. (2001). Digital natives, digital immigrants. On the Horizon, 9 (5), 1–2.
Primo, A. (2005). Para além da emissão sonora: as interacções no podcasting. Intertexto, Porto
Alegre, nº13, pp. 1-17.
Richardson, W. (2006). Blogs, Wikis, Podcasts, and Other Powerful Web Tools for Classroom.
Thousand Oaks, Califórnia: Corvin Press.
Siemens, G. (2005). Connectivism: A learning theory for the digital age. International Journal of
Instructional
Technology
&
Distance
Learning,
2.
Disponível
em:
http://www.itdl.org/Journal/Jan_05/article01.htm (consultado a 2/05/08).
Sousa, A. & Bessa, F. (2008). Podcast e utilização do software Audacity. In Carvalho, Ana
Amélia Amorim (org.) (2008). Manual de Ferramentas da Web 2.0 para Professores.
Lisboa: DGIDC, Ministério da Educação. [ISBN 978-972-742-294-4], pp. 41-56.
Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/8286 (consultado a 27/10/08).
Trabalho desenvolvido no âmbito do projecto de doutoramento inscrito no CIEd.
80
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcast “Era Uma Vez…”: utilização educativa
Pedro Miguel Barbosa Dias
[email protected]
Resumo - O podcasting é uma tecnologia emergente com imensas potencialidades na
educação. Apesar da evolução lenta em Portugal, o podcast mostra que pode ser usado
como ferramenta educativa. O podcast “Era uma vez…” é um exemplo de como esta
tecnologia pode ser utilizada nas nossas escolas e consegue trazer benefícios aos alunos,
professores e encarregados de educação.
Introdução
Nos últimos anos, logo após a explosão dos blogues como instrumentos educativos,
surgiu uma nova ferramenta com imensas potencialidades: o podcast. De facto, há uma
expressão que caracteriza, de maneira muito sucinta, o podcast nas nossas escolas: “Falar de
podcast é falar de uma aula que pode ser estudada ou recordada a qualquer momento, em
qualquer lugar.” (Moura & Carvalho, 2006b, p. 158)
Ao longo desta apresentação procuramos compreender melhor o papel do podcasting
na educação em geral e no processo de ensino/aprendizagem dos escalões mais baixos em
particular.
Com base no trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos por professores
inovadores e no projecto “Era uma vez”, iremos tentar fazer uma explicação do processo de
criação de um podcast, dos seus benefícios e potencialidades, das dificuldades sentidas na
produção do mesmo e dos efeitos conseguidos por esta emergente forma de comunicação
junto dos alunos e professores. Contextualizando o estado do podcasting na educação em
Portugal com a realidade nacional, iremos procurar perceber o efeito na cultura escolar desta
tecnologia tão recente e tão atraente para professores e alunos.
Podcasting: O que é?
O podcasting é uma ferramenta que permite distribuir, de forma rápida e automática,
conteúdos digitais (áudio, vídeo e documentos) pela Internet a partir de uma subscrição. O
utilizador, após fazer a subscrição de um podcast, irá receber no seu equipamento os episódios
produzidos pelo autor, assim que estes estejam disponíveis na rede e que o programa
agregador (iTunes, Juice, Winamp, etc.) reconheça a actualização do sítio do podcast.
O Podcasting está baseado numa tecnologia também recente, mas posterior, que
permite ao utilizador da Internet receber as actualizações dos seus sítios sem ter de os
consultar: o RSS (Really Simple Syndication). Na verdade o podcasting surgiu quando foi
possível anexar a um feed (semente) um ficheiro multimédia.
81
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Como surgiu?
A primeira utilização do termo podcast, ou mesmo da tecnologia, é controversa. Vários
são aqueles que reclamam serem os responsáveis pela utilização do termo ou da tecnologia
em primeiro lugar.
A tecnologia surgiu quando se provou que era possível juntar a um código XML
(eXtensible Markup Language) referências a ficheiros externos à página que estava a ser
consultada. Assim (e com o auxílio de um programa agregador que lê os ficheiros XML) tornouse possível ao utilizador fazer o download de ficheiros multimédia para o seu computador
sempre que estes estivessem disponíveis num servidor. Tal tecnologia teve os seus inícios em
2000, quando surgiu a necessidade de se criarem os primeiros audioblogues que, como
associavam os conteúdos áudio ao texto, precisavam de uma nova tecnologia para distribuir
mais facilmente esses conteúdos criados. Contudo, apenas em 2003 é que surgiram as
primeiras linhas de código responsáveis pela automatização do processo a que actualmente
chamamos podcasting. Em Outubro de 2003, Adam Curry disponibilizou no seu blogue um
script que permitia a transferência de ficheiros MP3 a partir de servidor (através de um ficheiro
RSS) para um leitor de música digital da Apple (iPod). Em Fevereiro de 2004, num artigo do
20
jornal the Gardian , Ben Hammersley sugeriu uma série de nomes para esta nova forma de
distribuição de conteúdos digitais. Crê-se que foi nesta altura que surgiu o termo “podcasting”.
Esta expressão, nascida da junção das palavras inglesas “pod” (diminutivo no nome do leitor
de música digital da Apple: iPod) e “cast” (diminutivo da expressão broadcast que significa
emissão) procurou ilustrar o processo de distribuição pensado para os novos dispositivos
multimédia digitais.
Os grandes dinamizadores desta forma de tecnologia foram os produtores de
conteúdos áudio como o audioblogues e as primeiras rádios na internet. Desde essa altura,
principalmente nos países de expressão anglo-saxónica, o número e a abrangência dos
conteúdos disponíveis em formato podcast têm vindo a sofrer um aumento exponencial.
Podcasting em Portugal
Em Portugal, a expressão do podcasting é correspondente à dimensão do país.
Actualmente existem dois tipos de podcasts os “independentes” e os “institucionais” (Faria et al,
2006). Os primeiros a surgir foram os independentes que mais tarde foram seguidos pelos
institucionais.
Por volta de 2005 surgiram os primeiros podcasts independentes, sempre como forma
de experimentação da tecnologia. A maioria dos projectos independentes ao fim de alguns
episódios acabou por terminar.
Pouco depois surgiram também os podcasts “institucionais”, ligados a algumas das
mais conhecidas empresas de média como a TSF e a RDP.
20
http://www.guardian.co.uk/media/2004/feb/12/broadcasting.digitalmedia
82
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Foram as rádios e as empresas de média que conseguiram dar algum impulso à
criação e utilização dos podcasts, devido ao facto de já possuírem o “know-how” na produção e
promoção dos seus conteúdos.
Em termos de conteúdos, não se notou uma dispersão muito grande como nos países
anglo-saxónicos. A maioria dos podcasts independentes versa a música, a tecnologia ou o
formato tradicional do audioblogue. Poucos foram aqueles que se atreveram a abordar
assuntos muito específicos pois ainda não há uma massa crítica suficientemente grande para
absorver os conteúdos criados.
A pouca variedade de conteúdos pode ser encontrada nos directórios portugueses de
podcasting. Estes foram os maiores impulsionadores e promotores do podcasting em Portugal,
visto que agregavam tudo o que era feito em língua portuguesa. Contudo, tal como os podcasts
independentes, os directórios também foram perdendo a energia e tal facto fez-se sentir na
produção nacional. O Lusocast (entretanto extinto) foi um excelente exemplo disso.
Actualmente apenas é possível “medir” o volume do podcasting nacional a partir de projectos
mais ou menos abandonados como o blogue “Podcasting”
21
22
e o directório “Cotonete” . Apenas
o directório presente na loja online iTunes Music Store
23
(acessível apenas através do
programa iTunes) parece estar actualizado. Contudo, como apresenta alguns obstáculos à
inclusão de novos podcasts a quem não tenha uma conta na loja, não é frequente vermos
surgir novos projectos nesta loja. Assim se compreende como os novos podcasts quando
surgem têm dificuldade em promover-se e ao fim de pouco tempo desaparecem.
Aparentemente, apenas os projectos associados ou ligados aos grandes grupos de média
parecem ter a força suficiente para subsistir no mundo competitivo do podcasting nacional.
Podcasting na educação.
Na história do podcasting nacional, os professores mostraram estar atentos e foram
dos primeiros a produzir conteúdos para aplicar nas salas de aula. Alguns professores mais
curiosos decidiram experimentar o podcasting como ferramenta educativa e surgiram as
primeiras experiências em língua portuguesa. São exemplo disso os podcasts “Em Discurso
Directo (I e II)”
Prof. Teresa”
26
24
e “Contos Populares Portugueses”
de Teresa Pombo, “Blog@qui”
27
25
de Adelina Moura, “Arquivos Áudio da
de Sónia Cruz e o “Era uma vez”
28
de Ádila
Faria, Helena Vilas Boas e Pedro Dias. Destes, apenas o último ainda se encontra a produzir
conteúdos. Por diferentes motivos, desde o esgotamento do modelo escolhido e da capacidade
de alojamento até à limitação do tempo com os alunos, os projectos referidos foram deixando
21
http://podcasting.blogs.sapo.pt
http://cotonete.clix.pt/podcast/Directory/directory.asp
23
http://itunes.apple.com/WebObjects/MZStore.woa/wa/viewGenre?id=26
24
http://linade.podomatic.com e http://discursodirecto.podomatic.com
25
http://adelina.podomatic.com
26
http://profteresa.podomatic.com
27
http://professoradehistoria.podomatic.com
28
http://recursoseb1.com/eraumavez
22
83
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
de produzir novos episódios, contudo todos eles continuam disponíveis para serem utilizados
por outros professores e alunos.
Estes projectos, com diferentes motivações e formatos têm em comum o facto de trazer
para as escolas portuguesas uma nova forma trabalhar junto dos alunos os conteúdos
abordados na sala de aula e de permitir que esses mesmos conteúdos fiquem disponíveis em
qualquer lugar. Tornou-se possível aos alunos escolher o local e a hora em que queriam
aprender e consolidar os seus conhecimentos.
De facto o podcasting permite que os alunos encarem os conteúdos didácticos de uma
forma mais positiva e que mudem as suas atitudes em relação à aprendizagem (Carvalho,
Moura, & Cruz, 2008). Além disso a maioria mostra preferir ouvir a simplesmente ler os
conteúdos educativos a partir dos meios tradicionais (idem).
Como ferramenta educativa, o podcasting não é só uma excelente forma de fazer os
conteúdos transpor as paredes da sala de aulas. É também uma excelente ferramenta de
diagnóstico das capacidades de leitura e expressão para os próprios alunos. Além disso, no
caso dos podcasts de contos, esta tecnologia permite aos ouvintes o acesso a variadas formas
de expressão oral, normalmente mais ricas do que aquelas a que têm acesso na sala de aula
ou em casa. Essa variedade e qualidade ajuda à aquisição de competências na leitura
expressiva e na compreensão dos textos.
Os alunos, principalmente os mais velhos, não mostram grandes dificuldades em usar
o podcasting como ferramenta educativa. De facto, nos quatro estudos reportados por Carvalho
et al, (2008, p. 25), as autoras demonstram que a totalidade dos alunos classifica como “fácil”
ou “acessível” a utilização de podcasts.
Uma outra característica muito positiva que pode ser encontrada no podcasting
aplicado à educação é o facto de promover a criação de novos conteúdos por parte dos alunos,
após terem contactado com a ferramenta pela primeira vez. Frequentemente os alunos
mostram interesse por criar os seus próprios conteúdos, de forma a ouvir a sua própria voz e a
partilhá-la com os colegas. No seguimento do estudo já referenciado anteriormente, Carvalho
et al, (2008) referem que os alunos identificaram como fácil a publicação de podcasts através
29
da ferramenta Podomatic .
Num espaço globalizado e em que o acesso à informação é tão rápido e abrangente, “o
podcast surge como uma alternativa viável, prática, com custos quase nulos e também uma
metodologia de ensino/aprendizagem bastante motivadora, que proporciona que o aluno tenha
um papel activo na construção do saber, saindo do padrão de mero consumidor para ser
também produtor de informação na web” (Junior & Coutinho, 2007, p. 845).
Outro motivo que leva os jovens a encarar o podcast de uma forma tão positiva é o
facto de que “o aluno sabe que em qualquer parte do planeta as suas produções podem ser
partilhadas com outras crianças/adulto.” (Faria et al, 2006, p. 44).
29
www.podomatic.com
84
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Além disso, a preparação de podcasts por parte dos alunos é, geralmente, uma
actividade conjunta e “a investigação mostra que a aprendizagem colaborativa tem vantagens
sobre a individualizada,
dividualizada, [assim] temos mais um argumento a favor da utilização desta nova
ferramenta em contexto pedagógico” (Junior & Coutinho, 2007).
Foi neste contexto de experimentação e de descoberta de potencialidades educativas
que
ue surgiu o podcast “Era uma vez…”.
Podcast “Era uma vez…”
30
O Podcast “Era uma vez…” é um projecto direccionado para as crianças, educadores e
professores do ensino pré-escolar,
escolar, primeiro e segundo ciclo. Através da narração de histórias e
pequenos contos de autores portugueses, o podcast procura ser uma ferramenta educativa que
potencie a aquisição de competências na área da língua portuguesa.
Pretende-se
se mostrar o percurso do podcast “Era uma vez…” ao longo dos últimos
anos, as dificuldades sentidas na aplicação
aplicação do projecto e os ganhos detectados nos alunos, na
comunidade à volta do projecto e nos professores dinamizadores do mesmo. Como o projecto
ainda se encontra a funcionar, todos os objectivos (que se conhecerão mais à frente) ainda se
encontram em aplicação
plicação e podem ser (e foram) alterados ou adaptados ao longo da realização
do mesmo.
Figura 1. Aspecto de uma página de um dos episódios do podcast (As fadas verdes)
A ideia
O Podcast “Era uma vez” surgiu em Fevereiro de 2006,
2006, durante uma sessão de
brainstorming na Universidade do Minho. Na altura, os três elementos da equipa: Ádila Faria,
Helena Vilas Boas e Pedro Dias procuravam uma ideia para a construção de uma ferramenta
30
www.recursoseb1.com/eraumavez
85
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
educativa que pudesse ser usada pelas crianças e pelos professores e educadores
portugueses. Esta ferramenta teria de ser inovadora, adaptada às exigências dos tempos
modernos e às necessidades dos alunos e professores.
Visto que o tema do podcasting estava a surgir nas conversas como uma nova forma
de comunicação, a equipa optou por criar uma série de episódios-piloto para apresentar como
trabalho a uma disciplina do Mestrado em TIC.
Nessa altura o podcasting estava a dar os primeiros passos na língua portuguesa, a
par da evolução que vinha a sofrer noutros países como os Estados Unidos. Já existiam alguns
bons exemplos de utilização desta ferramenta por professores, principalmente ao nível do
ensino superior, nos países anglo-saxónicos onde a língua permitia uma maior abrangência
dos programas. Exemplo marcante desta afirmação é a existência de um gigantesco directório
31
de podcasts relacionados com o ensino superior na loja online iTunes . Em Portugal os
exemplos de podcasting no verdadeiro sentido da expressão ou eram inexistentes ou não
passavam de pequenas experiências de professores curiosos e inovadores mas com poucas
consequências ou duração.
Aquando das sessões de brainstorming, foi definido o público-alvo, a periodicidade, o
formato, a duração e o estilo a adoptar. Também foi definido o modo como seriam escolhidos
os conteúdos a explorar.
Formato
Assim sendo, optou-se por um formato que de certa forma ainda se mantém: uma parte
com a narração dramatizada da história e uma segunda parte com comentários acerca da
história narrada e do autor, que visa oferecer mais informação ao ouvinte ou contextualizar
narração que este acabou de ouvir. Ambas as partes seriam acompanhadas por um fundo
musical que procuraria criar um ambiente propício à audição e, no caso da segunda parte, uma
identidade sonora.
Se o formato da primeira parte de cada episódio não sofreu alterações muito evidentes
ao longo destes três anos de emissões, a segunda parte foi sofrendo alterações de forma a
adaptar-se às reacções e feedback que fomos recebendo e sentindo dos nossos ouvintes e
visitantes. No início do projecto, havia um conjunto bastante abrangente de conteúdos
expostos: bibliografia e biografia do autor da obra, conteúdos educativos sugeridos, exercícios
ou actividades a serem desenvolvidos pelas crianças. Ao longo do tempo fomos procurando
responder às sugestões que nos foram chegando e limitamos a segunda parte a um conjunto
de referências explicativas acerca dos autores e das obras. Também acrescentamos uma
secção onde publicitamos iniciativas ligadas à literatura e aos autores referidos no podcast e
noticiamos acontecimentos ocorridos recentemente no mundo da escrita em língua portuguesa.
31
http://itunes.apple.com/WebObjects/MZStore.woa/wa/viewGenre?id=26
86
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Público-Alvo
Tal como a introdução do podcast mostra: “Olá, bem-vindos ao Era Uma Vez, um
podcast para crianças, educadores e professores”, o público-alvo está bem definido.
Crianças do pré-escolar, do primeiro ciclo e segundo ciclo, professores e educadores
que trabalham com crianças destas faixas etárias são aqueles que o projecto procura atingir.
Este público foi escolhido pois os profissionais responsáveis pelo projecto trabalham
com crianças destas faixas etárias e chegaram à conclusão que não existia muito material de
apoio para a língua portuguesa em formato áudio.
Periodicidade
Aquando das primeiras sessões de preparação, o podcast foi definido com uma
periodicidade quinzenal para permitir uma edição cuidada dos episódios. Também se optou por
não fazer interrupções nas férias escolares, de forma a produzir conteúdos para os alunos
poderem ouvir quando quiserem.
Ao fim de quase dois anos de emissões, quando se tornou evidente que não era
possível cumprir a periodicidade planeada devido a vários factores externos ao projecto, a
equipa optou por uma periodicidade mensal. Esta alteração também veio permitir a adição de
novas secções ao podcast como as notícias relacionadas com a literatura e os autores de
língua portuguesa.
Actualmente o projecto tem uma periodicidade irregular. As gravações apenas ocorrem
sempre que é possível juntar os três elementos para a produção do episódio.
Apesar destas dificuldades reconhecemos que a regularidade da apresentação dos
episódios é uma das características que mais influência tem na aquisição de novos ouvintes e
na manutenção dos existentes.
Duração
Ao longo da existência do projecto, a duração sempre foi balizada pelo difícil equilíbrio
entre o tempo necessário para contar uma história e o período máximo da concentração das
crianças. Para isso definimos um limite máximo de vinte minutos para todo o episódio. Destes
vinte minutos cerca de dois terços seriam dedicados à narração e o restante tempo ficaria para
os comentários.
Em alguns episódios foi necessário ceder ao limite imposto para que a história não
ficasse partida ou perdesse a dinâmica pretendida. Noutros casos, em que as histórias
estavam mais orientadas para as crianças do pré-escolar, o tempo do episódio foi reduzido.
Desta forma procurou-se agradar, de uma forma geral, todo o público-alvo do projecto.
Estilo
Para as duas partes constituintes do podcast foram definidas duas formas distintas de
expressão. Para a primeira parte: a narração da história, optou-se por uma narração dramática
87
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
com várias vozes a serem criadas pelos narradores, pela utilização de efeitos sonoros e de
uma trilha sonora de forma a induzir o ouvinte no ambiente desejado. Para a segunda parte de
cada episódio optou-se por um ambiente de diálogo informal entre os participantes. Apesar de
a grande maioria das intervenções estar prevista num guião previamente elaborado, era dada
liberdade a qualquer narrador para se exprimir da forma mais livre e espontânea quanto
possível.
Objectivos
Tal como já foi referido anteriormente, este projecto procurava criar uma nova
ferramenta que pudesse ser usada dentro e fora da sala de aula pelos professores e
educadores, pelos encarregados de educação e pelos alunos.
O projecto pretendia ser uma ferramenta de apoio à aquisição de novas competências
e à cimentação de competências já aprendidas na área da língua portuguesa.
Também granjeávamos com este projecto desenvolver o gosto pela criação de
conteúdos digitais por parte dos alunos envolvidos.
Esforçamo-nos por divulgar, junto das crianças, histórias e autores portugueses, com
vista a aumentar o grau de conhecimento da literatura infanto-juvenil na nossa língua materna.
Este projecto procurou desenvolver em nós e nos nossos ouvintes estratégias de
pesquisa e produção, com vista ao trabalho individual e colectivo e à aplicação desse mesmo
trabalho em novas ferramentas educativas.
A construção da ferramenta
O blogue
Para a construção do podcast e para a sua distribuição os autores optaram pela
plataforma de blogues “WordPress” num servidor próprio. Esta opção deveu-se à necessidade
de alojar os ficheiros áudio num servidor rápido e sem custos adicionais para os produtores.
Para cada episódio do podcast foi criado um post com várias informações de forma a
facilitar a compreensão das histórias e para poder expor ao máximo o conteúdo dos episódios
aos motores de busca. Assim sendo, para cada história existia uma imagem descritiva da
mesma, a indicação do título da obra, do autor, uma indicação da divisão temporal dos
episódios (para facilitar a navegação dentro do ficheiro), a indicação do sítio e do autor de
todas as músicas e efeitos sonoros (devido ao licenciamento da maioria das músicas usadas) e
a listagem das fontes usadas para realizar a parte dos comentários à história.
Os episódios
Para a criação de cada um dos episódios foi usado software livre como o Audacity ou
então software de edição de áudio proprietário como o Garage Band. Normalmente os
88
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
episódios eram gravados todos numa sessão e os erros eram eliminados mais tarde de forma a
apenas ficar disponível o ficheiro com as narrações correctas.
Figura 2. Edição de um episódio através do programa Garage Band (Mac OS X)
Para ajudar à criação do ambiente pretendido foram usadas uma série de músicas e
efeitos sonoros encontrados na Internet. Tanto as músicas como os efeitos sonoros foram
disponibilizados sob licenças que prevêem a cópia e distribuição gratuita dos
dos mesmos.
Para apoiar a gravação dos comentários às histórias foram criados guiões de forma a
facilitar a gravação das conversas entre os intervenientes. Esses guiões foram escritos a partir
da tecnologia de escrita colaborativa Google Docs. Essa tecnologia
ia permitia que os guiões
pudessem ser elaborados à distância e que estes pudessem ser partilhados pelos produtores.
A experiência
Ao longo destes últimos três anos, a experiência adquirida no podcast “Era uma vez…”
tem-nos
nos permitido avançar com mais confiança
confiança em novos projectos com os nossos alunos.
Notamos que os alunos mostram-se
mostram se mais atentos às histórias pois não têm um suporte visual
para apoiar a leitura.
Quando perguntamos às crianças se preferem conhecer as histórias através da leitura
ou da audição
o das gravações, elas referem que preferem este último suporte.
Também recebemos muito feedback nos comentários do blogue. A esmagadora
maioria dele é positivo. Existem comentários de adultos e crianças, professores, educadores e
encarregados de educação, portugueses, brasileiros, espanhóis e até ingleses. Através dos
comentários notamos que o nosso projecto atravessou as fronteiras que tínhamos previsto e é
usado de variadas formas e em múltiplos espaços.
89
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Crianças:
•
“eu sou da escola de s.martinho do porto e adorei ouvir a história da fada
oriana!!! acho ke é uma boa oportonidade para aprendermos … (sic)”
• “Gostei muito de ouvir a Fada Oriana no computador, mas além disso
gostei de ler na escola…”
•
“Esta história ajuda-me e ajudou-me porque eu estou a ler este livro no
plano nacional da leitura e tenho de responder a algumas questões que
vêm para trabalho de casa. Assim oiço a história e tiro conclusões. Muito
Obrigada…”
• “olá eu gostei muito mesmo adoro os livros de luisa ducla soares
obrigada” (sic)
•
“Olá, amigos!!! Ouvi alguns capitulos da fada Oriana e adorei!!! A minha
mana também ouviu alguns e tem a mesma opinião o que é fantástico, a
autora tem muita criatividade !!!!!!!!! Nas histórias de Sophia de Mello
Breyner parece que nós somos as personagens e que participamos na
história!!!!!!!!!! Adoro os seus livros!!!!!!!!!!” (sic)
•
“A história foi gira e engraçada. Gostei quando a velhinha fugiu do lobo a
rolar na cabaça! E quando a velhinha foi para casa e foi salva. Gostei da
música assim fica mais animada a história. Parabéns.”
Adultos, Professores ou Educadores:
• “Gostei muito. Assim é mais entusiasmante do que apenas ler. Parabéns!
As músicas são muito bonitas. Continuem. Eu vou divulgar o site na
escola.”
•
“Ainda hoje não consigo deixar de me comover com o fim da belíssima
história que é a Fada Oriana, que é muito mais que uma história, é um
recurso didáctico que devemos aproveitar até ao ínfimo pormenor, toda a
história, encerra beleza, transmite valores e ensinamentos, que urgem
recuperar. Parabéns. Não se esqueçam da Menina do Mar.”
• “É sempre bom ouvir poesia. Tiveram bom gosto na escolha! A poesia sai
mais enriquecida com essa sonoridade. Estarei atento a mais novidades!”
• “Sou educadora de infância e ando a pesquisar formas de enriquecer e
inovar o meu trabalho… Obrigado por partilharem a vossa sabedoria, a
vossa pesquisa e toda a vossa magia. Existem muitas formas de
completar a nossa profissão, e este vosso trabalho é um bom suporte!
Parabéns e um bem-haja!”
90
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
• “…não sabia que as tecnologias de informação vão a este ponto. Foi a
primeira vez que ouvi falar de um podcast (!) … Considero
pedagogicamente inovador e muito útil ! ...”
• “… A sonoridade da história atrai a atenção de miúdos e graúdos, a
narração interligada à música, bem como a entoação que lhe foi dada,
torna a história mais real e consegue que o ouvinte visualize a acção…”
• “olá é uma história linda… estou a estudar um pouco com o meu filho ,
ele está a estudar essa história na escola, no 4º ano. É linda com final
feliz”
Ouvintes Estrangeiros:
•
“!qué lindo! me gustaron mucho las poesias que lei de los niños de
barcelos y ahora voy a escuchar un cuento. ¿conseguiré que mi hija se
acostumbre a leer en portugués? me gusta lo que haceis. Animo”
• “Ola! (sic) Eu sou inglesa e estou a aprender a falar e ler português. Os
primeiros livros que estou a ler são os de Sophia de Mello Breyner. Gosto
muito da Fada Oriana. Não consigo ouvir nenhum dos capitulos, gostava
de poder ouvir, porque pode-me ajudar muito a aprender português…
Obrigada”
Pensamos que, tanto nós como os ouvintes do podcast, ganhamos uma poderosa
ferramenta no auxílio à leccionação da língua portuguesa. Notamos que os alunos se
encontram mais motivados para ouvir histórias e até para ler. De facto, a maioria dos alunos
mostrou interesse em gravar as suas próprias narrações. Esta situação possui um grande valor
pedagógico pois permite ao mesmo ter consciência dos seus erros e falhas mas também das
suas capacidades e potencialidades na leitura expressiva. Além disso, o podcast permitiu-nos
chegar a um grupo mais abrangente de crianças que ainda não dominam a linguagem escrita e
que apenas se conseguem exprimir oralmente.
Contudo, ao longo de todo este projecto sentimos algumas dificuldades. O tempo
necessário para a gravação e edição de cada um dos episódios foi, provavelmente, o maior
obstáculo que tivemos de transpor. Por cada minuto apresentado, é necessário cerca de quatro
vezes mais tempo só para edição e gravação. Além disso há que acrescentar o tempo
necessário para a pesquisa dos assuntos e obras referidos, para a pesquisa de músicas e
efeitos sonoros para fazer a banda sonora e ainda o facto de ser necessário reunir fisicamente
os três elementos da equipa para proceder à gravação. Tal como já referimos, as limitações de
tempo têm sido colmatadas com a utilização de ferramentas de trabalho colaborativo (a partir
da Internet) como o Google Docs. Estas ferramentas permitem-nos aligeirar o processo de
gravação, contudo muito do trabalho de edição ainda é feito individualmente, o que faz com
que se torne mais difícil apresentar novos episódios com a regularidade prevista e desejada.
91
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Uma outra dificuldade sentida foi o alojamento dos ficheiros. Visto que a única solução
gratuita baseada em Portugal (o www.Lusocast.com) deixou de existir, vimo-nos forçados a
optar por entre soluções gratuitas (com as limitações que se conhecem) e soluções pagas.
Estas últimas foram a opção escolhida visto que permitem um acesso mais rápido e não trazem
os problemas ou inconvenientes das soluções gratuitas. No nosso caso optamos pelo serviço
Amazon S3 que, por um custo baseado no tráfego, nos pareceu ser a melhor opção disponível.
Relativamente ao alojamento do blogue de apoio ao podcast, optamos por manter o alojamento
no servidor do “Centro de Recursos para o 1º Ciclo” visto que este permitia o alojamento
gratuito do projecto.
Frequentemente somos questionados quanto aos direitos de autor quer das músicas e
efeitos sonoros que usamos no podcast quer das próprias histórias. Tal situação é algo que
está sempre na nossa mente quando produzimos cada episódio. Relativamente aos textos,
como optamos por apenas reproduzir autores nacionais, tentamos contactar os mesmos para
pedir autorização para a reprodução integral das obras. Nem sempre obtemos resposta dos
autores, contudo quando a obtemos ela é sempre positiva. No caso de narrações parciais das
obras não achamos necessário fazer o pedido de autorização. Em todos os casos fazemos
sempre referência na gravação e no blogue ao autor e à editora responsável pela publicação
do livro ou da história. Quanto às músicas e efeitos sonoros usados ao longo dos episódios,
usamos apenas ficheiros que possuem uma licença que permita a distribuição sob a forma de
podcast. Para as músicas usamos sítios como o Jamendo.com ou o Magnatune.com que
distribuem gratuitamente música para podcasters. Para os efeitos sonoros usamos uma
colecção de sítios que também distribuem os ficheiros de forma gratuita. Por uma questão de
licenciamento e de cortesia fazemos sempre a ligação para os sítios da Internet dos autores
dos ficheiros usados. Assim torna-se mais fácil para os ouvintes conhecer os autores das
músicas e para os autores saber como e onde a sua música está a ser usada. Da mesma
forma que reconhecemos o licenciamento das músicas usadas, também licenciamos o nosso
podcast com uma licença que permite o download, distribuição e utilização gratuita. Optamos
pela licença “Creative Commons 2.5”. Esta licença já possui valor legal em Portugal e rege
muitas das distribuições de ficheiros na Internet.
Conclusões
Foi com muito agrado que verificamos, ao longo desta caminhada, que o trabalho
desenvolvido com o podcast “Era uma vez…” tem dado origem a frutos por nós muito
desejados. Vimos a oferta de podcasts educativos ou realizados em contexto de sala de aula
multiplicada e também recebemos algum feedback que demonstra os aspectos positivos do
projecto. Uma das consequências mais interessantes do nosso trabalho foi o aparecimento de
novos projectos por parte de outros professores e até de alunos. Visto este ser um dos nossos
objectivos, ficamos visivelmente satisfeitos.
92
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A quantidade de downloads dos episódios surpreendeu-nos em muito e os comentários
(na sua esmagadora maioria) positivos, permitem-nos conjecturar que, mais do que nunca, o
podcast é uma ferramenta com um potencial educativo fenomenal.
Apesar de haver algumas contrariedades à produção regular de podcasts por criadores
amadores ou independentes, esta ferramenta parece-nos ser uma mais-valia para os
professores visto que vai ao encontro das motivações dos alunos (Moura & Carvalho, 2006a),
permite ao professor levar os conteúdos educativos a novos espaços onde normalmente a
escola não chega (Junior & Coutinho, 2007) e faz com que o aluno reflicta e organize os
conteúdos aprendidos de forma a produzir (para o mundo) conteúdos de qualidade ou pelos
quais se sinta orgulhoso (Faria et al, 2006).
Não só o nosso exemplo, como também outros casos de boas práticas referidos nesta
apresentação, são a demonstração de que o podcasting é uma forma bastante eficaz de
aproximar os alunos dos objectivos que o professor pretende (Sousa & Bessa, 2008).
Referências
Carvalho, A. A., Moura, A., & Cruz, S. (2008). Pedagogical Potentialities of Podcasts in
Learning: reactions from K-12 to university students in Portugal. LYCIT 2008, ICT and
Learning Conference for the Net Generation, (pp. 23-32).
Curry, A. (12 de Outubro de 2003). Adam Curry's Weblog. Obtido em 10 de Abril de 2009, de
RSS2iPod: http://radio.weblogs.com/0001014/2003/10/12.html#a4604
Faria, Á., Vilas Boas, H., & Dias, P. (2006). Podcasting na Educação: o "Projecto Era uma
vez...". As Tecnologias de Informação e Comunicação na Escola. Volume 02, pp. 37-47.
Braga: Universidade do Minho.
Hammersley, B. (12 de Fevereiro de 2004). Why is online radio booming. Obtido em Abril de 10
de
2009,
de
the
Guardian:
http://www.guardian.co.uk/media/2004/feb/12/broadcasting.digitalmedia
Junior, J. B., & Coutinho, C. P. (2007). Podcast em Educação: um contributo para o estado da
arte. Libro de Actas do Congreso Internacional Galego-Portugués de Psicopedagoxía
(pp. 837-46). A.Coruña: Universidade da Coruña.
Making
a
podcast.
(s.d.).
Obtido
em
15
de
Fevereiro
de
2009,
de
Apple:
http://www.apple.com/itunes/whatson/podcasts/specs.html
Moura, A., & Carvalho, A. A. (2006). Podcast: Potencialidades na Educação. revista
Prisma.com, nº3 , pp. 88-110.
Moura, A., & Carvalho, A. A. (2006). Podcast: uma ferramenta para usar dentro e fora da sala
de aula. Conferência sobre sistemas móveis e ubíquos (pp. 155-158). Guimarães:
Universidade do Minho.
Podcast.
(s.d.).
Obtido
em
2009
de
Abril
de
10,
de
Oxford
University
Press:
http://www.oup.com/elt/catalogue/teachersites/oald7/wotm/wotm_archive/podcast?cc=glo
bal
93
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcasting. (10 de Abril de 2009). Obtido em 10 de Abril de 2009, de Wikipedia:
http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Podcast&oldid=282978977
RSS. (10 de Abril de 2009). Obtido em
10 de Abril de 2009, de Wikipédia:
http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=RSS&oldid=283045429
Sousa, A., & Bessa, F. (2008). Podcast e utilização do software Audacity. In A. A. Carvalho,
Manual de ferramanteas Web 2.0 para Professores (pp. 41-56). Ministério da Educação.
94
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
95
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Taxonomia de Podcasts: da criação à utilização em contexto educativo
Ana Amélia Carvalho
Universidade do Minho
[email protected]
Cristina Aguiar
Universidade do Minho
[email protected]
Romana Maciel
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo – Este artigo apresenta a taxonomia de podcasts desenvolvida no âmbito do
projecto “Implicações pedagógicas da utilização de podcasts em regime blendedlearning”. Os estudos realizados decorreram na Universidade do Minho, ao longo de três
semestres, e envolveram 6 docentes, 479 alunos, 13 unidades curriculares de licenciatura
e 7 de pós-graduação. A análise dos dados recolhidos fez-se com base nas dimensões
propostas na taxonomia.
Os resultados evidenciamo domínio de podcasts de tipo expositivo/informativo, que
parecem ser passíveis de utilização por qualquer utilizador/ autor, independentemente das
áreas científicas e do grau de formação, para além de cobrir as mais diversas finalidades.
Em termos de duração predominam episódios curtos ou moderados, que correspondem
também à preferência dos estudantes que participaram nos vários estudos. À excepção
de alguns vodcasts, os episódios são maioritariamente ficheiros
áudio, e o estilo
adoptado depende do autor ou da finalidade do podcast.
Em termos da taxonomia proposta, tem sido usada na diversidade de estudos ao longo do
projecto e abarca todas as dimensões e categorias julgadas pertinentes numa
classificação deste tipo de ficheiros. Para além da sua simplicidade e facilidade de
utilização parece poder ser também aplicável aos estudos que na literatura têm vindo a
ser descritos.
Introdução
Os podcasts surgiram em 2004 (Richardson, 2006), com o primeiro programa de rádio
na Internet, e rapidamente se impuseram, devido à fácil produção e edição online. Além disso,
os utentes que subscreverem os seus RSS (Really Simple Syndication) recebem informação
sobre a disponibilização de mais podcasts. Estes podem ser criados em ferramentas da Web
2.0, como o Podomatic ou MyPodcast, ou através de software de edição de som, como o
Audacity. No ensino, há professores que os disponibilizam em ferramentas da Web 2.0, mas
outros optam por os colocar no LMS (Learning Management System), como acontece com
96
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
muitos dos professores do ensino superior (Carvalho et al., 2008a, Salmon & Edirisingha,
2008). A novidade dos podcasts no ensino não reside propriamente no uso de som ou de vídeo
mas, como salienta Campbell (2005), na “facilidade em publicar, na facilidade em subscrever e
na facilidade em usar em múltiplos ambientes” (p. 34).
Uma taxonomia de podcasts ajuda a classificá-los atendendo a diferentes dimensões,
mas também a repensar a sua utilização e diversidade. Há recomendações sobre como criar
podcasts (Geoghagan & Klass, 2005, Walch & Lafferty, 2006, Avgerinou et al., 2007, Hendron,
2008, Ross et al., 2008), sobre aspectos a ter em consideração quando se desenvolvem
podcasts para ensinar e aprender no ensino superior (Edirisingha et al., 2008) e sobre como
avaliar podcasts (Bell, 2007, Austria, 2008, Schrock, 2009), mas não há ainda uma taxonomia
disponível e validada.
No âmbito do projecto “Implicações pedagógicas da utilização de podcasts em regime
blended-learning”, foi estabelecido como um dos objectivos a criação de uma taxonomia de
podcasts. Para tal, baseámo-nos na revisão de literatura efectuada e na nossa experiência
como produtores de podcasts ou como utilizadores de materiais autênticos.
O estudo desenvolvido na Universidade do Minho assentou nos seguintes pressupostos:
- os podcasts não são gravados na aula;
- os podcasts não são usados na aula;
- os podcasts devem ser reutilizados. A reutilização é uma característica importante para
qualquer objecto de aprendizagem, mas obviamente que depende do tipo e do propósito.
Por exemplo, se o podcast apresenta feedback sobre as apresentações feitas numa
turma não fará sentido, em princípio, reutilizá-lo noutra turma.
A taxonomia de podcasts que propomos tem seis dimensões: tipo, formato, duração,
autor, estilo e finalidade (Carvalho et al., 2008b; 2009a), representadas na tabela 1.
Tipo de podcast
Consideramos
quatro
tipos
de
podcasts:
Expositivo/
Informativo,
Feedback/
Comentários, Instruções/ Orientações e Materiais autênticos.
Expositivo/Informativo pode incidir sobre a apresentação de um determinado
conteúdo, uma síntese da matéria leccionada; um resumo de uma obra, de um artigo, de uma
teoria; uma análise; excertos de textos; poemas; casos; explicações de conceitos, princípios ou
fenómenos; descrição do funcionamento de ferramentas, equipamentos ou software, entre
outros;
Feedback / Comentários, como o próprio nome indica, incide sobre o comentário
crítico aos trabalhos ou tarefas realizadas pelos alunos, podendo ser efectivado pelo docente
ou pelos pares. O comentário deve ser sempre construtivo, salientando os aspectos positivos
bem como os aspectos a melhorar, propondo alternativas;
Instruções/Orientações disponibiliza indicações e/ou instruções para realização de
trabalhos práticos; orientações de estudo; recomendações, etc;
97
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Materiais autênticos são produtos feitos para o público, não especificamente para os
estudantes de uma unidade curricular. São exemplo as entrevistas da rádio, excertos de
telejornais e “sketchs” publicitários, entre outros. A expressão é comummente usada no ensino
das línguas estrangeiras (cf. Rosell-Aguiar, 2007) e designa produtos feitos pelos nativos de
uma língua para ser consumida pelos nativos dessa mesma língua.
Formato do Podcast
Os podcasts podem ser áudio, vídeo e a combinação de imagem com locução, que
Salmon e Edirisingha (2008) designam por enhanced podcast. O podcast em vídeo é
designado por vodcast (Salmon & Edirisingha, 2008) ou vidcast (Newbutt et al, 2008),
incluindo ainda a possibilidade de captação do ecrã com locução, neste caso referido como
screencast.
O vodcast poderá ser usado se realmente for relevante para a compreensão do aluno,
como por exemplo uma demonstração, uma montagem de equipamento, uma intervenção
cirúrgica, uma dissecação, uma experiência no laboratório.
O screencast permite fazer tutoriais que se podem rentabilizar em diferentes contextos,
explicando como funciona determinado software, como pode ser explorado, etc. Será uma
economia de tempo para o professor por ter tutoriais que pode reutilizar em diferentes turmas e
que os alunos podem rever se precisarem de confirmar algum pormenor. O podcast áudio,
designado também por audiocast (McLoughlin & Lee, 2007, Webb & Cavanagh, 2008), para
além de ser menos pesado, não exige atenção visual e permite maior liberdade de movimentos
simultaneamente. Favorece os alunos com dislexia e com dificuldades de literacia, como refere
Rosell-Aguiar (2007). Além disso, ouvir é algo natural em nós enquanto ler implica uma
aprendizagem. Durbridge (1984) salienta as vantagens do áudio em relação ao texto impresso,
realçando que a entoação facilita a compreensão. Os alunos visuais (por oposição aos
auditivos) podem não gostar de ter materiais que requeiram audição. Além disso, na nossa
cultura estamos mais habituados a ler enquanto se estuda do que a ouvir. Em Portugal ainda
poucos aderem aos “audio books”, que são muitos usados no Reino Unido e nos Estados
Unidos para se ouvir individualmente ou em família enquanto se viaja de carro, por exemplo.
O áudio é uma grande vantagem para os que gostam de ouvir (Kaplan-Leiserson,
2005; Williams, 2005). A facilidade em parar, recuar e avançar faz dos podcasts algo que
também pode ser atraente para alunos com necessidades especiais ou com ritmos diferentes,
permitindo personalizar o seu processo de aprendizagem.
Duração
Ao longo da revisão de literatura efectuada (Cebeci & Tekdal, 2006, Chan et al., 2006,
Frydenberg, 2006, Lee & Chan, 2007, Salmon et al., 2007) e das reacções dos nossos alunos,
identificámos três categorias de podcasts: curto, moderado e longo. O podcast curto oscila
98
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
entre 1 minuto até 5 minutos, o moderado pode ter de 6 minutos a 15 minutos e o podcast
longo dura mais de 15 minutos.
Tem-se verificado uma preferência dos alunos por podcasts curtos (Carvalho et
al.2008a, 2009a, b). Chan et al. (2006) mencionam que uma canção transmite uma mensagem
e geralmente varia entre 3 e 5 minutos, por isso consideram essa a duração adequada para um
podcast. Vários estudiosos sugerem podcasts de curta duração, embora os conceitos
temporais sejam variáveis. Por exemplo, Cebeci e Tekdal (2006) propõem podcasts que não
ultrapassem os 15 minutos, tempo a partir do qual se regista uma diminuição de atenção na
audição e na compreensão. Salmon et al. (2007) utilizaram podcasts que não ultrapassavam,
na sua maioria, 10 minutos. Walch e Lafferty (2006) consideram que é preferível ouvir um
podcast de 10 minutos, rico em informação, do que um de 30 minutos em que só alguns
minutos apresentam informação e o resto é “show”. Assim, é preferível criar vários podcasts
mais curtos do que ter um único longo.
Autor
O autor do podcast pode ser o professor, os alunos e outras entidades. Clothey e
Schmidt (2008) também consideram três categorias de autoria: os podcasts disponíveis na
Internet, os podcasts criados pelos professores para os seus alunos e os solicitados aos
alunos.
Muitos dos podcasts a usar no ensino são feitos pelo professor para os seus alunos.
Quer seja um conteúdo que não ficou claro, quer seja uma síntese sobre a matéria trabalhada,
um comentário aos relatórios entregues, uma explicação sobre a utilização de um software, ou
instruções para o trabalho a desenvolver num dado laboratório por exemplo, etc. Harris e Park
(2008) consideram o podcast uma oportunidade para o professor enfatizar informação que
considere crítica para os alunos. A voz do professor tem geralmente um impacto positivo nos
alunos (Durbridge, 1984, Richardson, 2006, Salmon et al., 2007, Carvalho et al., 2008a). No
entanto, se a voz for estridente ou monocórdica, pode optar-se por utilizar um sintetizador de
voz. Note-se que a primeira vez que se grava a voz não soa como própria, havendo depois
uma habituação.
Por outro lado, convidar os alunos a apresentarem trabalhos em áudio em vez de
documentos escritos pode ser muito positivo para aqueles que têm dificuldade de escrita mas
facilidade de expressão oral (Kaplan-Leiserson, 2005). Os alunos aderem bem a estas
actividades, quer sejam alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico (Cruz & Carvalho, 2007) quer
alunos do ensino superior (Frydenberg, 2006; Carvalho & Aguiar, 2009).
Podem ainda ser utilizados podcasts feitos por outro (terceiros), por exemplo, colegas,
jornalistas, cientistas, escritores, políticos, considerados materiais autênticos que podem ser
explorados em contexto lectivo.
99
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Estilo
O estilo: formal ou informal do podcast depende muito da relação que o professor
mantém com os alunos e da sua maneira de ser. Uma outra variável é o tipo de podcast. É
compreensível que um podcast do tipo feedback/ comentário seja mais informal do que um
expositivo/informativo, dado o primeiro ser criado para um grupo específico e para uma
situação particular, enquanto o segundo pode vir a ser reutilizado em diferentes turmas ou
contextos.
Finalidade
A finalidade do podcast pode ser muito variada. A título de exemplo, pode servir para
informar, divulgar, motivar para a temática ou para fazer alguma actividade, orientar os alunos
para questionarem sobre determinado assunto, para apresentar uma reflexão, entre uma
enorme variedade de aplicações. O professor tem ao seu dispor recursos que cria com o
propósito de reforçar a sua autoridade ou orientar os seus alunos na aprendizagem. Em suma,
pretende-se salientar que os podcasts não estão ao serviço de nenhuma abordagem teórica,
podendo ser um recurso que pode ser usado para reforçar uma abordagem mais behaviorista
ou mais construtivista. Tudo depende do modo como o professor o utiliza no contexto de
ensino.
Os podcasts podem ser recursos valiosos na economia de sessões mais teóricas. Os
alunos podem ouvir esses conteúdos previamente, havendo mais tempo nas aulas para o
debate, a pesquisa, a negociação do saber e/ou para a elaboração de trabalhos desenvolvidos
de forma colaborativa.
Em síntese representa-se a taxonomia na Tabela 1.
TIPO
FORMATO
DURAÇÃO
AUTOR
ESTILO
FINALIDADE
(minutos)
Expositivo/
Informativo
Feedback/
Comentários
Instruções/
Orientações
Materiais
autênticos
Informar
Áudio
Curto
Professor
1’-5’
Motivar/sensibilizar
Formal
Vídeo:
- vodcast
-screencast
-enhanced
podcast
Moderado
6’-15’
Aluno (s)
Longo
> 15’
Outro
jornalista,
cientista,
político,
etc.
Reflectir
Incentivar a Questionar
Informal
etc.
Tabela 1. Taxonomia de Podcasts (adaptado de Carvalho et al., 2008b)
100
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Para classificar os podcasts produzidos e/ou os seleccionados online poderá utilizar-se
a Grelha para Classificar Podcasts (Carvalho, 2009b), elaborada com base na Taxonomia de
32
Podcasts e disponibilizada no site do projecto . Na grelha acrescentou-se uma coluna com o
número e/ou o nome do podcast, mantendo as dimensões enunciadas.
O estudo
O estudo desenvolvido no âmbito do projecto de investigação “Implicações
pedagógicas da utilização de podcasts em regime blended-learning” foi realizado ao longo de 3
semestres (2007-2009) e nele estiveram envolvidos 479 alunos e 6 docentes-investigadores.
Neste artigo os dados são analisados à luz das dimensões da taxonomia proposta pela equipa
(Carvalho et al., 2009), particularmente no tipo de podcasts.
Para o estudo foram desenvolvidos dois questionários, sendo o de literacia informática
(QLI) destinado a caracterizar a amostra e preenchido no início do estudo e o de opinião (QO)
no final do estudo, para auscultar a reacção dos discentes. Cada docente registava as suas
notas no diário de bordo e preenchia uma grelha de registo do podcast, que continha o
propósito do podcast, a sua duração e uma descrição das dificuldades sentidas, caso tivessem
ocorrido.
Amostra
Neste projecto participaram 372 alunos de licenciatura e 107 de pós-graduação, tendo
uma média de idades de, respectivamente, 21 anos e 32 anos e pertencendo maioritariamente
(67% do total de alunos) ao género feminino (Tabela 2).
Na equipa colaboraram 6 docentes da Universidade do Minho - DA a DF – afiliados
respectivamente às seguintes cinco escolas: Instituto de Educação e Psicologia, Escola de
Ciências, Instituto de Ciências Sociais, Instituto de Educação e Psicologia, Instituto de Letras e
Ciências Humanas e Escola de Engenharia. No total, desenvolveram 13 estudos em unidades
curriculares de ciclos de estudo de Licenciatura e 7 em unidades curriculares no âmbito de
cursos de Mestrado.
Ciclo Curso
L
Estudos Portugueses
Línguas Aplicadas
Educação
Biologia Aplicada
Biologia e Geologia
32
Unidade Curricular
Análise Conversacional (AC)
Linguística Descritiva (LD)
Materiais Educativos Multimédia (MEM 2007/ 8)
Materiais Educativos Multimédia (MEM 2008/ 9)
Tecnologia e Comunicação Educacional (TCE)
Hereditariedade e Evolução (HE-BA 2007/ 8)
Hereditariedade e Evolução (HE-BA 2008/ 9)
Genes e Genomas (GG)
Hereditariedade e Evolução (HE- BG 2008/ 9)
Estudantes
F M Total
6
0
6
13
6
19
14
0
14
8
3
11
23
0
23
29 18
47
27
9
36
29 18
47
20 10
30
http://www.iep.uminho.pt/podcast
101
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Ciências da Computação
Ciências da Comunicação
Sociologia
M
Tecnologia Educativa
Supervisão Pedagógica
Tecnologias e Arte Digital
Educação de Adultos
Intervenção Comunitária
Mediação
Educacional
Supervisão na Formação
e
e
Sistemas Operativos (SO)
Métodos de Investigação (MI 2007/ 8)
Métodos de Investigação (MI 2008/ 9)
Psicologia Social (PS)
Hipertexto (HT)
Sistemas Multimédia (SM 2007/ 8)
Sistemas Multimédia (SM 2008/ 9)
Educação e Tecnologias Multimédia (ETM)
Avaliação da Usabilidade (AU)
10
31
28
14
18
16
9
7
5
33
12
10
1
12
9
8
3
3
43
43
38
15
30
25
17
10
8
Aprendizagem e Comunicação em Rede (ACR)
10
1
11
Liderança e Dinâmica de Grupos (LDG)
6
0
6
Tabela 2. Estudantes envolvidos no estudo (n=479) e respectivos cursos
Os podcasts produzidos
Ao longo do projecto foi disponibilizado um total de 84 podcasts (81 produzidos pelos
professores no âmbito dos vários estudos e 3 correspondentes a materiais autênticos, feitos
por outrém). Paralelamente, os alunos foram também solicitados a criar os seus próprios
podcasts, perfazendo neste caso um total de 34 episódios.
A grande maioria dos episódios foi gravada no software Audacity, sendo guardados
como
ficheiros
mp3
e
disponibilizados
na
plataforma
institucional
de
e-learning.
Alternativamente, foram colocados no Podomatic ou aí gravados directamente.
Os 118 podcasts disponibilizados - 56 para alunos de Licenciatura e 62 para os de
Mestrado - foram classificados tendo em conta as dimensões consideradas na taxonomia de
podcasts proposta pela equipa do projecto (Carvalho et al., 2008b, 2009a) e já atrás descrita.
Para facilidade de análise, optou-se por fazer aqui a sua caracterização atendendo aos tipos de
podcasts usados: expositivos/ informativos (Tabela 3), de feedback/ comentários (Tabela 4),
orientações/ instruçõea (Tabela 5) e materiais autênticos (Tabela 6).
Expositivos/ Informativos
Podcasts deste tipo foram criados por todos os docentes envolvidos no projecto, quer
para cursos de licenciatura (40) quer de Mestrado (36), e representaram o tipo de ficheiros
áudio mais produzido no presente estudo (64% do total de podcasts). Relativamente à duração,
os episódios foram maioritariamente curtos (63), alguns moderados (9) e apenas 4 foram
longos. À excepção de 9 podcasts, todos os restantes foram gravados num estilo informal (I) e
os seus objectivos eram diversificados: desde fornecer informações, descrições, explicações,
sínteses ou conteúdos extra, até motivar para a leitura de um livro ou fazer uma apresentação
individual. Neste último caso, os ficheiros foram produzidos pelos próprios alunos na unidade
curricular de Hipertexto (HT), e eram em formato de vodcasts ou enhanced podcasts. O papel
de produtores de podcasts foi também assumido pelos alunos de Linguística Descritiva (LD)
que produziram 4 ficheiros áudiopara sintetizar assuntos relevantes da matéria leccionada.
102
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Ciclo
L
M
Podcasts
Duração
Finalidade
Estilo Formato
curto
Aplicar conhecimentos específicos,
DA
I
Áudio
AC
adquiridos na aula
1
moderado Aprofundar uma temática abordada
na aula
Est (DA) LD
4
curto
Sintetizar um assunto relevante
I
Áudio
DB
MEM
1
curto
Informar sobre o modo de utilização
I
Áudio
2007/ 8
do fórum na blackboard
HE-BA
Fornecer
resultados
de
2007/ 8
4
curto
aprendizagem e informações sobre
I
os recursos de estudo
Fornecer conteúdo extra através da
1
curto
HE-BA
leitura de um texto
F
2008/ 9
2
curto
Fornecer conteúdos de aula
2
moderado Fornecer conteúdos de aula
Áudio
DC
Fornecer
resultados
de
GG
6
curto
aprendizagem e informações sobre
I
os recursos de estudo
1
curto
Fornecer conteúdo extra através da
F
leitura de um texto
1
curto
Explicar a resolução de um
I
HE-BG
exercício sobre hereditariedade
2008/ 9
1
curto
Fornecer conteúdos de aula
F
2
moderado Fornecer conteúdos de aula
F
DD
SO
1
moderado Descrever conceitos e tecnologia
I
Áudio
Esclarecer sobre o projecto e sobre
1
a participação voluntária
Áudio
DE
TCE
curto
2
Clarificar as regras de avaliação
I
5
Motivar para a leitura de um livro
1
curto
DF
PS
I
Áudio
1
moderado Desenvolver conteúdos extra
2
longo
SM
Indicar aspectos a focar na próxima
1
curto
I
Áudio
DB
2007/ 8
sessão
Esclarecer sobre o projecto e sobre
1
a participação voluntária
DE
ACR
curto
I
Áudio
3
Clarificar as regras de avaliação
5
Motivar para a leitura de um livro
Apresentar-se a um amigo, familiar
Est (DE) HT
21
curto
I
Vídeo
ou empregador
1
curto
DF
LDG
I
Áudio
2
moderado Desenvolver conteúdos extra
2
longo
Tabela 3. Características dos Podcasts Informativos/ Expositivos (n=76)
Autor
Curso
Número
1
Feedback/ Comentários
Podcasts para dar feedback aos alunos, quer individualmente quer em grupo, e com o
propósito de comentar diferentes tipos de tarefas, foram criados por 2 dos docentes (21
episódios) e também pelos alunos de Educação e Tecnologias Multimédia (ETM), neste caso
para comentar o trabalho realizado pelos seus pares (Tabela 4). Todos os podcasts deste tipo
103
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
eram ficheiros exclusivamente áudio, de curta duração, e foram gravados em estilo informal
pelos docentes ou em estilo formal pelos estudantes.
Ciclo
Autor
L
DB
DC
Podcasts
Número Duração Finalidade
Comentar as correcções feitas à análise de
MEM
1
curto software
educativo
multimédia
ou
2008/ 9
videogames
HE-BA
Fornecer feedback ao trabalho realizado em
4
curto grupo
2008/ 9
HE-BG
Fornecer feedback sobre o trabalho
3
curto realizado em grupo
2008/ 9
Curso
1
M
SM
2007/ 8
curto
1
1
1
DB
SM
2008/ 9
curto
1
1
Est. -
AU
1
curto
ETM
6
curto
ETM
9
curto
Estilo Formato
Comentar mensagens dos estudantes no
fórum
Comentar apresentações dos alunos sobre
as teorias de aprendizagem
Comentar os contributos dos alunos no
fórum
Comentar respostas dos alunos a um
questionário sobre literacia informática
Comentar podcasts criados pelos alunos
Comentar respostas dos alunos sobre o
módulo 1
Comentar as dificuldades diagnosticadas na
análise feita a um site
Fornecer feedbacks personalizados
Comentar o trabalho de pares realizado
sobre a análise de software educativo
I
Áudio
I
Áudio
I
Áudio
I
Áudio
I
Áudio
I
Áudio
I
Áudio
F
Áudio
Tabela 4. Características dos Podcasts de Feedback/ Comentários (n=30)
Instruções/ Orientações
Podcasts deste tipo foram criados para orientar os alunos para diferentes tipos de
tarefas, fornecendo algumas instruções e recomendações consideradas úteis pelos 3 docentes
que decidiram utilizar esta tipologia de podcast nos seus contextos pedagógicos. Todos os 9
ficheiros, exclusivamente em formato áudio, eram de curta duração e foram maioritariamente
gravados num estilo formal (Tabela 5).
Ciclo
Autor
DA
Curso
AC
L
Número
1
Podcasts
Duração Finalidade
curto Orientar para uma tarefa
curto
Fornecer recomendações para a
próxima sessão
Orientar para a análise de um site,
para o trabalho de grupo e sua
colocação na Blackboard
2
curto
Fornecer orientações de estudo
1
1
curto
1
DB
DC
M
MEM
2008/ 9
HE-BA
2008/ 9
ETM
DB
1
1
Orientar para o trabalho de grupo
Orientar para o relatório sobre
WebQuest
Fornecer orientações para a tarefa
final
Fornecer recomendações para a
Estilo Formato
I
Áudio
I
Áudio
F
Áudio
F
Áudio
104
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
AU
1
curto
tarefa de revisão crítica de um
artigo
sobre
avaliação
de
usabilidade)
Tabela 5. Características dos Podcasts contendo Instruções (n=9)
F
Áudio
Materiais Autênticos
Podcasts de materiais autênticos foram utilizados por um único docente do projecto,
tratando-se de entrevistas gravadas num estilo informal. Estes ficheiros eram de longa duração
e foram utilizados com o objectivo de informar e motivar os alunos sobre determinados
aspectos da unidade curricular.
Ciclo
Autor
L
Peritos
(DF)
Curso
Número Duração
MI
1
longo
2007/ 8
1
longo
MI
2008/ 9
1
longo
Podcasts
Finalidade
Motivar os alunos e informar sobre
as potencialidades do método da
entrevista
Motivar os alunos e informar sobre
as potencialidades dos métodos de
investigação não intrusivos
Estilo Formato
I
Áudio
Tabela 6. Características dos Podcasts de Materiais Autênticos (n=3)
Reacções aos podcasts
Reacções dos discentes
A maioria dos estudantes (57%) afirmou desconhecer o que eram podcasts aquando
do preenchimento do questionário de literacia informática. No entanto, a grande maioria ouviu
os ficheiros disponibilizados no decurso do projecto (89%) e demonstrou receptividade a
aceder a novos podcasts no futuro (respectivamente 81% e 92% dos alunos de licenciatura e
de mestrado), apesar de alguma resistência inicial à utilização pedagógica desta nova
ferramenta.
Numa sondagem sobre as suas preferências pelo tipo de podcasts, constatou-se que
os estudantes têm preferências diferentes dependendo do ciclo de estudos (Gráfico 1). Assim,
os alunos de licenciatura manifestaram uma preferência clara por podcasts expositivos (48%
dos alunos) seguindo-se os podcasts contendo instruções (32%), os de materiais autênticos
(14%) e apenas 6% dos alunos encontrou utilidade nos podcasts contendo feedback. Para os
alunos de mestrado, o tipo de podcasts mais útil é o que contém instruções/orientações (34%),
seguindo-se os de feedback (29%) e os expositivos (27%) e, por último, os materiais autênticos
(10%). Ressalta assim a ideia de que, na perspectiva dos alunos, a maior utilidade pedagógica
destes ficheiros áudio passa pela disponibilização de materiais que contribuam/ facilitem a sua
105
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
aprendizagem.
Licenciatura
100
Mestrado
Total
80
60
48
40
43
32 34 32
29
27
20
14 10 13
12
6
0
Expositivo
Feedback
Instruções
Materiais
autênticos
Gráfico 1. Utilidade dos diferentes tipos
t
de podcasts para os alunos de Licenciatura e Mestrado
M
(%)
A preferência doss alunos relativamente à duração ideal de podcasts vai claramente
para ficheiros de duração curta ou moderada. Se para os alunos de licenciatura é quase
indiferente ouvir podcasts curtos ou moderados – 39% opta por podcasts entre
entr 1 a 5 minutos e
41% por ficheiros com duração superior a 6 e inferior a 15 minutos - os de Mestrado preferem
indiscutivelmente uma duração mais curta (58% destes alunos).
100
Licenciatura
80
Mestrado
40
Total
58
60
42
39
41
39
29
17
20
10
16
3
3
3
0
1' - 5'
6' - 15'
> 15
s/r
Gráfico 2. Indicação da duração máxima de audição de um podcast para os alunos (%)
Reacções dos docentes
Todos os docentes envolvidos no projecto afirmaram ter gostado de criar e de introduzir
podcasts no apoio às suas unidades curriculares, considerando a experiência muito positiva e
manifestando interesse em continuar a usar esta ferramenta
ferramenta em novos contextos educativos.
Realçaram no entanto que a utilização desta ferramenta consome bastante tempo e
lamentaram
a
falta
de
reconhecimento
institucional
pelo
trabalho
desenvolvido.
Simultaneamente, expressaram o desejo de explorar outras potencialidades
potencialidades e finalidades
destes ficheiros áudio e vídeo no processo de ensino/ aprendizagem.
106
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Considerações finais
A crescente utilização de podcasts como recurso pedagógico no ensino superior e a
necessidade de analisar e validar a sua utilidade e eficácia em tão variados contextos
educativos têm confrontado os seus utilizadores com a necessidade de uma taxonomia para
estes ficheiros. Proposta na sequência dos vários estudos desenvolvidos no âmbito do projecto
“Implicações pedagógicas da utilização de podcasts em regime blended-learning”, a taxonomia
que aqui aplicámos revelou-se simples, de fácil utilização e contempla a diversidade de
dimensões e categorias abrangida pelos 118 podcasts utilizados ao longo deste último ano e
meio. Confrontada com a revisão da literatura, ainda omissa relativamente a uma classificação
de podcasts, embora já rica em recomendações para a sua produção e avaliação, parece-nos
que a taxonomia que propomos é facilmente aplicável aos numerosos estudos que têm sido
descritos e poderá contribuir para uma sistematização dos podcasts que têm vindo a ser
criados/ usados nos mais variados contextos educativos.
Referências
Campbell, G. (2005). There’s Something in the Air: Podcasting in Education. EDUCAUSE 3346.
Carvalho, A. A. A. (2009). Podcasts no Ensino: Contributos para uma Taxonomia. Ozarfaxinars,
nº 8. Disponível em http://www.cfaematosinhos.eu/Podcasts%20no%20Ensino_08.pdf
Carvalho,
A.
A.
(2009b).
Grelha
para
classificar
Podcasts.
Disponível
em
http://www.iep.uminho.pt/podcast/grelha_podcasts.docx
Carvalho, A. A. & Aguiar, C. (2009). Impact of Podcasts in Teachers Education: from
Consumers to Producers. In Proceedings of SITE - Society for Information Technology &
Teacher Education. Chesapeake: AACE, 2473-2480.
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Cabecinhas, R. & Carvalho, J. (2008a). Integração de Podcasts no
Ensino Universitário: Reacções dos Alunos. Prisma.com, nº 6, 50-74. Disponível em
http://prisma.cetac.up.pt/
Carvalho, A. A, Aguiar, C., Carvalho, C. J., Oliveira, L. R., Cabecinhas, R., Marques, A., Santos,
H.
&
Maciel,
R.
(2008b).
Taxonomia
de
Podcasts.
Disponível
em
http://www.iep.uminho.pt/podcast/Taxonomia_Podcasts.pdf
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Santos, H., Oliveira, L., Marques, A. & Maciel, R. (2009a). Podcasts
in Higher Education: Students and Teachers Perspectives. In 9th WCCE – IFIP World
Conference on Computers in Education (aceite).
Carvalho, A. A., Aguiar, C. & Maciel, R. (2009b). ). A Taxonomy of Podcasts and its Application
to Higher Education. In ALT-C (aceite).
Cruz, S. & Carvalho, A. A. (2007). Podcast: a powerful web tool for learning history. In M. Nunes
& M. McPherson (eds). IADIS International Conference, e-Learning 2007- Proceedings.
Lisboa: IADIS, 313-318.
Durbridge, N. (1984). Audio cassettes. In A. W. Bates (ed.), The Role of Technology in Distance
107
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Education. Kent, UK: Croom Helm, 99-107.
Frydenberg, Mark (2006). Principles and Pedagogy: The Two P’s of Podcasting in the
Information Technology Classroom. ISECON – EDSIG, 23, 1-10.
Geoghengan M. & Klass, D. (2005). Podcast Solutions: The Complete Guide to Podcasting.
Berkley, CA: Apress.
Hendron, J. G. (2008). RSS for Educators: Blogs, Newsfeeds, Podcasts, and Wikis in the
Classroom. Washington, DC: ISTE.
Lee, M. J., & Chan, A. (2007). Reducing the Effects of Isolation and Promoting Inclusivity for
Distance learners Through Podcasting. The Turkish Online Journal of Distance
Education,
8(1),
85-104.
Disponível
em:
http://tojde.anadolu.edu.tr/tojde25/articles/Article_7htm
McLoughlin, C. & Lee, M. (2007). Listen and learn: A systematic review of the evidence that
podcasting supports learning in higher education. In C. Montgomerie & J. Seale (Eds.),
Proceedings of ED-MEDIA. Chesapeake, VA: AACE, 1669–1677.
Moura, A. & Carvalho, A. A. (2006a). Podcast: Potencialidades na Educação. Prisma.com, nº3,
88-110.
Disponível
em
http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/5_adelina_moura_e_ana_amelia_carvalho_prisma.pd
f
Moura, A. & Carvalho, A. A. (2006b). Podcast: para uma Aprendizagem Ubíqua no Ensino
Secundário. In L. Alonso, L. González, B. Manjón & M. Nistal (eds), 8th Internacional
Symposium on Computer in Education. León: Universidad de León, Vol 2, 379-386.
http://adelinamouravitae.com.sapo.pt/amourapodcastingsiie06.pdf
Moura, A. & Carvalho, A. A. (2006c). Podcast: uma ferramenta para usar dentro e fora da sala
de aula. In Rui José & Baquero C, (eds), Conference on Mobile and Ubiquitous Systems
(CSMU 2006). Guimarães: Universidade do Minho, 155-158.
Newbutt, N., Flynn, R. & Penwill, G. (2008). Creating a suitable and successful solution for the
integration of Podcasting and Vidcasting in a Higher Education E-Learning Environment.
In C. J. Bonk, M. M. Lee, T. H. Reynolds (eds). Proccedings of E-Learn, Chesapeake,
VA: AACE, 3028-3033.
Richardson, W. (2006). Blogs, Wikis, Podcasts, and Other Powerful Web Tools for Classrooms.
Thousand Oaks, California: Corwin Press.
Salmon, G. & Edirisingha, P. (2008). Podcasting for Learning in Universities. Berkshire:
McGraw-Hill.
Salmon, G., Nie, M., & Edirisingha, P. (2007). Informal Mobile Podcasting And Learning
Adaptation (IMPALA). e-Learning research Project Report 06/07. Beyond Distance
Research Alliance. University of Leicester.
Scottish Council for Educational Technology (1994). Audio Technologies in Learning. Glasgow:
SCET, 24-25.
Walch, R. & Lafferty, M. (2006). Tricks of the Podcastings Masters. Indianopolis: QUE.
108
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Watson, R. & Boggs, C. (2008). Vodcast Venture: How Formative Evaluation of Vodcasting in a
Traditional On-Campus Microbiology Class Led to the Development of a Fully Vodcasted
Online Biochemistry Course. In C. J. Bonk, M. M. Lee & T. H. Reynolds (Eds),
Proceedings of E-Learn 2008. Chesapeake, VA: AACE, 3309-3316.
Webb, E. and Cavanagh, G. (2008). How Mobile is your Podcast? In Proceedings of World
Conference on Educational Multimedia, Hypermedia and Telecommunications 2008, pp. 39543958. Chesapeake, VA: AACE.
Williams, B. (2007). Educator's Podcast Guide. Washington: ISTE.
Investigação
realizada
no
âmbito
do
projecto
financiado
pela
FCT,
com
a
referência
PTDC/CED/70751/2006, integrado no CIEd.
109
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Da rádio ao podcast: princípios a não esquecer ao microfone
Vítor Manuel Santos Diegues
[email protected]
Resumo -A presente comunicação tem por objectivo sensibilizar professores e educadores
para a importância da utilização da voz associada a cuidados a ter ao microfone. Enquanto
comunicadores, damos pouca importância à nossa voz. Conhecer um pouco o nosso
aparelho fonador permite-nos valorizar esse “dom” natural que é comunicarmos uns com os
outros. “Olhar” para um microfone com outra perspectiva é também outro dos objectivos
deste artigo.
A Webrádio e as várias formas de exploração deste meio é um veículo de grande actuação
social. Através desta ferramenta, professores e alunos têm acesso à informação, ao
entretenimento e à aprendizagem. A produção e gravação de conteúdos áudio, onde os
podcasts conquistam terreno, divulgados, por exemplo, através de uma Webrádio, são
inquestionavelmente mais-valias na transmissão de conhecimentos.
Utilizar estratégias de comunicação de rádio neste processo é ampliar as possibilidades de
sua concretização. Estratégias tais como uso adequado da voz, utilização de recursos de
áudio para facilitar a transmissão de conhecimentos, adaptação de processos educativos
com o recurso da rádio e de podcasts, são algumas das vantagens que a escola actual
poderá proporcionar à comunidade educativa.
Introdução
Para Wolton (1999) comunicação é, antes de mais, uma experiência antropológica
fundamental. Refere este autor que, intuitivamente, comunicar consiste em trocar algo com
alguém. Dito de outra forma, não existe vida individual e colectiva sem comunicação.
O Homem, na Pré-história, servia-se apenas da voz para comunicar, tanto
presencialmente como à distância. Contudo, começou a aperceber-se que o alcance da voz
era muito reduzido e recorreu a outras formas de comunicar, utilizando, por exemplo,
instrumentos de percussão, onde o tambor era o mais utilizado, até porque tinha um alcance
muito maior. Outra estratégia era o uso de fogueiras, permitindo a comunicação a distância.
Neste caso, o código era muito primário e o conteúdo da mensagem era muito elementar.
Podemos dizer que do mesmo modo que não há homens sem sociedades, também
não
há
sociedades
sem
comunicação.
Assim,
neste
sentido
a
comunicação
é,
simultaneamente, uma realidade e um modelo cultural, e que os antropólogos e os
historiadores
identificam
progressivamente
os
diferentes
modelos
de
comunicação,
interpessoais e colectivos, que se sucederam na História. A comunicação nunca existe por si,
110
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
ela está sempre ligada a um modelo cultural, partindo do princípio que comunicar consiste em
difundir, divulgar e paralelamente interagir com um indivíduo ou com uma comunidade.
Entretanto, os tempos foram mudando e hoje em dia quando falamos de comunicação
associamo-la de imediato às novas tecnologias.
Para Canavilhas (2008) a influência da Internet, nas mais diversas áreas de
intervenção humana, provocou alterações profundas nas rotinas profissionais e lúdicas dos
cidadãos.
Bassets (1981), citado por Júnior & Coutinho (2008), refere que num mundo como este
em que vivemos, onde quase nada está ainda à espera de ser inventado, as principais
surpresas advêm de novos usos de velhos inventos. Exemplos dessa realidade é a rádio que,
embora constitua um meio de comunicação bastante antigo, está em constante actualização
acompanhando os avanços da tecnologia e as possibilidades associadas que esta proporciona.
Surge, então, a Webrádio em que a linguagem utilizada não é exclusivamente verbaloral, mas sim um resultado de uma simbiose de elementos sonoros (música, efeitos sonoros,
episódios) que anexado à voz do comunicador/locutor lhe dá aquela particularidade
comunicativa da rádio. Ainda nesta linha de pensamento surge mais recentemente, por volta de
2004, o podcast, uma tecnologia alternativa extremamente potente para ser utilizada ao serviço
do processo de ensino e aprendizagem. Refere Richardson (2006), citado por Carvalho et al
(2008), que os podcasts, resultam do termo podcasting da combinação de ipod e broadcasting,
ou seja, emitir através da Internet. Acrescentam estes autores que alguns podcasts combinam
música e locução, mas outros são depoimentos, apresentação de conteúdos ou reflexões
sobre determinados temas.
Num mundo globalizado onde o tempo é escasso, o podcast surge como uma
tecnologia alternativa extremamente potente para ser utilizada o serviço do processo de ensino
e aprendizagem tanto na modalidade a distância (e-learning) ou como no complemento ao
ensino presencial (b-learning). De facto, o podcast permite ao professor disponibilizar materiais
didácticos como aulas, documentários e entrevistas em formato áudio que podem ser ouvidos
pelos estudantes a qualquer hora do dia e em qualquer espaço geográfico. O estudante pode
aceder à informação disponibilizada pelo professor e descarregá-la para o seu dispositivo
móvel, utilizá-la onde e quando quiser e ainda interagir com o professor sob a forma de
comentários deixados no aplicativo, (Júnior & Coutinho, 2008).
Esta ferramenta da Web2.0 é um importante veículo de transmissão de conhecimentos
e saberes. Para Carvalho (2009), citando (Oblinger & Oblinger, 2005) e (Prensky, 2001), os
podcasts pertencem à geração Net; eles são nativos digitais. Nasceram rodeados pelas
tecnologias da informação e comunicação, os jogos de computadores, os comandos, os
telemóveis, as mensagens (SMS e MMS), o MSN, entre outros. Estão frequentemente online.
Acedem e recebem informação rapidamente. (Carvalho, 2009).
Para produzir conteúdos, realizar, por exemplo um episódio, é necessário ter alguns
cuidados com a voz bem como uma correcta utilização do microfone. Estes dois importantes
111
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
factores contribuem substancialmente para que o resultado final seja mais bem conseguido e
que suscite mais interesse do ouvinte, ou do receptor do conteúdo. Neste sentido, conhecer o
aparelho fonador e os cuidados a ter com a voz é um assunto que diz respeito a todos os
professores e comunicadores em geral.
Apesar de não darmos a atenção devida, todos sabemos da grande incidência de
alterações vocais em professores que, muitas vezes, interferem com o bom desempenho de
uma das suas principais funções que é, como sabemos, comunicar. A causa de tais alterações,
na maioria das vezes, está relacionada com o mau uso e/ ou abuso vocal. Os professores são
dos profissionais que mais dependem da voz e, por isso mesmo, dos que maior esforço vocal
fazem.
Para Fontes (2006) comportamentos abusivos como falar durante muito tempo, falar
com forte intensidade para superar o ruído da sala de aula, numa postura inadequada, com voz
abafada, presa na garganta, utilizando um padrão respiratório inadequado, e hábitos
inadequados, podem levar ao aparecimento de disfonias funcionais.
A docência exige o uso intensivo da voz, e para que o professor corresponda a essa
necessidade sem que haja prejuízos ao seu trabalho e à qualidade de vida, a sua voz deve ser
saudável e produzida correctamente, tanto em contexto sala de aula como quando se utiliza a
voz na gravação de conteúdos áudio.
Acrescenta Fontes (2006) que para uma voz ser considerada “normal” ou saudável,
tem que ser clara e limpa, emitida numa intensidade adequada ao ambiente, produzida sem
esforço ou cansaço ao falante, devendo representá-lo quanto à idade e sexo. Na presença de
alteração nalgum destes aspectos, considera-se que há uma disfonia, termo referente a
qualquer alteração na emissão vocal que impeça ou prejudique a produção natural da voz.
Para o professor, uma disfonia tem um impacto directo no seu desempenho profissional, bem
como na sua qualidade de vida, uma vez que limita a utilização da voz, baixa a resistência
vocal e interfere negativamente no seu bem-estar.
Sendo, portanto, a voz factor de extrema importância na comunicação, quando
recorremos ao microfone, para a produção de conteúdos áudio, há alguns pormenores que
devemos conhecer.
O Microfone
Um factor importante para apreciar uma boa voz prende-se com uma boa gravação
inicial, que por sua vez começa com uma escolha acertada de um microfone. Existem dois
tipos de microfones – dinâmicos e condensadores. Os microfones condensadores são
normalmente melhores para captar voz, porque conseguem captar mais detalhes e
modulações. Os microfones dinâmicos tendem a ser mais baratos, mas muitas vezes
constituem a melhor solução, nomeadamente em situações de elevado ruído ambiente. A
maioria dos microfones necessitam de estar ligados a uma interface áudio ou a um préamplificador, para obter melhores resultados. Contudo, actualmente, já existem versões USB
112
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
de ambos os tipos de microfones, contendo conversores analógico-digitais
analógico digitais e permitindo uma
ligação directa à porta USB do seu Mac. O ideal é que a voz seja gravada num nível correcto e
sem clipping, de modo a que o som o seja o mais natural possível. Se vir que é necessário,
utilize materiais que absorvam o som, de forma a eliminar todos os ruídos exteriores
exter
e o
excesso de eco. Vá monitorizando com os auscultadores, já que estes isolam as vozes, das
faixas instrumentais, permitindo um maior controlo. Uma vez terminada a gravação dos vários
takes, é provavelmente que tenha captado uma boa interpretação, pelo
pelo que poderá começar a
criar uma versão final editada e misturada da sua música com a faixa vocal.
Tipos de microfone
Existem diferentes tipos de microfone, que devem ser escolhidos em função dos
objectivos pretendidos.
Figura
F
Figura 1. Microfone omnidireccional
Os
microfones
omnidireccionais
captam
captam
todos
os
sons
envolventes,
independentemente da direcção de onde provêm. São bons para registo do som ambiente e
quando quem fala se encontra relativamente próximo do microfone.
FF
Figura 2. Microfone unidireccional
113
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Os microfones unidireccionais captam
captam apenas os sons provenientes de uma direcção,
pelo que têm de estar voltados para a fonte sonora. São bons para registo de conversas e
entrevistas, devendo ser orientados para cada pessoa que fala.
Figura 3. Microfone superdireccionais
Os microfones superdireccionais são
são telemicrofones de grande precisão. Captam a
grande distância. Têm de ser rigorosamente apontados para a fonte sonora, devido ao
reduzido ângulo de captação. São úteis quando não nos podemos aproximar da fonte sonora
ou há exagerado ruído que dificulta a captação dos sons pretendidos.
Figura 4. Microfone com zoom
Os microfones com zoom são
são microfones direccionais. Permitem a captação de sons
distantes. Devem
evem estar apontados para a fonte sonora. São úteis quando não nos podemos
aproximar da fonte sonora. Instalados no suporte da câmara, permitem sincronizar o
funcionamento com o zoom da câmara, tornando-se
tornando se mais ou menos direccionais.
Figura 5. Microfone de narração ou de entrevista
114
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Os microfones de narração ou de entrevista estão acoplados
acoplados no suporte da câmara,
permitem efectuar gravações vocais, tais como narrações e entrevistas.
Figura 6. Microfone de lapela
Os microfones de lapela são de
d pequenas dimensões e permitem ser fixados na lapela
do casaco ou na camisa, sendo bons para entrevistas. São omnidireccionais. É necessário
cuidado para evitar ruídos provocados pelo movimento da roupa.
Em muitos casos, quando se efectua a montagem de curtas metragens (caso dos
vídeos didácticos), os sons registados durante a filmagem são simplesmente ignorados. São
substituídos por fundo musical e locução, que se juntam posteriormente à montagem das
sequências de vídeo, de acordo com as indicações do guião.
Normalmente
ormalmente em comunicação dá-se
dá se pouca importância ao microfone, um dos mais
importantes equipamentos no sistema de som. Enquanto comunicadores é importante valorizar
o papel do microfone. Assim, o microfone é um dispositivo electromecânico utilizado para
converter o som - energia mecânica - em energia eléctrica. Os microfones têm muitas
aplicações, como por exemplo nos telefones, gravadores de fita, aparelhos auditivos e nas
transmissões de rádio e televisão. Os modelos convencionais possuem um diafragma que
qu vibra
de acordo com as pressões exercidas pelas ondas sonoras.
Tecnicamente um microfone é constituído por uma bobine móvel, diafragma, íman e
uma saída de áudio frequência.
Para Fernandes (2009
2009)) o microfone está para um sistema de sonorização assim como
com
o ouvido está para o corpo humano. Assim, o microfone é o responsável por captar a onda
sonora e transformá-la
la em algo que os equipamentos electrónicos (amplificadores, mesas de
mistura, etc.) possam entender e usar. Dito de outra forma, o microfone comporta-se
comp
exactamente como o ouvido humano, ou seja, o nosso ouvido capta as ondas sonoras e
transforma-as
as em sinais eléctricos para que o cérebro as entenda e processe através da fala.
O microfone é um aparelho muito sensível. Há, portanto, alguns cuidados a ter quando
se utiliza:
a)
não bata no microfone.
one. Pode danificar o diafragma;
b)
não sopre no microfone. Há a tendência de soprar “um dois … um dois”. Ao soprar há
a tendência em “enviar” uma quantidade significativa de saliva para o microfone que se vai
acumulando. Para além
lém de depois deixar mau cheiro, danifica o sistema de áudio frequência;
115
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
c)
não grite. Se gritar, a gravação do som vai seguramente ficar distorcida, (a voz fica
“rachada” e a sua gravação não apresenta o mínimo de qualidade).
Cuidados a ter ao microfone
De acordo com Júnior & Coutinho (2008) antes de se fazer uma gravação áudio, é
necessário ter em atenção alguns cuidados tanto na preparação do documento que se vai ler
como nos cuidados a ter com a utilização do microfone. Assim, entre outras recomendações,
os autores sugerem:
“- Preparar o material em papel, ler em voz alta para conferir a pontuação correcta, já que a
falta de vírgulas e pontos, ou uma leitura demasiado rápida, poderá levar o ouvinte a
interpretações distintas do objectivo proposto.
- Realizar a leitura do texto com boa entoação, tentando fazer um discurso como se estivesse a
manter diálogo com o ouvinte.
- Realizar a gravação longe de fontes de ruídos.
- Manter uma distância média (nem muito próximo, nem muito distante) do microfone para não
prejudicar a qualidade da gravação.
- Cronometrar o tempo de leitura total do episódio antes da gravação, evitando desta forma
uma gravação sem desfecho, ou gravação repartida por excesso de tempo.
- Caso ocorram erros após a gravação do episódio como, por exemplo, muito tempo em
silêncio (no início ou fim da gravação) utilizar programas de edição de áudio para realizar os
cortes das partes indesejadas.
- Como recurso auxiliar utilize sons ou músicas de fundo nos episódios. As músicas e sons
devem enriquecer a apresentação, por isso a escolha da mesma deverá passar por um
processo de selecção.
- Lembrar sempre da questão dos direitos de autor quando disponibilizar som ou música que
ainda não faça parte do domínio público.
- A transição entre assuntos deve ser claramente percebida, com recurso a sons ou entonação
vocal; a falta destes recursos pode comprometer a qualidade do episódio;
- Ao convidar pessoas para a gravação de episódios (entrevistas e debates), deixar claro o
objectivo e o tempo da gravação para que o convidado não ultrapasse o tempo nas respostas;
- Escolher o software que melhor se adeqúe às capacidades financeiras e tecnológicas do seu
projecto, pois em alguns casos é possível rentabilizar os episódios com recursos e aplicativos
mais sofisticados. Porém é possível realizar bons episódios com os softwares gratuitos
disponíveis na Web.
- Após a gravação do episódio, verifique o tamanho (em Kb) do ficheiro. Caso o mesmo esteja
muito grande é possível realizar a conversão do ficheiro para outros formatos a fim de
comprimir o tamanho do mesmo. Esta preocupação é fundamental, pois ficheiros muito
carregados demoram a serem enviados para a Web (upload) bem como para download e
dificultam também o seu armazenamento por quem possuí dispositivos de tamanho reduzidos.
116
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
- Gravar episódios de 20 a 30 minutos, pois episódios de tamanho superior podem cansar e
desviar a atenção do ouvinte;
- Conferir sempre a altura do volume do microfone antes de gravar o episódio, pois gravações
em volume muito alto ou muito baixo, podem definir o fracasso do episódio.
- Ouça o novo programa antes de divulgá-lo” (p:132-133)
Alguns anos atrás os microfones não possuíam a tecnologia e o potencial dos dias de
hoje. Com a qualidade dos actuais microfones, há outras potencialidades de ampliar a voz e
de lhe dar outros efeitos, daí se verificarem gravações de conteúdos áudio com melhor
qualidade sonora. Assim há mais motivação para fazer uma locução de um podcast, partindo
do princípio que, geralmente, a maior parte das pessoas não gosta de ouvir a sua voz gravada
num conteúdo áudio. Mas com as novas tecnologias há uma motivação acrescida, qualquer um
de nós pode fazer as suas gravações e tudo vai do começar. Aliás, fazer um podcast é uma
actividade que nos pode dar imenso prazer.
É importante salientar outros cuidados a ter ao microfone quando se prepara para fazer
uma gravação áudio. Mas, antes disso, convém salientar que o conteúdo do podcast deverá
ser original e criativo realçando a proposta ou ideia principal a ser transmitida no episódio.
Paralelamente as informações devem ser precisas, consistentes e sucintas, ou seja, deve
transmitir só o essencial e que o objectivo principal seja, obviamente, suscitar o interesse do
destinatário do conteúdo/mensagem.
Agora quando falamos ao microfone não há fórmulas mágicas para se formar um bom
locutor/ comunicador. Todavia, existem alguns recursos que, quando bem aproveitados,
facilitam a locução:
- Antes de usar um microfone, deve testá-lo com o restante equipamento, verificar se tudo está
operacional. Tente adaptar o microfone da forma que lhe der mais jeito efectuar a gravação,
partindo do princípio que há microfones com vários características e funções de
funcionamento, por exemplo, podem ser suportados por um tripé de mesa ou pode ser um
microfone incorporado nos auscultadores;
- Cuidado com a respiração, pois o microfone vai captá-la e amplificá-la. Deve evitar “respirar”
ao microfone. Aliás há estudos que referem que uma das coisas que mais demonstram que um
locutor/comunicador é iniciante é a forma pela qual é feita a inspiração antes de começar a
falar. O microfone amplifica os “movimentos” da voz e os “ruídos” provocados pela boca. É
extremamente desagradável ouvirmos alguns tipos de ruídos provocados pela língua, dentro da
boca, durante a locução.
Dar valor à (nossa) voz. Conhecer o aparelho fonador
De uma forma simples, diz-se que a “voz” é o som produzido pela vibração que o ar
vindo dos pulmões causa nas pregas vocais posicionadas na laringe.
117
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Aparelho Digestivo
Órgão
Função Fonatória
Lábios
Articulação de sons bilabiais (B,P,M) e labiodentais (F,V)
Dentes
Escoamento do som
Língua
Participa na produção de sons
Palato (céu da
boca)
Faringe
Projecção da voz
Caixa de ressonância
Tabela 1. O aparelho fonador
Para Gomes (2007) o aparelho fonador é formado por dois aparelhos, o aparelho
digestivo (Tabela 1) e o aparelho respiratório (Tabela 2) e tem a função de produzir sons. O
aparelho fonador é dividido em cinco partes, sendo estas apresentadas na Tabela 3, bem como
os seus diversos componentes e respectiva função.
Aparelho Respiratório
Órgão
Função Fonatória
Cavidades Nasais
Vibração e amortização do som (ressonância nasal)
Faringe
Amplia os sons (caixa de ressonância)
Laringe
Vibrador (contém as cordas vocais)
Traqueia
Suporte para vibração das cordas vocais
Pulmões
Fole e reservatório de ar para vibrar as cordas vocais
Musculatura
respiratória
Produção de pressão no ar que sai
Tabela 2. O aparelho respiratório
A produção do som depende basicamente do ar e da laringe, local onde estão situadas
as cordas vocais. Refere Gomes (2007) que a laringe é composta por três anéis de cartilagem.
Dentro desses anéis estão situadas as cordas vocais, que são pequenos músculos com grande
poder de contracção/extensão, sendo classificadas em: verdadeiras e falsas. As verdadeiras
situam-se na parte inferior da laringe e as falsas na parte superior. O som da voz normal é
produzido pelas verdadeiras e o falsete pelas falsas. Durante a respiração as cordas vocais
encontram-se abertas, na produção de som elas fecham-se, e o ar faz pressão, causando uma
vibração que produz som.
118
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Partes, componentes e função do aparelho fonador
Parte
Componentes
Função
Pulmões, músculos
Produtores
abdominais, diafragma,
Produzem a coluna de ar que
músculos intercostais,
pressiona a laringe, produzindo
músculos extensores da
som nas cordas vocais.
coluna.
Vibrador
Laringe
Produz o som fundamental
Ressonadores
Cavidade nasal, faringe, boca
Ampliam o som
Articuladores
Lábios, língua, palato mole,
Articulam e dão sentido ao som,
palato duro, mandíbula (maxilar
transformando os sons em nasais
inferior)
e orais
Ouvido – capta, localiza e
conduz som
Sensor/coordenador
Cérebro – analisa, regista e
Captam, seleccionam e
arquiva o som
interpretam o som
Tabela 3. Partes, componentes e funções do aparelho fonador
Como sabemos, o ser humano é o único ser capaz de produzir voz. Através deste som
articulado expressamos os nossos pensamentos, sentimentos e transmitimos as nossas
vontades. Se atendermos que a fala é o meio de expressão e comunicação mais importante,
qualquer distúrbio da voz pode ter profundas implicações na vida social e profissional de uma
pessoa.
Quando utilizamos a nossa voz na gravação de ficheiro áudio (p.e. podcast) é, antes de
mais, importante conhecer o nosso aparelho fonador.
119
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Para Fontes (2006) a voz é um som produzido pelo corpo humano e é uma das
melhores formas de exprimirmos os nossos sentimentos. Com a voz choramos, cantamos,
gritamos e falamos. Numa palavra, com a Voz: comunicamos.
A voz é produzida pelas pregas vocais, que estão localizadas na região da garganta, e
para que isso aconteça é necessário que o ar que vem dos pulmões toque nas pregas vocais
fazendo com que estas vibrem e produzam um som que é amplificado nas cavidades de
ressonância, ou seja, faringe, boca e nariz, e modificado pelos dentes, lábios, língua e palato
mole (a parte posterior do céu da boca).
De acordo com este autor, quando estamos a produzir qualquer conteúdo áudio e/ou a
comunicar devemos ter em conta:
a)
Posição relaxada e mobilidade laríngea;
b)
Posição da língua plana e relaxada, tocando com a extremidade nos incisivos
inferiores;
c)
Posição correcta do corpo, falando com naturalidade e sem rigidez;
d)
Sustentação da coluna do ar com o diafragma e impulsioná-lo até aos ressonadores;
e)
Aquisição de um esquema corporal correcto.
f)
Pronunciar com clareza e exactidão vogais e consoantes, articulando bem;
g)
Não deixar cair as sílabas finais;
h)
A articulação deve ser um pouco exagerada, “saboreando” as sílabas.
i)
O som das palavras deve ter um timbre claro, limpo, sonoro, fácil e produzir-se sem
esforço.
Principais problemas de voz em Professores/Comunicadores
De acordo com Fontes (2006), os principais sintomas vocais que sinalizam um
problema de voz em professores são: cansaço e esforço ao falar, falhas na voz ao final do dia
ou da semana, rouquidão, pigarro, voz mais grave e perda nos tons agudos, ardência ou
secura na garganta, dor ao falar, sensação de garganta raspada, falta de volume e projecção,
pouca resistência ao falar, entre outros.
Neste sentido, é importante realçar que o desgaste na voz ocorre, na maioria das
vezes, de maneira lenta e gradual. Isto é, numa fase inicial podem surgir sinais e sintomas que
não provocam mudanças perceptíveis na voz (rouquidão, falhas, etc.), verificadas por veias
salientes no pescoço, ardências ou secura na garganta, tensão no pescoço e ombro, entre
outros. Acontece que muitos professores não relacionam estes sintomas ao uso da voz,
adiando uma ida ao médico para a obtenção de um diagnóstico adequado, o que se repercute
na manutenção e evolução de lesões, quando presentes.
Higiene Vocal: cuidados com a voz
Quando gravamos um podcast devemos escolher a altura em que a nossa voz está
mais bem preparada e se apresenta em melhores condições. Normalmente isto acontece da
120
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
parte da manhã, em que a voz não está tão cansada. Está mais fresca. Mas se for necessário
gravar um podcast áudio, mesmo que aconteça ao final do dia, ou mesmo à noite, devemos ter
alguns cuidados:
- Beber água ao longo do dia é uma boa sugestão (no mínimo dois litros de água por dia). É
importante que a água esteja à temperatura ambiente, não sendo aconselhado beber água
gelada. Refere Fontes (2006) que a ingestão de água é fundamental para a voz, pois as pregas
vocais precisam estar lubrificadas para vibrarem adequadamente;
- Evitar fumo. O fumo do cigarro agride directamente a mucosa das pregas vocais, causando
“ressecamento”, irritação e inchaço, alterando a qualidade da voz;
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas em excesso. Além de irritar a mucosa, o álcool
anestesia e altera as sensações ao falar.
- Fazer refeições leves antes do trabalho, dando preferência às verduras, legumes e frutas, e
evitar o consumo de alimentos gordurosos e condimentados que dificultam a digestão;
- Mastigar bem os alimentos também é importante, pois a mastigação realizada com
movimentos amplos de mandíbula é um bom exercício para a dicção;
- Evitar o uso de pastilhas à base de menta, pois elas anestesiam a garganta e fazem com que
o professor/comunicador não perceba que está a forçar a voz;
- Dormir bem (cerca de 8 horas/dia) é de fundamental importância, pois o descanso é um
grande aliado para uma boa voz;
- Falar de forma tranquila: respirar adequadamente, pausadamente, procurando não esmagar a
voz nem usar o “ar de reserva” durante a conversa;
- Monitorizar a voz – aprender a ouvir e a avaliar a qualidade vocal e a reconhecer as
sensações de tensão/esforço desnecessários;
- Procurar, pelo menos uma vez por ano, ser observado por um otorrinolaringologista.
(Fontes, 2006, p:5-7)
Notas finais
O projecto rádio, enquanto meio de divulgação e “alojamento” de conteúdos áudio,
amplia a possibilidade na melhoria da qualidade de comunicação e concorre para auxiliar o
processo de transmissão de conhecimentos. Além disso, cria condições para que seja outra
forma de disponibilizar e divulgar conteúdos educativos, como acontece com os podcasts. A
Webrádio disponibiliza técnicas e experiências que podem contribuir substancialmente para a
melhoria do ensino-aprendizagem. Portanto, implementar a linguagem de rádio no processo de
ensino cria uma nova alternativa para estimular a melhoria da qualidade de educação e as
condições de trabalhos dos profissionais envolvidos no processo educativo. Por outro lado,
estas ferramentas da Web 2.0 são, na sua maioria, gratuitas e fáceis de utilizar. Os podcasts
são um exemplo bem evidente, até porque têm várias vantagens. A propósito, refere Carvalho
(2009), os podcasts podem ajudar a desinibir alunos tímidos. Permite-lhes falar para o
microfone em privado, em vez de enfrentarem um grupo de colegas, e constitui ainda uma
121
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
forma de terapia para alunos com problemas de dicção. Os podcasts áudio podem também ser
rentabilizados em alunos com dificuldades visuais. Prossegue a autora que a finalidade do
podcast pode ser muito variada, mas a título de exemplo pode ser para informar, divulgar,
motivar para a temática ou para fazer alguma actividade, orientar os alunos para questionarem
sobre determinado assunto. O professor tem ao seu dispor recursos que cria com o propósito
de reforçar a sua autoridade ou para orientar os seus alunos na aprendizagem.
Com o avanço das tecnologias a Internet deu um grande salto, no princípio das suas
actividades era vista apenas como fonte ou repositório de informações, hoje em dia o leque de
opções, disponíveis online é infinito, sendo que a cada dia surgem novas funcionalidade para
serem testadas. Estas funcionalidades são bastante variadas, como por exemplo, temos os
blogs, os fóruns, os editores de texto online, os jogos e quizzes interactivos, os laboratórios
virtuais, o podcast, os e-portefólios, os wikis, as webquests entre muitos outros. (Júnior &
Coutinho, 2007).
Os ambientes virtuais de ensino ou de aprendizagem, como muitas pessoas as
definem, são uma espécie de plataforma onde um grande número de recursos são
disponibilizados para a gestão de conteúdos e alunos. Para Santos (2002, p.426), citado por
Junior & Coutinho (2007), os ambientes virtuais de aprendizagem podem ser definidos como
“espaços fecundos de significação onde seres humanos e objectos técnicos interagem,
potencializando, assim, a construção de conhecimentos, logo, a aprendizagem”. Ou seja, são
ambientes dotados de recursos pedagógicos que se bem empregados podem contribuir para o
ensino e a aprendizagem. O diferencial destes ambientes é a facilidade de instalação,
configuração e manuseamento, ou seja, não é preciso saber programação para utilizar e
disponibilizar conteúdos, isto faz com que os professores se sintam mais à vontade para
explorar e desenvolver seus conteúdos. A modalidade de ensino através do e-learning traz
muitas vantagens à educação, como por exemplo: a flexibilidade no acesso ao ensino e aos
conteúdos, a possibilidade de interactividade, a possibilidade de acesso em qualquer parte do
mundo, a rapidez na comunicação, entre muitas outras.
É aqui que recorremos, com relativa facilidade à gravação de conteúdos áudio. Utilizar
os meios técnicos é uma tarefa que está mais facilitada, com programas de gravação fáceis de
utilizar. O programa Audacity é um
exemplo. Igualmente importante é, enquanto
comunicadores, saber cuidar da nossa voz, e quando produzimos conteúdos áudio temos que
ter a perfeita noção que do “outro lado” estão diferentes tipos de destinatários. O objectivo é
que a mensagem seja entendida e que a comunicação e a qualidade sonora sejam eficazes.
Referências
Boone, D. (1982) - The boone voice program for adults : remediation. Austin : Pro-Ed.
Canavilhas, J. (2008). Cinco Ws e um H para o Jornalismo Web. Revista Prisma.com n.º7, pp
153-172.
122
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Carvalho, A.A. (2009). Podcasts no Ensino: Contributos para uma Taxonomia. Ozarfaxinars,
n.º8. Disponível em http://www.cfaematosinhos.eu/Ed_ozarfaxinars_n8.htm
Carvalho, A.A.C., Aguiar, C., Cabecinhas, R., Carvalho, C.J. (2008). Integração de Podcasts no
Ensino Universitário: Reacções dos Alunos. Revista Prisma.com, n.º6 pp. 50-74.
Deller Jr. R., Proakis, J. G., and Hansen, J. H. L., (1993). Discrete-time Processing of Speech
Signals. Macmillan Publishing Co.
Fernandes,
D.
(2009).
Microfones:
Amigos
ou
Inimigos?
Disponível
em
http://www.musicaeadoracao.com.br/tecnicos/sonorizacao/microfone_amigo.htm
consultado a 8 de Maio de 2009.
Fontes, V. (2006). Os Professores “Contadores de Histórias” e a Voz. Curso Integrado de
Estudos Pós-Graduados em Geografia Humana – Território e Desenvolvimento (FLUP).
Universidade Católica.
Gomes, C. (2007). Relatório de Práticas de Tecnologias de Informação. Autenticação
Biométrica por Reconhecimento de Voz. Universidade do Minho. Braga.
Junior, J. B. & Coutinho, C. P. (2007). Podcast em Educação: um contributo para o estado da
arte. In Barca, A.; Peralbo, M.; Porto, A.; Silva, B.D. & Almeida, L. (Eds.): Actas do IX
Congresso Internacional Galego Português de Psicopedagogia. A Coruña: Universidade
da Coruña, 2007, pp. 837-846.
Junior, J.B. & Coutinho, C.P. (2008). Rádio e tv na web: vantagens Pedagógicas e dinâmicas
na utilização em Contexto educativo. Revista Elos TEIAS: ano 9, nº 17, pp. 101-109.
Junior, J.B. & Coutinho, C.P. (2008). Recomendações para Produção de Podcasts e Vantagens
na Utilização em Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Revista Prisma.com, n.º6, pp.
125-140.
Oliveira,
H.J.C.
(1999).
Noções
Básicas
de
Vídeo.
Disponível
em
http://www.prof2000.pt/users/hjco/videoweb/Pg001020.htm, consultado a 9 de Junho de
2009.
Wolton,
D.
(1999).
Pensar
a
Comunicação.
Disponível
em
http://www.4shared.com/dir/625300/e7206f51/Comunicao.html, consultado a 6 de Abril
de 2009
123
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Formas de reforçar a mensagem áudio e de captar a atenção do ouvinte
Maria Aldina Marques
ILCH-Universidade do Minho
[email protected]
Resumo - O uso de podcast em contexto académico reformula a interacção pedagógica
tradicional, em sala de aula, marcada pela presença dos interlocutores que, em diálogo ou
melhor plurílogo, partilham o mesmo quadro espácio-temporal.
Na interacção pedagógica em podcast a relação professor-aluno torna-se mais imprevista,
menos controlada, em consequência do novo formato monologal que isola o aluno do
contacto directo com o professor e com o grupo – turma, os quais configuram uma
dimensão fundamental do contexto comunicativo que lhe é familiar.
O sucesso deste novo tipo de interacção depende das estratégias usadas, verbais e
paraverbais, de forma a suprir esse contexto comunicativo de referência e, sobretudo,
tornar o texto realizado cognitivamente “atractivo” e eficaz.
Comunicação verbal e novas tecnologias
As sociedades ocidentais são sociedades da escrita. O ensino sendo também ele
ensino da escrita assenta na interacção oral face a face. Particularmente ao nível dos estudos
da linguagem, foi a língua escrita que, desde a Antiguidade Clássica, concentrou as atenções
dos gramáticos. Saussure (1916), em pleno século XX, e marcando um momento fundamental
de uma nova disciplina, a Linguística, proclama o primado da oralidade sobre a escrita na
caracterização das línguas naturais, mas foi preciso esperar pela segunda metade do século
XX, pelas disciplinas de análise do discurso em interacção (“talk-in-interaction”) – e por novas
tecnologias – para haver, efectivamente, uma atenção ao discurso oral.
Não significa, contudo, que este domínio fosse absolutamente ignorado. A Fonética
como disciplina linguística tem uma história bem mais longa. Remontam também à Antiguidade
Clássica as primeiras reflexões sobre os sons. Mais ainda, com Aristóteles, a Retórica na sua
atenção aos discursos públicos inclui nos processos de construção que individualiza a “actio”,
cuja importância havia já sido determinada para a Poética. São três as características fónicas
consideradas: volume da voz, entoação e ritmo, que modelam o dizer, pela expressão das
emoções.
« Il est donc clair qu’il y a aussi pour la rhétorique un art tel celui qui s’applique à la
poétique (…) L’action consiste dans l’usage de la voix, comment il faut s’en servir pour
chaque passion… » Aristóteles (Rhétorique, III, 1403b, p. 39).
124
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Mas a base de consideração da actio é o texto planeado, memorizado e finalmente
verbalizado na praça pública, a ágora. Não se trata nunca de texto oral espontâneo.
Assim, só com as teorias pragmáticas da linguagem em uso a oralidade é
efectivamente considerada como objecto de estudo. As novas tecnologias suportam também
esta viragem, desde o simples gravador que permitiu que pela primeira vez na história dos
estudos da linguagem fosse possível recolher produções orais e analisar as suas
características fónicas segmentais e suprassegmentais. O rápido desenvolvimento tecnológico
na área da comunicação permitiu ir além deste uso instrumental e criar novas formas de
comunicação verbal.
A construção dos podcasts aplicados ao ensino é mais do que o uso das novas
tecnologias, é um alargamento da interacção pedagógica, pela criação de novas formas de
comunicação. Para além do ensino presencial que moldou – e molda ainda – a relação
professor-aluno, as formas novas de e-learning questionam a competência discursiva dos
interlocutores do discurso pedagógico. As novas tecnologias dão origem a novas formas de
comunicação pela criação de novos suportes de difusão da interacção. A variação social e
cultural, a evolução das sociedades faz aparecer novas formas de comunicação (Marques,
2003). Os géneros do oral alteram-se e, no que aqui nos concerne, alteram as formas
tradicionais de ensino.
A questão da oralidade, das suas características, torna-se um domínio de investigação
fundamental.
Neste texto, a partir de uma perspectiva da análise do discurso, que assenta a
construção teórico-metodológica na análise de discursos autênticos, será desenvolvida uma
reflexão sobre os novos contextos de construção de podcasts, em particular o quadro
comunicativo e formas de “condicionamento” da construção da interacção verbal. Assim,
determinei dois objectivos principais, o segundo dos quais especificado em três novos
objectivos:
1. Caracterizar a interacção verbal em sala de aula.
2. Determinar as características fundamentais da construção da interacção verbal em
podcast.
2.1. evidenciar dimensões da construção discursiva importantes para a construção de
podcasts “académicos”;
2.2. evidenciar a importância dos elementos contextuais na construção da interacção
verbal;
2.2.1. salientar a dimensão prosódica da construção discursiva.
Actividades de estruturação da interacção verbal oral. O discurso em sala de aula
Comecei por afirmar que as sociedades ocidentais são sociedades da escrita. Uma das
consequências de tal situação é que todo o sistema de ensino é ensino da cultura escrita, que,
no entanto, e de forma paradoxal, assenta na interacção oral face a face, ao mesmo tempo que
125
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
as práticas escolares se caracterizam por uma real e efectiva desatenção a estas dimensões.
Mesmo se o texto oral começa agora a entrar nos programas do ensino básico e secundário
enquanto conteúdo específico da aula de língua materna, esta vertente do uso da língua
continua esquecida ou secundarizada.
Da parte da linguística tradicional, poderemos obter alguma informação, mas limitada
por questões teóricas e metodológicas: o objecto de análise é a frase, descontextualizada, e
muitas vezes “inventada” pelo próprio investigador. Os sons das línguas, bem como os
fenómenos prosódicos, suprassegmentais, são estudados de forma isolada ou em sequências
fónicas que não vão além da frase.
Só a perspectiva pragmática da linguagem em uso, e em particular a linguística do
discurso, toma como objecto de investigação as interacções verbais efectivamente produzidas.
Não havia, portanto, um conjunto de saberes que pudessem servir de base ao
conhecimento completo e sistemático das interacções e, particularmente, à previsão de novas
situações comunicativas dentro do discurso pedagógico-didáctico. O panorama da investigação
linguística alterou-se no entanto com o advento da Análise Conversacional que teve, aliás,
como objecto primeiro as interacções na sala de aula (a obra de referência fundamental é
Toward an analysis of discourse – the English used by teachers and pupils, publicada em 1975
e da autoria dos etnometodólogos J. M. Sinclair e R. M. Coulthard).
O ponto de partida da análise é a interacção. M. Bakhtine (1977:136) havia já afirmado
que a realidade fundamental da linguagem é o diálogo, ou por outras palavras, a língua é
dialógica, prevê os interlocutores. Gumperz (1982:29) explicita o mesmo princípio: “Speaking is
interacting”. Com efeito, é no e pelo discurso que se comunica e, por conseguinte, se constrói a
significação, num processo dialógico e interactivo que convoca o universo de conhecimentos,
crenças e valores dos interlocutores, a sua experiência e as suas expectativas. Comunicar é
agir, é construir colectivamente o discurso. A interacção verbal é então o lugar de produção
colectiva do sentido Não basta pois conhecer as regras linguísticas para comunicar. O sentido
do texto/discurso não decorre unicamente da dimensão verbal. Outros conhecimentos de
carácter social, psicológico e textual (que integram a competência comunicativa do falante) são
necessários ao exercício da interacção verbal. Acresce que o contexto da interacção não lhe é
exterior, antes faz parte do discurso enquanto actividade de comunicação, como refere KerbratOrecchioni (2002: 135):
« Le discours est une activité tout à la fois conditionnée (par le contexte) et
transformatrice (de ce même contexte) ; donné à l’ouverture de l’interaction, le contexte
est en même temps construit dans et par la façon dont celle-ci se déroule ; définie
d’entrée, la situation est sans cesse redéfinie par l’ensemble des événements discursifs.»
De natureza exclusivamente extralinguística ou também linguística, os factores
contextuais são considerados sempre em termos gerais, integrando/definindo diferentes tipos
de situação. Kerbrat-Orecchioni (1990:77) faz a análise do que denomina de quadro
comunicativo, a partir de uma proposta anterior de Brown e Fraser (1979):
126
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
quadro comunicativo (Situation)
cena
(Scene)
participantes
(participants)
quadro espacial
objectivo (purpose)
-temporal-social (Setting)
Figura 1. Quadro comunicativo (adaptado de Kerbrat-Orecchioni, 1990:77)
A determinação do quadro comunicativo da interacção na sala de aula é importante
para conhecer as suas especificidades e estabelecer continuidades e descontinuidades
relativas ao quadro comunicativo da interacção professor - aluno em podcast.
Caracterização quanto ao quadro espacial-temporal-social
A interacção em sala de aula é um evento comunicativo institucionalizado, que se
caracteriza por um conjunto de rituais que concernem, nomeadamente, à organização espacial
dos interlocutores. Com pequenas variações na disposição do espaço “sala de aula”, a
interacção professor – aluno caracteriza-se por uma particular organização proxémica que
privilegia o contacto visual entre o professor e todos os alunos.
O meio de comunicação é oral e é uma interacção verbal face a face. O registo
linguístico próprio deste género de interacção é heterogéneo, depende das características do
evento comunicativo que varia entre momentos de verbalização de discursos previamente
planeados, mais formais, e que são por vezes a actualização de uma escrita prévia, a
momentos de interacção não planeada.
A actividade verbal realizada permite uma co-gestão efectiva da interacção, ainda que
a relação hierarquizada entre os participantes confira um lugar “alto” ao professor. O professor
controla o desenrolar da interacção, assegura-se de que esta está efectivamente a funcionar.
O discurso em sala de aula é um discurso plurilogal assumido colectivamente, mas
coordenado pelo professor, mesmo quando permite que os alunos tomem a iniciativa de usar
da palavra. O carácter ritual da interacção - as constrições deste género oral - que definir os
momentos fundamentais da sua estruturação, bem como o planeamento prévio realizado pelo
professor, determinam a validação ou invalidação de cada intervenção dos alunos.
Os Interlocutores
Do quadro comunicativo apresentado sobressai a importância conferida aos
participantes na interacção verbal, como refere Kerbrat-Orecchioni (1990: 75) “Les participants
127
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
(leur nombre et leur nature) C’est évidemment l’aspect le plus important du cadre
communicatif.».”, porque intervêm de modo decisivo na construção dos contextos implicados
pelo discurso e requeridos pela sua interpretação.
A identificação dos participantes, dos papéis comunicativos ou lugares relacionais que
ocupam na interacção verbal, faz parte, de um modo particularmente importante, das
construções teóricas que subjazem à análise interaccional. A interacção verbal em sala de aula
selecciona os papéis sociais e comunicativos dos interlocutores. Como afirma Vion (1992: 78)
os participantes neste género de interacção têm “des positions statutaires”. O papel social de
professor, como já foi referido, tem uma influência decisiva na construção da interacção, ainda
que se trate de uma interacção dialogal, ou melhor, plurilogal (confere-lhe por exemplo um
lugar de destaque na análise da relação proxémica). A relação que estabelece com os alunos,
de carácter pedagógico-didáctico, bem como os objectivos deste género de interacção, dá
saliência ao conhecimento enciclopédico dos interlocutores, ao conhecimento linguísticotextual-discursivo, na interpretação dos dados verbais cotextuais. O carácter continuado das
interacções, limitadas institucionalmente pela duração do semestre ou do ano lectivo, cria entre
os interlocutores uma memória discursiva comum, em que sobressai a relação interpessoal,
fundamental na construção de cada nova interacção/aula.
Por seu turno, ao alunos, no desempenho desta função social, tendem a fazer um uso
da palavra determinado pela imagem que têm do professor e em função, sempre, dos
objectivos da interacção. São interlocutores activos, participantes na interacção, como
locutores e como alocutários.
Mecanismos de estruturação do discurso
As actividades de estruturação são mais visíveis na oralidade que na escrita. A gestão
que o locutor faz do seu discurso é intencionalmente tornada visível para o seu interlocutor.
São exemplo disso a antecipação explícita de hipóteses de interpretação e de reacções
eventuais ao discurso que está a realizar, a marcação de abertura ou de fechamento de
unidades, etc. Daí a ocorrência de estruturas como: “Não se pense que …”; “Como veremos
mais tarde…”, “Para concluir”, …etc.
A verbalização discursiva não se restringe a uma ordem meramente linear; o texto
constrói-se em rede, numa organização que é assinalada por diferentes marcadores
discursivos, sejam marcadores de estruturação verbais ou prosódicos:
”Si la structuration du discours oral a une tâche fondamentale et permanente pour le
locuteur, cette tâche comporte deux aspects qui sont accentués à tour de rôle: signaler la
continuité et signaler la discontinuité (cf Kindt, 1994: 30); c’est-à-dire que le locuteur au
fur et à mesure du développement thématique signale à l’auditeur s’il y a du nouveau –
changement thématique ou introduction d’un nouvel aspect – ou si le thème/l’aspect
introduit continue simplement à être développé.” (Gülich, 1999: 33)
128
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Esta é uma das características fundamentais dos textos em geral, dos textos orais e do
discurso pedagógico-didáctico em particular. A globalidade destes elementos participa na
criação
do
discurso:
professor
e
alunos
enquanto
interlocutores
produzem
e
interpretam/deverão interpretar todos estes sinais verbais.
Mas a interacção verbal conjuga o domínio do verbal com o paraverbal e o não verbal.
São palavras, enunciados, textos, inseparáveis de uma prosódia, de gestos, mímica e
movimentos corporais, estreitamente relacionados e que se complementam. Na interacção face
a face, há vários sinais paraverbais que influenciam o discurso, nomeadamente o ritmo ou
velocidade de elocução, as pausas, a intensidade vocal, a altura da voz, a entoação ou
prosódia e as vocalizações.
Assim, as pausas salientam a informação, enfatizam os conteúdos; as hesitações,
interrupções, alongamentos vocálicos, marcam a dificuldade de formulação do discurso
simultaneamente planificado e verbalizado; a entoação ascentente/descendente, a variação de
intensidade (o aumento da intensidade pode constituir um sinal de desejo de manter a palavra,
a queda de intensidade assinala o fim) são mecanismos variados ao serviço da manutenção,
tomada e cedência de vez (cf. Kerbrat-Orecchioni, 1996 e Morel, 1999).
Os marcadores verbais e paraverbais, como refere Catherine Kerbrat-Orecchioni (1990:
197), são “marques d’une énonciation en train de se faire”. A função estruturadora destes
marcadores completa-se, segundo Elisabeth Gülich (1999: 30), numa função facilitadora da
interpretação:
“Les moyens verbaux et prosodiques utilisés pour accomplir les activités de
structuration remplissent une double fonction: ils soutiennent le processus de production
pour le locuteur, et en même temps ils sont destinés à l’auditeur pour orienter et faciliter
sa compréhension.»
Ao nível dos sinais não verbais, a direcção do olhar, a mímica (mostrando emoções
variadas como a alegria, a tristeza, o desagrado, etc.), os gestos das mãos, o posicionamento
corporal, entre outros, participam na construção da interacção.
O podcast – um novo tipo de interacção verbal
Usar o podcast como actividade comunicativa integrada no discurso pedagógicodidáctico tem consequências em termos do quadro comunicativo, ou seja, do espaço-tempo da
interacção, dos objectivos e dos interlocutores.
Com efeito, as novas tecnologias impõem, desde logo, a alteração do suporte, do
espaço e do tempo da interacção. Os interlocutores – professor e alunos – encontram-se numa
nova situação comunicativa. De uma interacção em simultâneo passam para uma interacção
em diferido; e de uma interacção face a face, plurilogal, a uma interacção monologal, não
presencial, em que o professor assume o papel comunicativo de locutor e os alunos o de
alocutário. Trata-se de produzir um discurso oral ou a partir de um suporte escrito, quer seja um
texto quer seja um conjunto de tópicos, ou sem suporte escrito. Em qualquer dos casos o
129
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
resultado será sempre um texto oral, ainda que seja uma transição entre a escrita e a
oralidade. Adquire, por isso, características próprias que é necessário considerar.
É em função, por um lado, das características da interacção em sala de aula e, por
outro, das alterações trazidas ao quadro comunicativo pela passagem a um novo suporte da
interacção que o podcast deve ser construído.
A relação professor-aluno é o vector fundamental deste novo tipo de interacção
pedagógico-didáctica. A construção discursiva tem, pois, que considerar a par dos objectivos o
tipo de destinatário e, em particular, o conhecimento que o professor/locutor possui sobre os
alunos/alocutários.
Do quadro tradicional de interacção em sala de aula fica apenas a voz do professor,
que ganha uma proeminência enquanto concentra a dimensão de continuidade de uma
situação comunicativa conhecida do aluno, portadora necessariamente de uma dimensão
afectiva.
Características da interacção professor – aluno em podcast
As características da interacção professor – aluno em podcast dependem, em primeiro
lugar, dos objectivos a atingir com o podcast, e em particular da continuidade/descontinuidade
que o professor pretenda estabelecer relativamente às interacções em sala de aula.
Mas algumas das suas características são transversais a diferentes objectivos.
Em primeiro lugar, sobressai a compatibilidade funcional do podcast que se destina a
ser ouvido em simultâneo com o desempenho de outras actividades. Esta característica põe
em relevo a necessidade de usar estratégias de construção que suportem a eficácia discursiva.
Em segundo lugar, dos diferentes factores contextuais característicos da interacção em
sala de aula e que fazem parte da história discursiva comum a alunos e professor,
permanecem, ganhando centralidade, a voz e os ouvidos dos interlocutores. Na construção do
podcast, o professor mantém a mesma função social e comunicativa mas não controla
fisicamente a relação interaccional e por isso assegurar a atenção, a participação do
interlocutor/ouvinte, é agora uma questão que exige estratégias diferentes das usadas em sala
de aula. Manter o interesse do ouvinte é o primeiro objectivo que deve guiar a construção do
podcast. Dever-se-á usar então todo o potencial da oralidade, sem o contexto de ocorrência
presencial, para criar e manter um fio condutor forte, que seja eficaz sem aumentar o esforço
dispendido pelo aluno.
Não é possível fazer uma lista completa de todas as características, pelo que irei
considerar apenas algumas características das sintácticas, prosódicas e textuais.
No que concerne a estas características da oralidade, o discurso radiofónico pode ser
usado como quadro de referência. A questão da voz que acabei de referir é considerada uma
das dimensões fundamentais da interacção oral não presencial de que o discurso radiofónico e
o podcast académico fazem parte.
130
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
João Paulo Meneses (2003), num texto sobre o discurso radiofónico, dedica um
capítulo à voz (capítulo 6.3. A voz) e sublinha a distinção que deve ser estabelecida entre a
interacção oral não presencial e a leitura: “Há dois registos diferentes e quase contraditórios na
rádio: o lido e o falado. O segundo é desejado, o primeiro a realidade.” Esta é uma questão
fundamental a considerar na construção do podcast, pois a leitura, para além de poder
convocar diferentes registos linguísticos, caracteriza-se por um ritmo mais rápido, mais
homogéneo que o ritmo da oralidade propriamente dita, mas talvez menos forte em termos da
atractividade do discurso
No podcast, a voz gravada é ainda importante pela relação que estabelece com a
memória discursiva dos alunos, destinatários do acto de enunciação. Em particular, a voz do
professor convoca a memória auditiva dos alunos a que está agregada a relação interpessoal
criada na comunicação em sala de aula. O objectivo primeiro será, neste caso, suprir pela voz
todo o uso não verbal que acompanha a interacção face a face e que guia/completa o processo
de interpretação. E constitui-se ainda como um factor de afectividade de que o professor pode
tirar partido. Por isso, a escolha da voz deve ser objecto de reflexão e decisão: a de manter
esta continuidade relativamente ao espaço partilhado da sala de aula ou, pelo contrário,
assumir uma ruptura.
O planeamento discursivo/textual em simultâneo com a sua verbalização, próprio da
oralidade, em consonância com a “volatilidade” das interacções orais já referida - uma questão
que relacionada com memória a curto prazo -, condiciona a organização da interacção. Por
exemplo, algumas estratégias dos géneros orais constituem instrumentos recorrentes para
manter a continuidade discursiva assegurando ao mesmo tempo a progressão, desde as
repetições e reformulações marcadas prosodicamente à construção de frases simples que
permitem individualizar os sucessivos temas e subtemas.
É pois necessário tornar explícita essa organização, através de organizadores textuais,
também chamados marcadores de discurso, que segmentam o texto e facilitam o processo de
interpretação. Tomemos como exemplos os marcadores de integração linear, que organizam
linearmente a informação (em primeiro lugar, em segundo lugar, finalmente, …), os conectores,
que articulam segmentos textuais mais ou menos longos (mas, pois, porém, efectivamente, …),
os marcadores de tópico, que explicitam o tema (quanto a, no que concerne a, …) e os
introdutores de universos discursivos, que condicionam a validade do segmento textual que
introduzem (Politicamente falando; para os cientistas do século XIX, …).
A prosódia participa também deste processo de segmentação, em particular pelo uso
que o locutor faz das pausas (curtas, médias e longas). Marcadas na escrita pela pontuação
(pausa média marcada pela vírgula e pausa longa marcada por ponto final, por exemplo), as
pausas têm outros funcionamentos na oralidade e, nomeadamente, podem ocorrer entre o
verbo e o complemento ou entre o nome e o determinante, e têm como função enfatizar
palavras ou estruturas linguísticas mais complexas. A propósito da língua francesa, mas que
poderemos considerar para o Português, Morel (1999:167) afirma: ”La pause moyenne et la
131
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
pause longue ont (...) pour rôle d’homogénéiser tout ce qui précède, et de donner du relief à ce
qui suit, en quelque sorte de le rhématiser”.
A variação rítmica, em altura e em intensidade, além da vivacidade que imprimem à
elocução, são índices da elaboração mental do discurso, dos objectivos do locutor. Para o
mesmo autor:
« Les variations de la hauteur mélodique servent à (…) expliciter la
représentation qu’on se fait de la pensée de celui auquel on s’adresse. (…).
La montée intonative correspond à un appel à convergence lancé à l’autre, mais
c’est aussi une façon d’imposer le consensus sur un point précis.» (Morel; 1999:168)
A estas características aqui elencadas é necessário acrescentar ainda a clareza da
dicção que, entre outras estratégias, contribui para a construção de um discurso “atractivo”
para os alunos e eficaz na perspectiva do professor.
Referências
Aristóteles/Aristote (1967). Rhétorique, III. Paris: Les Belles Lettres ( trad. Médéric Dufor).
Bakhtine, M. (1977), Marxisme et Philosophie du Langage. Paris : Minuit.
Gülich, E.(1999). Les activités de structuration dans l’interaction verbale. M. Barbéris (ed). Le
français parlé. Variations et discours. Montpellier : Université Paul- Valéry, 161-179.
Gumperz, J. (1982). Language and social identity. Cambridge: Cambridge University Press.
Kerbrat-Orecchioni, C. (1990). Les interactions verbales. Tome I. Paris: A. Colin.
Kerbrat-Orecchioni, C. (1996). La conversation. Paris: Seuil.
Kerbrat-Orecchioni, C.. 2002. Contexte. In P. Charaudeau, e D. Maingueneau, (eds).
Dictionnaire d’Analyse du Discours. Paris : Ed. du Seuil.
Meneses, J. P. (2003). Tudo o que se passa na TSF … para um “Livro de estilo”. Porto: Edição
Jornal de Notícias.
Marques, M. A. (2003). Renovação dos discursos – novas formas de interacção e legitimação
dos interlocutores. Diacrítica 17.1, Universidade do Minho/CEHUM, 189-220.
Morel, M. A. (1999). Indices suprassegmentaux et coénonciation dans l’oral spontané en
français. J.-M. Barbéris (ed), Le français parlé. Variations et discours. Montpellier :
Université Paul- Valéry, 161-179.
Saussure, F.1996 [1916]). Cours de linguistique générale. Paris : Payot.
Sinclair, J. M. & Coulthard, R. M. (1975). Toward an analysis of discourse – the English used
by teachers and pupils. London: Oxford University Press.
Vion, R. (1992). La communication verbale. Analyse des interactions. Paris: Hachette.
Trabalho realizado no âmbito do projecto com a referência PTDC/CED/70751/2006, financiado pela FCT.
132
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcasts e vodcasts: prós e contras
Henrique M. D. Santos
Centro Algoritmi
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo – As tecnologias de informação e comunicação têm vindo a ocupar um espaço
central nas reflexões sobre as questões do ensino/aprendizagem. A utilização dos sistemas
informáticos é cada vez mais acessível e as tecnologias estão omnipresentes no dia-a-dia
dos alunos. É neste contexto que os podcast/vodcast aparecem como uma alternativa para
a criação de recursos pedagógicos. Contudo, a sua utilização deve ser precedida de
estudos de adequabilidade em contextos próprios. Diferentes áreas de saber implicam
níveis de percepção e aceitação diferentes, não só para alunos como também para
docentes. Este artigo apresenta uma análise da aplicação de três tipos de recursos no
formato podcast/vodcast a uma unidade curricular do 1º ciclo de formação universitária, na
área das Tecnologias da Informação, realçando as vantagens e inconvenientes percebidas
pelos alunos e docentes envolvidos.
Introdução
A evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tem influenciado a
forma como lidamos com o processo de ensino/aprendizagem, em todas as áreas do
conhecimento, procurando enriquecer, flexibilizar e tornar mais efectivo esse processo. Como
seria de esperar, a própria aprendizagem dessas tecnologias revela essa ligação, desta feita
com um aumento do desafio, não só devido à crescente dimensão da área, mas também
devido à tendência da redução dos ciclos de aprendizagem (de realçar que em Portugal, na
sequência da aplicação do Processo de Bolonha, a maioria dos cursos superiores de
Informática adoptaram planos de três anos). A acompanhar esta evolução, devemos ainda
considerar o conjunto de novas competências que as gerações mais novas adquirem com as
suas experiências de vida, rodeadas de tecnologia, e que as torna mais capazes de integrar
esses instrumentos – Prensky caracteriza esta geração com o termo ‘Nativos Digitias’ (Prensky,
2001).
A utilização de podcasts e vodcasts (podcasts no formato vídeo) no suporte à
concepção de conteúdos académicos tem emergido como uma novidade que procura
responder ao desafio da inovação e da flexibilidade na arte de ensinar e aprender, colmatando
exactamente as limitações anteriormente assinaladas (Copley, 2007) e (Harris and Park, 2008).
Tendo por base a utilização de tecnologias de fácil manuseamento, disponíveis livremente,
recorrendo a simples processos de captação de áudio e vídeo, e com um suporte de
publicação igualmente bastante acessível, esta tecnologia afigura-se tentadora para
complementar de forma bastante eficiente o material que é facultado no âmbito das unidades
133
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
curriculares (Tynan and Colbran, 2006). Não admira assim que, em alguns estudos realizados
sobre a sua utilização, o podcast seja referido como uma das mais relevantes tecnologias de
apoio ao ensino aprendizagem, sobretudo nesta geração dos ‘Nativos Digitais’ (Simatele,
2008). Mesmo para os docentes com menor familiaridade com estas ferramentas, é possível
encontrar com alguma facilidade excelentes fontes de informação que ajudam nas diversas
fases do desenvolvimento de conteúdos deste tipo - e.g. (Orden).
Não obstante o seu elevado potencial, não são raros os casos em que os alunos
apontam algumas limitações ou, simplesmente, não utilizam devidamente os conteúdos
fornecidos por este meio. Na maioria dos casos essas situações resultam de um desfasamento
entre a percepção dos alunos sobre o real valor desta e de outros tipos de tecnologias no
processos de aprendizagem, a sua receptividade ou mesmo as preferências, que variam muito
de área para área (Evans, 2007), (Robinson, 2007), (Geyer, Beylefeld and Hugo 2008) e
(Kennedy et al., 2008).
Podcast/vodcast em TIs
No que respeita à área do saber das Tecnologias de Informação (TIs) e de uma forma
algo inesperada, o uso de podcast/vodcast não está tão documentado como em outras áreas.
Mas, tal como já foi referido, a escassez de tempo que actualmente se verifica nos ciclos de
aprendizagem, força, naturalmente, a sua adopção e estudo. Por outro lado, em fenómenos
com o ‘You Tube’ é evidente a utilização (não organizada) da tecnologia no âmbito da
aprendizagem de TIs.
De entre os estudos que existem a maioria revela igualmente uma elevada adesão,
mas revela outros factos interessantes, como seja a utilização preferencial do computador (ou
portátil) face aos pequenos dispositivos multimédia que hoje proliferam entre os jovens. Este
facto prende-se não só com as limitações de recursos desses dispositivos, que no caso dos
vodcast, podem ser determinantes, mas também com a utilização mais lúdica que tipicamente
é dada aos dispositivos multimédia (Malan, 2007).
Os estudantes desta área de conhecimento revelam-se, na maior parte das vezes, com
grande apetência para experimentar novas tecnologias e com capacidade para ultrapassar
algumas das dificuldades iniciais de utilização e mesmo explorar novas experiências. Isso
mesmo é evidenciado por algumas investigações que revelam o entusiasmo dos estudantes de
TICs na realização e publicação de podcasts/vodcasts, no seu contexto de aprendizagem, o
que se pode revelar como uma ferramenta pedagógica muito eficiente (Frydenberg, 2006) e
(Chan, Lee and McLoughlin, 2006).
Uma outra tendência que se tem vindo a acentuar e para a qual esta tecnologia pode
contribuir favoravelmente, é a internacionalização dos cursos. Motivadas pelo fenómeno de
globalização e tentando responder a um mercado de emprego cada vez mais alargado, as
universidades procuram adequar os seus cursos, criando ligações internacionais que facilitam
a mobilidade de estudantes e o reconhecimento conjunto de graus de formação. Sobretudo ao
134
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
nível do 2º e 3º ciclos de formação superior, são já vários os exemplos de cursos conjuntos,
com essas características, realçando-se na Europa a iniciativa Erasmus Mundos. Na área das
TICs, Portugal tem já alguns bons exemplos, mas a língua continua a ser um obstáculo,
principalmente na capacidade de atracção de estudantes estrangeiros, oriundos de países
anglo-saxónicos, o que é fundamental para o reconhecimento internacional das universidades
(Yahoui et al., 2005). Como é fácil deduzir, a tecnologia de podcast e de vodcast permite
facilmente criar conteúdos complementares às actividades lectivas regulares, em Inglês,
ajudando a ultrapassar este obstáculo.
Finalmente, mas não menos importante, é a clarificação das competências que os
profissionais da área das TIs devem obter. Depois de alguns anos firmemente assente nas
áreas da Matemática e da Engenharia Electrónica, a área das Tecnologias de Informação
receberam importantes contributos para o seu reconhecimento, enquanto área de saber
independente, culminando esse trabalho na proposta de uma estrutura coerente para o corpo
de conhecimentos envolvidos e a respectiva estrutura curricular. Dessas recomendações e
entre muitas outras, sobressai a necessidade do desenvolvimento de competências para
suporte de trabalho autónomo, sendo referido inclusivamente como indicador que deverá existir
uma relação de 3 para 1 entre o trabalho desenvolvido fora e dentro da sala de aula.
Adicionalmente, é esperado que os alunos desenvolvam competências na utilização do maior
leque possível de tecnologias e ferramentas associadas (Lunt et al., 2008). Seguindo esta linha
de orientação faz todo o sentido estimular a utilização da tecnologia de podcast e de vodcast
nas actividades pedagógicas associadas a unidades curriculares desta área.
Aplicação de podcasts/vodcasts
No enquadramento acima referido foram executadas três experiências pedagógicas
envolvendo alunos do 1º ciclo de um Mestrado Integrado em Engenharia de Comunicações, da
Universidade do Minho, a frequentar a unidade curricular Sistemas de Computação, no 2º ano,
1º semestre. Esta unidade tem como principal objectivo promover a compreensão das
tecnologias que suportam um sistema informático. O objectivo é muito ambicioso, sendo
impossível aprofundar todos os temas, tal como anteriormente era feito numa disciplina típica
33
de Arquitectura de Computadores . Os recursos da unidade são suportados por uma
plataforma aberta de gestão de conteúdos (Moodle), o que facilita a exploração de diferentes
mecanismos de distribuição de conteúdos.
Foram então criados três tipos de recursos, procurando responder a três necessidades
diferentes. Para além da utilidade efectiva no contexto da unidade, esta experiência tinha por
objectivo avaliar a efectiva utilidade destes tipos de recurso, antes de considerar a sua eventual
aplicação a toda a unidade. Os três tipos de recurso desenvolvidos foram os seguintes:
1. Complementação de conceitos apresentados nas aulas; este recurso (vodcast) foi
composto com base em slides, que não foram apresentados nas aulas e que eram
33
Num currículo tradicional de Informática esta disciplina ocupava normalmente 2 semestres.
135
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
acompanhados com a explicação oral; o recurso exemplifica a aplicação de algumas
das técnicas mais relevantes usadas no controlo da hierarquia de memória dos
computadores e não se considera essencial para obter a aprovação na unidade.
2. Guia de instalação e utilização de uma ferramenta informática (vodcast), necessária
para realizar a componente prática da unidade.
3. Definição de conceitos básicos relacionados com o armazenamento e gestão da
informação em discos magnéticos e ópticos; estes conceitos não são considerados
fundamentais para a unidade e não são alvo de avaliação, sendo disponibilizados
apenas para facultar um meio de aprofundamento de conhecimentos sobre a área,
que poderão ser necessários em actividades de algumas unidades curriculares
posteriores.
Este último recurso foi publicado na plataforma Podomatic, constituindo um podcast
típico, enquanto os outros dois foram publicados num servidor local de streaming (Santos,
2006). O streaming permite um maior controlo de versões (cópias), uma vez que o conteúdo
em streaming não é nunca integralmente copiado para o computador do aluno, exigindo
sempre uma ligação à Internet, para a sua consulta. Nesta perspectiva os conteúdos 1. e 2.
afastam-se ligeiramente da definição tradicional do vodcast. Mas, atendendo à sua natureza e
objectivo, é desejável poder, a qualquer momento, publicar novas versões (em função de
modificações da ferramenta, no caso do recurso 2., ou alteração dos slides, no caso do recurso
1., adaptando-os a experiências actualizadas no contexto da unidade), o que pode constituir
uma dificuldade acrescida num podcast tradicional distribuído por download. De realçar que
apesar desta diferença, o processo de produção dos conteúdos é praticamente idêntico, tendose até utilizado as mesmas ferramentas (Audacity, para captura de áudio e CamStudio, para
captura de vídeo e sessões no computador).
A eficácia da utilização dos conteúdos foi medida através de inquéritos, dos registos de
acesso e de algumas questões específicas inseridas nos testes finais, quando o assunto em
questão deveria ser alvo de avaliação.
Resultados e conclusões
Relativamente aos resultados obtidos nos testes não se pode afirmar que a utilização
destes recursos tenha melhorado ou prejudicado o desempenho dos alunos. Com efeito e
tendo como base os resultados tipicamente obtidos neste unidade, não é perceptível qualquer
alteração nas notas.
No que respeita à percepção dos alunos, estes consideraram os recursos 1. e 2.
bastante úteis, permitindo-lhes de forma mais flexível esclarecer algumas dúvidas. Como seria
de esperar, a utilização do recurso 2. foi mais ou menos constante ao longo das actividades
pedagógicas de natureza prática, enquanto que o acesso ao recurso 1. concentrou-se nos dias
que antecederam os testes de avaliação. Já o recurso 3. foi muito pouco utilizado, o que revela
falta de curiosidade e ambição dos alunos, que nesta fase do seu ciclo de formação ainda
136
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
estão demasiadamente agarrados a uma lógica centrada na aprovação na unidade curricular,
em detrimento da aquisição de conhecimentos. Paradoxalmente, este recurso foi o que exigiu
maior tempo de preparação, pois tratando-se da definição de conceitos é importante uma
apresentação clara e sem falhas, o que leva à necessidade da elaboração de um texto.
Globalmente pode-se afirmar que a utilização de podcasts e, em particular, de vodcasts
revela um potencial enorme neste tipo de unidade curricular, mormente na forma de manuais
de utilização de ferramentas, que libertam bastante tempo ao docente nas actividades práticas
e ainda como complemento aos assuntos tratados nas aulas teóricas, dando exemplos de
aplicação ou outros detalhes semelhantes que, normalmente, ocupavam um tempo significativo
nas actividades presenciais.
Por outro lado, o esforço de preparação destes recursos é relativamente diminuto e
promove ainda a possibilidade de criação de recursos em inglês, o que facilitará a eventual
internacionalização dos cursos em questão.
Já a utilização destes recursos para estimular níveis cognitivos mais elevados parece
não resultar, pelo menos nesta fase formativa. Considerando o elevado nível de exigência da
elaboração desses recursos, o saldo revela-se muito negativo para o docente.
Uma última reflexão sobre o processo de distribuição que, considerando o domínio de
aplicação e o tipo de recurso criado, pende, claramente, para a utilização do streaming em
detrimento do download. Esta escolha condiciona a disponibilidade dos conteúdos offline, mas
permite controlar de uma forma muito mais simples a proliferação de diferentes versões,
preservando ainda a propriedade intelectual, que se pode revelar crítica sobretudo na óptica da
internacionalização dos cursos.
Referências
Chan, A., M. Lee & C. McLoughlin (2006) Everyone’s learning with podcasting: A Charles Sturt
University experience. Who’s learning? Whose technology? Proceedings ascilite Sydney
2006.
Copley, J. (2007) Audio and video podcasts of lectures for campus-based students: production
and evaluation of student use. Innovations in Education and Teaching International, 44,
387-399.
Evans, C. 2007. The effectiveness of m-learning in the form of podcast revision lectures in
higher education. In Biennial Conference on Computer Assisted Learning (CAL 07), 491498. Dublin, IRELAND: Pergamon-Elsevier Science Ltd.
Frydenberg, M. 2006. Principles and pedagogy: The two P’s of Podcasting in the Information
Technology classroom.
Geyer, H., A. Beylefeld & A. Hugo. 2008. To Podcast or not to Podcast? Students' Feedback on
a Different Learning Experience in Histology. In 7th European Conference on e-Learning,
eds. R. Williams & D. Remenyi, 419-424. Agia Napa, CYPRUS: Academic Conferences
Ltd.
137
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Harris, H. & S. Park (2008) Educational usages of podcasting. British Journal of Educational
Technology, 39, 548-551.
Kennedy, G., T. Judd, A. Churchward, K. Gray & K. Krause (2008) First year students'
experiences with technology: Are they really digital natives. Australasian journal of
educational technology, 24, 108-122.
Lunt, B., J. Ekstrom, S. Gorka, G. Hislop, R. Kamali, E. Lawson, R. LeBlanc, J. Miller & H.
Reichgelt. 2008. Curriculum Guidelines for Undergraduate Degree Programs in
Information Technology. Association for Computing Machinery (ACM) and IEEE
Computer Society.
Malan, D. J. (2007) Podcasting computer science E-1. SIGCSE Bull., 39, 389-393.
Prensky, M. (2001) Digital natives, digital immigrants. On the horizon, 9, 1-6.
Robinson, S. 2007. Using podcasting in a hybrid course: A case study. In 6th European
Conference on e-Learning (ECEL 2007), ed. D. Remenyi, 513-517. Copenhagen,
DENMARK: Academic Conferences Ltd.
Santos, H. 2006. Tecnologias de streaming em contextos de aprendizagem. Universidade do
Minho.
Simatele, M. 2008. Motivations and Perceived Usefulness of Technology in Higher Education.
In 7th European Conference on e-Learning, eds. R. Willimas & D. Remenyi, 460-468.
Agia Napa, CYPRUS: Academic Conferences Ltd.
Tynan, B. & S. Colbran. 2006. Podcasting, student learning and expectations. In 23rd Annual
Conference of the Australasian-Society-for-Computers-in-Learning-in-Tertiary-Education,
eds. L. Markauskaite, P. Goodyear & P. Reimann, 825-832. Sydney, AUSTRALIA:
Sydney Univ Press.
Yahoui, H., O. Roesch, J. Thiriet, M. Martins & O. Bonnaud. 2005. Evolution of master degree in
Europe: An overview of the European programme available in electrical and information
engineering.
Orden, Jason V., How to Podcast. [online][visitada: 22/05/2009], http://www.how-to-podcasttutorial.com/
Trabalho realizado no âmbito do projecto com a referência PTDC/CED/70751/2006, financiado pela FCT.
138
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
139
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcasts na Licenciatura em Biologia Aplicada: Diversidade na Tipologia
e Duração
Cristina Aguiar
Escola de Ciências, Universidade do Minho
[email protected]
Ana Amélia A. Carvalho
Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho
[email protected]
Romana Maciel
Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho
[email protected]
Resumo - A facilidade em criar podcasts, aliada às enormes potencialidades que este tipo
de tecnologia oferece, têm atraído os profissionais ligados ao ensino para a exploração
progressiva desta ferramenta em diferentes contextos pedagógicos e com finalidades
diversas. Na Universidade do Minho, decorre um projecto que visa auscultar a receptividade
à utilização pedagógica de podcasts no ensino universitário, articulando as suas
especificidades e implementação com as diferentes áreas científicas da equipa do projecto.
O estudo que se apresente foi conduzido no ano lectivo 2008/ 2009, numa unidade
curricular da Licenciatura em Biologia Aplicada – Hereditariedade e Evolução - onde no ano
lectivo transacto se tinha tentado implementar alguns podcasts simples. Esse estudo teve
essencialmente um carácter exploratório, visando auscultar a aceitação discente a esta
tecnologia. No presente trabalho, pretendeu-se explorar diferentes potencialidades dos
ficheiros áudio, nomeadamente no que se refere à sua tipologia, duração e objectivos, e
simultaneamente avaliar as reacções dos discentes à sua integração no processo de
ensino/ aprendizagem. Os alunos revelaram-se receptivos e interessados em continuar a
aceder a este tipo de ficheiros, principalmente a podcasts contendo conteúdos, resumos e/
ou orientações para estudo, numa clara preferência por soluções que auxiliem na
compreensão dos conteúdos.
Contextualização do Estudo
O presente estudo enquadra-se num projecto em curso na Universidade do Minho
(2007 – 2009) que tem como objectivo geral integrar podcasts no Ensino Superior e avaliar as
implicações pedagógicas da utilização desta ferramenta da Web 2.0. junto de docentes e
140
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
discentes. Integra uma equipa de docentes afiliados a diferentes Escolas/Institutos e como tal
provenientes de diferentes áreas do saber, responsáveis pela implementação de podcasts em
unidades curriculares cuja docência asseguram. O presente trabalho descreve um dos estudos
conduzidos na Universidade do Minho no 1º semestre de 2008/ 2009, relativo à criação e
disponibilização de podcasts no âmbito da docência da unidade curricular Hereditariedade e
Evolução (HE), do 2º ano curricular da Licenciatura em Biologia Aplicada.
Podcasting
O termo podcast, cunhado em 2004 pelo VJ
34
da MTV Adam Curry, resulta da
combinação das palavras iPod e broadcasting. A sua definição constitui um duplo desafio: por
um lado, a palavra iPod remete para o leitor multimédia portátil mais popular do mercado, o que
pode induzir em erro uma vez que os podcasts, em formato mp3 ou mp4, podem ser ouvidos
noutros dispositivos móveis como através de um computador. Por outro lado, a palavra
broadcast (radiodifusão), designa o processo de transmissão e difusão simultânea da
informação para vários receptores, termo originalmente associado às emissões radiofónicas
mas actualmente transposto para a tecnologia RSS (Really Simple Syndication) feed e
assumido por vários autores como um aspecto essencial do podcasting (Dixon & Greeson,
2006; Shim et al., 2007).
Ultrapassadas as questões conceptuais, podemos genericamente considerar três
pressupostos inerentes ao podcast (Dixon & Greeson, 2006): i) o ficheiro é descarregado
completamente antes de ser consumido, ii) o utilizador dispõe da possibilidade de, através de
um software de agregação (podcatcher), subscrever os canais ou fontes (feeds) que entender
através da tecnologia RSS para descarregar automaticamente no seu computador podcasts
afins, logo que disponibilizados na Internet e iii) o seu conteúdo é acedido através de
dispositivos móveis. Contudo, e como referido, os podcasts podem ser ouvidos através de um
computador fixo, o que compromete a portabilidade intrínseca ao conceito, mas que parece ser
uma tendência generalizada como ilustrado num inquérito conduzido pela Bridge Data, que
reportou que mais de 80% dos downloads de podcasts não chegaram a ser transferidos para
dispositivos móveis (Dixon & Greeson, 2006).
Muitos autores tendem a utilizar o termo podcast de uma forma muito vaga, aludindo a
qualquer conteúdo áudio digital distribuído através da Internet (McLoughlin & Lee, 2007).
Contudo, esta definição encerra actualmente o conceito de audiocast. Para além do formato
áudio, o podcast contempla mais recentemente o formato em vídeo, designado vodcast ou
vidcast ou então screencast, quando as imagens correspondem às do ecrã de um computador.
Alguns autores (McCombs et al., 2007; Salmon et al., 2008) referem ainda outro tipo de
podcast, denominado enhanced podcast, que conjuga o áudio com imagens fixas.
34
Vj ou video jockey é a denominação atribuída aos profissionais responsáveis pela manipulação
de vídeos em tempo real, em eventos ao vivo ou programas de televisão.
141
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
As vantagens do audiocast residem na maior facilidade de produção, distribuição e
utilização, em tamanhos de ficheiros mais reduzido, exigirem menor esforço ocular e
revestirem-se de maior facilidade de acesso, por não requererem um dispositivo para leitura de
vídeos (McCombs et al., 2007). Acresce o facto do áudio potenciar a aprendizagem mediada
por dispositivos móveis, que por sua vez possibilitam a audição de um conteúdo e o
desempenho simultâneo de outras actividades (Bell et al., 2007).
Podcasts no ensino
As potencialidades pedagógicas do áudio não constituem propriamente uma novidade.
O seu reconhecimento remonta aos tempos da rádio. Já Durbridge (1984) argumentava que a
palavra falada, revestida de maior clareza e significado, e também de entoação, reforça a
cognição e a motivação. Com o advento das cassetes, e posteriormente dos CDs, as limitações
intrínsecas às emissões de rádio, confinadas a uma dada área geográfica e a um horário
específico, foram finalmente ultrapassadas. Mais recentemente, a simples alteração do formato
(agora digital) e do método de distribuição, facilitam a publicação, subscrição e utilização de
podcasts em múltiplos contextos (Campbell, 2005 in Rosell-Aguilar, 2007).
Em contexto educacional, o podcasting começou a ser adoptado como suplemento aos
materiais de aula, para apoiar o ensino tradicional (Shim et al., 2007) mas pode ser
perspectivado com diferentes abordagens para a aprendizagem, desde a behaviorista até à
construtivista (Rosell-Aguilar, 2007). Na opinião de alguns autores, o seu verdadeiro potencial
reside precisamente na possibilidade do aluno poder construir o seu próprio conhecimento e
divulgá-lo através do podcast gerado (McLoughlin et al., 2007), permitindo-lhe desenvolver a
oralidade e partilhar a sua experiência com os outros (Bell et al., 2007). A eficácia dos podcasts
depende assim do seu objectivo (Rosell-Aguilar, 2007), existindo múltiplas oportunidades para
a sua utilização como ferramenta de apoio pedagógico, que não se esgotam na mera repetição
ou resumo de uma aula, e que permitem inclusivamente envolver activamente o aluno no
processo de construção do seu próprio conhecimento. Por exemplo, os podcasts podem
constituir um veículo para divulgar notícias e actualizações, responder a questões enviadas
pelos alunos, dar feedback sobre trabalhos, entrevistas, sínteses de aspectos importantes,
instruções para a realização de trabalhos, entre outros (Bell et al., 2007), e estes usos podem
ajudar a criar uma relação que se baseia na contínua comunicação e interacção entre
professores e alunos (Harris & Park, 2008).
A facilidade de acesso aos podcasts aliada à expansão da banda larga e dos
dispositivos portáteis de leitura conduziram a uma crescente popularidade dos podcasts
(Rosell-Aguilar, 2007); o desafio reside agora na possibilidade de adaptação do processo de
ensino e aprendizagem às necessidades e estilo de vida actual dos alunos, para os quais esse
processo já não está confinado à sala de aula e pode ocorrer em qualquer outro contexto, de
acordo com a sua escolha (Bongey et al., 2008). Como referem McLoughlin & Lee (2007), o
podcast oferece “the best of both worlds” na medida em que, às vantagens do método de
142
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
distribuição da rádio acrescem a flexibilidade, personalização e controlo da aprendizagem
próprios da gravação áudio. A flexibilidade proporcionada pelos dispositivos móveis permite,
por outro lado, ouvir/ver os podcasts a partir de qualquer lugar e a qualquer hora e repetir a sua
audição/ visualização indefinidamente segundo as necessidades e conveniência de cada um
(Rosell-Aguilar, 2007; Watson & Boggs, 2007; Harris & Park, 2008). Deste modo, permite dar
resposta às preferências individuais dos alunos e, portanto, aos seus estilos e ritmos de
aprendizagem (McCombs et al., 2007; Harris & Park, 2008). No caso dos audiocasts, o facto de
não requererem a atenção completa do estudante, que pode assim realizar outras actividades
em paralelo, reduz a sensação de estudo, o que constitui outro factor para os tornar atractivos
(Bell et al., 2007). Por último, alguns estudos sugerem que a audição de podcasts tem um
efeito positivo na eficácia da aprendizagem de alguns alunos assim como na satisfação
decorrente dessa aprendizagem (Lakhal et al., 2007; McCombs et al., 2007). Como salienta
Rosell-Aguilar (2007), é provável que os estudantes se sintam naturalmente atraídos para o
novo formato na medida em que reflecte o estilo de vida actual e jovem.
Objectivos do Estudo
Como atrás referido, o projecto em que se integra este trabalho pretendeu analisar as
implicações da utilização de podcasts no ensino universitário em regime de blended-learning.
No primeiro ano de colaboração no projecto, optou-se por realizar um estudo de carácter mais
exploratório, criando e disponibilizando audiocasts simples para (i) familiarizar com os aspectos
técnicos e testar a implementação da nova ferramenta, bem como (ii) auscultar a receptividade
dos alunos e (iii) recolher sugestões relativas à tipologia, duração e objectivos preferenciais dos
podcasts em contextos pedagógicos específicos. Esses estudos foram realizados nas unidades
curriculares Genes e Genomas e Hereditariedade e Evolução, respectivamente do 3º e 2º anos
curriculares da Licenciatura em Biologia Aplicada tendo-se concluído, de uma forma geral,
haver receptividade e interesse dos alunos em aceder a podcasts noutros contextos
pedagógicos (Aguiar et al., 2008). Com base nesses resultados e nas sugestões então
avançadas pelos alunos, foram desenhados novos estudos com vista à optimização da
integração destes ficheiros áudio no ensino, explorando as suas características e
potencialidades.
O presente trabalho foi desenvolvido com um novo grupo de estudantes numa das
unidades curriculares do estudo anterior - Hereditariedade e Evolução (HE) – e os seus
principais objectivos passaram pela exploração da tipologia, da duração e das finalidades de
utilização dos podcasts, para além da avaliação das reacções discentes à sua utilização.
Descrição do Estudo
Em 2004/ 2005, numa iniciativa pioneira e dispondo do apoio institucional, a
Licenciatura em Biologia Aplicada iniciou uma experiência pedagógica abrangente, que tinha
como objectivo a integração a curto prazo de novas metodologias de ensino/ aprendizagem/
143
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
avaliação, perspectivando a adopção do Processo de Bolonha. Este projecto, que foi
designado “Ano Piloto”, traduziu-se numa reorganização pedagógica em torno de um modelo
por blocos disciplinares, associado à alteração das metodologias clássicas de leccionação/
avaliação e a uma programação do ano lectivo que considera a previsão do tempo do trabalho
pessoal que o aluno terá de desenvolver, de acordo com o sistema ECTS (European Credit
Transfer System). A solução adoptada para a sua implementação passou pela reorganização
temporal e espacial das actividades lectivas, que passaram a decorrer como blocos
disciplinares alternados e sequenciais, numa sala própria disponível 20 horas por dia e
dispondo de computadores e acesso à Internet.
No ano lectivo a que se reporta este estudo, a Licenciatura estava já reestruturada/
adequada a Bolonha e o referido formato modular encontrava-se praticamente estabelecido,
embora estivessem em vigor os planos de transição decorrentes da adequação do curso ao
ciclo C1. Hereditariedade e Evolução (HE) foi leccionada entre 5 de Janeiro e 6 de Fevereiro
(Figura 1). A sua calendarização, em termos da planificação diária e semanal das actividades,
era variável em função das suas especificidades e das estratégias pedagógicas adoptadas,
prevendo períodos de auto-aprendizagem e momentos presenciais teóricos, teórico-práticos,
práticos e de avaliação, perfazendo uma carga lectiva de 62h.
2008
2.ª feira
3.ª feira
4.ª feira
5.ª feira
6.ª feira
Física dos
Sistemas
Biológicos
Matemát.
Aplicada à
Biologia
15/19 Set. RECEPÇÂO
22/26 Set.
Fisiologia Vegetal
29 Set/3 Out.
6/10 Out.
13/17 Out.
20/24 Out.
27/31 Out Rui Tavares
20
3/7 Nov.
10/14 Nov.
17/21 Nov.
Fisiologia Animal
24/29 Nov.
1/5 Dez.
FERIADO
8/12 Dez.
FERIADO
15/20 Dez. Cristina Pereira
22/26 Dez.
19
NATAL
29 Dez./1 Jan.
FERIADO
FERIADO
5/9 Jan.
12/16 Jan.
19/22 Jan.
Hereditariedade e Evolução
17
17
26/30 Jan
2/6 Fev. Cristina Aguiar
9/13 Fev.
16/21 Fev.
19
EXAME
Figura 1. Calendarização parcial do 2º ano curricular da Licenciatura em Biologia Aplicada em 2008/ 2009
Podcasts com tipos, duração e finalidades diferentes foram então criados e
disponibilizados para a unidade curricular. A gravação de cada episódio foi feita no software
Audacity e, após edição, procedeu-se à sua conversão para o formato mp3, sendo este ficheiro
de seguida colocado na plataforma institucional de e-learning. Na concepção e criação dos
144
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
podcasts tentou-se obedecer a alguns dos requisitos preconizados por vários autores para a
sua planificação (McCombs et al., 2007; O’Donoghue et al., 2008; Sheridan-Ross et al., 2008),
nomeadamente ter em conta os seus objectivos e finalidades, determinantes para a estrutura
do material que se pretende disponibilizar. A estrutura deve ainda ser consistente e a duração
tão curta quanto possível, para além do episódio dever ser de fácil acesso e utilização.
Idealmente também, devem ser incorporadas outras actividades de aprendizagem (como os
fóruns de discussão, avaliações, etc), que ajudam a relembrar a informação contida no podcast
(McCombs et al., 2007).
Na primeira semana de aulas foi disponibilizado um audiocast correspondente à leitura
de um excerto de um livro que não integrava a bibliografia aconselhada, mas que representava
uma visão diferente sobre um conteúdo abordado. Na segunda semana, a turma foi dividida em
quatro grupos e os alunos de cada um desses grupos foram convidados a estudar e a preparar
um de quatro temas distintos, inserindo no fórum da plataforma as conclusões do seu estudo.
Para cada uma destas quatro participações foi criado um ficheiro áudio contendo comentários
às intervenções do respectivo grupo de alunos. Posteriormente, e porque cada aluno se tinha
preparado para um de quatro tópicos apenas, foi solicitado aos alunos que partilhassem as
conclusões dos seus estudos e agendou-se uma sessão presencial de discussão para expor,
analisar e debater tais temas, num processo colectivo e colaborativo de construção do
conhecimento. Decorrida esta sessão, criaram-se mais quatro audiocasts, cada um deles
contendo uma síntese do tema abordado, salientando os seus aspectos mais importantes. Por
fim, dois audiocasts de tipo completamente diferente foram ainda disponibilizados na terceira e
quarta semanas lectivas, desta vez contendo elencados uma série de objectivos de
aprendizagem, acompanhados de orientações de estudo e instruções para pesquisa que
auxiliavam os estudantes a cumprir tais objectivos.
De acordo com uma taxonomia de podcasts recentemente proposta (Carvalho et al,
2008c), cinco dos onze episódios criados no âmbito deste estudo foram classificados como
expositivos (4 ficheiros contendo os resumos e 1 com a leitura do excerto do texto), quatro
(com os comentários a grupos de alunos) foram incluídos na categoria feedback e dois na de
instruções (os que forneciam orientações e instruções para o estudo de um dado tópico)
(Tabela 1). Todos os episódios foram disponibilizados em formato áudio, tendo sido gravados
pela docente num estilo ora formal ora informal, dependendo do seu conteúdo e objectivos. Em
termos de duração, procurou-se ir ao encontro das recomendações de vários autores, que
aconselham podcasts de curta duração (Cebeci & Tekdal, 2006; Chan et al., 2006; McCombs
et al., 2007; Hendron, 2008; O’Donoghue et al., 2008; Sheridan-Ross et al., 2008).
145
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Autor
Tipo
Número
Duração
Objectivo
Estilo Formato
1
curto
Conteúdos extra
2
curto
Conteúdos
2
médio
Conteúdos
Feedback
4
curto
Comentários
personalizados
intervenções no fórum sobre 4 temas
Instruções
2
curto
Fornecer instruções e orientações de estudo
para atingir determinados objectivos de
aprendizagem
Expositivo
Professor
F
às
I
áudio
F
Tabela 1. Taxonomia dos podcasts produzidos no presente estudo
Recolha de dados
De forma a proceder à caracterização da amostra, por um lado, e à análise das
reacções aos podcasts criados, por outro, utilizou-se a técnica do inquérito para recolha de
dados. Um primeiro questionário - o de Literacia Informática - foi distribuído e preenchido pelos
alunos no início da unidade curricular e permitiu recolher alguns dados pessoais bem como
informações relativas ao seu conhecimento e utilização de ferramentas da Web 2.0. Uma vez
ouvidos os podcasts criados no âmbito da unidade curricular, os alunos responderam a um
segundo questionário - Questionário de Opinião – que se destinava essencialmente a avaliar a
audição dos episódios e as reacções aos mesmos. Ambos os questionários integravam
questões de resposta fechada, de tipo dicotómico ou de escolha múltipla, e também algumas
questões de resposta aberta. Os dados foram tratados por um elemento da equipa, que
também conduziu as entrevistas, dirigidas à docente e aos discentes de cada unidade
curricular que apresentaram opiniões díspares ou cujas respostas careciam de clarificação.
Caracterização da amostra
O presente estudo envolveu 36 alunos, 75% do sexo feminino e 25% do sexo
masculino, sendo a sua média de idades 19,7 anos. Todos os alunos declararam possuir
computador pessoal, sendo este portátil na grande maioria dos casos (94%). Metade dos
alunos referiu dispor também de um computador de secretária. Para além do computador,
estes alunos possuem ainda outros equipamentos electrónicos como leitores de MP3 (58% dos
alunos) ou de MP4 (25%) e também telemóvel 3G (69%). A maioria dos alunos (94%) tem
Internet em casa e o acesso à mesma é realizado quer a partir de casa (92%) quer do campus
universitário (83%). A grande maioria acede à Internet diariamente (92%), sendo que um
número expressivo de alunos o faz através do computador portátil e utilizando um sistema de
rede sem fios (77%); 18% dos alunos acede também pelo telemóvel. Os alunos estão
acostumados a descarregar ficheiros da Internet (especialmente documentos pdf, word,
programas, músicas e jogos). Curiosamente no entanto, embora conheçam e utilizem
146
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
ferramentas da Web 2.0 - em particular o Hi5 (81% dos alunos) e o Blogue (22%) - e participem
em locais de conversação on-line (67% dos alunos), mais de metade dos discentes desta
unidade curricular revelou desconhecer o que são podcasts (67%). Entre a minoria que sabia o
seu significado, apenas metade declarou ter já ouvido podcasts.
A análise destes dados permite inferir que os alunos dispõem da tecnologia/ meios
adequados à audição de podcasts, uma constatação generalizada a outros grupos de alunos
envolvidos em estudos no âmbito do projecto sobre podcasts (Aguiar et al., 2008; Carvalho et
al., 2008a/b). De uma forma geral, e face ao grupo que frequentou HE em 2007/ 2008 (Aguiar
et al., 2008), registou-se neste estudo um aumento da população de alunos que detém e utiliza
dispositivos e tecnologia móveis, embora menos estudantes neste último grupo tivessem
referido estar familiarizados com podcasts.
Inquiridos relativamente à preferência de formato para conteúdos curriculares, os
alunos optam claramente pelo formato de texto (91%); dos restantes, um aluno apenas referiu
preferir ficheiros áudio e dois alunos optariam por ambos os formatos em simultâneo. As
razões subjacentes a esta tendência prendem-se com uma maior facilidade de utilização/
exploração (46% dos alunos) ou melhor percepção/ compreensão (31%) do texto escrito, maior
capacidade de memorização visual (12%), maior atenção/ concentração na leitura de textos
escritos (8%) ou então com hábitos de leitura (4%). Apesar da preferência clara por ficheiros de
texto e do desconhecimento de podcasts, 64% dos alunos declararam estar receptivos a
aceder a conteúdos da unidade curricular num ficheiro para audição, que provavelmente
ouviriam durante a deslocação para casa ou no local de residência. Outras opções como
passear ou praticar desporto e ouvir ficheiros áudio com conteúdos curriculares, não reúnem
muitos adeptos (13% e 14% dos alunos, respectivamente).
Resultados
Audição dos podcasts
Os podcasts criados no âmbito do presente estudo foram ouvidos pela grande maioria
dos discentes (96%); afirmando um dos alunos não o ter feito por desconhecer os podcasts e o
outro por ter estado ocupado. A audição dos episódios foi feita preferencialmente no
computador pessoal, após descarga do ficheiro, maioritariamente no local de residência e à
noite ou durante a tarde (Figura 2). Estas observações são compreensíveis atendendo ao
número de alunos relativamente generalizado que pode aceder à Internet em casa e uma vez
que os podcasts foram normalmente disponibilizados em momentos sem actividades lectivas
calendarizadas.
147
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
80
100
B
60
% de alunos
% de alunos
80
A
60
40
20
20
0
0
campus
80
casa
transporte
local
público
trabalho
sem
resposta
B
manhã
80
60
% de alunos
40
tarde
noite
sem resposta
D
D
60
40
40
20
20
0
0
plataforma
pc
pendisk
leitor MP3
nenhuma
ida para
casa
desporto
passeio
outras
(estudo,
trabalho,
jogo)
sem
resposta
Figura 2. Locais (A), momentos (B), meios técnicos utilizados (C) e actividades realizadas em simultâneo
(D) com a audição dos audiocasts disponibilizados em HE (n=36)
A maioria dos alunos (76%) não realizou qualquer actividade em simultâneo com a
audição dos podcasts, o que parece dever-se à necessidade de silêncio e concentração,
argumentos também invocados pelo grupo discente que frequentou HE no ano lectivo anterior
(Aguiar et al., 2008). Ouvir atentamente a informação contida nos podcasts é precisamente o
que 41% dos alunos refere ter feito. No entanto, sentem necessidade de transcrever parcial
(47%) ou integralmente (12%) o conteúdo dos ficheiros áudio, que justificam com os
argumentos de “pesquisar depois mais profundamente sobre o assunto”, “para assimilar melhor
a informação” “porque era mais fácil saber o que estudar” ou porque “a informação transcrita
em papel é de mais fácil acesso”, entre outros. Talvez por estes motivos também, 85% dos
alunos tenha voltado a ouvir os podcasts, uma ou duas vezes (38% em ambos os casos),
essencialmente para recapitular (86%), completar apontamentos (55%) ou por não terem
estado presentes na aula (17%). Os alunos de HE do ano lectivo transacto registaram valores
inferiores no que concerne à repetição da audição dos podcasts (70% dos alunos) invocando a
necessidade de recapitulação, a captação de pormenores, a confirmação de conhecimentos e
a melhoria da compreensão como os principais motivos para o fazerem. Esta foi aliás uma das
características dos podcasts consideradas mais vantajosas: o facto de poderem ser ouvidos
“sempre que conveniente ou necessário”, tal como realçado por vários autores (Rosell-Aguilar,
2007; Watson & Boggs, 2007; Harris & Park, 2008). No entanto, ao comparar estes valores nos
grupos de alunos abrangidos pelos dois estudos, urge referir que em 2007/ 2008 os podcasts
eram de curta duração e continham apenas resultados de aprendizagem e indicações para
estudo. No presente ano lectivo, para além de episódios semelhantes, foram também
148
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
disponibilizados podcasts com outra tipologia e de maior duração, concretamente com resumos
de alguns conteúdos programáticos, que requereram naturalmente maior concentração e um
maior esforço ao nível de audição.
Após terem ouvido os audiocasts disponibilizados pela docente, as opiniões dos alunos
dividem-se no que diz respeito a uma eventual preferência pelo conteúdo num formato escrito,
com 44% dos alunos a manifestar tal preferência face a 47% que a não evidenciou. Recorde-se
que, quando inquiridos sobre esta questão no início da unidade curricular, os alunos revelaram
alguma resistência aos ficheiros áudio com conteúdos e indicaram claramente preferir o
formato escrito (91% dos alunos). Estes resultados traduzem assim a aceitação destes
recursos no ensino. Curiosamente, o formato de impressão reuniu a preferência de apenas
23% dos alunos de HE no ano lectivo anterior (Aguiar et al., 2008) talvez uma vez mais devido
à tipologia e duração dos seus audiocasts, menos exigentes ao nível da audição e sem
conteúdos para transcrição.
Avaliação dos podcasts
Inquiridos
acerca
da
qualidade
dos
podcasts
os
alunos
pronunciaram-se
favoravelmente no que diz respeito aos parâmetros utilizados como indicadores dessa
qualidade (Figura 3).
claros
extensos
voz
amigável
perceptíveis
0
50
% de alunos
100
Figura 3. Opinião discente acerca de parâmetros indicadores da qualidade dos podcasts (n=34)
À excepção de seis alunos, para quem a voz do professor foi indiferente, constatou-se
que 56% dos alunos ouviam os podcasts com atenção, 35% gostou da entoação da voz do
professor, por facilitar a compreensão do que estava a ser transmitido, e 21% realçou a
sensação de maior proximidade criada pela voz da docente.
Receptividade aos podcasts
A integração de podcasts em HE no presente ano lectivo foi considerada uma maisvalia por 82% dos estudantes e o interesse em voltar a aceder a conteúdos áudio noutras
149
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
unidades curriculares foi expresso por 74% do mesmo grupo de alunos, indicando a aceitação
desta ferramenta pelos discentes (Figura 4).
Receptividade em aceder a mais podcasts
Integração de podcasts como mais-valia
15%
3%
26%
sim
sim
não
não
sem resposta
82%
sem resposta
74%
Figura 4. Opinião discente acerca da integração de podcasts em HE e receptividade em aceder a novos
podcasts noutras unidades curriculares (n=34)
Os alunos defendem que os conteúdos áudio constituem uma mais-valia por permitirem
uma maior flexibilidade em termos espaciais e temporais, já que podem ser acedidos a partir
de qualquer lugar e a qualquer hora, possibilitando repetir a sua audição indefinidamente, o
que facilita a compreensão das matérias. Estes aspectos têm sido amplamente reconhecidos
numa variedade de estudos sobre utilização de podcasts no ensino (Watson & Boggs, 2007).
Para além disso, apontaram ainda o carácter inovador, versátil e motivante da utilização de tal
abordagem. Os cinco alunos para os quais a utilização desta ferramenta não acrescenta valor
ao processo de ensino/ aprendizagem referem não ter conseguido adaptar-se a tal novidade ou
que a mesma lhes acarreta um esforço adicional, pois afirmam “estudar melhor a matéria em
papel do que em som”.
Sugestões para podcasts
Mais de metade dos alunos considerou que podcasts contendo orientações de estudo
ou com resumos das aulas seriam os mais úteis, seguidos dos podcasts relativos a conteúdos;
instruções para trabalhos práticos; conteúdos extra-aula; e apresentação de notícias. Uma
percentagem menos expressiva de alunos referiu outras utilidades para os podcasts (Tabela 2).
HE
Podcasts contendo:
(n=36)
%
Instruções para trabalho prático
44
Resumos
64
Feedback
24
Desenvolvimento de competências de pesquisa e selecção
16
150
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Orientações de estudo
68
Conteúdos
44
Leitura de textos
16
Matéria extra aula
40
Tutoriais
16
Apresentação de notícias
36
Outros
4
Tabela 2. Utilidade de diferentes tipos de podcasts para os alunos de HE em 2008/ 2009
Algumas das sugestões avançadas parecem ter eco noutros alunos envolvidos em
experiências com podcasts (Aguiar et al., 2008; Carvalho et al., 2008a/b); é o caso de podcasts
contendo resumos de aulas, um dos mais usados em educação, ou os de conteúdos, numa
clara preferência por soluções que auxiliem na compreensão de determinado conteúdo.
Curiosamente, apesar dos podcasts com orientações de estudo não terem tido tão boa adesão
por parte dos alunos de HE no ano anterior, a maior preferência dos alunos no presente ano
lectivo recai precisamente sobre tais podcasts.
Os alunos expressaram ainda a sua opinião relativamente à duração ideal para um
podcast, seleccionando maioritariamente a opção de 4-6 minutos (31% dos alunos), seguida
das opções de 1-3 minutos e de 7-15 minutos (28% dos alunos em ambos os casos). Nenhum
aluno demonstrou receptividade para escutar podcasts demasiado extensos, de duração
superior a 30 minutos. Os argumentos que consolidam este consenso em torno de podcasts de
curta ou média duração, e que encontram eco na literatura (Edirisingha et al., 2007; Lee &
Chan, 2007; Salmon et al., 2007; Hendron, 2008), remetem sobretudo para as desvantagens
dos podcasts longos pois “é essencial ser curto e conciso para não ser maçador e perder o
efeito desejado”, “tenho dificuldades em manter-me concentrado”, “ouvir sempre a mesma voz
é cansativo em longos períodos de tempo”, “se forem longos, a parte inicial é esquecida” ou
“penso que podcasts longos se tornam aborrecidos e, nesse caso, o ideal seria o conteúdo ser
em texto escrito”.
Conclusões
Os podcasts têm sido progressivamente adoptados e explorados no ensino, como uma
ferramenta adicional ao serviço do processo de ensino/ aprendizagem. Contudo, e à
semelhança do que tem sido verificado noutros estudos conduzidos anteriormente, a maioria
dos alunos que participou neste estudo revelou desconhecer a sua existência, o que não deixa
de ser curioso atendendo à sua familiarização com as novas tecnologias.
151
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Uma vez mais, os alunos de Hereditariedade e Evolução confirmaram a sua
receptividade e interesse em aceder a novos podcasts, noutras unidades curriculares,
manifestando preferência por episódios de curta duração e cujo conteúdo auxilie a sua
aprendizagem na unidade curricular. Também como já constatado por diferentes autores, estes
alunos não tiram partido de uma das mais-valias dos podcasts, que é a portabilidade. A origem
de tal tendência não reside, pelo menos neste caso, na ausência de meios ou conhecimentos
para o fazer, mas sim porque os dispositivos móveis são claramente conotados com
actividades de lazer e não com a sua vida académica.
Referências
Aguiar, C., Carvalho A. A. & Carvalho, J. (2008) Atitudes e Percepções Discentes face à
Implementação de Podcasts na Licenciatura em Biologia Aplicada. Actas do Encontro
Web 2.0., Braga, CIEd.
Avgerinou, M., Salwach, J. & Tarkowski, D. (2007). Information Design for Podcasts. In C.
Montgomerie & J. Seale (Eds.), Proceedings of World Conference on Educational
Multimedia, Hypermedia and Telecommunications 2007, 754-756. Chesapeake, VA:
AACE.
Bell, T., Cockburn, A., Wingkvist, A. & Green, R. (2007) Podcasts as a supplement in tertiary
education: an experiment with two computer science courses. Mobile Learning
Technologies and Applications (MoLTA). Auckland, New Zealand
Bongey, S., Cizadlo, G. & Kalnbach, L. (2008). Explorations in course-casting: podcasts in
higher education. In Campus-Wide Information Systems, 23 (5), 350-367. Emerald Group
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Cabecinhas, R. & Carvalho, C. J. (2008a) Integração de Podcasts
no Ensino Universitário: Reacções dos Alunos. Prisma.com – Revista de Ciências da
Informação e da Comunicação do CETAC 6: 50-74 (http://prisma.cetac.up.pt/).
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Carvalho, C. J. & Cabecinhas, R. (2008b) Influence of Podcasts
Characteristics on Higher Students' Acceptance. In: C. J. Bonk, M. M. Lee & T.H.
Reynolds (eds), Proceedings of E-Learn. Chesapeake: AACE, 3625-3633.
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Carvalho, C. J., Oliveira, L., Cabecinhas, R., Marques, A., Santos,
H.
&
Maciel,
R.
(2008c).
Taxonomia
de
podcasts.
Disponível
em
http://www.iep.uminho.pt/podcast/Taxonomia_Podcasts.pdf
Dixon, C. & Greeson, M. (2006). Recasting the concept of podcasting (Part I). Disponível em
http://news.digitaltrends.com/talkback109.html (consultado em Abril de 2009)
Durbridge, N. (1984). Audio cassettes. In A. W. Bates (ed.), The Role of Technology in Distance
Education, 99-107. Kent, UK: Croom Helm.
Harris, H. & Park, S. (2008). Educational usages of podcasting. British Journal of Educational
Technology, 39 (3), 548-551.
152
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Hendron, J. G. 2008. RSS for Educators: blogs, newsfeeds, podcasts, and wikis in the
classroom. Washington, DC: ISTE.
Lakhal, S., Khechine, H. & Pascot, D. (2007). Evaluation of the Effectiveness of Podcasting in
Teaching and Learning. In G. Richards (Ed.), Proceedings of World Conference on ELearning in Corporate, Government, Healthcare, and Higher Education 2007, 6181-6188.
Chesapeake, VA: AACE.
McCombs, S., Liu, Y., Crowe, C., Houk, K. & Higginbotham, D. (2007). Podcasting Best
Practice Based on Research Data. In C. Crawford et al. (Eds.), Proceedings of Society for
Information Technology and Teacher Education International Conference 2007, 16041609. Chesapeake, VA: AACE.
McLoughlin, C. & Lee, M. (2007). Listen and learn: A systematic review of the evidence that
podcasting supports learning in higher education. In C. Montgomerie & J. Seale (Eds.),
Proceedings of World Conference on Educational Multimedia, Hypermedia and
Telecommunications 2007, 1669-1677. Chesapeake, VA: AACE.
McLoughlin, C.; Lee, J. & Chan, A. (2007). Promoting Engagement and Motivation for Distance
Learners through Podcasting. In New Learning 2.0? Emerging digital territories,
developing continuities, new divides: Proceedings of the European Distance Education
and E-Learning Network (EDEN) Annual Conference 2007, 13–16. Naples, Italy.
Disponível em http://csusap.csu.edu.au/~achan/papers/2007_POD_EDEN.pdf (consultado em
Janeiro de 2009)
O'Donoghue, M., Hoskin, A. & Bell, T. (2008). Guidelines for podcast production and use in
tertiary education. In Proceedings Ascilite Melbourne 2008: Melbourne. Disponível em
http://www.ascilite.org.au/conferences/melbourne08/procs/odonoghue-poster.pdf (consultado em
Fevereiro de 2009)
Rosell-Aguilar, F. (2007). Top of the pods – In search of podcasting pedagogy for language
learning, Computer Assisted Language Learning 20 (5), 471- 492.
Salmon, G., Mobbs, R., Edirisingha, P. & Dennett, C. (2008). Podcasting technology. In G.
Samon and P. Edirisingha (eds.), Podcasting for Learning in Universities. New York:
Open University Press, 20-32.
Sheridan-Ross, J.; Gorra, A. & Finlay, J. (2008). Practical tips for creating podcasts in higher
education. In ITiCSE’08, 311-311. Spain: ACM
Shim, J.; Shropshire, J.; Park, S.; Harris, H. & Campbell, N. (2007). Podcasting for e-learning,
communication, and delivery. Industrial Management and Data Systems, 107 (4), 587600. Disponível em http://www.emeraldinsight.com/0263-5577.htm (consultado em Fevereiro
de 2009)
Watson, R. & Boggs, C. (2007). The Virtual Classroom: Student Perceptions of Podcast
Lectures in a General Microbiology Classroom. In G. Richards (Ed.), Proceedings of
World Conference on E-Learning in Corporate, Government, Healthcare, and Higher
Education 2007, 2170-2174. Chesapeake, VA: AACE.
153
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Este estudo foi realizado no âmbito do projecto PTDC/CED/70751/2006, financiado pela FCT e integrado
no CIEd.
154
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Criação de podcasts pelo professor (informar e motivar para leituras):
uma experiência no ensino universitário
Lia Raquel Oliveira
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo – O texto apresenta uma experiência de produção de podcasts pelo professor, em
duas unidades curriculares da área da Educação (licenciatura e mestrado) que funcionam
em regime presencial. A intenção subjacente foi a de explorar as tecnologias associadas ao
podcasting audio e analisar a receptividade dos estudantes a este tipo de podcasts. Foram
criados dez podcasts: cinco com finalidade informativa e cinco com finalidade motivadora
para a leitura de bibliografia recomendada. A reacção dos estudantes foi moderada mas,
em contrapartida, bastante positiva em relação aos podcasts de motivação para leituras.
Produzir podcasts é útil e tem interesse pedagógico exigindo, contudo, bastante tempo e
dedicação. Justifica-se, portanto, a produção de podcasts que possam ser reutilizados.
Contextualização, justificação e objectivos
A experiência de uso de podcasts que se relata decorreu, no ano lectivo 2007/08, em
duas Unidades Curriculares (UC) de cursos lecionados na Universidade do Minho: Tecnologia
e Comunicação Educacional II (TCEII), Licenciatura em Educação, 1º ano, 2º semestre, 47
estudantes; e Aprendizagem e Comunicação em Rede (ACR), Mestrado em Educação, área de
especialização em Educação de Adultos e Intervenção Comunitária, 1º ano, 2º semestre, 17
estudantes.
Estas unidades curriculares, ambas integrando formações em Educação e apesar do
nível de graduação ser diferente (1º e 2º ciclos de estudos do Regime Bolonha), têm em
comum o facto de se debruçarem sobre a comunicação educacional, com particular incidência
nos processos de comunicação possibilitados pelas tecnologias electrónicas de rede.
Constituem-se, apesar das especificidades de cada uma, como espaços de reflexão, análise e
exploração
destes
processos
de
comunicação
e
aprendizagem
em
rede
na
Sociedade/Economia do Conhecimento e baseiam-se na necessidade de aplicação de uma
pedagogia baseada na partilha entre pares e na colaboração e iniciativa conjuntas. A
metodologia de ensino-aprendizagem é a de trabalho de projecto (Kilpatrick, 2007) realizado
em equipas de 3, 4 ou 5 elementos, documentado em portefólios digitais (no caso, blogues).
Os sistemas de weblogging (blogues) não sendo sistemas de eportefólios, servem os seus
propósitos, transitoriamente e com limitações de vária ordem, como é óbvio (Paraskeva e
155
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Oliveira, 2008).
O Programa das UC foi negociado com os estudantes e desta negociação resultou um
plano de trabalho (projecto) constituído por várias actividades, entre elas uma actividade de
vodcasting (podcasts vídeo, pequenos filmes de três minutos relativos a temáticas abordadas)
que constituia uma novidade para estes estudantes.
Esta metodologia, que pretende proporcionar aos estudantes a ocasião de construir o
seu próprio saber de “experiência feito” e não de “experiência narrada ou transmitida” (Freire,
2003), mediatizada pelo contacto directo com os objectos cognoscíveis (o mundo, a realidade)
e que ocorre na “intercomunicação” (idem), funda-se nos princípios da “concepção
problematizadora e libertadora da educação” (idem). Nestas UCs, o Programa foi negociado,
de forma crítica e dialogada, estabelendo as pontes possíveis entre o Programa oficial
(prescrito) e as necessidades/expectativas específicas dos estudantes, tendo em consideração
os seus conhecimentos e competências prévias, despertando a consciencialização para os
saberes e as ignorâncias. Assim, a audição dos podcasts audio, a serem produzidos pela
professora, no contexto desta experiência, foi proposta como sendo de carácter facultativo (não
considerada para efeitos de avalição das aprendizagens) assim como o preenchimento de dois
questionários (um, inicial, de caracterização dos estudantes e outro, final, de recolha de
opiniões).
Neste contexto e nestes pressupostos, a intenção da experiência foi, sobretudo, a de
explorar a tecnologia associada aos podcasts – realizados pela professora - no sentido de
ponderar e considerar o eventual interesse em usá-los futuramente. Os objectivos da
experiência consistiram, portanto, em: 1) produzir um conjunto de podcasts audio (pela
professora) e disponibilizá-los na plataforma electrónica de apoio às aulas (Blackboard),
reflectindo criticamente sobre o processo; 2) verificar a receptividade dos estudantes a este tipo
de podcasts.
Metodologia
Relativamente ao primeiro objectivo — produzir um conjunto de podcasts audio — a
professora procedeu à selecção dos textos a serem gravados e, posteriormente, à produção
dos podcasts de forma experimental iterativa. Manteve um diário crítico/reflexivo do processo.
Relativamente ao segundo objectivo — verificar a receptividade aos podcasts — foi
proposta aos estudantes uma audição de carácter voluntário. Para a recolha de dados, foi
passado um questionário inicial de ‘caracterização dos estudantes’, tendo em vista conhecer os
usos que faziam da internet e os equipamentos associados que posuiam. No final do semestre,
foi passado um questionário de ‘opiniões’, relativas à experiência. No já referido diário (da
professora), foram registadas notas de campo, particularmente sobre discussões tidas com os
estudantes, pontuais e informais, sobre o potencial educativo destes podcasts e as vantagens
que neles encontravam. Dada a natureza da experiência (pedagógica e exploratória), os dados
156
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
recolhidos com estes questionários não foram objecto de tratamento estatístico, tendo sido
apenas analisadas e interpretadas as listagens de frequência.
Recapitulando, estiveram envolvidos na experiência 47 estudantes de graduação e 17
de pós-graduação (no total 64). Ao primeiro questionário responderam todos os estudantes. Ao
segundo questionário responderam, na turma de graduação, 23 alunas (23/47 estudantes), e
na turma de pós-graduação, 10 alunas e 1 aluno (11/17 estudantes). Ou seja, 34 estudantes.
Descrição dos podcasts
A taxonomia provisória criada no âmbito do Projecto “Implicações Pedagógicas da
Utilização de Podcasts em Blended-Learning” (Carvalho et al, 2009), no qual se integra esta
experiência, prevê as seguintes categorias:
[1] Tipo: são considerados quatro tipos - Informativo (conceitos, análise, síntese, leitura
de textos, poemas, descrição de ferramentas ou equipamentos, etc); Feedback/Comentários
(a/para trabalhos e alunos e trabalhos de grupo); Orientações (para trabalho de campo ou
prático); e entrevista.
[2] Meio: audio ou video (incluindo screencast).
[3] Extensão: Curto (1’-5’), Moderado (6’-15’) or Longo (>15’).
[4] Autor: Professor, Estudante, e outros (peritos, comunidade local, autoridades).
[5] Estilo: Formal ou informal
[6] Finalidade: descrita com um verbo de acção (informar, analisar, desenvolver, motivar,
etc.).
De acordo com esta taxonomia, os podcast’s produzidos enquadram-se todos no tipo
informativo, o meio é unicamente audio, a extensão é sempre curta (máximo 3’05’’), o autor é
sempre o professor, o estilo é informal e a finalidade é esclarecer (1 podcast), clarificar normas
de avaliação (4 podcasts) e motivar para leituras (5 podcasts).
Na tabela 1 especifico os títulos produzidos.
Nº
Designação
1
Nota introdutória Projecto Podcast
Extensão
finalidade
1’19’’
Esclarecer sobre o projecto
e sobre a participação
voluntária
2
Normas de avaliação – geral (TCEII)
2’25’’
Clarificar
avaliação
normas
de
3
Normas de avaliação – actividade 1 (ACR)
3’01’’
Clarificar
avaliação
normas
de
4
Normas de avaliação - actividade 2 (ACR)
3´05´´
Clarificar
avaliação
normas
de
5
Classificação das equipas
1´52´´
Clarificar
avaliação
normas
de
157
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
6
7
8
9
10
Fragmentos de leituras recomendadas, A
desmotivação dos professores, Jurjo Torres
Santomé, Edições Pedago
Fragmentos de leituras recomendadas,
Esperança educada..., Henri Giroux, Edições
Pedago
Fragmentos de leituras recomendadas, O
mundo é plano, Thomas Friedman, Actual
Editora
Fragmentos de leituras recomendadas, O
mundo é plano, Thomas Friedman, Actual
Editora
Fragmentos de leituras recomendadas, As
leis fundamentais da estupidez humana,
Carlo Cipolla, Celta Editora
2´07´´
Motivar para a leitura de
livro
1´59´´
Motivar para a leitura de
livro
1´32´´
Motivar para a leitura de
livro
1´27’’
Motivar para a leitura de
livro
1´59´´
Motivar para a leitura de
livro
Tabela 1. Podcasts produzidos.
O podcast 1 serviu de ‘teste’ para a professora e cumpriu também a função ética de
esclarecer os estudantes sobre a natureza da participação na experiência. Os podcasts 2, 3, e
4, reportando-se a normas de avaliação, previamente propostas, discutidas e negociadas na
aula, posteriormente disponibilizadas em formato escrito na plataforma, funcionaram como
opção à versão escrita.
Porém, no acto de leitura e gravação destes podcasts, foi introduzida alguma
informação complementar, de natureza explicativa (reforço), como se tratasse de uma
exposição oral, em aula. Isto aconteceu, espontaneamente, durante a leitura. Mesmo o que já
estava escrito, ganhou, por força da locução, uma outra ‘importância’. Ao ler, enfatizamos a
mensagem! Esta fica mais ‘forte’ do que quando se recorre a sublinhados ou negritos, no
impresso. A audição é um processo sensorial mais intenso do que a leitura. Alguns estudos
sobre podcasts acentuam e justificam esta natureza ‘poderosa’ do audio ao nível dos efeitos
sobre a cognição e a motivação (Durbridge, 1984) e outros afirmam mesmo que os estudantes
gostam de ouvir as vozes dos seus professores (Durbridge, 1984; Richardson, 2006; Salmon et
al, 2007). Outros acentuam a importância da ‘voz radiofónica’, explicativa e envolvente que dá
forma a uma atmosfera ‘especial’ (Campbell, 2005; Cameron e Van Heekeren, 2008).
Relativamente ao podcast 5 (sobre a classificação das equipas), não havia versão em
texto escrito pelo que constitui uma ‘formalização’ do que tinha sido discutido na aula.
Os restantes cinco podcasts (6, 7, 8, 9 e 10) resultaram de alguma dúvida inicial
relativamente ao interesse pedagógico de podcasts audio em contextos presenciais e com
estudantes não portadores de dificuldades visuais. Esta dúvida resulta em grande medida do
estilo pessoal de aprendizagem da professora que não aprecia a simultaneidade de
determinadas tarefas, não tendo por hábito, por exemplo, ler e ouvir música ou rádio ao mesmo
tempo. Apesar de gostar de conduzir o automóvel, ouvindo rádio, sem que uma actividade
interfira com a outra. Para ela, ouvir um podcast constitui uma actividade a ‘tempo inteiro’ e,
portanto, essa actividade tem um ‘tempo próprio’. Acresce a outras actividades tornando-se
importante escaloná-las para uma correcta gestão do tempo diário. Esta constitui uma
158
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
preocupação pessoal importante, sempre presente quando organiza, com os estudantes, as
aulas e o estudo associado.
A ideia de ler ‘pedaços’ de livros ocorreu quando tentava, precisamente, motivar para a
leitura de alguns textos em particular e para a necessidade de realizar leituras complementares
de forma automotivada. Consistiram, então, estes podcasts na leitura de excertos de livros
recomendados aos alunos. Como esta modalidade de podcast não estava referenciada nas
taxonomias existentes, foi-lhe atribuída a designação “Fragmentos de leituras recomendadas”.
O objectivo destes podcasts é motivar para a leitura das obras, salientando excertos apelativos
e/ou polémicos, sublinhados por leitura expressiva, na medida do possível.
Os podcasts referidos estão disponíveis em http://sites.google.com/site/podcasts09/.
Resultados
Relativamente ao primeiro objectivo — produzir um conjunto de podcasts audio —
optou-se por testar primeiro os meios técnicos pessoais: um computador portátil (MacBook Pro)
com microfone incorporado e software integrado de podcasting (Garage Band). Os testes foram
bem sucedidos mas devido a algumas dificuldades na compatibilidade dos ficheiros, acabou
por fazer-se o download do software Audacity no qual foram produzidos, então, os podcasts
finais.
A produção dos podcasts exigiu alguma preparação prévia, tendo alguns sido escritos
previamente e outros consistido na leitura de extractos selecionados de livros. Foram feitos
alguns ensaios e foi necessário criar as necessárias condições de insonorização, ou seja,
procurar isolamento e um compartimento sem ruídos. Os ficheiros Mp3 resultantes da gravação
foram colocados na plataforma institucional (Blackboard) não tendo surgido qualquer
dificuldade.
Do ponto de vista do professor, produzir podcasts exige bastante tempo de dedicação.
Para estes, entre testagens, preparação e produção, foram usados, aproximadamente,
dezasseis horas, distribuídas por vários momentos. É necessário escolher o material que vai
ser lido, adequá-lo às situações concretas, prepará-lo com antecedência. Depois é necessário
criar as condições necessárias para a gravação, sobretudo condições de insonoridade e de
isolamento para não desperdiçar trabalho, por via de interrupções. Por outro lado, é necessário
familiarizar-se com o software de produção que não sendo difícil também não é propriamente
óbvio. Existem sempre percalços e nem sempre a compatibilidade de ficheiros está garantida
consoante o editor escolhido. Foi primeiro utilizado o Garage Band (MacOS) que gera ficheiros
que são reproduzidos em Quicktime e que não eram lidos no sistema Windows por algumas
pessoas. Foi utilizado, depois, o Audacity. Concluiu-se que todos os ficheiros eram audíveis na
plataforma (Blackboard).
Os podcasts audio podem ser úteis para estas aulas, apesar de funcionarem em
regime presencial e o contacto com os alunos ser regular e efectivo. As tecnologias de rede
são usadas para complementar o que é feito nas aulas e, nas UC em questão, constituem o
159
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
próprio objecto de estudo. Torna-se, portanto, natural usar, também, o podcasting, enquanto
tecnologia emergente, generalizada e bastante consolidada.
Relativamente ao segundo objectivo — verificar a receptividade dos estudantes —, no
que respeita à caracterização dos estudantes envolvidos, quer na turma de graduação quer na
turma de pós-graduação, estes revelaram ter um nível de literacia digital razoável, todos tendo
ou computador pessoal portátil ou de mesa e todos estando familiarizados com a utilização
básica de software utilitário e com a pesquisa na Internet. Aproximadamente metade dos
estudantes usa diariamente a internet e a outra metade usa duas a três vezes por semana. A
grande maioria tem ligação em casa, usando também os acessos do campus. Todos possuem
telemóvel mas muito poucos têm telemóvel de 3ª geração (apenas seis declararam possuir).
Em contrapartida, a maioria tem algum tipo de leitor Mp3. Porém nenhum sabia, na ocasião,
em que consistiam os podcasts. As idades destes estudantes oscilavam, na licenciatura, entre
os 19 e os 23, e no mestrado, entre os 23 e os 33 anos (uma aluna com 40 anos).
De acordo com os dados recolhidos com o questionário de opiniões, cerca de metade
dos estudantes do curso de graduação (23/47) ouviram os podcasts e quase todos ouviram no
curso de pós-graduação (13/17). Confirma-se que ouviram, de facto, porque referiram na aula
as alterações aos textos informativos sobre as normas de avaliação.
A qualidade dos podcasts foi considerada boa (perceptíveis, a voz amigável e a
informação clara). Estes estudantes declararam ter gostado de ouvir a voz do professor (como
nos estudos já referidos), assinalando os efeitos psicológicos de proximidade, atenção e
compreensão. Não é possível, contudo, deixar de levantar a questão: gostaram de ouvir a voz
da professora porque já existia simpatia com ela ou foi a audição dos podcasts que a suscitou?
Parece possível adiantar a hipótese, no caso, de a audição ter tido um curioso efeito
metacognitivo de consciencialização dessa simpatia.
Em questionamento directo e informal nas aulas, estes estudantes não pareceram
especialmente interessados nos podcasts e talvez isto explique, em parte, a fraca adesão ao
preenchimento do questionário no curso de graduação (cerca de metade). Alguns salientaram
ter gostado da voz e ter achado ‘interessante’, pela ‘novidade’.
Os podcasts designados por ‘Fragmentos de leituras recomendadas” foram os
podcasts que tiveram maior sucesso visível e claramente expresso pelos estudantes e que
geraram comentários, questões e discussões na aula. Motivaram, com efeito, para a leitura das
obras e ajudaram os alunos a selecionar os textos que iriam usar nas suas actividades de
aprendizagem. Estes excertos não se assumem como ‘leituras pessoais’ ou ‘recortes’ das
obras, acabando por funcionar como ‘sublinhados’ nos livros, contribuindo para a sua
discussão. Estes podcasts apresentam a grande vantagem inequívoca de poderem ser usados
inúmeras vezes, em situações futuras, em múltiplos contextos.
Os estudantes aceitaram bem a introdução deste podcasts nas aulas até porque, nas
suas actividades, já estava previsto, como foi referido, produzirem eles próprios podcasts vídeo
com a duração máxima de três minutos (a serem disponibilizados em blogues), sobre temáticas
160
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
em discussão. Contudo, neste contexto, não parecem ter tido estes podcasts audio um impacto
muito significativo ao nível, por exemplo de aprendizagens específicas. Os alunos apenas
tinham de aceder à plataforma de apoio às aulas e ouvir os podcasts ou guardá-los no seu
computador. Nenhum utilizou outros aparelhos (leitores Mp3 ou telemóvel) para guardar e
posteriormente ouvir os podcasts.
Ouvir os podcasts também exige tempo e atenção. Se a audição dos podcasts for
obrigatória, se contiverem informação que não esteja disponível no formato escrito, os
estudantes certamente os ouvirão. Havendo alternativas talvez não o façam, pelo menos no
imediato. Ressalva-se, contudo, a possibilidade de, dada a penetração rápida das tecnologias
móveis (particularmente de telemóveis 3G multifunções) e a crescente eficácia na transmissão
de dados (se associada a preços mais baixos), estes mesmos estudantes virem a aderir às
variadíssimas possibilidades que oferece o podcasting em geral.
Conclusão
A professora tenciona continuar a produzir podcasts para as suas aulas, na medida do
possível. As actividades que leva a cabo com os estudantes envolvem, por norma, a produção,
pelos próprios, de podcasts vídeo. Gostaria de produzir novos podcasts, particularmente
associados a imagens e a música. Dado o interesse dos ‘Fragmentos de leituras
recomendadas’ para a apresentação de bibliografias, tenciona começar a produzi-los de forma
sistematizada. A única dificuldade prende-se com o tempo necessário para o fazer. No
conjunto das tarefas profissionais dos professores universitários nem sempre é possível
conseguir esse tempo disponível, particularmente tendo em conta a ausência de ‘recompensa
institucional’ para este tipo de esforço.
Contudo, alguns podcasts compensam o esforço e o tempo dispendidos visto que
poderão ser utilizados em ocasiões futuras. Nos podcasts produzidos no contexto desta
experiência, alguns podem ser retomados em anos posteriores e enquadrados noutros planos
de actividades pedagógicas: podcast sobre ‘Trabalho de equipa’ e todos os ‘Fragmentos de
leituras recomendadas’.
O esforço de gravar podcasts pode compensar se estes puderem ser reutilizados. Para
tal, é necessário que se debrucem sobre assuntos independentes de contextos demasiado
específicos. Também é desejável que sejam produzidos com boa qualidade técnica, quer na
origem (captação de sons e/ou imagens) quer na na fase da pós-produção, para tal sendo,
eventualmente, necessário recorrer a uma ajuda especializada que pode estar num centro de
recursos multimédia.
161
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Referências
Cameron, D. & Van Heekeren B. (2008). Hello, and welcome to the show: Applying radio’s
‘explaining voice’ to educational podcasting. In Hello! Where are you in the landscape of
educational
technology?
Proceedings
ascilite
Melbourne
2008.
Disponível
em
http://www.ascilite.org.au/conferences/melbourne08/procs/cameron.pdf.
Campbell, G. (2005). There’s something in the air: Podcasting in education. EDUCAUSE
Review, 40(6), pp. 32-46.
Carvalho, A. A.; Aguiar, C.; Santos, H.; Oliveira, L. & Marques, A. (2009). Podcasts in higher
th
education: students’ and lecturers’ perspectives. Proceedings of the 9 WCCE IFIP World
Conference on Computers in Education, 27-31 de Julho, Bento Gonçalves, RS, Brasil.
Aceite para publicação.
Durbridge, N. (1984). Audio cassettes. In A. W. Bates (ed.), The Role of Technology in Distance
Education pp. 99-107, Kent, UK: Croom Helm.
Freire, P. (2003). Pedagogia do Oprimido. 36ª edição. S. Paulo: Paz e Terra.
Kilpatrick, W. (2007). O Método de Projecto. Mangualde: Edições Pedago.
Paraskeva, J. M. & Oliveira, L. R. (2008). Teoria Crítica, Currículo e Tecnologia Educativa. In J.
M. Paraskeva & L. R. Oliveira (Orgs.) Currículo e Tecnologia Educativa. Volume 2.
Mangualde: Edições Pedago, pp. 7-17.
Richardson, W.(2006). Blogs, Wikis, Podcasts and other powerful web tools for classroom.
Thousand Oaks, California: Corvin Press.
Salmon, G.; Nie, M. & Edirisingha, P. (2007) Informal Mobile Podcasting And Learning
Adaptation (IMPALA). e-Learning Research, Project Report 06/07. Beyond Distance
Research Alliance. University of Leicester, pp. 1-89.
Nota: Este estudo integra-se no projecto “Implicações Pedagógicas da Utilização de Podcasts em
Blended-Learning”, financiado pela FCT, referência PTDC/CED/70751/2006; CIEd.
162
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcasts no Ensino Superior: Um Estudo em Licenciaturas de Gestão
Célio Gonçalo Marques
Instituto Politécnico de Tomar
[email protected]
Ana Amélia A. Carvalho
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo
- O podcast possibilita um acesso fácil e rápido a grandes quantidades de
informação em formato de áudio e vídeo. Pelas enormes potencialidades que oferece, este
tem vindo a ser utilizado nos mais variados contextos, começando a ter uma importância
cada vez maior no domínio educacional. Nesta comunicação descrevemos um estudo
realizado no 1.º semestre do ano lectivo 2008/2009, em quatro unidades curriculares de
quatro licenciaturas da Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Tomar. Neste
estudo pretendeu-se criar e disponibilizar podcasts para dar feedback a um trabalho prático
dos alunos e simultaneamente auscultar a sua opinião acerca destes.
Os resultados indicam que os alunos aceitaram bem esta tecnologia, considerando os
podcasts criados de qualidade. A maioria dos alunos ouviu-os mais que uma vez para
poder tomar nota de aspectos que escaparam na 1.ª audição, tirar apontamentos e
recapitulá-los. O computador foi o meio mais usado pelos alunos para ouvirem os podcasts.
A maioria deles tirava notas enquanto ouvia os podcasts.
Introdução
O termo podcast surgiu em 2004 por Adam Curry e Dave Winer (Richardson, 2006).
Este termo deriva da combinação das palavras “ipod” e “broadcasting”, ou seja, do nome do
leitor portátil de músicas da Apple e da forma de transmissão de informação de rádio e
televisão, podendo ser definido como um ficheiro de áudio ou vídeo facilmente distribuído pela
Internet que permite o armazenamento de locução, música, vídeo e fotografias.
35
Os podcasts podem ser criados através de software de áudio como o Audacity
36
37
vídeo como o Podesk , ou com recurso a ferramentas da Web 2.0 como o Gcast
38
e de
ou o
39
Podcast People . Há também a possibilidade de utilizar o telefone como é caso do Gabcast .
35
http://audacity.sourceforge.net
http://www.podesk.com
37
http://www.gcast.com
38
http://www.podcastpeople.com
39
http://www.gabcast.com
36
163
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
40
Depois de criados, os podcasts são disponibilizados em repositórios como o Odeo , o
Podomatic
41
42
ou o Podcast Directory , ou em ambientes de gestão de aprendizagem. Estes são
também associados a um ficheiro de informação (feed) que permite a sua actualização
automática sem que o utilizador tenha que visitar o repositório. A audição dos podcasts pode
ser feita através de um computador ou com recurso a leitores de MP3/MP4, telemóveis,
consolas de jogos portáteis, etc.
Actualmente é possível encontrar podcasts sobre os mais diversos temas e com
inúmeros propósitos. Pelas enormes potencialidades que oferecem, desde há algum tempo
para cá que também têm vindo a ser integrados no ensino (Chan e Lee, 2005; Boulos et al.,
2006; Chan et al., 2006; Frydenberg, 2006; Moura e Carvalho, 2006a; Moura e Carvalho,
2006b; Abt e Barry, 2007; Cruz e Carvalho, 2007; Edirisingha et al., 2007a; Gribbins, 2007;
Guertin et al., 2007; Lee e Chan, 2007; Nathan e Chan, 2007; Salmon et al., 2007; Aguiar et al.,
2008; Carvalho, 2008; Carvalho et al., 2008a; Carvalho et al., 2008b; Carvalho et al., 2009).
Esta integração tem sido feita em diferentes níveis de ensino e áreas de saber, com
especial ênfase para o ensino superior, onde a versatilidade e a liberdade criativa desta
ferramenta encontram múltiplas formas de exploração (Aguiar et al., 2008). Os podcasts têm
sido utilizados para gravar aulas (Klapan-Leiserson, 2005; Frydenberg, 2006), dar feedback de
trabalhos (Kaplan-Lierson, 2005; Seltzinger, 2006), apresentar resumos de conceitos
(Seltzinger, 2006), proporcionar conteúdos suplementares e revisões das aulas (Evans, 2007),
fornecer orientações em actividades (Edirisingha et al., 2007b), disponibilizar os sumários das
aulas (Edirisingha e Salmon, 2007) ou até mesmo para gravar avisos e os trabalhos para casa
(Gribbins, 2007).
A grande popularidade dos podcasts deve-se à sua grande facilidade de criação e
publicação. Uma vez disponíveis na Web podem ser descarregados a qualquer momento,
ouvidos através de múltiplos dispositivos, a qualquer hora, em qualquer lugar, mesmo em
movimento (Evans, 2007; Green et al., 2008). Alguns alunos trabalhadores-estudantes vêem
neles uma excelente solução para ouvirem a matéria dada na sua ausência, como revela o
estudo levado a cabo por Moura e Carvalho (2006a).
Apesar de ser muito fácil a criação de podcasts nem sempre isso acontece com a
qualidade desejada, por isso, têm surgido várias grelhas de avaliação (Ex. Bell, 2007), assim
como, listas de recomendações para a produção de podcasts (como a de Junior e Coutinho,
2008), resultantes dos diversos estudos que se têm realizado neste domínio.
O podcast pode ser utilizado no ensino a distância (e-Learning), no ensino misto (bLearning) ou como complemento ao ensino presencial, sendo que a sua utilização nas duas
primeiras modalidades pode ser uma forma de criar presença social (Seltzinger, 2006).
Na tabela 1 apresentamos alguns repositórios de podcasts educativos. Na pesquisa
40
http://www.odeo.com
http://www.podomatic.com
42
http://www.podcastdirectory.com
41
164
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
efectuada não encontrámos nenhum repositório nacional dedicado exclusivamente à educação.
Repositório
Endereço Web
Columbia University
http://ccnmtl.columbia.edu/podcasting/index.html
George Town University
http://webcast.georgetown.edu:80/
Pennsylvania State University
http://digitalcommons.psu.edu/podcasting
Podcast for Teachers
http://www.podcastforteachers.org/
Princeton University
http://uc.princeton.edu/main/
Southwest Wisconsin Technical College
http://podcast.swtc.edu:80/lecture/index.php
University of California, Berkeley
http://webcast.berkeley.edu/
York College
http://york.cuny.edu/it/acet/course-podcast
Tabela 1. Repositórios de podcasts educativos
De acordo com Salmon et al. (2007), diferentes propósitos pedagógicos podem estar
subjacentes aos podcasts, entre eles, a promoção da aprendizagem independente,
colaborativa e activa e o desenvolvimento de determinadas competências.
O estudo que apresentamos corresponde à experiência levada a cabo com podcasts
em diversas unidades curriculares de licenciaturas da Escola Superior de Gestão de Tomar
(ESGT) do Instituto Politécnico de Tomar (IPT). Os alunos do 1º ano têm como componente da
avaliação das unidades curriculares leccionadas pelos docentes da Área de Tecnologias de
Informação e Comunicação um trabalho prático onde se avalia a utilização do processador de
texto aliada à metodologia de investigação.
Até então o feedback dado aos alunos relativamente a este trabalho era textual ou
através de exposição oral em horário de atendimento e apenas quando solicitado. Com vista a
contribuir para um melhor processo de ensino-aprendizagem decidimos, no presente ano
lectivo, recorrer aos podcasts para a realização desta tarefa.
Objectivos do estudo
O presente estudo teve como objectivo criar e disponibilizar podcasts em unidades
curriculares da área de Tecnologias de Informação e Comunicação da Escola Superior de
Gestão de Tomar e analisar as reacções dos alunos a estes.
Estes podcasts visaram o fornecimento aos alunos de feedback relacionado com os
erros cometidos no trabalho prático individual.
Por um lado pretende-se que os alunos consultem e entendam mais facilmente os
erros cometidos no trabalho, melhorando, desta forma, o processo de ensino-aprendizagem.
165
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Por outro lado, pretende-se que esta nova ferramenta torne mais rápida a enumeração e
comunicação dos erros cometidos no trabalho, libertando os professores para outras tarefas.
Metodologia
O estudo realizado foi de tipo exploratório. Para a recolha de dados utilizou-se a
técnica do inquérito, tendo-se concebido um questionário.
Este estudo decorreu durante no 1º semestre do ano lectivo de 2008/2009. No final do
semestre inquiriram-se os alunos através de um questionário online.
Descrição do estudo
Os trabalhos práticos foram submetidos através da plataforma de e-Learning do
Instituto Politécnico de Tomar. O professor corrigiu os trabalhos e para cada trabalho criou um
podcast que disponibilizou na plataforma de e-Learning. Através deste podcast, os alunos
puderam aperceber-se dos erros cometidos e assim procederem às correcções necessárias.
No final do semestre, os alunos foram questionados acerca dos podcasts criados.
Caracterização dos podcasts
Os podcasts foram criados com o software Audacity e disponibilizados nas
unidades curriculares de Aplicações Informáticas (Licenciatura em Gestão de Recursos
Humanos e Comportamento Organizacional - GRHCO), Informática de Gestão (Licenciatura em
Gestão de Empresas - GE) e Informática (Licenciaturas em Gestão e Administração de
Serviços de Saúde - GASS e Gestão Turística e Cultural - GTC). Após a gravação da locução,
os ficheiros foram gravados no formato MP3. Voltámos a importar os ficheiros para juntar uma
música de fundo, uma recomendação de Junior e Coutinho (2008). Ajustámos o tamanho da
música ao tamanho do conteúdo gravado e aplicámos o efeito de “fade in” no início e de “fade
out” no final para que música inicie e termine de forma gradual.
Figura 1. Criação de um podcast no Audacity
166
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
No final voltámos a guardar os projectos com o formato MP3. Foram criados 211
podcasts para as 4 unidades curriculares. A sua distribuição por unidade curricular encontra-se
feita na tabela 2.
Unidade Curricular
Licenciatura
Número de podcasts
Duração (min.)
Informática
GRHCO
60
1’ 25” – 14’ 44’’
Informática
GASS
44
1’ 45’’ – 15’ 12’’
Informática
GTC
39
1’ 08’’ – 13’ 32’’
Informática de Gestão
GE
68
1’ 12’’ - 17’ 08’’
Tabela 2. Podcasts produzidos no estudo
Os podcasts foram disponibilizados na plataforma de e-Learning do Instituto Politécnico
43
de Tomar . Primeiro transferimos os ficheiros para a plataforma e depois utilizámos o campo
“comentário” da actividade “trabalho” para colocar uma hiperligação para o podcast, já que este
campo não permite a inserção de ficheiros.
Os podcasts foram do tipo feedback ou comentário, áudio, sendo todos criados pelo
professor. A duração oscilou de curtos a longos, segundo a taxonomia proposta por Carvalho
et al. (2009), sendo a maioria de duração moderada. Foi utilizado um estilo informal e a
finalidade foi transmitir aspectos positivos e aspectos que terão de ser rectificados.
Começamos por descrever a forma como foram recolhidos os dados e por identificar os
instrumentos utilizados. De seguida é caracterizada a amostra atendendo ao sexo, idade e
literacia informática.
Recolha de dados
A recolha de dados foi efectuada através de dois inquéritos por questionário criados e
44
distribuídos através da ferramenta Surveymonkey . O primeiro questionário, que designámos
de questionário de identificação, visou caracterizar a amostra atendendo ao sexo, idade e
literacia informática.
O segundo questionário, denominado questionário de opinião, visou recolher
informações dos alunos relativamente à qualidade dos podcasts, à audição dos podcasts, aos
dispositivos utilizados para a audição dos podcasts, às tarefas executadas ao mesmo tempo
que eram ouvidos os podcasts e à aceitação dos podcasts.
Os questionários integravam questões de resposta fechada do tipo de escolha múltipla,
bem como algumas questões de resposta aberta.
43
44
http://www.e-learning.ipt.pt
http://www.surveymonkey.com
167
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Caracterização da amostra
Convidámos todos os alunos que ouviram os podcasts (211) a participarem neste
estudo, mas apenas 58,8% responderam ao desafio. Os 124 alunos que responderam aos
inquéritos são alunos do 1.º ano das licenciaturas em Gestão e Administração de Serviços de
Saúde Gestão, Gestão de Empresas, Gestão de Recursos Humanos e Comportamento
Organizacional e Gestão Turística e Cultural.
No que se refere ao sexo, 58,1% dos sujeitos são do sexo feminino e 41,9% do sexo
masculino. No que respeita à idade, constatámos que a moda se situa na faixa etária dos 18
anos. A idade mínima situa-se nos 17 anos, a idade máxima nos 49 anos e a média é
aproximadamente de 22 anos.
Inquiridos sobre a posse de computador e dispositivos móveis, constatou-se que 91,1%
dos alunos têm computador, 71,8% possuem leitores de MP3/MP4 e 50,8% possuem um
telemóvel 3G.
A grande parte dos alunos tem acesso à Internet em casa (70,2%), havendo dois
alunos que não responderam a esta questão.
Verificámos que para 60,5% dos sujeitos, esta foi a primeira vez que utilizaram
podcasts. Dos alunos que já tinham ouvido podcasts, não houve nenhum aluno que já tivesse
criado um.
Resultados
Apresentamos os resultados do questionário de opinião que agrupámos por qualidade
dos podcasts, audição dos podcasts, dispositivos utilizados para a audição dos podcasts,
tarefas executadas ao mesmo tempo que são ouvidos os podcasts e aceitação dos podcasts.
Qualidade dos podcasts
Para aferirmos da qualidade dos podcasts optámos pela utilização de uma escala de
diferencial semântico com valores de 1 a 7 (LaLomia e Sidowski, 1990; Nielsen, 1993). Esta
escala utiliza dois termos antagónicos e os sujeitos são solicitados a escolher a posição,
relativamente aos dois termos, que mais se adequa aos podcasts criados. O número 1 indica o
valor mais elevado positivo e o número 7 o valor mais elevado negativo.
Os alunos consideraram que os podcasts têm uma boa perceptibilidade auditiva,
conforme se pode verificar na tabela 3. A média é 1,41.
168
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Diferencial Boa
semântico
Má
Estatística
1
2
3
4
5
6
7
85
27
12
0
0
0
0
68,5
21,8
9,7
0,0
0,0
0,0
0,0
Descritiva
f
%
Média
1,41
Tabela 3. Classificação da perceptibilidade auditiva (boa – má), n=124
Os alunos consideraram o tom de voz amigável, mas a média foi ligeiramente superior à
perceptibilidade auditiva (1,84). Houve três alunos que nem o consideram amigável, nem
irritante, conforme se pode verificar na tabela 4.
Diferencial Amigável
semântico
Irritante
Estatística
1
2
3
4
5
6
7
53
41
27
3
0
0
0
42,7
33,1
21,8
2,4
0,0
0,0
0,0
Descritiva
f
%
Média
1,84
Tabela 4. Classificação do tom de voz (amigável – irritante), n=124
Na tabela 5 verificamos que os alunos são da opinião que os podcasts são claros em
termos de informação. A média é de 1,35.
Diferencial Boa
semântico
Má
Estatística
1
2
3
4
5
6
7
88
29
7
0
0
0
0
71,0
23,4
5,6
0,0
0,0
0,0
0,0
Descritiva
f
%
Média
1,35
Tabela 5. Classificação da clareza da informação (boa – má), n=124
A música de fundo foi outro aspecto que considerámos pertinente analisar. Apesar dos
resultados revelarem que a maioria dos alunos a considerou agradável (média=2,32), temos
alunos que a consideram irritante (tabela 6).
169
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Diferencial Agradável
semântico
Irritante
Estatística
1
2
3
4
5
6
7
56
24
17
13
5
7
2
45,2
19,4
13,7
10,5
4,0
5,6
1,6
Descritiva
f
%
Média
2,32
Tabela 6. Classificação da música de fundo (agradável – irritante), n=124
Na tabela 7 verificamos que os alunos consideraram a extensão dos podcasts
adequada, sendo a média de 1,42.
Diferencial Adequada
semântico
Inadequada
Estatística
1
2
3
4
5
6
7
85
29
7
3
0
0
0
68,5
23,4
5,6
2,4
0,0
0,0
0,0
Descritiva
f
%
Média
1,42
Tabela 7. Classificação da extensão dos podcasts (adequada – inadequada), n=124
Podemos concluir que os alunos consideraram os podcasts audíveis, com um tom
agradável, claros em termos de informação e com uma extensão adequada. A música de fundo
é o parâmetro menos consensual, embora a maioria dos alunos a considerasse agradável.
Audição dos podcasts
A maioria dos alunos (65,3%) ouviu os podcast mais que uma vez, como se pode
verificar na tabela 8. Houve, mesmo, dois alunos que ouviram podcast quatro ou mais vezes.
Audição dos podcast
f
%
1 vez
43
33,6
2 vezes
72
56,3
3 vezes
7
5,5
4 ou mais vezes
2
1,6
Tabela 8. Números de vezes que o podcast foi ouvido (n=124)
170
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Os 81 alunos que ouviram de novo os podcasts apresentaram três motivos para
o fazerem (tabela 9): a necessidade de tomarem nota de aspectos que escaparam na 1.ª
audição (53,4%), a necessidade de tirar apontamentos (28,4%) e a possibilidade de
recapitular a informação (21%). Parece-nos que alguns dos alunos têm muita
curiosidade em ouvir o podcast, deixando para uma segunda audição a tarefa de retirar
apontamentos.
Motivos para ouvir os podcasts de novo
f
%
Para tomar nota de aspectos que escaparam na 1.ª audição
43
53,1
Para tirar apontamentos
23
28,4
Para recapitular
17
21,0
Tabela 9. Motivos para ouvir o podcast mais que uma vez (n=81)
Dispositivos utilizados para a audição dos podcasts
Todos os alunos utilizaram o computador para ouvir os podcasts. Apenas 8
alunos indicaram ter ouvido nos leitores MP3/MP4 e somente um aluno assinalou o
telemóvel (tabela 10). Houve ainda 3 alunos que responderam outros, nomeadamente,
auto-rádio (2) e leitor de DVD (1).
Dispositivo
Computador
f
%
124
100
Leitor de MP3/MP4
8
6,5
Telemóvel
1
0,8
Outro
3
2,4
Tabela 10. Dispositivos usados para ouvir os podcasts (n=124)
Tarefas executadas ao mesmo tempo que são ouvidos os podcasts
Os alunos foram também questionados acerca das tarefas que executavam ao
mesmo tempo que ouviam os podcasts. A maioria dos alunos respondeu que tirava
notas (64,5%), 29,8% dos alunos disseram que não executavam nenhuma outra tarefa e
5,6% dos alunos responderam a consulta do trabalho prático (tabela 11).
171
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Tarefas executadas ao mesmo tempo que são
f
%
ouvidos os podcasts
Tirar notas
80
64,5
Nada
37
29,8
Consulta do trabalho prático
7
5,6
Tabela 11. Dispositivos usados para ouvir os podcasts (n=124)
Aceitação dos podcasts
Para verificarmos a aceitação dos podcasts por parte dos alunos, questionámo-los
acerca do meio de transmissão preferido: o podcast, uma versão textual do podcast, uma
exposição oral no horário de atendimento ou outro.
A maioria dos alunos escolheu o podcast (65,3%), 33% dos alunos escolheu uma
versão textual do podcast e 1,6% prefere uma exposição oral no horário de atendimento.
Meio de transmissão preferido
f
%
Podcast
81
65,3
Versão textual
41
33,1
Exposição oral no horário de atendimento
2
1,6
Outro
0
0,0
Tabela 12. Meio de transmissão preferido (n=124)
Estes resultados mostram uma boa aceitação dos podcasts pelos alunos, abrindo o
caminho para a utilização de outros tipos de podcasts nas nossas unidades curriculares.
Conclusões
Através do podcast, as pessoas descobriram uma nova forma de ouvir notícias,
músicas, blogs e, principalmente, de aprender. Muitas são as instituições de ensino e os
professores que têm vindo a integrar os podcasts nas suas práticas lectivas.
O seu sucesso está relacionado com o facto de ser extremamente fácil de criar e
disponibilizar na Web e da sua subscrição e actualização ser automática. Como permite juntar
locução, música, vídeo e fotografia torna-se num instrumento extremamente atractivo para o
processo de ensino e aprendizagem.
O podcast permite ao professor disponibilizar aulas, resumos de aulas, feedback de
trabalhos, instruções, orientações de actividades, comentários, avisos, entrevistas, sínteses de
artigos científicos, exercícios, resoluções de exercícios, etc., em formato áudio ou vídeo que
172
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
podem ser consultados em qualquer local e a qualquer momento. Estamos, por isso, perante
uma tecnologia com enorme potencial tanto para o ensino a distância, como para o ensino
presencial.
No estudo realizado, os alunos consideraram os podcasts audíveis, com um tom
agradável, claros em termos de informação e com uma extensão adequada. Relativamente à
música de fundo, a maioria considerou-a agradável, embora fosse o item menos pontuado.
Talvez a música de fundo, seja desnecessária nos comentários a proporcionar aos alunos.
Houve 65,3% de alunos que ouviu os podcasts mais que uma vez, apresentando como
motivos: a necessidade de tomar nota de aspectos que escaparam na 1.ª audição, a
necessidade de tirar apontamentos e a possibilidade de recapitular a informação. Os alunos
utilizaram o computador para ouvir os podcasts e apesar de 71,8% dos alunos possuírem
leitores de MP3/MP4 e 50,8% possuírem um telemóvel 3G, apenas 6,5% utilizaram leitores de
MP3/MP4 e somente 0,8% utilizaram telemóvel 3G. Cerca de 65% dos alunos indicou que
tirava notas enquanto ouvia os podcasts.
A maioria dos alunos intervenientes prefere o podcast a uma versão textual do podcast
ou a uma exposição oral no horário de atendimento, o que mostra que eles aceitaram bem esta
nova tecnologia.
Com base nos resultados obtidos nesta experiência tencionamos alargar o uso de
podcast a outros propósitos com o objectivo de melhorar o ensino e a aprendizagem nas
nossas unidades curriculares.
Referências
Abt, G. & Barry, T. (2007). The Quantitative Effect of Students Using Podcasts in a First Year
Undergraduate Exercise Physiology Module. Bioscience Education e-Journal, 10, 1-9.
Aguiar, C. ; Carvalho, A. A. & Carvalho, C. J. (2008). Atitudes e Percepções Discentes face à
Implementação de Podcasts na Licenciatura em Biologia Aplicada. In A. A. Carvalho
(Org.), Actas do Encontro sobre Web 2.0. Braga: CIEd, Universidade do Minho, 191-202.
Bell,
A.
(2007).
Rubric
for
Podcasts.
University
of
Wisconsin.
http://www.uwstout.edu/soe/profdev/podcastrubric.html (Acessível a 9 de Abril de 2009).
Boulos, M.; Maramba, I. & Wheeler, S. (2006). Wikis, blogs and podcasts: a new generation of
Web-based tools for virtual collaborative clinical practice and education. BMC – Medical
Education, 6 (41), 1-8. http://www.biomedcentral.com/content/pdf/1472-6920-6-41.pdf
(Acessível a 23 de Março de 2009).
Carvalho, A. A. (2008). Os Podcasts no Ensino Universitário: Implicações dos Tipos e da
Duração na Aceitação dos Alunos. In A. A. Carvalho (org), Actas do Encontro sobre Web
2.0. Braga: CIEd, Universidade do Minho, 179-190.
173
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Carvalho, A. A. ; Aguiar, C. ; Cabecinhas, R. & Carvalho, J. (2008a). Integração de Podcasts no
Ensino Universitário: Reacções dos Alunos. Prisma.com, nº 6, 50-74.
Carvalho, A. A.; Aguiar, C. ; Carvalho, C. J. & Cabecinhas, R. (2008b). Influence of Podcasts
Characteristics on Higher Students' Acceptance. In C. J. Bonk, M. M. Lee & T.H.
Reynolds (eds), Proceedings of E-Learn. Chesapeake: AACE, 3625-3633.
Carvalho, Ana Amélia; Aguiar, Cristina; Santos, Henrique; Oliveira, Lia & Marques, Aldina
(2009). Podcasts in Higher Education: Students and Teachers Perspectives. 9th WCCE
(World Conference on Computers in Education) - IFIP WCCE (accepted).
Chan, A. & Lee, M. J. W. (2005). An MP3 a Day Keeps the Worries Away: Exploring the use of
podcasting to address preconceptions and alleviate pre-class anxiety amongst
undergraduate information technology students. Student Experience Conference 2005 –
Good Practice in Practice. Charles Sturt University, 59-71.
Chan, A.; Lee, M. J. W. & McLoughlin, C. (2006). Everyone's learning with podcasting: A
Charles Sturt University experience. Proceedings of the 23rd annual conference: Who's
learning? Whose technology?. ASCILITE 2006. The University of Sydney, 111-120.
Cruz, S. & Carvalho, A. A. (2007). Podcast: a Powerful Web Tool for Learning History. In
Nunes, M. & McPherson, M. (eds). IADIS International Conference: e-Learning 2007.
Lisbon: Portugal, 313-318.
Edirishingha, P. & Salmon, G. (2007). Pedagogical Models for Podcasts in Higher Education.
LRA/BDRA – Conference pre-print copy.
Edirisingha, P.; Rizzi, C. & Rothwell, L. (2007a). Podcasting to provide teaching and learning
support for an undergraduate module on English language and communication. Turkish
Online Journal of Distance Education, 8 (3), 87-107.
Edirisingha, P.; Salmon, G. & Fothergill, J. (2007b). Profcasting – a pilot study and guidelines
for integrating podcasts in a blended-learning environment. LR/BDRA demonstration file.
Evans, C. (2007). The effectiveness of m-learning in the form of podcast revision lectures in
higher education. Computers & Education, 1-8.
Frydenberg, M. (2006). Principles and Pedagogy: The Two P’s of Podcasting in the Information
Technology Classroom.
Green, T. D.; Brown, A. & Robison, L. (2008). Making the Most of the Web in Your Classroom:
A Teacher’s guide to Blogs, Podcasts, Wikis, Pages, and Sites. Thousand Oaks: Corwin
Press.
Gribbins, M. (2007). The Perceived Usefulness of Podcasting in Higher Education: A Survey of
Students’ Attitudes and Intention to Use. Proceedings of the Second Midwest United
States Association for Information Systems. Springfield. IL May 18-19.1-7.
Guertin, L. A.; Bodek, M. J.; Zappe, S. E. & Kim, H. (2007). Questioning the Student Use of and
Desire for Lecture Podcasts. MERLOT – Journal of Online Learning and Teaching, 3 (2),
1-9. http://jolt.merlot.org/vol3no2/guertin.htm (Acessível a 23 de Março de 2009).
174
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Junior, J. B. B. & Coutinho, C. P. (2008). Recomendações para Produção de Podcasts e
Vantagens em Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Revista Prisma.com, nº6, 125-140.
Kaplan-Leiserson, E. (2005). Trend: Podcasting in Academic and Corporate Learning. Learning
Circuits. http://www.learningcircuits.org/2005/jun2005/0506_trends.htm (Acessível a 23
de Março de 2009).
Lalomia, M. & Sidowski, J. (1991). Measurements of Computer Attitudes: A Review.
International Journal of Human-Computer Interaction, 3 (2), 171-197.
Lee, M. J. & Chan, A. (2007). Reducing the Effects of Isolation and Promoting Inclusivity for
Distance learners Through Podcasting. The Turkish Online Journal of Distance
Education, 8 (1), 85-104.
Moura, A. & Carvalho, A. A. (2006a). Podcast: Potencialidades na Educação. Revista
Prisma.com, nº3, 88-110.
Moura A., & Carvalho, A.A. (2006b). Podcast: uma ferramenta para usar dentro e fora da sala
de aula. In Conference on Mobile and Ubiquitous Systems. Guimarães.
Nathan, P. & Chan, A. (2007). Engaging undergraduates with podcasting in a business subject.
Proceedings ASCILITE. Singapore, 747-751.
Nielsen, J. (1993). Usability Engineering. London: Academic Press.
Richardson, W. (2006). Blogs, Wikis, Podcasts, and Other Powerful Web Tools for Classrooms.
Thousand Oaks, California; Corwin Press.
Salmon, G.; Nie, M. & Edirishingha, P. (2007). Informal Mobile Podcasting and Learning
Adaptation (IMPALA). E-learning Research Project Report 06/07.
Seltzinger, J. (2006). Be Constructive: Blogs, Podcasts and Wikis as Constructive Learning
Tools. The eLearning Guild’s – Learning Solutions - Practical Applications of Technology
for Learning e-Magazine. 1-16.
Estudo realizado no âmbito do projecto “Educação e Formação Online”, financiado pelo CIEd.
175
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Os Podcasts na construção do conhecimento da História Local: um estudo
de caso sobre evidência histórica com alunos do 5ºano de escolaridade
Aline Rodrigues
Escola Básica 2,3 André Soares
[email protected]
Ana Amélia A. Carvalho
Universidade do Minho, Portugal
[email protected]
Isabel Barca
Universidade do Minho, Portugal
[email protected]
Resumo – Os podcasts têm vindo a ser utilizados no ensino como um recurso que permite
uma construção mais autónoma do conhecimento. O presente estudo apresenta uma das
formas de utilização dos podcasts no ensino básico (2ºciclo), abordando como contribuem
para a construção do conhecimento da história local de Braga e que reacções apresentam
os alunos à utilização destes recursos na sua aprendizagem e na sua criação, bem como
que concepções apresentam sobre história local. Os resultados revelam que os alunos
conseguem aprender de uma forma autónoma, divertida e motivante a história local e que
as reacções ao uso dos podcasts em leitores de mp3 ou mp4 foram positivas,
demonstrando por parte dos alunos uma enorme vontade de repetir a experiência. A
professora também considerou bastante interessante e desafiante a experiência.
Introdução
Os podcasts são uma ferramenta da Web 2.0 em ficheiro áudio ou em vídeo que estão
disponíveis na Web e que uma vez online, podem ser automaticamente descarregados para
um computador pessoal, um leitor de mp3 ou mp4, um telemóvel, entre outros.
O conceito podcasting surgiu em 2004, altura em foi criado por Adam Curry (MTV DJ) e
Dave Winer (programador) e resulta da combinação dos termos ipod e broadcasting.
Os podcasts, como referem Geoghegan & Klass, 2005, “puts the power to
communicate into the hands of individuals” (p. 2) e devido à facilidade em publicar online
tornaram-se rapidamente populares.
“Podcasting is not simply a new way to distribute audio recordings, it´s
a form of expression, of interaction and of community building”
(Geoghegan & Klass, 2005: 5).
176
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podem ser disponibilizados numa variedade de Web sites (Green et al., 2008; Huann &
Thong, 2006) e a sua publicação é bastante fácil pois não requer conhecimentos de
programação.
Os podcasts pela facilidade em criar e em publicar online, a que se acresce a facilidade
em ouvir ou em ver, através de dispositivos móveis, têm vindo a ser integrados no ensino como
forma de apoio à aprendizagem. Desta forma, os alunos podem aceder ao conteúdo dos
podcasts em casa ou em qualquer outro local, mesmo estando em movimento (Evans, 2007;
Green et al., 2008; Savel et al., 2007). São uma nova forma de comunicar e de interagir entre
professores e alunos. São considerados úteis e por isso devem ser usados como um meio de
aprendizagem, já que apresentam facilidade na sua utilização e na sua criação, podendo estar
disponíveis online, por exemplo, no Podomatic, podendo tirar-se proveito das suas
potencialidades, uma vez que os alunos manejam com facilidade o leitor de mp3.
Nos estudos que se têm vindo a realizar existem diversos tipos de podcasts, podendo
ter diferentes durações ou formatos e caracterizando-se pelos fins a que se destinam.
Kaplan-Leiserson (2005) salienta as implicações dos podcasts na aprendizagem,
referindo as diversas vantagens que os podcasts proporcionam, menciona exemplos de alunos
que preferem ouvir a ler, de alunos estrangeiros que podem repetir uma audição até
compreenderem todo o seu conteúdo, o que faz do podcast uma ferramenta útil e
indispensável à aprendizagem, salienta ainda a possibilidade de proporcionar feedback aos
alunos, através de uma aula online em detrimento de uma aula presencial.
Seitzinger (2006) reconhece também a potencialidade dos podcasts para que aluno
que tem dificuldade em exprimir-se por escrito e que, assim, pode fazê-lo por áudio.
Durbridge (1984) identificou diversas vantagens educativas do áudio: os alunos gostam
do áudio porque gostam de reagir ao som (compreender a língua falada, analisar música, ouvir
a voz do professor), ouvir entrevistas, ouvir tarefas a executar no laboratório ou no computador,
ouvir factos, discussões e opiniões de peritos e, ainda, gostam de ser encorajados pela voz de
alguém que conhecem e respeitam. Acresce ainda que se os textos forem gravados em áudio,
a voz confere ao texto escrito entoação, ritmo, timbre, volume e emoção. Em alguns dos
estudos efectuados, nomeadamente por Cruz e Carvalho (2007), os alunos ouviam uma
actividade proposta pela docente para realizarem na disciplina de História e, numa segunda
fase, passavam eles a produzirem os seus podcasts, em pares, sobre os conteúdos
curriculares que estavam a estudar, o que revela que de facto os alunos reagem bem aos
podcasts e gostam de ouvir os conteúdos através de áudio.
No estudo apresentado por Moura e Carvalho (2006), os alunos tinham acesso às
gravações sobre os conteúdos curriculares no Podomatic, podendo ouvi-las quando
quisessem, de acordo com o seu ritmo e necessidades de aprendizagem, dado tratar-se de
alunos do ensino recorrente. Além disso, sendo alguns alunos trabalhadores-estudantes e
tendo dificuldade em assistir a todas as aulas, viram nos podcasts uma possibilidade de
ouvirem a matéria leccionada.
177
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Carvalho e Aguiar (2009) proporcionaram podcasts aos seus alunos de apoio às aulas,
mas também lhes solicitaram para criarem os seus, como forma de apresentarem a sua revisão
da análise feita pelos colegas ao software educativo multimédia. Tarefa que os alunos de pósgraduação costumam fazer mas por escrito.
No estudo reportado por Lee e Chan (2007), os podcasts foram utilizados para diminuir
a ansiedade dos discentes e maximizar o interesse dos alunos de licenciatura e de pósgraduação pela disciplina, em regime presencial e a distância, na Austrália. Nesse caso, foram
usados podcasts de 3 a 5 minutos, num estilo de programa de rádio, versando uma perspectiva
geral sobre um tópico para preparar o aluno para as actividades; um sumário para fazer a
revisão e reforçar o conteúdo; orientações para os trabalhos de avaliação e feedback sobre o
trabalho realizado; para além de uma entrevista com o autor do manual. Os autores concluíram
que os podcasts utilizados ajudaram os alunos em regime de ensino a distância a lidar com a
ansiedade e com as preocupações sobre o curso.
No Reino Unido foi também realizado um estudo que integrou dez estudos de caso em
cinco universidades (Salmon et al.,2007). Desse estudo os autores concluíram que os alunos
têm dificuldade em usar o seu leitor de mp3 para ouvirem os podcasts, reservando-o para as
suas músicas, e ouvem ou vêem os podcasts sobretudo se são obrigatórios na disciplina. Já no
estudo realizado por Carvalho et al. (2008a) mesmo nas disciplinas em que não era obrigatório
ouvir os podcasts os alunos ouviam-nos, dado a maioria ser comentários aos trabalhos
realizados ou às apresentações feitas.
Os podcasts podem ter diferentes propósitos pedagógicos, podem ser utilizados para
fomentar o desenvolvimento de determinadas capacidades, promover a aprendizagem
independente, a aprendizagem colaborativa e activa, proporcionar extensões às aulas através
de resumos, apresentar instruções para os alunos realizarem no laboratório de informática ou
em estudos de campo. Os podcasts aumentam a motivação para aprender, enriquecem as
fontes de aprendizagem e melhoram as relações professor-aluno (Salmon et al., 2007).
Associados ou não a um regime de blended-learning, os podcasts permitem que os
alunos estudem os conteúdos neles incorporados não só quando e como entenderem mas,
também, onde quiserem (Evans, 2007, Green et al., 2008). Frydenberg (2006) e Huann e
Thong (2006) referem o caso das universidades de Duke e Stanford que disponibilizam as
apresentações em Powerpoint e um podcast explicativo.
Carvalho et al. (2008b) criaram uma taxonomia de podcasts para o ensino, na qual
consideram as seguintes dimensões:
a) Tipo:
Expositivo/informativo,
Feedback/comentário,
Instruções/orientações
e
Materiais autênticos
b) Formato: áudio, imagem e áudio (enhancedpodcast), vídeo (vodcast) e captação
de ecrã com locução (screencast)
c) Duração: curto (1’-5’), moderado (6’-15’) e longo (mais de 15’)
d) Autor: professor, aluno, outro
178
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
e) Estilo: Formal ou informal
f)
Finalidade do podcast
g) Apesar de já se ter feito alguma investigação em torno da integração dos podcasts
no ensino, esta ainda está numa fase embrionária. Os tipos de podcasts e a sua
duração parecem ser variáveis a analisar, como salientam Carvalho et al. (2008a).
De um modo geral as recomendações vão no sentido de podcasts de curta
duração (Carvalho et al., 2008a, Frydenberg, 2006, Lee & Chan, 2007).
O presente estudo foi realizado com alunos do 5ºano de escolaridade da disciplina de
História. A docente utilizou oito podcasts, dois de orientação e seis informativos, com o
objectivo de orientar uma visita de estudo. Pretendeu-se estudar o impacto da utilização dos
podcasts na aprendizagem da história local de Braga no século III a.C., período em que existiu
a cidade de Bracara Augusta, e a forma como os alunos reagem a este recurso educativo. Este
caracteriza-se como sendo um estudo de caso, pois é único, específico, no entanto apresenta
uma complexidade e apresenta-se como sendo relevante para o Ensino da História, pois
envolve as tecnologias num contexto de aprendizagem, na disciplina de História e Geografia de
Portugal. Questiona-se até que ponto é que uma tecnologia específica contribui para a
aprendizagem de uma área específica da História, a História Local. De acordo com (Stake,
2007) espera-se que um estudo de caso consiga captar a complexidade de um caso único.
Estuda-se um caso quando ele próprio se reveste de um interesse muito especial, e então
procuramos o pormenor da interacção com os seus contextos. O estudo de caso é o estudo da
particularidade e complexidade de um único caso, conseguindo compreender a sua actividade
no âmbito de circunstâncias importantes.
Estudo
O estudo de caso (Yin, 2002) realizado sobre a visita guiada à Bracara Augusta do
século III a.C., desenvolveu-se em duas partes, uma primeira que foi a visita, em que os alunos
procuraram pistas com a ajuda dos podcasts, do mapa-roteiro e do panfleto, que lhes deram
informações necessárias à análise dos vestígios (Tabela 1) e uma segunda parte, em que os
alunos construíram um podcast com as pistas que encontraram. Foram também concebidos
dois questionários, um para caracterização dos participantes sobre o nível de literacia
informática que possuem e ainda sobre as concepções que têm de história local e outro sobre
a reacção dos alunos à utilização e criação dos podcasts na construção do conhecimento da
História local. O primeiro foi preenchido antes do estudo e o segundo após o estudo.
Foram utilizados dois tipos de podcasts – dois com orientações e seis informativos
sobre os vários vestígios a visitar, descrevendo todos os aspectos relativos aos vestígios
romanos e ainda dando instruções do que os alunos deveriam fazer. Relativamente à duração
dos podcasts, como se pode constatar na tabela 1, são todos de curta duração.
179
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Portanto, os alunos tiveram acesso a oito podcasts com diferentes durações e
finalidades, que incidiram numa Visita Guiada à Bracara Augusta do séc. III a.C. e que lhes
permitiu, de uma forma autónoma, percorrer a cidade, investigando e contactando com alguns
dos vestígios que a cidade disponibiliza, sensibilizando-os para a sua História Local.
Os usados nesta visita foram todos criados pela professora e são todos áudio. Os
podcasts foram transmitidos aos alunos pela professora que os gravou directamente nos seus
leitores de mp3 para os poderem ouvir, facilitando o acesso aos podcasts, pois o tempo que
dispenderam no manuseamento do Podomatic não foi suficiente para aprenderem a lidar com
esta ferramenta. No entanto, os alunos estavam incentivados a experimentar o Podomatic e a
investigadora sentiu que estavam empenhados em aprender. Para além dos podcasts, a
professora forneceu aos alunos um mapa do centro histórico de Braga e um panfleto que
contextualizava e complementava algumas informações dos podcasts e que continha algumas
tarefas a realizar sobre os vestígios visitados.
Material
Local/assunto
Duração
(Minutos)
Mapa-roteiro
Domus
Indica o nome das ruas e todo o
roteiro a seguir desde a escola
até à cloaca romana, passando
por
todos
os
vestígios
seleccionados.
Panfleto com tarefas
Tem uma imagem
vestígio
com
orientadoras.
Podcasts
(Áudio)
10’
Fonte do Ídolo
de cada
questões
das
Frigideiras
do
20’
Cantinho
Domus de Santiago
25’
Termas Romanas
15’
Ínsula das Carvalheiras
30’
Cloaca Romana
15’
1ºmomento: Saída da escola
2ºmomento: Fonte do Ídolo
3ºmomento:
Domus
das
Frigideiras do Cantinho
4ºmomento: Domus de Santiago
5ºmomento: Termas Romanas
6ºmomento:
Ínsula
das
Carvalheiras
7ºmomento: Cloaca Romana
1.Introdução
2.Orientações
3.Fonte do Ídolo
4.Domus das Frigideiras do
Cantinho
5.Domus de Santiago
6.Termas Romanas
7.Ínsula das Carvalheiras
8.Cloaca Romana
15’
10’
20’
25’
15’
30’
15’
0’ 47’’
1’ 00’’
3’ 35’’
2’ 15’’
1’ 16’’
4’ 58’’
3’ 34’’
1’ 59’’
Tabela 1. Materiais utilizados durante a visita guiada
Os alunos, individualmente, embora por vezes trocassem informações com um colega,
procederam à audição dos podcasts nos seus leitores de mp3 e consequentemente partiram à
180
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
descoberta. O mapa fornecido com as ruas da cidade, que funcionou como uma espécie de
roteiro a seguir, para que os alunos se situassem melhor no espaço e o panfleto que continha a
contextualização da época em causa e algumas tarefas que tinham de ir realizando, foram
recursos que complementaram de uma forma eficaz os podcasts. No final do roteiro, os alunos
aproveitaram as informações que recolheram e construíram um podcast que futuramente
tentarão publicar. O desafio de assumirem a pele de um investigador foi lançado inicialmente
pela professora e, progressivamente, os alunos tiveram a curiosidade de se desafiarem a eles
próprios na procura incessante de respostas (Fig.1).
Figura 1. Alunos na elaboração do trabalho
Antes de iniciarem e de imaginarem essa pesquisa, toda a experiência e locais que
visitaram foram contextualizados e complementados com as aulas que tinham sido dadas no
1ºperíodo.
Objectivos
O presente estudo envolveu alunos do 5ºano de escolaridade da Escola Básica 2,3
André Soares e teve como principais objectivos perceber quais as concepções que os alunos
apresentam sobre a História Local, quais as evidências que consideram mais relevantes, de
que forma contribuem os Podcasts para a construção do conhecimento da História Local e
como é que os alunos reagem e aceitam os podcasts.
A amostra
Os participantes neste estudo piloto foram quatro alunos do 5ª ano de escolaridade com
níveis de avaliação diferentes, sendo que um revela um desempenho negativo e os restantes três
revelam níveis positivos.
São alunos que frequentam uma escola do centro da cidade de Braga, com um nível
sócio-económico médio, bastante motivados. Estes alunos que constituíram a amostra são alunos de
uma das turmas da investigadora e costumam questionar constantemente a professora sobre
assuntos que vão sendo abordados nas aulas de História, para além de que muitas vezes, por
181
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
iniciativa própria, gostam de pesquisar e de saber mais. Estes alunos são motivados para escola, mas
nem todas as matérias lhes agradam e nem sempre gostam dos desafios que lhes são lançados.
Estes alunos costumam utilizar o computador, sendo a frequência diária por dois alunos,
uma aluna utiliza semanalmente e outra raramente. Utilizam também o leitor de mp3 todos os dias,
essencialmente nos intervalos escolares, demonstrando uma facilidade no seu manuseamento e
possuem
ainda alguns
conhecimentos relativamente ao acesso à Internet que utilizam
essencialmente para realizarem trabalhos. Quanto aos podcasts não sabem o que são e nunca
ouviram falar.
Descrição da visita
A visita guiada teve início na Escola Básica 2,3 André Soares, ponto de encontro e de
saída para o centro da cidade. A professora começou por distribuir aos alunos todos os
materiais
necessários
à
visita
de
estudo:
um
panfleto
que
continha
informações
complementares e um mapa-roteiro, para lhes permitir a construção do conhecimento sobre
História Local, pedindo aos alunos para verificar se os seus leitores de mp3 com os podcasts
funcionavam.
Após todas estas precauções, os alunos começaram por ler as informações do
panfleto, analisar o mapa e ouvir os dois primeiros podcasts relativos à introdução e às
indicações da visita de estudo. Para estas tarefas foram dadas aos alunos cerca de 10
minutos, para de seguida partirem em direcção ao primeiro vestígio proposto no roteiro. Os
alunos consultaram o mapa e começaram a orientar-se em direcção à Avenida da Liberdade,
assumindo um dos quatro alunos a liderança do grupo.
Ao longo de toda a visita, e à medida que os alunos se iam deslocando para os
diversos vestígios, iam consultando o mapa, ouviam os podcasts respectivos aos lugares onde
se encontravam e preenchiam o panfleto, realizando as tarefas propostas.
A visita durou cerca de três horas e meia e realizou-se de acordo com o mapa-roteiro
pré-estabelecido, percorrendo-se as ruas como delineadas no mapa. Em cada vestígio romano,
os alunos observaram as ruínas existentes e ouviram os respectivos podcasts, de forma a
conseguirem recolher informações para completar as tarefas pedidas no panfleto (Fig.2 e 3).
Figura 2 - Durante a visita de estudo
Figura 3 – A ouvir os podcasts
182
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A investigadora apenas foi acompanhando os alunos com uma grelha de observação
para ir tentando compreender quais as limitações emergentes da aplicação da experiência. Os
alunos não puderam solicitar a sua ajuda, uma vez que esta apenas estava a observar
directamente a realização da mesma.
Análise dos dados
Os dados apresentados reportam-se às reacções dos alunos à utilização e à criação dos
podcasts, às concepções dos alunos sobre a História Local e à forma como os podcasts contribuem
para a construção da História Local. Os nomes dos alunos utilizados pela investigadora para a análise
dos dados foram substituídos por nomes fictícios. Por fim, apresenta-se também a reacção da
professora.
Reacções dos alunos
Os alunos reconheceram o valor pedagógico dos podcasts no ensino e acharam
divertida a actividade de criarem os seus próprios podcasts, reconhecendo que de facto eles
tiveram impacto na sua aprendizagem. Consideraram que aprenderam mais e que pareciam
historiadores: “Achei interessante e aprendi mais coisas”, “Porque parecíamos historiadores.”
(Sara). Revelaram um interesse muito maior na audição e criação dos podcasts do que
propriamente na leitura das informações complementares do panfleto, embora uma aluna
considerasse que o momento da visita que mais a agradou fosse a consulta do mapa.
Verificou-se também que gostaram de ouvir a voz da professora. A maioria dos alunos admitiu
ainda que não teve dificuldades na realização das tarefas e que estas actividades os
motivaram para aprender história, classificando a audição dos podcasts como o momento da
visita que mais os agradou e ainda o momento da visita em que mais aprenderam. No entanto,
constatou-se que um aluno estrangeiro revelou algumas dificuldades em compreender a
audição e realização das tarefas, o que se deve ao facto de ter dificuldades de compreensão
da língua materna. Apesar das suas dificuldades, este aluno revelou uma imensa motivação e
dedicação na realização das tarefas, mostrando-se bastante empenhado em todos os desafios
propostos pela professora.
Manifestaram um grande interesse em ouvir podcasts em outras disciplinas. Na criação
dos seus próprios podcasts verificou-se que gostaram imenso da actividade, considerando-a
surpreendente, desafiante e fascinante e pediram para guardar as suas gravações e repetir a
experiência. A maioria dos alunos não sentiu dificuldades na realização desta actividade.
Constatou-se ainda que todos estes alunos gostaram de ouvir as suas vozes.
Quanto aos textos dos quatro alunos participantes, apenas três compreenderam o que
se pretendia e conseguiram captar bastante informação para a construção dos seus textos e
destes três apenas uma revelou pormenores específicos que observou ao longo da visita. Um
dos alunos não conseguiu compreender o que se pretendia, construindo um texto pouco
coerente e que nada revelava acerca dos vestígios, limitando-se a descrever a visita.
183
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
No fundo, as opiniões dos alunos acerca desta visita de estudo são favoráveis, pois
demonstraram uma enorme vontade em voltar a realizar esta experiência. Nas suas opiniões
esta experiência foi interessante, engraçada, divertida e importante porque os ajudou a
aprender história. Revelaram também que este tipo de abordagem e contacto com a história
local os motivou ainda mais para a aprendizagem da disciplina, considerando que é uma forma
diferente de aprenderem e mais motivadora para o ensino de outras disciplinas em geral.
Inquiridos sobre se preferiam podcasts ou guiões escritos, indicaram preferir ouvir os
podcasts. Eles ouviam novamente quando não conseguiam reter alguma informação que lhes
era pedida. Os dados obtidos indicam ainda uma aceitação positiva dos podcasts pelos alunos,
preferindo estes audições em vez da leitura e pediram mesmo para os levar para casa e ouvir
de novo. Os alunos mostraram-se bastante receptivos a que outras disciplinas integrassem
podcasts.
Apesar dos resultados deste estudo se terem revelado bastante positivos, confirmando
assim o uso dos podcasts na aprendizagem da história local, verificou-se a necessidade de
fazer alguns ajustes ao estudo de modo a tornar o estudo mais adequado a este nível etário e,
por isso, reformulou-se. Assim, optou-se por aumentar o número de participantes, por retirar
alguns dos vestígios seleccionados para o estudo piloto, pois revelaram-se demasiados para o
tipo de estudo e para o nível etário dos alunos que ainda são um pouco lentos e alguns
precisam de algum tempo para poderem realizar as tarefas. De seguida, foram reduzidos os
textos dos podcasts, bem como se diminuiu ao número de podcasts, ficando apenas cinco.
Além disto, esta alteração também se deveu ao factor tempo, pois com tantos vestígios a visitar
tornou-se complicado cumprir o tempo estabelecido.
No que diz respeito às concepções dos alunos sobre a História Local verificou-se que
os alunos valorizam a história de Braga, considerando como principais evidências romanas as
Termas romanas e a Cloaca. Mostraram também um especial agrado pela Cloaca romana,
como se verifica pela resposta da Filipa “...achei divertido ir aos esgotos dos romanos.” Quanto
aos vestígios que revelam mais informações, não há consenso, pois enquanto a Joana
considera que todos revelam informações importantes “Porque todos eram habitados e
visitados pelos romanos”, a Filipa considera que o vestígio que revela mais informações é o
das Termas Romanas “Era onde os romanos passavam tempos de lazer.”
Quanto à ordem de importância dois alunos consideraram que as Termas são o
vestígio mais importante para a sua aprendizagem histórica sobre os romanos em Braga, um
aluno diz que é a Fonte do Ídolo e apenas um aluno não assinalou qualquer resposta.
Relativamente à contribuição dos podcasts para a construção da História Local,
verifica-se pelas respostas dos alunos que são de facto uma mais-valia para a aprendizagem,
permitindo aos alunos uma aprendizagem mais autónoma por ser uma ferramenta motivante
para alunos desta faixa etária, pois gostam de lidar com esta tecnologia que utilizam
habitualmente para ouvir música. Todos os alunos indicaram a audição dos podcasts como a
184
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
tarefa ou o momento da visita que mais lhes agradou, à excepção de uma aluna que gostou
mais de consultar o mapa.
Os alunos consideraram que as visitas de estudo realizadas com a contribuição dos
podcasts trazem vantagens para as aulas de história, considerando a Filipa que o momento em
que mais aprendeu foi com a audição dos podcasts, porque como referiu “...falava sobre muitas
coisas.”
Reacção da professora
A professora considerou muito estimulante esta actividade, encarando este estudo como
uma possibilidade para a aprendizagem da disciplina. Sentiu-se bastante satisfeita com os
resultados, pois agradou-lhe imenso levar os alunos a contactar com os vestígios locais através
da audição de podcasts de onde os alunos puderam retirar informações ou simplesmente
complementar outras.
Considerou que de facto, os alunos podem aprender recorrendo a este tipo de
ferramentas da Web 2.0 e que estas os poderão motivar, desafiar e aliciar positivamente para a
sua aprendizagem da História Local. Encarou o facto de que os podcasts podem ser utilizados
para resumir aulas que podem ser facultadas aos alunos, resumir conteúdos para os testes,
dar orientações para a realização de trabalhos, entre outras orientações, trazendo inúmeras
vantagens para o ensino.
Além disso, verificou que os alunos agiram, na maior parte das vezes, autonomamente
deixando-lhe tempo para observar o que se ia passando e para retirar notas para uma grelha
de observação. Sentiu-se apenas como uma orientadora que foi complementando algumas
informações, para além das que estavam nos instrumentos, para que os alunos pudessem
compreender melhor alguns aspectos.
Conclusão
Este desafio da experiência trouxe um novo alento à aprendizagem do tema dos
romanos no âmbito da História Local da Bracara Augusta. Este tema agradou imenso aos
alunos que se empenharam nas suas investigações e daí a selecção deste tema para o
desenvolvimento da experiência.
A maioria dos alunos que participaram neste estudo gostou da utilização de podcasts na
visita à Bracara Augusta. Todos os podcasts tiveram diferentes durações, que oscilaram entre
os 47 segundos e os 5 minutos, sendo todos de curta duração.
De acordo com os estudos realizados por Lee e Chan (2007) e por Frydenberg (2006), e
pelas reacções dos próprios alunos, os podcasts são melhor aceites se forem de curta
duração. Carvalho et al. (2008) também propõem podcasts de curta duração (1 a 5 minutos).
Os alunos não se queixaram da duração dos podcasts, nem do tipo de podcasts ouvidos, e
nem sequer referiram a hipótese de serem impressos, pois como gostam de utilizar os leitores
de mp3, preferem ouvir as informações nesse dispositivo móvel.
185
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Consideraram que os podcasts contribuíram para a sua aprendizagem da História Local
de Braga, pois admitiram que aprenderam mais com a audição dos podcasts devido à
informação que continha.
No que concerne à reacção da professora, esta reconhece que o podcast é uma maisvalia no ensino, pois pode ser uma forma de transmitir instruções e feedback aos alunos sobre
os trabalhos realizados ou em curso, resumos orientadores para o estudo dos testes,
contribuindo para uma aprendizagem autónoma, para orientar visitas de estudo, entre outras
finalidades.
Por fim, e de uma forma geral, verificou-se que os alunos se revelaram bastante
receptivos à audição dos podcasts noutras disciplinas. Salientaram terem-nos considerado
importantes para a sua aprendizagem, bem como reconheceram que são fundamentais para a
sua motivação na aprendizagem da História Local.
Referências
Carvalho, A. A.& Aguiar, C. (2009). Impact of Podcasts in Teachers Education: from Consumers
to Producers. In Proceedings of SITE- Society for Information Technology & Teacher
Education. Chesapeake: AACE, 2473-2480.
Carvalho, A. A.; Aguiar, C.; Cabecinhas, R. & Carvalho, J. (2008). Integração de Podcasts no
Ensino Universitário: Reacções dos Alunos. Prisma.com, nº6, 50-74. Disponível em
http://prisma.cetac.up.pt/
Carvalho, A. A.; Aguiar, C.; Carvalho, C. J.; Oliveira, L. R.; Cabecinhas, R.; Marques, A. &
Santos,
H.
(2008b).
Taxonomia
de
Podcasts.
Disponível
em
http://www.iep.uminho.pt/podcast/Taxonomia_Podcasts.pdf
Cruz, S. & Carvalho, A. A. (2007). Podcast: a powerful web tool for learning history. In M. Nunes
& M. McPherson (eds). IADIS International Conference, e-Learning 2007- Proceedings.
Lisboa: IADIS, 313-318.
Durbridge, Nicola (1984). Audio cassettes. In Bates, A. W. (ed), The Role of Technology in
Distance Education. Kent, UK: Croom Helm, 99-107.
Evans, C. (2007). The effectiveness of e-learning in the form of podcast revision lectures in
higher education. Computers & Education, pp. 1-8.
Frydenberg, M. (2006). Principles and Pedagogy: The Two P’s of Podcasting in the Information
Technology Classroom. ISECON – EDSIG, 23, 1-10.
Geoghegan M.W. & Klass D. (2005). Podcast Solutions. Berkley, CA: Apress.
Green, T. D., Brown, A. & Robison, L. (2008). Making the Most of the Webin Your Classroom: A
Teacher’s guide to Blogs, Podcasts, Wikis, Pages, and Sites. Thousand Oaks: Corwin
Press.
Huann, Tan Yuh& Thong, MongKok (2006). Audioblogging and Podcasting in Education – IT
Literature
Review.
Edublog.net.
Disponível
em
http://www3.moe.edu.sg/edumall/rd/litreview/audioblogg_podcast.pdf
186
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Kaplan-Leiserson, E. (2005). Trend: Podcasting in Academic and Corporate Learning. Learning
Circuits. Disponível em http://www.learningcircuits.org/2005/jun2005/0506_trends.htm
Lee, M. J., & Chan, A. (2007). Reducing the Effects of Isolation and Promoting Inclusivity for
Distance learners Through Podcasting. The Turkish Online Journal of Distance
Education,
8
(1),
85-104.
Disponível
em
http://tojde.anadolu.edu.tr/tojde25/articles/Article_7htm
Moura, A. & Carvalho, A. A. (2006). Podcast: Potencialidades na Educação. Revista
Prisma.com, nº3, 88-110. Disponível em http://prisma.cetac.up.pt/
Salmon, G., Nie, M, & Edirisingha, P. (2007). Informal Mobile Podcasting And Learning
Adaptation (IMPALA). e-Learning research Project Report 06/07. Beyond Distance
Research Alliance. University of Leicester.
Savel, R. H., Goldstein, E., Perencevich, E. & Angood, P. (2007). The iCritical Care Podcast: A
Novel Medium for Critical Care Communication and Education. Journal of the American
Medical Informatics Association, 14 (1), pp. 94-99.
Seitzinger, J. (2006). Be Constructive: Blogs, Podcasts and Wikis as Constructive Learning
Tools. The eLearning Guild's – Learning Solutions - Practical Applications of Technology
for
Learning
e-Magazine,
July
31,
pp.
1-16.
Disponível
em
http://www.elearningguild.com/pdf/2/073106DES.pdf
Stake, R. E. (2007). A Arte da Investigação com Estudos de Caso. Fundação Calouste
Gulbenkian.
Yin, R. K. (2002). Estudo de caso, planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman.
Trabalho inserido no projecto de investigação registado no CIEd.
187
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Narrativas e Podcast na disciplina de História: um estudo com alunos do
2.º ciclo
45
Hugo Martins
Escola EB 2,3 /S Pintor José de Brito
[email protected]
Resumo – A presente comunicação resulta da investigação desenvolvida na disciplina de
História e Geografia de Portugal com alunos do 6.º Ano de escolaridade durante o ano
lectivo de 2008/2009 procurando responder à questão: “Que tipo de narrativas os alunos
produzem e em que medida os podcasts potenciam o interesse pela apreensão de
conteúdos na disciplina?”. Para tal, aborda-se a questão das competências em História, em
particular, a construção de narrativas e a utilização do podcast em contexto educativo. De
seguida descreve-se o estudo efectuado e reflecte-se sobre os resultados obtidos.
Introdução
Estamos em crer que o ensino da História não deve basear-se apenas no
conhecimento dos conteúdos históricos mas deve atender, igualmente, a conhecimentos
relativos à natureza da História. Além disso, as competências de História – Tratamento de
Informação / Utilização de Fontes e a Comunicação em História – devem estar sempre
presentes nas aulas do professor que deseja desenvolver o pensamento histórico dos jovens.
Uma das formas de promover este pensamento é ajudar os alunos a produzir narrativas
históricas, desenvolvendo, portanto, a última competência referida – a Comunicação em
História. Mas, actualmente, na era digital em que os jovens vivem, cativá-los para a História
pode ser tarefa difícil. Então por que não “aproveitar” o mundo digital para o ensino da História?
Ferramentas online multiplicam-se diariamente e o ensino não se deve pôr à margem desta
realidade. Nem a História pode fazê-lo! Talvez seja mesmo uma área privilegiada para explorar
as potencialidades de ferramentas da Web 2.0 como o podcast. Cabe ao professor conjugar de
forma equilibrada os fundamentos necessários à compreensão da disciplina e a utilização de
estratégias de ensino relevantes como, por exemplo, o podcast – ferramenta online que pode
ajudar a estimular o espírito de iniciativa e participação, bem como o desenvolvimento de
outras formas de comunicar o conhecimento substantivo histórico, para além das habituais:
textos, cartazes ou questionários do manual.
45
Investigador externo da Universidade do Minho
188
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
As Competências em História
Sabemos que existem, actualmente, outros espaços de diálogo e de pesquisa
privilegiados que articulam o jovem e o mundo. Portanto, devemos ter em atenção o papel que
a escola desempenha neste contexto, nomeadamente, o desenvolvimento de competências
que permitam aos alunos agirem e interagirem em sociedade. No caso específico da História,
no âmbito do desenvolvimento das competências estipuladas pelo Currículo Nacional, o
professor deve estimular a capacidade de análise [e de interpretação] crítica da realidade,
necessárias para a filtragem daquilo que importa reter do turbilhão de conteúdos e informações
que estão ao nosso dispor pelos media, bem como, a divulgação e partilha do conhecimento
histórico através do envolvimento directo na dinamização da turma (Abrantes, 2001).
A investigação em Educação Histórica tem mostrado que crianças e adolescentes
podem desenvolver raciocínios a um nível relativamente elaborado quando as situações de
aprendizagem são significativas, relativamente às suas vivências prévias. Ser historicamente
competente, hoje, implica: saber “ler” fontes históricas diversas – com suportes e com
mensagens diversas; saber confrontar as fontes no que se refere às suas mensagens,
intenções e validade; saber seleccionar as fontes para confirmação e refutação de hipóteses
(descritivas e explicativas); compreender – ou procurar entender – o “Nós” e os “Outros” em
diversos contextos temporais e espaciais; saber levantar novas questões, novas hipóteses a
investigar – o que constitui, afinal, a essência do progresso do conhecimento (Samarão, 2007).
As três competências – Tratamento de Informação / Utilização de Fontes e a
Comunicação em História – são, efectivamente, parte integrante da construção do
conhecimento histórico, o que torna fundamental o modo como se interroga e trabalha a
informação, e a maneira como esse tratamento se consubstancia em discurso devidamente
fundamentado e estruturado. De salientar que na exploração dos conteúdos é inevitável e
imprescindível o entrosamento das três dimensões que expressam uma mesma realidade e
que se constitui como um todo.
A Narrativa em História
Estudos de grande relevância têm sido realizados sobre as ideias dos alunos acerca da
narrativa, nomeadamente, o estudo pioneiro realizado por Barca (2000) sobre pensamento
histórico dos jovens e a provisoriedade da explicação histórica. Seguiram-se estudos sobre
cognição histórica realizados por Gago (2001), Parente (2004) e, recentemente, Samarão
(2007) pelo que iremos apenas nos debruçar nos últimos dois pois foram os que mais nos
influenciaram. À luz destes estudos sobre a cognição histórica em Portugal, e em especial
sobre a narrativa, objectiva-se fazer a análise dos dados empíricos deste estudo procurando
saber que tipo de narrativas os alunos constroem e sua posterior publicação online em
ferramentas da Web 2.0.
189
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O Podcast na Educação
Adam Curry é indicado como responsável pela criação do podcast, cuja aparição data
de 1994 (Moura & Carvalho, 2006a). Por podcast devemos entender uma página onde os
ficheiros áudio estão disponibilizados, passíveis de fazer download sendo que podcasting é o
acto de gravar ou divulgar os ficheiros na Web e podcaster o autor que grava ficheiros em
formato áudio.
A utilização do podcasting em várias áreas do saber, seja eles no âmbito dos negócios
para disponibilizar reuniões, programas de telejornais e entretenimento, programas de carácter
científico e, actualmente, utilizado na educação para transmissão de aulas e formação à
distância (Cruz, S.; Júnior, J.; Coutinho, C.; Carvalho, A.; 2007) tende a tornar-se numa
ferramenta de grande interesse e curiosidade para os cibernautas, muito especialmente para o
contexto educacional.
O podcast surge como uma tecnologia alternativa de auxílio ao ensino tanto presencial
(Moura & Carvalho, 2006a) como à distância (Moura & Carvalho, 2006b) pois permite
disponibilizar materiais didácticos como aulas, documentários e entrevistas em formato áudio
que podem ser ouvidos a qualquer hora e em diferentes espaços geográficos. Vários estudos
(Moura & Carvalho, 2006b; Cruz e Carvalho, 2007) têm sido levados a cabo a fim de aferir as
potencialidades desta ferramenta para o ensino, quer como instrumento de trabalho por parte
do professor, quer como instrumento de apresentação de resultados de trabalhos produzidos
pelos alunos. Estes estudos permitiram aferir que o uso desta ferramenta na sala de aula está
a ter efeitos positivos, na medida em que colmata o problema da partilha de um computador
para dois alunos “enquanto um aluno realiza a tarefa individual (escrever um comentário, dar
uma opinião), o outro aluno pode rever conteúdos curriculares através do podcast” (Moura &
Carvalho, 2006b: 157). Com esta estratégia, segundo Moura & Carvalho (2006), cada aluno
pode gerir as aprendizagens individualmente e em consonância com o tempo que possui,
possibilitando ao professor a oportunidade de programar três ou mais unidades programáticas
diferentes dada a heterogeneidade de alunos no ensino recorrente. “Com o podcast todos os
alunos podem estar a ouvir a voz do professor mas, a falar de conteúdos diferentes” (Moura &
Carvalho, 2006b: 157). É esta flexibilidade espacial e temporal, a nível da gestão individual dos
momentos e espaços de aprendizagem, um dos maiores, senão o maior contributo que o
podcast devolve ao cenário educativo.
O podcast permite envolver os alunos “dada a interactividade proporcionada ao aluno
com as fontes de conhecimento oferecidas pelos sistemas hipertexto, que permit[em] fortalecer
o carácter cooperativo entre aluno e professor e, de certo modo, redimir as limitações do
professor como única fonte de conhecimento” (Faria, A.; Boas, M.; Dias, P., 2007: 261).
190
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Metodologia do Estudo Empírico
Problema de Investigação e Desenho do Estudo Empírico
Este trabalho de natureza descritiva insere-se numa linha de investigação em cognição
histórica em torno da Narrativa, como ideia de segunda ordem em História. O seu objectivo
central é investigar que tipos de narrativa constroem os alunos do 2.º ciclo e de que forma o
podcast pode estimular o gosto pela disciplina.
Como estamos na era da Sociedade de Informação, o problema que norteia este
estudo é saber “Que tipo de narrativas os alunos produzem e em que medida os podcasts
potenciam o interesse pela apreensão de conteúdos na disciplina de História?”. Para procurar
responder a este problema, o desenho do estudo obedeceu a dois momentos. O primeiro
momento do estudo procura observar que tipo de narrativas os alunos produzem em História.
Aqui, procurou-se fazer uma categorização simples não fazendo uma análise aprofundada das
narrativas. O segundo momento tinha como objectivo procurar analisar em que medida os
podcasts potenciam o interesse pela disciplina de História. Para tal, através da análise do
Questionário Final de Opinião procurou-se tirar algumas ilações sobre esta ferramenta e de
que maneira estimulou a iniciativa e a participação dos alunos na construção do conhecimento
histórico.
Caracterização da Amostra
A população alvo deste estudo foram alunos do 6.º Ano de escolaridade que
frequentavam a disciplina de História e Geografia de Portugal numa escola do norte do país,
semi-urbana, localizada no distrito de Viana do Castelo. A amostra era constituída por uma
turma de 24 alunos cujas idades se situavam num intervalo etário entre os 10 e os 12 anos
sendo que a média de idades rondava os 11 anos (v. Tabela 1).
Sexo
Masculino
Feminino
Total
f
f
f
10
1
3
4
11
8
8
16
12
1
3
4
Total
10
14
24
Idade
Tabela 1. Distribuição dos alunos por idade e por sexo (N=24)
A partir dos dados recolhidos pela Ficha de Literacia Informática, dos 24 alunos
envolvidos no estudo, a maioria dos alunos (21) possuía computador em casa e, destes,
apenas três não tinham ligação à Internet, como se pode visualizar na tabela 2.
191
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Posse de Computador
f
Ligação à Internet
f
Sim
21
Sim
18
Não
3
Não
3
Tabela 2. Posse de computador e ligação à Internet (N=24)
Quando questionados se já tinham acedido à Internet, todos os alunos responderam
afirmativamente (v. Tabela 3).
Acesso e frequência da utilização da Internet
Sim
f
24
Diariamente
9
Semanalmente
10
Esporadicamente
3
Raramente
2
Não
0
Tabela 3. Acesso e frequência da utilização da Internet (N=24)
Relativamente à frequência da utilização da Internet, de acordo com as respostas dos
alunos, a maioria utilizava com alguma frequência a Internet, como se pode observar na tabela
3, em que 9 alunos utilizavam-na diariamente e 10 semanalmente (dois a três dias por
semana). De referir que três alunos faziam-no esporadicamente e dois raramente. Podemos
inferir, assim, que esta amostra possuía alguns conhecimentos de informática.
Entretanto é de destacar que, relativamente à forma de estar no computador, a maioria
considerou que gosta muito de trabalhar com computadores (19) e considerou que se sente à
vontade quando trabalha com eles (19), como se pode observar na tabela 4.
Disposição perante o uso de computador
f
Gosto muito de trabalhar com computadores
19
Utilizo o computador quando é necessário
14
Evito utilizar o computador
3
Sinto-me à vontade a trabalhar com computadores
19
Sinto-me nervoso quando trabalho com computadores
0
Tabela 4. A utilização do computador como ferramenta de trabalho (N=24)
192
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Apesar disso, 14 dos alunos consideraram que utilizam o computador apenas quando
necessário, por exemplo, quando necessitam de passar um trabalho. Três alunos evitam
utilizar o computador, embora nenhum aluno referiu sentir-se apreensivo quando trabalha no
computador.
Instrumentos para a Recolha de Dados
Para a realização deste estudo e para dar resposta à questão de investigação
apresentada tornou-se necessária a construção de instrumentos de recolha de dados, em
particular, os questionários (com respostas fechadas e abertas).
Assim, passamos a descrever os instrumentos para a recolha de dados, devendo
levar-se em consideração a ordem cronológica da sua aplicação junto dos alunos:
Ficha de Literacia Informática – procurava caracterizar a amostra quanto à utilização do
computador, navegação na Web e informações sobre a ferramenta a utilizar - o podcast;
Narrativas para publicar no podcast – visavam o desenvolvimento das competências de
Tratamento de Informação e Comunicação em História;
Questionário Final de Opinião – procurava inferir a percepção dos participantes no estudo
acerca das aulas de História com recurso ao podcast, através de questões abertas e/ou
fechadas.
Procedimentos na Recolha de Dados
Os alunos, inicialmente, realizaram uma Ficha de Literacia Informática que permitiu
analisar as competências dos alunos em relação ao domínio das Tecnologias da Informação e
da Comunicação.
O investigador, antes de implementar o estudo, explicou aos alunos o trabalho que
deveria ser desenvolvido. Para tal, o professor criou uma narrativa sobre “A Sociedade no
tempo de D. João V” e disponibilizou-a online num programa para o efeito partilhando com os
46
alunos o endereço . Após a audição em sala de aula, os alunos foram convidados a responder
a duas questões formuladas pelo investigador, tal como seria proposto aos alunos. De seguida,
o investigador revelou a actividade que iriam fazer ao longo do ano lectivo e que consistia no
seguinte: em pares, escolhiam um dos temas propostos e iriam pesquisar informações sobre o
conteúdo escolhido (acontecimentos e/ou personalidades que seriam abordados ao longo do
47
6.º ano) em livros da Biblioteca Escolar . Esses acontecimentos foram escolhidos pelo
46
47
curiosidadesdahistoria.podomatic.com
Exemplos de livros disponíveis:
Magalhães, Ana Maria e outros – O dia do terramoto; Portugal História e lendas; 25 de Abril;
Azeredo, Carlos de – A campanha do General Silveira contra o Marechal Soult;
Reis, A. do Carmo – As lutas liberais;
Soares, Isabel Mendonça – 10 Grandes portugueses;
193
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
investigador, após uma análise dos livros existentes na biblioteca da escola no sentido dos
alunos desenvolverem hábitos de leitura e a competência de Utilização de Fontes/Tratamentos
de Informação.
Após a leitura e análise das fontes sobre determinado acontecimento, os alunos teriam
que escrever uma narrativa e contar, por palavras suas, esse acontecimento. Escrita a
narrativa, combinavam com o docente a gravação que, feita, ficava automaticamente online.
Para além disso, teriam que fazer duas/três questões para que os colegas de turma as
resolvessem em sala de aula.
À medida que se iam leccionando os conteúdos, o professor recorria ao trabalho
elaborado pelos alunos pelo que os episódios eram ouvidos em sala de aula. Após ouvirem a
gravação dos colegas, os alunos deviam responder às questões formuladas pelo par que
trabalhou esse acontecimento. Aquando da audição do podcast em sala de aula, os alunos que
elaboraram o episódio tinham também a função de corrigir as respostas dos colegas. Procurouse, desta forma, promover a autonomia dos alunos que sempre que desejassem poderiam
ouvir o trabalho dos colegas, bastando aceder ao site.
Como este estudo é um projecto anual e os alunos ainda se encontram a desenvolver
esta actividade, não serão analisadas todas as narrativas. Assim, serão analisadas as já
realizadas:
1. O terramoto de 1755
2. As invasões francesas
3. Revolução Liberal de 1820
4. O regicídio
5. A Primeira República
Por conseguinte, os dados apresentados e analisados neste estudo dizem respeito às
narrativas
já
trabalhadas
e
que
se
encontram
disponíveis
online.
Desta
forma,
pais/encarregados de educação podem acompanhar as actividades desenvolvidas pelos seus
educandos na disciplina de HGP e partilharem opiniões e até vivências em relação aos temas
trabalhados, deixando comentários.
Análise de Dados
Analise Qualitativa das Narrativas
Após a recolha dos dados, fez-se uma categorização das narrativas, inspirada nos
estudos de Parente (2004) e Samarão (2007) sobre a narrativa na aula de História, tendo em
Ruy, José Aristides de Sousa Mendes – General sem medo
Letria, José Jorge – O 25 de Abril contado às crianças
194
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
consideração que não há versões únicas de produções escritas, salvaguardando assim a
noção de perspectiva de cada narrativa produzida.
Da análise qualitativa resultou a categorização dos dados num modelo de níveis de
progressão, desde um menor nível na estrutura e na elaboração, até às mais estruturadas e
melhor elaboradas. De acordo com o quadro 1, explicitam-se as categorias/níveis bem como os
seus indicadores que levamos em consideração na análise das narrativas produzidas pelos
alunos.
Categorias/ Níveis
Indicadores
Texto produzido, essencialmente, resultante da cópia de várias
Nível 1 – Narrativa descritiva
asserções das fontes históricas propostas e das quais resulta
uma narrativa meramente descritiva dos acontecimentos.
Texto que apresenta, no essencial, uma estrutura narrativa
Nível 2 – Narrativa descritiva explicativa
visível (introdução, desenvolvimento e conclusão), descritiva,
com validade aproximada
sem uma interligação causal de forma explícita entre os
acontecimentos mais importantes.
Nível 3 – Narrativa descritiva explicativa
com validade histórica
Texto que apresenta uma estrutura narrativa, com informação
organizada de forma pertinente, que denota compreensão
histórica e argumentação.
Quadro 1. Categorias e respectivos indicadores das Narrativas
Pela análise efectuada, os resultados revelaram que, apesar de alguns alunos copiarem
informação contida nas fontes indicadas e apenas listarem acontecimentos, outros alunos
construíram por si próprios, a partir das fontes, uma narrativa do Nível 2 (Narrativa descritiva
explicativa com validade aproximada) ou mesmo Nível 3 (Narrativa descritiva explicativa com
validade histórica).
Assim, pela análise efectuada das narrativas foi possível agrupá-las de acordo com a
categorização efectuada (v. Quadro 2).
Categorias/ Níveis
Nível 1 – Narrativa descritiva
Nível 2 – Narrativa descritiva explicativa
com validade aproximada
Narrativas
Invasões Francesas
Regicídio
Revolução Liberal
Nível 3 – Narrativa descritiva explicativa
Terramoto de 1755
com validade histórica
1.ª República
Quadro 2. Distribuição das narrativas dos alunos por Categorias/Níveis
195
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Análise do Questionário Final de Opinião
Procurando obter a percepção dos participantes no estudo acerca das aulas de História
com recurso ao podcast e das competências desenvolvidas através do uso da ferramenta, os
alunos realizaram o Questionário Final de Opinião.
Quando questionados se o podcast “Curiosidades da História”, criado em HGP como
auxílio às actividades da aula foi uma boa ideia, a grande maioria dos alunos (23) considerou a
actividade proposta desafiante. Apenas um aluno considerou a actividade pouco desafiante (v.
Tabela 5).
Actividade do Podcast
f
Desafiante
23
Pouco desafiante
1
Aborrecida
0
0
Muito aborrecida
Tabela 5. Actividade do Podcast (N=24)
Confrontados com a questão de se o podcast aumentou o seu interesse pela disciplina
de História, a totalidade da amostra considerou que sim (v. Tabela 6). Em resposta de tipo
aberta, 15 alunos referiram que se aprende mais com esta actividade recorrendo ao podcast
enquanto que 12 referem o facto de esta ser uma actividade interessante. Estamos em crer
que este tipo de actividades é motivador uma vez que os alunos são intervenientes no
processo de ensino e aprendizagem dos colegas.
Interesse pela disciplina
Sim
f
24
Aprende-se mais
15
Actividade interessante
12
Em parte
0
Não
0
Tabela 6. Interesse pela disciplina com a proposta do Podcast (N=24)
196
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Relativamente à questão se consolidaram, ou não, conhecimentos sobre os conteúdos
estudados, a totalidade da amostra refere que a actividade os ajudou a consolidar a sua
aprendizagem (v. Tabela 7).
Aprendizagem dos principais acontecimentos dos temas abordados
f
Sim
24
Não
0
Tabela 7. Aprendizagem dos principais acontecimentos dos temas abordados (N=24)
Quanto ao desenvolvimento de competências que o professor-investigador pretendeu
desenvolver no campo da História, dos alunos que já fizeram as narrativas e publicaram no
podcast (n=10), todos referiram que a actividade os ajudou a melhorar a sua capacidade de
pesquisa, bem como seleccionar a informação mais relevante (v. Tabela 8).
Sim
Competências trabalhadas/desenvolvidas através do Podcast
Em
parte
Não
f
f
f
Pesquisar com cuidado os documentos para construir o texto
10
0
0
Aprender a seleccionar a informação mais relevante
10
0
0
Resumir as ideias principais
9
1
0
Organizar logicamente as ideias
10
0
0
Produzir texto (que depois ia ler)
10
0
0
Tabela 8. Competências trabalhadas/desenvolvidas através do Podcast (n=10)
No que concerne a resumir as ideias principais, apenas uma aluna refere que apenas
“Em Parte” isso acontece. A totalidade da amostra (10) considerou ainda que desenvolveu
capacidades de organização e de produção de texto.
Quando questionados se gostaram dos podcasts dos colegas, a amostra é unânime,
considerando que sim (v. Tabela 9). No entanto, as suas opiniões, em resposta de tipo aberta,
acerca dos gostos, dividem-se. Por um lado, oito alunos salientaram o facto do podcast ser
interessante e sete alunos consideraram que com os podcasts dos colegas aprenderam algo
mais. Por outro lado, quatro alunos salientaram o facto dos podcasts estarem bem estruturados
e organizados. Isso demonstra que os alunos ao fazerem esta actividade e saberem que está
online, para quem quiser ouvir, preocuparam-se mais em fazer um bom trabalho. De
197
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
acrescentar que três alunos evidenciaram a actividade, no seu todo, considerando-a bem
definida. Três alunos focaram o carácter lúdico da actividade.
Opinião dos alunos sobre os Podcasts dos colegas
f
Sim
24
São interessantes
8
Fica-se a saber mais
7
Bem feitos e organizados
4
Actividade divertida
3
Actividade bem definida
3
Não
0
Tabela 9. Opinião dos alunos sobre os Podcasts dos colegas (N=24)
Considerando o podcast como uma via alternativa para a aprendizagem de alunos com
diferentes estilos cognitivos, consideramos interessante saber o tipo de gostos dos alunos.
Assim, perante a questão se preferiam ouvir os conteúdos do podcast do que lê-los no manual,
a amostra dividiu-se (v. Tabela 10). A maioria (14) considerou preferir ouvir o podcast do que
ler pelo manual (10). Dos 14 alunos que referiram que preferiam ouvir o podcast, seis são da
opinião que só é necessário escutar, considerando, por isso, uma tarefa fácil. No entanto, uma
aluna destaca a necessidade de estar mais atenta para ouvir e compreender o conteúdo. Dois
alunos consideraram que, com esta actividade, conseguiram perceber melhor os conteúdos.
Outros dois alunos salientaram o facto de ser mais interessante. Dois alunos acrescentaram
também que se aprendeu algo mais que não está no manual. No entanto, um aluno contrapôs
o facto de gostar de ouvir o podcast com o próprio manual, considerando ser mais aborrecido
ler o manual.
Ouvir os conteúdos do Podcast ou lê-los no
manual
Sim
f
14
Não temos o trabalho de ler
6
Percebo melhor
2
É mais interessante
2
198
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Aprender-se algo mais
2
Matéria pelo manual é mais “maçadora”
1
Tem que se estar com atenção
1
Não
10
Gosto muito de ler
4
Compreende melhor pelo manual
3
Não posso estudar só a ouvir
3
No livro há mais informação
1
Tabela 10. Ouvir os conteúdos do Podcast ou lê-los no manual (N=24)
No que concerne aos alunos que consideraram que preferem ler os conteúdos a ouvir o
podcast, quatro salientaram o facto de gostarem muito de ler; três alunos consideraram que
com o manual compreendem melhor os conteúdos; três alunos consideraram que apenas
“ouvir” não conseguiam ter um bom desempenho porque, “as coisas não me ficam na cabeça”
(José, 11 anos). Um aluno foi da opinião que no livro há mais informação.
Em relação às ilações que os alunos tiraram desta actividade, de acordo com a tabela
seguinte, 23 alunos foram da opinião que o podcast permitiu relembrar a matéria; 21 alunos
também destacaram que ajudou a compreender melhor os acontecimentos abordados e 21
alunos consideraram que, aquando da realização da audição do podcast, tomaram consciência
daquilo que sabiam e do que ainda não sabiam muito bem e que precisavam de estudar.
Sim
Em parte
Não
f
f
f
Relembrar a matéria
23
1
0
Compreender melhor o que tinha estudado
21
3
0
Tomar consciência daquilo que sabia e do que tinha de estudar
21
3
0
Ser cuidadoso com a informação que publico
22
2
0
Através da actividade consegui:
Tabela 11. Conclusões da actividade (N=24)
Entretanto, acerca da informação a ser publicada, a maioria dos alunos (quer os que já
gravaram quer os que ainda não gravaram) estava consciente que devia ser cuidadosa
199
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
aquando da construção das narrativas porque a estar disponível online para quem quisesse
aceder (22 alunos).
Ao longo do estudo, o investigador sentiu a necessidade de saber qual seria a reacção
dos alunos se passasse um dos podcast antes do conteúdo ser abordado. Por isso, o
investigador fez com que os alunos ouvissem o podcast sobre a Revolução Liberal como forma
de abordar o conteúdo. De acordo com a tabela 12, foi possível observar que a amostra se
dividiu. Dos 10 alunos que preferiram ouvir o podcast dos colegas antes de leccionar o
conteúdo, três alunos consideraram que foi uma forma de despertar a curiosidade acerca do
conteúdo que ia ser trabalhado. Quatro alunos foram da opinião que gostavam mais e que era
melhor, não justificando a opção. Três alunos eram apologistas de ouvir o podcast antes
porque, segundo referiram, assim começavam a surgir questões/dúvidas que gostariam de
verem ser retiradas. Na verdade, esta actividade também pode ser uma forma de levantar o
conhecimento prévio dos alunos, no sentido de analisar as dúvidas (possíveis ideias
alternativas) que os alunos possam ter e que terão de ser trabalhadas.
Procedimento a ter com o Podcast
f
Antes de leccionar o conteúdo
10
Desperta curiosidade
3
É melhor / Gosto mais
4
Tenho mais questões a fazer
3
Depois de leccionar o conteúdo
14
É como se fosse um resumo
5
Percebo melhor o que foi leccionado
4
Porque assim sei responder às questões dos
colegas
2
Elucidamos as dúvidas que possamos ter
2
Posso ouvir quando quiser
1
Tabela 12. Procedimentos a ter com o Podcast (N=24)
Dos 14 alunos que consideraram que preferiam ouvir os podcasts dos colegas, cinco
referiram que o podcast pode ser considerado um resumo e uma “forma de saber o que
devemos estudar melhor” (Carlos, 11 anos). Quatro consideraram que desta forma percebiam
200
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
melhor o que fora leccionado; dois alunos foram da opinião que assim sabiam responder às
questões dos colegas; dois alunos consideraram que o podcast, ao ser ouvido no final, podia
ser uma forma de colmatar as dúvidas existentes. Um aluno acrescentou o facto de se poder
ouvir quando se quisesse. De facto, com o podcast, os alunos podiam aceder à pagina da
disciplina onde estavam alojados os podcasts dos alunos e fazerem download para ouvirem no
MP3 ou mesmo no telemóvel.
Conclusões
O nosso desenho de estudo obedeceu a dois momentos, cuja finalidade foi procurar
respostas à questão de investigação proposta “Que tipo de narrativas os alunos produzem e
em que medida os podcasts potenciam o interesse pela apreensão de conteúdos na disciplina
de História?”. Assim, num primeiro momento, procuramos observar que tipo de narrativas os
alunos produzem em História. De acordo com a categorização feita, foi possível observar que
os
alunos
revelaram
ainda
dificuldades
no
que
concerne
à
competência
de
Tratamento/Utilização de Fontes visto que alguns dos alunos se limitaram a copiar a
informação contida nas das fontes propostas, sendo a narrativa apenas de carácter descritivo.
No entanto, há alunos que revelaram já algumas capacidades no que diz respeito à construção
de narrativas com carácter descritivo-explicativo, apresentando estruturas narrativas com
informação organizada e pertinente, que denota compreensão histórica e argumentação.
Este estudo vem corroborar as afirmações de Barca (2000) defendendo que, em sala
de aula, se deve encorajar os alunos a analisar narrativas com perspectivas variadas, a criar as
suas próprias narrativas e explicações acerca dos acontecimentos do passado, promovendo a
sua crescente elaboração, permitindo assim a evolução de níveis descritivos para níveis
explicativos. Pelas razões referidas, deve-se desenvolver nos alunos desde muito cedo as
competências de Tratamento de Informação/Utilização de Fontes e Comunicação em História,
sendo muito importante neste contexto o uso correcto da língua materna. Para tal, o professor
deve facultar aos alunos instrumentos de trabalho adequados: fontes primárias e secundárias
multiperspectivadas, escritas e iconográficas, assim como promover a comunicação do
conhecimento histórico de várias formas, permitindo aos alunos ampliarem as suas
possibilidades comunicativas.
O segundo momento tinha como objectivo procurar analisar em que medida os
podcasts potenciam o interesse pela disciplina de História. Assim, através da análise do
Questionário Final de Opinião, observamos que os alunos se mostraram muito motivados pela
metodologia usada e pelo facto de também participarem activamente no processo de ensino e
aprendizagem dos colegas, construindo narrativas que outros podiam consultar quando
quisessem.
Estamos em crer que a utilização de podcasts como auxiliares ao ensino de conteúdos,
apesar de ser uma prática pouco corrente, pode proporcionar bons resultados. Na verdade, o
podcast pode potenciar a aprendizagem colaborativa, o que implica que o aluno seja
201
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
responsabilizado pela sua aprendizagem (ao adoptar uma posição activa face ao que tem que
aprender).
Concluindo, este foi um recurso e ao mesmo tempo um método de abordagem
extremamente útil que pode potenciar o interesse dos alunos pela aprendizagem,
nomeadamente, a aprendizagem da História.
Referências
Abrantes, P. (coord.) (2001). Currículo Nacional do Ensino Básico. Competências Essenciais.
Lisboa: Ministério da Educação, Departamento de Educação Básica.
Barca, I. (2000). O Pensamento Histórico dos Jovens. Braga: CEEP-Universidade do Minho.
Cruz, S.; Júnior, J.; Coutinho, C.; Carvalho, A. (2007). O Blogue e o Podcast como Resultado
da Aprendizagem com Webquests. Actas da V Conferência Internacional de Tecnologias
de Informação e Comunicação na Educação: Desafios 2007/ Challenges 2007. Braga:
Centro de Competência Nónio Século XXI, Universidade do Minho.
Faria, A.; Boas, M.; Dias, P. (2007). Podcasting “Era uma vez…”: utilização pedagógica na
educação. Actas da V Conferência Internacional de Tecnologias de Informação e
Comunicação na Educação: Desafios 2007/ Challenges 2007. Braga: Centro de
Competência Nónio Século XXI, Universidade do Minho, pp. 260-262.
Gago, M. (2001). Concepção dos alunos acerca da variância da Narrativa Histórica - um estudo
com alunos em anos iniciais do 2º e 3º ciclos do ensino Básico. Braga: Universidade do
Minho.
Moura, A. & Carvalho, A. (2006a). Podcast: Potencialidades na Educação. In Revista
Prisma.com - Revista de Ciências da Informação e da Comunicação do CETAC.
Comunicações apresentadas no 3º Encontro Nacional e 1º Encontro Luso-Galaico sobre
Weblogs. ISSN 1646-3153; nº3, pp. 88-110.
Moura, A. Carvalho & A. (2006b) Podcast: Uma ferramenta para Usar Dentro e Fora da Sala de
Aula. In Rui José & Carlos Baquero (eds): Proceedings of the Conference on Mobile and
Ubiquitous Systems. Universidade do Minho, Guimarães, pp. 155-158.
Parente, R. (2004). A Narrativa na Aula de História – Um Estudo com Alunos do 3º Ciclo do
Ensino Básico. Braga: Universidade do Minho.
Primo, A. (2005). Para além da emissão sonora: as interacções no podcasting. Intertexto. Porto
Alegre, nº13, pp. 1-17.
Samarão, M. (2007). A Narrativa em Contextos Culturais Diferentes: um estudo com Alunos do
2.º Ciclo do Ensino Básico. Braga: Universidade do Minho.
202
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcast – Enhancing Skills in the English Class
Célia Quintanilha de Menezes
E. B. I. de São Martinho do Campo
[email protected]
Fernando Lopes Moreira
Universidade Portucalense Infante D. Henrique
[email protected]
Resumo – É fundamental modernizar a Escola criando condições que promovam o
sucesso escolar dos alunos e que estes sejam dotados das competências essenciais para a
sua plena integração na Sociedade do Conhecimento. As Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TIC) representam um recurso indispensável a ser utilizado em contexto
escolar nesta nova era. De forma a ultrapassar os constrangimentos ainda existentes na
Escola e de dar resposta à filosofia preconizada no Plano Tecnológico da Educação, as
ferramentas
da
Web
2.0
apresentam-se
como
alternativas
excelentes
para
o
desenvolvimento das referidas competências. Sendo o podcast uma dessas ferramentas,
está a ser feito um estudo, onde esta está a ser utilizada com alunos do 7º ano de
escolaridade na aula de Inglês como complemento às suas aprendizagens e como forma de
promover actividades num modelo de aprendizagem móvel (m-learning), aproveitando o
facto de, hoje em dia, quase todos os alunos possuírem um telemóvel ou um Mp3.
Abstract – It is essential to update the school creating conditions that promote the success
of our students and the essential skills for their full integration into the Knowledge Society.
The Information Communication Technologies (ICT) is a vital resource in school in this new
era. In order to overcome the existing barriers in school and to answer to the philosophy
proclaimed in the Technological Plan of Education, Web 2.0 tools appear to be excellent
alternatives to the development of such skills. Being the podcast one of those tools, a study
th
is being held in a Portuguese school. It is being used with 7 form students in the English
class as a model of mobile learning (m-learning), taking advantage of the fact that almost all
students have a mobile phone or an MP3.
Introduction
The Information and Communication Technologies (ICT) have changed the overall
picture of the entire process of building knowledge in the current educational system. With the
Internet one can easily access to any area of interest. With this research tool searching, sharing
and collecting information are reachable with a simple mouse click. The widely available Web
2.0 tools, applications and sites allow Internet users to interact through blogs, collaborate
through wikis, publish podcasts, and build relationships through social networks (Warschauer &
Grimes, 2007). With the increasing need to apply different teaching methods and to monitor
203
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
students, we are induced to seek alternative solutions. (Menezes, 2008) The enormous amount
and variety of existing applications allow us to solve part of this problem since it is a teaching
philosophy based on anytime, anywhere. Nowadays mobile devices, such as mobile phones
and Mp3 players, have been playing a major role in our students’ lives. Since these devices are
more ubiquitous than ever, they should be seen as potential learning tools when combined with
new pedagogical approaches and methodologies (Moreira & Paes, 2007).
In a globalized world where time is scarce, the podcast is an extremely powerful
alternative technology to be used in the process of teaching and learning either in the distance
mode (e-learning) or as a complement to teaching in presence (b-learning). Indeed, podcasting
allows the teacher to provide teaching materials and lectures, documentaries and interviews in
audio format that can be heard by students at any time of day and in any geographical area.
The student can access the information provided by the teacher and download it in his mobile
device (Junior & Coutinho, 2007) thus building an m-learning paradigm.
This paper is a reflection of the use of podcast as a tool for M-Learning, building a
shortcut to implement the policy underlined by the Technological Plan, where the Portuguese
are supposed to empower their skills and qualifications in this area, thus building the path to the
Knowledge Society.
This paper is divided into eight parts. In the introduction we contextualize the podcast
within the Knowledge Society. In the second we give some examples of podcasting in
Portuguese schools and its importance within language learning. In the third we introduce the
school where the study is being held and in the fourth we illustrate the study describing some of
th
the experiences done so far with students of the 7 form in the English class. In the fifth we
witness how this innovative paradigm emphasizes the potential of the podcast as a tool that
enhances and develops skills and even as a new paradigm in the teacher/student relationship
and in the sixth we speak about some of the obstacles we have faced. In the seventh we reflect
about the students’ reactions and in the eight we point out some of the conclusions we came
until then.
st
Podcast – First Steps towards 21 Century Skills
Podcast used as an m-learning tool is still taking its first steps in Portugal. Two known
podcasters are Moura & Carvalho (2006a), who became pioneers when they involved their
students in an exchanging E-Twinning project called “Correspondance Scolaire” (Moura, 2007).
Podcasting was used as a communication tool, thus developing specific skills in the second
language they used - French. These same authors have also used podcast as a learning tool in
the Portuguese Literature class (2006b). Indeed, podcast stands to provide Education a very
different dimension. Instead of being confined to a classroom, learning through podcast can
really happen at home, at school or anywhere else (King & Gura, 2007) and the different rates
of learning can be respected this way (Junior & Coutinho, 2007). Although teachers are strongly
anchored to traditional methods, they are becoming aware that Society has changed and so
204
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
st
School must also change in order to shape the future citizens’ skills to answer to 21 century
demands.
More than ever, being able to communicate in a foreign language is essential for
st
everyone who lives in the 21 century. The increased global contact brought in the new network
society through international tourism, business and scientific exchange places a premium on the
ability for communication in a “lingua franca”. This corresponds to the imperatives of the new
society in which English is seen as that “lingua franca” or as our own additional language of
communication rather than as a foreign or second language (Warschauer, 2000). In this
context, learning a second language is to make that students develop skills that enable them to
use it properly in a variety of situations. If we look at the increasing mobility of people and goods
within the European Community and the fact that English is considered to be the “lingua franca”,
as Warschauer (2000) says, the development of a range of knowledge and essential skills in
this area is strategic (Portal da Educação).
In this scenario, podcast can empower students in the process of learning English
thanks to its portability and versatility since it is a recorded word product with obvious
connections to language learning. The podcast can be integrated in the curriculum, promoting
activities such as homework, interviews, poetry activities, as a support tool to language learning
with grammar episodes – imagination is the border (King & Gura, 2007). As Moura & Carvalho
(2006) stated, the potentialities that a tool like the podcast allow in the classroom are
innumerous if the teacher is motivated and willing to face the new challenges brought by this
technology. According to the same authors, this tool has both pedagogical and motivational
potential since it is a technology that is in the pocket of our students. Taking advantage of this
fact, they pursued their experience with podcast as a shift to motivation and promotion of the
success of their students.
The School
The Vertical Group of São Martinho has its headquarters in Escola Básica de São
Martinho (fig. 1), which is situated in São Martinho do Campo, Santo Tirso, district of Porto. The
local environment is based in the textile industry and a very reasonable part of the population
economically depends on it. The difficulties that the textile sector has been facing with the
globalization of the economy and the competition from the countries with a cheap workforce
have been contributing to high rates of unemployment in this population. Our students reflect
this conjuncture since it directly affects the familiar economy. Beyond economical difficulties, or
as a consequence of them, many of our students show little interest for school and they don’t
really show any kind of social ambitions (Projecto Educativo, 2007).
205
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Figure 1 - Escola Básica
Integrada de São Martinho.
Despite all the schools in the country are officially covered by the Technological Plan, it
is still far from being real in many Portuguese schools. The constraints to use the Internet and to
carry out ICT activities in class are enormous. Our school has only two computer labs which are
frequently busy with ICT classes or with other teachers’ classes who “arrived first”. The wireless
network is only confined to a restrict area of the school so, only a few classrooms have wireless
connection to the Internet. Some of existing hardware provides slow and low performances.
These are some of the obstacles that can transform a simple research task into a frustrating
one.
In this context, podcast appears to have great potential if we want to work with ICT.
With this study we want to acknowledge how ICT impacts on learning English, highlighting the
potential of the podcast as an m-learning tool as a complement to instruction. We are working
th
with 97 students who attend the 7
form. As part of this innovative use of podcast to
complement instruction, we created audio content integrated in the curriculum believing that it
fosters and enhances skills addressed in class.
The Podcasts
English is Fun
We created the podcast “English is Fun” (fig. 2) to accomplish the goals of our study.
This podcast can be accessed at http://englishisfun.podomatic.com/. So far, different types of
episodes have been made with different purposes. In the first episode the English teacher
introduces herself. After downloading the episode, the students had to listen to it and then they
had to write a similar text about themselves. They made some interviews to some of their
classmates, as well. Afterwards they were able to make their first experiences with these texts.
With these activities they worked out their oral/writing skills, learnt how to work with Audacity,
the application we used to record the episodes, learned to post their “voice”, although the
management of the podcast is restricted to the teacher and learned how to download the
episodes to their mobile devices. The students showed great interest during the activities and
frequently made questions to know more about it.
206
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Figure 2 - English is Fun podcast.
Some grammar episodes have been made as well. These episodes have been made in
Portuguese with examples in English because their language knowledge is not mature enough
to understand grammar explanations. These episodes are extremely important to support the
students’ individual work at home. It is as if they were with the teacher, as they say.
Another experience we made was a listening comprehension worksheet. The students
downloaded an episode. They had to listen to it without the support of the written text format.
Then they did comprehension exercises about it. The results were very satisfactory. About 35%
had very good, 18% had good, 23% had fair enough and 24% had a not satisfactory result. The
worst results were expected because the students didn’t believe this type of worksheet could
happen, as they confessed later; other students thought they were going to have the text on the
worksheet and so they didn´t bother to listen to it.
In this school year the English group teachers decided to develop extensive reading
activities during the second term and so we chose “Fruit Tree Island” by Sue Arengo. At the
beginning of the school year we anticipated some difficulties. The extensive reading is optional
and so the purchase of these books represents an extra cost for families. Besides when
students are confronted with the fact that they have to read a book, this activity is seen as
something boring at once. To overcome these obstacles, the podcast appeared to be an answer
with the advantage of having no additional costs for families and the fact that it was something
new.
K12 English Poetry
Our school organized the activity “The Week of Poetry” within the National Plan of
Reading. During this week there was a day dedicated to English poetry and rhymes. As a way
of an innovative involvement, we built the podcast “K12 English Poetry” (fig.3) and it can be
accessed at http://k12-englishpoetry.podomatic.com/. The poems and rhymes were selected
and recorded during classes. On the “Day of English Poetry”, the episodes were broadcast on
207
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
the school radio "Onda Aberta".
This activity proved to be of particular importance for some students who have very
particular characteristics, being some of them "visible" when we listen to the episodes. One of
these examples is a student who suffers from almost total deafness – he can hear thanks to the
devices he wears. Obviously, the difficulty that this student has to listen is reflected in his orality.
The exercises involved in the construction of his episode led him to remember and repeat
sounds and words. These exercises have contributed much to improve the performance of this
particular student at various levels, especially in developing and enhancing his specific skill of
orality.
Figure 3 - K12 English Poetry podcast.
A small group of students have severe difficulties at the cognitive level, which also leads
to little orality. Like the previous example, these exercises also have proved to be helpful in
fostering and enhancing their skills and to discipline their cognitive organization, as well.
Another group of students, who are very shy, accepted without hesitation to take part in this
activity when it was suggested that they could do it at home, unlike the majority that recorded in
class. Otherwise, it would have been impossible to get a word out of them.
On the day of the activity, their reaction was somewhat interesting. Since it was the first
time they listened to themselves on the radio, they were very proud of their work. The passing
by students were curious and made questions about what they were listening to. During the
production of the podcast, the students showed much commitment and there were moments of
true fun and relaxation with the selected poems and of great complicity with the teacher.
Enhancing Skills
The carried out activities have been done collaboratively between the students and the
teacher. The podcast has allowed to integrate in a structured and systematic way ICT in the
classroom and to take advantage of their potential in enhancing and fostering writing and oral
skills in English learning. Before recording their texts, they must write them, they must be
corrected and only then they are able to record them. When they are recording, they make
mistakes, and so they have to do it again. Repetition here is important in learning a second
language, especially for students with difficulties. The linguistic and communicative domains are
208
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
essential and the podcast has been leading the students to improve them, empowering them in
their writing and oral skills.
One of the goals for the creation of the podcasts was to create a space for sharing
contents also made by the students, thus working their technical knowhow, as well. During
classes several tasks have been suggested to the students and this way they have become
content producers, as well. These activities have been showing to be very interesting since their
motivation and commitment have been relevant.
However, one of the most amazing things for this tool is to make students with some
disabilities engaged in the activities. The final result is not perfect, but they show real
enthusiasm to take part in this adventure and, like other students, they work their oral and
writing skills. As we mentioned before, one of the students is almost deaf and the podcast has
an extreme importance as a supporting learning tool, as a tool to study and as a way to repeat
words and sentences aloud. There is also a student that has serious problems in speaking to
the class due to her shyness. When she was told that she could create the episodes at home,
she became one of the best assiduous podcast listeners. Now, she has been participating orally
in class more frequently and to interact with the teacher. Her attitude has clearly changed and
we discovered a new student. There are also a few students with severe cognitive difficulties
and they look at the English subject as a burden. When they got in touch with podcasting and
started to have their first experiences with it, they showed they wanted to take part. They may
not have done it perfectly, but the most important is that they felt motivated and were engaged
in the tasks and English is not such a heavy burden to them.
By using the podcast and the students’ mobile devices, we have been promoting an
innovating learning environment where the students are responding quite well.
Obstacles
One of the major obstacles we have faced was the lack of students’ Internet connection
at home. Only 46 of the 97 students had Internet connection. However, a great part of them had
a computer, 78 students.
As we mentioned before, the school also lacks the ideal conditions to carry out ICT
activities in the classroom. However, almost all the students have a mobile device which
appeared to be ideal to the implementation of our m-learning model using the podcast. To
overcome these difficulties, we had to let the students download the episodes during the
classes directly from the teacher’s computer which seemed to be a reasonable solution.
Students’ reactions
Although the obstacles, the students are reacting rather well to the podcast activities.
They usually make comments about the episodes in class. They don’t leave a comment on the
application, because they fear to do anything wrong in spite of all the teacher’s instructions to
do so. One of the students’ criticisms is that the voice “speaks” too fast, but it is a reason to play
209
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
the episodes again and again. The students say that is something different, original and that
ICT is not just going to Google to do some research about a certain issue – it is much more than
this. It is making good use of the small portable devices.
Another important aspect of this experience is the relationship created between
teacher/student. They say that the teacher is sometimes at home with them and never gets
bothered of explaining the contents again and again. This creates ties of complicity, contributing
to develop a good relationship with the students. The parents also look at the mobiles in a
different way since their children don’t use them just to send sms’s.
th
A similar experience had already been done with another Web 2.0 tool, the blog, with 9
form students in this school. The students’ reactions were similar and the blog appeared to be a
strategic element in the students’ involvement, motivation and scores (Menezes, 2008).
Conclusion
The podcast has been accepted by the great majority of the students. Using podcast to
support learning has already begun to belong to some of the good teaching practices in
Portuguese schools. The creation of the episodes allowed a diverse set of activities which went
through the production of written texts and the expressive reading of them. These activities
have proved also to be very fruitful in enabling students to practise correct pronunciation when
listening to the episodes. This way, it was possible to lead the students to enhance language
and communicative skills as well as writing and oral skills.
The students’ reactions are rewarding and this encourages us to go on. The podcast
fosters a good and new relationship with the students. Our imagination is the limit for the
creation and for the different uses of the podcast. Podcast is not the miraculous heal for weak
school scores. However, it can complement teaching and learning enriching the quality of
learning, creating personalized learning environments since it is a resource that respects the
different rates of learning. It can also encourage students with some disabilities to be engaged
in English learning.
Although this study is not completed yet, the reactions we have witnessed so far, lead
us to believe that the signs are going in a positive direction in what concerns the integration of
the podcast in educational practices in learning a foreign language.
References
Junior, J. B., & Coutinho, C. P. (2007). Podcast em Educação: Um Contributo para o Estado da
Arte. Libro de Actas do Congreso Internacional Galego-Português de Psicopedagoxia
(pp. 837-846). Coruña: Universidade da Coruña.
King, K. P., & Gura, M. (2007). Podcasting for Teachers. Charlotte, North Carolina: Information
Age Publishing, Inc.
210
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Menezes, C. Q. (2008). Utilização de Ferramentas E-Learning no Contexto de uma Unidade
Programática na Aula de Inglês 9º Ano – o Blog. Actas do Encontro sobre Web 2.0 (pp.
306-312). Braga: CIEd, UM.
Moreira, F., & Paes, C. (2007). Aprendizagem com Dispositivos Móveis: Aspectos Técnicos e
Pedagógicos a Serem Considerados num Sistema de Educação. Actas da V Conferência
Internacional de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação (pp. 23-32).
Braga: CCUM.
Moura, A. (2007). Projecto ETwinning Através da Web 2.0: Uma Experiência em Língua. Actas
da V Conferência Internacional de Tecnologias da Informação e Comunicação na
Educação Challenges 2007 (pp. 253-256). Braga: CCUM.
Moura, A., & Carvalho, A. A. (2006a). Podcast: Potencialidades na Educação. Actas do 3º
Encontro Nacional e 1º Encontro Luso-Galaico sobre Weblogs. Universidade do Porto.
Moura, A., & Carvalho, A. A. (2006b). Podcast: uma ferramenta para usar dentro e fora da sala
de aula. Conference on Mobile and Ubiquitous Systems (pp. 155-158). Braga: Uminho.
Portal da Educação. (s.d.). Obtido em 23 de Junho de 2008, de Ministério da Educação Portal
da
Educação:
http://www.min-edu.pt/outerFrame.jsp?link=http%3A//www.dgidc.min-
edu.pt/
Projecto Educativo. (2007). São Martinho Do Campo.
Warschauer, M. (2000). The Changing Global Economy and the Future of English Teaching.
Obtido em 15 de Março de 2009, de http://www.gse.uci.edu/person/markw/global.html
Warschauer, M., & Grimes, D. (2007). Audience, Authorship, and Artifact: The Emergent
Semiotics of Web 2.0. (C. U. Press, Ed.) Annual Review of Applied Linguistics, pp. 1-23.
211
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Novas Estratégias no Ensino do Inglês - Blogues e Podcasts
Susana Alexandra Oliveira
Escola EB 2/3 D. António Ferreira Gomes – Ermesinde
[email protected]
Eduardo Luís Cardoso
Universidade Católica Portuguesa – Porto/CBQF
[email protected]
Resumo - Esta comunicação baseia-se num trabalho de investigação realizado sobre o uso
de blogues com podcasts na aprendizagem do Inglês, enquanto língua estrangeira, no
terceiro ciclo do ensino básico presencial. Pretendeu-se verificar até que ponto estes tipos
de ferramentas permitem promover a interactividade, a vertente de trabalho prático e o
trabalho cooperativo e colaborativo a nível da própria língua estrangeira e se são capazes
de diminuir a magistralidade das aulas. Tentou-se igualmente verificar se este tipo de
trabalho contribuiu para melhorar o aproveitamento e o sucesso educativo dos alunos, bem
como a sua proficiência na língua inglesa.
Contextualização do estudo
Numa Europa com uma grande diversidade de origens étnicas, culturais e linguísticas é
fundamental que os indivíduos adquiram as competências que lhes permitam entenderem-se
uns aos outros e comunicar.
Deste modo a aprendizagem de uma língua estrangeira (LE), nomeadamente o Inglês,
e as novas tecnologias deverão ser considerados essenciais no currículo escolar prestandolhes especial atenção e tentando desenvolver as melhores e mais inovadoras estratégias que
potenciem a correcta e eficaz aprendizagem de ambos.
Meios e métodos de trabalho, como os blogues e os podcasts, poderão promover, na
sala de aula, a utilização das novas tecnologias enquanto produção e construção de
conhecimento, especificamente ao nível da língua inglesa.
À medida que os computadores se desenvolveram e as ferramentas de publicação se
tornaram mais acessíveis e fáceis de usar, professores e alunos puderam começar a usufruir
plenamente das vantagens da Internet alargando o acesso à informação, oferecendo contextos
e actividades de comunicação autênticos e possibilitando o contacto com falantes nativos das
línguas estrangeiras.
Os blogues aparecem assim como uma ferramenta de eleição no ensino das línguas
estrangeiras que, associada aos podcasts, permite a participação activa dos alunos, a
interacção e colaboração entre pares e a comunicação inter-cultural autêntica com nativos,
neste caso da língua inglesa, geograficamente, distantes.
212
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Para Segal (2004) o uso dos blogues nas aulas de Língua Estrangeira (LE) dá aos
alunos a possibilidade de comunicarem nessa língua sem medo de cometerem erros, para
desenvolverem as suas competências comunicativas, podendo este processo estender-se para
além da sala de aula.
Reagin (2004) enumera também alguns dos benefícios da utilização dos blogues no
ensino da Língua Inglesa, entre os quais: o feedback por parte do professor pode ser imediato;
contribuem para a preparação do aprendente para futuras oportunidades educativas e
profissionais e permitem uma instrução individualizada em turmas com vários níveis de Inglês
ao possibilitarem a diferenciação de actividades e conteúdos.
Quanto aos podcasts, no ensino das línguas, todas as vantagens desta tecnologia
acentuam-se, uma vez que, neste, a pronúncia, a acentuação e a inflexão são essenciais para
a sua correcta aprendizagem. Os podcasts são uma ferramenta excelente no ensino de línguas
estrangeiras pois permitem aos alunos praticar a oralidade e a audição da pronúncia correcta
(Moura & Carvalho 2006). A gravação e disponibilização aos alunos de podcasts poderá
também ajudar a colmatar a falta de oportunidades dos alunos ouvirem outros idiomas em
contexto escolar.
Cain (2007) defende que os podcasts, mudaram a paisagem do ensino proporcionando
muitas mais oportunidades de imersão dos alunos na LE. Ao ouvirem, à sua vontade,
aprofundam mais a compreensão dos materiais da sala de aula e, ao criarem eles próprios
podcasts, melhoram a sua fluência.
É fundamental ligar as actividades e os métodos de ensino aos interesses e mundos
dos alunos (Dervin, 2006). O uso dos podcasts é uma das últimas novidades que vai ao
encontro destes, pois permite criar materiais sobre todo o tipo de temas, estão disponíveis 24
horas, são actualizados regularmente, são autênticos e gratuitos, permitem-nos realizar ensino
diferenciado e reforçar o que foi ensinado melhorando, assim, o desempenho na língua.
Permitem por outro lado a produção de materiais por parte de cada aluno que mostram, assim,
aquilo de que são capazes.
Segundo Cebeci e Tekdal (2006), a principal vantagem da utilização dos podcasts na
educação é a portabilidade e a conveniência de poder ouvir os recursos educativos a qualquer
hora e em qualquer lugar. Permitem assim o alargamento dos contextos de estudo
possibilitando diferentes locais, dentro e fora da escola onde este pode ser realizado.
No estudo com podcasts de Moura e Carvalho (2006), os resultados apontaram para
que os alunos se sentiram produtores da informação dando mais valor à aprendizagem, dado
que aquilo que produziram foi útil para a sua aprendizagem individual e para a aprendizagem
colectiva dos envolvidos no projecto.
213
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Objectivos do estudo
Este estudo teve como objectivos:
•
Estudar o uso dos blogues e dos podcasts como recurso educativo de aperfeiçoamento
da língua inglesa, enquanto LE, no ensino básico;
•
Descrever a forma como decorre o processo de ensino e aprendizagem de modo a
verificar se o uso destas tecnologias nas aulas promove a diminuição da magistralidade
das mesmas;
•
Verificar até que ponto estes tipos de ferramentas permitem ou não promover a
interactividade e a vertente de trabalho prático em LE junto dos alunos;
•
Aferir que relações e que tipo de cooperação e colaboração se estabelecem entre os
diferentes intervenientes;
•
Contribuir para a aplicação do projecto curricular de agrupamento a nível dos
problemas priorizados relativos ao insucesso/sucesso deficitário e ao abandono escolar
precoce e absentismo dos alunos.
Para tal foi formulada uma questão de investigação:
•
Podem os blogues, associados a podcasts, ser ferramentas potenciadoras da
aprendizagem da língua inglesa, enquanto LE, no ensino básico?
E várias questões complementares:
•
Até que ponto a participação num blogue e a criação de podcasts numa sala de aula
contribuem para tornar o ensino da língua inglesa mais interactivo e prático?
•
Em que extensão a utilização destes dois instrumentos permite, ou não, aos alunos a
hipótese de desenvolverem o trabalho colaborativo e cooperativo em equipas utilizando
estratégias de aprendizagem igualmente práticas e interactivas?
•
O uso dos blogues e dos podcasts nas aulas promove a diminuição da magistralidade
destas, tornando os alunos participantes activos no seu próprio processo de
aprendizagem?
Metodologia
A metodologia escolhida para este trabalho foi a Investigação-acção que permite que o
investigador abandone o seu gabinete e realize as suas próprias investigações no terreno de
aprendizagem, no centro das vivências escolares, in vivo (Legendre, 1983, citado por LessardHebert, Goyettte & Boutin, 1990). É deste modo possível a identificação dos problemas
educativos e a acção sobre eles in loco em busca de uma solução através do trabalho no
terreno com todos os sujeitos envolvidos.
Enquanto método qualitativo, a Investigação-acção, permite uma reflexão em
profundidade e multifacetada e possibilita o diálogo durante o processo bem como a avaliação
214
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
formativa dos processos utilizados (Stenhouse, 1987) permitindo que se possam realizar
correcções e alterações durante a investigação.
Kemmis e Mctaggart (1988) encaram a Investigação-acção como uma forma de
aperfeiçoar a educação através da mudança e da aprendizagem realizada com base nos
efeitos da mesma. Esta, é um processo participado em que os indivíduos contribuem para o
aperfeiçoamento das suas próprias práticas, desenvolve-se através de uma espiral autoreflexiva de ciclos de planificação, acção, observação e reflexão, é um processo colaborativo,
envolvendo os responsáveis pela acção, decorre através da acção dos membros do grupo, e
exige a recolha de dados relevantes, evidências, para que se possam mudar as práticas. Não
se limita a um único ciclo mas antes a uma sequência de tantos ciclos, quantos sejam
necessários, para alcançar as mudanças pretendidas ou a melhoria dos resultados. O
professor/investigador deverá ter tempo para explorar, estudar e analisar o desenvolvimento de
cada ciclo para poder reformular e reajustar tudo o que seja necessário de ciclo para ciclo até
ao seu objectivo final.
Descrição do estudo
O blogue com os podcasts que foi desenvolvido nesta investigação foi pensado e
elaborado de acordo com os princípios do modelo CLE (Constructivist Learning Environments)
de Jonassen (2007) enquanto referência de um Ambiente Construtivista de Aprendizagem, em
que o professor segue estratégias activas que promovam a exploração, colaboração e reflexão
dos estudantes.
Como defende Azenha (2000), mais importante do que ensinar os alunos, é criar
condições para que eles possam aprender, concebendo actividades que representem um
desafio a resolver. Deverão assim promover-se todas as capacidades dos alunos devendo o
professor colocar os desafios e prestar a ajuda necessária.
Optou-se por uma abordagem integradora das quatro capacidades fundamentais na
aprendizagem de uma língua, a audição, a leitura, a escrita e a fala, de modo a privilegiar uma
aprendizagem baseada em tarefas comunicativas que desse aos alunos a possibilidade de
contactarem com situações de comunicação autênticas em que interagissem naturalmente na
língua.
Na planificação das actividades procurou-se criar actividades que permitissem
determinar os conhecimentos prévios dos alunos, cujos conteúdos fossem propostos de forma
significativa e funcional, que permitissem inferir a sua adequação ao nível de desenvolvimento
de cada aluno, que representassem um desafio alcançável, que causassem um conflito
cognitivo, deste modo promovendo a actividade mental, motivassem a aprendizagem de novos
conteúdos, estimulassem a auto-estima e o auto-conceito e ajudassem o aluno a adquirir
competências relacionadas com o aprender a aprender, para o tornar cada vez mais autónomo
na sua aprendizagem (Zabala, 1998). Estas, foram seleccionadas e elaboradas numa
perspectiva comunicativa/pragmática, salientando o aluno como sujeito do processo de ensino-
215
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
aprendizagem. Como Neuner (1991) defende, tentou-se criar sequências de exercícios que, do
ponto de vista pragmático e pedagógico, preparem para, desenvolvam, estruturem, simulem e
sejam, actos de comunicação.
Relativamente
aos
conteúdos,
tentou-se
realizar
uma
cuidada
selecção,
sequencialização e organização funcional (Zabalza, 1992).
Esta investigação decorreu ao longo de 10 semanas, no segundo período do ano
lectivo 2007/2008, nos noventa minutos da aula semanal de Inglês, com uma turma de 8º ano,
da Escola E.B. 2/3 D. António Ferreira Gomes, Ermesinde.
Foi criado um blogue, em alojamento próprio http://turmanet.net/ingles/ - imagem 1 -,
num ambiente Wordpress, que foi sendo alterado e aperfeiçoado de ciclo para ciclo, à medida
que a investigação decorria, com base nos dados observados e nas reflexões realizadas. Com
base nos conteúdos do manual dos alunos, assentes no programa oficial de Inglês do 3º ciclo,
foram planificados três ciclos de três aulas de noventa minutos cada e as actividades
realizadas com o auxílio do Ambiente Virtual de Aprendizagem tiveram duração variável de
aula para aula, uma vez que houve necessidade de realizar outro tipo de tarefas.
Imagem 1. Blogue com podcasts - http://turmanet.net/ingles/
Não se pretendeu utilizar o blogue e os podcasts apenas como um recurso pedagógico,
centrado na disponibilização de formas adicionais de acesso à informação. Pretendeu-se,
antes, transformar estes instrumentos numa estratégia pedagógica de ensino e aprendizagem
que conduzisse os alunos a aprenderem e desenvolverem competências
Dado que uma elevada percentagem de alunos (36%) não tinha computador e/ou
Internet em casa, não se pretendeu utilizar o blogue como meio de comunicar com os alunos
fora da sala de aula, nem estabelecer diálogo entre professor e aluno e entre os próprios
alunos. Pretendeu-se antes privilegiar o contexto de sala de aula, minimizando esta
desigualdade de acesso.
216
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Ao longo dos três ciclos, os alunos realizaram as actividades que foram colocadas no
blogue sobre os diversos temas e que culminaram sempre na elaboração de um comentário
individual sobre os mesmos e, no segundo e terceiros ciclos, na gravação e publicação de um
podcast. No primeiro ciclo, os alunos apenas descarregaram podcasts e elaboraram
comentários de forma independente; no segundo e terceiro ciclos, tiveram já de gravar o seu
próprio podcast com base nos comentários por eles colocados no blogue. Acrescente-se que
no último ciclo, os podcasts gravados pelos alunos, serviram de base a uma actividade de
audição/compreensão em que cada aluno descarregou três podcasts dos colegas com o
objectivo de completar uma tabela com os dados relativos às preferências alimentares de cada
um deles.
Passa-se, de seguida, a apresentar de forma sucinta o decorrer de cada um dos ciclos
no que diz respeito às actividades de elaboração de comentários e utilização/produção de
podcasts.
1º ciclo
No primeiro ciclo os alunos tiveram de descarregar na forma de podcast para o seu PC
ou leitor de MP3 uma canção para ouvirem e realizarem exercícios de compreensão sobre a
mesma; escreveram um comentário opcional sobre o tema em questão e com o auxílio de um
podcast criado pela professora realizaram um exercício sobre um novo tópico gramatical.
2º ciclo
No segundo ciclo, os alunos descarregaram uma entrevista na forma de podcast para
ouvirem e realizarem os exercícios de compreensão sobre a mesma; publicaram um
comentário no blogue e gravaram um podcast individual com o comentário que haviam
realizado para colocar online no blogue.
3º ciclo
No terceiro ciclo, os alunos elaboraram um comentário online tendo posteriormente
gravado novos podcasts com base nesses textos. Na última aula do ciclo foi planeado um
exercício de audição e compreensão com o auxílio dos podcasts criados pelos alunos e de
uma tabela a ser completada pelos mesmos com a informação recolhida aquando da audição
de três dos podcasts dos colegas, à escolha (Imagem 2).
217
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Imagem 2. Segundos podcasts gravados pelos alunos e actividade baseada nos mesmos
Resultados
Uma das grandes mais-valias para os alunos, do trabalho levado a cabo durante os
ciclos, foi a realização da sequência de actividades ao ritmo de cada um, uma vez que, numa
turma tão heterogénea em termos das competências e dos recursos tecnológicos ao dispor e
em que o nível linguístico era baixo, registaram-se ritmos de aprendizagem e de realização dos
exercícios muito diferentes. Implementou-se, assim, um ensino diferenciado, não ao nível das
actividades, mas do tempo de realização das mesmas (Dervin, 2006) respeitando-se os
diferentes ritmos de aprendizagem, de forma objectiva, clara e adequada aos propósitos
curriculares.
Por outro lado, a possibilidade de repetirem as tarefas, se assim o desejassem, foi
outro dos factores que contribuiu para a boa receptividade e evolução por parte, até, dos
alunos mais fracos. O blogue estimulou o interesse e sentido de responsabilidade dos alunos
sobre a própria aprendizagem. De igual modo, facilitou a criação e publicação de conteúdos
(Orihuela & Santos, 2004), tendo-se observado um crescente orgulho e confiança por parte dos
alunos no seu trabalho, ao possibilitar a publicação destes para toda a comunidade, permitindo
também a verificação da evolução individual no domínio da língua inglesa, uma vez que os
trabalhos eram inseridos por ordem cronológica (Reagin, 2004).
Permitiu também aos alunos o uso do Inglês de forma autêntica, numa linguagem do
dia-a-dia (D`Eça, 2006), dando-lhes, ao mesmo tempo, a possibilidade de comunicarem sem
medo de cometerem erros, até porque sabiam que os textos e os podcasts eram revistos pela
professora, e assim desenvolvendo as suas competências comunicativas (Segal, 2004).
De igual forma o trabalho com o blogue promoveu a aprendizagem colaborativa
(Huffacker, 2005), desencadeando um ambiente colaborativo (Altoé, 2006) que levou os alunos
218
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
a criarem e participarem numa pequena comunidade de prática de aprendizagem da Língua
Inglesa à medida que se inter-ajudavam na realização das actividades, nomeadamente na
elaboração dos comentários e na preparação da gravação dos podcasts.
A utilização do blogue no ensino do Inglês permitiu a uma aluna que ficou doente
usufruir dos mesmos conteúdos e actividades que os colegas e participar nas actividades. Por
outro lado, para esta aluna, o blogue possibilitou uma melhor integração e uma maior
motivação ao sentir-se mais próxima dos colegas e da escola (Gomes, 2005).
Relativamente aos podcasts disponibilizados no blogue, estes, foram de encontro às
necessidades e expectativas dos alunos (Moura & Carvalho, 2006; Dervin, 2006) que se
sentiram motivados e mais interessados pelos conteúdos graças ao ambiente que se criou na
sala de aula, diferente do tradicional. Por sua vez os conteúdos e materiais foram apresentados
aos alunos de forma criativa e dinâmica tornando as aulas mais motivadoras para todos os
participantes.
A gravação do seu próprio podcast fez com que os alunos se tenham sentido
produtores da informação passando a dar mais valor à aprendizagem (Moura & Carvalho,
2006), contribuindo para a melhoria da qualidade e quantidade dos textos escritos no blogue.
O facto de os alunos poderem escutar a sua voz foi central dado que muitos deles
nunca tinham ouvido a própria voz gravada e se mostraram admirados e agradados com a
experiência. De salientar aqui, também, a utilização da voz enquanto elemento de
humanização da aprendizagem, uma vez que, a dicção, o stress e a inflexão permitiram a
compreensão mais rica do entusiasmo ou paixão dos alunos.
Os podcasts permitiram o trabalho colaborativo uma vez que, os alunos envolveram-se
no trabalho uns com os outros, nas diferentes fases de preparação e gravação dos mesmos,
tendo assim promovido a inclusão de toda a turma (Faria, Pereira & Dias, 2007). Permitiram
também o treino da leitura e da expressão oral dos alunos (Moura & Carvalho, 2006),
melhorando deste modo a sua fluência (Cain, 2007) e desempenho na língua (Dervin, 2006).
A gravação do segundo podcast teve a preferência dos alunos por saberem que este
iria ser utilizado pelos colegas numa actividade na sala de aula, tornando-os assim
responsáveis pela aprendizagem uns dos outros. Isto acentuou a vertente interactiva das aulas
e aproximou a aprendizagem da língua inglesa do dia-a-dia e da vida real de cada aluno.
Tal como Faria et al. (2007) defendem, o sucesso que os podcasts tiveram junto dos
alunos advém do facto de aquilo que produziram poder ser acedido por outros indivíduos,
começando pelos próprios colegas da turma e pela comunidade em que estão inseridos.
A nível dos resultados finais do período na disciplina registou-se a subida de dois níveis
negativos para positivos, sendo de salientar, que vários alunos conseguiram evoluir e
aproximar-se de uma avaliação positiva, deixando antever que, a continuar este trabalho, tal
iria culminar, para estes alunos, numa nota positiva no final do ano lectivo.
Ao longo de toda a investigação, registou-se a melhoria da fluência e desempenho na
língua tanto a nível escrito como oral, de tal modo que, ao longo dos três ciclos, os alunos
219
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
começaram a comunicar sem medo de cometer erros, desenvolvendo deste modo as suas
competências comunicativas (Segal, 2004).
Com base no questionário final realizado pelos alunos concluiu-se também que,
relativamente à utilização do blogue na sala de aula de Inglês, os alunos destacaram a
interactividade e interesse que trouxe às aulas, com valores de concordância acima dos 95%
de respostas na turma. Por outro lado o blogue permitiu aos alunos praticarem mais a escrita
do Inglês e tornou a aprendizagem de conteúdos gramaticais mais interessante (92,5% de
concordância). Ainda com valores iguais a 90% de anuência, estão a motivação que
desencadeou para a aprendizagem da Língua Inglesa, o ter tornado as aulas mais práticas e o
facto da sua utilização durante as aulas ter permitido começar a escrever textos mais longos
neste idioma.
Quanto à utilização dos podcasts no blogue, na sala de aula de Inglês verificou-se que,
97,5% dos alunos, consideraram que tornou as aulas mais interactivas e a mesma
percentagem destacou o interesse extra que trouxe às actividades de sala de aula. Com
respostas de nível igual ou superior a 90% de concordância, encontra-se a motivação para a
aprendizagem da língua inglesa, o ter tornado as aulas mais práticas, tendo permitido praticar
mais a audição de textos em Inglês.
Em relação à criação dos próprios podcasts em Língua Inglesa, houve unanimidade
entre os alunos ao considerarem que tornou as aulas mais interessantes, tendo a
interactividade que este tipo de actividades proporcionou atingido os 97,5%. Uma elevada
percentagem das respostas, 95%, apontou para o facto da criação dos próprios podcasts em
Língua Inglesa terem motivado para a elaboração dos comentários escritos que antecediam a
gravação e terem contribuído para que os alunos se esforçassem mais na preparação dos
textos. Com níveis iguais ou superiores a 90% situaram-se as alíneas relativas ao carácter
mais prático destas actividades, ao interesse que trouxeram à aprendizagem dos conteúdos e
à melhoria que desencadearam na qualidade dos textos desenvolvidos pelos alunos, como
ilustram os seguintes gráficos (Gráficos 1 e 2).
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Tornou as aulas mais Tornou as aulas mais
interessantes
práticas
Tornou a
Tornou as aulas mais
aprendizagem dos
interactivas
conteúdos gramaticais
mais interessante
Gráfico 1. A criação dos meus próprios podcasts em língua inglesa
220
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Permitiu-me Promoveu a
Melhorou a
Melhorou a
Contribuiu Motivou-me na
para me
elaboração dos
praticar mais inter-ajuda minha leitura e qualidade dos
textos
esforçar mais comentários
audição de entre colegas expressão oral
textos em
em Língua
na preparação escritos que
Inglês ao ouvir
Inglesa.
dos textos antecediam a
os podcasts
gravação
uns dos outros
após terem
sido gravados
Gráfico 2. A criação dos meus próprios podcasts em língua inglesa (Continuação)
Pretendeu-se também avaliar qual ou quais das actividades realizadas pelos alunos no
blogue lhes agradaram mais. A mais valorizada foi a gravação dos podcasts, com 97,5%,
seguida pelos exercícios de interpretação, pós-audição de podcasts, pela elaboração dos
comentários e pelos jogos de correspondência de vocabulário com 92,5. Com um valor de 90%
ficaram também as sopas de letras e a audição de podcasts. Vejamos então, todas as
actividades relacionadas com os podcasts ou com os comentários escritos pelos alunos
obtiveram as percentagens mais elevadas o que mostra como foram do agrado dos alunos e
como resultaram em termos da aprendizagem da língua inglesa. Como se pode verificar pelo
gráfico abaixo (Gráfico 3) a actividade menos destacada pelos alunos foi a leitura de textos,
com valores inferiores a 80% o que sublinha o facto de os alunos não darem especial destaque
a actividades tradicionais de ensino da língua inglesa.
221
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Gráfico 3. Das actividades que realizaste no blogue assinala as de que gostaste mais
Conclusões
O uso de um blogue com podcasts na aula de Inglês como LE deu aos alunos a
possibilidade de utilizarem a LE de forma autêntica, com pessoas concretas, comunicando na
linguagem efectiva do dia-a-dia. Ao utilizar estes instrumentos os alunos deixam a sua própria
marca no mundo, quer através da sua opinião, quer através dos seus trabalhos, que poderão
ver publicados e acessíveis a todo o mundo através da Internet.
Por outro lado criam-se novos contextos de aprendizagem, reais e concretos, abrindose portas até agora fechadas para os alunos e caminhos ainda desconhecidos para muitos
professores e tornando o ensino e aprendizagem da língua inglesa mais interactivo e prático.
Falar de blogues e de podcasts na aprendizagem das línguas é, pois, falar de aulas e
matérias que podem ser estudadas ou revistas em qualquer lugar e a qualquer momento, posto
que haja acesso a internet, promovendo assim a gestão individual da aprendizagem. Os alunos
trabalham mais e melhor ao saberem que o seu trabalho poderá ser lido, escutado e entendido
por qualquer pessoa em qualquer parte do mundo.
Após toda a investigação que foi desenvolvida conclui-se que efectivamente os blogues
com podcasts são ferramentas que potenciam a aprendizagem da língua inglesa enquanto LE,
no Ensino Básico, contribuindo para tornar o ensino desta língua mais interactivo e prático,
promovendo a diminuição da magistralidade das aulas e tornando os alunos participantes
activos no seu próprio processo de ensino-aprendizagem. Por outro lado, a utilização destes
dois instrumentos dá aos alunos a possibilidade de desenvolverem o trabalho colaborativo e
cooperativo em equipas utilizando estratégias de aprendizagem igualmente práticas e
interactivas.
222
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Referências
Altoè, B. (2006). Using blogues in the foreign language classroom. Tese de Mestrado.
Università degli Studi Ca' Foscari di Venezia. Veneza, Itália.
Azenha, M. (2000). Ensino e aprendizagem das línguas estrangeiras. Colecção cadernos
pedagógicos. Porto: Edições Asa.
Cain, J. (2007, Janeiro 10). Podcasting enables 24/7 foreign language study. MIT. Retirado de
http://web.mit.edu/newsoffice/2007/techtalk51-14.pdf
Cebeci, Z. & Tekdal, M. (2006). Using podcasts as audio learning objects. IJELO, volume 2.
Disponível em http://www.ijklo.org/volume2.html
Dervin,
F.
(2006).
Podcasting
demystified.
Disponível
em
www.azzaro.org/ssis/downloads/reading/Podcasting%20Demystified%20LM%20Apr%2
006.pdf
D’ Eça, T. (2006). O blog como elemento de motivação para a leitura e escrita na língua
estrangeira.
Proformar
Online,
15.
Retirado
de
http://www.proformar.org/revista/edicao_15/blog.pdf
Faria, A., Pereira, M. & Dias, P. (2007). Podcasting na educação: O projecto “Era uma vez…”.
In A. Osório & M. Puga, As Tecnologias de Informação e Comunicação na Escola (pp.3747). Braga: Universidade do Minho, Centro de Investigação Metaforma.
Gomes M. (2005). Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. Retirado de
http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4499/1/Blogs-final.pdf
Huffaker D. (2005). Let them blog: using Weblogs to advance literacy in the K-12 classroom.
Retirado
de
http://www.soc.northwestern.edu/gradstudents/huffaker/papers/Huffaker2005_LetThemBl
og.pdf
Jonassen, D. (2007). Computadores, ferramentas cognitivas. Colecção Ciências da Educação
Século XXI. Porto: Porto Editora.
Kemmis, S., & Mctaggart, R. (1988). Como Planificar la Investigación Acción. Barcelona:
Laertes.
Lessard-Herbert, M., Goyette, G. & Boutin, G. (1990). Investigação qualitativa. Fundamentos e
práticas. Colecção Epistemologia e Sociedade. Lisboa: Instituto Piaget.
Moura, A. & Carvalho, A. (2006, Outubro). Podcast: potencialidades na educação.Prisma.com,
volume
3.
Disponível
em
http://prisma.cetac.up.pt/artigos/5_adelina_moura_e_ana_amelia_carvalho_prisma.php
Neuner, G. (1991). Situação actual: fundamentos, princípios e formas que revestem os
exercícios no contexto de uma metodologia do ensino das Línguas Estrangeiras
orientada segundo uma abordagem comunicativa pragmática. In G. Neuner, C. Edelhoff,
M. Krüger & H. Piepho, Didáctica das Línguas Estrangeiras (pp. 25-30). Volume 1.
Lisboa: Apáginastantas.
223
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Orihuela, J. & Santos, M. (2004, Julho 24). Los blogues como herramienta educativa:
experiencias
con
bitácoras
de
alumnos.
Quaderns
Digitals.
Disponível
em
http://www.quadernsdigitals.net/index.php?accionMenu=hemeroteca.VisualizaArticuloIU.
visualiza&articulo_id=7751
Reagin, M. (2004). Theoretical and Practical Applications of Emergent Technology in ELT
Classrooms; How the ‘Blog’ Can Change English Language Teaching. Disponível em
http://earth.prohosting.com/wjreagin/eltblogs.htm
Segal, M. (2004). Il blog nell’apprendimento della lingua inglese. Scuolaer. Disponível em
http://www.scuolaer.it/notizie/bloger_anno_1/blog_nell_apprendimento_della_lingua_ingl
ese.aspx
Stenhouse, L. (1987). La investigación como base de la enseñanza. Madrid: Ediciones Morata.
Ward, J. (2004). Blog assisted language learning (BALL): Push button publishing for the pupils.
TEFL Web Journal, 3(1), 1-16.
Zabala, A.(1998). A prática educativa. Como ensinar. Porto Alegre: Artmed.
Zabalza, M. (1992). Planificação e Desenvolvimento Curricular na Escola. Porto: Edições ASA.
224
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcasting: relato de uma experiência na disciplina de Educação Musical
Pedro Alexandre da Silva Mota
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal
[email protected]
Clara Pereira Coutinho
Instituto de Educação e Psicologia, Braga, Portugal
[email protected]
Resumo - Nesta comunicação vamos apresentar uma experiência pedagógica realizada
numa turma de 6º ano de escolaridade no corrente ano lectivo de 2008/2009 na disciplina
de Educação Musical. Para o efeito, foi criado um podcast na aplicação podomatic e foram
desenvolvidas, em contexto de sala de aula, diversas actividades tirando partido do
potencial da ferramenta. Embora o podcast fosse gerido pelo professor, os conteúdos
publicados foram maioritariamente desenvolvidos pelos alunos que se tornaram assim
produtores da informação na web, numa lógica que ultrapassa o patamar da observação e
incentiva o aluno a dar um contributo num espaço que é cada vez mais de todos.
Contextualização
Na sociedade global do século XXI, designada da “informação, do “conhecimento” e,
mais recentemente da “aprendizagem” (Pozo, 2002), a Internet não é uma simples tecnologia
de comunicação, mas o epicentro de muitas áreas da actividade social, económica e política,
constituindo-se, na perspectiva de Castells (2004), “como o instrumento tecnológico e a forma
organizativa que distribui o poder da informação, a geração de conhecimentos e a capacidade
de ligar-se em rede em qualquer âmbito da actividade humana” (Castells, 2004: 311).
Vivemos numa sociedade que consome cada vez mais tecnologia com particular
destaque para as crianças e jovens. Para eles, as tecnologias fazem parte integrante das
actividades e rotinas do dia-a-dia. Faz por isso sentido que, na qualidade de docentes e
investigadores do século XXI, nos questionemos sobre qual deve ser o papel das tecnologias
digitais na educação em geral e no ensino da Educação Musical em particular.
De facto, neste mundo globalizado e em constante mutação, o acesso e a relação dos
jovens com a música têm vindo a modificar-se. A diversidade e variedade de músicas que as
novas tecnologias e a Internet tornaram acessíveis, contribuíram para outra característica
relevante da vida musical contemporânea: a consciência de uma enorme diversidade e
heterogeneidade (Palheiros, 2003).
Com estas alterações, quer na sociedade, quer nas tecnologias, tem-se verificado
mudanças na música e nos estilos de vida da sociedade, tendo a publicidade, em especial
através da televisão, um papel importante a desempenhar (Freitas, 2000). Este facto levou a
alterações na avaliação da música e no modo como as pessoas a ouvem.
225
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Com esta exposição à música, as crianças revelam uma vulnerabilidade quanto à
escuta de certos géneros de música, seja por os colegas ouvirem apenas a música de
determinado grupo/cantor, ou mesmo porque os alunos mais velhos gostam do mesmo
grupo/cantor. Com isto, as crianças acabam por não desenvolver o espírito de crítica sobre as
músicas que ouvem.
Outros factores de grande importância no ensino da música, e na música em geral,
foram a revolução digital e os desenvolvimentos na portabilidade dos equipamentos, quer de
gravação quer de reprodução. Estes permitem que qualquer música seja escutada em qualquer
lugar e em qualquer altura por vários ouvintes espalhados pelo mundo (Miell et al., 2005).
O recente desenvolvimento da Internet que se consubstanciou no aparecimento de
uma série de novos aplicativos gratuitos e de fácil utilização que designamos por Web 2.0,
abriu imensas oportunidades para explorar no ensino e aprendizagem da Educação Musical,
nomeadamente a possibilidade de os alunos se tornarem produtores de conteúdos e de os
publicarem na rede.
Esta mudança do papel do utilizador na Internet é uma das características mais
significativas da Web 2.0. A Web que hoje conhecemos e usamos não é apenas um
emaranhado de páginas que se relacionam através de hiperligações, não é um mero
repositório de vídeos, imagens e sons acessíveis através do browser, não se trata de um canal
informativo apenas acessível a utilizadores avançados. Trata-se de uma plataforma amigável,
socialmente aceite e receptiva a que qualquer indivíduo pode aceder e usufruir de inúmeros
serviços, envolvendo-se e contribuindo para o seu crescimento e rumo que terá no futuro
(Ferreira, 2007). Para Alexander (2006: 33), “social software has emerged as a major
component of the Web 2.0 movement”, ou seja, a Web 2.0 ou Web social, preocupa-se com a
participação dos utilizadores, potencia o desenvolvimento de actividades colaborativas, partilha
de informações e do conhecimento. Pela parte que nos toca, entendemos a Web 2.0 como
sinónimo de um novo olhar sobre o potencial inovador da Internet que passa pela participação
intensificada do efeito-rede: propõe-se participantes mais activos, em nome de uma inteligência
plural, partilhada ou colectiva, reforçando o conceito de transformação de informações e
colaboração dos internautas com sites e serviços virtuais (Coutinho, 2008).
O Podcast e a Educação
Entre os muitos aplicativos da nova geração 2.0 disponíveis na rede e com particular
interesse para o ensino da Educação Musical destaca-se o podcast. O desenvolvimento desta
tecnologia iniciou-se em 2004, quando Adam Curry (DJ da MTV) e Dave Winer (criador de
software) criaram uma aplicação que permitia descarregar automaticamente transmissões de
rádio na internet directamente para um iPods.
226
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Não existe, contudo, consenso em torno de uma definição unívoca para o conceito de
podcast; Primo (2005) por exemplo, define podcast como “um processo mediático que emerge
a partir da publicação de arquivos áudio na internet”; para Moura e Carvalho (2006a) o termo
podcast refere genericamente a possibilidade de se poder descarregar conteúdos áudios da
internet. No nosso caso, adoptaremos a proposta de Bottentuit Junior e Coutinho (2007) para
quem o podcast é uma página Web, que se assemelha a um blog, que permite a utilização de
texto, imagem, áudio, vídeo e onde os ficheiros áudio estão disponibilizados para
descarregamento para dispositivos portáteis.
A utilização do podcast pode ser feita de duas formas: em interacção directa através da
Internet, ou seja, o utilizador pode escutar os episódios directamente do podcast, ou através do
download dos ficheiros áudios para o computador ou para os dispositivos portáteis, como por
exemplo: o ipod, leitores de mp3, etc. A possibilidade de descarregar ficheiros para dispositivos
portáteis, possibilita escutar os ficheiros áudio em qualquer lugar, e em qualquer momento,
sem a necessidade de ligação à Internet, indo de encontro ao que muitos autores referem ser
características da aprendizagem no futuro, ou seja, aprender anywhere and anytime (Bottentuit
Junior e Coutinho, 2008).
A tecnologia podcast está a ser utilizada em contextos muito diversificados: no âmbito
dos negócios como forma de disponibilizar o conteúdo de reuniões; em programas de
telejornais e entretenimento bem como de carácter científico; e também na educação, onde
começa a ser utilizada para a transmissão e disponibilização de aulas (Bottentuit Junior e
Coutinho, 2007), muito especialmente para apoio à aprendizagem na formação em regime
misto ou b-learning (Carvalho, 2008).
De facto, são inúmeras as vantagens que podem advir da utilização educativa do
podcast. Coutinho e Bottentuit Junior (2007) destacam: i) o podcast induz um maior interesse
na aprendizagem porque possibilita uma estratégia de ensino e aprendizagem diferente na sala
de aula; ii) é um recurso que se adapta a diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos; iii)
possibilita a aprendizagem dentro e fora da sala de aula; iv) a interacção entre o acto de falar e
o de ouvir permite uma aprendizagem mais significativa do que o simples acto de ler; v) e a
possibilidade de os trabalhos no podcast serem realizados em grupo, possibilita uma
aprendizagem colaborativa, trazendo vantagens sobre a individualizada, como demonstram
inúmeros estudos realizados no nosso país; vi) ao gravarem episódios, os alunos têm maior
preocupação na preparação de um bom texto para ser ouvido pelo professor, pelos colegas ou
por todos cibernautas que usam a Web! Outras potencialidades reportadas na literatura e
associadas a esta tecnologia são o RSS e a facilidade de criação e gravação de episódios
directamente na Internet. Através da subscrição do serviço RSS, o utilizador é notificado via email sempre que surjam alterações no podcast, permitindo que este não precise de consultar
os podcasts diariamente, estando sempre a par das novidades colocadas pelo autor do
podcast (Bottentuit Junior e Coutinho, 2008).
227
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Uma vez que se trata de uma aplicação bastante recente, ainda existem ainda poucos
estudos realizados no nosso país sobre a utilização de podcasts na educação. Porém, desde
2006, começaram a surgir os primeiros trabalhos realizados com a ferramenta, como é o caso
do “Correspondance Scolaire”, e do “Discurso Directo I e II”.
O primeiro estudo foi realizado por Moura e Carvalho (2006a) para apoio ao processo
de ensino e aprendizagem da língua francesa entre uma escola portuguesa e uma escola
belga. O objectivo deste estudo consistiu na criação conjunta de episódios para o podcast
comum, permitindo um conjunto variado de actividades integrando texto e imagens, para além
do áudio, levando os alunos a desenvolverem competências linguísticas e comunicativas a
nível da compreensão e da expressão escrita e oral. As actividades foram realizadas de forma
colaborativa entre todos os intervenientes: alunos e professores de ambas as escolas. Na
avaliação final do estudo foi possível verificar que os alunos deram mais valor à aprendizagem,
pois sentiram-se produtores da informação e produziram algo que teve utilidade para a
aprendizagem colectiva e individual dos participantes do projecto.
O segundo estudo, – Em Discurso Directo I e II –, também realizado por Moura e
Carvalho (2006b), e teve como objectivo utilizar o podcast na disciplina de Literatura
Portuguesa. Este podcast constituiu uma forma de ajudar alunos com dificuldades de
aprendizagem, em particular os alunos de cursos nocturnos e outros alunos que não
conseguiam acompanhar as aulas presencialmente, constituindo uma forma de promover o
sucesso educativo. Com este estudo, para além de motivar os alunos, foi possível anular
alguns problemas relativamente ao número de computadores por aluno, pois não houve
necessidade de que a turma estivesse na Internet em simultâneo, pois enquanto um aluno
realizava a tarefa individual de escrever e dar a opinião, outro aluno poderia rever os conteúdos
através do podcast. Também é de realçar o número elevado de acessos e downloads dos
vários episódios disponibilizados, o que demonstra que este podcast ultrapassou largamente
os limites da sala de aula para que foi inicialmente concebido.
No entanto, não encontrámos estudos realizados no nosso país que reportassem
experiências pedagógicas de utilização desta tecnologia no contexto da disciplina de Educação
Musical, o que constituiu um incentivo para o desenvolvimento do estudo empírico que vimos
reportar nesta comunicação.
De facto, acreditávamos que, por um lado, as características do podcast se ajustavam
bem à especificidade do ensino e aprendizagem da EM e, por outro, sentíamos a nossa quota
parte de responsabilidade em preparar cidadãos do século XXI, ou seja, dotar os nossos
alunos com as competências digitais, e, sobretudo, com a digital wisdom de que nos fala Marc
Prensky num artigo publicado muito recentemente, requisito essencial para o sucesso na
sociedade da aprendizagem (Prensky, 2009). Tendo em conta este contexto foram definidas as
seguintes questões orientadoras para a investigação:
O podcast é uma tecnologia Web 2.0 com potencial para ser utilizada na disciplina de
Educação Musical? A que níveis?
228
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
•
Os alunos ficam mais motivados para o ensino da música com a utilização de podcasts
na disciplina de Educação Musical?
•
De que forma é que os alunos aprendem e em que medida esta aprendizagem difere
da potenciada por outras metodologias de ensino da Educação Musical?
Metodologia
O estudo empírico realizado envolveu uma turma de 20 alunos de 6º ano de
escolaridade na disciplina de Educação Musical. A escolha da turma teve a ver com o facto de
um dos investigadores ser o professor da turma cujos elementos tinham conhecimentos
básicos quer a nível da língua portuguesa quer a nível informático. Outro factor responsável
pela escolha desta turma foi o ano de escolaridade, pois as novas tecnologias no ensino da
música fazem parte do programa de Educação Musical no 6º ano de escolaridade.
Em relação ao género, 50% dos alunos era do sexo masculino e 50% do sexo
feminino. Relativamente à idade, verificámos que 15% dos alunos tem 10 anos, 70% 14 anos,
5% 12 anos e 10% 14 anos. 75% dos alunos desconhecia o que era um podcast, 3 tinham já
acedido a um podcast e 1 tinha já criado um.
Em termos metodológicos, a especificidade do objecto de estudo e a escassez de
pesquisa realizada na área levou-nos a considerar que o estudo de caso, incluído nos planos
mistos por ser descritivo (qualitativo) e quantitativo (Gomez, Flores & Jimenez. 1996), seria o
plano de investigação que melhor se adequava aos objectivos do estudo. Nesse sentido, o
plano metodológico foi flexível, tendo os investigadores procedido a ajustes pontuais em função
do feedback recebido dos participantes ao longo dos 3 meses em que decorreu a experiência.
O projecto foi avaliado/monitorizado em várias etapas e com recurso a diferentes
técnicas de recolha de dados. Numa fase inicial, foi aplicado um questionário para identificar o
perfil dos alunos, relativamente à idade, género, posse, local, frequência e utilização dos
equipamentos informáticos (computador, portátil e leitor de mp3). Nesse mesmo questionário
também procurámos conhecer: a) se os alunos conheciam o podcast, b) se já tinham criado ou
acedido a algum podcast, e ainda c) avaliar as atitudes e percepções dos alunos em relação à
Educação Musical, bem como d) saber como idealizavam as aulas de Educação Musical.
Para a monitorização das diferentes actividades realizadas foi utilizado um diário de
bordo onde se registaram sob a forma de notas de campo as reacções, participação e
interesse demonstrado pelos alunos, já que a maioria das actividades foi desenvolvida em
contexto de sala de aula.
No final da experiência foi aplicado um questionário final de opinião para aferir de
eventuais diferenças relativamente ao gosto pela Educação Musical, bem como sobre as
percepções dos alunos relativamente à utilidade do podcast na disciplina de Educação Musical
e à estratégia pedagógica implementada.
Também foram avaliados os trabalhos realizados pelos alunos, bem como os
comentários deixados no podcast. Esta parte da avaliação do projecto será realizada pelo
229
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
professor, pelos restantes colegas da turma, e pelo próprio autor do trabalho (auto e heteroavaliação).
O Podcast Música na Web
Para
a
execução
do
projecto
foi
criado
um
podcast
(URL:
http://musicanaweb.podomatic.com) onde foram colocadas algumas actividades a descrever.
A primeira actividade (figura 1) foi uma pequena “brincadeira” com uma música
seleccionada pelos alunos entre as músicas estudadas no 1º período. Para o efeito os alunos
usaram o programa de gravação áudio Audacity, através do qual foi gravado o instrumental, a
execução da melodia nas flautas de bisel, e a interpretação vocal da turma e de alguns solistas
da canção escolhida.
A segunda actividade (figura 2), disponibilizada mensalmente, consistiu num pequeno
jogo auditivo – Compositor Secreto. Para o efeito o professor disponibilizou o excerto de um
compositor, bem como uma imagem distorcida, e algumas pistas referentes à biografia do
mesmo. Os alunos tinham de descobrir quem era o Compositor Secreto, deixando um
comentário/resposta sobre a actividade. A cada dez dias, era colocado um novo excerto do
mesmo compositor, uma nova imagem (cada vez menos distorcida) e outras pistas da
biografia, até ao máximo de três excertos, sendo o último excerto, uma das obras mais
conhecidas do compositor escolhido.
Figura 1. "Pequena Brincadeira"
Figura 2. "Compositor Secreto"
A terceira actividade – A Minha Canção – consistiu num trabalho sobre uma das
canções preferidas dos alunos (figura 3). Cada aluno, no programa Audacity, acrescentava
efeitos à versão original com o objectivo de potenciar o desenvolvimento de competências ao
nível do reconhecimento auditivo.
A quarta actividade – Vamos tocar… - consistiu na interpretação em díades, de uma
canção com a flauta de bisel (figura 4).
230
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 3. "A minha Canção..."
Figura 4. "Vamos tocar..."
A quinta actividade – Um pouco mais de... – consistiu num pequeno trabalho de grupo
relativo à História da Música (figura 5). Cada grupo de 3-4 alunos foi responsável por um
período da História da Música – Primórdios, Idade Média, Renascimento, Barroco, Clássico,
Romântico e Contemporâneo – e criou um episódio relativo à sua época, que foi
oportunamente disponibilizado no podcast. Esse episódio deveria referir alguns aspectos
importantes do período histórico analisado, nomeadamente, características da música,
compositores famosos, instrumentos musicais utilizados, etc., bem como imagens sobre o
mesmo. Para a elaboração do episódio, foram disponibilizados sites, indicados pelo professor,
onde os grupos podiam consultar informação relativa ao período escolhido. Cada grupo
elaborou um pequeno resumo sobre o seu trabalho para inserir no episódio do podcast, de
modo a facilitar o estudo por parte dos restantes colegas de turma.
Figura 5 – “Um pouco mais de...”
Resultados
Dados quantitativos
O questionário final procurava averiguar da reacção dos alunos à experiência de
utilização do podcast na aula de Educação Musical. Este questionário foi dividido em quatro
231
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
grupos de questões: i) participação no projecto, ii) actividades propostas, iii) utilização do
podcast na Educação Musical, iv) avaliação final do projecto.
A primeira questão solicitava aos participantes se tinham gostado de participar no
projecto bem como uma justificação para a resposta dada. Todos os alunos afirmaram ter
gostado de participar no projecto. Quando solicitada uma justificação para a afirmação anterior,
as respostas variaram: “conhecer novos documentos e informações sobre a música” (A1, A7,
A15 E A17), “actividade divertida” (A2, A4, A11, A16 e A20), “ter um site nosso” (A3), “aprendi
músicas novas” (A5 e A6), “nova experiência” (A14), “acho fixe o professor fazer um projecto
com os alunos” (A8 e A14), “gosto de música e de computadores” (A9 e A10), “dá-me muito
orgulho ter um site na Internet” (A12), “interessante” (A13, A18 e A19), entre outras.
No segundo grupo de questões foi perguntado qual a impressão/sentimento que
sentiram quando foi proposto a realização do projecto. 60% indicou que teve uma boa
impressão, 25% indicou “Muito Boa” e apenas 15% indicou “indiferença” à proposta. Quando
questionado o porquê da escolha, houve um equilíbrio nas respostas: “novidade” (A5 e A6),
“construção de uma página na Internet” (A14 e A15), “divertida” (A1, A4 e A20), “interessante”
(A1 e A7), “engraçado” (A4 e A19), “mostrar o que valia” (A14, A16 e A18), etc.
Na questão seguinte foram pedidos três adjectivos que, na opinião dos alunos, melhor
caracterizavam o projecto realizado. O gráfico 1 apresenta os resultados obtidos para os 17
alunos que responderam à questão.
Interessante
Divertido
Bom
Educativo
Giro
Engraçado
Diferente
Organizado
Misterioso
Lindo
Alegre
Experimental
Fixe
Muito Bom
Moderno
Novidade
1
1
1
1
1
1
1
2
2
2
3
3
4
6
12
16
Gráfico 1. Adjectivos associados à actividade pedagógica
Como se pode verificar, os alunos propuseram 16 adjectivos diferentes para
caracterizar o projecto podcast; os adjectivos mais citados foram “interessante” (N=16),
“divertido” (N=12), “bom” (N=6), “educativo” (N=4), “giro” (N=3) e “engraçado” (N=3). De realçar
que todos os adjectivos propostos reflectem uma conotação positiva com a actividade
pedagógica, valorizando, sobretudo, a sua componente lúdica e o seu carácter inovador.
Questionados sobre a justificação para as escolhas realizadas, destacamos: “adoro projectos
de música na Internet” (N=3) “muito interessante” (N=4), “actividades engraçadas” (N=3).
Alguns dos participantes não responderam à questão (N=4).
232
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Na questão seguinte era pedido aos alunos que assinalassem a actividade do podcast
que mais tinham gostado. Como se pode verificar pela tabela abaixo representada (tabela 1), a
actividade que obteve maior número de escolhas (65%) foi o “Compositor Secreto”, a segunda
actividade mais votada (15%) foi a “Primeira Experiência”, seguida de “Vamos tocar” e “A
minha canção” que obtiveram 10% cada uma. A actividade “Um pouco mais de…” não foi
assinalada por nenhum aluno. Na justificação pedida, a maioria dos intervenientes disse ter
escolhido o “Compositor Secreto” pois “gostaram de descobrir novos compositores” (A1, A5,
A6, A9, A10, A11, A16 e A18), “através da pesquisa” (A12 e A15), bem como a
“competitividade inerente à actividade” (A2, A7, A8, A14 e A19). Outras justificações dadas
foram: “gostei de trabalhar em conjunto” (A4), “gostei da música” (A3, A17 e A20), entre outras.
Apenas um elemento não justificou a resposta dada A13).
Actividade
N
%
Compositor Secreto
13
65
Primeira
3
15
Experiência
Vamos tocar…
2
10
A minha canção
2
10
Um pouco mais
0
0
de…
Tabela 1. Actividade que mais gostaram
As questões seguintes questionavam os alunos sobre a importância da utilização do
podcast nas aulas de Educação Musical. Na primeira questão perguntava-se se achavam que
o podcast constituía uma ajuda à aprendizagem da Educação Musical. Todos os alunos
responderam afirmativamente (100%) a esta questão.
De seguida foi pedido aos alunos que assinalassem as três opções que melhor
justificavam a resposta dada (ver tabela 2). A opção “motiva os alunos para a disciplina” foi a
mais assinalada, seguida pela opção “interessante” e “facilita a aprendizagem de alguns
temas”. Seguem-se por ordem decrescente as opções “complemento à aula”, “estimula o
trabalho de grupo” as “aulas eram divertidas” e ainda “desenvolve o trabalho individual”. De
assinalar o facto de nenhum aluno ter assinaladas as opções “Não vejo utilidade no podcast”,
“é uma perda de tempo”, “tenho dificuldade em perceber para que serve” e “prefiro as aulas
sem o podcast” o que advoga a favor do gosto e interesse que os alunos manifestaram na
actividade proposta.
Motiva os alunos para a disciplina
É interessante
Facilita a aprendizagem de alguns temas
É um complemento à aula
Estimula o trabalho de grupo
As aulas são divertidas
Desenvolve o trabalho individual
Não vejo utilidade no podcast
É um recurso pedagógico útil
N
14
11
10
9
7
7
2
-
233
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
É uma perda de tempo
Tenho dificuldade em compreender para que serve
Prefiro ter aulas sem utilizar o podcast
Tabela 2. Justificação da escolha da actividade que mais gostaram
Quando questionados acerca da utilização do podcast noutras disciplinas, 75% dos
alunos afirma que gostava de utilizar, e 25% não gostava de utilizar o podcast noutras
disciplinas. As disciplinas consideradas como mais indicadas para a utilização da ferramenta
foram a Educação Visual e Tecnológica, seguida da Língua Estrangeira e das Ciências da
Natureza, sendo a E.M.R.C. a menos apontada.
Na última questão foi perguntado se gostariam de continuar este projecto no terceiro
período – todos os participantes afirmaram querer continuar com o projecto iniciado no 2º
período (100%).
Dados qualitativos
Uma vez que este projecto foi desenvolvido nas aulas de Educação Musical, recorreuse a um diário de bordo para o registo das reacções bem como o interesse e a participação dos
alunos no decurso do projecto.
Na aula de apresentação do projecto, a maioria dos alunos mostrou grande
curiosidade, questionando o professor sobre o que iriam fazer.
As aulas de 90 minutos de duração, foram organizadas de forma que metade era
destinada à apresentação das actividades e a outra ao seu desenvolvimento e ajuda aos
alunos na sua concretização. A actividade que suscitou maior interesse foi o “Compositor
Secreto”, pois quando a actividade era apresentada, logo no mesmo dia, a maioria dos alunos
já tinha deixado a sua resposta no podcast. Foi interessante verificar que, quando algum
participante via o professor, vinha logo perguntar se a resposta que tinha dado era a correcta.
Com esta actividade foi criado um espírito de competição saudável, em que cada aluno tentava
ser o primeiro a acertar no Compositor Secreto. Por outro lado, a actividade que suscitou
menor interesse foi o “Vamos tocar”, pois tratou-se de uma peça difícil de executar em díades,
e em que os alunos não receberam ajuda por parte do professor. Apenas quatro alunos
apresentaram a sua interpretação.
A actividade “Um pouco mais de…” ocupou o maior número de aulas, pois foi
necessária uma ajuda especial por parte do professor. A elaboração dos resumos das épocas
relativas à História da Música foi complicada, pois neste nível de ensino os alunos ainda têm
dificuldade em resumir um texto, o que exigiu maior preocupação do professor na ajuda aos
alunos. Apesar desta dificuldade, quase todos os grupos procuraram livros na biblioteca e
realizaram pesquisas na Internet tanto de textos como das músicas de cada época, o que
motivou algum interesse para a realização actividade. Em termos globais consideramos que o
projecto foi bastante interessante e motivador para todos os intervenientes.
234
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Conclusões
O conceito da Web 2.0 introduz uma nova filosofia em que os utilizadores da rede
global deixam de ser meros espectadores para assumirem um papel mais activo e participativo
no processo de acesso e edição da informação disponível online. Segundo Silva & Gomes
(2003), em termos de metodologias de ensino, o paradigma educacional vigente, deve evoluir
para metodologias mais centradas no aluno, que façam do estudante elemento activo e central
na aprendizagem.
Através da Web, o aluno é convidado a construir activamente e a reestruturar o
conhecimento através de múltiplas oportunidades pelo que estas tecnologias podem constituir
um suporte para a mudança de concepção do ensino-aprendizagem, em particular no ensino
da Educação Musical. Ou seja, as potencialidades das TIC podem contribuir para uma melhoria
dos processos de ensino-aprendizagem da música (Tafoi et al, 1991), se as práticas educativas
em que se inserem modificarem o papel do professor do modelo transmissivo tradicional para o
de mediador, o que, por sua vez exige uma mudança para um paradigma construtivista do
ensino-aprendizagem (Coutinho & Bottentuit Junior, 2008).
O estudo apresentado nesta comunicação pretende constituir um exemplo de utilização
de uma ferramenta Web 2.0 – o podcast – na aula de Educação Musical, numa lógica de
ferramenta cognitiva (Jonassen, 2007) ao serviço da implementação de ambientes de
aprendizagem construtivista num sentido amplo, ou seja, englobando as diferentes dimensões
pessoal, social e comunal reportadas na literatura (c.f. Ramos et al, 2003). Os resultados
obtidos na observação directa do professor e no feedback obtido no questionário final,
advogam a favor do potencial da ferramenta para motivar os alunos que se envolveram
activamente nas diferentes actividades propostas. Os adjectivos que os alunos usam para
“rotular” a experiência reflectem a forte componente lúdica da actividade que é muito valorizada
pelos alunos e que justifica, pensamos, a motivação e o envolvimento mesmo em actividades
que envolvem conteúdos programáticos que os alunos habitualmente não gostam: referimonos, é claro, à actividade “Compositor Secreto” que foi a mais participada e valorizada pelos
alunos embora o seu conteúdo – a História da Musica – não seja do agrado dos alunos desta
faixa etária.
Em resumo, embora o objectivo do estudo não fosse testar o impacto da ferramenta
podcast nas aprendizagens dos conteúdos curriculares de EM - isso envolveria o desenho de
um estudo de tipo experimental com a criação de dois grupos homogéneos que receberiam
tratamentos diferentes – acreditamos que os alunos que participaram no estudo, para além dos
conhecimentos dos conteúdos da disciplina, adquiriram certamente um conjunto de novas
competências que lhes serão muito úteis no futuro. Referimo-nos às chamadas Digital Age
st
Literacies ou 21 Century Literacy que englobam, entre outras, a capacidade de comunicar em
diferentes suportes (Digital & Visual Literacy), numa perspectiva global (Global Literacy),
procurando, avaliando e sintetizando a informação (Information Literacy), recorrendo ao
computador e à Internet (Technology Literacy) (Partnership for 21st Century Skills, 2004)
235
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Esperamos que este projecto incentive a que outros professores de Educação Musical
e de outras áreas disciplinares explorem o potencial educativo que as tecnologias Web 2.0 têm
para oferecer para que, com o contributo de todos, possamos caminhar no sentido da tão
desejada mudança no sistema educativo.
Referências
Alexander, B. (2006). Web 2.0: A New Wave of Innovation for Teaching and Learning?
Learning, 41 (2), 32-44. http://net.educause.edu/ir/library/pdf/ERM0621.pdf (Acessível em
Outubro de 2008).
Bottentuit Junior, João Batista; Coutinho, Clara P. (2007). Podcast em Educação: um contributo
para o estado da arte. In Barca, A.; Peralbo, M.; Porto, A.; Silva, B.D. & Almeida L.
(eds.), Actas do IX Congresso Internacional Galego Português de Psicopedagogia.
Setembro, A Coruña: Universidade da Coruña, 837-846.
Bottentuit Junior, João Batista; Coutinho, Clara Pereira. (2008). Recomendações para
Produção de Podcasts e Vantagens na Utilização em Ambientes Virtuais de
Aprendizagem. Revista Prisma.com, nº6, 158-179.
Carvalho, A. (2008). Manual de ferramentas da Web 2.0 para professores. Lisboa: Ministério da
Educação: Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
Castells, M. (2004). A Galáxia da Internet. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Coutinho, Clara P. (2008). Tecnologias web 2.0 na escola portuguesa: estudos e investigações.
Revista Paidéi@, UNIMES VIRTUAL, Vol. 1, número 2 (10).
Coutinho, Clara P.; Bottentuit Junior, João (2008). Comunicação educacional: do modelo
unidireccional para a comunicação multi-direccional na sociedade do conhecimento. In
M. Lemos Martins & M. Pinto (Orgs.). Comunicação e Cidadania - Actas do 5º Congresso
da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. 6 - 8 Setembro 2007, Braga:
Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho), 1858-1879.
Ferreira, L. (2007). O que aprendemos com a Web 2.0: novos rumos para a aprendizagem. In
Actas do Encontro Internacional “Discurso, Metodologia e Tecnologia”. Miranda do
Douro: Centro de Estudos António Maria Mourinho, 237-247.
Freitas, C. M. V. (2000). O currículo em debate: Positivismo – pós-modernismo. Teoria –
prática. Revista de Educação, IX(1), 38-52.
Goméz, G. R; Flores, J.; Jiménez, E. (1996). Metodologia de la investigacion cualitativa.
Malaga: Ediciones Aljibe.
Jonassen, D. H. (2007). Computadores, Ferramentas Cognitivas - Desenvolver o pensamento
crítico nas escolas. Porto: Porto Editora.
Miell, D., Raymond, M. & Hargreaves, D. J. (2005). Musical Communication. Oxford: Oxford
University Press.
236
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Moura, A.; Carvalho, A. (2006a). Podcast: Potencialidades na Educação; Revista Prisma.com,
nº3, 88-110.
Moura, A.; Carvalho, A. A. (2006b) Podcast: Uma ferramenta para Usar Dentro e Fora da Sala
de Aula. In Rui José & Carlos Baquero (eds): Proceedings of the Conference on Mobile
and Ubiquitous Systems. Universidade do Minho, Guimarães, 155-158.
Palheiros, G. (2003). Educação Musical em Diferentes Contextos. Revista de Educação
Musical da APEM, 117, 5-1.
Partnership for 21st Century Skills. (2004). Learning for the 21st century: A report and MILE
guide
for
21st
century
skills.
Retrieved
May
22,
2007.
http://www.21stcenturyskills.org/index.php?option=com_content&task=view&id=255&
Itemid=121 (Acessível a 10 de Maio de 2009).
Pozo, J. I (2002). Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
Prensky, M. (2009). H. Sapiens Digital: From Digital Imigrants and Digital Natives to Digital
Wisdom.
Vol
5,
Febuary/March.
http://innovateonline.info/index.php?view=article&id=705&action=login. (Acessível a 3 de
Abril de 2009).
Primo, A. (2005). Para além da emissão sonora: as interacções no podcasting. Porto Alegre:
Intertexto, nº13.
Ramos, J. L. et al (2003). Construtivismo comunal: esboço de uma teoria emergente no campo
da utilização educativa das TIC na escola, no currículo e na aprendizagem. Disponível
em http://www.cceseb.ipbeja.pt/evolutic2003/sp_0.htm (Acessível a 10 de Maio de 2009.)
Silva, B. D. & Gomes, M. J. (2003). Contributos da Internet para a mudança do paradigma
pedagógico: uma experiência de trabalho colaborativo. ELO - Revista do Centro de
Formação Francisco de Holanda,1-14.
Tafoi, B.; Correia, H.; Belchior, M.; Almeida, T.; Silva, T. (1991) As novas tecnologias de
informação no 1º ciclo do ensino básico. Lisboa: Departamento de Educação da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: Projecto Minerva.
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito de um projecto do CIED, Universidade do Minho, Braga,
Portugal.
237
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
GeomCasting: um estudo com alunos do ensino secundário
Aurora Maria Moreira da Rocha
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal
[email protected]
Clara Pereira Coutinho
Instituto de Educação e Psicologia, Braga, Portugal
[email protected]
Resumo – Neste texto vamos apresentar o projecto GeomCasting desenvolvido numa
turma de 11º ano de escolaridade na disciplina de Geometria Descritiva A, com o objectivo
de ajudar os alunos a estudarem os conteúdos curriculares e a prepararem o exame final
da disciplina. O projecto consistiu no desenvolvimento pela docente e, também, pelos
alunos, de aplicações multimédia baseadas no conceito de podcast/vodcast/screencast – o
GeomCast – que, disponibilizadas num blog de turma, ficaram acessíveis para que os
colegas pudessem rever os conteúdos curriculares em qualquer lugar ou hora, a partir da
internet, dos ipods ou dos telemóveis, preparando-se, desta forma, para o exame nacional
de Geometria Descritiva A. Nesta comunicação vamos apresentar o projecto, justificar a sua
pertinência à luz das teorias de aprendizagem e apresentar os resultados já apurados.
Introdução
Não podemos ficar indiferentes às mudanças que temos vindo a assistir no panorama
educativo, marcadas pelo desenvolvimento das novas tecnologias da informação e
comunicação (TIC). É necessário repensar as práticas, métodos e estratégias pedagógicas
utilizadas pelos professores, de forma a contribuir para a inovação na sala de aula.
A questão da importância da integração curricular das TIC é um assunto recorrente a
nível das políticas educativas a nível nacional e internacional. A este propósito, a International
Society for Technology in Education (ISTE) publicou, em Junho de 2008, um relatório em que
apresenta os novos Padrões Nacionais de Tecnologia Educacional destinados a professores
(NETS-T, 2008). No referido documento, são feitas novas recomendações dirigidas aos
professores no sentido de os responsabilizar para o seu papel de criadores de experiências
pedagógicas que envolvam o uso das tecnologias para aprender e ensinar.
Também o Governo Português tem vindo a manifestar uma preocupação crescente
com a questão da integração curricular das TIC no processo de ensino aprendizagem. Nesse
sentido, em Setembro de 2007 foi criado o Plano Tecnológico da Educação (ME, 2007) onde
se pode ler que o caminho para a sociedade do conhecimento impõe uma alteração dos
238
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
métodos tradicionais de ensino e de aprendizagem e um investimento na disponibilização de
ferramentas, conteúdos e materiais pedagógicos adequados. Segundo o referido documento,
as acções a implementar estruturam-se em função de três eixos de actuação principais —
«Tecnologia», «Conteúdos» e «Formação». Particularmente importante no contexto da
investigação que pretendemos levar a cabo é o eixo dos “Conteúdos”, já que estes e as
aplicações que os sustentam são essenciais para a alteração das práticas pedagógicas,
favorecendo o recurso a métodos de ensino mais interactivos e construtivistas, contribuindo
para criar uma cultura de aprendizagem ao longo da vida.
A Geometria Descritiva é a responsável pelo estudo das formas espaciais, é também
uma ferramenta de trabalho necessária e essencial em diversas profissões, como é o caso do
arquitecto, que recorre à Geometria Descritiva quando precisa de resolver graficamente um
problema sobre objectos no espaço. Trata-se de uma disciplina que desenvolve o raciocínio, o
rigor geométrico, o espírito de iniciativa e o de organização.
Ao longo dos anos, têm-se feito várias experiências no sentido de colmatar as
dificuldades que os alunos revelam em perceberem elementos abstractos, como por exemplo
pontos que não têm dimensões. Uma das formas que tem vindo a ser experienciada, pela
maior parte dos professores, para auxiliar o relacionamento dos objectos geométricos com a
sua representação é a construção de modelos. Estes modelos podem ser tão simples como um
livro aberto, simulando os planos de projecção e uma borracha a simular um ponto ou um lápis
simulando uma recta. No entanto, estes modelos apresentam sempre limitações, que começam
na simulação insuficiente do espaço, pelo que têm surgido, no sentido de colmatar estas
dificuldades, aplicações 3D e também softwares que ajudam a visualizar o problema. Existem
também vários recursos disponíveis na Web, mas conforme pudemos constatar na nossa
experiência junto dos alunos, estes revelaram não sentirem segurança na utilização dos
mesmos, já que muitos desses aplicativos informáticos exigem conhecimentos prévios dos
conteúdos curriculares, não se adaptando ao ensino que se quer mais individualizado e
adaptado ao estilo e desenvolvimento de cada aluno.
No sentido de introduzir de forma criativa e produtiva os largamente difundidos
ambientes Web 2.0 no processo ensino/aprendizagem da Geometria Descritiva, decidimos
implementar um projecto em que os alunos desenvolveram aplicações multimédia, baseadas
no conceito de podcast/ screencast – GeomCast – numa lógica de trabalho colaborativo, em
que os alunos se envolvem numa tarefa comum na qual o contributo de cada um depende e é
dependente do dos pares (Davis, 1993), e de construcionismo, já que os alunos, com a ajuda
das tecnologias digitais, criam artefactos e, ao fazê-lo, constroem o seu próprio conhecimento:
“Constructivism is the idea that knowledge is something you build in your head. Constructionism
reminds us that the best way to do that is to build something tangible - outside of your head that is personally meaningful” (Papert 1990, online).
239
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
A criação destas aplicações multimédia vai permitir que os alunos façam uma revisão
dos conteúdos curriculares em qualquer lugar ou hora, a partir da internet, dos ipods ou dos
telemóveis e se preparem, desta forma, para o exame nacional de GD.
Por outro lado e, uma vez que estas aplicações multimédia ficam disponibilizadas no
blog da turma, para serem utilizadas pelos próprios, pelos colegas e ainda por todos os
cibernautas que precisem de estudar os conteúdos de GD abordados no podcast, podemos
considerar que o trabalho desenvolvido é conforme os princípios do construtivismo comunal
proposto por Holmes et al., (2001), já que os aprendizes constroem conhecimento que poderá
ser revertido em benefício da comunidade. Segundo Ramos et al (2003, online), o
construtivismo comunal pode ser definido “(…) como uma abordagem na qual os alunos não só
aprendem através dos processos de construção do próprio conhecimento no seu contexto,
aprendem através das interacções sociais emergentes no contexto de aprendizagem
(construtivismo social) como também aprendem em situações de envolvimento activo nos
processos de construção do conhecimento para os outros. Isto é, aprender com os outros e
aprender para os outros, rompendo com os limites convencionais da aprendizagem e do
currículo”. De facto, ao disponibilizarem os conteúdos na rede, os alunos deixam um registo
que pode ser útil para que outros alunos aprendam com as suas experiências. Ao estimular
este tipo de atitude, contribuímos para que o aluno veja a escola como um local onde participou
activamente deixando o seu testemunho, o seu rasto, a sua marca e não como um mero local
de passagem (Holmes et al., 2001).
A Web 2.0 e o Podcast
Para Coutinho (2007, 2008), devemos entender a Web 2.0 como sinónimo de um novo
olhar sobre o potencial inovador da Internet, um olhar que implica uma participação mais activa
de todos os utilizadores, em nome de uma inteligência plural, partilhada ou colectiva,
reforçando o conceito de transformação de informações e de colaboração dos internautas com
sites e serviços virtuais. Passamos de consumidores a verdadeiros produtores, enquanto
utilizadores que contribuem para a estruturação e construção do conteúdo.
Também conhecida como Web social e colaborativa, a Web 2.0 mostra-nos a todos
nós professores e educadores, um novo caminho a seguir, marcado pela flexibilidade dos
processos de aprendizagem, pela capacidade individual de alterar e editar conteúdos, pela
possibilidade de estabelecer objectivos mais ambiciosos, e pela definição de novas estratégias
pessoais, interpessoais e colaborativas para a construção do conhecimento, através de
experiências realizadas com ferramentas da nova geração da Internet, como seja, por exemplo,
através dos blogs, wikis, podcasts, messengers e sites como o MySpace, o Pandora, o
YouTube, o Flickr, Wikipedia entre outros (Hart, 2007).
A Web 2.0 abre à educação todo um espaço de informalidade e ludicidade que motiva
crianças, jovens e adultos para a construção de aprendizagens ricas e para o desenvolvimento
240
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
de competências essenciais a todo o cidadão informado do séc. XXI, como seja: ser
interveniente, produzir conteúdos, ter capacidade crítica, comunicar na rede, trabalhar em
colaboração, participar em comunidades não de proximidade mais de interesses comuns.
Numa síntese aos estudos realizados sobre Web 2.0, Coutinho (2008) conclui que, em
termos gerais, as ferramentas da Web 2.0 podem constituir veículos para o desenvolvimento
de um sem número de aprendizagens e competências que, em contextos formais, se tornariam
muitas vezes aborrecidas e desmotivadoras. No entanto, a autora verifica que os blogs são as
ferramentas mais utilizadas nas escolas portuguesas, carecendo-se de investigação empírica
que avalie o potencial de outras tecnologias, nomeadamente o podcast que constitui o objecto
de estudo na presente investigação.
O termo podcasting foi cunhado em inícios de 2004 por Ben Hammersley (2004),
jornalista inglês do The Guardian, para se referir às entrevistas de rádio que Christopher Lydon
(http://blogs.law.harvard.edu/lydondev/) realizava na Internet, com o auxílio de um gravador
MP3 e um par de auscultadores, e que permitiram provar a aplicabilidade dos weblogs à rádio.
De acordo com diversos autores, o termo podcasting é actualmente utilizado para
designar uma forma de publicação de colecções de ficheiros de media digitais (áudio, vídeo,
imagens, texto ou qualquer tipo de ficheiro) que são distribuídos pela Internet. No entanto,
podem ser compreendidas algumas variações do termo, que tendem a especificar a tipologia
de elementos média que são utilizados na sua produção. Meng (2005) utiliza o termo
Vodcasting para especificar conteúdos compostos por vídeo, e não somente por mero áudio,
que geralmente são reproduzidos em computadores pessoais ou nos actualmente difundidos
MP4. Neste caso o prefixo “vod” decorre da expressão Vídeo On Demand e implica a captura
de vídeo através de uma câmara.
Por sua vez, o screencast consiste numa captura de ecrã através da qual são
registadas as acções de um utilizador num computador, sendo geralmente acompanhada de
áudio (narração) e distribuída através de RSS (ELI, 2006).
Estas aplicações podem ser facilmente alojadas em blogs e páginas Web. A
visualização destas aplicações, que podem incorporar demonstrações de conceitos básicos,
resolução de exercícios (incluindo exemplos de como se resolvem, passo a passo), de tutoriais
de software, entre outros, pode ser repetida as vezes necessárias e o aluno pode visualizar de
que forma uma determinada aplicação é manuseada, ouvindo, em simultâneo, as explicações
do professor. Desta forma, o aluno pode rever as vezes que forem necessárias até conseguir
compreender os conceitos que considerava difíceis, e sempre que precisar refrescar a
memória. Estes conteúdos podem ser visualizados em dispositivos móveis como, por exemplo,
os iPods, telemóveis, mp4, entre outros.
Relativamente a estudos realizados com as tecnologias vodcast e screencast não
encontrámos nenhuma referência relativa a trabalhos realizados no nosso país. No que
concerne a estudos realizados a nível internacional, destacamos uma investigação realizada na
Universidade de Michigan, sobre o uso de screencasts contendo mini-palestras explicativas de
241
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
tópicos identificados pelos alunos como pouco claros (Pinder-Grover et al, 2008). De acordo
com os autores, o uso da tecnologia foi considerado muito útil pelos alunos, argumentando
ainda os autores que o impacto na aprendizagem poderá ser muito maior se alunos e
professores aprenderem a utilizar este novo recurso. Constatam que, em geral, os estudantes
responderam muito bem às questões do exame que estavam associadas ao screencast, como
se pode ler na síntese final do estudo: “This study suggests educational promise in the use of
screencasts to supplement lecture material in large courses.” Em relação ao vodcast,
encontrámos um estudo de caso realizado na Universidade de Teesside (Gkatzidou & Pearson,
2007), em que a tecnologia foi testada para, e passamos a citar, “In order to respond to the
challenge of providing truly-learner-centred, accessible, personalised and flexible learning”
(p.331). Os resultados indicam que muitos alunos utilizaram o vodcast para revisão de
conteúdos curriculares, mas também como parte do seu material de aprendizagem semanal e
independente. Os investigadores verificaram ainda que a utilização das aplicações multimedia
resultou em melhorias na taxa de aprovação dos alunos nas provas de avaliação final.
O estudo
O projecto GeomCasting está a ser implementado no corrente ano lectivo de 20082009, numa turma de 11 alunos, 5 do sexo masculino e 6 do sexo feminino, do 11º ano de
escolaridade (ano terminal da disciplina), de uma Escola Secundária do distrito do Porto. O
termo GeomCasting, por nós criado, é uma variante do termo podcasting – incluindo
screencasts e vodcasts - em que os conteúdos abordados integram o currículo da disciplina de
Geometria Descritiva A.
O projecto consiste na concepção e desenvolvimento, pelos alunos, em trabalho de
grupo, e, também, pela docente, de aplicações multimédia com base em ferramentas Web 2.0
– os GeomCasts - com o objectivo de aumentar o interesse e a motivação para a
aprendizagem e, desta forma, contribuir para o sucesso dos alunos no exame nacional da
disciplina de GD.
Em sessão própria, a docente apresentou à turma o conceito Web 2.0 e também o
“projecto Jing” e alguns screencasts preparados pela mesma, ensinando os alunos a
manipularem estas novas ferramentas. Foram visualizados alguns exemplos de podcasts com
vídeo e áudio.
Na mesma sessão foi criado o blog da turma no Wordpress, cujo nome escolhido “bgeometria descritiva” (URL: http://bgeometria.wordpress.com/) , surgiu após a explicação dos
conceitos de e- Learning, b-Learning e m-Learning.
Em termos conceptuais, consideramos que os GeomCasts podem dar um contributo
importante ao permitirem uma aprendizagem mais personalizada em que o aluno assume um
papel activo de gestor e construtor do saber (Moran, 2000), já que, apoiado pelos seus pares,
prepara e cria o seu episódio de GeomCast que, após ser avaliado pela docente, será
242
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
publicado no blog, para a turma e … para o mundo inteiro! Como as actividades propostas para
a criação dos GeomCasts são a resolução de problemas que preparam para o exame nacional
de GD e, como os alunos as desenvolvem, em grupo, em espaços extra sala de aula, podemos
dizer que, de certa forma, o desenvolvimento destas aplicações multimédia constitui uma
estratégia original e inovadora de conseguir um “3 em 1” ao possibilitar que: 1) a aprendizagem
da GD seja centrada no aluno (learner centered) e adaptada ao seu estilo e ritmo de aprender;
2) os alunos se envolvam numa actividade em que criam produtos multimédia, ao mesmo
tempo que estudam os conteúdos e se preparam para o exame nacional da disciplina, e 3) se
teste assim um formato original de b-learning em que a componente à distância (o blended) é
da responsabilidade do aluno, que contribui activamente, produzindo conteúdos que podem ser
úteis aos colegas e, quem sabe, a muitos outros cibernautas da rede que partilham as mesmas
dificuldades em aprender GD!
No sentido de melhor operacionalizar a investigação empírica (trabalho de campo),
foram formuladas quatro questões orientadoras da investigação que procuravam aferir se o
desenvolvimento/concepção de GeomCasts pelos alunos:
Promove aprendizagens significativas dos conteúdos da disciplina de GD;
Aumenta a motivação e o empenho dos alunos para a aprendizagem;
Fomenta a aprendizagem colaborativa;
Que vantagens ou desvantagens apresenta esta metodologia de aprendizagem da
Geometria Descritiva.
Para efeitos da avaliação e monitorização da actividade, foi realizado um questionário
inicial, uma sessão de brainstorming, uma avaliação intermédia de cariz qualitativo realizada no
decurso da experiência e, no final da mesma, será realizado ainda um questionário final de
opinião.
O questionário inicial, concebido com base num instrumento desenvolvido por Costa
(2008), foi aplicado antes da actividade pedagógica ser proposta aos alunos e os seus
objectivos foram os seguintes: a) caracterizar os participantes relativamente a variáveis, como
seja o ano de escolaridade, sexo e idade, avaliação obtida na disciplina no final do ano lectivo
anterior; b) identificar as condições de acesso à internet; c) avaliar a frequência e usos que
fazem do computador; d) inventariar recursos utilizados nas actividades de pesquisa para a
disciplina; e) identificar dificuldades sentidas nas pesquisas realizadas na Web para trabalhos
escolares para a disciplina; f) recolher informações acerca de aspectos relacionados com a
disciplina de Geometria Descritiva e as TIC (atitudes e percepções em relação à Geometria
Descritiva); g) identificar a preferência pelo trabalho de grupo ou individual.
A avaliação intermédia (questionário II) foi realizada a meados do mês de Fevereiro
com o objectivo de monitorizar o trabalho realizado até então. Para o efeito, foram
apresentadas três questões abertas a que os alunos presentes responderam por escrito,
usando para o efeito uma folha do seu caderno diário.
243
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Desenvolvimento dos GeomCasts
Ao longo do projecto, foram desenvolvidos GeomCasts sobre diferentes conteúdos
programáticos que são objecto de avaliação pelo Exame Nacional, nomeadamente o
“Paralelismo”, a “Perpendicularidade”, “Problemas Métricos”, “Planos Tangentes” e “Secções
Planas”.
O processo de criação dos GeomCasts pelos discentes processou-se da seguinte
forma: concluída a apresentação de cada um dos tópicos programáticos acima referidos, eram
distribuídos aos grupos exercícios de exame de anos anteriores. Os grupos, que foram
cuidadosamente criados pela docente, tendo em conta a análise do questionário inicial e os
diferentes graus de dificuldades de forma a estarem equilibrados em termos de conhecimentos
(juntando alunos fracos com alunos bons), teriam de resolver os exercícios e criar as
aplicações, em regime extra aula, uma vez que, devido à extensão do programa da disciplina,
os GeomCasts não podiam ser criados durante o tempo destinado às aulas presenciais. Esta
exigência pareceu-nos pertinente uma vez que se tratava de alunos adolescentes, com idades
entre os 16 e 18 anos, em que a maioria (8 alunos) tinha acesso à internet em casa, e, na
escola, acesso a espaços de trabalho com computadores ligados à internet.
Os GeomCasts criados deviam ser entregues à docente uma semana antes do teste de
avaliação, para que, desta forma, a docente os avaliasse e, posteriormente, os publicasse no
blog da turma, possibilitando a consulta pelos colegas que assim podiam usufruir de mais um
elemento de estudo para o teste de avaliação final.
Relativamente ao processo de construção dos GeomCasts, os grupos poderiam optar
pelo formato de vídeo - vodcast ou captura do monitor – screencast (Fig. 1 e 2).
Figura 1 e 2. GeomCasts realizados pelos alunos.
Os alunos que optaram pelo formato de vídeo gravaram a resolução do exercício,
justificando oralmente os passos e opções tomadas na resolução do mesmo. Normalmente os
grupos (de 3-4 elementos) distribuíam as tarefas entre si. Um aluno ficava com a câmara de
vídeo, enquanto um outro resolvia passo a passo o exercício e um terceiro elemento descrevia
oralmente (os grupos eram responsáveis pela distribuição das tarefas). O facto de cada grupo
244
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
querer apresentar um trabalho de qualidade (sem enganos), levava-os a realizarem várias
tentativas, até que o GeomCast correspondesse às suas expectativas. Este processo foi muito
útil e eficaz, uma vez que os alunos foram percebendo e interiorizando a matéria sem se
aperceberem de que estavam a aprender mais.
No caso dos grupos que optaram pelo formato screencast, o processo consistia em
desenhar, em suportes distintos, os diferentes passos da resolução dos exercícios, os quais
seriam digitalizados e colocados numa apresentação em Power Point. O resultado final
consiste nessa apresentação gravada e acompanhada também pela justificação oral de todos
os passos e opções tomadas pelos alunos na resolução do problema. Também neste
processo, foram realizadas algumas tentativas, o que contribuiu para a aprendizagem dos
tópicos abordados. Alguns alunos comentaram mesmo que, na resolução de exercícios
idênticos, não iriam ter dificuldades.
Os GeomCasts criados eram posteriormente disponibilizados no blog da turma, sendo
a sua organização por conteúdos programáticos elaborada pela docente, numa página
correspondente ao 11ºano de escolaridade, intitulada “11º Ano”.
Resultados
Questionário inicial
Pela análise dos resultados obtidos no questionário inicial, verificámos que nove alunos
tinham dezasseis anos, um dezassete e um outro dezoito anos de idade; a média das
classificações obtidas na disciplina no ano transacto situava-se nos 13 valores. Também
podemos verificar que, de um modo geral, os alunos gostam da disciplina (embora a maioria
refira gostar apenas de alguns dos conteúdos), e que a consideram útil na vida diária.
Em relação ao trabalho de grupo, apenas um aluno prefere trabalhar sozinho, visto
que, na sua perspectiva, no trabalho de grupo só alguns elementos é que trabalham. Os
restantes inquiridos preferem trabalhar em grupo, justificando a opção tomada pelos motivos
(por ordem decrescente de importância): i) facilita a aprendizagem numa investigação ou na
resolução de tarefas/problemas; ii) melhora o sentido crítico de cada um; iii) há mais interajuda.
Sobre os materiais utilizados nas pesquisas, os inquiridos utilizam diferentes tipos de
suportes, com particular destaque para a pesquisa na Web e o suporte digital. A dificuldade em
encontrar informação sobre assuntos relacionados com a GD foi a razão mais assinalada pelos
alunos quando inquiridos sobre as dificuldades encontradas durante as pesquisas.
Em relação à utilização do computador, a maior parte dos alunos já utiliza para várias
actividades designadamente: para a conversação, para processamento de texto bem como
para o descarregamento de ficheiros de áudio e vídeo.
Em termos gerais, considerámos tratar-se de uma turma com razoáveis conhecimentos
informáticos e interessada nas tecnologias, condição necessária à realização do estudo que
pretendíamos realizar.
245
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Brainstorming
O brainstorming foi realizado aquando da apresentação da actividade aos alunos com o
objectivo de recolher informações adicionais relativamente às percepções e expectativas que
tinham,
bem
como
ao
conhecimento
prévio
dos
alunos
sobre
os
conceitos
de
podcasts/screencasts como recursos educativos. Como conclusão do brainstorming podemos
constatar algum desconhecimento dos alunos relativamente ao conceito de Web 2.0 e sua
filosofia; que o conceito de podcast era familiar apenas a três alunos e que apenas um tinha
usado um podcast no seu ipod; que os alunos apreciaram a ideia de usar as tecnologias web
2.0 para apoio à resolução de exercícios de Geometria Descritiva. Ficou, então, decidido criar
um blog, que funcionaria como repositório de GeomCasts criados pelos alunos e pela docente
e onde seriam também colocados links "seguros" para orientar os alunos no estudo.
Avaliação intermédia
Como referido anteriormente, com o objectivo de monitorizar o desenvolvimento das
actividades do GeomCasting, foi realizada uma avaliação intermédia no final do mês de
Fevereiro de 2009. Tratou-se de apresentar à turma um conjunto de quatro questões abertas a
que os alunos responderam individualmente, por escrito, no final de uma sessão presencial da
disciplina.
Relativamente à primeira questão colocada - “Gostaram de fazer os GeomCasts?
Porquê?” - todos os alunos disseram ter gostado de conceber as aplicações multimédia. A
título de exemplo, passamos a transcrever as respostas dadas por dois dos participantes:
Eu gostei bastante de fazer este tipo de trabalhos, é uma maneira de aprender a fazer
os exercícios passo a passo. Fiquei a perceber melhor a matéria que fiz com este tipo de
trabalhos (perpendicularidade entre rectas) (A2);
Gostei de fazer, é uma maneira diferente de aprender e também é mais atractiva do
que usar apenas os livros, podemos ver a resolução dos exercícios passo a passo, facilitandonos a vida ao perceber o exercício (A7).
No que respeita à segunda questão colocada - “Gostaram de visualizar os
GeomCasts? Porquê?” - seis alunos disseram que sim e apenas um aluno não respondeu.
Mais uma vez, e a título de exemplo, passamos a transcrever algumas das justificações dadas:
Sim, porque aprendemos a fazer os exercícios e tiramos as nossas dúvidas com a
explicação dada na resolução dos exercícios, para além de ser um formato tecnológico, o que
desperta mais interesse (A3);
Sim, são úteis para tirarmos dúvidas sobre os exercícios, e ajuda a quem faz o
exercício, compreende-o melhor (A5).
Relativamente à terceira questão colocada aos alunos - “Acharam esta metodologia útil
para a vossa aprendizagem? Porquê?” - todos os alunos concordaram respondendo
afirmativamente. Passamos a transcrever algumas das respostas obtidas.
246
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Sim, ajuda-nos a estudar e é uma maneira de nos prepararmos para o exame que aí
vem (A3);
Sim, pois pode auxiliar o estudo, quando estivermos com dificuldades. A realização de
mais exercícios pode ajudar quem os realiza e os restantes colegas (A9).
Relativamente à quarta e última questão colocada aos alunos - “Que vantagens
relativas encontras no GeomCasts quanto às duas formas de captura utilizadas - vodcast e
screencast?” - as opiniões divergem, havendo alunos que se posicionam a favor de uma e/ou
de outra das modalidades de GeomCast. Mais uma vez, e a título de exemplo, passamos a
transcrever algumas das respostas obtidas.
Prefiro o screencast, pois a visualização é muito melhor do que no vodcast (A7);
Por um lado prefiro o screencast por outro prefiro o vodcast. No screencast o exercício
é muito mais legível; no vodcast o exercício é feito passo a passo mas não é tão legível (A2).
Conclusão
Embora o estudo apresentado ainda não esteja concluído e, nesse sentido, os
resultados apresentados sejam ainda preliminares, a realidade é que, como docentes,
sentimos que o projecto começa já a dar os seus frutos. De facto, verificamos que os alunos
demonstraram bastante interesse, quer pelas explicações/demonstrações de conceitos
realizados pela docente, quer pelos exercícios realizados pelos grupos, tendo a maior parte
afirmado serem de grande utilidade no apoio ao estudo e na preparação para o exame final.
Por outro lado, tal como referido pelos alunos na avaliação intermédia, o facto de terem de
repetir várias vezes a resolução do exercício para conseguirem um GeomCast de qualidade,
significou, para o “grupo autor”, estudar com mais profundidade e detalhe o tópico apresentado,
por forma a que os colegas pudessem aceder a um documento claro e rigoroso capaz de
auxiliar o estudo e a preparação para as provas de avaliação da disciplina. Tal como realçam
Ramos et al (2003), a tecnologia permite proporcionar publicações de alta qualidade criadas
por alunos, acessíveis a qualquer um que possua um sistema ligado à Internet, numa lógica de
trabalho colaborativo e de partilha de saberes em que as TIC contribuem “para o
enriquecimento progressivo dos ambientes e contextos de aprendizagem, permitindo, não só
que a Escola seja o espaço da construção individual e social, mas que cada um possa
aprender para si e para os outros” (Ramos et al, 2003, online).
Por outro lado, com estas novas ferramentas, os alunos deixam de poder contar
somente com manuais, textos escritos e/ou anotações feitas no decurso das aulas presenciais.
Os GeomCasts permitem que os alunos aprendam de uma forma mais auto-dirigida e
personalizada, satisfazendo o estilo e a velocidade de aprendizagem de cada um. Por outro
lado, o facto de serem os próprios alunos a criarem os seus GeomCasts vem ajudar
significativamente na compreensão dos conteúdos curriculares, numa abordagem ao saber de
tipo construcionista que tão bem defendem Papert (1980) e seus colaboradores. Para o
construcionismo, os seres humanos aprendem melhor quando são envolvidos no planeamento
247
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
e na construção de objectos ou artefactos que considerem significativos, partilhando-os com a
comunidade envolvente. O processo de construção externa do objecto é, em paralelo,
acompanhado da construção interior do conhecimento sobre o mesmo, ampliando assim as
capacidades cognitivas dos sujeitos. Mitchel Resnick (2008), discipulo de Seymour Papert, fala
numa “espiral do pensamento criativo” (creative thinking spiral) em que, nas interacções
geradas na manipulação/criação de artefactos, “ children imagine what they want to do, create
a project based on their ideas, play with their creations, share their ideas and creations with
others, and reflect on their experiences” (Resnick, 2008, pp.20).
Estes pressupostos motivaram o desenvolvimento do estudo que aqui viemos
apresentar. Falta, contudo, verificar como se irão comportar os alunos na prova definitiva, que
é o “exame final” de GD. No entanto, mesmo que os resultados do exame final não se revelem
surpreendentes, acreditamos que outras competências foram desenvolvidas – a autonomia, o
aprender a trabalhar de forma colaborativa, o aprender a aprender - e que o balanço global do
GeomCasting é, por isso mesmo, muito positivo.
Referências
Coutinho, C. P. (2006). Utilização de blogues na formação inicial de professores: um estudo
exploratório. In PANIZO et al (Eds.), Proceedings of the 8th International Symposium on
Computers in Education, (Vol 2), 157-164.
Coutinho, C. P. (2007). Cooperative Learning in Higher Education using Weblogs: a study with
undergraduate students of Education in Portugal. Proceedings of International
Conference on Education and Information Systems, Technologies and Applications,
EISTA 2007, Orlando, FL, EUA, 60-64.
Coutinho, C.P. (2008). A influência das teorias cognitivas na investigação em Tecnologia
Educativa: pressupostos teóricos e metodológicos, expectativas e resultados. Revista
Portuguesa de Educação. Vol 21 (1), 101-127. http://hdl.handle.net/1822/8476 (Acessível
a 11 de Novembro de 2008).
Costa, I. (2008). A WebQuest na aula de Matemática: Um Estudo de Caso com Alunos do 10º
Ano de Escolaridade. Mestrado em Educação, na Área de Especialização em Tecnologia
Educativa, IEP, Universidade do Minho.
Davis, B. G. (1993). Collaborative Learning: Group Work and Study Teams. San Francisco:
Jossey-Bass.
ELI – Educause Learning Initiative (2006). 7 things you should know about…Screecasting.
http://net.educause.edu/ir/library/pdf/ELI7012.pdf (Acessível a 15 de Dezembro de 2008).
Gkatzidou, S. & Pearson, E. (2007). Vodcasting: A case study in adaptability to meet learners’
needs and preferences. In ICT: Providing choices for learners and learning. Proceedings
ascilite
Singapore
2007.
248
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
http://www.ascilite.org.au/conferences/singapore07/procs/gkatzidou.pdf (Acessível a 24
de Abril de 2009).
Hammersley
B.
(2004).
Audible
revolution.
http://www.guardian.co.uk/media/2004/feb/12/broadcasting.digitalmedia. (Acessível a 11
de Dezembro de 2008).
Hart, J. (2007). A Practical Guide to Choosing & Using E – Learning Tools. Issue 2,
http://www.janehart.com (Acessível a 16 de Novembro de 2008).
Holmes, B.; Tangney, B.; Fitsgibbon, A.; Savage, T. e Mehan, S. (2001). Communal
Constructivism: Students Construing Learning For as Well as With Others. In Proceedings of
the 12th International Society for Information Technology & Teacher Education (SITE)
2001.
https://www.cs.tcd.ie/publications/tech-reports/reports.01/TCD-CS-2001-04.pdf
(Acessível a 12 de Maio de 2009).
Meng,
P.
(2005).
Podcasting
and
Vodcasting:
A
White
Paper.
http://edmarketing.apple.com/adcinstitute/wpcontent/Missouri_Podcasting_White_Paper.pdf (Acessível a 25 de Novembro de 2008).
Ministério
da
Educação
–
ME
(2007).
Plano
Tecnológico
da
Educação.
http://www.escola.gov.pt/docs/pte_RCM_n137_2007_DRn180_20070918.pdf (Acessível
a 12 de Dezembro de 2008).
Moran, José M. (2000). Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologia. In J. M. Moran et
al. (Eds.). Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Papirus Editora. pp. 11-66.
Nets-T (2008). The ISTE- International Society for Technology in Education, 2008 Report.
http://www.iste.org/Content/NavigationMenu/NETS/ForTeachers/2008Standards/NETS_T
_Standards_Final.pdf (Acessível a 12 de Dezembro de 2008).
Papert, S.(1980) Mindstorms: Children, Computers and Powerful Ideas. 2nd Edition. New York:
Basic Books.
Papert, S. (1990). A Critique of Technocentrism in Thinking About the School of the Future. MIT
Epistemology and Learning Memo No. 2. Cambridge, Massachusetts, Massachusetts
Institute
of
Technology
Media
Laboratory.
http://www.papert.org/articles/ACritiqueofTechnocentrism.html (Acessível a 16 de Maio
de 2009).
Papert, S.(1994). A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto
Alegre: Artes Médicas.
Pinder-Grover, T., Millunchick, J. M., & Bierwert, C. (2008, October). “Work in progress: Using
screencasts to enhance student learning in a large lecture material science and
engineering course.” 38th IEEE/ASEE Frontiers in Education Conference. Saratoga
Springs,
NY.
10/22/08–
10/25/08. http://www.icee.usm.edu/icee/conferences/FIEC2008/papers/1362.pdf.
(Acessível a 11 de Maio de 2009).
249
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Ramos, J. L. et al (2003). Construtivismo comunal: esboço de uma teoria emergente no campo
da utilização educativa das TIC na escola, no currículo e na aprendizagem.
http://www.cceseb.ipbeja.pt/evolutic2003/sp_0.htm (Acessível a 10 de Maio de 2009).
Resnick, M., (2008). Sowing the Seeds for a more Creative Society. Learning & Leading with
Technology, Vol 35(4), 18-22.
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito de um projecto do CIED, Universidade do Minho, Braga,
Portugal.
250
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
251
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcast no ensino básico: Relato de uma experiência
Rogério Ramos
Universidade de Aveiro
[email protected]
Rui Raposo
Universidade de Aveiro
[email protected]
Resumo - O podcast surge, actualmente, como mais uma tecnologia que permite aos
alunos serem actores activos da sua própria aprendizagem. Esta característica é facilitada
devido à particularidade da grande maioria dos dispositivos móveis permitirem a gravação
de episódios de áudio ou vídeo em qualquer momento e em qualquer lugar. Para os
professores, o podcast é uma oportunidade para transformar a sala de aula, diversificar
estratégias e possibilitar ambientes educativos criativos e inovadores. Porém, a
implementação de podcasts no contexto educativo engloba alguns procedimentos técnicos
e pedagógicos que, de alguma forma podem levar ao sucesso ou insucesso da sua
utilização. Com base em observações directas e participantes, esta publicação pretende
descrever os aspectos mais relevantes de uma investigação levada a cabo numa escola do
ensino básico, na disciplina de Educação Musical, tentando de igual modo que estes sirvam
de indicadores a futuras investigações nesta área.
Enquadramento
A juventude de hoje respira tecnologia móvel. Segundo um estudo actual, publicado
pelo Instituto Nacional de Estatística [1], a grande maioria dos jovens entre os 10 e os 15 anos
(84,6%) usa telemóvel. É também sabido que, cada vez mais, os dispositivos móveis são
utilizados para ouvir música [2]. Tendo em conta a facilidade com que os nossos alunos têm
acesso a estes dispositivos móveis, para Lim (2005), pelo menos em termos de motivação, faz
todo o sentido a exploração pedagógica dos mesmos. Por outro lado, Edirishinga (2007)
assinala que, apesar dos leitores de mp3 serem vistos pelos jovens como um instrumento de
entretenimento, quando aplicados como uma estratégia de suporte educativo, são bem aceites
pelos mesmos. O podcast é, em termos simplificados, um ficheiro áudio ou vídeo publicado na
Internet, através de uma subscrição Feed RSS (Lim, 2005), que por meio de um agregador,
como por exemplo o iTunes, permite o seu download automático para o computador ou
dispositivo móvel (Frydenberg, 2006). Considera-se, dadas estas características técnicas, que
a sua implementação educacional pode ser bem sucedida, pois se por um lado quase todos os
dispositivos móveis têm a capacidade de reproduzir ficheiros de mp3, por outro, o podcast
252
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
surge também como uma nova oportunidade de revisitar as vantagens pedagógicas do áudio
(Thomas, 2001) e o poder comunicativo e personalizado da voz humana (Manning, 2005).
Descrição do estudo
Este estudo focalizou-se numa turma de 24 alunos do 6º ano de escolaridade, no
Agrupamento de Escolas de Argoncilhe e teve como principais objectivos, estudar o impacto do
uso de podcast e de dispositivos móveis na aprendizagem do programa definido para a
disciplina de educação musical, bem como o seu papel como um recurso complementar da
aprendizagem, dentro e fora da sala de aula.
A introdução de podcasts no processo de aprendizagem dos alunos foi precedida de
quatro sessões no sentido de lhes dar competências técnicas ao nível do download dos
ficheiros para o computador ou para os seus dispositivos móveis, bem como aptidões para a
produção e publicação de podcasts na Internet. Após esta fase, os alunos receberam seis
episódios de podcasts, baseados nos conteúdos dados na sala de aula, cujo intuito foi o de
apoiar a realização de diversas actividades musicais, nomeadamente os trabalhos de casa e a
revisão da matéria. Posteriormente, no contexto da sala de aula, tendo como suporte os
dispositivos móveis dos alunos, continuaram a ser realizadas actividades com base nos
podcasts, designadamente a execução de exercícios escritos e interpretação musical. A par do
envio destes seis episódios, foram promovidas quatro actividades orientadas para a gravação
de podcasts, por parte dos alunos, que trabalharam em grupos de quatro.
O serviço utilizado para publicar e distribuir os podcasts foi o “Mypodcast”, no qual foi
criado um portal com o nome iPod’s Crer [3], como se pode ver na figura 1.
Figura 1. Portal IPod’s Crer, destinado ao alojamento e distribuição dos podcasts
Metodologia
Um dos objectivos fulcrais desta investigação foi o de observar e descrever os
comportamentos dos alunos na sala de aula, perante a audição de podcasts através dos seus
dispositivos móveis. Neste sentido, uma das estratégias utilizadas foi a observação directa e
participante (Yin, 2005). Considerando que a investigação envolvia a introdução de novas
tecnologias no processo educativo dos alunos, durante dez aulas presenciais, registaram-se
notas de campo de acordo com a proposta de Bodgan & Biklen (1994: 163-167), juntamente
253
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
com uma grelha de observação sistematizada (Michelle, 1996) que incidiu sobre: as questões
técnicas inerentes à transferência/audição dos podcasts para os dispositivos móveis; o
cumprimento dos trabalhos de casa com base nos podcasts; e os comentários dos alunos
sobre os próprios podcasts.
Atitude dos alunos
As referências apresentadas nesta publicação referem-se apenas a alguns dados de
relevo, obtidos através da observação e da experiência vivida ao longo da investigação.
Logo na primeira sessão presencial, apesar das actividades serem individuais,
constatou-se que os alunos optaram por ouvir os podcasts aos pares. A certa altura questionei
uma aluna: “Não trouxestes o teu telemóvel?”, a aluna respondeu: “Trouxe professor, mas eu
prefiro ouvir juntamente com a minha colega, no mesmo auricular”. Esta situação, imprevista,
levou a perceber que, mediante a audição simultânea, os alunos gostavam de partilhar
opiniões sobre as tarefas propostas, resolvendo-as mediante trabalho colaborativo no contexto
da sala de aula.
Um outro aspecto observado foi o gosto dos alunos pela execução de exercícios
escritos orientados pela audição de podcast. Durante as primeiras seis sessões presencias,
realizaram-se actividades de escrita musical com base na audição de podcast, pelo que a partir
da segunda sessão, sempre que eram entregues fichas de trabalho, alguns alunos
questionavam: “Stor, é para descobrir os ritmos?”, quando respondia positivamente, estes
comentavam: “Que fixe!”, “Eu gosto disto!”.
Tendo em conta a necessidade de ouvir o podcast no contexto da sala de aula, foi
registado o hábito dos alunos na tarefa de transferir os mesmos para os dispositivos móveis.
Como se pode ver pela tabela 1, o interesse dos alunos em transferir os podcasts para o seu
dispositivo móvel foi aumentando gradualmente ao longo das sessões, passando de 70%
iniciais para 92% na 6ª sessão presencial. É de referir que foram também registados alguns
problemas técnicos, nomeadamente a falta de cabos de transferência, memória insuficiente ou
problemas com o computador e Internet. Porém, a percentagem de dificuldades técnicas foram
diminuindo, passando de 24%, na 1ª sessão, para 4%, na 6ª sessão. Por fim, é importante
assinalar que os alunos nunca alegaram não gostar de transferir o podcast para o dispositivo
móvel, no entanto, foi registado sempre que alguns alunos se esqueceram de o fazer.
254
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
EPISÓDIOS
1
2
3
4
5
6
Alunos presentes
17
23
24
23
24
24
f
%
f
%
f
%
f
%
f
%
f
%
12
70%
19
83%
20
84%
20
88%
22
92%
22
92%
Problemas técnicos com
o dispositivo móvel ou o
computador.
3
18%
2
9%
2
8%
1
4%
1
4%
1
4%
Problemas
Internet.
1
6%
-
-
1
4%
1
4%
-
-
-
-
Esqueceu-se
1
6%
2
8%
1
4%
1
4%
1
4%
1
4%
Não lhe apeteceu
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
NÃO
SIM
com
a
Tabela 1. Hábitos de transferência de podcast para os dispositivos móveis
A partir do momento que os alunos passaram a produzir podcasts, verificou-se o
aparecimento de competitividade entre eles. Este aspecto, já referenciado por Frydenberg
(2006), demonstra que os alunos evidenciaram preocupar-se em ter uma boa prestação, sendo
que alguns grupos comentavam mesmo que ensaiavam diversas vezes a sequência do
podcast até ficar bem. Durante as semanas (4) que as actividades de gravação de podcast
foram feitas pelos alunos, sempre que chegava ao dia da aula presencial, os elementos dos
diferentes grupos questionavam: “Stor, qual foi melhor trabalho?” e “Quem é o melhor grupo?”.
Estas questões levam-nos a concluir que a responsabilização e competitividade dos alunos
levou-os a estar mais motivados, empenhados e envolvidos nas actividades da disciplina de
Educação Musical.
Quanto ao método utilizado para a gravação do podcast, dois grupos optaram sempre
por utilizar o software “MyPodcast Recorder” [4], disponível no portal “Mypodcast”, enquanto
que os restantes quatro grupos preferiram a gravação através de um telemóvel.
Finalmente, no intuito de nos ajudar a perceber de que forma os alunos acederam ao
portal onde foram colocados os podcasts, optou-se por utilizar o serviço “Google Analytics”.
Perante os dados apresentados na figura 2, os alunos acedem preferencialmente ao
portal, no primeiro ou segundo dia após a colocação dos episódios de podcast (A). É de realçar
também que existe um aumento de acessos antes da aula presencial (B), o que pode levar a
acreditar que os alunos recorrem ao podcast para fazerem revisões da matéria ou para
recordar a aula, conforme assinalam Moura & Carvalho (2006).
255
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 2. Acessos ao portal “iPod’s Crer” entre os dias 20 de Janeiro e 3 de Março de 2009.
Problemas encontrados
Como já foi referido anteriormente, o serviço “Mypodcast” foi utilizado para alojar os
podcasts disponibilizados. Porém, entre os dias 11 e 16 de Março de 2009, este serviço deixou
de funcionar, apresentando como justificação um upgrade do software do servidor, conforme se
pode ver na figura 3. Este momento foi delicado, pois coincidiu com o período de tempo em
que os alunos gravavam os seus próprios podcasts, o que impossibilitou a sua publicação
imediata na Internet. No entanto, os alunos enviaram os episódios de podcast por e-mail,
sendo publicados após o dia 16 de Março.
Figura 3. Mensagem do portal “iPod’s Crer” entre os dias 11 e 16 de Março de 2009.
Quando no dia 17 de Março, o serviço retomou a sua actividade, verificou-se que todos
os episódios de podcast tinham desaparecido, à excepção do primeiro. Com isto
desapareceram, lamentavelmente, todos os comentários que existiam. Porém, uma vez que
existia uma cópia de segurança de todos os episódios, foi possível repô-los todos no portal.
Esta ocorrência veio confirmar uma questão assinalada por Vincent (2008), relativamente aos
servidores externos à escola, que destaca a falta de controlo sobre os conteúdos alojados em
servidores externos. Assim, segundo o mesmo autor para evitar estes dissabores, o melhor
será dedicar o espaço de um servidor da escola ao alojamento dos podcasts.
Destaca-se ainda, no quadro dos problemas encontrados, o facto de nos quatro grupos
que elaboraram os episódios de podcast através do telemóvel, ter surgido um obstáculo com o
formato dos ficheiros criados. O formato (WMA e AMR) dos ficheiros áudio gravados por estes
dispositivos, impossibilitou a publicação directa dos podcasts, pois a grande maioria dos
servidores dedicados ao alojamento de podcasts só aceita ficheiros no formato mp3. Contudo,
256
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
este problema foi ultrapassado através do envio por e-mail dos ficheiros ao professor da
disciplina, que depois os converteu em ficheiros mp3 e os publicou no portal.
Considerações finais
O estudo ainda em curso permitiu, até ao momento, verificar que antes da
implementação desta tecnologia, os alunos apresentavam poucos hábitos de estudo na
disciplina de Educação Musical. Com a introdução de actividades musicais orientadas pela
audição de podcasts, os alunos passaram a cumprir na, sua grande maioria, as tarefas
propostas. Dentro da sala de aula, os alunos revelaram motivação, inclusive em actividades de
escrita. Este aumento de interesse foi ainda mais evidente a partir do momento em que os
alunos passaram a produzir os seus próprios podcasts.
Em resumo, a procura de uma educação envolvente, deve incluir estratégias que se
adeqúem aos alunos de hoje, pelo que neste contexto, as condições criadas pelo podcast
parecem ser uma opção bastante válida para este propósito. O estudo aqui relatado tem
permitido identificar algumas linhas orientadores neste sentido e espera-se que, aquando do
seu término, se possa compreender o quadro de desafios inerentes à introdução de podcasts
em estratégias de ensino-aprendizagem no espaço de aula.
Notas
[1] Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias
http://www.icp.pt/streaming/INEinqueritoFev2009.pdf?contentId=844122&field=ATTACHED_FI
LE
[2] http://www.nokia.pt/A4307086?newsid=-16520
[3] http://ipodscrer.mypodcast.com/
[4] “MypodcastRecorder” é um software disponibilizado pelo serviço “Mypodcast” que permite,
de forma muito simples, a gravação e publicação de podcast no portal que foi criado para o
efeito.
Referências
Bogdan, R. C. & Biklen, S. K. (1994). Investigação qualitativa em educação. Porto Editora
Edirisingha, P. (2007).The "double life" of an i-Pod: a case study of the educational potential of
new
technologies.https://lra.le.ac.uk/bitstream/2381/406/1/The%20double%20life%20of%20an
%20i-Pod%20-%20short%20paper%20abstract.pdf (Acessível a 12 de Dezembro de
2008)
257
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Frydenberg M (2006). Principles and Pedagogy: The Two P’s of Podcasting in the Information
Technology
Classroom.
In
The
Proceedings
of
ISECON,
v
23.
http://isedj.org/isecon/2006/3354/ (Acessível a 2 de Novembro de 2008)
Lim, K. (2005). Now Hear This – Exploring Podcasting as a Tool in Geography Education.
http://homepage.mac.com/voyager/brisbane_kenlim.pdf (Acessível a 5 de Outubro de
2008)
Manning,
S.
(2005).
The
promise
of
Podcasting.
Pointers
&
Clickers.
http://www.ion.uillinois.edu/resources/pointersclickers/2005_03/Podcasting2005.pdf
(Acessível a 5 de Março de 2009)
Michelle, L-H (1996) - Pesquisa em educação. Lisboa : Instituto Piaget
Moura, A. & Carvalho, A. (2006). Podcast: Uma Ferramenta para Usar Dentro e Fora da Sala
de Aula. http://ubicomp.algoritmi.uminho.pt/csmu/proc/moura-147.pdf (Acessível a 8 de
Outubro de 2008)
Thomas,
J.
(2001).
Audio
for
Distance
Education
and
Open
Learning.
&
Students.
http://www.col.org/audiohandbook/ (Acessível a 22 de Março de 2009)
Vincent,
T.(2008).
Podcasting
for
Teachers
http://learninginhand.com/podcasting/Podcasting_Booklet.pdf (Acessível a 15 de Janeiro
de 2009)
Yin, R. (2005) - Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman
258
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Utilização do Podcast num site de apoio ao estudo da Matemática: uma
experiência no ensino secundário
Rute Almendra Lopes
Escola Secundária D. Sancho I
[email protected]
Diogo Novais Machado
Escola EB2/3 de Vila das Aves
[email protected]
Clara Pereira Coutinho
Instituto de Educação e Psicologia, Braga, Portugal
[email protected]
Resumo - Nesta comunicação vamos apresentar uma experiência de utilização do podcast
num site de apoio ao estudo da Matemática por duas turmas de 11º ano de escolaridade de
uma escola secundária do norte de Portugal. O estudo fundamenta-se numa lógica de
extensão comunicativa da sala de aula, disponibilização de sessões explicativas da
resolução de exercícios preparatórios para os testes de avaliação da disciplina. Para efeitos
da avaliação da experiência os alunos responderam a um questionário. Os resultados
mostram diferenças na utilização do site por parte dos alunos das duas turmas derivadas de
diferentes condições de acesso à Internet; que os conteúdos disponibilizados foram
importantes para a aprendizagem; que o podcast é o recurso mais valorizado e utilizado
pelos alunos no apoio ao estudo; por último, que a maioria dos alunos gostaria de utilizar
estes recursos na sala de aula.
Introdução
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm produzido profundas
alterações ao nível da Sociedade em geral e, muito em particular, ao nível da Escola e dos
alunos (D`Eça, 1998). Consciente desta realidade, o Governo Português tem vindo a
manifestar uma preocupação crescente com a questão da integração curricular das tecnologias
de informação criando, em Setembro de 2007, o Plano Tecnológico da Educação (ME, 2007).
De facto, com o surgimento, em 2004, da nova geração de aplicativos Web 2.0,
abriram-se as portas para a implementação de metodologias e estratégias inovadoras capazes
de “revolucionar” os processos de ensino e aprendizagem, entre elas o podcast.
Nesta comunicação vamos apresentar uma experiência de utilização do podcast num
site, criado com a ferramenta GoogleSites, e destinado a dar apoio ao estudo da Matemática,
em regime de complemento ao ensino presencial, por alunos de duas turmas do 11º ano de
escolaridade. De facto, a extensão do programa da disciplina de Matemática do referido ano de
escolaridade não permite ao professor um efectivo desenvolvimento de actividades de
259
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
consolidação dos conteúdos abordados em sala de aula. Este foi o ponto de partida para a
ideia de criar um site de apoio à disciplina, capaz de disponibilizar aos alunos materiais
complementares às tarefas desenvolvidas nas sessões presenciais, numa lógica de extensão
comunicativa da sala de aula. Para efeitos da avaliação da experiência foi realizado um survey
exploratório que teve como objectivo principal auscultar o feedback dos alunos sobre a
funcionalidade do site e, sobretudo, dos podcasts nele disponibilizados para apoio ao estudo e
preparação dos alunos para o teste intermédio realizado a nível nacional.
Podcast
A palavra podcasting resulta da junção das palavras iPod (célebre aparelho mp3 da
Apple) e Broadcasting (transmissão de informação rádio ou TV). A este conceito estão
associados termos específicos: podcast é o local onde os ficheiros áudio estão alojados e
disponíveis para carregamento na forma de episódios; podcasting é o acto de gravar ou
divulgar os ficheiros na Web; e podcaster o autor dos ficheiros áudio (Bottentuit Junior &
Coutinho, 2007).
A utilização de Feeds RSS, para distribuir o conteúdo de forma automática, é a grande
diferença do Podcasting em relação aos audioblogs, vlogs (videoblog) e flogs (fotoblog)
(Podcasting - Wikipédia, 2009).
Este formato de transmissão de conteúdos é muito recente e as suas possibilidades de
aplicação têm vindo a alterar a forma como é visto. É hoje muito utilizado por diversas pessoas
e empresas no mundo para divulgar notícias e programação, assim como algumas
universidades que começam a disponibilizar aulas neste formato.
Relativamente à popularidade do podcast, Chen (2007), citado por Junior e Coutinho
(2008), explica-a pelo facto de: 1) permitir que qualquer um com um microfone, computador e
ligação à Internet publique os seus arquivos áudio; 2) os arquivos do podcast podem ser
automaticamente descarregados de/para um dispositivo móvel e ser ouvidos quando e onde
seja mais conveniente; 3) ser gratuito; 4) os utilizadores não precisam de pagar para
descarregar os ficheiros do podcast.
Ferramentas de edição de informação como blogs, wikis, podcasts, Google tools, entre
outros, possibilitam que cada um possa contribuir para o conhecimento online que aumenta
rapidamente. Surgem as teorias de aprendizagem da era digital, como o Conectivismo
proposto por George Siemens (Carvalho, 2007). De acordo com Bottentuit Junior e Coutinho
(2007), estas ferramentas podem ser usadas no processo de ensino e aprendizagem, na
modalidade a distância (e-learning) ou como complemento ao ensino presencial (b-learning),
opinião que partilhamos totalmente. O podcast é uma dessas ferramentas, permitindo que o
aluno/formando descarregue a informação colocada online pelo docente/formador, sejam
aulas, documentários e entrevistas, entre outros formatos áudio (idem, ibidem). Os ficheiros
descarregados para aparelhos móveis como telemóveis, aparelhos de mp3 podem ser
260
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
executados quantas vezes as desejadas o que constitui uma grande vantagem para a
aprendizagem.
As potencialidades de um podcast ainda não estão devidamente exploradas mas, os
estudos já realizados advogam a favor do seu enorme potencial (Moura e Carvalho, 2006a, b;
Bottentuit Junior e Coutinho, 2008; Carvalho et al., 2008, Coutinho, 2008).
Metodologia
O estudo realizado foi de tipo survey, descritivo e exploratório, já que, tal como refere
Coutinho (2005), o objectivo do investigador é recolher dados que permitam descrever da
melhor maneira possível comportamentos, atitudes, valores e situações. No caso concreto do
estudo que vamos apresentar, o instrumento para a recolha de dados foi um questionário,
especialmente concebido para o efeito, que foi alvo de validação de conteúdo por dois peritos
na área da Tecnologia Educativa.
Descrição do estudo
O projecto teve início no primeiro período do corrente ano lectivo de 2008/2009, e
desenvolveu-se em torno da utilização de um site que funcionou como apoio ao estudo da
disciplina de Matemática de 11º ano, já que os alunos o acediam e consultavam fora das
sessões presenciais com o professor. Para a criação do site foi utilizada a ferramenta da nova
geração Web 2.0 Google Sites, por ser gratuita, de utilização intuitiva e por possibilitar
liberdade de acesso a todos os utilizadores. Apesar do sítio
48
estar aberto à comunidade
cibernauta, o site teve como destinatários duas turmas do 11º ano de uma escola secundária
do norte do país, cada uma constituída por 29 alunos. O site estava dividido em 2
componentes: uma de preparação para o teste e outra mais lúdica onde foi, por exemplo,
disponibilizada uma hiperligação para um site de elaboração de vinhetas de banda desenhada.
A página de preparação para o teste continha a resolução de 19 exercícios e respectiva
explicação em podcast.
Após a realização do teste, no final do primeiro período, colocámos aos alunos três
questões abertas: “Qual a tua opinião sobre os materiais disponibilizados no site? Qual
gostaste mais? Gostarias de voltar a usar este tipo de materiais?” Os resultados obtidos neste
brainstorming inicial foram tão motivadores, que nos sentimos instigados a prosseguir com o
projecto.
Como o teste intermédio (um teste nacional realizado simultaneamente por todos os
alunos de 11º ano) estava marcado para o final do mês de Janeiro, disponibilizámos no site
materiais específicos de preparação para a realização desta importante prova, nomeadamente
a resolução dos testes intermédios de anos anteriores e a explicação em podcast do teste mais
recente.
48
http://sites.google.com/site/rutelopesmat/.
261
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Finalizadas as actividades previstas, e uma vez que o site contava já com uns meses
de implementação, solicitámos aos alunos das duas turmas que preenchessem um
questionário de avaliação da experiência que teve como principais objectivos:
•
Averiguar se os alunos acederam ao site e de que forma o
utilizaram.
•
Averiguar a motivação sentida ao longo da experiência.
•
Auscultar
a
opinião
dos
alunos
acerca
dos
recursos
disponibilizados no site e respectiva implicação na compreensão dos conteúdos
da disciplina.
•
Auscultar a opinião dos alunos quanto a uma possível
utilização do site na sala de aula.
Do questionário constavam 11 questões, 8 fechadas e 3 semi-abertas (questões 6, 7 e
11 onde se pedia uma justificação para a resposta dada). A primeira parte foi reservada à
identificação dos alunos; nas duas questões seguintes pretendia-se saber quantos alunos
tinham acedido ao site e averiguar os motivos de uma eventual não acedência; as perguntas 3,
4 e 5 eram relativas à organização, estrutura e agradabilidade do site; as questões 6 e 7 tinham
como objectivo verificar os conteúdos que os alunos mais gostaram e se estes facilitaram ou
não a compreensão das matérias leccionadas nas aulas. Na questão 9 perguntava-se se ao
utilizar o site para estudar, o aluno se tinha interessado mais pelos conteúdos da Matemática.
As últimas perguntas foram dedicadas à opinião dos alunos sobre uma possível utilização do
site na sala de aula.
Resultados
Como já foi referido anteriormente, o estudo iniciou-se com duas turmas do 11º ano,
cada uma constituída por 29 alunos. Na turma A, dos 28 alunos que responderam ao
questionário apenas metade acedeu ao site. Na turma B respondeu a totalidade dos 29 alunos
e desse conjunto, apenas 2 disseram não ter acedido ao site. Consideramos importante fazer
uma breve referência aos motivos que estão na origem da não visita ou pouca exploração do
site. Na turma A, dos 14 alunos que não visitaram o site 6 (43%) não têm Internet em casa, 3
(21%) estavam temporariamente sem acesso à mesma e os restantes 36% referiram que não
tiveram tempo. Na turma B, todos os alunos têm Internet em casa e nenhum deles referiu
problemas no acesso à rede. Para efeitos do estudo empírico decidimos apenas considerar a
opinião dos alunos que, para além de terem visitado o site, tinham efectivamente explorado os
recursos que este disponibilizava. Concluímos assim que, na turma A, o número de alunos que
o tinha feito era de apenas 10 e na turma B era de 21, o que no total perfazia um total de 31
alunos. Devido ao facto de se tratar de um número reduzido (equivalente ao número de alunos
de apenas uma turma), descartámos a hipótese de fazer um estudo comparativo entre as
turmas e optámos por fazer o estudo com base nas opiniões recolhidas junto do conjunto dos
31 alunos que usaram o site.
262
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Um dos aspectos que nos interessava particularmente era auscultar a opinião dos
alunos relativamente à importância atribuída à disponibilização dos conteúdos no site de apoio
ao estudo e preparação para o teste intermédio de Matemática. Como se pode verificar pela
análise da tabela 1, a esmagadora maioria dos alunos considera que os conteúdos
disponibilizados no site facilitaram a compreensão dos conteúdos curriculares.
Alunos (N=31)
Opinião sobre os conteúdos disponibilizados no site
%
Facilitaram a compreensão da matéria
28
Dificultaram a compreensão da matéria
0
Não respondeu
1
Não influenciaram a compreensão da matéria
2
Total
31
Tabela 1. Conteúdos disponibilizados no site
Apenas 2 alunos consideram que a consulta do site não facilitou a compreensão dos
conteúdos. Um dos alunos que respondeu desta forma tem um aproveitamento excelente e o
outro mediano, mas com grandes capacidades ao nível do raciocínio lógico-abstracto. Parecenos relevante referir que os alunos com maiores dificuldades na aquisição e aplicação de
conceitos matemáticos foram os que responderam que os conteúdos disponibilizados no site
facilitaram a compreensão da matéria. Na justificação das respostas é já possível antever a
preferência dos alunos pelos podcasts, uma vez que frequentemente fazem referência aos
mesmos. Passamos a transcrever algumas opiniões obtidas:
“Julgo que o site ajuda bastante, como, por exemplo, no caso do último teste, em que a
audição dos podcast, passo a passo é bastante explícita.”
“Facilitaram, pois tem uma explicação mais pormenorizada de todos os exercícios e com
a explicação em podcast, ainda melhor!”
“Existiam alguns exercícios que não compreendi na aula e no site estavam bem
explicados em podcast e por escrito”
“Sim, porque posso ouvir várias vezes a explicação dos exercícios.”
“Facilitaram, porque por vezes não conseguimos apanhar a matéria toda nas aulas e
podemos ir lá e ouvir a professora a explicar os exercícios.”
263
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
“Porque os podcasts ajudaram-me a superar muitas das minhas dificuldades.”
“Algumas explicações/resoluções de exercícios que se fazem na aula não nos ficam na
memória. Ao aceder aos site, ouvindo e revendo a resolução dos exercícios, o estudo é
facilitado.”
“Em estudos anteriores, quando eu tinha dificuldades ou pequenos aspectos falhavam
tinha de abandonar a resolução do exercício. Com a explicação em podcast essa dificuldade foi
suprimida, facilitando o estudo e consequente compreensão da matéria.”
Quanto às preferências dos alunos pelos recursos disponibilizados no site, podemos
dizer que os resultados foram os esperados, ou seja, corresponderam à nossa expectativa que
os alunos seriam mais receptivos à resolução dos exercícios com apoio do podcast (29
sujeitos), tendo 2 assinalado a ficha resolvida.
Nesta questão pedia-se também aos alunos que justificassem a sua opinião. De uma
maneira geral, os alunos referiram que os podcasts foram de grande utilidade no sentido de
completarem a explicação escrita disponibilizada na versão texto da resolução dos exercícios.
Um dos alunos referiu mesmo que “os podcasts revelaram-se uma ferramenta de grande
utilidade”, outro disse que “as explicações eram bastante esclarecedoras”. Outros, mais
entusiastas, disseram mesmo: “É do melhor!”, “É fixe!”.
No que diz respeito à frequência de utilização de cada uma das componentes do site, os
resultados constam da tabela 2 abaixo representado. Aparentemente as respostas obtidas não
acompanham as preferências mencionadas na questão anterior, uma vez que o número de
alunos que utilizou mais de 5 vezes a resolução de exercícios em Word acompanhada pela
explicação no podcast (18 alunos), é igual ao número de alunos que utilizou apenas a
resolução em Word. O ocorrido poder-se-á explicar pelo facto do aluno necessitar do
documento em Word para acompanhar a sua explicação no podcast e, também, pelo facto de
os alunos gostarem de ter várias janelas abertas em simultâneo ao invés de imprimirem o
documento Word em papel.
Uma vez
De 2 a 5
Mais de 5
(Nº de alunos)
(Nº de alunos)
(Nº de alunos)
O Laboratório de Matemática
10
7
0
A hiperligação ao site para elaborar uma
banda desenhada
12
3
0
Word
0
12
18
Word+podcast
2
11
18
Componente do site
Tabela 2. Frequência de utilização dos recursos do site
264
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Sobre a motivação sentida ao longo da experiência, os resultados foram positivos,
dado que a maioria dos alunos referiu que se interessou mais pelo estudo dos conteúdos da
disciplina (71%). No entanto as nossas expectativas eram maiores já que não esperávamos
que 9 alunos (29%) referissem que não se sentiram mais motivados ao utilizarem o site como
apoio ao estudo.
As duas últimas questões tinham como objectivo auscultar a opinião dos alunos quanto
a uma possível utilização do site na sala de aula. Acreditávamos que para responder a estas
perguntas não era necessário conhecer inteiramente o site e, por conseguinte, responderam a
esta questão todos os alunos de ambas as turmas. Os resultados por turma podem ser
visualizados na tabela 3 abaixo representada.
A
B
Sobre a utilização do site na sala de aula
Nº de alunos
Percentagem
Nº de alunos
Percentagem
Tornaria as aulas mais interessantes
23
82%
23
79%
Prefiro não utilizar o site nas aulas
2
7%
2
7%
Era-me indiferente
3
11%
4
14%
Total
28
100%
29
100%
Tabela 3. Opinião dos alunos sobre a possibilidade de usar o site em sala de aula
Como se pode verificar, a esmagadora maioria dos alunos gostaria de utilizar o site
com os podcasts nas aulas e pensa que essa utilização tornaria as aulas mais interessantes.
A última questão solicitava aos alunos que indicassem os benefícios que poderia trazer
a utilização do site em contexto de sala de aula. O primeiro dado a registar é que as respostas
não diferem muito de uma turma para a outra. De salientar que a maioria dos alunos acredita
que a utilização do site facilitaria a compreensão dos conteúdos curriculares (23 na turma A e
16 na turma B) funcionando como apoio à actividade do professor (23 na turma A e 19 na
turma B). A maioria parece desvalorizar o desenvolvimento da autonomia (13 na turma A e 11
na turma B), talvez por ainda darem pouca importância a este parâmetro.
A questão seguinte era aberta e solicitava aos alunos uma justificação da opinião dada
na questão fechada. A análise das suas respostas vem de encontro ao que já foi referido
anteriormente. É feita especial menção à importância dos podcasts e frequentemente é referido
que a utilização do site aumentaria a motivação e o interesse pelas aulas, assim como
facilitaria a aprendizagem. Passamos a transcrever algumas das repostas dadas pelos alunos:
“O suporte digital facilita a aprendizagem e capta mais a atenção”
“Os alunos estariam mais entusiasmados na matéria”
265
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
“A gente vinha para a aula pensando que não era apenas mais uma, pois tinha
métodos diferentes de aprendizagem”
“As explicações em podcast seriam uma vantagem”
“Poderíamos ouvir as vezes necessárias até perceber a matéria”
“Aulas com novas tecnologias são mais interessantes!”.
De referir ainda que nas respostas à questão aberta, alguns alunos mencionam a
autonomia, dizendo, por exemplo, que “Podíamos fazer os exercícios sozinhos” e
“Aprendíamos por nós mesmos”.
Considerações finais
Quando, em 1916, John Dewey alertava os professores para o facto de que, “If we
teach today as we taught yesterday, we rob our children of tomorrow.”, não imaginava,
porventura, que o que afirmava então continuaria actual (quase) um século depois!
De facto, acreditamos que esta frase resume a mensagem que queremos deixar a
todos quantos nos lêem, e que, por isso, se interessaram pelo trabalho realizado e divulgado
neste Encontro. Somos apenas professores de Matemática atentos ao mundo que nos rodeia e
que queremos ajudar os nossos alunos a aprender mais. Observamos que as tecnologias
fazem parte das rotinas diárias dos alunos e que, como professores, temos à nossa disposição
inúmeros aplicativos Web gratuitos e fáceis de usar. Então porque não tirar partido destas
condicionantes favoráveis e experimentar estratégias alternativas que ajudem os nossos
alunos a melhorar as suas aprendizagens?
O estudo apresentado é o resultado de uma primeira aventura de integração das
tecnologias Web 2.0, em especial do podcast, no apoio ao estudo de alunos de 11º ano de
Matemática. Os resultados obtidos, ainda que não generalizáveis porque circunscritos a duas
turmas de uma única escola, permitem aferir do potencial educativo do podcast, que, pela sua
elevada portabilidade, possibilita o acesso aos conteúdos áudio a qualquer hora e em qualquer
lugar, permitindo que cada aluno personalize o seu percurso de aprendizagem. Verificámos
também que a disponibilização dos exercícios resolvidos em áudio ajudou os alunos a
preparem-se para os testes da disciplina, apoiando o estudo e ajudando a superar dificuldades.
Perguntamo-nos então? Porque não ampliar esta iniciativa e recrutar mais professores para
que testem também as “suas” estratégias noutras disciplinas e anos de escolaridade?
Referências
BOTTENTUIT JUNIOR, J. B., & COUTINHO, C. P. (2007). Podcast em educação: um
contributo para o estado da arte. Libro de Actas do Congresso Internacional GalegoPortuguês de Psicopedagoxía (pp. 837-846). Corunha: Revista Galego-Portuguesa de
Psicoloxí e Educación.
266
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
BOTTENTUIT JUNIOR, J. B., & COUTINHO, C. P. (2008). Recomendações para a produção
de podcasts e vantagens na utilização em ambientes virtuais de aprendizagem. Revista
Prisma.com, n.º 6 , pp. 125-140.
CARVALHO, A. A. (2007). Rentabilizar a internet no ensino básico e secundário: dos recursos
e ferramentas online aos lms . Sísifo / Revista de Ciências da Educação , pp. 25-39.
CARVALHO, A. A., AGUIAR, C., CABECINHAS, R. & CARVALHO, J. (2008b). Integração de
Podcasts no Ensino Universitário: Reacções dos Alunos.
Prisma.com, nº 6, 50-74.
Disponível em http://prisma.cetac.up.pt/
COUTINHO, C. P. (2005). Percursos da investigação em tecnologia educativa em portugal:
uma abordagem temática e metodológica a publicações científicas (1985-2000). Série
“Monografias em Educação” , CIED. Braga: Universidade do Minho.
COUTINHO, C. P. (2008). Tecnologias web 2.0 na escola portuguesa: estudos e investigações.
Revista Paidéi@, UNIMES VIRTUAL, Vol. 1, número 2 (10). Disponível em:
http://revistapaideia.unimesvirtual.com.br.
D'EÇA, T. (1998). Netaprendizagem: a internet na educação. Porto: Porto Editora.
DEWEY, J. (1916 [1966]). Democracy and Education. An introduction to the philosophy of
education. New York: Free Press.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – ME (2007). Plano Tecnológico da Educação. Disponível em
http://www.escola.gov.pt/docs/pte_RCM_n137_2007_DRn180_20070918.pdf,
consultado em 12/12/2008
MOURA, A., & CARVALHO, A. A. (2006a). Podcast: potencialidades na educação. Revista
Prisma.com, n.º3 , pp. 88-110.
MOURA, A.; CARVALHO, A. A. (2006b). Podcast: Uma ferramenta para Usar Dentro e Fora da
Sala de Aula. In Rui José & Carlos Baquero (eds): Proceedings of the Conference on
Mobile and Ubiquitous Systems. Universidade do Minho, Guimarães, pp. 155-158.
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito de um projecto do CIED, Universidade do Minho, Braga,
Portugal.
267
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcast no Jardim-de-Infância: oralidade, criatividade e pensamento
crítico
Ádila Faria
Universidade do Minho
[email protected]
Altina Ramos
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo - No Jardim-de-Infância de Rio Covo-Santa Eulália, as crianças convivem de uma
forma perfeitamente natural com os artefactos tecnológicos para comunicar, pesquisar,
partilhar, criar, socializar e, claro, aprender. O projecto Podcast dajaneladomeujardim
iniciou-se no ano de 2006 com a criação do blogue com o mesmo nome que esteve na
base de uma investigação conducente a Mestrado. Um ano depois, mudávamos para um
novo espaço, uma plataforma Ning, actualmente objecto de estudo de Doutoramento, com
objectivos que passam essencialmente por estabelecer um maior grau de interacção entre
os membros e por tirar partido de diversas funcionalidades técnicas para desenvolver nas
crianças competências cognitivas, sócio-afectivas e uma maior interacção com as famílias.
O Poscast é uma entre muitas outras funcionalidades da Ning. Tanto no Blogue como na
Ning, o Podcast surge como uma estratégia pedagógica de criação e dinamização de
histórias, contos, poesias, adivinhas ou outros conteúdos. Os objectivos deste projecto
estão direccionados para a estimulação e domínio da comunicação oral, para a criatividade
e para o desenvolvimento de técnicas de expressão e de comunicação com suportes
multimédia.
Contextualização
A escola e o jardim-de-infância são hoje um local, por excelência, de criação de
ambientes ricos e inovadores no que respeita ao uso da tecnologia. O podcasting apresenta-se
como um recurso metodológico de ensino/ aprendizagem atractivo que permite ao aluno ter um
papel de protagonismo na construção activa do seu saber. Estaremos, com efeito, perante uma
alteração de paradigma na concepção e na forma como entendemos hoje as dinâmicas a
empreender em contexto educativo. A consequência mais visível estará provavelmente
associada à centralidade atribuída ao papel da criança em todo o processo educativo. Afirmarse-ia mesmo que os princípios cognitivistas e construtivistas encontram agora condições
excepcionais para o seu desenvolvimento pleno. A nosso ver, a integração curricular das
tecnologias implica a adopção de novas metodologias de ensino-aprendizagem baseadas em
268
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
paradigmas construtivistas e é nossa convicção que esta alteração de paradigma, com efeitos
efectivos na prática pedagógica, deve ser considerada desde o Jardim-de-Infância.
No âmbito da Web 2.0, a Internet modelizou-se de forma a que os cibernautas já não
são meros receptores de informação, mas funcionam cada vez mais como construtores de uma
interminável rede que se destaca pela interacção e participação colectiva.
“Com a Web democratizou-se a publicação online e o acesso à informação. Com o
aparecimento das funcionalidades da Web 2.0, conceito proposto por Tim O’Reilly e o
MediaLive International, a facilidade de publicação online e a facilidade de interacção entre os
cibernautas torna-se uma realidade (Carvalho, 2008:7).
Dentro de um universo de potencialidades cada vez mais alargado proporcionado pela
designada web 2.0, o podcasting surge como uma estratégia e um recurso ao alcance de
qualquer utilizador porque é de acesso livre e gratuito. Por outro lado, a dimensão hipermédia
que pode assumir, ao permitir integrar articular som, texto e imagem, links, favorece o
desenvolvimento de competências de expressão e comunicação de inteligências múltiplas
(Gardner, 1983) particularmente a verbal/linguística, a visual/espacial, a intrapessoal e a
interpessoal.
Descrição do Podcasting dajaneladomeujardim
O projecto Podcast dajaneladomeujardim iniciou-se no ano 2006, após a criação do
blogue com o mesmo nome http://dajaneladomeujardim.blog.com, que esteve na base de uma
investigação de conducente a Mestrado.
Um ano depois, mudávamos para um novo espaço com objectivos que passavam
essencialmente por estabelecer um maior grau de interacção entre os membros e, por outro
lado, para tirar partido de outras funcionalidades. A plataforma Ning foi então criada no sítio
http://janelajardim.ning.com , que constitui objecto de estudo de Doutoramento.
O podcast passa a estar integrado nesta plataforma numa ligação designada Janela do
podcast em http://dajaneladomeujardim.mypodcast.com
Figura 1. Plataforma Ning dajaneladomeujardim
269
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O Podcasting surge assim como uma estratégia pedagógica de dinamização de
histórias, contos, poesias, adivinhas ou outros conteúdos. Desde a sua criação que os
objectivos do podcasting estão direccionados para a estimulação e domínio da expressão oral
e desenvolvimento de técnicas de expressão e de comunicação.
A nossa adesão ao Plano Nacional da Leitura veio trazer um novo impulso e mais
dinamismo ao podcasting, na medida em que a actividade da Leitura em vai e vem passa a ter
um espaço privilegiado nesta nova forma de partilharmos o resultado das nossas leituras. A
actividade consiste basicamente num trabalho de estreita colaboração entre a escola e a
família. Todos os dias, cinco crianças do grupo transportam para suas casas um livro
previamente seleccionado, de acordo com as preferências manifestadas individualmente. Claro
que, para respondermos às exigências e aos gostos das crianças, temos, todos os anos, dado
prioridade à aquisição de obras de literatura infantil. Importa salientar que neste momento o
fundo documental da nossa biblioteca atingirá as cinco centenas de livros.
Depois do livro seleccionado, a criança tem alguns dias (três, quatro dias) para o
explorar em casa conjuntamente com os seus pais. Posteriormente, vai partilhar a sua
percepção e a sua experiência de ouvinte/leitor participante com o grupo/turma e será
convidada a recontar e a gravar no podcast o que interiorizou acerca da narrativa.
Esta estratégia afigura-se particularmente inovadora na medida em que os progressos
de cada criança passam a ser visíveis neste espaço. Por outro lado, as crianças redescobrem
a sua voz na gravação, uma nova forma de análise e reflexão acerca do trabalho desenvolvido
em casa.
Na perspectiva do Educador, é fornecido um novo suporte que permite aferir dados
sobre a evolução individual de cada criança. Servindo-nos das potencialidades do podcasting,
o registo cronológico permite a avaliação e reflexão de processos que podem e devem implicar
uma visão mais particularizada da evolução cognitiva de cada caso particular e ao mesmo
tempo faculta uma perspectiva global do desenvolvimento dos índices literácitos. Permite
também aos pais acompanharem, de modo activo e participativo, a evolução das crianças
como se pode verificar nos comentários e sugestões que deixam na Ning.
Uma mais-valia do podcasting reside no facto de este poder ser ouvido sempre e
quando se desejar e onde quer que se esteja (Faria et al, 2007), nomeadamente em casa.
Poder-se-ia dizer que estamos perante um audiofólio digital. Para Johnson et al. (2009, online)
a avaliação continua a apresentar um desafio aos educadores em todos os níveis,
particularmente no contexto dos novos meios de comunicação e do trabalho colaborativo.
Avaliar o aluno num trabalho que inclui blogues, podcasts e vídeos contribui para estabelecer e
para averiguar a pertinência da adequação das práticas diárias.
Criação do Podcasting
Conscientes das inúmeras potencialidades deste poderoso instrumento, começamos
por reflectir acerca das vantagens que poderiam advir do uso do podcast na aplicação prática
270
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
em contexto de jardim-de-infância. Posteriormente registamo-nos num dos muitos aplicativos
que
a
Internet
nos
oferece
de
forma
gratuita:
o
Mypocast
disponível
em
http://www.mypodcast.com. Seguiu-se a personalização do layout com base nos templates
disponibilizados neste serviço.
A gravação dos conteúdos é feita de acordo com a planificação estruturada no início do
ano, havendo sempre a possibilidade de criar uma ligação transversal às diferentes áreas de
conteúdo abordadas no ensino pré-escolar.
A periodicidade da gravação dos episódios não é rígida nem pré-definida. A iniciativa
de trabalhar um conto, uma história, uma adivinha, um poema ou outra qualquer descoberta
significativa pode ser motivo para o seu registo em suporte áudio, muitas vezes por iniciativa
das próprias crianças. Para além disso, nas datas consagradas pelo calendário e que
relembradas no jardim-de-infância, a par de outras iniciativas, a gravação de um registo no
podcast passou a constituir uma prática natural. Um exemplo bem ilustrativo e que documenta
esta prática, foi a comemoração do Dia Mundial da Voz em que, paralelamente à exploração da
temática no que diz respeito aos cuidados e à importância da voz, algumas crianças tiveram a
oportunidade de descobrir as potencialidades do aparelho fonador. Neste dia particularmente
importante foram realizadas experiências que levaram à descoberta da noção de ritmo,
projecção de voz, timbre, sonoridade, som grave e agudo, tom; também se reflectiu acerca da
influência que tem o estado de espírito na voz de cada um em diferentes situações – quando
estamos alegres, quando suplicamos, quando damos uma ordem, quando chamamos alguém
ou quando simplesmente pensamos em “lindos nomes”. De resto os “lindos nomes” foi o mote
para um desafio proposto por um dos membros da nossos plataforma Ning, que consistia em
levar as crianças a seleccionar as palavras mais bonitas que encontrassem dentro de si:
Hoje, neste dia Mundial da voz, ocorreu-nos experimentar um exercício de dizer palavras
bonitas. No silêncio, no espaço só nosso, pensámos todos nas palavras que mais gostámos!
Depois, sentimos o corpo - e da voz saíam palavras bonitas com sonoridade, aqueles lindos
nomes!
(http://dajaneladomeujardim.mypodcast.com/2009/04/Dia_Mundial_da_vozQue_lindo_nome200709.html)
Procedimentos de gravação de um ficheiro áudio
O Mypocast permite a gravação directa dos episódios com o auxílio do dispositivo de
gravação. Apesar desta facilidade, optamos por fazer a gravação externamente com auxílio do
programa de edição de som Audacity. Este software de fácil utilização encontra-se disponível
na Internet de forma gratuita, bastando que o utilizador faça o seu download. As vantagens da
utilização deste programa são de carácter técnico e pedagógico, uma vez que permite articular
a fala com música. Ao mesmo tempo, poder-se-á corrigir falas repetidas, remover ruídos,
normalizar o som gravado, acrescentar efeitos sonoros, etc. Todo o trabalho de produção
técnica é acompanhado, sempre que possível, pelas crianças, pois têm a possibilidade de
271
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
avaliar as suas próprias produções orais e de manifestar as suas preferências musicais,
recorrendo a músicas ambiente ou instrumentais disponíveis na Internet de forma gratuita. A
selecção musical e os efeitos sonoros não são feitos de forma arbitrária, na medida em que
revelam o nível de compreensão adquirido pela criança em relação ao episódio narrado. O som
adquire assim relevância, porque enfatiza a mensagem e confere-lhe uma ambiência mais
natural.
Salientamos a autonomia por parte do grupo das crianças mais velhas que manuseiam
naturalmente o processo de gravação de voz no Audacity. Qualquer destes alunos já sabe abrir
o programa, gravar a voz, inclusivamente já guardam o ficheiro no ambiente de trabalho. A
utilização deste recurso digital suscita muita curiosidade, de forma que as crianças tendem a
fazer experiências de gravação, pelo recurso à exploração de técnicas de representação de
personagens – actores, jornalistas, poetas, cantores… O podcasting é, nesta perspectiva, um
recurso que permite momentos de grande ludicidade e aprendizagem.
Figura 3. Gravação com fundo musical dajaneladomeujardim
Figura 4. O podcast
Em síntese, a utilização do podcasting proporciona um trabalho cooperativo, de forma
activa e participada em várias situações de produção, interacção e publicação, optimizando
novas possibilidades de aprendizagem e disponibilização do trabalho na Internet, o que cria um
sentido de audiência para o trabalho das crianças, factor muito importante para elas.
Onze razões por que usamos o Podcasting
São inúmeras as potencialidades educativas do Podcasting. Apresentamos algumas,
que vivenciamos no trabalho com as crianças: Oralidade: ler e ouvir: permite potenciar o
enriquecimento da linguagem, da expressão e comunicação. O livro lido em família pode
assumir uma dupla função: é lido e depois recontado para ser ouvido em Podcast; tiramos
assim partido da nossa adesão ao Plano Nacional de Leitura. Criatividade: fomenta a
criatividade aliada à ludicidade. Interacção e colaboração: estimula o trabalho colaborativo no
momento da gravação e oralmente na interacção com o colega que grava a história ou
qualquer outro conteúdo curricular. Aprendizagem: promove uma aprendizagem significativa ao
integrar e dar sentido aos conhecimentos através da narração do conto, história…
272
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Desenvolvimento do pensamento crítico: a criança tem liberdade de decisão, é-lhe dada a
possibilidade de escolher o livro, a história, o conto, o poema, a adivinha, canção ou vivências
pessoais. A informação recebida nos livros é assimilada, explorada, modificada e reconstruída
em nova informação; a reflexão sobre o trabalho realizado estimula nas crianças competências
reflexivas e críticas. Pesquisa: permite aprender estratégias de pesquisa com vista ao
desenvolvimento das capacidades de elevada exigência cognitiva para a idade. Conhecimento:
possibilita a transferência e aplicar os conhecimentos do Podcasting em qualquer contexto das
suas vidas. Literacia tecnológica: promove o contacto com os suportes multimédia que
favorecem a compreensão e assimilação dos conteúdos curriculares. Partilha: a criança
acompanha o desenrolar do Podcasting, como espaço de informação, divulgação e
participação de todos. Divulgação do trabalho: o acesso ao Podcast ultrapassa os muros da
escola e da casa da família, fica imediatamente acessível a qualquer pessoa em qualquer
ponto geográfico.
Considerações finais
Numa fase posterior pensamos dar continuidades aos contos/histórias permitindo que
estes sejam feitos a várias mãos pelos nossos visitantes virtuais e reais. O objectivo passa por
dar continuidade e sentido a um conto/história existente, num permanente desafio à
interactividade e colaboração das crianças.
A ideia deste projecto ganha força na medida em que a escrita colaborativa é já
encarada como uma nova forma de produção de texto em ambiente virtual; do mesmo modo, o
podcasting também poderá reflectir diferentes maneiras de contar, ouvir e partilhar uma
narrativa.
Referências
Carvalho, A. (2008). Manual de Ferramentas para Professores da Web 2.0. In A. A. Carvalho
(Org.), Manual de Ferramanteas Web 2.0 para Professores. Ministério da Educação, 714
Faria, A., Pereira, H. & Dias, P. (2007). Podcasting "Era uma Vez...": Utilização Pedagógica na
Educação. In P. Dias, Varela de Freitas, C, B. Silva, A. Osório e A. Ramos (Org.) Actas
da V Conferência Internacional de Tecnologias da Informação e Comunicação, sobre
Ambientes Emergentes, Braga: Universidade do Minho, 260-262.
Gardner, H. (1983) Frames of Mind: The theory of multiple intelligences. New York: Basic
Books.
Johnson, L., Levine, A., Smith, R., and Smythe, T. (2009). The 2009 Horizon Report: K-12
Edition. Austin, Texas: The New Media Consortium. Consultado em 12 de Abril de 2009
em http://www.nmc.org/pdf/2009-Horizon-Report-K12.pdf
273
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Decisão informada, decisão alimentada
Margarida Quinta e Costa
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
[email protected]
Michael Kaufmann
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
[email protected]
Pedro Simas
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
[email protected]
Resumo - Esta campanha de sensibilização para promover mudanças de hábitos
alimentares surgiu com o objectivo de envolver os próprios estudantes na utilização dos
podcasts como veículos de informação e divulgação das qualidades nutricionais dos
alimentos e para alertar sobre erros alimentares cometidos vulgarmente pelos jovens. O
projecto foi desenvolvido por 122 alunos da licenciatura em Educação Básica, no âmbito da
unidade curricular Ciências da Vida, integrada no 2º ano da estrutura curricular da
Licenciatura em Educação Básica da ESE de Paula Frassinetti e pretendeu envolver todos
os estudantes da ESEPF, através de uma disciplina colocada na plataforma Moodle. A
avaliação do projecto realizou-se por questionário a preencher online. Pretendemos, por um
lado, conhecer o impacto do projecto na mudança dos hábitos alimentares dos 474
estudantes-alvo e, por outro, saber como reagem aos podcasts enquanto veículo de
divulgação do saber.
Contextualização
Com o rápido avanço tecnológico dos últimos anos, urge proceder a mudanças nas
metodologias do processo ensino/aprendizagem, envolvendo mais os estudantes e
responsabilizando-os pelas suas pesquisas e divulgação dos seus saberes. Referimo-nos a
mudança nas metodologias de ensino, pela necessidade de diversificar a utilização das novas
tecnologias de informação e comunicação, que podem ser usadas nos diferentes contextos
educativos, aproveitando o seu enorme potencial como instrumento de aprendizagem (Moreira,
2001). Seleccionámos, no nosso estudo, o recurso podcast, apenas com gravação de voz, o
qual tem vindo a ser utilizado para fins educativos devido à sua fácil edição e publicação
(Boulos et al., 2006). O podcast pode ser criado sem gastos económicos extra e as técnicas
necessárias são de fácil aprendizagem, uma vez que apenas é necessário proceder a uma
gravação áudio de um texto por programas open source de gravação. Os podcasts podem ser
vistos como blocos de conhecimentos de fácil acesso, que podem ser ouvidos no computador
274
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
ou no aparelho MP3, permitindo que os textos sejam escutados no autocarro, no café ou na
rua. Devido à possibilidade de serem escutados num aparelho áudio, não é necessário ter o
computador presente ou imprimir a informação em papel, o que seria caro e pouco ecológico.
Além disso, a partilha da informação com outros intervenientes, presentes em contextos não
formais, torna os podcasts uma ferramenta de construção cooperativa de conhecimento.
Espera-se, dos estudantes, que procurem o seu conhecimento, que pesquisem e utilizem os
podcasts como ferramenta de partilha construtivista do saber (Seitzinger, 2006). O
desenvolvimento tecnológico motiva-os a contextos de aprendizagem diferentes dos
tradicionais textos escritos, encontrando nas ferramentas da Web 2.0 a possibilidade de
partilhar conhecimento e de organizarem as suas aprendizagens.
Descrição do projecto
No estudo aqui apresentado, propomo-nos estudar o impacto de uma campanha de
sensibilização alimentar numa população de estudantes do ensino superior, tendo como
metodologia de divulgação dos conceitos um conjunto de podcasts, construídos pelos
estudantes (distribuídos em 22 grupos de três a sete elementos cada), das três turmas do 3º
semestre da Licenciatura em Educação Básica, no ano lectivo 2008/2009. Fundamentámos a
necessidade desta campanha na constatação de que os estudantes raramente frequentam a
cantina, mas utilizam muito os alimentos empacotados disponíveis nas máquinas de
distribuição.
Balizados pela temática da campanha de educação para uma alimentação saudável, os
temas específicos para a elaboração dos podcasts foram escolhidos pelos estudantes,
reflectindo as suas preocupações alimentares. As pesquisas realizadas permitiram a
construção de textos, a elaboração de guiões e a gravação dos podcasts, segundo a
criatividade de cada grupo. Foi também pedido que cada tema gravado fosse acompanhado de
um slogan, para melhor identificação e memorização. As pesquisas teóricas foram efectuadas
em tempo lectivo da unidade curricular Ciências da Vida, sob orientação tutorial, utilizando a
internet e recursos bibliográficos fornecidos pelos docentes, e os podcasts foram gravados
pelos alunos em trabalho autónomo, uma vez que já tinham utilizado a gravação de textos para
a avaliação da expressão oral noutra unidade curricular. A primeira fase do projecto decorreu
durante 2 meses.
Como requisitos para a criação dos podcast, definimos um tempo máximo de cinco
minutos e gravação apenas de som, passível de ser escutado em aparelhos áudio do tipo MP3.
Os podcasts de curta duração são apontados como os preferidos pelos alunos porque se
tornam mais fáceis de escutar (Carvalho, 2008). Três grupos mostraram interesse em produzir
um vídeo ou associar imagem ao som, o que foi permitido.
A Tabela 1 resume as características gerais dos podcasts. Na sua maioria, os podcasts
referiam alimentos ou grupos de alimentos (alimentos biológicos, azeite, batatas fritas, cereais,
chocolate, fibras alimentares, fruta, leguminosas, peixe, sal e vegetais). A segunda
275
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
preocupação demonstrada pelos estudantes incidiu nas refeições ou partes das refeições,
referindo a comida rápida ou fast food, o pequeno-almoço, as qualidades das sopas e a
alimentação equilibrada e saudável (os dois últimos temas foram escolhidos por dois grupos de
estudantes). Três podcasts abordavam bebidas (leite, água e álcool) e dois grupos optaram por
escolher dois problemas de saúde onde a alimentação pode ter um papel importante (diabetes
e colesterol elevado). Dois grupos não entregaram o ficheiro áudio embora tenham
disponibilizado o respectivo documento escrito no prazo previsto. Apenas seis grupos
efectuaram a gravação no ficheiro mp3. Os outros formatos foram: wma (quatro), wav (quatro),
wmv (dois) e aac (um). Três grupos utilizaram o programa audacity mas não procederam ao
registo áudio completo, pelo que os ficheiros não puderam ser recuperados da plataforma
Moodle (Modular Object-Orientes Dynamic Learning), onde foram colocados. Os ficheiros
áudio, entregues nos diversos formatos, foram convertidos todos para o formato mp3 através
do programa Free Áudio Converter (obtido em http://www.dvdvideosoft.com/products/dvd/FreeAudio-Converter.htm).
TEMA
alimentos
refeições
bebidas
saúde
ESCOLHIDO
11
6
3
2
TIPO DE
mp3
wma
wav
wmv
aac
audacity
FICHEIRO ÁUDIO
6
4
4
2
1
3
TEMPO DE
< 2 min
2 a 4 min
4 a 6 min
> 6 min
GRAVAÇÃO
3
11
2
1
UTILIZAÇÃO
início
durante
alternou
canção
ausente
DE MÚSICA
2
5
1
4
5
TIPO DE
narrativa
entrevista
diálogo
concurso
canção
frases
ABORDAGEM
6
2
2
2
4
1
T abela 1. Características gerais dos podcasts
A maioria dos podcasts (onze) tinham uma duração entre dois a quatro minutos, três
tinham menos de dois minutos, dois cerca de cinco minutos e um excedeu o tempo previsto,
com sete minutos. Apenas cinco grupos não associaram música à gravação do seu podcast.
Dos 12 podcasts com música, dois optaram por música apenas no início, cinco colocaram
música de fundo e um alternou o texto com a música. Os restantes quatro grupos adaptaram
uma música para divulgarem a informação recolhida através de uma canção. Seis grupos
276
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
optaram pela narrativa, alternando as vozes dos intervenientes; dois escolheram a entrevista;
dois preferiram o diálogo entre eles e dois criaram um concurso (frutos e leguminosas), em que
cada um dos alimentos defendia as suas qualidades. Um grupo fez um filme a partir de uma
sequência de imagens com frases e música de fundo, não criando um podcast, como
solicitado.
Na segunda fase do projecto, uma vez recolhidos os podcasts, procedemos à
construção de uma disciplina da plataforma Moodle com o nome “Decisão informada, decisão
alimentada” (Figura 1). Esta disciplina está acessível aos 474 estudantes da formação inicial da
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti.
Figura 1. Organização da disciplina criada na plataforma moodle
Para introduzir o projecto, criámos um Voki (http://www.voki.com), colocado no lado
esquerdo da página, com o seguinte texto: “Saibam tudo sobre os alimentos. São 16 pesquisas
que podem gravar no vosso MP3 ou ouvir no computador. Não se esqueçam: Decisão
informada,
decisão
alimentada”.
Colocámos
também
um
relógio
com
alimentos
(http://www.clocklink.com). Optámos pela configuração da disciplina em tópicos, o que permitiu
uma ordenação por ordem alfabética, colocando o nome do alimento ou grupo de alimentos a
que se referia, como sumário do tópico. Colocámos visíveis os slogans, como identificação do
tema tratado, através de recurso “etiqueta”, e o ficheiro áudio, no formato MP3, no recurso
“apontador para ficheiro ou página”. No total, colocámos 16 tópicos com podcasts alimentares.
Os dois vídeos produzidos foram colocados como documentação extra no último tópico.
Este projecto foi divulgado junto dos estudantes pela colocação de uma notícia
aquando da entrada na plataforma moodle.
Para a avaliação do Projecto, criou-se um questionário online com vista à recolha dos
resultados a nível de mudanças alimentares mas também para perceber a resposta dos
estudantes a esta técnica de difusão de informação (ver Anexo). Foram colocadas respostas
de escolha múltipla na maioria das questões, e de resposta curta para explicitação de uma
alternativa não proposta, para posterior análise quantitativa.
Para identificação da população-alvo, pedimos que explicitassem apenas o ano da
licenciatura que frequentavam. Das cinco licenciaturas, três das quais adaptadas ao processo
de Bolonha, pretendemos abranger 195 estudantes do primeiro ano, 151 do segundo, 118 do
terceiro e 110 do quarto ano. No período de um mês visitaram a página 65 estudantes e sete
277
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
docentes, mas apenas 25 responderam ao questionário, sendo na sua maioria estudantes do
1º e 2 º anos.
Pretendíamos saber de que modo a entrada no ensino superior altera os hábitos
alimentares dos jovens, comparando o tipo de almoço que fazem durante a semana e os
alimentos que ingerem fora das refeições. Uma vez que o primeiro ano só tem aulas de tarde,
esperávamos que fizessem mais refeições em casa, antes das aulas. As outras opções que
colocámos foram: o almoço na cantina, num restaurante ou num café, ou uma refeição rápida
no bar, no café, pré-preparada em casa ou retirada das máquinas de comida. Verificámos que
a maioria dos inquiridos almoçam em casa (principalmente ao alunos do 1º ano) ou comem
sandes no café, sendo o bar e a cantina os locais menos utilizados. Relativamente aos
alimentos ingeridos fora das refeições, propusemos o chocolate, as bolachas, os iogurtes, os
sumos, o leite ou a água, os bolos, o pão simples ou as sandes, alimentos disponíveis nas
máquinas de comida e no bar. Os estudantes consomem (por ordem decrescente de escolha)
bolachas, iogurtes, água e chocolates.
Relativamente ao impacto do projecto na sensibilização para uma alimentação mais
saudável, quisemos ainda saber se mudaram alguns hábitos alimentares e quais foram.
Sessenta por cento dos inquiridos afirmou ter mudado algum comportamento após escutar os
podcasts e referiram principalmente a preocupação de passar a comer alimentos mais
saudáveis.
O questionário incidiu também na avaliação da utilização dos podcasts na divulgação
de conhecimentos. Primeiramente, quisemos saber se conheciam o conceito e a função do
podcast. Na sua maioria, 84% dos inquiridos, conheciam os podcasts. Depois, perguntámos
quantos podcasts escutaram, pedindo que identificassem aqueles que ouviram até ao fim, os
que escutaram parcialmente e, como controlo, os que não escutaram. Os inquiridos afirmaram
ter escutado de 1 a 5 podcasts (36%) ou de 6 a 10 (28%). Um dos inquiridos afirmou não ter
escutado nenhum podcast, mas preencheu outros campos que eram obrigatórios para a
submissão do questionário, como a avaliação geral do projecto e da qualidade dos podcasts e
a escolha do melhor podcast, levando-nos a pensar que fez escolhas aleatórias. O podcast
mais ouvido foi o do chocolate (escutado até ao fim por 56% dos inquiridos) seguido do álcool e
das batatas fritas. Todos foram escutados parcialmente por mais de 3 inquiridos.
Dada a versatilidade de utilização dos posdcasts, quisemos saber se os escutaram no
computador, no aparelho MP3 ou noutro sistema de reprodução áudio. Para completar esta
informação, precisávamos de saber se possuíam computador fixo ou portátil, ou qualquer um
dos aparelhos áudio como MP3, MP4, PSP, telemóvel, iPod ou outros. Oitenta e oito por cento
dos inquiridos têm computador portátil e mais de 40% têm telemóvel ou MP3, mas os podcasts
foram todos escutados no computador.
Ainda questionámos sobre a partilha de algum podcast com outras pessoas em
contexto exterior à ESEPF, e verificámos que 28% dos inquiridos a fizeram.
278
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Por fim, pedimos que avaliassem o projecto utilizando a classificação de excelente,
bom, razoável e sofrível tendo em conta o interesse despertado pelos podcasts, a qualidade
dos mesmos, o interesse da informação transmitida e a opinião que tinham relativamente à
utilização dos podcasts para a divulgação de informação. A média da classificação atribuída na
avaliação do projecto foi entre o bom e o excelente.
Colocámos uma votação para o(s) podcast(s) que mais tinham gostado de escutar,
visto a lista disponibilizada de gravações ter características diferentes, acima referidas. O
podcast mais votado foi o que clarificava as qualidades do álcool (36%), seguido do chocolate.
Indicação do URL dos podcasts
Os podcasts produzidos foram alocados a uma disciplina da plataforma moodle
estando
disponíveis
apenas
para
os
alunos
da
ESEPF
ou
por
inscrição,
em
http://tic.esepf.pt/moodle/course/view.php?id=36.
Neste momento, e porque pretendemos uma avaliação do impacto do projecto de
sensibilização para melhoria de hábitos alimentares nos estudantes, não poderão estar
disponíveis a toda a comunidade da Web.
Considerações finais
Este trabalho obteve uma boa aceitação por parte dos alunos envolvidos na sua
realização, que se empenharam, mesmo sabendo que não iria contribuir para a sua avaliação
final na unidade curricular, mas que estavam a colaborar para um projecto de investigação. Os
resultados do questionário são ainda parciais, uma vez que a disciplina esteve disponível
durante um mês, período interrompido por uma semana não lectiva. Consideramos que a
divulgação está pouco visível uma vez que alguns estudantes manifestaram não ter tomado
conhecimento da data de início da campanha alimentar. Até ao momento, a disciplina foi
visitada por 14% de indivíduos da população alvo. Destes, menos de metade preencheu o
questionário. A informação que nos chegou foi de que a disciplina tem demasiados podcasts
para escutar, razão pela qual alguns não preencheram o questionário. A maioria dos
estudantes que responderam (76%) encontra-se inscrita no 1º e 2º anos, cursos já adaptados
ao processo de Bolonha, sugerindo uma postura auto-formativa e participativa que se pretende
transmitir. O impacto do projecto é, até ao momento, positivo uma vez que 60% dos inquiridos
afirmou ter mudado os seus hábitos alimentares após escutar os podcasts. A maioria dos
inquiridos conhecia o conceito de podcast, mas apenas os escutaram no computador, não
utilizando toda a sua versatilidade, nomeadamente escutando-os através de outros leitores
áudio. Porém, alguns partilharam com outras pessoas em contexto exterior à ESEPF.
Na nossa opinião, a utilização de podcasts como veículo de divulgação do saber é
motivador para os estudantes, principalmente porque podem ter um papel importante na
motivação para a pesquisa, estruturação dos conhecimentos e partilha, contribuindo para que
construam, em grupo, os seus saberes.
279
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Referências
Boulos, M., Maramba, I. & Wheeler, S. (2006). Wikis, blogs and podcasts: a new generation of
Web-based tools for virtual collaborative clinical practice and education. BMC – Medical
Education, 6 (41), pp. 1-8. http://www.biomedcentral.com/content/pdf/1472-6920-6-41.pdf
(Acessível a 15 em Abril de 2009)
Carvalho, A. (2008) Os podcasts no Ensino Universitário: Implicações dos tipos e da duração
na aceitação dos alunos. Actas do Encontro sobre Web 2.0. Braga: CIEd.
Guertin, L. A., Bodek, M. J., & Zappe, S. E. & Kim, H. (2007). Questioning the Student Use of
and
Desire for Lecture Podcasts. MERLOT – Journal of Online Learning and Teaching, 3(2), pp.1-9.
http://jolt.merlot.org/vol3no2/guertin.htm (Acessível a 16 de Abril de 2009)
Moreira, V. (2001). “As novas tecnologias para uma escola de sedução: a cultura de coabitação
no
ciberespaço”. In Desafios 2001/ Challenges 2001. Actas da 2ª Conferência Internacional de
Tecnologias de Informação e Comunicação. Org. Paulo Maria Bastos da Silva Dias e
Cândido Varela de Freitas, Centro de Competência Nónio Século XXI, Braga,
Universidade do Minho, 207 – 228
Seitzinger, J. (2006). Be Constructive: Blogs, Podcasts and Wikis as Constructive Learning
Tools.
The eLearning Guild's – Learning Solutions - Practical Applications of Technology for Learning
e-Magazine, July 31, pp. 1-16. http://www.elearningguild.com/pdf/2/073106DES.pdf
(Acessível a 14 de Abril de 2009).
280
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcast e Vodcast: o potencial da ferramenta VoiceThread
João Batista Bottentuit Junior
Universidade do Minho
[email protected]
Eliana Santana Lisbôa
Universidade do Minho
[email protected]
Clara Pereira Coutinho
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo - Nesta comunicação apresentamos uma ferramenta Web 2.0 ainda pouco
conhecida e divulgada em língua portuguesa, o VoiceThread. Trata-se de um aplicativo com
virtualidades próprias e muito específicas e que possibilita a criação de apresentações
electrónicas interactivas, em que diferentes pessoas podem colaborar na construção de um
produto comum, podendo resultar esta prática em benefícios relativamente às
aprendizagens dos participantes. Apresentada a ferramenta e sugeridas possibilidades da
sua exploração em contexto educativo, apresentamos exemplos onde a ferramenta foi
utilizada.
Contextualização
A interacção e a facilidade de produção de conteúdos pelas pessoas são formas de
possibilitar o acesso a informação que justificam, em boa parte, o sucesso da Internet. Com o
advento das tecnologias da geração Web 2.0, surgem novos modelos que trazem novas
potencialidades à forma como as pessoas se relacionam na sociedade da informação, também
designada por sociedade do conhecimento e ainda da aprendizagem (Pozo, 2002). Seguindo o
caminho aberto pelos blogs e fotologs, novos mecanismos de democratização do conteúdo
vêm ganhando força, ou seja, todos os utilizadores da rede podem ter acesso a uma grande
quantidade de informação que se encontra livre para o acesso em especial os que se focalizam
na publicação de arquivos multimédia. Com o aparecimento do podcast, os bloggers inovaram
os formatos transmitidos pela web, utilizando para o efeito vídeos gerados por câmaras digitais
ou por dispositivos móveis. Foram assim nascendo as novas gerações do “cast”, como seja o
videocast ou vodcast e o mobcast.
O podcast é um recurso que vem sendo utilizado desde 2004. O seu nome advém do
laço criado entre Ipod (aparelho produzido pela Apple que reproduz mp3) e Broadcast
(transmissão), e pode ser definido como sendo um programa de rádio personalizado gravado
281
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
nas extensões mp3, ogg ou mp4, formatos digitais que permitem armazenar músicas e
arquivos de áudio num espaço relativamente pequeno (Bottentuit Junior & Coutinho, 2007). Os
podcasts podem ser guardados no computador e/ou disponibilizados na Internet, podendo
ainda ser vinculados a um arquivo de informação (feed) que permite que se assinem os
programas, recebendo o utilizador as informações sem precisar de ir ao site do produtor
(Barros & Menta, 2007).
O vodcast ou videocast corresponde à comunicação de vídeos através da Internet. Já o
mobcast envolve o uso de telefones celulares conectados à Internet, podendo o utilizador fazer
download de arquivos, gravar vídeos, bem como enviá-los pelo seu aparelho, garantindo,
assim, que o utilizador possa ouvir e assistir ao que quiser, em qualquer hora e no lugar que
desejar. No entanto, a disponibilidade dessas funções depende dos serviços oferecidos pela
operadora de serviço móvel e das características do dispositivo móvel utilizado.
Enquanto professores e educadores, acreditamos que estes novos recursos, se bem
utilizados, poderão ser uma mais-valia quando aplicados em múltiplos cenários de educação
formal e informal, presencial e a distância. Na opinião, que partilhamos, de Güell (2008), o
podcasting e o vodcasting são tecnologias muito simples e versáteis com enorme potencial
educativo. De facto, a possibilidade de difusão de conteúdos expande significativamente as
oportunidades para o professor ensinar e para o aluno aprender dado que os mesmos podem
estar fisicamente distante e mesmo assim trocarem constantemente informações e feedback
através de episódios em áudio.
A Ferramenta VoiceThread
O VoiceThread
49
é uma ferramenta vocacionada para a criação de apresentações com
auxílio de médias digitais, permitindo a combinação de voz, imagens e textos, através de
comentários e discussões de grupos integrados num mesmo ambiente virtual. Segundo Lofton
(2008:p.14)
"It is a web-based software that allows you to create online files called
VoiceThreads in which you upload or display one or more images, documents, or
videos, and then record or upload oral or textual comments"
A participação neste ambiente é muito fácil, já que, após registo, o utilizador pode
comentar as apresentações disponibilizadas no site, participando num verdadeiro fórum textual
e auditivo acerca de temáticas muito variadas, contribuindo, desta forma, para a criação de
algo semelhante ao que Levy (1999) chama de “inteligência colectiva”, em que o contributo de
cada indivíduo propicia um ambiente rico e diversificado, possível através de uma comunicação
assíncrona.
Esta ferramenta também pode funcionar como rede social, pois permite o agrupamento
de um conjunto de indivíduos, dispersos geograficamente, possibilitando a interacção e partilha
de conhecimentos, além de favorecer a aprendizagem cooperativa, através
49
http://voicethread.com/
282
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
da discussão de temáticas de interesse comum, fomentando ainda a criação de
verdadeiras comunidades virtuais e informais de aprendizagem. Segundo Lucas e Moreira
(2009: p.122):
“Nos últimos anos, o contexto da Web social, sobretudo das ferramentas
de comunicação que disponibiliza, tem-se constituído como uma alternativa válida
para o suporte e exploração de variados métodos pedagógicos e diferentes tipos
de aprendizagem. Numa abordagem informal a Web social é entendida como uma
plataforma de aprendizagem que pode servir de base à exploração da riqueza das
aprendizagens informais, uma vez que se assume como um espaço de
aprendizagem personalizada onde cada pessoa pode aprender de acordo com as
suas necessidades e ritmo”.
A aprendizagem no ambiente VoiceThread é possível através das mais variadas
formas de linguagem (textual, áudio, e visual), que podem ser socializadas com todos os
utilizadores do ambiente, ficando disponíveis nas margens direitas e esquerda do documento.
Além disso, o utilizador, no momento da gravação áudio, poderá marcar ou sublinhar figuras ou
frases com o objectivo de reforçar a compreensão do que está sendo exposto.
O envio da gravação e/ou dos comentários pode ser efectuado de múltiplas formas,
através das seguintes tecnologias: telefone, webcam, microfone, via teclado ou mesmo através
do upload de um ficheiro. O utilizador conta ainda com algumas ferramentas auxiliares como o
zoom, que permite ampliar os documentos, garantindo, assim, uma melhor visualização.
Outra possibilidade é o compartilhamento das apresentações criadas com outros
utilizadores, ou seja, ao realizar o upload de um ficheiro, o ambiente gera automaticamente um
URL para que todos possam aceder a essa mesma apresentação. Outras possibilidades de
socialização são realizadas através do envio por e-mail a partir do próprio ambiente, ou ainda a
inclusão da hiperligação num sítio web ou em qualquer outro ambiente virtual (ex: blogs,
plataformas, my space, wikis, rede social). O utilizador também pode realizar o download da
sua apresentação e dos comentários para uma utilização futura em ambiente offline.
Utilização do VoiceThread em Contexto Educativo
O VoiceThread permite que cada aluno grave individualmente em formato áudio, um
evento, um projecto ou trabalho sobre um tópico ou experiência que considere importantes,
com a possibilidade de compartilhar esta produção com seus colegas e com o mundo.
Para os educadores, o VoiceThread constitui-se como mais uma ferramenta Web 2.0
com potencialidades de fomentar a inclusão dos alunos no mundo digital, favorecendo o
desenvolvimento de estratégias inovadoras, promotoras de um ensino mais à medida e
centrado no aluno.
Pode ser utilizado com estudantes de diferentes níveis etários bem como em quase
todas as áreas do conhecimento. Com alguma criatividade, o professor poderá estimular os
alunos para a aprendizagem de forma lúdica, exercitando as competências de oralidade, o
283
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
espírito crítico e poder de argumentação para além da literacia informática (Bush, 2007).
Passamos então a sugerir algumas formas possíveis de utilização desta ferramenta em
contexto educativo segundo Bottentuit Junior e Coutinho (2007) e Bush (2009):
•
Produção de recursos didácticos que, associando o audio e o vídeo, pode
potenciar a aprendizagem significativa;
•
Criação de um fórum multimédia sobre uma determinada temática, estimulando
a participação dos alunos e o desenvolvimento de competências múltiplas;
•
Apoio ao trabalho cooperativo. Através da associação de imagens, cada aluno
pode assumir um determinado personagem e participar na construção de uma história de
forma cooperativa;
•
Visualização de factos, contextos e obras de arte associadas a narrativas
digitais, para disciplinas como artes visuais, literatura, história e geografia;
•
Apoio a diferentes ritmos de aprendizagem, visto que, após a gravação, os
episódios podem ser executados inúmeras vezes, o que contribui para a assimilação do
conteúdo abordado;
•
Possibilidade de combinar a aprendizagem em contextos formais e informais.
São vários os estudos que atestam a favor da utilização educativa do podcast (Souza &
Martins, 2007; Miller & Stokes, 2009, entre outros). Alguns dos resultados mostram que a
grande maioria dos alunos envolvidos nessas experiências demonstrou orgulho e motivação na
realização de trabalhos com o uso dessa tecnologia, uma vez que, ao “publicarem” e
“guardarem” os seus episódios, sentem-se também co-autores dos conteúdos disponibilizados
na rede.
Como exemplo concreto de utilização da ferramenta VoiceThread apontamos o caso
ocorrido na International Conference on Multimédia and ICT in Education 2009. Nessa
conferência uma das modalidades de apresentação de artigos era feita de forma virtual, ou
seja, os participantesenviavam as suas apresentações electrónicas através do ambiente
VoiceThread e gravavam os comentários para cada um dos diapositivos. Desta forma, todos os
participantes do congresso estavam aptos a assistir e a comentar as apresentações virtuais.
Neste nível pode-se perceber que a ferramenta poderá constituir-se num meio prático de
difusão de informações e apresentações em eventos científicos dado as facilidade de
publicação e discussão online.
Outro exemplo de utilização desta ferramenta foi realizada por Bush (2009) Numa
turma de ensino de línguas da Jefferson Elementary School onde a autora utilizou a ferramenta
para ensina-los a pronúncia correcta das palavras, bem como explorou algumas temáticas em
que os alunos se interessavam para estimular a participação e discussão da turma . Esta
actividade didáctica permitiu a autora perspectivas algumas potencialidades e verificar
benefícios a nível do trabalho colaborativo, aumento da participação e desenvolvimento da
oralidade.
284
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Conclusão
A Internet Ampliou a nossa visão do mundo, modificou e criou novas linguagens e
formas de comunicar, possibilitou maneiras alternativas para apreender e conhecer a realidade.
Ultrapassando a função de suporte e colocando desafios para o professor, alargou os
horizontes do ensino e da aprendizagem, mobilizando múltiplas competências e saberes.
Nestes cenários, as tecnologias de produção e distribuição de conteúdos poderão ser a
principal tendência das práticas educacionais do futuro, (Prensky, 2001; Downes, 2009)
rompendo com os modelos tradicionais de ensino e abrindo possibilidades para que os
professores desenvolvam estratégias ainda não ensaiadas nem testadas em sala de aula, mas
efectivas se capazes de dotar os alunos com a sabedoria digital – digital wisdom – de que nos
fala Prensky (2009) na sua obra mais recente: uma sabedoria entendida como bom senso para
usar as TIC como extensões das nossas capacidades cognitivas.
A ferramenta VoiceThread é, certamente, uma dessas tecnologias que pode aumentar
a nossa sabedoria digital e a dos nossos alunos, mas, para que tal se comprove, há que aceitar
o repto e experimentar! O desafio está lançado!
Referências
Barros, G. C., e Menta, E. (2007). Podcast: Produções de áudio para educação de forma
crítica, criativa e cidadã. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la
Información y Comunicación, IX, (s/p)
Bottentuit Junior, J. B. ; Coutinho, C. P. (2007) . Podcast em Educação: um contributo para o
estado da arte. In: IX Congresso Internacional Galego Português de Psicopedagogia,
2007, Coruña.p. 837-846.
Güell, T. S. (data?) . La voz de la web 2.0: Análisis del contexto, retos y oportunidades del
Podcasting en el marco de la comunicación sonora. Tese de Doutoramento. Barcelona:
Universitat Internacional de Catalunya,
Lévy, P.(1999). O Que é o Virtual? São Paulo: Editora 34.
Miller, G., e Stokes, D. (2009). Reconstructing Distance Education Training in the State of Utah:
Connecting the Literature on Best Methods to the Development and Use of Training
Podcasts. In: In C. Crawford et al. (Eds.), Proceedings of Society for Information
Technology and Teacher Education International Conference 2009. Chesapeake, VA:
AACE.
Pozo, J. I (2002). Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre:
Artmed, 2002.
Prensky, M. (2001). Digital Natives, Digital Immigrants. In On the Horizon (NCB University
Press, Vol. 9 No.5). Disponível em http://www.marcprensky.com/writing/, acedido em
16/03/2009.
285
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Prensky, M. (2009). H. Sapiens Digital: From Digital Imigrants and Digital Natives to Digital
Wisdom. Disponível em: http://www.marcprensky.com/writing/,. Acedido em: 03/04/2009.
Souza, S. A., e Martins C. B. (2007). Exemplos de usos do podcasting no ensino de línguas
estrangeiras. In: Actas do XV Encontro de Professores de Línguas Estrangeiras do
Paraná
Línguas:
culturas,
diversidade,
integração.
Disponível
em:http://www.apliepar.com.br/site/anais_eple2007/artigos/19_shirley.pdf. Acedido em:
10/03/2009.
Lucas, M.; Moreira, A. (2009). A Web Social: complemento informal às aprendizagens formais.
In P. Dias, A. Osório (orgs.) Actas do VI Conferência Internacional de TIC na Educação.
Braga: Universidade do Minho. pp. 121-134.
Bush, L. (2009). Viva VoiceThread: Integrating a Web 2.0 Tool in the Additional Language
Classroom. In C. Crawford et al. (Eds.), Proceedings of Society for Information
Technology and Teacher Education International Conference 2009 (pp. 3247-3250).
Chesapeake, VA: AACE.
Downes, S. (2009). New Technology Supporting Informal Learning. In P. Dias, A. Osório (orgs.)
Actas do VI Conferência Internacional de TIC na Educação. Braga: Universidade do
Minho. pp. 15-29.
286
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
As Possibilidades do Podcast Como Ferramenta Midiática na
Educação
Carolina Machado dos Santos de Sousa Franco
Universidade Nove de Julho - UNINOVE
[email protected]
Resumo - A proposta deste estudo é analisar as possibilidades de uso do podcast na
educação. Para isso, foi feita uma pesquisa qualitativa a fim de buscar entender o
fenômeno em profundidade. Realizou-se o estudo sobre o estado da arte do podcast
permitindo a análise interdisciplinar das suas possibilidades no campo da educação. Além
disso, foi feita uma pesquisa bibliográfica e pesquisa minuciosa via internet, constatando-se
pouca quantidade de material relativo ao assunto. O trabalho constatou que o uso do
podcast na educação apresenta, entre várias vantagens, as condições de portabilidade e
flexibilidade de uso, tão importantes numa sociedade em rede. Sua inclusão nas escolas,
no caso brasileiro, defronta-se com a resistência de algumas instituições e profissionais da
área.
Introdução
A evolução da tecnologia tem influenciado, de modo especial, a vida do ser humano,
tanto nas alterações que introduz no cotidiano, quanto nos processos adotados para a
educação da nova geração. O uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação
(TICs) aplicado à educação está transformando radicalmente o ambiente escolar e criando
novas formas de ensino-aprendizagem.
Assim, a forma expositiva de ensinar não encontra mais eco nas expectativas dos
aprendizes, criando novas atribuições e desenhando um novo perfil para o professor. Este
cenário de mudanças tecnológicas e comportamentais dos docentes e discentes exige uma
modernização do ensino como um todo. Em decorrência desses avanços, a metodologia de
ensino vem sofrendo inúmeras mudanças fora do Brasil, sendo comum verificar, que, em
paises de tecnologia avançada, as aulas são ministradas virtualmente.
Estamos vivenciando situações de educação online. Com novas mídias inseridas no
cotidiano educacional, surge a possibilidade de uma educação mais interativa, em que a
concepção de um ensino anytime/anywhere faz-se cada vez mais presente, tornando o aluno
realmente dono de seu próprio tempo e espaço.
Esta pesquisa é parte da que realizamos dentro do programa de Mestrado em
Educação, Arte e História da Cultura de uma Universidade brasileira, que resultou na
287
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
dissertação de mesmo título, que, aprovada perante banca de defesa, nos atribuiu o título de
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.
Com efeito, é imperioso assinalar que a criação de metodologias utilizáveis por meio de
recursos midiáticos ainda é um desafio para educação, em qualquer nível ou modalidade,
porque nos defrontamos quotidianamente com o desperdício ou mau uso desses recursos. Por
isto a base de viabilização do ensino que faz uso das tecnologias assenta-se na utilização
adequada desses recursos, não só material, mas também metodologicamente.
Entre essas modalidades de ensino temos o Mobile Learning, que se baseia no uso de
equipamentos móveis em que se utilizam dispositivos portáteis de computação sem fio
(Personal Digital Assistant – PDA, Palmtop, celular, etc.). Este modelo traz a possibilidade de
uma mobilidade nas condições do ensino e aprendizagem.
Entre os vários dispositivos portáteis de m-learning, nosso interesse de pesquisa foi
investigar a utilização do podcast e suas possibilidades na educação, presencial e não
presencial, sabendo-se que o podcast é uma ferramenta tecnológica com registros de áudios
disponibilizados através da internet. O usuário pode fazer o seu download e ouvi-lo através de
equipamentos tecnológicos, como computador, Ipod ou celular. Tais registros podem ser de
variados assuntos e são ouvidos nos diferentes aparelhos compatíveis em MP3.
Podcast na Educação: Usos e Possibilidades
Durante a pesquisa realizada sobre o uso do podcast na educação, verificamos que
não havia referência bibliográfica de compêndios sobre o assunto, por ser ainda um tema e
uma prática muito recentes, em constante mudança e aperfeiçoamento. Por isso, a pesquisa
on-line foi fundamental. Por meio dela, foram encontrados diversos artigos sobre podcast na
educação e alguns projetos aplicados nesta área de atuação, com destaque para Portugal e
seus projetos de podcast com essa destinação.
A maioria dos artigos encontrados centrou-se na positividade do uso do podcast na
educação e na apresentação de práticas realizadas. Nessa linha, aparecem os seguintes
artigos: “Podcast: potencialidade na educação”, de autoria de Moura e Carvalho; “Podcast:
quebrando silencio na integração de mídias na educação”, de Menta e Barros; os mesmos
autores em outro artigo, intitulado “Podcast: produções de áudio para educação de forma
crítica, criativa e cidadã”, orientam sobre a construção técnica de um podcast e apresentam um
site de hospedagem de podcast educacional no Brasil chamado PodEscola, do qual são
idealizadores.
O uso do podcast na educação pode ser avaliado em exemplos portugueses e norteamericanos, estes especificamente nas Universidades de Berkley e de Stanford.
No Brasil há o “Podescola”, de Gilian Cristina Barros e Eziquiel Menta, com o objetivo
de utilizar o podcast nas escolas públicas do Estado do Paraná, para poder contribuir para a
formação crítica do aluno, além de incluí-lo na sociedade digital. Foram exitosos os projetos
288
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Rádio Escola e o Sintonize-se! Das ondas dos rádios aos espaços da web, ambos em Foz do
Iguaçu, Estado do Paraná.
No campo teórico, contamos com alguns poucos artigos específicos sobre o podcast,
de autoria Alex Primo, Ana Amélia Amorim Carvalho, Adelina Maria Carneiro Mouro, João
Batista Bottentuit Junior, Clara Pereira Coutinho, Marcello dos Santos de Medeiros.
A partir dos estudos feitos sobre o podcast, podemos perceber uma potencialidade de
seu uso no campo educacional. As experiências analisadas revelaram sua importância para o
estudo de Língua Estrangeira, como um auxiliar nas situações de dificuldade de aprendizagem,
como meio de dar voz aos alunos pela divulgação de seus trabalhos, assim como já vem
acontecendo no Youtube com os alunos da Universidade da Califórnia Berkeley (UCB).
Essa ferramenta representa um suporte a mais para o ensino das mais variadas
disciplinas por meio de planejamento de aula prévia, já que qualquer conteúdo pode ser
abordado, originado tanto da sala aula como de outro lugar, sugerido pelo professor ou por
seus alunos.
Com o podcast há disponibilização dos áudios de gravações das aulas presenciais que
podem ser acessadas sempre que o aluno tiver dúvidas, ou, até mesmo, por um aluno que
faltou a determinada aula. Também, podemos fazer uso de uma tecnologia que transcende
espaços de aprendizagem tradicionais, antes restritos somente às salas de aula, pois ele
permite uma maior flexibilidade no seu uso, por parte do aluno, do professor, ou, até mesmo,
de outro profissional que deseje usar esta mídia para aprimorar seus conhecimentos a partir
dos episódios disponíveis na web. Por isso, devemos reconhecer que se trata de uma
tecnologia que pode ser uma quebra de barreiras hierárquicas do saber, tão comum de ocorrer
entre professor e aluno.
Uma grande vantagem do seu uso é o fato de o usuário ver baixados seus episódios de
forma automática por meio dos feeds. Além disso, sua vinculação a um blog torna-o um
estimulo à participação em comunidades virtuais e à realização de aprendizagens
colaborativas.
Dessa forma, ao mesmo tempo em que incentiva a diversificação da atividade de
estudo, contribui para desenvolver a autonomia do aluno, colaborando para que ele se torne
responsável pela construção de seu próprio aprendizado, e oportunidade para o educando de
criar seus próprios episódios e tornar-se um podcaster.
Podemos perceber um grande potencial desta ferramenta, que vai muito além da
flexibilidade. A questão do tempo e espaço acaba sendo peça chave para sua inserção no
meio educacional, dado que, no momento atual, o tempo ou a sua falta pode fazer muita
diferença no momento em que as pessoas forem realizar suas tarefas.
A utilização do podcast em relação ao tempo e espaço, remete-nos à possibilidade
desta tecnologia ser usada no m-learning, que tem por finalidade maior uma educação
anytime/anywere. Daí pensarmos no podcasting para quebrar esta barreira de tempo e espaço,
onde seus usuários não precisam estar em um espaço físico específico, como a sala de aula,
289
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
podendo receber o conteúdo referente a seu estudo através do celular, a qualquer momento,
inclusive durante seu deslocamento de casa para o trabalho e vice-versa, gerando assim uma
condição de portabilidade.
O uso do podcast representa uma forma de inserção no mundo digital, o que o torna
uma tecnologia inclusiva, especialmente aos portadores de deficiência visual.
Seu baixo custo é um dos fatores principais para sua inclusão no âmbito educacional.
De acordo com a pesquisa da Associação Brasileira de Podcaster (ABPDO) até as pessoas de
baixa renda, que ganham menos de R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais estão aptas a
assinar sua adesão. Contudo é preciso lembrar que usar uma ferramenta tecnológica exige
certos conhecimentos, e nesse ponto, no Brasil não temos uma população que já esteja
incluída digitalmente (incluir digitalmente não é só clicar botões, mas sim incorporar o uso da
tecnologia no cotidiano).
Por fim, podemos lembrar que, dentre as tecnologias de aprendizagem o podcast
trabalha com o primeiro sentido desenvolvido pelo homem, já no ventre materno – a audição,
muito importante na captação do que provem do mundo externo.
Diante do estudo das possibilidades desta tecnologia no âmbito educacional,
percebemos que o podcast pode trazer grandes benefícios, fazendo com que alunos possam
aprender independente do tempo e do espaço, além de publicar matérias de sua própria
autoria para que seja compartilhada com os demais alunos; outro fator importante desta
ferramenta é a metodologia ensino/aprendizagem motivadora proporcionada ao educando,
onde este tem o papel ativo na construção do saber, deixando de ser um mero receptor de
informações e torna-se um transmissor de conhecimento.
Considerações Finais
O podcast apresenta grande diferencial; geralmente, vem associado ao sistema de
RSS e, assim, o usuário não necessita entrar no site todas as vezes que desejar ouvir um novo
programa, basta realizar uma assinatura do canal e, quando for atualizar, deve recebê-lo
instantaneamente, facilitando, então, a disseminação de informações entre todos os assinantes
do podcasting, bem como a flexibilidade em sua utilização (que também não exige uma grande
sofisticação de conhecimentos tecnológicos para manuseio), e seu baixo custo facilita sua
inclusão nas escolas.
O seu uso contribui para a redução do volume de material impresso, já que os
trabalhos solicitados pelos professores podem ser feitos e entregues ao educador por meio
dessa ferramenta, além de ser disponibilizado via internet, abrindo chances para que todos os
alunos possam ter acesso ao mesmo.
Note-se que é necessário habilitar professores e técnicos especializados para a
elaboração do material, inclusive com a colaboração do alunado. Porém, no Brasil, ainda há
uma resistência dos docentes contra esse sistema, causada pelo medo do novo e receio de
290
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
mudança da sua posição dentro do processo de ensino-aprendizagem, como o único detentor
do saber. Há, também, o uso inadequado da tecnologia, que leva o estudante à chamada lei do
menor esforço, Por fim, a inclusão dos meios tecnológicos em escolas públicas, registra uma
participação pequena do Estado, com equipamentos ultrapassados ou sucateados.
Pensamos que a criação da disciplina Informática na Educação será um grande passo
para adequar os professores das gerações futuras na nova realidade do ensino, e
acrediotamos que, com o uso do podcast, teremos possibilidade de criar nosso próprio material
de ensino e aprendizagem e demonstrar todo o potencial revolucionário tecnológico que pode
ser inserido na educação.
Referências
BELLONI, Maria Luiza. (2005). O que é Mídia-educação? Campinas: Autores Associados.
LIMA, Frederico O. (2000). A Sociedade Digital: O impacto da tecnologia na sociedade, na
educação e nas organizações. Rio de Janeiro: Qualitymark.
PALLOFF, Rena M. & PRATT, Keith. (2002). Construindo Comunidades de Aprendizagem no
Ciberespaço: Estratégias eficientes para salas de aula on-line. Porto Alegre: Artemed.
PRIMO. A.F.T..(2005). Para Além da emissão sonora: as interações no podcasting. Intexto,
Porto Alegre, n. 13.
BARROS, Gílian Cristina & MENTA, Eziquiel. (2006). PODCAST: Quebrando o silêncio na
integração e mídias na educação. http://www.escolabr.com.br. (Acesso em 15/04/2007)
BURGARDT, Lilian. Ferramenta transforma conteúdo e amplia o conhecimento em sala de
aula.
http://www.universia.com.br/materia/imprimir.jsp?id=14554.
(Acesso
em
17/04/2008).
CARVALHO, Ana Amélia Amorim & MOURA, Adelina Maria Carneiro. Podcast: uma ferramenta
para
usar
dentro
e
fora
da
sala
de
aula.
http://ubicomp.algoritmi.uminho.pt/csmu/proc/moura-147.pdf. (Acesso em 22/03/2007).
CARVALHO, Ana Amélia Amorim & MOURA, Adelina Maria Carneiro. Podcast: Potencialidades
na
Educação.
http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/5_adelina_moura_e_ana_amelia_carvalho_prisma.pd
f. (Acesso em 22/03/2007).
Conhecimento
na
palma
da
mão.
http://www.administradores.com.br/noticias/conhecimento_na_palma_da_mao/3015/.
(Acesso em 28/07/2007).
COUTINHO, Clara Pereira & JUNIOR, João Batista Bottentuit. Poscast em Educação: um
contributo
para
o
estudo
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/7094/1/pod.pdf.
da
(Acesso
arte.
em:
20/05/2007).
291
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
MEDEIROS,
Marcello
dos
Santos
de.
Podcasting:
um
antípoda
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R0776-1.pdf.
radiofônico.
(Acesso
em
17/01/2008).
PodPesquisa.(2007).http://pesquisa.abpod.org/sm/SurveySummary.html.
(Acesso
em
01/09/2008).
MILENA, Antônio.(2008).Fora dos Holofotes, o Podcast Resiste Jornal Estado de São Paulo.
Versão
online,
Suplemento
LINK.
http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=14095. (Acesso em: 07/07/2008).
STOCK,
Adriana.
Universidades
dos
EUA
usam
podcast
para
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1919883-EI4802,00.html.
atrair
(Acesso
público.
em
17/04/2008).
292
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcast: Uma Revisão dos Estudos Realizados no Brasil e em Portugal
João Batista Bottentuit Junior
Universidade do Minho
[email protected]
Eliana Santana Lisbôa
Universidade do Minho
[email protected]
Clara Pereira Coutinho
Universidade do Minho
[email protected]
Resumo: Nesta comunicação apresentamos uma revisão de estudos e investigações
publicados em Portugal e no Brasil sobre a temática da utilização educativa da tecnologia
podcast. Para o efeito foram pesquisados nos canais de publicação científica (revistas,
actas de congressos e bases de dados académicas) os artigos/dissertações de autores
lusófonos, tendo-se constituído uma base de dados documental de 28 documentos. Para
efeitos da análise foi utilizada uma grelha inspirada noutras análogas publicadas na
literatura, tendo sido consideradas na análise de conteúdo seis variáveis categóricas: i) ano
de publicação; ii) autoria; iii) afiliação institucional; iv) tipo de publicação; v) país de origem;
vi) método usado para a recolha de dados. Os resultados obtidos são apresentados e
discutidos.
Contextualização do Estudo
O podcast é uma tecnologia desenvolvida em 2004 por Adam Curry. O termo surgiu
com a união das palavras Ipod (dispositivo de armazenamento de áudio) e Cast - advinda da
palavra broadcast que significa distribuição - (Moura, 2006). Esta tecnologia de divulgação de
áudio através da Internet, vem ganhando cada vez mais adeptos, sendo utilizada em
variadíssimas campos e áreas do saber como seja: a comunicação social, os ambientes
empresariais e a educação entre muitas outras. Para nos darmos conta do crescimento
exponencial desta tecnologia basta observar como está divulgada em portais de notícias, sites
institucionais e educacionais.
Nesse sentido, apresentamos nesta comunicação os resultados de um estudo que
envolveu a análise de 28 publicações de autores/investigadores portugueses e brasileiros
sobre a temática do podcast em educação. Para o efeito foi realizado um levantamento de
publicações existentes (em revistas, actas de congressos e bases de dados) com o objectivo
de recensear estudos e investigações sobre a temática em causa. Constituída a base de dados
documental procedeu-se à sua avaliação tendo como instrumento uma grelha de análise.
293
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
O Podcast
O podcast pode ser considerado como uma nova forma de comunicação
multidirecional, assumindo um papel de grande importância na divulgação de informações,
conteúdos e saberes, a um público diversificado e oriundo de contextos sócio-culturais muito
diferenciados. Segundo Vanassi (2007:51),
Podcasting é um processo mediático baseado em emissões sonoras que utiliza a
Internet como suporte para seu funcionamento e propagação de suas mensagens.
É um processo muito recente, que ainda está a popularizar-se, a estabelecer-se,
junto dos utilizadores, como uma alternativa interessante para a difusão de
conteúdos sonoros.
Sendo assim, entendemos o Podcast como uma forma de expressão cultural de uma
sociedade digitalizada, que contribui para o desenvolvimento de formas individualizadas de
produção, disseminação e armazenamento da informação. Extremamente versátil, pode ser
utilizado em diversos contextos educativos, abrindo espaços para novos ambientes de
aprendizagem presencial e a distância, diversificando e potenciando as formas de
comunicação e interacção entre professores e alunos.
Metodologia
O presente estudo teve como objectivo caracterizar os estudos e investigações
desenvolvidas por autores portugueses e brasileiros entre 2004 (ano em que o termo podcast
surge no cenário) e início do 2º trimestre de 2009, difundidas nos canais de publicação
académica
(revistas, actas de congressos e reuniões científicas, bases de dados universitárias). Foram
assim recenseados 28 artigos publicados, de autores portugueses/brasileiros abordando a
temática dos podcasts em educação.
A realização de estudos descritivos de tipo integrativo é uma prática que cresce à
medida que avança a investigação numa dada temática e/ou área do saber, sendo assim
possível encontrar estudos deste tipo em língua portuguesa, como é o caso dos ensaios
desenvolvidos por Coutinho (2005), Costa (2007), Coutinho (2008a) e ainda Gomes e Coutinho
(2008).
Categorias de Análise
Tendo em conta a especificidade do objecto de estudo, foi necessário definir quais
seriam as categorias a considerar na análise de conteúdo dos artigos que integravam a base
de dados documental. Para o efeito, fundamentámos a escolha das categorias da grelha de
análise em estudos congéneres realizados por Coutinho (2005), Costa (2007), Coutinho
(2008a) e Gomes e Coutinho, (2008). Foram assim consideradas as seguintes categorias de
análise: i) ano de publicação; ii) número de autores; iii) afiliação institucional; iv) tipo de
294
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
publicação (acta revista, trabalho académico; v) país de origem; vi) método de recolha de
dados.
Na variável número de autores, considerámos quatro categorias: um, dois, três e mais
de três autores. Para variável afiliação institucional, considerámos duas categorias: escola e
universidade. Quanto ao tipo de publicação, considerámos quatro categorias: teórico/reflexão,
empírico, relato de experiência, apresentação de ferramentas. Como só foram consideradas as
publicações de autores lusófonos, categorizámos os estudos quanto à origem em brasileiros ou
portugueses. Por outro lado, considerando que os estudos e investigações podem ser
publicados em diferentes veículos de comunicação, considerámos três categorias nesta
variável: revista, actas de congresso e trabalhos académicos. Por último, no que diz respeito
aos métodos de recolha de dados, foram consideradas quatro categorias: questionário,
entrevista, teste de conhecimento, grelha de observação e lista de verificação.
Apresentação de resultados
Os artigos que integram a base de dados documental foram publicados ao longo de um
período temporal que, em termos formais, se iniciou em 2004 (ano em que surgiu o podcast) e
o início do mês de Abril de 2009. O ano em que se registou o maior número de publicações foi
o de 2008 com 12 artigos, seguido do ano de 2007 com 8 registos, 2006 com 5 registos, 2005
com 2 registos. O ano de 2004 não foi possível aceder a nenhum estudo em língua portuguesa.
A ausência de publicações no ano de 2004 pode ser explicada pelo facto do podcast ser
uma tecnologia muito recente e ainda pouco difundida tanto em Portugal como no Brasil.
Observa-se que o número de artigos vem crescendo de forma progressiva, e tudo leva a crer
que, em 2009 - ano em que foi registada uma ocorrência única até ao mês de Abril – se
mantenha ou aumente o crescimento da publicação com a realização do “Encontro sobre
Podcast”, beneficiando assim a comunidade lusófona com este potencial acréscimo do acervo
existente.
O número de autores em cada uma das publicações, foi outra variável considerada na
análise. Constatámos, assim, que mais de metade dos estudos foi realizado em parceria, ou
seja, 46% dos documentos foram escritos por dois autores, 21% por um autor, 18% por mais
de três autores e 14 % por três autores.
Relativamente à autoria, foi considerada a sua procedência, ou seja, a afiliação
institucional dos autores. Verificámos assim que mais de metade dos autores que publicaram
são afiliados em universidades (86%) e apenas 14% em escolas de ensino não superior.
Outro aspecto importante a destacar tem a ver com a origem dos estudos. Foi possível
observar que mais de metade (54%), pertenciam a investigadores/autores portugueses e 46%
eram de autores brasileiros. Isto leva-nos a considerar que, apesar do Brasil possuir uma
extensão territorial e uma população muito superior a Portugal, em termos comparativos, a
tecnologia do podcast é menos divulgada/utilizada no meio escolar e académico daquele país.
295
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Quanto ao tipo de publicação, observa-se que o maior número de documentos provém
de actas de congresso (68%), seguindo-se as revistas (29%) e, por último, 4% de trabalhos
académicos (incluímos nesta categoria as monografias, dissertações e teses). Os resultados
obtidos, em especial a escassez de trabalhos académicos que trabalhem o potencial educativo
desta tecnologia Web 2.0 pode ser explicada, pensamos, pelo facto do podcast ser uma
tecnologia muito recente com escassa utilização em contexto escolar e universitário.
No que diz respeito ao tipo de estudo realizado, cerca de metade das publicações
reportam um trabalho de cariz empírico (43%), seguindo-se os de tipo teórico ou reflexivo, os
relatos de experiências (14%) e a apresentação de ferramentas (4%) (ver tabela 3).
Tipo de Publicação
f
%
Trabalhos Académicos
1
4%
Artigo em Revista
8
29%
Acta de Congresso
19
Total
f
%
Teórico/Reflexão
11
39%
Empírico
12
43%
68%
Relato de Experiência
4
14%
28
100%
Apresentação de Ferramentas
1
4%
Total
28
100%
Tabela 2. Tipos de publicação
Tipo de estudo
Tabela 3. Tipo de estudo
No que toca aos instrumentos utilizados para a recolha de dados, verificamos que em
todos os estudos empíricos os investigadores usaram como método preferencial para a recolha
de dados o inquérito, seja por questionário (73%) ou por entrevista (27%) (ver tabela 4). Como
se pode verificar, cruzando a informação obtida nas tabelas 3 e 4, registaram-se três casos em
que o questionário e a entrevista foram utilizados em conjunto numa mesma investigação o que
é um dado importante a registar em prol do que hoje muitos autores consideram ser standards
da avaliação da qualidade da investigação educativa (Coutinho, 2008a). Ou seja, quando num
estudo são utilizados mais de um método para aferir os dados os resultados tendem a ser mais
ricos.
Instrumentos
f
%
Questionário
11
73%
Entrevista
4
27%
Teste de Conhecimento
-
0%
Grelha de Observação
-
0%
Lista de Verificação
-
0%
15
100%
Total
Tabela 4. Instrumentos de Recolha de dados
Não foi encontrado nenhum estudo em que outros instrumentos de recolha de dados
tenham sido usados, nomeadamente os testes de conhecimentos (revelador da ausência da
implementação de estudos de tipo experimental) e as grelhas de observação e listas de
verificação, instrumentos utilizados em estudos de cariz qualitativo.
296
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Discussão e considerações finais
Neste artigo abordamos a temática da utilização de uma importante tecnologia Web 2.0
– o podcast - que tem vindo a merecer um interesse crescente por parte dos autores e
investigadores na área das Ciências da Educação. Nesse sentido inventariámos e analisámos
os trabalhos publicados por autores portugueses e brasileiros sobre a temática. O primeiro
dado a registar foi a a escassez de estudos e investigações realizados em Portugal, dado esse
que veio ratificar os resultados obtidos num estudo realizado por Coutinho e Bottentuit Junior
(2008b) sobre a utilização de ferramentas Web 2.0 no ensino superior, bem como na revisão
integrativa de estudos sobre tecnologias Web 2.0 na escola portuguesa realizado por Coutinho
(2008a).
O segundo dado a referir é a escassez relativa dos estudos conduzidos no Brasil sobre
esta temática, revelador de uma reduzida divulgação desta tecnologia Web 2.0 a nível tanto
académico como escolar comparativamente com o caso português.
O terceiro dado a registar tem a ver com a natureza dos estudos publicados em
particular os estudos de tipo empírico que são a modalidade dominante no conjunto dos artigos
analisados (12 em 28). Como constatado, em todos os estudos empíricos o inquérito foi o
modelo metodológico exclusivo, prevalecendo claramente o questionário (11 casos) sobre a
entrevista (4 casos), embora em três casos ambos os instrumentos tenham sido usados na
mesma investigação. Este cenário indicia, pensamos nós, que a investigação realizada nesta
temática, à semelhança do verificado em diversas análises à investigação no domínio da
Tecnologia Educativa (Coutinho, 2008c; Costa, 2007; Piano, 2007), se tem pautado pelo
desenvolvimento de estudos isolados e de cariz essencialmente exploratório, o que pode ser
considerado “normal” se atendermos à novidade da ferramenta mas que em nada abona em
favor da qualidade da investigação na área em que investigamos e trabalhamos.
Referências
Costa, F. A. (2007). Tecnologias Educativas: analise das dissertações de mestrado realizadas
em Portugal. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 03, pp. 7‑24. Disponível em:
http://sisifo.fpce.ul.pt/pdfs/sisifo03PTa1.pdf.
Coutinho, C. & Bottentuit Junior, J. (2008). Web 2.0 in Portuguese Academic Community: An
Exploratory Survey. In C. Crawford et al. (Eds.), Proceedings of the 19th International
Conference of Society for Information Technology and Teacher Education International
Conference, pp. 1992-1998. Chesapeake, VA: AACE.
Coutinho, C. P. (2005) Percursos da investigação em Tecnologia Educativa em Portugal: uma
abordagem temática e metodológica a publicações científicas (1985 – 2000).
Monografias em Educação. Centro de Investigação em Educação. Braga: Universidade
do Minho.
297
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Coutinho, C. P. (2008a). Tecnologias web 2.0 na escola portuguesa: estudos e investigações.
Revista Paidéi@, Santos: UNIMES Virtual, Volume 1, número 2, dez. Disponível em:
http://revistapaideia.unimesvirtual.com.br
Coutinho, C. P. (2008c). Aspectos metodológicos da investigação em Tecnologia Educativa em
Portugal (1985-2000). In J. Ferreira & C. Marto (Org) Actas do XIV Colóquio AFIRSE:
Para um balanço da Investigação em Tecnologia em Portugal de 1960 a 2007: teorias e
práticas. pp.1-13, Lisboa: FPCE-UL. ISBN:978-972-8036-88-1. [CD-ROM].
Gomes, M. J., Coutinho, C. P. (2008). Meta-análise da investigação realizada no âmbito do
mestrado em Tecnologia Educativa da UM. In F. Costa, H. Peralta & S. Viseu (Orgs.). As
TIC na Educação em Portugal. Concepções e Práticas. Porto: Porto Editora. 60-70.
Moura, A.; Carvalho, A. A. (2006). Podcast: Uma ferramenta para Usar Dentro e Fora da Sala
de Aula. In Rui José & Carlos Baquero (Eds.), Proceedings of the Conference on Mobile
and Ubiquitous Systems. Universidade do Minho, Guimarães, p.155-158.
Piano, A. R. (2007). Vinte anos de investigação sobre Tecnologias Educativas em Portugal:
uma sistematização da investigação desenvolvida entre 1985 e 2005. Tese de Mestrado.
Lisboa: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Universidade de Lisboa
298
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
299
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Novas Ferramentas da Web 2.0. geram Novas Parcerias
Cristina Aguiar
Escola de Ciências, Universidade do Minho
[email protected]
Carolina Alves
Instituto de Letras e Ciências Humanas, Universidade do Minho
[email protected]
Romana Maciel
Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho
[email protected]
Resumo – No âmbito de um projecto em curso na Universidade do Minho, que pretende
implementar podcasts no ensino universitário e simultaneamente avaliar a sua aceitação
entre discentes e docentes, têm sido conduzidas várias iniciativas para integrar esta
ferramenta em cursos de licenciatura e de pós-graduação de áreas diversas. O presente
trabalho descreve as estratégias e as metodologias adoptadas para a criação e
disponibilização de audiocasts, enhanced podcasts e vidcasts na unidade curricular Genes
e Genomas, do 3º ano curricular da Licenciatura em Biologia Aplicada. A novidade da
abordagem reside na parceria estabelecida entre diferentes áreas científicas – Biologia,
Tecnologia Educativa e Línguas Estrangeiras Aplicadas – para a selecção, planificação,
criação e disponibilização desses materiais.
Descrição do Estudo
Atribuído inicialmente a qualquer conteúdo áudio digital distribuído através da
Internet, o termo podcast pulveriza-se hoje noutras designações (McLoughlin & Lee, 2007), em
virtude dos formatos que adicionalmente pode adquirir. Assim, o recentemente adoptado
conceito audiocast refere-se unicamente a um ficheiro áudio, quando o formato em vídeo é
também contemplado deverá utilizar-se a designação vodcast (ou vidcast), ou então screencast
no caso particular do ficheiro áudio ser associado a imagens do ecrã do computador. Alguns
autores consideram ainda a existência do enhanced podcast,que conjuga o áudio com imagens
fixas (McCombs et al., 2007; Salmon & Edsiringha, 2008).
A integração de podcasts no ensino é uma abordagem relativamente recente mas as
potencialidades de que se reveste esta ferramenta bem como a facilidade da sua criação têm
atraído profissionais do sector da Educação, que desejam explorar a sua versatilidade e
originalidade no processo de ensino/ aprendizagem. Não é pois de estranhar a multiplicidade
300
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
de estudos (Evans, 2007; Guertin et al., 2007; Lee & Chan, 2007; Aguiar et al, 2008; Carvalho
et al., 2008; Newbutt et al., 2008; Salmon & Edirisingha, 2008; Carvalho & Aguiar, 2009) que
têm sido publicados nos últimos anos e que focam a implementação de podcasts em diferentes
níveis de ensino e áreas do saber. Na Universidade do Minho, uma equipa pluridisciplinar de
docentes tem-se dedicado a tentar implementar podcasts na sua prática docente, no âmbito de
50
um projecto
iniciado em 2007, e cujos objectivos principais passam por tentar implementar
podcasts no ensino universitário e avaliar a sua aceitação como ferramenta pedagógica por
parte de discentes e docentes. Os estudos entretanto realizados têm permitido concluir que os
alunos, independentemente de serem de graduação ou de pós-graduação, se encontram
receptivos à utilização desta tecnologia (Aguiar et al., 2008; Carvalho et al., 2008; Carvalho &
Aguiar, 2009; Carvalho et al., 2009), o que tem dinamizado outros estudos da mesma natureza,
que vão tentando explorar novas potencialidades pedagógicas para tal ferramenta.
A ideia deste trabalho teve a sua génese num convite para uma orientação da Biologia
num estágio de Licenciatura em Línguas Estrangeiras Aplicadas. Dado que os alunos de
Biologia não dispõem praticamente de conteúdos actuais em língua portuguesa (constituindo
isto uma queixa discente recorrente), atendendo a que os materiais de apoio são
invariavelmente fornecidos em inglês e que existem inúmeros conteúdos de grande qualidade e
actualidade em língua inglesa, sem paralelo em português, surgiu a ideia de aproveitar e
adaptar tais materiais, transformando-os em enhanced podcasts, audiocasts ou vidcasts. Os
alunos são activamente encorajados, ao longo de todo o curso, a usarem materiais de apoio
em língua original - sendo a sua grande maioria, no caso da Biologia, em inglês – não só pelo
facto de serem alunos do 3º ano e de um curso de uma área científica mas também porque a
língua inglesa é a língua universal das Ciências e da Tecnologia. No entanto, particularmente
nesta unidade curricular, a terminologia é em muitos casos extremamente específica e não se
encontra em dicionários técnicos, pelo que há frequentemente necessidade do professor
proceder a traduções para familiarizar o aluno com as novas designações,
O primeiro passo consiste na pesquisa, análise, avaliação e selecção dos materiais a
usar, tendo naturalmente em consideração as questões relativas aos direitos de autor, quando
se pretende utilizar/ adaptar materiais já existentes. O passo seguinte centra-se na tradução de
textos (excertos ou capítulos de livros) ou vídeos da área da Biologia, mais concretamente de
Genética Molecular, de inglês para português. A tarefa é realizada por uma das colaboradoras
neste estudo, como já referido no âmbito do seu estágio curricular, onde aplica os
conhecimentos e as técnicas de tradução aprendidas ao longo do seu curso. Em termos de
metodologia, procede-se inicialmente a uma leitura do texto, ou a várias audições do vídeo (de
modo a entender claramente a mensagem), anotando de seguida uma listagem de todos os
termos técnicos e elaborando um glossário desses mesmos termos na versão em Inglês e a
50
Projecto PTDC/CED/70751/2006, financiado pela FCT e integrado no CIEd.
.
301
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
sua correspondência em Português. O glossário obriga a uma pesquisa algo trabalhosa e
morosa, não só pelo facto de existirem frequentemente muitos termos que não têm sequer
correspondência em português como pelo facto da área científica ser completamente
desconhecida para a estudante. Uma vez finalizado o glossário, procede-se então à tradução e
posteriormente à revisão do material escrito. A validação desta tradução é feita quer pela
docente da Biologia quer por uma docente da área das Línguas Estrangeiras Aplicadas.
Quando o trabalho traduzido se destina à criação de um audiocast, procede-se à
51
gravação e edição do texto no software Audacity , após o que se converte para o formato
52
mp3, e se disponibiliza na plataforma Blackboard Academic Suite .
No que concerne ao vodcast, foram utilizados vídeos disponíveis no YouTube ou
fornecidos em formato quicktime como material de apoio aos manuais escolares. Estes vídeos
são descarregados para um formato compatível com o trabalho que se deseja realizar
recorrendo a software de utilização livre (VDownloader
53
54
ou Pazera Free ) para de seguida se
eliminar o áudio (software Solveig Multimedia (http://www.solveigmm.com/)). Segue-se a edição
do vídeo no Movie Maker, que implica unir o filme e a nova gravação áudio (gravação em
português e edição no software Audacity) e posteriormente a criação e introdução dos créditos,
onde consta informação sobre a autoria de ambas versões: original e adaptada. Finalmente,
coloca-se o vodcast na plataforma de e-learning.
Três vidcasts, um audiocast e um screencast foram produzidos no âmbito deste estudo,
sendo disponibilizados na plataforma de e-learning institucional e estando disponíveis apenas
para visualização no âmbito da unidade curricular. A avaliação do seu impacto junto dos 38
alunos a frequentar Genes e Genomas será realizada por recurso ao preenchimento de
questionários. O primeiro, destinado a caracterizar a amostra relativamente ao seu
conhecimento e utilização de ferramentas da Web 2.0, foi já preenchido pelos alunos no início
da unidade curricular. Uma vez concluída a unidade curricular, proceder-se-á à distribuição de
um novo questionário, destinado a auscultar as reacções dos estudantes aos materiais criados
e disponibilizados.
Percepções
A disparidade e ausência de pontos comuns entre as áreas da Biologia, das Línguas e
a Tecnologia, cria algumas dificuldades à realização e desenvolvimento deste projecto,
especialmente a quem tem por tarefa a tradução dos materiais seleccionados para esse efeito.
A ausência de domínio de uma linguagem tão específica como a da Genética, utilizada pelos
51
http://audacity.sourceforge.net/
52
https://elearning2.uminho.pt/webapps/login/
53
http://www.vdownloader.es/
54
http://download.cnet.com/Pazera-Free-FLV-to-AVI-Converter/3000-2194_4-10786669.html
302
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
entendidos da área, e também o desconhecimento das tecnologias necessárias à realização
dos próprios podcasts requerem necessariamente uma equipa familiarizada com estes
saberes. No entanto, são também estes motivos que tornam o projecto inovador e
simultaneamente
um
desafio,
permitindo
também
às
suas
colaboradoras
adquirir
conhecimentos em áreas nunca antes imaginadas, em perfeita sintonia com o novo paradigma
da aprendizagem ao longo da vida.
Alguns comentários dos alunos, ouvidos e registados pela docente em sessões
presenciais, parecem indicar que o projecto tem valido a pena: “finalmente conseguimos perceber
a replicação”, “ouvir a professora a falar disto em português ajudou-me a compreender este assunto”,
“traduzir estas animações foi a melhor ideia deste ano para a disciplina”, “achei muito positiva a ideia da
professora disponibilizar alguns conteúdos dos livros em inglês sob a forma de podcasts e screencasts…
e ainda por cima em português!”.
Considerações Finais
Pese embora a ausência de dados que permitam avaliar esta experiência na
perspectiva dos alunos, e apesar das limitações associadas a um projecto desta natureza pela dificuldade frequente de estabelecer pontes entre áreas tão diversas - reconhece-se que é
precisamente este aspecto que torna a parceria enriquecedora para os elementos da equipa,
tornando-a uma mais-valia.
Referências
Aguiar, C., Carvalho A. A. & Carvalho, J. (2008). Atitudes e Percepções Discentes face à
Implementação de Podcasts na Licenciatura em Biologia Aplicada. Actas do Encontro
Web 2. 0., 191-202. Braga, CIEd.
Carvalho, A. A, Aguiar, C., Carvalho, C. J. & Cabecinhas, R. (2008). Influence of Podcasts
Characteristics on Higher Students' Acceptance. In: C. J. Bonk, M. M. Lee & T.H.
Reynolds (Eds), Proceedings of E-Learn, 3625-3633. Chesapeake: AACE.
Carvalho, A. A. & Aguiar, C. (2009(. Impact of Podcasts in teacher Education: from Consumers
to Producers. Proceedings of SITE, 2473-2480. Chesapeake: AACE.
Carvalho, A. A., Aguiar, C., Santos, H., Oliveira, L. & Marques, A. (2009). Podcasts in Higher
Education: Students’ and Lectures’ Perspectives. IFIP – 9th WCCE (accepted).
Evans, C. (2007). The effectiveness of m-learning in the form of podcast revision lectures in
higher
education. Computers & Education, 1-8
Guertin, L., Bodek, M. J., Zappe, S. & Kim, H. (2007). Questioning the Student Use of and
Desire for Lecture Podcasts. MERLOT – Journal of Online Learning and Teaching, 3(2),
1-9.
303
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Lee, M. and Chan, A. (2007). Reducing the effects of isolation and promoting inclusivity for
distance learners through podcasting. Turkish Online Journal of Distance Education, 8(1),
85-104
Newbutt, N., Flynn, R. & Penwill, G. (2008). Creating a suitable and successful solution for the
integration of Podcasting and Vidcasting in a Higher Education E-Learning Environment.
In G. Richards (d.), Proceedings of World Conference on E-Learning in Corporate,
Government, Healthcare, and Higher Education 2008, 3028-3033, Chesapeake: VA:
AACE.
Salmon, G., Nie, M. & Edirisingha, P. (2007). Informal Mobile Podcasting And Learning
Adaptation (IMPALA). e-Learning Research Project Report 06/07. Beyond Distance
Research Alliance. University of Leicester, 1-89.
McCombs, S., Liu, Y., Crowe, C., Houk, K. & Higginbotham, D. (2007). Podcasting Best
Practice Based on Research Data. In C. Crawford et al. (Eds.), Proceedings of Society for
Information Technology and Teacher Education International Conference 2007, 16041609. Chesapeake, VA: AACE.
McLoughlin, C. & Lee, M. (2007). Listen and learn: A systematic review of the evidence that
podcasting supports learning in higher education. In C. Montgomerie & J. Seale (Eds.),
Proceedings of World Conference on Educational Multimedia, Hypermedia and
Telecommunications 2007, 1669-1677. Chesapeake, VA: AACE.
Salmon, G.& Edirisingha, P. (2008). Podcasting for Learning in Universities. New York: Open
University Press.
304
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcasting no ensino da Física e reforço de aprendizagens de conteúdos
Susana Quadrado
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
[email protected]
João C. Paiva
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
[email protected]
Resumo – A ideia central deste trabalho foi utilizar as TIC e as ferramentas da Web 2.0, em
particular o Podcast, com proveito pedagógico, de forma a contribuir com estratégias para a
resolução de problemas. Partimos do desinteresse e insucesso à disciplina de Física, que
queremos combater de forma criativa e adequada aos nossos tempos. Muitos alunos são
grandes utilizadores do telemóvel e de leitores MP3. Tendo em consideração este facto, é
emergente fazer com que uma ferramenta como o Podcast (entre outras da Web 2.0) entre
no
processo ensino/aprendizagem, reforçando
a aprendizagem de conteúdos e
consecutivamente a melhoria dos resultados e interesses escolares. O Podcasting torna-se
uma ferramenta sedutora para alunos e professores... Apresentamos a intenção de um
estudo de campo que avaliará a forma como o Podcast poderá ou não ampliar a
aprendizagem de alguns conteúdos de Física.
Introdução
Estamos em pleno século XXI, Era da inclusão digital, onde a Internet se consolida
como meio de comunicação massivo e armazenadora de informação, atingindo-se níveis de
globalização da informação sem precedentes históricos. A Web proporciona mudanças no
mundo que nos rodeia a uma velocidade impressionante. Todos os dias surgem variadíssimas
ferramentas que facilitam a nossa forma estar e pensar.
Constata-se que ainda se verificam muitas resistências na utilização das TIC, no
ensino, quer pela falta de formação e motivação dos professores (Paiva, 2002) nestas áreas,
quer pelos recursos existentes e sua utilização, quer por falta de tempo para com os alunos.
Também os alunos se sentem pouco motivados para a utilização das TIC no ambiente da sala
de aula (Paiva, 2003). Apesar de utilizarem apenas algumas ferramentas (ex. comunidades
virtuais, SMS, Mesenger, MP3…) na sua vida social, têm muitas dificuldades em utilizá-las em
ambiente de aprendizagem, que é limitado pelas diferentes regras estabelecidas pelas escolas,
entre outros.
Nem professores nem alunos, poderão utilizar os recursos existentes se não tiverem a
curiosidade de os experimentar para descobrir todas as possibilidades da sua utilização.
305
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Web 2.0 - Podcasting
Durante uma sessão de brainstorming no Media Live International em Outubro de 2004,
Tim O’Reilly (2009) sustentou uma nova definição de Web: a Web 2.0. Um conceito novo que
rapidamente se impôs no nosso quotidiano.
É uma Web colaborativa, participativa, social e flexível, constituída por uma série de
ferramentas apelativas e user frendly, cheias de potencialidades. A Web 2.0 e suas
ferramentas entranharam-se em todas as áreas da sociedade (Barsky e Lindstrom, 2008).
Perante este novo modelo, colocaram-se várias questões. A primeira das quais é:
porque não utilizar estas potencialidades da Web 2.0 na educação? Sabendo que na
actualidade muitos dos alunos são possuidores de telemóveis ou leitores de MP3, com os
quais despendem muito do seu tempo, então porque não aproveitar todo este potencial para o
processo ensino aprendizagem? Estabelecemos a seguinte questão de investigação: Será que
se pode reforçar a aprendizagem de conteúdos no ensino da Física, com o auxílio do
Podcasting?
Intenção de estudo e alguns procedimentos
Os objectivos deste trabalho prendem-se com:
−
Demonstrar que é possível aprender Física com auxílio de Podcasting,
verificando-se consecutivamente se existe ou não melhoria nos resultados escolares dos
alunos;
−
Verificar que o Podcasting é uma das muitas ferramentas da Web 2.0 que se
podem usar em ambiente ensino/aprendizagem, com sucesso, na disciplina de Física;
−
Verificar se os alunos utilizam Podcasting para melhorarem a aquisição,
compreensão e aplicação de conteúdos.
O estudo está a ter como colaboradores e participantes 24 alunos de uma turma do 9º
ano de uma escola pública portuguesa do ensino básico.
A abordagem deste estudo centrou-se no tema “Sistemas eléctricos e electrónicos” do
currículo do 9º ano do ensino básico português, focando principalmente a temática “Circuitos
Eléctricos”.
Como se trata de estudo de dimensões reduzidas, a escolha dos alunos não foi
aleatória mas de conveniência, conferindo-lhe um carácter quase experimental (Carmo e
Ferreira, 1988).
Todos os alunos têm uma idade uniforme, estando mais ou menos estabilizadas as
variáveis faixa etária e escolaridade.
Fez-se um inquérito sobre quantos alunos possuíam leitores Mp3 ou outro tipo de
gadget´s que permitissem ouvir áudio digital, bem como computador e acesso à internet. Todos
os alunos, de uma forma ou outra, eram possuidores de um leitor. Criou-se o blog
“cfqcasting.blogspot.com” para facilitar o acesso aos Podcast e promover o Podcasting no
306
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
ensino, bem como impulsionar o uso de outras ferramentas da Web 2.0, como o blog, no
ensino.
Figura 1. Página do blog CFQcasting
Todos os áudios são do manual digital “9 CFQ – Viver melhor na Terra” da Texto
Editora (Fiolhais et al, 2008). No entanto estes áudios foram ligeiramente modificados, numa
expectativa de os tornar mais apelativos. A sua duração varia entre os trinta segundos e um
minuto e meio. Os diferentes episódios vão desde a explicação formal do conceito, passando
pela sua definição, até à sintetização dos conteúdos. Cremos que este tipo de áudio é
pertinente tendo em conta que se pretende reforçar a aquisição, compreensão e aplicação de
conteúdos, e posteriormente a melhoria dos resultados escolares. Não nos pode escapar o
facto que o professor é o grande mediador no processo ensino/aprendizagem e sem ele, este
não se poderá executar.
A turma em causa foi dividida em dois grupos que coincidiu com a divisão por turnos,
efectuada no âmbito da disciplina Ciências Físico-químicas daquela escola.
Ambos os grupos são submetidos a um pré-teste cujas observações permitem avaliar a
equivalência ou não entre grupos. A ambos os grupos é leccionado o tema – Electricidade pelas pedagogias tradicionais. O grupo experimental tem acesso ao Podcast. O grupo de
controlo não tem acesso ao áudio.
Após uma semana da divulgação dos Podcast, os grupos são submetidos a um pósteste, comparando-se as observações obtidas.
Tanto pré como pós-teste tem a duração de quarenta e cinco minutos cada um. De
referir que ambos tinham a mesma estrutura e conteúdos.
Os Podcast são fornecidos aos alunos, de uma forma controlada/condicionada e os
alunos têm como compromisso ouvi-los as vezes que necessitarem, tirando apontamentos ou
não, no local que desejaram e quando o desejarem. Esta liberdade de escuta, bem como as
circunstâncias em que são ouvidos os Podcast serão alvo de estudo no âmbito de outro
trabalho.
307
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Considerações Finais
O Podcasting não é auto-suficiente e não irá diminuir o papel do professor no ensino da
Física. Este com o seu espírito crítico e discernimento é que deverá gerir da melhor forma o
processo ensino/aprendizagem.
O Podcasting para poder proporcionar um reforço da aprendizagem de conteúdos e
consecutivamente a melhoria dos resultados escolares, deverá ocupar uma posição de
destaque durante o processo ensino/aprendizagem, tornando-se um excelente incentivo à
motivação de professores e alunos. Estamos em crer que este ensaio com os alunos e
respectivo estudo piloto lançarão sementes para intervenções mais profundas e generalizadas.
Referências
Barsky, E. & Lindstrom, K. (2008). Podcasting the Sciences: A Practical Overview. Science and
Engineering Librarian, University of British Columbia.
Carmo, H. e Ferreira, M. (1988). Metodologia da Investigação – guia para Auto-aprendizagem,
Universidade Aberta, Lisboa.
Fiolhais, C., Fiolhais, M., Paiva, J, Gil, V., Morais, C. e Costa, S (2008). Manual Multimédia de
9CFQ Terra no Espaço Terra em Transformação. Ciências Físico-Químicas 9º ano.
Texto Editores. 2008.
O´Reilly, T. (2009) - What Is Web 2.0.
http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html?page=1.
Consultado em 16 de Abril de 2009.
Paiva, J. (2002). As tecnologias da informação e comunicação: utilização pelos professores.
Lisboa: Ministério da Educação.
Paiva, J. (2003). As tecnologias da informação e comunicação: utilização pelos alunos. Lisboa:
Ministério da Educação.
Ramos, I. (2004). Utilização da Tabela Periódica Na Internet com alunos do 9º ano de
escolaridade. Dissertação de Mestrado, Departamento de Química, Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto.
308
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
“Podcast” – Pode o quê?
João Carlos Gonçalves de Matos
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti
&
Escola E.B. 2,3 Dr. Augusto César Pires de Lima - Porto
[email protected]
Resumo – Nesta breve reflexão, darei conta de algumas utilizações de podcasts em
diferentes níveis de ensino; nomeadamente em três cursos de licenciatura na Escola
Superior de Educação de Paula Frassinetti e em quatro turmas de 7º ano do ensino básico,
na Escola E.B. 2, 3 Dr. Augusto César Pires de Lima, no Porto. Os resultados alcançados
apontam para claras vantagens/potencialidades na perspectiva das aprendizagens dos
alunos e para importantes desafios de criatividade sob o ponto de vista pedagógico.
Nesta pequena apresentação, tomo o termo “podcast” como o equivalente ao descrito
em Cruz & Carvalho (2007), isto é, um ficheiro digital, constituído por áudio e/ou vídeo,
disponível, via Internet, para ser acedido e/ou armazenado, quando e onde se desejar, em
qualquer suporte digital, pelo aluno ou pelo professor.
Nos vários contextos das suas utilizações, os podcasts apresentados não se
constituíram apenas como suporte pedagógico para a aprendizagem pretendida, mas sim
como a própria construção do processo para atingir a meta a alcançar. Por essa razão, isto é,
porque o processo de aprendizagem deve ser vivenciado por quem aprende, todos os podcasts
aqui referenciados foram construídos pelos alunos e não para os alunos.
Em todas as situações em que utilizamos o podcast, tivemos presente o princípio da
metodologia activa do “aprender fazendo”, partindo do que se conhece e proporcionando
“aprendizagens significativas” ao aluno (Ausubel:1968). Desta forma, valoriza-se todo o
processo subjacente ao próprio resultado da aprendizagem que vai da teoria à prática e da
prática
à
teoria,
mas
também
o
que
daí
resulta,
sob
o
ponto
de
vista
da
construção/desconstrução do saber num ciclo recorrente que vai da síntese à análise e da
análise à síntese, no sentido de se aperfeiçoar o conjunto de competências a alcançar.
Apesar de se tratar de um conjunto de podcasts distintos, produzidos em diferentes
anos lectivos, em diferentes unidades curriculares e em duas instituições de níveis de
escolaridade diferentes, todos estes podcasts contaram com a orientação do mesmo docente
e, por isso, apresentam algumas características comuns, nomeadamente em termos de:
planificação (todos os podcasts seguiram o mesmo modelo de guia de elaboração);
implementação (todos os podcasts foram orientados e trabalhados em aula e à distância);
309
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
divulgação (todos os podcasts foram gravados em formato mp3/wma e partilhados no Moodle)
e avaliação (todos os podcasts foram objecto de auto e hetero-avaliação formativa e sumativa).
O quadro que se segue apresenta-nos uma visão de conjunto dos dados relativos aos
contextos em que os respectivos podcasts foram implementados na Escola Superior de
Educação de Paula Frassinetti (ESEPF), de 2006-2007 a 2008-2009, e na E. B. 2,3 Dr.
Augusto César Pires de Lima, no Porto, no corrente ano lectivo.
Ano
lectivo
Nível/Ano/Curso
Unidade Curricular
Instituição
Nº
Alunos
Nº
Podcasts
Duração
média
20062007
2º Ano Lic.
Educação Social
Língua e Cultura
Portuguesa II
ESEPF
30
15
45
Segundos
20072008
1º Ano Curso
Licenciatura
Educação Básica
1º Ano Curso
Licenciatura
Educação Social
3º Ano Lic.
Educação de
Infância
7º Ano Ensino
Básico
Técnicas de
Comunicação Oral
e Escrita
Técnicas de
Expressão Oral e
Escrita
Aquisição e
Desenvolvimento
da Linguagem
Língua Portuguesa
ESEPF
134
129
1a2
Minutos
ESEPF
27
21
1a2
Minutos
ESEPF
58
58
5 Minutos
20
30
Segundos
Nível Superior
(3 cursos)
Nível Básico
(7º ano)
5 Disciplinas
243
9 horas
(+ - )
20072008
20082009
20082009
3 Anos
lectivos
E. B. 2,3
99
Dr. ACPL (21 grupos)
2
348
Quadro 1. Podcasts produzidos e respectivos Contextos
Tendo em vista uma melhor referenciação dos vários tipos de podcast produzidos, foi
criado um espaço comum no Moodle55, onde poderão ser consultados livremente.
O primeiro podcast, desenvolvido no âmbito da unidade curricular Língua e Cultura
Portuguesa II (do 2º ano do curso de Educação Social), tinha como tema “Publicidade na rádio”
e pretendia aplicar um conjunto significativo de conteúdos do módulo “Publicidade”, através da
produção de um anúncio publicitário para a rádio. Para além da compreensão e apropriação
dos conteúdos que foram objecto de aplicação directa na construção do próprio anúncio
(estilos e géneros publicitários; estereótipos em publicidade; recursos e estratégias discursivas
do texto publicitário; efeitos áudio e o seu significado; regras de marketing e publicidade; o
público-alvo e as suas crenças; as vozes da rádio e as suas representações; constituintes de
um anúncio publicitário na rádio; especificidade da publicidade na rádio, etc.), os alunos
tiveram oportunidade de vivenciar directamente a construção de um anúncio que, depois de
partilhado na plataforma Moodle, puderam ainda, posteriormente, melhorar e incorporar as
55
http://tic.esepf.pt/moodle/course/view.php?id=52
310
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
sugestões dos colegas e do professor. Os melhores podcasts foram ainda objecto de
referência, noutros anos lectivos e noutros estabelecimentos de ensino.
O segundo e o terceiro podcasts, produzidos em duas unidades curriculares idênticas,
Técnicas de Expressão Oral e Escrita (do 1º ano do curso de Educação Social) e Técnicas de
Comunicação e Expressão Oral (do 1º ano do curso de Educação Básica), tinham como tema
“A educação no meu país” e consistiam numa apresentação oral sobre o assunto, sem
teleponto ou qualquer outro tipo de apoio, no sentido de proporcionar um registo do
desempenho individual do aluno no domínio da expressão oral e um meio de auto e hetero
avaliação de aspectos específicos (elementos verbais e não-verbais) no âmbito da
Comunicação/Expressão Oral. Neste domínio, o podcast foi determinante para a avaliação de
itens como o ritmo, a voz, a dicção, a gesticulação e o contacto visual, entre outros.
O quarto podcast, elaborado na unidade curricular Aquisição e Desenvolvimento da
Linguagem (do 3º ano do curso de Educação de Infância), subordinado ao tema “O reconto de
uma história”, tinha como objectivo a constituição de um corpus oral autêntico que permitisse,
entre outros objectivos, caracterizar o processo de aquisição da língua materna e desenvolver
a capacidade de avaliar as capacidades linguísticas da criança envolvida. Dadas as
características específicas da comunicação e do nível de proficiência linguística das crianças
com idades compreendidas entre os 3 e os 6 anos (Sim-Sim, I. 1998), o podcast revelou-se de
grande utilidade para desambiguar interpretações, transcrever o registo áudio e vídeo e
proceder à sua respectiva análise linguística.
O quinto podcast, desenvolvido na disciplina de Língua Portuguesa (do 7º ano do
Ensino Básico), na sequência da exploração do Programa Media Smart, tinha como tema
“Publicidade na escola” e consistia na construção de um anúncio publicitário (áudio e vídeo) de
promoção à escola. A construção deste podcast proporcionou aos alunos uma “visão” mais
atenta e crítica dos pormenores técnicos responsáveis pela “fabricação” de uma imagem
positiva e apelativa de um produto ou serviço.
De acordo com os resultados obtidos nos diversos contextos experimentados e
segundo a auto e hetero-avaliação formativa e sumativa efectuadas pelo professor e pelos
alunos, os podcasts apresentados revelaram significativas vantagens sob o ponto de vista das
aprendizagens e, por isso, muitas potencialidades pedagógicas. Daí o título desta
apresentação: “Podcast: Pode o quê?”.
Dada a complexidade das competências implicadas na elaboração de um podcast,
quando é criado com um propósito pedagógico, (como é o caso de todos os podcasts aqui
apresentados), o podcast pode constituir-se, em simultâneo, como objecto e como instrumento
de estudo privilegiado em várias matérias curriculares (publicidade, oralidade e linguagem) e
em diferentes níveis de escolaridade (ensino superior e ensino básico).
A construção de um podcast com áudio e vídeo pode motivar o aluno, de forma mais
intensa e justificada, para aprendizagens mais exigentes e menos frequentes como, por
exemplo, o exercício de auto-avaliação do seu desempenho a nível da comunicação e da
311
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
expressão oral.
A possibilidade de segmentar, assinalar, visualizar ou ouvir, vezes sem conta, partes
ou a totalidade do podcast confere a este recurso vantagens em termos reflexivos,
proporcionando ao aluno meios adequados para o treino de procedimentos fundamentais como
a análise e a síntese.
Recorrendo ao podcast, como recurso pedagógico, o aluno pode educar-se visual e
auditivamente (no domínio da publicidade, por exemplo); pode proceder a uma auto-regulação
do seu desempenho linguístico (em termos de comunicação e expressão oral, por exemplo) e,
entre muitas outras possibilidades, pode ainda proceder à análise de produções linguísticas
autênticas, através de um corpus que documenta o desenvolvimento da linguagem (neste caso
de crianças com idades compreendidas entre os 3 os 6 anos), beneficiando assim de um
conhecimento mais adequado do público-alvo com quem pode trabalhar, profissionalmente, no
domínio da Educação de Infância.
De acordo com os contextos e as vantagens/potencialidades dos podcasts aqui
enunciados, o factor diferenciador pela mais-valia deste recurso centra-se na polivalência da
sua aplicação que decorre da multifacetada informação que pode suportar: locuções, músicas,
efeitos sonoros, textos, legendas, imagens, fotos, desenhos, gráficos, tabelas, animações,
vídeos, etc. No entanto, o factor responsável pela dinâmica que proporciona ao aluno a
aprendizagem através do podcast continua a ser a insubstituível qualidade humana do
pedagogo, isto é, a criatividade. Assim, tratando-se da utilização ou da construção de podcasts
em contextos pedagógicos, percebe-se a pertinência de desafios criativos, em ambientes
favoráveis, com intencionalidades bem definidas e vontades mobilizadoras.
URL dos podcasts
http://tic.esepf.pt/moodle/course/view.php?id=52
Referências
Ausubel, D.P. (1968) Educational Psychology: A Cognitive View. New York, Holt, Rinehart and
Winston.
Cruz, S. & Carvalho, A. A. (2007). Podcast: a Powerful Web Tool for Learning History. In
Nunes, M. & McPherson, M. (eds). IADIS International Conference: e-Learning 2007.
Lisbon: Portugal, 313-318.
SIM-SIM, Inês (1998) Desenvolvimento da Linguagem, Lisboa, Universidade Aberta.
312
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
313
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
Podcast e a utilização do Audacity
Adão Sousa
[email protected]
Fátima Bessa
[email protected]
Resumo - Numa abordagem ao uso do som e da voz humana na rede mundial, a
génese do conceito de podcasting, a tecnologia de “Feeds / RSS”, e agregadores de
podcast são elementos essenciais para fazer um enquadramento da utilização deste
recurso. Feita a introdução ao tema, referem-se alguns servidores de podcast
disponíveis na Web e as suas potencialidades na aplicação a práticas educativas, tendo
como ponto de referência o Podomatic como um espaço de publicação de podcast.
Assim, neste capítulo é feita uma abordagem à criação de um podcast e de um
episódio, através de quadros informativos, no sentido de facilitar ao utilizador a
exploração desse serviço Web 2.0. Para a operacionalização de uma experiência de
publicação alternativa de podcast, tendo em vista uma produção mais cuidada e
personalizável, apresenta-se a ferramenta de gravação e edição de áudio Audacity
como um bom exemplo de apropriação de software gratuito, passando-se a um conjunto
de indicações sobre a forma como operar com este software, nomeadamente na
inserção de fundo musical como suporte ao discurso verbal, no sentido de tornar mais
perceptíveis e, simultaneamente, mais atractivos os documentos áudio produzidos.
Introdução
A origem do termo e do conceito podcast encontra-se no ano de 2004, tendo em conta
que terá sido o jornalista Bem Hammersley a escrever, pela primeira vez, o termo podcasting
num artigo para o jornal inglês The Guardian, referindo-se à técnica até então usada de
publicar registos áudio nos blogues. Este malabarismo linguístico resultou da junção de iPod +
broadcasting e a ideia foi aproveitada pelo DJ Adam Curry para criar o primeiro agregador de
podcast, através da tecnologia RSS 2.0, com a ajuda de Dave Winer, disponibilizando o seu
código de modo a que outros o pudessem utilizar, adaptar e fazer evoluir.
Desde então, os utilizadores da Web, tendo consciência de que a voz humana é um
elemento mais conectivo para as pessoas, têm vindo a interessar-se por este processo de
produção e publicação on-line de registos áudio, quer através da criação de rádios Web quer
pela simples publicação on-line da voz com fins educativos, formativos, jornalísticos, etc.
Em suma, o Podcasting consiste na publicação de conteúdos áudio na internet, que
ficam disponíveis, através da subscrição de “Feeds / RSS”, para serem descarregados para
314
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
agregadores, como o iTunes, ou para outros dispositivos
dispositivos móveis como telemóveis, iPods, etc.,
propiciando a sua audição sem restrições ao lugar ou ao momento.
Entretanto, com o despoletar da Web 2.0, têm aparecido inúmeros servidores de
podcast, como Podomatic, Podpress, MyPodcast, Gabcast, Podbean, Gcast e outros, fazendo
com que a produção e publicação destes documentos áudio se torne cada vez mais fácil, uma
vez que não requerem do utilizador elevadas competências técnicas.
Através desses servidores, é possível efectuar uma gravação directamente sem
se a
intervenção de nenhum software instalado no computador. Porém, para realizar uma gravação
de podcast mais exigente, ainda que sempre num ambiente amador, existem algumas
ferramentas de gravação e edição áudio, como o Audacity, o Wavosaur ou o Pod Producer
Produ
que, estando disponíveis para download gratuitamente, são um óptimo recurso para realizar
podcast, necessitando o utilizador de apenas algumas indicações e um pouco de paciência
para explorar essas ferramentas.
Podomatic
O PodOMatic (http://www.podoma
http://www.podomatic.com)) é um serviço que se insere no âmbito da
Web 2.0, servindo essencialmente para criar uma página on-line
on line de distribuição de conteúdos
áudio.
Figura 1. Logótipo do PodOMatic
Neste espaço tanto é possível alojar ficheiros áudio previamente gravados com o
auxílio de um qualquer programa de edição de som, como se pode realizar a gravação de
registos áudio directamente na página, apenas com o auxílio de um microfone, sem haver
necessidade de ter instalado no computador qualquer software de gravação e edição
ed
áudio.
Para além disso, o PodOMatic mostra estatísticas sobre o número de assinantes de
cada podcast e visitantes da página de apresentação, oferecendo, na versão gratuita, um
espaço de 500 MB para os podcasts, além de um tráfego mensal (de download do áudio) de 15
GB.
Assim, o PodoMatic apresenta-se
apresenta se como uma espécie de Blogue ou Audioblogue, um
espaço onde o utilizador reúne todos os seus podcasts, podendo associar-lhes
associar lhes imagem e texto.
Criação de um Podcast
Criar um podcast no PodOMatic é uma tarefa
tarefa fácil, que, à semelhança de qualquer
ferramenta da Web 2.0, requer uma inscrição como primeiro passo.
315
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Figura 2. Registo no PodOMatic
Assim, depois de criada uma conta, o utilizador poderá configurar o seu espaço,
colocando
uma
foto
identificadora,
personalizando
o
layout
usando
os
templates
disponibilizados ou as suas próprias imagens.
Figura 3. Escolha de um template
A partir daqui, já é possível começar a gravar um podcast (episode), devendo antes ser
dado um título e uma etiqueta (tag) com palavras-chave
chave e realizada uma breve descrição ou
comentário. Também há a possibilidade de inserir uma imagem ilustrativa do arquivo áudio.
316
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
XXXX
XXXX
XXXXXXXXXXXXX
Figura 4. Criação de um episódio de podcast
Depois de configurado o microfone, seleccionando a redução de eco,
e
inicia-se a
gravação em “Record”, termina-se
termina
com “Stop record”, ouve-se
se em “Preview” e, de seguida,
publica-se
se em “Post Episode”.
No entanto, esta ferramenta nem sempre funciona da melhor maneira, pelo que é
aconselhável optar pelo método de pré-gravação,
pré
ão, utilizando um programa de gravação e
edição de som que, entre outras vantagens, oferece a possibilidade de apresentar uma melhor
qualidade sonora do podcast.
Audacity
Para
isso,
vamos
utilizar
o
software
open
source
Audacity
(http://audacity.sourceforge.net/
http://audacity.sourceforge.net/)) que, como editor de áudio, possui recursos bastante
apreciáveis, tais como Copiar, Recortar, Colar, Misturar; adicionar efeitos de amplificação, fade
in e out, reverberação, eco, e faz tratamento do som
s
ao nível da equalização.
Figura 5. Logótipo do software Audacity
317
Carvalho, Ana Amélia A. (Org.) (2009). Actas do Encontro sobre Podcasts. Braga: CIEd.
__________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Iniciar a gravação de um ficheiro áudio
Gravação simples
No menu Arquivo, cria-se
cria se um Novo projecto e logo temos a janela pronta para a
gravação. Para isso, depois de conectado um microfone
microfone na respectiva entrada do computador
ou utilizando o microfone incorporado (no caso dos computadores que possuem esta
funcionalidade), passamos a gravar o texto que nos interessa para o podcast, pressionando o
botão vermelho redondo (Gravar).
Finalizamos
amos a gravação