Editora Poisson
Educação no Século XXI
Volume 10
1ª Edição
Belo Horizonte
Poisson
2019
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade
Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais
Ms. Davilson Eduardo Andrade
Msc. Fabiane dos Santos Toledo
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy
Ms. Valdiney Alves de Oliveira – Universidade Federal de Uberlândia
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
E24
Educação no Século XXI - Matemática – Volume
10/ Organização Editora Poisson – Belo
Horizonte - MG: Poisson, 2019
153p
Formato: PDF
ISBN: 978-85-7042-087-9
DOI: 10.5935/978-85-7042-087-9
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
1. Educação 2. Tecnologia. I. Título
CDD-370
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de
responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores
www.poisson.com.br
[email protected]
SUMÁRIO
Capítulo 1: Modelagem matemática na educação básica: Uma proposta de análise do
currículo construído na interação do processo de ensino e aprendizagem ..................... 6
Derli Kaczmarek, Dionísio Burak
Capítulo 2: Alfabetização matemática na perspectiva do letramento: Alguns
apontamentos a partir do pacto nacional pela alfabetização na idade certa ................... 12
Bruna Albieri Cruz da Silva, Josiane Faxina, Michele de Souza Moraes
Capítulo 3: Professoras dos anos iniciais do ensino fundamental e suas relações com o
ensino de matemática .............................................................................................................................. 19
Manoel dos Santos Costa, Joemilia Maria Pinheiro Almeida
Capítulo 4: Formação de professores que lecionam matemática para os anos iniciais:
Um estudo acerca de conhecimentos das estruturas aditivas e do seu ensino .............. 26
Elys Vânny Fernanda Rodrigues de Oliveira, Angélica da Fontoura Garcia Silva
Capítulo 5: Um estudo sobre as concepções de professores do Ensino básico em relação
à Aleatoriedade ........................................................................................................................................... 36
Marcelo Rivelino Rodrigues
Capítulo 6: Um problema no ensino da matemática: O aprendizado das frações ........ 44
Maria Inmaculada Chao Cabanas
Capítulo 7: Uma análise acerca da produção de conjecturas e provas matemáticas de
alunos do 8° ano do ensino fundamental ........................................................................................ 58
Liana Krakecker, José Luiz Magalhães de Freitas
Capítulo 8: A resolução de problemas no contexto da álgebra elementar: Uma
investigação dos saberes e das práticas do professor de matemática de 7º e 8º anos do
ensino fundamental .................................................................................................................................. 68
Valquírio Firmino da Silva, Gilberto Francisco Alves de Melo
Capítulo 9: Identificação da grandeza área em livro didático do 9º ano do Ensino
Fundamental numa perspectiva didática-praxeológica ............................................................ 75
Edmundo Silva Guerra, Marcella Claudia Barbosa da Silva, Jorge Henrique Duarte
SUMÁRIO
Capítulo 10: Origami: O uso como instrumento alternativo no ensino da geometria
............................................................................................................................................................................ 83
Aline Claro de Freitas Abucarma, José Roberto Nogueira
Capítulo 11: Ensino de geometria como temática de uma formação continuada ........ 93
Waléria de Jesus Barbosa Soares, Carlos André Bogéa Pereira
Capítulo 12: Resultados Finais de uma atividade diagnóstica sobre conhecimentos
geométricos de alunos do 6º ano do ensino fundamental ....................................................... 101
Geovana Raquel Pereira da Silva, Luana Cardoso da Silva, Cristiane Fernandes de Souza
Capítulo 13: Ensino da matemática no século XXI: Desafios e possibilidades .............. 109
Maria de Fátima Caldas de Figueirêdo
Capítulo 14: O surgimento de um jogo didático e suas contribuições na formação de
professores: Decimando ......................................................................................................................... 117
Flávia Streva Nunes, Gabriela Felix Brião
Capítulo 15: Educação financeira nos anos iniciais do ensino fundamental sob o olhar da
inclusão .......................................................................................................................................................... 125
Barbara Cristina Mathias dos Santos, Luciana Troca Dantas, Chang Kuo Rodrigues
Capítulo 16: Softwares matemáticos na prática pedagógica: Uma reflexão sobre o uso
em escolas públicas ................................................................................................................................... 132
Ana Cristiane de Sousa, Ruth Brito de Figueiredo Melo
Capítulo 17: Gincana de matemática: Uso de kits educacionais conforme habilidades da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ...................................................................................... 138
Jerônimo Freire Silva
Autores: ........................................................................................................................................................ 146
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 1
Modelagem matemática na educação básica: Uma
proposta de análise do currículo construído na
interação do processo de ensino e aprendizagem
1
Derli Kaczmarek
Dionísio Burak
Resumo: Este artigo apresenta o projeto de pesquisa de doutorado, inicialmente
intitulado Modelagem Matemática: uma análise do currículo construído na interação do
processo de ensino e aprendizagem, que tem como objetivo analisar as possibilidades e
desafios frente a um currículo construído com o uso da Modelagem Matemática.
Pretendemos buscar respostas para saber: “qual é a relação entre o currículo escolar
oficial para o 6º ano do Ensino Fundamental e o currículo construído com o uso da
Modelagem Matemática, no âmbito da Educação Matemática?”. Para isso, faremos uso
das contribuições das pesquisas pós-modernas curriculares a partir dos referenciais
teóricos de Doll Jr (1997). Silva (2013), Silveira (2007), entre outros. A Modelagem será
desenvolvida de acordo com a concepção de Burak (2010).
A metodologia de
investigação assumida será de cunho qualitativo. Os sujeitos da pesquisa serão os
estudantes de 6º ano do Ensino Fundamental regular de uma escola pública municipal.
Para a coleta de dados serão consideradas as atividades desenvolvidas durante as aulas,
vídeos das atividades realizadas, questionários, observações e registros no diário de
bordo.
Palavras-chave: Educação Matemática. Modelagem Matemática. Currículo Pós-Moderno.
6
1
Artigo apresentado na íntegra no XX EBRAPEM – Encontro Brasileiro de Estudantes de Pos-Graduaçao em Educaçao
Matematica.
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
Indiscutivelmente, quadro de giz e livro didático representam grandes recursos auxiliares da prática
docente. Contudo, podemos observar que os estudantes, seduzidos pela era virtual, preferem digitar a
escrever, ouvir a fazer leitura e mandar mensagens a falar e interagir. Diante desse cenário, fazer com que
a escola desperte o desejo de aprender se torna um grande desafio para aqueles que acreditam que “se a
educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. (FREIRE, 2000).
Surge então uma dúvida: Como ensinar a Matemática, ciência milenar desenvolvida pelo homem para
ajudá-lo na descoberta e conquista do mundo, despertando o fascínio de aprendê-la, numa geração repleta
de facilidades e encantos virtuais? Esse é um grande desafio encontrado na prática de muitos docentes.
Nesse sentido, estudos e pesquisas têm buscado apontar formas de dinamizar o ensino nas suas diversas
áreas. A resolução de problemas, o uso das tecnologias da informação e comunicação, a etnomatemática, a
história da matemática, o uso de jogos e a Modelagem Matemática são alguns exemplos de propostas
metodológicas que visam à melhoria do ensino e aprendizagem da Matemática e, de acordo com as
Diretrizes Curriculares da Educação do Estado do Paraná, deverão fundamentar a prática docente.
(PARANÁ, 2008).
Para Burak (2010), a forma de conceber a Modelagem, construída ao longo de sua carreira como docente e
pesquisador pode diferir de outros autores e de outras visões de ciência, mas atende aos objetivos de se
trabalhar com a Modelagem como uma metodologia de ensino para a Educação Básica. Essa visão é
sustentada pelas teorias construtivista, sociointeracionista e de aprendizagem significativa e, em uma
visão epistemológica de Ciência que se alinha às perspectivas dos paradigmas: pós-moderno, a partir dos
estudos de Santos (2006) e do pensamento complexo, na perspectiva de Morin (2006). Esta maneira de
conceber a Modelagem é entendida em uma perspectiva de Educação Matemática, cuja natureza
contempla diversas áreas do conhecimento, dentre as quais, além da Matemática, a Psicologia, a
Sociologia, a Filosofia, a Antropologia e a Língua Materna, que se alinha aos paradigmas das Ciências
Humanas e Sociais.
Na pesquisa de mestrado buscamos, a partir do referencial Vygotskyano, analisar as ações e interações dos
estudantes durante a realização das atividades com Modelagem. Observamos, por exemplo, que houve o
favorecimento do diálogo reiterando a comunicação como instrumento de mediação entre o social e o
individual e, também da troca e colaboração com o outro mais experiente, além da possibilidade de
internalização de conceitos através do enfrentamento de situações adversas, da aprendizagem
possibilitando o desenvolvimento da sociabilidade e da manifestação da emancipação e da autonomia por
meio da escolha do tema, da constituição dos grupos, da construção dos problemas e das estratégias de
solução desses problemas. Basicamente, as ações e interações decorrentes da Modelagem Matemática,
evidenciaram os postulados de Vygotsky para a criação de “uma escola em que as pessoas possam dialogar
discutir, duvidar, questionar e compartilhar saberes. Onde há espaço para as contradições, para a
colaboração mútua e para a criatividade”. (REGO, 2000, p.118).
Uma das inquietações que nos acompanhou durante a realização das atividades com Modelagem, também
pela cobrança dos colegas, diz respeito à questão curricular e, conforme já apontado por Burak e Aragão
(2012, p.90), a escolha do tema por parte dos estudantes causa “temor por suscitar dúvida se há
matemática no tema e, ainda, qual matemática poderá ser desenvolvida”.
Mesmo após vivenciar a aumento do interesse e envolvimento dos estudantes na realização das atividades
de Modelagem, era grande o desconforto toda vez que era questionada pelos colegas sobre qual conteúdo
estava trabalhando e qual seria o próximo: Quando você vai trabalhar equação de segundo grau? Você sabe
que eles precisam desse conteúdo no Ensino Médio!
Sabemos que a preocupação com a apresentação prévia dos conteúdos a serem trabalhados limita
consideravelmente as possibilidades de uso da Modelagem na Educação Básica. Por outro lado, conteúdos
já estudados pelos estudantes são utilizados atribuindo-lhes muito mais sentido e significado e pode,
ainda, surgir a necessidade de que novos conteúdos sejam trabalhados no desenvolvimento das
atividades. De forma muito mais expressiva do que numa aula tradicional, a interação entre os próprios
estudantes e os estudantes e o professor, possibilita e amplia a percepção sobre as dificuldades individuais
e coletivas dos estudantes.
Face ao exposto estabelecemos como questão norteadora da nossa pesquisa de doutorado: qual é a
relação entre o currículo escolar oficial para o 6º ano do Ensino Fundamental e o currículo construído com
o uso da Modelagem Matemática, no âmbito da Educação Matemática?
7
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
2. JUSTIFICATIVA
Em nossa prática percebemos que bimestralmente, trimestralmente ou semestralmente (depende de
como a escola distribui o período letivo) o professor precisa apresentar um planejamento prévio dos
conteúdos a serem trabalhados. Como professores, planejamos os conteúdos a serem ensinados, definimos
os objetivos, os encaminhamentos e a avaliação utilizando os documentos oficiais (Parâmetros
Curriculares Nacionais, Diretrizes Nacionais e/ou Estaduais e Municipais e outros), ou seja, fazemos uso
de um aparato de documentos técnicos e teóricos com a intenção de cumprir com um currículo destinado
a construção do conhecimento para crianças e adolescentes.
O currículo representa, portanto, um instrumento pelo qual a escola pode contribuir para que a realidade
do mundo contemporâneo seja refletida e transformada. As indagações presentes nas escolas mostram a
consciência de que os currículos não são conteúdos prontos a serem passados aos alunos, mas uma
construção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas em contextos de dinâmicas sociais, políticas
e culturais, intelectuais e pedagógicas. “As indagações revelam o entendimento de que os currículos são
orientados pela dinâmica da sociedade”. Cabe a nós, como profissionais da Educação, encontrar respostas.
(BRASIL, MEC, SEB, 2007, p.9).
Encontrar respostas para nossas indagações é nosso intuito, ainda que elas conduzam sempre a mais
questionamentos. E nesse sentido, acreditamos contribuir com as pesquisas voltadas para o processo de
ensino e aprendizagem fazendo uso das discussões curriculares pós-modernas para investigar o currículo
construído em atividades de Modelagem, na perspectiva da Educação Matemática, a partir da escolha de
tema pelos estudantes e do trabalho em grupo. Conforme apontado por Silva (2013, p.231) “as discussões
teóricas curriculares pós-modernas restringem-se quase que totalmente à linha de Educação, tendo pouca
ou nenhuma repercussão nas investigações em Educação Matemática”. A nossa pesquisa se justificará por
buscar contribuições teóricas contemporâneas do campo de pesquisa curricular na Educação Matemática,
em especial, com o uso da Modelagem, representado um diferencial nos estudos nessa linha.
3. REVISÃO DE LITERATURA
Estudos realizados mostram que, a insegurança pela possibilidade de não ter domínio sobre o que pode
acontecer (ANASTÁCIO, 1990; BARBOSA, 2001; BURAK, 1987); a preocupação em cumprir o conteúdo
(ANASTÁCIO, 1990; BURAK, 1987; BURAK, 1992; DIAS, 2005; FIDELIS, 2005; LUZ, 2003; MARTINELLO,
1994); a preocupação com a reação dos pais (BARBOSA, 2001; BURAK, 1992); a insegurança diante do
novo (BURAK, 1987; BURAK, 1992; CALDEIRA, 1998; DIAS, 2005; GAVANSKI, 1995; GAZZETTA, 1987) e
com os objetivos diferentes dos da instituição (FIDELIS, 2005; ROMA, 2003) são alguns dos “principais
pontos negativos explicitados pelos professores cursistas para justificar a não adoção da Modelagem
Matemática nas suas práticas de sala de aula, ou suas dúvidas sobre a mesma”. (SILVEIRA, 2007, p.100101). Em nosso entendimento, esses pontos negativos se relacionam diretamente com a preocupação
sobre o conteúdo curricular a ser trabalhado com os estudantes.
Em análises realizadas na busca de elaborar Uma Metacompreensão Da Modelagem Matemática Na
Educação Matemática, Klüber (2012) questiona: Em que sentido se deve assumir a Modelagem Matemática?
Condicionando-a à estrutura escolar e às concepções vigentes ou contrapondo-se a elas, para chegar a outras
compreensões de escola e de currículo? (KLUBER, 2012, p.149). Ainda segundo o autor, “Ao assumir a
Modelagem Matemática na Educação Matemática, mudanças curriculares se impõem”. (idem, p.154).
Os pontos citados anteriormente e a experiência vivida com a utilização da Modelagem sinalizam que, a
preocupação com o cumprimento dos conteúdos curriculares representa um campo conflitivo no
desenvolvimento da Modelagem que necessita ser mudado. Gamboa (2012, p. 133) nos lembra de que
para entender a escola é necessário investigar sua dinâmica e diagnosticar suas possibilidades de
mudança. “Assim, a pesquisa se converterá num instrumento eficiente para a ação inovadora ou
transformadora da educação”.
Entendemos ser importante vencer a barreira epistemológica e a forma estrutural de organização do
sistema escolar atual no trabalho que envolve a Modelagem na Educação Matemática, com vistas a ganhos
pedagógicos. Tal desafio encontra embasamento nos documentos oficiais. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Matemática – PCNs foram elaborados em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, Lei 9.394/96 – LDB que preconiza, para a formação básica do cidadão no que se refere ao
Ensino Fundamental, “o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno
domínio da leitura, da escrita e do cálculo” (BRASIL, 2002, p.37) e amplia essas prerrogativas para que
esses conhecimentos sejam consolidados no Ensino Médio.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
No que se referem aos princípios norteadores, os PCN’s enunciam que a Matemática é importante para a
construção da cidadania e deve ser democratizada pelos docentes de modo que a aprendizagem ocorra
pelo caminho da construção e compreensão. Para isso, a seleção e o tratamento dos conteúdos não devem
ser encaminhados linearmente, a partir da lógica interna da Matemática, mas considerando os aspectos
filosóficos, científicos e sociais referentes ao contexto de sua construção.
Os PCN’s indicam a Resolução de Problemas, a História da Matemática e as Tecnologias da Comunicação
como caminhos para “fazer Matemática” na sala de aula. Apontam também a importância de estabelecer
conexões entre os blocos de conteúdos, entre a Matemática e outras áreas do conhecimento e suas
relações com o cotidiano (Meio Ambiente, Saúde, Pluralidade Cultural, Ética etc).
Dessa forma, um desafio que se apresenta é o de identificar quais conhecimentos, competências, hábitos e
valores são socialmente relevantes e contribuem para o desenvolvimento intelectual dos estudantes.
Nesse contexto, as investigações desenvolvidas em áreas como a da Modelagem e da Etnomatemática,
também são possibilidades que podem e devem ser consideradas.
A Modelagem Matemática tem se ampliado nas discussões entre educadores matemáticos, e é considerada
uma tendência metodológica em Educação Matemática nas próprias Diretrizes Curriculares do Estado do
Paraná – DCE, 2008. De acordo com este documento, os conteúdos de matemática devem ser abordados
por meio da resolução de problemas, modelagem matemática, mídias tecnológicas, etnomatemática,
história da matemática e investigação matemática, que irão fundamentar a prática docente de modo que
essas tendências metodológicas “[...] têm grau de importância similar entre si e complementam-se umas às
outras.” (PARANÁ, 2008, p. 63).
No que se refere ao currículo, as abordagens teóricas curriculares contemporâneas são amplamente
debatidas por muitos educadores, contudo “não observamos a mesma proporção de pesquisas quando
olhamos as realizadas em Educação Matemática, principalmente no Brasil”. (SILVA, 2013, p. 205).
Para compreendermos as mudanças ocorridas na concepção de currículo, Silva (2013) discute as teorias
tradicionais; as teorias críticas e as teorias pós-críticas. Segundo o autor, em relação ao currículo, ao
contrário da teoria crítica que surgiu como um questionamento da teoria tradicional, a teoria pós-crítica
surgiu pelas contribuições decorrentes dos estudos pós-estruturais do currículo que iniciaram na década
de 1970 e ganharam força na década seguinte. A valorização do conhecimento matemático historicamente
construído ganhou, dessa forma, sustentação nas teorias pós-críticas, mais especificamente, no conceito de
currículo pós- moderno. A partir dessas discussões, Silva (2013) apresenta as principais características do
período moderno e pós-moderno:
Quadro 1: Principais características do currículo no modernismo e no pós-modernismo
Modernismo
Fins são externos ao processo.
Ênfase na descoberta, não na criação.
Pós-Modernismo
Fins surgem do próprio processo.
Ênfase na criatividade, não na descoberta.
Disposição em rede: objetivos, seleção e direcionamento de
Ordenamento linear: objetivos preestabelecidos,
experiências são hipóteses que deverão ser reconstruídas e
seleção e direcionamento de experiências, avaliação.
negociadas durante o processo. A avaliação direciona esta
reconstrução e negociação.
Distinção entre objetivos educacionais e objetivos
Os objetivos educacionais e curriculares são sintonizados e
curriculares.
direcionados para a comunidade na qual serão aplicados.
O conhecimento é transmitido, transferido.
O conhecimento é transformado.
SILVA, 2013, p.217
Percebemos uma grande similaridade entre as exigências atuais, em relação ao planejamento escolar, com
as características do modernismo, ainda que o discurso educacional seja voltado às características do pósmodernismo. No entanto, na realização da Modelagem com nossos estudantes vivenciamos as
peculiaridades de um currículo criador e desenvolvedor. Para Doll Jr (1997, p.29) estes são os diferenciais
de um currículo do pós-modernismo, ou seja, um currículo “não em termos de conteúdos ou materiais
(uma “pista-a-ser-corrida”), mas em termos de processo, um processo de desenvolvimento, diálogo,
investigação, transformação”,
Em estudos envolvendo o cotidiano escolar e os currículos reais, Ferraço (2000) percebe na complexidade
da dinâmica de produção de conhecimentos o cruzamento das sombras modernas e pós-moderna. A partir
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
de suas análises, o autor atenta para a extrema necessidade de pensar e teorizar o currículo não somente a
partir da perspectiva da prescrição, mas especialmente a partir do que é de fato realizado nas salas de
aula. O currículo prescritivo enseja uma prática educacional de abordagem totalizadora e homogênea, por
outro lado, os currículos reais, realizados, almejam uma abordagem plural, multirreferencial, que
considere também o imprevisto como seu determinante.
Corroboramos com os autores sobre a necessidade da ampliação dos estudos à cerca das questões
curriculares no campo da Educação Matemática e, nesse sentido desejamos fazê-lo sob a ótica da
Modelagem Matemática. Desta forma, estaremos contribuindo para “um processo que chamamos de
desconstrução-reconstrução necessário para a sistematização e consolidação desta subárea da Educação
Matemática em um campo de pesquisa frutífero e com identidade própria”. (SILVEIRA, 2007, p.110). Para
isso, entendemos que as discussões a respeito das características de um currículo pós-moderno, tal como
apresentado pelo autor, podem trazer grandes contribuições para preenchermos as lacunas que
alimentam a insegurança dos professores na persistência do cumprimento de um currículo “engessado”
em detrimento das possibilidades enriquecedoras advindas do uso da Modelagem.
Vale ressaltar que as pesquisas sobre a Modelagem Matemática sugerem a sua implementação curricular
nos diversos níveis de ensino, contudo não encontramos nenhuma pesquisa que apresente uma
abordagem sobre o currículo, na perspectiva pós-moderna, construído no interior da Modelagem,
especialmente na Educação Básica.
No estudo realizado por Siveira (2007) sobre Modelagem Matemática na educação no Brasil, o autor
aponta a falta de subsídios para que possamos entender por que, mesmo mostrando abertura e otimismo
quanto aos trabalhos, poucos professores a efetivam em sala de aula. Nosso pensamento converge com o
autor a respeito de que rumos mais definidos sejam traçados, somando esforços em todos os níveis da
educação brasileira, “Aí sim, acreditamos que, à medida que o professor tomar conhecimento de novas
formas de diversificar a sua prática pedagógica, ele terá mais tranquilidade e coerência para decidir se
quer ou não aderir”. (SILVEIRA, 2007, p.104).
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com vistas a desvelar “qual é a relação entre o currículo escolar oficial, para o 6º ano do Ensino
Fundamental e o currículo construído com o uso da Modelagem Matemática, no âmbito da Educação
Matemática?” elencamos como objetivo central de nossa pesquisa avaliar as possibilidades e desafios
frente a um currículo construído com o uso da Modelagem Matemática.
Como objetivos específicos, pretendemos comparar e ponderar sobre os conteúdos matemáticos
propostos no currículo regular de Matemática do 6º Ano do Ensino Fundamental e o currículo construído
e mediado pelas atividades de Modelagem Matemática na Educação Matemática, a partir de temas de
escolhas dos estudantes; e, apontar e ponderar a natureza dos possíveis ganhos com o uso da Modelagem
para o processo de ensino e aprendizagem da Matemática.
Para a coleta de dados serão utilizadas as atividades realizadas pelos estudantes, além de vídeos,
questionários e registros realizados pela professora-pesquisadora durante as aulas de matemática
utilizando-se a Modelagem Matemática como metodologia de ensino. Os sujeitos da pesquisa serão os
estudantes de 6º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública da rede municipal de ensino de
Araucária.
A metodologia de investigação é de cunho qualitativo, pois compartilha as características apresentadas
por Bogdan & Biklen (1994), entre as quais, acontece em um ambiente natural; o investigador vai ao local
dos participantes para recolher os dados com mais detalhe; é interpretativa, descritiva e indutiva, pois o
investigador faz uma interpretação dos dados, descreve os locais, os participantes e analisa os dados para
configurar temas ou categorias e retirar conclusões; não há a preocupação em arranjar dados ou evidência
para provar ou rejeitar hipóteses e é significativa - é uma preocupação essencial na abordagem qualitativa.
O investigador está preocupado em saber como diferentes pessoas fazem sentido ou dão significado às
suas vidas e quais são as perspectivas pessoais dos participantes. O investigador qualitativo preocupa-se
mais com o processo do que com os resultados.
Nesse sentido, nossa pesquisa que está em fase de coleta de dados, visa contribuir com as discussões
curriculares no processo de ensino e aprendizagem de Matemática na Educação Básica. Pretendemos dar
vazão e ampliar os horizontes pesquisados da Modelagem Matemática, considerando a possibilidade de
superação da preocupação com o cumprimento do conteúdo curricular previsto, por meio da participação
10
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
dos estudantes na construção do mesmo. Dessa forma, propomos contribuir com as reflexões sobre a
organização curricular do ensino de Matemática à luz das possibilidades decorrentes da Modelagem
Matemática.
REFERÊNCIAS
[1]
142 p.
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[2]
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Doutorado, FE/UNICAMP. Campinas, 1992.
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Burak, D. ; Aragão, R, M .R de. . A modelagem matemática e relações com a aprendizagem significativa. - 1.ed.
– Curitiba, PR: CRV, 2012, 129p.
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Burak, D. Uma perspectiva de modelagem matemática para o ensino e a aprendizagem da matemática. In:
BRANDT, Célia Finck; BURAK, Dionísio; KLÜBER, Tiago Emanuel (Org.). Modelagem Matemática: Uma perspectiva
para a Educação Básica. Ponta Grossa: Uepg, 2010. Cap. 1. p. 15-38.
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Scientiae (ULBRA), v.10, p. 93-106, jul-dez., 2008.
[7]
Doll JR., W. E. Currículo: uma perspectiva pós-moderna. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
[8]
Ferraço, C. E. Cotidiano escolar e currículos reais.: sobre a complexidade das redes de saberes produzidas e
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[9]
Freire, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
[10]
Gamboa, S. S. Pesquisa em educação: métodos e epistemologia. 2. ed. - Chapecó: Argos, 2012.
[11]
Kaczmarek, D. Modelagem no ensino da Matemática: Um viés na ação e interação do processo de ensino e
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[12]
Klüber, T. E. Uma metacompreensão da modelagem matemática na educação matemática. Tese (Doutorado).
Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Florianópolis, SC, 2012.
[13]
Klüber, T.E.; Burak, D. A Fenomenologia e suas contribuições para a Educação Matemática. Práxis Educativa,
Ponta Grossa, PR, v. 3, n. 1, p. 95 - 99 jan.-jun. 2008.
[14]
Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática. Secretaria do Estado da Educação do
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Departamento
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Educação
Básica.
Paraná,
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[15]
Rego, T.C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 10. ed., 2000.
[16]
Silva, M. A. Contribuições Contemporâneas para as Discussões Curriculares em Educação Matemática: a
teoria crítica pós-moderna. ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.6, n.1, p. 205-233, abril
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[17]
Silveira, E. Modelagem Matemática em Educação no Brasil: entendendo o Universo de Teses e Dissertações.
Curitiba, 2007, 197p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.
11
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 2
Alfabetização matemática na perspectiva do
letramento: Alguns apontamentos a partir do pacto
nacional pela alfabetização na idade certa
Bruna Albieri Cruz da Silva
Josiane Faxina
Michele de Souza Moraes
Resumo: A alfabetização matemática trabalhada nos três primeiros anos do Ensino
Fundamental assume relevante papel, pois servirá como base para a aprendizagem nos
anos seguintes de escolarização. Nessa perspectiva, o presente artigo tem por objetivo
analisar e discutir alguns apontamentos trazidos pelo Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa quanto a propostas de utilização de recursos como os diversos gêneros
textuais, jogos e resolução de problemas, na busca por uma alfabetização matemática na
perspectiva do letramento. Após uma análise documental do material apresentado pelo
programa, verificou-se que para uma alfabetização matemática na perspectiva do
letramento, os diversos gêneros textuais podem ser um forte aliado para a compreensão
da função social da matemática. O uso da resolução de problemas, bem como dos jogos,
também contribui para uma aprendizagem com significações próprias, que possibilitam
ao aluno estabelecer relações entre os mais variados conhecimentos matemáticos, assim
como as demais áreas curriculares.
Palavras-chave: alfabetização matemática; letramento; PNAIC.
12
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
É fato que a Matemática tem papel fundamental no desenvolvimento da capacidade intelectual do ser
humano, pois possibilita a estruturação do pensamento, desenvolvendo o raciocínio lógico e dedutivo,
capacitando-o para a resolução de problemas, além de funcionar como instrumento essencial para a
construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. (BRASIL, 1997).
Conceitos matemáticos estão em situações do cotidiano e são fundamentais para a convivência em
sociedade. Por esse motivo, o ensino da Matemática e o entendimento desses
conceitos tornam-se fundamentais para a interação social, tornando-se tão importante quanto as demais
áreas curriculares que se constituem direitos de aprendizagem do aluno.
No entanto, o ensino desta disciplina parece ser um desafio para muitos professores, pois geralmente é
trabalhada de forma descontextualizada ou visando somente o ensino do sistema de numeração decimal e
as operações aritméticas fundamentais, não garantindo a alfabetização matemática. Para que isso ocorra, é
necessário o desenvolvimento de todos os eixos estruturantes de ensino da Matemática,
[...] como as relações com o espaço e as formas, processos de medição, registro e
uso das medidas, bem como estratégias de produção, reunião, organização,
registro, divulgação, leitura e análise de informações, mobilizando
procedimentos de identificação e isolamento de atributos, comparação,
classificação e ordenação. (BRASIL, 2014, p.27)
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) é um programa lançado pelo Governo Federal
de grande importância para o ciclo de alfabetização. Tem como função contribuir na formação dos
professores alfabetizadores, nas diversas áreas do conhecimento. Lançado em novembro de 2012, contou
com a assinatura de adesão de 5240 municípios e dos 27 estados da federação, firmando um compromisso
formal entre Governo Federal, Distrito Federal, estados, municípios e sociedade, visando assegurar que
todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental.
O programa desenvolve ações que incluem a formação continuada de professores alfabetizadores,
distribuição de materiais pedagógicos pelo Ministério da Educação (MEC) e aplicação de avaliações
sistemáticas.
No ano de 2014 foi lançado o PNAIC de Matemática, trazendo em seus cadernos, a ideia de Alfabetização
Matemática na perspectiva do letramento, em consonância com a proposta contida no material de
linguagem.
Dessa forma, esse estudo tem por objetivo analisar a proposta trazida pelo PNAIC, e apontar as diretrizes
de trabalho trazidas pelo material, para alcançar a meta da alfabetização matemática na perspectiva do
letramento.
Para isso, foi realizada uma análise documental, a partir dos cadernos de formação do PNAIC/Matemática.
2.O PNAIC E A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO
Dentre as ações desenvolvidas pelo PNAIC, a formação continuada do professor alfabetizador é o foco
principal do programa. Esse processo de formação é organizado por meio de um curso ministrado por
Orientadores de Estudos, e está organizado em oito unidades: ganização do Trabalho Pedagógico;
Quantificação, Registros e Agrupamentos; Construção do Sistema de Numeração Decimal; Operações na
Resolução de Problemas; Geometria; Grandezas e Medidas; Educação Estatística e Saberes Matemáticos e
outros Campos do Saber; além dos cadernos de referência Apresentação, Educação Matemática do Campo;
Educação Inclusiva e Jogos. Cada unidade possui um material de apoio organizado em cadernos de
formação. Todos os temas abordados pelo PNAIC são tratados na perspectiva do letramento.
De acordo com Soares (2000, p. 47), o termo alfabetização refere-se à “ação de ensinar/aprender a ler e a
escrever”, enquanto letramento é o “estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas
cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita” (SOARES, 2000, p. 47). Assim, os termos
Alfabetização e Letramento representam conceitos distintos, porém, indissociáveis. Para Soares,
A alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de
leitura e escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez,
só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das
13
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização. (SOARES,
2000, p. 14.)
Nesse sentido, para estar alfabetizado e letrado, o sujeito deve ser capaz de inserir-se e participar
ativamente do mundo letrado através da capacidade de ler e escrever em diferentes situações sociais, e
para que isso aconteça:
[...] não basta apenas o domínio dos conhecimentos relacionados à linguagem: é
necessário também um amplo domínio de outras disciplinas como a
matemática, no qual os números e o sistema de numeração decimal são
fundamentais, mas não são os únicos aspectos que devem ser abordados na
escola. (BRASIL, 2014, p. 10).
No documento de apresentação do Pacto (BRASIL, 2012), a proposta trazida pelo programa é de que nos
anos iniciais do Ensino Fundamental a tarefa primordial da escola seja ampliar o universo de referências
culturais das crianças e contribuir para desenvolver e aprofundar suas práticas sociais colocando em ação
seu conhecimento adquirido. Além de dominar o sistema de escrita alfabética, é necessário que a criança
compreenda os diversos usos e funções da língua. Quem escreve, não escreve isoladamente, mas sim em
um contexto e com uma finalidade. Ortega e Parisotto (2016, p. 56) afirmam que “a alfabetização, na
perspectiva do letramento, inclui as diferentes vivências dos indivíduos inseridos numa determinada
cultura”.
Todo ser mano está envolvido em um meio social e se constitui conforme esse contexto. Com o passar do
tempo, os sujeitos estabelecem uma convivência através de trocas de experiências, adquirindo
conhecimentos principalmente por meio da linguagem. De acordo com Vigotski (1998, apud LUVISON e
GRANDO, 2012), a linguagem é social. “Suas funções iniciais são a comunicação, a expressão e a
compreensão, que estão ligadas ao pensamento. A compreensão é estabelecida através das produções
histórico-culturais que são organizadas e expressas pelas palavras e pelos textos” (LUVISON e GRANDO,
2012, p. 7).
Assim, por meio de diferentes textos, os alunos podem se apropriar de diferentes linguagens, inclusive, a
linguagem matemática. Neste sentido, o trabalho com os gêneros textuais faz com que os alunos não só
aprendam a “codificar e decodificar” palavras e textos, mas também façam uso da linguagem considerando
os diferentes contextos nos quais estão inseridos, e assim entendam-se como sujeitos políticos e
possuidores de cultura. Para agir ativamente na sociedade e para compreender a função social dos
gêneros textuais é necessário
o desenvolvimento e integração de todas as áreas curriculares: Língua Portuguesa, Arte, Educação Física,
História, Geografia, Matemática, Ciências. (BRASIL, 2012), pois não vivemos em um mundo
compartimentalizado, mas sim integrado a todos os componentes curriculares e ao cotidiano das pessoas.
Os diferentes gêneros textuais podem ajudar o sujeito a compreender e apreender conceitos,
desenvolvendo e transformando seus pensamentos. Quando os alunos expressam seu pensamento em
linguagem matemática, compartilhando suas hipóteses, fazendo analogias
e reinterpretando conceitos, há uma troca, uma reflexão constante em torno das textualizações, o que é
uma fase importante para o seu desenvolvimento (LUVISON e GRANDO, 2012).
Os gêneros também podem contribuir para aprendizagem matemática na perspectiva do letramento, pois
os textos em língua materna que fazem parte das práticas sociais dos alunos, como os
textos informativos, explicativos, narrativos, entre outros, podem conter escritas próprias da linguagem
Matemática, como porcentagens, tabelas, gráficos, algarismos romanos, números na forma
decimal, na forma fracionária, etc. Assim, para que no processo de alfabetização e letramento, o aluno
possa ler, compreender e ser um leitor crítico desses textos, é necessário que a leitura matemática seja
[...] as práticas sociais envolvendo quantificação, medição, orientação,
ordenação ou classificação compõem os modos de usar a língua escrita e são
por eles constituídas, não só porque representações matemáticas aparecem nos
textos escritos ou porque nossa herança cultural nos legou modos escritos de
fazer Matemática, mas porque a própria cultura escrita, que permeia e constitui
as práticas matemáticas das sociedades grafocêntricas, é, em geral, permeada
14
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
também por princípios calcados numa mesma racionalidade, que forja ou
parametriza essas práticas matemáticas e que é por elas reforçada. (p.9)
Durante as aulas, conceitos matemáticos vão sendo construídos por meio de investigações e
problematizações, e assim, uma linguagem matemática vai se constituindo com a finalidade de comunicar
ideias. A escrita nas aulas de matemática torna-se essencial para o registro e comunicação dessa
aprendizagem.
De acordo com o material (BRASIL, 2014, p. 19-20):
O registro pode ser realizado por meio de diferentes gêneros textuais,
assumindo sentidos diversos no contexto de aulas de Matemática: registro
reflexivo para os alunos, registro de comunicação aos colegas e professor,
registro do processo para constituir memória, registro como forma de
sistematização, registro como apropriação de uma linguagem, registro como
forma de comunicação da resolução e/ou formulação de um problema.
Porém, esses registros devem ter um sentido dentro do contexto do problema, ou da atividade proposta,
assim, ele acontece por uma necessidade. Em uma das sugestões de atividades presentes no material, é
proposto que os alunos escrevam uma carta sobre suas descobertas a respeito da resolução de um
problema, e as troquem com outra sala de aula do mesmo ano. Nessa carta, os alunos irão relatar suas
hipóteses e argumentos para a resolução. Dessa forma considera-se a função social desse registro ao
mesmo tempo que se define a sua configuração linguística.
Nos cadernos de formação lançados pelo Pacto, a alfabetização matemática é entendida como um
“instrumento para a leitura do mundo” (BRASIL, 2014, p. 5), que possibilita a construção de
conhecimentos que permitem ao aluno entender e resolver problemas em diferentes contextos. O
importante no processo de ensino da matemática nos anos iniciais, de acordo com o Pacto, é oferecer às
crianças oportunidades para identificarem relações numéricas e aplicarem-nas em diferentes situações de
forma cada vez mais elaboradas e complexas (BRASIL, 2014).
Em comparação com o termo “letrado” especificado por Soares (2000) como a condição da criança não
apenas saber ler e escrever, mas saber fazer uso social da leitura e da escrita, Vece, Mocrosky e Paulo
(2014) na mesma perspectiva, explicam a necessidade de a criança estar “numerada”:
[...] entende-se como “numerado” quem, além da elaboração do conhecimento e
da linguagem matemática, engaja-se com autonomia em situações que
envolvam o domínio de dados quantitativos, quantificáveis e, sobretudo,
compreende as diversas funções e usos dos códigos numéricos em diferentes
contextos”. (VECE, MOCROSKY E PAULO, 2014, p. 58).
Nessa perspectiva, Spinillo (2005) mostra a necessidade de ensinar matemática de forma a tornar os
indivíduos numeralizados: “Na realidade, estamos cercados por um ambiente de números e quantidades, e
para funcionarmos de maneira apropriada e eficiente nesse ambiente é necessário que sejamos
numeralizados”. (p. 83). Assim, pode-se afirmar que a criança numeralizada é capaz de pensar
matematicamente sobre variadas situações. Isso requer que ela mobilize seus conhecimentos sobre os
sistemas numéricos, convenções, técnicas e procedimentos e estabeleça relações e conexões nos mais
variados contextos da vida humana.
Diante do exposto, trabalhar com a educação matemática na perspectiva do letramento, é oferecer à
criança subsídios para que ela compreenda e faça uso de conceitos matemáticos em suas relações sociais e
em situações do cotidiano. O material do Pacto foi elaborado com o intuito de contribuir com a formação
do professor alfabetizador, fornecendo uma base teórica, sugestões de práticas e organização do trabalho
docente, que visam colaborar para a concretização da aprendizagem dos alunos.
Para que isso aconteça, o aluno deve estar situado em um ambiente de atividade matemática que o ajude a
aprender, não somente codificando e decodificando os símbolos matemáticos, mas também realizando
variadas leituras de mundo, levantando conjecturas e validando-as, argumentando e justificando
procedimentos (NACARATO, PASSOS e GRANDO, 2014).
O material então, sugere que a sala de aula deve ser vista:
[...] como um ambiente de aprendizagem pautado no diálogo, nas interações, na
comunicação de ideias, na mediação do professor e, principalmente, na
intencionalidade pedagógica para ensinar de forma a ampliar as possibilidades
15
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
das aprendizagens discentes e docentes. (NACARATO, PASSOS e GRANDO,
2014, p. 6).
Assim, a sala de aula deve ser constituída como um ambiente facilitador da aprendizagem, de apropriação
da leitura e da escrita da língua materna, como também da linguagem matemática. Dessa forma, sugere-se
que a sala de aula contenha materiais impressos que ajudem a criança a reconhecer a função social da
leitura e da escrita, assim como a presença de materiais que contribuam para o reconhecimento da função
social da matemática, como gráficos, tabelas, informações numéricas, entre outros.
Assim, a sala de aula deve ser constituída como um ambiente facilitador da aprendizagem, de apropriação
da leitura e da escrita da língua materna, como também da linguagem matemática. Dessa forma, sugere-se
que a sala de aula contenha materiais impressos que ajudem a criança a reconhecer a função social da
leitura e da escrita, assim como a presença de materiais que contribuam para o reconhecimento da função
social da matemática, como gráficos, tabelas, informações numéricas, entre outros.
A seguir, destacaremos algumas práticas sugeridas pelo material do PNAIC, para o trabalho com a
Alfabetização Matemática e Letramento.
3.RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E JOGOS NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO
No contexto do Ciclo de Alfabetização, as brincadeiras e jogos são fundamentais para o desenvolvimento
do aluno, pois deve-se considerar que tratam-se de crianças de 6 a 8 anos de idade. Além dos diversos
benefícios trazidos por essas atividades lúdicas, elas podem se constituir em uma boa oportunidade para a
alfabetização e letramento. Os registros matemáticos podem ser explorados na forma de tabelas de
pontuação, regras, gráficos com as brincadeiras favoritas dos alunos etc.
Para Luvison e Grando (2012, p. 8):
[...] o jogo é um problema em movimento. [...] Ao jogar, os alunos encontram
sentidos e, ao mesmo tempo, mostram desejo de brincar e solucionar um
problema, o que lhe traz significado e, ao mesmo tempo, a aproximação com seu
próprio contexto. A brincadeira e o jogo estão, culturalmente, impregnados na
criança. Assim, o jogo torna-se desejado, o que não ocorre muitas vezes com a
resolução de problemas. Porém, ao atrelar o desejo pelo jogo ao contexto da
resolução de problemas, esta pode adquirir maior significado pois, “após
brincar, a busca por aperfeiçoar o jogo e refletir sobre novas estratégias está
relacionada à vitória do jogador. (LUVISON e GRANDO, 2012, p. 9).
Quando a utilização dos jogos em sala de aula está amparada num contexto onde os
objetivos estão claramente definidos pelo professor, há a oportunidade de o aluno desenvolver a
capacidade de reflexão, argumentação, análise entre outras atitudes como ganhar e perder.
A escolha pelos jogos no ensino da matemática deve ser criteriosa, relacionando-os com os conteúdos e
conceitos a serem desenvolvidos. Por outro lado, também pode-se considerar que os jogos, de modo geral,
promovem um senso crítico e investigador ajudando no raciocínio lógico da criança.
Ao assumir uma postura de sujeito motivador e se tornando parte do processo investigativo junto com
seus alunos, o professor torna-se um elemento importante no jogo. Conhecendo o funcionamento do jogo,
suas possibilidades para o desenvolvimento de ideias e conceitos matemáticos, assim como as estratégias
adotadas pela criança para atingir a meta proposta, o professor poderá explorar de maneira mais
significativa as possibilidades didáticas do jogo em questão.
O material do PNAIC (BRASIL, 2014) aponta reflexões e propostas de trabalho para o professor dos anos
iniciais com jogos nas aulas de matemática, numa concepção de trabalho no qual o planejamento é
fundamental e privilegia a construção do saber. O jogo assume um caráter de desenvolvimento das
habilidades e conceitos e se aproxima das características do trabalho com resolução de problemas, onde
permite-se ao aluno elaborar estratégias, pensamentos e ideias inerentes ao conteúdo em questão.
A formulação e resolução de problemas também são de extrema importância para a compreensão
matemática e o letramento, pois o processo de descobertas para a solução feita pelo aluno é fundamental
para a efetivação e significação da aprendizagem matemática
Em todo o material do Pacto, é evidente o destaque dado ao trabalho com resolução de problemas em sala
de aula, um dos maiores desafios do professor dos anos iniciais, já que os alunos estão iniciando a prática
16
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
de leitura. Além do que, desenvolver práticas pedagógicas onde é preciso respeitar o modo de pensar de
cada aluno, permitir que cada um tenha oportunidade de formular suas próprias estratégias, se tornam
aspectos a serem superados pelo professor que está acostumado a ensinar procedimentos e técnicas.
Muitas vezes a atividade matemática escolar é organizada apenas a partir de
exercícios nos quais a meta é aprender a realizar cálculos (mentais e escritos) e
a usar algoritmos, de modo a tornar a rotina na sala de aula marcada por
intermináveis exercícios sem significado para os alunos. (GUERIOS,
AGRANIONIH, ZIMER, 2014, p. 7)
As autoras também afirmam que por muito tempo os problemas matemáticos foram utilizados como
forma de treino para procedimentos e técnicas. Nessa perspectiva o aluno fica limitado a realização de um
passo a passo sem a possibilidade de construir ou consolidar os conceitos pertinentes ao conteúdo
trabalhado.
Resolver algoritmos em problemas matemáticos é uma ferramenta importante para a
busca da solução, porém não garante ao aluno a compreensão do conceito em questão, bem como o
desenvolvimento de ideias e estratégias para a resolução.
Nesse sentido, do mesmo modo que os princípios e ideias matemáticas vão sendo construídos através da
resolução de problemas por meio de investigações, problematizações e descobertas, uma linguagem
matemática também vai sendo compreendida e produzida afim de entender e expressar estas descobertas,
ou mesmo refletir e compartilhar as estratégias escolhidas para a resolução.
Na perspectiva do letramento, é essencial que o aluno tenha a capacidade de identificar e reconhecer o
papel que a matemática representa, descobrindo, relacionando e inferindo significado próprio às suas
descobertas. O trabalho com resolução de problemas tem os espaços necessários para essas ações
acontecerem com sucesso, pois os conceitos poderão ser construídos em torno de uma questão que seja
desafiadora e estimulante ao aluno.
Nessa visão, o professor tem uma gama de possibilidades de trabalho para desenvolver no ensino da
matemática. Uma proposta que o material do Pacto traz é a diversidade de gêneros textuais dentro dessa
perspectiva de resolução de problemas. Tanto nos problemas que o professor apresenta a seus alunos, no
qual deve garantir uma rica variedade, bem como na própria elaboração feita pelos alunos, em forma de
registros das suas atividades. A intervenção do professor nesse processo atenderá às necessidades dos
alunos para que estes se apropriem do vocabulário específico da matemática, com o intuito de comunicar
suas descobertas.
“As várias formas de registro possibilitam a produção de sentidos próprios do objeto matemático pelas
crianças, a produção de significados compartilhados entre alunos e o professor no contexto de aulas e a
reflexão do professor sobre sua prática”. (BRASIL, 2014, p. 22).
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
As práticas de ensino da matemática têm buscado cada vez mais superar ações que se preocupam apenas
com a transmissão de técnicas e procedimentos em sala de aula. A preocupação é maior quando se trata do
ciclo de alfabetização, pois além de desenvolver os conceitos básicos da matemática, também servirá de
base para a consolidação da aprendizagem nos anos seguintes de escolarização.
É preciso garantir aos alunos dos anos iniciais, atividades e propostas que possibilitem a eles a construção
de sentido na aprendizagem de cada conceito matemático. Nesse sentido, os diversos gêneros textuais
pode ser um forte aliado para a contextualização de situações matemáticas que permitam aos alunos a
compreensão da função social da matemática. Assim, a alfabetização na perspectiva do letramento garante
reflexões e norteamento aos professores quanto às práticas e habilidades que os alunos devem adquirir.
Consideramos que o material analisado no presente trabalho, apresenta apontamentos que levam os
professores a inserir em sua prática pedagógica recursos que permitem o ensino da matemática numa
visão na qual o aluno necessita construir os próprios conceitos através de problematizações.
O uso da resolução de problemas, bem como dos jogos, desafia o aluno a colocar em questão seus saberes
na busca de estratégias, formulações de hipóteses e consolidação das mesmas. Desse modo a
aprendizagem será desenvolvida com significações próprias, possibilitando ao aluno estabelecer relações
entre os mais variados conhecimentos matemáticos, assim como as demais áreas curriculares.
17
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Por fim, destaca-se que o material analisado traz significativas contribuições para o ensino da matemática
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, porém ressalta-se a postura do professor em querer e saber
fazer uma prática pedagógica onde a alfabetização matemática seja de fato prioridade para o processo
ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIAS
[1]
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral –
Dicei. Coordenação Geral do Ensino Fundamental – COEF. Elementos conceituais e metodológicos para definição dos
direitos de aprendizagem e desenvolvimento do ciclo básico de alfabetização (1°, 2° e 3° anos) do ensino fundamental.
Brasília, DF: MEC, 2012.
[2]
Brasil, Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa: Apresentação. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio
à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2014.
[3]
Brasil, Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa: Organização do trabalho Pedagógico. Brasília: MEC, SEB, 2014b.
[4]
Brasil, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília:
MEC/SEF, 1997.
[5]
Guerios, E.C., Agranionih, N.T., Zimer, T.T.B. AO Chegar À Escola.... In: Brasil, Secretaria de Educação Básica.
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Operações na resolução de
problemas. Brasília: MEC, SEB, 2014.
[6]
Fonseca, M. C. F. R. Prefácio. In: Nacarato, A. M.; Lopes, C. E. (Org.). Indagações, reflexões e práticas em
leituras e escritas na educação matemática. Campinas: Mercado de Letras, 2013. p. 7-9.
[7]
Nacarato, A.; Passos, C. e Grando, R. Organização do Trabalho Pedagógicopara A Alfabetização Matemática.
In: Brasil, Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa: Organização do trabalho Pedagógico. Brasília: Mec, Seb, 2014.
[8]
Ortega, E.; Parisotto, A. Alfabetização Matemática na Perspectiva do Letramento no Pacto Nacional pela
Alfabetização
na
Idade
Certa.
In:
Educação
em
Revista.
Marília.
Disponível
em:
<http://revistas.marilia.unesp.br/index.php/educacaoemrevista/article/view/5845>. Acesso em: 23 mar. 2016.
[9]
Soares, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
[10]
Spinillo, A.G. O sentido de número e sua importância na educação matemática. In: Brito, M.R.F. (Org.) Solução
de problemas e a matemática escolar. Campinas: Editora Alínea, 2005.
[11]
Vece, J.P., Mocrosky, L.F., Paulo, R.M. Diferentes enfoques no ensino de números. In: BRASIL, Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa:
Quantificação, registros e agrupamentos. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à
Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2014.
18
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 3
Professoras dos anos iniciais do ensino fundamental e
suas relações com o ensino de matemática
Manoel dos Santos Costa
Joemilia Maria Pinheiro Almeida
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a relação das professoras dos anos
iniciais do Ensino Fundamental de uma escola pública maranhense, com o ensino de
Matemática. Trata-se de uma pesquisa de Natureza qualitativa, cujo instrumento para a
coleta dos dados foi um questionário com questões abertas. O interesse por esta
investigação teve origem na experiência profissional do autor principal com o ensino de
Matemática nesse nível de ensino, e na necessidade de compreender como as
professoras desenvolvem os conteúdos de Matemática com seus alunos. Os dados
expressam que, na maioria das vezes, elas desenvolvem os conteúdos por meio de jogos.
A pesquisa concluiu, ainda, que as professoras tinham pouca afinidade com essa área do
conhecimento, mesmo tendo sido formadas em curso superior específico para lecionar
nesse nível de ensino. A falta de conhecimentos não era apenas relativa aos conteúdos
matemáticos, mas também aos conhecimentos didáticos e curriculares. Esse fato ratifica
a necessidade de a formação continuada trabalhar com as diversas metodologias de
ensino sugeridas por pesquisadores e documentos oficiais, para que os professores se
sintam mais confiantes para utilizá-las em sua prática docente.
Palavras-chave: Ensino de Matemática; Ensino Fundamental; Formação Continuada.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.REFLEXÕES INICIAIS
Nos ambientes de ensino e de formação de professores, temos percebido as dificuldades apresentadas
pelos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental em desenvolver os conteúdos matemáticos
com seus alunos. Em vista disso, resolvemos promover algumas atividades de formação continuada com
professoras de uma escola pública estadual maranhense, para discutirmos o ensino de Matemática nesse
nível de ensino. E aproveitamos um desses momentos, para aplicarmos um questionário, no sentido de
que pudéssemos averiguar como elas desenvolvem os conteúdos matemáticos com seus alunos, e para
sabermos qual era sua relação com essa área do ensino.
Sabemos que grande parte dos professores, hoje exercendo o magistério, nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, recebeu uma formação muito precária para ensinar Matemática. Uma vez que os
professores dos anos iniciais2 tiveram sua formação comprometida nesse aspecto, como vão perceber a
importância de ensinar Matemática para seus alunos? Como vão realizar esse trabalho em suas salas de
aula? Essas indagações constituem o “pano de fundo” das questões que pretendemos discutir neste
trabalho.
O presente artigo encontra-se organizado em três seções principais. Inicialmente, apresentamos os
aportes teóricos que tratam da formação matemática dos professores dos anos iniciais, seguidos, na
segunda seção, do cenário da pesquisa: o contexto e a metodologia utilizada. Na terceira seção intitulada “a
relação das professoras dos anos iniciais com o ensino de Matemática”, apresentamos os dados e a análise
sobre como as professoras desenvolvem os conteúdos com seus alunos e suas relações com o ensino de
Matemática. A partir dessa discussão, expomos na seção Considerações Finais alguns caminhos para a
formação de professores para esse nível de ensino, discutindo, também, a importância e as contribuições
das atividades de formação continuada para o desenvolvimento profissional dos professores.
2.A FORMAÇÃO MATEMÁTICA DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A literatura de pesquisa atesta que, nos ambientes de ensino e de formação de professores, existe uma
dificuldade grande por parte dos professores dos anos iniciais em desenvolver os conteúdos matemáticos.
Alguns professores mal conhecem quais conteúdos deverão ser trabalhados com os alunos. Alguns
pesquisadores (CURI, 2005; COSTA, 2008; PIRES, 2012), que discutem a formação do professor para
ensinar Matemática apontam limitações nessa formação.
Curi (2005) considera que a formação dos professores, que ensinam Matemática nos anos iniciais,
continua sendo muito precária: “o conhecimento ‘de e sobre’ matemática é pouco enfatizado, mesmo no
que se refere aos conteúdos previstos para o Ensino Fundamental [...]” (p. 69).
Os próprios professores detectam uma deficiência em sua formação inicial para ensinar Matemática, a
qual não é um fato isolado (COSTA, 2008). As disciplinas relativas à Matemática e seu ensino, que constam
das matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia, têm uma carga horária bastante reduzida. Em geral, os
cursos apresentam uma carga horária entre 36 e 72 horas para o desenvolvimento da disciplina (CURI,
2005; MELLO, 2008; COSTA, 2008). Os autores consideram essa carga horária insuficiente, para a
formação do professor, tendo em vista a importância da Matemática nesse nível de ensino.
Nessa mesma linha de pensamento, Nacarato (2000) também assegura que, de modo geral, os cursos que
formam professores dos anos iniciais oferecem uma carga horária reduzida e, na sua execução, quando
oferecem disciplinas como Metodologia do ensino de Matemática ou Fundamentos da Matemática, muitas
vezes contratam professores que não possuem experiência nesse nível de ensino. Nesse caso, a formação
dos professores ficará comprometida, pois deixam de ter “condições de se preparar melhor para conduzir
as mudanças necessárias a uma prática pedagógica mais atualizada” (NACARATO, 2000, p. 13), por não
terem tido a chance de estudar conteúdo específicos que deverão ser por eles ensinados.
Alvarado Prada (1997) alega que muitas instituições de ensino superior, que se dedicam à formação de
professores, caracterizam-se pela “contradição entre o que pretendem ensinar ou ensinam na teoria, e o
que transmitem na prática” (p. 90).
2 Utilizamos a expressão “anos iniciais” para nos referirmos aos anos iniciais do Ensino Fundamental.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Nesse sentido, Nacarato e Paiva (2006) afirmam que a formação matemática dos professores dos anos
iniciais será deficiente, se não for dada a oportunidade de construir um conhecimento aprofundado das
diversas áreas da Matemática e de percorrer um leque variado de experiências matemáticas, incluindo a
realização de trabalhos investigativos, resolução de problemas, modelagem matemática, e outros. Além
disso, as autoras afirmam que as bibliografias utilizadas nesses cursos são generalistas e não incluem
textos com pesquisas atuais de educadores matemáticos sobre o ensino e a aprendizagem de Matemática.
Nessa mesma linha de pensamento, Pires (2012) assegura que “apropriar-se de resultados de pesquisas é
fundamental para os profissionais que se dedicam a ensinar, em qualquer nível ou modalidade da
escolaridade” (p.17).
Concordando com esses autores é que defendemos a ideia de que, nos debates de formação continuada, os
professores formadores devem utilizar textos científicos recentes com o intuito de contribuir com o
desenvolvimento e a atualização dos professores que estão em exercício. Além disso, cumpre que essa
formação seja explicitada em múltiplas etapas, isto é, deve ir além de discutir metodologias da área (o que
geralmente é feito), proporcionando também, o desenvolvimento de projetos, a troca de experiências,
leituras, reflexões, etc.
Esse tipo de formação estimula o professor a se envolver mais com sua própria formação, além de
incentivar e potencializar os estudos que ele realiza por meio da procura por informações e,
principalmente, ajudando-o a se tornar investigador permanente de sua própria prática como docente
(PIRES, 2012).
Nesse sentido, é necessário repensar os cursos de formação de professores dos anos iniciais, no que se
refere à formação para ensinar Matemática. As especificidades próprias do ensino e da aprendizagem de
Matemática pelas crianças e as características dos professores nesse nível de ensino devem ser
consideradas nos projetos de formação. O atendimento a essas especificidades demanda nova organização
dos cursos e indica a necessidade de subsídios para essas mudanças (CURI, 2005).
3.O CENÁRIO DA PESQUISA: CONTEXTO E METODOLOGIA
A pesquisa aqui apresentada foi realizada junto a seis professoras dos anos iniciais de uma escola pública
estadual maranhense, durante algumas atividades de formação continuada, realizadas na própria escola. O
objetivo foi averiguar como as professoras desenvolviam os conteúdos matemáticos com seus alunos e
suas relações com o ensino de Matemática.
As professoras participantes da pesquisa têm formação para o ensino nos anos iniciais: Magistério de nível
médio e Licenciatura em Pedagogia, com exceção de uma elas que tem licenciatura em História, e outra
que, além da Pedagogia, tem o curso superior em Serviço Social. A experiência dessas professoras com o
Magistério é bastante significativa, em torno de 20 anos de experiência na área, e a média de idade delas é
de 43 anos.
Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, pois aconteceu em um ambiente natural como fonte
direta dos dados, e o pesquisador foi o seu principal instrumento, pois sua preocupação era discutir o
ensino de Matemática dos anos iniciais com as professoras (GOLDENBERG, 2007).
O instrumento utilizado foi um questionário, considerado um instrumento tradicional de coleta de dados e
consiste numa fonte de informações que ajudam na caracterização e descrição dos sujeitos de pesquisa
(FIORENTINI; LORENZATO, 2009). Nesta pesquisa, o questionário possibilitou realizar um levantamento
de dados pessoais e delinear o perfil das professoras participantes. As respostas obtidas permitiram a
elaboração da análise dos dados, as quais serão apresentadas na próxima seção.
4.A RELAÇÃO DAS PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS COM O ENSINO DA MATEMÁTICA
Nesta seção apresentamos e discutimos os dados coletados por meio do questionário respondido pelas
professoras3 participantes da pesquisa. Iniciamos o questionário pedindo que completassem a seguinte
frase: Decidi ser professora porque...
3 Com o intuito de resguardar a identidade dos professores, adotamos pseudônimos: P1, P2, ..., Pn, para identifica-las no
decorrer deste texto.
21
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Os motivos de as professoras terem escolhido essa profissão foram os mais diversos. A professora P2
escolheu a profissão porque achava que é uma profissão muito importante para a formação do ser
humano e por gostar de ensinar. Já a escolha da professora P3 foi, segundo ela, por acreditar que poderia
contribuir para a melhoria da formação das crianças e dos adolescentes.
Então, questionamos: Em qual classe/ano de escolaridade você gosta de lecionar?
Quatro professoras responderam que preferem lecionar na Educação Infantil, uma no primeiro ano, e
outra respondeu segundo ou terceiro ano.
Continuamos perguntando se elas gostam de Matemática. Todas as professoras, responderam: não gostam
de Matemática. Com exceção da professora, que também tem formação superior em Serviço Social, que
respondeu gostar. Esse desgosto apontado pela maioria das professoras é destacado por Nacarato e Paiva
(2006). Segundo as autoras, durante a formação inicial é explícito o desgosto manifestado pela maioria
absoluta dos alunos que procuram os cursos de formação para o Magistério, em relação à Matemática. E
ainda acrescentam: devido a esse desgosto, e também pela suposta incapacidade para a Matemática,
quando está em sala de aula, esse professor tende a transmitir isso para os alunos, que passam,
igualmente, a não gostar da disciplina.
Acreditamos que, devido às dificuldades encontradas na Matemática, as professoras a consideraram como
sendo de difícil compreensão (causa) e, por isso, passam a não gostar (consequência ou efeito). Apenas
uma delas, a que tem formação em Serviço Social, comentou que considera a Matemática como sendo de
fácil compreensão.
Prosseguimos com nossos questionamentos e perguntamos: Como foi seu desempenho em Matemática,
durante sua formação na Educação Básica (Ensinos Fundamental e Médio)? As respostas para esse item
foram bem diversificadas. Três responderam que foi bom; duas, que foi regular, principalmente, no Ensino
Médio; e apenas uma, respondeu que foi ótimo.
Questionamos, também, se haviam participado de alguma capacitação ou formação continuada nos
últimos três anos. Quase todas responderam que sim; apenas uma respondeu que não havia participado de
nenhuma formação nos últimos três anos. As formações que elas citaram, quanto à participação, foram
sobre a importância da música na escola, em 2013; incentivo a leitura, em 2013; interdisciplinaridade, em
2014, e sobre as diretrizes curriculares, em 2014. Em 2015, a única formação continuada de que elas
participaram foi o que realizamos na escola, em outubro, sobre o ensino de Matemática nos anos iniciais
do Ensino Fundamental.
Podemos observar, por essas respostas, que nenhuma professora havia feito curso de formação
continuada voltada para o ensino de Matemática, nos últimos três anos. Isso nos leva a crer que tanto as
escolas quanto as secretarias de ensino têm demonstrado pouco interesse por essa formação. Uma única
professora citou ter feito, no ano de 2010, quase 6 anos, o curso “Gestar Matemática”, oferecido pela
secretaria municipal de educação em que leciona.
Assim sendo, defendemos como necessária e urgente uma nova concepção para a formação continuada de
professores, principalmente para aqueles que ensinam nos anos iniciais; uma formação que englobe,
também, áreas específicas do conhecimento, como a Matemática, uma vez que as professoras a tiveram de
forma insuficiente em sua formação inicial, conforme aponta Curi (2005).
Com relação ao ensino de Matemática, perguntamos: Como você costuma desenvolver os conteúdos com
seus alunos? A professora P4 respondeu que utiliza materiais alternativos, tais como cartazes, material de
sucata, música, jogos, brincadeiras, material dourado e o calendário do mês. Outras professoras
responderam algo parecido: jogos, material dourado, calendário, brincadeiras, gráficos e problemas do
dia a dia.
Algo que nos chamou a atenção, nas respostas dadas pelas professoras, foi o fato de todas terem
respondido que desenvolvem os conteúdos matemáticos por meio de jogos. Isso nos levou a fazer o
seguinte questionamento durante nossas discussões:
PE: ─ Que tipo de jogos vocês utilizam com seus alunos?
As professoras responderam:
P3: ─ Faço uso do dominó, quebra-cabeça, jogos de encaixe e bingo.
P4: ─ Faço uso do jogo da memória, do bingo de números e quebra cabeças.
22
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
P6: ─ Utilizo o jogo do boliche, para trabalhar as quatro operações básicas; fichas numéricas, para
trabalhar as noções de sequência; dominó para cálculo mental envolvendo as quatro operações, e jogos
envolvendo o material dourado.
Essa afinidade das professoras em desenvolver os conteúdos através de jogos também foi percebida nas
respostas dadas, quando questionamos o que elas esperavam daquele momento da formação.
As professoras apresentaram respostas bem similares. A professora P6 respondeu: “espero que me auxilie
a produzir jogos que facilitem o meu trabalho para proporcionar uma aprendizagem mais significativa e
dinâmica com os alunos”. A professora P4 respondeu: “espero que seja proveitoso, que possa me ajudar a
desenvolver as aulas de Matemática por meio de jogos, que nos auxilie em mais opções de jogos que
possam estimular o interesse dos alunos em trabalhar em grupos, que possam estimular a criatividade, o
raciocínio lógico a socialização e à atenção. E que possa, também, haver trocas de experiências entre as
colegas”.
Além disso, elas comentaram que gostariam que as atividades de formação continuada discutissem sobre
“novas estratégias educacionais” para melhorar e incentivar os alunos nas aulas de Matemática (P1; P2).
Foi possível perceber, pelas respostas dadas pelas professoras, que elas se interessaram por novas formas
de desenvolver os conteúdos com seus alunos, ou seja, elas estavam em busca de “novas” metodologias de
ensino e aprendizagem. Talvez, esse interesse seja, entre outros motivos, por elas perceberem suas
dificuldades com o ensino de Matemática.
Nesse sentido, alguns pesquisadores (CURI, 2005; COSTA 2008) e os Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN (BRASIL, 1997) já vêm sugerindo que os professores dos anos iniciais, devido às deficiências na
formação inicial, busquem formação que discutem essas novas metodologias de ensino.
Também, notamos que, apesar de as professoras demonstrarem interesse por outras maneiras de se
abordar a Matemática em sala de aula, geralmente elas recorrem ao uso de jogos. Por isso, acreditamos
que algumas delas responderam que gostariam de ter mais discussões nas formações que abordassem o
ensino de Matemática por meio de jogos.
Isso sugere que, apesar de as professoras já terem tido encontros de formação continuada recente, para
discussões sobre as Diretrizes Curriculares, possivelmente não tenham sido debatidas, com elas, diretrizes
específicas para o ensino de Matemática dos anos iniciais, tais como “o que” e “o como” desenvolver os
conteúdos nesse nível de ensino com os alunos.
Houve quem demonstrasse esse mesmo interesse pela formação de outra maneira: a professora P6
respondeu que esperava que a formação ampliasse suas habilidades com relação ao tratamento didático
dos conteúdos matemáticos. Ficamos com uma dúvida, por isso, no final da formação, a chamamos e
questionamos:
PE: ― O que você quis dizer com ampliar suas habilidades em relação ao tratamento didático?
A professora respondeu:
P6: ― Aprender novas maneiras, novas estratégias de abordar os conteúdos matemáticos de modo que
possa despertar o interesse dos alunos.
Assim, o interesse dessa professora é o mesmo demonstrado pelas professoras P1 e P2, a busca por novas
estratégias de ensino.
Com o intuito de saber qual a relação das professoras com o ensino da Matemática, pedimos que
escrevessem um pequeno relato dessa relação. A seguir, apresentamos, na íntegra, alguns desses relatos.
A professora P3 relatou: “Gosto de trabalhar de forma expositiva, questionadora e trabalhos práticos com
material concreto, pois minha turma apresenta um déficit muito grande de aprendizagem e tem
dificuldade de concentração”
Outra professora, a P5 relatou: “Gosto da disciplina, mas, talvez pelo fato de não ter tido uma boa formação,
às vezes encontro dificuldade; mas quando preciso de ajuda, procuro orientação de algum colega”.
A professora P6 relatou: “A Matemática é considerada um ‘bicho papão’, mas eu, particularmente,
desmistifiquei essa concepção, através das discussões realizadas nas formações continuadas em que
participei e, descobri o quanto é fácil e prático dinamizar o estudo e a aprendizagem desta Ciência”.
Pelos relatos escritos pelas professoras, consideramos que, apesar de terem uma vasta experiência com o
ensino dos anos iniciais, expressam dificuldade em descrever sua relação com o ensino de Matemática.
23
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Talvez isso tenha acontecido devido à falta de conhecimento do “quê” e de “como” devem ser abordados os
conteúdos matemáticos com os alunos. Essa falta de conhecimento, provavelmente, deve-se ao fato de elas
terem tido uma formação insatisfatória (mesmo aquelas que participam de atividades de formação
continuada), isto é, por não terem tido a oportunidade de construir “novos” conhecimentos nas diversas
áreas da Educação Matemática, conforme apontam Nacarato e Paiva (2006). Portanto, percebemos a
necessidade de mudanças urgentes no desenvolvimento das atividades de formação continuada de
professores, de modo que essas especificidades possam ser discutidas, uma vez que, conforme apontam as
pesquisas já citadas os professores tiveram sua formação inicial comprometida, devido à carga horária
oferecida para a discussão dessas temáticas.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho surgiu a partir das inquietações do autor principal enquanto professor da Educação
Básica - Ensinos Fundamental e Médio, da rede estadual de ensino do Maranhão, aliado à sua prática como
formador de professores e pesquisador dos anos iniciais. Como professor, tem percebido uma constante
preocupação das colegas, que trabalham nos anos iniciais com o ensino de Matemática; enquanto
formador, tem compreendido a busca por parte dos professores desse nível de ensino, por práticas
metodológicas que os auxiliem no desenvolvimento dos conteúdos matemáticos.
E, enquanto pesquisador, tem ciência de estudos que comprovam a falta de conhecimentos de “como
ensinar” os conteúdos matemáticos aos alunos.
Se os cursos de habilitação para o Magistério de nível Médio pouco contribuíram para a formação
matemática dos professores dos anos iniciais, também são assim os atuais cursos de Pedagogia, que, na
maioria das instituições de ensino superior, mostram-se deficitários. Percebemos isso também em Curi
(2005) e Costa (2008), quando estes autores fazem uma crítica sobre a matriz curricular dos cursos de
Pedagogia, em que raramente são encontradas disciplinas voltadas à formação de professores para
ensinar Matemática.
Acreditamos que, talvez por isso, a maioria das professoras tenham declarado que não gostam da
Matemática, por apresentarem marcas negativas que elas trazem consigo em relação a essa disciplina.
Isso, segundo Nacarato e Paiva (2006), talvez seja o que mais implica, muitas vezes, no bloqueio para
aprender e, também, para ensinar os conteúdos matemáticos.
Possivelmente, essas “marcas negativas” é que têm ensejado as professoras a demonstrarem uma
expressiva preocupação com relação ao ensino, nessa área do conhecimento. Daí surgiu nossa inquietação
e o interesse em averiguar como elas desenvolvem os conteúdos matemáticos com seus alunos, e em
sabermos qual sua relação com essa área do ensino. Além disso, procuramos identificar-lhes os seus
interesses e as lacunas com relação à sua prática com o ensino de Matemática, para que pudéssemos
organizar nossas próximas formações, as quais acontecerão na própria escola. Nossa preocupação vai ao
encontro do que propõem Nacarato e Paiva (2006): que devemos dar oportunidade às professoras dos
anos iniciais de construírem novos conhecimentos e novos métodos de ensino para serem desenvolvidos
nos diversos ramos da Matemática, realizando debates e trocas de experiências.
REFERÊNCIAS
[1]
Alvarado Prada, L. E. Formação de Docentes em Serviço. In: Formação participativa de docentes em serviço.
Taubaté, SP: Cabral Editora Universitária, 1997. p. 87-103.
[2]
Brasil. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Matemática. 3. ed.- Brasília: A Secretaria, 1997.
[3]
Costa, M. S. Discutindo o ensino de geometria com professores polivalentes. 2008, 145 f. Dissertação
(Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Cruzeiro do Sul, São Pulo, 2008.
[4]
Curi, E. A matemática e os professores dos anos iniciais. São Paulo: Musa Editora, 2005.
[5]
Fiorentini, D.; Lorenzato, S. Investigações em educação matemática: percursos teóricos e metodológicos.
Campinas, SP: Autores Associados, 2009.
[6]
Goldenberg, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. Rio de Janeiro:
Record, 2007.
24
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
[7]
Mello, B. C. K. Formação matemática de professores polivalentes: um estudo de caso. 2008. 276 f. Dissertação
(Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2008.
[8]
Nacarato, A. M. Educação continuada sob a perspectiva da pesquisa-ação: Currículo em ação de um grupo de
professoras ao aprender ensinando Geometria. 2000. 330f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação,
UNICAMP, Campinas.
[9]
______; Paiva, M. A. V. A formação do professor que ensina matemática: perspectivas e pesquisas a partir das
investigações realizadas pelos pesquisadores do GT7 da SBEM. In: Nacarato, Adair Mendes; Paiva, Maria Auxiliadora
Vilela (Orgs.). A Formação do professor que ensina Matemática. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2006. p. 7-26.
[10]
2012.
Pires, C. M. C. Educação Matemática: conversas com professores dos anos iniciais. 1. ed. São Paulo: Zé-Zapt,
25
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 4
Formação de professores que lecionam matemática
para os anos iniciais: Um estudo acerca de
conhecimentos das estruturas aditivas e do seu ensino
Elys Vânny Fernanda Rodrigues de Oliveira
Angélica da Fontoura Garcia Silva
Resumo: Esta comunicação tem o propósito de analisar os Conhecimentos relacionados
ao ato de ensinar e do Campo Conceitual aditivo de um grupo de professoras que
participaram de um processo de formação continuada acerca das estruturas aditivas
desenvolvido na própria escola em que atuam. Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
desenvolvida com 4 docentes que lecionam Matemática para os anos iniciais de uma
escola particular de Fortaleza. A análise dos dados fundamentou-se nos estudos de Ball,
Thames e Phelps acerca dos conhecimentos necessários para o ensino e na Teoria dos
Campos Conceitual de Vergnaud. As respostas do grupo indicaram que nesse primeiro
momento as professoras ainda apresentavam um conhecimento do conteúdo e do ensino
limitado, – por exemplo, demonstraram preocupação em apresentar tarefas de “arme e
efetue” quando a solicitação era a de elaborar situações, houve predominância de
criação de problemas prototípicos envolvendo a ideia de composição.
Palavras-chave: Formação de professores; Campos Conceituais Aditivos; Anos Iniciais.
26
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1. INTRODUÇÃO
O cenário do estudo é um processo de formação continuada de professores que lecionam para os terceiros anos
iniciais do Ensino Fundamental. Esses educadores, pertencentes a uma escola da rede particular de Fortaleza,
participaram de encontros de formação, em sua própria escola, nos quais discutiram a temática “Possibilidades
de resolução de problemas de estruturas aditivas sob o olhar de Vergnaud”.4 Tal processo contou com 8
encontros presenciais, com 2 horas cada, totalizando 16 horas. Entretanto, para esta comunicação
analisaremos as situações elaboradas pelas professoras no início da formação de acordo com o Conhecimento
do Conteúdo na perspectiva de Ball, Thames e Phelps (2008) e do Ensino do Campo Conceitual Aditivo e as
análises desenvolvidas por elas durante uma das sessões de formação.
2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Para realizar esta investigação nos apoiamos em resultados de pesquisas que apontam haver estreita
relação entre as situações elaboradas por professores e o desempenho dos alunos. Magina (2011);
Miranda (2014) e Etchverria (2014), por exemplo, destacam a relação entre as situações do Campo aditivo
formuladas por professores e o rendimento dos estudantes. A mesma relação foi observada por Magina,
Merlini e Santos (2013) e Pinheiro (2013) para estruturas multiplicativas e frações. Quanto às estruturas
aditivas, Magina (2011), por exemplo, realizou um estudo com 103 professores que lecionavam para os
anos iniciais do Ensino Fundamental e comparou com resultados de desempenho dos 5os anos desse
mesmo segmento de ensino (alunos de 9 e 10 anos) em macroavaliações (SAEB). Ao analisar os resultados
à luz da Teoria dos Campos Conceituais a autora concluiu que:
Comparados os resultados desses problemas com os resultados obtidos pelos
estudantes da 4a série do Ensino Fundamental, nos mais recentes instrumentos
diagnósticos oficiais (BRASIL, 2006; 2008), pode-se ver que existe uma estreita
relação entre o desempenho das crianças nesses diagnósticos e o tipo de
problemas que os professores do estudo elaboraram. (MAGINA, 2011, p.71)
Resultados semelhantes a esse foram encontrados em 2014 por Etchverria no estudo denominado por ela
como Diagnóstico, ao investigar a relação entre as situações presentes no livro didático e as formuladas
pelos professores participantes que lecionavam em uma escola de Sergipe e o conhecimento explicitado
por seus alunos. A autora analisou o livro didático, aplicou aos 248 alunos um questionário contendo 10
situações envolvendo as estruturas aditivas e solicitou a seus professores a elaboração de seis problemas
de adição e/ou subtração. Segundo essa pesquisadora seus resultados: “confirmam uma relação entre os
problemas aditivos elaborados pelas professoras, os problemas de adição e subtração do livro adotado
pela escola e o desempenho dos estudantes nesses tipos de problemas”. (ETCHVERRIA, 2014, p.233).
Dessa forma, consideramos ser relevante também que ao iniciar o processo formativo solicitássemos as
professoras participantes a elaboração de questões envolvendo as estruturas aditivas. Pretendíamos, com
isso, obter as primeiras informações sobre as concepções relativas ao Campo Conceitual Aditivo
explicitados pelo grupo de professores.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para alicerçar este estudo, nos apoiaremos na Teoria dos Campos Conceituais, sobretudo do Campo
Conceitual Aditivo proposta por Vergnaud (1983, 2009, 2010) e acerca
dos conhecimentos necessários para o ensino descritos por Ball, Thames e Phelps (2008). No tocante a
Teoria dos Campos Conceituais (TCC) Gérard Vergnaud é um dos primeiros psicólogos a se interessar pela
questão dos conteúdos de ensino no âmbito de uma psicologia cognitiva. Esta teoria tem base piagetiana e
alguns pontos sedimentados em Vygotsky. No que diz respeito à teoria socio-histórico-cultural de
Vygotsky, Vergnaud (2010) atribui valor às interações sociais, à linguagem e às suas representações. Do
escopo de Piaget os pontos utilizados por Vergnaud são como se organizam: as operações lógicas, as
estruturas gerais do pensamento e o conceito de esquema, dentre outros. Para Vergnaud, Jean Piaget criou
uma importante obra que tinha como objetivos centrais investigar como a criança se desenvolvia e
compreender os conceitos que permeavam o seu contexto. Porém, Vergnaud amplia este olhar quando se
interessa pela aprendizagem dos conceitos que são ensinados no âmbito escolar.
4
(Essa formaçao resultou uma dissertaçao de mestrado intitulada: Formaçao Continuada de Professores e sua Reflexao:
Estudo de situaçoes do campo conceitual aditivo.)
27
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
A definição de Campo Conceitual sob a ótica de Vergnaud “É um conjunto de problemas e situações para o
tratamento necessário de conceitos, procedimentos e representações de diferentes tipos, mas que têm
interconexões muito próximas.” (VERGNAUD, 1983, p. 127). O controle dos aspectos supracitados se
desenvolve em um dado tempo e por meio da experiência, aprendizagem e maturação. Vergnaud
desenvolve uma teoria que se propõe fornecer uma estrutura à aprendizagem e que seu principal objetivo
é compreender as rupturas e conexões entre os conhecimentos. E sua defesa teórica se sedimenta em
propor uma tríade que, ao inter-relacionar os seus três componentes: Situação, Invariantes e as
Representações, que podemos representar assim (S, I e R), compõem a Teoria do Campo Conceitual (TCC).
Como nosso foco será a análise das situações destacaremos as indicações do autor para esse componente.
Vergnaud (2009) defende que a apropriação do conhecimento acontece por meio da vivência de situações
diversas e que os conceitos podem variar de acordo com o desenvolvimento individual do sujeito. A
situação (S) é definida como um conjunto de situações que auxiliam na significação do conceito, ou seja,
aquilo que pode dar sentido e influir na compreensão dos conceitos quando são internalizados. Dessa
feita, ganham significado para o aprendiz, de acordo com as experiências diversas e conhecimentos
prévios de cada ser, até aquele momento, como nos confirma Vergnaud, (...) “os processos cognitivos e as
respostas do sujeito são função das situações com que ele se confronta”. (VERGNAUD, 1996, p.12). Nossa
escolha pelas estruturas aditivas se deve ao fato de que todas as professoras desenvolviam seu trabalho
sobre essa temática e o consideravam satisfatório,entretanto Vergnaud (2010) considera que o domínio
desse Campo Conceitual não é tão imediato. Para o autor a teoria do Campo Conceitual do Campo Aditivo
constitui o conjunto das situações cujo tratamento utiliza uma ou várias adições ou subtrações ampliadas
do conjunto dos conceitos e teoremas que traçam uma análise dessas situações como tarefas matemáticas.
Vergnaud (1993, 2009) identifica seis categorias, também chamadas de relações de base. Nas estruturas
aditivas propostas por Vergnaud (2009) encontramos 6 relações de base ou categoria que iremos
exemplificar no Quadro 1, a seguir:
Quadro 1 – Relações de base da estrutura aditiva
28
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Ao observarmos a diversidade de ideias e processos mentais que são propostos por situações variadas no
quadro acima, consideramos que o papel do professor é fundamental, sobre isso concordamos com
Vergnaud (2004) que para a realização do ensino:
(...) que seu primeiro ato [do professor] de mediação é a escolha de situações,
(...) O professor toma decisões o tempo todo, mas a escolha de situações é,
provavelmente, a decisão mais importante na lógica dos campos conceituais,
porque ela supõe tanto
uma reflexão epistemológica e uma adaptação aos alunos e as questões que
venham a surgir (...). (VERGNAUD, 2004, p. 37-38)
Para que essas escolhas e decisões sejam mais conscientes, necessitamos indagar algumas questões: Quais
os conhecimentos necessários que compõem a sua ação docente? A partir do que essas questões suscitam,
iremos trazer à tona estudos Ball, Thames e Phelps categorizam os conhecimentos necessários para o ensino
em: conhecimento do conteúdo (comum/horizontal/especializado); conhecimento pedagógico do conteúdo
(conhecimento do conteúdo e dos estudantes; conhecimento do conteúdo e do ensino e conhecimento
curricular). Considerando esse marco teórico, para esse estudo investigaremos os conhecimentos acerca das
estruturas aditivas e sua relação com o ato de ensinar, ou seja, procuraremos analisar os conhecimentos do
conteúdo e do ensino dos professores participantes. Consideramos assim como Ball, Thames e Phelps (2008) a
importância que o professor crie e escolha exemplos que possibilitem aos seus alunos a compreensão desse
campo conceitual.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nossa pesquisa se caracteriza por aspectos qualitativos, pois analisamos o processo e não meramente os
resultados obtidos. Coletamos as informações a partir de um questionário inicial apresentado as quatro
professoras participantes na primeira sessão de formação. Pretendíamos com a análise dos dados
elaborarmos
o
primeiro
plano
para
o
processo
de
formação continuada na própria escola. A partir da análise do questionário e das situações apresentadas
pelas professoras foi organizado o processo de formação.
5. ANALISE DOS DADOS
Nesse questionário solicitamos às professoras que formulassem 8 questões que envolvessem as operações
de adições e subtrações. Elas construíram as questões de forma individual sem a nossa mediação, por fim
recolhemos o material para análises e comparações entre as questões produzidas ao fim da formação e
aquelas que foram formuladas na fase inicial. As professoras eram responsáveis pelos 3º anos do Ensino
Fundamental naquela escola e as denominamos como P1, P2, P3 e P4, para preservarmos suas
identidades. Analisando seu perfil, podemos afirmar quem a maioria tinha entre 45 e 49 anos, com
experiência de ensino variada: P1 estava em início de carreira, P4 lecionava há mais de 5 anos, P3 entre 15
e 19 anos e P2 estava com mais tempo uma vez que lecionava há mais de 20 anos. É importante destacar
que todas as professoras já haviam concluído a graduação e estavam frequentando cursos de pósgraduação. Todavia, mesmo considerando que todas estejam cursando especialização, nenhuma das
professoras investigadas admitiu ter algum contato com estudos que discutem a Teoria dos Campos
Conceituais. Quando questionadas como elas preparavam suas aulas todas indicaram utilizar livros.
Segundo P1 e P2, por exemplo, elas trabalhavam “com base em livros que trazem novas formas de ensinar
e outras pesquisas”, P3 e P4, também afirmaram apoiar-se em livros “que trazem novas formas de
ensinar”. Nesse sentido, podemos observar que todas procuravam indicações metodológicas nos livros.
Para classificar as tarefas, analisamos 6 categorias5: Tipos de Tarefas (Ta); Quantidade de Situações (Si);
Compreensão explicitada (Co); Classificação segundo Vergnaud (Cl); e, finalmente, se for situação, se é
uma relação ternária (Tern)6. Essas categorias foram organizadas em subcategorias conforme
Esta classificação foi inspirada no desenho metodológico apresentado no projeto Observatório da Educação – OBEDUC/EMULT que
promove o desenvolvimento de estudos e pesquisas com escolas públicas dos estados da Bahia, Ceará e Pernambuco com a temática
central das estruturas multiplicativas de Vergnaud, mas adaptamos para o desenho metodológico para campo conceitual aditivo. Os
resultados dos estudos e pesquisas do Grupo OBEDUC /EMULT estão no prelo.
5
Segundo Silva (2010) “Relação ternária: Uma relação ternária R (a, b, c) é uma relação entre os elementos a, b, c em que R tem
uma relação ternária R sobre três universos A, B e C (não necessariamente diferentes) é definida por R ⊆ A X B X C, ou seja, R é
um subconjunto do produto cartesiano entre A, B e C”. (SILVA, 2010, pp. 21 e 22).
6
29
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
apresentado no Quadro 2.
Quadro 2 – Significado dos códigos e das siglas
A análise final das tarefas (situações ou operações) criadas pelas professoras foi realizada por meio da
tabulação dos dados organizados nos quadros 3, 4, 5 e 6. O quadro a seguir contém as tarefas produzidas p
ela professora P1.
Quadro 3 – Tarefas elaboradas pela professora P1
Analisando os dados, é possível perceber que a professora P1 demonstrou preocupação em oferecer aos
estudantes vivências de situações contextualizadas, mas também tarefas que avaliem somente os
procedimentos de cálculo. P1 elaborou 8 tarefas, das quais 5 eram situações e 3 operações, todavia, das
situações, duas não abordavam relação ternária. Ao realizar a análise das situações ternárias, observamos
que todas elas eram prototípicas e 1 envolvia situação de composição, enquanto 2 de transformação. Cabe
ressaltar que, duas das situações não eram ternárias, mas envolviam situações de composição e
transformação mais simples, em que se buscava o todo na composição e o estado final na transformação.
Para analisar as tarefas elaboradas pela professora P2, tabulamos e analisamos os resultados do quadro 4:
30
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Quadro 4 – Tarefas elaboradas pela professora P2
Explorando os dados apresentados pela professora 2 (P2), percebemos que houve variações nas questões
formuladas. A P2 elaborou 8 tarefas que eram em sua totalidade situações contextualizadas. Ao realizar a
análise das situações, observamos que as questões: Q1, Q3 e Q4 tinham a ideia do campo multiplicativo
demarcado nas suas formulações, ou seja, havia uma relação fixa entre as duas variáveis. No caso da
adição, se trabalha com a noção de que a soma das partes é igual ao todo, sendo que as partes são de uma
mesma natureza, isto é, envolve somente uma variável. Acreditamos que isso tenha ocorrido, pois o
momento em que solicitamos as questões formuladas pelas professoras, elas estavam realizando em sala
de aula estudos sobre a operação multiplicação. Todavia, mesmo com a ideia do campo multiplicativo, nós
a classificamos como composição prototípica, pois é a relação de base que enfatiza operações com partes
iguais (adição de parcelas iguais). Quatro questões (Q2, Q6, Q7 e Q8) foram feitas sobre a relação de
composição. Duas dessas (Q6 e Q8) foram formuladas de maneira prototípica em que sabemos as partes e
queremos saber o todo e as outras de 1a extensão, em que sabemos o todo e uma das partes e procuramos
descobrir a outra parte do todo. Tivemos, também, uma questão de transformação subtrativa prototípica,
que se sabia o estado inicial e a transformação e buscava-se o estado final, após a transformação. Para
analisar as tarefas elaboradas pela professora P3, tabulamos e analisamos os resultados do quadro 5:
31
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Quadro 5 – Tarefas elaboradas pela professora P3
A professora (P3) formulou 8 tarefas, sendo 6 situações e somente 2 com o formato de solucionar a
operação. As questões 1 e 2 (Q1, Q2) foram elaboradas com a ideia do campo
multiplicativo e como nas análises anteriores, categorizamo-las como composições prototípicas. As outras
questões (Q5, Q6 e Q7) foram estruturadas com a ideia da relação de transformação subtrativa prototípica
defendida por Magina et al (2008), ou seja, em que se sabe o estado inicial e a transformação utilizada e
busca-se o estado final, após a transformação com a ação subtrativa. Para analisar as tarefas elaboradas
pela última professora (P4), tabulamos e analisamos os resultados do quadro 76.
32
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Quadro 6 – Tarefas elaboradas pela professora P4
Analisando os dados apresentados pela professora P4, percebemos que houve variações nas questões
propostas. A P4 elaborou 8 tarefas que eram 6 situações contextualizadas e 2 tarefas com formato de resolução
de operação. Quatro questões (Q3, Q5 e Q7) foram feitas sobre a relação de composição, contudo a questão 8
(Q8) foi elaborada com a ideia de composição de transformação, ou seja, no caso ocorreu a composição de duas
transformações. Três dessas (Q3, Q5 e Q7) foram formuladas de maneira prototípica em que conhecemos
as partes e queremos
descobrir o todo. Um dado relevante é que essa professora formulou a questão 8 com a ideia bem mais
complexa, que é a composição de transformações, que categorizamos com base em Magina et al (2008) de
mista
como
podemos
constatar
ao
analisá-la. Tivemos uma questão de transformação subtrativa prototípica, que se sabia o estado inicial e a
transformação e buscava-se o estado final após a transformação que é a questão 6 (Q6).
Verificando os dados das quatro professorass observamos que das 32 questões elaboradas pelas
professoras, 25 eram situações e as 7 restantes eram formuladas no algoritmo de “ arme e efetue” que
caracterizamos como operações. Além disso, percebemos que excetuando a P2, as outras ainda utilizavam
dessa estratégia em suas formulações. P3 e P4 elaboraram cada uma, 2 questões assim, enquanto a P1
criou 3 questões.
Quando analisamos os tipos de situações criadas, dentre as 25 questões, precisamos que as relações de
base defendidas por Vergnaud e seus seguidores como Magina et al (2008) as mais utilizadas pelas
professoras em sua maioria foi a composição, aquela que é ofertada as partes e deseja-se descobrir o todo,
excetuando a P3 que formulou igualmente questões de composição e de transformação. Outro fator
relevante é que não foi gerada nenhuma questão com a ideia de comparação.Podemos destacar ainda que
as composições prototípicas têm um destaque maior sobre os outros tipos de relações de base. No caso da
P1 observamos que as suas formulações estão calcadas exclusivamente nas prototípicas, sendo que
somente 1 é do modelo de transformação. No caso da P2 a sua maioria é realmente a composição
prototípica, contudo ela consegue formular uma questão de composição de 1a extensão. No caso da P3 as
suas questões elaboradas estão igualmente divididas entre as prototípicas de composição e
33
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
transformação. Quanto a P4, observamos que ela teve uma variedade maior, pois formulou 2 questões de
prototípicas de composição e 2 de transformação. Também formulou uma composição de transformações.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As respostas do grupo investigado nos mostraram que, mesmo considerando que todas cursassem
especialização e a disponibilidade das professoras em aprender, nenhuma delas teve contato anterior com
a
TCC.
Ao
criar
as
questões
observamos
que
as
questões
elaboradas
eram de composições e transformações em sua maioria prototípicas, ou seja, que têm como objetivo uma
ação elementar que é saber as partes e descobrir o todo, ou no caso das transformações, sabemos o estado
inicial e o final e queremos descobrir a transformação seja ela aditiva ou subtrativa. O que nos parece
preocupante, uma vez que estudos apoiados em Vergnaud nos mostram a necessidade de o professor
proporcionar aos estudantes possibilidades de trabalho com diferentes situações.
Consideramos, assim como Ball et al (2008), que esse desconhecimento do conteúdo, possivelmente
compromete os conhecimentos: do Conteúdo e do Estudante; do Conteúdo e do Ensino e o Curricular,
entretanto, é importante chamar a atenção para o fato que os resultados aqui apresentados refletem o
domínio das participantes sobre as estruturas aditivas, no início da nossa investigação. Nesse sentido, cabe
ressaltar que durante o processo formativo observamos haver superação de algumas dessas concepções,
todavia esses resultados apresentaremos em outro artigo. Dessa forma, a análise destes dados nos
permitiu organizar o processo de formação. Nele apresentamos, já nos primeiros encontros, em linhas
gerais, a biografia do Vergnaud e como ele estruturou a TCC e o CCA. Em seguida, realizamos um estudo
teórico dos seus pressupostos e procuramos apoio também em autores que se referenciam em seus
estudos como aportes, como Magina et al (2008). Objetivávamos com essa ação, levar resultados de
pesquisa a fim favorecer a (re)significação do conhecimento profissional docente. Esperávamos com isso
que as professoras pudessem promover em suas salas de aula situações variadas de aprendizagem em que
os alunos tivessem contato com uma diversidade maior de situações.
Reiteramos que analisando os dados iniciais observamos que a maioria das situações elaboradas pelas
professoras eram prototípicas e, segundo Vergnaud (2010), nesse tipo se situação os alunos utilizam-se de
esquemas para resolvê-las, desenvolvidos antes de chegar à escola. Acreditamos ser importante que o
professor que leciona para o terceiro ano perceba a necessidade de oferecer a esse estudante vivências de
outras situações. Sobre isso, Vergnaud (2010), afirma: Se o conhecimento é adaptação, para as crianças
aprenderem temos que desestabilizá-las. Se as crianças não têm motivo para se adaptar à situação nova,
por que aprender? A infelicidade de tudo isso é que se desestabilizarmos demais as crianças, elas não vão
aprender. (VERGNAUD, 2010, 1 DVD)7. Dessa forma, consideramos, assim como o autor citado, que a
mediação do professor é fundamental nos processos de aprendizagem.
Nesse sentido, consideramos que o primeiro passo seria conhecer os pressupostos da teoria a fim de
viabilizar a análise e o reconhecimento da classificação proposta por Vergnaud, observando os diferentes
graus de dificuldade de cada tipo de situação.
REFERÊNCIAS
[1]
Ball, D. L., Thames, M. H., & Phelps, G. Content Knowledge for Teaching What Makes It Special? In: Journal of
teacher education, p. 403, 2008.
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Fundamental. Tese, (Doutorado em Educação Matemática) Universidade Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2014.
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Magina, S. A pesquisa em sala de aula de matemática das séries iniciais do ensino fundamental. Contribuições
teóricas da psicologia. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. Especial 1/2011, p. 63-75, 2011.
[4]
Merlini, V. L; Magina, S; Santos, A. Estrutura Multiplicativa: Um Estudo Comparativo entre o que a professora
elabora e o desempenho dos estudantes. Ata do VII Congresso Ibero-americano de Educação Matemática – VII CIBEM.
Montevidéu, 2013.
[5]
Miranda, M.S. Uma investigação sobre a (re)construção do conhecimento de professores participantes de um
grupo que estuda o campo conceitual aditivo. Dissertação, (Mestrado em Educação Matemática) Universidade
Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2014.
7
Esta citaçao foi retirada do curso de altos estudos proferido por Gerard Vergnaud: Teoria dos Campos Conceituais: o
estudo das estruturas multiplicativas em 2010 na UNIBAN (hoje Universidade Anhanguera).
34
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
[6]
Pinheiro, M.G.C. Formação de professores dos anos iniciais: conhecimento profissional docente ao explorar a
introdução do conceito de fração. Dissertação, (Mestrado em Educação Matemática) ) Universidade Anhanguera de
São Paulo, São Paulo, 2014.
[7]
Vergnaud, G. Multiplicative structures. In Lesh, R. and Landau, M. (Eds.) Acquisition of Mathematics Concepts
and Processes. New York: Academic Press Inc. pp. 127-174, 1983
[8]
______. Lev Vygotski. Pedagogo e pensador do nosso tempo. Porto Alegre: Geempa, 2004.
[9]
______. Gérard. A criança, a matemática e a realidade. Curitiba: Editora UFPR, 2009.
[10]
______. G. Escola de altos estudos. Teoria dos Campos Conceituais: o estudo das estruturas multiplicativas. São
Paulo: Uniban, 2010. 1 DVD.
35
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 5
Um estudo sobre as concepções de professores do
Ensino básico em relação à Aleatoriedade
Marcelo Rivelino Rodrigues
Resumo: Neste artigo apresentamos a análise realizada a partir dos dados coletados, por
meio de um questionário de Concepções Probabilísticas, que foi aplicado a um grupo de
184 professores do Ensino Básico do Município de São Paulo. Em nossa pesquisa
buscamos identificar, no grupo de professores participantes, se estes reconhecem ou
não, a ocorrência de eventos aleatórios nos mais diversos contextos, para
posteriormente analisar os conjuntos de argumentações que os mesmos utilizaram em
suas respostas. O reconhecimento da natureza aleatória de certos eventos, mostra-se
indispensável para a construção de uma estrutura matemática como a Teoria da
Probabilidade, além do fato de ser fundamental na formação e/ou atuação de
professores que irão ensinar Matemática. As análises estatísticas desenvolvidas neste
trabalho, foram possibilitadas pelo software de Classificação Hierárquica, Implicativa e
Coesitiva (C.H.I.C). A partir dos resultados foi possível realizar a identificação de
diferenças significativas entre a afirmação e a negação da aleatoriedade dos eventos
incertos. Nossa pesquisa está fundamentada nos trabalhos de Azcárate que categorizou
os Pensamentos Probabilísticos, de Cardeñoso que categorizou as Concepções
Probabilísticas e de Gal que apresentou a definição para Letramento Probabilístico. Em
nossa análise identificamos professores que, em suas argumentações, apresentaram
indícios de concepções que não lhes permitem abordar adequadamente o ensino de
Probabilidade.
Palavras-chave: Probabilidade; Aleatoriedade; Concepções; Crenças; Letramento
Probabilístico.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
A Probabilidade é sem dúvida, uma ferramenta poderosa quando nos encontramos em situações, onde
devemos tomar decisões baseadas em informações de acontecimentos semelhantes àquele a qual estamos
vivendo. Ou até mesmos, quando não possuímos informações prévias de determinado assunto, e desta
forma, apoiados em nossas experiências pessoais, conseguimos avaliar dentre os resultados possíveis,
para a tomada de decisões, aquele ou aqueles que mais atenderão aos nossos objetivos e interesses. A
aleatoriedade está na estrutura da concepção de Probabilidade, uma vez que grande parte dos eventos são
de caráter aleatórios e, em contrapartida, poucos são de caráter determinísticos. Segundo Azcárate,
Cardeñoso e Porlán, a aleatoriedade:
Sendo o núcleo do conhecimento probabilístico, é considerada habitualmente
como um conceito ‘óbvio’ e seu significado não é analisado com profundidade.
Porém, podemos supor que determinados tipos de concepções sobre ela podem
ser um claro obstáculo para a compreensão da natureza probabilística de certos
aspectos da realidade (Azcárate, Cardeñoso e Porlán, 1998, p.86 – tradução
nossa).
A importância da noção de aleatoriedade encontra-se no fato, desta ser um conceito que está diretamente
envolvido com a nossa própria maneira de conceber a realidade e conhecimentos. Como analisa Kyburg:
É um conceito relacionado com nosso corpo de conhecimento, que de alguma
forma reflete o que sabemos e o que não sabemos (Kyburg, 1974, p.217, Apud
Azcárate, Cardeñoso e Porlán, 1998, p. 86 - Tradução nossa)
Partindo deste princípio, iremos expor parte da nossa pesquisa que está em andamento.
Primeiramente iremos apresentar um panorama das discussões atuais sobre os rumos que a educação
brasileira deverá tomar nos próximos anos, trazendo uma breve análise dos documentos oficiais que
tratam sobre a organização curricular no Brasil. Em seguida, apresentamos a análise bibliográfica que
respaldou a nossa pesquisa.
Panorama atual da Educação no Brasil
No momento em que a Educação Básica brasileira passa por um processo de integração do seu currículo,
entendemos o quão oportuno é que pesquisas voltadas para esse ciclo de ensino se intensifiquem.
Dentre as linhas de pesquisas que estão em curso, destacamos aquelas cujos focos estão na formação de
professores, pois nos encontramos com a oportunidade ímpar de promovermos mudanças significativas
nessa área, uma vez que o Ministério da Educação e Cultura (MEC), neste momento histórico, debruça-se
na elaboração de um documento que visa a unificação do currículo da Educação Básica no Brasil e que fala
sobre a formação de professores.
Base Nacional Comum Curricular
A ideia de um documento que unificasse os conteúdos da Educação Básica no Brasil já fora sugerida na
Constituição de 1988, pois em seu Artigo 210, a nossa Carta Magna prevê a criação de uma grade
curricular de conteúdos fixos a serem estudados no Ensino Fundamental.
Posteriormente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1997, foram apresentados os
Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio, cujo objetivo não foi o de criar um
currículo único para a Educação Básica, mas sim o de oferecer subsídios para os conhecimentos que
deveriam ser abordados nos referidos níveis de ensino.
Em 2014 ocorreu a publicação do Plano Nacional de Educação (PNE), para o decênio de 2014 à 2024, nele
consta as 20 metas a serem alcançadas no período estabelecido. Em sua meta de número 7, o PNE visa o
estabelecimento e implantação, mediante à pactuação interfederativa, das Diretriz Pedagógicas para a
Educação Básica e a elaboração da Base Nacional Comum Curricular, com direitos e objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada ano do Ensino Fundamental e Médio,
respeitada a diversidade regional, estadual e local.
Um dos objetivos da BNCC será o de reduzir as desigualdades educacionais do país. No texto de
apresentação da BNCC, o Ministério da Educação e Cultura enfatiza que dois rumos importantes surgirão
após a aprovação da base.
O primeiro diz respeito à formação, tanto inicial quanto continuada dos professores e o segundo, se refere
ao material didático, pois na visão do MEC ambos deverão passar por mudanças significativas.
37
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Apoiado nesta perspectiva de mudanças significativas, nos colocamos a analisar o que os documentos
oficiais, PCN’s e BNCC, apresentam em relação ao tema Probabilidade, pois, no que tange os conteúdos
matemáticos para Ensino Básico, a Probabilidade é um dos campos que tem merecido destaque, ora por
sua inestimável importância para uma formação cidadã, ora por sua capacidade de viabilizar um maior
entendimento do mundo ao nosso redor. Assim, este tema se apresenta como uma terra fértil para
pesquisas de toda sorte.
A Probabilidade nos documentos oficiais
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, o tema Probabilidade encontra-se no campo denominado
Tratamento da Informação, que engloba os conhecimentos de Contagem, Probabilidade e Estatística.
Segundo os PCN’s, esse conteúdo do conhecimento Matemático deverá ser abordado a partir do Ensino
Fundamental. Com essa orientação nos PCN’s, pela primeira vez, um documento oficial trazia em suas
páginas, a indicação para o Ensino da Probabilidade também nas séries iniciais.
Corroborando com essa ideia, a Base Nacional Comum Curricular, em seu documento introdutório da área
de Matemática, prevê para todas as séries que compõem o Ensino Básico a abordagem desse conteúdo.
Considerando o fato de que em maio de 2016, o Ministério da Educação e Cultura apresentou a segunda
versão do documento da Base Nacional Comum Curricular, e que neste momento, o mesmo encontra-se na
sua terceira revisão, por ora optamos por nos pautar apenas nos documentos vigentes, ou seja, os
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Devido aos contornos da vida moderna em sociedade, os PCN’s nos apontam para
possibilidade/necessidade, de abordar o tema Probabilidade desde os anos iniciais. Nessa perspectiva,
iniciamos a nossa pesquisa que versa sobre as concepções probabilísticas dos professores que atuam no
Ensino Básico. O nosso ponto de partida foi realizar uma análise bibliográfica dos trabalhos que tinham
por tema o Ensino e Aprendizagem de Probabilidade.
2.ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA
Na pesquisa realizada em 2015, Santos analisou as Teses e Dissertações que versam sobre o tema
Educação Estatística junto ao Banco de Teses e Dissertações da CAPES e também, junto à Biblioteca Digital
Brasileira de Tese e Dissertações (BDTD). Dos trabalhos encontrados pelo autor, apenas 17 deles estavam
relacionados com a temática das concepções, competências, percepções e representações sobre os temas
Estatística, Probabilidade e Contagem.
Coutinho (2013) ao analisar as Teses e Dissertações que abordaram este assunto pelo viés do conteúdo, do
aluno e do professor, constatou que os trabalhos realizados sobre esses temas, aparecem em um número
muito reduzido se compararmos com outros conceitos Matemáticos, por exemplo a Educação Estatística e
a Matemática Financeira.
Por essas razões a nossa pesquisa se debruça sobre o tema Ensino e Aprendizagem de Probabilidade, com
foco nos professores do Ensino Básico.
Buscamos analisar os conhecimentos, conceitos e crenças de professores que atuam neste nível de ensino
apresentam, quando os mesmos respondem a um questionário de concepções probabilísticas.
Neste presente artigo, trazemos uma análise dos dados coletados junto a um grupo de 41 professores de
Matemática do Ensino Fundamental II, em relação ao reconhecimento de eventos aleatórios inseridos em
diversos contextos.
3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Na construção de nossa pesquisa, mais precisamente no que diz respeito à coleta e análise dos dados,
realizamos os seguintes procedimentos:
Adaptamos para a nossa realidade, o instrumento de coleta de dados denominado “Questionário
de Concepções Probabilísticas” (QCP), que foi elaborado por Cardeñoso (1998);
Definimos o grupo de professores que iriam participar de nossa pesquisa;
Utilizando o software Excel da Microsoft para tabular os dados coletados;
38
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Submetemos os dados tabulados ao software Classificação Hierárquica, Implicativa e Coesitiva,
afim de obter os gráficos de coesão, implicação e similaridade.
Analisamos os gráficos obtidos à luz das Concepções Probabilísticas definidas por Cardeñoso
(1998).
4.REFERENCIAL TEÓRICO
Na fase de elaboração/adaptação do instrumento de coleta de dados, como também nas fases de
tratamento e análise dos dados obtidos, estivemos sempre pautados na definição de “contexto”,
apresentada por Azcárate (1995) e defendida por Cardeñoso (1998).
Em nossa pesquisa, utilizamos o termo “contexto” como o ambiente físico ou situacional (conjunto de
circunstâncias), a partir do qual se considera um fato. Neste sentido trazemos como exemplo uma situação
de análise de informações no “contexto de jogos”, ou seja, a ideia central da situação apresentada, está
centrada no ambiente de jogos.
Segundo Azcárate, Cardeñoso e Porlán (1998), o contexto mantem uma significativa influência nas
argumentações dos sujeitos. De acordo com esses autores:
O próprio contexto em que está imersa a situação, a experiência sobre o
contexto e o significado que esta situação particular tem para eles, determinam
os julgamentos ou decisões sobre o assunto, pelo qual pensamos que a
justificação do indivíduo, pode nos fornecer informações mais precisas sobre os
seus argumentos de discriminação que estabelece um critério geral de
aleatoriedade, aplicável nas distintas situações. (Azcárate, Cardeñoso e Porlán,
1998, p. 90 – Tradução nossa)
Em nosso instrumento de coleta de dados, optamos por apresentar os eventos aleatórios imersos em três
contextos: Jogos, Cotidiano e Físico/Natural.
Cardeñoso (1998) apresentou em sua pesquisa, uma categorização das Concepções Probabilísticas. Essa
categorização foi possibilitada pela análise dos dados coletados junto ao grupo de professores que
responderam ao Questionário de Concepções Probabilísticas.
Ele dividiu em duas dimensões as concepções observadas: Dimensão Aleatoriedade e Dimensão
Probabilidade. Neste artigo utilizaremos a categorização da Dimensão Aleatoriedade. Essa dimensão
apresenta cinco grupos assim definidos:
Causalidade: Argumentação que tem como critério de reconhecimento da aleatoriedade, explicações em
função dos diversos fatores causais ou, na ausência de possibilidade de seu controle.
Multiplicidade: Argumentação que tem com critério de reconhecimento da aleatoriedade, a existência de
múltiplas possibilidades no desenvolvimento do fenômeno.
Incerteza: Argumentação na qual se utiliza como critério de reconhecimento da aleatoriedade, a própria
imprevisibilidade do evento, sem aprofundar na sua explicação ou análise.
Subjetividade: Argumentação na qual se utiliza como critério de reconhecimento da aleatoriedade,
considerações referidas à própria vivência ou crenças subjetivas.
5.ANÁLISE DOS DADOS
O primeiro gráfico traz a porcentagem de professores do Ensino Fundamental II que reconhecem ou não,
os eventos apresentados como aleatórios.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Figura 1: Gráfico de reconhecimento da Aleatoriedade de um evento em relação ao contexto
Fonte: Autor (2016)
Podemos observar que o reconhecimento de eventos aleatórios está aparentemente relacionado à ideia de
contexto, pois claramente identificamos um decréscimo relevante do reconhecimento, por parte desses
professores, de eventos aleatórios quando comparamos os contextos de Jogos e do Cotidiano. E essa
diferença aumenta quando comparação se dá entre os contextos Jogos e Físico/Natural.
Estes fatos nos direcionam à possibilidade da influência dos conteúdos dos livros didáticos, que
apresentam as situações de eventos aleatórios quase que exclusivamente no contexto de Jogos. Em seus
trabalhos, Lajolo (1996) e Gonçalves (2004), apontam uma forte influência dos livros didáticos nas práxis
dos professores, principalmente os professores do Ensino Básico, que têm no livro didático a sua principal,
quando não única, fonte de conteúdo e conhecimentos.
Outro ponto que podemos destacar, está relacionado à definição de Letramento Probabilístico trazida por
Gal (2005), onde o autor destaca a necessidade de identificar ocorrência de eventos aleatórios nos mais
diversos contextos.
Em uma das nossas questões de pesquisa, fazemos a seguinte indagação: Os professores do Ensino Básico
reconhecem maioritariamente os fenômenos aleatórios?
Entendemos que em relação a esse grupo de professores analisados, podemos concluir que os mesmos não
apresentam um reconhecimento de eventos aleatórios satisfatório, quando estes aparecem em contextos
distintos ao de Jogos.
Como agravante ressaltamos que esses professores possuem graduação em Matemática e, que em sua
maioria, ministram aulas a mais de uma década para esse nível de ensino.
Análise do nó significativo do nível 1
O grafo a seguir apresenta o nó significativo do nível 1.
Figura 2: Grafo de similaridades 1
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Fonte: Autor (2016)
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Devemos observar que os nós significativos têm as suas probabilidades entre 0 e 1. A probabilidade do
nível 1 alcançou o valor de 0,989, ou seja, existe uma grande chance de que o resultado apontado por este
nó de fato venha ocorrer.
As tipicalidades desta classe (nível 1) apresenta a relação existente entre os itens P2Q12Nc e P2Q22Nc,
ambos relacionados à dimensão aleatoriedade. Para as questões que compõe a dimensão aleatoriedade,
tem-se como possibilidades de respostas as alternativas dos tipos: Aleatório (A) e Não Aleatório (N). Cada
uma dessa alternativas dispunha de quatro opções de justificativas sendo que três dessas opções eram do
modelo de questões fechadas e uma do modelo de questões abertas.
A variável típica desta classe é P1Q12b com risco de 0,0404, valor este que indica um baixo risco de tal
acontecimento não ocorrer. A característica principal desta variável, está relaciona aos professores que
não fizeram nenhum curso de pós-graduação, independentemente do tempo de atuação no magistério.
O item P2Q12Nc, que está inserido no contexto do Cotidiano, traz a seguinte questão: “Prever a próxima
ideia que vem à mente é um evento...”, (A) Aleatório e (NA) Não Aleatório?
O item oferece as seguintes opções de argumentações na Dimensão Aleatoriedade:
a) Causalidade: Porque ela depende do que acontecer, as relações entre ideias, o que me preocupa, o que
havia pensado antes.
b) Incerteza: Porque eu não posso saber o que vai acontecer comigo depois de um tempo.
c) Multiplicidade: Porque à mente veem muitas ideias que você sequer está pensando.
d) Subjetividade: Porque, na minha opinião...
O item P2Q22Nc do contexto Físico-Natural, traz a seguinte questão: “Sofrer uma indigestão é um
fenômeno...”, (A) Aleatório e (NA) Não Aleatório?
a) Causalidade: Porque é um produto de muitas coisas, do tipo de alimento, uma mudança de temperatura,
de um banho, ...
b) Multiplicidade: Porque eu posso sofrer depois de uma refeição muitos contratempos, incluindo uma
indigestão.
c) Incerteza: Porque é possível que ocorra, no entanto, não poderei saber com certeza.
d) Subjetividade: Porque, na minha opinião...
Em uma primeira análise podemos observar que este grupo de professores apresentam uma certa
dificuldade de reconhecer como aleatórios eventos pertencentes ao contexto do Cotidiano. O mesmo
ocorre quando o contexto abordado passa a ser o Físico/Natural. De forma contraditória, em suas
argumentações, esses professores pautam-se ora na multiplicidade de possibilidades da ocorrência do
evento, ora na própria imprevisibilidade do evento, ou seja, não reconhecem os eventos com aleatórios
mas usam argumentações pautadas na própria incerteza apresentada no evento.
Análise do nó significativo do nível 8 relacionado com o nível 11
O próximo gráfico traz o nó significativo onde os professores que assim responderam, demonstraram ter
dificuldades aparentes em reconhecer a ocorrência de eventos aleatórios nos contextos utilizados. Nos
chama a atenção que para o item P2Q16AdAc, do contexto de Jogos, apresenta o reconhecimento da
aleatoriedade com argumentações apoiadas na Causalidade e Subjetividade, em contrapartida no item
P2Q17NbNa, inserido no mesmo contexto, não ocorreu o reconhecimento da aleatoriedade do evento.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Figura 3: Grafo de similaridades 2
Fonte: Autor (2016)
Reconhecem o evento como aleatório no item P2Q16AdAc: “Prever a quantidade de caras que se obtém em
100 lançamentos de uma moeda é um fenômeno...”
Não reconhecem o evento como aleatório no item P2Q17NbNa: “Prever a cor de uma bola que é extraída de
uma urna com bolas de diferentes cores é um fenômeno...”
Item P2Q14NcNd: “A germinação de uma semente plantada é um fenômeno...”.
Este item está inserido no contexto Físico/Natural. O não reconhecimento de evento aleatório, pelos
professores pesquisados, corrobora com o que foi apontado por Cardeñoso (1998) em seu trabalho. O
autor observou que um número muito elevado de professores, participantes de sua pesquisa, também não
reconheceram os eventos aleatórios nos contextos Físico/Natural. Este fato levou o autor concluir que, a
falta de clareza da ideia de aleatoriedade em contextos fora daquele que mais aparecem nos livros
didáticos, torna-se um obstáculo para o reconhecimento de eventos aleatórios.
Em nossa pesquisa observamos que o reconhecimento de eventos aleatórios, ocorreu com maior
frequência quanto estes pertenciam ao contexto de Jogos. Por outro lado, o reconhecimento da
aleatoriedade por parte esses professores pesquisados, se mostrou muito aquém do esperado, quando o
evento observado estava atrelado aos contextos do Cotidiano e Físico/Natural.
Entendemos que esse grupo de professores que atuam no Ensino Fundamental II, apresentam um grau
elevado do não reconhecimento de eventos aleatórios nos contextos do Cotidiano e Físico/Natural. No
entanto, quando os mesmos ocorrem no contexto de Jogos o reconhecimento ocorre com uma frequência
maior. Esta evidência pode ter relação s o reconhecimento ocorre com uma frequência maior. Esta
evidência pode ter relação com o fato de que, o contexto Jogos, como afirma Rodrigues (2016), é
predominante nos Livros Didáticos aprovados pelo Plano Nacional do Livro Didático para os próximos
anos.
Queremos ressaltar, que os professores que fazem parte deste grupo analisado, possuem a sua formação
em Matemática, pois a graduação na área de atuação é uma exigência da Rede de Ensino da qual eles fazem
parte.
6.CONCLUSÕES
Com esse trabalho esperamos colaborar com a intensificação do debate no campo da Educação Estatística,
particularmente no que se refere à formação inicial e continuada dos professores que ensinam
Matemática, com foco em professores que atuam no Ensino Básico, trazendo informações a respeito das
Concepções Probabilísticas e do Letramento Probabilísticos, bem como na elaboração de materiais
didáticos que possam auxiliar de forma significativa o ofício docente.
42
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
REFERÊNCIAS
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Cádiz, Cádiz.
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43
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 6
Um problema no ensino
aprendizado das frações
da
matemática:
O
Maria Inmaculada Chao Cabanas
Resumo: O estudo analisa um dos problemas cruciais no contexto da matemática
escolar: o aprendizado das frações pelos estudantes da educação básica. Embora seja
uma temática recorrente em pesquisas e análises de itens de avaliações em larga escala,
verifica-se a necessidade de identificar o que orienta os discursos que justificam o
fracasso dos alunos quando se deparam com o aprendizado desses números. O diálogo
entre diferentes autores que estudam a problemática do aprendizado das frações e que
são referência para o ensino da matemática, bem como itens e descritores de provas em
larga escala,
constituíram o material de análise
no sentido de identificar
comparativamente o que sustenta as escolhas metodológicas no ensino das frações e o
que orienta a elaboração dos itens dos exames. Desse modo, as considerações
decorrentes da análise das justificativas a respeito das diferentes dificuldades dos
alunos no aprendizado das frações, realizadas a partir de revisão bibliográfica de
inúmeros estudos e investigações sobre o tema, e o que consideram os descritores e
itens da Prova Brasil em relação à proficiência nesses números, nos permitem inferir
que a dificuldade dos alunos quando se deparam com as frações advém do modo como
esse número é ensinado, o que parece ser determinado pelos exames.
44
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
O problema da dificuldade dos alunos no aprendizado dos números racionais é uma discussão recorrente
em pesquisas que tratam do ensino da matemática escolar e documentos que orientam sistemas de ensino.
É também comum a estes estudos e orientações propor estratégias metodológicas como um caminho
possível para reverter supostos fracassos dos alunos na aprendizagem desses números.
Estas dificuldades são também expostas nos documentos que organizam os resultados das avaliações em
larga escala, como Prova Brasil, SAEB, entre outras, e que analisam como insatisfatório o aprendizado dos
números racionais pelos alunos da escola básica, apontando para ausências conceituais no ensino desses
números.
No entanto, o que se observa nos resultados dos estudos e nas propostas metodológicas que decorrem
destes é a ênfase no modo de como se espera que o estudante pense e não no porquê de pensar da
maneira como o faz, o que acreditamos que poderia contribuir para a identificação de ausências também
no modo de ensinar.
Assim, pela recorrência da problemática com o aprendizado das frações identificada tanto nas pesquisas
que tratam do ensino e da aprendizagem desses números no ensino fundamental como nos documentos
das avaliações em larga escala, justifica-se a necessidade da revisão dos discursos presentes nesses
materiais no sentido de identificar o que orienta esses discursos.
Deste modo, a apresentação do diálogo entre diferentes autores e documentos orientadores do ensino da
matemática, a partir dos pressupostos conceituais que adotam, podem tornar possível identificar as
insuficiências presentes nas redes conceituais que sustentam escolhas metodológicas no ensino desses
números e também, por que não, no que orienta a elaboração dos itens dos exames.
2.OS ESTUDOS REVISADOS
Carvalho e Ponte (2016) investigaram o desenvolvimento de estratégias de cálculo mental com números
racionais utilizando o que eles chamam de metodologia da Investigação Baseada em Design (IBD) e que se
caracteriza pelo refinamento de projetos educacionais com base na experimentação de uma sequência de
tarefas, análise dos resultados para então propor novas situações, sempre com base nessas experiências.
Esta mesma metodologia é também estudada por Cobb, Jackson e Dunlap (2016), apud Carvalho e Ponte
(2016).
Brown (1992) e Collins (1992) denominam a metodologia de “Pesquisa Baseada em Design” (PBD) e
foram os responsáveis por introduzir este referencial no campo educacional a partir do conceito de
“design experiments”. Esta abordagem, ganha importância na pesquisa educacional a partir de crescente
produção acadêmica, adotada por diversos grupos de pesquisa e designada por uma variedade de termos
(design experoments, developmental research, design research e design based research).
Carvalho e Ponte (2016) justificam o uso da IBD por considerá-la potencialmente favorável ao
desenvolvimento de estratégias de cálculo mental com números racionais e, para tanto, utilizam aspectos
que orientam as experiências e funcionam em conjunto para apoiar a aprendizagem. O estudo teve como
objetivo perceber as estratégias e erros no cálculo mental com números racionais dos alunos do 5º. ano de
escolaridade, e dinâmicas referentes à realização de uma experiência de ensino centrada em tarefas de
cálculo mental e na discussão coletiva dessas tarefas, aperfeiçoadas em dois ciclos de experimentação, em
2012 e 2013. Os autores organizam as dificuldades dos alunos a partir da evolução das estratégias que
estes apresentam na resolução das questões que lhes são propostas. A partir dos erros evidenciados, são
propostas novas tarefas orientadas com base na investigação.
45
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
O Quadro 1 a seguir ilustra um recorte da investigação realizada por Carvalho e Ponte (p. 321-323)
Dificuldade identificada
Justificativa dos alunos para a
solução
Evidência: Análise das estratégias
dos alunos
Ajustes nas tarefas a partir da
análise das estratégias
Análise decorrente da gestão da
discussão em sala de aula
“Cálculo de ½ + ½ “
Resultado apresentado:
[2/4]
“Eu fiz da mesma maneira que a Cristina: 1 + 1 e 2 + 2” ou a de António
para o cálculo de 1/3 + 1/6. Eu pensei assim, já que são os dois com o
mesmo numerador eu posso somar e dá 1/9”.
“Dificuldades na compreensão do conceito de fração, influenciando a
forma como os alunos operam na ausência de contexto da realidade”.
“Apresentar situações contextualizadas”; “influenciar positivamente a
compreensão de representações simbólicas e seu significado
apresentadas no cálculo das expressões”:
“a) A mãe da Catarina fez um bolo de chocolate. Ao almoço a Catarina
comeu 1/10 e o pai 1/5. Ambos comeram mais ou menos de metade do
bolo de chocolate?”
“...é através da discussão das estratégias dos alunos que percebemos a
adequação das tarefas...
A dificuldade relacionada à soma de frações, identificada no recorte realizado do estudo destes autores,
também merece especial atenção no documento do Ministério da Educação de Buenos Aires e que se
destina a apoiar os professores do 2º. Ciclo da educação básica no ensino das frações (BUENOS AIRES,
2001). No orientador, resultado de ações de capacitação de professores para a produção coletiva de
propostas de ensino desenhadas para oportunizar a reflexão sobre as práticas atuais acerca do ensino das
frações no sentido de incorporar novas formas de ensinar, são apontadas algumas “dificuldades dos
alunos na aquisição das frações” (p.15).
Neste referencial é possível verificar que erros semelhantes aos identificados por Carvalho e Ponte
também merecem destaque em suas análises. Os exemplos dos erros relatados no documento que orienta
o ensino das frações, e as respectivas análises realizadas são apresentados no Quadro 2, a seguir:
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Justificativa dos alunos
Análise dos erros com base nas
justificativas
Ao comparar frações os alunos respondem que:
1/3 < 1/5
1/5 é a metade de 1/10
Ao calcular:
2/3+4/5
encontram 6/8
“Como os numeradores são iguais e 3 é menor do que 5 então 1/3 é
menor do que 1/5”; “Os numeradores são iguais e 5 é a metade de
10”; “
“Transportam as propriedades do conjunto dos números naturais
ao campo numérico dos números racionais, sem levar em conta
que as frações formam um conjunto de números com propriedades
especificas, distintas das propriedades dos números naturais”;
“Somam os numeradores entre si e os denominadores entre si
porque generalizam as propriedades da adição de números
naturais no campo dos números racionais”.
Saiz (1990) ao referir-se à mesma dificuldade a respeito da aquisição do conceito de fração, apontada por
Carvalho e Pontes (2016) e exemplificada no Quadro 1, diz ser de um processo “lento e espiralado”. Alerta
ainda para a necessidade de que os estudantes desenvolvam uma compreensão operatória que pressupõe
experiências que antecedem reconhecer que: (i) há uma regra para somar frações de denominadores
iguais e outra para diferentes denominadores; (ii) há várias regras para comparar frações; (iii) há regras
para fazer a conversão de uma fração em um número decimal, etc.
Godino (2004) também se detém na análise deste mesmo erro considerado comum aos alunos e
apresentado no exemplo 1, [½ < 1/3]. Este autor detém-se no significado do erro e na argumentação
apresentada pelos alunos de que “2 é menor do que 3”, apontando para o conhecimento dos números
naturais como sendo talvez um obstáculo para a aprendizagem dos números racionais à medida que o
erro se caracteriza pela extensão das propriedades dos primeiros e estes últimos.
46
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Já os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1997, p.101) referem-se ao raciocínio dos alunos, em
torno das frações, como se fossem Números Naturais o que, assim como Godino (2004), Campos; Silva;
Pietropaolo (2009) consideram essa relação da simples transferência das propriedades ou características,
de um tipo de número para outro, como um obstáculo à aprendizagem.
Campos; Silva; Pietropaolo (2009) reconhecem que as propriedades das frações devem aparecer em
contextos variados de modo a proporcionar aos estudantes as mesmas atividades que realizam com os
números naturais, que definem como somar, dividir e ordenar.
Llinhares e Sánches (1988) apud Monteiro e Groenwald (2014) acrescentam a esse mesmo obstáculo o
fato de que os símbolos dos Números Naturais também são utilizados para as frações, diferenciando-se
apenas no traço na horizontal. Segundo eles, a experiência com os Números Naturais faz com os
estudantes vejam as frações como um conjunto de dois Números Naturais separados por um traço e a
utilização dos conhecimentos de cálculo, regras e algoritmos destes números para as frações.
No entanto, se analisarmos o processo de aprendizado do Sistema de Numeração decimal (SND) é possível
perceber, como identificado nos estudos desenvolvidos por Zunino (1995), Mandarino e Belfort (2006),
entre outros, que as crianças embora desconhecendo o valor posicional dos algarismos escrevem o
número corretamente. Por exemplo, uma criança pode escrever corretamente o número “14” e, no
entanto, não compreender que o algarismo “1” é utilizado nessa representação com um significado
diferente do que ele assume em representações como “1” ou “21”. Estas autoras analisam o fato de um
mesmo símbolo poder representar quantidades diferentes como uma grande vantagem do sistema
posicional e não como um impedimento para o aprendizado dos estudantes. Segundo elas, esta
característica do sistema necessita ser explorada com auxílio de diferentes materiais e situações por
tratar-se de um processo longo e que necessita da intervenção constante do professor.
Ao comparar o processor de aprendizagem do número, mais especificamente, do valor posicional,
identificamos representações semelhantes ao que ocorre no aprendizado das frações, citado por Llinhares
e Sánches (1988) ao afirmarem que os estudantes identificam a fração como “dois números” separados
por “um traço”.
Estas reflexões nos mostram que, assim como ocorre no aprendizado do SND, os estudantes não
reconhecem a fração como um número mas, como símbolos isolados.
Nesta direção, Liao (2005), em sua pesquisa de mestrado, apresenta um aspecto relevante na
compreensão da dificuldade dos estudantes da escola básica no estudo dos racionais ao se referir aos
“signos” (símbolos numéricos), que originalmente surgem para representar um conjunto de contagem e
que mais tarde é denominado conjunto dos racionais. Este conjunto tem conceitos próprios e intrínsecos
aos alunos no entanto, pela escassez de outros signos matemáticos e a preocupação em tornar aquela
linguagem excessivamente simbólica, cria-se uma possibilidade de combinação entre esses signos, que
leva a novos conjuntos mas, com outros conceitos. Além do mais, cada um destes conjuntos numéricos,
embora utilizando os mesmos signos, têm propriedades e operações diversas entre si.
Para Liao, o obstáculo no aprendizado das frações, tem forte relação com a “sequência didática” adotada
na escolarização brasileira. O modo de fazer a leitura “desses signos” transporta o estudante para a
conceituação de número natural e as suas respectivas propriedades. Adverte ainda que, a dificuldade e o
não entendimento dos alunos deve-se à mudança dos significados numa combinação de signos, como por
exemplo, os signos 2 e 3, que representam quantidades naturais, e 2/3, que representa uma quantidade
completamente diferente das duas primeiras e sendo, inclusive, menor que 1.
Um outro aspecto relevante para esta revisão diz respeito aos diferentes significados que estão
relacionados à ideia de fração. O que se observa é que tradicionalmente, nas situações escolarizadas, a
fração é apresentada aos estudantes como “parte de um todo”, desconsiderando as demais formas de
interpretar esse número.
Sobre este mesmo aspecto, Belfort; Vasconcelos (2006) ressaltam que, ao contrário do que se pensa, assim
como nas operações fundamentais as frações também estão associadas a mais de uma ideia. Para os
autores, esta mesma redução que ocorre em relação ao significado das frações também acontece com
muitos outros temas da matemática cujo ensino fica restrito, em geral, à aplicação de fórmulas e regras,
sem que os alunos compreendam o que estão realizando.
47
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
O Quadro 3, a seguir, organiza o que Belfort e Vasconcelos consideram necessário para o reconhecimento
da fração e como esse número representa várias ideias diferentes.
As ideias
O que cada ideia considera
Ideia 1: “fração como
parte de um todo”
É a ideia mais usual e pensa a
fração como uma parte de uma
unidade que foi dividida em partes
iguais. Neste caso, as grandezas são
continuas.
Ideia 2: “a fração
associada
a
subconjuntos de um
conjunto e, cada fração
de um conjunto, é
subconjunto
desse
conjunto”
A representação
A figura representa a fração 2/5 como um
todo que foi dividido em cinco partes
iguais e considerou-se duas dessas partes:
No caso de um conjunto com 6 elementos,
cada subconjunto com 2 elementos
corresponde a 1/3 desse conjunto.
Esta ideia é considerada uma
variante da anterior agora, para o
caso de grandezas discretas.
Temos duas pizzas e queremos dividi-las
igualmente para cinco pessoas.
Uma forma de resolver o problema é
dividir cada uma das pizzas em 5 pedaços:
Ideia 3: “a fração como
resultado da divisão
de
dois
números
inteiros”
Ideia 4:”associar a
fração à razão entre
duas grandezas”
Ideia 5: “a fração
associada a um ponto
na reta”
Nesta ideia, o numerador é dividido
pelo denominador.
Nesta ideia, a fração é o quociente
(resultado) da comparação
(divisão) de uma grandeza
(numerador) por outra
(denominador).
Esta ideia, a rigor, não deveria ser
considerada com tal porque se
reduz à divisão de uma unidade me
partes iguais. No entanto, neste
caso, destacam-se os pontos na reta
e não as partes.
Neste caso, uma das duas pizzas
representa a unidade e as duas unidades
são repartidas em cinco partes iguais,
encontrando-se o quociente da divisão de
2 por 5. Cada unidade é dividida em 5
partes e cada um recebe duas das cinco
partes em que a unidade foi dividida.
A fração 2/5 seria o resultado da
comparação de duas grandezas que estão
na razão de 2 para 5 – a cada 7 unidade 2
são de um tipo e 5 são de outro tipo.
Das 21 figuras abaixo, 6 ~são de um tipo e
16 são de outro – a cada 7 figuras, 2 são de
um tipo e 5 de outro:
A posição da fração 2/5 e determinada na
reta a partir da divisão do intervalo, que
vai de zero até 1, em cinco partes iguais,
encontrando-se os pontos A,B, C, D e E
(este último coincidindo com o número 1)
48
O “ponto A” é associado com 1/5, o “ponto
B” representa a fração 2/5, e assim
sucessivamente, sendo que E representa a
unidade inteira, ou seja, 5/5.
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Nos estudos também desenvolvidos a respeito dos diferentes significados das frações, Dickson, Gibson &
Brown (1991) apontam para algumas destas mesmas interpretações apresentadas por Belfort e
Vasconcellos como: (i) parte todo; (ii) subconjunto de um conjunto de objetos discretos; (iii) pontos de
uma reta numérica; (iv) resultado de uma operação de divisão e (v) como medida. No entanto, estes
afirmam que os erros dos estudantes geralmente vem associados à dificuldade de aprendizagem dessa
grande quantidade de significados que as frações apresentam.
Para Nunes; Bryant (1997, p. 191), os estudantes, de maneira geral, parecem ter uma compreensão
completa das frações mas que ainda não possuem. Esta suposta compreensão, segundo os autores, está
aparentemente encoberta pelo fato de utilizarem os termos corretamente, falarem corretamente sobre
elas e até resolverem alguns problemas. No entanto, aspectos conceituais passam despercebidos o que faz
com que dificuldades deixem de ser superadas ou até identificadas pelos alunos e professores.
As pesquisas desenvolvidas por Nunes e Bryant a respeito do raciocínio das crianças sobre frações
mostram que ao privilegiar o significado de parte-todo pode conduzir os estudantes ao erro porque
compromete a compreensão de que o conjunto dos números racionais é uma extensão do conjunto dos
números naturais. Além disso, afirmam haver uma discrepância dos estudantes entre a compreensão de
divisão e números racionais fora da escola e o conhecimento de representações ensinadas na escola, por
conta do modo como a linguagem fracionária é introduzida – “como um procedimento simples de
contagem dupla em situações estáticas de parte-todo (NUNES; BRIANT(1997).
Estes autores enfatizam ainda que se os alunos resolvem problemas usando o conhecimento cotidiano que
possuem e representações simbólicas, fazem conexões adequadas espontaneamente e utilizam o
conhecimento cotidiano que possuem para resolver problemas mais complexos.
Já a pesquisa desenvolvida por Vasconcelos (2007), tendo como cenário as suas aulas de matemática na
Educação Básica, constata um alto índice de dificuldades nos alunos na compreensão do conceito do
número racional e mostra a necessidade de que estes tenham tempo para integrar os diferentes
significados desse número, com seus símbolos e suas representações, o que o pesquisador considera como
um ensino efetivo e uma aprendizagem significativa, pois reverte, assim, o quadro de dificuldades no
ensino dos números fracionários.
3.CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS
Os estudos de Nunes; Bryant contribuem para a necessidade de uma reflexão mais apurada quanto ao
porquê dos estudantes pensarem as frações do modo como o fazem e o que os leva a realizar
procedimentos que, embora reconhecendo os termos de uma fração ou mesmo os procedimentos
operatórios não desenvolvem autonomia para a compreensão desses números.
Ao nos reportarmos aos estudos de Liao e à suposta compreensão das frações apontada por Nunes; Bryant
é possível inferir que esta transposição conceitual de um conjunto para o outro parece ser desconsiderada
no âmbito do ensino e no significado que é atribuído aos signos. O que, de certo modo, também ocorre no
conjunto dos naturais quando as crianças se deparam com o Sistema de Numeração Decimal e o
significado que necessitam atribuir aos símbolos (signos), para reconhecer o valor posicional dos mesmos.
Podemos ainda verificar pelas considerações a respeito do modo de ensinar o conjunto dos naturais e dos
racionais que, mesmo os estudantes possuindo total domínio do conjunto dos naturais e das suas
propriedades, no ensino dos racionais são desconsiderados aspectos relevantes que contribuiriam para
realizar a chamada “transposição” de um conjunto para o outro.
No exemplo apresentado por Liao para os signos 2 e 3, no conjunto dos naturais e 2/3 no conjunto dos
racionais, o autor considera os 2/3 como representação de uma quantidade menor do que 1. No entanto,
entendemos que esse reconhecimento não é preocupação quando nos deparamos com as sequências
didáticas que abordam o ensino desses números. Esta hipótese é sustentada pelas constatações nos
estudos de Nunes; Bryant, em que os estudantes reconhecem os termos de uma fração mas não a
identificam como um número. E também, em Llinhares e Sánches quando se reportam ao fato de que os
estudantes identificam a fração como “dois números” separados por “um traço”.
Os obstáculos que são estudados pelos diversos autores, nos mostram que estas dificuldade estão, de
modo geral, situadas na transposição de um conjunto para o outro. No entanto, o que podemos também
observar a partir das nossas inferências sobre estes estudos é que as dificuldades que os estudantes
apresentam na compreensão do conjunto dos racionais não estão situadas apenas na transposição mas na
ausência da identificação por eles da fração como um número. E, pelo que relatamos, esta dificuldade
49
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
também está presente no conjunto dos naturais, o que nos leva a crer que os obstáculos têm início bem
antes da criança deparar-se com a fração.
Na análise dos PCN e estudos de Godino é recorrente a relação que os alunos estabelecem entre os
naturais e os racionais como sendo um obstáculo à compreensão desses números. No entanto, considerar
os conhecimentos que os estudantes já possuem sobre os números naturais como um obstáculo ao
aprendizado dos racionais parece-nos negar a estes a estudantes, influenciados pelo que já sabem, a
possibilidade de reconhecerem a capacidade que têm para ampliar esse conjunto e reconhecer as suas
propriedades. Se esta capacidade dos alunos for desconsiderada também negamos o que se diz a respeito
dos conhecimentos prévios e anteriores dos estudantes. Weisz (2002) diz que estes conhecimentos são a
“base de novas aprendizagens – o que não significa a crença ou a defesa de pré-requisitos, ou tampouco a
matéria ensinada anteriormente pelo professor”. Além disso, deixa de ser desconsiderado também o que é
defendido por Ausubel, et al. (1980, p.23), quando afirma que a aprendizagem matemática é uma
construção pessoal e ativa do educando, exigindo que as novas informações se inter-relacionem com os
demais conhecimentos existentes.
Vale ressaltar que, embora nos estudos revistos o contexto para a análise da dificuldade dos alunos tenha
como foco os erros por eles cometidos, apenas Del Olmo (2015, p.6) faz referência ao significado do erro
como “parte do processo da aprendizagem individual” apontando como base para essa referência os
trabalhos de Karl Popper (1979), Gaston Bachelard (1978, 1988) e Imre Lakatos (1978).
Assim, o conceito de fração vai além de saber enunciar os termos corretamente porque depende de como
se compreende cada um dos seus significados nas múltiplas interpretações que esse número admite.
Por outro lado, parece-nos que não podemos desconsiderar o fato de que aquilo que os estudantes
apreendem não depende apenas da forma como se ensina mas também, em igual medida, do que é
influenciado pelo que já sabem, incluindo nisto as crenças que possuem sobre a matemática.
Os trabalhos de Belfort e Vasconcellos também ressaltam a questão do modo de ensinar as frações que,
além de reduzir esse número a uma única ideia (parte todo) o seu uso fica restrito à aplicação em cálculos
orientados por regras que devem ser memorizadas sem que os estudantes tenham a compreensão do
fazem.
Podemos também perceber, no caso da redução do ensino da fração a uma única de suas ideias, como
prática recorrente no modo de ensinar esse número, que também está presente nos exemplos utilizados
nas pesquisas os quais centram a análise das dificuldades dos alunos nesse único modelo.
Ao analisarmos o Quadro 3 que apresenta as diferentes ideias da fração, a “Ideia 1: parte-todo”, e que é a
mais usualmente ensinada, relaciona a fração com a “área” da figura, ou seja, a superfície que representa o
objeto. Assim, cada parte pintada do retângulo representa 1/5 da área do retângulo e cada uma dessas
cinco partes têm a mesma área.
Estas noções, como a de “parte de um todo”, as crianças já trazem de sua vida social em função de
situações de partição de bolos, pães e chocolate. No entanto esta ideia necessita ser aprimorada na escola
porque estes conhecimentos prévios vem associados a distorções conceituais que acabam por incorporarse ao aprendizado dos estudantes acompanhando-os por toda a trajetória escolar. Por exemplo, é muito
comum crianças dizerem que querem a “metade maior”, o que evidencia que, embora elas enunciem a
fração como parte de um todo, não consideram que a divisão é em “partes iguais” e que o conceito ainda
não está construído.
No caso dos estudos voltados para os diferentes significados das frações, como os de Belfort; Vasconcellos
e Dickson, Gibson & Brown mostram divergências quanto ao que leva o estudante ao erro ou a falta de
compreensão nas frações. Enquanto Belfort e Vasconcellos ressaltam como obstáculos ao aprendizado das
frações o modo de ensinar traduzido na redução desse número a uma única ideia, o seu uso restrito às
contas com base em regras memorizadas e sem que os estudantes compreendam o que fazem, Dickson,
Gibson & Brown afirmam que é essa grande quantidade de significados que, geralmente, provoca os erros
nos estudantes.
No entanto, é fato que esses vários significados estão longe de ser estudados pelos estudantes, como é
apontado por Belfort e Vanconcellos ao sustentarem que o modo de ensinar as frações é reduzido
unicamente à ideia de parte- todo. Além destes autores, Liao, em sua pesquisa, observa que ao analisar
diferentes livros didáticos (4º. e 5º. anos) as frações são apresentadas como representações apenas de
modelos contínuos e, mais que isso, as frações não são apresentadas como um outro conjunto numérico ou
a exploração das propriedades elementares do conjunto dos racionais.
50
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Assim, se os estudantes desconhecem as diferentes ideias ou significados das frações, e as suas
experiências escolares com esse número são reduzidas apenas a modelos contínuos, como estas podem
provocar erros nos estudantes? Não seria a ausência delas?
Além disso, se as frações não são apresentadas aos estudantes como um conjunto numérico com as suas
respectivas propriedades, como então eles podem mostrar dificuldades na transposição de um conjunto
(naturais) para outro (racionais), se este último não é identificado por eles?
4.O QUE OS EXAMES EM LARGA ESCALA CONSIDERAM SOBRE AS FRAÇÕES
Para melhor compreender o que é selecionado para o ensino das frações na escola básica partimos do
pressuposto que a análise dos descritores e questões dos exames em larga pode contribuir para identificar
o que se considera em relação a essa proficiência. Isto porque, de acordo com a Nota Técnica do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP, 2010), o desempenho dos estudantes nestes exames são
informações que, quando associadas às do rendimento escolar, determinam o indicador de qualidade
educacional (IDEB).
É também importante considerar ainda que a proficiência em Matemática (MACHADO, 2001) não está
vinculada exclusivamente ao que se sabe de Matemática mas com o que se é capaz de fazer com ela. Nesse
sentido, é necessário identificar o conhecimento do conteúdo matemático e a capacidade de criar
estratégias na resolução de problemas.
A pesquisa de mestrado realizada por Vaccaro (2010) desenvolveu estudo nessa direção, analisando as
diretrizes da Prova Brasil, os descritores que orientam os itens da prova que abordam as frações e as
questões associadas a elas.
No levantamento feito pelo autor, de acordo com a Nota Técnica do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisa (INEP, 2010), o desempenho dos estudantes nos exames padronizados, como a Prova Brasil, por
exemplo, são dados que associados às do rendimento escolar (aprovação) determinam o indicador de
qualidade educacional (IDEB). Este indicador, segundo o INEP, foi desenvolvido para sintetizar
informações de desempenho em exames padronizados com informações sobre rendimento escolar (taxa
média de aprovação dos estudantes na etapa de ensino).
No entanto, Vaccaro adverte que é uma afirmação imediata e descuidada dizer que as avaliações em larga
escala medem a proficiência matemática dos avaliados justificando que qualquer avaliação priorizará
apenas alguns aspectos dos conteúdos matemáticos e que são definidos pelos grupos envolvidos nas
avaliações, e que atendam ao modelo das questões. E este mesmo autor identifica interesses conflitantes
entre o que estes grupos interessados nas avaliações priorizam. Com base no que Schoenfeld (2007)
apresenta a respeito desses interesse, Vaccaro mostra que para os Matemáticos, as avaliações de
Matemática devem ser direcionadas a respeito das ideias centrais da Matemática. Já para os pesquisadores
em Educação Matemática, estas mesmas avaliações devem refletir o “pensamento matemático” (thinking
mathematically), que segundo Schoenfeld (2007, p.5) in Vaccaro (2007), se caracteriza pelo conhecimento
conceitual – compreensão dos conceitos matemáticos, operações e relações; pela fluência procedimental –
capacidade de realizar procedimentos, flexíveis, precisos, eficientes e apropriados; raciocínio adaptativo –
capacidade de pensar logicamente, refletir, explicar e justificar; e disposição produtiva – inclinação
habitual para perceber a matemática como algo compreensível, útil e valorosa, conectada com zelo e a
eficácia. Do ponto de vista dos pais, a função das avaliações de matemática é esclarecer a respeito do
conhecimento e progresso dos filhos – informar o que os filhos fazem “bem” e o que fazem “mal” para que
possam providenciar o apoio necessário. As avaliações de Matemática na perspectiva dos professores
devem ajudar tanto a eles próprios quanto aos estudantes a identificar as áreas nas quais ambos
necessitam desenvolver-se. Para o grupo dos administradores (supervisores, gestores, secretários de
educação, legisladores, prefeitos, governadores e o próprio presidente) o principal objetivo das avaliações
é prover indicadores que permitam identificar qual é o estado do sistema educacional nos respectivos
níveis de atuação de cada um deles. No caso do grupo de elabores, e são estes que definem o design e
conteúdo das avaliações, devem conseguir satisfazer, além dos seus próprios interesses, os daqueles que
os contratam e, na medida do possível, os interesses dos demais grupos. Como podemos observar, este
grupo dos elaboradores, define as avaliações mediante a presença de fatores de pressão, entre eles, o do
custo porque espera-se que, de modo geral, que o custo das avaliações aplicadas um grande número de
participantes seja baixo. De acordo com Schoenfeld essa é uma das razões para o uso das questões de
múltipla escolha.
51
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Além disso, as pressões exercidas pela determinação dos critérios técnicos utilizados nos exames de larga
escala em Matemática, os chamados critérios psicosométricos acabam por se sobrepor aos conteúdos
matemáticos destes mesmos testes. Esta sobreposição é determinante para provocar o embate entre a
relevância que é atribuída aos critérios psicométricos e as informações que efetivamente poderiam
auxiliar o professor nas ações pedagógicas.
Vale ressaltar um aspecto apontado por Burkhardt (2007, p. 78 e 79) in Vaccaro (2007) que diz respeito à
influência que as avaliações exercem no sistema educacional. Embora não sendo apenas negativas, estas
avaliações apresentam limitações e a crença de que sejam instrumentos precisos e capazes de abordar
tudo o que se considera importante em Matemática relativo a um determinado conteúdo.
Deste modo, a proficiência em Matemática que estas avaliações declaram avaliar assume significado
diferente daquele que considerado por Machado (2001) e que pressupõe a identificação do conhecimento
do conteúdo matemático e a capacidade de criar estratégias na resolução de problemas.
Embora a Matriz de Referência de Matemática (INEP,2010), que apresenta os princípios da Prova Brasil,
admita que está estruturada sobre o “foco da resolução de problemas”, os itens propõe apenas a solução
pelo estudante do problema, enquanto que a formulação do modelo já é apresentada pronta. Deste modo,
o modelo e design do exame, não permite observar as etapas de solução do problema pelo estudante.
Por outro lado, para justificar essa incompletude esse mesmo documento afirma que “um aluno é capaz de
resolver um problema a partir da utilização/aplicação de um conceito por ele já construído”.
Esta justificativa reafirma a limitação dos itens da prova para avaliar estratégias de resolução. No entanto
é o reconhecimento destas estratégias que nos irá fornecer as pistas em relação a proficiência do
estudante.
5.AS FRAÇÕES NOS ITENS DA PROVA BRASIL
Para analisar como as frações são abordadas nos itens da Prova Brasil8, apresentamos um recorte do
estudo realizado por Vaccaro (2007) cujo o foco são itens que apresentam o conteúdo das frações. Os itens
selecionados exemplificam descritores referentes ao 9º ano do ensino fundamental e fazem parte da
publicação do Ministério da Educação (MEC) distribuída às escolas com o título de PDE/Prova Brasil e cujo
objetivo maior, proposto no documento, é de “envolver gestores, docentes e demais profissionais da área
da educação” no ”conhecimento desse instrumento cognitivo de avaliação e sua importância para o
alcance das metas propostas pelo Ideb”.
A organização do Quadro 4, a seguir, procura favorecer a identificação do raciocínio utilizado na análise
que fizemos do documento. Para isso, consideramos os itens que abordam as frações, “descritor” e a
“habilidade” a ser avaliada para, então, relacioná-los às orientações que são propostas aos professores, no
mesmo documento.
Análise dos itens e das suas respectivas orientações para o professor:
Entendemos que a análise das “sugestões para melhorar a habilidade avaliada” que são apresentadas para
cada um dos itens da prova pode declarar o desejável em relação ao aprendizado das frações. Além disso,
por tratar-se de um documento distribuído nas escolas e direcionado ao professor, fica mais evidente a
intencionalidade de orientar a ação docente.
Descritor 21 – para este descritor o documento sugere ao professor atividades que podem melhorar esta
habilidade e que se caracterizam por propor aos estudantes que “a partir dos números racionais na forma
fracionária efetuem a divisão do numerador pelo denominador, obtendo-se o correspondente decimal.
52
8
A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliaçao da Educaçao Basica (Saeb) sao avaliaçoes para diagnostico, em larga
escala, desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC).
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/prova-brasil
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.Análise dos itens e das
suas respectivas
orientações para o
professor:Descritor
Descritor 21 – Reconhecer
diferentes representações
de um número racional.
Descritor 22 - Identificar
fração como representação
que pode estar associada a
diferentes significados
Descritor 23 – Identificar
frações equivalentes
Habilidade
“de o aluno identificar
números racionais nas
suas diversas
representações:
fracionária, decimal ou
percentual”.
“de o aluno reconhecer
frações em diversas
representações como,
por exemplo, partes de
um inteiro, relação entre
conjuntos, razão entre
medidas
etc”.
“de o aluno reconhecer
que uma fração também
pode ser representada
por um conjunto infinito
de outras frações
equivalentes a ela”.
Item/Percentual de respostas às alterbativas
No Brasil,3/4
da população vive na zona urbana.
De que outra forma podemos representar esta
fração?
(A) 15%. (B) 25%. (C) 34%. (D) 75%.
Dos 11 jogadores de um time de futebol, apenas
5 têm menos de 25 anos de idade.
A fração de jogadores desse time, com menos de
25 anos de idade, é
(A)
5/6 (B) 6/5 (C) 5/11 (D) 6/11
Quatro amigos, João, Pedro, Ana e Maria, saíram
juntos para fazer um passeio por um mesmo
caminho. Até agora, João andou 6/8 do caminho;
Pedro, 9/12; Ana. 3/8 e Maria, 4/6. Os amigos
que se encontram no mesmo ponto do caminho
são
(A)
João e Pedro; (B) João e Maria
(B)
Ana e Maria; (D) Pedro e Ana
Com base na revisão dos estudos anteriormente apresentada, as afirmações de Belfort e Vasconcellos nos
permitem declarar que atividades do tipo como a sugerida pelo documento ao professor para desenvolver
a habilidade avaliada pelo item com os seus alunos, reforçam a ideia do ensino de fração restrito à
aplicação de cálculos (efetuar a divisão), orientado por regras (dividir o numerador pelo denominador),
que devem ser memorizadas. E ainda, de acordo com estes autores, este tipo de procedimento permite que
os estudantes até realizem as operações mas, sem ter a compreensão do que fazem. Sob este mesmo ponto
de vista, Nunes e Bryant afirmam que esta suposta compreensão, e agora tomando como referência os
“acertos” apresentados pelo item, faz com que os aspectos conceituais passem despercebidos e as
dificuldades identificadas pelos professores.
Deste modo, ao propor que os alunos realizem cálculos e “reforcem” a aplicação da regra, como a sugestão
apresentada no documento para “melhor desenvolver a habilidade” que é avaliada pelo item, estamos
desconsiderando a necessidade que para “reconhecer as regras de conversão de uma fração em decimal,
antecede a necessidade dos estudantes desenvolverem experiências que lhes permitam a compreensão
operatória. A sugestão proposta, esconde a origem do problema, que é conceitual, e reafirma, cada vez
mais, o desenvolvimento da habilidade de “responder corretamente” ao item.
Descritor 22 - para este descritor o documento sugere ao professor que sejam dadas diversas atividades
nas quais os alunos devem representar frações utilizando materiais concretos e, posteriormente, escrever
as frações correspondentes às situações-problema propostas.
Embora a proposta da manipulação de materiais seja uma estratégia que pode contribuir para a
compreensão da fração associada a subconjuntos de um conjunto e, cada fração de um conjunto, como
subconjunto desse conjunto (BELFORT; VASCONCELLOS, 2006), esta ideia de fração, para o caso de
grandezas discretas, é considerada uma variante da ideia parte-todo. Desse modo, as orientações ao
professor com base em atividades semelhantes à proposta neste item ratificam o que já foi identificado
por Nunes e Bryant na crítica que fazem à forte tendência de privilegiar o significado de parte-todo no
53
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
trabalho com as frações e como a compreensão de que o conjunto dos números racionais é uma extensão
do conjunto dos números naturais fica prejudicada se o método escolhido focar somente este significado.
Neste mesmo modo de entender, os estudos de Belfort e Vasconcellos também asseguram que ao reduzir
as frações a uma única ideia (parte-todo) o uso desse número fica restrito à aplicação de cálculos
orientados por regras.
Vale ressaltar que o documento, com base no índice de acertos dos alunos, afirma que 58% deles dominam
a habilidade de reconhecer frações em diversas representações. No entanto, a afirmação reduz as demais
ideias a uma única e àquela que é mais usual, ou a preferível quando nos deparamos com o ensino e a
avaliação do aprendizado das frações. Esta redução, porém, deixa de ser perceptível ou considerada na
afirmação de que 58% dos alunos dominam a habilidade com as ideias de “partes de um inteiro, relação
entre conjuntos, razão entre medidas etc”, supondo que ao dominar uma ideia o aluno também domina as
demais. O que nos leva a concluir que, embora o descritor mencione as diferentes ideias das frações, estas
são consideradas como apenas uma.
Descritor 23 – O documento analisa o que “sugere o resultado” de 41% dos alunos assinalarem a
alternativa incorreta (B), classificando-o como “sintomático” e, possivelmente, devido à igualdade entre os
denominadores das frações, concluindo que apenas um quarto do universo avaliado mostrou dominar a
habilidade do alunos reconhecer que uma fração também pode ser representada por um conjunto infinito
de outras frações equivalentes a ela.
A revisão dos estudos de Carvalho e Ponte mostra que os alunos justificam os procedimentos com
denominadores iguais, e que caracterizam erros, como sendo estes denominadores um Número Natural e
a fração como um conjunto de dois Números Naturais separados por um traço. No entanto, as propostas
para desenvolver esta habilidade nos alunos, sugeridas aos professores no documento orientam para
“exercitar a representação de frações equivalentes, por meio de simplificação de numeradores e
denominadores”. Constata-se assim, mais uma vez, o “reforço” de procedimentos mecanizados
sobrepondo-se à compreensão da fração e os erros apresentados pelos alunos reconhecidos como
dificuldades na transposição de um conjunto para outro, dos Naturais para os Racionais. Porém, como
observado em análise anterior, as frações não são apresentadas como um conjunto numérico, desse modo,
associar à dificuldade ou o erro do aluno a essa transposição, não se sustenta.
Nos detivemos na análise de itens que apresentam as frações no conjunto dos Racionais Positivos por
tratarmos das dificuldades inicias que os alunos apresentam quando se deparam com as frações e que são
trabalhadas no conjunto destes números.
Deste modo, a apresentação do diálogo entre diferentes autores e documentos orientadores do ensino da
matemática, a partir dos pressupostos conceituais que adotam, podem tornar possível identificar as
insuficiências presentes nas redes conceituais que sustentam escolhas metodológicas no ensino desses
números e também, por que não, no que orienta a elaboração dos itens dos exames.
6.O QUE CONCLUÍMOS
Considerando que o desempenho dos estudantes diretrizes dos exames em larga escala e respectivas
questões desses exames quando verificamos os descritores que orientam a elaboração dos itens dos
exames, neste caso da Prova Brasil de 2015, constamos que reforçam a ideia do ensino de fração restrito à
aplicação de cálculos, orientados por regras que devem ser memorizadas.
A análise do estudo realizado por Vaccaro, mais especificamente em relação às características dos exames
e das limitações que apresentam, nos permitem expor que a influência que estes exercem no ensino da
matemática estão situadas: (a) nos critérios psicométricos utilizados nas avaliações em larga escala que se
sobrepõem ao conteúdo matemático; (b) na tendência em focar fundamentalmente as habilidades em
detrimento do entendimento conceitual e a resolução de problemas; (d) na adequação dos currículos aos
conteúdos expressos nos itens dos exames e, desse modo, desconsiderando o que é relevante para o
entendimento conceitual.
A adequação do conteúdo matemático aos itens dos exames caracteriza uma redução no que diferentes
grupos dizem considerar como necessário para o aprendizado. No entanto, a relevância atribuída a esse
instrumento de medida, as informações que são obtidas a partir dele determinam tomadas de decisão com
respeito às ações referentes aos processos educativos. Além disso, direcionam a análise do professor para
um conteúdo matemático que é reduzido ou até incompleto em detrimento das limitações dessas
avaliações.
54
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Mais ainda, pela forte influência que estes exames exercem, determinam a escolha dos conteúdos a serem
trabalhados pelos professores. Deste modo, os estudantes acabam tendo um estudo reduzido às mesmas
abordagens que aparecem nas questões dos exames.
No caso das frações, a análise das questões mostra que, ao privilegiar aspectos como um único modelo de
fração, parte-todo, desconsiderando as demais ideias, a valorização de regras e procedimentos de cálculo,
provavelmente serão estes também os aspectos priorizados e trabalhados pelos professores.
Esta possibilidade é ratificada pelos demais estudos apresentados que apontam para os erros dos alunos
no aprendizado desses números. Embora identifiquem como causas dos erros situações como a
transposição conceitual de um conjunto para outro, a redução da abordagem da diferentes ideias das
fração a uma única: parte-todo, entre outras, entendemos que as dificuldades antecedem a estas questões
porque os estudantes não experimentam o aprendizado desses conteúdos. Esta afirmação se sustenta no
fato de que, se os exames orientam e até determinam a extensão do conteúdo de fração e abordagem que é
dada a ele. Aspectos como o significado da fração, o reconhecimento das frações em diversas
representações (por exemplo, como a razão entre duas grandezas, associada a um ponto na reta), a
resolução de problemas utilizando o conhecimento cotidiano e representações simbólicas deixam de ser
considerados por essas avaliações em função do que foi exposto, quando da análise desses exames. Desse
modo, a dificuldade dos alunos quando se deparam com as frações, advém do modo como é ensinado esse
número e que parece ser determinado pelos exames.
Os estudos realizados em torno das dificuldades que os estudantes apresentam no aprendizado das
frações quando comparados com o modo como este aprendizado é avaliado pelos exames em larga escala
e o interesse dos grupo de elabores nas propriedades estatística dos itens e, considerando a influência que
estes mesmos instrumentos exercem no ensino da Matemática e nas escolhas que os professores fazem em
relação aos conteúdos que ensinam, é possível concluir que se considera para a proficiência dos
estudantes no aprendizado das frações, o que é fácil de medir e não o que constitui o entendimento
conceitual desse número.
Embora sabedores de que produzir uma avaliação não seja uma tarefa fácil e que os elaboradores devem
satisfazer exigências diversas e por vezes contraditórias, como a relação de proficiência com as limitações
que os itens dos exames impõem, esta quantidade reduzida de itens que mede o aprendizado das frações
desconsidera aspectos importantes da proficiência matemática em relação às frações, considerando
apenas alguns de seus componentes.
Esta redução feita nos componentes considerados pelos itens dos exames e que avaliam apenas uma das
muitas ideias das frações e valorizam procedimentos de cálculo, traduz o que os estudos apontam como
uma das causas mais recorrentes que contribui para a dificuldade dos alunos no aprendizado das frações.
Ao considerarmos a influência que os exames exercem na escolha dos conteúdos de matemática pelos
professores e a abordagem dada a eles, podemos também concluir que os aspectos das frações avaliados
nos exames passam a ser a referência do aprendizado desses números, desconsiderando aspectos
relevantes como foram apontados no estudo desses números.
Além disso, a também dita proficiência matemática é determinada pelo que os exames consideram
nos itens estabelecidos para os conteúdos matemáticos. No entanto, os itens desconsideram as etapas de
solução de um problema cujo modelo é apresentado pronto, como já comentado anteriormente. Desse
modo, são proficientes em frações aqueles estudantes que reconhecem a fração como parte todo e sabem
operar com esses números.
Deste modo, o que se verifica para o aprendizado das frações é a eficácia do saber realizar procedimentos
de cálculo e memorização de procedimentos em questões que, embora denominadas como problemas,
apenas propõe a solução, enquanto que o modelo já é apresentado pronto desconsiderando qualquer
possibilidade de avaliar estratégias de resolução.
Os discursos que sustentam as diretrizes das avaliações condensam e expõem o que se considera desejável
ou preferível: a proficiência em matemática predominantemente associada a memorizações e
procedimentos. Estes discursos situam o caráter seletivo da escolarização e cujo núcleo dessa
representação é o cálculo. Se o ensino das frações é determinado pelos exames identificar o que os itens
dos exames e suas diretrizes estabelecem como preferível para esse ensino pode situar a representação da
disciplina de Matemática no ensino em nosso país.
A valorização dos conteúdos escolares que são passíveis de ser avaliados pelos exames subjuga a
complexidade do processo de ensino e de aprendizagem em matemática.
55
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Temos, então, um sistema de ensino dependente de um outro que o avalia e que se diz capaz de mensurar
as competências matemáticas dos estudantes. Por outro lado, não se pode deixar de considerar que a
matemática escolarizada, supostamente orientada por essa dependência, reduz o desenvolvimento
cognitivo dos estudantes nessa disciplina à realização de procedimentos de cálculo, memorização pura e
simples como se este ensino tivesse como único propósito (necessidade) selecionar (reduzir) o que é
requerido pela sociedade em geral – “passar nos exames”.
Esta dependência entre qualidade de ensino e resultados de exames mostra que estes determinam e
expressam o aproveitamento dos alunos contribuindo para reforçar uma postura do professor, que vem
de longa data. Esta prática do professor não valoriza o esforço do estudante na resolução do problema e
sim na aplicação de uma determinada conta.
E, embora o sistema de ensino de matemática, coordenado por um sistema de seleção, traduzido em
exames, se diga eficaz, os alunos fracassam.
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57
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 7
Uma análise acerca da produção de conjecturas e
provas matemáticas de alunos do 8° ano do ensino
fundamental
Liana Krakecker
José Luiz Magalhães de Freitas
Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar considerações e perspectivas advindas de
um trabalho, cujo objetivo consistiu em analisar a produção de conjecturas e provas de
propriedades envolvendo ângulos de polígonos, por alunos do 8° ano do ensino
fundamental. O percurso metodológico seguiu os princípios da Engenharia Didática e foi
aplicada uma sequência de atividades em contraturno escolar e analisados dados dos
alunos com maior frequência nos encontros. Observou-se que atividades experimentais
e as diferentes formações das duplas, ao longo dos encontros, favoreceram a elaboração
de conjecturas. Apesar da maioria das provas serem fundamentadas em manipulações
ou experimentações com utilização do transferidor e evidenciarem dificuldades dos
alunos no que concerne à escrita em linguagem matemática, foi possível constatar
evoluções em relação à produção de argumentos de prova apresentados.
Palavras-chave: Conjecturas. Tipologia de Provas. Ângulos. Validação.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam que, desde os primeiros anos de escolaridade, devem ser
exploradas metodologias que favoreçam a criação de estratégias, comprovação, justificativa,
argumentação, espírito crítico, criatividade, trabalho coletivo, autonomia, dentre outros. (BRASIL, 1997).
Uma das orientações contidas nesse documento, em relação aos anos finais do ensino fundamental,
consiste no trabalho com investigações e a argumentação acerca da validade dos resultados e das
conjecturas por meio da linguagem oral e das diversas representações matemáticas (BRASIL, 1998).
Ainda, conforme o nível de escolaridade aumenta, há a indicação para o trabalho com algumas provas de
propriedades, pois é:
[...] desejável que no terceiro ciclo se trabalhe para desenvolver a
argumentação, de modo que os alunos não se satisfaçam apenas com a
produção de respostas a afirmações, mas assumam a atitude de sempre tentar
justificá-las. Tendo por base esse trabalho, pode-se avançar no quarto ciclo para
que o aluno reconheça a importância das demonstrações em Matemática,
compreendendo provas de alguns teoremas. (BRASIL, p. 1988 70-71)
Mesmo diante de tais orientações, nem sempre os alunos têm contato com provas matemáticas em sala de
aula, como observamos em Oliveira (2009), Mello (2009), Piccelli (2010), entre outros. Estas pesquisas,
cujos enfoques voltaram-se mais para a produção de provas e demonstrações evidenciam, por um lado,
lacunas em relação às validações matemáticas e, por outro, mostram que com um trabalho orientado é
possível que alunos de ensino fundamental apresentem provas de propriedades mais elaboradas no
decorrer do tempo.
Neste contexto, desenvolvemos um trabalho no qual tínhamos o objetivo de analisar a produção de
conjecturas e provas relativas a ângulos de polígonos que alunos de 8° ano de uma escola pública de
Campo Grande – MS viessem a produzir. Consideramos conteúdos geométricos pela afinidade que
tínhamos para com os mesmos, como também pelo favorecimento em relação às atividades manipulativas
(dobrar, recortar, medir, entre outras) e para a elaboração de conjecturas.
Para finalizar, descrevemos aspectos teóricos em relação a conjecturas e provas de propriedades, bem
como algumas das considerações e perspectivas que tivemos a partir de nossas análises.
2.CONJECTURAS E PROVAS MATEMÁTICAS
Assumimos que uma conjectura é uma proposição que ainda não foi provada e tampouco refutada
podendo ser verdadeira ou falsa. É importante destacar que na organização dedutiva da matemática,
quando a conjectura é verdadeira apenas para alguns casos ela é falsa, pois bastaria um contraexemplo
para invalidá-la. Por outro lado, quando se consegue provar que ela é verdadeira ela também deixa de ser
uma conjectura e, nesse caso, passa a ser chamada de teorema.
Quando se trata de alunos de ensino fundamental que ainda não conhecem a propriedade relativa à
medida da soma dos ângulos internos do triângulo, por exemplo, a suposição de que ela resulta sempre
180° é uma conjectura até que venha a ser refutada ou provada, passando a adquirir status de proposição
válida para essa comunidade.
Quanto à elaboração de conjecturas, “[...] é o processo de supor ou de perceber se uma afirmação é
verdadeira, o que induz a necessidade de investigar a sua veracidade” (MASON et al. 1982, p. 71 apud
MAGALHÃES; MARTINHO, 2014, p. 104). Esse processo pode envolver, por exemplo, a formulação da
conjectura, a verificação de casos particulares por meio de diversos testes, a apresentação de motivos
pelos quais se considera que ela é válida, a reformulação da conjectura, entre outros.
Existem diferentes maneiras pelas quais uma conjectura pode ser formulada, seja por meio da observação
e/ou manipulação de dados, busca por regularidades, testes sucessivos, entre outros. No trabalho em sala
de aula, nem sempre as conjecturas são explicitadas, pois elas podem ficar restritas ao pensamento do
aluno (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2003). Neste caso, discussões coletivas podem auxiliar o professor
a compreender melhor a conjectura formulada e os motivos pelos quais se acredita que ela é válida. Por
vezes, os próprios alunos concluem a falsidade de determinadas hipóteses levantadas mediante a
exposição dos argumentos de colegas, como observamos em nosso trabalho maior (KRAKECKER, 2016).
Outra característica do grupo investigado e que, segundo Ponte (2003; 2006), é comum em alunos que
possuem pouco contato com a elaboração de conjecturas, é a conclusão de que elas são verdadeiras após
59
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
as terem testado apenas para alguns casos. Como destacamos anteriormente, nem todas as formulações
são verdadeiras ou verdadeiras para todos os casos possíveis, por isso é importante o trabalho de validálas tomando como base princípios matemáticos válidos. Nesse sentido, deixa-se de operar com a “lógica
natural” utilizada espontaneamente pelos alunos, passando a considerar “a lógica formal” envolvida
(ARSAC, 1982). Assim,
A introdução da ideia da prova matemática pode ser feita gradativamente,
restringindo-se, numa fase inicial e com os alunos mais novos, à procura de uma
justificação aceitável que se baseie num raciocínio plausível e nos
conhecimentos que os alunos possuem. À medida que os alunos vão
interiorizando a necessidade de justificarem as suas afirmações e que as suas
ferramentas matemáticas vão sendo mais sofisticadas, vai se tornando mais
fácil realizarem pequenas provas matemáticas. (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA,
2003, p. 38)
Nessa linha de pensamento, algumas provas simples, cujo raciocínio seja plausível podem ser
consideradas pelo professor e pelo grupo de alunos. Balacheff (1988), por exemplo, apresenta um modelo
de classificação hierárquica para as provas que contempla desde validações fundamentadas em exemplos
ou casos particulares até as demonstrações. Então, quando um grupo de alunos aceita determinada
proposição como sendo válida em determinado momento, surge a noção de prova. Neste caso, “a prova
tem valor relativo, serve apenas para o grupo que a aceita, que se sentiu convencido pelo argumento”
(SALES, 1996, p. 36) e, assim, uma explicação pode ter o status de prova para certo grupo, mas para outro,
não (ARSAC, 1992).
Balacheff (1988) classifica as provas em dois níveis sendo o primeiro deles referente às provas
pragmáticas as quais são apoiadas em ações realizadas em alguns exemplos singulares, sem que haja
elementos voltados à generalização. Por isso, podemos dizer que são baseadas em manipulações e
exemplos. Neste nível, Balacheff identificou dois tipos de prova, a saber, empirismo ingênuo e experimento
crucial. Quando a afirmação é obtida com base na observação de casos particulares, como, por exemplo,
quando se conclui que a soma das medidas dos ângulos internos de qualquer triângulo é 180°, a partir da
manipulação de algumas poucas figuras, dizemos que o tipo de prova apresentada é do tipo empirismo
ingênuo. Caso o aluno desconfie da validade da afirmação com o teste apenas desses poucos resultados e
decida testar conjectura em um triângulo atípico, por exemplo, com ângulos de medidas 10°, 120° e 70°,
podemos inferir que ele apresentou o tipo de prova experimento crucial.
O segundo nível estabelecido pelo autor recebe o nome de provas intelectuais, nas quais as conclusões
obtidas são fundamentadas em deduções, com base em propriedades válidas e neste nível já aparece a
generalização. As provas são dos tipos exemplo genérico e experimento mental. O exemplo genérico ocorre
quando o aluno escolhe um caso particular para ser o representante da sua classe de objetos. Seria este o
tipo de prova caso os alunos utilizassem noções sobre retas paralelas e transversais e ângulos de meia
volta para relacionar a congruência de ângulos no triângulo. Conforme a figura que segue, os ângulos de
medidas p e r / q e t são congruentes. Então, p+s+q = r+s+t = 180°.
Figura 1 - Exemplo do tipo de prova exemplo genérico
Fonte: Os autores
60
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
E, por último, têm-se o experimento mental, em que a validação é baseada em uma proposição genérica.
Para exemplificar este tipo de prova, podem-se citar as demonstrações formais, como quando se
demonstra a partir de postulados e axiomas sem precisar se prender ao auxílio da figura. Quando ela é
utilizada, serve apenas como suporte ao raciocínio, representando generalidade,
A principal diferença entre estes dois últimos tipos de prova consiste na
generalização, que no primeiro caso é realizada raciocinando sobre um
elemento particular. Já no experimento mental, mesmo diante de uma
representação qualquer, está-se pensando para quaisquer elementos do grupo
a que pertence essa representação. (KRAKECKER, 2016, p. 40, grifo do autor)
Na prática, a seguinte resposta dada a partir da figura 2 consiste em um tipo de prova experimento mental:
dado um triângulo ABC, considere a reta r que passa pelo vértice C e paralela à reta determinada por A e B.
O ponto C determina sobre r duas semirretas. Sejam X e Y dois pontos, um em cada uma destas semirretas.
Temos: medidas XĈA+Ĉ+BĈY=180°. Como a reta AC é transversal às paralelas r e AB, segue da proposição
“duas retas paralelas interceptadas por uma reta transversal determinam ângulos correspondentes
̂. Portanto,
congruentes” (admitida como verdadeira) que XĈA≡Â. Analogamente concluímos que BĈY≡B
̂
̂
̂
̂
̂
medidas Â+B+C = XCA+BCY+C= 180°.
Figura 2 - Exemplo do tipo de prova experimento mental
Fonte: Os autores
3.PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com relação aos procedimentos metodológicos, nosso trabalho teve como norte a Engenharia Didática
(ARTIGUE, 1996), que pressupõe quatro fases: análises preliminares, concepção e análise a priori,
experimentação e análise a posteriori e validação.
Uma vez definido o tema com o qual trabalharíamos, ângulos de polígonos, passamos a realizar leituras
acerca do mesmo, abrangendo também a geometria, seu ensino, o livro didático, a elaboração de
conjecturas, a produção de provas, entre outras. Neste cenário, procuramos artigos, dissertações e teses
cujo tema e objetivos se aproximassem daqueles que estávamos explorando. Dentre tais trabalhos,
podemos citar Oliveira (2009), que analisou a evolução dos argumentos presentes nas validações em
relação às construções geométricas em uma turma de alunos do 8° ano do Ensino fundamental; Mello
(2009), que objetivou elaborar uma sequência didática com alunos de oitava série do Ensino Fundamental,
considerando a demonstração; Piccelli (2010), que investigou a elaboração e a validação de conjecturas
em geometria plana por alunos do primeiro ano do Ensino Médio.
Exploramos, também, documentos norteadores do Ensino Fundamental, tais como os Parâmetros
Curriculares Nacionais e o que estes orientam no que se refere ao ensino da Geometria e à elaboração de
conjecturas e provas. Uma coleção de livros didáticos também foi objeto de estudo quanto à abordagem do
conteúdo em questão, especificamente o tema ângulos de polígonos e respectivas provas de propriedades.
Esse primeiro trabalho foi retomado e aprofundado ao longo da investigação conforme sentíamos
necessidade. Esta fase de análises preliminares subsidiou tanto a escolha das variáveis didáticas, quanto à
elaboração das atividades com vistas à produção de conjecturas e provas de propriedades, realizado
durante a segunda fase da Engenharia. Nela, além da elaboração da sequência de atividades, tentamos
prever e descrever possíveis respostas, resoluções e comportamentos, tanto dos alunos como nossos,
diante da implementação da proposta.
61
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
A fase da experimentação consiste no contato direto com os alunos e com os dados produzidos por eles
diante das atividades propostas, bem como por meio de diálogos, registros e entrevista. Nesse momento,
aplicamos nossas atividades com alunos de 8° ano de uma escola municipal de Campo Grande - MS em
horário extraescolar. Foram desenvolvidas sete sessões com duração média de duas horas cada e, devido à
participação voluntária, analisamos os dados produzidos pelos sete alunos de maior frequência nos
encontros.
De acordo com a sondagem inicial que fizemos junto ao professor regente da turma, identificamos que,
embora os alunos já tivessem tido algum contato com o tema em anos anteriores, este não ocorreu de
modo aprofundado. Ademais, o conteúdo relativo a ângulos de polígonos reservado ao 8° ano ainda não
havia sido abordado em sala. Por este motivo, nas primeiras sessões, tínhamos a intenção de identificar e,
também, revisar conceitos e ideias fundamentais para o andamento da proposta, como, por exemplo,
medir ângulos utilizando o transferidor e a soma das medidas de ângulos complementares.
A experimentação foi realizada pela primeira autora deste trabalho junto de um colega, ambos, membros
do Grupo de Estudos em Didática da Matemática – DDMat9, dentro do qual a pesquisa estava inserida. Os
conteúdos trabalhados nas sessões foram: ângulo raso, ângulo de uma volta, ângulos suplementares,
ângulos complementares, retas paralelas e transversais, ângulos opostos pelo vértice (OPV), ângulos
formados por retas paralelas e transversal, ângulos internos de triângulos, ângulos internos de polígonos
quaisquer, ângulos externos de polígonos quaisquer.
De posse dos dados produzidos pelos alunos, realizamos as análises a posteriori onde olhamos para a
transcrição das falas, como também para os protocolos (produções escritas) num processo de análise,
considerando o objetivo e os referenciais adotados. Esse movimento constituiu-se de idas e vindas entre
as análises feitas logo após a experimentação e aquelas feitas anteriormente, numa tentativa de amarrar as
duas em apenas uma.
4.ELEMENTOS DE ANÁLISE
Na primeira sessão, observamos que os alunos não possuíam muitos conhecimentos acerca de ângulos e
suas propriedades e, por isso, foi necessário realizar uma explanação sobre o uso do transferidor e o modo
como medir ângulos. As discussões ocorreram de forma tímida e os protocolos permaneceram
praticamente em branco. Mesmo assim, por ser o primeiro encontro com a proposta de trabalho,
consideramos que os resultados foram satisfatórios, já que, quando são propostas atividades que exigem
justificativas que não são comuns na sala de aula, o registro escrito é um desafio a mais, porque exige um
tipo de representação que geralmente não é utilizado (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2003).
No segundo encontro, os alunos formularam a conjectura de que os ângulos OPV possuem medidas iguais
e para validá-la, apoiaram-se em suas próprias construções, como podemos observar na resposta de
Lisa10.
Classificamos a resposta de Lisa como sendo o tipo de prova experimento crucial, de nível pragmático, cuja
conclusão é baseada em diversos exemplos, sobretudo em algum bem particular, como é possível observar
nos desenhos do protocolo. É importante destacar que mesmo diante de poucas construções, o fato de Lisa
ter dito “Olha aqui o tamanho desses!” significa que para ela aquele desenho cujo prolongamento das
semirretas foi pequeno, ao qual estava se referindo, foi o caso não familiar, atípico e determinante na
validação da conjectura.
62
9
http://grupoddmat.pro.br/index.php/home/
Todos os nomes dos alunos utilizados neste trabalho sao fictícios.
10
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Figura 3 - Protocolo da aluna Lisa.
Pesquisadora: Será que sempre, quando
tivermos dois segmentos concorrentes
como dessa forma, os ângulos OPV terão
mesma medida?
Ana: Não
Lisa: Sim! Olha o que eu fiz... Deu a mesma
coisa! Olha aqui, eu fiz um monte, olha! Deu
tudo a mesma coisa! Olha aqui o tamanho
desses!
Fonte: Dados da pesquisa.
Na terceira sessão, retomamos esse assunto, ângulos OPV, pois percebemos que nem todos os alunos
sentiram-se convencidos pelo argumento de Lisa, o que significa que a validação da conjectura não
adquiriu status de prova para o grupo de alunos. A partir deste dia, ao final de cada sessão, passamos a
realizar uma prova de cada propriedade que estava sendo abordada com o intuito de mostrar aos alunos
outras possibilidades de justificações, além daquelas que vinham sendo apresentadas (de nível
pragmático). Esse momento era de discussão, pois os alunos participavam ativamente da construção da
prova. Sobre isso, Boavida et al. inferem que
Nem sempre os alunos conseguem provar as conjecturas formuladas, nem
sequer acompanhar uma prova apresentada pelo professor. Este facto não
constitui um factor negativo, pois a actividade de formulação de conjecturas
tem, em si mesmo, valor educativo. Além disso, este facto pode proporcionar
boas oportunidades para os alunos começarem a compreender a natureza do
trabalho em Matemática onde a formulação de conjecturas e a sua prova,
frequentemente, não ocorrem em simultâneo. (BOAVIDA et al., 2008, p. 89)
Nem sempre é fácil fazer com que os alunos compreendam a necessidade de justificação de conjecturas,
sobretudo quando estas parecem ser verdadeiras e resistem a vários testes. Contudo, esse é um trabalho
que se faz necessário.
No quarto encontro, trabalhamos com ângulos formados por retas paralelas e transversais, assim como
atividades de aplicação e reinvestimento de noções que até então foram abordadas. A quinta sessão foi
dividida em dois momentos. No primeiro deles distribuímos diversos triângulos com tamanhos e formas
diferentes e solicitamos aos alunos que medissem seus ângulos internos. A conjectura pretendida foi
elaborada, como percebemos no diálogo entre Wendy e Peter
Wendy: Quanto deu a soma aqui?
Peter: 180° eu acho...
Wendy: Olha deu 180° de novo!
Algum tempo depois...
Wendy: Deu 180° de novo!
Peter: Não está dando todos 180° não!
Wendy: Está dando todos 180°!
Peter: Você já mediu quantos?
Wendy: Quatro!
Peter: Eu estou no terceiro ainda!
Algum tempo depois...
Wendy: Nossa está dando todos 180°! Eu acho que vai
dar todos 180°...
63
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Peter afirma que nem todas as somas feitas estão resultando em 180° e observamos em sua folha de
anotações que seus resultados, para a soma das medidas dos ângulos internos dos triângulos, foram 163°
(um caso), 182° (três casos) e 184° (dois casos). Nas anotações de Wendy, por outro lado, todas as somas
resultam em 180°. E aqui, não é possível concluir se ele arredondou as medidas dos ângulos ou se,
percebendo para um ou dois casos a recorrência desse valor, modelou os demais. Depois de um processo
de experimentação no qual Wendy mediu os ângulos internos de vários triângulos e somou as medidas
encontradas, ela diz achar que “vai dar todos 180°”. Esse é um caso em que há a conjectura implícita de
que a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo é 180°.
Em seguida, naquele momento de exploração, pedimos aos alunos que pintassem e recortassem os ângulos
internos dos triângulos e os juntassem em torno de um único vértice. Wendy logo se pronuncia,
Wendy: Ahhh! Não falei que iria dar 180°! Deu a metade, olha... 180° aqui mais
180° vai dar 360°!
As provas produzidas permaneceram no nível pragmático, pois os alunos apoiaram-se na atividade
experimental que foi realizada. Vemos, assim como no trabalho de Mello (1999), que quase todos os
estudantes que fizeram esta mesma atividade, lembram e a utilizam para justificar a medida da soma dos
ângulos internos de triângulos, mesmo passado algum tempo. Desta forma, consideramos que estas
atividades são importantes para que o aluno se sinta ativo e faça parte do seu processo de aprendizagem e
para que possa estabelecer associações entre diferentes noções matemáticas. Entretanto, elas devem
compor o caminho para se chegar à formalidade que a matemática exige.
Na sessão posterior, os alunos realizaram atividades de aplicação e reinvestimento de noções que
havíamos trabalhado até o momento. Além disso, propusemos questões relativas à soma dos ângulos
internos de quadriláteros, a fim de que conjecturas e provas a esse respeito fossem elaboradas. Peter
apresentou a seguinte resposta:
Figura 4 - Protocolo do aluno Peter
Fonte: Dados da pesquisa.
O aluno dividiu o quadrilátero em triângulos e organizou seu discurso dedutivo. Destacamos que mesmo
que Peter tenha sido influenciado pela atividade experimental realizada (juntar os ângulos do quadrilátero
convexo em torno de um único vértice), ele apresenta uma sequência lógica de afirmações a partir da
representação de um polígono de quatro lados. Nesse sentido, classificamos a prova apresentada como
sendo exemplo genérico. Essa classificação seria outra, caso Peter respondesse algo do tipo “é 360°, por
que quando recortamos e juntamos os dois triângulos, vimos que deu dois triângulos”. Para Balacheff
(1987), quando se trata de uma evolução referente às provas, em específico das provas pragmáticas para
as intelectuais, o processo é marcado não só por uma evolução da natureza do conhecimento, mas também
por uma evolução das características linguísticas, como vem demonstrando Peter.
Outro elemento que nos fez atribuir a referida classificação à prova realizada, foi a presença de duas
representações do quadrado em seu protocolo. Numa delas, aspectos como o traço exato, a utilização da
régua e a igualdade de certas medidas foram consideradas por Peter importantes para “constatar” a
veracidade da conjectura. Na segunda (Figura 4), não há preocupação alguma em obedecer a tais regras,
de modo que o estatuto passa a ser outro. Arsac (1982) sublinha que, pouco a pouco, o aluno deverá
64
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
evoluir, assim como o estatuto da figura em geometria. Isso é difícil de ser explicado ou definido
precisamente, mas se deixará de medir ou constatar com réguas ou transferidores para raciocinar ou
ainda deduzir a partir da figura. Ademais, acreditamos que a justificativa apresentada por Peter pode ter
sido influenciada pela nossa opção em discutir provas de propriedades trabalhadas a cada sessão,
mostrando que é possível de se atingir níveis de provas intelectuais.
No último encontro, tínhamos a intenção de formular conjecturas acerca da soma das medidas dos ângulos
externos de triângulos a partir da manipulação de exemplos produzidos pelos próprios alunos. Isso foi
observado, por exemplo, no diálogo entre Mary e Wendy:
Wendy: 330°...
Mary: 365°... Não vai dar... Tem mais que 335°
Wendy: O meu deu 330°...
[...]
Mary: 40° aqui. Dá 120°...
Wendy: Por que aqui deu 120°?
Mary: 380°... Deu 365°, Wendy...
Wendy: O meu deu 360°...
Mary: Por que aqui deu... E aqui deu 360°? Por que o quadrado...
Wendy: Dentro... Dentro tem que dar 180° [referindo-se aos ângulos internos
do triângulo] Aqui deu 180° certo?
Mary: Mas tem que medir o de fora...
Wendy: Verdade...
Inicialmente, as alunas não distinguem ângulos internos e externos, mas ao longo da discussão este
aspecto é resolvido entre as próprias alunas, evidenciando a autonomia já adquirida. Além disso, há a
exploração das medidas dos ângulos das figuras e, por meio disso, a formulação da conjectura. A
justificativa escrita de Mary e Wendy foi classificada como empirismo ingênuo, pois elas escreveram que a
resposta solicitada fora 360°, pois haviam medido com o transferidor. Este foi um aspecto que se mostrou
evidente em quase todas as sessões, já que os alunos justificavam com respostas escritas como se
estivessem a nos contar o motivo pelo qual acreditavam que suas respostas estavam corretas. As alunas
ainda não produziram argumentos escritos de provas intelectuais, como foi o caso de Peter e James (que
neste dia trabalharam juntos).
5.CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Acreditamos que a produção de conjecturas, assim como havia nos sinalizado Ponte, Brocardo e Oliveira
(2003), ocorre de diversas maneiras e em diferentes situações. Em nosso caso, a manipulação do
transferidor foi fundamental para que os alunos elaborassem suas conjecturas, assim como as atividades
experimentais nas quais foi preciso desenhar, medir, recortar, manipular, entre outros procedimentos.
Destacamos que o trabalho em duplas também foi de grande valia, uma vez que possibilitou debates
acerca das resoluções e das próprias atividades. Como a participação dos alunos foi voluntária, nem
sempre tínhamos os mesmos alunos a cada encontro e, por isso, a composição das duplas quase nunca era
a mesma. Vimos que este aspecto possibilitou que eles trabalhassem com parceiros diferentes, discutissem
coisas diferentes e aprendessem coisas também diferentes.
Em relação à validação de conjecturas, conseguimos identificar algumas provas, sendo a maioria situada
no nível das provas pragmáticas, em que as conclusões foram fundamentadas em exemplos particulares,
manipulações, dentre outros, sem haver elementos relacionados à generalização. No processo de
validação, destacamos a escrita em linguagem matemática, uma vez que os alunos, de modo geral,
escreviam nos protocolos como se estivessem nos contando como ou porque acreditavam que sua
resposta estivesse correta.
Nesse contexto, Balacheff (1987) destaca que quando se trabalha com uma geometria baseada na
observação, a natureza do conhecimento do qual o aluno dispõe não lhe permite satisfazer as exigências
de uma demonstração de modo imediato e que, independentemente da negociação de um novo contrato
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
didático, não se trata de uma simples passagem das provas pragmáticas até a demonstração. Esta é
constituída por uma sucessão de construções sobre o terreno do conhecimento e da racionalidade e que,
portanto, requer certo tempo. Acreditamos que um trabalho prolongado com os alunos poderia levá-los a
atingir níveis mais elevados de prova, pois as ferramentas para isso aos poucos iam passando a fazer parte
do repertório deles, como foi possível observar tanto nos diálogos quanto nos protocolos.
É importante dizer que para outros temas, diferentes daquele com o qual trabalhamos, um intenso
trabalho também precisará ser desenvolvido pelo professor ou pelo pesquisador, pois para a produção de
conjecturas, e principalmente para a produção de provas de propriedades, é preciso que haja a utilização
de algumas noções anteriormente trabalhadas. Aos poucos, os alunos passam a entrar nesse “novo jogo” e
a procurar elementos de validação para suas conjecturas, afinal, nos primeiros encontros, como os alunos
poderiam apresentar provas do tipo experimento mental, por exemplo, se não as conheciam? Como
poderiam justificar suas respostas se não o fazem sempre?
Destacamos que em meio a esta proposta, as atividades ou sessões cuja intenção consistiu em reinvestir
noções anteriormente trabalhadas, foram importantes para que os alunos colocassem em prática o
“conhecimento teórico”, podendo estabelecer relações de aplicação, mesmo que dentro da lógica interna
da matemática. Para nós, foram oportunidades de observar a (não) mobilização das noções que estavam
em jogo em prol da realização da tarefa.
Em meio a um percurso muito distante da linearidade que a organização desta ou de qualquer outra
produção possa sugerir, surgiram-nos inquietações as quais não foram possíveis de serem exploradas.
Então, como seria desenvolver um trabalho que abarcasse conjecturas falsas11 e que, a partir delas, se
discutisse a necessidade da prova matemática? Em que medida a manipulação de softwares educacionais
teria contribuído para a elaboração de conjecturas? Como é discutida, na formação de professores, a
produção de conjecturas e provas de propriedades?
Por último, como estão Lisa, Peter, Mary, Wendy, Miguel, João e James, alunos cujas produções foram
analisadas para que chegássemos a tais considerações? O que eles teriam a nos dizer? O que eles nos
diriam sobre o tema com o qual trabalhamos? Enfim...
REFERÊNCIAS
Arsac, G. et al. Initiation au raisonnement déductif au collège. Lion-França: Presses Universitaires
[1]
de Lion, 1992.
[2]
Artigue, M.Engenharia didática. In: BRUN, Jean (Org.). Didáctica das Matemáticas. Lisboa: Instituto Jean
Piaget, 1996.
[3]
Balacheff, N. Processus de prouve et situations de validation. Educational Studies in Mathematics, nº18,
1987, p.147-176.
[4]
Balacheff, N. Une étude des processus de preuve em Mathématique chez lês élèves de collège. 1988. Tese
(Doutorado)- Grenoble: Université Joseph Fourier, 1988.
[5]
Boavida, A. M. et.al. A experiência matemática no Ensino Básico. Programa de formação contínua em
Matemática para professores do 1.º e 2.º Ciclos do Ensino Básico. Lisboa: Ministério da Educação, 2008.
[6]
Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Matemática, 5ª a 8ª Séries. Brasília, 1998.
[7]
Brasil, Parâmetros Curriculares Nacionais: 1ª a 4ª séries. Brasília: MEC/SEF, 1997.
[8]
Krakecker, L. Produção de Conjecturas e Provas de propriedades de ângulos de polígonos: um estudo com
alunos do 8° ano do Ensino Fundamental. 2016, 150f. Dissertação (Mestrado)- Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul, Mestrado em Educação Matemática, Campo Grande, 2016.
[9]
Magalhães, M. da G.; Martinho, M. H. O desenvolvimento da argumentação matemática no estudo das funções
racionais. Quadrante, v. XXIII, nº 1, 2014.
[10]
Mello, E. G. S. Uma sequência didática para a introdução do seu aprendizado no ensino da geometria. 1999,
189f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática)- Universidade Pontifícia Católica de São Paulo, São Paulo,
1999.
11
Aqui, não se trata da elaboração de conjecturas falsas, mas da exploração das mesmas,
independente de terem sido ou não formuladas pelos alunos.
66
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
[11]
Oliveira, S. G. da S. Um estudo de argumentações produzidas por alunos do 8º ano em atividades de
construções geométricas envolvendo pontos notáveis de triângulo. 2009, Dissertação (Mestrado)- Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul, Mestrado em Educação Matemática, Campo Grande, 2009.
[12]
Piccelli, P. H. Processos de validação de conjecturas em geometria plana. 2010, 135f. Dissertação (Mestrado
em Educação Matemática)- Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010.
[13]
2003.
Ponte, J.P; Brocardo, J. Oliveira, H. Investigações Matemáticas na sala de aula. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
[14]
Sales, A. O ensino de matemática no 1° grau: um estudo sobre o significado do conhecimento geométrico para
alunos da 8a série. 1996. Dissertação (Mestrado em educação)- Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo
Grande, 1996.
[15]
Rocha, A., Ponte, J. P. Aprender Matemática investigando. Zetetiké, v.14, n. 26, p. 29-54, 2006.
67
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 8
A resolução de problemas no contexto da álgebra
elementar: Uma investigação dos saberes e das
práticas do professor de matemática de 7º e 8º anos
do ensino fundamental
Valquírio Firmino da Silva
Gilberto Francisco Alves de Melo
Resumo: Este artigo baseia-se na pesquisa de mestrado do autor, cujo objetivo foi
investigar os saberes e as práticas produzidos por professores no ensino da matemática
via Resolução de Problemas no contexto da álgebra elementar. A investigação é um
estudo de caso, de caráter qualitativo, que associa a pesquisa bibliográfica à de campo.
Foi desenvolvida com a colaboração de quatro professores de matemática do 7º e do 8º
ano do Ensino Fundamental, informantes que trabalhavam em escolas públicas de Rio
Branco, no Estado do Acre, em 2014. Os resultados mostram que os saberes e as práticas
dos professores em relação à resolução de problemas (como metodologia) no ensino de
álgebra elementar apresentam limitações decorrentes da formação inicial lacunar e das
precárias condições de trabalho; no entanto, a vivência da Oficina de Resolução de
Problemas possibilitou a mobilização de saberes experienciais e curriculares de álgebra
elementar.
Palavras-chave: Saberes docentes; Prática pedagógica; Resolução de problemas; Ensino
de álgebra; Ensino Fundamental.
68
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o ensino da matemática vem passando por mudanças no campo metodológico,
sobretudo no que se refere aos métodos de abordagem dos conteúdos, cuja diretriz aponta para a ideia de
que o professor deve contextualizar o assunto, isto é, deve partir de situações-problema para estimular o
raciocínio matemático nos alunos, como se verifica na proposta curricular nacional e na do Estado do Acre.
Diante disso, a pesquisa desenvolvida preocupou-se em discutir essa nova abordagem metodológica do
ensino da matemática, enfocando, primordialmente, a observação do emprego da resolução de problemas
como forma de abordagem dos conteúdos em sala de aula pelos professores, no intuito de investigar os
saberes e as práticas já construídos e em reelaboração pelos docentes no ensino dessa disciplina. Além
disso, buscou-se compreender como os professores concebem e desenvolvem essa metodologia na sua
prática pedagógica, particularmente no ensino de álgebra elementar.
Percebeu-se que os alunos do Ensino Fundamental II apresentam dificuldades em matemática, como a
falta de compreensão da situação-problema e a incapacidade de elaborar um plano estratégico para
chegar a uma solução coerente, durante a resolução de problemas matemáticos. A hipótese básica é que
isso decorre de alguns fatores, dos quais o mais crítico é a falta de saberes, não só do educando, mas
também do educador, o qual não desenvolveu habilidades para ensinar matemática via resolução de
problemas. O fato de o professor não estabelecer diferença entre problema e exercícios reforça tal
situação; há, ainda, o desafio de romper com concepções e práticas dogmáticas no campo do ensino de
matemática.
No decorrer da investigação, realizou-se uma revisão bibliográfica para discutir a temática proposta, que
enfatiza a resolução de problemas, o ensino de álgebra e as práticas pedagógicas associadas aos saberes
docentes, buscando apresentar aspectos e dimensões que vêm se destacando no cenário da Educação
Matemática; em seguida, abordaram-se questões metodológicas. Por fim, apresentaram-se as
contribuições da pesquisa realizada para a melhoria do ensino e da aprendizagem da matemática frente ao
uso da Resolução de Problemas como método de abordagem de conteúdos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
A abordagem dos conteúdos por meio da resolução de problemas é uma das tendências atuais em
Educação Matemática, cujo objetivo é propor o desenvolvimento de conceitos matemáticos mais
significativos para o aluno. Durante algum tempo, a resolução de problemas foi utilizada como um fim
para o ensino de matemática. Porém, a partir dos anos 1990, passou a ser vista como uma metodologia de
ensino, isto é, deixou de ser um fim para ser um dos meios pelo qual se deveria ensinar matemática. Nesse
sentido, Onuchic (1999) diz que a intenção de ensinar matemática por meio de resolução de problemas
passa de
[...] ter um papel de atividade limitada de engajar os alunos, depois da aquisição
de certos conceitos de determinadas técnicas, para ser tanto um meio de
adquirir novo conhecimento como um processo no qual pode ser aplicado
àquilo que previamente havia sido construído (ONUCHIC. In: BICUDO, 1999, p.
208).
Essa abordagem da matemática se contrapõe à prática tradicional do ensino da disciplina, que se baseava
em técnicas de memorização, no uso de regras e algoritmos e na repetição de exercícios. Para reforçar isso,
Onuchic e Allevato (2004) destacam que
[...] a resolução de problemas têm como propósito fazer com que os alunos
possam pensar matematicamente, levantar ideias matemáticas, estabelecer
relações entre elas, saber se comunicar ao falar e escrever sobre elas,
desenvolver formas de raciocínio, estabelecer conexões entre temas
matemáticos e de fora da matemática e desenvolver a capacidade de resolver
problemas, explorá-los, generalizá-los e até propor novos problemas a partir
deles (ONUCHIC; ALLEVATO. In: BICUDO; BORBA, 2004, p. 218).
Outro aspecto importante refere-se às diferenças entre problemas e exercícios, pois existe grande
confusão entre as definições de ambos. Desse modo, julga-se oportuno esclarecer as diferenças entre os
dois termos na prática pedagógica. Acerca desse assunto, Pozo (1998) sustenta que, de um lado, uma
69
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
situação é vista como um exercício quando já se tem em mente os procedimentos que permitem solucionála, de forma mais ou menos imediata, sem exigir nenhuma forma de reflexão ou tomada de decisões
sequenciadas. Então, embora o exercício seja necessário para consolidar habilidades instrumentais
básicas, ele não deve ser confundido com problemas.
Por outro lado, um problema é uma situação desafiadora que exige do resolvedor criatividade,
originalidade, reflexão e tomada de decisões, ou seja, demanda a construção de um conhecimento
matemático próprio, como também a descoberta de respostas próprias. Dessa forma, o aluno terá um
papel ativo e autônomo na sua aprendizagem, pois o conteúdo a ser aprendido será apresentado a partir
de contextos significativos.
Em relação às perspectivas sobre a resolução de problemas, destacam-se as contribuições de Gazire
(1988), que categoriza a resolução sob três prismas: a resolução de problemas como um novo conteúdo,
como aplicação de conteúdos e como um meio de se ensinar matemática. Todas essas perspectivas podem
ser trabalhadas em sala, dependendo dos objetivos da aula e do nível de maturidade dos alunos. Ressaltase que a primeira categoria apresentada por Gazire (1988) relaciona-se às ideias de Polya (1995); a
segunda, possui fortes traços de ensino tradicional, porque valoriza a transmissão do conhecimento
matemático, em detrimento da construção; já a terceira perspectiva propõe uma abordagem com enfoque
na construção dos conceitos matemáticos pelo aluno.
Do que se expôs até aqui, destaca-se que esta pesquisa se identifica com a última perspectiva: resolução de
problemas como um meio de se ensinar matemática, isto é, ensinar matemática por meio da resolução de
problemas, sendo o problema o gerador do processo de ensino-aprendizagem.
2.2. ÁLGEBRA E SUAS CONCEPÇÕES
Sabe-se que nos anos iniciais do Ensino Fundamental já é possível desenvolver e/ou explorar situações
que contribuam para a formação do pensamento algébrico, como, por exemplo, identificar e descrever
padrões numéricos e geométricos, regularidades numéricas, padrões em sequências de figuras
geométricas e padrões em conjuntos de expressões numéricas.
Contudo, é especialmente nos anos finais do Ensino Fundamental (do 6º ano ao 9º) que as atividades
algébricas serão ampliadas e formalizadas. Isso deve ocorrer, como expressam os PCN (1997), por meio da
exploração de situações-problema, em que o aluno reconhecerá diferentes funções da álgebra (generalizar
padrões aritméticos, estabelecer relação entre duas grandezas, modelizar, resolver problemas
aritmeticamente difíceis), representará problemas por meio de equações e inequações (diferenciando
parâmetros, variáveis, incógnitas, tomando contato com fórmulas) e ainda compreenderá a “sintaxe”
(regras para resolução) de uma equação.
Verifica-se, conforme esses objetivos, que o ensino-aprendizagem da Álgebra Elementar deve acontecer a
partir de situações-problema, fato que implica um ensino pautado na investigação, o que não será possível
pelo uso de técnicas tradicionais, mas pela metodologia da resolução de problemas, que possibilita
construção de estratégias. Nesses objetivos existem concepções subjacentes sobre a álgebra e seu ensino,
cujo conhecimento é fundamental para a compreensão dos saberes e das práticas mobilizados pelos
professores durante o seu fazer pedagógico. Há muitas pesquisas que apontam a identificação dessas
concepções, dentre elas estão os estudos de Fiorentini, Miguel e Miorim (1993), Usiskin (1994) e outros,
bases teóricas deste trabalho.
Sobre as concepções de álgebra, destacam-se aqui apenas as contribuições de Usiskin (1994), o qual
apresenta quatro concepções de álgebra baseadas na importância que o uso das variáveis assume. A
primeira é a aritmética generalizada, que entende a álgebra como ampliação dos conceitos da aritmética,
partindo do estabelecimento de padrões, com a preservação das propriedades válidas para os números.
A segunda concepção, álgebra como estudo de métodos para resolver certos problemas, implica a
tradução de uma situação-problema para uma linguagem algébrica, geralmente uma equação. Usiskin
(1994) estabelece como terceira concepção de álgebra o estudo de relação entre grandezas.
Possivelmente, o estudo das funções é o maior representante dessa concepção. Por fim, a quarta
concepção é o estudo das estruturas que buscam entender que percepções matemáticas (tais como
equivalências entre expressões, simplificações e outras atitudes matemáticas) podem ser úteis ou não
para resolver os problemas em álgebra, como, por exemplo, fatorar a expressão “x² - 9”.
Diante dessas concepções de álgebra propostas pelo autor, percebe-se que elas se manifestam em diversos
momentos da prática docente no ensino desse assunto. É importante destacar que a forma de o professor
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
trabalhar os conceitos e procedimentos algébricos pode dificultar a aprendizagem do aluno. Assim, ao
fundamentar sua prática em uma ou mais dessas concepções, o professor deve optar pela abordagem
metodológica mais adequada para o ensino da álgebra e refletir sobre sua eficácia.
Uma dessas abordagens mais adequadas para favorecer o processo de ensino-aprendizagem de
matemática seria a resolução de problemas, já que possibilita o desenvolvimento de aulas orientadas pela
investigação e construção do saber, uma vez que prioriza o desenvolvimento de estratégias ou heurísticas,
em vez de memorização/aquisição mecânica de algoritmos e fórmulas.
2.3. SABERES E PRÁTICAS DOCENTES
Os dados construídos da pesquisa foram problematizados em relação às classificações e
tipologias/categorias de saberes docentes mobilizados pelos professores de matemática, no que concerne
ao ensino da álgebra elementar mediada pela resolução de problemas. Acerca desse assunto, apresentamse a seguir as abordagens de autores, como Tardif (2002), Santos (2010) e Melo (2003), que concebem os
professores na perspectiva de produtores de saberes construídos na prática profissional e não apenas
como meros consumidores e/ou reprodutores de conhecimentos exteriores à sua prática.
Na discussão empreendida, Tardif (2002) formula alguns questionamentos:
Quais são os saberes que servem de base ao oficio de professor? Noutras
palavras, quais são os conhecimentos, o saber-fazer, as competências e as
habilidades que os professores mobilizam diariamente, nas salas de aulas e nas
escolas, a fim de realizar concretamente as suas diversas tarefas? Qual é a
natureza desses saberes? [...] como esses saberes são adquiridos? (TARDIF,
2002, p. 09).
Refletindo sobre essas questões, que são fundamentais para a compreensão dos saberes e das práticas que
os professores constroem e reelaboram diariamente no exercício de sua complexa função, percebe-se que
a produção de saberes docentes envolve um conjunto de condicionantes e o contexto no qual tais
conhecimentos inserem.
Tardif (2002) propõe a existência de uma diversidade de saberes, considerando que ensinar é mobilizar
diversos saberes, os quais são denominados saberes disciplinares, curriculares, experienciais e os da
formação profissional.
Nessa perspectiva, o professor ideal, se existe, é aquele que reúne todos esses saberes, sendo capaz de
dominar, integrar e mobilizar tais saberes como condição para desenvolver sua prática cotidiana com os
alunos. Ainda nessa direção, Tardif (2002) afirma que os professores, na impossibilidade de controlar os
saberes curriculares, disciplinares e da formação profissional, produzem ou tentam produzir saberes que
determinam a sua prática, levando-os a se distanciarem daqueles saberes adquiridos fora dela.
Percebe-se que a experiência conduz o professor a realizar uma análise crítica daqueles saberes que foram
construídos e/ou adquiridos antes ou fora da prática profissional, o que possibilita aos docentes um
processo permanente de avaliação de todos os seus saberes.
Apresentando ideias análogas, Melo (2003, p. 77) atenta para “a possibilidade de considerar a prática
como lócus de produção de saberes, [...]”. Ainda nesse sentido, Santos (2010) afirma que todo saber
implica um processo de aprendizagem e formação. Ele constatou que os professores revelam, por meio
dos seus escritos, práticas com perspectivas voltadas para a produção de saberes significativos.
Melo (2003) também focalizou a produção e a apropriação de saberes docentes, destacando, em sua
investigação, que a mobilização de saberes do professor ocorre em dois níveis de formação, quais sejam: o
de compreender as dificuldades de seus alunos em álgebra elementar e o de revisar e ressignificar a sua
Formação Inicial.
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
A presente pesquisa, de cunho qualitativo, consiste num estudo de caso acerca dos saberes e das práticas
pedagógicas de professores de matemática que trabalhavam com 7º e 8º anos do Ensino Fundamental em
escolas públicas de Rio Branco, no Estado do Acre, em 2014.
71
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
A escolha do estudo de caso se justifica face à pertinência e aplicabilidade dessa modalidade para
aprofundar estudos com temática e/ou problemática voltados à área da educação, conforme defendem
Lüdke e André (1986).
Essa opção deve-se também ao fato de o estudo de caso enfocar uma situação, um fenômeno particular,
tornando-o um tipo de estudo adequado para investigar problemas da prática educacional. Além disso, a
capacidade heurística é outra contribuição desse tipo de pesquisa, pois pode levar à descoberta de novos
sentidos, à expansão de experiências ou à confirmação de algo que já se sabia.
Para a construção dos dados foram utilizados os seguintes instrumentos: entrevistas semiestruturadas,
questionário semiaberto, observações de aulas, diário de campo, pesquisa bibliográfica e as produções dos
professores oriundas das atividades desenvolvidas na “Oficina de Resolução de Problemas”, realizada no
2º semestre de 2014 pelo pesquisador.
Quanto à análise, os dados foram classificados de forma sistemática por meio de seleção (exame
minucioso), codificação (técnica operacional de categorização) e tabulação (disposição dos dados de forma
a verificar as inter-relações). Essa classificação possibilita maior clareza, visando à construção das
categorias de análise.
4. ANÁLISE
A análise consistiu em confrontar os dados construídos a partir dos instrumentos, já mencionados, à luz do
referencial teórico, visando responder à questão de pesquisa: Como os professores de matemática
manifestam saberes e práticas em relação à metodologia resolução de problemas no contexto da álgebra
elementar no 7º e no 8º ano?
Para atingir esse objetivo, construíram-se categorias empíricas confrontadas com o aporte teórico de
Polya (1995), em relação à resolução de problemas; de Tardif (2002), no que se refere aos saberes
docentes; e de Usiskin (1994), no que tange ao ensino de álgebra elementar, ou seja, analisou-se o
desenvolvimento quanto às (aos):
4.1. CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Verificou-se uma grande dificuldade dos quatro professores em fazer tal distinção, o que ficou evidente
nas respostas da entrevista e do questionário e nas observações colhidas durante as aulas de matemática
desses docentes. Um exemplo disso está no texto de um dos informantes, denominado P2, ao responder
questionário: “No geral tento trabalhar primeiro exercícios de fixação, após eu trabalho com situações que
reflitam problemas cotidianos”.
Outra evidência é o relato do informante P4, quando diz, em resposta ao mesmo questionário: “Sempre
após ensinar a base do assunto uso resolução de problemas para que os alunos fixem os conteúdos de
forma significativa”. É preciso destacar a presença da ação de “fixar” em ambos os relatos, expressa pelo
substantivo “fixação”, no primeiro, e pela forma verbal “fixem”, no segundo, o que leva à inferência de que,
apesar de os professores expressarem que usam a resolução de problemas como metodologia, suas
práticas se fundamentam numa abordagem tradicional de ensino da Matemática. Isso porque, na
percepção deles, a resolução de problemas se apresenta na perspectiva da “aplicação de conteúdos”, como
propõe Gazire (1988).
Ainda nesse sentido, percebe-se mais uma confusão, agora entre problema e contextualização: para os
professores, uma situação contextualizada é um problema. Tal concepção evidencia-se na declaração de
P2, em entrevista concedida ao pesquisador12: “Se for para falar de problemas para nortear uma aula,
lembro-me de uma aula [...] sobre a ida ao cinema, onde eu trabalho sobre a bilheteria, fazendo perguntas
para eles e iam respondendo, ou seja, contextualizei para eles uma situação [...]”.
72
12
As entrevistas foram realizadas em dezembro de 2014, em Rio Branco-AC, e constituem material ainda inedito.
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
4.2. SABERES PRODUZIDOS E/OU MOBILIZADOS NA PRÁTICA DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO À
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS FRENTE À ÁLGEBRA ELEMENTAR
A segunda categoria em discussão nesta pesquisa diz respeito aos saberes que os professores mobilizam
ao ensinar a matemática em sua sala de aula numa abordagem de resolução de problemas. Antes de
discuti-la, é necessário ressaltar uma das principais fontes desse saber: a formação escolar, acadêmica e
profissional dos professores.
O relato dos professores deixa transparecer que não chegaram a conhecer a resolução de problemas
(como metodologia) durante a formação acadêmica. A fala de P2, na entrevista, comprova essa hipótese,
quando afirma, de forma enfática: “Se for pensar nessas coisas, o que me recordo ter visto sobre a
resolução de problemas foi só em Física, o resto foi tudo Matemática bruta, sem contextualização, sem
nada. Conhecimento pelo conhecimento”.
Em consequência disso, percebe-se que os saberes experienciais são os mais mobilizados na prática
docente durante uma aula. Esse fato também é comprovado, por exemplo, na descrição feita por P3 (em
resposta ao questionário) de como trabalha os problemas e exercícios: “Procuro inserir o aluno como
parte ativa do problema, fazendo a leitura junto com ele, fazendo perguntas sobre como resolver e
pedindo sugestões”. Estratégia semelhante se percebe no professor P4, que afirma no questionário:
“Sempre após ensinar a base do assunto, uso resolução de problemas para que os alunos fixem os
conteúdos de forma significativa”. Percebe-se que eles desenvolveram métodos pessoais para executar
suas atividades docentes referentes à resolução de problemas, os quais são oriundos da própria prática,
conforme assevera Tardif (2002).
4.3 FATORES QUE DIFICULTAM O DESENVOLVIMENTO DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NA
PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES
Todos os professores da pesquisa deixaram patente que as abordagens ou os conteúdos estudados na
academia não lhes deram suporte para ensinar a álgebra escolar mediada pela Resolução de Problemas.
Exemplo disso ocorre na seguinte declaração feita pelo informante P4, durante entrevista: “A minha
dificuldade já é ensinar aqueles problemas que têm várias operações ‘pros’ meninos. Acho que é preciso
fazer formação continuada, principalmente em matemática”.
Dessa forma, constata-se que a abordagem metodológica atribuída ao ensino da álgebra na Licenciatura
produz profundas marcas nos futuros professores. Isso também se verifica na fala do professor P2, ao
fazer a seguinte afirmação, em entrevista: “Vou ser sincero, não houve mudanças do Ensino Fundamental e
Médio para o Superior, eles continuaram com o mesmo ensino tradicional, mostrando coisas que eu não
sabia, continuaram usando as mesmas metodologias, e eu tive muitas dificuldades”.
Outro aspecto que se revela como fator que dificulta a utilização da Resolução Problemas se refere ao
desinteresse dos alunos em trabalhar a matemática dentro de um contexto de resolução de problemas.
Aliás, para além disso, os estudantes expressam antipatia pela própria matemática, como se verifica no
relato de um dos entrevistados, professor P2: “Vejo na escola de colegas que os alunos não prestam
atenção e, assim, o ensino não tem um retorno na aprendizagem do aluno. Os alunos odeiam matemática”.
Isso decorre, possivelmente, do tratamento metodológico que caracteriza as aulas, o qual, em geral,
baseia-se nas técnicas de memorização e repetição.
Outro aspecto que gera dificuldades em abordar o ensino da matemática via resolução de problemas,
apontado pelos quatro professores, relaciona-se às más condições de trabalho, dentre as quais se
destacam os baixos salários, a sobrecarga de trabalho, o espaço físico e a estrutura escolar inadequados, a
escassez de recursos materiais, pedagógicos e tecnológicos.
Observa-se um exemplo dessa situação no relato, colhido em entrevista, do professor P4: “Eu não
concordo com os baixos salários que temos, e ainda tirar dinheiro do bolso para comprar materiais. Acho
que isso está errado e muito errado”. P4 percebe o quanto é injusta a condição salarial e de desvalorização
a que os educadores são submetidos, a ponto de ter de financiar os recursos pedagógicos se quiser
desenvolver um trabalho melhor, fato que expressa, de forma perversa, uma política de desmonte da
educação pública.
Além disso, inclui-se nesse aspecto a (in)existência de ambientes extraclasse, como bibliotecas,
laboratórios, entre outros, para atividades práticas, os quais, quando existem, muitas vezes não oferecem
condições de funcionamento para que os professores desenvolvam sua prática pedagógica com mais
eficácia. Essa preocupação transparece na fala do entrevistado P2: “A escola que estou tem apenas cinco
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
computadores funcionando, dos trinta que estão na sala do laboratório. Qual é a possibilidade que tenho
de dar uma aula usando, por exemplo, o Geogebra? Isso não é problema só dessa escola, mas da rede”.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se que os quatro docentes investigados manifestam concepções equivocadas sobre a
metodologia resolução de problemas, devido a um conhecimento teórico limitado, o qual é fruto de sua
formação acadêmica. Em seus discursos, afirmam usar a resolução de problemas; porém, na prática isso
não se materializa, pois associam a resolução de problemas à contextualização ou à aplicabilidade da
matemática, considerando que a metodologia comumente utilizada é aquela indicada no livro didático e a
adquirida no decorrer de formação inicial e continuada do professor.
Constatou-se, ainda, que há predominância dos saberes curriculares devido ao uso excessivo do livro
didático (abordagem conteudista), no entanto, os saberes experienciais não são desprezados, tendo em
vista que os professores desenvolveram formas particulares para ensinar matemática, confundindo tais
estratégias com o método da resolução de problemas. Além disso, os docentes pesquisados destacam a
formação inicial lacunar e as precárias condições de trabalho como limitadoras da adequada exploração
dessa metodologia.
REFERÊNCIAS
[1]
Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais. Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
[2]
Fiorentini, D.; Miguel, A.; Miorim, M. A. Contribuição para um repensar... a Educação Algébrica elementar.
Pro-Posições, v. 4, n.1, p. 78-91, 1993.
[3]
Gazire, E. S. Perspectiva da Resolução de Problemas em Educação Matemática. 1988. Dissertação (Mestrado
em Educação Matemática) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho, Rio Claro, Unesp, 1988.
[4]
Lüdke, M; André, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
[5]
Melo, G. F. A. A Formação Inicial e a Iniciação Científica: investigar e produzir saberes docentes no ensino de
álgebra elementar. 2003. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação – Campinas:
Unicamp, 2003.
[6]
Pozo, J. I. A Solução de Problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998.
[7]
Onuchic, L. R. Ensino-aprendizagem de Matemática através da resolução de problemas. In: Bicudo, M. A. V.
(Org.) Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
[8]
Onuchic, L. R.; Allevato, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensino-aprendizagem de Matemática através da
resolução de problemas. In: Bicudo, M. A. V.; Borba, M. C. (Org.). Educação Matemática: pesquisa em movimento. São
Paulo: Cortez, 2004, p. 212-231.
[9]
Polya, G. A Arte de Resolver Problemas: um novo aspecto do método matemático. Trad. Heitor Lisboa de
Araújo. Rio de Janeiro: Interciência, 1995.
[10]
Santos, M. S. G. Saberes da Prática na Docência do Ensino Superior: análise de sua produção nos cursos de
licenciatura da UEMA. 2010. 225 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Piauí, Teresina,
2010.
[11]
Tardif, M. Saberes Docentes & Formação Profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
[12]
Usiskin, Z. Concepções sobre a álgebra da escola média e utilizações das variáveis. In: Coxford, A. F.; Shulte, A.
P. As Ideias da Álgebra. São Paulo: Atual, 1994, p. 9-22.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 9
Identificação da grandeza área em livro didático do
9º ano do Ensino Fundamental numa perspectiva
didática-praxeológica
Edmundo Silva Guerra
Marcella Claudia Barbosa da Silva
Jorge Henrique Duarte
Resumo: Neste artigo é apresentada uma análise realizada em livro didático de
matemática do 9º ano do Ensino Fundamental sobre a grandeza área com suporte das
Teorias dos Campos Conceituais, do Jogo de Quadros e Antropológica do Didático. As
atividades analisadas foram classificadas como situação de Comparação, Produção ou
Medida de área e nessa perspectiva contribuem para a aquisição desse conceito por
parte do aluno e no enriquecimento do olhar do professor sobre a grandeza área.
Identificamos, porém, poucas atividades que contribuem para a construção significativa
do conceito de área como grandeza. Acreditamos que esse estudo permitirá ao educador
matemático refletir sobre a didática de ensino do conceito de área e na elaboração de
situações significativas em relação a sua aprendizagem por parte do estudante.
Palavras-chave: Grandeza Área; Praxeologia; Didática; Ensino Fundamental.
75
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
Na comunidade de educadores matemáticos muitos debates remetem aos processos de ensinoaprendizagem da Matemática em sala de aula ou fora dela. Aliados a essa discussão destacam-se estudos
sobre a importância do livro didático e sua contribuição ao professor que deve encaminhar sequências de
ensino na perspectiva de que a aprendizagem possa ser utilizada na vida social do estudante.
Considera-se nesses estudos que os conceitos matemáticos são importantes na vida de todo cidadão e que
são expressivos por sua relação interdisciplinar com outras ciências. Essas relações vêm sendo
vivenciadas pelos professores de Matemática em sala de aula e de certa forma se vincula a orientação da
LDB em seu artigo 26, quando revela a importância dos currículos do ensino fundamental e médio que,
“[...] devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema
de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
clientela. § 1º. Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
especialmente do Brasil”.
Destacamos dos objetivos gerais dos PCN (p. 48, 1998) para o ensino de Matemática a necessidade de
“analisar informações relevantes do ponto de vista do conhecimento e estabelecer o maior número de
relações entre elas, fazendo uso do conhecimento matemático para interpretá-las e avaliá-las
criticamente.” Concordamos com esse objetivo, pois, nos leva a refletir sobre a importância dos conceitos
matemáticos e sua interpretação em questões que abordam o cotidiano do cidadão.
Várias pesquisas reforçam a necessidade de conceber os conceitos matemáticos como forma de interação
humana e para a construção da cidadania desde os anos iniciais de escolarização do indivíduo. Quando um
conceito matemático se alia a outros conhecimentos de forma interdisciplinar promove no estudante
sensações ricas e relevantes quanto ao seu papel social em níveis de ensino mais avançados.
Nesse contexto, destacamos a importância do conhecimento sobre a grandeza área e de várias ações
encaminhadas pelo professor para que o estudante possa entender e aplicar esse conceito matemático em
seu dia-a-dia. Nesse sentido, é fundamental a essa importância de entendimento e aplicação a afirmação
de Baltar (1996) de que é possível identificar alguns erros, assim como, hipóteses explicativas das
dificuldades no processo de ensino aprendizagem envolvendo o conceito de área.
Portanto, o estudo realizado surgiu a partir de conhecimentos vivenciados nas disciplinas Grandezas e
Medidas na Educação Básica e Tópicos Atuais em Didática da Matemática no curso de Especialização em
Ensino de Matemática na FACIG, em Igarassu – PE, com uma questão para ser pesquisada: Num livro de
matemática do 9º ano, as atividades que abordam o conceito de área podem ser diagnosticadas como
tarefa direta ou inversa segundo a TAD (Chevallard, 1999) e classificadas segundo Baltar (1996) em
situação de Comparação, Produção e Medida.
2.FUNDAMENTOS TEÓRICOS
O estudo em tela procurou analisar o conceito de área enquanto grandeza na perspectiva da praxeologia
didática identificando as formas (ou maneiras) como são sequenciados os conceitos e são apresentados os
exercícios, as atividades e desafios.
Procuramos caracterizar as atividades como tarefa inversa ou direta segundo a TAD (Chevallard, 1999) e
classificá-las como situação de Produção, de Comparação ou de Medida de Área com base em Baltar
(1996). Dessa forma, consideramos a orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (Brasil,
1998) para que o professor estimule os alunos a buscar variadas possibilidades de soluções para os
problemas, exercícios e atividades desafiadoras apresentadas no estudo de um conceito matemático.
A TAD foi adotada no estudo como aporte teórico principal no sentido de analisar atividades as quais
vislumbrassem a grandeza área num livro didático do 9º ano do Ensino Fundamental com auxílio da
Teoria dos Campos Conceituais (Vergnaud, 1990) e da Teoria do Jogo de Quadros (Douady, 1989).
Destaque-se, de Gérard & Roegiers (1998), dois aspectos relevantes aos entraves existentes nos processos
de ensino e aprendizagem para alunos na educação básica: a importância do livro didático na relação com
o aluno e suas relações com o professor.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Nesse contexto, temos a praxeologia da TAD como o modelo teórico que sustenta a análise das atividades,
as quais são produtos das fases que o conceito de área como objeto do saber matemático percorre.
Tivemos como objetivo analisar aspectos da metodologia e da didática do ensino da grandeza em pauta,
procurando uma relação com as questões propostas pelo professor com o suporte do Livro Didático e dos
parâmetros legais.
Considerando a questão que seria pesquisada constatamos que não estão plenamente evidenciadas e
exploradas como tarefa aberta, pois, no texto de uma situação-problema os dados e as incógnitas não estão
totalmente pré-fixados.
O estudo de Rossini (2006) que se apoia em Bosch e Chevallard (1999), destaca que a noção de tarefa em
Matemática é
“O que distingue a atividade matemática das outras atividades humanas é que,
diante de uma tarefa, é preciso saber como resolvê-la. O “como resolver a
tarefa” é o motor gerador de uma praxeologia: é preciso ter (ou construir) uma
técnica, que deve ser justificada por uma tecnologia, a qual, por sua vez, precisa
ser justificada por uma teoria (Bosch e Chevallard, p.84, 1999).”.
Para exemplificar uma situação como uma tarefa direta, destacamos: Representar graficamente uma
função a partir de sua expressão algébrica. O aluno necessita interpretar como é o funcionamento das
técnicas e de seus resultados. Para ilustrar uma tarefa inversa temos: Obter a expressão algébrica que
representa um gráfico. Neste caso, os dados e as incógnitas não estão totalmente pré-fixados, é uma
situação inversa da tarefa direta.
Utilizando a Teoria dos Campos Conceituais (Vergnaud, 1983) o professor promove a aquisição de
conhecimento de forma satisfatória. De acordo com o autor é possível ao professor, após muita formação e
estudos, observar a ocorrência do erro num determinado percurso conceitual dentre os elencados por ele
e consegue partir da teoria para a prática.
Entretanto, é preciso testar e trabalhar sempre as diversas ideias de um conceito com os alunos. Cometer
erros e acertos, recomeçar sempre, pressupõe ser para a Didática a chave do conhecimento escolar nesse
mundo contemporâneo e de uma disputa de um nível cada vez mais exigente. No entanto, é preciso
compreender que cada disciplina possui sua respectiva didática e dentro da possibilidade da Didática da
Matemática é fundamental, para o professor de Matemática, tomar consciência das especificidades dessa
disciplina e os vários conceitos em particular o conceito de área.
Para ampliar os fundamentos desse trabalho recorremos a Teoria do Jogo de Quadros (Douady, 1996),
destacando que a aprendizagem deve ocorrer através da resolução de problemas que envolvam a
interação entre pelo menos dois quadros tem suas relações com o trabalho em destaque. Consideramos
como quadros conceituais (domínios, segundo Douady, 1983) os ramos da mesma, como a álgebra, a
geometria, a combinatória, entre outros.
Nessa linha de pensamento considera-se que um determinado problema que aborda o conceito de área é
mais significativo para o aluno quando são mobilizadas representações algébricas, geométricas e
numéricas para a grandeza área. Ao considerar os elementos de respostas para avaliar a aprendizagem do
aluno e a qualidade do ensino a TAD aparece como uma teoria propícia para auxiliar o professor na
identificação desses elementos.
A ideia de contemplar a qualquer tempo a Organização Didática (OD) na resolução de problemas favorece,
segundo Chevallard (1989), a orientação para não priorizar apenas a solução das situações propostas,
mas, centrar nos meios que permitam chegar a resposta esperada. Neste caso, os procedimentos adotados
pelo aluno na resolução de uma situação-problema devem ser estimulados pelo professor a mobilizá-los
em outras oportunidades.
Nesse sentido, recomenda-se que a avaliação da aprendizagem seja centrada no estudo dos procedimentos
que oportunizem a resolução de situações propostas pelo aluno com apoio nas orientações de Chevallard
(1989) e dos PCN (1998).
As praxeologias didáticas respondem, em geral, a questões do tipo: “Como realizar o estudo de
determinado assunto, referem-se ao modo que possibilita a realização do estudo de um determinado tema,
o conjunto de tipos de tarefas, de técnicas, de tecnologias, etc., mobilizadas para o estudo de um tema.”
(CHEVALLARD, 1998). Também se referem à estrutura e ao desenvolvimento do trabalho de certo
conceito ou conteúdo ou ainda, o modo que possibilita a realização de um determinado conceito, técnica,
77
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tecnologia, no estudo de um conceito, são o caminho para estabelecer uma Organização Matemática (OM),
melhor e mais adequada escolha, nas questões do tipo: Como realizar determinado conceito matemático?
Para Chevallard, Bosch e Gascón (2001, p. 251) na atividade matemática, como em qualquer outra
atividade, existem duas partes que não podem viver uma sem a outra, pois, de um lado estão as tarefas e
as técnicas e, de outro, as tecnologias e teorias.
Chevallard propôs, em sua teoria, seis momentos os quais, sem o rigor da devida ordem proposta, podem
revelar, por meio de possibilidades de apresentação e avaliação, a eficiência ou não, por exemplo, do
Contrato Didático (CD). Posposto a isso, poderá revelar em qual momento houve uma quebra (ou ruptura)
no processo, em que o professor pode retomar a sequencia no momento do erro até que se alcance o
objetivo.
Alguns estudos evidenciam o erro como alguma coisa que não está relacionada a algo negativo. Dois
momentos são descritos por Teles (2004), um deles nos faz remeter a uma reflexão sobre as dificuldades
dos alunos na aprendizagem da álgebra oferecendo subsídios para estudo sobre a relação aritméticaálgebra nos seus aspectos de ruptura e continuidades, pois acreditamos que seja uma possível
consequência para que o aluno também tenha dificuldades no ensino-aprendizagem do conceito de área. O
outro momento nos traz uma reflexão sobre a influência do campo algébrico na resolução de situações que
envolvem fórmulas de área em que são discutidos os procedimentos corretos ou não, feitos pelos alunos,
em questões extraídas de livros didáticos de matemática.
3.A SEQUÊNCIA QUE ABORDA A GRANDEZA ÁREA
A BCC-PE13 (2008) divide as competências e saberes dos conceitos matemáticos em dois períodos
distintos do ensino fundamental: um para a primeira etapa (séries iniciais) e outro para a segunda etapa
(séries finais) do Ensino Fundamental. Na primeira, a criança traz consigo um conjunto de saberes
matemáticos construídos em interação com seu meio social. A segunda, na qual se vincula o livro didático
analisado, pode ser tratada como uma continuação da etapa anterior e deve ser vista como avanço,
ampliação e consolidação das aprendizagens realizadas anteriormente.
A grandeza área está presente na história da humanidade bem como em várias culturas. Também,
naturalmente, obtém sua importância na relação com os vários setores da sociedade, nos quais são
realizadas varias atividades envolvendo essa grandeza. Por sua vez, o seu estudo, investido na educação
básica, é reconhecido nas orientações curriculares nacionais para o ensino fundamental e pela indicação
das grandezas e medidas como um dos quatro domínios da matemática escolar (BRASIL, 1997; 1998).
Segundo Vergnaud (1986), o conhecimento emerge na resolução de problemas e a partir da ação do
sujeito sobre a situação que precisa ser resolvida, seja de caráter teórico ou prático, esta ação precisa de
uma reflexão para que não se torne apenas uma competência adquirida, mas sim, que se encaminhe na
direção da formação. Assim poderá ser estabelecida uma competência de um determinado saber.
Fig. 1 –
78
Fonte: Centurión e Jakubovic (2012, p. 201)
13
Base Curricular Comum para as Redes Publicas de Ensino de Pernambuco
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
A atividade ilustrada na figura acima destaca a interação entre os conceitos de perímetro e área (do
quadro das grandezas), referentes a um retângulo dentro de um quadrado (quadro geométrico), as
medidas de comprimento indicadas x (incógnita) e 6 (u.c.) são os lados do retângulo e 6 (u.c.) do quadrado
(são conceitos do quadro numérico) e as leis de formação correspondentes (quadro da álgebra e das
funções) segundo a Teoria do Jogo de Quadros (Douady, 1983).Observamos na figura acima a relação
entre a área e o perímetro de um retângulo dentro do quadrado em função do lado x. Para resolver a
questão com o suporte da TAD identificamos a atividade como exemplo de duas tarefas diretas (Td).
A técnica (t) a ser utilizada para resolver cada tarefa requer o conhecimento sobre as fórmulas do
perímetro e da área de um retângulo, respectivamente, sendo apoiada pela teoria que trata dos conceitos
de perímetro (comprimento do contorno) e área (superfície) de uma figura plana. Para representar a lei
de formação do perímetro e da área do retângulo, em função do lado x, é necessário se apoiar nos
conceitos de perpendicularismo, paralelismo e congruência entre os lados x e 6, obtendo x+x+6+6 = 2x+12
para o perímetro e x.6 para a área do retângulo.
Ainda sobre o livro pesquisado, o levantamento quantitativo revelou a apresentação, a conceituação e a
exemplificação de uma proposta total de 67 atividades, da página 158 a 177, e como foi elaborada pelos
autores a organização didática envolvendo a grandeza área para ser apresentada ao aluno.
Levamos também em consideração os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998, p. 44 e p. 48) e
interpretamos que os autores apresentam diversos exemplos do cotidiano que trazem o termo área bem
como a sua interdisciplinaridade e contextualização com outras ciências. O quantitativo de atividades com
os respectivos percentuais é mostrado no quadro abaixo, destacando a grandeza área e dessas quais são as
atividades classificadas segundo DUARTE (2010) que se apoiou em Baltar (1996) em situações de Medida,
Comparação e Produção de Áreas.
Gráfico 1. Classe de situação segundo Baltar (1996)
São exemplificadas abaixo quatro atividades do livro didático de CENTURIÓN e JAKUBOVICK (2012) com
destaque para a Tarefa direta (Td) e a Tarefa inversa (Ti) segundo a TAD (Chevallard, 1998) e para
contextualizar em classes de situação segundo Baltar (1996) envolvendo a grandeza área: produção,
medida e comparação.
Fig. 2 (pág. 174)
Fig. 3 (pág. 159)
Fig. 4 (pág. 172)
Fig. 5 (pág. 175)
79
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Em relação às figuras acima, poderemos tecer alguns comentários, que são relevantes à pesquisa
destacando as técnicas esperadas para resolução.
A figura 2 ilustra uma Tarefa Direta em que o aluno necessita associar os dados fornecidos (significado dos
termos A e r, e o valor de π = 3,14) com a fórmula para calcular a área de um círculo cujo raio mede 5 cm. A
técnica esperada é substituir a medida do raio e o valor de π na fórmula π.r²; efetuar a potenciação em r;
em seguida a multiplicação por π e obter a resposta que é 78,5 cm² (alternativa c).
Quanto à figura 3, consideramos um bom exemplo para o aluno entender o significado do Teorema de
Pitágoras em termos do conceito de área. Caracterizamos como Tarefa Direta, pois a técnica esperada é a
contagem dos quadrados unitários que representam as medidas das áreas dos quadrados (9, 16 e 25)
desenhados sobre os lados do triângulo retângulo ou usar a fórmula de área de um quadrado (lado x lado)
obtendo 3x3, 4x4, 5x5 e aplicando posteriormente a fórmula do Teorema de Pitágoras e obtendo a relação
3x3 + 4x4 = 5x5, logo, 9+16=25.
A figura 4 é outro exemplo de Tarefa Direta e para sua resolução é necessário identificar os dados
fornecidos para a embalagem (prisma de base hexagonal) formada por seis faces retangulares, suas
medidas (15 cm e 10 cm) e associar com a planificação adequada não esquecendo os dois hexágonos
(superior e inferior). Para resolver é necessário recorrer às fórmulas das áreas de um hexágono (que
depende da fórmula de um triângulo equilátero, b.h/2) e de um retângulo (b.h) e somar de acordo com a
sentença 2.Ahex + 6.Aret, obtendo a medida de área em cm² de papelão a ser usado para fazer a
embalagem.
Na figura 5 temos outra Tarefa Direta. Apresenta três figuras (um quadrado, um hexágono e um círculo) e
uma medida de comprimento. Para encontrar a resposta é necessário utilizar a técnica seguinte: usar
inicialmente as fórmulas do perímetro de cada figura, calcular o elemento da figura que auxiliará no
cálculo da medida das áreas correspondentes a cada figura e depois comparar as medidas dessas áreas. O
procedimento de comparar as medidas das áreas decidirá a reposta esperada.
No decorrer da apresentação do conceito de área pelo Livro Didático analisado, foi verificado, por meio de
levantamento da pesquisa que a parte formal das figuras geométricas planas é mais explorada do que a
grandeza área de cada uma das figuras geométricas citadas nas páginas 158, Área do retângulo e área do
quadrado, página 161, Área do paralelogramo e área do triangulo, página 167, Área de outros polígonos, e
página 173, Área do círculo, de acordo com o Capítulo 6. Na página 158, encontra-se a construção das
áreas do retângulo e do quadrado inicialmente no conceito formal e depois a utilização das respectivas
figuras com a definição algébrica generalizada para as duas figuras. Nos dois exemplos contidos nessa
página, tratamos de ilustrar a tarefa direta.
Na apresentação do conceito da área do paralelogramo, página 161, os autores utilizam quatro figuras
(paralelogramos) com suas respectivas medidas algébricas, em uma ilustração na qual consideramos
como conceito informal, para depois se formalizar o respectivo conceito, sendo encontrada apenas uma
exemplificação de Tarefa Direta. Na página seguinte, os autores utilizaram a construção de um
paralelogramo para definir a área do triangulo de maneira informal e, a partir daí, construíram a definição
formal e a apresentação de sua forma algébrica.
Contudo, acreditamos que o estudante deve aprender sobre várias possibilidades de se encontrar a área
das figuras geométricas planas e que é possível encontrar á área de um triângulo por meio de algumas
outras figuras.
Consideramos ainda que o professor tem um papel de suma importância na descoberta dos conceitos
desenvolvidos pelos alunos. Dos três exemplos verificados nessa página foi detectada apenas a
exemplificação de Tarefa Direta.
Na página 167, os autores demonstram que é possível calcular a área de alguns polígonos fazendo o uso de
triângulos. Para a demonstração, os autores utilizaram dois trapézios, sendo um retângulo e o outro não,
de tal modo que a definição do conceito é dada de forma escrita (formal) e que o único exemplo se dá por
uma tarefa direta. Definindo a área do losango na página 168 os autores fazem uso do mesmo raciocínio
mencionado na página anterior. Partindo desses requisitos utilizados pelos autores, acreditamos que o
professor precisa trabalhar muito bem em sala aula a construção de uma figura a partir de outra.
Nessa página são construídos dois triângulos semelhantes a partir de um trapézio, para o qual os autores
chegam a uma definição algébrica para depois formalizar uma definição informal. Os autores usaram o
mesmo procedimento para se obter a área do trapézio na formação da definição da área do losango.
80
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Na página 169, os autores constroem o conceito da área dos polígonos regulares fazendo o uso da figura
de um pentágono regular. O pentágono foi dividido em cinco triângulos e a partir daí foi construída o
conceito da área de um polígono regular de maneira formal e informal. Para contextualizar, de maneira
escrita, algébrica, formal e direta, através desses polígonos, o conceito da área do círculo, foi feita a
observação de que aumentando o número de lados, mais a área do polígono se aproxima da área do
círculo e, consequentemente, o perímetro do polígono se aproxima do comprimento da circunferência.
Fig. 6 (Atividade da pág. 159).
Fig.7 (Atividade da pág. 160).
Os exemplos acima apresentam tipos de Tarefas Diretas, com base na TAD, em que, na atividade a) da
figura 6 é necessário observar a existência de, pelo menos, dois retângulos; e, na atividade b) a existência
de pelo menos 3 figuras retangulares. Entretanto, em quaisquer dessas duas atividades, será preciso
avaliar qual(is) procedimento(s) devem ser usados para resolver as atividades. Na figura 7 é apresentada
uma tarefa envolvendo um retângulo com os lados expressos algebricamente. Essa atividade é
caracterizada como classe de medida de área de uma tarefa direta, em que o aluno precisa ter o
conhecimento da operação multiplicação de expressões algébricas para obter o valor de “x”.
O capítulo 6, norte específico para o estudo do livro didático do 9º ano do ensino fundamental (Centurión
e Jakubovic, 2012), trata das fórmulas de alguns polígonos convexos e do círculo e traz para o aluno uma
perspectiva de ampliação de conhecimento das figuras geométricas planas, uma perspectiva de
conhecimento sobre medidas úteis no cotidiano, bem como uma perspectiva para ampliar o conhecimento
da Grandeza Área com o suporte de conceitos básicos da geometria, a qual será estudada com mais
conteúdos e dinamismo no Ensino Médio.
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobre os momentos refletidos nesse trabalho acreditamos que contribuirá no enriquecimento do olhar do
professor a respeito das atividades analisadas. Com base nos dados levantados consideramos que o estudo
da grandeza área foi desenvolvido com prioridade para situações de medida. Eventualmente o autor
propõe atividades que necessitam da produção. Destacamos que a comparação de medidas de áreas
aparece com menos frequência do que as situações de produção. As atividades classificadas como
situações de “Medida e Produção de Área”, com 38 atividades representam 56,72% do total.
Acreditamos que a medida em sua essência numérica requer a prévia existência de conhecimento de
formas geométricas bem como alguns conceitos de fórmulas para resolver as atividades relacionadas à
grandeza em estudo.
Na pesquisa identificamos a ausência de estímulos antecedentes (conceitos anteriores) ao conceito da
grandeza área os quais pudessem levar o aluno a resolver as atividades propostas. Na maioria das vezes os
conceitos eram consolidados, pelo livro, de maneira formal, seguidos de exemplos e exercícios que,
possivelmente, podem criar um “comodismo” no estudante. Sugerimos que é importante, inicialmente
estimular o estudante por meio de desafios, depois apresentar o conceito em seu estado informal e em
seguida promover sua apresentação de forma usual ou formal.
Embora seja um recurso indispensável ao professor e ao estudante, é difícil definir o Livro Didático (LD)
quanto à função que exerce ou deveria exercer dentro e fora da sala de aula. Para Gérard e Roegiers (1998,
p.19), o livro didático é um instrumento impresso, intencionalmente estruturado para se inscrever num
processo de aprendizagem, com o fim de lhe melhorar a eficácia. Contudo, acreditamos também que o LD,
81
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
de acordo com as condições, lugares e situações adversas em que é produzido e utilizado assume uma
importância diferenciada.
Por fim, acreditamos que esse trabalho permitirá uma reflexão mais abrangente sobre a exposição do
conceito da grandeza área e na elaboração de novas técnicas e situações didáticas mais eficientes em
relação ao ensino aprendizagem do conceito em pauta cabendo ao professor de matemática buscar novas
leituras que o ajude a vivenciar práticas didática mais significativas, selecionando atividades de livros
didáticos apoiadas em fundamentos teóricos que justifiquem a sua prática de ensino.
REFERÊNCIAS
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Barbosa, E. J. T.; Lins, A. F. Teoria antropológica do didático: uma análise sobre equação do primeiro grau em
livros
didáticos.
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[2]
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LDB
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de
diretrizes
Bases<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf1/proejalei9394.pdf.>. Acesso em 03 mar. 2016.
[3]
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1997.<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf>. Acesso em 03 mar. 2016.
[4]
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Nacionais.
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Nacionais.
1998.
[5]
Centurión, M.; Jakubovic, J. Matemática: teoria e contexto, 9º ano, ensino fundamental: livro do professor. São
Paulo: Saraiva, p.260, 2012.
[6]
Duarte, J. H.; Um estudo sobre a compreensão de problemas de matemática envolvendo grandezas perímetro
e área, álgebra e funções no ensino médio. In: Enem, IX, 2007, Minas gerais. Disponível em:
<www.sbembrasil.org.br/files/ix_enem/.../CC17227801420R.doc>. Acesso em: 02 mar. 2016.
[7]
Gérard, F.-M, Roegiers, X. (1993) - Concevoir et évaluer des manuels scolaires. Bruxelas. De Boeck-Wesmail
(tradução Portuguesa de Júlia Ferreira e de Helena Peralta, Porto: 1998).
[8]
Rossini, R.A contribuição da teoria antropológica do didático para a análise de livros didáticos de
matemática.
In:
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2006.
Disponível
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<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2006/anaisEvento/docs/CI-155-TC.pdf>. Acesso em 02 fev. 2016.
[9]
Teles, R. A. M. A Aritmética e a Álgebra na Matemática Escolar. Educação Matemática em Revista. VIII Enem,
2004. Disponível em <http://www.sbem.com.br/files/viii/pdf/02/ MC58937242400.pdf >. Acesso em 25 fev. 2016
[10]
Teles, R. A. M. Um estudo sobre a influência do campo algébrico na resolução de situações que envolvem
fórmulas de área. Educação Matemática em Revista. Educação Matemática Pesquisa (Online), v.12, p. 1 – 14, 2010.
Disponível em <http://revistas.pucsp.br/index.php/emp/article/ view/2377>. Acesso em 25 fev. 2016
[11]
Vergnaud, G. Teoria dos campos conceituais. In Nasser, L. (Ed.) Anais do 1º Seminário Internacional de
Educação Matemática do Rio de Janeiro. p. 1-26, 1993.
82
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 10
Origami: O uso como instrumento alternativo no
ensino da geometria.
Aline Claro de Freitas Abucarma
José Roberto Nogueira
Resumo: Frente à realidade do ensino contemporâneo que demanda a necessidade de
diversificar o uso de estratégias de ensino, pretendemos propor uma abordagem, por
meio de material concreto e que pode tornar-se bastante significativa no ensino da
matemática. Este trabalho discute sobre a história, aplicações clássicas e utilização do
origami em sala de aula. Após uma breve apresentação histórica sobre o origami,
apresentamos uma abordagem axiomática deste instrumento. Dois dos três famosos
problemas matemáticos gregos da antiguidade que não podem ser solucionados através
da régua e compasso: trissecção do ângulo e duplicação do cubo encontram uma solução
por meio das técnicas de origami. Além disso, apresentamos sugestões de roteiros de
aulas e a atividade aplicada em sala de aula que obteve resultado satisfatório.
Palavras-chave: aprendizagem; geometria; origami; trissecção; axioma.
83
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
O ensino de matemática tem se tornado um verdadeiro desafio. No cotidiano escolar verifica-se o baixo
rendimento na disciplina e as avaliações externas comprovam o despreparo dos alunos. Requer-se a
diversificação de metodologias na prática docente, projetando um cenário mais atraente e motivador ao
aluno e tornando possível o desenvolvimento de habilidades e competências. Neste contexto é que uma
nova abordagem da geometria pode ser de grande valia. Aqui será proposto um recurso alternativo com o
intuito de trazer significado não só à geometria, mas à matemática como um todo: o origami.
Em verdade, por muito tempo o ensino da geometria desempenhou, tão somente, um papel secundário no
ensino da matemática. Seu resgate poderá minimizar as deficiências encontradas e o uso do origami, neste
sentido, se mostrar bastante profícuo. Aliás, é sabido que a utilização de recursos concretos e lúdicos no
ensino da matemática pode trazer ganhos na significação dos conteúdos, permitindo que o aluno faça a
apropriação do conhecimento e tenha uma aprendizagem mais eficaz. Apesar de ser uma técnica
conhecida há mais de dois milênios, é pouco difundida como recurso metodológico de ensino. No Brasil é
também chamada de dobradura e usualmente tratada apenas como forma de arte ou diversão. Como bem
pontuou Robert J. Lang (2010), as figuras de origami possuem uma beleza estética que agrada tanto ao
matemático como o leigo. Parte do seu apelo é a simplicidade do conceito, onde é possível fazer desde
construções pouco elaboradas até as mais complexas por meio da definição de uma sequência de
dobragem.
Este campo é rico e variado, com conexões nos diversos campos da matemática como: divisão binária,
construção de frações ou proporções racionais, determinação de frações irracionais, construções
geométricas diversas, entre outras. Estimular a inserção dessa metodologia, ainda pouco utilizada nos
processos de ensino certamente concorrerá para o aprimoramento do ensino da matemática.
2.CONTEXTO HISTÓRICO DO ORIGAMI
Acredita-se que o origami seja criação japonesa. Apesar de o papel ter sido desenvolvido na China, os
origamis mais antigos encontrados datam do século VI d.C., mesmo período em que o papel chegou ao
Japão, trazido pelos monges budistas. Ademais, a própria palavra “origami” deriva de duas palavras
japonesas. A expressão Ori significa dobrar e Kami possui dois significados: papel e deus. Ori e Kami
formam assim a palavra origami que designa precisamente a arte de criar figuras diversas utilizando-se
apenas papéis e dobraduras, sem cortá-los ou colá-los. (FREITAS, 2013)
Inicialmente, a arte foi dominada pelos nobres em razão do custo elevado da matéria prima. De fato, o
papel era tido como artigo de luxo e o origami utilizado para adornar cerimoniais religiosos. Após o papel
tornar-se mais popular, a técnica se difundiu e já em 1876 integrava o currículo escolar japonês. O origami
passou a compor parte relevante na cultura japonesa. Era possível reconhecer as diferentes classes sociais
e profissões, por exemplo, a partir da constatação de quais dobraduras os indivíduos possuíam. A
disseminação da técnica culminou por aperfeiçoá-la e sua prática alcançou o mundo. No Brasil ocorreu
mais tardiamente e era privilégio das famílias portuguesas mais abastadas.
O origami ganhou ainda mais notoriedade com a lenda do pássaro grou, ave sagrada no Japão. A lenda
dizia que o pássaro viveria mil anos e qualquer pessoa que dobrasse mil pássaros de papel teria seu desejo
atendido. Uma menina, chamada Sadako, sofria com sequelas deixadas pela bomba atômica de Hiroshima,
e ao conhecer essa lenda, iniciou sua jornada na esperança de sobreviver, mas acabou falecendo antes de
completar os mil pássaros. Sua obstinação inspirou milhares de crianças a arrecadarem dinheiro para
erigir um monumento em sua homenagem. Num gesto de protesto e de apelo pela paz mundial, foram
gravadas as seguintes palavras: “Este é o nosso grito. Esta é a nossa prece. Construir a paz no mundo que é
nosso”. (OLIVEIRA, 2004). O Tsuru (pássaro grou) se consubstanciou em um símbolo da paz, a prática do
origami adquiriu no Japão uma conotação muito mais artística e filosófica do que científica. O alemão
Friedrich Froebel foi o pioneiro em desenvolver um método pedagógico. Posteriormente, o inglês Arthur
H. Stone registrou os flexágonos como exemplo de aplicação do origami, permitindo de forma recreativa
verificar conceitos matemáticos. Na formalização desta técnica Humiaki Huzita e Koshiro Hatori
destacaram-se nos estudos que enumeravam as possíveis dobragens em origami e as combinações entre
elas sendo esta a primeira descrição formal.
84
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
3.AXIOMAS DE HUZITA HATORI
Humiaki Huzita se destacou quando apresentou seis operações para definir uma dobragem com um único
vinco que, por si só, alinha várias combinações de pontos e retas já existentes. Estas operações ficaram
conhecidas como axiomas de Huzita e fornecem a primeira descrição formal para as construções
geométricas por origami. Anos mais tarde, em 2002, Koshiro Hatori apresentou uma sétima dobragem que
completa a lista dos sete axiomas de Huzita-Hatori. Os axiomas de Huzita-Hatori, retirados de Cavacami e
Furuya (2010), são os descritos a seguir:
Axioma 1: Dados dois pontos, 𝑃1 e 𝑃2 , existe apenas uma dobra que passa por eles.
Figura 1: Axioma 1
Fonte: CAVACAMI e FURUYA, 2010, p. 3
Axioma 2: Dados dois pontos, 𝑃1 e 𝑃2 , há uma dobragem que os torna coincidentes.
Figura 2: Axioma 2
Fonte: CAVACAMI e FURUYA, 2010, p. 3
Axioma 3: Dadas duas retas, 𝑟1 e 𝑟2 , há uma dobra que as torna coincidentes.
Figura 3: Axioma 3
Fonte: CAVACAMI e FURUYA, 2010, p. 4
Axioma 4: Dados um ponto P e uma reta 𝑟, há uma dobra perpendicular a 𝑟 que passa por P.
Figura 4: Axioma 4
85
Fonte: CAVACAMI e FURUYA, 2010, p. 4
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Axioma 5: Dados dois pontos, 𝑃1 e 𝑃2 , e uma reta 𝑟1 , se a distância de 𝑃1 a 𝑃2 for igual ou superior à
distância de 𝑃2 a 𝑟1 , há uma dobra que faz incidir 𝑃1 em 𝑟1 e que passa por 𝑃2 .
Figura 5: Axioma 5
Fonte: CAVACAMI e FURUYA, 2010, p. 4
Axioma 6: Dados dois pontos, 𝑃1 e 𝑃2 , e duas retas, 𝑟1 e 𝑟2 , se as retas não forem paralelas e se a distância
entre as retas não for superior à distância entre os pontos, há uma dobragem que faz incidir 𝑃1 em 𝑟1 e 𝑃2
em 𝑟2 .
Figura 6: Axioma 6
Fonte: CAVACAMI e FURUYA, 2010, p. 5
Axioma 7: Dado um ponto, 𝑃, e duas retas, 𝑟1 e 𝑟2 , se as retas não forem paralelas, há uma dobragem que
faz incidir 𝑃 em 𝑟1 e é perpendicular a 𝑟2 .
Figura 7: Axioma 7
Fonte: CAVACAMI e FURUYA, 2010, p. 5
4.PROBLEMAS CLÁSSICOS DA ANTIGUIDADE GREGA.
Três importantes problemas são conhecidos como “Os três problemas clássicos da antiguidade grega”.
Segundo Howard Eves (2011), a importância destes problemas é que não podem ser resolvidos, a não ser
aproximadamente, com régua e compasso não marcados, embora sirvam para a resolução de muitos
outros problemas de construção. Além disso, a busca pela solução destes problemas possibilitou inúmeras
descobertas matemáticas em diversas áreas como: as secções cônicas, muitas curvas cúbicas e quárticas e
várias curvas transcendentes, o desenvolvimento de partes da teoria das equações ligadas a domínios de
racionalidade, números algébricos e teoria de grupos. Apresentaremos aqui dois dos três problemas,
sendo estes possíveis de serem solucionados através do Origami
86
4.1 TRISSECÇÃO DO ÂNGULO.
O problema de dividir um ângulo arbitrário em 𝑛 partes iguais era de grande interesse dos gregos, pois
através deste recurso poderia ser construído um polígono regular de 𝑛 lados. Tal problema pode ser
solucionado através do origami. Utilizando uma folha de papel quadrada de dimensão qualquer,
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
apresentamos um método para trisseccionar um ângulo agudo. Para encontrar a trissecção, basta seguir a
rotina da Figura 5.1:
Figura 8: Trissecção.
Fonte: LUCERO,2006a, p 1-2
O passo que não pode ser realizado pela régua e compasso é o de item 4 que é dado pelo axioma 6 de
Huzita.
Demonstração: Na figura abaixo foi reproduzida o resultado final juntamente com a dobra do passo (4).
Figura 9: Demonstração trissecção.
Fonte: LUCERO, 2006a, p.2
Queremos mostrar que 𝛼 = 𝛽 = 𝛾 . Da dobradura (8) sabemos que 𝛼 = 𝛽 . Além disso, os triângulos
𝐴𝐵′ 𝐴′ e 𝐴𝐵′ 𝐶 ′ são congruentes. De fato: Como 𝐴𝐵 = 𝐵𝐶 da dobra (3) resulta que 𝐵′ 𝐴′ = 𝐵′ 𝐶 ′ ; da
dobra (5) temos que 𝐴𝐵′ é perpendicular a 𝐴𝐶 ′ . Assim, temos que 𝛽 = 𝛾
87
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
4.2 DUPLICAÇÃO DO CUBO
O segundo problema que também não é possível de ser solucionado com régua e compasso não marcados,
mas possível através das técnicas do origami é a duplicação do cubo.
Conta Eratóstenes que, certa vez na antiga Grécia, os habitantes da ilha de Delos perguntaram ao oráculo
de Apolo o que fazer para combater uma peste que assolava o povo. A resposta do oráculo foi que o altar
de Apolo, de forma cúbica, devia ser duplicado. Assim, teria nascido o problema geométrico da duplicação
do cubo, também conhecido como “problema deliano, que se tornou um dos problemas clássicos da
Antiguidade.” (BOYCE, 1996; HEATH 1981 apud LUCERO, 2006, p.1).
Figura 10: Procedimento duplicação do cubo.
Fonte: LUCERO,2006b,p. 2
3
Algumas linhas da dobradura não relevantes foram eliminadas, e finalmente encontramos √2.
Figura 11 : Passos (7) e (8) duplicação do cubo.
Fonte: LUCERO,2006b,p. 2
Demonstração:A demonstração está de acordo com Lucero (pag 3, 2006 ). Os passos de (1) a (6), dividem o
quadrado em três partes iguais.
88
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Figura 12: Demonstração duplicação do cubo – parte 1.
Fonte: LUCERO,2006b,p. 3
De fato: tome a folha com comprimento 𝑙 , e insira um eixo coordenado (𝑥, 𝑦), no canto inferior esquerdo
da figura. O ponto 𝐶 está à mesma distância da borda inferior e da borda direita, tomemos como 𝑠 esta
𝑙
distância. As coordenadas dos pontos são: 𝐶 = (𝑥𝐶 , 𝑦𝐶 ) = (𝑙 − 𝑠, 𝑠) e 𝐷 = (𝑥𝐷 , 𝑦𝐷 ) = (𝑙, ).
Considerando C: tan 𝛼 =
𝑠
𝑙−𝑠
. Considerando D: tan 𝛼 =
𝑙
𝑙⁄
𝑠
2
. Assim:
𝑙
𝑙−𝑠
=
𝑙⁄
2
𝑙
e (5) as linhas horizontais tem a distância de entre si. Observe agora a figura:
3
2
1
⟹ 𝑙 = . Pelos passos (4)
3
Figura 13: Demonstração do cubo – parte 2.
Fonte: LUCERO,2006b,p. 4
De acordo com os passos (7) e (8) podemos determinar as seguintes coordenadas: 𝐴 = (0,0); 𝐵 =
𝑙
2𝑙
(0, ) ; 𝐴′ = (𝑙, 1); 𝐵′ = (𝑎, ); sendo a abcissa do ponto 𝐵′ . A partir também da dobra (7), temos
3
′′
que 𝐴 e 𝐵
𝑎 𝑙
′′
3
𝑙 1
são os pontos médios dos segmentos 𝐴𝐴′ e 𝐵𝐵′ respectivamente. Logo 𝐴′′ = ( , ); e
2 2
𝐵′′ = ( , ). Pela geometria da figura os três ângulos que são representados por 𝛽 são iguais. Assim: A
2 2
1
partir do vértice A: (I) tan 𝛽 = . Considerando o vértice em B: (II) tan 𝛽 =
vértice em 𝐵′′ : (III) tan 𝛽 =
(II) = (III)
𝑙
3
𝑎
=
𝑙−𝑎
𝑙−1
3
𝑙
𝑙−𝑎⁄
2
𝑙−1⁄
2
=
𝑙−𝑎
𝑙−1
. Igualando (I) = (II)
1
𝑙
=
𝑙
3
𝑎
𝑙
3
𝑎
. Considerando o
⟹𝑎=
𝑙2
3
. Igualando
⟹ 𝑙3 − 3𝑙 2 + 3𝑙 − 3 = 0 ⟹ (𝑙 − 1)3 − 2 = 0 E substituindo
3
𝑡 = 𝑙 – 1 temos: (𝑡) − 2 = 0 ⟹ t = √2 que prova a solução do problema deliano.
Com dobraduras de papel é possível resolver qualquer equação cúbica, o que é impossível de ser feito com
régua e compasso.
89
5.RESULTADOS
Para verificar a influência do origami em sala de aula, foi desenvolvido um projeto que consistia em
confeccionar dobraduras simples para que os alunos conhecessem os principais elementos geométricos.
Esta atividade foi realizada em duas turmas do 7º ano de uma escola pública de Presidente Prudente com
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
duração de 8 aulas em cada uma. O projeto foi apresentado à professora e alunos, que aceitaram participar
voluntariamente da pesquisa e acordaram que desenvolveriam as atividades com compromisso e atenção.
Inicialmente foi aplicado um questionário com o propósito de obter uma avaliação diagnóstica para a
verificação dos conhecimentos prévios dos discentes acerca dos elementos geométricos. Os discentes
deveriam escrever uma definição e/ou representar o que entendiam por: ângulo; ângulo reto; bissetriz;
retas paralelas; retas perpendiculares; retas concorrentes; segmento de reta; triângulo; triângulo
equilátero; quadrado e vértice. Cerca de 70% dos alunos deixou a maior parte dos itens em branco. A
professora relatou que a sala apresenta grandes dificuldades de aprendizado devido à defasagem em
conteúdos de anos anteriores. A análise diagnóstica foi tabulada, os itens em branco foram considerados
como erros. A maior parte dos alunos enfrentou dificuldade tanto em representar como em descrever os
elementos geométricos. No item que se refere ao quadrado, grande parte representou por um quadrilátero
com ângulos retos, mas sem congruência dos lados. A maior assertiva foi quanto à representação do
triângulo. Os resultados das duas salas foram semelhantes, com pequena variação entre elas. A média de
acertos em ambas as salas ficou abaixo de 20%.
As aulas envolvidas no projeto foram ministradas durante quatro semanas seguidas, acontecendo em
aulas duplas em cada uma das salas. O material utilizado foi baseado em Carneiro e Spira (2005). As
atividades desenvolvidas através do recurso do origami foram: determinação de retas perpendiculares a
um ponto dado; construção de duas retas paralelas; construção da reta mediatriz a um segmento dado;
determinação da reta bissetriz de um ângulo qualquer; determinação da altura e ortocentro de um
triângulo; construção de triângulo equilátero; construção do quadrado; verificação da razão áurea;
construção de pentágono regular; trissecção de um ângulo agudo. Na última aula, após a realização das
atividades, os alunos responderam novamente ao questionário conceitual. Observou-se que todos os
elementos pesquisados obtiveram melhora após o trabalho com o origami. A média de acertos subiu
consideravelmente nas duas salas. Além disso, a maior parte dos alunos não deixou questões em branco e
conseguiu além de definir, representar grande parte dos conceitos. Segue abaixo os gráficos que
comparam os resultados entre a avaliação diagnóstica e a avaliação final.
Gráfico 1: Comparação de resultados 7ºB
Fonte: Autoria própria.
Gráfico 2: Comparação de resultados 7ºC
Fonte: Autoria própria.
90
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Além da reaplicação do questionário após a realização das atividades foi solicitado aos alunos que
respondessem sobre seu grau de satisfação em relação às aulas. A maior parte dos discentes afirmou que a
atividade foi interessante, diferente e divertida. Muitos deles disseram que a realização das atividades não
foi fácil, pois não têm contato com o uso de dobraduras usualmente, entretanto a maioria acrescentou que
a confecção do origami parece uma brincadeira e que gostaram do desafio. O desenvolvimento do projeto
foi agradável sendo perceptível a empatia dos aprendizes em relação ao material utilizado. Os resultados
espelham o que foi descrito por Manso (2008, p.3)
Os resultados deste estudo apontam para que ao trabalhar com as dobragens, a
grande maioria dos alunos da turma: (1) conseguiram desenvolver uma
aprendizagem consistente, através da organização das ideias; (2)
demonstraram entusiasmo por novos desafios e por novas descobertas; (3)
desenvolveram a sua capacidade de autocrítica; (4) reconheceram o valor do
trabalho em grupo e a importância do papel do professor.
Uma pequena parcela descreveu que gostou bastante das atividades no início do projeto, mas acharam que
elas se tornaram um tanto repetitivas no decorrer das aulas. O cansaço demonstrado pelos alunos devido a
necessidade da repetição de procedimentos também foi relatado por Manso (2008). Assim, com esta
pesquisa, constatou-se melhoras tanto no aspecto intelectual quanto no atitudinal. Houve elevação de
cerca de 40% na média de acertos das avaliações. Ainda foi notória a motivação para o desenvolvimento
dos procedimentos bem como a cooperação entre os pares.
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
A geometria do Origami desenvolvida a partir da década de 70 fundamenta a técnica que pode ser muito
eficaz na resolução de diversos problemas matemáticos. O axioma 6 é o diferencial que permite solucionar
questões que outrora não eram possíveis com os instrumentos euclidianos. Este item torna possível a
resolução de equações cúbicas como a trissecção do ângulo e o problema deliano.
A inserção deste instrumento no ensino tem sido alvo de estudo nos últimos anos, inclusive por alunos
mestrandos do PROFMAT, entretanto ainda não repercutiu em sala de aula de maneira desejável. Até
mesmo o currículo oficial do estado de São Paulo (2010) embora tenha sido reestruturado a partir do ano
de 2008, não aborda o uso do origami como instrumento de ensino. O uso de dobraduras pode ser muito
útil no ensino da matemática. A utilização de materiais concretos em sala torna a aula dinâmica e a
aprendizagem mais significativa. O trabalho desenvolvido em campo alcançou a receptividade dos alunos.
Percebe-se, contudo, que a utilização sequenciada do mesmo instrumento também o torna cansativo.
Alguns alunos relataram em suas avaliações que as atividades finais tornaram-se repetitivas.
Conclui-se que é imprescindível no cotidiano da sala de aula diversificar metodologias e estratégias, por
isso propusemos o origami como mais um instrumento que auxilie o docente nesta importante e
desafiadora missão que é o ensino da matemática.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à fundação Capes pelo apoio financeiro no desenvolvimento deste projeto.
REFERÊNCIAS
[1]
Cavacami, Eduardo. Furuya ,Yolanda Kioko Saito. Explorando Geometria com Origami. Departamento de
Matemática da Universiade Federal de São Carlos. www.dm.ufscar.br/ yolanda/origami/origami.pdf, 2009
[2]
Eves, Howard. Introdução à história da matemática. Campinas: Editora Unicamp, 2004, p.843.
[3]
Freitas, Bruno Amaro. Os problemas clássicos da geometria: uma abordagem com o uso do Origami. 2013.
47f. Dissertação (Mestrado). -Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro - 2013
[4]
Lang, Robert J. Origami and Geometric Constructions, 2010. Disponível em:
[5]
< http://www.langorigami.com/science/hha/origami_constructions.pdf>. Acesso em 06 mar. 2015.
[6]
Lucero, Jorge C. A trisecção de um ângulo, Departamento de Matemática da Universidade de Brasília, 2006ª.
Disponível em: <www.mat.unb.br/lucero/origami/Notas_3.pdf>. Acesso em 10 out. 2015
91
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
[7]
______ O problema Deliano, Departamento de Matemática da Universidade de Brasília, 2006b. Disponível em:
<www.mat.unb.br/~lucero/origami/Notas_2.pdf>. Acesso em 10 out. 2015.
[8]
Manso, Roberta L. D. Origami: uma abordagem pedagógica para o ensino de geometria no 9ºano. 2008 244f.
Dissertação (Mestrado).- Universidade de Lisboa, Lisboa.
[9]
Monteiro, Liliana Cristina Nogueira. Origami: História de uma Geometria Axiomática. 2008.111f. Dissertação
(Mestrado).- Universidade de Lisboa, Lisboa, 2008.
[10]
Oliveira, Fátima Ferreira. Origami: Matemática e Sentimento,
http://www.nilsonjosemachado.net/20041008.pdf. Acesso em 01 set. 2015.
2004.
Disponível
em:
[11]
São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Currículo do Estado de São Paulo: Matemática e suas Tecnologias.
São Paulo: SEE, 2010.
92
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 11
Ensino de geometria como temática de uma formação
continuada
Waléria de Jesus Barbosa Soares
Carlos André Bogéa Pereira
Resumo: Durante o ano de 2018, foi oferecida pela Rede Municipal de Educação de São
Luís, Estado do Maranhão, a Formação Continuada em Matemática para professores dos
anos iniciais - FORMAT. A formação teve a Geometria como uma das oito temáticas a
serem trabalhadas ao longo do processo, pensadas e escolhidas pelos próprios
professores envolvidos. Neste sentido, o objetivo deste texto é apresentar como se deu o
desenvolvimento dessa temática durante a formação que buscou responder ao seguinte
questionamento dos professores: o que nós, professores que ensinam matemática,
devemos saber sobre o que é e como ensinar a geometria aos estudantes dos anos
iniciais do Ensino Fundamental? Por meio de observação e análise das narrativas dos
professores, constatamos que o envolvimento dos mesmos em uma formação pensada
para e por eles, partindo de suas necessidades, contribuiu para que vissem a relevância
da aprendizagem matemática significativa. E ainda, como resultados, os professores,
além de refletirem sobre o que é a Geometria, discutiram sobre novas metodologias e
recursos para o seu ensino, e elaboraram atividades que priorizavam as seguintes
dimensões para o ensino de geometria: história da matemática; os jogos explorando o
lúdico; o material concreto; e, a resolução de situações-problema. Os resultados desta
formação foram apresentados em um seminário que envolveu todos os professores
participantes da mesma, no final do ano letivo.
Palavras-chave: Formação continuada. Geometria. Ensino.
93
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1 INTRODUÇÃO
Durante a formação inicial de professores que ensinam matemática, ou seja, os pedagogos, nem sempre a
Matemática é apresentada a partir de suas unidades temáticas e suas dimensões, onde o professor tem
contato com a teoria e a prática que futuramente deverá ser desenvolvida nas salas de aula em que
atuarão.
Ao deixar de ter esse contato, os professores tendem a repassar a matemática aos estudantes, da mesma
forma como aprenderam: sem base teórica e com poucas metodologias que levam o estudante a perceber
a matemática como significativa.
Buscando soluções para essa problemática, a Rede Municipal de Educação de São Luís, ofereceu no ano de
2018, a Formação Continuada em Matemática para professores dos anos iniciais – FORMAT. A formação
aconteceu durante o segundo semestre, em oito encontros quinzenais e levou em consideração as
indagações dos professores sobre “como ensinar aquilo que não sabemos?”.
Cada um dos encontros tratou de uma temática escolhida pelos próprios professores, a partir de suas
necessidades. A saber, foram:
Encontro
1º
2º
3º
4º
5º
6º
7º
8º
Temática
Geometria Espacial e Geometria Plana
Sistema de Numeração Decimal
Pensamento Algébrico
As operações: Adição, Subtração e Multiplicação
A operação: Divisão
Frações
Grandezas e Medidas
Educação Estatística
A escolha dos professores pela geometria como uma das temáticas vai ao encontro do que ressaltam
Nacarato, Gomes e Grando (2008, p. 27) quando dizem que “esse campo matemático raramente é
trabalhado nas escolas públicas e, quando o é, ocorre no final do ano ou de forma totalmente destituída de
sentido e significado para o aluno”.
Neste sentido, o objetivo deste texto é apresentar como se deu o desenvolvimento da temática geometria,
buscando responder ao seguinte questionamento dos professores: o que é geometria e de que forma
podemos trabalhá-la nos anos iniciais do Ensino Fundamental?
As considerações aqui apresentadas partem da experiência de dois formadores (autores deste texto), a
partir da observação e análise das narrativas dos professores, durante a formação.
2 É PRECISO COMPREENDER O QUE É A GEOMETRIA
Muitos professores não conseguem definir o que é a geometria. Alguns conseguem somente identificar os
elementos ou objetos que ela investiga. O ponto inicial do encontro formativo foi o questionamento: como
ensinar geometria se não sabemos o que ela é?
Foi preciso definir a geometria. Tomamos Ferreira (1999) e a concebemos como:
[...] ciência que investiga as formas e as dimensões dos seres matemáticos (...)
um ramo da matemática que estuda as formas, plana e espacial, com as suas
propriedades, ou ainda, ramo da matemática que estuda a extensão e as
propriedades das figuras (geometria Plana) e dos sólidos (geometria no
espaço). (FERREIRA, 1999, p.983)
Chegamos à conclusão de que ela é a parte da matemática que tem por objetivo analisar, organizar e
sistematizar os conhecimentos espaciais.
Mas, e na escola, como a definimos? Para isso, primeiramente tomamos a Matemática como o “alicerce de
quase todas as áreas de uma arquitetura que permite desenvolver os níveis cognitivo e criativo”
(BIEMBENGUT; HEIN, 2000, p.9), para então compreender a geometria como uma unidade temática
94
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
dentro do componente curricular matemática, que está no tripé básico dos conhecimentos matemáticos,
que conta ainda com medidas e números como temáticas (LORENZATO, 2006).
A geometria é assim um dos ramos da matemática de suma importância para aquisição de conhecimentos
matemáticos, pois “desencadeia no homem o pensamento voltado à realidade concreta (observar,
descrever, comparar, tocar, construir)” (SCHMITZ; LEDUR, MILANI, 1994, p.78).
Buscamos na história da geometria, suas raízes. Concordamos com Pavanello (2004, p. 131), quando diz
que “os professores em sua formação inicial ou continuada precisam ter algum contato como o modo pelo
qual os matemáticos produzem a matemática, os procedimentos que utilizam nessa produção”.
Entendemos então, que a geometria se desenvolveu ao longo do tempo, a partir da necessidade de o
homem utilizar conhecimentos sobre a medida da terra, logo comungamos com Boyer (1996, p. 5), quando
diz que “o desenvolvimento da geometria pode ter sido estimulado por necessidades práticas de
construção e demarcação de terras, ou por sentimentos estéticos em relação a configurações e ordem”.
Para ampliar o entendimento de como a geometria foi desenvolvida ao logo dos tempos, buscamos nas
histórias de vida e histórias de vida profissional de geômetras, como se deu esse desenvolvimento e quais
as suas contribuições para o ensino da matemática.
Entendemos que a história da matemática é importante e relevante para o ensino de geometria, pois
“mostra como surgiu, para que serve e onde serve. Portanto, acredita-se que podemos ensinar matemática
pura e aplicada nas escolas de forma que o aluno se sinta íntimo da disciplina como parte de sua vida”
(ROSA NETO, 2003, p. 7-8).
Os matemáticos (geômetras) investigados na formação e que estavam associados a conhecimentos
relativos à matemática dos anos iniciais, foram:
Pitágoras;
Euclides;
Renés Descartes; e,
Gauss.
Vimos também, como a geometria foi/é utilizada por vários povos ou comunidades. Nesse ponto, demos
destaque aos estudos sobre cestarias, pinturas e jogos desenvolvidos nas culturas indígenas e africanas.
A relevância de um trabalho que envolve a etnomatemática foi assim discutida, através do entendimento
de Sebastiani (2002):
Através do conceito de etnomatemática chama-se a atenção para o fato de que a
matemática, com as suas técnicas e verdades, constitui um produto cultural,
salienta-se, que cada povo, cada cultura e cada sub-cultura desenvolve a sua
própria matemática, em certa medida, específica. (SEBASTIANI, 2002, p.13)
Dentro da regionalidade maranhense, buscamos reconhecer a geometria nas pinturas dos corpos
indígenas de tribos como os Guajajaras e os Krikatis, que habitam em cidades do interior maranhense.
Acreditamos que levar essa geometria para sala de aula faz com que os estudantes percebam que “a
geometria está por toda parte..., mas é preciso conseguir enxergá-la...” (LORENZATO, 1995, p. 5).
Reconhecemos também a geometria nas peças produzidas pelas rendeiras da cidade de Paço do Lumiar,
situada na região da Ilha de são Luís, capital do Estado, o que nos fez perceber que, “a matemática faz
parte da vida social de cada um de nós, é impossível separá-la da realidade. Dessa forma, devemos
repensar sobre como ensinar essa disciplina, buscando novos caminhos e olhares ao ensiná-la” (BEZERRA;
MOURA, 2014, p. 735).
Desta forma, tivemos oportunidade de reconhecer que a geometria está na vida das pessoas, nos padrões
da natureza, nos objetos que utilizamos, nas culturas, indo além daquela apresentada no ambiente escolar.
95
3 A GEOMETRIA NAS AULAS DE MATEMÁTICA
A dificuldade que os estudantes enfrentam com relação ao conhecimento geométrico é reflexo, muitas
vezes, do ensino que foi ministrado. E esse método de ensino é fruto de como os professores,
anteriormente, aprenderam.
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Tomando Guimarães, Vasconcellos e Teixeira (2006), acreditamos que os empecilhos encontrados nas
aulas de matemática sobre geometria, referem-se a três fatores principais: o não reconhecimento da
utilidade da geometria por parte dos professores, as dificuldades para desenvolver o raciocínio hipotéticodedutivo e as falhas advindas da formação dos professores. Sobre estes, discutimos, no encontro
formativo, o terceiro.
Encontramos muitos professores que se lamentam de como a geometria lhes foi apresentada em sua
formação inicial, desprovida de significado, e muitas vezes isolada das outras unidades matemáticas.
Assim, “acabam repassando aquilo que aprenderam, limitando-se a exigir do estudante apenas nomes de
figuras, sem se preocuparem com o reconhecimento das propriedades das mesmas” (PAVANELLO, 2001,
p.183).
Isso acarreta em uma formação deficiente para os estudantes, pois entendemos que:
Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de
Matemática no ensino fundamental, porque, por meio deles, o aluno desenvolve
um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e
representar, de forma organizada, o mundo em que vive. O trabalho com noções
geométricas contribui para a aprendizagem de números e medidas, pois
estimula a criança a observar, perceber semelhanças e diferenças, identificar
regularidades e vice-versa. (BRASIL, 1997, p. 56)
É preciso conceber que a geometria ajuda o estudante a entender o mundo. Se ela não lhe é apresentada
desta forma, como poderá desenvolver capacidades como olhar, comparar, medir, adivinhar, generalizar e
abstrair? (BULOS, 2011, p. 5).
Sobre a importância do olhar, pensamos tal qual Kaleff (2003) quando cita os estudos de Van Hiele em que
“a visualização, a análise e a organização informal (síntese) das propriedades geométricas relativas a um
conceito geométrico são passos preparatórios para o entendimento da formalização do conceito” (p.14).
Então, para esse fim, não só o professor deve mudar suas concepções de ensino da geometria, mas todo o
sistema. É necessário se pensar em um currículo integrador, em que se perceba que a geometria é o elo
entre a aritmética e a álgebra (LORENZATO, 1995, p.6).
Se este elo não acontece, as unidades temáticas são vistas como ramos da matemática isolados e a
aprendizagem fica fragmentada, fazendo-nos concordar com Lindquist e Shulte (1994, p.240) quando
dizem que “são cada vez maiores os indícios de que as dificuldades de nossos alunos em cálculo se devem
a uma formação deficiente em geometria”.
Após reconhecermos a importância da geometria no ensino de matemática, partimos para a reflexão
sobre o desenvolvimento do raciocínio que a ela está atrelada.
Entendemos que a geometria está em nosso dia a dia, e buscamos refletir sobre o que significam seus
conceitos. E, assim, concordamos com Dienes (1974, p.01), quando diz que “os conceitos não se ensinam –
tudo que se pode fazer é criar, apresentar situações e as ocorrências que ajudarão a formá-los”.
Corroboramos com a ideia de que, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, deve-se partir da geometria
espacial para a planificação das figuras, momento em que o estudante percebe o abstrato a partir do
concreto. Isso nos levou a compreender, segundo Fainguelernt (1995), que a geometria desempenha um
papel fundamental na educação porque ativa as estruturas mentais na passagem de dados concretos e
experimentais para os processos de abstração e generalização.
4 ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES QUE ENVOLVEM A GEOMETRIA
A escolha inadequada de atividades a serem realizadas nas salas de aula pode comprometer a visão que se
construirá sobre a geometria, acarretando em estudantes que sequer conseguem identificar elementos ou
figuras geométricas.
O que se deve buscar, através do ensino de geometria, é uma matemática mais humanizada, menos
abstrata ou desligada da realidade. Esta visão pode mudar quando proporcionamos atividades que
despertem o potencial investigativo dos estudantes dentro das aulas de matemática.
Propomos assim, um ensino geometria de caráter mais experimental (NACARATO; PASSOS, 2003).
Discutiu-se com os professores sobre como o estudante deve ver o ensino de geometria e concordamos
96
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
que devemos propor metodologias que lhes permitem, “ao ensinar-lhe [o estudante] certo conteúdo,
desafiá-lo a que se vá percebendo na e pela própria prática, sujeito capaz de saber” (FREIRE, 1996, p. 124).
Associar essas atividades à realidade dos estudantes faz com que eles percebam que a geometria está em
seus contextos sociais. Portanto, é preciso oportunizar. Vale ressaltar que, todas as formas de trabalhar
com a geometria nas aulas de matemática devem levar em consideração o ano escolar do estudante,
adequando as atividades à sua idade.
O papel do professor como mediador e pesquisador de novas metodologias é ponto fundamental nesse
processo. É ele quem planejará as atividades e pensará nas metodologias que envolvem o ensino de
geometria.
Nesse contexto, concordamos com Pimenta (1999) quando ressalta que o profissional de educação é e
sempre será a peça fundamental na aprendizagem de forma específica, e no desenvolvimento da sociedade
de forma geral.
Durante o encontro formativo, pensamos em quais materiais poderiam ser utilizados durante as aulas de
matemática para alcançar nosso objetivo. Sobre eles destacamos alguns.
O uso de livros de literatura infanto-juvenil que trate da geometria é viável, pois possibilita ao aluno uma
viagem prazerosa ao mundo da matemática, que pode ser por ele desconhecido. Sobre este tipo de
literatura, concorda-se com Resende (1993),
A cada mergulho nas camadas simbólicas dos livros, emerge-se vendo o
universo interior e exterior com mais claridade. Entra-se no território da
palavra com tudo o que se é e se leu até então, e a volta se faz com novas
dimensões, que levam a re-inaugurar o que já se sabia antes. (RESENDE, 1993,
p. 164)
Reforçamos que, as histórias sobre a geometria são um contributo, pois mostram aos estudantes que a
matemática foi construída ao longo do tempo por pessoas normais, e não por gênios. Sendo assim, são
pessoas que também podem ter cometido erros. Aliás, essa parte da história nunca aparece nos livros
didáticos, segundo Lopes (2005, p.36), “os obstáculos de percurso e as visões errôneas no decorrer da
construção do conhecimento, dificilmente estão descritos nos livros didáticos, principalmente naqueles
voltados à área das ciências exatas”.
Tão importante quanto a literatura são os materiais concretos e/ou manipulativos. Vimos nos mesmos,
bons recursos didáticos que contribuem para a formação das imagens mentais dos estudantes
(NACARATO, 2005). Para isso é necessário entender que:
Nas atividades de ensino da geometria, envolvendo o uso de materiais, é preciso
estar duplamente vigilante para que toda informação proveniente de uma
manipulação esteja em sintonia com algum pressuposto racional e, ao mesmo
tempo, que todo argumento dedutivo esteja associado a alguma dimensão
experimental. Acreditamos que este é o primeiro passo para valorizar uma
interpretação dialética para o uso dos materiais didáticos. Evitar uma
racionalidade vazia desprovida de significado, assim como evitar toda espécie
de atividade empírica desconexa de um objetivo educacional previamente
analisado. (PAIS, 2000, p. 13-14)
Procuramos elaborar atividades com o uso de materiais concretos como o Geoplano e o Tangram, e outros
materiais manipulativos construídos através de sucata, por exemplo. A utilização desses materiais
“fornecem oportunidades para raciocinar com objetos e, portanto, para ensinar a resolver problemas”
(LINDQUIST; SHULTE, 1994, p. 77).
Na perspectiva de que, segundo Atalay (2007), a natureza inspira tanto o artista quanto o cientista,
utilizamos também obras de arte para elaborar atividades a partir das mesmas. Concluímos que “o ensino
da Matemática só poderá contribuir de forma positiva e significativa aos alunos, se o olhar fragmentado e
limitado dos professores for desconstruído, percebendo as múltiplas possibilidades que favorecem essa
interdisciplinaridade” (SOARES, 2013, p. 36).
Refletimos também sobre o uso das tecnologias no ensino de geometria e com ela, a contribuição de
softwares. Por meio deles, os estudantes aprendem a aplicar, construir, explorar e manipular conceitos
geométricos. Como exemplo, discutimos sobre o Geogebra, que associa geometria e álgebra, e do que
podemos fazer com ele durante as aulas de geometria.
97
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Concordando com Contiero e Gravina (2001), entendemos que,
Com os recursos tecnológicos disponíveis, diferente poderia ser o processo de
aprendizagem da matemática a se instalar nas escolas – tanto na provocação
das habilidades cognitivas dos alunos, quanto na integração de conteúdos que
normalmente são estudados separadamente e desta forma o contexto da
aprendizagem também poderia se aproximar daquele de natureza
interdisciplinar (CONTIERO; GRAVINA, 2001, p. 3)
Os estudantes de hoje são seduzidos pela tecnologia, pois “percebem o fluxo constante de informações
com as quais convive e, por consequência, como este novo mundo tecnológico está transformando a
maneira pela qual aprendem” (RANCAN, 2011, p. 17).
A partir de todas essas reflexões, e pensando no que ressaltam Ponte e Serrazina (2000) sobre a falta de
atenção dos estudantes durante as aulas de matemática e, consequentemente, as aulas de geometria,
outras atividades foram pensadas e elaboradas, durante as formações, para que potencializassem o ensino
de geometria nos anos iniciais do ensino fundamental.
Essas atividades envolveram:
Ditado matemático;
Bingo e dominó geométricos;
Caça palavras geométrico;
Cruzadinhas;
Blocos lógicos;
Leitura de imagem de obras de arte; entre outras.
É interessante perceber que todas essas atividades deveriam associar teoria e prática, conceitos
geométricos e procedimentos, pois os materiais nelas utilizados,
[...] contribuem para a compreensão dos conceitos geométricos, porém, não
podem ser considerados como determinantes, pois “sua finalidade é servir de
interface mediadora para facilitar a relação entre o professor, o aluno e o
conhecimento em um momento preciso da elaboração do saber”. (PAIS, 2000, p.
2-3)
Ressaltamos que, quando os conteúdos de geometria trabalhados nas aulas de matemática partem de
situações vivenciadas pelos estudantes, facilitam o entendimento de que, a “geometria envolve o estudo de
um amplo conjunto de conceitos e procedimentos necessários para resolver problemas do mundo físico e
de diferentes áreas do conhecimento” (BRASIL, 2017, p. 269).
É primordial que permitamos que o estudante experimente a geometria, pois assim desenvolverá um
olhar geométrico sobre a realidade a sua volta.
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS DA FORMAÇÃO
Acreditamos que as temáticas das formações continuadas que envolvem professores que ensinam
matemática, devem surgir a partir das necessidades dos próprios professores envolvidos (GATTI, 2009).
Desta forma, o trabalho aqui apresentado se caracterizou como colaborativo (NACARATO, 2006), a partir
do momento em que a temática foi discutida com os professores e escolhida pelos professores.
A Geometria, como pretendida no objetivo da formação, foi refletida a partir das indagações dos
professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental sobre o que ensinar e como ensinar, de forma que os
mesmos aprenderam novos conhecimentos, discutiram novas metodologias e recursos para aplicarem em
sala de aula.
Sobre o trabalho dos professores em sala de aula, o retorno era sempre trazido para o encontro formativo
seguinte. Logo, de acordo com os professores, a partir de suas narrativas durante as formações, o ensino
se tornou mais motivador e a aprendizagem mais significativa para os estudantes, a partir das atividades
elaboradas.
98
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Constatamos enfim, que educar estudantes matematicamente, para além dos muros da escola, necessita de
um professor em constante formação.
Logo, ao alcançarmos o objetivo de trabalhar com os professores que ensinam matemática sob um viés da
reflexão sobre a prática a partir de uma unidade temática da matemática – a Geometria –, possibilitou-nos
perceber que se aprende fazendo e refletindo sobre a própria prática.
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100
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 12
Resultados Finais de uma atividade diagnóstica sobre
conhecimentos geométricos de alunos do 6º ano do
ensino fundamental
Geovana Raquel Pereira da Silva
Luana Cardoso da Silva
Cristiane Fernandes de Souza
Resumo: Apresentamos nesse texto algumas considerações acerca do processo e dos
resultados da aplicação de uma Atividade Diagnóstica final realizada com três turmas do
6º ano do Ensino Fundamental (totalizando 94 alunos), dos turnos matutino e
vespertino, de uma escola pública do município de Mamanguape/PB. Essa atividade
diagnóstica versava sobre conteúdos de Geometria, tais como: reconhecimento de
figuras planas e não planas, classificação de sólidos em poliedros e corpos redondos,
planificação de sólidos geométricos, localização espacial. A pesquisa foi realizada com o
objetivo de investigar os conhecimentos e habilidades geométricas adquiridas por esses
alunos ao final de uma intervenção didática realizada nas três turmas, de um projeto de
ensino desenvolvido dentro do Programa de Licenciatura – PROLICEN/UFPB,
desenvolvido no ano de 2015. Com os resultados obtidos na análise das respostas da
Atividade foi possível perceber uma melhora significativa com relação à primeira
Atividade Diagnóstica, realizada antes da intervenção didática.
Palavras-chave: Ensino-Aprendizagem da Geometria. Ensino Fundamental. Habilidades
Geométricas.
101
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
A Geometria é considerada por muitos pesquisadores como a área da Matemática que favorece ao aluno a
desenvolver diferentes capacidades, tais como, deduzir, intuir, abstrair, formalizar, entre outras.
Entretanto, o que se tem observado a partir dos resultados de avaliações em larga escala (no âmbito
federal, estadual e municipal) é que os alunos avaliados não têm demonstrado o desenvolvimento dessas
capacidades.
Os resultados das avaliações feitas pelo Saeb têm mostrado que os alunos conseguem resolver apenas
questões rotineiras, relacionadas à aplicação direta de conceitos e a mecanização de fórmulas
(PAVANELLO, ANDRADE, 2002). Esses resultados revelam que os professores de Matemática, quando
abordam os conteúdos geométricos, priorizam os tipos de questões de aplicação de conceitos e de
fórmulas em sala de aula.
Assim, buscando a melhoria do ensino e aprendizagem da Geometria nos anos finais do Ensino
Fundamental, foi desenvolvido no ano de 2015 um projeto de ensino, dentro do Programa de Licenciatura
da Universidade Federal da Paraíba – PROLICEN/UFPB, intitulado “O ensino-aprendizagem da Geometria
nos anos finais do Ensino Fundamental: Propostas metodológicas em atividades didáticas”, coordenado
por uma professora e com a participação de uma aluna bolsista e uma voluntária do curso de Licenciatura
em Matemática, UFPB/Campus IV. O referido projeto teve como objetivo principal propor, aplicar e avaliar
atividades e sequências didáticas para o ensino-aprendizagem da Geometria nos anos finais do Ensino
Fundamental, utilizando diferentes materiais didático-pedagógicos.
Como parte integrante desse projeto, foi realizada uma investigação acerca dos conhecimentos e
habilidades geométricas adquiridas pelos alunos de quatro turmas do 6º ano do Ensino Fundamental, dos
turnos matutino e vespertino de uma escola pública do município de Mamanguape/PB (SILVA, SILVA,
SOUZA, 2015a). Foi aplicando um instrumento denominado Atividade Diagnóstica, para mapear os
conhecimentos e as dificuldades desses alunos acerca de alguns conteúdos de Geometria para o 6º ano do
Ensino Fundamental. Os resultados desse diagnóstico mostraram que a maioria dos alunos investigados
não apresentou as habilidades plenamente desenvolvidas ao final dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, elencadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997).
Com base nos dados coletados nesse diagnóstico, foi realizado um planejamento para a elaboração e
execução das atividades didáticas na escola, no âmbito do projeto, em três das quatro turmas que
participaram da investigação.
As atividades didáticas buscaram contemplar as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais de
Matemática para o Ensino Fundamental (BRASIL, 1998) e tiveram como base o livro didático utilizado
pelas turmas (PROJETO ARARIBÁ, 2010), adaptando algumas atividades para levar uma proposta de
abordagem que visou explorar as experiências trazidas pelos alunos de suas vivências diárias,
considerando também as dificuldades apresentadas por estes alunos (SILVA, SILVA, SOUZA, 2015b). Em
seguida, realizamos um trabalho em sala de aula, em conjunto com a professora de Matemática das
turmas, utilizando diferentes materiais didático-pedagógicos (vídeos, jogos didáticos, material concreto,
instrumentos de desenho geométrico, embalagens e objetos, entre outros).
Ao final das aulas desenvolvidas nas turmas utilizamos o mesmo instrumento, Atividade Diagnóstica,
aplicado no início da pesquisa, com o objetivo de investigar os conhecimentos e habilidades geométricas
adquiridas pelos alunos ao final da intervenção didática realizada nas três turmas.
Dessa forma, o presente texto tem por objetivo discutir o processo e os resultados desse estudo
diagnóstico final realizado com os 94 alunos das três turmas de 6º ano do Ensino Fundamental,
participantes das atividades didáticas realizadas em sala de aula, e que também responderam a Atividade
Diagnóstica inicial.
2.METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO
O objetivo da reaplicação da Atividade Diagnóstica foi investigarmos os conhecimentos adquiridos pelos
alunos durante as semanas da intervenção didática. Esse instrumento contém oito questões ilustradas,
abertas e fechadas, que versam sobre conteúdos da Geometria, tais como: reconhecimento de figuras
planas e não planas, classificação de sólidos em poliedros e corpos redondos, planificação de sólidos
geométricos, localização espacial.
102
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
A 1ª questão da atividade diagnóstica consistiu na classificação de 13 figuras geométricas, identificadas de
“A” a “M”, em dois grupos: “Figuras planas” e “Figuras não planas”. O objetivo dessa questão foi verificar se
os alunos sabem identificar as diferenças entre figuras bidimensionais e tridimensionais.
A 2ª questão se resumiu em identificar entre quatro planificações, dispostas nos itens (a), (b), (c) e (d),
qual corresponderia à figura de um bumbo, apresentado na questão, que tem o formato cilíndrico. O
objetivo dessa questão foi averiguar se os alunos têm conhecimento acerca de planificações de algumas
figuras tridimensionais, nesse caso do cilindro.
A 3ª questão compreendeu identificar entre quatro grupos de figuras geométricas planas, dispostas no
que foi chamado de “caixa”, enumeradas de 1 a 4, qual deles seria utilizado montar uma pirâmide de base
quadrada, apresentada na questão. Essas contêm triângulos e quadriláteros (retângulos e quadrados) ou
apenas quadriláteros. O objetivo dessa questão foi sondar se os alunos reconhecem quais figuras planas
que compõem as faces da pirâmide de base quadrada.
A 4ª questão consistiu na associação da nomenclatura de quatro polígonos (1- Quadrado, 2- Pentágono, 3Triangulo, e 4-Hexágono) a sua forma geométrica, ao número de lados, e ao número de ângulos, que estão
distribuídos em uma tabela de três colunas. Essa questão teve como objetivo analisar se os alunos
conseguem associar as características de um polígono: nome, forma geométrica, números de lados e
número de ângulos.
A 5ª questão estava composta por uma tabela com figuras de quinze objetos do cotidiano e que devem ser
associadas às formas de sólidos geométricos: prisma, pirâmide, cone, cilindro, esfera, círculo,
circunferência, que estão enumerados de 1 a 7, respectivamente. O objetivo dessa questão foi saber se os
alunos associam objetos geométricos de seu cotidiano ao nome de sua forma geométrica.
A 6ª questão compreendeu a apresentação de oito imagens de sólidos geométricos, identificados de “A” a
“H”, que devem ser separadas em dois grupos: “Poliedros” e “Corpos redondos”. O objetivo dessa questão
foi saber se os alunos identificam os sólidos de cada um dos grupos, reconhecendo as características que
diferem um do outro.
A 7ª questão estava constituída por um mapa de uma sala de aula que contem três fileiras de alunos,
enumeradas da parte inferior para a superior como “fila 1”, “fila 2”, “fila 3”. Cada fileira contém três alunos.
O mapa contém também três pontos de referência: “a porta da sala”, “o lugar do professor” e “o quadro”.
Essa questão teve como objetivo verificar se os alunos conseguem localizar no espaço a posição de alunos
no mapa, a partir de pontos de referência dados nos enunciados: item (a) na fila 3, o aluno mais distante e
o mais próximo do professor; e item (b) na fila 1, o aluno mais distante da porta.
Por último, a 8ª questão continha um pequeno mapa de um bairro com quatro ruas: Rua das Camélias, Rua
dos Prados, Rua das Palmeiras e Rua das Laranjeiras, algumas paralelas, perpendiculares e concorrentes
entre si. O objetivo dessa questão foi averiguar se os alunos têm conhecimento dos conceitos de retas
paralelas e perpendiculares. Para tanto, a questão apresenta três itens: no item (a) os alunos devem
identificar a rua que é paralela à Rua das Camélias; o item (b) requer que os alunos identifiquem a rua
perpendicular à Rua das Palmeiras; no item (c) os alunos teriam que identificar a rua que se cruze com a
Rua das Palmeiras, mas que não fosse perpendicular a ela.
A Atividade Diagnóstica final foi aplicada a 94 alunos do 6º ano (A, B e C) do Ensino Fundamental. As
turmas A e B são do turno matutino e a turma C do turno vespertino, todas tinham a mesma professora de
Matemática.
Na Atividade Diagnóstica inicial, por nossas recomendações, os alunos que a responderam não se
identificaram, diferentemente da segunda Atividade que foi preciso a identificação para estabelecer uma
nota aos alunos, solicitada pela professora das turmas, logo não foi possível avaliar o desenvolvimento
individual dos alunos, comparando uma Atividade com a outra.
Assim como a primeira Atividade, para analisar as respostas, identificamos cada aluno pela letra A (de
aluno), seguida de um número. Na turma A temos do A1 ao A35; na turma B temos do A36 ao A69 e na
turma C temos do A70 ao A94.
103
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apresentamos os dados coletados na Atividade Diagnóstica final por meio de tabelas, destacando a
questão, as turmas, e os tipos de respostas (correto, parcialmente correto, errado e em branco), e os
valores absolutos e relativos de alunos em cada categoria de respostas. Foram utilizados os mesmos
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
critérios de correção da Atividade inicial: para serem consideradas “corretas”, as respostas deveriam se
apresentar certas e coerentes com o solicitado no enunciado. Já as respostas consideradas “parcialmente
corretas” necessitavam ter no mínimo 60% de acertos, para o caso da 1ª, 4ª, 5ª e 6ª questões. Foram
consideradas “erradas” as respostas que estavam incoerentes com relação ao solicitado no enunciado, as
que não atingiram a quantidade mínima de acertos (60%) ou as que apontaram mais de uma resposta.
Na 1ª questão os alunos precisariam classificar as 13 figuras em “planas” e “não planas”. A resposta foi
considerada correta se os alunos classificaram todas as figuras corretamente; parcialmente correta se
acertaram no mínimo 3 de 5 figuras planas e 5 de 8 figuras não planas; e errada se a resposta encontrou-se
inversa ou não terem atingido a quantidade mínima de acertos. A Tabela 1 a seguir mostra as respostas
dos alunos para essa questão.
Turmas
6º A
6º B
6º C
Total
Tabela 1 – Respostas da 1ª questão
Parcialmente
Errado
correto
%
Nº
%
Nº
65
03
9
09
9
08
23
13
76
01
4
05
48
12
13
27
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
Correto
Nº
23
03
19
45
Em branco
%
26
38
20
28
Nº
00
10
00
10
%
0
29
0
11
Nessa questão, observamos que a maioria dos alunos apresentou um bom desempenho. Das respostas
parcialmente corretas percebemos que os alunos, em sua maioria, acertaram as 05 “figuras planas”, mas
ainda acrescentaram “figuras não planas” em suas respostas. Das 12 respostas parcialmente corretas, 09
delas adicionaram a esfera como figura plana, e pode ser que os alunos, como na primeira atividade, não
tenham percebido os meridianos destacados, que indicam a tridimensionalidade da figura, por ser da
mesma cor do círculo.
A respeito das 27 questões erradas, em 15 delas os alunos separaram a figura do círculo, do cilindro e da
esfera das demais figuras as agruparam em “figuras planas”, e os sólidos geométricos em “figuras não
planas”. Pode ser que os alunos tenham interpretado que precisariam classificar em “poliedros” e “corpos
redondos”, já que eles separaram todos que apresentam a forma circular. Observamos que alguns alunos
trocaram totalmente as “figuras planas” por “figuras não planas”, visualizando que existem diferenças
entre essas figuras, mas não sabem identificar o nome do grupo à qual elas pertencem quando as figuras
estão desenhadas; observamos também que alguns alunos classificaram aleatoriamente as figuras,
mostrando que ainda não conseguem identificar as diferenças entre elas quando as figuras estão
desenhadas.
Na 2ª questão os alunos deveriam identificar qual a planificação do bumbo, que tem o formato cilíndrico. A
resposta foi considerada correta se o aluno assinalou corretamente a planificação e considerada errada se
assinalou outra planificação ou marcou mais de uma opção. As respostas dos alunos para essa questão
seguem na Tabela 2.
Turmas
6º A
6º B
6º C
Total
Tabela 2 – Respostas da 2ª questão
Correto
Errado
Nº
%
Nº
%
34
97
01
3
17
50
09
26
20
80
05
20
71
75
15
16
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
Em branco
Nº
%
00
0
08
23
00
0
08
8
104
É possível perceber que a maioria dos alunos acertou essa questão. Das 15 respostas erradas, 11 delas, os
alunos assinalaram a opção (a), que é a planificação de um cone e observamos que, assim como na
primeira atividade, uma parcela dos alunos pode ter assinalado essa alternativa por ter observado a figura
e interpretado que só haveria a parte de cima do bumbo (circular) já que no objeto real em questão ela é a
que aparece em evidência, o mesmo pode ter ocorrido nesta segunda atividade, pois ao analisarmos o
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
instrumento do A40, percebemos que, ao assinalar essa alternativa, complementou com a justificativa:
“arredondado por cima e circular de lado”, ou seja, ele não imaginou que a parte de baixo do bumbo existia
para comparar com o vértice da planificação do cone, então inferimos que isso pode ter influenciado na
hora de escolher a sua planificação. A outra parcela das respostas erradas os alunos assinalaram entre as
alternativas (b) e (d).
Na 3ª questão os alunos necessitavam identificar corretamente qual “caixa” que apresenta as figuras
planas e que poderiam ser usadas para montar a pirâmide de base quadrada. A resposta foi considerada
correta se foi escrita a “caixa” com as peças fundamentais (quadrado e quatro triângulos) e errada se foi
escrita uma diferente ou mais de uma opção de “caixa”. As respostas para essa questão encontram-se na
Tabela 3 a seguir.
Tabela 3 – Respostas da 3ª questão
Correto
Errado
Em branco
Nº
%
Nº
%
Nº
33
95
01
2
01
16
47
08
23
10
22
88
03
12
00
71
75
12
13
11
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
Turmas
6º A
6º B
6º C
Total
%
2
29
0
11
Nessa questão, podemos perceber que a maioria dos alunos apresentou um ótimo desempenho. Além de
essa questão apresentar uma facilidade maior, como foi abordado na análise da primeira atividade
diagnóstica, pelo fato de que nessa questão as figuras planas que representam as faces do sólido são mais
rapidamente identificáveis (quadrilátero e triângulo) e estão mostradas separadas, os alunos
apresentaram também um bom desempenho em sala de aula, durante as atividades de ensino, com o
assunto de figuras planas, planificações, e visualizaram com facilidade as formas das faces dos sólidos. Das
12 questões erradas, 08 delas os alunos marcaram a “caixa” 1 que também continham triângulos e
quadriláteros, mas que ao invés de quadrados eram retângulos e três triângulos, ao invés de quatro e
como a figura estava desenha, os alunos não prestaram atenção nas diferenças.
Na 4ª questão os alunos precisavam associar a nomenclatura dos polígonos com sua forma, o número de
lados e o número de ângulos correspondentes. As respostas foram consideradas corretas se as três
colunas estavam associadas corretamente; parcialmente correta se no mínimo duas colunas estivessem
associadas corretamente; errada se a quantidade mínima de colunas não estivesse associada corretamente
ou se foram marcados símbolos diferentes do que foi pedido. Na Tabela 4 estão os resultados obtidos para
essa questão.
Turmas
6º A
6º B
6º C
Total
Correto
Nº
29
10
21
60
Tabela 4 – Respostas da 4ª questão
%
83
29
84
64
Parcialmente
Errado
correto
Nº
%
Nº
%
00
0
06
17
00
0
22
65
01
4
03
12
01
1
31
32
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
Em branco
Nº
00
02
00
02
%
0
6
0
2
Nessa 4º questão, a maioria dos alunos conseguiu associar corretamente a figura, mas também
apresentaram um número significativo de erros. Na resposta que foi considerada parcialmente correta, o
aluno enumerou corretamente apenas a coluna do formato dos polígonos e do número de lados,
demostrando que ainda desconhece sobre ângulos. Do total de 31 respostas erradas, 22 delas
demostraram confusão entre o pentágono e o hexágono e pode ser que esses alunos não tenham fixado a
questão da nomenclatura dos polígonos, e essa foi a maior dificuldade, nas atividades desse assunto,
durante a intervenção.
Na 5ª questão os alunos deveriam associar 15 (quinze) imagens de objetos, dispostos em uma tabela, ao
nome de sólidos geométricos que representam as formas desses objetos. As respostas consideradas
corretas foram as que associaram corretamente todos os objetos; parcialmente correta se foram
105
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
associados corretamente no mínimo 09 (nove) dos 15 objetos; e errada se todos os objetos foram
associados incorretamente ou abaixo da quantidade mínima de acertos. A seguir estão os resultados para
essa questão, expostos na Tabela 5.
Tabela 5 – Respostas da 5ª questão
6º A
6º B
6º C
Total
Parcialmente
Errado
correto
%
Nº
%
Nº
%
68
06
17
50
14
0
12
35
18
53
60
04
16
06
24
41
22
23
29
31
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
Correto
Turmas
Nº
24
00
15
39
Em branco
Nº
0
04
00
04
%
0
11
0
4
Nessa questão, foi possível perceber que os alunos demostraram uma melhora significativa, num total de
39 respostas corretas ao contrário da Atividade inicial, em que nenhum aluno acertou por completo a
questão. Das 22 respostas parcialmente correta em 09 delas os alunos erraram apenas 01 dos 15 objetos
apresentados na questão, alguns deles assinalaram o cone com a alternativa “pirâmide” e o círculo e a
alternativa “esfera”. Das respostas erradas, a maioria delas apresentou dificuldades com a questão dos
prismas e pirâmides, círculo e circunferência e algumas até assinaladas aleatoriamente.
Na 6ª questão os alunos deveriam agrupar os 08 sólidos geométricos em poliedros e corpos redondos. A
resposta foi considerada correta se os alunos agruparam todos os sólidos corretamente; parcialmente
correta se acertaram no mínimo 02 dos 03 corpos redondos e 03 dos 05 poliedros; e errada se na resposta
o agrupamento estava invertido ou se não atingiu a quantidade mínima de acertos. As respostas para a 6ª
questão seguem na Tabela 6.
Turmas
6º A
6º B
6º C
Total
Tabela 6 – Respostas da 6ª questão
Correto
Nº
20
09
17
46
%
57
26
68
49
Parcialmente
correto
Nº
%
06
17
07
21
06
24
19
20
Errado
Nº
09
09
02
20
%
25
26
8
21
Em branco
Nº
00
09
00
09
%
0
26
0
9
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
Turmas
6º A
6º B
6º C
Total
Tabela 6 – Respostas da 6ª questão
Correto
Nº
20
09
17
46
%
57
26
68
49
Parcialmente
correto
Nº
%
06
17
07
21
06
24
19
20
Errado
Nº
09
09
02
20
%
25
26
8
21
Em branco
Nº
00
09
00
09
%
0
26
0
9
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
Nessa questão, nas respostas parcialmente corretas, alguns alunos agruparam corretamente os
“poliedros”, mas adicionaram o corpo redondo C e, do mesmo modo, outra parcela de alunos também
agrupou corretamente todos os “corpos redondos”, mas foram adicionados também os poliedros F e G ou
apenas um deles, assemelhando-se a Atividade inicial, em que o formato meio “esférico” ou “circular”, dos
poliedros F e G, pode ter influenciado na resposta dos alunos. Nas respostas erradas, alguns alunos
classificaram nos “corpos redondos” apenas a esfera, adicionando o cilindro e o cone no grupo dos
“poliedros”.
Também encontramos erros como desenhos de figuras planas no espaço de respostas e algumas respostas
demostraram que os alunos classificaram sem ter uma noção mais aprimorada de distinção entre os dois
grupos. Alguns alunos também trocaram por completo as duas opções, expondo assim que enxergaram a
106
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
diferença entre os dois grupos, mas não souberam classificá-los corretamente, assim como na questão 1.
Foi surpreendente o número de erros nessa questão, mesmo não sendo a maioria, pois o assunto de
Poliedros e Corpos redondos foi o mais frisado dentro das salas de aula durante a intervenção.
Na 7ª questão os alunos precisavam identificar a localização de alunos em um mapa da sala de aula, vista
de cima. Nos itens (a) e (b), os alunos teriam que localizar alunos em determinado ponto da sala de aula de
acordo com uma referência oferecida na questão. No item (a) a resposta é considerada correta se
identificar corretamente os 02 alunos solicitados; parcialmente correta se 01 dos 02 for identificado
corretamente; errada se os 02 alunos não forem identificados corretamente. O item (b) é considerado
correto se o aluno for identificadocorretamente, caso contrário estará errado. Na Tabela 7 segue os
resultados obtidos para essa questão.
Turmas
Itens
6º A
(a)
(b)
(a)
(b)
(a)
(b)
6º B
6º C
Tabela 7 – Respostas da 7ª questão
Correto
Nº
26
31
11
13
18
20
119
Total
%
74
89
32
38
72
80
126
Parcialmente
correto
Nº
%
04
11
00
0
08
23
00
0
04
16
00
0
16
17
Errado
Nº
03
02
05
11
03
05
29
Em branco
%
9
5
15
32
12
20
31
Nº
02
02
10
10
00
00
24
%
5
5
29
29
0
0
25
Como podemos observar na Tabela 7, nessa questão os alunos também se saíram melhor comparados à
primeira Atividade, com exceção da turma do 6º C que apresentou uma quantidade de erros e respostas
em branco ainda maior. Nas respostas consideradas erradas, os alunos cometeram o mesmo erro de
atenção, considerando as filas na posição vertical e não na horizontal, como mostra a imagem contida na
questão, mostrando que esses alunos não compreenderam a noção de direcionamento.
Na 8ª questão os alunos precisavam identificar nos itens (a), (b) e (c) quais as ruas que são paralelas,
perpendiculares e concorrentes entre uma e outra. A resposta de cada item foi considerada correta se as
ruas foram identificadas corretamente, caso contrário as respostas estão erradas. A Tabela 8 a seguir
apresenta as respostas dos alunos para essa questão.
Tabela 8 - Respostas da 8ª questão
Turmas
Itens
(a)
(b)
(c)
(a)
(b)
(c)
(a)
(b)
(c)
6º A
6º B
6º C
Total
Correto
Nº
22
21
22
07
08
07
16
18
15
136
Errado
%
Nº
62
12
60
13
62
12
21
15
23
17
21
15
64
09
72
07
60
10
144
110
Fonte: Atividade Diagnóstica Final
%
34
37
34
44
50
44
36
28
40
117
Em branco
Nº
%
01
3
01
3
01
3
12
34
09
26
12
34
00
0
00
0
00
0
36
38
Nesta última questão, os alunos demostraram um ótimo desempenho, comparado ao primeiro. Dos alunos
que responderam à questão, 30 (trinta) deles acertaram os três itens simultaneamente, ao contrário da
primeira avaliação que de todos os 130 alunos que responderam, apenas 03 (três) acertaram
simultaneamente. Das respostas erradas, muitos alunos confundiram o “perpendicular” com o “paralelo”,
trocando a resposta dos dois itens, mostrando assim que entenderam a noção desses assuntos, mas
sentem dificuldades na nomenclatura dos mesmos, pois houve muitos acertos quando a questão era
direcionada a “retas concorrentes”.
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
107
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Após a aplicação da Atividade Diagnóstica final foi possível verificar que mesmo diante das dificuldades
encontradas durante o tempo da intervenção na escola, obtemos resultados muito positivos, se
comparados aos resultados da Atividade Diagnóstica inicial.
Com relação ao reconhecimento de figuras planas e não planas, embora alguns alunos ainda confundissem
algumas figuras, o resultado correto foi bastante satisfatório. Um resultado que ainda apresentou um
expressivo número de erros foi associar a nomenclatura dos polígonos com sua forma, o número de lados
e o número de ângulos correspondentes. Embora as atividades propostas tenham buscado trabalhar esses
assuntos com significação, observamos que os alunos apresentaram bastantes dificuldades. Em relação à
classificação de sólidos em poliedros e corpos redondos, e a associação das figuras às nomenclaturas,
percebemos que os alunos tiveram um bom desempenho, diferentemente aos primeiros resultados
encontrados. A respeito da planificação de sólidos geométricos, os alunos demonstraram compreensão na
associação do sólido e sua planificação. Finalmente, sobre a localização espacial, tiveram um desempenho
bastante satisfatório, em relação aos resultados iniciais.
Percebemos que em uma das três turmas avaliadas os resultados das duas atividades diagnósticas foram
menos satisfatórios do que em relação às outras duas turmas. Essa foi a turma em que o nosso trabalho foi
mais dificultoso, pois a turma possuía alunos indisciplinados e menos participativos, e isso pode ter
refletido no resultado obtido.
Reconhecemos, também, que tal resultado pode ter sido oriundo de nossa (bolsista e voluntária)
inexperiência ao lidar com situações de adversidade, e também da metodologia desenvolvida, pois
aplicamos a mesma metodologia em todas as salas, quando poderíamos ter desenvolvido atividades
diferenciadas na turma com maior dificuldade de atenção e compreensão, tendo em vista que essa turma
tinha um desenvolvimento diferente das outras. Esse fato nos alertou para que sejamos mais sensíveis ao
desempenho diferenciado de cada aluno.
Ter um contato com alunos e sua realidade, durante o tempo da intervenção, nos levou a uma reflexão
sobre quão grande é o nosso desafio de nos tornarmos profissionais conscientes dos elementos inerentes
ao processo ensino-aprendizagem da Matemática, de como podemos nos preparar para as futuras
responsabilidades diante de uma sala de aula.
REFERÊNCIAS
[1]
Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. 1º e 2º ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1997.
[2]
Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. 3º e 4º ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998.
[3]
Pavanello, R. M; Andrade, R. N. G. Formar professores para ensinar geometria: um desafio para as
licenciaturas em Matemática. Educação Matemática em Revista, São Paulo/SP, ano 9, n.11. Edição Especial, p. 78-87,
abr. 2002.
[4]
Projeto Araribá. Matemática: 6º ano. 3. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2010.
[5]
Silva, G. R. P; Silva, L. C; Souza, C. F. Resultados de uma investigação sobre conhecimentos geométricos de
alunos do 6º ano do Ensino Fundamental. In: II Congresso Nacional de Educação - Conedu, 2015, Campina Grande/PB.
Anais... Campina Grande/PB, 2015a.
[6]
Silva, G. R. P; Silva, L. C; Souza, C. F. Aplicação de atividades didáticas para o ensino-aprendizagem da
Geometria:relato de experiências. In: IV Semana da Matemática – UFPB/Campus IV, 2015, Rio Tinto/PB. Anais... Rio
Tinto/PB: UFPB, 2015b.
108
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 13
Ensino da matemática no século XXI: Desafios e
possibilidades
Maria de Fátima Caldas de Figueirêdo
Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar os primeiros resultados de uma
pesquisa sobre o uso de recursos digitais no ensino da Matemática, identificando a
importância da inclusão da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem da referida
disciplina, refletindo a utilização dos jogos, considerados um dos recursos digitais
favoritos dos alunos, apontados como ferramenta metodológica, sendo um importante
aliado do professor da educação básica, devido seu caráter lúdico. A pesquisa teve uma
abordagem qualitativa com utilização de questionário online respondidos por
professores que ensinam Matemática e pesquisa bibliográfica com aporte teórico que
dialogam com a temática. Os dados coletados inicialmente evidenciam a dificuldade de
alguns professores em trabalhar com recursos digitais em sala de aula.
Palavras-chave: Ensino da Matemática. Recursos digitais. Jogos.
109
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
A importância da utilização de recursos digitais no ensino da Matemática como facilitador da
aprendizagem é encontrada, em geral, nos livros ou textos didáticos. Mas na prática pedagógica, essas
ferramentas não se referem apenas a entretenimento. Os recursos digitais nos processos de ensino e de
aprendizagem tem uma grande validade, se usada pelo seu caráter desafiador, pelo interesse do educando
e pelo objetivo proposto pelo professor.
A utilização dessas ferramentas tecnológicas como proposta pedagógica, deve ser inserida no
planejamento disciplinar como subsídio eficiente ao alcance de um objetivo. Nesse sentido, considerar os
recursos digitais como mediador no processo de ensino e aprendizagem, é necessário planejamento do
professor que possibilite o aluno construir seu próprio conhecimento, evitando dessa forma o
processamento de uma mera reprodução de conteúdo entre professor e aluno.
Sendo perceptível a dificuldade enfrentada pelos alunos em Matemática, desde conceitos mais simples a
situações problemas mais complexas. E nessa perspectiva que se reflete a utilização dos recursos digitais
nas aulas da referida disciplina, pois se acredita nas suas contribuições para uma aprendizagem
significativa14 e mais compatível com as necessidades atuais. Sendo que o uso consciente e planejado das
tecnologias auxilia na formação do aluno com habilidade de aplicar seus conhecimentos na sua vida
pessoal, social e profissional.
As seções seguintes apresentam uma reflexão sobre o ensino da Matemática no que se refere aos desafios
e possibilidades do século XXI, assim como, algumas considerações sobre os jogos enquanto recursos
digitais. Em seguida é apresentado o percurso metodológico com os passos utilizados para a realização da
pesquisa e sua análise. Na sequência são retratados os resultados e discussões, onde são representados
também por meio de gráficos para uma melhor compreensão do leitor, finalizando com a apresentação das
conclusões, empreendidas a partir do estudo bibliográfico e dos primeiros dados obtidos na pesquisa.
2.ENSINO DA MATEMÁTICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A forma de construção do conhecimento em pleno século XXI não deve seguir uma prática tradicional, em
que o professor é apenas o transmissor de conhecimentos e de informações. Desse modo, com a chegada
das tecnologias isso não é mais admissível no processo de ensino e aprendizagem, já que a informação não
está mais centrada nas mãos do professor como foi considerado por muito tempo, mas sim, acessível a
qualquer momento a todos. Tendo o docente um novo papel de mediador do conhecimento, possibilitando
aos discentes uma aprendizagem significativa.
Conforme Onuchic; Allevato (2004), sempre houve muita dificuldade para se ensinar e aprender
Matemática. Apesar disso, todos reconhecem a importância e a necessidade da Matemática para
compreender os acontecimentos e as relações em sociedade. Não apenas nas áreas exatas, como suas
aplicações no cotidiano, desde uma interpretação de gráfico em um jornal até compreensão de simples
descontos promocionais.
Nesse sentido, é inaceitável que nas escolas ainda persevere o uso de métodos pedagógicos retrógrados,
em que apenas se ensina e aprende por meio da memorização, sem materiais de ensino para além do
quadro e do giz. É observado que o ensino da Matemática tem passado por mudanças, visto que os atores
envolvidos nesse processo também mudaram. Mas, apesar dessas transformações é notório ainda a
presença de falhas, lacunas existentes que indicam o quanto precisa ser pesquisado a fim de sanar essas
dificuldades.
Dar aulas é diferente de ensinar. Ensinar é dar condição para que o aluno
construa seu próprio conhecimento. Vale salientar a condição de que há ensino
somente quando, em decorrência dele, houver aprendizagem. Note que é
possível dar aula sem conhecer, entretanto não é possível ensinar sem
conhecer. Mas conhecer o quê? Tanto o conteúdo (matemática) como o modo
de ensinar (didática); e ainda sabemos que ambos não são suficientes para uma
aprendizagem significativa (LORENZATO, 2006, p. 03).
14
Aprendizagem significativa conforme a teoria da aprendizagem de David Ausubel.
110
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Diante do exposto surge a preocupação com a forma do ensino da Matemática e entende-se que os
educadores precisam urgentemente buscar metodologias as quais venham integrar suas aulas e despertar
interesse nos alunos que convivem constantemente com essa dificuldade de aprendizagem. Sendo
importante considerar que aulas motivadoras apoiadas em metodologias que busquem incluir o aluno no
processo de aprendizagem, tende a sanar essas dificuldades na referida disciplina.
Para D’Ambrósio (1993) existem quatro características desejáveis em um professor de Matemática:
(i)
Visão do que vem a ser a Matemática: a Matemática deve ser vista como uma disciplina de
investigação, na qual o conhecimento faz parte de um processo que está em constantes mudanças.
(ii)
Visão do que constitui a atividade Matemática: a atividade Matemática pode ser considerada
basicamente sob dois elementos, em que o primeiro se refere à utilização da Matemática para resolver
problemas no dia a dia; e o segundo elemento é referente à necessidade de modelos de estudo para
solucionar problemas.
(iii)
Visão do que constitui a aprendizagem da Matemática: é importante que os professores conheçam
as teorias que explicam a forma que o conhecimento matemático é construído pelo indivíduo.
(iv)
Visão do que constitui um ambiente propício à aprendizagem da Matemática: o ambiente propício
para a aprendizagem da Matemática é o que possibilita encorajamento ao aluno a propor soluções, passar
a explorar mais possibilidades, levantando hipóteses, justificando seu raciocínio e validando suas
conclusões.
É necessário se considerar que estas características devem ser construídas ao longo do processo de
formação inicial do docente, isto é, durante o seu curso de licenciatura. Porém, não se pode pensar que
apenas este momento de formação seja suficiente, desta forma, essas características se consolidarão
também durante a efetiva prática pedagógica e por meio de um processo de formação continuada para o
professor se situar no processo de ensino do século XXI.
Lira (2016) apresenta algumas características básicas dos professores para o século XXI, entre elas: ter
boa formação inicial; respeitar a diversidade; utilizar as NTICs (Novas Tecnologias da Informação e da
Comunicação); atualizar-se com as novas didáticas; planejar e avaliar constantemente; ser mediador que
ressignifica o ensino; possuir visão holística, integradora e interdisciplinar. Sendo esses aspectos
importantes para o fazer docente, mediante o contexto no qual a escola está inserida e a geração de alunos
que hoje frequenta esse ambiente escolar.
Com esse entendimento, o advento das tecnologias trouxe a possibilidade de podermos continuar
avançando em relação aos objetivos propostos para o ensino da Matemática, uma vez que podemos
associá-los ao trabalho docente.
Tendo a seu dispor os recursos e dominando as técnicas e metodologias, os
docentes os utilizam, porque sabem que, aumentando o interesse do aluno,
consequentemente aumentam também a motivação e a aprendizagem. E, com
isso, diminuem os casos de indisciplina (especialmente aqueles originados pela
monotonia das aulas ou pela inatividade do aluno) (ZAGURY, 2006, p. 206).
Pode-se compreender que fazer uso de recursos digitais como um método pedagógico pode ser uma boa
estratégia para se ensinar a matemática, pois a tecnologia pode facilitar a aquisição de conceitos
matemáticos, contudo, é importante saber de sua importância na aprendizagem do aluno. Ao utilizar os
recursos digitais em sala de aula precisam-se estabelecer regras, para que as atividades envolvidas façam
com que os alunos desenvolvam o pensamento e suas habilidades. Uma vez que sua utilização torna as
atividades da Matemática divertida e o professor precisa utilizar em suas aulas de forma adequada,
sempre procurando ter como objetivo o aprendizado do discente.
De acordo com Parra (1996) o mundo é constantemente modificado, sendo que essa mudança ocorre na
sociedade como toda, desde aspectos econômicos, sociais, culturais até educacionais. Com isso, é exigido
tanto da escola como dos professores e demais profissionais da educação competências que contribuam
diretamente para a vida do novo alunado que está chegando ao ambiente escolar. As exigências por uma
educação de qualidade vêm sendo cobradas a todo instante pela própria sociedade. E para que os
profissionais do ensino de Matemática possam ter condições de tornar possível a construção do
conhecimento com qualidade, é de fundamental importância que estejam sempre em formação
continuada.
111
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Com os avanços que ocorreram na tecnologia digital é possível observar que temos uma grande clientela,
os alunos, inseridos nessa mudança que vai além de uma simples transfiguração.
Nossos alunos mudaram radicalmente. Os alunos de hoje não são os mesmos
para os quais o nosso sistema educacional foi criado. Os alunos de hoje não
mudaram apenas em termos de avanço em relação aos do passado, nem
simplesmente mudaram suas gírias, roupas, enfeites corporais, ou estilos, como
aconteceu entre as gerações anteriores. Aconteceu uma grande
descontinuidade (PRENSKY, 2001, p.01).
Para Prensky (2001) atualmente temos dois sujeito distintos envolvidos no processo ensino e
aprendizagem, Nativos Digitais os quais o autor considera sendo os alunos de hoje, dos anos iniciais da
educação básica ao ensino superior, representando eles as primeiras gerações que cresceram com esta
nova tecnologia. E Imigrantes Digitais, os professores, Prensky (2001) aponta aqueles que não nasceram
no mundo digital, mas em algum momento de suas vidas, ficou deslumbrado e adotou grande parte dos
elementos ofertados da nova tecnologia.
Esse dispare entre aluno e professor gera uma desigualdade que consequentemente reflete na educação. O
professor não deve simplesmente ignorar essa cenário atual da educação, mas sim criar estratégias para
estar a todo o momento em paralelo com essa modernidade digital, pois mesmo com toda a informação ao
alcance o docente faz parte desse processo de aprendizagem, desempenhando um importante papel na
vida de muitas pessoas que almejam o conhecimento.
A utilização de recursos digitais não é uma atividade isolada, para ser desenvolvida separadamente das
aulas regulares, mas sim, deve ser parte integradora do currículo e cuidadosamente planejada para que
seja realizada de modo contínuo e ativo ao longo do ano letivo, utilizando conceitos e procedimentos
matemáticos que estão sendo desenvolvidos. Sendo que não aprende Matemática de repente, é um
processo contínuo, que exige planejamento e tempo.
Segundo Pimenta (2009) as transformações que ocorrem nas práticas escolares são efetivadas na medida
em que o professor amplia sua consciência sobre as próprias ações, sejam aquelas da sala de aula ou da
escola como um todo. Sendo necessário voltar o olhar para o docente que é o grande protagonista nesse
processo de mediação de aluno e conhecimento, que é o responsável pela educação de várias crianças,
adolescentes, jovens, homens e mulheres que constituem a nossa sociedade. Sociedade está que está cada
vez mais interligada e apropriada das tecnologias da comunicação e informação.
No percurso de todo esse processo de inclusão das tecnologias no sistema educacional precisa ser feita
algumas observações no tocante à qualificação dos professores. Conforme o Ministério da Educação
(BRASIL, 2001) é necessário superar o desafio da ineficiência da formação inicial, em que a maioria dos
professores ou não teve esse tipo de formação relacionada às TIC (Tecnologia da Informação e
Comunicação), mesmo em universidades, ou essa formação não foi suficiente para alterar suas concepções
em relação ao ensino e à aprendizagem e levá-los à utilização dessas ferramentas. Só a existência das
tecnologias e sua presença em massa na escola não garantem eficácia e todo o rendimento que é esperado
por parte de toda a sociedade. E por mais que seja estudioso e dedicado, o professor precisa formações
que comportem a dificuldade e deficiência da formação inicial.
Tardif (2014) define o saber docente como um saber plural “[...] formado pelo amálgama, mais ou menos
coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e
experienciais” (TARDIF, 2014 p. 36). Mostrando dessa forma que o saber docente não é homogêneo, nem
ao menos imóvel. Mas repleto de acoplamentos entre diferentes saberes, sem sobreposição, e sim
conexões de conhecimentos adquiridos em diferentes contextos que se completam. Tardif (2014)
diferencia os saberes disciplinares, curriculares e experienciais, como:
Saberes disciplinares - refere-se aos sabres sociais definidos e selecionados pela instituição
universitária, integrando também a prática docente através da formação inicial e contínua dos professores
nas diversas disciplinas oferecidas pela instituição de ensino superior.
Saberes curriculares – condiz aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos sob a forma de
programas escolares, que a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais
por ela definidos e selecionados como modelos de cultura erudita;
Saberes experienciais - referem-se aos saberes específicos, baseados em seu trabalho cotidiano e
no conhecimento de seu meio, incorporando experiência tanto individual como coletiva sob a forma de
habilidades de “saber-fazer e de saber-ser” (TARDIF, 2014; p.39).
112
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
É perceptível que a prática pedagógica cotidiana do professor exige algumas ações que muitas vezes não
são aprendidas em sua formação, seja ela inicial ou continuada, e nem nos currículos impostos pela
instituição escolar. Esses saberes, produzidos e apropriados ao longo de sua história de vida, em sua
prática pedagógica diária, nas relações entre a equipe escolar, alunos, família, comunidade, a escola e sua
organização e entre os professores e os seus próprios saberes, são classificados por Pimenta (2009) como
os saberes da experiência, ou seja, aqueles advindos da intervenção pedagógica do professor na escola, em
suas turmas, na organização do trabalho pedagógico, em sua própria história ao longo da sua vida.
Em relação às diferentes formações, inicial e continuada, no tocante ao uso das TIC nas práticas escolares,
é considerado que grande parcela de professores que atuam nas escolas públicas não teve, na sua
formação inicial, conteúdos e práticas sobre o uso das tecnologias digitais para a incorporação ao seu
trabalho docente, a formação continuada reveste-se de maior importância, pois é a possibilidade que os
professores têm em adquirir formação que ocorra dentro das necessidades da escola e de seus alunos
(SCHNELL; QUARTIERO, 2009, p 123). A formação continuada permanece como um desafio para o
professor, tendo que perceber os diferentes discursos e representações da escola na vida dos alunos, já
que as tecnologias digitais iniciaram uma nova era, onde o espaço e os saberes adquiriram novos
significados.
Segundo Freire (1996) “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua
própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 47). É necessário ver que os alunos não chegam à
escola como folhas em branco, mas com uma variedade de conhecimentos que irá refletir no seu processo
de aprendizagem. Esse repertório de leitura, experiência extra sala e vivências do aluno possibilita a
produção ou construção do seu conhecimento.
Desempenhando o papel de elo entre o aluno e a Matemática, o professor é automaticamente mediador.
Esta mediação não funciona com absolutismo, com imposição de conhecimentos. É importante ressaltar
que a ação pedagógica envolve dois polos: o ensino e a aprendizagem, representados respectivamente
pelo professor e pelo aluno. Ensinar Matemática pode e deve ser compatível com formar pessoas, onde os
professores de Matemática devem ser capazes de selecionar e organizar atividades adequadas para
contribuir para o desenvolvimento dos alunos e para o desenvolvimento de uma Matemática acessível
para todos.
3.OS JOGOS COMO RECURSOS DIGITAIS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA
Como já foi debatido nas seções anteriores, é importante o uso de recursos digitais no ensino da
Matemática, sendo que é interessante apresentar de maneira atraente para o aluno por meio de diferentes
recursos, como; jogos, software, fotografias, gráficos, tabelas, infográficos, entre outros, com o intuito de
incentiva-lo a ter interesse pelo que será estudado, tornando o estudo mais significativo.
Os jogos são um dos recursos digitais favoritos dos alunos, esse recurso que também é didático, é
recomendado como ferramenta metodológica, sendo um importante aliado do professor, principalmente
na educação básica. Como exemplo, temos os jogos eletrônicos que promovem um deslumbramento muito
grande, pois eles proporcionam ao individuo uma personalização, permitindo ao aluno um controle virtual
das ações da jogada por meio do aplicativo. Proporcionando momentos prazerosos, que de contrapartida
podem sanar algumas dificuldades referentes ao conteúdo durante a aula de Matemática, tornando esse
momento mais desafiador e significativo.
Conforme Smole (2007) os erros são sentidos de forma natural nos jogos pelos alunos, sem deixar marcas
negativas, proporcionando novos testes, estimulando antecipação e averiguação. Oportunizando o aluno
enquanto jogador corrigir quando erra e analisar suas vitórias, desenvolvendo uma auto avaliação.
Permitindo o aluno interagir de forma dinâmica com a construção de sua própria aprendizagem, saindo da
inércia que muitas vezes está presente nas salas de aula.
É importante direcionar para quem, onde e para qual realidade vamos aplicar os jogos.
A aprendizagem através de jogos, como dominó, palavras cruzadas, memória e
outros permite que o aluno faça da aprendizagem um processo interessante e
até divertido. Para isso, eles devem ser utilizados ocasionalmente para sanar as
lacunas que se produzem na atividade escolar diária. Neste sentido verificamos
que há três aspectos que por si só justificam a incorporação do jogo nas aulas.
São estes: o caráter lúdico, o desenvolvimento de técnicas intelectuais e a
113
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
formação de relações sociais (GROENWALD; TIMM, 2002, apud LARA, 2011, p.
23).
No jogo, mediante a articulação entre o conhecido e o imaginado, a possibilidade de desenvolvimento
cognitivo é bem maior comparado ao ensino tradicional. E isso para os alunos é muito importante, uma
vez que é necessário desenvolver no aluno a habilidade de elaborar raciocínio lógico e fazer uso
inteligente e eficaz dos recursos disponíveis, para que ele possa propor boas soluções às questões que
surgem em seu dia a dia, na escola ou fora dela. Um bom uso de jogos em sala de aula pode proporcionar
momentos prazerosos e sanar algumas dificuldades referentes ao conteúdo. Porém a utilização de jogos
requer que tenhamos uma noção clara do que se quer explorar no momento da execução e de como
realizá-los.
Os jogos exercem um papel importante na construção de conceitos matemáticos
por se construírem em desafios aos alunos. (...) os desafios apresentados pelos
jogos vão além do âmbito intelectual, relacionado diretamente ao dito
“conteúdo escolar”, pois, ao trabalhar com jogos, as crianças deparam com
regras e envolvem-se em conflitos, uma vez que não estão sozinhas, mas em um
grupo ou equipe de jogadores. Tais conflitos são excelentes oportunidades
também para alcançar conquistas sociais e desenvolver a autonomia
(STAREPRAVO, 2010, p.19).
Nesta percepção, é importante destacar que o jogo como recurso de aprendizagem é indispensável nas
aulas de Matemática, e que no contexto escolar deve se integrar ao programa de forma minuciosa, desde o
momento de selecionar os jogos que devem ser usados, até determinar os objetivos que se pretendem
alcançar com os jogos utilizados e concretizar a avaliação das atividades lúdicas.
De acordo com os PCN’s (1998) os jogos podem contribuir com o desenvolvimento de habilidades
proporcionando “[...] formação de atitudes — enfrentar desafios, lançar-se à busca de soluções,
desenvolvimento da crítica, da intuição, da criação de estratégias e da possibilidade de alterá-las quando o
resultado não é satisfatório” (BRASIL, 1998, p.43). O jogo por ser desafiante leva os alunos a um momento
de distração, que em contra partida deve ser bem planejado, com objetivos definidos. É importante deixar
claro para os alunos que nas aulas de Matemática, durante o momento lúdico, eles não estão só jogando,
mas sim, aprendendo a referida disciplina por intermédio do jogo.
É perceptível, com isso, que a metodologia com utilização do lúdico pode levar o aluno a motivar-se e
favorecer a compreensão do conteúdo. Por isso, o professor precisa estar atento e buscar meios para
motivar seus alunos a interagir nas aulas de matemática, e os jogos podem ser uma boa estratégia para
favorecer essa interação. Assim, o educador deve proporcionar momentos de interação na turma fazendo
com que os alunos possam acreditar no próprio potencial de construir conhecimentos.
Meu papel como professor, ao ensinar o conteúdo a ou b, não é apenas o de me
esforçar para, com clareza máxima, descrever a substantividade do conteúdo
para que o aluno o fixe. Meu papal fundamental, ao falar com clareza sobre o
objeto, é incitar o aluno a fim de que ele, com os materiais que ofereço, produza
a compreensão do objeto em lugar de recebê-la, na íntegra, de mim. Ele precisa
se apropriar da inteligência do conteúdo para que a verdadeira relação de
comunicação entre mim, como professor, e ele, como aluno se estabeleça
(FREIRE, 1996, p.118).
A aprendizagem do aluno não acontece de forma vertical, mas há várias possibilita para que ele se
desenvolva, sendo essa a importância de criar diferentes espaços na sala de aula, como também, abordar
os conteúdos de diferentes formas para que o aluno desenvolva suas habilidades cognitivas. Pois, quanto
mais estratégias o professor utilizar, mais chance os alunos terão para se identificar com a metodologia e
consequentemente aprender.
Para Karnal (2014) um dado permanece mais na memória se vier associado a mais lembranças ou
ordenado em sequências com alguma lógica. Em geral, quanto mais intensa e completa a emoção associada
à memória, quanto mais variado o universo que eu senti naquele momento, mais estruturada será essa
lembrança. O Lúdico deve ser utilizado com fins educativos, sendo bem planejado para que o objetivo da
aula seja concretizado.
114
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
4.METODOLOGIA E CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO
Os resultados apresentados na próxima seção fazem parte dos primeiros dados coletados de uma pesquisa
online realizada com um grupo de professores que lecionam Matemática nos anos finais do Ensino
Fundamental nas escolas públicas no município cearense de Barro. Os sujeitos selecionados fazem parte
de um grupo de docentes que participam de formação continuada ofertada pelo município.
É cada vez mais comum a pesquisa online como instrumento de pesquisa. Conforme Mendes (2009) com
os avanços das tecnologias digitais a coleta de dados também atinge outro patamar, em que os sujeitos
envolvidos têm acesso à pesquisa num ambiente online, que pode ser acessado a qualquer momento.
Como também, o próprio pesquisador tem a possibilidade de acompanhar o andamento da pesquisa à
medida que os dados forem sendo fornecidos, fazendo alterações e reajustes no curso da investigação.
A pesquisa online foi realizada por meio de questionário elaborado em enquete disponibilizada no grupo
do Whatsapp dos professores participantes da formação continuada acima mencionada, optando pela não
identificação dos participantes para evitar qualquer tipo de constrangimento. Segundo Prado e Carrara
(2005) o questionário pode ser autoaplicável e, neste caso, ampliam-se bastante as alternativas da sua
aplicação: pode ser enviado pelo correio, convencional ou eletrônico, a uma amostra de pessoas; além de
poder ser disponibilizado na internet como convite para pessoas com determinadas características
responderem. A seguir são apresentadas algumas questões que foram abordadas no questionário
relacionadas ao ensino e aprendizagem da Matemática e a utilização de jogos nas aulas da referida
disciplina.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
No que se refere o nível de aprendizagem dos alunos em relação à disciplina de Matemática os professores
classificaram entre pouco, médio e bom (palavras utilizadas pelos respondentes).
Gráfico 1 - Aprendizagem dos alunos em relação à disciplina de Matemática
Fonte: Elaborado pelo autor
O gráfico 1 demonstra que dezesseis por cento dos professores consideram bom a aprendizagem dos
alunos na disciplina de Matemática. Cerca de sessenta e sete por cento dos professores declaram como
médio, e alguns docentes, aproximadamente dezessete por cento acreditam ser pouco a aprendizagem.
Confirmando dessa forma com os pesquisadores Onuchic; Allevato (2004) que relatam sobre a dificuldade
da aprendizagem em Matemática.
No tocante a recepção dos alunos nas aulas em que é utilizado algum tipo de recurso digital, os professores
no geral consideram que o alunado gosta; um docente citou “excelente, a aula fica mais atrativa”, outro
respondeu “eles gostam muito”, teve outra pessoa que comentou “acham interessante”. Confirmando com
Zagury (2006) que os professores utilizam em suas aulas porque sabem que, aumentando o interesse do
aluno, consequentemente aumentam a motivação e a aprendizagem.
Quanto à utilização de jogos dezessete por cento dos docentes consideram difícil utilizar os jogos na
versão online. Apoiados na ideia de Prensky (2001) que afirma a existência de muitos professores
Imigrantes Digitais, que apesar de não nasceram no mundo digital, adotou muitos ou a maioria dos
aspectos da nova tecnologia, incorporando-os na sua prática docente mesmo com dificuldade.
115
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do aporte teórico e da pesquisa online é possível observar alguns desafios existentes no ensino da
Matemática. Entre eles o trabalho com recursos digitais, como os jogos, citados por alguns professores que
mesmo com dificuldade de utiliza-los reconhecem a importância no processo de ensino e aprendizagem da
Matemática. Refletindo também, que por meio desses recursos é possível trabalhar com o discente
atingindo sua totalidade, percebendo que os motiva, abre espaço para diálogo, oportuniza momentos de
socialização do conhecimento, caracterizando uma situação totalmente propícia para o aprendizado.
Foi identificada também a diferença de um jogo pedagógico de outro de caráter apenas lúdico, sendo que o
jogo pedagógico desenvolve-se com a intenção de provocar aprendizagem, estimular a construção de um
novo conhecimento, fixar e explorar o conteúdo. Já os jogos de caráter apenas lúdico, proporcionam um
prazer momentâneo, mas não contribui para uma aprendizagem do discente, se restringe a um brincar
sem possibilitar assimilação, fixação e construção de um novo conhecimento.
Destacando também a necessidade da formação continuada para professores como possibilidades para o
ensino da Matemática, principalmente formações voltadas para o uso de recursos digitais, uma vez que a
pesquisa online e o aporte teórico revela a dificuldade que alguns professores têm em utilizar esses
recursos nas aulas de Matemática.
REFERÊNCIAS
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Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno. Parecer nº
09/CP/CNE/2001. Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação
Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília: CP/CNE/MEC, 2001.
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[3]
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[4]
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Terra, 1996.
[5]
karnal, L. Conversas com um jovem professor. São Paulo: Contexto, 2014.
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Lira, B. C. Práticas pedagógicas para o século XXI: a sociointeração digital e o humanismo ético. Petrópolis –
RJ: Vozes, 2016.
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Mendes, C. M. A Pesquisa Online: potencialidades da pesquisa qualitativa no ambiente virtual. Revista digital
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[11]
Parra, C. Didática da Matemática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
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Pimenta, S. G. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
[13]
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116
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 14
O surgimento de um jogo didático e suas contribuições
na formação de professores: Decimando
Flávia Streva Nunes
Gabriela Felix Brião
Resumo: Este um recorte de uma pesquisa de monografia do curso de licenciatura em
Matemática da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho relata desde o
processo de criação de um jogo didático (Decimando) para uma turma de sétimo ano do
Ensino Básico até a sua aplicação em uma turma de licenciatura em Matemática, objeto
desta pesquisa. O estudo aborda a compreensão que o futuro professor tem de números
decimais e investiga se, ao jogar o Decimando e fazer as atividades pós-jogo, estes
licenciandos apresentam melhora na compreensão do tema. A análise do resultado é
feita por três pontos de vista: um teste escrito, o progresso dos alunos durante a
pesquisa pela visão da autora e o relato dos próprios estudantes. Discute-se a
importância do aprofundamento do estudo de conteúdos da Matemática Básica na
formação inicial de professores assim como estimulá-los por meio da própria
experiência a conhecerem mais a metodologia lúdica.
Palavras-chave: Matemática Lúdica; Formação de Professores; Jogo Didático; GEMatUERJ.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1.INTRODUÇÃO
O trabalho é um recorte de uma monografia de conclusão do curso de Licenciatura em Matemática da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Nele é relatado o processo de criação de um jogo
didático, denominado Decimando, e uma pesquisa realizada com a aplicação do jogo na formação inicial de
professores de Matemática. O objeto da pesquisa são alunos de Licenciatura em Matemática da UERJ, na
disciplina “Práticas Pedagógicas em Matemática I” do terceiro período do currículo. Na disciplina acontece
o aprofundamento do conhecimento pedagógico do conteúdo matemático do Ensino Fundamental II,
conciliando Teoria, Prática e Metodologias aplicadas ao Ensino Fundamental.
O objetivo geral desta pesquisa é fomentar a utilização da Matemática Lúdica pelos futuros professores
através da própria experiência de construção do conhecimento de forma ativa e significativa. Assim, os
licenciandos podem se encorajar a usar essa metodologia ao verem resultados em si mesmos. Gabriela
Brião afirma:
“Quebrar paradigmas pode ser uma forma do professor se rebelar contra o que
está posto, romper com o sistema instituído e dar voz a sua intuição. Parece
certo afirmar que muitos percebem que algo não vai bem na educação
matemática escolar. Muitos também não sabem como fazer algo para mudar
isto, seguem o fluxo”. (BRIÃO, 2015, p.94)
Os objetivos específicos vão para além de responder à pergunta de pesquisa, mas também relatar todo um
processo de criação e construção de um jogo didático na minha formação inicial como professora.
No Campus Maracanã UERJ, o curso de licenciatura plena em Matemática possui uma estrutura em
formato de tripé: a Faculdade de Educação (EDU), responsável pela formação pedagógica geral, o Instituto
de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ), responsável pelo conhecimento pedagógico da
matemática e o Instituto Básico (IME), responsável pela formação matemática dos licenciandos.
O projeto foi desenvolvido no CAp-UERJ, uma instituição de ensino pública em que sua finalidade é a
formação inicial e continuada de professores. O colégio é campo de estágio com ambiente propício a
atividades de pesquisa em ensino e educação e os professores trabalham de uma forma dinâmica,
totalmente diferente do que seria uma aula expositiva, ainda predominante na educação brasileira.
Professores do CAp-UERJ tem o diferencial de estarem lecionando na Educação Básica e também
formando professores nos cursos de graduação.
A presente investigação apresenta dificuldades de futuros professores de Matemática em relação à
compreensão da estrutura de nosso sistema decimal de numeração, principalmente ao trabalharem com
submúltiplos da unidade. Os estudantes trabalharam tais dificuldades de maneira lúdica, com o jogo
Decimando, e discutiram o tema com auxílio também de outras atividades. Ilydio Sá entende “Lúdico”
como:
“ [...] a forma de desenvolver a criatividade, os conhecimentos, o raciocínio de
um estudante de todos os níveis, através de jogos, música, dança, teatro, filme,
leituras, mímica, desafios, curiosidades, histórias, etc. Nossa proposta, usando o
lúdico nas salas de aula, é educar matematicamente, permitindo que o aluno
raciocine, descubra e interaja criticamente com colegas e professores”. (SÁ, p.1)
O jogo Decimando foi criado a partir de um erro em um teste diagnóstico de uma turma de sétimo ano do
Ensino Fundamental II, do Colégio de Aplicação da UERJ, em 2013. Durante reuniões que aconteciam para
discussão do desenvolvimento de um Laboratório de Ensino da Matemática no colégio, o grupo supôs que
o erro havia sido causado por uma fragilidade na compreensão do nosso sistema de numeração. Baseado
no erro de uma soma com parcelas com submúltiplos da unidade foi criado o jogo como estratégia para
trabalhar esse conteúdo específico com eles, aplicado ainda em 2013.
Grando (2000) elaborou uma lista de vantagens e desvantagens que o uso de jogos em sala de aula pode
trazer. Algumas das vantagens citadas são: fixação de conteúdos já aprendidos de forma motivadora,
introdução e desenvolvimento de conceitos de difícil compreensão, desenvolvimento de estratégias de
resolução de problemas, tomada de decisões e saber avalia-las, significação para conceitos aparentemente
incompreensíveis, interdisciplinaridade, participação ativa do aluno na construção do conhecimento,
desenvolvimento da criatividade, de senso crítico, da participação, da competição “sadia”, da observação,
das várias formas de uso da linguagem e do resgate do prazer em aprender, alunos de diferentes níveis
interagem, os jogos permitem ao professor identificar, diagnosticar erros de aprendizagem e dificuldades.
Dentre as desvantagens temos: existe o perigo de dar ao jogo um caráter puramente aleatório quando mal
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
utilizado, os alunos jogam e sentindo-se motivados apenas pelo jogo, sem saber porque jogam, o tempo
gasto com as atividades de jogo em sala de aula é maior, se o professor não estiver preparado, pode existir
um sacrifício de outros conteúdos pela falta de tempo, a exigência do aluno ter que jogar, mesmo que não
queira, destruindo a voluntariedade pertencente a natureza do jogo, a perda da “ludicidade” do jogo pela
interferência constante do professor, destruindo a essência do jogo.
Na primeira aula de intervenção com os licenciandos, já em 2015, foi feito um teste sobre sistema de
numeração e a aplicação do jogo Decimando com a turma aconteceu no encontro seguinte. No terceiro
encontro a autora falou sobre nosso sistema de numeração decimal e levou algumas outras atividades,
sempre se remetendo ao jogo. Como está apresentado no PCN,
“Recursos didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadoras, computadores e
outros materiais têm um papel importante no processo de ensino e
aprendizagem. Contudo, eles precisam estar integrados a situações que levem
ao exercício da análise e da reflexão, em última instância, a base da atividade
matemática (PCN, 1997, p. 19)”.
No último encontro, aplicou-se o mesmo teste inicial seguido de um breve questionário que buscou
compreender a opinião dos licenciandos sobre como a atividade lúdica feita contribuiu para a sua
formação como professor e a sua compreensão de números decimais. Mesmo o Decimando tendo surgido
como estratégia para uma dificuldade observada em uma turma de sétimo ano que era investigada sob
uma perspectiva de professor-pesquisador de seu aluno, para este trabalho utilizou-se o mesmo assunto,
os números decimais, em uma turma na formação inicial de professores. A intensão inicial era o
amadurecimento do conteúdo e discussão a respeito do jogo para ensino da Matemática.
As ações na turma e análise dos dados buscam responder às perguntas: Qual compreensão os futuros
professores de matemática, objetos desta pesquisa, tem de números decimais? Ao jogar o Decimando e
fazer atividades pós-jogo, os licenciandos apresentam algum indício de melhor compreensão do tema?
2. A CRIAÇÃO DO JOGO
Em 2013 iniciaram-se reuniões no CAp-UERJ visando a discussão e pesquisa em Matemática Lúdica e o
desenvolvimento de um laboratório de matemática voltado para a formação de professores da UERJ. Os
encontros ocorriam entre uma professora e alunos estagiários de Matemática da instituição e ocorriam
discussões de textos ligados a Laboratório de Matemática, Matemática Lúdica e o perfil de professorpesquisador de seu aluno. O grupo tinha como campo de pesquisa as aulas de Matemática de uma turma
de sétimo ano do CAp-UERJ, regidas pela professora do grupo.
Um teste diagnóstico foi realizado pela turma onde a questão “1,02 + 0,8 = ___” a maioria dos alunos
apresentou a resposta 1,1. Essa questão foi analisada nas reuniões em busca de uma estratégia didática
para trabalhar tal erro. De início analisou-se o pensamento do aluno ao dar a resposta 1,1, pois queríamos
emergir de seus modelos matemáticos. A hipótese que tínhamos era que, ao aparecer os submúltiplos da
unidade, eles consideravam como se todas as ordens dos submúltiplos fossem uma só, somando décimos
com centésimos.
Discutindo a respeito, lembrou-se do jogo WAR (jogo de tabuleiro e estratégia, lançado no Brasil pela
Grow em 1972) no qual dez peças pequenas (exércitos) equivalem a uma peça grande. As crianças,
durante o jogo, costumam fazer as contas com as peças pequenas e grandes sem dificuldade, porém
observamos uma dificuldade dos alunos em entender o nosso sistema de numeração decimal.
Considerando que os estudantes entendem o sistema de numeração presente em jogos de tabuleiro foi
pensado um jogo de tabuleiro onde os alunos teriam que operar aritmeticamente com submúltiplos da
unidade. O esperado era que os alunos percebessem a diferença entre as ordens e a equivalência de valor
entre elas, entender a formação do número, o que acontece na adição e constatar que no Sistema IndoArábico de numeração temos um sistema decimal posicional com o zero.
Problemática posta elaborou-se um tabuleiro com diversas casas com valores em forma decimal e fichas
de um inteiro, um décimo, um centésimo e um milésimo. O jogador lança o dado e anda a quantidade de
casas tirada, ao parar em uma casa do tabuleiro deve pegar no banco as fichas o valor correspondente
àquela casa. O objetivo do jogo é conseguir o maior valor em fichas, visto que o problema era a soma de
números decimais.
Com a base do jogo formada, começou-se a pensar nos detalhes. Ainda faltava estimular os jogadores a
perceberem a equivalência decimal entre as ordens durante a soma. Nas regras seria possível trocar fichas
119
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
por valores equivalentes. Mais do que ser possível, era preciso fazer com que os jogadores fizessem essas
trocas para perceberem o que acontece durante a soma. Como estímulo a isso foi acrescentada a regra que
a cada troca feita o participante ganharia mais um inteiro. Foram feitos jogos teste com estagiários de
Matemática que frequentavam o CAp-UERJ e com amigos para os ajustes de detalhes.
Figura 1 - Tabuleiro do jogo Decimando
3.RELATO DO JOGO EM DIFERENTES CONTEXTOS
A primeira aplicação ocorreu em 2013, na turma de sétimo ano do CAp-UERJ, a qual fez o teste. Os alunos
eram interessados durante as aulas de Matemática. Nela havia alunos que levavam a matemática de uma
forma fácil tanto como alunos com muita dificuldade na disciplina. A turma dividiu-se em grupos e cada
um confeccionou seu próprio jogo, sem saber das regras. Durante a aplicação estavam presentes autoras
do trabalho, dois estagiários que já conheciam as regras e outro que aprendeu as regras junto aos alunos.
Todos eles observavam e auxiliavam os alunos quando preciso.
Durante a atividade os alunos interagiam, se ajudavam, tiravam suas dúvidas com os estagiários presentes
e criavam estratégias na disputa pela vitória. Certo aluno, desatento às regras, ao parar na casa 0,43 quis
pegar 43 fichas de um centésimo para poder efetuar a troca para décimos logo em seguida. Ao serem
perguntados se este era de sorte ou estratégia, os alunos discutiram entre si e deram como resposta ser
um pouco dos dois: sorte ao jogar o dado, porém estratégia para saber qual caminho seguir. Como
estratégia alguns escolhiam casas com o maior valor e outros preferiam escolher casas dependendo da
quantidade de fichas que já possuíam, sempre atentos as trocas.
Na conversa a turma mostrou ter gostado da atividade, tendo um grupo comentado que iriam produzir um
tabuleiro para jogarem em casa, já que os confeccionados ficariam no laboratório do CAp-UERJ. Até então
o jogo não tinha nome e um grupo sugeriu “Decimando com Adolfo” (Adolfo era um dos estagiários que
acompanhava a turma e estava presente no dia), e toda a turma votou no nome “Decimando”.
Na reunião seguinte o grupo aprimorou o jogo para um melhor aproveitamento didático. Foi feita uma
tabela para registro, já que o professor não consegue estar em todas as mesas ao mesmo tempo, além de
facilitar a formalização da matemática envolvida no jogo. A tabela possui o valor da casa onde o jogador
parou, a quantidade de cada ficha pega e o momento que as trocas foram feitas. Outra alteração foi nas
fichas, diferenciando-as também por cores e seu valor por extenso.
Em 2014 o mesmo teste diagnóstico foi apresentado para outra turma de sétimo ano. Já divididos em
grupos, a questão “1,02 + 0,8 =___” teve dois como resposta da maioria da turma. O perfil da turma era
totalmente diferente da trabalhada no ano anterior. Na classe havia alunos que agiam de forma
desrespeitosa durante as aulas, tendo um comportamento inadequado ao meio escolar. No momento do
jogo o comportamento se manteve o mesmo, tendo alunos que não se dispuseram nem a ouvir as regras
do jogo e aproveitaram para fazer confusão. Os alunos interessados tiraram proveito da atividade,
interagindo e suprindo suas dúvidas, porém esta atitude foi de poucos.
Querendo ampliar o alcance dos benefícios que o jogo poderia atingir, o grupo de matemática lúdica do
GEMat-UERJ levou o jogo para divulgação científica em eventos de Educação Matemática, tanto por meio
de relatos de experiência, como em oficinas. Nesses eventos, o jogo esteve em contato com professores de
diversas localidades do Estado, tanto em formação inicial quanto já atuantes no Ensino Básico. Com uma
120
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
dinâmica participativa, os professores jogavam e discutiam sobre o jogo, os pontos positivos e os
negativos, possíveis adaptações e melhorias.
O jogo também foi aplicado em um projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(Pibid), em 2014, que desenvolve um laboratório de Matemática em uma escola pública do Rio de Janeiro.
O Decimando foi produzido pelos bolsistas e aplicado com uma turma de sétimo ano. Ao confeccionar os
tabuleiros, o grupo de bolsistas pensou em uma nova disposição para as casas do jogo (versão atual). Os
frequentadores do laboratório eram alunos em seu contra turno, sem nenhuma exigência ou bonificação
na nota, frequentavam apenas pelo prazer de estarem ali. Cerca de dez alunos jogaram o Decimando. Esse
número de alunos no laboratório foi fundamental para a aplicação ter dado certo, pois os estudantes
estavam com muitas dúvidas em como formar cada número e na questão das trocas e assim foi possível
dar atenção e explicar a cada grupo o sistema de numeração decimal.
Com o objetivo de incentivar um maior engajamento dos professores de Matemática do Estado do Rio de
Janeiro com a Matemática Lúdica e levar o trabalho feito no grupo do Laboratório de Matemática para fora
dos muros do CAp-UERJ, o Projeto de Extensão “Jogos didáticos: trazendo o lúdico para a sala de aula”
visita escolas públicas com um dia de oficinas de jogos. Nas turmas do Fundamental II houve dificuldade
principalmente para entenderem como formariam os números já que só tinham como opção um décimo,
um centésimo, um milésimo e um inteiro de fichas. Essa dificuldade também apareceu no Ensino Médio,
porém menos intensa. Observou-se que para uma atividade onde se tem aproximadamente uma hora com
os alunos e diversas atividades em revezamento, não compensa usá-lo se já não há um certo conhecimento
prévio de decimais. Pois nesse caso, os alunos usam tanto tempo ao tentar montar o número que não
aproveitam o jogo e não houve oportunidade para auxiliá-los.
4.DECIMANDO NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
O jogo Decimando foi levado a uma turma de Práticas Pedagógicas em Matemática I, matéria de terceiro
período do curso de licenciatura em Matemática da UERJ. Elaborou-se um teste para os licenciandos,
buscando ver como eles entendiam o nosso sistema de numeração decimal. Mais do que saber se os
estudantes dominavam as operações com os números em sua forma decimal, o intuito era ver se
dominavam o que representa cada algarismo que o compõe. O primeiro encontro com a turma foi a
aplicação do teste. Durante a correção duas questões em especial chamaram mais atenção: a questão 5,
que perguntava quantos centésimos possui o número 0,320 e que nenhum dos alunos presentes
respondeu de forma correta; e a questão 6, que dado uma certa quantidade de décimos, centésimos e
milésimos em um número era necessário completar uma tabela e escrever o número representado. Após a
correção, o foco da pesquisa veio a ser às questões recém citadas. Na aula seguinte foi levado o jogo para
aplicação e mais três alunos, ausentes no encontro anterior, fizeram o teste antes de jogarem.
Dividida em três grupos a turma leu as regras, tiraram dúvidas e começaram a jogar. Observou-se que
alguns alunos da turma dominavam o conteúdo e tiravam as dúvidas dos outros jogadores. Foi pedido que
caso houvesse um responsável por dar as fichas, que fosse feito o pedido de quantas de cada por cada
participante. Nessa hora as dúvidas começaram a aparecer. Ao pedir, usavam o vocabulário “número
inteiro, vírgula, parte decimal” e com um pedido para que pedissem pelo nome da ficha eles se forçaram a
falar os nomes das ordens. No início os jogadores hesitavam um pouco em falar e olhavam para as fichas
parar garantirem que usariam a palavra certa, mas, depois de um tempo já passaram a pedir com mais
rapidez e segurança.
Alguns jogadores tiveram dificuldade em saber como montariam os números do tabuleiro com as fichas do
Decimando. Os participantes do grupo ajudavam os que estavam mais inseguros e os explicavam caso
pedissem por fichas erradas. As casas “0,40” e “0,030” foram as que trouxeram mais questionamentos.
Jogadores pediram quarenta fichas de um décimo no primeiro exemplo e trinta fichas de um centésimo no
segundo exemplo citado. Esse erro apareceu diversas vezes, tanto no Ensino Básico quanto no Ensino
Superior. Após dez rodadas contou-se a pontuação para ver quem ganhou em cada tabuleiro. Cada jogador
foi instruído a contar o valor das fichas que possuía, anotar na tabela, e depois fazer a soma no papel do
valor das casas onde parou durante o jogo, anotassem e entregassem a tabela. Das onze tabelas de
registro, os resultados das contas com o valor das fichas não eram iguais em 55% delas.
As dúvidas que apareceram durante o jogo confirmaram a necessidade de se trabalhar com números
decimais com a turma. Para os professores ensinarem uma Matemática sem regras aparentemente sem
sentido, é preciso que este entenda o sistema de numeração, estando claro o que isso representa e sem
vícios de linguagem que acabam dificultando o entendimento. A etapa seguinte consistiu em uma aula para
121
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
a turma de licenciatura usando o jogo como referência. Esta foi a primeira vez que se preparou uma aula
remetendo atividades ao Decimando. A aula continha atividades com números em sua forma decimal com
situações trazidas do jogo e outras que os alunos pudessem interagir de uma forma dinâmica. O
planejamento fluiu tão bem que precisou dos quatro tempos de aula (três horas). Escolheu-se três
atividades diferentes para dinamizar: as fichas do jogo, o material dourado e as mãos. A aula começou com
uma questão similar à do teste que perguntava quantos centésimos um número possuía. Colocando as
opções de resposta no quadro se viu as alternativas dos erros dos alunos no teste. Deixei a questão no
canto do quadro com as alternativas e continuei com o planejamento, para que depois das atividades
voltássemos para dar a resposta após as atividades. Todos em sala de aula estavam participando das
atividades e interagindo. A turma se dividiu em dois grupos e foi pedido para efetuarem somas utilizando
o material dourado, as fichas do jogo e as mãos, (onde cada um do grupo era uma ordem diferente dos
números nas operações). Após resolverem nos grupos eles apresentavam as resoluções para todos da sala
de aula. Uma conta de divisão foi colocada no quadro e pedi a ajuda da turma para que me explicassem
como eles faziam a operação. O intuito dessa atividade era observar se eles entendiam o passo a passo
“oculto” no algoritmo usado para a divisão.
A cada etapa da divisão foi escrito ao lado o que o processo significava, e a resposta dos licenciandos para
a parte inteira foi rápida. Porém, ao restar uma unidade na divisão por quatro simplesmente falaram
“Coloca o zero do lado do um no resto, a vírgula no quociente e continua fazendo a conta”. Questionou-os o
porquê do acrescimento do zero seguido da vírgula no quociente. Houve um momento de silêncio,
enquanto pensavam e disseram nunca ter parado para pensar no motivo pelo qual faziam isso,
simplesmente o faziam da forma que tinham aprendido. Até que um aluno respondeu: coloca o zero
porque estamos transformando a unidade em décimos. Completou-se apenas que se a divisão era de
décimos, o resultado seria décimos, logo, precisaríamos colocar a vírgula no quociente.
Em um último momento da aula foi proposto aos estudantes a realizarem a subtração com as fichas do
Decimando, e após, usar as fichas, fazer a conta com a dinâmica das mãos. No processo da subtração com
as fichas acontece o inverso da adição. Na adição é preciso fazer trocas de dez fichas iguais por uma de
ordem maior. Já na subtração, quando não se tem fichas suficientes para retirar em uma ordem, é
necessário que se troque uma ficha de uma ordem maior por dez fichas da ordem menor. Ao se depararem
com tal situação os alunos pararam para pensar e rapidamente solucionaram o que deveria ser feito.
Quando usaram as mãos, perceberam a necessidade de mais uma pessoa para auxiliar na quantidade de
dedos de uma ordem. Os futuros professores de Matemática se revezavam para apresentar as atividades
feitas.
A última aula da intervenção foi dedicada a aplicação do mesmo teste do primeiro encontro, acrescido de
um questionário com perguntas referentes a metodologia lúdica.
5.RESULTADOS
Um ponto de vista para analisar a evolução da turma foi a visão das autoras do trabalho. Durante a
dinâmica em sala com as atividades foi possível perceber uma melhora significativa por parte dos alunos
que apresentaram dificuldade no teste e durante o jogo. Participantes que no início se mostraram confusos
em relação aos números decimais, nas atividades já estavam os tratando de maneira mais íntima e
apresentando as respostas de forma clara. Os alunos ao final das atividades estavam verbalizando os
números decimais da forma correta e natural e operavam rapidamente com as fichas, mãos e material
dourado. Mesmo sem uma explicação prévia do que deveria ser feito, os estudantes subtraíram com os
materiais utilizados, fazendo as trocas necessárias. Isso mostra que o trabalho feito durante a aula que
seguiu o jogo foi fundamental para o amadurecimento em como entendem o nosso sistema de numeração
e suas operações.
Para analisar a opinião dos licenciandos, foram levadas em consideração suas falas, respostas no
questionamento final e os Resumos Avaliativos de cada aula pedido pela professora regente da turma. Ao
final dos testes alguns alunos comentaram positivamente sobre a pesquisa que participaram, dizendo ter
entendido melhor o nosso sistema de numeração e algoritmos das operações e por terem feito o mesmo
teste com muito mais confiança e com menos dificuldade. Mesmo os alunos que dominavam o conteúdo
relataram que a compreensão melhorou, e ao ver o tema de forma diferente, se atentaram a detalhes antes
não percebidos. Os relatos traduzem a perspectiva dos futuros professores de matemática de que a
pesquisa obteve ganhos para sua compreensão de números decimais e todos gostaram da metodologia
lúdica utilizada para abordar o conteúdo, achando válido levar tal metodologia às aulas do Ensino Básico.
122
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Analisando os testes da segunda aplicação ficou visível uma melhora após a realização das atividades.
Todas as questões apresentaram um melhor percentual em relação à primeira aplicação, inclusive com
questões tendo 100% de acerto, o que não aconteceu no primeiro teste.
123
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Figura 2 - Percentual de acerto dos dois testes
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa se iniciou de forma indireta em 2013 com os encontros para discussão de Educação
Matemática entre uma professora e estagiários do CAp-UERJ. Nesses encontros foi elaborado o jogo
Decimando para uma turma de sétimo ano, sendo aplicado depois em eventos de Educação Matemática e
em outras instituições de ensino e séries diferentes, chegando nesse trabalho a formação de professores
de Matemática.
A hipótese feita foi de que os alunos da graduação melhorariam o resultado no teste e compreenderiam
melhor o sistema de numeração, facilitando o entendimento das operações aritméticas. Outro resultado
esperado foi através da própria experiência motivar os alunos futuros professores a usarem a metodologia
lúdica em suas aulas. Ao término do trabalho todos os estudantes pesquisados apoiavam o uso da
metodologia lúdica nas salas de aula do Ensino Básico. A importância da Matemática Lúdica na formação
de professores se torna aqui presente. Trabalhar com essa metodologia no início do curso de graduação dá
a oportunidade aos futuros professores de a conhecerem, já que muitos relatam nunca ter jogado em uma
aula de Matemática antes, e amadurecerem o compromisso de utilizá-la durante sua formação inicial.
O jogo Decimando, ou atividades com suas fichas, tem espaço para ser usado desde os últimos anos dos
anos iniciais até a formação de professores, da Matemática e da Pedagogia, em cada segmento focando em
diferentes questões sobre o conteúdo. É possível adaptar as regras e tabuleiro e trabalhar com o jogo com
subtração, multiplicação e divisão abrangendo todas as operações básicas. Esta possibilidade emergiu
durante esta pesquisa. Os cursos de formação de professores de Matemática precisam dar mais atenção
quando se trata do conhecimento que esse professor tem da Matemática Básica, visto nas escolas. Os
professores da Educação Básica precisam de um conhecimento profundo da Matemática Elementar.
É importante que, ao utilizar jogos, o professor cite a atividade posteriormente, enquanto trabalha o
conteúdo. Relacionar o material do jogo com atividades em sala de aula, para que o aluno perceba que o
que jogou está de fato ligado à Matemática e formalizar o que foi visto, é fundamental para não ser apenas
o jogo pelo jogo.
REFERÊNCIAS
[1]
Brião, Gabriela F. Algumas insubordinações criativas presentes na prática de uma professora de matemática.
In: D’ambrosio, B.; Lopes, C. E. (Orgs.). Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2015, p. 87102.
[2]
Grando, Regina. O conhecimento matemático e o uso de jogos na sala de aula. Campinas, SP, 2000. Tese de
doutorado. Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas – Unicamp
[3]
1997.
Parâmetros curriculares nacionais : matemática / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : Mec/Sef,
[4]
www.Magiadamatematica.com, Os jogos e atividades lúdicas nas aulas de matemática da educação básica, SÁ,
Ilydio P. de. Acessado em 17 jul 2015.
124
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 15
Educação financeira nos anos iniciais do ensino
fundamental sob o olhar da inclusão
Barbara Cristina Mathias dos Santos
Luciana Troca Dantas
Chang Kuo Rodrigues
Resumo: Este trabalho integra o Grupo de Pesquisa Investigações no Ensino de
Matemática e Ciências e tem como objetivo apresentar um estudo de caso, desenvolvido
numa escola municipal de Duque de Caxias, cujos sujeitos são crianças com deficiência
intelectual leve e/ou moderada. Como a Educação Financeira reflete na vida social do
indivíduo, constatou-se essa abordagem pertinente na prática inclusiva, desde os anos
iniciais. A inclusão de pessoas com deficiência faz-se presente em vários setores da
atividade humana, até porque é seu direito firmar-se no mercado de trabalho quando
adultos. Para tanto, pretende-se observar as leis que tratam dos direitos de
aprendizagem da criança com deficiência, relacionar a Educação Financeira ao currículo
escolar, para assim, iniciar os primeiros passos na construção dos conceitos de educar
financeiramente. Diante disso, este trabalho tem um viés na formação continuada de
professores que atuam efetivamente na inclusão, diante de reflexões, discussões e
possibilidades de ação.
Palavras-chave: Educação Matemática; Deficiência Intelectual; Educação Financeira;
Matemática Inclusiva.
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1. INTRODUÇÃO
A Inclusão, no Brasil, está acompanhada de muitas inquietações no que tange às práticas pedagógicas bem
como a interação social, nos dias de hoje. A escola, neste sentido, atua em todas as vertentes, trabalhando
conteúdos sob as perspectivas atitudinais, conceituais e procedimentais, preconizadas pelos documentos
oficiais. Dentre vários temas a serem trabalhados com esse público, podemos destacar o preparo para o
exercício da cidadania, aqui, com o sentido da autonomia.
A escola, então, deve agir voltada para a inclusão das pessoas com deficiência, cumprindo as normas
previstas na Constituição Federal de 1988 que, em seu artigo art. 205, trata do direito, permanência e
atendimento especializado, afirmando categoricamente que “a educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
Já no caso do art. 206, “O ensino será ministrado com base no seguinte princípio: I - igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola” e, por fim, no art. 208: “o dever do Estado com a
educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos
portadores (sic) de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.” (BRASIL, 1988)
Vale dizer que o termo “portadores” foi devidamente substituído por “pessoas com deficiência”, de acordo
com a Secretaria de Direitos Humanos, Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência,
Resolução nº 1, de 15 de outubro de 2010.
Nesse sentido, a prática pedagógica no processo da inclusão tem sido um tema recorrente em grupos de
estudos e em qualquer ambiente de discussão docente. As dificuldades dos docentes em entender as
necessidades individuais do sujeito com deficiência representam o grande desafio na atualidade dentro de
uma instituição educacional. Essa problemática aumenta quando se une a ela a preocupação no que diz
respeito à perspectiva de futuro desse público, principalmente a inserção no mundo do trabalho, valendo
lembrar que a Lei 8.213 de 24 de julho 199115 que assegura a garantia de vagas para elas.
Para que se atinja o objetivo em questão é imprescindível que a escola desde cedo trabalhe com a questão
da conscientização sobre o uso dos recursos, tanto financeiros quanto ambientais. Sobre essa tomada de
consciência, recorremos à Fávero (2011) que considera três aportes particulares: a situação interacional,
a análise dos atos da fala e a tomada de consciência no sentido desenvolvimental piagetiano. De acordo
com a autora, adotar a análise dos atos da fala produzidos na interação implica em defender um
procedimento que, concomitantemente, evidencia a tomada de consciência de cada sujeito e bem como
seus processos de regulações cognitivas e metacognitivas, sendo este, realizado por meio da análise dos
processos comunicacionais das interações (FÁVERO, 2005 apud FÁVERO, 2011). Para proceder as
análises, recorremos a conceitos de Educação Financeira de modo a abordar questões simples do
cotidiano, levando o sujeito a pensar nas suas atitudes que envolvem o dinheiro, partindo de temas mais
simples para os mais complexos.
Percebemos na sociedade uma preocupação geral sobre o endividamento pessoal, por isso, na expectativa
de se garantir uma melhor qualidade de vida no futuro, a Educação Financeira tem recebido destaque
nacional e internacional nos últimos anos. Diante disso, conciliar os saberes matemáticos sob a ótica das
finanças e a educação inclusiva acaba por convergir em uma prática desafiadora, permitindo ampliar as
possiblidades de o educador matemático exercer potencialmente o seu papel no âmbito escolar.
2. A PESQUISA
Mais especificamente, esta pesquisa aborda a questão dos alunos com deficiência intelectual leve e/ou
moderada como critério de inclusão para os sujeitos da pesquisa, destacando ainda que o projeto desta
investigação passou pelo crivo do Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número CAAE
51197815.2.00005283. A deficiência intelectual teve seu conceito construído na Convenção da Guatemala,
em 2001, no artigo 1º como [...] “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou
transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada
ou agravada pelo ambiente econômico e social”. Durante muitos anos a medida do coeficiente de
inteligência (QI) foi utilizada como parâmetro de definição dos casos de deficiência intelectual, estando
A chamada Lei de Cotas (Lei 8.213 de 24 de julho 1991) garantiu a inserção de pessoas com deficiência no mercado
de trabalho. Atualmente, existem cerca de 306 mil pessoas com deficiência formalmente empregadas no Brasil. Desse
total, cerca de 223 mil foram contratadas beneficiadas pela Lei de Cotas, o que comprova a importância da Lei.
15
126
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
presente inclusive no CID 10 (Código Internacional de Doenças, desenvolvido pela Organização Mundial
de Saúde), que ao mencionar o Retardo Mental (F7079), classificando-o entre leve, moderado, grave e
profundo, conforme o comprometimento:
• Leve: QI entre 50 e 69 (em adultos, idade mental de 9 a menos de 12 anos). Podendo apresentar
dificuldades de aprendizado na escola. Muitos adultos poderão ser capazes de trabalhar e de manter
relacionamento social satisfatório e de contribuir para a sociedade.
• Moderado: QI entre 35 e 49 (em adultos, idade mental de 6 a menos de 9 anos). Podendo ocorrer atrasos
acentuados do desenvolvimento na infância, mas a maioria dos pacientes aprende a desempenhar algum
grau de independência quanto aos cuidados pessoais e adquirir habilidades adequadas de comunicação e
acadêmicas. Os adultos necessitarão de assistência em grau variado para viver e trabalhar na comunidade.
Grave: QI entre 20 e 40 (em adultos, idade mental de 3 a menos de 6 anos). Provavelmente deve
ocorrer a necessidade de assistência contínua.
Profundo: QI abaixo de 20 (em adultos, idade mental abaixo de 3 anos). Devem ocorrer limitações
graves quanto aos cuidados pessoais, continência, comunicação e mobilidade.
Cabe ressaltar que é garantido por lei, que o aluno, com deficiência, seja assistido em sua peculiaridade.
Para isso, levantamos a questão norteadora desta pesquisa: Como educar financeiramente as crianças na
perspectiva da inclusão? Para responder a esta pergunta, a pesquisa tomou como referencial teórico Jean
Piaget (1973; 1978a; 1978b) e seus estudos no que tange à epistemologia genética. Na busca de sintetizar
a contribuição de Piaget, utilizaremos os apontamentos de Chiarottino (1988) que, segundo o autor, tem
um sentido claro: o fato de o sujeito organizar, estruturar e explicar o mundo onde está inserido. Nesse
sentido, Chiarottino (1988, p.3) esclarece que: “conhecer não é somente explicar; e não é somente viver:
conhecer é algo que se dá a partir da vivência (ou seja, da ação sobre o objeto do conhecimento) para que
este objeto seja imerso em um sistema de relações”.
Em sua obra, Piaget (1973) propõe, então, uma teoria do conhecimento, em que busca fundamentá-las por
meio de critérios especificamente definidos e, cujo objetivo, segundo o autor é:
[...] levar a psicologia a sério e fornecer verificações em todas as questões de
fato que cada epistemologia suscita necessariamente; mas substituindo a
psicologia especulativa ou implícita, com a qual em geral se contentam, por
meio de análises controláveis. (PIAGET, 1973, p. 13)
As observações realizadas por Piaget, durante anos, acompanharam sujeitos da infância até a adolescência,
com uso de métodos específicos desenvolvidos pelo próprio autor. A epistemologia de Piaget, na sua
própria definição, destaca que não se trata de uma visão positivista e, sim, naturalista, por meio das
relações do sujeito com o objeto, na medida em que esse objeto, durante a observação, passa a ter
significados diferentes de acordo com o desenvolvimento do sujeito.
Nessa perspectiva, podemos considerar que Piaget apresenta o sujeito em um dinamismo cognitivo, em
constante aquisição e transformação das estruturas mentais; para isso, ele apresenta dois conceitos, a
saber: assimilação e acomodação. A assimilação, tal como Piaget define, seria a absorção de novos
conceitos oferecidos pelo meio aos mecanismos já construídos pelo sujeito, ao passo que, a acomodação,
por sua vez, representa as alterações que o sujeito faz intrinsecamente nos esquemas mentais, após uma
nova informação, ou seja, um processamento que se comprova por meio de mudança da prática.
Piaget, segundo Kamii (1993), defende outro conceito muito importante para a inclusão: a autonomia.
Esse termo estaria diretamente ligado à moral e à ética. Então o professor terá sempre em mente, como
objetivo da educação, a promoção da autonomia do aluno. Para Kamii (1993), o principio essencial para o
desenvolvimento da autonomia seria o de encorajá-los a debater sobre soluções para problemas sociais.
Dessa maneira, ao longo do tempo, essas crianças aprenderiam a decidir o que é melhor para todos os
envolvidos.
Nesse sentido, tendo assumido a ideia piagetiana de autonomia e relacionando-a com a matemática, podese pensar o ensino voltado para o desenvolvimento da capacidade da autonomia, quando as crianças
aprimoram seu raciocínio e confiança na própria habilidade de raciocinar. Espera-se também que eles se
tornem capazes de resolver problemas de formas diferentes e comparem com o pensamento de seus
pares.
127
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
3. OS MEIOS
O Estudo de Caso, segundo Gilberto Martins (2008) é uma das metodologias mais antigas na investigação
científica e tem seu ápice com a publicação da obra de Robert Yin: “Case Study Research: Design and
Methods”, consolidando-se uma referência básica para investigações sob este método. A preferência é
justificável pela consistência normativa dos procedimentos propostos pelo autor.
Na concepção de Martins (2008), o estudo de caso é uma estratégia metodológica de se fazer pesquisa nas
ciências sociais e nas ciências da saúde. Esta metodologia é destinada para avaliar ou descrever situações
onde o elemento humano está presente. Ainda em Martins (2008), busca-se compreender uma situação
em sua totalidade através de um mergulho profundo sobre o objeto delimitado para estudo.
Para André (1995), Dauster, Tosta e Rocha (2012 apud ALLEGRINI, 2013) o estudo de caso investiga
situações bem específicas, singulares, como uma pessoa, um grupo, uma sala de aula, uma cultura etc.,
contribuindo para a compreensão global de um fenômeno peculiar, sem a pretensão de modificá-las.
Em Educação, o estudo de caso pode ser utilizado como metodologia para as investigações sobre os
métodos de aprendizagem de avaliação e de outras práticas educativas. Como instrumento deste trabalho
de campo pode citar a análise documental, utilizando, também, diário de campo e entrevistas. (ANDRÉ,
1995; DAUSTER; TOSTA; ROCHA, 2012 apud ALLEGRINI, 2013)
De acordo com Yin (2005), o estudo de caso pode ser entendido como método rigoroso de pesquisa, que
usa uma abordagem sistêmica e sociológica, apoiando-se em exemplos concretos. Além disso, o autor
ainda sugere que um estudo de caso “atraente” deve reunir algumas características básicas:
Engajamento, instigação e sedução – essas são características incomuns dos estudos de caso. Produzir um
estudo de caso como esse exige que o pesquisador seja entusiástico em relação à investigação e deseje
transmitir amplamente os resultados obtidos. (YIN, 2005, p. 197). A metodologia do estudo de caso
implica, em particular, a existência de uma hipótese prévia, que será testada na aplicação durante a
investigação, o que não pressupõe que ela possa inadmitir uma construção de uma nova hipótese a partir
dos resultados obtidos na investigação.
Diante dessas reflexões, entendemos que esta pesquisa, que se debruçou no ambiente escolar num contato
direto com crianças com deficiência intelectual, tem no estudo de caso, uma metodologia apropriada,
aplicada nesse caso, com alunos com deficiência intelectual leve/moderada matriculados em turma
regular de ensino de uma escola Pública Municipal em Duque de Caxias, estado do Rio de Janeiro, que
verificará a hipótese de que é possível trabalhar educação financeira com crianças com deficiência
intelectual.
3.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Certa dos ganhos decorrentes da Educação Financeira, a sociedade está ao encontro do movimento em
defesa da inclusão, sobretudo, no âmbito escolar, e, tratando-se da inclusão de crianças com deficiência
percebe-se a necessidade de adaptação de conceitos e atividades.
As atividades desenvolvidas foram selecionadas no sentido de possibilitar o acesso das crianças com
deficiência de maneira que não somente se colha dados, mas principalmente se possa oferecer alguma
contribuição na formação da autonomia desses alunos. Elas se organizam em dois eixos: O Valor das
Coisas e Economia & Sustentabilidade.
O Valor das Coisas Neste eixo será explorado com a criança que todas as coisas têm um valor, mas que
existem coisas materiais (que podemos pegar) e imateriais (que não podemos pegar). As coisas materiais
são compradas com dinheiro, as imateriais não, mas que são também coisas de muito valor. Outro conceito
presente neste eixo é o da necessidade e desejo. Para aprender a consumir com responsabilidade é preciso
que a criança seja estimulada a fazer essa reflexão.
Economia & Sustentabilidade. Existem certas atitudes que se formadas nos anos iniciais de vida do
individuo se consolidam para toda a vida. Ensinar uma criança a cuidar de seus objetos estão diretamente
ligadas ao comportamento do adulto, que preserva tanto seus bens quanto o patrimônio público, bem
como se é ensinado a essa criança a valorizar seu próximo, ela o fará também. Cuidar bem de suas coisas é
economizar para se ter. Dentro desse eixo encontra-se também o cuidado com os bens coletivos. É
importante que a criança perceba que existem coisas que é para o uso de todos e devem ser preservados.
Exemplos possíveis para serem trabalhados na escola são a água, a energia e o papel. Outra reflexão que
128
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
este eixo proporciona é a cooperação e solidariedade. É importante que a criança se desenvolva com a
preocupação pelo próximo, isto é, responsabilidade social.
Pequenas atitudes como doar aquilo que não lhe serve mais, já faz o sujeito perceber o que é cooperação e
solidariedade. Para início de investigação, aplicou-se um questionário a fim de analisar os conhecimentos
prévios da criança. As atividades aplicadas foram adaptadas da coleção “Descobrindo o Valor das Coisas: o
guia de educação financeira para pais e professores ensinarem as crianças brincando”, de Cerbasi (2012).
Para ilustrar uma atividade pertencente a “O Valor das Coisas”, segue como exemplo na Figura 1.
Figura 1: Atividade do eixo “O Valor das Coisas”
Fonte: Dados da Pesquisa
4. RESULTADOS
A presente pesquisa foi aplicada em uma escola pública, no município de Duque de Caxias, com três alunos
com deficiência intelectual do Ensino Fundamental que são identificados como D.8, R.10, e J.12. As
entrevistas ocorreram individualmente bem como as outras atividades.
Como ilustração, será apresentada a transcrição da entrevista realizada com um dos sujeitos sobre alguns
subtemas da Educação Financeira.
P – Pesquisador E - Entrevistado: R. 10 anos
P - Você sabe o que é dinheiro e pra que ele serve?
E- Pra fazer compras.
P- Como o que por exemplo?
129
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
E- Comprar arroz, feijão e batata.
P- Você sabe como faz pra ganhar dinheiro?
E- É só ir no banco tirar
P- Você acha que para ser feliz precisa de muito ou pouco dinheiro?
E- muito
P- Por que? O que você acha que o dinheiro vai fazer a gente ser mais feliz?
E- Comprar material, caderno, estojo.
P- Alguém dá dinheiro para você?
E- minha mãe.
P- E o que você faz com o Dinheiro?
E- Compro caderno, lápis, guaraná.
P- Você ganha dinheiro sempre ou quando merece?E – Quando merece.
P- O que você faz para merecer?
E- eu lavo louça porque minha mãe ganhou neném.
P- Você tem algum sonho?
E – telefone
P- você sabe que o telefone tem que pagar uma conta todo mês?
E – sei
P- Você acha que vai ter dinheiro para pagar a conta?
E – Nunca
P – Se você quisesse realizar seu sonho, o que você poderia fazer?
E- Comprar outra coisa, um tablet
P- Um tablet e o telefone precisa de muito dinheiro. Como você pode fazer para conseguir muito dinheiro?
E – É só ir no banco para tirar muito dinheiro.
P- Quem você acha que coloca o dinheiro no banco?
E – O prefeito
P – Você acha importante guardar o dinheiro?
E – sim
P – Você guarda dinheiro? Para que?
E – Comprar um chinelo.
Analisando a intervenção acima apresentada, buscou-se retomar à questão levantada nesta pesquisa:
Como educar financeiramente as crianças na perspectiva da inclusão? Nesta entrevista em particular
pode-se comprovar que R.10 tem contato com dinheiro dentro da própria casa. Apesar de não demonstrar
conhecimento de como a família faz para perceber uma remuneração, em casa, ela sabe que se colaborar
com algum serviço será recompensada. Foi possível perceber, que a felicidade para R.10 está ligada aos
bens materiais, que neste caso se fez por meio de material escolar. O banco para ela, tem significado de
muito dinheiro. Citou o sonho de adquirir um telefone mesmo sabendo que não terá recursos para mantêlo em sua função principal (comunicação).
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Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão não se refere a adaptação do sujeito a escola, mas o inverso: a escola se adapta ao sujeito. Nesta
adaptação estão embutidos o currículo e os métodos. Assim, esta pesquisa abraça o viés da Educação
Financeira como contribuição de uma formação pautada na autonomia desses sujeitos.
Sabendo da necessidade de tempo para a aprendizagem da pessoa com deficiência, a proposta é que se
inicie com a temática da Educação Financeira nos anos iniciais do ensino fundamental. As atividades
propostas nos procedimentos metodológicos foram permeadas por situações da vida diária dessas
pessoas, contextualizando da melhor forma o conteúdo trabalhado.
Por meio do estudo de caso, foram aplicadas a entrevista e as atividades com crianças de 8, 10 e 12 anos,
com quadro específico de deficiência intelectual leve/moderada.
Para a análise dos resultados, recorreu-se ao aparato teórico de Piaget quando ele destaca que a
aprendizagem é uma construção que se dá de maneira natural, por meio das relações do sujeito com um
objeto que pode ainda ter significados diferentes na medida em que o sujeito se desenvolve.
Para se educar crianças com deficiência intelectual financeiramente, é necessário que se utilize atividades
com mínima progressão de complexidade, de modo que se diagnostiquem quais relações estes sujeitos já
possuem com o objeto de estudo e quais conceitos formados eles tem a esse respeito. Não se deve negar a
importância dessa abordagem para este público com especificidades próprias. Espera-se, contudo, após a
intervenção que eles se tornem capazes de decidir acertadamente os diferentes problemas não apenas
financeiro, mas os de toda uma vida.
REFERÊNCIAS
[1]
André, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995. Angrosino, M.; Flick, U. (Coord.).
Etnografia e observação participante. Porto Alegre: Artmed, 2009. BRASIL. Ministério da Justiça. Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Declaração de Salamanca: linhas de ação sobre
necessidades educativas especiais. Brasília: Corde, 1994. _____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e
Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: Mec/Semtec, 1999 Chiarottino, Z. Psicologia e
epistemologia genética de Jean Piaget. São Paulo: EPU, 1988. Cerbasi, G.; Sousa, M. Descobrindo o valor das coisas: o
guia da educação financeira para pais e professores ensinarem seus filhos brincando. 1 ed. São Paulo: Gente, 2012.
Fávero, M. H. A pesquisa de intervenção na psicologia da Educação Matemática: aspectos conceituais e metodológicos.
Educar em Revista, v. 1, p. 47-62, 2011. KAMII, C. Aritmética: novas perspectivas-implicações na teoria de Piaget.
Campinas, SP: Papirus, 1993. Martins, G. A. Estudo de Caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.
Organização Mundial da Saúde. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde –
CID-10. Disponível em: <www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.ht... Acesso em: 01 nov. 2015
[2]
Piaget, J. A Epistemologia Genética. Trad: Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Vozes, 1973. _____. O
Nascimento da Inteligência na Criança. Trad. Alvaro Cabral, Rio de Janeiro: Zahar, 1978a. _____. Psicologia e
Epistemologia: por uma teoria do conhecimento. Forense Universitária, 1978b. YIN, Robert K. Estudo de Caso,
planejamento e métodos. 2.ed. São Paulo: Bookman, 2001.
131
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 16
Softwares matemáticos na prática pedagógica: Uma
reflexão sobre o uso em escolas públicas
Ana Cristiane de Sousa
Ruth Brito de Figueiredo Melo
Resumo: A utilização de softwares educativos no ensino da matemática vem tornando as
aulas mais atrativas proporcionando aos educandos um aprendizado significativo,
diferenciado e contextualizado. Dessa forma, este trabalho foi realizado através de uma
pesquisa exploratória e descritiva, com o objetivo de avaliar as potencialidades e
limitações da utilização de alguns softwares matemáticos e investigar o uso dos mesmos
por parte de alguns profissionais da área nas suas práticas pedagógicas. Para a
realização da pesquisa, foi aplicado um questionário aos professores de matemática de
quatro escolas públicas de Campina Grande, com enfoque qualitativo e quantitativo, em
que os dados obtidos foram tratados em médias utilizando-se o programa Excel. Com
base nos resultados encontrados, observamos, no que tange as limitações do uso dos
softwares, a falta de incentivo que possibilite uma formação continuada à área específica
de cada professor e a precariedade das condições físicas das escolas, bem como a
insuficiente quantidade de computadores que atenda a demanda dos alunos; enquanto
que as maiores potencialidades se deram para as atribuições de melhor absorção dos
conteúdos, troca de informações e experiências entre alunos e professores na obtenção
de um maior envolvimento destes.
Palavras-chave: Software matemático, Limitações, Potencialidades.
132
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1. INTRODUÇÃO
Segundo Lourenço (2010), despertar a curiosidade e a motivação nos alunos nem sempre é uma tarefa
fácil. Para motivá-los é necessário apresentar os conteúdos como atividades ou experiências
enriquecedoras que incentivem o interesse e a curiosidade.
A utilização de softwares educativos no ensino da matemática vem tornando as aulas mais atrativas
proporcionando aos educandos um aprendizado significativo, diferenciado e contextualizado (DULLIUS e
HAETINGER, 2005).
Portanto, a presente pesquisa tem seu problema ligado as seguintes questões: Quais os obstáculos que
geram a resistência ao uso dos recursos computacionais por parte dos professores nas aulas de
matemática? Como o uso de novas tecnologias interfere no processo de ensino aprendizagem da
matemática?
Softwares, tais como, Geogebra, Excel, Matlab, Poly, trilha matemática 1.0, Math Educator 1.2 e outros, são
programas matemáticos que podem ser utilizados para uma melhor explanação dos conteúdos de
matemática no dia a dia, inclusive para dinamizar as aulas. Tais programas, citados na pesquisa, podem
tornar-se de conhecimento dos professores de matemática como mais uns dos recursos didáticos a serem
utilizados em sua prática pedagógica, levando-os a uma reflexão sobre a relevância do uso dos mesmos.
De acordo com Cysneiros (2000), a inserção da informática no ambiente escolar faz-se necessária,
permitindo o acesso dos indivíduos a um bem cultural que deveria ser disponível para todos, sendo
também imprescindível haver investimento por parte das autoridades governamentais na melhoria da
educação pública, que visa à formação de uma geração capaz de competir no mercado de trabalho e,
sobretudo, na sociedade globalizada.
Diante do relato, e associado ao interesse em abordar seu contexto no âmbito escolar, este trabalho tem
por objetivo avaliar as potencialidades e limitações da utilização de alguns softwares matemáticos e
investigar o uso dos mesmos por parte de alguns profissionais da área nas suas práticas pedagógicas.
2. EMERGÊNCIA DO US O DAS MÍDIAS DIGITAIS NO ENSINO DA MATEMÁTICA
Para Tedesco (2004, p. 11), A incorporação das novas tecnologias à educação deveria ser considerada
como parte de uma estratégia global de política educativa e, nesse sentido, destaca que as estratégias
devem considerar, de forma prioritária, os professores, considerando que as novas tecnologias modificam
significativamente o papel do professor no processo de aprendizagem e as pesquisas disponíveis não
indicam caminhos claros para enfrentar o desafio da formação e do desempenho docente nesse novo
contexto.
O professor, por outro lado, consciente de que não consegue alcançar resultados satisfatórios junto a seus
alunos e tendo dificuldades de, por si só, repensar satisfatoriamente seu fazer pedagógico, procura novos
elementos muitas vezes meras receitas de como ensinar determinados conteúdos que, acredita, possam
melhorar esse quadro. Uma evidência disso é, positivamente, a participação cada vez mais crescente de
professores em encontros, conferências ou cursos (SANTANA e MEDEIROS, 2014).
O uso de Tecnologia Informática (TI) em atividades do cotidiano cresce velozmente em toda nossa
sociedade, e, em particular, nas escolas. Este fato, aliado a diferentes tipos de ações nas próprias escolas,
tem mudado o cenário da educação, oferecendo novas possibilidades de trabalhar as diferentes disciplinas
do currículo (ZULATTO,2002).
Dessa forma, o emprego das mídias na Educação Matemática aumenta a capacidade de exploração e
descoberta, gerando o aprendizado de conceitos matemáticos envolvidos nas construções em sala de aula,
em que os meios digitais podem servir como ferramentas essenciais para a aprendizagem ou pesquisa de
conceitos matemáticos (BERNART, 2010).
3. VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DE SOFTWARES NO ENSINO DE MATEMÁTICA
São muito evidentes os sinais da importância do uso do computador nas instituições de ensino. Como
qualquer ferramenta educativa, o computador possui vantagens e desvantagens, sendo mais apropriado
para algumas aplicações do que para outras, em que verifica-se, a utilização do mesmo não é a resposta
para todos os problemas educacionais, sendo indispensável portanto a prevalência das boas práticas que
tiveram êxito no sistema educacional, uma vez que depende de qualidades humanas para que ele seja
usado de uma forma eficiente (IÉGAS e LUPPI, 2007).
133
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Através de recursos computacionais podemos oferecer, de maneira rápida, o conteúdo necessário para
aprendizagem e estendermos as abordagens passivas utilizadas para o ensino atual, provendo exemplos
interativos com animações gráficas que ilustrem o funcionamento de funções, cálculos e construções
geométricas, dentre outras áreas. Com a experimentação e o retorno gráfico destas ferramentas,
poderemos obter resultados sensivelmente positivos ao ensino de matemática (ISOTANI, SAHARA e
BRANDÃO, 2001, p. 02).
Dessa forma, assim como um bom livro-texto não é, por si só, garantia de um bom curso, também um bom
software precisa ser bem explorado por professores e alunos para dar bons resultados. Ao contrário do
que esperam muitos administradores educacionais o computador não faz milagre (DULLIUS e
HAETINGER, 2005).
A inserção de softwares matemáticos como suporte didático se, bem utilizados e direcionados no alcance
do objetivo proposto vem contribuir e atuar de forma direta na minimização de diferenças entre as duas
realidades, possibilitando assim, a formação de uma escola mais instigante a partir do uso de novas
tecnologias de informação e comunicação condizendo com o que pais e alunos de hoje esperam do ensino
e da instituição escolar: uma escola moderna, preparada e dinâmica, que estimulam educandos e
educadores na construção coletiva e busca do conhecimento, haja vista que o conhecimento é construído
na mente do aprendiz.
4. DIFICULDADES DA IMPLANTAÇÃO DE SOFTWARES MATEMÁTICOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA
A Matemática, como ciência, sempre teve uma relação muito especial com as tecnologias, desde as
calculadoras e os computadores, aos sistemas multimídia e à internet. No entanto, os professores (como,
de resto, os próprios matemáticos) têm demorado a perceber como tirar partido destas tecnologias como
ferramenta de trabalho. O grande desafio que elas põem hoje em dia à disciplina de Matemática é saber se
está conseguirá dar uma contribuição significativa para a emergência de um novo papel da escola ou se
continuará a ser a parte mais odiosa do percurso escolar da grande maioria dos alunos (DULLIUS e
HAETINGER, 2005).
De acordo com Mercado (2002) e Lorenzato (2006, p.52) essas limitações acontecem devido à formação
que o professor recebe do curso superior em licenciatura de Matemática, uma vez que favorece estudos e
pesquisas direcionadas ao terceiro grau, preterindo a um segundo plano a formação do futuro docente
para atuar como professor do ensino fundamental ou médio.
Outro motivo está relacionado à necessidade do domínio de metodologias de ensino, por parte do
professor. Não basta a este profissional dominar apenas o uso da informática educativa. Ele precisa
aprender a fazer seu planejamento pautado nas possíveis dificuldades dos alunos com relação ao tema da
aula. Esse planejamento precisa contemplar também a mediação do professor durante a aula, no sentido
de favorecer aos alunos momentos em que possam apresentar suas soluções para eventuais discussões.
Mercado (2002) afirma que as tentativas para incluir o estudo das novas tecnologias nos currículos dos
cursos de formação de professores esbarram ainda nas dificuldades com investimento exigido para a
aquisição de equipamentos.
5. METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida em quatro escolas estaduais de ensino fundamental e/ou médio: Irmã
Stefanie, Escritor Alceu do Amoroso Lima, Dom Luiz Gonzaga Fernandes e Severino Cabral, localizadas no
bairro das Malvinas, Cinza e Bodocongó na cidade Campina Grande –PB. A população foi composta por dez
professores de matemática das escolas estaduais citadas acima, durante o período de funcionamento nos
três turnos, no período de agosto de 2014.
O projeto foi desenvolvido pela acadêmica do curso de Especialização em Fundamentos da Educação:
Práticas Pedagógicas Interdisciplinares, da Universidade Estadual da Paraíba, situada em Campina Grande
– PB, e aplicado um questionário com questões de 1 à 11 que teve enfoque qualitativo para que se
pudessem analisar melhor as informações fornecidas pelos professores.
Posteriormente, foi realizada uma análise quantitativa em que os dados obtidos foram tratados em médias
utilizando-se o programa Excel e qualitativa, utilizando-se triangulação dos dados, objetivando constatar o
uso de softwares matemáticos nas práticas pedagógicas.
134
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
6. ANÁLISE DE DISCUSSÃO DE DADOS
Após a aplicação do questionário aos professores e professoras que lecionam matemática nas quatro
escolas públicas pesquisadas, fizemos a triangulação dos dados coletados transformando em informações
as questões que julgaram ser mais relevantes, quanto à construção de novos modelos de ensino na
edificação do saber. Partindo desse pressuposto, gráficos e tabelas foram inseridos a fim de discorrermos
melhor e de forma mais detalhada os resultados obtidos, como veremos posteriormente. A análise dos
dados foi quanti-qualitativa.
Perguntamos inicialmente aos envolvidos na pesquisa, quais os softwares relacionados abaixo seriam de
conhecimento de cada professor entrevistado e registramos na Figura 1 a seguir.
Figura 1. Relação de softwares conhecidos pelos entrevistados
A partir das respostas registradas, observamos que nove dos professores e professoras (90%)
questionados, afirmaram conhecer o software Geogebra, seguidos do excel que representou 60% dos
entrevistados. Via de regra, apenas um dos professores (as) examinados corfirmou ter conhecimento no
Math educator 1.2 e /ou outros softwares não mencionados na pesquisa.
Na figura 2 possibilitou-se identificar que nem todo docente encontra-se totalmente conectado as
tecnologias disponíveis, verificando-se que este fato pode estar atrelado também à faixa etária de
professores pesquisados.
Figura 2. Percentual de faixa etária de docentes que utilizam algum software na prática pedagógica
5
RELAÇÃO ENTRE FAIXAS ETÁRIAS DE IDADES
40%
40%
4
3
25 à 38
2
10%
10%
40 à 50
1
0
Sim
Não
135
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
A análise de dados, em relação ao questinário aplicado contemplou na Tabela 1, a avaliação dos
professores quanto ao grau de dificuldades no manuseio dos softwares matemáticos, que resultou no
seguinte: nas questões relativas à Falta de incentivo (políticas públicas) e precariedades das condições
prediais e insuficiência de computadores, destacam-se os maiores graus de dificuldades, com uma
hegemonia de concordância de oito pessoas, cada. Entretanto, para o parâmetro estudado (Menor), foi
obtido apenas um voto, que se deu de forma semelhante para as questões de falta de conhecimento e
qualificação por parte dos professores, bem como, falta de incentivo por parte das políticas públicas que,
anteriormente ganhou o maior número de votos enquanto avaliados no parâmetro (Maior).
Tabela 1. Avaliação dos professores quanto ao grau de dificuldades no manuseio dos softwares
matemáticos.
Numa escala de 1 a 5, sendo 1 para a maior dificuldade e 5 para a
menor dificuldade encontrada, avalie com relação a esses graus o
manuseio dos softwares matemáticos?
Dificuldade
Maior
Menor
Razoável
Falta de conhecimento e qualificação por parte dos professores
4
1
5
Falta de incentivo (políticas públicas) que possibilitem uma
formação continuada à área específica de cada professor
8
1
1
Estabelecer a escolha do melhor software que se adeque ao
conteúdo estudado
3
4
3
Falta de motivação para a utilização dos softwares
4
3
3
Precariedade das condições prediais (tamanho e condições físicas)
e insuficiente quantidade de computadores que atenda a demanda
dos alunos.
8
2
-
Atribuições
Segundo Salvan (2004), toda prática de ensino contém uma teoria de aprendizagem predominante,
explicitada de forma consciente ou inconsciente pelo professor. Contudo, nenhuma teoria sozinha explica
como acontece o processo de aprendizagem. Pretto (1996) admite, que as novas tecnologias podem
representar uma nova forma de pensar e sentir ainda em construção, vislumbrando, assim, um papel
importante para elas na elaboração do pensamento.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada demonstrou que o número de pessoas que têm acesso a computadores, internet ou
mesmo recursos digitais (softwares), tem aumentado significativamente. No entanto, torna-se
imprescindível que educadores como um todo (jovens e mais velhos) tenham uma formação pedagógica
no qual as mídias sejam aplicadas e discutidas nesta perspectiva, uma vez que elas também estão a serviço
da educação.
Com relação aos graus de dificuldades sugeridos no manuseio dos softwares matemáticos, as opiniões
foram quase que unânimes com relação à falta de incentivo (políticas públicas) que possibilitem uma
formação continuada à área específica de cada professor e precariedade das condições prediais (tamanho
e condições físicas) e insuficiente quantidade de computadores que atenda a demanda dos alunos,
percebendo assim que esses dois itens foram considerados como sendo as maiores barreiras impostas ao
dinamismo e progresso das práticas pedagógicas.
136
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
REFERÊNCIAS
[1]
BERNART, A. M. Mídias digitais: um diferencial no ensino e aprendizagem de matemática. 2010. Disponível
em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31595/000782509.pdf?...1> . Acesso em 20 jan. 2014
[2]
<http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/9996/1/SCAN0002.pdf.> Acesso em: 20 jan. 2014.
[3]
CYSNEIROS, P. G. “A gestão da Informática na Escola Pública”. In: XI. Simpósio Brasileiro de Informática na
Educação. Maceió – AL. Anais... SBIE 2000.
[4]
DULLIUS, M. M.; HAETINGER, C. Ensino e aprendizagem de matemática em ambientes informatizados:
concepção, desenvolvimento, uso e integração destes no sistema educacional. 2005. Disponível em: <
http://www.pucrs.br/famat/viali/tic_literatura/artigos/tics/Dulius_Haetinger.pdf>. Acesso em 20 jan.2014.
[5]
IÉGAS, A.L.F.; LUPPI, M. R. A formação do Professor Frente às Novas Tecnologias. Disponível em:
[6]
<http://www.uel.br/pessoal/berbel/metodologia_da_problematiza%E7%E3o/docs/3-
[7]
01082K2.doc> Acesso em: 20 jan. 2007.
[8]
ISOTANI, S.; SAHARA, R. H.; BRANDÃO, L. O. 2001. iMática: Ambiente Interativo de Apoio ao Ensino de
Matemática via internet. São Paulo, Instituto de Matemática e Estatística - Universidade de São Paulo (USP).
[9]
LORENZATO, S. Para aprender matemática. Campinas/SP: Autores Associados, 2006.
[10]
LOURENÇO, A.; PAIVA, M.O.A de. A motivação escolar e o processo de aprendizagem. Revista Ciências &
Cognição, v.15, n.2, p.132-141, 2010.
[11]
MERCADO, L.P.L. Novas tecnologias na educação: reflexão sobre a prática. Maceió: EDUFAL, 210p. 2002.
[12]
PRETTO, N. 1996. Uma escola sem/com futuro – educação e multimídia. Campinas: Papirus.
[13]
SALVAN, A. F. M. Avaliando as dificuldades da aprendizagem em matemática. 2004. 61f. Especialização.
(Trabalho de Monografia em Educação da Matemática) – Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC.
[14]
SANTANA, J. C. de; MEDEIROS, Q. A Utilização do uso de novas tecnologias no ensino de ciências. Disponível
em
<http://www.senept.cefetmg.br/galerias/Arquivos_senept/anais/terca_tema1/TerxaTema1Artigo14.pdf.>.
Acesso em 25 de ago. 2014
[15]
TEDESCO. J.C. Introdução. In: TEDESCO, J.C. (Org.). Educação e novas tecnologias: esperança ou incertezas.
São Paulo: Cortez; Buenos Ayres: Instituto Internacional de Planeamiento de la Educación; Brasília: UNESCO, 2004.
[16]
ZULATTO, R. B. A. Professores de matemática que utilizam softwares de geometria dinâmica: suas
características e perspectivas. 2002. 184f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Universidade Estadual
Paulista, Campos de Rio Claro, SP.
137
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Capítulo 17
Gincana de matemática: Uso de kits educacionais
conforme habilidades da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC)
Jerônimo Freire Silva
Resumo: O Ensino Fundamental, com nove anos de duração, é a etapa mais longa da
Educação Básica no Brasil, atendendo estudantes entre 6 e 14 anos. A problemática em
que se insere esta pesquisa está relacionada aos baixos rendimentos do IDEB em
matemática de 11 escolas dos anos finais do ensino fundamental da cidade do Natal/RN
(G11). Com o objetivo de motivar os seus principais atores (professores de matemática e
estudantes), foi realizada uma Gincana de Matemática na Escola Municipal Francisca
Ferreira com uso de Kits Educacionais com ênfase nas unidades temáticas: Álgebra,
geometria, grandezas e medidas. Esta pesquisa teve como objetivo investigar a utilização
de diferentes estratégias (jogos matemáticos e resolução de problemas), na elaboração
dos problemas/desafios com base nas habilidades do 6o ao 9o ano da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), conforme critérios de construção dos desafios, segundo
Pólya e a importância do conhecimento prévio proposto por Ausubel. O processo
metodológico, deu início com uma oficina de 8 horas na capacitação dos professores
convidados do G11, para o uso dos Kits Educacionais, organização da Gincana e
principalmente na elaboração dos problemas/desafios. Após a Gincana foram analisados
os questionários online aplicados com os participantes, constatou-se a forma prazerosa
pelo uso dos Kits (inovadora e contextualizada) e o aumento da motivação dos
estudantes na discussão dos assuntos abordados. Conclui-se que a experiência foi
exitosa para professores e estudantes, devendo a mesma se repetir nas demais escolas
do G11, esperando com isso nas próximas avaliações do IDEB melhores resultados.
138
Palavras-chave: Gincana, Matemática, estratégias, recursos educacionais, BNCC.
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
1. INTRODUÇÃO
Durante todo o processo de escolarização no Brasil, mais especificamente no ensino fundamental, os
estudantes se encontram imersos em cenários educacionais que colaboram ou não com o seu aprendizado,
isso dependendo das estratégias de aprendizagens, dos recursos educacionais e principalmente da
qualidade docente. Nas últimas décadas avanços foram realizados para diagnosticar a qualidade do ensino
nas escolas, periodicamente as instituições de ensino são avaliadas, dentre os quais podemos destacar o
IDEB. Nos últimos exames se constata que, 8 de cada 10 alunos concluintes do ensino fundamental não
aprenderam o adequado em Matemática. A meta estabelecida para o ano de 2022 é que o IDEB das escolas
seja 6,0, média que corresponde a um sistema de educação de qualidade, comparado aos dos países
desenvolvidos.
Recentemente o MEC oficializou a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). É um documento de caráter
normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos
devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham
assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o
Plano Nacional de Educação (PNE). Este importante documento, somado aos recursos didáticos (Kits
Educacionais), será de grande valia para apresentar estratégias de aprendizagem no ensino da matemática
básica conforme proposta da elaboração dos problemas para Gincana em estudo.
A matemática sempre esteve presente em nosso meio, desde os tempos mais remotos da história da
humanidade e mais ainda na contemporaneidade com os avanços tecnológicos e científicos, se
consolidando como uma das disciplinas mais necessárias e presentes no currículo escolar, pois desenvolve
papel importante no aprendizado dos estudantes, desde que seja trabalhada corretamente, respeitando o
processo de desenvolvimento dos alunos.
As preocupações quanto as deficiências no ensino e aprendizagem da matemática é visto na literatura
tanto a nível nacional como internacional, trabalhos como os de Dienes (1973), Kline (1976) e pesquisas
como as de Schliemann (1991) e D`Ambrósio (1996), e outros tem colaborado para documentar os
avanços e os obstáculos nas práticas pedagógicas.
Com o objetivo de melhorar os dados do IDEB de 11 escolas municipais da cidade do Natal/RN (G11), foi
realizada uma oficina com os professores de matemática, com o propósito de atualizar estratégias de
aprendizagem com uso de kits Educacionais (unidades temáticas: Álgebra, geometria, grandezas e
medidas). Os professores são capacitados para elaborar problemas / desafios embasados nas habilidades
do 6o ao 9o ano da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), conforme critérios de construção dos
problemas/desafios, segundo Pólya (1945) e a importância do conhecimento prévio proposto por Ausubel
(1968). Uma das escolas do G11, a escola municipal Francisca Ferreira foi escolhida para ser a sede da
GINCANA de Matemática.
O Centro Universitário Mauricio de Nassau, através da disciplina Metodologia do Ensino da Matemática,
estudantes do curso de Pedagogia analisam o uso de jogos e resolução de problemas como um recurso
facilitador no processo de ensino e aprendizagem da matemática na Educação Infantil e nos anos iniciais
do Ensino Fundamental.
Do ponto de vista da matemática, a palavra “problema” tem conotação diferente do senso comum, pois a
mesma é entendida como algo que pode trazer consequências desagradáveis. De uma forma geral, as
pessoas tendem a evitar problemas. No caso da matemática, é a garantia de horas dedicada a encontrar a
resposta para o desafio proposto, todo esse esforço pode vir acompanhado de prazer e ser algo
apaixonante. A resolução de problemas e desafios é a habilidade mais útil que um aluno pode
experimentar em uma disciplina de matemática. Cabe ao professor a maestria de conduzir a sua prática
pedagógica, motivando as técnicas de resolução com uso das ferramentas matemáticas (conteúdos), para
que o aluno possa raciocinar, ordenar e classificar informações, prever e testar hipóteses, e avaliar as
soluções. Quando isso é colocado no sentido competitivo de uma gincana é importante também saber
trabalhar em equipe, pois além das habilidades intelectuais os estudantes experimentam o autocontrole
emocional.
139
2. METODOLOGIA
O processo metodológico deste trabalho de pesquisa teve início com uma oficina de capacitação dos
docentes, com o intuito de prepara-los para organizar e administrar uma GINCANA de matemática com
uso de Kits Educacionais específicos para os conteúdos de matemática a serem abordados no evento. Após
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
a capacitação foi realizada uma Gincana de matemática na escola municipal Francisca Ferreira, do grupo
G11, com IDEB abaixo das metas estabelecidas pela Secretaria Municipal de Educação. Como instrumentos
de avaliação foram realizadas entrevistas com os estudantes e aplicado um questionário sobre as
atividades da Oficina com os professores convidados do G11.
Participantes, Procedimentos e Instrumentos.
Em 09/11/2017 foi realizada a Oficina “Gincana de Matemática” no Centro de Capacitação de Professores,
CEMURE, com a participação de 13 professores de matemática do G11, com carga horaria de 8 horas,
distribuída em dois dias. Nesta ocasião foram ministrados os assuntos: O Ensino de Matemática no Brasil
(Dicotomia entre teoria e prática); A importância da Ludicidade no Ensino da Matemática; A
aprendizagem por Projetos – Como organizar e executar uma GINCANA de Matemática?; Como
administrar a gincana motivando; A mesa avaliadora dos trabalhos – Quais os critérios?; A premiação.
Certificação CIDEPE “QUALIDADE DE ENSINO”; Como construir os Desafios e o uso dos recursos didáticos
(Kits) conforme as habilidades do BNCC; Conhecendo o Painel Demonstrativos EQ319 - Destinado ao
estudo de razões, proporções e triângulos semelhantes; Conhecendo o Painel Demonstrativos EQ327 Destinado ao estudo de proporção inversa e equação do primeiro Grau e Inequações; Conhecendo o Painel
Demonstrativos EQ377D – Destinado ao estudo da Geometria (polígonos, perímetro e área); O Uso das
TICs no Ensino da Matemática e Construindo o registro da Gincana nas Redes Sociais. Ao final das
atividades da oficina, foram selecionados 5 problemas / Desafios para ser trabalhados na GINCANA de
Matemática.
No dia 20/11/2017 na Escola Municipal Professora Francisca Ferreira da Silva, localizada na Avenida
Industrial João Francisco da Motta, nº 3804, Bairro Bom Pastor, Zona Oeste de Natal, Estado do Rio Grande
do Norte foi realizada a Gincana, no turno vespertino com a participação das turmas do Ensino
Fundamental com a participação de 4 grupos, identificados por cores das camisetas (branco, preto,
vermelho e azul) formados por um aluno do 6 ao 9 ano, totalizando 4 estudantes por grupo. O local da
realização da GINCANA foi no pátio da escola, uma área retangular de aproximadamente 600 metros
quadrados, onde foi instalada a mesa avaliadora dos trabalhos com a participação dos professores (8) e
com o cerimonial sob responsabilidade dos professores de matemática da Escola Municipal Professora
Francisca Ferreira (Jerônimo Freire, Angélica M R de Lima Oliveira e Alberto de Souza e Silva). O layout do
espaço físico da Gincana, com a distribuição dos participantes e instrumentos necessários a qualidade do
evento. Em cada vértice do pátio foi colocado uma mesa e 4 cadeiras para os componentes dos respectivos
grupos do 6 ao 9 ano, com suas torcidas. A Gincana é dividida em 3 etapas, a primeira consta de ações a
serem realizadas pelo grupo com a participação da sua respectiva torcida com o intuito de criar um clima
solidário e ético entre os participantes, na segunda etapa são apresentados jogos matemáticos (raciocínio
logico) a serem realizados entre os grupos e por último, a etapa 3 direcionada aos problemas / desafios
com o uso dos Kits Educacionais.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.
Da oficina de capacitação dos professores foi elaborado um quadro referente ao KIT educacional
selecionado para trabalhar os conteúdos de matemática conforme as unidades temáticas referentes a cada
ano do ensino fundamental do BNCC.
Cada habilidade (conforme área temática e objeto do conhecimento) apresentada nos quadros (1,2 e 3)
está sinalizando um problema para cada ano do ensino fundamental. Os professores após o entendimento
do uso dos Kits e dos critérios de construção dos problemas trabalhados na Oficina estão aptos a propor os
desafios (construir).
140
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Quadro 1 - EQ327 - Estudo de proporção inversa e equação do primeiro Grau e Inequações.
Unidades
temáticas
Objetos de
conhecimento
Propriedades
igualdade
Habilidades
da
Equações polinomiais
do 1º grau
Álgebra
Variação
de
grandezas:
diretamente
proporcionais,
inversamente
proporcionais ou não
proporcionais
Grandezas
diretamente
proporcionais
grandezas
inversamente
proporcionais
e
(EF06MA14). Reconhecer que a relação de igualdade
matemática não se altera ao adicionar, subtrair, multiplicar ou
dividir os seus dois membros por um mesmo número e utilizar
essa noção para determinar valores desconhecidos na resolução
de problemas.
(EF07MA18). Resolver e elaborar problemas que possam ser
representados por equações polinomiais de 1º grau, redutíveis à
forma ax + b = c, fazendo uso das propriedades da igualdade.
(EF08MA12). Identificar a natureza da variação de duas
grandezas, diretamente, inversamente proporcionais ou não
proporcionais, expressando a relação existente por meio de
sentença algébrica e representá-la no plano cartesiano.
(EF08MA13) Resolver e elaborar problemas que envolvam
grandezas diretamente ou inversamente proporcionais, por
meio de estratégias variadas.
(EF09MA08) Resolver e elaborar problemas que envolvam
relações de proporcionalidade direta e inversa entre duas ou
mais grandezas, inclusive escalas, divisão em partes
proporcionais e taxa de variação, em contextos socioculturais,
ambientais e de outras áreas.
Quadro 2 - EQ377 - Estudo da Geometria (razão e proporção, triângulos semelhantes).
Unidades
temáticas
Objetos de conhecimento
Construção de figuras semelhantes:
ampliação e redução de figuras planas em
malhas quadriculadas
Geometria
Construção de retas paralelas e
perpendiculares, fazendo uso de réguas,
esquadros e softwares
Habilidades
(EF06MA20) Identificar características dos
quadriláteros, classificá-los em relação a
lados e a ângulos e reconhecer a inclusão e a
intersecção de classes entre eles.
(EF06MA21) Construir figuras planas
semelhantes em situações de ampliação e
de redução, com o uso de malhas
quadriculadas,
plano
cartesiano
ou
tecnologias digitais.
(EF06MA22) Utilizar instrumentos, como
réguas e esquadros, ou softwares para
representações de retas paralelas e
perpendiculares
e
construção
de
quadriláteros, entre outros.
141
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Quadro 3 - EQ377D – Destinado ao estudo das medidas (polígonos, perímetro e área).
Unidades
temáticas
Objetos de conhecimento
Problemas sobre medidas envolvendo
grandezas como comprimento, massa,
tempo, temperatura, área, capacidade e
volume
Grandezas e
medidas
Perímetro de um quadrado como
grandeza proporcional à medida do lado
Habilidades
(EF06MA24) Resolver e elaborar problemas
que envolvam as grandezas comprimento,
massa, tempo, temperatura, área (triângulos
e retângulos), capacidade e volume (sólidos
formados por blocos retangulares), sem uso
de fórmulas, inseridos, sempre que possível,
em contextos oriundos de situações reais
e/ou relacionadas às outras áreas do
conhecimento.
(EF06MA29)
Analisar
e
descrever
mudanças que ocorrem no perímetro e na
área de um quadrado ao se ampliarem ou
reduzirem, igualmente, as medidas de seus
lados, para compreender que o perímetro é
proporcional à medida do lado, o que não
ocorre com a área.
Figura 1 – Imagem da Gincana do Grupo Branco.
Das habilidades selecionadas conforme tratadas no Quadro 3, o objeto de conhecimento é certas situações
ministrado pelo professor com uso de recursos didáticos (esquadros, relógio, balança, réguas, trenas, etc).
Na literatura muitas vezes, termos como “recurso didático”, “material didático”, “recurso educativo”,
“material concreto” e “material manipulável” são usados pelos professores para descrever os
instrumentos utilizados como facilitadores da aprendizagem. Os kits Educacionais apresentam uma
inovação nos recursos que a escola pode e deve colocar à disposição do professor de matemática. Estas
práticas com uso dos Kits são fundamentais para a compreensão dos assuntos da matemática aplicada e
pura, e colabora com o desenvolvimento do raciocínio lógico e crítico, estimula a investigação e pode ser
prazeroso (fruição). Na figura 1, é visível o interesse do grupo de estudantes na manipulação e troca de
ideias para apresentar uma solução ao desafio proposto. É fato que estratégias de aprendizagem que
possam contribuir com a forma cooperativa de trabalho, respeito a forma de pensar dos componentes e
142
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
oponentes em situação de jogos e desafios, são importantes para o cenário de uma educação de qualidade
que possa revelar uma motivação maior para aprender matemática.
Figura 2 - EQ376, um equipamento inovador com tábuas individuais onde o aluno pode praticar e interagir
com os exercícios aplicados no painel pelo professor.
O uso desse Kit Educacional permite estudar o domínio da Matemática que ocorre por meio das chamadas
construções geométricas, que podem ser vistas como maneiras de expressar graficamente a forma de
determinados entes geométricos, ou seja, representações dos mesmos. Subentende-se, assim, à realização
de construções desta natureza, o conhecimento das propriedades e definições matemáticas do objeto em
questão. Esta prática educativa pode ser utilizada em sala de aula para abordagem dos assuntos da
geometria plana, as tabuas individuais são utilizadas pelos grupos de estudantes conforme demonstração
do assunto ou problema formulado pelo professor no painel demonstrativo (vertical).
É fundamental a construção de estratégias para solução de problemas. Os desafios propostos pelas
habilidades do Quadro 2, exemplifica a existência de uma aprendizagem significativa, e aponta a existência
de conhecimentos prévios que sirvam de ancoradouro para o novo conhecimento no dizer de Ausubel
(1968). A construção da situação-problema considerou como premissa os conceitos de geometria plana
que os estudantes já detinham em sua estrutura cognitiva.
O questionário abaixo foi aplicado com os professores após Oficina, foi utilizado um formulário do Google
e enviado online para o professor (seu e-mail e para o seu WhatsApp). Após o preenchimento foi gerado
vários gráficos dos questionamentos propostos, mas em razão da limitação de páginas para a publicação
do artigo e do tamanho solicitado 2MB (Mega Bytes), optamos pelo quadro de resposta abaixo em
percentuais.
143
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Quadro 4 – Questionário de avaliação da oficina
Questionário Online aplicado com os participantes da Oficina
Perguntas
Questão 1 - Você pretende introduzir em sua prática pedagógica a
GINCANA de matemática na sua escola?
Questão 2 - Na sua opinião a falta de material educativo na escola é
um obstáculo para a organização dessa atividade pedagógica (Gincana
e aulas práticas com uso dos Kits Educacionais)?
Questão 3 - No seu julgamento o entendimento do desafio / problema
em uma Gincana de Matemática é importante para executar um plano
estratégico para solucionar o problema?
Questão 4 - O recurso educacional “KIT de matemática” ajuda na
elaboração de um problema / desafio?
Questão 5 - A identificação do conteúdo de matemática, ou seja, o
conhecimento do assunto da matemática poderia ser útil na resolução
do problema (ajuda na estratégia)?
Questão 6 - Você concorda que um bom problema / desafio ao ser
elaborado deve fortalecer o entendimento dos conteúdos de
matemática, ao ser aplicado para soluciona-lo e que o mesmo seja
adequado a capacidade do estudante, desafiando-o e, oferecendo uma
chance justa de resolver em um tempo razoável?
Questão 7 - Você concorda com a nossa proposta de elaboração do
desafio / problema está atrelada ao BNCC (área temática, objetos de
conhecimento e habilidades)?
Questionário Online aplicado com os participantes da Oficina
Perguntas
Questão 8 - Qual seu nível de conhecimento do planejamento e
execução de uma Gincana de Matemática antes da Oficina?
Questionário Online aplicado com os participantes da
Oficina
Perguntas
Questão 9 - Qual a sua opinião sobre o desempenho do
professor (domínio de conteúdo, didática e material
usado como suporte)?
Questão 10 - Qual a sua avaliação da OFICINA?
Não
-
Respostas (%)
Sim
Em parte
80
20
-
90
10
-
90
10
10
80
10
-
80
20
-
80
20
10
80
10
Respostas (%)
Elevado Médio
Baixo
20
80
Respostas (%)
Excelente
Bom
Razoável
Precisa
melhorar
70
30
-
-
100
-
-
-
A matemática é um modo sistemático de estruturar o pensamento e os argumentos, que é estreitamente
amarrado para um corpo coerente de conhecimento associado. A prática matemática preocupa-se em
encontrar soluções para problemas, sejam relacionados a problemas práticos (aplicados) ou internos, a
matemática (pura). A questão 10 acima revela o interesse demonstrado pelos professores em dinamizar as
suas práticas pedagógicas, e a oficina conforme podemos destacar teve 100% de aprovação. Outro ponto
importante é na inovação dos recursos pedagógicos, os Kits educacionais atenderam perfeitamente aos
anseios dos professores quando os mesmos tiveram que elaborar seus problemas segundo as habilidades
do BNCC, conforme atesta as questões 2 e 4.
As respostas dos estudantes aos questionamentos feitos por ocasião da Gincana somados as respostas do
Questionário aplicado aos professores de matemática, participantes da oficina, transmite uma certeza de
que as estratégias utilizadas para resolver os desafios foram satisfatórias, proporcionando uma alta
motivação para ampliar as discussões em sala de aula.
Durante a oficina os professores são motivados a conhecer vários sites que apresentam informações
relacionadas aos problemas matemáticos, conforme a faixa etária, estratégias e soluções de problemas
típicos abordados em olimpíadas nacionais e internacionais de matemática. Destacamos o
NRICH enriching mathematics - www.nrich.maths.org.uk
144
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
Compreende-se que os professores são conscientes de suas necessidades formativas de matemática ao
apontarem na questão 4, a importância do uso dos Kits educacionais nas aulas tradicionalmente
ministradas apenas com o uso da lousa. Ao mesmo tempo, os estudantes extravasam a necessidade de
aulas mais dinâmicas, pois destacam, a importância dos recursos didáticos utilizados em sala. A proposta
de elaboração dos problemas com base nas habilidades apresentadas no BNCC, abre a possibilidade em
momento futuro uma outra pesquisa que possa avaliar quantitativamente a distribuição dos problemas
com base nas unidades temáticas.
4. CONCLUSÕES
Os objetivos propostos no início do trabalho foram alcançados, percebemos nos professores e estudantes
um entusiasmo contagiante para o processo ensino aprendizagem da matemática nas 11 escolas em que o
índice do IDEB encontra-se abaixo das metas traçadas pela secretaria municipal de Educação. Neste
sentido, concluímos que a experiência foi exitosa, e a proposta da Gincana foi solicitada por todos os
participantes para repetir nas demais escolas do G11. Os resultados confirmam o interesse dos
professores em utilizar nas suas práticas educativas os recursos educacionais (Kits), bem como o
conhecimento na elaboração dos problemas conforme critérios quantificáveis e adequados a capacidade
dos estudantes, levando em consideração aos conhecimentos prévios.
REFERÊNCIAS
[1]
AUSUBEL, D. P. (1968). Psicologia Educacional: Uma Visão Cognitiva. Holt, Rinehart e Winston.
[2]
15-19
D'AMBROSIO, Beatriz S. Como ensinar matemática hoje? Temas e Debates. SBEM. Ano II. N2. Brasilia. 1989. P.
[3]
DIENES, Zoltan P. O poder da matemática. São Paulo: EPU, 1973.
[4]
KLINE, Moris. O fracasso da matemática moderna. São Paulo:IBRASA, 1976.
[5]
PÓLYA, G. (1962). Descoberta Matemática: Na compreensão, aprendendo e ensinando a resolução de
problemas.
[6]
SCHLIEMANN, A.D; Na vida dez, na escola zero. São Paulo; Cortez, 1988.
[7]
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Texto da BNCC, 2016. Disponível
em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br>. Acesso em: 25 abr. 2017.
145
AUTORES
ALINE CLARO DE FREITAS ABUCARMA
Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2005), Pós-graduação em Novas Tecnologias no Ensino da Matemática pela
Universidade Federal Fluminense (2011) e Mestrado Profissional em Matemática pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2016). Atualmente é Professora de
Educação Básica no Ensino Público do Estado de São Paulo e está designada como Professora
Coordenadora de Área no Programa Ensino Integral na Escola Professor Oracy Matricardi em
Presidente Prudente.
ANA CRISTIANE DE SOUSA
Especialista em Fundamentos da educação: práticas pedagógicas (2015), graduanda em
Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual da Paraíba (2007). Atualmente é
professora efetiva do Estado da Paraíba e da Prefeitura Munic. de São Sebastião de Lagoa de Roça
AUTORES
ANGÉLICA DA FONTOURA GARCIA SILVA
Possui graduação em licenciatura em Ciências habilitação em Matemática, doutora em Educação
Matemática pelo Programa de Estudos Pós-graduados em Educação Matemática da PUC-SP, mestre
em Educação pelo Programa Educação: História Política e Sociedade da PUC-SP . Fez estágio de
doutoramento Sandwich em 2006, na Escola Superior de Educação de Lisboa sob a supervisão da
professora Maria de Lurdes Serrazina. É professora contratada pelo Programa de Pós-graduação
em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo. Desenvolve atividade de
pesquisa sobre o Formação de Professores que ensinam Matemática. Participa do grupo de
pesquisa: Observatório da Educação.
BARBARA CRISTINA MATHIAS DOS SANTOS
Possui graduação em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Augusto Motta (2002),
especialização em ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E PEDAGÓGICA pelo INSTITUTO A VEZ DO
MESTRE(2011) e especialização em PSICOPEDAGOGIA pelo INSTITUTO A VEZ DO MESTRE(2010).
Mestrado Profissional no Ensino das Ciências da Educação Básica pela UNIGRANRIO (2016).
Atualmente é Professora da Secretaria municipal de Educação de Duque de Caixas. Tem experiência
na área de Educação. Atuando principalmente nos seguintes temas: Educação Financeira,
EDUCAÇÃO MATEMATICA, Matemática inclusiva, ENSINO FUNDAMENTAL.
BRUNA ALBIERI CRUZ DA SILVA
Possui graduação em Pedagogia pelo Instituto de Ensino Superior de Bauru (2008). Concluiu curso
de Pós - Graduação - Lato Sensu em Docência no Ensino Médio, Técnico e Superior, pela Associação
Educacional do Vale do Itajaí-Mirim (Instituto Passo 1) em 2011. Mestre em Educação para a
Ciência - UNESP/Bauru, Doutoranda em Educação para a Ciência - UNESP/Bauru e membro do
grupo de pesquisa em Psicologia da Educação Matemática. Possui experiência na área de Educação
e atualmente trabalha como docente na Prefeitura Municipal de Bauru, exercendo a função de
Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental I (séries iniciais). Atuou como Orientadora de
Estudos do PNAIC (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), ministrando curso para
professores das séries iniciais da Prefeitura de Bauru.
CARLOS ANDRÉ BOGÉA PEREIRA
Doutor em Educação pela USF-SP (2017), com Doutorado Sanduíche pela Universidade de Lisboa
(2015), Mestre em Matemática pela UNICAMP (2011), Especialista em Gestão Escolar pelo IBMECRJ (2014), Especialista em Ensino da Matemática pela UEVA (2004), Pedagogo pela Universidade de
Franca-SP (2017). Licenciado em Matemática pela UFMA (2002). Desenvolve trabalhos na área de
Formação de Professores, Gestão e Supervisão Escolar, Currículo, Avaliação, Planejamento,
Legislação Educacional, Metodologia e Tecnologias no Ensino da Matemática. É formador de
professores na SEMED - São Luís.
CHANG KUO RODRIGUES
Possui graduação em Licenciatura em Ciências Plenas pelo Centro Universitário de Brasília (1984),
mestrado em Educação Matemática pela Universidade Santa Úrsula (1999) e doutorado em
Educação Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009). Atualmente é
professora colaboradora do programa de Mestrado Profissional em Educação Matemática da
Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem experiência na área de Matemática, com ênfase em
Educação Matemática, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação Financeira,
Educação Estatística, Inclusão, Ensino da Matemática na Educação Básica e Superior.
AUTORES
CRISTIANE FERNANDES DE SOUZA
Professora do Departamento de Ciências Exatas, do Centro de Ciências Aplicadas e Educação, da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB/campus IV). Licenciada em Matemática pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre e Doutora em Educação, na linha de pesquisa Educação
Matemática, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Foi líder do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Educação Matemática/GEPEM/campus IV no período de maio/2009 a
julho/2017. Foi bolsista de produtividade (PQ-2F) do EDITAL MCT/CNPQ 03/2009 (2009-2012).
Foi coordenadora das duas turmas do Curso de Especialização em Matemática para o Ensino
Fundamental, UFPB/campus IV (2012-2016). Foi coordenadora do subprojeto de Matemática do
Programa de Consolidação das Licenciaturas (PRODOCÊNCIA 2008-2010, 2013-2017). Coordenou
projetos na área de Ensino de Geometria, com foco na Educação Básica e na Formação Inicial e
Continuada de Professores de Matemática, pelo Programa de Licenciatura (PROLICEN/UFPB)
(2009, 2013, 2015-2018). Foi Coordenadora de Área de Gestão de Processos Educacionais do
PIBID/UFPB (2014-2018). Atou como Assessora de Graduação do CCAE/UFPB/campus IV (2017).
Atualmente desenvolve atividades de ensino no curso de Licenciatura em Matemática do campus IV
e coordena o subprojeto de Matemática/campus IV da Residência Pedagógica.
DERLI KACZMAREK
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta
Grossa (PPGE-UEPG) e mestre em Educação pela mesma instituição. Possui graduação em
Matemática pela UNICENTRO (1991) e em Ciências-Licenciatura Curta pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Guarapuava (1988); especialização em Metodologia de Ensino em Matemática
(1997) e em Educação Especial (2001). É professora de Matemática - anos finais do Ensino
Fundamental da Prefeitura Municipal de Araucária. Tem experiência docente na Educação Básica,
tendo atuado na Educação Infantil e no Ensino Médio. Atualmente pesquisa sobre Modelagem na
Educação Matemática.
DIONÍSIO BURAK
Possui graduação em Matemática pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (1973), mestrado em
Ensino de Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1987) e
doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (1992). Atualmente é rt-20 da Universidade
Estadual de Ponta Grossa no Programa de Pós - Graduação em Educação e rt 20 do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Naturais e Matemática. Professor titular aposentado do Departamento
de Matemática da Universidade Estadual do Centro-Oeste em (2013). Tem experiência na área de
Matemática, com ênfase em Educação Matemática, atuando principalmente nos seguintes temas:
modelagem matemática na educação matemática, ensino e aprendizagem e ensino de matemática.
Pós-Doutorado (2010) - Universidade Federal do Pará- orientadora Profa Drª Rosália Maria Ribeiro
de Aragão.Atualmente é Pesquisador Sênior da Fundação Araucária.
EDMUNDO SILVA GUERRA
Graduado em Matemática pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Especialista
em Matemática com Informática pela Faculdade de Igarassu (FACIG).
ELYS VÂNNY FERNANDA RODRIGUES DE OLIVEIRA
Pedagoga (UECE), Especialista em Gestão dos Processos Educacionais (FA7), Mestre em Educação
Matemática pela Universidade de Anhanguera de São Paulo (UNIAN). Professora de graduação do
Curso
de
Pedagogia (UNI7). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Ludicidade da UFC
(GEPEL-CE).
FLÁVIA STREVA NUNES
Licenciada em Matemática pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com
especialização em Neuroeducação. Professora de Matemática da Educação Básica da rede
particular.
GABRIELA FÉLIX BRIÃO
AUTORES
Doutora em Educação Matemática pela UNESP/Rio Claro, com estágio sanduíche de um ano nos
Estados Unidos. É professora adjunta da UERJ há mais de dez anos. Na universidade, trabalha com
educação básica e também como professora do Programa de pós-graduação em ensino em
Educação Básica (PPGEB), além de lecionar em outros programas de pós-graduação. É formadora
de professores de matemática.
GEOVANA RAQUEL PEREIRA DA SILVA
Graduanda do curso de Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal da Paraíba–
UFPB/Campus IV (2019). Participou do Programa de Licenciatura – PROLICEN/UFPB no ano de
2015, sendo bolsista do projeto, no qual o foco era o Ensino-Aprendizagem da Geometria. O
desempenho exercido no projeto resultou no Prêmio "Iniciação à Docência" no ano de 2015. Atuou
como professora substituta no segundo semestre do ano de 2016 na rede pública de ensino do
município de Itapororoca-PB. Em eventos nacionais, regionais e locais publicou artigos na linha de
pesquisa Educação Matemática.
GILBERTO FRANCISCO ALVES DE MELO
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (MPECIM), da UFAC e
do Colégio de Aplicação-UFAC. Doutor em Educação Matemática.
JOEMILIA MARIA PINHEIRO ALMEIDA
Mestra em Educação: Gestão de Ensino da Educação Básica pela Universidade Federal do Maranhão
- UFMA (2018). Especialização em Docência e Gestão da Educação pela Faculdade Einstein - FACEI
(2015). Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano
- IESF (2013). Aperfeiçoamento em Matemática- Pró-Ciências promovido pela
CAPES/FAPEMA/UFMA/SEEDUC-MA (1997). Licenciada em Matemática pela Universidade Federal
do Maranhão - UFMA (1997). Atualmente é Professora da Universidade do CEUMA - UNICEUMA.
Faz parte do Grupo de Pesquisa, Educação Matemática, Ciências e Produção de Saberes.
JORGE HENRIQUE DUARTE
Possui graduação em Licenciatura Plena em Ciências com habilitação em Matemática pela Fundação
de Ensino Superior de Olinda (FUNESO). Especialista em Ensino de Matemática (UFPE). Mestre em
Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na linha de Pesquisas em Didática de
Conteúdos Específicos. Atualmente é professor titular da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
de Igarassu, efetivo da Secretaria de Educação de Recife, efetivo da Secretaria de Educação e
Cultura-Pernambuco e Colaborador do IFPE-EAD (Professor Formador do Curso Licenciatura em
Matemática). Tem experiência no ensino da Matemática, nos níveis da Educação Básica
(Fundamental e Médio) e Superior. Atua como Professor Formador na disciplina Matemática em
EAD na FACIG e como formador da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco e em Assessorias
Pedagógicas. Realiza pesquisas nos seguintes temas: Educação Matemática, Formação de
Professores de Matemática, Grandezas Geométricas, Currículo de Matemática e Avaliação em
Matemática.
JOSÉ LUIZ MAGALHÃES DE FREITAS
Possui graduação em Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(1976), mestrado em Matemática pela Universidade de São Paulo (1982), doutorado em Didática da
Matemática - Université de Montpellier II (USTL) (1993) e pós-doutorado em Educação Matemática
pela Universidade Joseph Fourier (2004). Tem experiência na área de Educação Matemática,
atuando nos seguintes temas: geometria, aritmética, álgebra, ensino/aprendizagem de matemática
na Educação Básica. É professor pesquisador Sênior do INMA-UFMS e atua como professor
permanente no programa de pós-graduação em Educação Matemática. A partir de 2018 atua como
professor permanente do programa de pós-graduação e Ensino de Ciências e Matemática da
Uniderp-Anhanguera, em Campo Grande-MS.
AUTORES
JOSÉ ROBERTO NOGUEIRA
Possui graduação em Bacharel em Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (1985), mestrado em Matemática pelo ICMC/USP, Instituto de Ciências Matemáticas
de São Carlos (1990) e doutorado em Matemática Aplicada e Computacional pelo IMECC-UNICAMP ,
Instituto de Matemática Estatística e Ciência da Computação (1999). Atualmente é Professor
Assistente Doutor da FCT-UNESP, Faculdade de Ciencias e Tecnologia - Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho. Tem experiência na área de Matemática, com ênfase em Análise
Numérica, atuando principalmente nos seguintes temas: matemática, educação, métodos
numéricos, análise e equações diferenciais.
JOSIANE FAXINA
Mestra do Programa de Pós-graduação em Docência para a Educação Básica pela Unesp/ Bauru.
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005).
Especialista em Psicopedagogia pela Universidade do Sagrado Coração de Bauru - USC (2009).
Especialista em Didática do Ensino Superior pela Faculdade Anhanguera de Bauru (2011). Docente
por 10 anos no ensino fundamental I, atualmente coordenadora pedagógica - Secretaria Municipal
de Educação - Prefeitura de Bauru. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em EnsinoAprendizagem. Atuou com formação docente por 3 anos pelo PNAIC - Programa Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa.
LIANA KRAKECKER
Possui graduação em Matemática - Licenciatura pelo Instituto Federal Catarinense - Campus
Concórdia, especialização em Matemática, Física, Química e Interdisciplinaridade e mestrado em
Educação Matemática pelo Programa de Pós Graduação em Educação Matemática (PPGEduMat) da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - UFMS. Possui experiência docente nos níveis
fundamental - séries finais, médio e superior. Atualmente é doutoranda em Educação Matemática PPGEduMat - UFMS.
LUANA CARDOSO DA SILVA
Graduanda em Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB/Campus
IV (2019). Foi voluntária (2015) e bolsista (2016-2018) em um projeto de ensino sobre o EnsinoAprendizagem da Geometria, do Programa de Licenciatura – PROLICEN/UFPB, no qual foi
agraciada, pelo seu notável desempenho, com o prêmio “Iniciação à Docência” nos anos de 2015 e
2017, concedido pela Pró-Reitoria de Graduação da UFPB, como também recebeu o diploma de
“Honra ao Mérito” em 2017, pelo Centro de Ciências Aplicadas e Educação – CCAE/UFPB. Tem
formação complementar em "Proposta Curricular e Metodologia na Educação integral - UFPB"
(2015). Tem autoria em diversos artigos publicados no âmbito nacional, regional e local,
principalmente na área de Ensino de Geometria.
LUCIANA TROCA DANTAS
Possui graduação em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1995) e
graduação em Matemática pela Universidade Salgado de Oliveira (2005). Tem experiência na área
de Matemática, com ênfase em Matemática. Mestrado Profissional no Ensino das Ciências da
Educação Básica pela UNIGRANRIO (2016). Atualmente é Professora da Secretaria municipal de
Educação de Duque de Caixas e na Secretaria de educação do Município do Rio de Janeiro. Tem
experiência na área de Educação. Atuando principalmente nos seguintes temas: Educação
Financeira, EDUCAÇÃO MATEMATICA, , ENSINO FUNDAMENTAL.
AUTORES
MANOEL DOS SANTOS COSTA
Doutor (2012) e Mestre (2008) em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Cruzeiro do
Sul / São Paulo. Especialista em Matemática pela Universidade Iguaçú (2006) e em Educação
Matemática: Metodologia de Ensino e Aprendizagem pela Faculdade de Educação São Luís (2003).
Graduado em Ciências (licenciatura) com habilitação em Matemática pela UniFAI (1998) e em
Pedagogia (licenciatura) pelo Centro Universitário de Araras (2005). Atualmente é Professor da
Secretaria de Estado da Educação do Maranhão e da Universidade Ceuma, em São Luís / MA.
Membro do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências e Ensino de Matemática - GPECEM e do Grupo
de Pesquisas e Estudos Avançados em Educação Matemática - GPEAEM. Possui experiência na área
de Educação, com ênfase na Educação Matemática, atuando principalmente nas seguintes linhas de
pesquisas: Formação (Inicial e Continuada) de professores que ensinam Matemática, Fundamentos
e Metodologias do Ensino de Matemática e Resolução de Problemas na Educação Matemática.
MARCELLA CLAUDIA BARBOSA DA SILVA
Graduada em Licenciatura Plena em Matemática pela Universidade de Pernambuco (UPE).
Especialista em Matemática com Informática pela Faculdade de Igarassu (FACIG). Atualmente é
professora de Matemática na Rede Privada e na Rede Estadual de Ensino de Pernambuco. Tem
experiência na área de ensino da Matemática. Realiza pesquisa nos seguintes temas: Educação de
Jovens e Adultos (EJA), Adição e sua Inversa, Educação Matemática, Base conceitual aditiva,
Conceito de área em livros didáticos do Ensino Fundamental.
MARCELO RIVELINO RODRIGUES
Doutor em Educação Matemática pela PUC/SP, Mestre em Educação Matemática pela PUC/SP,
Licenciado em Matemática pelas Faculdades Oswaldo Cruz, Bacharel em Matemática pelas
Faculdades Oswaldo Cruz, Licenciado em Pedagogia pela Universidade Bandeirantes. Professor
titular dos níveis de ensino Fundamental II e Médio a mais de 18 anos das secretarias Estadual de
Educação (SEE/SP) e Municipal de Educação (SME/SP). Professor Tutor dos cursos de Engenharia
em EAD na Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo, nas disciplinas: Cálculo I; Física
I; Álgebra Linear. Colaborador do Banco Nacional de Itens (BNI) junto ao Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Parecerista no Plano Nacional do Livro
Didático - 2019, junto ao Ministério da Educação (MEC). Assistente Técnico Educacional na
Secretaria Municipal de Educação, onde é responsável pelas Avaliações em Larga Escala de
Matemática além de atuar como formador em cursos de Elaboração e Revisão de Itens. Foi
professor da Rede Salesiana de Escolas ministrando aula para o Ensino Fundamental II. Foi
professor de Pós-Graduação na Ethos Consultoria e Assessoria Educacional, onde ministrou cursos
de formação continuada para professores da Rede Municipal de Educação de São Paulo.
MARIA DE FÁTIMA CALDAS DE FIGUEIRÊDO
Mestranda em Ensino de Ciências e Educação Matemática (UEPB). Especialista em Tecnologias
Digitais para a Educação Básica (UECE/2018), Especialista em Educação Matemática (ISEC/2015) e
Graduada em Licenciatura em Ciências com Habilitação em Matemática (UFCG/2014).
MARIA INMACULADA CHAO CABANAS
AUTORES
Doutora em Educação pela Universidade Estácio de Sá (2017) na Linha de Pesquisa das
Representações Sociais. Mestre em Educação (2007) na linha de pesquisa das Tecnologias da
Informação e Comunicação. Graduada e especialista em Matemática pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (1997). Professora Substituta da Faculdade de Educação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro até 2008 (UFRJ) nas disciplinas de Didática da Matemática e Prática de Ensino
(2008). Atuando desde 2003, como docente na Universidade Estácio de Sá nas licenciaturas de
Matemática e Pedagogia e, atualmente, como gestora Nacional de Curso - Matemática e Pedagogia
(Diretoria de Ensino-Graduação). Participa de políticas públicas de formação de professores
(Proletramento e Pnaic), no Programa de Avaliação do Livro Didático? PNLD, Avaliações em Larga
Escala (Prova Brasil, ANA e ENADE. Professora de matemática aposentada da educação básica das
redes de educação municipal e estadual do Rio de Janeiro. É avaliadora do sistema SINAIS - BASis. A
sua experiência está voltada para a área de Educação (Matemática) e Educação a Distância
(formação de tutores), com ênfase no Ensino e Aprendizagem de Matemática e Formação Docente
nos diferentes níveis de ensino. Com produção científica apresentada no Brasil e no exterior na
linha das Representações Sociais e Retórica no contexto da Ciência Matemática, Escolarização em
Matemática, Exames Nacionais e Formação de Professores. Participa do grupo de Pesquisa: Retórica
e Argumentação em Pedagogia (https://www.rho-alfa-pi.org/retorica-e-argumentacao-napedagogi).Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0368-8416)=
MICHELE DE SOUZA MORAES
Mestra do Programa de Pós-graduação em Docência para a Educação Básica pela Unesp/ Bauru.
Possui graduação em Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual Paulista; Júlio de
Mesquita Filho (2011), especialização em Ética, Valores e Cidadania na Escola pela Universidade de
São Paulo (2013), especialização em Matemática pela Universidade Federal de São João Del-Rei
(2014). Pertence ao grupo de pesquisa HEEMa (História e Epistemologia na Educação Matemática).
Docente há 8 anos no ensino fundamental II e ensino médio. Atualmente é professora efetiva de
matemática da Secretária Estadual de Educação do Estado de São Paulo e da Secretaria Municipal
de Educação - Prefeitura de Bauru.
RUTH BRITO DE FIGUEIREDO MELO
Doutoranda em Engenharia de Processos pela UFCG (2015), Mestre em Ensino de Ciências e
Matemática (2011) e Licenciada em Física (2003) pela (UEPB). Possui curso de aperfeiçoamento
em TIC (Tecnologias da Informação e comunicação) e em Elaboração de Projetos, ambos pelo
MEC/PROINFO e NTE (Núcleo de Tecnologia Educacional) da Paraíba (2011), e de Atualização em
EaD pela UEPB (2016). Professora Efetiva do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da
(UEPB/CAMPUS I)
VALQUIRIO FIRMINO DA SILVA
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática (MPECIM), da Universidade Federal do Acre – UFAC.
Especialista em Educação Matemática e Graduado em Licenciatura em Matemática, pela UFAC.
Docente/Diretor da Escola Municipal Sheyla Nasserala, em Rio Branco – Acre.
WALÉRIA DE JESUS BARBOSA SOARES
Doutora em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp (2017), Doutorado Sanduíche pela
Universidade do Porto-Portugal (2015), Mestre em Matemática pela Unicamp (2009), Especialista
em Gestão Escolar pelo IBMEC-RJ (2014), Especialista em Cinema e Linguagem Audiovisual pela
UGF (2014), Especialista em Ensino da Matemática pela UEVA (2004), Pedagoga pela Universidade
de Franca-SP (2017), Graduada em Matemática e Artes Visuais, ambas pela UFMA. Atualmente
integra o GHEMAT - Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática no Brasil. Desenvolve
pesquisas sobre História da Educação e do Ensino da Matemática, Currículo e Formação de
Professores e Avaliação de Aprendizagem. É formadora de professores na SEMED - São Luís.
Educação no Século XXI – Matemática - Volume 10
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