I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010
ISBN- 978-972-8746-87-2
O BULLYING NA ESCOLA: A PREVALÊNCIA E O SUCESSO ESCOLAR
Paulo Costa & Beatriz Pereira
(Universidade do Minho)
RESUMO:Uma versão modificada do questionário de Olweus (1989) para a língua
portuguesa sobre o bullying no contexto escolar foi aplicada a uma amostra de 3891 alunos,
com idades compreendidas os 5 e os 16 anos, pertencentes a um conjunto de treze
Agrupamentos de escolas do ensino básico do Distrito de Bragança, no Nordeste de
Portugal.
O objectivo do estudo foi o de analisar a prevalência do bullying nos alunos com
sucesso ou insucesso escolar, nos diferentes níveis do ensino básico (do 1º ao 6º anos),
através da diferenciação e caracterização dos grupos «não envolvidos», «vítimas»,
«agressores», «vítimas e agressores» e «não respondeu».
Os resultados manifestaram uma maior prevalência de agressores (18,8%),
embora com valores próximos das vítimas e agressores (17,8%) e das vítimas (11,1%). Os
alunos com insucesso escolar apresentam maior envolvimento em episódios de vitimação e
agressão, comparativamente, aos alunos com sucesso escolar. Os alunos com insucesso
educativo, registaram valores relativos superiores nos agressores (19,7%), nas vítimas e
agressores (18,9%) e por fim as vítimas (16%), pelo que a condição do insucesso escolar
constitui um sinal de alerta no tocante às práticas agressivas e de intimidação (bullying) em
contexto escolar.
Introdução
A temática da violência tem sido alvo de uma preocupação crescente nas últimas
três décadas, quer por parte da sociedade em geral, quer por parte da comunidade
escolar (Carvalhosa, Moleiro, & Sales, 2009a; Glew, Fan, Katon, Rivara, & Kernic,
2005; Martins, 2005; Matos, Negreiros, Simões, & Gaspar, 2009; Nansel, et al., 2001;
Pereira, 2008; Raimundo & Seixas, 2009; Rigby, 1999; Seixas, 2005).
Uma das manifestações da violência na escola que, na literatura educacional,
tem atingido maior visibilidade é a agressão entre pares (Matos, Negreiros, et al., 2009),
particularmente o fenómeno conhecido a nível internacional pelo termo bullying e que
designaremos também por comportamentos agressivos de intimidação (Pereira, 2008).
Dan Olweus definiu bullying como um aluno está a ser vitima de bullying quando está
exposto, repetidamente e ao longo do tempo, a acções negativas da parte de uma ou
mais pessoa (Olweus, 1993). Esta forma de violência entre pares distingue-se da
agressão ocasional não só pela sua persistência no tempo, como pela desigualdade de
poder entre os intervenientes (Matos, Negreiros, et al., 2009; Olweus, 1994; Pereira,
Mendonça, Neto, Valente, & Smith, 2004). Acrescente-se ainda, o facto de o bullying
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ter por objectivo provocar mal-estar e ganho de controlo sobre outra pessoa de forma
intencional (Carvalhosa, Lima, & Matos, 2002; Martins, 2009; Olweus, 1993; Pereira,
2008; Seixas, 2005).
No bullying estão envolvidos o (s) agressor (es), a (s) vítima (s) e ainda a (s)
vítima (s) - agressiva (s), o grupo dos colegas, a própria instituição (assistentes
operacionais, professores, gestores escolares) e as famílias dos actores envolvidos
(Lourenço, Pereira, Paiva, & Gebara, 2009). Pelo que usualmente demanda o
envolvimento de pelo menos dois protagonistas, o agressor (que exerce o controlo) e a
vítima (que acaba submetida e tiranizada), mas podem ocorrer igualmente episódios de
bullying em contexto mais alargado de grupo (Raimundo & Seixas, 2009).
Os agressores obtêm poder sobre as suas vítimas de diversas formas, factores
físicos (idade, tamanho ou força física), ou ainda, por factores de natureza social
(estatuto no seio do grupo ou pela procura de apoio por parte dos outros), enquanto, as
vítimas não se sentem em posição de se defenderem, de procurar auxílio ou de desforrar
contra o agressor (Martins, 2009; Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008).
Pesquisas (Pereira, et al., 2004; Whitney & Smith, 1993) revelaram que o
bullying ocorre principalmente nos anos escolares iniciais. Embora a violência ocorra
em todas as faixas etárias, são as crianças e os adolescentes, por estarem em processo de
crescimento e desenvolvimento, os que se apresentam em situação de maior
vulnerabilidade e sofrem maiores repercussões na saúde (Sanchez & Minayo, 2004).
Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (2002), algumas crianças
apresentam comportamentos problemáticos na primeira infância e que gradualmente se
vão agravando, até atingirem as formas mais graves de agressão, antes e durante a
adolescência (Krug, Dahlberg, Mercy, Zwi, & Lozano, 2002). Relativamente ao 1º ciclo
do ensino básico, estudos concluíram que 20% dos alunos encontravam-se envolvidos
em comportamentos de bullying, com relativa frequência (Pereira, 2008; Pereira,
Almeida, Valente, & Mendonça, 1996), o qual pode ser explicado pelo facto de as
crianças mais novas não terem ainda adquirido as competências pró-sociais e de
assertividade (Matos, Simões, & Gaspar, 2009).
Constituindo a escola, um dos mais importantes contextos socializadores,
assume-se como natural que os factores a ela associados sejam frequentemente
relacionados ao ajustamento ou desajustamento das crianças e jovens. No que diz
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respeito aos comportamentos anti-sociais, têm sido aludidos vários factores,
nomeadamente, a fraca ligação com a escola, o fraco desempenho escolar e o insucesso
escolar (Matos, Negreiros, et al., 2009).
Muitas crianças e adolescentes vêem-se frequentemente confrontados no seu
quotidiano escolar, com episódios de agressividade, com os quais não sabem lidar e que
por vezes afectam de forma decisiva o seu percurso escolar, o seu bem-estar e o seu
processo de desenvolvimento pessoal e social (Freire, Simão, & Ferreira, 2006).
Os baixos níveis de inteligência e o fraco progresso na escola surgem como
factores de risco associados à violência entre crianças e jovens (Resnick, et al., 1997),
ainda neste sentido, o insucesso escolar parece estar associado ao aumento percentual de
crianças agressoras (Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008; Silva & Pereira, 2008), podendo
ainda, constituir um indicador de violação de regras que está associado ao
comportamento anti-social, bem como pode levar os adolescentes a uma rede de apoio
constituída por adolescentes com comportamentos desviantes, adoptando este tipo de
comportamentos (Fonseca, Taborda Simões, & Formosinho, 2000).
Estudos desenvolvidos por Nansel e Rigby demonstraram que existe uma
associação significativa entre a envolvência do bullying e a auto-percepção do
rendimento escolar e outros aspectos de desajustamento social. (Nansel, et al., 2001;
Rigby, 1999). Também o impacto do bullying sobre a vítima e os agressores parece
estar associado ao rendimento escolar, através da motivação demonstrada para
frequentar a escola e os níveis de auto-estima (Formosinho & Simões, 2001; Krug, et
al., 2002; Nansel, et al., 2001). Numa investigação sobre as percepções que os
agressores tinham sobre si, os autores concluíram que, os agressores possuíam uma
auto-estima e uma percepção da sua competência social que oscilam ambas de igual
forma, entre os níveis médio e elevado, no entanto, relativamente a sua competência
académica consideravam como abaixo da média (Johnson & Lewis, 1999), enquanto, as
vítimas têm uma atitude positiva face ao trabalho e disciplinas escolares, apresentando
um rendimento académico dentro da média ou mesmo superior aos agressores
(Formosinho & Simões, 2001). Pelo que a identificação dos traços da personalidade
(perfis das vítimas e dos agressores) permite avaliar os potenciais efeitos que acção
sistemática do bullying pode comprometer o aproveitamento escolar (Nansel, et al.,
2001) .
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A adopção de programas de reforço pré-escolar, constitui uma das estratégias a
implementar na prevenção para a primeira infância, através do desenvolvimento de
atitudes necessárias para melhorar o êxito escolar e consequentemente, aumento da
probabilidade de obter êxito nos resultados académicos futuros, podendo dessa forma
fortalecer os laços da criança com a escola, aumentando o aproveitamento e a autoestima (Krug, et al., 2002). Programas desenvolvidos por (Olweus, 1993) e (Pereira,
2008) afirmam que para prevenir o bullying é necessário envolver toda a comunidade
educativa (alunos, professores, funcionários, pais e outros elementos da comunidade
local), assentes numa perspectiva mais global (escolas e turmas), do que apenas aos
indivíduos envolvidos (Martins, 2005).
O presente estudo delineou-se com o objectivo de identificar a prevalência de comportamentos
agressivos e de intimidação (bullying) relacionando com o aproveitamento escolar (sucesso
escolar/insucesso escolar).
A relevância deste estudo situa-se na compreensão do que acontece com as crianças
envolvidas em práticas agressivas, tendo em conta o tipo de envolvimento (agressores, vítimas, vítimas e
agressores e não envolvidos) e o sucesso/insucesso escolar, de forma a poder actuar de modo eficiente na
prevenção deste tipo de comportamento.
Metodologia
Amostra
A amostra é de 3891 alunos, do 1º ao 6º ano de escolaridade, com idades
compreendidas entre os 6 e os 16 anos, com uma média global de 9 anos, em treze
agrupamentos de escolas públicas do ensino básico pertencentes a nove concelhos da
Sub-Região de Saúde de Bragança (no Alto Trás-os-Montes, no Norte de Portugal). No
total da amostra, 51,3% das crianças pertencem ao género masculino e 48,7% ao
feminino, 84,1% transitaram de ano e 15,9% foram retidos. Constituindo os valores
deste estudo, em termos de sucesso escolar, inferiores aos registados a nível nacional (1º
ciclo – 91,5%/ 2º ciclo – 91,4%) no ano 2008, altura em que se realizou a recolha de
dados (Educação, 2009; Pereira, et al., 2009).
Instrumento de recolha de dados
Os dados foram recolhidos através de um questionário de auto-relato, o
questionário «bullying – A agressividade entre crianças no espaço escolar» de Olweus
(1989), adaptado à população portuguesa por Pereira e Tomás (1994) e revisto por
Pereira (2006). Organizado em quatro secções, sendo a primeira relativa aos dados sócio
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económicos, a segunda à identificação de comportamentos de vitimação, a terceira de
agressão e quarta relativamente à amizade por nomeação de pares e ainda quanto à sua
percepção sobre os recreios escolares.
A utilização deste questionário permitiu identificar e caracterizar os grupos
previamente estabelecidos e de acordo com os papéis desempenhados em situações
agressivas e de intimidação (bullying).
As crianças foram questionadas sobre a frequência da ocorrência das situações,
mas não sobre a gravidade das mesmas, ainda que pudessem descrever algum episódio
quando lhes foi solicitado que identificassem o tipo de bullying que tinham
experienciado na escola. A tradução portuguesa utilizada no questionário para bullying
foi o de «comportamentos agressivos de intimidação».
Procedimentos
A recolha de dados foi realizada em Junho de 2008, correspondendo Junho ao
final do ano lectivo. Atendendo às exigências ditadas pelos códigos de princípios éticos,
tivemos em atenção a salvaguarda dos direitos dos participantes à privacidade ou à não
participação, ao anonimato e respectiva confidencialidade. Os alunos responderam ao
questionário numa aula no período normal de funcionamento. O questionário foi
administrado pelos professores que foram sujeitos a uma informação breve.
Análise dos dados
Para efeitos de análise e tratamento estatístico dos dados recolhidos foram
submetidos a processamento electrónico, usando-se o software Statistical Package for
the Social Sciences - (SPSS) – Windows (versão 17.0).
Para a identificação do grupo de actores envolvidos nas práticas agressivas,
baseamo-nos em quatro grupos, nomeadamente, «vítimas», «agressores», «vítimaagressiva» e «não envolvidos» (não envolvidos ou não responderam de forma
conclusiva). A construção desta variável foi com base nas variáveis «ser vítima» e «ser
agressor» depois de terem sido transformadas em variáveis dicotómicas.
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Tabela I - Grupos de envolvidos em práticas agressivas de intimidação (bullying)
Não foi agressor (0)
Foi agressor (1,2,3)
Não foi vítima (0)
Foi vítima (1,2,3)
NR (9)
Não foi vítima (0)
Não foi agressor (0)
R= (0,0) –
Não foi vítima
Não foi agressor
Não foi vítima (0)
Foi agressor (1,2,3)
R=(0,1)
Agressor
Foi vítima (1,2,3)
Não foi agressor (0)
R=(1,2,3)
Foi vítima
Não respondeu (9)
Não foi agressor (0)
R= (9)
Não respondeu
Foi vítima (1,2,3)
Foi agressor (1,2,3)
R= (1,2,3)
Vítima Agressiva
Não respondeu (9)
Foi agressor (1,2,3)
R= (9)
Não respondeu
Conscientes de que alguns estudos contabilizam como situações de agressão
e/ou vitimação, aquelas que ocorreram mais de três vezes durante o período, no presente
estudo consideramos como frequência mínima 1 ou 2 vezes no período. Tal posição por
nós assumida, prende-se com o facto de a natureza das acções ao ocorrerem uma ou
duas vezes, constitui de si, sinal de alerta.
Resultados
Tendo por referencia os diferentes papeis que as crianças podem assumir no que
diz respeito aos comportamentos agressivos e de intimidação, passamos de seguida a
descrever a prevalência registada em quatro grupos, relacionados com o respectivo tipo
de papel desempenhado ou ainda o tipo de envolvimento (não envolvidos; vítimas,
agressores e vítimas-agressivas), de acordo com os diferentes episódios de agressão e de
intimidação, expresso pela frequência registada (1 ou 2 vezes no período).
Tabela II – Prevalência do tipo de envolvimento em situações de bullying
Amostra
Tipo de envolvimento
n
%
Não envolvidos em bullying
1948
52,3
Vítimas
413
11,1
Agressores
702
18,8
Vítimas e Agressores
663
17,8
Totais
3726
100
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Verifica-se que aproximadamente metade (47,3%) dos alunos que constituem a
amostra vivenciaram situações de bullying, constituindo o grupo de agressores (18,8%)
aquele que regista maior prevalência, seguido do grupo de vítimas-agressivas (17,8%) e
finalmente o das vítimas (11,1%).
Tabela III– Prevalência do tipo de envolvimento em situações de bullying e o aproveitamento escolar
Sucesso Escolar
Tipo de envolvimento
Insucesso Escolar
n
%
n
%
Não envolvidos em bullying
1651
53,7
265
45,5
Vítimas
308
10
93
16
Agressores
577
18,8
115
19,7
Vítimas e Agressores
539
17,5
110
18,9
3075
100
583
100
Totais
X2
22.83*
*p< .001
Decorrente da análise da variável aproveitamento escolar (sucesso/insucesso
escolar), verifica-se que o grupo de alunos que foram retidos ao longo do percurso
escolar está mais envolvido (54,5%) nas práticas agressivas e de intimidação
comparativamente ao grupo de alunos que transitaram de ano (46,3%).
Constata-se de igual modo que o grupo de alunos que foram retidos ao longo do
percurso escolar, registam uma maior prevalência no duplo papel de comportamentos de
vitimação e agressão (18,9%) que o grupo de alunos que transitaram de ano (17,5%).
Relativamente à agressão e à vitimação verifica-se uma mesma tendência, na
qual o grupo com insucesso escolar apresenta valores relativos superiores
comparativamente aos dos alunos com sucesso escolar. Assim, relativamente à
vitimação os alunos com insucesso escolar (16%) apresentam valores superiores aos
alunos com sucesso escolar (10%), No caso dos agressores o grupo com insucesso
escolar regista um valor relativo (19,7%) ligeiramente superior ao dos alunos com
sucesso escolar (18,8%). Tendo sido conduzido o teste de Qui-quadrado foram
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identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos alunos com e sem
sucesso escolar (x2=22.83, p<=001).
Discussão
Neste estudo pretendeu-se analisar a prevalência das práticas agressivas e de
intimidação (bullying) num conjunto de treze agrupamentos de escolas do Distrito de
Bragança, no nordeste de Portugal. Relativamente ao tipo de envolvimento nas práticas
agressivas entre pares (bullying), diversos estudos focam a sua atenção nos agressores e
nas vítimas, não atribuindo a mesma atenção ao papel dos restantes membros do seu
grupo de pares (Nansel, et al., 2001; Raimundo & Seixas, 2009). Consequentemente,
analisou-se a prevalência dos não envolvidos, das vítimas, dos agressores e das vítimasagressivas.
De acordo com os resultados deste estudo, consideramos que a violência escolar
constitui um problema que afecta muitas crianças e jovens no distrito de Bragança,
atendendo ao facto de que aproximadamente metade dos alunos que constituem a
amostra referem ter estado envolvidos em práticas agressivas e de intimidação
(bullying) pelo menos 1 ou 2 vezes no último período escolar.
A prevalência registada neste estudo assume particular preocupação visto que
apresentam valores superiores aos estudos desenvolvidos em Portugal (Carvalhosa, et
al., 2009a; Pereira, et al., 1996; Pereira, et al., 2004), os quais registam uma frequência
de envolvimento em situações de bullying que varia desde os 5% aos 32% da população
escolar (Carvalhosa, et al., 2009a; Pereira, et al., 1996; Whitney & Smith, 1993).
À semelhança de outros estudos (Pereira, 2008; Raimundo & Seixas, 2009) o
grupo de agressores regista valores semelhantes, no entanto, no presente estudo o
referido grupo arrola maior prevalência comparativamente aos restantes grupos (vítimas
e vítimas/agressores). Curiosamente, o grupo das vítimas surge com valores inferiores,
comparativamente à prevalência registada nos restantes grupos analisados (agressores e
vítimas/agressores) contrariando os resultados de vários estudos.
No grupo das vítimas-agressivas, observa-se uma tendência semelhante à do
grupo de agressores em termos de prevalência, embora com valores relativos
ligeiramente inferiores, no entanto, bastante superiores aos das vítimas, contrariando a
prevalência registada em outros estudos (Carvalhosa, et al., 2009a; Nansel, et al., 2001;
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Raimundo & Seixas, 2009), onde o grupo das vítimas-agressivas regista uma
prevalência inferior à obtida no presente estudo.
A investigação tem revelado que o bullying no contexto escolar constitui um
problema com uma prevalência elevada que compromete a aprendizagem e influencia o
precoce abandono escolar (Carvalhosa, Moleiro, & Sales, 2009b). Decorrente da análise
dos resultados obtidos no presente estudo em termos de aproveitamento, verifica-se que
os alunos com insucesso escolar registam valores superiores comparativamente aos
alunos com sucesso escolar, em termos de envolvência em episódios de bullying,
confirmando os resultados encontrados em outros estudos, embora neste caso sejam
superiores (Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008; Resnick, et al., 1997; Silva & Pereira,
2008). Assim, no caso dos agressores, verifica-se uma maior prevalência nos alunos
com insucesso escolar comparativamente aos alunos com sucesso escolar, o que vai de
encontro à ideia de que quanto maior é o insucesso mais agressoras são as crianças,
visto que o ficar vários anos retido significa adquirir um estatuto dentro da turma e
desenvolver defesas que evitam que se torne vítima (Pereira, 2008) pelo que aos
agressores são associados problemas escolares (Carvalhosa, et al., 2009a).
No grupo das vítimas, apesar de apresentarem valores relativos inferiores
comparativamente aos restantes grupos (vítimas-agressivas e agressores), revelam que
os alunos com insucesso escolar também registam valores relativos superiores aos
alunos com sucesso escolar, corroborando o princípio de que a vitimação está associada
ao pior desempenho escolar, durante o período em que a criança ou jovem é vitimizada
(Carvalhosa, et al., 2009a; Matos, Simões, et al., 2009; Nansel, et al., 2001).
Finalmente, no grupo das vítimas-agressivas, observa-se uma tendência
semelhante à do grupo de agressores em termos de prevalência, sendo que os alunos
com insucesso escolar apresentam valores relativos superiores comparativamente aos
alunos com sucesso escolar nas práticas de agressivas e de intimidação (bullying)
Em suma, os resultados deste estudo vão de encontro ao facto de que os alunos
com insucesso escolar ao longo do percurso, de uma forma geral, exibem índices mais
elevados de comportamentos disruptivos, comparativamente aos não repetentes
(Fonseca, et al., 2000), visto que os alunos com sucesso escolar aceitam com facilidade
a autoridade, são mais concentrados, criam menos conflitos, são mais responsáveis,
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colaborantes e pontuais, cuidam melhor do seu material escolar, respeitam mais os
professores e as suas orientações (Veiga, 2006).
Embora não se possa estabelecer uma relação directa entre o insucesso escolar e
um qualquer tipo de comportamento desviante, consideramos admissível que ele
constitua como um importante factor de risco quer para a indisciplina na sua perspectiva
mais simples, quer para atitudes e comportamentos de maior gravidade, como sejam, o
bullying. Constituindo toda a forma de violência na escola uma preocupação dos
educadores e da sociedade em geral, quando esta assume um carácter sistemático
aumenta naturalmente essa preocupação, não só pelos efeitos que causa nos actores
directamente envolvidos (vítimas e/ou agressores), a curto e a longo prazo, como pelo
efeito nos próprios observadores, particularmente nas escolas onde o fenómeno
apresenta uma maior prevalência (Akiba, Le Tendre, Baker, & Goesling, 2002; Martins,
2009; Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008; Rigby, 1999).
Neste contexto de agressividade entre pares duas certezas imperam: quanto mais
repetidas e prolongadas forem, maiores são os danos do ponto de vista do
desenvolvimento biopsicosocial e o bem-estar das crianças envolvidas, pelo que urge a
necessidade de um diagnóstico e intervenção precoce. Dada a elevada prevalência dos
comportamentos de bullying registada no presente estudo, evidencia-se a necessidade de
se implementarem programas de intervenção desde os primeiros anos de escolares,
baseados num conhecimento mais aprofundado e centrados no insucesso e abandono
escolar (Nansel, et al., 2001; Rigby, 1999), na motivação e expectativas dos alunos e
professores, impulsionando competências pessoais e sociais para a prevenção de
comportamentos agressivos (Matos, Negreiros, et al., 2009). Entre as competências
pessoais
e
sociais,
destacam-se
as
competências
cognitivas,
emocionais
e
comportamentais, através da promoção do comportamento assertivo na resolução de
problemas, a participação activa dos alunos e o envolvimento em actividades
extracurriculares (trabalho cooperativo), os quais constituem factores de protecção
(Glew, et al., 2005) e medidas eficazes na redução da violência (Gladden, 2002).
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