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O bullying na escola: A prevalência e o sucesso escolar

RESUMO:Uma versão modificada do questionário de Olweus (1989) para a língua portuguesa sobre o bullying no contexto escolar foi aplicada a uma amostra de 3891 alunos, com idades compreendidas os 5 e os 16 anos, pertencentes a um conjunto de treze Agrupamentos de escolas do ensino básico do Distrito de Bragança, no Nordeste de Portugal. O objectivo do estudo foi o de analisar a prevalência do bullying nos alunos com sucesso ou insucesso escolar, nos diferentes níveis do ensino básico (do 1º ao 6º anos), através da diferenciação e caracterização dos grupos «não envolvidos», «vítimas», «agressores», «vítimas e agressores» e «não respondeu». Os resultados manifestaram uma maior prevalência de agressores (18,8%), embora com valores próximos das vítimas e agressores (17,8%) e das vítimas (11,1%). Os alunos com insucesso escolar apresentam maior envolvimento em episódios de vitimação e agressão, comparativamente, aos alunos com sucesso escolar. Os alunos com insucesso educativo, registaram valores relativos superiores nos agressores (19,7%), nas vítimas e agressores (18,9%) e por fim as vítimas (16%), pelo que a condição do insucesso escolar constitui um sinal de alerta no tocante às práticas agressivas e de intimidação (bullying) em contexto escolar.

I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 O BULLYING NA ESCOLA: A PREVALÊNCIA E O SUCESSO ESCOLAR Paulo Costa & Beatriz Pereira (Universidade do Minho) RESUMO:Uma versão modificada do questionário de Olweus (1989) para a língua portuguesa sobre o bullying no contexto escolar foi aplicada a uma amostra de 3891 alunos, com idades compreendidas os 5 e os 16 anos, pertencentes a um conjunto de treze Agrupamentos de escolas do ensino básico do Distrito de Bragança, no Nordeste de Portugal. O objectivo do estudo foi o de analisar a prevalência do bullying nos alunos com sucesso ou insucesso escolar, nos diferentes níveis do ensino básico (do 1º ao 6º anos), através da diferenciação e caracterização dos grupos «não envolvidos», «vítimas», «agressores», «vítimas e agressores» e «não respondeu». Os resultados manifestaram uma maior prevalência de agressores (18,8%), embora com valores próximos das vítimas e agressores (17,8%) e das vítimas (11,1%). Os alunos com insucesso escolar apresentam maior envolvimento em episódios de vitimação e agressão, comparativamente, aos alunos com sucesso escolar. Os alunos com insucesso educativo, registaram valores relativos superiores nos agressores (19,7%), nas vítimas e agressores (18,9%) e por fim as vítimas (16%), pelo que a condição do insucesso escolar constitui um sinal de alerta no tocante às práticas agressivas e de intimidação (bullying) em contexto escolar. Introdução A temática da violência tem sido alvo de uma preocupação crescente nas últimas três décadas, quer por parte da sociedade em geral, quer por parte da comunidade escolar (Carvalhosa, Moleiro, & Sales, 2009a; Glew, Fan, Katon, Rivara, & Kernic, 2005; Martins, 2005; Matos, Negreiros, Simões, & Gaspar, 2009; Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008; Raimundo & Seixas, 2009; Rigby, 1999; Seixas, 2005). Uma das manifestações da violência na escola que, na literatura educacional, tem atingido maior visibilidade é a agressão entre pares (Matos, Negreiros, et al., 2009), particularmente o fenómeno conhecido a nível internacional pelo termo bullying e que designaremos também por comportamentos agressivos de intimidação (Pereira, 2008). Dan Olweus definiu bullying como um aluno está a ser vitima de bullying quando está exposto, repetidamente e ao longo do tempo, a acções negativas da parte de uma ou mais pessoa (Olweus, 1993). Esta forma de violência entre pares distingue-se da agressão ocasional não só pela sua persistência no tempo, como pela desigualdade de poder entre os intervenientes (Matos, Negreiros, et al., 2009; Olweus, 1994; Pereira, Mendonça, Neto, Valente, & Smith, 2004). Acrescente-se ainda, o facto de o bullying 1810 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 ter por objectivo provocar mal-estar e ganho de controlo sobre outra pessoa de forma intencional (Carvalhosa, Lima, & Matos, 2002; Martins, 2009; Olweus, 1993; Pereira, 2008; Seixas, 2005). No bullying estão envolvidos o (s) agressor (es), a (s) vítima (s) e ainda a (s) vítima (s) - agressiva (s), o grupo dos colegas, a própria instituição (assistentes operacionais, professores, gestores escolares) e as famílias dos actores envolvidos (Lourenço, Pereira, Paiva, & Gebara, 2009). Pelo que usualmente demanda o envolvimento de pelo menos dois protagonistas, o agressor (que exerce o controlo) e a vítima (que acaba submetida e tiranizada), mas podem ocorrer igualmente episódios de bullying em contexto mais alargado de grupo (Raimundo & Seixas, 2009). Os agressores obtêm poder sobre as suas vítimas de diversas formas, factores físicos (idade, tamanho ou força física), ou ainda, por factores de natureza social (estatuto no seio do grupo ou pela procura de apoio por parte dos outros), enquanto, as vítimas não se sentem em posição de se defenderem, de procurar auxílio ou de desforrar contra o agressor (Martins, 2009; Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008). Pesquisas (Pereira, et al., 2004; Whitney & Smith, 1993) revelaram que o bullying ocorre principalmente nos anos escolares iniciais. Embora a violência ocorra em todas as faixas etárias, são as crianças e os adolescentes, por estarem em processo de crescimento e desenvolvimento, os que se apresentam em situação de maior vulnerabilidade e sofrem maiores repercussões na saúde (Sanchez & Minayo, 2004). Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (2002), algumas crianças apresentam comportamentos problemáticos na primeira infância e que gradualmente se vão agravando, até atingirem as formas mais graves de agressão, antes e durante a adolescência (Krug, Dahlberg, Mercy, Zwi, & Lozano, 2002). Relativamente ao 1º ciclo do ensino básico, estudos concluíram que 20% dos alunos encontravam-se envolvidos em comportamentos de bullying, com relativa frequência (Pereira, 2008; Pereira, Almeida, Valente, & Mendonça, 1996), o qual pode ser explicado pelo facto de as crianças mais novas não terem ainda adquirido as competências pró-sociais e de assertividade (Matos, Simões, & Gaspar, 2009). Constituindo a escola, um dos mais importantes contextos socializadores, assume-se como natural que os factores a ela associados sejam frequentemente relacionados ao ajustamento ou desajustamento das crianças e jovens. No que diz 1811 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 respeito aos comportamentos anti-sociais, têm sido aludidos vários factores, nomeadamente, a fraca ligação com a escola, o fraco desempenho escolar e o insucesso escolar (Matos, Negreiros, et al., 2009). Muitas crianças e adolescentes vêem-se frequentemente confrontados no seu quotidiano escolar, com episódios de agressividade, com os quais não sabem lidar e que por vezes afectam de forma decisiva o seu percurso escolar, o seu bem-estar e o seu processo de desenvolvimento pessoal e social (Freire, Simão, & Ferreira, 2006). Os baixos níveis de inteligência e o fraco progresso na escola surgem como factores de risco associados à violência entre crianças e jovens (Resnick, et al., 1997), ainda neste sentido, o insucesso escolar parece estar associado ao aumento percentual de crianças agressoras (Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008; Silva & Pereira, 2008), podendo ainda, constituir um indicador de violação de regras que está associado ao comportamento anti-social, bem como pode levar os adolescentes a uma rede de apoio constituída por adolescentes com comportamentos desviantes, adoptando este tipo de comportamentos (Fonseca, Taborda Simões, & Formosinho, 2000). Estudos desenvolvidos por Nansel e Rigby demonstraram que existe uma associação significativa entre a envolvência do bullying e a auto-percepção do rendimento escolar e outros aspectos de desajustamento social. (Nansel, et al., 2001; Rigby, 1999). Também o impacto do bullying sobre a vítima e os agressores parece estar associado ao rendimento escolar, através da motivação demonstrada para frequentar a escola e os níveis de auto-estima (Formosinho & Simões, 2001; Krug, et al., 2002; Nansel, et al., 2001). Numa investigação sobre as percepções que os agressores tinham sobre si, os autores concluíram que, os agressores possuíam uma auto-estima e uma percepção da sua competência social que oscilam ambas de igual forma, entre os níveis médio e elevado, no entanto, relativamente a sua competência académica consideravam como abaixo da média (Johnson & Lewis, 1999), enquanto, as vítimas têm uma atitude positiva face ao trabalho e disciplinas escolares, apresentando um rendimento académico dentro da média ou mesmo superior aos agressores (Formosinho & Simões, 2001). Pelo que a identificação dos traços da personalidade (perfis das vítimas e dos agressores) permite avaliar os potenciais efeitos que acção sistemática do bullying pode comprometer o aproveitamento escolar (Nansel, et al., 2001) . 1812 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 A adopção de programas de reforço pré-escolar, constitui uma das estratégias a implementar na prevenção para a primeira infância, através do desenvolvimento de atitudes necessárias para melhorar o êxito escolar e consequentemente, aumento da probabilidade de obter êxito nos resultados académicos futuros, podendo dessa forma fortalecer os laços da criança com a escola, aumentando o aproveitamento e a autoestima (Krug, et al., 2002). Programas desenvolvidos por (Olweus, 1993) e (Pereira, 2008) afirmam que para prevenir o bullying é necessário envolver toda a comunidade educativa (alunos, professores, funcionários, pais e outros elementos da comunidade local), assentes numa perspectiva mais global (escolas e turmas), do que apenas aos indivíduos envolvidos (Martins, 2005). O presente estudo delineou-se com o objectivo de identificar a prevalência de comportamentos agressivos e de intimidação (bullying) relacionando com o aproveitamento escolar (sucesso escolar/insucesso escolar). A relevância deste estudo situa-se na compreensão do que acontece com as crianças envolvidas em práticas agressivas, tendo em conta o tipo de envolvimento (agressores, vítimas, vítimas e agressores e não envolvidos) e o sucesso/insucesso escolar, de forma a poder actuar de modo eficiente na prevenção deste tipo de comportamento. Metodologia Amostra A amostra é de 3891 alunos, do 1º ao 6º ano de escolaridade, com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos, com uma média global de 9 anos, em treze agrupamentos de escolas públicas do ensino básico pertencentes a nove concelhos da Sub-Região de Saúde de Bragança (no Alto Trás-os-Montes, no Norte de Portugal). No total da amostra, 51,3% das crianças pertencem ao género masculino e 48,7% ao feminino, 84,1% transitaram de ano e 15,9% foram retidos. Constituindo os valores deste estudo, em termos de sucesso escolar, inferiores aos registados a nível nacional (1º ciclo – 91,5%/ 2º ciclo – 91,4%) no ano 2008, altura em que se realizou a recolha de dados (Educação, 2009; Pereira, et al., 2009). Instrumento de recolha de dados Os dados foram recolhidos através de um questionário de auto-relato, o questionário «bullying – A agressividade entre crianças no espaço escolar» de Olweus (1989), adaptado à população portuguesa por Pereira e Tomás (1994) e revisto por Pereira (2006). Organizado em quatro secções, sendo a primeira relativa aos dados sócio 1813 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 económicos, a segunda à identificação de comportamentos de vitimação, a terceira de agressão e quarta relativamente à amizade por nomeação de pares e ainda quanto à sua percepção sobre os recreios escolares. A utilização deste questionário permitiu identificar e caracterizar os grupos previamente estabelecidos e de acordo com os papéis desempenhados em situações agressivas e de intimidação (bullying). As crianças foram questionadas sobre a frequência da ocorrência das situações, mas não sobre a gravidade das mesmas, ainda que pudessem descrever algum episódio quando lhes foi solicitado que identificassem o tipo de bullying que tinham experienciado na escola. A tradução portuguesa utilizada no questionário para bullying foi o de «comportamentos agressivos de intimidação». Procedimentos A recolha de dados foi realizada em Junho de 2008, correspondendo Junho ao final do ano lectivo. Atendendo às exigências ditadas pelos códigos de princípios éticos, tivemos em atenção a salvaguarda dos direitos dos participantes à privacidade ou à não participação, ao anonimato e respectiva confidencialidade. Os alunos responderam ao questionário numa aula no período normal de funcionamento. O questionário foi administrado pelos professores que foram sujeitos a uma informação breve. Análise dos dados Para efeitos de análise e tratamento estatístico dos dados recolhidos foram submetidos a processamento electrónico, usando-se o software Statistical Package for the Social Sciences - (SPSS) – Windows (versão 17.0). Para a identificação do grupo de actores envolvidos nas práticas agressivas, baseamo-nos em quatro grupos, nomeadamente, «vítimas», «agressores», «vítimaagressiva» e «não envolvidos» (não envolvidos ou não responderam de forma conclusiva). A construção desta variável foi com base nas variáveis «ser vítima» e «ser agressor» depois de terem sido transformadas em variáveis dicotómicas. 1814 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 Tabela I - Grupos de envolvidos em práticas agressivas de intimidação (bullying) Não foi agressor (0) Foi agressor (1,2,3) Não foi vítima (0) Foi vítima (1,2,3) NR (9) Não foi vítima (0) Não foi agressor (0) R= (0,0) – Não foi vítima Não foi agressor Não foi vítima (0) Foi agressor (1,2,3) R=(0,1) Agressor Foi vítima (1,2,3) Não foi agressor (0) R=(1,2,3) Foi vítima Não respondeu (9) Não foi agressor (0) R= (9) Não respondeu Foi vítima (1,2,3) Foi agressor (1,2,3) R= (1,2,3) Vítima Agressiva Não respondeu (9) Foi agressor (1,2,3) R= (9) Não respondeu Conscientes de que alguns estudos contabilizam como situações de agressão e/ou vitimação, aquelas que ocorreram mais de três vezes durante o período, no presente estudo consideramos como frequência mínima 1 ou 2 vezes no período. Tal posição por nós assumida, prende-se com o facto de a natureza das acções ao ocorrerem uma ou duas vezes, constitui de si, sinal de alerta. Resultados Tendo por referencia os diferentes papeis que as crianças podem assumir no que diz respeito aos comportamentos agressivos e de intimidação, passamos de seguida a descrever a prevalência registada em quatro grupos, relacionados com o respectivo tipo de papel desempenhado ou ainda o tipo de envolvimento (não envolvidos; vítimas, agressores e vítimas-agressivas), de acordo com os diferentes episódios de agressão e de intimidação, expresso pela frequência registada (1 ou 2 vezes no período). Tabela II – Prevalência do tipo de envolvimento em situações de bullying Amostra Tipo de envolvimento n % Não envolvidos em bullying 1948 52,3 Vítimas 413 11,1 Agressores 702 18,8 Vítimas e Agressores 663 17,8 Totais 3726 100 1815 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 Verifica-se que aproximadamente metade (47,3%) dos alunos que constituem a amostra vivenciaram situações de bullying, constituindo o grupo de agressores (18,8%) aquele que regista maior prevalência, seguido do grupo de vítimas-agressivas (17,8%) e finalmente o das vítimas (11,1%). Tabela III– Prevalência do tipo de envolvimento em situações de bullying e o aproveitamento escolar Sucesso Escolar Tipo de envolvimento Insucesso Escolar n % n % Não envolvidos em bullying 1651 53,7 265 45,5 Vítimas 308 10 93 16 Agressores 577 18,8 115 19,7 Vítimas e Agressores 539 17,5 110 18,9 3075 100 583 100 Totais X2 22.83* *p< .001 Decorrente da análise da variável aproveitamento escolar (sucesso/insucesso escolar), verifica-se que o grupo de alunos que foram retidos ao longo do percurso escolar está mais envolvido (54,5%) nas práticas agressivas e de intimidação comparativamente ao grupo de alunos que transitaram de ano (46,3%). Constata-se de igual modo que o grupo de alunos que foram retidos ao longo do percurso escolar, registam uma maior prevalência no duplo papel de comportamentos de vitimação e agressão (18,9%) que o grupo de alunos que transitaram de ano (17,5%). Relativamente à agressão e à vitimação verifica-se uma mesma tendência, na qual o grupo com insucesso escolar apresenta valores relativos superiores comparativamente aos dos alunos com sucesso escolar. Assim, relativamente à vitimação os alunos com insucesso escolar (16%) apresentam valores superiores aos alunos com sucesso escolar (10%), No caso dos agressores o grupo com insucesso escolar regista um valor relativo (19,7%) ligeiramente superior ao dos alunos com sucesso escolar (18,8%). Tendo sido conduzido o teste de Qui-quadrado foram 1816 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 identificadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos alunos com e sem sucesso escolar (x2=22.83, p<=001). Discussão Neste estudo pretendeu-se analisar a prevalência das práticas agressivas e de intimidação (bullying) num conjunto de treze agrupamentos de escolas do Distrito de Bragança, no nordeste de Portugal. Relativamente ao tipo de envolvimento nas práticas agressivas entre pares (bullying), diversos estudos focam a sua atenção nos agressores e nas vítimas, não atribuindo a mesma atenção ao papel dos restantes membros do seu grupo de pares (Nansel, et al., 2001; Raimundo & Seixas, 2009). Consequentemente, analisou-se a prevalência dos não envolvidos, das vítimas, dos agressores e das vítimasagressivas. De acordo com os resultados deste estudo, consideramos que a violência escolar constitui um problema que afecta muitas crianças e jovens no distrito de Bragança, atendendo ao facto de que aproximadamente metade dos alunos que constituem a amostra referem ter estado envolvidos em práticas agressivas e de intimidação (bullying) pelo menos 1 ou 2 vezes no último período escolar. A prevalência registada neste estudo assume particular preocupação visto que apresentam valores superiores aos estudos desenvolvidos em Portugal (Carvalhosa, et al., 2009a; Pereira, et al., 1996; Pereira, et al., 2004), os quais registam uma frequência de envolvimento em situações de bullying que varia desde os 5% aos 32% da população escolar (Carvalhosa, et al., 2009a; Pereira, et al., 1996; Whitney & Smith, 1993). À semelhança de outros estudos (Pereira, 2008; Raimundo & Seixas, 2009) o grupo de agressores regista valores semelhantes, no entanto, no presente estudo o referido grupo arrola maior prevalência comparativamente aos restantes grupos (vítimas e vítimas/agressores). Curiosamente, o grupo das vítimas surge com valores inferiores, comparativamente à prevalência registada nos restantes grupos analisados (agressores e vítimas/agressores) contrariando os resultados de vários estudos. No grupo das vítimas-agressivas, observa-se uma tendência semelhante à do grupo de agressores em termos de prevalência, embora com valores relativos ligeiramente inferiores, no entanto, bastante superiores aos das vítimas, contrariando a prevalência registada em outros estudos (Carvalhosa, et al., 2009a; Nansel, et al., 2001; 1817 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 Raimundo & Seixas, 2009), onde o grupo das vítimas-agressivas regista uma prevalência inferior à obtida no presente estudo. A investigação tem revelado que o bullying no contexto escolar constitui um problema com uma prevalência elevada que compromete a aprendizagem e influencia o precoce abandono escolar (Carvalhosa, Moleiro, & Sales, 2009b). Decorrente da análise dos resultados obtidos no presente estudo em termos de aproveitamento, verifica-se que os alunos com insucesso escolar registam valores superiores comparativamente aos alunos com sucesso escolar, em termos de envolvência em episódios de bullying, confirmando os resultados encontrados em outros estudos, embora neste caso sejam superiores (Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008; Resnick, et al., 1997; Silva & Pereira, 2008). Assim, no caso dos agressores, verifica-se uma maior prevalência nos alunos com insucesso escolar comparativamente aos alunos com sucesso escolar, o que vai de encontro à ideia de que quanto maior é o insucesso mais agressoras são as crianças, visto que o ficar vários anos retido significa adquirir um estatuto dentro da turma e desenvolver defesas que evitam que se torne vítima (Pereira, 2008) pelo que aos agressores são associados problemas escolares (Carvalhosa, et al., 2009a). No grupo das vítimas, apesar de apresentarem valores relativos inferiores comparativamente aos restantes grupos (vítimas-agressivas e agressores), revelam que os alunos com insucesso escolar também registam valores relativos superiores aos alunos com sucesso escolar, corroborando o princípio de que a vitimação está associada ao pior desempenho escolar, durante o período em que a criança ou jovem é vitimizada (Carvalhosa, et al., 2009a; Matos, Simões, et al., 2009; Nansel, et al., 2001). Finalmente, no grupo das vítimas-agressivas, observa-se uma tendência semelhante à do grupo de agressores em termos de prevalência, sendo que os alunos com insucesso escolar apresentam valores relativos superiores comparativamente aos alunos com sucesso escolar nas práticas de agressivas e de intimidação (bullying) Em suma, os resultados deste estudo vão de encontro ao facto de que os alunos com insucesso escolar ao longo do percurso, de uma forma geral, exibem índices mais elevados de comportamentos disruptivos, comparativamente aos não repetentes (Fonseca, et al., 2000), visto que os alunos com sucesso escolar aceitam com facilidade a autoridade, são mais concentrados, criam menos conflitos, são mais responsáveis, 1818 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 colaborantes e pontuais, cuidam melhor do seu material escolar, respeitam mais os professores e as suas orientações (Veiga, 2006). Embora não se possa estabelecer uma relação directa entre o insucesso escolar e um qualquer tipo de comportamento desviante, consideramos admissível que ele constitua como um importante factor de risco quer para a indisciplina na sua perspectiva mais simples, quer para atitudes e comportamentos de maior gravidade, como sejam, o bullying. Constituindo toda a forma de violência na escola uma preocupação dos educadores e da sociedade em geral, quando esta assume um carácter sistemático aumenta naturalmente essa preocupação, não só pelos efeitos que causa nos actores directamente envolvidos (vítimas e/ou agressores), a curto e a longo prazo, como pelo efeito nos próprios observadores, particularmente nas escolas onde o fenómeno apresenta uma maior prevalência (Akiba, Le Tendre, Baker, & Goesling, 2002; Martins, 2009; Nansel, et al., 2001; Pereira, 2008; Rigby, 1999). Neste contexto de agressividade entre pares duas certezas imperam: quanto mais repetidas e prolongadas forem, maiores são os danos do ponto de vista do desenvolvimento biopsicosocial e o bem-estar das crianças envolvidas, pelo que urge a necessidade de um diagnóstico e intervenção precoce. Dada a elevada prevalência dos comportamentos de bullying registada no presente estudo, evidencia-se a necessidade de se implementarem programas de intervenção desde os primeiros anos de escolares, baseados num conhecimento mais aprofundado e centrados no insucesso e abandono escolar (Nansel, et al., 2001; Rigby, 1999), na motivação e expectativas dos alunos e professores, impulsionando competências pessoais e sociais para a prevenção de comportamentos agressivos (Matos, Negreiros, et al., 2009). Entre as competências pessoais e sociais, destacam-se as competências cognitivas, emocionais e comportamentais, através da promoção do comportamento assertivo na resolução de problemas, a participação activa dos alunos e o envolvimento em actividades extracurriculares (trabalho cooperativo), os quais constituem factores de protecção (Glew, et al., 2005) e medidas eficazes na redução da violência (Gladden, 2002). 1819 I Seminário Internacional “Contributos da Psicologia em Contextos Educativos”. Braga: Universidade do Minho, 2010 ISBN- 978-972-8746-87-2 Referências bibliográficas Akiba, M., Le Tendre, G., Baker, D., & Goesling, B. (2002). Student victimization: national and school system effects on school violence in 37 nations. American Educational Research Journal, 4, 829-853. Carvalhosa, S., Lima, L., & Matos, M. (2002). Bullying: a provocação/vitimação entre pares em contexto escolar português. Análise Psicológica, 20(4), 517-585. Carvalhosa, S., Moleiro, C., & Sales, C. (2009a). 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