As traseiras do prédio onde vivo em Braga têm uma vista privilegiada para um amontoado de pequeninas casas velhas, a que chamo de "galinheiro". O nome tem a ver com o estado de (fraca) conservação dos imóveis, não sei se por falta de dinheiro dos donos, se por estes não quererem saber. Para além da única casa em bom estado, que foi restaurada há pouco tempo, a qual é habitada por um casal jovens , todas as outras habitações são de pessoas mais velhas.
É então da minha janela da cozinha, que é enorme e transforma o local em estufa no verão, que vejo as senhoras do "galinheiro", isto é, "as galinhas", a conversar sobre a vida dos outros, em amena cavaqueira, enquanto espreitam para ver o que eu ando a fazer dentro da minha própria casa. Por essa razão, chego ao cúmulo de, depois de correr as cortinas, as prender com molas da roupa, só para não ter que me chatear, porque elas bem se esticam para tentar ver alguma coisa. Imaginem com que cara fico ao explicar aos convidados da casa, a razão daquele aparato. Mas a verdade, é que sempre que me chego à janela, parece que há sempre, pelo menos, uma "galinha", a espreitar.
Na continuação da lateral traseira do prédio, está a lavandaria, apenas separada da cozinha por uma porta de correr que costuma encravar, ao ponto de me conseguir magoar ao mover a dita cuja. Na lavandaria continuam o envidraçado gigante das janelas, mas aí já não existem cortinas. E lá ficam as vizinhas maravilhadas a constatar que eu até meto roupa a secar de vez em quando... E berram, olham fixamente, e nem disfarçam.
Há uns dias, no entanto, "o espectáculo" foi diferente. O Moço ajudou-me a pendurar a roupa (até porque eu não chego às cordas que estão dentro da lavandaria... --' ), e enquanto lha passava, olhando distraidamente para fora, reparei que um homem vinha a descer o "galinheiro", fixado em nós. Agora que penso nisso, quando reparou que eu estava a olhar de volta para ele, o homem até que disfarçou bem, e eu nem dei grande importância ao assunto naquele momento, continuando na minha "lide doméstica". Algumas peças de roupa depois, volto a olhar pela janela, por mero acaso... E lá está o "galinho", do outro lado do passeio, parado, a olhar de forma totalmente descarada... para o Moço.
"Se calhar nunca viu...", disse depois de explicar ao Moço o que se tinha acabado de se passar, já o mirone se estava a dirigir para o "galinheiro" novamente. E ele respondeu "pois, se calhar, nunca viu mesmo um homem a pendurar roupa". Alguém devia explicar a estas criaturas que o tempo da sanzala já lá vai... Um homem não fica rendido por ajudar a mulher/namorada/companheira/mãe/irmã a tratar da casa que ambos usam. Se não gostam, e estão no seu perfeito direito de não gostar, têm bom remédio: virem a cara para o lado. Eu cá fico com o meu "fado do lar".