Articles in peer-reviewed journals by André Pelegrinelli
Antíteses, Dec 2019
Resumo:
A Chartula di Assisi é uma relíquia de Francisco de Assis, pequeno fragmento de pergamin... more Resumo:
A Chartula di Assisi é uma relíquia de Francisco de Assis, pequeno fragmento de pergaminho com dois textos autógrafos, a Laudes dei Altissimi e a Benedictio Fratri Leoni data, ambos de 1224. Neste artigo, considerando a materialidade do pergaminho, consideramos o objeto como a conformação das linguagens textuais e visuais, que sugerem diferentes possibilidades de leitura que apresentamo mesmo sentido analógico. Através de análise codicológica, paleográfica, do texto e das imagens, propomos pensar a Benedictio Fratri Leoni data como uma montagem que faz uso de uma imagem-caligrama veiculando a bênção de modo não linear que considera a espacialidade do fragmento de pergaminho e dele faz uso.
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Abstract:
The Chartula di Assisi is a relic of Francis of Assisi, it consists in a small fragment of parchment with two autograph texts, Laudes dei Altissimi and Benedictio Fratri Leoni Data, both written in 1224. In this article, taking into account the materiality of the parchment, we consider the object to be a conformation of textual and visual languages, which suggests various reading possibilities that present the same analogical meaning. Through the codicological and paleographic analysis of text and image, we propose an understanding of Benedictio Fratri Leoni Data as an assembly that makes use of a calligrammatic image to convey the act of blessing in a non-linear way that considers and access the spatiality of the parchment fragment.
Domínios da Imagem, 2017
Abstract: The studies of Franciscanism have undergone an extensive renovation, for at least thirt... more Abstract: The studies of Franciscanism have undergone an extensive renovation, for at least thirty years, by considering the role of images in the cult construction to the saint and the practices of his successors. We present here considerations on one of these first images of the Saint of Assisi, the painting produced by Bonaventura Berlinghieri for the Church of Pescia, in 1235, proposing a study that considers the image in its integrity, that is: iconography and its uses, pictorial and social aspects. In the mentioned painting, the scenes chosen for figuration are those that relate miracle and thaumaturgical touch, expected relation and basis of the transcendental action in Christianity, by generating a God who turns into matter. The touch/miracle relation becomes clear when thinking about the attributions and uses of the object " painting " : only this double analysis, imagery and of material culture, takes care of the image complexity.
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Resumo: Os estudos do franciscanismo têm passado por uma ampla renovação, há pelo menos trinta anos, ao considerar também o papel das imagens na construção do culto ao santo e das práticas de seus sucessores. Apresentamos, aqui, considerações sobre uma dessas primeiras imagens do santo de Assisi, a távola produzida por Bonaventura Berlinghieri para a Igreja de Pescia, em 1235, propondo um estudo que considere a imagem em sua integridade, ou seja: iconografia e usos, aspectos pictóricos e sociais. Na távola citada, as cenas escolhidas para figuração são aquelas que relacionam milagre e toque taumatúrgico, relação esperada e base da ação transcendental no cristianismo ao gerar um Deus que se torna matéria. A relação toque/milagre fica clara ao pensar as atribuições e usos do objeto távola: somente essa dupla análise, imagética e de cultura material, dá conta da complexidade da imagem.
Palavras-chave: Francisco de Assis. Imagem Medieval. Debate teórico.
Books by André Pelegrinelli
Francisco de Assis em Londrina imagens, pessoas, lugares, 2022
Francisco, em nossos dias, é mais conhecido por seu rosto do que pelas suas palavras, e a sua ima... more Francisco, em nossos dias, é mais conhecido por seu rosto do que pelas suas palavras, e a sua imagem tridimensional é parte da economia da devoção e dos afetos que regem a sua presença em nossa sociedade. Presente em altares, mesas de cabeceiras e estantes, mas também em cozinhas, jardins, salas de estar e quartos, dividindo espaço com outros santos, com objetos de memória ou tudo aquilo que tem valor afetivo. A pluralidade de conformações visuais da figura de Francisco é rica, assim como são a pluralidade de origens, os modos de vida e de práticas de memória dos proprietários londrinenses que acumulam e que reforçam o caráter cosmopolita da cidade. Busque os São Franciscos de Londrina e encontraremos muitos londrinenses.
PELEGRINELLI, A. VISALLI, A. M. Ensino de História com imagens: um guia, 2022
Antiga e Medieval, tem sua atuação de docência, pesquisa e produção científica voltada para o per... more Antiga e Medieval, tem sua atuação de docência, pesquisa e produção científica voltada para o período medieval, da cultura visual na Idade Média e da documentação franciscana, especialmente imagética. Coordena o LEDI-Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem na mesma Universidade. Esta obra é de acesso aberto. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra desde que citada a fonte e a autoria e respeitando a Licença Creative Commons indicada. O imitar é congénito no homem (e nisso difere dos outros viventes, pois, de todos, é ele o mais imitador e, por imitação, apreende as primeiras noções), e os homens se comprazem no imitado⁹.
Experiências visuais: ecos temporais, ecos espaciais, 2022
PELEGRINELLI, A.; SALAMON, F. D. O Livro Vermelho (Liber Novus) de C. G. Jung - medievalismo e im... more PELEGRINELLI, A.; SALAMON, F. D. O Livro Vermelho (Liber Novus) de C. G. Jung - medievalismo e imagens em um período de ascese. In: PELEGRINELLI, A. MOLINA, A. H. (orgs.). Experiências visuais: ecos temporais, ecos espaciais. Londrina: EDUEL, 2022. (ISBN digital: 9786589814450 | ISBN impresso: 9786589814467)
EXPERIÊNCIAS VISUAIS: ecos temporais, ecos espaciais., 2022
PELEGRINELLI, A. MOLINA, A. H. (orgs.). Experiências visuais: ecos temporais, ecos espaciais. Lon... more PELEGRINELLI, A. MOLINA, A. H. (orgs.). Experiências visuais: ecos temporais, ecos espaciais. Londrina: EDUEL, 2022. (ISBN digital: 9786589814450 | ISBN impresso: 9786589814467)
Se Aby Warburg vivesse hoje se divertiria em testar buscas nos bancos de imagens, compondo mosaicos algorítmicos. A experiência contemporânea com imagens repercute os ecos de tempos passados numa dimensão háptica das imagens. Em busca de experiências históricas com imagens atravessamos as seções deste livro encontrando, em cada uma, um conjunto de reflexões instigantes. O cruzamento das categorias de tempo e espaço como ordenadores de vivencias com as imagens habilita a composição de cenários em que reverberam visualidades de natureza plural. Imagens impregnadas de memória, voltam-se aos passados compostos em busca de futuros possíveis. (Ana Maria Mauad)
Laboratório de imagens: estudos sobre as imagens medievais, 2022
Full book -> http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/807
A Série Pri... more Full book -> http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/807
A Série Primeiros Olhares abriga trabalhos produzidos por discentes que se iniciam nos estudos das imagens, sem limitação de tema e período histórico. À curiosidade desses novos olhares, somam-se os cuidados com o rigor da pesquisa, resultando em experiências e material bibliográfico importantes tanto para a formação das autoras e dos autores quanto para a ampliação do campo dos estudos das imagens no Brasil. Este primeiro volume nasceu de uma experiência didática em torno da disciplina “Introdução aos manuscritos medievais” (FLH0116 – Introdução à História da Arte Medieval), no segundo semestre de 2020, junto do Departamento de História da USP. Realizada remotamente, por exigência da pandemia de Covid-19, às sextas-feiras à noite, logo o apelido de “Sextando no medievo” colou-se a ela. Em meio àquele difícil contexto, as discussões sobre o conteúdo das aulas mostraram-se como um verdadeiro alento intelectual. Como os doze textos desta publicação demonstram, não se tratou aqui apenas de complementar a formação acadêmica de seus autores, mas sobretudo de fornecer material bibliográfico acessível, em português, e de qualidade, para estudantes interessados nas imagens medievais – e, mais particularmente, futuros alunos da disciplina, para os quais este livro pode servir de incentivo a participar das futuras edições.
Laboratório de imagens: estudos sobre as imagens medievais, 2022
Este livro nasceu de uma experiência didática em torno da disciplina “Introdução aos m... more Este livro nasceu de uma experiência didática em torno da disciplina “Introdução aos manuscritos medievais” (FLH0116 –Introdução à História da Arte Medieval), ministrada por Maria Cristina Correia L. Pereira e auxiliada por André Pelegrinelli, como estagiário do Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE), no segundo semestre de 2020, junto ao Departamento de História da USP. Realizada remotamente, por exigência do isolamento social em função da pandemia de covid-19, às sextas-feiras ànoite, logo o apelido de “Sextando no medievo” colou-se a ela. Em meio àquele difícil contexto, as discussões sobre o conteúdo das aulas (que eram disponibilizadas em vídeo previamente) mostraram-se como um verdadeiro alento intelectual, sempre mescladas a um ambiente bem-humorado e à vontade de aprofundar os conhecimentos sobre as imagens medievais e analisá-las detidamente. A única avaliação exigida para a aprovação na disciplina foi um trabalho monográfico e, dos 55 alunos concluintes, foram selecionados para participar da presente publicação os 18 que melhor atenderam às demandas e entregaram um trabalho elaborado e articulado. Por motivos diversos, apenas 12 chegaram ao fim de um longo processo de quase um ano de revisões, reescritas, reelaborações.
Está-se diante, portanto, de um verdadeiro laboratório, em que não se tratava apenas de aprender e exercitar o trabalho de análise de imagens medievais, mas também de aprender e exercitar o trabalho de escrita acadêmica, de produção de um texto para publicação. Para a grande maioria deles, tratou-se da primeira experiência nesse sentido –e que, esperamos, inaugure uma longa série. Afinal, dois dentre eles atualmente já ingressaram em cursos de pós-graduação e vários outros pretendem fazê-lo em breve. A variedade dá a tônica nesta compilação, tanto de seus autores como de seus objetos de estudos, das abordagens escolhidas, dos estilos de escrita. Quanto aos autores, quatro já fazem pesquisa na área; e, dentre estes, três integram o Laboratório de Teoria e História das Mídias Medievais (LATHIMM) e são bolsistas ou ex-bolsistas de Iniciação Científica. Para os demais, essa foi a primeira experiência com imagens medievais, o que mostra, por um lado, uma abertura de espírito e uma curiosidade intelectual extremamente bem-vindas para historiadores e, por outro, o forte apelo que a arte medieval exerce sobre o imaginário contemporâneo.
PELEGRINELLI, A.; SUZANO JÚNIOR, B. F. (orgs.). Imagens: Saberes e Usos. Londrina: Eduel, 2021 (ISBN digital: 9786589814085 / ISBN físico: 9786589814139), 2021
Reunindo escritos de pesquisadores de diversos campos do saber, Imagens: Saberes & Usos é nortead... more Reunindo escritos de pesquisadores de diversos campos do saber, Imagens: Saberes & Usos é norteado pela inquietação de construção de conhecimentos e aplicações multidisciplinares da imagem em nosso cotidiano e na conformação histórica das sociedades. Trata-se, portanto, de um livro plural e essencial. Em que Saberes e usos se aglutinam e conformam na prática dos estudos da imagem, têm seus limites flexíveis e suas definições anuviadas. Apresentando o universo visual não apenas submetido ao das letras, porque toda operação epistemológica com imagens também é prática e gera usos.
Dissertation (Master) by André Pelegrinelli
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Estadual de Londrina. (http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000225326), 2018
Francisco de Assis, santo e fundador da Ordem dos Frades Menores, teve sua história marcada pela ... more Francisco de Assis, santo e fundador da Ordem dos Frades Menores, teve sua história marcada pela visualidade e a assumiu como ferramenta de comunicação midiática. Visualidade, aqui, compreendida como toda manifestação que é capaz de gerar, no receptor, uma imagem mental do enunciado. Francisco inaugurou no franciscanismo uma tradição de visualidade, apropriada pelos seus hagiógrafos e teólogos, Boaventura de Bagnoregio, em especial, teologizou a proposta visual do santo. Nas disputas pela memória de Francisco e da história dos frades menores, no século XIII, encontramos a busca pelo domínio dessa proposta de visualidade. Através da análise da hagiografias, crônicas, obras teológicas e, principalmente iconográfica, demonstrarmos a construção e a disputa da visualidade atrelada a memória e a apresentação desejada de Francisco. Analisando a Basílica de São Francisco, em Assis, com destaque ao ciclo comparado da Vida de Francisco e da Paixão de Cristo, do anônimo Mestre de São Francisco, notamos a emergência de uma proposta visual de Francisco-corpo ligada a seu espaço de sepultura que, ecoando os painéis narrativos anteriores, o presentifica. A proposta, porém, tornando imagética a mudança anunciada pelas hagiografias, modifica também, ao final do século XIII, a apresentação de Francisco, transformando-o, de indivíduo corpóreo, em instituição.
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Francis of Assisi, the saint and founder of the Order of Friars Minor had his history pronounced by the visuality, assumed like the communication tool. Visuality here understood as any manifestation able to generate in the receptor a mental image of the statement. Francis inaugurated in the franciscanism a visuality tradition, appropriate by her hagiographers and theologians, Boaventura of Bagnoregio, theological the visual proposal of the saint. In disputes of the Francis memories and the history of the friar’s minor in the 13th century. Were found the search by domain of this visuality purpose. Through the analysis of hagiographies, chronicles, theological works and principally iconography is showed the construction and the dispute of the visuality coupled up the memory and the Francis’ desired presentation. Analyzing the Basilica of Saint Francis in Assisi featured the cycle compared the Francis’ Life and the Passion of the Christ, from anonymous master of Saint Francis. We note the emergency of the visual purpose of the Francis’ body connected with her grave place, which echoing the previous panels, the presentifica. The purpose, however, making imagery the changes announced by the hagiographies, change also in the late of the 13th century the presentation of Francis, transforming it from a corporeal individual into an institution.
Courses & Workshops by André Pelegrinelli
A workshop about saints and sanctity on the web
Papers & Review by André Pelegrinelli
Editoriale della neonata rivista "Finxit. Dialoghi tra arte e scrittura dal Medioevo all’Età Mode... more Editoriale della neonata rivista "Finxit. Dialoghi tra arte e scrittura dal Medioevo all’Età Moderna". FINXIT è aperta a chiunque sia interessato alle convergenze e alle interazioni tra prodotto artistico, parola scritta e contesto geografico e storico-culturale. L’area di riferimento è quella italiana, vista nei suoi rapporti con l’Europa e il resto del mondo, entro un arco cronologico ampio, che intende valorizzare i tratti di continuità tra Medioevo ed Età moderna. Oggetto di interesse sono tutti i momenti che riguardano la vita delle opere, dalla committenza alla realizzazione, dalla pubblicazione alla fortuna, comprese le diverse modalità del reimpiego e della reinvenzione. Una speciale attenzione è riservata poi al rapporto tra arte e scrittura come fonti reciproche di ispirazione, alle componenti performative e agli ambiti teorici e operativi in cui si confrontano media e linguaggi diversi. “Finxit” nasce come rivista digitale peer-reviewed ad accesso aperto, promuove il multilinguismo e la libera discussione scientifica, riserva particolare attenzione alle nuove generazioni di studiosi e alle ricerche condotte su materiale inedito.
https://finxit.it/index.php/finxit
Courses by André Pelegrinelli
Livros e Capítulos by André Pelegrinelli
Francisco de Assis: Diálogo, Hospitalidade e Ecologia, 2022
EPÍGRAFE "Desde tempos imemoriais viveram na Terra pessoas grandiosas e magníficas que não almeja... more EPÍGRAFE "Desde tempos imemoriais viveram na Terra pessoas grandiosas e magníficas que não almejavam adquirir fama por meio de feitos inauditos ou de obras poéticas e livros. Mesmo assim, tais espíritos exerceram influência tão poderosa sobre povos e épocas inteiras que todos os conheciam e falavam deles com entusiasmo; assim, seu nome e a notícia de sua existência correram de boca em boca e não se perderam no fluxo e nas reviravoltas dos tempos. Pois tais pessoas não exerciam influência por obras, discursos ou artes dispersas, mas, acima de tudo, porque sua vida inteira parecia originada de um grande e único espírito e mostrava-se aos olhos de todos como uma imagem e um exemplo claro e divino. Ainda que não tenham concluído nenhuma grande obra visível, essas figuras exemplares tornaram-se inesquecíveis mestres e senhores de corações, graças apenas à vida que levaram, por orientarem toda a sua ação e a sua existência de acordo com um único espírito superior, tal como um arquiteto ou artista erige uma catedral ou um palácio, não segundo seu capricho ou sua vontade vacilante, e sim de acordo com uma ideia clara e um plano vívido. Todos eram almas inflamadas e poderosas, consumidas por enorme sede de infinito e de eterno, que não se concediam descanso nem tranquilidade enquanto não reconhecessem, para além dos costumes de seu tempo e de seus contemporâneos, uma lei eterna segundo a qual, a partir de então, ajustariam seus atos e suas esperanças. Eram poetas, santos, taumaturgos, sábios ou artistas, cada um a seu modo e segundo seus dons, mas todos iguais no sentido de vislumbrar, na brevidade e na transitoriedade da existência na terra, uma alegoria daquilo que é eterno e constante, e almejar, com desejo nostálgico e paixão ardente, casar o céu e a terra em seu próprio coração e fazer a brasa da vida eterna penetrar o que é terreno e mortal. Dessa maneira, a vida desses seres se libertou das amarras mortais e das fragilidades temporais e, despida de todas as contingências e da casca terrena, apresenta-se como um milagre diante da memória dos homens. Toda e qualquer vida assim vivida por um homem grandioso nada mais é que um regresso ao princípio da criação e uma saudação fervorosa enviada do paraíso por Deus. Pois aqueles grandes sonhadores e almas heroicas recusaram-se a beber de águas turvas; nunca se satisfizeram com miragens ou com nomes em vez da essência, ou com imagens em vez da realidade; antes, ansiaram insaciavelmente alcançar as fontes puras e primordiais da energia e da vida, lidando com as almas misteriosas da terra, com as plantas e os animais como se fossem seus iguais, almas semelhantes e aparentadas, desejando conversar diretamente com Deus sobre suas necessidades e questões íntimas, em vez de conversar com imagens, símbolos e sombras vazias. E, dessa forma, conseguiram aproximar todas as outras pessoas de Deus, conferindo novo valor ao mistério da Criação e interpretando-o a partir de uma intuição sagrada. Redescobriram a essência e a lei do homem interior, por enfrentarem a terra e o céu como se estivessem despidos, como se fossem os primeiros homens, enquanto nós, os outros, achamos que só podemos viver no casulo das ideias seguras e do costume herdado. Essas pessoas verdadeiramente profundas e essenciais não raro eram tachadas de loucas, e não falta gente a quem tais almas sempre parecerão um tanto incompreensíveis e insensatas. Mas para quem observa com intenções sérias, a vida de um grande homem se mostra como um caudal e um grito profundo de toda a humanidade; pois, na verdade, tal vida sempre é um sonho em forma de corpo e pessoa, a manifestação visível de uma nostalgia e um anseio de eternidade de toda uma Terra cujas criaturas fugazes sempre tentaram associar seu destino às estrelas eternas. Naquela época distante, que chamamos de Medium Aevum, ou Idade Média, foram-se erigindo entre os espíritos e os povos poderes imensamente hostis, e todos as nações foram abaladas pela trepidação do clamor bélico e por grandes batalhas. Entre imperadores e papas ardiam conflitos sangrentos, as cidades combatiam seus governantes, a nobreza e a plebe, aqui e acolá, travavam acerba luta. E a Igreja Romana, senhora do mundo, cuidava mais ciosamente de armamentos, alianças e legações, exílios e punições do que da paz das almas. Entre os povos amedrontados surgiu profunda miséria. Em vários lugares apareceram novos mestres e comunidades que resistiam, desprezando a própria vida, apesar das pesadas perseguições por parte da Igreja. Outros seguiam em bandos as imensas peregrinações rumo à terra prometida. Não havia guias nem segurança, e o Ocidente, coração da Terra, apesar de todo seu brilho exterior, parecia estar sangrando. Foi quando, na Úmbria, um jovem desconhecido, em conflito de consciência e com profunda humildade, decidiu, com singeleza e desinteresse, ser um seguidor modesto e fiel do Salvador. E outros o seguiram-inicialmente dois, depois três, logo centenas, muitos milhares. E desse homem humilde da Úmbria irradiou-se sobre a Terra uma luz de vida e uma fonte de renovação e amor cujos raios fulguram até os nossos dias. Era Giovanni Bernardone, chamado são Francisco de Assis, sonhador, herói e poeta. Dele se conservou apenas uma única oração ou canção, mas, em vez de palavras e versos escritos, ele nos legou a lembrança de sua vida singela e pura, que, em termos de beleza e grandeza tranquila, sobrepuja muitas obras poéticas. Quem narrar sua vida não precisará de outras palavras e observações, das quais me abstenho com alegria". 1
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Articles in peer-reviewed journals by André Pelegrinelli
A Chartula di Assisi é uma relíquia de Francisco de Assis, pequeno fragmento de pergaminho com dois textos autógrafos, a Laudes dei Altissimi e a Benedictio Fratri Leoni data, ambos de 1224. Neste artigo, considerando a materialidade do pergaminho, consideramos o objeto como a conformação das linguagens textuais e visuais, que sugerem diferentes possibilidades de leitura que apresentamo mesmo sentido analógico. Através de análise codicológica, paleográfica, do texto e das imagens, propomos pensar a Benedictio Fratri Leoni data como uma montagem que faz uso de uma imagem-caligrama veiculando a bênção de modo não linear que considera a espacialidade do fragmento de pergaminho e dele faz uso.
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Abstract:
The Chartula di Assisi is a relic of Francis of Assisi, it consists in a small fragment of parchment with two autograph texts, Laudes dei Altissimi and Benedictio Fratri Leoni Data, both written in 1224. In this article, taking into account the materiality of the parchment, we consider the object to be a conformation of textual and visual languages, which suggests various reading possibilities that present the same analogical meaning. Through the codicological and paleographic analysis of text and image, we propose an understanding of Benedictio Fratri Leoni Data as an assembly that makes use of a calligrammatic image to convey the act of blessing in a non-linear way that considers and access the spatiality of the parchment fragment.
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Resumo: Os estudos do franciscanismo têm passado por uma ampla renovação, há pelo menos trinta anos, ao considerar também o papel das imagens na construção do culto ao santo e das práticas de seus sucessores. Apresentamos, aqui, considerações sobre uma dessas primeiras imagens do santo de Assisi, a távola produzida por Bonaventura Berlinghieri para a Igreja de Pescia, em 1235, propondo um estudo que considere a imagem em sua integridade, ou seja: iconografia e usos, aspectos pictóricos e sociais. Na távola citada, as cenas escolhidas para figuração são aquelas que relacionam milagre e toque taumatúrgico, relação esperada e base da ação transcendental no cristianismo ao gerar um Deus que se torna matéria. A relação toque/milagre fica clara ao pensar as atribuições e usos do objeto távola: somente essa dupla análise, imagética e de cultura material, dá conta da complexidade da imagem.
Palavras-chave: Francisco de Assis. Imagem Medieval. Debate teórico.
Books by André Pelegrinelli
Se Aby Warburg vivesse hoje se divertiria em testar buscas nos bancos de imagens, compondo mosaicos algorítmicos. A experiência contemporânea com imagens repercute os ecos de tempos passados numa dimensão háptica das imagens. Em busca de experiências históricas com imagens atravessamos as seções deste livro encontrando, em cada uma, um conjunto de reflexões instigantes. O cruzamento das categorias de tempo e espaço como ordenadores de vivencias com as imagens habilita a composição de cenários em que reverberam visualidades de natureza plural. Imagens impregnadas de memória, voltam-se aos passados compostos em busca de futuros possíveis. (Ana Maria Mauad)
A Série Primeiros Olhares abriga trabalhos produzidos por discentes que se iniciam nos estudos das imagens, sem limitação de tema e período histórico. À curiosidade desses novos olhares, somam-se os cuidados com o rigor da pesquisa, resultando em experiências e material bibliográfico importantes tanto para a formação das autoras e dos autores quanto para a ampliação do campo dos estudos das imagens no Brasil. Este primeiro volume nasceu de uma experiência didática em torno da disciplina “Introdução aos manuscritos medievais” (FLH0116 – Introdução à História da Arte Medieval), no segundo semestre de 2020, junto do Departamento de História da USP. Realizada remotamente, por exigência da pandemia de Covid-19, às sextas-feiras à noite, logo o apelido de “Sextando no medievo” colou-se a ela. Em meio àquele difícil contexto, as discussões sobre o conteúdo das aulas mostraram-se como um verdadeiro alento intelectual. Como os doze textos desta publicação demonstram, não se tratou aqui apenas de complementar a formação acadêmica de seus autores, mas sobretudo de fornecer material bibliográfico acessível, em português, e de qualidade, para estudantes interessados nas imagens medievais – e, mais particularmente, futuros alunos da disciplina, para os quais este livro pode servir de incentivo a participar das futuras edições.
Está-se diante, portanto, de um verdadeiro laboratório, em que não se tratava apenas de aprender e exercitar o trabalho de análise de imagens medievais, mas também de aprender e exercitar o trabalho de escrita acadêmica, de produção de um texto para publicação. Para a grande maioria deles, tratou-se da primeira experiência nesse sentido –e que, esperamos, inaugure uma longa série. Afinal, dois dentre eles atualmente já ingressaram em cursos de pós-graduação e vários outros pretendem fazê-lo em breve. A variedade dá a tônica nesta compilação, tanto de seus autores como de seus objetos de estudos, das abordagens escolhidas, dos estilos de escrita. Quanto aos autores, quatro já fazem pesquisa na área; e, dentre estes, três integram o Laboratório de Teoria e História das Mídias Medievais (LATHIMM) e são bolsistas ou ex-bolsistas de Iniciação Científica. Para os demais, essa foi a primeira experiência com imagens medievais, o que mostra, por um lado, uma abertura de espírito e uma curiosidade intelectual extremamente bem-vindas para historiadores e, por outro, o forte apelo que a arte medieval exerce sobre o imaginário contemporâneo.
Dissertation (Master) by André Pelegrinelli
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Francis of Assisi, the saint and founder of the Order of Friars Minor had his history pronounced by the visuality, assumed like the communication tool. Visuality here understood as any manifestation able to generate in the receptor a mental image of the statement. Francis inaugurated in the franciscanism a visuality tradition, appropriate by her hagiographers and theologians, Boaventura of Bagnoregio, theological the visual proposal of the saint. In disputes of the Francis memories and the history of the friar’s minor in the 13th century. Were found the search by domain of this visuality purpose. Through the analysis of hagiographies, chronicles, theological works and principally iconography is showed the construction and the dispute of the visuality coupled up the memory and the Francis’ desired presentation. Analyzing the Basilica of Saint Francis in Assisi featured the cycle compared the Francis’ Life and the Passion of the Christ, from anonymous master of Saint Francis. We note the emergency of the visual purpose of the Francis’ body connected with her grave place, which echoing the previous panels, the presentifica. The purpose, however, making imagery the changes announced by the hagiographies, change also in the late of the 13th century the presentation of Francis, transforming it from a corporeal individual into an institution.
Courses & Workshops by André Pelegrinelli
Papers & Review by André Pelegrinelli
https://finxit.it/index.php/finxit
Courses by André Pelegrinelli
Livros e Capítulos by André Pelegrinelli
A Chartula di Assisi é uma relíquia de Francisco de Assis, pequeno fragmento de pergaminho com dois textos autógrafos, a Laudes dei Altissimi e a Benedictio Fratri Leoni data, ambos de 1224. Neste artigo, considerando a materialidade do pergaminho, consideramos o objeto como a conformação das linguagens textuais e visuais, que sugerem diferentes possibilidades de leitura que apresentamo mesmo sentido analógico. Através de análise codicológica, paleográfica, do texto e das imagens, propomos pensar a Benedictio Fratri Leoni data como uma montagem que faz uso de uma imagem-caligrama veiculando a bênção de modo não linear que considera a espacialidade do fragmento de pergaminho e dele faz uso.
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Abstract:
The Chartula di Assisi is a relic of Francis of Assisi, it consists in a small fragment of parchment with two autograph texts, Laudes dei Altissimi and Benedictio Fratri Leoni Data, both written in 1224. In this article, taking into account the materiality of the parchment, we consider the object to be a conformation of textual and visual languages, which suggests various reading possibilities that present the same analogical meaning. Through the codicological and paleographic analysis of text and image, we propose an understanding of Benedictio Fratri Leoni Data as an assembly that makes use of a calligrammatic image to convey the act of blessing in a non-linear way that considers and access the spatiality of the parchment fragment.
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Resumo: Os estudos do franciscanismo têm passado por uma ampla renovação, há pelo menos trinta anos, ao considerar também o papel das imagens na construção do culto ao santo e das práticas de seus sucessores. Apresentamos, aqui, considerações sobre uma dessas primeiras imagens do santo de Assisi, a távola produzida por Bonaventura Berlinghieri para a Igreja de Pescia, em 1235, propondo um estudo que considere a imagem em sua integridade, ou seja: iconografia e usos, aspectos pictóricos e sociais. Na távola citada, as cenas escolhidas para figuração são aquelas que relacionam milagre e toque taumatúrgico, relação esperada e base da ação transcendental no cristianismo ao gerar um Deus que se torna matéria. A relação toque/milagre fica clara ao pensar as atribuições e usos do objeto távola: somente essa dupla análise, imagética e de cultura material, dá conta da complexidade da imagem.
Palavras-chave: Francisco de Assis. Imagem Medieval. Debate teórico.
Se Aby Warburg vivesse hoje se divertiria em testar buscas nos bancos de imagens, compondo mosaicos algorítmicos. A experiência contemporânea com imagens repercute os ecos de tempos passados numa dimensão háptica das imagens. Em busca de experiências históricas com imagens atravessamos as seções deste livro encontrando, em cada uma, um conjunto de reflexões instigantes. O cruzamento das categorias de tempo e espaço como ordenadores de vivencias com as imagens habilita a composição de cenários em que reverberam visualidades de natureza plural. Imagens impregnadas de memória, voltam-se aos passados compostos em busca de futuros possíveis. (Ana Maria Mauad)
A Série Primeiros Olhares abriga trabalhos produzidos por discentes que se iniciam nos estudos das imagens, sem limitação de tema e período histórico. À curiosidade desses novos olhares, somam-se os cuidados com o rigor da pesquisa, resultando em experiências e material bibliográfico importantes tanto para a formação das autoras e dos autores quanto para a ampliação do campo dos estudos das imagens no Brasil. Este primeiro volume nasceu de uma experiência didática em torno da disciplina “Introdução aos manuscritos medievais” (FLH0116 – Introdução à História da Arte Medieval), no segundo semestre de 2020, junto do Departamento de História da USP. Realizada remotamente, por exigência da pandemia de Covid-19, às sextas-feiras à noite, logo o apelido de “Sextando no medievo” colou-se a ela. Em meio àquele difícil contexto, as discussões sobre o conteúdo das aulas mostraram-se como um verdadeiro alento intelectual. Como os doze textos desta publicação demonstram, não se tratou aqui apenas de complementar a formação acadêmica de seus autores, mas sobretudo de fornecer material bibliográfico acessível, em português, e de qualidade, para estudantes interessados nas imagens medievais – e, mais particularmente, futuros alunos da disciplina, para os quais este livro pode servir de incentivo a participar das futuras edições.
Está-se diante, portanto, de um verdadeiro laboratório, em que não se tratava apenas de aprender e exercitar o trabalho de análise de imagens medievais, mas também de aprender e exercitar o trabalho de escrita acadêmica, de produção de um texto para publicação. Para a grande maioria deles, tratou-se da primeira experiência nesse sentido –e que, esperamos, inaugure uma longa série. Afinal, dois dentre eles atualmente já ingressaram em cursos de pós-graduação e vários outros pretendem fazê-lo em breve. A variedade dá a tônica nesta compilação, tanto de seus autores como de seus objetos de estudos, das abordagens escolhidas, dos estilos de escrita. Quanto aos autores, quatro já fazem pesquisa na área; e, dentre estes, três integram o Laboratório de Teoria e História das Mídias Medievais (LATHIMM) e são bolsistas ou ex-bolsistas de Iniciação Científica. Para os demais, essa foi a primeira experiência com imagens medievais, o que mostra, por um lado, uma abertura de espírito e uma curiosidade intelectual extremamente bem-vindas para historiadores e, por outro, o forte apelo que a arte medieval exerce sobre o imaginário contemporâneo.
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Francis of Assisi, the saint and founder of the Order of Friars Minor had his history pronounced by the visuality, assumed like the communication tool. Visuality here understood as any manifestation able to generate in the receptor a mental image of the statement. Francis inaugurated in the franciscanism a visuality tradition, appropriate by her hagiographers and theologians, Boaventura of Bagnoregio, theological the visual proposal of the saint. In disputes of the Francis memories and the history of the friar’s minor in the 13th century. Were found the search by domain of this visuality purpose. Through the analysis of hagiographies, chronicles, theological works and principally iconography is showed the construction and the dispute of the visuality coupled up the memory and the Francis’ desired presentation. Analyzing the Basilica of Saint Francis in Assisi featured the cycle compared the Francis’ Life and the Passion of the Christ, from anonymous master of Saint Francis. We note the emergency of the visual purpose of the Francis’ body connected with her grave place, which echoing the previous panels, the presentifica. The purpose, however, making imagery the changes announced by the hagiographies, change also in the late of the 13th century the presentation of Francis, transforming it from a corporeal individual into an institution.
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