Filosofia

A academia encanta os jovens que temem a perda da vida de estudantes na iminência do fim do ensino básico. O tal temor não é tão inválido e injustificável, pois como a mentalidade do jovem até então fora sempre comparecer às aulas, o risco de perdê-las é aproveitado também pelas empresas de ensino superior, que com magistral trabalho de marketing propagam seus cursos, utilizando dos sentimentos de continuação provindos dos estudantes preocupados. Mas há nisto um mal que deve ser combatido: a vulgarização da intelectualidade e o conforto propício para a mediocridade.

Para alguns os filósofos são seres distantes, imersos e viventes em um mundo de devaneios que só existe na cabeça rebelde deles. Para outros, os filósofos desempenham um papel muito importante para a sociedade, fornecendo conclusões relevantes que determinam a condição humana. Em ambas as perspectivas sociais dos filósofos, a ocupação deles na sociedade contrasta muito com as demais, pois tratam sempre em descrevê-la, ao invés de reproduzi-la. Platão já bem definiu que é imprescindível uma sociedade ser composta por divisões de funções, a fim de ser competente e justa - e para isto deveria de haver uma divisão dedicada somente a expor a sua condição. Seria o filósofo o ocupado por denunciar os injustos, relatá-los e dizer a realidade?

Este é um artigo cuja finalidade acadêmica consiste em analisar os preceitos fundamentadores do período histórico posterior à modernidade, partindo do pressuposto que todas as eras históricas são definidas por suas respectivas mentalidades. A pós-modernidade é definida como uma predisposição psíquica-coletiva para a alienação desesperada da propriedade individual à satisfação dos infortúnios existenciais gerados pela compreensão humana. Visto ao caos proporcionado pelo desespero, uma nova mentalidade deve se estabelecer, a fim de tornar a realidade mais nítida do estado de maravilhamento pós-moderno, aumentando a capacidade autônoma do ser contemporâneo, entregue aos anestésicos mais aprimorados.

Nunca mais sofistas dignos quanto os do tempo de Sócrates existirão. Aqueles respeitavam o conhecimento de uma maneira a venerá-lo como seu sentido de atividades, preocupando-se em afinar seus locutores com uma oratória baseada nos produtos que tinham algum fundamento filosófico. Infelizmente, na sociedade líquida dos tempos atuais, os sofistas veneram, sobretudo, a mediocridade de seus locutores que não buscam neles, senão, miseráveis afirmativas vulgarizadas, hipócritas ou prolixas que possam reafirmar a ignorância do indivíduo - que chegou ao ponto de pagar dinheiro para ouvir frases de efeito.

Quando a ciência se conceitualizou em um campo exclusivo do conhecimento humano, divorciando-se da filosofia metafísica e da religião, declarou ser um instrumento que se aperfeiçoava autonomamente e que, portanto, manteve-se segregado e distante das outras importâncias humanas. A ciência moderna desenvolveu uma mentalidade própria a tal ponto que constituiu em uma classe erudita, um novo tipo de douto na sociedade pós-medieval – e enquanto classe, por ainda estar sendo executada em território social. Este agrupamento apartado evoluiu consideravelmente (por ter se separado intencionalmente do seu meio), mas deixou seu “abrigo” sem orientação. Este logo reivindicou "auxílio" e subverteu seus poderes para seus propósitos, trivializando-os como instrumentos que mantêm um mundo desprovido de finalidade. A ciência, subvertida ao caos político, desproveu a imanência social e esta se submete a este caos. O que resta para consertar a harmonia de nosso arranjo existencial?