Levinas and Ethics.
2014 Boston College Contemporary Philosophy Workshop.
Jeffrey Bloechl and ... more Levinas and Ethics.
2014 Boston College Contemporary Philosophy Workshop.
Jeffrey Bloechl and Roberto Wu
Ethics and Time in The Philosophy of History: A Cross-Cultural Approach (ed. Natan Elgabsi, Bennett Gilbert), 2023
What kind of being is a vestige? What can one expect from a temporal approach to vestiges? What a... more What kind of being is a vestige? What can one expect from a temporal approach to vestiges? What are the distinguished traits of this approach and which advantages and difficulties does it involve? These guiding questions help us to formulate an ontology of vestiges, to inquire into the peculiarity of its temporal existence, and to investigate what kind of meaning it may present. Instead of conceiving vestiges as mere indications of an absent being that are able to provide nothing but secondary contents to complement current narratives, I propose considering them as phenomena capable of engendering a different temporality.
Muito tem sido escrito sobre o caráter prático da ontologia fundamental proposta por Heidegger. A... more Muito tem sido escrito sobre o caráter prático da ontologia fundamental proposta por Heidegger. Alguns têm discutido o conceito de ação (Loparic, 1982; Schürmann, 1987; Dreyfus, 1991), outros a possibilidade da relação entre os conceitos ontológicos e o envolvimento de Heidegger com o nacional-socialismo (Farias, 1988; Bourdieu, 1991; Aubenque, 1991). Ao invés dessas linhas de análise, procurar-se-á desenvolver ao longo deste texto, a conexão entre a estruturação dos conceitos da ontologia fundamental e a sua relação genética com a filosofia prática aristotélica. Tal proposta insere-se numa tradição que se caracterizou por dois momentos distintos: uma primeira recepção devedora dos relatos e dos escritos de filósofos que tiveram contato direto com os cursos e textos de Heidegger sobre a filosofia prática de Aristóteles, como Hans-Georg Gadamer, Hannah Arendt, Herbert Marcuse, Hans Jonas e Karl Löwith, entre outros; e um segundo momento mais recente, com a análise dos cursos de Heidegger da década de 1920 publicadas nas Obras Completas (Gesamtausgabe). O presente artigo pretende mostrar como alguns dos conceitos aristotélicos relativos à filosofia prática são apropriados por Heidegger e, consequentemente, transfigurados para a linguagem ontológica.
Practices correspond to a multitude of performing acts that articulate themselves in interpretati... more Practices correspond to a multitude of performing acts that articulate themselves in interpretation and entail circumstantial and cultural features. Considering that different sets of practices involve bodies with distinct backgrounds and diverse ways of expression, the assimilation or rejection of practices assumes to some extent translation, insofar as it requires intermediation between and among conflicting cultures. Particularly in situations marked by colonization, one is inclined to reproduce not only the hegemonic language but also its corresponding practices, often leading to a concealment of other possibilities of articulation. The capacity of translating practices involves, consequently, finding an adequate way of expression, one that understands hegemonic practices and their meanings, but which nevertheless also conveys a unique voice corresponding to one’s situation and marginal practices. It also requires attention to meanings that operate at a pre-predicative level—because practices are based in prejudices that cannot be completely manifested—and to their affective or emotional correlation. The chapter suggests that a complementary discussion of 4EA cognitive science and hermeneutics provides a conceptual base to approach translating practices, insofar as embodiment, affectivity, situatedness, language, and historicity play a key role in these theories. It concludes by exploring the potential of feminist, postcolonial, and decolonial studies, in delivering a political basis to understand how these processes of translation assume a situated body.
In: Hiago Mendes Guimarães. Hermenêutica Filosófica e Retórica: convergências a partir do conceito de phronesis em Hans-Georg Gadamer, 2022
O livro de Hiago Mendes Guimarães, Hermenêutica Filosófica e Retórica: convergências a partir do ... more O livro de Hiago Mendes Guimarães, Hermenêutica Filosófica e Retórica: convergências a partir do conceito de phronesis em Hans-Georg Gadamer, representa um ponto de inflexão fundamental e incontornável, embora tardio, nos estudos gadamerianos no Brasil. De fato, salvo engano, é o resultado da primeira tese defendida em nosso país que se ocupa especificamente com a questão da retórica na hermenêutica filosófica de Gadamer. Sendo, portanto, um estudo bifronte que, ora lida com os textos gadamerianos e a tradição hermenêutica, ora com a antiquíssima tradição retórica, o presente texto aventura-se, desde o início, em um terreno não muito bem sedimentado, apesar de explorado por diversos estudiosos (Dockhorn, Arthos, Grondin, Verene, Correa). No que se segue, tentarei mostrar o motivo pelo qual entendo que se trata esse campo arenoso.
RESUMO O artigo discute a importância do termo demorar-se (Verweilen) na hermenêutica tardia de H... more RESUMO O artigo discute a importância do termo demorar-se (Verweilen) na hermenêutica tardia de Hans-Georg Gadamer. A hipótese é a de que a sua relevância pode ser mais bem compreendida se relacionada ao conceito de ductus, tal apresentado por teóricos da retórica, como Mary Carruthers e Paul Crossley. O texto inicia com uma apresentação breve centrada em quatro conceitos fundamentais para a concepção de arte em Verdade e Método, a saber, acontecimento, conformação, contemporaneidade e festa. Após, discutese a importância da relação entre o demorar-se e a conformação para a temporalidade da arte. Em seguida, relaciona-se o demorar-se com o sermovido pelo viés da retórica. Por fim, o texto finaliza com a apresentação do conceito retórico de ductus, e indica a proximidade deste com a concepção gadameriana do demorar-se.
O há (il y a), também denominado de “ser em geral”, é um conceito basilar para a filosofia de Emm... more O há (il y a), também denominado de “ser em geral”, é um conceito basilar para a filosofia de Emmanuel Levinas, sendo empregado reiteradamente em seus escritos para assinalar o caráter desértico e indeterminado da presença de uma densidade de vazio. Em nenhuma outra obra levinasiana essa noção recebe um tratamento tão exaustivo quanto em Da existência ao existente, muito embora ele não seja de todo claro. Uma dificuldade crucial advém do fato de que Levinas provém em geral um discurso indireto, negativo, sobre o há, em vista da própria natureza dessa noção, refratária a determinações de qualquer natureza. O presente artigo objetiva destacar os traços fundamentais do há nessa obra, o que implica, na medida em que não há um discurso direto sobre ele, investigar os eventos que lhe são correlativos. Considerando que o próprio Levinas se esforça em diferenciar esse conceito do dá-se ou há (es gibt) heideggeriano, a primeira seção do artigo examina a diferença entre essas concepções. Nas ...
Despite Levinas's emphasis on the oral dimension of the encounter with the other, notions such as... more Despite Levinas's emphasis on the oral dimension of the encounter with the other, notions such as hearing and listening are far from receiving univocal accounts in his reflections. Yet, Jacques Derrida seems to find clear evidence of their relevance, affirming that ―Levinas places sound above light,‖ which is interpreted as the affirmation of ―the transcendence of hearing (l'entendre) in relation to seeing (voir).‖ Nevertheless, the second movement of this interpretation inevitably evokes some confusion, for the priority of the sound over light/seeing does not necessarily imply the priority of hearing. Levinas's accounts of hearing (entendre/audition), listening, and/or hearkening (écouter) fluctuate throughout his philosophical production, and, despite some occasional discussion, they remain secondary compared with speech (parole), as in Totality and Infinity, on which Derrida bases most of his analysis. It is only in Otherwise than Being that they will be more systematically employed, which does not imply, however, a weakening of the priority of speech. Without contesting the primordiality of speech over hearing, listening, and audition, we aim, however, to investigate the purview of these last concepts by linking Levinas's early account of acoustics with the description available in Otherwise than Being. This involves: (1) examining how hearing, listening, and audition relate to sound (and silence) in his discussion of the there is (il y a), and (2) discussing the integration between these concepts with the acoustic account of Otherwise than Being, in which terms like resonance and echo are decisive. By means of this, we make visible some important moments related to acoustics: (1) the resonance of essence, (2) the echo of the otherwise, (3) the resonance of the ―mute murmuring‖ of the il y a, and (4) the ―forgotten voices‖ of a tradition apart from ontology.
The Yearbook on History and Interpretation of Phenomenology 2017 - EPIMELEIA TĒS PSYCHĒS: The Idea of the University and the Phenomenology of Education (Ed. Jana Trajtelová), 2018
The aim of this article is to present a phenomenological framework for approaching the university... more The aim of this article is to present a phenomenological framework for approaching the university. First, the article examines the main traits of the so-called Humboldtian model of the university, Karl Jaspers’ account of the idea of the university, and Jürgen Habermas’ contributions on this subject. This results in a discussion of the meaning of the ideality that underlies the subsequent arguments. This moment also compares normative and phenomenological accounts of the university. Second, the article proposes the concept of visibility as an interpretation key of the university. This visibility is presented as the result of the way coordinates of interpretation articulate meaning at several levels of phenomenological strata. Third, the article explores different ways subjects gain visibility at the university by means of a discussion of themes, such as the university extension and Brazil’s occupations of public universities in 2016. Finally, the article concludes by relating the concept of visibility with a phenomenological account of self-understanding.
Philosophy and Practice in Translational Hermeneutics, 2018
After the phenomenological and hermeneutical contributions of Heidegger and Gadamer, among others... more After the phenomenological and hermeneutical contributions of Heidegger and Gadamer, among others, the performative peculiarity of language in its various aspects-speaking, writing, and listening-has been recognised in its own right. This account of language recalls the standpoint of philosophers who deal with the subject of rhetoric. In terms of the matter of translation, which is important for hermeneutics but also for classical rhetoric, certain differences emerge. From the perspective of classical rhetoric, translation is originally situated in the context of orality, where the orator endeavours to be intelligible to an audience while delivering a discourse that describes the subject vividly. But contemporary translation studies mainly consider written works and silent reading. The purpose of this essay is to examine the extent to which hermeneutics aligns with rhetoric, and whether an analogy between the translator and the orator is still admissible nowadays.
At the same time that specific cosmic conditions make life the point of juncture of a complex of ... more At the same time that specific cosmic conditions make life the point of juncture of a complex of forces, life itself promotes and fulfills, in its own way, specific laws of cosmos. This statement lies on the basis of A.T. Tymieniecka's phenomenology of life and points out the main role of the Imaginatio Creatrix that emerges from NatureLife, though the former is not determined by the latter as a simple response, for creative imagination only accomplishes its own function by means of an ontopoietic activity grounded in interrogation. The creation that one realizes is a cipher, a symbol of unique significance, an intersubjectively intentional object that can be shaped in an intellective, moral or aesthetic sense. This draft of Tymieniecka's phenomenology renders us a key to interpret aspects related to the essential incompletion and openness of the work of art. Roman Ingarden discusses the " places of indeterminacy " that cannot be completely covered in music notation and H.G. Gadamer approaches the importance of the performance and its dialogical feature in art. Improvisation, reinterpretation and performance are phenomenological subjects related to fine arts that can be unfolded through an analysis of the way that Imaginatio Creatrix allows one to partake in the logos. From the phenomenological standpoint, it is imperative to reflect about the place of creativity in human activities, not only because both practical and theoretical activities would be related, to a certain extent, to creative behaviors, but because all human possibility is originated in creativity as a specific form of life's unfolding. AnnaTeresa Tymieniecka (2009) proposes creative imagination (Imaginatio Creatrix) as an ontopoietic activity at the center of a phenomenological attempt to overcome the philosophy of consciousness standoffs. This proposal does not seem incompatible with the projective feature of understanding in HansGeorg Gadamer's account (2006), for both philosophers emphasize the open character of the meaning. Even if the creative imagination and the projective feature of human understanding go through every path of human life, this article will focus on the analysis to a determined form of ontopoiesis: music as a work of art. This choice is based on the idea that a review of the role of creativity in music may also enlighten several aspects related to other forms of fine art.
Que o símbolo não tenha conseguido receber um tratamento uniforme na obra de Paul Ricoeur e de Ha... more Que o símbolo não tenha conseguido receber um tratamento uniforme na obra de Paul Ricoeur e de Hans-Georg Gadamer, isso só exibe o caráter insistente dos filósofos em perscrutá-lo em seus múltiplos aspectos, como o fio-condutor para um posicionamento frente à linguagem. Esse artigo pretende apresentar alguns aspectos da abordagem dos conceitos de símbolo e imagem por parte dos dois pensadores, a fim de explorar algumas consequências ontológicas de suas análises.
Entrevista concedida à Patricia Fachin para a página Homo Philosophicus.
<homophilosophicus.com.b... more Entrevista concedida à Patricia Fachin para a página Homo Philosophicus. <homophilosophicus.com.br/roberto-wu-encontrei-na-filosofia-um-saber-rigoroso-e-um-exercicio-de-liberdade-de-pensamento>
Resumo A hipótese do presente artigo é a de que, a despeito do reconhecimento da relevância de in... more Resumo A hipótese do presente artigo é a de que, a despeito do reconhecimento da relevância de intencionalidade, Heidegger subordina este último à noção de transcendência, deslocando a sua justificação para o âmbito ontológico formal-transcendental. Diante disso, investiga-se qual seria o alcance do anúncio realizado por Heidegger de uma intencionalidade mais radical, elaborada a partir de sua recondução à estrutura do ser-adiante-de-si-já-sendo-em. O texto conclui com uma análise dos conceitos de transcendência e intencionalidade do ponto de vista das relações de fundação e dependência. Palavras-chave: intencionalidade; transcendência; modos-de-ser; possibilitação; dependência
This article explores the hypothesis that Heidegger's (1927/1996) interpretation of Aristotle's p... more This article explores the hypothesis that Heidegger's (1927/1996) interpretation of Aristotle's practical concepts in Basic Concepts of Aristotelian Philosophy (2002a/2009)—especially in connection with the term πóλıς (pólis), the community of humans, besides filling a gap regarding a more detailed description of being-with-others in Being in Time (Heidegger, 1996), also offers a convincing answer to the so-called existential solipsism problem and a positive insight of how rhetoric can be brought together with hermeneutics and phenomenology to enlighten the coexistence. To carry out this task, we will present some implications of Heidegger's translation of κoıvωvíα (koinōnia, usually rendered as community) as Miteinandersein, that is, being-with-one-another, and its connection with the expression ζῷον λόγον ἔχον (zōon lógon échon), which designates the human being as the living thing that (as living) has language.
Levinas and Ethics.
2014 Boston College Contemporary Philosophy Workshop.
Jeffrey Bloechl and ... more Levinas and Ethics.
2014 Boston College Contemporary Philosophy Workshop.
Jeffrey Bloechl and Roberto Wu
Ethics and Time in The Philosophy of History: A Cross-Cultural Approach (ed. Natan Elgabsi, Bennett Gilbert), 2023
What kind of being is a vestige? What can one expect from a temporal approach to vestiges? What a... more What kind of being is a vestige? What can one expect from a temporal approach to vestiges? What are the distinguished traits of this approach and which advantages and difficulties does it involve? These guiding questions help us to formulate an ontology of vestiges, to inquire into the peculiarity of its temporal existence, and to investigate what kind of meaning it may present. Instead of conceiving vestiges as mere indications of an absent being that are able to provide nothing but secondary contents to complement current narratives, I propose considering them as phenomena capable of engendering a different temporality.
Muito tem sido escrito sobre o caráter prático da ontologia fundamental proposta por Heidegger. A... more Muito tem sido escrito sobre o caráter prático da ontologia fundamental proposta por Heidegger. Alguns têm discutido o conceito de ação (Loparic, 1982; Schürmann, 1987; Dreyfus, 1991), outros a possibilidade da relação entre os conceitos ontológicos e o envolvimento de Heidegger com o nacional-socialismo (Farias, 1988; Bourdieu, 1991; Aubenque, 1991). Ao invés dessas linhas de análise, procurar-se-á desenvolver ao longo deste texto, a conexão entre a estruturação dos conceitos da ontologia fundamental e a sua relação genética com a filosofia prática aristotélica. Tal proposta insere-se numa tradição que se caracterizou por dois momentos distintos: uma primeira recepção devedora dos relatos e dos escritos de filósofos que tiveram contato direto com os cursos e textos de Heidegger sobre a filosofia prática de Aristóteles, como Hans-Georg Gadamer, Hannah Arendt, Herbert Marcuse, Hans Jonas e Karl Löwith, entre outros; e um segundo momento mais recente, com a análise dos cursos de Heidegger da década de 1920 publicadas nas Obras Completas (Gesamtausgabe). O presente artigo pretende mostrar como alguns dos conceitos aristotélicos relativos à filosofia prática são apropriados por Heidegger e, consequentemente, transfigurados para a linguagem ontológica.
Practices correspond to a multitude of performing acts that articulate themselves in interpretati... more Practices correspond to a multitude of performing acts that articulate themselves in interpretation and entail circumstantial and cultural features. Considering that different sets of practices involve bodies with distinct backgrounds and diverse ways of expression, the assimilation or rejection of practices assumes to some extent translation, insofar as it requires intermediation between and among conflicting cultures. Particularly in situations marked by colonization, one is inclined to reproduce not only the hegemonic language but also its corresponding practices, often leading to a concealment of other possibilities of articulation. The capacity of translating practices involves, consequently, finding an adequate way of expression, one that understands hegemonic practices and their meanings, but which nevertheless also conveys a unique voice corresponding to one’s situation and marginal practices. It also requires attention to meanings that operate at a pre-predicative level—because practices are based in prejudices that cannot be completely manifested—and to their affective or emotional correlation. The chapter suggests that a complementary discussion of 4EA cognitive science and hermeneutics provides a conceptual base to approach translating practices, insofar as embodiment, affectivity, situatedness, language, and historicity play a key role in these theories. It concludes by exploring the potential of feminist, postcolonial, and decolonial studies, in delivering a political basis to understand how these processes of translation assume a situated body.
In: Hiago Mendes Guimarães. Hermenêutica Filosófica e Retórica: convergências a partir do conceito de phronesis em Hans-Georg Gadamer, 2022
O livro de Hiago Mendes Guimarães, Hermenêutica Filosófica e Retórica: convergências a partir do ... more O livro de Hiago Mendes Guimarães, Hermenêutica Filosófica e Retórica: convergências a partir do conceito de phronesis em Hans-Georg Gadamer, representa um ponto de inflexão fundamental e incontornável, embora tardio, nos estudos gadamerianos no Brasil. De fato, salvo engano, é o resultado da primeira tese defendida em nosso país que se ocupa especificamente com a questão da retórica na hermenêutica filosófica de Gadamer. Sendo, portanto, um estudo bifronte que, ora lida com os textos gadamerianos e a tradição hermenêutica, ora com a antiquíssima tradição retórica, o presente texto aventura-se, desde o início, em um terreno não muito bem sedimentado, apesar de explorado por diversos estudiosos (Dockhorn, Arthos, Grondin, Verene, Correa). No que se segue, tentarei mostrar o motivo pelo qual entendo que se trata esse campo arenoso.
RESUMO O artigo discute a importância do termo demorar-se (Verweilen) na hermenêutica tardia de H... more RESUMO O artigo discute a importância do termo demorar-se (Verweilen) na hermenêutica tardia de Hans-Georg Gadamer. A hipótese é a de que a sua relevância pode ser mais bem compreendida se relacionada ao conceito de ductus, tal apresentado por teóricos da retórica, como Mary Carruthers e Paul Crossley. O texto inicia com uma apresentação breve centrada em quatro conceitos fundamentais para a concepção de arte em Verdade e Método, a saber, acontecimento, conformação, contemporaneidade e festa. Após, discutese a importância da relação entre o demorar-se e a conformação para a temporalidade da arte. Em seguida, relaciona-se o demorar-se com o sermovido pelo viés da retórica. Por fim, o texto finaliza com a apresentação do conceito retórico de ductus, e indica a proximidade deste com a concepção gadameriana do demorar-se.
O há (il y a), também denominado de “ser em geral”, é um conceito basilar para a filosofia de Emm... more O há (il y a), também denominado de “ser em geral”, é um conceito basilar para a filosofia de Emmanuel Levinas, sendo empregado reiteradamente em seus escritos para assinalar o caráter desértico e indeterminado da presença de uma densidade de vazio. Em nenhuma outra obra levinasiana essa noção recebe um tratamento tão exaustivo quanto em Da existência ao existente, muito embora ele não seja de todo claro. Uma dificuldade crucial advém do fato de que Levinas provém em geral um discurso indireto, negativo, sobre o há, em vista da própria natureza dessa noção, refratária a determinações de qualquer natureza. O presente artigo objetiva destacar os traços fundamentais do há nessa obra, o que implica, na medida em que não há um discurso direto sobre ele, investigar os eventos que lhe são correlativos. Considerando que o próprio Levinas se esforça em diferenciar esse conceito do dá-se ou há (es gibt) heideggeriano, a primeira seção do artigo examina a diferença entre essas concepções. Nas ...
Despite Levinas's emphasis on the oral dimension of the encounter with the other, notions such as... more Despite Levinas's emphasis on the oral dimension of the encounter with the other, notions such as hearing and listening are far from receiving univocal accounts in his reflections. Yet, Jacques Derrida seems to find clear evidence of their relevance, affirming that ―Levinas places sound above light,‖ which is interpreted as the affirmation of ―the transcendence of hearing (l'entendre) in relation to seeing (voir).‖ Nevertheless, the second movement of this interpretation inevitably evokes some confusion, for the priority of the sound over light/seeing does not necessarily imply the priority of hearing. Levinas's accounts of hearing (entendre/audition), listening, and/or hearkening (écouter) fluctuate throughout his philosophical production, and, despite some occasional discussion, they remain secondary compared with speech (parole), as in Totality and Infinity, on which Derrida bases most of his analysis. It is only in Otherwise than Being that they will be more systematically employed, which does not imply, however, a weakening of the priority of speech. Without contesting the primordiality of speech over hearing, listening, and audition, we aim, however, to investigate the purview of these last concepts by linking Levinas's early account of acoustics with the description available in Otherwise than Being. This involves: (1) examining how hearing, listening, and audition relate to sound (and silence) in his discussion of the there is (il y a), and (2) discussing the integration between these concepts with the acoustic account of Otherwise than Being, in which terms like resonance and echo are decisive. By means of this, we make visible some important moments related to acoustics: (1) the resonance of essence, (2) the echo of the otherwise, (3) the resonance of the ―mute murmuring‖ of the il y a, and (4) the ―forgotten voices‖ of a tradition apart from ontology.
The Yearbook on History and Interpretation of Phenomenology 2017 - EPIMELEIA TĒS PSYCHĒS: The Idea of the University and the Phenomenology of Education (Ed. Jana Trajtelová), 2018
The aim of this article is to present a phenomenological framework for approaching the university... more The aim of this article is to present a phenomenological framework for approaching the university. First, the article examines the main traits of the so-called Humboldtian model of the university, Karl Jaspers’ account of the idea of the university, and Jürgen Habermas’ contributions on this subject. This results in a discussion of the meaning of the ideality that underlies the subsequent arguments. This moment also compares normative and phenomenological accounts of the university. Second, the article proposes the concept of visibility as an interpretation key of the university. This visibility is presented as the result of the way coordinates of interpretation articulate meaning at several levels of phenomenological strata. Third, the article explores different ways subjects gain visibility at the university by means of a discussion of themes, such as the university extension and Brazil’s occupations of public universities in 2016. Finally, the article concludes by relating the concept of visibility with a phenomenological account of self-understanding.
Philosophy and Practice in Translational Hermeneutics, 2018
After the phenomenological and hermeneutical contributions of Heidegger and Gadamer, among others... more After the phenomenological and hermeneutical contributions of Heidegger and Gadamer, among others, the performative peculiarity of language in its various aspects-speaking, writing, and listening-has been recognised in its own right. This account of language recalls the standpoint of philosophers who deal with the subject of rhetoric. In terms of the matter of translation, which is important for hermeneutics but also for classical rhetoric, certain differences emerge. From the perspective of classical rhetoric, translation is originally situated in the context of orality, where the orator endeavours to be intelligible to an audience while delivering a discourse that describes the subject vividly. But contemporary translation studies mainly consider written works and silent reading. The purpose of this essay is to examine the extent to which hermeneutics aligns with rhetoric, and whether an analogy between the translator and the orator is still admissible nowadays.
At the same time that specific cosmic conditions make life the point of juncture of a complex of ... more At the same time that specific cosmic conditions make life the point of juncture of a complex of forces, life itself promotes and fulfills, in its own way, specific laws of cosmos. This statement lies on the basis of A.T. Tymieniecka's phenomenology of life and points out the main role of the Imaginatio Creatrix that emerges from NatureLife, though the former is not determined by the latter as a simple response, for creative imagination only accomplishes its own function by means of an ontopoietic activity grounded in interrogation. The creation that one realizes is a cipher, a symbol of unique significance, an intersubjectively intentional object that can be shaped in an intellective, moral or aesthetic sense. This draft of Tymieniecka's phenomenology renders us a key to interpret aspects related to the essential incompletion and openness of the work of art. Roman Ingarden discusses the " places of indeterminacy " that cannot be completely covered in music notation and H.G. Gadamer approaches the importance of the performance and its dialogical feature in art. Improvisation, reinterpretation and performance are phenomenological subjects related to fine arts that can be unfolded through an analysis of the way that Imaginatio Creatrix allows one to partake in the logos. From the phenomenological standpoint, it is imperative to reflect about the place of creativity in human activities, not only because both practical and theoretical activities would be related, to a certain extent, to creative behaviors, but because all human possibility is originated in creativity as a specific form of life's unfolding. AnnaTeresa Tymieniecka (2009) proposes creative imagination (Imaginatio Creatrix) as an ontopoietic activity at the center of a phenomenological attempt to overcome the philosophy of consciousness standoffs. This proposal does not seem incompatible with the projective feature of understanding in HansGeorg Gadamer's account (2006), for both philosophers emphasize the open character of the meaning. Even if the creative imagination and the projective feature of human understanding go through every path of human life, this article will focus on the analysis to a determined form of ontopoiesis: music as a work of art. This choice is based on the idea that a review of the role of creativity in music may also enlighten several aspects related to other forms of fine art.
Que o símbolo não tenha conseguido receber um tratamento uniforme na obra de Paul Ricoeur e de Ha... more Que o símbolo não tenha conseguido receber um tratamento uniforme na obra de Paul Ricoeur e de Hans-Georg Gadamer, isso só exibe o caráter insistente dos filósofos em perscrutá-lo em seus múltiplos aspectos, como o fio-condutor para um posicionamento frente à linguagem. Esse artigo pretende apresentar alguns aspectos da abordagem dos conceitos de símbolo e imagem por parte dos dois pensadores, a fim de explorar algumas consequências ontológicas de suas análises.
Entrevista concedida à Patricia Fachin para a página Homo Philosophicus.
<homophilosophicus.com.b... more Entrevista concedida à Patricia Fachin para a página Homo Philosophicus. <homophilosophicus.com.br/roberto-wu-encontrei-na-filosofia-um-saber-rigoroso-e-um-exercicio-de-liberdade-de-pensamento>
Resumo A hipótese do presente artigo é a de que, a despeito do reconhecimento da relevância de in... more Resumo A hipótese do presente artigo é a de que, a despeito do reconhecimento da relevância de intencionalidade, Heidegger subordina este último à noção de transcendência, deslocando a sua justificação para o âmbito ontológico formal-transcendental. Diante disso, investiga-se qual seria o alcance do anúncio realizado por Heidegger de uma intencionalidade mais radical, elaborada a partir de sua recondução à estrutura do ser-adiante-de-si-já-sendo-em. O texto conclui com uma análise dos conceitos de transcendência e intencionalidade do ponto de vista das relações de fundação e dependência. Palavras-chave: intencionalidade; transcendência; modos-de-ser; possibilitação; dependência
This article explores the hypothesis that Heidegger's (1927/1996) interpretation of Aristotle's p... more This article explores the hypothesis that Heidegger's (1927/1996) interpretation of Aristotle's practical concepts in Basic Concepts of Aristotelian Philosophy (2002a/2009)—especially in connection with the term πóλıς (pólis), the community of humans, besides filling a gap regarding a more detailed description of being-with-others in Being in Time (Heidegger, 1996), also offers a convincing answer to the so-called existential solipsism problem and a positive insight of how rhetoric can be brought together with hermeneutics and phenomenology to enlighten the coexistence. To carry out this task, we will present some implications of Heidegger's translation of κoıvωvíα (koinōnia, usually rendered as community) as Miteinandersein, that is, being-with-one-another, and its connection with the expression ζῷον λόγον ἔχον (zōon lógon échon), which designates the human being as the living thing that (as living) has language.
Este artigo se propõe a tratar da contribuição fenomenológica
de Heidegger para o âmbito da educa... more Este artigo se propõe a tratar da contribuição fenomenológica de Heidegger para o âmbito da educação, mostrando que o método fenomenológico permanece como um método científico em geral. Para isto, expomos, em primeiro lugar, o conceito de fenomenologia em Husserl, em seguida o heideggeriano, e, finalmente, a relação entre fenomenologia, ontologia e hermenêutica no horizonte da compreensão de ser, analisando obras de Heidegger de 1922 (Interpretações Fenomenológicas de Aristóteles) a 1927 (Problemas Básicos da Fenomenologia).
No parágrafo 29 de Ser e tempo, Heidegger descreve a Retórica de Aristóteles como sendo a primeir... more No parágrafo 29 de Ser e tempo, Heidegger descreve a Retórica de Aristóteles como sendo a primeira hermenêutica sistemática do ser-com-um-outro (Miteinandersein) cotidiano. Com a publicação dos Conceitos fundamentais da filosofia aristotélica, composto alguns anos antes (1924), mas disponibilizado apenas em 2002, é possível agora discutir algumas implicações da afirmação acima, já que se trata de uma interpretação detida sobre a Retórica de Aristóteles. Nesse texto, Heidegger concebe a retórica, não mais prioritariamente como a “arte do falar”, e sim como a “arte do ouvir”, situando-a numa interpretação dos modos da coexistência e de sua mobilidade característica, que, de algum modo, sempre já é compreendida antecipadamente por meio do pathos. Trata-se, pois, de uma descrição da finitude humana e de uma interrogação sobre o sentido da linguagem e a sua relação com a coexistência. A proximidade sugerida por Heidegger entre a retórica e a hermenêutica, mas, ao mesmo tempo, a tensão correspondente ao deslocamento conceitual desses termos, torna-se um tema recorrente na recepção dessa abordagem pela hermenêutica de H.-G. Gadamer. Se há, por um lado, uma filiação imediata à abordagem heideggeriana, que reconhece na retórica a explicitação do ser-com, há, por outro lado, uma guinada conceitual efetuada por Gadamer, que desloca para o segundo plano a análise das tonalidades afetivas, ao passo que recupera e afirma a importância da tradição retórica humanista, como, por exemplo, aquela vinculada ao pensamento de Vico, contrastando firmemente com a crítica de Heidegger ao humanismo em Carta sobre o humanismo. A proposta da comunicação é, pois, investigar as relações entre a retórica e a hermenêutica na abordagem desses dois filósofos. Palavras-chave: retórica, hermenêutica, pathos
Pesquisa filosófica é e permanece ateísmo, que é por que a filosofia pode conceder-se "a arrogânc... more Pesquisa filosófica é e permanece ateísmo, que é por que a filosofia pode conceder-se "a arrogância do pensamento". (...) Esta arrogância é a necessidade interna da filosofia e sua verdadeira força.
RESUMO: Tanto Dostoiévski quanto Godard produziram obras que tematizaram, de forma aguda, a ideia... more RESUMO: Tanto Dostoiévski quanto Godard produziram obras que tematizaram, de forma aguda, a ideia de revolução. Os demônios, publicado em 1870 por Dostoiévski, tida como uma obra reacionária, desenvolve os momentos constitutivos das atividades revolucionárias a partir de um núcleo niilista na Rússia da segunda metade do século XIX, enquanto La Chinoise, filmado por Godard em 1967, geralmente aceito como filme revolucionário, retrata um grupo ativista na França no período imediatamente antecedente ao Maio de 68. O presente propósito é o de investigar a interpretação usualmente atribuída a essas obras e estabelecer as suas devidas conexões, a partir dos temas do niilismo e da revolução.
Dostoiévski desenvolve em Crime e castigo uma análise da forma como a intelectualidade russa nos ... more Dostoiévski desenvolve em Crime e castigo uma análise da forma como a intelectualidade russa nos anos de 1860 compreendia a noção de crime, quase sempre sob a tese da determinação social. O niilismo contemporâneo a essa obra, defendida principalmente por Tchernichévski, propõe o desenvolvimento científico como instrumento de solução do males sociais, o que levaria, inevitavelmente, à diminuição e, porventura, à extinção do crime. Aliada à tese do egoísmo racional, uma derivação do utilitarismo clássico, o maior conhecimento científico seria responsável por um autodomínio do sujeito e uma promoção do bem geral. Crime e castigo explora os limites dessas teses niilistas, explorando a profundidade espiritual do indivíduo e suas contradições internas.
Roberto Wu, Claudio Reichert do Nascimento (orgs.). A obra inédita de Heidegger. São Paulo: Liber... more Roberto Wu, Claudio Reichert do Nascimento (orgs.). A obra inédita de Heidegger. São Paulo: Liberars, 2012.
A definição heideggeriana de “compreensão” como um existencial representa uma guinada em relação ... more A definição heideggeriana de “compreensão” como um existencial representa uma guinada em relação à hermenêutica tradicional, na medida em que, desde Ser e Tempo, a hermenêutica passou a adquirir um estatuto fenomenológico e ontológico. Essa dissertação pretende explorar as contribuições de Ser e Tempo para as teorias hermenêuticas de Gadamer expressas em Verdade e Método. Se, por um lado, Gadamer enfatiza os significados de “compreensão”, “verdade” e “círculo hermenêutico” tais como elaborados por Heidegger – sendo esses os conceitos em que boa parte dos comentadores se detém, por outro, a sua apropriação da obra heideggeriana não parece se encerrar nesses temas como poderia parecer, à primeira vista. Nosso propósito, ao contrário da maioria dos comentadores que tem se debruçado sobre a relação entre Gadamer e Heidegger, é interpretar os conceitos gadamerianos de “fusão de horizontes”, “diálogo” e “história efeitual” como um legado da guinada efetuada por Heidegger em relação à hermenêutica tradicional, não só em relação aos conceitos mencionados acima, mas, sobretudo, em relação aos conceitos de “tradição”, “destruição” e “repetição”.
O novo permeia a filosofia heideggeriana, no horizonte de seu
questionamento filosófico como um t... more O novo permeia a filosofia heideggeriana, no horizonte de seu questionamento filosófico como um todo. Isso se mostra desde seus estudos sobre o tempo kairológico numa fenomenologia da religião, na interpretação da phronesis aristotélica como compreensão do “a cada vez” da vida fáctica, na abordagem da abissalidade da existência humana em Ser e tempo, no pensamento cada vez mais voltado à noção de origem, na possibilidade de instauração de um “outro começo” não-metafísico com o acontecimento-apropriador nas Contribuições para a Filosofia, dentre vários tópicos pensados por Heidegger. Na medida em que o ser se encobre, no mais das vezes, esses temas estão relacionados com a concepção da verdade como uma irrupção do ser, um acontecimento que se dá ao mesmo passo de uma incisividade temporal. Apesar de ser possível a verificação de diversas formas de abordagem da questão do ser no percurso do pensamento heideggeriano, há um modo de se pensar o novo que se mantém subjacente a todas elas, muito embora, de uma maneira velada. O novo ocorre como abismo inaugurador na incisividade do instante, repetindo e antecipando o possível que permaneceu retraído metafisicamente, isto é, trata-se da tarefa de se recuperar o originário num salto apropriador, de modo que o “mais antigo que o antigo” possa se manifestar como “novo”.
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2014 Boston College Contemporary Philosophy Workshop.
Jeffrey Bloechl and Roberto Wu
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<homophilosophicus.com.br/roberto-wu-encontrei-na-filosofia-um-saber-rigoroso-e-um-exercicio-de-liberdade-de-pensamento>
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de Heidegger para o âmbito da educação, mostrando que o método fenomenológico permanece como um método científico em geral. Para isto, expomos, em primeiro lugar, o conceito de fenomenologia em Husserl, em seguida o heideggeriano, e, finalmente, a relação entre fenomenologia, ontologia e hermenêutica no horizonte da compreensão de ser, analisando obras de Heidegger de 1922 (Interpretações Fenomenológicas de Aristóteles) a 1927 (Problemas
Básicos da Fenomenologia).
como a “arte do falar”, e sim como a “arte do ouvir”, situando-a numa
interpretação dos modos da coexistência e de sua mobilidade característica, que, de algum modo, sempre já é compreendida antecipadamente por meio do pathos. Trata-se, pois, de uma descrição da finitude humana e de uma interrogação sobre o sentido da linguagem e a sua relação com a coexistência. A
proximidade sugerida por Heidegger entre a retórica e a hermenêutica, mas, ao mesmo tempo, a tensão correspondente ao deslocamento conceitual desses termos, torna-se um tema recorrente na recepção dessa abordagem pela hermenêutica de H.-G. Gadamer. Se há, por um lado, uma filiação imediata à abordagem heideggeriana, que reconhece na retórica a explicitação do ser-com, há, por outro lado, uma guinada conceitual efetuada por Gadamer, que
desloca para o segundo plano a análise das tonalidades afetivas, ao passo que recupera e afirma a importância da tradição retórica humanista, como, por exemplo, aquela vinculada ao pensamento de Vico, contrastando firmemente com a crítica de Heidegger ao humanismo em Carta sobre o humanismo. A proposta da comunicação é, pois, investigar as relações entre a retórica e a hermenêutica na abordagem desses dois filósofos.
Palavras-chave: retórica, hermenêutica, pathos
pretende explorar as contribuições de Ser e Tempo para as teorias hermenêuticas de Gadamer expressas em Verdade e Método. Se, por um lado, Gadamer enfatiza os significados de “compreensão”, “verdade” e “círculo hermenêutico” tais como elaborados por Heidegger –
sendo esses os conceitos em que boa parte dos comentadores se detém, por outro, a sua apropriação da obra heideggeriana não parece se encerrar nesses temas como poderia parecer, à primeira vista. Nosso propósito, ao contrário da maioria dos comentadores que tem se debruçado sobre a relação entre Gadamer e Heidegger, é interpretar os conceitos gadamerianos de “fusão de horizontes”, “diálogo” e “história efeitual” como um legado da guinada efetuada por Heidegger em relação à hermenêutica tradicional, não só em relação aos conceitos
mencionados acima, mas, sobretudo, em relação aos conceitos de “tradição”, “destruição” e “repetição”.
questionamento filosófico como um todo. Isso se mostra desde seus estudos sobre o tempo kairológico numa fenomenologia da religião, na interpretação da phronesis aristotélica como compreensão do “a cada vez” da vida fáctica, na abordagem da abissalidade da existência humana em Ser e tempo, no pensamento cada vez mais voltado à noção de origem, na possibilidade de instauração de um “outro começo” não-metafísico com o acontecimento-apropriador nas Contribuições para a Filosofia, dentre vários tópicos pensados por Heidegger. Na medida em que o ser se encobre, no mais das vezes, esses temas estão relacionados com a concepção da verdade como uma irrupção do ser, um acontecimento que se dá ao mesmo passo de uma incisividade temporal. Apesar de ser possível a verificação de diversas formas de abordagem da questão do ser no percurso do pensamento heideggeriano, há um modo de se pensar o novo que se mantém subjacente a todas elas, muito embora, de uma maneira velada. O novo
ocorre como abismo inaugurador na incisividade do instante, repetindo e
antecipando o possível que permaneceu retraído metafisicamente, isto é, trata-se da tarefa de se recuperar o originário num salto apropriador, de modo que o “mais antigo que o antigo” possa se manifestar como “novo”.