Papers by Maria Eugenia Dominguez
SOCIOLOGIA & ANTROPOLOGIA, 2022
INTRODUÇÃO O arete guasu, ou festa grande, é o encerramento das celebrações que tanto os guarani ... more INTRODUÇÃO O arete guasu, ou festa grande, é o encerramento das celebrações que tanto os guarani quanto os chané 1 do oeste do Chaco realizam no final do verão, no período do carnaval. Trata-se de uma festa bastante comentada na literatura antropológica da área, dentre outras razões, por causa do apelo visual ligado ao uso generalizado de máscaras nas celebrações 2. As máscaras do arete guasu já mobilizaram a imaginação etnográfica, assim como a sensibilidade artística, e inspiraram muitos trabalhos audiovisuais e fotográficos que exploram justamente o papel dessas máscaras na potência estética do arete 3. Tal produção artística variada, como também a análise da literatura que trata do arete guasu, permite observar que, nos diferentes lugares e apesar das variantes locais, as máscaras do arete compartilham materiais e mobilizam princípios formais semelhantes. É nesses princípios formais específicos que reside o segredo da sua eficácia, mas também na maneira como a dimensão visual da atuação dos mascarados se conjuga com sons e movimentos, metáforas e afetos. Acompanhando os estudos antropológicos que se debruçam sobre a estética do arete guasu, referirei as relações entre as múltiplas linguagens que compõem a cena da festa. Fundamentalmente, interessa aqui descrever os sons-musicais e não musicais (por exemplo, as vozes agudas com as quais os mascarados falam, os sons de trompetes-buzinas que anunciam a sua chegada, os gritos ou sapukai das pessoas que dançam)-que acompanham a presença das máscaras e modelam o ambiente em que se vive o arete, buscando analisar seu papel na elaboração de imagens e noções relacionadas à cosmologia que se atualiza por meio do rito.
ILHA Revista de Antropologia, 2022
Resumo O artigo descreve a dança e os movimentos no principal ritual dos guarani do Chaco boreal ... more Resumo O artigo descreve a dança e os movimentos no principal ritual dos guarani do Chaco boreal paraguaio: o arete guasu. Por meio de uma descrição detalhada da festa, se analisam os sentidos performativos da dança, dos movimentos e do rito como um todo. Por sentido performativo refere-se a aos efeitos da forma e da estética particular do rito nesse contexto histórico e social. Desse modo, e em diálogo com a antropologia e a etnomusicologia que tratam das artes e rituais dos povos guarani falantes, se pontuam algumas características que definem as especificidades culturais dos guarani chaquenhos.
Arte, som e etnografia, 2021
GIS-Gesto, Imagem e Som em Antropologia, USP, 2021
RESUMO O texto trata da realização do vídeo etnobiográfico Pascual Toro, flautero. Refiro, em pri... more RESUMO O texto trata da realização do vídeo etnobiográfico Pascual Toro, flautero. Refiro, em primeiro lugar, a proposta teórico-metodológica do cineasta e antro-pólogo argentino Jorge Prelorán (1933-2009) que inspirou o trabalho. Num segundo momento, descrevo as características do repertório e do gênero executado pelo protagonista do filme no ritual arete guasu para explicitar as razões que guiaram a organização do projeto de edição. Por sua vez, discorre-se sobre o valor da individualidade no âmbito da música de flautas do arete guasu argumentando que o método etnobi-ográfico é um caminho fecundo para compreender as conexões que sustentam as habilidades para ser um bom instrumentista nesse universo. ABSTRACT The text deals with the production of the ethno-biographic video Pascual Toro, flautero. I refer, in the first place, to the theoretical and methodological proposal of the Argentine filmmaker and anthropologist Jorge Prelorán (1933-2009) that inspired the work. Secondly, I describe the characteristics of the repertoire and the genre performed by the film's protagonist in the arete guasu ritual to explain the reasons that guided the organization of the editing project. In turn, the value of individuality is discussed in the context of arete guasu flute music, arguing that the ethnobiographic method
Perifèria 25, 3 (2020) 120-141
El arete guasu es un ritual indígena celebrado anualmente en la época del carnaval por los guaran... more El arete guasu es un ritual indígena celebrado anualmente en la época del carnaval por los guaraníes y chanés del oeste del Chaco. Este texto describe la historia reciente de los guaraníes occidentales del Chaco boreal paraguayo, pueblo que fue desplazado desde el sudeste de Bolivia hacia el este después de la Guerra del Chaco (Bolivia-Paraguay, 1932-1935). En cada comunidad fundada por los guaraníes en el Paraguay continuaron celebrando su antiguo ritual, a pesar de las restricciones impuestas en las misiones católicas y en las colonias menonitas donde los guaraníes vivían. Partiendo de esa constatación, se examina la importancia del rito en su vida social. Se argumenta que el rito es fundamental en la definición del tiempo y el lugar de los guaraníes del Chaco boreal paraguayo en el complejo escenario interétnico al que debieron adaptarse tras la Guerra del Chaco.
Revista de Antropologia, 2020
Como analisado na literatura etnológica recente, a guerra do Chaco (Bolívia/ Paraguai 1932-1935) ... more Como analisado na literatura etnológica recente, a guerra do Chaco (Bolívia/ Paraguai 1932-1935) foi o disparador de uma série de deslocamentos espaciais que reconfiguraram o mapa étnico da região. Este artigo se refere, inicialmente, aos des-locamentos que levaram os Guarani e Isoseño da Bolívia ao Chaco boreal paraguaio e descreve, na sequência, a formação das cinco comunidades guarani que existem atualmente na área. Logo, trata de alguns aspectos da sociabilidade dos Guarani do Chaco boreal paraguaio por meio da reflexão sobre o lugar do ritual na sua história e vida social. Através de uma análise que interpreta o rito-e, com ele, a arte indígena-na sua performatividade, argumenta-se que o ritual opera aqui como um dispositivo fundamental para transformar o espaço chaquenho num lugar guarani.
As already established in ethnological literature, Chaco War (Bolivia/Paraguay 1932-1935) launched a range of spatial displacements that reshaped the local ethnic map. This paper sketches out the displacements that took the Guarani and Isoseño people from Bolivia to Northern Paraguayan Chaco, and then describes the establishment of five communities in the area. Secondly, it refers to Guarani sociality by examining the role of ritual in their history and social life. Through a performative approach to ritual and indigenous art practices, the paper argues that in this context, ritual acts as a powerful means to build Chacoan space as a Guarani place.
Revista Visagem , 2019
“Pascual Toro, flautero” é um documentário etnográfico gravado no Chaco boreal paraguaio entre 20... more “Pascual Toro, flautero” é um documentário etnográfico gravado no Chaco boreal paraguaio entre 2016 e 2018. Músico indígena, Pascual Toro herdou o conhecimento da tradição musical associada ao Arete Guasu do seu pai, quem, como muitos outros guarani e isosenhos, migrou da Bolívia ao Paraguai após a Guerra do Chaco (1932-1935). Neste vídeo, através da voz do músico indígena, conhecemos parte da história do seu povo, da importância do Arete Guasu na sua comunidade e dos conhecimentos associados à habilidade para ser um bom flauteiro. O vídeo apresenta também a sequência de temas musicais que compõem a estrutura ritual do Arete Guasu tal como acontece nos dias de hoje na comunidade guarani de Santa Teresita (Mariscal Estigarribia, Boquerón, Chaco paraguaio).
Ilha. Revista de Antropologia, 2018
Focando no plano sonoro da ação ritual, o texto descreve a festa arete guasu que os chané e guara... more Focando no plano sonoro da ação ritual, o texto descreve a festa arete guasu que os chané e guarani do Chaco argentino, boliviano e paraguaio realizam anualmente. A repetição e a redundância na produção sonora do rito, tanto quanto as variações, constituem a sua musicalidade. Por sua vez, a repetição conjuga-se com as diferenças entre os temas que pautam a sequência do ritual. Aqui se reflete sobre a relação desses planos formais com o tempo ritual e o tempo histórico.
Ethnomusicology and Audiovisual Communication, 2016
This paper explores Chané flutes and their music in the western Chaco region. Audiovisual materia... more This paper explores Chané flutes and their music in the western Chaco region. Audiovisual material recorded and edited as part of fieldwork allows us to analyze some aspects of flute playing among Chané people, such as the sequential organization of flute music in the ritual context of the arete guasu (big feast). Through this research medium we were able to observe the centrality of flute music in conducting the ritual through its different phases, or even its efficacy in inducing certain movements among dancers and other participants. The text also examines some possibilities for creative manipulation based on the stylistic standardization of the flute playing tradition among Chané people. We focus our description on the appropriation of old and new materials for making the flutes according to traditional patterns, and on the performance of old and new repertoires that are adapted to match with the established ritual structure.
Tempo e Argumento, 2017
Este artigo apresenta observações sobre a história recente da música popular do Rio da Prata, ana... more Este artigo apresenta observações sobre a história recente da música popular do Rio da Prata, analisando uma cena em que confluem tango, candombe, murga e rock em Buenos Aires, na Argentina. Mostramos como as migrações entre o Uruguai e Argentina a partir do início da última ditadura militar (1973 e 1976 respectivamente) oportunizaram a emergência de um mercado regional para a música uruguaia e a consolidação da cena rio-platense. A análise distancia-se daqueles trabalhos etnomusicológicos que mapeavam os gêneros musicais se circunscrevendo ao espaço da nação. Argumenta-se que as práticas musicais dos artistas da cena rio-platense contribuem para fazer do Prata um lugar que transcende o limite geopolítico. As poéticas que caracterizam a estética desta cena, como também os discursos com que se descrevem as experiências dos músicos e seus trabalhos, muitas vezes referem de forma metafórica a proximidade entre uruguaios e argentinos e entre os gêneros musicais surgidos em um e outro país. Tais metáforas são aqui interpretadas em sua dimensão performativa mais do que representando uma geografia dada: elas estabelecem relações entre as pessoas e gêneros musicais de uma e outra beira do Rio da Prata, contribuindo para que ele possa ser percebido como um lugar. Palavras-chave: Música popular-Argentina. Música popular-Uruguai. Migração. Rio da Prata (Argentina e Uruguai).
Clang Revista de Música de Facultad de Bellas Artes de la Universidad Nacional de la Plata, 2016
Arte e sociabilidades em perspectiva antropológica, 2014
O texto descreve as formas em que são atualizadas a categoria de 'música do Prata' e a fronteira ... more O texto descreve as formas em que são atualizadas a categoria de 'música do Prata' e a fronteira internacional que atravessa a região, indagando sobre as relações que podem se estabelecer entre práticas musicais, categorias e limites sociais.
Tempo da Ciência, 2013
Históricamente, en la región del Rio de la Plata, muchos discursos han enfatizado la existencia ... more Históricamente, en la región del Rio de la Plata, muchos discursos han enfatizado la existencia de un patrimonio cultural y musical compartido por uruguayos y argentinos. Desde esta perspectiva, las continuidades históricas y culturales entre los dos países separados por las aguas del río, trascienden la división que ese límite representa. Las migraciones de personas entre uno y otro país, que se intensifican marcadamente a partir de los años setenta del siglo XX-especialmente en dirección Uruguay-Argentina-, sin duda contribuyen de distintas maneras en la elaboración de este sentido de regionalidad que trasciende fronteras. Como parte de esta tendencia puede observarse en las últimas décadas una apropiación creciente de géneros uruguayos por parte de músicos y del público argentino, que se revela fundamentalmente a través de la incorporación de elementos asociados a la murga uruguaya y al candombe uruguayo en conjuntos locales de rock, de tango, jazz o folclore. Sin embargo, esa tendencia convive con otra, donde las prácticas musicales recrean marcas que distinguen lo que es "propio" de una y otra nación. Pensando este proceso y retomando conceptos elaborados desde la antropología para pensar las fronteras y la delimitación de categoría sociales, este ensayo presenta una reflexión sobre las relaciones entre prácticas musicales y la elaboración de nociones de continuidad regional y de diferencia nacional. Palabras clave: fronteras, región, nación, música rioplatense. Abstract: Historically, in Rio de la Plata' s región, different discourses have emphasized the existence of a shared cultural and musical heritage among uruguaians and argentinians. From this point of view, historical and cultural continuities between the two countries speak louder than the international border. Intensified migration flows since the 1970' s, especially in the Uruguai-Argentina direction, may have helped in the articulation of a sense o regionality that transcends borders. As a part of this tendency we may observe the increasing appropriation of uruguaian genres by argentinian musicians and audiences. These practices, however, appear side by side with their counterpart, where national differences are reinforced. Revis-iting anthropological discussions about borders and social categories, this essay examines the relationships between musical practices and the ways in which regional continuity and national differences are performed.
Ilha. Revista de Antropologia, 2012
A apropriação de antigos temas musi- cais para elaborar novas canções é uma prática frequente tan... more A apropriação de antigos temas musi- cais para elaborar novas canções é uma prática frequente tanto entre os artistas do Carnaval quanto entre os músicos de diversas cenas. Trata-se de versões que trazem uma nova letra para uma mes- ma música ou uma nova música para uma mesma letra, esses procedimentos contribuem na elaboração de sentidos de continuidade a partir da imperma- nência. Alguns artistas do Carnaval na região do Prata atribuem essa forma de composição à falta de formação acadêmica em música, em sintonia com os discursos de senso comum, que descrevem a murga como um gênero artisticamente menor. Mas como ex- plicar essa forma de composição numa orquestra típica de tango (formato con- sagrado na história da música popular local e em que os músicos geralmente têm formação acadêmica em música)? A versão pode ser entendida nesse caso como um gesto irreverente em relação à concepção moderna em que a obra é uma entidade total e acabada em si mesma. As versões, especialmente, aquelas que traduzem músicas de um gênero para outro, podem ser pensadas como transgressões na medida em que deses- tabilizam os limites e as hierarquias que diferenciam gêneros e categorias sociais.
Antropologia em Primeira Mão, 2011
Este texto presenta una reflexión sobre las versiones como procedimiento compositivo q... more Este texto presenta una reflexión sobre las versiones como procedimiento compositivo que conduce a la intermusicalidad. (Monson, 1997) Partiendo de la perspectiva relacional elaborada por el americanismo musical, y entendiendo las versiones como resultantes de prácticas de apropiación (Schneider, 2006), se destaca la dimensión pragmática de las versiones en la medida en que permiten crear y reconocer relaciones (López Cano, 2011). Me interesa, a su vez, pensar la versión como práctica que disuelve el límite entre autor/compositor e intérprete. Versionar canciones –práctica que, si entendida como apropiación, implica en un aprendizaje por parte del sujeto que se apropia-es una forma de transformarse en integrante de una comunidad de intérpretes. Esas prácticas, sin embargo, no conducen a la homogeneidad anunciada en algunos estudios sobre aculturación, mestizaje o hibridismo. Las versiones de antiguos tangos, milongas, murgas o candombes por parte de los músicos del Rio de la Plata (cuyas prácticas fueron objeto del estudio etnográfico que inspira esta reflexión) también permiten elaborar contrastes y jerarquías –es decir, diferencias-que estructuran esa musicalidad.
Ilha. Revista de Antropologia, 2009
O artigo descreve os usos de
categorias étnico-raciais, por parte de
'trabalhadores culturais' de... more O artigo descreve os usos de
categorias étnico-raciais, por parte de
'trabalhadores culturais' de diferentes
procedências, em Buenos Aires,
Argentina Participando em diferentes
coletivos Junto com afro-argentinos,
cabo-verdianos, e pessoas oriundas
de diferentes países da África, muitos
afro-descendentes latino-americanos
que foram morar em Buenos Aires
ao longo das últimas duas décadas,
encaminharam iniciativas aitísticas
e culturais que em alguns casos
assumem feições de 'ativismo
cultural' Os atores que trabalham
nesse campo questionam, por vezes,
a suposta desaparição dos negros na
Argentina, destacando elementos que
permitem pensar em um processo
histórico de mvisibilização Por meio
de uma variedade de expressões
culturais, também buscam introduzir
uma imagem diferente daquela do
estereótipo com que os negros são
representados em Buenos Aires
Revista Transcultural de Música, 2008
Desde mediados de los años 80, muchos músicos jóvenes de la ciudad de Buenos Aires ¯Argentina-han... more Desde mediados de los años 80, muchos músicos jóvenes de la ciudad de Buenos Aires ¯Argentina-han incorporado de forma creciente en sus canciones la sonoridad del candombe uruguayo, y del candombe argentino, en obras difundidas como canción popular urbana, tango, milonga, murga y rock. En ese universo es frecuente un mensaje que destaca la importancia de la población afroargentina y/o afrouruguaya, en la constitución de la cultura popular del Rio de la Plata. Este texto examina qué apropiaciones hacen que la música negra sea valorizada como esfera cultural entre artistas jóvenes de la ciudad, buscando situar las definiciones nativas en el contexto histórico e ideológico que les da sentido.
Reviews by Maria Eugenia Dominguez
El oído pensante, 2016
Los trabajos publicados en esta revista están bajo la licencia Creative Commons Atribución-NoCome... more Los trabajos publicados en esta revista están bajo la licencia Creative Commons Atribución-NoComercial 2.5 Argentina Rafael José de Menezes Bastos. A ciência, como a bruxaria, se faz com tudo que somos Latina e Caribe) onde orientou e contribuiu com a formação de muitos profissionais da antropologia, etnologia e etnomusicologia que trabalham no Brasil e pelo mundo afora. É autor dos livros A Musicológica Kamayurá: Para uma Antropologia da Comunicação no Alto-Xingu (Brasília: Funai, 1978 e Florianópolis: Editora da UFSC, 1999) e A Festa da Jaguatirica: Uma Partitura Crítico-Interpretativa (Florianópolis: Editora UFSC, 2013), de algumas coletâneas, como co-autor, e de mais de cem títulos publicados, no Brasil e fora dele, em revistas científicas e livros sobre arte, música, ritual e antropologia. Ministrou conferências em muitos países das Américas e da Europa, sendo referência tanto nos estudos sobre música popular quanto na etnologia. Desde 1969 e até o presente, trabalha em parceria com os índios Kamayurá (tupi guarani); seus estudos deram destaque para o conhecimento, percepção, arte e música, cosmologia e política kamayurá assim como também se ocupam dos complexos rituais dos povos indígenas do Alto Xingu (Brasil Central). Em 2012 recebeu o Diploma de Honor por Trancendentales Aportes a la Musicología en América Latina da Asociación Argentina de Musicología (AAM), em Buenos Aires. Em 2015 a Associação Brasileira de Etnomusicologia (ABET) dedicou seu VII Encontro Internacional a homenageá-lo pela sua "fundamental contribuição na consolidação da pesquisa sobre música nas Ciências Humanas". Completados seus setenta anos, as leis brasileiras concederam-lhe o direito de se aposentar em 2015. Porém, optou por continuar trabalhando. El oído pensante, vol. 4, n°2 (2016) ISSN 2250-7116 R. J. de Menezes Bastos. A ciência, como a Entrevista / Entrevista / Interview bruxaria, se faz com tudo que somos. Ao longo da sua trajetória você teve experiências tanto na área da música como na das ciências humanas. Como foi essa caminhada que o tornou um etnomusicólogo? Minha vida acadêmica começou, em Salvador, na Bahia, onde nasci. No ano de 1964, ano do último golpe militar no Brasil, eu estudava no Colégio Militar e era simpatizante do Partido Comunista, participando inclusive de algumas ações do Partido. Eu e mais dois amigos fomos expulsos do Colégio. Eu adorei ser expulso porque foi aí que eu fui estudar onde eu sempre quis, que era o Colégio Central, onde estudou o célebre ativista comunista e poeta, Carlos Marighella. Nessa época eu já estudava música no antigo Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, no Curso Técnico de Música, de nível médio. Nessa escola eu tive professores ilustres como o Yulo Brandão, que era meu professor de violão, Ernst Widmer, professor de composição e matérias teórica e Walter Smetak, que mais tarde se tornou famoso pela sua célebre oficina. Mas mais do que o seminário o que me marcou foi viver em Salvador, que nessa época era uma verdadeira Atenas, com muitas atividades teatrais, música, literatura. Ali havia então muitos poetas. Depois disso eu fui para Brasília pois o meu professor Yulo Brandão foi para lá e me convidou pra dar aulas de violão na Universidade de Brasília. Eu só fiz o vestibular (exame para ingressar para estudar nas universidades públicas brasileiras) em 1966, para música, e passei a estudar com pessoas como o Cláudio Santoro, Régis e Rogério Duprat, Levy Damiano Cozzella e Joaquim Thomaz Jayme, que foi mais tarde assassinado pela ditadura. Alguns deles tinham estudado na Alemanha com o Stockhausen, que, portanto, é um pouco meu avô acadêmico. Nessa época a UNB era fantástica, tinha uma estrutura flexível, que permitia que você frequentasse aulas de outros cursos, além do seu próprio. E enquanto eu estudava música fui fazer aulas de grego e cultura grega com Eudoro de Souza. Nessa época também comecei a estudar disciplinas da matemática e convivia muito com as pessoas ligadas tanto à antropologia quanto à cultura clássica. Eu me graduei em música em 1968 e depois fui fazer mestrado em antropologia, ainda em Brasília. Foi graças ao convite de Pedro Agostinho da Silva que viajei para a aldeia Kamayurá, no então Parque Nacional do Xingu, pela primeira vez em 1969, lá permanecendo por cerca de 3 meses. Pedro estava trabalhando na sua pesquisa de mestrado, que mais tarde se tornaria um livro clássico na xinguanologia (Agostinho da Silva 1974). Esse convite foi crucial para que eu realizasse minha iniciação de campo, antropológica e etnomusicológica. Fiz muitas gravações do canto do ritual feminino do Amurikumãe realizei um levantamento preliminar dos instrumentos musicais. O ritual do Amurikumã foi mais tarde analisado pela Maria Ignez Cruz Mello (2005) na sua tese de doutorado, uma das primeiras que orientei na UFSC. O percurso foi então da música à antropologia... Quem eram seus professores de El oído pensante, vol. 4, n°2 (2016) ISSN 2250-7116 R. J. de Menezes Bastos. A ciência, como a Entrevista / Entrevista / Interview bruxaria, se faz com tudo que somos. El oído pensante, vol. 4, n°2 (2016) ISSN 2250-7116 R. J. de Menezes Bastos. A ciência, como a Entrevista / Entrevista / Interview bruxaria, se faz com tudo que somos. El oído pensante, vol. 4, n°2 (2016) ISSN 2250-7116 R. J. de Menezes Bastos. A ciência, como a Entrevista / Entrevista / Interview bruxaria, se faz com tudo que somos.
El oído pensante, 2013
Hill, Jonathan D. & Jean-Pierre Chaumeil (eds.). 2011. Burst of Breath. Indigenous Ritual Wind In... more Hill, Jonathan D. & Jean-Pierre Chaumeil (eds.). 2011. Burst of Breath. Indigenous Ritual Wind Instruments in Lowland South America. Nebraska: University of Nebraska Press, 433 páginas.
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Papers by Maria Eugenia Dominguez
As already established in ethnological literature, Chaco War (Bolivia/Paraguay 1932-1935) launched a range of spatial displacements that reshaped the local ethnic map. This paper sketches out the displacements that took the Guarani and Isoseño people from Bolivia to Northern Paraguayan Chaco, and then describes the establishment of five communities in the area. Secondly, it refers to Guarani sociality by examining the role of ritual in their history and social life. Through a performative approach to ritual and indigenous art practices, the paper argues that in this context, ritual acts as a powerful means to build Chacoan space as a Guarani place.
categorias étnico-raciais, por parte de
'trabalhadores culturais' de diferentes
procedências, em Buenos Aires,
Argentina Participando em diferentes
coletivos Junto com afro-argentinos,
cabo-verdianos, e pessoas oriundas
de diferentes países da África, muitos
afro-descendentes latino-americanos
que foram morar em Buenos Aires
ao longo das últimas duas décadas,
encaminharam iniciativas aitísticas
e culturais que em alguns casos
assumem feições de 'ativismo
cultural' Os atores que trabalham
nesse campo questionam, por vezes,
a suposta desaparição dos negros na
Argentina, destacando elementos que
permitem pensar em um processo
histórico de mvisibilização Por meio
de uma variedade de expressões
culturais, também buscam introduzir
uma imagem diferente daquela do
estereótipo com que os negros são
representados em Buenos Aires
Reviews by Maria Eugenia Dominguez
As already established in ethnological literature, Chaco War (Bolivia/Paraguay 1932-1935) launched a range of spatial displacements that reshaped the local ethnic map. This paper sketches out the displacements that took the Guarani and Isoseño people from Bolivia to Northern Paraguayan Chaco, and then describes the establishment of five communities in the area. Secondly, it refers to Guarani sociality by examining the role of ritual in their history and social life. Through a performative approach to ritual and indigenous art practices, the paper argues that in this context, ritual acts as a powerful means to build Chacoan space as a Guarani place.
categorias étnico-raciais, por parte de
'trabalhadores culturais' de diferentes
procedências, em Buenos Aires,
Argentina Participando em diferentes
coletivos Junto com afro-argentinos,
cabo-verdianos, e pessoas oriundas
de diferentes países da África, muitos
afro-descendentes latino-americanos
que foram morar em Buenos Aires
ao longo das últimas duas décadas,
encaminharam iniciativas aitísticas
e culturais que em alguns casos
assumem feições de 'ativismo
cultural' Os atores que trabalham
nesse campo questionam, por vezes,
a suposta desaparição dos negros na
Argentina, destacando elementos que
permitem pensar em um processo
histórico de mvisibilização Por meio
de uma variedade de expressões
culturais, também buscam introduzir
uma imagem diferente daquela do
estereótipo com que os negros são
representados em Buenos Aires