Revista Significação, São Paulo, v. 48, n. 55, p. 17-35, jan-jun. 2021 | 17, 2021
Resumo: Retomamos o primeiro longa-metragem dirigido por
uma mulher negra em Cuba, De cierta mane... more Resumo: Retomamos o primeiro longa-metragem dirigido por
uma mulher negra em Cuba, De cierta manera (1974-1977),
de Sara Gómez, apostando na dialética e na potência da
separação (ficção, documentário) como condições de
expressão de um cinema político engajado na transformação
sócio-histórica e na produção de consciência crítica.
Concebemos a dialética e a figura da limiaridade a partir de
três pares fundamentais que se desmembram e se atravessam:
ficção-documentário, que estrutura o mecanismo do filme;
revolução-marginalização, fundante do argumento e assumido
como temática central; e o par machismo-feminismo,
que analisamos mais detidamente a partir da narrativa,
da mise-en-scène e da montagem.
Palavras-Chave: dialética; feminismo; cinema cubano;
Sara Gómez.
Abstract: We analyze the first feature film directed by a
black woman in Cuba, One way or another (1974-1977)
by Sara Gómez, verifying the dialectics and the power
of separation/threshold (fiction, documentary) as
conditions of expression of a political cinema engaged in
a socio-historical transformation and in the production of
critical awareness. We adopt three essential dichotomies
that are dismembered and associated with each other:
documentary-fiction, which structures the mechanism of
the film; revolution-marginalization, the foundation of
the argument; and sexism-feminism, which we analyze
more closely based on the narrative of mise-en-scene
and montage.
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Books by Roberta Veiga
Palavras-chave: caça às bruxas; cinema; feminismo; conto infantil.
Abstract: In this article we seek to update the historical notion of witch, from a comparative analysis between the movie The Juniper Tree, by Nietzchka Keene (1990), and the short story that inspires it, The Almond Tree (1994), by the Brothers Grimm. The purpose is to show how the film, by pointing to the out-of-field of the witch-hunt phenomenon, through not only the narrative and mise-en-scène, but the melancholy that institutes the cinematographic ambience, displaces the misogyny of the short story, giving way to the pragmatic and animist condition of witchcraft. In the ambiguities of the characters, there still remains a feminist perspective that we call becoming-witch.
Through the personal documentary Daugther Rite, by Michelle Citron, I propose to think about the ways in which the invention of femininity is indebted to the first relationship with a woman, or with the first woman. Therefore, to what extent does a cinema device qualify the experience of being a daughter and being a mother, and its construction throughout life, as a feminist.
durante a Inquisição, não se queimaram só os corpos delas, o
que se queimou foi o exercício da potência de criação a partir
do deciframento dos afetos.” Essa fala de Suely Rolnik1 nos convoca,
em múltiplos aspectos, a responder por que são tão urgentes
iniciativas como a mostra “Mulheres mágicas: reinvenções da bruxa
no cinema”. Não só é preciso recontar a história da perspectiva das
mulheres que foi apagada por uma escrita masculina, como esse
liame com o passado nos permite elaborar sobre forças e formas
patriarcais repressoras que hoje nos confrontam por meio de novos
dispositivos de opressão capitalista.
Papers by Roberta Veiga
Palavras-chave: Autoria no documentário. Performance. Autobiograficção. Filme-ensaio.
Abstract
Comparing the documentaries Santiago (2006) and In the Intense Now (2017), by João Moreira Salles, we seek to shift the notion of author introducing how these films, in their essayistic dimension, call for an autobiografiction. The search is for the way in which this conjugation of the self, at first authorial, is a performative self that modulates on two fronts: the self-portraited performance and the inferential performance, which put cinema into play as a process of elaboration of the triad self-image- world.
Keywords: Documentary authorship. Performance. Autobiografiction. Essay-film.
Resumen
Al comparar los documentales Santiago (2006) y No Intenso Agora (2017), de João Moreira Salles, pretendemos cambiar la noción del autor al introducir el modo de cómo estas películas, en su dimensión ensayística, convocan una autobiografícción. La búsqueda es por la forma en como en esa conjugación del yo, a principio autoral, es un yo performativo que se modula en dos frentes: la performance autorretratada y la performance inferencial, que ponen en juego el cine como proceso de elaboración de la tríada: yo-imagen-mundo.
Palabras-clave: Autoría documental. Performance. Autobiografíaficción. Cine-ensayo.
do eu se intensificam e ganham novos contornos. Propomos compreender como
o documentário na primeira pessoa interpela esse cenário reafirmando a espetacularização
ou se abrindo para uma experiência limiar. Pensando a noção de “autobiografia
não-autorizada”, a ideia é compreender, a partir de quatro filmes brasileiros, o efeito
de eu em jogo, as tensões na figuração da memória, e os modos como o filme diz de
seu processo.
Resumo: Onde está o histórico e o político quando uma cineasta recusa os procedimentos de rememoração documentais como o arquivo, o testemunho e a encenação, para apenas contemplar espaços de conflito no Leste Europeu de 1993 e em Israel de 2006, sem a eles se imiscuir? Buscando responder tal questão, este artigo produz o argumento de que através da escrita de si – de uma autobiografia instituída nas lacunas da memória sobre o Holocausto – os filmes D’est e Là-bas, de Chantal Akerman, alcançam o político por uma via intersticial – aquela dos afetos e das brechas - e formula uma figura palimpséstica para a história, que não encadeia passado e presente.
Palavras-chave: caça às bruxas; cinema; feminismo; conto infantil.
Abstract: In this article we seek to update the historical notion of witch, from a comparative analysis between the movie The Juniper Tree, by Nietzchka Keene (1990), and the short story that inspires it, The Almond Tree (1994), by the Brothers Grimm. The purpose is to show how the film, by pointing to the out-of-field of the witch-hunt phenomenon, through not only the narrative and mise-en-scène, but the melancholy that institutes the cinematographic ambience, displaces the misogyny of the short story, giving way to the pragmatic and animist condition of witchcraft. In the ambiguities of the characters, there still remains a feminist perspective that we call becoming-witch.
Through the personal documentary Daugther Rite, by Michelle Citron, I propose to think about the ways in which the invention of femininity is indebted to the first relationship with a woman, or with the first woman. Therefore, to what extent does a cinema device qualify the experience of being a daughter and being a mother, and its construction throughout life, as a feminist.
durante a Inquisição, não se queimaram só os corpos delas, o
que se queimou foi o exercício da potência de criação a partir
do deciframento dos afetos.” Essa fala de Suely Rolnik1 nos convoca,
em múltiplos aspectos, a responder por que são tão urgentes
iniciativas como a mostra “Mulheres mágicas: reinvenções da bruxa
no cinema”. Não só é preciso recontar a história da perspectiva das
mulheres que foi apagada por uma escrita masculina, como esse
liame com o passado nos permite elaborar sobre forças e formas
patriarcais repressoras que hoje nos confrontam por meio de novos
dispositivos de opressão capitalista.
Palavras-chave: Autoria no documentário. Performance. Autobiograficção. Filme-ensaio.
Abstract
Comparing the documentaries Santiago (2006) and In the Intense Now (2017), by João Moreira Salles, we seek to shift the notion of author introducing how these films, in their essayistic dimension, call for an autobiografiction. The search is for the way in which this conjugation of the self, at first authorial, is a performative self that modulates on two fronts: the self-portraited performance and the inferential performance, which put cinema into play as a process of elaboration of the triad self-image- world.
Keywords: Documentary authorship. Performance. Autobiografiction. Essay-film.
Resumen
Al comparar los documentales Santiago (2006) y No Intenso Agora (2017), de João Moreira Salles, pretendemos cambiar la noción del autor al introducir el modo de cómo estas películas, en su dimensión ensayística, convocan una autobiografícción. La búsqueda es por la forma en como en esa conjugación del yo, a principio autoral, es un yo performativo que se modula en dos frentes: la performance autorretratada y la performance inferencial, que ponen en juego el cine como proceso de elaboración de la tríada: yo-imagen-mundo.
Palabras-clave: Autoría documental. Performance. Autobiografíaficción. Cine-ensayo.
do eu se intensificam e ganham novos contornos. Propomos compreender como
o documentário na primeira pessoa interpela esse cenário reafirmando a espetacularização
ou se abrindo para uma experiência limiar. Pensando a noção de “autobiografia
não-autorizada”, a ideia é compreender, a partir de quatro filmes brasileiros, o efeito
de eu em jogo, as tensões na figuração da memória, e os modos como o filme diz de
seu processo.
Resumo: Onde está o histórico e o político quando uma cineasta recusa os procedimentos de rememoração documentais como o arquivo, o testemunho e a encenação, para apenas contemplar espaços de conflito no Leste Europeu de 1993 e em Israel de 2006, sem a eles se imiscuir? Buscando responder tal questão, este artigo produz o argumento de que através da escrita de si – de uma autobiografia instituída nas lacunas da memória sobre o Holocausto – os filmes D’est e Là-bas, de Chantal Akerman, alcançam o político por uma via intersticial – aquela dos afetos e das brechas - e formula uma figura palimpséstica para a história, que não encadeia passado e presente.
uma mulher negra em Cuba, De cierta manera (1974-1977),
de Sara Gómez, apostando na dialética e na potência da
separação (ficção, documentário) como condições de
expressão de um cinema político engajado na transformação
sócio-histórica e na produção de consciência crítica.
Concebemos a dialética e a figura da limiaridade a partir de
três pares fundamentais que se desmembram e se atravessam:
ficção-documentário, que estrutura o mecanismo do filme;
revolução-marginalização, fundante do argumento e assumido
como temática central; e o par machismo-feminismo,
que analisamos mais detidamente a partir da narrativa,
da mise-en-scène e da montagem.
Palavras-Chave: dialética; feminismo; cinema cubano;
Sara Gómez.
Abstract: We analyze the first feature film directed by a
black woman in Cuba, One way or another (1974-1977)
by Sara Gómez, verifying the dialectics and the power
of separation/threshold (fiction, documentary) as
conditions of expression of a political cinema engaged in
a socio-historical transformation and in the production of
critical awareness. We adopt three essential dichotomies
that are dismembered and associated with each other:
documentary-fiction, which structures the mechanism of
the film; revolution-marginalization, the foundation of
the argument; and sexism-feminism, which we analyze
more closely based on the narrative of mise-en-scene
and montage.
o “devir-memória” e a “processualidade” – que articulam método e escritura de modo a fazer da obra uma tessitura temporal na qual a memória é tomada em sua relação inventiva com o esquecimento, e a história é concebida em suas formas fluídas.
//
How can personal filmmaking capture the historical experience? Having this question in mind, and aiming at revealing a certain politics of remembering, I set off the collective and subjective potency of self-filmmaking that emerges from various strategies for evoking, constituting and depicting memory. A short inventory of Brazilian films and filmmakers is sketched in order to guide the identification of three figures of selffilmmaking – “self-trace”, “becomingmemory”, and “processuality” – that
articulate together a method and a filmic writing that engenders a temporal texture in which memory stands in a creative relation to forgetfulness and history takes a fluid shape.
dedicado a uma história de vida menor, doméstica,
familiar, evoque outra, maior, coletiva, de um tempo?
O artigo nasce do interesse em compreender de
que modo o cinema de acento autobiográfico pode
fazer pensar a natureza alter do eu, ou seja, a
incorporação do outro, do mundo e da história na
constituição de um si. A partir do tensionamento
entre um desejo subjetivo de construção de si e
os encontros que caracterizam o documentário,
elegemos três filmes recentes cujos projetos se
assemelham: Diário de uma busca (2011), Elena
(2012) e Mataram meu irmão (2013). Nos três,
os cineastas lidam com a morte de um parente
próximo e realizam, cada um a seu modo, o trabalho
de elaboração dessas mortes, de forma a fazer do
processo de filmagem uma busca no presente por
um acontecimento passado.
autora da apresentação
autora do artigo Já visto jamais visto: devir memória ou a potência histórica na escrita de si
e tradutora do texto Identidade em deslize: o registro autrobiográfico na obra de Chantal Akerman, de Alisa Lebow
dos recursos expressivos; a negação do eu espetacularizado; e o deslocamento do espectador.
mercadorias do capitalismo global é o fim. Através de um aporte na teoria do cinema, aposta-se num efeito filme, em que a lógica cinematográfica - a montagem somada ao dispositivo (sala escura, exibição de uma hora em tela grande) - ao produzir tanto a imersão quanto o estranhamento do espectador (e não mais do seguidor/usuário), conduz as imagens controladas dos relatos online de si ao seu revés crítico: a consciência de assistirmos a um fenômeno de colonização da intimidade pelos mecanismos capitalísticos, perceptível nos processos de privatização da imagem e tutorialização da vida.