Papers by Lucas Magno de Oliveira Porto
Jueces para La Democracia, 2024
La investigación policial brasileña conocida como “Operación Autolavado” (en portugués "Operação ... more La investigación policial brasileña conocida como “Operación Autolavado” (en portugués "Operação Lava Jato"), iniciada el 17 de marzo de 2014, tenía como objetivo inicial desmantelar una posible organización criminal que implicaba a cambistas de dinero e inversores en diversos delitos contra el sistema financiero nacional y el narcotráfico internacional, con la malversación criminal de millones de reales. Sin embargo, hasta el 14 de noviembre de ese año, ninguna de las cinco operaciones que componían la “Operación Autolavado” había llamado la atención de los medios de comunicación. En esa fecha, ya en su sexta fase, la operación ganó protagonismo como ninguna otra en la justicia brasileña, al descubrirse la implicación de Petrobras, petrolera cuyo accionista mayoritario es el Estado brasileño, en las tramas de corrupción investigadas.
En ese momento, se amplió el ámbito de la investigación de las actividades ilegales, seguido de un cambio drástico en el objeto de la investigación: mientras que antes las investigaciones se dirigían exclusivamente a la implicación de particulares en organizaciones criminales, ahora el foco principal se centraba en la esfera pública, donde una red corruptora implicaba a diversos agentes del Estado. De esta forma, la investigación, que se circunscribía a una organización criminal de traficantes del paro, desveló un nuevo escenario que saldría del ámbito procesal penal para convertirse en el mayor espectáculo mediático de la historia del Estado brasileño, el caso Autolavado, cuyo objetivo era revelar al pueblo la lucha judicial contra las tramas de corrupción enquistadas en las entrañas de la gestión de la res pública en Brasil.
En este ensayo, presentaremos los contornos de la práctica del lawfare que supuestamente estuvieron presentes en esta compleja trama jurídica, cuyo ambiente de combate fue tan intensamente publicitado que se inventó un neologismo para representarlo: "lavajatismo". Esto cambió el curso del derecho y de la práctica procesal en Brasil, dado el vigor comunicacional con que creció el proceso judicial, involucrando a la opinión pública y a diversas autoridades de los tres poderes del Estado, especialmente del poder judicial. El poder judicial desempeñó un papel especial, ya que la peculiaridad de la actuación judicial en el caso Autolavado fue la aplicación de diversos mandatos que componen el derecho penal (y procesal penal) brasileño, que se ha convertido en una poderosa arma en la lucha contra la corrupción (combat law/lawfare), exorbitando el formato tradicional del estado penal, marcado por la austeridad y la moderación judicial. |
The Brazilian police investigation known as "Operation Car Wash" (in Portuguese, "Operação Lava Jato"), which began on March 17, 2014, initially aimed to dismantle a possible criminal organization involving money changers and investors in various crimes against the national financial system and international drug trafficking, with the criminal embezzlement of millions of reais. However, until November 14 of that year, none of the five operations that made up "Operation Car Wash" had garnered significant media attention. On that date, during its sixth phase, the operation gained unprecedented prominence in Brazilian justice as the involvement of Petrobras, a state-controlled oil company, was uncovered in the corruption schemes under investigation.
At that moment, the scope of the investigation into illegal activities expanded, followed by a drastic shift in the focus of the inquiry: whereas previously, the investigations were exclusively targeting the involvement of private individuals in criminal organizations, the main focus now shifted to the public sphere, where a corrupt network implicated various state agents. In this way, the investigation, which had initially been limited to a criminal organization of currency traffickers, revealed a new scenario that would transcend the criminal procedural sphere to become the largest media spectacle in the history of the Brazilian state: the Car Wash case. Its goal was to expose to the public the judicial fight against entrenched corruption within the management of Brazil’s res publica.
In this essay, we will outline the contours of the practice of lawfare that was allegedly present in this complex legal plot, whose combative atmosphere was so intensely publicized that a neologism was coined to represent it: "lavajatismo". This phenomenon changed the course of law and legal practice in Brazil, given the communicational force with which the judicial process grew, involving public opinion and various authorities from the three branches of government, particularly the judiciary. The judiciary played a special role since the peculiarity of judicial action in the Car Wash case was the application of various mandates that form part of Brazilian criminal law (and criminal procedure), which became a powerful weapon in the fight against corruption (combat law/lawfare), exceeding the traditional format of the penal state, which had been characterized by judicial austerity and moderation.
Administrative Law Review, 2023
This article aims to review the literature on the sources in Brazilian legislation that regulate,... more This article aims to review the literature on the sources in Brazilian legislation that regulate, in some way, the practice of moral harassment in the public service. The research deals, firstly, with the conceptual configuration of moral harassment and its legal protection in the public and private sectors. The second section analyzes the panorama of Brazilian legislation regarding the prevention and repression of moral harassment in the public service. In the third section, the legislation of the state of Minas Gerais on moral harassment is discussed, which represents concepts and procedures that can be modeled for other units of the federation and for the federal unit of Brazil. It is concluded that there is a lack of legislation on the subject at
Revista de Direito Administrativo, 2023
Este artigo tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre as fontes na legislação brasi... more Este artigo tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre as fontes na legislação brasileira que regulam, de alguma forma, a prática do assédio moral no serviço público. Primeiramente, a pesquisa aborda a definição conceitual do assédio moral e sua proteção legal no setor público e no privado. Na segunda seção, analisamos o panorama da legislação brasileira em relação à prevenção e repressão do assédio moral no serviço público. Na terceira seção, abordamos a legislação do estado de Minas Gerais relacionada com o assédio moral, a qual apresenta conceitos e procedimentos que podem servir de exemplo para outros estados-membros e para a União. Conclui-se que há uma ausência de legislação sobre o tema no âmbito federal, alguns estados regulam o assédio de forma mais repressiva, enquanto outros de forma mais tímida, limitando-se a programas de conscientização sobre o assédio, deixando uma lacuna grave no que diz respeito ao monitoramento e punição das práticas de assédio moral.
Revista da UFMG, 2023
O texto ora apresentado suscita algumas considerações sobre o progresso científico que possibilit... more O texto ora apresentado suscita algumas considerações sobre o progresso científico que possibilitou o surgimento de um campo da Ciência da Computação, a chamada computação cognitiva, cujo feito maior é o advento da Inteligência Artificial, em torno da qual pesquisas e criações tecnológicas vêm mudando radicalmente o ethos humano em proporções jamais experimentadas. Além da abordagem relativa à cientificidade que molda a concepção de mente como metabolismo do cérebro, pretende-se ainda apontar a necessidade de se refletir sobre tais ocorrências no âmbito da Ética Filosófica (Filosofia Prática), eis que parece no mínimo perigoso reduzir epistemologicamente a integralidade da condição humana a mecanismos biológicos. Esta tendência vem sendo atualizada nas discussões sobre IA e agenciamento maquínico, tendência este que subtrai do humano sua espiritualidade ao equipará-lo a entidades maquínicas que simulam sedutoramente os mecanismos do cérebro do sapiens. |
The text presented here raises some considerations about the scientific progress that enabled the emergence of a field within Computer Science, so-called cognitive computing, whose greatest achievement is the advent of Artificial Intelligence, around which research and technological innovations have been radically changing the human ethos in unprecedented proportions. In addition to the approach concerning the scientificity that shapes the conception of the mind as a metabolism of the brain, there is also an intention to highlight the need to reflect on such occurrences within the scope of Philosophical Ethics (Practical Philosophy), as it seems at least dangerous to epistemologically reduce the entirety of the human condition to biological mechanisms. This trend has been updated in discussions about AI and machinic agency, a trend that deprives humans of their spirituality by equating them with machinic entities that seductively simulate the mechanisms of the sapiens' brain.
Teoria Jurídica Contemporânea, 2021
Esse estudo analisa a natureza e as implicações jurídicas dos contratos inteligentes (smart contr... more Esse estudo analisa a natureza e as implicações jurídicas dos contratos inteligentes (smart contracts) autoexecutáveis disponíveis na blockchain. Da leitura de suas características, constata-se que o contrato inteligente na blockchain é um algoritmo jurídico que proporciona uma eficiência contratual inédita por meio da ininterrupção e irreversibilidade dos ajustes contratuais programados. Apesar de já existirem estudos que intentem flexibilizar o conteúdo desses contratos, essa modalidade rompe com os paradigmas da teoria contratual na qual se assentam as relações jurídicas essencialmente analógicas. Assim, a partir de um método hipotético-dedutivo, se pretende delinear os contornos do que seria um contrato inteligente, seu âmbito de aplicação e apontar algumas possíveis restrições. |
This study analyzes the nature and legal implications of self-executing smart contracts available on the blockchain. From an examination of their characteristics, it is observed that a smart contract on the blockchain is a legal algorithm that provides unprecedented contractual efficiency through the uninterrupted and irreversible execution of programmed contractual agreements. Although there are already studies attempting to make the content of these contracts more flexible, this modality breaks with the paradigms of contract theory upon which essentially analog legal relationships are based. Thus, using a hypothetical-deductive method, the aim is to outline the contours of what constitutes a smart contract, its scope of application, and to identify some possible limitations.
Books by Lucas Magno de Oliveira Porto
A obra reúne trabalhos escritos por profissionais do Direito e de outras áreas das ciências socia... more A obra reúne trabalhos escritos por profissionais do Direito e de outras áreas das ciências sociais a partir de uma perspectiva distanciada do combate à corrupção, cuja referência mais expressiva no Brasil foi a Operação Lava Jato. Passados mais de seis anos desde sua deflagração, retomase o diálogo sobre o tema com objetividade e senso crítico, o que é possível encontrar nas teses desta obra, na qual são apresentadas análises técnicas e desprovidas de engajamento políticoideológico, revelando dados importantes para a compreensão de seus fundamentos jurídicos e políticos, além de proporcionarem ao público reflexões amadurecidas sobre o recente passado brasileiro e importantes lições para o futuro da democracia e do Estado de Direito. | The work brings together writings by legal professionals and experts from other areas of the social sciences, offering a distanced perspective on the fight against corruption, with the most notable reference in Brazil being Operation Lava Jato. More than six years after its inception, the dialogue on the topic is revisited with objectivity and critical sense, which can be found in the theses presented in this work. The analyses are technical and free of political-ideological engagement, revealing important data for understanding the legal and political foundations of the operation. Additionally, the work provides the public with mature reflections on Brazil's recent past and valuable lessons for the future of democracy and the rule of law.
Este livro foi idealizado em homenagem a Wolfgang Hoffmann-Riem, o mais notável jurista alemão qu... more Este livro foi idealizado em homenagem a Wolfgang Hoffmann-Riem, o mais notável jurista alemão que se dedica a enfrentar as temáticas afetas ao Direito Digital. A originalidade e a densidade de sua obra o situam num patamar diferenciado: como hermeneuta dos grandes desafios jurídicos que gravitam em torno de um eixo comum, quais sejam, as relações jurídicas decorrentes da progressiva algoritmização das vivências humanas e a consequente anonimização da própria vida. A obra Direito e Estado entre Mundo Analógico e Era Digital: reflexões de fronteira em homenagem a Wolfgang Hoffmann-Riem, organizada pela Professora Mariah Brochado, traz textos de renomados autores que aqui ofertam o fruto mais precioso de seus espíritos: suas reflexões. Objetivando retratar a fronteira tecnológica atravessada neste início de século, a “encruzilhada” referida no título do livro simboliza o desafio que o inspira: a diversidade disruptiva maquínica que conforma o horizonte hermenêutico do devir civilizacional deste tempo. Tal fenômeno planetário, sem precedentes equivalentes em termos de evolução técnica e de graves impactos nas subjetividades (actantes que são das narrativas digitais), impõe ao Direito a tarefa de harmonizar tradição e inovação para cumprir seu desiderato: realizar justiça, seja on-line, off-line ou on-life. E Hoffmann-Riem é, nesse sentido, um “desbravador de fronteiras” único, um autêntico Grenzgänger- tal como Wolfgang Schulz o espelha na entrevista que inaugura a obra. | This book was conceived in honor of Wolfgang Hoffmann-Riem, the most notable German jurist dedicated to addressing issues related to Digital Law. The originality and depth of his work place him on a distinguished level: as a hermeneut of the great legal challenges that revolve around a common axis, namely, the legal relationships arising from the progressive algorithmization of human experiences and the consequent anonymization of life itself. The work "Law and State Between the Analog World and the Digital Age: Frontier Reflections in Honor of Wolfgang Hoffmann-Riem," organized by Professor Mariah Brochado, features texts by renowned authors who offer here the most precious fruit of their spirits: their reflections. Aiming to depict the technological frontier crossed at the beginning of this century, the "crossroads" mentioned in the book's title symbolizes the challenge that inspires it: the disruptive machine-driven diversity that shapes the hermeneutic horizon of the civilizational future of our time. This global phenomenon, unprecedented in terms of technical evolution and its profound impacts on subjectivities (who are the actors of digital narratives), imposes on Law the task of harmonizing tradition and innovation to fulfill its purpose: to achieve justice, whether online, offline, or on-life. And Hoffmann-Riem, in this sense, is a unique "frontier explorer," an authentic Grenzgänger—as Wolfgang Schulz reflects in the interview that opens the work.
Book chapters by Lucas Magno de Oliveira Porto
Direito e Estado entre mundo analógico e era digital: reflexões de fronteira em homenagem a Wolfgang Hoffmann-Riem | Law and State Between the Analog World and the Digital Age: Frontier Reflections in Honor of Wolfgang Hoffmann-Riem, 2024
Diante do paradigma de desterritorialização das relações humanas (Lévy, 2017) e de seus impactos ... more Diante do paradigma de desterritorialização das relações humanas (Lévy, 2017) e de seus impactos já estabelecidos nas relações laborais – tal como o processo de precarização do trabalho por meio de aplicativos – Uberização – é crescente a quantidade de oferta de trabalhos que permitem realização de atividades em distintos Países; seja para experts, seja para atividades repetitivas de baixo padrão remuneratório: desde profissionais da área de Tecnologia da Informação (TI) até atendentes de call-center têm estabelecido residência no Brasil e laborado para outros países, ou brasileiros têm estabelecido residência em outros Países e laborado para empresas brasileiras. Esse fenômeno recebe a alcunha de nomadismo digital e os indivíduos que fazem essa opção são denominados nômades digitais. De acordo com Puente (2022), já é possível estimar mais de 35 milhões de nômades digitais no mundo, com estimativa de 1 bilhão até 2035.
O Brasil adotou, em janeiro de 2022, o prelúdio da regulação para acolher os nômades digitais, fornecendo um visto específico a fim de controlar a permanência de trabalhadores de outros Países no tempo de um e dois anos (Resolução CNIG MJSP Nº 45/2021). O nomadismo digital desafia as barreiras da regulação de trabalho e coloca à prova a compreensão que a jurística possui acerca de sua natureza, eis que se trata de uma transformação epocal das fronteiras da execução de trabalho, especialmente calcada na sua desfisicalização e da multiplicação das compreensões tradicionais de execução das atividades laborais.
Esse novo fenômeno de organização das relações laborais, que tem sua origem desde a década de 1990 com manifestos que fazem ode ao lúdico e à busca por menos trabalho e mais remuneração, tensiona a compreensão existente entre trabalho e liberdade, a qual já vem sendo questionada com a judicialização por indivíduos que laboram como motoristas de aplicativos desde 2016 e que até a presente data ainda existem questionamentos sobre a possibilidade de ser uma relação passível de tutela pela Justiça do Trabalho (Reclamação 59.795/MG, DJe 20 maio 2023).
Isso porque a natureza jurídica do contrato de trabalho no ordenamento jurídico vigente, há muito é compreendida sob vieses ideológicos capitalistas, os quais, a partir dos paradigmas da liberdade e igualdade, mascaram, em uma ficção jurídica, uma relação que é ipso facto desigual, em virtude do posicionamento do trabalhador e empregador (Pires, 2011). No contexto do nômade digital, esse cenário torna-se ainda mais sutil e persuasivo porque o indivíduo, aparentemente, faz escolhas com vistas à sua autorrealização pessoal, que envolvem residir ou laborar para outros países e são marcadas pela ausência de relação de trabalho formalmente pactuada.
Diante disso, esse breve ensaio pretende apresentar as principais características do movimento nomadismo digital em uma abordagem desde a Filosofia da Tecnologia, identificando especialmente as origens do movimento entrelaçadas entre as perspectivas da ecologia e da porosidade laborais. Espera-se, a partir da definição conceitual do que se trata nomadismo digital e nômade digital, apresentar uma perspectiva de compreensão para a tutela jurídica no Brasil no âmbito da Justiça do Trabalho, para então afirmar que a consideramos competente para conhecer e julgar possíveis relações de trabalho de indivíduos nesta condição. |
Faced with the paradigm of the deterritorialization of human relationships (Lévy, 2017) and its already established impacts on labor relations—such as the process of precarization of work through apps, known as Uberization—there is a growing number of job opportunities that allow individuals to perform tasks across different countries. These jobs are available both for experts and for lower-paid, repetitive tasks: from Information Technology (IT) professionals to call-center operators, many have established residence in Brazil while working for companies abroad, or Brazilians have moved to other countries while working for Brazilian companies. This phenomenon is referred to as digital nomadism, and individuals who choose this lifestyle are known as digital nomads. According to Puente (2022), it is estimated that there are already more than 35 million digital nomads worldwide, with projections reaching 1 billion by 2035.
In January 2022, Brazil introduced preliminary regulations to accommodate digital nomads, providing a specific visa to control the stay of foreign workers for periods of one to two years (Resolution CNIG MJSP No. 45/2021). Digital nomadism challenges the regulatory barriers of labor law and tests the legal understanding of its nature, as it represents an epochal transformation of the boundaries of work, particularly marked by its de-physicalization and the multiplication of traditional notions of labor execution.
This new phenomenon of labor relations, originating in the 1990s with manifestos that celebrate playfulness and the pursuit of less work and more compensation, strains the existing understanding between work and freedom. This understanding has already been questioned through legal cases involving individuals working as app drivers since 2016, a debate that continues to this day regarding whether these relationships fall under the jurisdiction of labor law (Complaint 59.795/MG, DJe May 20, 2023).
This is because the legal nature of employment contracts in the current legal system has long been understood through capitalist ideological frameworks, which, based on the paradigms of freedom and equality, mask, in a legal fiction, a relationship that is inherently unequal due to the positions of workers and employers (Pires, 2011). In the context of digital nomads, this scenario becomes even subtler and more persuasive, as individuals seemingly make choices aimed at personal self-realization—such as living or working in other countries—while being marked by the absence of a formally established employment relationship.
In light of this, this brief essay aims to present the main characteristics of the digital nomadism movement from the perspective of the Philosophy of Technology, identifying particularly the origins of the movement through the intertwined perspectives of labor ecology and porosity. The goal is to provide a conceptual definition of digital nomadism and digital nomads, offering a perspective for legal protection in Brazil within the scope of the Labor Courts, and to assert that we consider them competent to recognize and adjudicate possible employment relationships for individuals in this condition.
Direito e economia: neocolonialismo, dívida ambiental, tecnologia, trabalho e gênero no sistema econômico global, 2020
O propósito desse texto é analisar as condicionantes hermenêuticas que vem sendo trazidas por jur... more O propósito desse texto é analisar as condicionantes hermenêuticas que vem sendo trazidas por juristas e julgadores no que tange ao vínculo estabelecido entre empresas que ofertam serviços por aplicativos e pessoas que atuam diretamente na oferta dos mesmos, e em que medida o conceito de relação jurídica trabalhista vem sendo amesquinhado em elementos constitutivos que foram arquitetados há mais de século e que clamam por reelaboração interpretativa à luz das novas formas de vida criadas pela sociedade cyber. | The purpose of this text is to analyze the hermeneutical factors being presented by jurists and judges regarding the relationship established between companies that offer services through apps and the individuals who directly provide such services. It seeks to examine to what extent the concept of an employment relationship is being diminished in its constitutive elements, which were designed over a century ago and now call for reinterpretation in light of the new forms of life created by cyber society.
Olhar distanciado sobre o combate à corrupção: Lava Jato entre direito e política, 2020
Em 1972, o antropólogo e cientista político americano James Scott já apontava para uma premente e... more Em 1972, o antropólogo e cientista político americano James Scott já apontava para uma premente e perniciosa limitação do conceito de corrupção a ações ilegais e de interesse privado apenas na esfera pública. Já naquela época o autor asseverava: vieses são introduzidos por essa definição simplória que é focada em um escopo jurídico e desconsidera a análise do fenômeno corrupção como um processo político significativo (SCOTT, 1972, p. 318-321). Apesar de autores como Nathaniel Leff (1964) e Paul Heywood (1997) também refletirem criticamente sobre um conceito de corrupção que considera elementos de fora das instituições públicas, prevaleceram esses contornos definidos por autores como Joseph Nye (1967), Arnold Heidenheimer (1970) e outros da Universidade de Harvard que conformavam um grupo de pesquisa sólido no tema desde o final da década de 1960. Scott, que comparava o processo de corrupção entre nações em desenvolvimento no fim da década de 1960, propõe como diretrizes basilares de análise do tema corrupção saber os atores que beneficiam dela, a presença ou ausência de um cenário eleitoral competitivo e os mecanismos de coalizão da elite política local para permanecer no poder (SCOTT, 1972, p. 329-330). Além de perguntar quem ganha o que, quando e como?, o autor assevera a necessidade de analisar a corrupção enquanto um processo que traz resultados políticos (SCOTT, 1972, p. 340). As constatações de Scott nos levam ao tema central desse capítulo e, consequentemente, a uma pergunta inicial: o que levou a Operação Lava Jato para o foco midiático nacional?
SUMÁRIO:
1 Combate à corrupção e o escrutínio entre esferas pública e privada: dois pesos, duas medidas 2 A personificação da Operação Lava Jato 3 A tese do professor e a decisão do juiz: Mãos Limpas à brasileira 4 Olhar distanciado sobre a Lava Jato: verdade factual contra a validade jurídica 5 Desdobramentos atuais da Lava Jato: entre um ex-juiz e um ex-ministro
Olhar distanciado sobre o combate à corrupção: Lava Jato entre direito e política, 2020
Ao alvorecer do terceiro milênio, uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos toma as ... more Ao alvorecer do terceiro milênio, uma série de ataques suicidas contra os Estados Unidos toma as televisões do mundo, no fatídico dia conhecido como 11 de setembro de 2001. O ato terrorista, além de mudar a percepção sobre segurança pública de toda uma geração, ressoou na ciência jurídica enquanto embrião para modelos punitivistas. O terreno fértil e de clamor popular foi a faísca para o fortalecimento da teoria conhecida como direito penal do inimigo. O conceito, proposto por Günther Jakobs, é de absorção fácil e dual: numa face, há os crimes de processamento comum, aqueles cometidos pelos “cidadãos” titulares de direitos fundamentais. Outro lado, existem indivíduos que precisam ter direitos suprimidos em face de uma segurança preventiva, pois representam uma ameaça ao sistema, os chamados “inimigos”. A esses, dá-se a interceptação telefônica não respaldada em decisão judicial, a exibição pública, a divulgação de áudios obtidos ilicitamente, os grampos em escritórios de advocacia e o escrutínio da mídia. O modus operandi não é incomum, na medida em que a elite judicial brasileira continua bebendo de uma teoria oitentista de punição preventiva. Porém, aqui não se visa aos terroristas, mas ao combate do chamado mal maior, a corrupção sistêmica. Dessa forma, o capítulo presente traça um panorama amplo quanto ao uso da teoria do direito penal do inimigo no processamento de crimes econômicos e de colarinho branco, particularmente no âmbito da Operação Lava-Jato.
Sumário: 1 Aspectos gerais da teoria do direito penal do inimigo 2 A centralidade do réu no discurso da Operação Lava Jato e a construção da figura do inimigo 3 Direito penal do inimigo e suas aproximações com o estado de exceção
Os direitos humanos como projeto de sociedade: caracterização e desafios, 2018
Esse trabalho objetiva analisar a mudança de configuração dos movimentos ambientais e a alteração... more Esse trabalho objetiva analisar a mudança de configuração dos movimentos ambientais e a alteração ou ampliação da dinâmica de conformação dos atores, ideais e formas de atuação voltadas a enxergar o meio ambiente enquanto algo intrínseco ao ser humano. Primeiramente, faz-se uma contextualização sócio-histórica acerca das sensibilidades e das percepções em torno da temática ambiental, ao passo em se parte para sua interligação com movimentos sócio-políticos, e mostra-se como esses absorveram a luta em defesa do meio ambiente ao longo das décadas e se tornaram o embrião dos movimentos ambientais propriamente ditos. Por conseguinte, apresenta-se um estudo de como se dá a relação desses movimentos frente à construção do arcabouço normativo no que se refere à temática ambiental no Brasil; sendo analisado, por derradeiro, como a sociedade civil se aciona e aciona seus sujeitos a fim de pugnar por um reconhecimento de si mesma e do próprio direito ao meio ambiente como um direito humano.
Os direitos humanos como projeto de sociedade: caracterização e desafios, 2018
O presente trabalho tem por objetivo destacar a importância da universidade pública brasileira pa... more O presente trabalho tem por objetivo destacar a importância da universidade pública brasileira para a realização de projetos socialmente relevantes com o escopo de efetivação dos Direitos Humanos e fundamentais de crianças, adolescentes e jovens. Busca-se demonstrar o locus estratégico das instituições de ensino superior no incessante percurso de formação e transformação da personalidade e da carreira de adolescentes e jovens que encontram na universidade um espaço de interação contínua, relações de afetos e desafetos, identificação vocacional e possibilidades atuais, ainda não anteriormente concebidas, de realização profissional. A lente que norteará o artigo em tela condiz com o olhar de alteridade e reciprocidade quanto à efetivação de Direitos Humanos em sociedade. É dizer que, cada vez que a universidade pública realiza ações que busquem visibilizar ou garantir Direitos Humanos, e enfrentar suas violações, os agentes desses projetos também são impactados, conduzidos a assumir novas posturas e serem responsáveis por um constructo social em que a sustentabilidade das relações humanas seja prioridade frente ao cenário capitalista hegemônico do consumo e da precarização dos laços sociais. As reflexões levadas a cabo são fruto dos 11 anos de trajetória do Programa de Acesso à Justiça e Solução de Conflitos da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais – RECAJ UFMG. Parte-se do desígnio de que o compartilhamento de experiências, projetos e ações já realizadas e em andamento possam gerar novas ideias aos interlocutores, propiciando um diálogo necessário entre as instituições a fim de se gerar dados que confirmem o quanto se tem feito e o quanto há por fazer em conjunturas de desigualdades sociais, exclusão, pobreza e violações de direitos.
Realidades socioambientais contra-hegêmonicas: emancipação social e sustentabilidade, 2017
Este estudo, tem como objetivo a análise de realidades contra-hegemônicas de emancipação social e... more Este estudo, tem como objetivo a análise de realidades contra-hegemônicas de emancipação social e de sustentabilidade, especificamente os movimentos ecovilas e de permacultura em Minas Gerais. Para a consecução desse objetivo, primeiramente far-se-á uma abordagem sociohistórica e também política de alguns dos movimentos vigentes na sociedade, que ditam formas hegemônicas de se viver e, portanto, de se relacionar com a natureza. Dessa forma, pinça-se alguns acontecimentos históricos relevantes e como eles, em cadeia, trouxeram um ideário de desenvolvimento sustentável e de política fundiária/formas de imposição de um modus vivendi eminentemente predatório. Assim, mostrou-se como existe um processo intenso de violência simbólica e assujeitamento de indivíduos na imposição de como se pensar e falar de meio ambiente; de como produzir e tornar a natureza inteligível; e de como deve se dar a relação do indivíduo com o espaço em que vive. Contudo, surgem movimentos que se contrapõem a esse ideário dominante e se apresentam como saídas que oxigenam a movimentação por uma sustentabilidade com desenvolvimento. Nessa esteira, como objetos desse estudo, têm-se a permacultura e as ecovilas, aqui entendidas como realidades socioambientais contra-hegemônicas. As ecovilas são tidas como comunidades em que seus membros objetivam uma vivência diferente da proporcionada pelo status quo, principalmente no que concerne a relação homem-natureza, utilizando-se de técnicas que permitam a preservação e a sustentabilidade de seu meio. Já a permacultura trata-se de um conjunto de técnicas interdisciplinares, baseadas principalmente em modelos de design sustentáveis, que permitem a edificação de projetos que almejem o avanço ecológico. Como objeto empírico, entrou em tela a análise do Instituto Ecovida São Miguel, a fim de se tecer uma análise concreta de como esses movimentos se constroem na realidade e, efetivamente, enfrentam seus desafios de manutenção. Como metodologia, adotou-se a vertente jurídico-sociológica e análise qualitativa dos dados, a partir de sua tonalização com o arcabouço teórico e com os objetivos gerais da obra.
Da insustentabilidade do desenvolvimento sustentável à sustentabilidade com desenvolvimento, 2017
O estudo em questão tem como objetivo a análise do papel da sociedade civil frente aos conflitos ... more O estudo em questão tem como objetivo a análise do papel da sociedade civil frente aos conflitos ambientais, em um cenário de regulamentação ambiental. Nesse sentido, entende-se que pensar a sociedade civil frente aos conflitos ambientais requer um esforço desafiador de delimitação epistemológica e metodológica. Primeiramente, partimos do desejo de esboçar o que caracteriza os objetos de pesquisa: sociedade civil e conflitos ambientais. Para tanto, faremos uma retomada à noção de sociedade civil, a partir da perspectiva dos atores sociopolíticos que compõem o cerne do conceito, a fim de demarcar as bases do trabalho, visto que essa expressão é usada indiscriminadamente em distintos meios – midiático, científico e senso comum – e às vezes é distorcida. A partir disso, surgem questões que necessariamente devemos refletir, tais como, os anseios e percepções dos sujeitos envolvidos no processo de interação entre sociedade civil e regulamentação ambiental – tanto em ordem individual como coletiva. Logo, faremos uma recapitulação dos principais ideais presentes nos movimentos ecológicos desde o final da década de 70, ou seja, a partir de um contexto de regulamentação ambiental. Logo, faremos uma análise da interação daquilo que entendemos por sociedade civil diante de conflitos ambientais, em particular os decorrentes do cenário de expansão da atividade minerária no Brasil, com seus respectivos envolvimentos locais e regionais. Dessa forma, suscita-se como a sociedade civil tem percebido esse fenômeno multiescalar e o tem abordado de diferentes formas – seja enxergando-o de forma complexa ou ignorando sua multiplicidade dimensional – tanto em momentos decisórios para a temática, como os de licenciamento, governança, mediação de conflitos, iniciativas de reformas legislativas, ou mesmo em movimentos de resistência à mineração e de articulação diante desastres.
Da insustentabilidade do desenvolvimento sustentável à sustentabilidade com desenvolvimento, 2017
Nosso ponto de partida para o aprofundamento das contradições em torno da questão ambiental será ... more Nosso ponto de partida para o aprofundamento das contradições em torno da questão ambiental será a retomada sócio-histórica e dialética das relações entre os seres humanos e desses com a natureza. Entretanto, estudos sócio-históricos precedentes apontam que as contradições sociais e ambientais serão intensificadas com o desenvolvimento do capitalismo; o que levará a delimitarmos nossas análises a esse momento histórico e a partir dessa realidade; partindo da compreensão que esse modelo econômico tem por base a exploração do trabalho humano e da natureza. É possível antever, portanto, que as contradições sócio-históricas produzidas a partir do modelo capitalista, tendo por referência central o domínio do capital, serão sociais e ambientais. Isso será analisado sob a perspectiva marxista, que ressalta que a ação do capital se faz sob a perspectiva do domínio ou do uso da natureza e através da força de trabalho da classe trabalhadora.
Uploads
Papers by Lucas Magno de Oliveira Porto
En ese momento, se amplió el ámbito de la investigación de las actividades ilegales, seguido de un cambio drástico en el objeto de la investigación: mientras que antes las investigaciones se dirigían exclusivamente a la implicación de particulares en organizaciones criminales, ahora el foco principal se centraba en la esfera pública, donde una red corruptora implicaba a diversos agentes del Estado. De esta forma, la investigación, que se circunscribía a una organización criminal de traficantes del paro, desveló un nuevo escenario que saldría del ámbito procesal penal para convertirse en el mayor espectáculo mediático de la historia del Estado brasileño, el caso Autolavado, cuyo objetivo era revelar al pueblo la lucha judicial contra las tramas de corrupción enquistadas en las entrañas de la gestión de la res pública en Brasil.
En este ensayo, presentaremos los contornos de la práctica del lawfare que supuestamente estuvieron presentes en esta compleja trama jurídica, cuyo ambiente de combate fue tan intensamente publicitado que se inventó un neologismo para representarlo: "lavajatismo". Esto cambió el curso del derecho y de la práctica procesal en Brasil, dado el vigor comunicacional con que creció el proceso judicial, involucrando a la opinión pública y a diversas autoridades de los tres poderes del Estado, especialmente del poder judicial. El poder judicial desempeñó un papel especial, ya que la peculiaridad de la actuación judicial en el caso Autolavado fue la aplicación de diversos mandatos que componen el derecho penal (y procesal penal) brasileño, que se ha convertido en una poderosa arma en la lucha contra la corrupción (combat law/lawfare), exorbitando el formato tradicional del estado penal, marcado por la austeridad y la moderación judicial. |
The Brazilian police investigation known as "Operation Car Wash" (in Portuguese, "Operação Lava Jato"), which began on March 17, 2014, initially aimed to dismantle a possible criminal organization involving money changers and investors in various crimes against the national financial system and international drug trafficking, with the criminal embezzlement of millions of reais. However, until November 14 of that year, none of the five operations that made up "Operation Car Wash" had garnered significant media attention. On that date, during its sixth phase, the operation gained unprecedented prominence in Brazilian justice as the involvement of Petrobras, a state-controlled oil company, was uncovered in the corruption schemes under investigation.
At that moment, the scope of the investigation into illegal activities expanded, followed by a drastic shift in the focus of the inquiry: whereas previously, the investigations were exclusively targeting the involvement of private individuals in criminal organizations, the main focus now shifted to the public sphere, where a corrupt network implicated various state agents. In this way, the investigation, which had initially been limited to a criminal organization of currency traffickers, revealed a new scenario that would transcend the criminal procedural sphere to become the largest media spectacle in the history of the Brazilian state: the Car Wash case. Its goal was to expose to the public the judicial fight against entrenched corruption within the management of Brazil’s res publica.
In this essay, we will outline the contours of the practice of lawfare that was allegedly present in this complex legal plot, whose combative atmosphere was so intensely publicized that a neologism was coined to represent it: "lavajatismo". This phenomenon changed the course of law and legal practice in Brazil, given the communicational force with which the judicial process grew, involving public opinion and various authorities from the three branches of government, particularly the judiciary. The judiciary played a special role since the peculiarity of judicial action in the Car Wash case was the application of various mandates that form part of Brazilian criminal law (and criminal procedure), which became a powerful weapon in the fight against corruption (combat law/lawfare), exceeding the traditional format of the penal state, which had been characterized by judicial austerity and moderation.
The text presented here raises some considerations about the scientific progress that enabled the emergence of a field within Computer Science, so-called cognitive computing, whose greatest achievement is the advent of Artificial Intelligence, around which research and technological innovations have been radically changing the human ethos in unprecedented proportions. In addition to the approach concerning the scientificity that shapes the conception of the mind as a metabolism of the brain, there is also an intention to highlight the need to reflect on such occurrences within the scope of Philosophical Ethics (Practical Philosophy), as it seems at least dangerous to epistemologically reduce the entirety of the human condition to biological mechanisms. This trend has been updated in discussions about AI and machinic agency, a trend that deprives humans of their spirituality by equating them with machinic entities that seductively simulate the mechanisms of the sapiens' brain.
This study analyzes the nature and legal implications of self-executing smart contracts available on the blockchain. From an examination of their characteristics, it is observed that a smart contract on the blockchain is a legal algorithm that provides unprecedented contractual efficiency through the uninterrupted and irreversible execution of programmed contractual agreements. Although there are already studies attempting to make the content of these contracts more flexible, this modality breaks with the paradigms of contract theory upon which essentially analog legal relationships are based. Thus, using a hypothetical-deductive method, the aim is to outline the contours of what constitutes a smart contract, its scope of application, and to identify some possible limitations.
Books by Lucas Magno de Oliveira Porto
Book chapters by Lucas Magno de Oliveira Porto
O Brasil adotou, em janeiro de 2022, o prelúdio da regulação para acolher os nômades digitais, fornecendo um visto específico a fim de controlar a permanência de trabalhadores de outros Países no tempo de um e dois anos (Resolução CNIG MJSP Nº 45/2021). O nomadismo digital desafia as barreiras da regulação de trabalho e coloca à prova a compreensão que a jurística possui acerca de sua natureza, eis que se trata de uma transformação epocal das fronteiras da execução de trabalho, especialmente calcada na sua desfisicalização e da multiplicação das compreensões tradicionais de execução das atividades laborais.
Esse novo fenômeno de organização das relações laborais, que tem sua origem desde a década de 1990 com manifestos que fazem ode ao lúdico e à busca por menos trabalho e mais remuneração, tensiona a compreensão existente entre trabalho e liberdade, a qual já vem sendo questionada com a judicialização por indivíduos que laboram como motoristas de aplicativos desde 2016 e que até a presente data ainda existem questionamentos sobre a possibilidade de ser uma relação passível de tutela pela Justiça do Trabalho (Reclamação 59.795/MG, DJe 20 maio 2023).
Isso porque a natureza jurídica do contrato de trabalho no ordenamento jurídico vigente, há muito é compreendida sob vieses ideológicos capitalistas, os quais, a partir dos paradigmas da liberdade e igualdade, mascaram, em uma ficção jurídica, uma relação que é ipso facto desigual, em virtude do posicionamento do trabalhador e empregador (Pires, 2011). No contexto do nômade digital, esse cenário torna-se ainda mais sutil e persuasivo porque o indivíduo, aparentemente, faz escolhas com vistas à sua autorrealização pessoal, que envolvem residir ou laborar para outros países e são marcadas pela ausência de relação de trabalho formalmente pactuada.
Diante disso, esse breve ensaio pretende apresentar as principais características do movimento nomadismo digital em uma abordagem desde a Filosofia da Tecnologia, identificando especialmente as origens do movimento entrelaçadas entre as perspectivas da ecologia e da porosidade laborais. Espera-se, a partir da definição conceitual do que se trata nomadismo digital e nômade digital, apresentar uma perspectiva de compreensão para a tutela jurídica no Brasil no âmbito da Justiça do Trabalho, para então afirmar que a consideramos competente para conhecer e julgar possíveis relações de trabalho de indivíduos nesta condição. |
Faced with the paradigm of the deterritorialization of human relationships (Lévy, 2017) and its already established impacts on labor relations—such as the process of precarization of work through apps, known as Uberization—there is a growing number of job opportunities that allow individuals to perform tasks across different countries. These jobs are available both for experts and for lower-paid, repetitive tasks: from Information Technology (IT) professionals to call-center operators, many have established residence in Brazil while working for companies abroad, or Brazilians have moved to other countries while working for Brazilian companies. This phenomenon is referred to as digital nomadism, and individuals who choose this lifestyle are known as digital nomads. According to Puente (2022), it is estimated that there are already more than 35 million digital nomads worldwide, with projections reaching 1 billion by 2035.
In January 2022, Brazil introduced preliminary regulations to accommodate digital nomads, providing a specific visa to control the stay of foreign workers for periods of one to two years (Resolution CNIG MJSP No. 45/2021). Digital nomadism challenges the regulatory barriers of labor law and tests the legal understanding of its nature, as it represents an epochal transformation of the boundaries of work, particularly marked by its de-physicalization and the multiplication of traditional notions of labor execution.
This new phenomenon of labor relations, originating in the 1990s with manifestos that celebrate playfulness and the pursuit of less work and more compensation, strains the existing understanding between work and freedom. This understanding has already been questioned through legal cases involving individuals working as app drivers since 2016, a debate that continues to this day regarding whether these relationships fall under the jurisdiction of labor law (Complaint 59.795/MG, DJe May 20, 2023).
This is because the legal nature of employment contracts in the current legal system has long been understood through capitalist ideological frameworks, which, based on the paradigms of freedom and equality, mask, in a legal fiction, a relationship that is inherently unequal due to the positions of workers and employers (Pires, 2011). In the context of digital nomads, this scenario becomes even subtler and more persuasive, as individuals seemingly make choices aimed at personal self-realization—such as living or working in other countries—while being marked by the absence of a formally established employment relationship.
In light of this, this brief essay aims to present the main characteristics of the digital nomadism movement from the perspective of the Philosophy of Technology, identifying particularly the origins of the movement through the intertwined perspectives of labor ecology and porosity. The goal is to provide a conceptual definition of digital nomadism and digital nomads, offering a perspective for legal protection in Brazil within the scope of the Labor Courts, and to assert that we consider them competent to recognize and adjudicate possible employment relationships for individuals in this condition.
SUMÁRIO:
1 Combate à corrupção e o escrutínio entre esferas pública e privada: dois pesos, duas medidas 2 A personificação da Operação Lava Jato 3 A tese do professor e a decisão do juiz: Mãos Limpas à brasileira 4 Olhar distanciado sobre a Lava Jato: verdade factual contra a validade jurídica 5 Desdobramentos atuais da Lava Jato: entre um ex-juiz e um ex-ministro
Sumário: 1 Aspectos gerais da teoria do direito penal do inimigo 2 A centralidade do réu no discurso da Operação Lava Jato e a construção da figura do inimigo 3 Direito penal do inimigo e suas aproximações com o estado de exceção
En ese momento, se amplió el ámbito de la investigación de las actividades ilegales, seguido de un cambio drástico en el objeto de la investigación: mientras que antes las investigaciones se dirigían exclusivamente a la implicación de particulares en organizaciones criminales, ahora el foco principal se centraba en la esfera pública, donde una red corruptora implicaba a diversos agentes del Estado. De esta forma, la investigación, que se circunscribía a una organización criminal de traficantes del paro, desveló un nuevo escenario que saldría del ámbito procesal penal para convertirse en el mayor espectáculo mediático de la historia del Estado brasileño, el caso Autolavado, cuyo objetivo era revelar al pueblo la lucha judicial contra las tramas de corrupción enquistadas en las entrañas de la gestión de la res pública en Brasil.
En este ensayo, presentaremos los contornos de la práctica del lawfare que supuestamente estuvieron presentes en esta compleja trama jurídica, cuyo ambiente de combate fue tan intensamente publicitado que se inventó un neologismo para representarlo: "lavajatismo". Esto cambió el curso del derecho y de la práctica procesal en Brasil, dado el vigor comunicacional con que creció el proceso judicial, involucrando a la opinión pública y a diversas autoridades de los tres poderes del Estado, especialmente del poder judicial. El poder judicial desempeñó un papel especial, ya que la peculiaridad de la actuación judicial en el caso Autolavado fue la aplicación de diversos mandatos que componen el derecho penal (y procesal penal) brasileño, que se ha convertido en una poderosa arma en la lucha contra la corrupción (combat law/lawfare), exorbitando el formato tradicional del estado penal, marcado por la austeridad y la moderación judicial. |
The Brazilian police investigation known as "Operation Car Wash" (in Portuguese, "Operação Lava Jato"), which began on March 17, 2014, initially aimed to dismantle a possible criminal organization involving money changers and investors in various crimes against the national financial system and international drug trafficking, with the criminal embezzlement of millions of reais. However, until November 14 of that year, none of the five operations that made up "Operation Car Wash" had garnered significant media attention. On that date, during its sixth phase, the operation gained unprecedented prominence in Brazilian justice as the involvement of Petrobras, a state-controlled oil company, was uncovered in the corruption schemes under investigation.
At that moment, the scope of the investigation into illegal activities expanded, followed by a drastic shift in the focus of the inquiry: whereas previously, the investigations were exclusively targeting the involvement of private individuals in criminal organizations, the main focus now shifted to the public sphere, where a corrupt network implicated various state agents. In this way, the investigation, which had initially been limited to a criminal organization of currency traffickers, revealed a new scenario that would transcend the criminal procedural sphere to become the largest media spectacle in the history of the Brazilian state: the Car Wash case. Its goal was to expose to the public the judicial fight against entrenched corruption within the management of Brazil’s res publica.
In this essay, we will outline the contours of the practice of lawfare that was allegedly present in this complex legal plot, whose combative atmosphere was so intensely publicized that a neologism was coined to represent it: "lavajatismo". This phenomenon changed the course of law and legal practice in Brazil, given the communicational force with which the judicial process grew, involving public opinion and various authorities from the three branches of government, particularly the judiciary. The judiciary played a special role since the peculiarity of judicial action in the Car Wash case was the application of various mandates that form part of Brazilian criminal law (and criminal procedure), which became a powerful weapon in the fight against corruption (combat law/lawfare), exceeding the traditional format of the penal state, which had been characterized by judicial austerity and moderation.
The text presented here raises some considerations about the scientific progress that enabled the emergence of a field within Computer Science, so-called cognitive computing, whose greatest achievement is the advent of Artificial Intelligence, around which research and technological innovations have been radically changing the human ethos in unprecedented proportions. In addition to the approach concerning the scientificity that shapes the conception of the mind as a metabolism of the brain, there is also an intention to highlight the need to reflect on such occurrences within the scope of Philosophical Ethics (Practical Philosophy), as it seems at least dangerous to epistemologically reduce the entirety of the human condition to biological mechanisms. This trend has been updated in discussions about AI and machinic agency, a trend that deprives humans of their spirituality by equating them with machinic entities that seductively simulate the mechanisms of the sapiens' brain.
This study analyzes the nature and legal implications of self-executing smart contracts available on the blockchain. From an examination of their characteristics, it is observed that a smart contract on the blockchain is a legal algorithm that provides unprecedented contractual efficiency through the uninterrupted and irreversible execution of programmed contractual agreements. Although there are already studies attempting to make the content of these contracts more flexible, this modality breaks with the paradigms of contract theory upon which essentially analog legal relationships are based. Thus, using a hypothetical-deductive method, the aim is to outline the contours of what constitutes a smart contract, its scope of application, and to identify some possible limitations.
O Brasil adotou, em janeiro de 2022, o prelúdio da regulação para acolher os nômades digitais, fornecendo um visto específico a fim de controlar a permanência de trabalhadores de outros Países no tempo de um e dois anos (Resolução CNIG MJSP Nº 45/2021). O nomadismo digital desafia as barreiras da regulação de trabalho e coloca à prova a compreensão que a jurística possui acerca de sua natureza, eis que se trata de uma transformação epocal das fronteiras da execução de trabalho, especialmente calcada na sua desfisicalização e da multiplicação das compreensões tradicionais de execução das atividades laborais.
Esse novo fenômeno de organização das relações laborais, que tem sua origem desde a década de 1990 com manifestos que fazem ode ao lúdico e à busca por menos trabalho e mais remuneração, tensiona a compreensão existente entre trabalho e liberdade, a qual já vem sendo questionada com a judicialização por indivíduos que laboram como motoristas de aplicativos desde 2016 e que até a presente data ainda existem questionamentos sobre a possibilidade de ser uma relação passível de tutela pela Justiça do Trabalho (Reclamação 59.795/MG, DJe 20 maio 2023).
Isso porque a natureza jurídica do contrato de trabalho no ordenamento jurídico vigente, há muito é compreendida sob vieses ideológicos capitalistas, os quais, a partir dos paradigmas da liberdade e igualdade, mascaram, em uma ficção jurídica, uma relação que é ipso facto desigual, em virtude do posicionamento do trabalhador e empregador (Pires, 2011). No contexto do nômade digital, esse cenário torna-se ainda mais sutil e persuasivo porque o indivíduo, aparentemente, faz escolhas com vistas à sua autorrealização pessoal, que envolvem residir ou laborar para outros países e são marcadas pela ausência de relação de trabalho formalmente pactuada.
Diante disso, esse breve ensaio pretende apresentar as principais características do movimento nomadismo digital em uma abordagem desde a Filosofia da Tecnologia, identificando especialmente as origens do movimento entrelaçadas entre as perspectivas da ecologia e da porosidade laborais. Espera-se, a partir da definição conceitual do que se trata nomadismo digital e nômade digital, apresentar uma perspectiva de compreensão para a tutela jurídica no Brasil no âmbito da Justiça do Trabalho, para então afirmar que a consideramos competente para conhecer e julgar possíveis relações de trabalho de indivíduos nesta condição. |
Faced with the paradigm of the deterritorialization of human relationships (Lévy, 2017) and its already established impacts on labor relations—such as the process of precarization of work through apps, known as Uberization—there is a growing number of job opportunities that allow individuals to perform tasks across different countries. These jobs are available both for experts and for lower-paid, repetitive tasks: from Information Technology (IT) professionals to call-center operators, many have established residence in Brazil while working for companies abroad, or Brazilians have moved to other countries while working for Brazilian companies. This phenomenon is referred to as digital nomadism, and individuals who choose this lifestyle are known as digital nomads. According to Puente (2022), it is estimated that there are already more than 35 million digital nomads worldwide, with projections reaching 1 billion by 2035.
In January 2022, Brazil introduced preliminary regulations to accommodate digital nomads, providing a specific visa to control the stay of foreign workers for periods of one to two years (Resolution CNIG MJSP No. 45/2021). Digital nomadism challenges the regulatory barriers of labor law and tests the legal understanding of its nature, as it represents an epochal transformation of the boundaries of work, particularly marked by its de-physicalization and the multiplication of traditional notions of labor execution.
This new phenomenon of labor relations, originating in the 1990s with manifestos that celebrate playfulness and the pursuit of less work and more compensation, strains the existing understanding between work and freedom. This understanding has already been questioned through legal cases involving individuals working as app drivers since 2016, a debate that continues to this day regarding whether these relationships fall under the jurisdiction of labor law (Complaint 59.795/MG, DJe May 20, 2023).
This is because the legal nature of employment contracts in the current legal system has long been understood through capitalist ideological frameworks, which, based on the paradigms of freedom and equality, mask, in a legal fiction, a relationship that is inherently unequal due to the positions of workers and employers (Pires, 2011). In the context of digital nomads, this scenario becomes even subtler and more persuasive, as individuals seemingly make choices aimed at personal self-realization—such as living or working in other countries—while being marked by the absence of a formally established employment relationship.
In light of this, this brief essay aims to present the main characteristics of the digital nomadism movement from the perspective of the Philosophy of Technology, identifying particularly the origins of the movement through the intertwined perspectives of labor ecology and porosity. The goal is to provide a conceptual definition of digital nomadism and digital nomads, offering a perspective for legal protection in Brazil within the scope of the Labor Courts, and to assert that we consider them competent to recognize and adjudicate possible employment relationships for individuals in this condition.
SUMÁRIO:
1 Combate à corrupção e o escrutínio entre esferas pública e privada: dois pesos, duas medidas 2 A personificação da Operação Lava Jato 3 A tese do professor e a decisão do juiz: Mãos Limpas à brasileira 4 Olhar distanciado sobre a Lava Jato: verdade factual contra a validade jurídica 5 Desdobramentos atuais da Lava Jato: entre um ex-juiz e um ex-ministro
Sumário: 1 Aspectos gerais da teoria do direito penal do inimigo 2 A centralidade do réu no discurso da Operação Lava Jato e a construção da figura do inimigo 3 Direito penal do inimigo e suas aproximações com o estado de exceção