Aqueles que me conhecem
há mais tempo sabem que não sou de fazer grandes manifestações de regozijo,
seja em que matéria for. Inclusive, já aconteceu, um par de vezes, terem-me
questionado sobre o modo, quase frio e distante, como reajo quando os meus
trabalhos editados chegam-me às mãos. Nesses momentos, a minha racionalidade
sobrepõem-se ao lado emotivo/emocional e, por essa razão, aceito sem
contestação esse apontar de dedo.
Contudo, as minhas
reacções esfíngicas não significam total indiferença. Acho que esse modo de
reagir está intimamente ligado ao elevado grau de exigência que coloco nos
projectos em que me envolvo e nunca fico completamente satisfeito com os
resultados obtidos porque tudo pode ser melhor do que se apresenta.
Seja como for, e não
querendo perder mais tempo com auto-análises, cito o provérbio antigo: “Quem vê
caras não vê corações”, para explicar que, apesar do aspecto circunspecto e
sisudo, há sempre uma centelha de aprazamento na hora de ver mais um projecto chegar
ao fim. É o caso da antologia TOCA A ESCREVER.
Não vou voltar a
explicar as razões que deram origem ao projecto, nem os conflitos interiores
que com ele surgiram e ainda me fizeram reflectir na possibilidade de não
avançar, quero antes deter-me no percurso e dissertar um pouco sobre o balanço
entre o que me propus realizar e o resultado final.
A ideia inicial,
partindo sempre baseada no trabalho que tenho feito, era criar e possuir mais
uma ferramenta de divulgação de autores e respectivas criações poéticas, que
não se esgota com o aparecimento físico da antologia porque ainda falta fazer o
pré-agendamento, dos poemas, no blogue TOCA A ESCREVER, e partilhar todos eles
nas diversas páginas e grupos das redes sociais, onde costumo divulgar a poesia
lusófona. E este é um dos aspectos inalterados e inalteráveis de todo o
projecto.
Apesar de acreditar que
este trabalho poderia ser bem sucedido, fiz questão de colocar, no regulamento
que redigi para o efeito, uma cláusula que referia a necessidade de atingir o
mínimo de 50 poemas, para que tudo fosse viável. Hoje, chego à conclusão que
essa “defesa” foi quase premonitória, uma vez que foram seleccionados apenas 56
poemas.
Muitos poderão
estranhar a reduzida participação, tendo em conta o elevado número de autores
que conheço e com quem tenho trabalhado frequentemente. No entanto, e sem
querer passar a ideia de premonição, eu estava realmente à espera de números
semelhantes. Passo a explicar as razões.
Levando em consideração
que esta antologia é a primeira em que o meu envolvimento é total e absoluto,
edição incluída, nunca quis tomar proveito das carteiras de e-mails, a que tive
acesso enquanto coordenador de outras antologias, ao serviço de editoras.
Então, limitei-me a fazer a divulgação do projecto apenas nas redes sociais e
desse modo evitar ser acusado de beneficiar-me com mailing alheio. Com esta
postura, e no caso de projectos futuros semelhantes, terei a minha própria
carteira de contactos.
Por outro lado, mesmo
com alguns autores amigos e outros, já divulgados no blogue, aparecerem na
lista de participantes, também não enviei mensagens privadas pedindo para
integrarem o projecto. Todos, sem exceção, aderiram por decisão própria e
espontânea, como melhor lhes aprouve, e apenas porque, num qualquer momento,
cruzaram-se com a divulgação feita.
Durante o período de
recepção tive que decidir entre três critérios de selecção: aceitar tudo;
aceitar apenas textos pelo valor criativo; ou aceitar somente textos isentos de
erros ortográficos e de pontuação.
Como sou defensor que
qualidade é um conceito amplo e abstracto, optei por escolher a terceira via e
dar preferência a textos isentos de erros. Preferi escolher a perfeição à
criatividade. Felizmente consegui reunir os referidos 56 poemas.
Confesso que, no início,
tive algumas dificuldades em lidar e gerir todos os passos que a produção de um
livro exige mas, com o passar do tempo e a cada obstáculo ultrapassado, fui-me
sentido mais confortável e confiante e todo o processo começou a fluir. O
resultado final, independentemente dos aspectos que eu referi ao longo deste
texto, acaba por deixar-me satisfeito e com a certeza que também consigo fazer
bons trabalhos sem a rede de segurança (que tive em projectos idênticos) que as
estruturas das editoras fornecem.
Mas a minha opinião,
por mais argumentos que surjam e utilize, acaba por fazer de mim juiz em causa
própria e, por isso, vou deixar que sejam os autores, no próximo dia 21 de
Abril, às 15 horas, no Palácio Baldaya, a avaliarem a antologia TOCA A ESCREVER
e a decidirem qual a sentença aplicável a este meu atrevimento.
MANU DIXIT