PROCURA-SE UMA MÃE
Observação: Nos diálogos, as falas das crianças da gangue
estão identificadas como G-1 a G-8. Se você tiver menos crianças, algumas podem
falar duas ou mais vezes. As falas das crianças de rua estão identificadas como
Criança 1 e Criança 2. As crianças de rua e as crianças da gangue podem ser
tanto meninos como meninas.
CENA 1 (Cenário de rua, ou o palco com as cortinas
fechadas.)
Narrador —
Atenção, senhoras e senhores. O que vocês vão assistir agora é uma ficção.
Qualquer semelhança terá sido mera coincidência!
(As crianças de rua
entram por um lado do palco. As crianças da gangue entram pelo lado oposto,
umas fazendo barulho, outras cochichando e depois rindo alto.)
G-1 — Ei,
pessoal, olhem só aqueles meninos de rua.
G-2 — Vamos até
lá mexer com eles!
G-3 — E aí, seus
moleques fedidos, por que estão aqui na nossa rua? Toda a gangue — É isso
mesmo.
Criança 1 — (Com
medo.) Bem, é que... a gente... somos...
G-4 — Olhem só,
pessoal, não sabem nem falar direito. (As crianças da gangue apontam para os
meninos de rua e dão risada.)
G-5 — Sua mãe não
te ensinou a falar, moleque?
G-6 — Acho que
eles nem têm mãe!
G-7 — E aí,
moleque, vocês têm mãe ou não?
G-8 — Ah, deixem
esses moleques prá lá, vamos embora! (As crianças da gangue saem de cena por
onde entraram, rindo, chutando coisas e falando alto.)
Criança 1 — É,
acho que eles têm razão. Nós precisamos de uma mãe. Temos de encontrar uma. Uma
mãe que cuide de nós; que nos ensine as coisas que precisamos aprender; uma mãe
que nos ame de verdade.
Criança 2 — É
mesmo. Mas onde será que vamos encontrar uma assim? E, além do mais, que queira
ser nossa mãe. (Começa a chorar.) Nós somos fedidos, sujos, não falamos
direito, não comemos direito, não andamos direito e nem casa nós temos! Onde
vamos encontrar uma mãe? Onde?
Criança 1 —
Calma! Acredite, nós vamos encontrar. Vamos ver... Onde a gente pode começar a
procurar? Ah! Tive uma idéia. Vamos até o shopping. Dizem que lá eles vendem de
tudo. Pode ser que ali venda mãe também! (As duas crianças saem pelo mesmo lado
por onde entraram.) Narrador — As crianças
correm para o shopping. Andam de um lado para o outro,
olhando em todas as lojas, mas não encontram nada. Quando estão quase desistindo...
um dos meninos vê uma placa grande e bonita. Ao tentar soletrar as letras da
placa... que surpresa para eles! A placa dizia: "Temos todos os tipos de
mães." CENA 2 (Cortinas fechadas; depois cenário de loja.)
(Com as cortinas fechadas, alguém aparece segurando uma
placa com os dizeres: "Lojas — Temos todos os tipos de mães." As duas
crianças se aproximam para ler a placa, quando chega o vendedor.)
Vendedor — Pois
não? Posso ajudar vocês?
Criança 1 — Acho
que sim.
Vendedor — O que
vocês estão procurando?
Criança 2 — Nós
estamos querendo urna mãe.
Criança 1 — E o
cartaz diz que aqui tem todo tipo de mãe.
Criança 2 — É
isso mesmo, a gente quer uma mãe para cuidar de nós! Você tem uma aí?
Vendedor — Uma,
não. Várias. Vocês vieram ao lugar certo. Aqui nós temos todos os tipos de
mães. Vamos entrar e vocês podem escolher à vontade. (As crianças e o vendedor
apenas viram de costas enquanto as cortinas se abrem, e no final do cenário da
loja estão as várias mães, imóveis, como se estivessem numa vitrine. As
crianças olham para as mães com espanto.)
Vendedor — Vocês
podem se aproximar e falar com as mães. Cada uma ganha vida depois que vocês
perguntarem se ela quer ser mãe de vocês. Se vocês não a aceitarem como mãe,
ela volta a ser apenas uma estátua, como antes. Fiquem à vontade, qualquer
coisa é só me chamar. (Afasta-se das crianças.) (As duas crianças, ainda
espantadas, aproximam-se da mãe modelo.)
Criança 1 — (Fala
para a criança 2.) Esta aqui é bonita! (Fala para a Mãe Modelo.) Ei, a senhora
pode ser nossa mãe?
Mãe Modelo — (Ela
começa a se mover lenta-mente, depois caminha até a frente do palco como se
estivesse desfilando numa passarela. Olha para as crianças com ar de superioridade.
Enquanto fala, desfila.) Claro que posso ser sua mãe, crianças! Vocês só terão
de aprender a andar direito e a ter uma postura como a minha, de modelo. Vocês
vão ver como é sensacional participar do mundo da moda e estar nas passarelas
de sucesso de Nova York, Milão, Paris... Ulalá! Vocês vão conhecer os grandes
estilistas e as modelos mais famosas. Vocês terão o guarda-roupa mais
sofisticado do mundo, roupas finíssimas do mais alto estilo, e...
Criança 2 —
(Interrompendo.) É só isso que a senhora pode nos oferecer?
Mãe Modelo —
(Ofendida.) Só isso? O que mais vocês querem de uma mãe modelo? (Ela retorna ao
seu lugar, como se desfilasse, mas os movimentos vão se tornando lentos até
que, quando chega ao seu lugar, fica novamente imóvel.)
Criança 1— E,
parece que vai ser difícil! Esta mãe modelo não serve prá gente, não. É bem
diferente das outras mães que conhecemos. Venha, vamos tentar outra. (As crianças
se aproximam e novamente examinam as mães.)
Criança 2 — A
gente "queremos" tanto uma mãe! Vou perguntar para esta. A senhora
quer ser nossa mãe?
Mãe Intelectual —
(Caminha até a frente do palco e as crianças a seguem. Ela os olha de cima a
baixo, ajeitando os óculos. Fala com tom de voz grave, sempre gesticulando.)
Claro! É óbvio! Mas, em primeiro lugar, vocês farão um curso de português,
aprenderão a falar corretamente, pronunciando todas as sílabas de forma bem
articulada. Também quero que conheçam todos os estilos literários —
classicismo, romantismo — e seus principais autores, e aprendam a respeito dos
grandes filósofos, como Pitágoras e Aristóteles. Vocês serão intelectuais, como
eu! Eu lhes darei a sabedoria de que precisam para se tornarem grandes como eu.
Criança 2 — Mas
isso é tudo que a senhora pode nos dar?
Mãe Intelectual —
(Ofendida.) Se isso é tudo? O que mais vocês esperam de uma mãe? (Retorna ao
seu lugar e volta a ser estátua.)
Criança 1 — Que
pena! Ela parecia ser ideal para ser nossa mãe. Mas ela queria fazer a gente
ser "teletual" que nem ela, e eu nem sei o que é isso!
Criança 2 — É,
que pena! Mas vamos ver esta aqui. O que será que ela pode nos dar? Ei, a
senhora pode ser nossa mãe?
Mãe Rica —
(Começa a se mover com elegância, olha para as crianças com nojo e corre para a
frente do palco. Olhando fixamente para os dois, ela coloca a mão na boca.) Oh!
Que pobreza! (Aperta o nariz.) Que cheiro ruim! (Pega a ponta da roupa de uma
das crianças com as pontas dos dedos.) Que roupas velhas! (Expressão de nojo.)
Ah! Mas, para que eu seja mãe de vocês, vou ter de gastar uma boa parte de minha
fortuna! Assim vocês se tornarão chiques, limpos, lindos e cheirosos como eu.
Mas não se preocupem. Dinheiro não é problema para mim. Ah! Quero lhes mostrar
tudo: tenho muitos carros, muitas casas, propriedades e tenho certeza de que
vocês vão gostar. Meus perfumes são caros, pois são todos importados; vocês vão
aprender a conhecer e apreciar um bom perfume. Em minha casa tenho vários
quadros de pintores famosos; vou lhes ensinar tudo sobre pintura e arte em
geral! Também vou lhes ensinar a fazer as mais rentáveis aplicações financeiras
e...
Criança 1 —
(Interrompendo.) O que mais? O que mais, além dessas coisas, você pode nos dar?
Mãe Rica —
(Ofendida.) Mais? O que mais vocês querem? Eu não daria mais nada a vocês.
Afinal, o que vocês querem? (Ela retorna ao seu lugar lentamente, com o nariz
empinado, e volta a ser estátua.)
Criança 1 — Está
muito difícil! Essa Mãe Rica podia nos dar tanta coisa, mas depois ia ficar
cobrando. Mãe que é mãe oferece coisa melhor sem pedir nada em troca.
Criança 2 —
(Dirigindo-se à Mãe Esportista.) E a senhora, pode ser nossa mãe?
Mãe Esportista —
(Começa a se mover devagar, sorri para a criança, toma as mãos dela e move para
cima e para baixo com ritmo, e vem para a frente do palco pulando e movendo as
mãos para cima e para baixo como se estivesse fazendo ginástica.) Venham prá cá
e façam como eu. Vocês estão fora de forma. (A mãe põe as mãos na cintura e faz
movimentos cadenciados de abaixar-se e levantar. As crianças a imitam.)
Criança 1— A
senhora ainda não respondeu: pode ser nossa mãe?
Mãe Esportista —
(Continua fazendo exercícios enquanto fala.) Oh, como sou distraída! Claro!
Vocês estão mesmo precisando ter aulas de ginástica. Quero que aprendam tudo o
que é bom para a saúde. Vocês treinarão duro para ter um corpo de atleta e
comerão somente o necessário. Eu mesma vou elaborar uma dieta bem balanceada.
Não podem nem pensar em comer doces, sorvetes, chocolates e salgadinhos, pois
essas coisas não são saudáveis para um bom atleta. Vou levá-los para conhecer o
Guga e outros grandes esportistas do Brasil e do mundo. Quero que compareçam às
principais competições esportivas comigo, de futebol, vôlei, basquete, tênis,
iatismo, automobilismo e outras, para que escolham o esporte que desejam
praticar. Vocês terão todo o meu apoio para se tornarem atletas famosos, serem
conhecidos em todo o mundo e desfrutarem das riquezas do mundo dos esportes.
Criança 2 — Mas,
fora tudo isso aí que a senhora falou, o que mais a senhora pode nos dar?
Mãe Esportista —
Bem, deixe-me pensar... Mais nada! Vocês terão um corpinho de atleta, serão
famosos como os grandes atletas, e ainda querem mais? (Ela dá uma voltinha,
movimenta as mãos da cabeça aos pés, como para mostrar seu corpo de atleta, e
volta a ser estátua.)
Criança 1— Ih,
essa mãe esportista não daria certo, mesmo! Imagina só, até sermos atletas
teremos emagrecido mais ainda! Além disso, somos muito jovens.
Criança 2 — Bem,
o jeito é continuar procurando. Não podemos desanimar, nós vamos encontrar uma
mãe que queira e sirva para ser nossa mãe.
Criança 1—
(Aproximando-se da Mãe Viajante.) E a senhora, quer ser nossa mãe?
Mãe Viajante —
(Começa a se movei; ajeita o cabelo e as roupas, arruma a máquina fotográfica
que tem pendurada ao pescoço, pega a mala e os folhetos de viagem que estão ao
seu lado e caminha até a frente do palco. Põe a mala no chão e fala rápido e
com entusiasmo.) Claro que quero! Nós vamos viajar juntos e fazer passeios
maravilhosos pelo mundo. Vocês conhecerão Miami e a Disney World, a Europa, a
Austrália e outros lugares do mundo. Também vamos viajar pelo Brasil e conhecer
Fortaleza, Natal e Florianópolis. Cada um terá sua própria máquina fotográfica
e câmera fumadora, entre outros acessórios para usar nas viagens. Vocês vão
amar viver viajando pelo mundo!
Criança 2 — Mas,
é só isso que a senhora pode nos dar?
Mãe Viajante —
(Ofendida.) Ora, já estou fazendo muito, levando vocês comigo nas minhas
viagens! O que mais vocês querem de uma mãe viajante? (Pega a mala lentamente e
retorna ao seu lugar, voltando a ser estátua.) Criança 1— Puxa, está realmente muito difícil. Mas não podemos
desanimar, não é?
Criança 2 — É.
Vamos perguntar para esta mãe toda de branco. A senhora pode ser nossa mãe?
Mãe Médica —
(Começa a se mover e, enquanto caminha para a frente, coloca o estetoscópio.
Enquanto fala, fica tentando colocar o aparelho nas costas deles.) Claro que
sim! E vou cuidar da saúde de vocês para que tenham uma saúde perfeita. Vou
medir a pressão, examinar a garganta, ouvir a respiração e contar os batimentos
do coração. Ora, vejam só que crianças magrinhas! Parece que não comem todas as
vitaminas e proteínas necessárias. Vocês precisam urgentemente de cuidados
médicos! (Enquanto ela tenta colocar o aparelho nas costas da criança 1, a
criança 2 espirra.)
Mãe Médica —
Vejam! Que perigo! Você pode estar com uma broncopneumonia, provocada por vírus
que ficam no ar! Você vai precisar fazer vários exames, tomar alguns remédios
ou até mesmo uma injeção e, se for grave, pode até precisar ser internado.
Terei todos esses cuidados com a saúde de vocês.
Criança 2 —
(Assustada.) E isso é tudo que a senhora pode fazer pela gente?
Mãe Médica —
(Ofendida.) E o que é mais importante do que ter uma saúde perfeita? (Tira o
estetoscópio, coloca-o no pescoço, retorna ao seu lugar e volta a ser estátua.)
Criança 2 — Não
pensei que seria tão difícil achar a mãe ideal. Será que são tão poucas assim?
Ou pior, será que não existe a mãe ideal? (Pausa. Música suave.)
Vendedor —
(Aproxima-se das crianças.) E então, crianças, gostaram de alguma mãe? Todas
elas são lindas, não é verdade?
Criança 2 — É, todas são muito bonitas, mas... o senhor não teria
mais uma outra, diferente destas?
Vendedor — Sim,
meninos, acho que ainda tenho uma. Aguardem só um minutinho que já vou
buscá-la.
(Sai e volta com a
Mãe Cristã.) Vejam, eu tenho mais esta aqui. Ela não é tão bonita, por isso não
a coloquei na vitrine junto das outras. Quem sabe é ela que serve para ser a
mãe de vocês!
Criança 1— (Sem
prestar atenção à mãe.) Ah, moço! A gente cansou de procurar. Não existe uma
mãe para nós!
Vendedor — Vamos lá, meninos, não desanimem. Perguntem! Pode ser
que vocês tenham uma grande surpresa, mas precisam fazer a pergunta! (Os
meninos olham para a mãe, a rodeiam, cochicham entre si e afinal perguntam.)
Crianças 1 e 2 — A senhora quer ser nossa mãe?
Mãe Cristã —
(Olha para as crianças com carinho, sorri, acaricia os rostos deles, ajoelha-se
e abraça as crianças.) Sim, eu quero ser a mãe de vocês. É o que eu mais quero!
Quero lhes falar todos os dias (tira a Bíblia do bolso) sobre este livro
maravilhoso, a Bíblia, que nos conta sobre o amor de Deus. Quero ser a melhor
companheira e amiga que vocês terão; vou cuidar das tarefas da casa, mas
ensinarei vocês a me ajudarem nessas tarefas; ajudarei quando precisarem fazer
uma boa escolha; estarei pronta para repreender quando estiverem errados e
procurarei ser sempre verdadeira, justa e sincera para que confiem em mim e
ouçam os meus conselhos. Mas, para fazer tudo isso, pedirei ao Senhor que me
ajude a agir corretamente de acordo com o modelo de Sua Palavra, para que eu
possa ser modelo para vocês; pedirei ao Senhor sabedoria, para educar vocês na sabedoria
e conhecimento da vontade do Senhor; pedirei ao Senhor que me faça uma mãe rica
de amor, carinho e compreensão; pedirei ao Senhor que me dê disposição para
brincar, correr, passear e estar atenta ao bem-estar físico de vocês; pedirei
ao Senhor que lhes dê saúde, e me ajude a cui-dar de vocês, se ficarem doentes;
pedirei ao Senhor que seja nosso companheiro e protetor na viagem desta vida e
quero viajar com vocês pelas páginas da Bíblia.
Criança 1 — A
senhora faria tudo isso?
Mãe Cristã — Sei que estou longe de ser a mãe perfeita, por isso
vou fazer mais uma coisa. Criança 2
— Mais uma coisa? O quê?
Mãe Cristã — Vou
orar sempre. Primeiro por mim, para que Deus me ajude a agir da melhor maneira
como "Mãe Cristã". E, segundo, para que meus filhos sejam abençoados,
sejam crentes fiéis ao Senhor, sejam bênção para os outros e também sejam muito
felizes. (A mãe abraça e beija as crianças.)
Encerrar o programa com a Mãe Cristã cantando "Quero
Ser um Vaso de Bênção", ou um grupo de crianças cantando "Mãe, Poema
de Deus", de CSPC vol.1-rev., n° 78.
Texto: Ademir Coutinho Ramos, que é nosso leitor de São
Paulo-SP Adaptação: Ana Paula S. Nunes e Eneida Rangel Celeti
(2 crianças de rua)
Roupas simples, malcuidadas e sujas
(3 a 8 crianças para
a gangue) Roupas comuns (ou todos podem usar, por exemplo, camisetas
pretas)
(Vendedor (ou
vendedora) Bem vestido,com roupa que pareça uniforme
(Narrador Visível) com normal ou
oculto
(Mãe Modelo) Vestido
de festa, de tecido leve e cor clara
(Mãe Intelectual)
Roupa clássica (calça comprida e blazer, ou tailleur); sapato de salto alto;
óculos
(Mãe Rica) Roupa
chique (se puder, casaco de pele); muitas bijuterias; bolsa
(Mãe Esportista) Agasalho
de ginástica; tênis; viseira
(Mãe Viajante) Roupa
informal (bermudão e blusa colorida); máquina fotográfica; inala; folhetos de
viagem
(Mãe Médica) Roupa
branca; estetoscópio no pescoço
(Mãe Cristã) Roupa
simples; cabelo preso; Bíblia pequena num bolso.