Pelos vistos, o Bloco de Esquerda, pela voz do seu deputado Francisco Louçã, continua a contestar o negócio entre a Caixa Geral de Depósitos e o empresário Manuel Fino, não aceitando as explicações dadas pela Caixa, indo ao ponto de qualificar o comunicado da Caixa como "patusco", por defender o Governo e "escandaloso" porque mente ao país. A contestação do negócio por parte do Bloco é um direito que inquestionavelmente lhe assiste, mas manda a verdade que se diga que a sua posição neste caso merece também a qualificação de "patusca". Senão vejamos:
É evidente, por um lado, que o comunicado da Caixa não pode ter tido o objectivo de defender o Governo, pela razão simples de que o acto em questão não é da responsabilidade do Governo, mas da própria Caixa. Bem andou, pois, o ministro das Finanças quando declarou que "era o que faltava que eu tivesse de responder pelos actos de gestão administrativa da Caixa Geral de Depósitos", posição que, por sinal, coincide com a tese já aqui defendida e que, aliás, é a que decorre da legislação comercial em vigor.
Por outro lado, não há qualquer fundamento para se poder afirmar que a Caixa mentiu ao país, pois esta limitou-se a tornar públicos os termos e os fundamentos do negócio. A discordância em relação ao negócio é legítima, como se disse. No entanto, afirmar que se mentiu implica dar um passo e emitir um juízo de valor sobre a seriedade das pessoas que o simples bom senso deveria evitar. Todavia, bom senso, parece ser coisa que não abunda lá para os lados do Bloco e de Louçã, como se deduz do que fica dito.
Louçã é considerado, julgo que a justo título, um académico prestigiado, mas afigura-se-me que andará um pouco afastado da realidade do que é o mundo dos negócios. A propósito deste caso e das posições de Louçã recordo que faz parte da sabedoria popular a noção de que muitas vezes vale mais um acordo, ainda que não inteiramente satisfatório, do que uma prolongada litigância nos tribunais. Esta sabedoria popular tem, a meu ver, inteira aplicação neste caso.
Bom senso a menos e demagogia a mais talvez expliquem a posição do Bloco. É o que penso do caso, ainda que esta posição também possa ser considerada "patusca". E por que não, aceito eu. Sou, tal como Louçã, cidadão português, (e há mais tempo) e tenho por isso os mesmos direitos e até, por coincidência, também me chamo Francisco!
Aditamento: