domingo, fevereiro 25, 2018

Crença

A coisa ainda esteve tremida em Paços e foi preciso esperar até quase ao final para que o mini-estádio da Luz pudesse explodir de alegria. Mas tal só foi possível porque a nossa equipa também revelou uma enorme crença até final, e foi recompensada com a vitória frente a uma equipa que tudo fez para conseguir um resultado positivo contra nós.


Nesta fase da época já não há surpresas na constituição da equipa. Quando há alterações é devido a ausências forçadas, e como do último jogo para este não se verificou mais nenhuma, alinhámos com o mesmo onze que tinha vencido confortavelmente o Boavista. Já escrevi noutras ocasiões que há jogos que logo nos minutos iniciais me dão um mau pressentimento, como se fosse possível adivinhar logo que as coisas vão correr mal. E este foi um desses jogos. Porque o Benfica não teve um daqueles arranques fulgurantes, muito pelo contrário. Contra um Paços que se fechava com os onze atrás da bola e que depois conseguia sair rápido para o ataque, o Benfica não estava a conseguir fazer a pressão alta funcionar nem engatar aquelas combinações rápidas no ataque. O lado esquerdo não estava com o dinamismo do costume, até porque o Zivkovic andava a aparecer muitas vezes mais pela direita. E depois havia a atitude dos jogadores do Paços. Desde o apito inicial que se percebeu que estavam dispostos a jogar o futebol mais feio que fosse preciso, desde que isso lhes garantisse um resultado positivo. Deixavam-se cair ao menor toque (às vezes nem eram necessários toques, como foi bastante evidente um lance logo nos primeiros minutos) aproveitando que o árbitro apitava a tudo, ficavam no chão o máximo de tempo que podiam e tentavam arranjar discussões e quezílias com os nossos jogadores à menor oportunidade - e os nossos jogadores nisso foram pouco inteligentes, porque em vez de voltar as costas iam na conversa. E se essa disposição já era notória desde o início, então depois do Paços chegar ao golo logo aos nove minutos pior ficou. Uma perda de bola do Grimaldo na saída para o ataque foi bem aproveitada para um contra-ataque por aquele lado e um passe atrasado para o remate de primeira, já no interior da área. A tarefa complicava-se, e a pouca inspiração e lentidão no ataque deixava-me apreensivo. Até porque quando conseguíamos criar alguma ocasião para marcar a finalização deixava muito a desejar. Ainda estou, por exemplo, a tentar perceber como é que o Jonas conseguiu não marcar depois de aparecer completamente sozinho a dois metros da linha de golo para cabecear um cruzamento perfeito do Cervi. O que é certo é que apesar do Benfica ter crescido nos minutos finais, a primeira parte acabou connosco em desvantagem.


A segunda parte foi basicamente um massacre constante. Foi daqueles jogos em que se pode perfeitamente usar o velho jargão do 'aluga-se meio campo', porque o Paços não saiu da sua metade. Acantonaram-se em frente à área, reforçaram a táctica de tentar o mais possível impedir que se jogasse, e agarraram-se à vantagem com unhas e dentes. O Benfica foi carregando, muitas vezes com mais vontade do que qualidade, mas o golo parecia estar difícil de aparecer. E com tanta gente de amarelo dedicada exclusivamente à defesa, justificava-se reforçar os números no ataque, pelo que foi com naturalidade que ainda antes de completado o primeiro quarto de hora já abdicávamos do Zivkovic para lançar o Jiménez. O mexicano acabou por ter um papel decisivo no golo do empate, que apareceu aos setenta e dois minutos, mas ainda mais decisiva foi a intervenção do Rafa. Na direita, conseguiu interceptar um passe, depois fez uso da sua melhor característica, a velocidade, para ganhar vantagem sobre o defesa que tinha acabado de entrar e fez o passe atrasado para o remate do Jiménez. A bola parecia levar a direcção certa, mas acabou por bater nas pernas do Jonas e ficar à disposição do nosso melhor marcador, que muito perto da baliza a atirou lá para dentro, tendo ainda tocado no poste. Metade do trabalho estava feito, mas faltava a outra metade e esta adivinhava-se ainda mais complicada porque o Paços ainda reforçou mais o antijogo. A quatro minutos do final tivemos que dar o tudo por tudo no ataque e trocámos o Grimaldo pelo Seferovic. E dois minutos depois (foram dois minutos depois porque estivemos todo esse tempo com o jogo parado, primeiro porque mais um jogador do Paços ficou caído no relvado, e depois porque três quartos da equipa do Paços rodeou o árbitro e andou a discutir uma bola ao solo) os três avançados foram mesmo decisivos para concluir a reviravolta: bola longa do Rúben Dias para a esquerda do ataque, o Jiménez recuperou e meteu no Seferovic, e este fez um passe fantástico para o interior da área que permitiu ao Jonas aparecer na zona do primeiro poste a concluir com um remate rasteiro de primeira. Não foram necessários nove minutos de compensação para chegarmos à vitória, mas o árbitro ainda deu sete - na minha opinião, justificados, mas tenho sérias dúvidas que esses sete minutos tivessem sido dados se não tivéssemos marcado aquele golo aos oitenta e oito minutos. E estes sete minutos ainda foram movimentados: um jogador do Paços foi expulso por agressão ao Jonas, e para fechar da melhor maneira possível o Rafa viu a sua boa exibição compensada com um golo, concluindo com um bom remate cruzado uma jogada na qual o Jiménez ganhou a bola nas alturas.


E eu escolho mesmo o Rafa como o homem do jogo. Sim, o Jonas marcou dois golos e foi decisivo, mas o Rafa não foi menos importante. Parece estar a ganhar confiança com a porta da titularidade que ficou aberta com a lesão do Salvio, e tem vindo sempre a melhorar. O primeiro golo, que começou a desatar este nó complicado, surge por inteiro mérito seu e o terceiro golo é uma finalização muito boa - o que até pode parecer estranho de dizer quando estamos a falar do Rafa, tendo em conta o seu historial recente neste particular. Menção obrigatória para o Jiménez também. Foi muito importante a sua entrada, e ele acabou por estar directamente envolvido nas jogadas dos três golos. Mas mais do que o brilho individual deste ou daquele jogador, para mim o mais importante foi mesmo a atitude da equipa durante toda a segunda parte. Só assim conseguimos conquistar os três pontos esta noite.

Vai ser assim, não tenho dúvidas, até ao final. Todas as equipas vão tentar jogar assim contra nós. A defender com unhas e dentes, a recorrer ao antijogo, com uma atitude quezilenta e a tentar armar confusão, como se houvesse ali uma motivação extra qualquer. Vamos precisar de manter esta atitude e esta comunhão entre adeptos e equipa para fazer frente a isto e mantermos viva a esperança no penta.

domingo, fevereiro 18, 2018

Evidente

Uma vitória tão evidente quanto natural, e o espelho fiel da enorme superioridade da equipa do Benfica sobre a do Boavista. Nem mesmo uma noite menos inspirada do melhor marcador do campeonato evitou mais uma goleada.


Durante toda a semana pairou a incógnita sobre a presença do Jonas neste jogo. Mas ele foi mesmo presença no onze inicial, que voltou a contar com o Rafa na posição do Salvio. O nosso início de jogo não foi tão pressionante como tem sido, mas não foram necessários muitos minutos para ficar convencido que dificilmente a vitória nos escaparia. Porque bastava a bola ir até à esquerda que o trio Grimaldo-Cervi-Zivkovic mostrava que estava em mais uma noite inspirada, e que era quase impossível o Boavista travá-los. As triangulações entre eles acontecem a uma velocidade vertiginosa e são feitas quase de olhos fechados, de tal forma que provavelmente nove em cada dez investidas por aquele lado vão acabar com um jogador a isolar-se em direcção à área ou a ganhar a linha de fundo para servir alguém à entrada ou no interior da área. O Boavista, por seu lado, até tentava de forma vã pressionar a nossa saída de bola mas o sucesso era nulo. E em termos ofensivos ficava-se pelo mesmo rendimento: nem um remate, nem uma jogada sequer de perigo - o que era também uma consequência natural de quase não terem bola. De qualquer forma era necessário traduzir a nossa superioridade em golos, porque recordava-me bem do que aconteceu no jogo da primeira volta, em que dominámos por completo a primeira parte, fomos para o intervalo com a magra vantagem de um golo, e depois quase sem saber como o Boavista deu a volta ao resultado e deu-nos a nossa única e extremamente injusta derrota no campeonato. 


Foi naturalmente pelo lado esquerdo que surgiu uma grande ocasião para ganhar vantagem, quando o inevitável Cervi foi derrubado dentro da área com quinze minutos decorridos. Mas o Wagner conseguiu defender o penálti marcado pelo Jonas (não me pareceu mal marcado, simplesmente o guarda-redes adivinhou o lado e fez uma boa defesa). Mas não foi preciso esperar muito pelo golo, que surgiu apenas três minutos depois: canto marcado na esquerda pelo Cervi, cabeceamento do Jardel a devolver a bola para a zona do primeiro poste, e cabeçada para o golo do Rúben Dias (e se não fosse ele, ainda lá estaria o André Almeida para finalizar). Se há algo a apontar à exibição do Benfica no primeiro tempo, foi o facto de apesar de ter tanto domínio, ter enfeitado demasiado as jogadas junto da área adversária. É certo que não é fácil encontrar espaços para rematar frente a um adversário que defende quase todo o tempo com onze, mas pareceu-me que houve situações em que exagerámos nas tabelas e nos passes quando parecia mais aconselhável o remate, mesmo de fora da área. Porque ainda estava escaldado com o jogo da primeira volta, desejava pelo menos mais um golo antes do intervalo, e foi mesmo a fechar a primeira parte que ele apareceu. Mais um canto do Cervi na esquerda, desta vez a encontrar o Jardel bem no centro da área para um cabeceamento colocado e sem hipóteses de defesa. Apesar da dinâmica apresentada e da enorme superioridade sobre o Boavista, foi em dois lances de bola parada que conseguimos marcar. E apesar do Boavista meter onze jogadores dentro da área para defender os cantos, não conseguiram marcar eficazmente o melhor cabeceador da nossa equipa.



A ganhar por dois ao intervalo frente a um adversário incapaz de atacar, a perspectiva era naturalmente de uma goleada. Mas os minutos iniciais até acabaram por mostrar um pouquinho de Boavista, que conseguiu mesmo fazer finalmente um remate no jogo - foi um remate disparatado e que não causou perigo nenhum, na sequência de um pontapé de canto marcado 'à futsal' com um balão para a entrada da área a pedir um remate de primeira, mas foi para todos os efeitos um remate. Achei que houve um período durante o qual o Benfica perdeu dinâmica no ataque, talvez por culpa da experiência de, primeiro, trocar os extremos, e depois disso ter o Pizzi a jogar mais sobre a esquerda e o Zivkovic sobre a direita. A coisa funciona melhor quando temos os três canhotos perto uns dos outros, parece-me. O que é certo é que houve ali um período em que o jogo ficou demasiado partido para o meu gosto. Não que isso se tenha traduzido em qualquer pressão da parte do Boavista, mas achei a nossa equipa um pouco menos ligada e a dar mais espaços no meio campo, com o jogo numa toada de parada e resposta em que toda a gente parecia ter demasiado espaço e tempo para jogar. Por vezes até deu a sensação de alguma sobranceria, já que as situações mais complicadas para nós resultaram de erros individuais: numa o Jardel deixou-se desarmar perto da área, e na outra uma má reposição de bola da parte do Varela acabou num remate que passou perto do poste. E houve tempo também para a tradicional má saída a um cruzamento pelo nosso guarda-redes, que deu origem a alguma confusão na nossa área até que o Varela agarrasse finalmente a bola. Mas depois voltámos à fórmula inicial, e tudo regressou à normalidade. O Jonas não estava mesmo num dia inspirado e falhou um par de situações que normalmente concretizaria, mas os defesas do Boavista acabaram por fazer o trabalho por ele, e num lance às três tabelas fizeram com que uma bola cruzada pelo Grimaldo acabasse dentro da própria baliza. Foi aos setenta e sete minutos, e logo a seguir o Jonas cedeu o lugar ao Jiménez. Que ainda foi atempo de marcar, mesmo sobre o minuto noventa, aparecendo à boca da baliza para emendar um bom passe rasteiro do André Almeida. E não fosse o João Carvalho (tinha entrado para o lugar do Pizzi) ter decidido tentar ele próprio o golo e poderia ter marcado um segundo, já que estava em posição privilegiada para receber o passe.



Destaques óbvios para o Cervi (duas assistências e ainda um penálti que foi desperdiçado), Grimaldo e Zivkovic. Os três baixinhos canhotos são o motor do futebol ofensivo da equipa e quando jogam desta forma é praticamente impossível travá-los. A quantidade de lances de perigo que conseguem criar é tanta que mais cedo ou mais tarde um golo acaba por surgir. Destaque também para a dupla de centrais, que tal como contra o Rio Ave acabou o jogo com dois golos distribuídos entre si. A isto o Jardel somou uma assistência e o Rúben um par de bons cortes a evitar males maiores, como no lance em que o Jardel perdeu a bola. Menção ainda para o Fejsa, importantíssimo como sempre, e para o André Almeida, que apesar de ainda haver quem seja incapaz de lhe reconhecer a importância e o valor que tem, insiste em desempenhar a sua função de forma exímia. Hoje somou a sexta assistência para golo na Liga, a somar a dois golos marcados - nada mau para um defesa lateral. E se aqueles que insistem em colocar um defesa direito como prioridade absoluta em qualquer janela de transferências se derem ao trabalho de consultar os dados estatísticos sobre a eficácia dele nas acções puramente defensivas, são capazes de ter uma surpresa.

Mais uma etapa ultrapassada com distinção e mais uma demonstração de vitalidade da nossa equipa. Estamos a atravessar o momento de forma ideal para enfrentar a fase decisiva do campeonato, e se o conseguirmos manter certamente teremos uma probabilidade enorme de celebrar no final. 

P.S.- Mais uma exibição deplorável do jovem prodígio verde da arbitragem nacional. Depois do magnífico desempenho como VAR no último derby, hoje voltou a mostrar que pelo menos um critério mantém: mãos dentro da área nunca dão penáltis a favor do Benfica. Já o critério disciplinar, parece ser avisar os adversários do Benfica e amarelar os jogadores do Benfica. Só ele conseguirá explicar como é que o Boavista conseguiu acabar o jogo sem um amarelo enquanto que os jogadores do Benfica viram dois por lances sem qualquer perigo disputados ainda dentro do meio campo adversário. Parece-me mesmo que o critério que ele segue é em qualquer lance em que o possa fazer, decidir a favor do adversário do Benfica. A forma como ele conseguiu transformar uma cacetada no Cervi em canto quando o jogador do Boavista nem toca na bola é digna de qualquer manual de arbitragem.

domingo, fevereiro 11, 2018

Talento

Chegou a parecer que seria surpreendentemente fácil - a surpresa porque face ao que já tinha visto do Portimonense nos dois jogos contra nós esta época e ainda aquilo que fez nos últimos jogos, esperava um jogo dificílimo - mas acabou por ser necessário sofrimento, muito suor e o talento do Cervi para sairmos de Portimão com os três pontos.


Sabíamos que haveria um alteração forçada no onze devido à ausência do Salvio, e a escolha para o lugar foi o Rafa. De resto, os jogadores que já nos habituámos a ver como primeiras escolhas, com o Zivkovic a repetir a titularidade nas funções do Krovinovic. O início de jogo foi aquilo que tem sido o hábito desta equipa nos últimos tempos. Pressão alta e agressiva, trocas de bola rápidas no ataque, com especial destaque para as combinações na esquerda entre o Grimaldo e o Cervi, com a colaboração frequente do Zivkovic ou do Jonas, e o adversário empurrado para junto da sua área. às vezes costuma-se dizer de uma forma algo exagerada que uma equipa nem passou do meio campo, mas durante praticamente toda a primeira meia hora de jogo foi mesmo isso que aconteceu com o Portimonense. Neutralizámos por completo o jogo deles, e apresentámos uma dinâmica muito difícil de acompanhar na procura do golo. Golo que apareceu muito cedo, com apenas seis minutos decorridos. Um passe a rasgar do Zivkovic pelo meio da defesa do Portimonense, uma grande recepção do Rafa que obrigou um defesa a um corte no limite, mas a bola foi ter com o Cervi que sobre a esquerda desferiu um remate muito forte para fazer a bola entrar entre o guarda-redes e o poste. Obtida a vantagem, o resto da primeira parte foi quase toda como descrevi antes. Uma superioridade evidente da parte do Benfica, que no entanto não se traduziu no avolumar do resultado, e um Portimonense praticamente inofensivo, quase sempre remetido para bem dentro do seu meio campo e com muito pouca posse de bola. Apenas na fase final do primeiro tempo é que o nosso adversário pareceu começar a acordar e a dar alguns sinais de vida. Não nos causaram grandes problemas na defesa, mas o meio campo começou a ganhar cada vez mais os duelos físicos e as bolas divididas, permitindo-lhes ter um pouco mais de bola e jogar mais longe da sua área.


Para nosso mal, as indicações dadas no final da primeira parte não só se mantiveram como se acentuaram na segunda. O Portimonense entrou mais agressivo e ganhou superioridade na zona do meio campo, impondo o maior poderio físico da maioria dos seus jogadores e passando a ganhar os duelos individuais, bolas divididas e segundas bolas. Não se tratou de um caso em que éramos submetidos a pressão intensa e as ocasiões de golo se sucediam junto da nossa baliza - a melhor ocasião até foi mesmo nossa, mas o André Almeida, em posição privilegiadíssima, escorregou na altura do remate a enviou a bola para a bancada - mas era notótio que já não tínhamos o controlo absoluto da partida, passando a ter menos bola e sendo menos perigosos no ataque. Por outro lado, com o Portimonense a aparecer mais no jogo, a possibilidade de surgir o golo do empate era maior. E a meio desta segunda parte sofremos uma dupla contrariedade: o Jonas teve que sair lesionado, e quase de seguida o golo do empate apareceu mesmo, na sequência de um pontapé de canto. Víamo-nos agora sem o nosso melhor marcador em campo, e a precisar de voltar para a frente do marcador. Confesso que vi as coisas mal paradas nessa altura, até porque o golo do empate motivou ainda mais o nosso adversário. Durante alguns minutos o jogo ficou como que partido e bastante aberto, podendo um golo cair para qualquer uma das equipas - novamente o André Almeida, em posição frontal, fez um remate rasteiro e com pouca força para as mãos do guarda-redes, e do outro lado vimos um adversário em óptima posição rematar torto e ao lado da nossa baliza. Mas a doze minutos do final, o destino sorriu-nos. Acabadinho de entrar, o Galeno (jogador emprestado pelo Porto - se calhar está comprado) meteu a mão à bola e no livre resultante, ainda bem longe da baliza, o Cervi inventou um remate magistral que fez a bola ainda beijar o poste antes de entrar na baliza. Logo a seguir o nosso treinador emendou a mão e em vez de meter o Seferovic, que estava pronto para entrar, colocou em campo o Samaris para equilibrar a luta a meio campo. E à excepção de um lance no qual o Varela teve uma péssima saída a um cruzamento, não passámos por grandes calafrios. Para fechar da melhor maneira, já durante o período de compensação do período de compensação o Zivkovic, à segunda e na conclusão de uma jogada em que ele progrediu todo o meio campo adversário com a bola antes de combinar com o Diogo Gonçalves, fez o terceiro golo.


O homem do jogo é sem qualquer dúvida o Cervi. É um jogador de quem é impossível não gostar, quanto mais não seja pela atitude que tem em campo. Disputa cada bola como se fosse a última, corre os noventa minutos como se tivesse acabado de começar o jogo, e a isto alia uma capacidade técnica acima do normal. Não costuma marcar muitos golos, mas hoje apareceu na altura certa para fazer dois e carregar a nossa equipa até à vitória. Outro destaque que faço é o Zivkovic. Tinha a convicção de que ele seria a melhor solução para o lugar do Krovinovic ainda antes dele jogar, e depois de dois jogos a titular nessas funções julgo que poucos não partilharão dela. Tal como no caso do Cervi, a atitude ajuda muito. E depois tem a qualidade técnica para segurar a bola e a visão de jogo para fazer passes que rasgam qualquer defesa. Bem fez por merecer o golo que marcou (embora nesse lance até tenha sido algo egoísta, porque tinha o Jiménez em óptima posição). Uma menção também para o Fejsa. Já estamos tão habituados a vê-lo fazer aquilo que faz que às vezes até pode nem parecer nada de extraordinário, mas o Fejsa é provavelmente o factor mais importante para que consigamos pressionar os adversários da forma que o fazemos. Por diversas vezes ele é literalmente o meio campo do Benfica, por si só. Por último: o Rafa não soube aproveitar mais esta oportunidade. Esteve no lance do primeiro golo, mas no resto do jogo foi uma desilusão para mim.

Mais um difícil obstáculo ultrapassado, mas um passo dado no caminho que temos que percorrer até ao nosso objectivo. A equipa está estabilizada, a fórmula está encontrada, a dinâmica está instalada. A cada passo dado, a confiança aumenta.

segunda-feira, fevereiro 05, 2018

União

Uma segunda parte arrasadora valeu-nos uma vitória justa e indiscutível perante uma das boas equipas do nosso campeonato. Uma equipa que tantos problemas já nos tinha causado esta época, e que neste mesmo jogo mostrou que isso não aconteceu por acaso - foram necessárias uma atitude e qualidade muito grandes para dar a volta ao resultado e construir esta vitória.



A novidade no onze foi a troca do João Carvalho pelo Zivkovic na posição de terceiro médio. De resto, a equipa a que já nos vamos habituando a ver como a titular. O começo de jogo mostrou aquilo que se esperava e vem também sendo habitual na nossa equipa nos últimos jogos (excepção feita ao jogo em Belém). Uma equipa agressiva, a pressionar logo a saída de bola do adversário - e sabe-se que o Rio Ave é uma equipa que gosta de sair a jogar - e a imprimir grande velocidade nas combinações ofensivas. O único senão, na minha opinião, foi uma excessiva cerimónia no momento de definir as jogadas. Sempre mais um toque, um passe, um floreado e poucos remates. Depois houve o enorme contratempo de sofrermos um golo na primeira vez em que o Rio Ave foi à nossa baliza. Foi na insistência de um canto, num lance em que houve demasiada displicência. Depois da bola ser aliviada e ir parar aos pés do Geraldes, quando este progrediu em direcção à área ninguém se lhe opôs - o Pizzi literalmente desviou-se do caminho dele - e ele entrou à vontade e cruzou para o golo. A equipa acusou este golo e começou a instalar-se o nervosismo, que ainda aumentou quando logo a seguir o Rio Ave esteve muito perto do segundo golo, num grande remate do João Novais que fez a bola embater com estrondo no poste. Nesta fase do jogo o Benfica tinha dificuldade em estabilizar o seu jogo, e os próprios jogadores pareciam estar inseguros. O Rio Ave conseguia trocar bem a bola e pressionava alto, condicionando a nossa saída de bola. O Geraldes estava a ser deixado demasiado à vontade no meio campo, onde recebia quase sempre a bola sozinho e conseguia organizar todo o jogo do nosso adversário. O Rio Ave voltou a estar perto do golo numa hesitação do Varela, que permitiu que um jogador adversário conseguisse meter-se entre ele e o Rúben Dias, redimindo-se depois com uma defesa por instinto. Mas nos dez minutos finais a nossa equipa finalmente pareceu reencontrar-se e conseguiu encostar o Rio Ave à sua área, tornando-se progressivamente mais perigosa (não sendo uma consequência directa disso, a verdade é que o Benfica começou a jogar melhor depois do infortúnio da lesão do Salvio, que foi substituído pelo Rafa) de forma a que à saída para o intervalo sentia-se que o golo estava perto de acontecer.


E esse pressentimento confirmou-se. Era importantíssimo empatar o jogo o mais cedo possível, e o Benfica fez isso mesmo. A cavalgada que tinha tido início na fase final da primeira parte foi imediatamente retomada no reinício, mesmo com o Rio Ave a ter retardado ao máximo o seu regresso das cabines. E ao fim de três minutos, já o Jardel tinha cabeceado para o fundo das redes, na sequência de um canto. A insistir sobretudo sobre o lado esquerdo, onde o Cervi e o Grimaldo estavam com uma dinâmica fortíssima e nesta segunda parte contaram com muito mais colaboração da parte do Zivkovic, o Benfica tinha o Rio Ave encostado às cordas e não ganharmos este jogo era nesta altura um cenário cada vez mais improvável. Faltava a cambalhota completa no resultado, que aconteceu aos sessenta minutos em mais uma investida pela esquerda. Desta vez até foi o Jonas quem entrou por ali e fez o passe atrasado para o remate do Pizzi - pareceu-me no estádio que o Pizzi sofreu falta quando queria rematar (seria penálti) mas ainda conseguiu tocar na bola o suficiente para a desviar do Cássio e fazê-la rolar devagarinho para dentro da baliza. Mas isto não era suficiente para o Benfica, que continuou com um ritmo diabólico a vulgarizar um rio Ave que, nesta fase, já parecia acusar o esforço da primeira parte para pressionar o Benfica no campo todo. Por isso foi com toda a naturalidade que aos setenta e um minutos apareceu o terceiro golo, pelo inevitável Jonas. Masi um pontapé de canto, mais uma vez o Jardel a ganhar nas alturas, e desta vez fez a bola cair nos pés do Jonas que ficou sozinho em frente ao Cássio para finalizar. Para uma equipa acusada de não ter sistema e de não trabalhar bolas paradas dois golos de canto já eram bons, mas melhor ainda são três. O que aconteceu aos oitenta e três minutos num cabeceamento fulgurante do Rúben Dias. Primeiro golo do nosso jovem central no campeonato, celebrado de forma eufórica. E mesmo assim acho que todo o estádio da Luz sentia que as coisas não ficariam por aí. O Benfica tinha o adversário de rastos e não mostrava qualquer tipo de piedade, continuando a massacrá-lo à procura de mais golos. Uma investida do Rafa pela direita, a três minutos do final, resultou num cruzamento rasteiro para o Jiménez (que tinha entrado para o lugar do Jonas) concretizar facilmente à entrada da pequena área. E só não houve mais um golo porque o mesmo Jiménez, depois de um bom trabalho individual, fez um mau remate quando até poderia ter tentado o passe para o Zivkovic.


Destaque neste jogo para o Jardel, fundamental no início da reviravolta, mas também para o Rúben Dias. É certo que foi batido pelo ar no lance do golo do Rio Ave, mas no resto do jogo conseguiu diversos cortes de grande dificuldade e ainda foi lá à frente marcar um golo. No dia em que o nosso capitão Luisão decidir arrumar as botas, no centro da nossa defesa moram actualmente os dois que lhe sucederão nesse posto. A nossa asa esquerda, com o Cervi e o Grimaldo, esteve em grande uma vez mais. Agrada-me sempre em particular o Cervi. Está numa forma fantástica e dá uma enorme dinâmica ao nosso jogo. É frequente vê-lo aparecer no meio ou até na direita, e joga sempre a um ritmo elevadíssimo, ajudando a defender quando é necessário e lutanto por cada bola como se fosse a última. Quero mencionar também o Fejsa, que durante a primeira parte teve momentos em que estava praticamente sozinho naquele meio campo, já que pouca ou nenhuma ajuda recebia do Pizzi (sobretudo) e do Zivkovic. E por último o Jonas, que voltou a picar o ponto.

Foi bom ver que o percalço em Belém não afectou a equipa, tal como não a afectam os sucessivos e vis ataques ao Benfica que continuam a ser perpetrados quase diariamente na comunicação social. Tudo isso apenas nos une ainda mais. Une os jogadores, e une os benfiquistas no apoio à equipa - foram mais de cinquenta e três mil os espectadores que disseram 'presente'. Já tentaram fazer-nos o enterro por diversas vezes esta época, mas chegados aqui continuamos na luta pelo pentacampeonato, e nesta fase parece-me que sendo a equipa que melhor futebol está a apresentar. Aguardo pelas próximas acções de desespero por parte dos nossos inimigos se este momento teimar em manter-se.