Descalabro
Foi um descalabro completo do Benfica esta noite, que resultou numa humilhação. Não há outro nome a dar-lhe. Este foi dos resultados que mais me custaram ver na história do Benfica. Quando perdemos em Vigo, daquela equipa do Benfica aproveitavam-se para aí o JVP e o Enke, e pouco mais. Mas esta equipa tem valor e obrigação para fazer mais, muito mais. Eu pelo menos espero muito dela. Antes deste jogo, a minha principal preocupação prendia-se com a ausência do Luisão. Infelizmente essa ausência notou-se muito mais do que eu esperaria.
Se a alteração na defesa, devido à ausência forçada do Luisão, não foi surpresa, já a presença do Binya a meio campo, no lugar do Katsouranis, foi uma meia surpresa. Talvez o grego não estivesse completamente recuperado. Mas a dada a sua experiência, ainda para mais jogando nós num ambiente que ele conhece bem, eu estava à espera que a sua inclusão na equipa fosse um dado adquirido. De resto, apresentámos o 4-4-2 tradicional. E quanto ao jogo, ele praticamente resume-se aos golos do Olympiacos, entrecortados pelo nosso ponto de honra. É que nem deu tempo para assentar: passados quarenta e dois segundos de jogo, já o primeiro golo tinha entrado. E logo nessa primeira jogada, ficaram expostas as fragilidades da nossa defesa neste jogo, em particular pelo lado esquerdo e pelo centro. O Galletti entrou, a exemplo do que fez durante todo o jogo, como quis pela esquerda, o Diogo apareceu solto pelo meio, e a bola acabou por ressaltar para o mesmo Galletti, que marcou. Tentámos reagir, marcámos um golo esquisito que foi bem anulado, e passado um quarto de hora os gregos resolveram atacar outra vez, fizeram o segundo remate, e marcaram o segundo golo. Desta vez um alívio do Maxi (que foi dobrar os centrais) caiu nos pés de um médio grego que, à vontade na área, rematou para o golo. Vinte e quatro minutos, o Diogo entra à vontade pelo meio, e três a zero. A estatística mostrava três remates para o Olympiacos, três golos. Eficácia absoluta (ou, se preferirmos, ineficácia total da nossa defesa). O Benfica até reagiu a esta desvantagem. Aproximou-se da área adversária, rematou, e marcou mesmo um golo, pelo David Luiz pouco depois da meia hora, na sequência de um canto. Mas quando acreditávamos que ainda seria possível entrar na discussão do resultado (eu pelo menos acreditava; mesmo se estivermos a perder por seis, se marcarmos um eu encaro sempre esse golo como o início da reviravolta), a fechar a primeira parte mais um golo ridículo, em que o Jorge Ribeiro ficou ali feito boi a olhar para um palácio enquanto o Galletti mais uma vez lhe fugia, para assistir o seu compatriota Belluschi, que entretanto aparecia mais uma vez à vontade no meio. Foi o quarto remate dos gregos na primeira parte. Quatro golos.
Sem alterações para a segunda parte, a única esperança que restava era a de conseguirmos amenizar o resultado, ou que pelo menos os gregos não o aumentassem, já que com tamanha ineficácia cá atrás as coisas poderiam ficar ainda pior. Não foi preciso esperar muito: mais uma bola para o Galletti, mais uma assistência do argentino, desta vez para o Diogo que, aproveitando uma saída algo estranha do Quim, conseguiu marcar de ângulo apertado. O Benfica fez entrar o Urreta e o Balboa, as coisas acalmaram um pouco, e o jogo foi-se arrastando. O Olympiacos felizmente não conseguiu rematar muito mais vezes à nossa baliza, e nós ainda construímos uma ou outra jogada decente, mas sem conseguirmos reduzir. Esta segunda parte para mim durou uma eternidade. Já só queria que o jogo acabasse (embora mantivesse a secreta esperança que, se marcássemos um, ainda iríamos ao empate - por isso fartei-me de chamar nomes ao Suazo quando este, isolado, em vez de rematar parecia querer entrar com a bola pela baliza e acabou desarmado). Acabou o jogo, sofremos um resultado humilhante, e praticamente acabou a Taça UEFA este ano, já que a vitória do Metallist em Istambul deixa a qualificação quase impossível.
Piores do Benfica? Por onde posso começar? Não vou estar aqui a bater em todos, por isso escolho apenas alguns: Jorge Ribeiro, para começar. Um buraco autêntico. Ainda por cima num jogo em que quase nem apoiou o ataque. Mesmo assim, o Galletti fez o que quis por aquele lado. Ou, devido a deficiente marcação, recebia a bola à vontade e depois ia por ali fora, ou então, com a bola controlada, com um ou dois toques libertava-se facilmente do nosso número vinte e cinco. David Luiz. Marcou o golo, mas na defesa revelou-se lento a reagir, e distraído na marcação aos adversários. Bem sei que ainda tem falta de ritmo, mas deve ter sido um dos jogos mais fraquinhos que lhe vi fazer. Outro buraco. Para não falar só de defesas, menciono também o Suazo no ataque. Um avançado da qualidade dele não pode falhar golos como aquele cabeceamento isolado na primeira parte, ou na segunda parte quando, também isolado, demorou uma eternidade a decidir o que fazer e acabou desarmado por um defesa. Menos mau, para mim: Reyes. Foi dos poucos que tentou sempre remar contra a maré. Mesmo com as coisas a não sairem sempre bem. Correu, desmarcou-se, pediu a bola, fez o que podia. Bom esforço também do Binya no meio campo, mas acho que neste caso ele acabou por mostrar-se mais durante a segunda parte, quando o jogo estava mais equilibrado e até era o Benfica quem tinha mais bola. Durante o descalabro defensivo da primeira parte, foi ao fundo com o resto da equipa.
Julgo que pouco mais poderemos esperar desta competição. Sabemos que o objectivo primordial desta época são as competições internas, mas uma saída precoce da Taça UEFA, ainda para mais desta forma, só pode ser considerada uma desilusão. Enfim, agora há que levantar a cabeça, e vencer já o próximo jogo contra o Setúbal.
P.S.- Não estou satisfeito; não posso estar satisfeito depois de uma noite negra destas. Sei, tal como vocês sabem, que andam à nossa volta muitos abutres, desvairados na sua sanha antibenfiquista, e esfomeados devido à falta de ocasiões que ultimamente lhes temos dado para nos moerem o juízo. É de ocasiões destas que eles andam à espera; é para isto que eles vivem, por isso vão obviamente aproveitar este episódio negro para nos atacarem de uma forma raivosa, tentando colocar tudo em causa, guiando-nos para o precipício. Estou-me nas tintas para eles. Amanhã vou almoçar ao Estádio da Luz, e se for preciso saio à rua com o cachecol do meu clube ao pescoço. Se julgam que o benfiquismo esmorece por causa de uma derrota, por mais pesada que ela seja, não sabem o que é ser-se Benfiquista. No meio de toda a tristeza e negritude que me invade quando o meu clube perde, há sempre uma pequena luz que me alegra. É quando verifico que mesmo um episódio destes não abala o amor que sinto por este clube. Pelo contrário, sinto vontade de ajudar o clube como puder, quero voltar a vê-los jogar, se preciso amanhã já, para com o meu incentivo mostrar que estamos juntos nisto. Quero amparar a sua queda, sacudir-lhe os joelhos esfolados, e ajudá-lo a reencontrar o rumo certo. É o normal quando se ama incondicionalmente. Força Benfica!