Acordando no acampamento
Ainda bem, acordei sem ressaca. A primeira coisa que gosto de fazer ao acordar no fim de semana é tomar um banho, só que água doce pelas próximas horas será impossível. Saio do carro, minha cama na última noite, o dia amanhece frio e com um sol tímido das 6:00 h da manhã. Acordar cedo é ótimo pois deixa o dia longo e hoje ainda vai acontecer muito coisa nesse rally.
Já tem algumas pessoas conversando perto da fogueira, logo descubro que foram os que não conseguiram dormir direito. À noite tivemos alguns problemas, eu que estava literalmente desmaiado nem notei, algumas pessoas rondaram o acampamento. Como haviam muitos objetos desprotegidos como o som e o gerador, foi necessário alguns corajosos para ficar de vigia. Esse é um lado ruim do acampamento, segurança. Mesmo aqui em Angola, onde a criminalidade é bem menor que no Brasil, é difícil para um Recifense, acostumado com minha terra, não se sentir desconfortável passando a noite em uma praia. Ainda bem que tudo correu bem.
Sergio é um dos que já está acordado, ele me chama para uma caminhada que eu prontamente... não aceito. Ta maluco, acabei de acordar, vou ficar na preguiça um tempão antes de despertar. Vai lá Kamba, depois me conta.
As gaivotas me dão bom dia
Sento sozinho, numa manha cinza, sem nuvens, a beira do mar. O silencio me conforta e abriga o meu imaginário dando segurança a minha memória. Algumas das viagens que já fiz, lugares que conheci. Reflito sobre meus objetivos e o que desejo... Faço a velha pergunta: O que eu quero ser quando crescer? O mar calmo como um grande campo de verde de cana de açúcar que tantas vezes vi ai viajar pelas estradas Pernambucanas, minha terra. O silencio e a boa sensação de estar sozinho, mas não me sentir só, é quebrado com a chegada de dezenas de gaivotas que descansam em um pequeno terral formado pela maré baixa. Elas voam na minha frente e parecem se mostrar para mim, para esse viajante que veio de tão longe, do outro lado do oceano, e que agradece pelo espetáculo. Bem na minha frente elas mergulham e saem com um belo peixe na boca. Uma, duas, três, várias vezes e eu tenho certeza que eu quero ser uma gaivota quando crescer. Consegui até fazer um vídeo de uma delas mergulhando e saindo com o peixe.
Quanto estava no mais profundo dos pensamentos e com aquele sorriso bobo no rosto sou trazido a realidade, minha adrenalina sobre. Quatro Angolanos vem pela praia, estou com a minha máquina fotográfica novinha nas mãos e com o mp3 no ouvido. Acostumado ao Brasil começo a me despedir deles, acabei de paga-los. Quando dei conta dos rapazes já era tarde de mais. Foi então que eles pararam na minha frente e puxaram conversa. “E ai chefe, bom dia. Vamos jogar um futebol? Você joga?” Ah eu tinha certeza, estavam só me enrolando, e não havia mais ninguém no acampamento atrás de mim. Sergio foi caminhar, os outros acho que deitaram já que eu estava acordado. Eu estava sozinho. “Oi, obrigado, mas acabei de acordar, ainda estou com sono e nem tomei café. Todo pessoal esta dormindo, estou com fome.” Um deles tem o cabelo amarelo e senta ao meu lado, na verdade deita. To ferrado, agora é relaxar e torcer para alguém do acampamento aparecer. Com mais alguns minutos eles falam entre eles, quimbundo que não entendo. Logo depois levantam-se, se apresentam, apertam minha mão e vão embora. Antes porem me dizem que se eu quiser jogar bola é só procura-los em uma barraca logo mais à frente onde eles estão. Nem acredito, não fui roubado. Fico aliviado e vejo o que a violência do Brasil faz conosco, só agora a adrenalina vai baixando, e eu que tinha certeza. Ainda bem, nada aconteceu.
O pessoal começa a levantar e um café da manha a base de leite, pão, queijo e presunto é providenciado. Me animo e vou fazer um “Mata Bicho”. Mata bicho é como os Angolanos chama o café da manha, uma gíria. Estava bom, desculpe está ótimo, eu estava morrendo de fome. Aqueles momentos meus, a beira da água, até me fizeram esquecer que eu não havia comido. Sérgio chega e depois de comer ao lado da fogueira, que ainda tem algumas brasas, sentamos novamente a beira do mar para conversar. Mais pessoas se aproximam, estão todos acordando, devagar, e com mais alguns minutos já tem uma turma boa ao nosso lado. Todos estão lembrando da noite anterior, do luau. A risada foi sonora ao lembrar do Soba dando em cima das mulherada. Teve ainda o Soba dançando Ilarié, eu lembro a todos, fiz até um vídeo.
Sergio com muita coragem diz que vai tomar um banho de mar. Quando ele entra avisa que a água está fria mas muito boa. Tomo coragem, tiro a camisa e num só pulo caio dentro. Foi apenas o tempo de colocar a cabeça do lado de fora e dar um grito. “Ahhhh que água fria.” Fria não, gelada, mas depois que acostumou foi uma sensação incrível, eu agora acordara, estava pronto para outra.
Lá pelas 10:00 h da manhã o pessoal começa a falar em levantar acampamento, mas com tamanha lentidão que somente as 11:00 h é que o negócio começa. Com uma hora de trabalho parece que nem passamos pela praia, tudo nos carros. É hora de deixar a areia e guardar na lembrança as imagens dessa viajem maravilhosa. Ainda bem que tenho aminha máquina para me ajudar. O blog vai ter uma excelente história nos próximos dias.
Antes mesmo de sair do acampamento, já dentro dos carros e com tudo empacotado, o pensamento coletivo era o desejo que os carros não atolassem na volta. Uma coisa foi quando os carros pararam na ida, todo mundo queria ajudar, mas agora, depois da farra, o desejo era chegar em casa e tomar um bom banho. Chuveiro, toalha nova, roupa limpa e nada de areia e bunda do lado de fora. Para a nossa sorte os motoristas na volta já sabiam o que fazer e não atolamos uma vez sequer.
Caminho de volta
Ninguém quer que o passeio acabe e ainda há tempo para mais uma parada. O Barsulo fica no caminho de volta e decidimos por um pit stop, apenas o tempo suficiente para beliscar alguma coisa e tomar uma coca-cola, afinal já são mais de 13:00 h.
O lugar, o Barsulo, é realmente incrível. Um pedaço do paraíso que o dono, um brasileiro, criou com carinho. Os preços, em compensação, não são nada encantadores. Por um sanduíche e uma coca paguei o equivalente a R$ 50,00. Fui xingando o resto do caminho para casa.
Pit Stop no Barsulo
A paisagem na volta me acalma e eu relevo, ta na chuva é para se molhar. Seguindo o caminho passamos pelas mesmas lugares que agora parecem diferentes, estão ainda mais bonitos. Em um mangue, nada mais Recifense que um mangue, descansam dezenas pássaros que parecem flamingos, só que brancos. Tiro uma foto e falo na mesma hora: “Essa vai para o blog!”
Pássaros e mangue, cenário recifense Quando chegarmos à estrada já é fim de tarde e ainda há tempo para tirar algumas fotos da vegetação. Iniciei essa história, a primeira foto, com um grande Imbodeiro. Vou terminar com ele também.
Imbodeiro
O por do sol começa a ser ensaiado novamente. Olho para o horizonte e como se fosse uma criança faço um desejo à mão natureza. Tenho uma sensação engrada de certeza que vai acontecer. Desejo novas aventuras como a que acabei de realizar. Por fim penso na minha família, mando um beijo para ela apenas com o meu coração, e me perco nos pensamentos e na imaginação olhando para as belezas da África.
Meu rosto diz tudo sobre a viagem