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sábado, fevereiro 10, 2007

E-mail a Luana – Visão geral de Angola - versão para crianças

Recebi ontem um e-mail de uma sobrinha quer realmente me deixou muito contente – essa é a foto dela. Luana, filha de Lucas, um grande amigo meu, me escreveu, pois estava fazendo uma tarefa para o colégio. O dever dela era falar sobre um país e ela escolheu Angola porque eu estava aqui.

O fato é que me empolguei e o e-mail acaba dando uma visão geral do que é Angola. Achei que o texto ficou simpático e fácil de ler, assim decidi colocar no blog.

Coloquei abaixo o e-mail dela e depois a minha resposta.

Luanda, obrigado minha linda pelo e-mail. Um beijo enorme!

Luana e Lyud na minha despedida


E-mail de Luana

Oi tio Spindola so eu Luana. eu tenho uma foto de Luanda e adorei. ai é legal? é que a minha tarefa foi sobre fotos de paises que estava perguntando qual o Pais que eu mas gostei, ai eu disse eu mas gostei foi de Luanda e que eu gostaria de visitar Luanda porque la é linpo e tambem tem casas diferetes , você poderia manda fotos dai pelo o email e uma texto sobre Luanda. as crianças estudam? as pessoas trabalhâo?ai tem girafas? leaõ?gostaria que você pode traser alguma lembransa de luanda pra eu mostrar a minha professora e meus amigos. voce tem texto sobre Luanda? voce tirou fotos? tudo bem ta? um beijo


Resposta

Oi Luana

Fiquei muito contente com o seu e-mail, sempre que quiser me escreva, pois eu vou ficar muito feliz. Quando eu for para o Brasil prometo levar um presente especial para você. Vou comprar na feria de artesanatos do Benfica, que fica perto da minha casa.

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Luanda é a capital de um país chamado Angola, da mesma forma que Brasília é a capital do Brasil. Esse país, assim como o Brasil, foi colonizado por Portugal, desta forma aqui se fala Português. O país é dividido em 18 estados, sendo que os estados aqui são chamados de províncias.

A cidade de Luanda tem mais ou menos o mesmo tamanho de Recife. Uma curiosidade é que se você sair de Recife e vier em linha reta pelo mar, você chega exatamente em Luanda. Vivem em Angola aproximadamente 15 milhões de habitantes, que é quase a mesma quantidade de pessoas que moram na cidade de São Paulo. Dessas 15 milhões, mais ou menos 4 milhões vivem nas cidades, o restante das pessoas, 11 milhões, vivem em tribos e no campo. O nome do dinheiro de Angola se chama Kwanza, e 1 Real vale 40 Kwanzas.

Infelizmente em 1961 o país entrou em guerra. Inicialmente para se libertar de Portugal, então em 1975 os Angolanos conseguiram a independência, deixaram de ser colônia. Com a independência de Portugal, os próprios Angolanos começaram a lutar entre si para tomar o poder e o governo, com isso uma guerra civil aconteceu entre 1975 a 2002. Guerra civil é quando pessoas do mesmo país brigam entre elas mesmas.

Com o fim da guerra muitas pessoas vieram para Angola para ajudar a reconstruí-la, e é por isso que eu estou aqui. Eu trabalho para o ministério da saúde ajudando a cuidar de pessoas que tem Aids. Além de cuidar, trabalho para que outras pessoas não venham a ficar doentes. Existem além de Brasileiros, pessoas de todos os cantos do mundo trabalhando aqui, dentre os países China, Cuba, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Colômbia, Canadá, Inglaterra, França, Coréia do Sul, etc...

Antes da guerra a capital Luanda era seis vezes menor que Recife. Por conta das brigas, muitas pessoas vieram para a capital, o que fez com que a cidade crescesse de forma desorganizada. Com a desorganização foram criadas as favelas que aqui são chamadas de Musseques.

Por conta da guerra muitas pessoas não estudaram, além disso, como a maioria das pessoas vive em tribos, a educação igual a nossa também não existem. No país há muitas crianças, contudo existem também muitos órfãos. Ouvi outro dia no rádio que existem pessoas do mundo todo trabalhando em Angola para encontrar as famílias das crianças órfãs, como tios e outros parentes. Muitas das crianças estão nas ruas e ficam a engraxar sapatos ou a pedir dinheiro.

Angola é muito rica e ao mesmo tempo muito pobre. É muito rica pois ela é um dos principais produtores de diamantes do mundo. Além disso, ela produz muito petróleo. Mas é pobre, pois a maioria das casas não tem luz elétrica nem água. Por sinal falta muita água e energia aqui, ficamos muito tempo utilizando geradores para poder ter luz elétrica em casa. Em Angola não tem ônibus, nem metrô, e as pessoas andam pela cidade em vans.

Apesar de toda a pobreza a cidade de Luanda não é perigosa. Aqui não acontecem assaltos a carro ou mesmo seqüestros como no Brasil. Aqui também não têm traficantes ou mesmo o crime organizado que escutamos no Jornal Nacional.

Angola já teve muitos animais, contudo, mais uma vez por conta da guerra, muitos deles foram mortos. Aqui perto de Luanda existe um parque onde os animais andam soltos. Eu nunca fui, mas dizem que tem girafa, leão e outros bichos. Além disso, existe um animal que só tem em Angola, o nome dele é “Palanca Negra Gigante”, estou mandando a foto dela. É um animal grande, do tamanho de um cavalo. Ele tem dois chifres enormes que fazem uma curva, e parece muito com um bode.
Palanca Negra Gigante


Espero que tenha gostado do que eu escrevi sobre Angola e caso deseje saber qualquer coisa a mais é só me escrever. Estou mandando algumas fotos, espero que você goste.

Um beijo grande do seu tio Spíndola.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Cotidiano dos Brasileiros que trabalham em Angola

Com a segunda volta para Angola, o deslumbramento dá espaço a rotina. As novidades já não são constantes, já sei como andar na cidade e que lugares ir. Fiz alguns amigos fora do meu grupo e até nas aulas de inglês entrei.

Quando estive no Brasil conversei com muitas pessoas que me perguntavam curiosas sobre a vida em Angola. Recebo também muitos e-mails de leitores do blog querendo saber como é a vida aqui e se vale a pena. Afirmo sem sombra de dúvida, vale cada dia. Contudo importante é saber das limitações e desafios que fazem parte do dia a dia.

Quando se está trabalhando em Angola há uma série de desafios a serem vencidos extra trabalho e as oito horas de expediente. A começar pelas oito horas de trabalho que se transformam em dez ou doze, então se você veio para trabalhar, tem que estar disposto a isso, nada de ficar reclamando do horário. A independência de ir e vir fica bastante limitada. No Brasil é normal termos carro, ou pelo menos conhecer as linhas de ônibus, aqui não tem isso. Como não tem sistema de transporte público, apenas as Kandongas, para fazer qualquer coisa é preciso ir com o carro da empresa. O veículo é dividido com outras pessoas do trabalho, assim, se você quiser fazer alguma coisa logo após as 18:00h é necessário combinar com todo mundo. Fica-se muito limitado aos horários do grupo e mesmo tarefas simples, como ir ao supermercado, tem que ser combinadas. Sair a noite só se ninguém mais for usar o carro.

Outro é dividir o apartamento com outra ou outras pessoas que você até então não conhecia. As pessoas são diferentes e pode haver casos em que não se gosta do perfil outra, é bom ter muita paciência, ser maleável, bom em resolver conflitos e sociável. Fica impossível conviver se você for uma pessoa difícil de tratar. Viver em grupo e pensando no conjunto, o tempo todo, esse é outro desafio.

Imagine dividir o apartamento, o carro, o trabalho e nos finais de semana estar sempre com as mesmas pessoas. Poucas opções de diversão e aquelas mesmas pessoas para conversar e ser relacionar.

Os desafios de relacionamento e de restrição de autonomia são realmente fatores a serem considerados. Eu dei muita sorte, me dou muito bem com todos os que convivo diariamente. Mais ainda, o meu amigo, pois nos tornamos realmente amigos, que divide o apartamento comigo, Sérgio, é um cara muito gente boa. Dei sorte.

Você está preparado para Angola?

terça-feira, dezembro 05, 2006

Xixi na rua

Imaginem a cena: Um super engarrafamento voltado para casa, super mesmo, tipo 2:40 h para chegar. Aquele monte de carros que parecem não ter fim e muita vontade chegar. A conversa já começa a se repetir. Olho para a cara do motorista e seu olhar denuncia que se eu falar qualquer coisa, o mínimo que vai acontecer é ele olhar para mim com cara de quem quer me matar. Algumas pessoas passam vendendo pipoca, cabides de roupa, sapatos, comida, mas sinceramente, se oferecessem um atalho para chegar rápido eu seria capaz de pagar até uns U$ 100,00 dólares.

Quando tudo parasse fadado ao marasmo e a irritação, eis que surge de um Corola “Rabo de Pato” - já explico o que é isso. Uma senhora negra sai do veículo, provavelmente Angolana, bem vestida, com uma saia longa, aparentando um bom nível social quase uma socialite. Delicadamente ela sai do seu veículo numa classe que poder-se-ia chegar a pensar que esta descia para uma festa, na base de uma grande escadaria de mármore, no melhor estilo baile de debutantes. Olho para aquela mulher e minha imaginação vai longe, imagino a sua vida e que coisas fantásticas ela deve realizar. Penso como seria bom ter alguém ao meu lado e como minha vida seria muito mais prazerosa e tranqüila nesse lugar. Uma companhia de classe e estilo que pudesse me mostrar o melhor de Luanda, suas belezas e segredos que só quem é da terra conhece. Meu coração pulsa acelerado ao vê-la se aproximar do meu lado do carro, o do carona. Eu estava próximo à calçada, o que deixava o terreno livre para uma conversa informal sobre qualquer assunto, afinal, o que iríamos falar seria o menos importante, queria mesmo era conhecer aquela mulher de cabelos bem cuidados, roupa fina e um boca carnuda que até a Agelina Jouli ficaria com inveja.

No ápise da minha viagem, essa mulher passa por mim e se direciona para próximo ao muro, que estava ao meu lado. Sem sequer olhar para os lados e sem nenhuma cerimônia, puxa a saia para cima como se tivesse sido contratada para aquilo. Minha cabeça vai a mil e a essa altura todo mundo do meu carro, a exceção do motorista, está olhando para aquela bela mulher que de forma simples mais provocante continua a subir sua roupa.

Como que acordado de um sonho bom, ou melhor, iniciando um pesadelo, aquela mulher simplesmente baixa a calcinha e sem a menor cerimônia faz um belo de um xixi. Meu queixo veio na altura do joelho ao ver cena tão difícil de imaginar no Brasil. A mulher que até pouco tempo eu estava fantasiando em conhecê-la tinha feito um xixi para todo o engarrafamento ver. Todo o meu encanto acabou.

Perguntei ao motorista sobre aqui, ele sem sequer virar o rosto, disse que aquilo era normal. De fato com o passar dos dias fui vendo que as mulheres fazem se a menor cerimônia xixi nas ruas. Diferentemente dos homens que pelo menos se escondem atrás de um poste ou muro, as mulheres baixam onde estiverem e fazem.

Cultura realmente é algo que pregar peças, xixi em Angola é assim, tudo muito normal e natural. Deve até ser legal, no meio de um engarrafamento da uma boa relaxada. Entretanto tenho que confessar, não é nada normal para mim, todo o encanto por aquela mulher foi por água abaixo, ou melhor xixi a baixo.

Ah, Rabo de Pato é um modelo de Corola da Toyota do tipo Hatch ou Hatchback se preferirem. Durante muito tempo foi o carro mais importando para Angola vindo da Europa. Ainda se vem muitos exemplares desse na rua, alguns novos outros nem tanto e alguns que deveriam estar parados a muito tempo. Logo acima da mala tem uma pequena saliência, tipo um pequeno aerofólio que por ser arredondado dá a impressão de ser um rabo de um pato.