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quarta-feira, agosto 15, 2007

Angola país com menor expectativa de vida segundo universidade de Washington

Questiono o resultado essa pesquisa. Angola que se encontra no período pós-guerra deve ter sido influenciada por dados anteriores 2002.

Diferente do que diz a matéria sobre os investimentos em saúde nos EUA, em Angola os investimentos em saúde são exemplares. O governo investe fortemente nos hospitais, reformas, modernização e melhoria de processos. Além disso, o que se vê são campanhas focadas no bem estar da população, como a contra a AIDS, e que são realizadas com grande esforço pelo governo.

Sobre o programa Angolano de luta contra a AIDS, posso falar com firmeza por conhecer bem, é elogiável e muito bom. A motivação e engajamento de todos que fazem esse programa tem que ser destacada. O INLS (Instituto Nacional de Luta contra a SIDA – www.angolainls.org) tem se destacado e investido pesado no combate a essa doença.

Tenho certeza que nas próximas pesquisas Angola vai subir consideravelmente de posição. Por enquanto, infelizmente, amarga a última posição.
Angola na cauda de estudo sobre esperança de vida Lusa
http://www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=16051

Angola é um dos países com menor esperança de vida no Mundo. Segundo o estudo do Instituto de Mediação e Avaliação da Saúde da Universidade de Washington, (EUA), Andorra, com 83,5 anos, Japão, Macau, Singapura e a República de São Marino lideram a lista dos países e territórios com maior esperança média de vida. Os Estados Unidos surgem em 42º lugar, posição que leva o responsável científico pelo estudo, Christopher Murray, a afirmar que «alguma coisa está errada quando um dos países mais ricos do mundo, um dos que mais investe nos cuidados de saúde, não consegue acompanhar outros países menos desenvolvidos.

A esperança média de vida também está relacionada com as taxas de mortalidade infantil e nos Estados Unidos, em cada mil nascimentos registam-se 6,8 mortes e entre os afro-americanos, a taxa sobre para 13,7, valor idêntico ao da Arábia Saudita. Os países com valores mais baixos no índice de esperança média de vida estão localizados na África sub-sahariana, regiões mais afectadas pelo vírus HIV/SIDA, pandemias e conflitos armadas.

De acordo com o estudo Suazilândia, com 34,1 anos, Zâmbia, Angola, Libéria e Zimbabué são os países com menor esperança média de vida.

terça-feira, julho 31, 2007

Huambo - A Cidade – Parte 3

A capital da província de Huambo tem o mesmo nome. Haviam me informado que Huambo tem aproximadamente 2 milhões de habitantes, pensei que fosse a cidade, mas na verdade é a província toda. Juntamente com a província de Bié, esta localidade foi a mais destruída pela Guerra. A máquina fotográfica está a postos para registrar tudo o que eu puder.

Já na saída do aeroporto vejo alguns galpões abandonados e sem o telhado. Percebo também muitas marcas de bala. Passamos por uma praça com algumas estátuas e nelas também é bem visível os buracos dos projeteis. Fico imaginando a loucura que foi isso a poucos anos atrás. Existem também prédios novos e sem nenhuma marca, vejo máquinas e material de construção por todo lado. Mais a frente fazemos um desvio, várias são as ruas sendo asfaltadas.

Huambo - Galpão abandonado


Passamos por uma grande praça totalmente restaurada. Infelizmente não consigo tirar uma foto, devido à posição do carro. No meio desta um grande obelisco e uma estátua que me disseram ser do Agostinho Neto. Viramos a direita e nesse momento consigo tirar uma foto de uma casa bastante destruída, com vários buracos. Essa parte da cidade parece estar menos restaurada, só vendo a imagem para entender do que estou falando.

Huambo - Casa das balas


Outras tantas ruínas e muitas, muitas marcas de bala. Passamos pelo banco nacional de Angola, que foi restaurado, realmente muito bonito. Uma passada rápida no hotel Nino para deixar as malas, tomar um banho e trocar de roupa e estou pronto para seguir para o treinamento.
Huambo - Ruina do Nova York Social


Huambo - Ruinas


No prédio onde os treinamentos ocorrerão, uma estrutura simples, mas limpa e organizada. Subimos duas escadas até o segundo andar. Lá aviso um prédio de uns 10 andares com a parte superior totalmente destruída. Disseram-me que foi um bomba lançada, a imagem impressiona.
Huambo - Bomba no telhado


Sou apresentado a turma, como são quase 15:00 h vamos almoçar. Um bom e velho bitoque é o prato do dia em um restaurante gerenciado por uma Portuguesa. Para quem não conhece o bitoque, este é um prato que em qualquer lugar de Angola pode ser pedido. Absolutamente qualquer birosca vende. Bife (ou prego se preferir), salada, arroz e batata frita, simples e gostoso.
Huambo - Turma do treinamento


Na volta já sigo para treinamento. A minha apresentação corre sem problemas, todos os alunos se saíram muito bem. No dia seguinte vamos continuar, está previsto o inicio as 8:30 h até as 12:00 h.

Volto para o hotel próximo as 18:00 h, combino com Sérgio de descansar um pouco e nos encontrarmos no restaurante do hotel as 19:30 h. Assim que Sérgio sobe para o seu quarto, coloco vou a rua rapidamente para dar uma espiada. Realmente esse não é o meu ambiente, não vou me arriscar a sair sozinho, melhor voltar para o quarto.
Huambo - Hotel Nino


Após tomar um banho deito na cama, coloco o despertador do celular só por garantia, essa foi minha salvação. Quase que instantaneamente pego no sono. Acordo com celular tocando, é hoje que eu jogo esse danado no chão. Chego a implorar para o aparelho por mais 10 mim. Marquei com Sérgio e não quero me atrasar. Saio da cama, quase que me arrastando. Outro banho está fora de cogitação, falta coragem. Lavo o cabelo e passo uma água no rosto, isso deve bastar. Coloco a calça jeans e sigo para o restaurante no térreo.

Sérgio já esta me esperando na mesa. Lá ele me disse que é por hábito encomendar a comida com antecedência. Sabendo disso ele deu um pulo à tarde e marcou para aquele horário um bacalhau, excelente escolha.

Já com a barriga cheia só consigo pensar na minha cama, que por sinal é muito boa. Nessa seqüência, tirar a roupa, deitar e apagar, ainda bem que já havia programado o despertador para o dia seguinte.

O segundo dia de treinamento foi novamente tranqüilo. Após a manhã com os alunos vamos almoçar em um restaurante muito simpático, aqui também é necessário encomendar a comida, assim vamos no bom e velho bitoque novamente.
Huambo - Restaurante Novo Império


Sérgio vai seguir para o Bié de carro e eu vou para o hotel. Comprei a minha passagem pela Air Gemini na tarde de ontem, pouco depois de ter chegado a cidade. Está marcada para a quinta-feira, amanhã.

As 15:00 h sou deixado no hotel e marco com o ponto focal, que vai me levar ao aeroporto, para as 9:00 h. Como não me arrisquei a sair sozinho, fiquei no hotel trabalhando até mais ou menos umas 19:00h. Já havia aprendido na noite anterior, assim, por volta das 16:00 h passei no restaurante e encomendei outro bacalhau, dessa vez apenas com legumes, bem ligth.

Ao chegar no quarto abri as janelas e fiquei pensando... Família, trabalho, amigos, Angola, Brasil, estudos, internet, PAN... Não sei ao certo quanto tempo fiquei refletindo, será que isso que é filosofar? Viajei eh??? Estou em África, como eles dizem aqui, faz parte. Fui acordado por um por do sol que invadiu o ambiente e meu coração com jeito de presente. Vermelho intenso a terra que cobre todos os cantos. Vou sempre lembrar do crepúsculo daqui, o mais lindo de todos, nem mesmo o de Brasília, Rio de Janeiro ou Fernando de Noronha tem o fim de tarde como o da África... Lindo.
Huambo - Por do sol


O jantar estava ótimo, muito gostoso mesmo. Batatas, cenoura, couve e o bacalhau, bem preparado, com pouca gordura, do jeito que eu gosto. Bem servido, após pagar a conta, subi para o quarto, sabia que iria pegar a estréia do basquete masculino no Pan. O jogo foi legal, depois foi só enrolar um pouco nos canais para esperar o sono chegar. Acerto o despertador e bons sonos.

quinta-feira, março 22, 2007

A cura da AIDS em Gâmbia

Yahya Jammeh presidente de Gâmbia
Realizando a cura da AIDS

As ditas curas milagrosas estão tão presentes no nosso dia a dia, mas desejamos no nosso íntimo que elas sejam verdade e por isso nos deixamos enganar. Só para citar algumas: dietas milagrosas, dinheiro fácil, igrejas que prometem resolver todos os seus problemas médicos e financeiros, etc... A lista é interminável.

O ser humano tem a necessidade de acreditar em alguma coisa e tem a tendência a querer tudo mais fácil, até ai bem lógico não? Não que as coisas boas não possam acontecer às pessoas, mas para cada coisa que cai no nosso colo uma outra centena tem que ser construída no dia a dia. Quer coisa mais fácil de fazer do que regime? Nossa mas como é chato e difícil.

Vez por outra aparece um irresponsável, com muito poder, ou desejando mais poder, e sai com uma proposta como a colocada abaixo. É verdade que as curas milagrosas por estarem nos desejos mais profundos do ser humano influenciam e fazem as pessoas se submeterem os caprichos dos ditos curandeiros. E afinal, isso não é poder?

Tire suas próprias conclusões o que parece ao leitor? Você concorda comigo?


Gâmbia


Líder de Gâmbia diz curar a aids
http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/19/int-1.93.9.20070319.11.1.xml

‘Tratamento’ com ervas, rezas e bananas deixa autoridades de saúde apreensivas

DER SPIEGEL, BANJUL, GÂMBIA

No único hospital da capital Banjul, pacientes com aids recebem diariamente sua dose de remédios: uma pasta verde, uma infusão de ervas amarelada e amarga, e duas bananas.

Este se tornou o tratamento para aids em Gâmbia, desde que o presidente Yahya Jammeh anunciou em janeiro ter descoberto a cura da doença num sonho. Segundo ele, seus ancestrais lhe revelaram a fórmula da infusão e da pasta compostas por ervas e especiarias. Jammeh afirmou ainda que entre 3 e 30 dias, os pacientes soropositivos tratados por ele estariam livres do vírus.

O anúncio de Jammeh chocou a comunidade médica internacional, que acusou o presidente de trazer falsas esperanças aos pacientes, que são obrigados a abandonar o tratamento com drogas anti-retrovirais. Atualmente no país, 1,2% da população adulta está infectada. A representante da ONU em Gâmbia, Fadzai Gwaradzimba, foi expulsa do país após exigir que os pacientes fossem examinados por especialistas internacionais.

Desde janeiro, Jammeh, um militar que chegou ao poder após um golpe em 1994, afirma ter curado nove pessoas e começou o tratamento de mais 30. A suposta cura da aids começa com Jammeh espalhando a pasta verde sobre o peito do paciente enquanto recita versos do Alcorão. O paciente então bebe o líquido amarelo e termina o ritual comendo duas bananas. Apesar das críticas, pacientes de Jammeh insistem que o tratamento funciona. Para Ousman Sowe, “é como se o presidente tirasse a dor do meu corpo”.

Yahya Jammeh presidente de Gâmbia
Realizando a cura da AIDS

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Teste de HIV / AIDS e vistos para Angola

A primeira vez que ouvi sobre o assunto me espantei, como um país pode condicionar a concessão de vistos de entrada mediante a apresentação de teste de HIV. Após algum tempo em Angola pude perceber que a considerar a mentalidade do país isso não é em nada um disparate. Longe de mim fazer juízo de valor, contudo as minhas convicções são totalmente diferentes dessa prática. Ora, uma pessoa contaminada com o vírus da HIV, que não necessariamente está doente, deve ser tratada da mesma forma que uma pessoa que não possui o vírus.

No Brasil é proibida por lei a discriminação em caso de pessoas soro positivo. Os direitos e deveres de ir e vir são exatamente iguais para a pessoa que possui e a que não possui o vírus.

O Angolano que pensar em defender o ponto de vista do governo basta apenas refletir sobre a seguinte questão. É sabido que a África tem alta incidência de HIV/AIDS na população, assim, o povo de Angola deve ser visto com distinção por causa disso? Deve ser dificultado o direito de ir e vir desse povo por conta desse conceito ou preconceito, como preferir?

O fato é que para se solicitar hoje um visto de trabalho para o país é necessário anexar um exame de HIV. Obvio que se é pedido, no caso de um resultado de contaminação, o visto pode será negado.

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Teste de HIV condiciona concessão de vistos de entrada para Angola Angolense (Elsa Alexandre)
www.angonoticias.com/full_headlines.php?id=13566

As embaixadas angolanas representadas em vários países exigiram aos participantes do primeiro acampamento lusófono dos Direitos Humanos, decorrido recentemente em Luanda, a apresentação de resultado do teste de VIH como condição imprescindível para receber o visto de entrada no país

Não se sabe de onde procede tal ordem, mas segundo os envolvidos essa situação vem agravar as dificuldades de concessão de vistos e ofende directamente os direitos humanos.

"Tive bastantes dificuldades para consiguir o visto, pois eles não nos tinham avisado que para nos concederem a autorização de entrada teríamos de fazer o teste", contou Arminda, activista pelos direitos humanos de nacionalidade moçambicana.

A mesma disse ainda que não lhe foi explicado o motivo daquele comportamento, o que a fez concluir que caso o seu resultado fosse positivo ela seria privada de viajar.

Os participantes do acampamento que se debruçou sobre a situação dos direitos humanos ficaram horrorizados com aquela revelação, não tendo compreendido os verdadeiros motivos para que as embaixadas, que presumivelmente deveriam estar totalmente informadas sobre os direitos do homem e dos seropositivos, agissem dessa forma.

Segundo nos informou Daniela Ikawa, coordenadora de uma organização não governamental brasileira, na embaixada de Angola no Brasil já é habitual esta prática. "Já há algum tempo que eles pedem o resultado do teste para darem o visto", realçou.

Mais adiante realçou que desconhece o caso de algum solicitante de visto que tenha apresentado resultado positivo, pelo que desconhece qual será a reacção da embaixada neste caso. Ainda assim arrisca: "Não duvido nada que eles não permitam que essa pessoa viaje", afirmou.

Segundo a Carta Angolana sobre VIH e Direitos Humanos "todas pessoas seropositivas têm direito a liberdade e o Estado não pode privá-las desse direito pela única razão de serem portadores do VIH".

Ainda segundo o artigo terceiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos "Todo indivíduo tem direito à vida, liberdade e segurança pessoal".

Já o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direito".

Com vista a eliminação de toda forma de desrespeito aos Direitos Humanos, associações de luta pelos direitos do homem encaminharam uma carta ao Director da Unidade Técnica de Coordenação da Ajuda Humanitária, bem como aos Ministérios de Relações Exteriores, Reinserçao Social e aos Serviços de Migração e Estrangeiros a denunciar tais procedimentos.

De realçar que não há notícia de que embaixadas acreditadas em Angola exijam a apresentação de teste de HIV para concessão de vistos.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Matéria na Carta Capital sobre projeto de combate a Aids do INLS – Instituto Nacional de Luta contra a Sida

Na última edição de dezembro da Carta Capital foi publicada uma matéria sobre o programa Angolano de combate a Aids e de seu coordenador geral o Sr. David Uip. Nessa entrevista é possível se ter uma dimensão do meu trabalho e o contexto que estou inserido. Só para lembrar faço parte desse grupo sendo contratado para desenvolver os sistemas informatizados que vão dar apoio a todo esse programa.

www.cartacapital.com.br/edicoes/2006/12/424/em-luta-contra-a-aids


Em luta contra a Aids

por Riad Younes

Um grupo de médicos brasileiros desenvolve há três anos um ousado projeto em Angola. Eles já conseguiram mudar a realidade da síndrome no país, como relata o mentor do trabalho, David Uip

Apesar de todos os avanços, ainda hoje mais de 30 pessoas morrem por dia, no Brasil, em conseqüência da Aids. Houve melhora no tratamento da doença, como os novos medicamentos cada vez mais eficazes. Quanto à prevenção, o mundo ainda não descobriu a forma mais adequada de enfrentar esse problema. Tanto em países do Primeiro Mundo quanto no Brasil, a situação ainda é preocupante. O problema é pior em países subdesenvolvidos, como no continente africano. Apesar dessas notícias, os brasileiros têm conseguido ajudar outros países na implantação de programas eficientes para a Aids.

Há três anos um grupo de médicos, enfermeiros e gestores brasileiros, liderado pelo infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, David Uip, iniciou um projeto ambicioso em Angola. O objetivo era auxiliar o Ministério da Saúde daquele país a controlar a epidemia. A luta contra a Aids em Angola era precária, semelhante à de seus vizinhos do continente. Hoje, Angola é reconhecida pela ONU como um dos quatro países da África com melhor estrutura contra a doença. O avanço é significativo e os números que Uip mostra a seguir impressionam.

Entre 2004 e 2006, houve aumento de 1.000% no número de unidades de atendimento implantadas no país, de 2.000% no número de gestantes atendidas e de 1.800% na cobertura pré-natal. Uma verdadeira revolução em pouco mais de três anos. “A associação entre o grupo brasileiro e os médicos e autoridades de saúde angolanos produziu resultados que realmente nos orgulham”, afirma Uip.

Na entrevista a seguir, ele fala sobre esse projeto, as dificuldades e conquistas, além da possibilidade de aplicação desses mesmos métodos em outros lugares no mundo.

CartaCapital: Como foi concebido esse projeto?
David Uip: Pensamos em um projeto de grande potencial e de grande impacto. Desde o início optamos pela estratégia de cortar a transmissão vertical da Aids, ou seja, a transmissão de mãe para filho recém-nascido durante a gravidez e/ou o parto. Focalizamos nossa atenção na mãe, no parceiro e no filho.

CC: Essa via de transmissão de mãe para filho é freqüente?
DU: É muito freqüente e constitui um problema de saúde pública, principalmente na África, onde em alguns países essa transmissão pode atingir 50% dos recém-nascidos.

CC: Qual é a porcentagem de transmissão de mãe para filho no Brasil?
DU: Dados oficiais do Ministério da Saúde detectaram uma redução para 8% no Brasil. Mas, em alguns lugares afastados ou no interior, essa taxa pode atingir até 12%, o que considero muito elevada.

CC: Qual seria a taxa considerada ideal, ou pelo menos aceitável?
DU: Menos de 1%.

CC: Qual foi o impacto desse projeto sobre a transmissão vertical em Angola?
DU: Os dados mais recentes liberados pelo Ministério da Saúde de Angola mostram que apenas 4% dos casos de Aids são devidos a esse tipo de transmissão.

CC: No que se baseia esse projeto?
DU: Ele disponibiliza, nas diversas regiões de Angola, não somente na capital, Luanda, centros que se dedicam à educação continuada da população, a programas de seguimento pré-natal rigoroso, a métodos diagnósticos mais precisos e a medicamentos para tratamento de casos de HIV. Recomenda-se hoje que, feito o diagnóstico de uma mãe com Aids, imediatamente se inicie o seu tratamento durante a gravidez.

CC: Houve dificuldades na implantação das recomendações internacionais para Aids em Angola?
DU: Muitas. Por exemplo, recomenda-se que o parto de mulheres portadoras de HIV seja realizado com muito cuidado, inclusive favorecendo as cesáreas, além de se evitar a amamentação. Em Angola tivemos de “ambientalizar” esse processo.

CC: Como?
DU: Por exemplo, não eliminamos o leite do peito por causa das condições culturais e sociais regionais. A cesárea também não foi preconizada de um modo uniforme em todo o país. Nas regiões onde a cesárea era de alto risco ou realizada em condições precárias e com taxas de complicações elevadas, esse procedimento não foi recomendado. Assim mesmo atingimos uma redução drástica na incidência de Aids nos recém-nascidos, baixando para 4%.

CC: Por que, no Brasil, estamos tão acima dos resultados de Angola?
DU: Provavelmente, pelas dimensões do País, pelo número de habitantes. Em resumo, por problemas de acesso da população aos programas eficientes. O desafio, na realidade, é criar condições para que haja maior acesso tanto à prevenção quanto aos tratamentos pela população brasileira.

CC: Como vocês começaram o projeto em Angola?
DU: Na verdade, em Angola, já existiam mais de 40 grupos e ONGs tentando, há anos, criar projetos para controle da Aids, sem muito sucesso. Fui convidado pelo governo angolano inicialmente para criar um projeto que coordenaria a ação dos grupos e organizações já em atividade no país. Mas percebi que o foco deveria ser diferente. Apresentei, então, o nosso projeto, que foi bem aceito. Tanto que o presidente de Angola assumiu-o como prioridade de seu governo.

CC: Quantas pessoas trabalham no projeto atualmente?
DU: Temos seis médicos e quatro enfermeiros brasileiros, além dos médicos e enfermeiros angolanos. Quatro dos seis médicos e as quatro enfermeiras moram em Angola. São pessoas de grande coragem e que merecem todo meu respeito.

CC: Quais os segredos do sucesso do projeto?
DU: Vários fatores ajudaram, como centrar a atenção numa parcela definida da população de risco, a mãe e o filho. Também criar um consenso na terapêutica viável em Angola, ambientalizar maternidades para atendimento adequado de doentes de risco e estabelecer a cultura do cuidado pré-natal e do parto assistido. Até 2003, em Angola, um grande número dos partos era realizado fora de centros médicos, em casa. Treinamos médicos e enfermeiros angolanos no cuidado com a Aids em programas de intercâmbio com instituições no Brasil, como o Hospital das Clínicas da USP, o Hospital Sírio-Libanês e a Fundação ABC. Trabalhamos com educação e conscientização continuada na população e criamos um banco de dados contínuo para avaliar os resultados. O mais importante foi criar um programa com objetivo e fim claros. E o projeto de transferência de know-how para a medicina angolana.

CC: E como vocês faziam para prevenir a infecção das mães?
DU: Nosso projeto conseguiu instalar um programa abrangente de distribuição de preservativos. Entre 2000 e 2004, foram distribuídos 2,4 milhões de preservativos. Somente no ano de 2005, conseguimos distribuir 2,6 milhões. Em 2006, até outubro, já foram distribuídos 9,6 milhões. É um aumento impressionante.

CC: Como foi a repercussão do projeto?
DU: Os resultados recentes, que estou divulgando a CartaCapital em primeira mão, atestam claramente os avanços. Há poucos dias, nosso projeto em Angola foi muito comentado pelo ONU-Sida (o programa de Aids das Nações Unidas), que destacou Angola como um dos quatro países africanos que mais avançaram em 2006 no tratamento da Aids.

CC: Esse projeto pára por aí?
DU: Desde a sua concepção, queríamos um projeto com início, meio e fim. Não seria eterno. Agora, entregaremos essa estrutura para os médicos angolanos. Mas temos para o futuro outros projetos semelhantes, para tuberculose, malária e leptospirose. Também já fomos contatados por outros países da região.

CC: O projeto atual teve ligação com o Ministério da Saúde do Brasil?
DU: Não. No entanto, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa disponibilizou tratamento para cem pacientes angolanos gratuitamente.

CC: Os senhores tiveram algum contato com o setor privado brasileiro?
DU:
Não para esse projeto. Mas existem muitas empresas internacionais brasileiras que nos têm procurado para ajudá-los a montar projetos sociais, que hoje são uma exigência como contrapartida de empresas multinacionais que queiram se instalar em um país da África. Poderemos ajudar muitas empresas brasileiras a cumprir essa obrigatoriedade de projetos sociais.


Uma vacina pode não ajudar

Especialista alerta para o risco de agravamento da epidemia

Encontrar uma vacina para Aids não necessariamente significaria a diminuição do número de pessoas infectadas ou o controle da disseminação da doença. Parece um contra-senso, mas não é. “Dependendo da eficiência da vacina encontrada, ela pode até aumentar a incidência de Aids na população, em vez de diminuí-la”, declara o professor da Faculdade de Medicina da USP e líder de um grupo de estudiosos ligados ao Departamento de Informática Médica, Eduardo Massad. Nesse grupo, calcula-se o valor da prevenção através de estudos de modelos matemáticos aplicados a problemas de saúde pública, principalmente a estratégias de vacinação.

Pensando de forma simplista e intuitiva, tendemos a acreditar que, mesmo que uma vacina proteja apenas 20% dos vacinados, serão 20% menos pessoas infectadas. Automaticamente, pensamos, haverá um impacto na redução do número de aidéticos alguns anos depois. Mas não é bem assim. Uma vacina com baixa eficácia (como os 20% do exemplo) pode, na realidade, aumentar a incidência de Aids exatamente porque a pessoa vacinada se sentirá “protegida”. Mesmo não sabendo ao certo se está ou não imune ao vírus, ela tenderá a acreditar que está a salvo. Diante disso, os modelos matemáticos criados pela equipe de Massad conseguem quantificar o prejuízo teórico de uma vacina pouco eficaz na população. “A pessoa com a falsa sensação de segurança tende a ter maior comportamento de promiscuidade”, explica Massad. Haveria um relaxamento no cuidado e na prevenção. “O primeiro prejuízo seria o efeito desinibição”, explica o médico.

Estudos recentemente publicados pela equipe de Massad demonstram claramente o provável efeito nocivo, não somente de uma vacina pouco eficaz, como também de remédios pouco eficazes no tratamento da Aids. Somente quando se introduziu a associação de novas drogas contra o HIV foi possível realmente reduzir a carga viral no indivíduo infectado e, portanto, a probabilidade de infectar outra pessoa.

Com os tratamentos sub-ótimos iniciais, os modelos matemáticos desenvolvidos por Massad previram o que realmente acabou acontecendo. Os portadores de HIV vivem mais, sentem-se melhor, têm mais relações e com mais pessoas. Porém, sem perceber, ainda tinham uma carga viral no sangue suficientemente elevada para passar a doença para a frente. Assim, o número de novos infectados aumentou em vez de diminuir. As equações recentemente publicadas pelo mesmo grupo de estudos comprovam a possibilidade de uma vacina ou um tratamento pouco eficaz também modificar a virulência do vírus. O fator desinibição pode levar à troca mais freqüente de parceiros e, dessa forma, aumentar a possibilidade de infecção com cepas de HIV resistentes aos tratamentos atuais.

Assim, a bênção de tratamentos e de vacinas que protegem algumas pessoas pode transformar-se em uma espécie de maldição. Massad explica: “As autoridades da saúde pública ainda têm um planejamento precário. Continuam adotando programas baseados em premissas antigas e teorias obsoletas. Infelizmente, essas discussões e modelos não têm sido levados em consideração. A racionalização dos tratamentos, das vacinas e das campanhas poderia ter uma eficácia bem superior se todas as variáveis fossem levadas em conta no momento de estabelecer uma política de prevenção da Aids”.