Sunday, August 2, 2009

Carta à revista Crescer em Família - Edição especial Nutrição Infantil

Ao ler a edição especial da revista Crescer em Família - Nutrição Infantil, na página 12 - "À descoberta de novos sabores" - "O início das papas", está escrito:
"O leite materno deixa de ser satisfatório, por si só, para o bebé aos quatro meses."

Considero verdadeiramente inacreditável e inaceitável um ERRO desta natureza, numa revista que pretende informar e, informar em contexto actual.

A Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno EXCLUSIVO até aos 6 meses de vida do bebé, porque este satisfaz TODAS as suas necessidades até esta idade.

É verdade que a maioria das mãe, retoma a sua actividade profissional aos 4 meses e que, por este motivo, e provavelmente, também por ignorância, é nesta altura que introduzem outros alimentos. No entanto existem soluções para poder continuar a amamentar exclusivamente até aos 6 meses de vida, soluções essas que são pouco publicitadas ou incentivadas. Eu fui mãe há 8 meses e comecei, como tantas outras, a trabalhar a partir do 4º mês da minha bebé e, em tempo útil, organizei me e informei me de como poderia continuar a amamentar em exclusivo até aos 6 meses e obviamente a continuar a dar de mamar, após a introdução de outros alimentos. Foi possível. Consegui. Não conheço mais ninguém que o tenha feito, mas talvez sejam esses os testemunhos a procurar e a divulgar para incentivar outras mães a fazê-lo, não só porque é recomendado pela OMS, mas acima de tudo porque é o melhor para o bebé.

Agradeço que façam corrigir o erro junto do público.

Cláudia Viegas

9 comments:

  1. Querida Cláudia: agradeço esta tua intervenção pois como sabes, apoio totalmente a tua posição que aqui reitero.

    Ainda há pouco tempo no âmbito do evento em Oeiras "Barrigas de Amor" fiz duas palestras sobre a alimentação na gravidez/alimentação infantil onde partilhava que a diversificação alimentar será feita pelos 4º/6º mês consoante as limitações disgestivas e metabólicas, pelo que o período lácteo, líquido, poderá ser até ao 6º mês. Depois disso, temos a diversificação progressiva e entra-se no período pastoso; deve ser feita consoante as possibilidades bucais (orofaringeais e dentárias) até ao 12º mês, onde entretanto se incluirão pedaços. Assim também se evitam as questões das intolerâncias alimentares, tal como na introdução precoce do glúten.

    Nesta viagem faz-se a introdução do doce, ácido, salgado e amargo, nesta ordem tipicamente (atenção: sendo o "doce" o da lactose!) Finalmente deixo uma recomendação de leitura sobre tudo isto: o livro do pediatra Mário Cordeiro "O Grande Livro do Bébé".

    Melhores cumprimentos, e obrigada de novo, Cláudia!
    beijinhos,
    Madalena Muñoz

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  2. Acrescento a posição institucional da American Dietetic Association, de que sou membro, sobre amamentação:
    "It is the position of the American Dietetic Association (ADA) that exclusive breastfeeding provides optimal nutrition and health protection for the first 6 months of life, and breastfeeding with complementary foods for at least 12 months is the ideal feeding pattern for infants."
    Madalena Muñoz

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  3. Por falar em amamentar, na relação da mãe com o bebé, que dicas úteis podes partilhar enquanto mãe-que-amamenta e dietista? Há quem desista porque pensa que o leite não é bom ou suficiente... etc.
    Obrigada,
    Madalena Muñoz

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  4. Concordo inteiramente contigo no que se refere ao Livro do Mário Cordeiro. Como mamã novata, foi uma das minhas bíblias, pré e pós parto. Muito fácil de ler e muito informativo. Aproveito para recomendar ainda o "Seis meses para a vida", sobre os estímulos e o desenvolvimento nos primeiros seis meses, onde se procurar acabar com alguns mitos terríveis como o "não dar colo" que se habituam. Eu pergunto a toda a gente. Quem é que não gosta de colo ? Eu gosto de colo ! E como é que um bebé recém-nascido, aprende o conforto e a segurança e que há sempre alguém que nos atende quando precisamos, se quando ele chora não o seguramos ao colo ?

    E falando de mitos, insisto na questão do aleitamento materno. Eu, que peso 55 Kg, com o meu metro e setenta de altura, fui várias vezes olhada "de lado" e interrogada, "... então e tão magra, o seu leite é bom ?". Este mito do leite que não é bom, do leite que não alimenta... é terrível... e completamente errado ! TODAS AS MÃES TÊM LEITE PARA OS SEUS BEBÉS e o leite é SEMPRE BOM. Aquilo que pode acontecer é deixar de ter leite, ou não ter leite em quantidade suficiente, mas são situações pouco comuns, que se tornam vulgares, porque à primeira dificuldade (ou suspeita leite fraco) desistem logo de dar de mamar. E o estímulo para a produção de leite é a sucção do bebé. E nada mais. O bebé tem fome ao fim de 30/45 minutos ? Dá se de mamar outra vez (e consequentemente estimula-se mais a produção de leite) e assim sucessivamente. Além disso o estômago do recém-nascido tem 20 a 30 ml de capacidade... o que é quase nada, pelo que é normal que nos primeiros tempos ele tenha fome e mame frequentemente... Às vezes 12, 14 vezes por dia. E é preciso não esquecer que um dos principais factores para a inibição da produção de leite é o stress, o Dr. Mário Cordeiro refere-o várias vezes no livro e pede aos pais que afastem os diversos factores de stress, em particular no período do nascimento do bebé (visitas, confusões e afins)...

    E aproveito para deixar ainda a nota de que quando se diz que o aleitamento materno é mais prático, penso que a maioria das pessoas não tem noção do que isto quer dizer. Eu estive doente há cerca de duas semanas e durante 24 horas não pude dar de mamar por causa de um medicamento que tive de tomar. Nessas 24 horas a Matilde continuou a beber o meu leite (tenho sempre congelado em stock) e durante o dia dia tudo funciona bem, mas à noite ela acorda a chorar para comer e ainda é preciso retirar do frigorífico, aquecer a água do banho maria, esperar que acabe de descongelar, esperar que aqueça... enfim... eu não imagino o que é acordar todas as noites e ter de preparar biberões de leite... porque eu acordo, deito a ao meu lado e já está...

    Cláudia Viegas

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  5. Gostava de deixar aqui o meu testemunho, porque também amamentei em exclusivo o meu bebé até aos 6 meses.
    Não foi fácil, mas valeu apena.
    Tive a sorte de estar a trabalhar num local em que gozei realmente da redução de horário de 2 horas diárias (e sei que isto nem sempre acontece).
    Assim, o meu bebé acabou por só ter de tomar uma refeição sem mim (almoço).
    Durante esse período e até ele ter quase 1 ano, gastava a minha meia hora de almoço a retirar leite com uma bomba eléctrica da Medela. Acreditem que no início era complicado, monopolizava a única casa-de-banho feminina existente no meu Serviço e o ruído causado pela máquina causava-me alguns embaraços... Passado uns tempos, já nem me preocupava. Aprendi a relaxar e levava uma revista para ler.
    Mesmo assim, muitas vezes retirava também leite a meio da noite, para conseguir retirar os cerca de 300 ml que ele bebia.
    Desejo a máxima sorte a todas as mães que o pretendam fazer... Não só amamentar em exclusivo até aos 6 meses, mas sobretudo continuar a amamentar após os 4 meses. Porque há muitas mães que desistem por completo quando começam a trabalhar.
    Os laços que se estabelecem com o bebé compensam infinitamente todo o esforço que isto representa.

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  6. Obrigada pelo seu contributo. Eu também andei de bomba (e ainda ando)... para continuar a amamentar a minha pequenina...
    Felizmente trabalho num gabinete fechado, com apenas 3 pessoas, onde temos um microondas (para esterilizar a bomba) e um mini-frigorífico (para conservar o leite). Penso que acima de tudo deve existir vontade. Tudo o resto vem por acréscimo...
    Cláudia Viegas

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  7. Gostaria de deixar o meu testemunho...
    Infelizmente, já saí da maternidade a dar suplemento à minha bebé, pois a produção (julgo que por causa do stress) não era suficiente para a alimentar dentro dos parametros de crescimento pediatricos estipulados, mas tive o apoio familiar/médico para continuar a amamentar para "retardar"/evitar alergias alimentares que ela tinha tendência. O objetivo era amamentar até ela fazer 1 ano, com a introdução de novos alimentos nas sopas muito lentamente e de forma muito vigiada. A verdade é que acabei por amamentar muito mais tempo, pois quando chegou aos 8/10 meses achei que a batalha já estava ganha, deixei de me preocupar se o leite iria ou não secar e não secou, muito pelo contrário! Amanentei até ela ter todos os dentes, andar e pedir... Coincidência ou não, nunca tomou um antibiotico ou esteve doente durante o tempo em que a amamentei e menos de um mês depois de parar já estava constipada/tosse/garganta e com antibiotico. Resumindo: fácil não foi, mas valeu a pena o "investimento" em saúde para ela!

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  8. Fui mãe pela 2ª vez à 4 meses e meio.
    Do primeiro filho introduzi as papas por esta altura, a conselho do pediatra, pois começava a trabalhar e ele ía para a creche. Essa refeição em que ele não mamava eu tirava o leite com a bomba e dava para a próxima. Levava para a creche e elas davam lá o biberão. Consegui amamentar até aos 16 meses.
    Deste filho e com o mesmo pediatra falou-se em alongar o período de amamentação exclusiva o máximo possível. Mas como começo a trabalhar e ele também vai para a creche, com o irmão, acho que tenho que introduzir a papa uma semana antes dos 5 meses. Para assim poder retirar o meu leite com a bomba e levar para a creche…tal como fiz com o irmão.
    Estou para aqui a tentar arranjar uma solução e por isso gostava que a Drª. Cláudia partilhasse comigo como o conseguiu…como conseguiu ter leite “extra” para dar ao bebe quando não estava com ele? O meu bebé ainda mama de noite, não sei se consigo fazer stock do meu leite 
    Parabéns pelo blog esclarecedor, esta 2ª opinião nunca é demais.

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  9. Olá
    Aqui fica parte do meu testemunho e experiência que escrevi para o Cantinho da Amamentação do CS de Alcochete. Espero que ajude.

    Algumas semanas depois da Matilde nascer, e como o tempo passa de facto muito rápido, comecei a tentar operacionalizar como iria continuar a amamentar depois de começar a trabalhar. Falei sobre isto à pediatra, que me recomendou a bomba manual da Avent, e que me disse que se eu conseguisse era muito bom.

    A 1ª etapa foi adaptá-la ao biberão. Nos primeiros meses a Matilde ficava satisfeita com apenas uma mama e eu comecei por tirar um pouco do leite da outra mama para iniciar a mamada seguinte. Foram necessárias 4 tentativas para que ela chuchasse no biberão. A textura da tetina é diferente da mama e ela estava muito bem adaptada à mama.

    Quando chegamos ao 3º mês, comecei a tentar analisar o padrão das mamadas para começar a fazer stock de leite para o primeiro dia de trabalho. Ela mamava 7 a 8 vezes por dia
    ao acordar (7/8h)
    meio da manhã (10/11h)
    almoço (13/14h)
    à tarde (16/17h)
    antes de dormir (18h30/19h30)
    à noite - às 22h/23h
    de madrugada - às 2/3 e às 4/5 (estas horas variavam bastante)

    Verifiquei então que precisava de 3 biberões para o período em que estava fora no trabalho (entre as 8h30 e as 18h30) mais 2 ou 3 para ter de reserva, caso ela quisesse mamar mais num determinado dia.

    Normalmente ao fim de semana, de manhã, depois de ela mamar de uma mama , eu tirava a outra (120-140 ml) e congelava. Fiz isto durante cerca de um mês e meio, de forma a ter 6 biberões de leite congelado. Durante este mês e meio, fiz também a adaptação da Matilde na ama, deixando-a ficar durante uma manhã ou uma tarde. Nesses dias, usava um dos biberões congelados, e a mamada correspondente que ela não fazia, eu tirava para repor o stock.

    No primeiro dia de trabalho, deixei na ama 3 biberões (no frigorífico para descongelar), para as mamadas das 10/11, 13/14 e 16/17 e mais um que se manteve em congelação para uma emergência, caso ela quisesse mamar mais, ou caso eu me atrasasse a vir do trabalho.

    No trabalho, às horas correspondentes, tirava cerca de 15/20 minutos para retirar o leite, que colocava no frigorífico e depois transportava e deixava para o dia seguinte. À sexta feira, quando chegava a casa, congelava o leite. Na segunda feira seguinte, retirava do congelador o leite que estava congelado há mais tempo.

    A quantidade de leite a extrair era combinada com a pediatra de acordo com o peso da Matilde (Peso x 150 / numero de mamadas diárias; ex: 6 Kg x 150 / 8 = 112,5 ml → eu retirava sempre 10 a 20 ml a mais).

    Há dois aspectos que são essenciais controlar / ignorar. O primeiro é o controlo do stress. O stress inibe a produção de leite, pelo que acima de tudo devemos mudar o nosso ritmo, trabalhar sim, mas redefinir prioridades. Digo isto porque eu era uma viciada em trabalho - agora sou mais controlada, porque de facto os filhos mudam a nossa vida e passam a ser a nossa prioridade número um. E dar leite materno à Matilde é a minha prioridade no que se refere a cuidar da Matilde. É o melhor que eu lhe posso dar. O segundo é resistir / ignorar à pressão silenciosa das pessoas que nos rodeiam, que muitas vezes pensam que aquilo que estamos a tentar fazer é um preciosismo não justificado. Aquilo que eu verifico é que as pessoas se preocupam com imensas coisas nos bebés que por vezes não são verdadeiramente importantes, mas aquelas que de facto podem ter um impacto muito grande na sua vida futura, como a questão do aleitamento materno, não é dada a devidamente importância e, por vezes senti, quase que uma censura, por ainda estar tão preocupada em dar o meu leite à Matilde e ter tanto “trabalho” e “logística” para o conseguir fazer.

    Admito que sim, é preciso algum trabalho e alguma logística e organização, mas faço-o com tanto PRAZER e com tanta vontade e dedicação que tudo o resto se torna secundário.

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