No meio da confusão, senti-me perdida.
Procurei-me entre anseios e desejos palpitantes.
Por lá encontrei apenas meros vislumbres de mim.
Só me restava procurar nas memórias esquecidas.
Corri, corri, corri.
Senti o meu corpo a fugir e o fôlego a acabar.
Por fim, cheguei.
Entrei na casa onde cresci e quase não a reconheci.
Não encontrei o quarto de bonecas e o pátio onde fingia ser ora médica, ora professora.
Sentei-me e fechei os olhos com força, não conseguia continuar sem ver nada.
Nunca gostei de fechar os olhos, mas naquele momento a escuridão confortava-me.
O tempo realmente passa.
Apercebi-me que a idade talvez seja um pouco mais do que um número, como eu sempre disse.
Afinal a idade pesa, senti-me quase afundar.
O meu coração batia aceleradamente em todo o meu corpo.
Estava sozinha, mas quem me dera ter alguma companhia naquele momento.
A verdade é que a idade também isola, senti-me quase numa ilha.
Fiquei imóvel e o tempo todo passou por mim em poucos minutos.
Não podia ficar ali à espera de um milagre, à espera de recuperar o que já não volta mais.
Voltei eu à realidade.
Levantei-me e procurei a saída, de olhos postos no chão.
Saí, levantei o olhar e uma luz quente e intensa abraçou-me.
Segui, agora numa caminhada calma.
Não vale a pena olhar para trás e procurar o que fomos.
Vale sim a pena olhar em frente e usufruir do que somos.
*