Acho que a vitória do Braga, hoje, é boa para o Benfica.
A minha lógica é relativamente simples: para o Benfica, ficar em segundo depende sempre de ganhar ao Braga em casa, e não ganhar ao Braga em casa implica ficar em terceiro no campeonato, independentemente de como o Braga chegasse ao jogo da Luz. Não acredito que o Braga ganhe ao Porto e ao Sporting, o que significa dois maus resultados, pelo menos, até ao fim do campeonato. Em caso de vitória frente ao Braga, o Benfica até pode perder em Alvalade, que as hipóteses de não ficar em segundo são mínimas.
Para o Benfica (e isto sempre na perspectiva do Benfica ganhar no próximo fim-de-semana, caso contrário toda esta conversa é fútil) uma vitória do Braga implica que, mesmo perdendo na Luz, o Braga chega ao jogo em casa, com o Porto, a um ponto do Porto. Isso quer dizer que, se ganhar ao Porto, o Braga não só fica à frente do Porto como, provavelmente, fica em vantagem no confronto directo, uma vez que marcou dois golos nas Antas – e isto quando o Porto ainda tem de ir à Madeira, jogar com o Marítimo, e receber o Sporting (um jogo sempre imprevisível) nas quatro jornadas que faltam.
Ou seja, com os resultados deste fim-de-semana o Braga ganhou combustível para lutar pelo título, pelo menos, até ao jogo com o Porto – e só o perderá se perder os dois jogos que se seguem. E esse jogo com o Porto passou a ter uma importância decisiva para a classificação final do Braga neste campeonato.
Resta dizer que, para o Benfica, seria quase desastroso acabar esta época em terceiro lugar. Penso que quando chegarmos ao fim da época identificaremos três factores especialmente importantes para a perda de um campeonato que, até Dezembro, estava setenta por cento ganho:
- ter começado a época um mês antes dos outros, o que, se por um lado lhe permitiu começar melhor a época e ir, por exemplo (creio eu), empatar às Antas, também lhe roubou, claramente, fôlego no inverno;
- ter avançado na Champions acima das expectativas, ao contrário dos seus dois principais rivais (que vão, por isso, chegar a Abril com menos seis ou sete jogos a sério nas pernas e na cabeça;
- não ter conseguido, em Janeiro, acrescentar um ou dois lugares de profundidade real ao seu plantel, nomeadamente com um defesa central que ermitisse não ter de jogar com o Jardel e um bom extremo, com gás suficiente para abrir, por si só, pelo menos um jogo daqueles que o Benfica empatou a zero, nomeadamente em Coimbra ou em Olhão.
Se acabar em segundo, o primeiro destes problemas fica resolvido. Se acabar em terceiro, as hipóteses de fazer uma época em crescendo, a chegar relativamente bem aos últimos jogos, ficam praticamente eliminadas logo de início.
Também resta dizer que os gajos do Braga estão todos cagados por terem chegado a primeiro. Bastou olhar para as caras deles.
Sempre quero ver como é que se vão comportar na Luz. Mas até adivinho que vaiser o Benfica-Braga mais fácil, para o Benfica, dos últimos anos. Wait and see…
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Num assunto relacionado, assisti a uma boa parte do jogo do Granada com o Sevilha. Para ver o Franco Jara, só por curiosidade.
Como é que um jogador que é apenas igual aos outros numa equipa de fundo da tabela de Espanha, que não mostra nenhuma característica distintiva, que não se destaca, pode fazer parte das soluções de um clube como o Benfica?
De que é que estamos a falar?
Que espécie de lógica é que nos leva a considerar, sequer, a hipótese de ter um jogador assim no Benfica?
Só pergunto isto porque a lógica do Jara é a mesma lógica do Emerson, do Jardel, do Capdevilla, do César Peixoto, do Bruno César e de tantos, tantos outros ao longo dos anos.
Só há uma hipótese racional de um jogador assim servir para o Benfica: estar completamente subvalorizado por uma questão conjectural, como uma lesão ou uma zanga séria com o clube em que esteja. O que é raríssimo.
Vamos colocar as coisas dentro da perspectiva certa: para se jogar no Benfica, não serve, por exemplo, um suplente do Braga, nem serve sequer um titular do Braga – serve um jogador CLARAMENTE MELHOR QUE OS OUTROS no Braga, ou em qualquer outro clube à excepção dos que joguem nas 15 ou 20 melhores equipas do mundo. E isto tendo 18, 23 28 ou 33 anos. Que tipo de mais-valia real é que pode trazer para o Benfica, de facto, um suplente do Corinthians, um suplente do Villarreal ou um tipo que não consegue sequer acabar um jogo no Granada sem se distinguir dos outros?
Isto não é ser simplista – isto é senso-comum.
Um Emerson, um Capdevilla, um Jardel, um Bruno César (Não me lixem com o Bruno César, ok? Só não é um jogador vulgar porque está no Benfica. Se vocês o vissem a jogar no campeonato brasileiro era igual a mais 100 gajos) só estão, no Benfica, a fazer duas coisas: a ocupar um lugar que não lhes pertence, impedindo que outros melhores lá estejam, e a consumir recursos.
Como um clube resiste a uma política de contratações tão displicente e tão estúpida (é a única palavra que me ocorre para a repetição dos mesmos erros nas mesmas condições, sofrendo as mesmas consequências, ano após ano), isso sim, é um verdadeiro milagre.